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Resumo: Economia Brasileira Contemporânea: de Getúlio a Lula (Sousa) Capítulo 9 Plano Collor inaugura “Consenso de Washington” Houve no Brasil uma longa década de 90 inaugurara no começo de 1990 (Fernando Collor) e encerrada no fim de 2002 (Fernando Henrique Cardoso). O governo FHC é continuidade direta do governo Collor. Consenso de Washington e neoliberalismo O objetivo explícito era analisar o panorama mundial e propor alternativas. Foi produzido um documento conhecido como “Consenso de Washington” e visava: 1) Abertura econômica: fim das barreiras protecionistas; 2) Desestatização; 3) Desregulamentação: fim das regras que limitava o capital especulativo; 4) Flexibilização das relações de trabalho (países da América Latina). Pontos que faziam parte do ideário neoliberalista. Objetivos dos EUA: - Ocupar o mercado de mão-de-obra e matéria-prima barata da América Latina para confrontar com a União Europeia e o Japão; - Formação de livre comércio (ALCA). Utilizados como pressão e diplomacia de força na América Latina: EUA, FMI, BIRD e BID da década de 80 para cá tem cumprido o papel de pressionar essas reformas impostas pelo Consenso de Washington. Os países latinos americanos foram se abrindo um a um, enquanto o EUA manteve e reforçou suas barreiras. Plano Brasil Novo: sequestro dos ativos financeiros No começo da década de 90, liderado pela Fiesp o “Livre para Crescer” foi um conjunto de medidas que preconizava para o Brasil as indicações do Consenso de Washington. Setores empresariais tentavam influenciar o presidente Collor. Ao assumir a presidência, havia um “pacote econômico” elaborado por Zélia Cardoso (Ministra da Fazenda) chamado Plano Brasil Novo ou Plano Collor, constituído de 20 medidas que tentava atacar todas as frentes. Segundo Antônio Kandir que foi um dos autores do Plano Collor, a aceleração inflacionaria tinha como fundamento a fragilidade financeira do setor público, que levava os oligopólios a remarcar preços preventivamente. Essa foi a ideia base do plano, além do ideário neoliberal. Natureza do Plano Collor: enfrentara fragilidade do setor público e bloquear a possibilidade de remarcação de preço. O governo bloqueou por 18 meses, a conversão da moeda corrente do conjunto de ativos financeiros do país, sequestrando em até 80% do seu meio circulante. À medida que essa brutal retirada de dinheiro de circulação causou forte queda da demanda e com isso bloquearia a remarcação de preços. Collor acelerou violentamente o processo de abertura da economia. Objetivo imediato: favorecer a entrada de produtos estrangeiros para evitar que empresas nacionais aumentassem os preços. Medidas adotadas para abrir a economia: 1) Isenção de tarifa de importação (para cerca de 1000 produtos); 2) Eliminação ou redução da abertura de barreiras não tarifarias; 3) Cronograma de redução das tarifas de importação; 4) Redução do grau de dispersão da abertura tarifária. No longo prazo, a fragilidade do setor público seria equacionada pela privatização. O bloqueio dos ativos afetou: Bancos aplicadores em títulos; pequenos poupadores (bloqueio da poupança); empresas (bloqueio do capital de giro), sem o capital de giro para operar as empresas reduziram drasticamente a produção; e trabalhadores (tiveram o salário real cortado). Parte integrante do Plano Collor: Arrocho salarial; Enxugamento da liquidez; Aperto fiscal; Privatização indiscriminada; Abertura econômica para capital estrangeiro. Plano Collor promove violenta recessão Além de bloquear a quase totalidade dos ativos financeiros, o Plano “entesourou” os recursos ao invés de estabelecer um programa que liberasse o capital de giro para as empresas e canalizasse os recursos sequestrados para a produção, a infraestrutura e a área social. A situação se agravou com o violento arrocho salarial e o corte dos gastos públicos, derrubando a demanda. O corte dos gastos públicos afetou principalmente os gastos sociais em educação e saúde. A queda dos salários poderia ensejar uma elevação dos lucros, no entanto, essa possibilidade foi bloqueada com a queda das vendas (falta de meio circulante, derrubada dos salários e gastos públicos), o resultado foi forte queda da taxa de lucro. Com o lucro se esvaindo e o mercado se encolhendo o resultado foi: queda na produção e do emprego, ou seja, recessão. A inflação cedeu em primeiro momento, mas seguiu patamares elevados e depois recrudesceu. Mais uma vez a inflação não foi domada. Mesmo acossados pela entrada de produtos estrangeiros, os grupos empresariais mais fortes seguiram jogando o preço para cima. Plano Collor II corta gastos e aumenta os impostos Com o recrudescimento da inflação caiu a então ministra Zélia Cardoso (em fevereiro de 1991) e assumiu a Fazenda, Marcílio Marques. Antes de cair à equipe de Zélia editou o Plano Collor II, que tinha como principais medidas: 1) Forte ajuste fiscal; 2) Revogação de subsídios; 3) Corte de despesas de custeio e orçamento das estatais; 4) Aumento dos impostos e tarifas públicas; 5) Aceleração do programa de privatização. Os preços foram congelados, mas flexibilizados e mantidos livres. Os salários foram convertidos pela media real dos 12 meses anteriores (arrocho salarial). Os bancos obtiveram o poder de