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Apostila-Introdução-à-Psicopedagogia

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA 
INTRODUÇÃO A PSICOPEDAGOGIA 
 
 
 
ESPÍRITO SANTO 
 
O QUE É PSICOPEDAGOGIA? 
 
 
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http://www.sme.pmmc.com.br/site2011/index.php?option=com_content&view=article&id=453:setor-de-
psicopedagogia&catid=977:pro-escolar 
 
Todos nós aprendemos de forma diferente, uns aprendem mais rápido, outros 
mais devagar, uns são mais visuais, outros auditivos, por exemplo. Há também 
diferentes formas de ensinar. Os atos de aprender e ensinar estão tão interligados que 
não é possível mais separá-los dentro do processo educacional. 
Como se aprende/ensina? Porque alguns aprendem outros não? Qual a origem da 
dificuldade em aprender determinado conteúdo/habilidade? São algumas das 
perguntas feitas pela Psicopedagogia. 
Seu objeto de estudo são os atos de aprender e ensinar, levando em conta o 
ser que aprende, ensina, modifica e é modificado, em sua singularidade. 
A Psicopedagogia surge da necessidade de compreender o processo educacional de 
uma maneira interdisciplinar, buscando para este desafio fundamentos na Pedagogia, 
http://www.sme.pmmc.com.br/site2011/index.php?option=com_content&view=article&id=453:setor-de-psicopedagogia&catid=977:pro-escolar
http://www.sme.pmmc.com.br/site2011/index.php?option=com_content&view=article&id=453:setor-de-psicopedagogia&catid=977:pro-escolar
 
 
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na Psicologia e em diferentes áreas de atuação. Podem ser muitas as razões que 
determinam o sucesso ou o fracasso escolar de uma criança, como: fatores 
fisiológicos, psicológicos, sociais ou pedagógicos. 
A Psicopedagogia Clínica busca investigar as possíveis dificuldades no 
processo educacional - observando os aspectos físicos, sociais, emocionais e 
cognitivos - e intervir de modo a remover ou minimizar as barreiras que impedem ou 
dificultam a aprendizagem. O Psicopedagogo realiza entrevistas, avaliações, 
atividades lúdicas e diferentes instrumentos para identificar estas barreiras. Ele 
intervém orientando os pais, os professores e ajuda o próprio indivíduo (ou grupo) a 
conhecer seus mecanismos de aprendizagem, entendendo-o como sujeito ativo e 
protagonista deste processo. 
 
http://pt.slideshare.net/estudosacademicospedag/psicopedagogia-institucional-slides-04para-o-blog 
Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em formação, 
projetação e em processo de criação. Para entender o que é Psicopedagogia, acredito 
ser importante ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e 
da Pedagogia, que ocorre com bastante frequência no senso comum, isto porque, em 
sua própria denominação Psicopedagogia aparece “suas partes constitutivas – 
 
 
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psicologia mais pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito”, 
como nos ensina Julia Eugenia Gonçalves. 
 Na realidade, a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe 
a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências 
Humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados 
processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento 
multidisciplinar, interessa a Psicopedagogia compreender como ocorre os processos 
de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. 
Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com 
a Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a Psicologia Transpasso-a, a Pedagogia, a 
Neurologia, entre outros. 
POR QUE A PSICOPEDAGOGIA NÃO TEM SEU PAPEL 
CLARO NA FORMAÇÃO DO/A PSICOPEDAGOGO/A? 
 
https://www.google.com.br/search?q=psicopedagogia+institucional+na+escola&rlz=1C1AVNG_enBR677BR677&espv=2&biw=
1366&bih=667&source=lnms&tbm 
 
 
 
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Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em formação, 
projetação e em processo de criação. Criação de sentidos para nossa própria trajetória 
enquanto aprendentes e ensinantes, enquanto seres viventes na complexa gama de 
relações que estabelecemos com o nosso tempo e espaço humano. Todas as nossas 
ações e produções, por serem humanas, estão sempre em processo de permanente 
abertura, colocadas num prisma próprio para novas interpretações e busca de 
significados e sentidos, situadas num movimento incessante de desconstrução e de 
reconstrução. Dizendo isso de uma outra forma, posso afirmar que, no nosso tempo 
de reconfiguração de paradigmas, os conceitos estão constantemente sendo revistos 
e ganhando novos significados; com a Psicopedagogia não podia ser diferente, visto 
que o pensar reflexivo sobre esta área do conhecimento se constitui um dos 
importantes tarefas a ser desempenhada por quem lhe tem como campo de ação, 
profissionalidade, dedicação e estudo. Mas será que realmente a Psicopedagogia não 
tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a? Ou isto é um mito que 
precisa ser reconsiderado? 
 
 http://ipegex.com.br/ 
Sabendo que, na verdade, a Psicopedagogia é um campo de atuação que, ao 
atuar de forma preventiva e terapêutica, posiciona-se para o compreender os 
processos do desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias 
 
 
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áreas e estratégias pedagógicas objetivando se ocupar dos problemas que podem 
surgir nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos (possíveis 
dificuldades e transtornos), o papel essencial do psicopedagogo é o de ser