determinar o indexador da economia. Coube a Marques Moreira não apenas implementar como exacerbar esse conjunto de medidas. A taxa de juros que foi negativa em 1990, por exemplo, passou a subir. Resultado: a dívida pública que haveria despencado com o bloqueio dos ativos e juros negativos; voltou a explodir, recriando o mesmo diagnostico de Kandir (a fragilidade do setor financeiro). Abertura, desnacionalização e privatização Marques Moreira decidiu acelerar o cronograma de abertura econômica. Os efeitos da redução de tarifas de importação não se fizeram sentir de imediato. Por que a queda das tarifas não aumentou as importações? A contratação da economia limitou a demanda dos produtos importados; A maxidesvalorização do Plano Collor tornou o produto importado mais caro em moeda nacional. Com relação à entrada de capital estrangeiro, apesar de todos os apelos de Collor, o avanço não foi muito significativo. Foi insignificante o aumento da participação das empresas estrangeiras na economia durante o período Collor. Isso não significa que não tenham sido oferecidos todos os atrativos para tal. Ao contrário, foi promovida toda desregulamentação que ele demandava. Motivos: O capital estrangeiro, não se expõe a economias que atravessam um processo recessivo como foi o caso do Brasil; Apesar dos acenos favoráveis do presidente, seu governo não conseguiu conquistar a confiança das transnacionais. Collor preparou as bases para o processo de privatização do patrimônio público. Aprovado em abril de 1990 a instituição do Programa Nacional de Desestatização (PND). O PND de Collor tinha dificuldades de avançar devido às áreas de domínio público por muitos setores. Outra dificuldade, tanto o capital estrangeiro quanto grupos empresários nacionais, não estavam dispostos a pagar o preço que as estatais valiam. Collor estabeleceu que estatais pudessem ser trocadas por: moedas podres. Uma empresa poderia adquirir um lote de títulos públicos a 30% do seu valor e trocar por estatais. Os critérios utilizados para avaliar essas empresas também empurravam o “preço de venda” para níveis insignificantes. Combinado esses fatores o Estado começou a desfazer-se do patrimônio a preços insignificantes. Itamar Franco assume a presidência Com a queda de Collor, assume a presidência seu vice Itamar Franco (retorno da tradição nacionalista) em outubro de 1992. Este foi o interregno entre os governos Collor e FHC. Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda em 1993 e apartir dai passou a comandar as decisões econômicas, retornando o programa do Consenso de Washington. Itamar adota medidas para reativar a economia Itamar lutou pela questão da taxa de juros: ele propugnava o ponto de vista de que havia espaço para baixar imediatamente a taxa de juros. Na época ele baixou a taxa de 36% para 7%. Ele também adotou medidas para dinamizar o mercado interno, o que favorecia a reanimação da economia. Houve melhoria na política salarial e ampliação dos gastos públicos. Os planos Collor I e II geraram enorme capacidade ociosa. A queda dos juros, com medidas de aquecimento a economia, estimularia aumento imediato na produção. As exportações que haviam caído, voltaram a subir. A taxa de lucro haveria de subir nesse quadro. Essas combinações promoviam a reativação da economia que consequentemente fez o desemprego ceder (um pouco). Aceleração da inflação A inflação se acelerava, mas não tanto. Havendo concluído que a política recessiva não conseguira dominar a inflação, o presidente Itamar optou por escolher outro caminho: retomada do desenvolvimento da economia. Essa ligeira aceleração inflacionária foi o suficiente para desencadear uma campanha contra o então presidente. José Serra (oposição) declarou que a prioridade deveria voltar a ser o combate à inflação, ou seja, corte dos gastos públicos. Cortar investimentos seria matar no nascedouro a recuperação econômica que o Brasil estava vivendo. Sendo uma economia altamente concentrada, em período de recessão os grandes grupos econômicos reagiam à queda de demanda com o aumento dos preços ao invés do contrário. Além de seu poder sobre o mercado, contavam com uma economia de elevado grau de concentração de renda. Último bastião de Itamar: “Agenda Brasil” O principal instrumento de resistência ao pacote econômico de FHC de Itamar Franco foi a “Agenda Brasil”. Em julho de 1993 aprovou uma nova política salarial (melhorias). O ministro FHC propôs que o presidente vetasse esse dispositivo e impusesse um redutor na inflação para correção dos salários. Contrapondo isso, Itamar sentou-se com o governo, empresários e trabalhadores para verificar se havia ou não recursos para arcar com essa decisão. Nascia então a Agenda Brasil. Houve vários embates e o principal deles estava relacionado com a questão do déficit público. Houve também desgastes da equipe da Fazenda em várias polêmicas e FHC exigiu de Itamar o encerramento da Agenda Brasil. Com o fim desta, o então ministro adotou uma nova política salarial em que o reajuste se daria através da inflação mensal menos 10 pontos percentuais. Sob a ameaça de que se não aprovasse essa medida não seria possível combater a inflação, o Congresso terminou a aprovando em agosto de 1993.
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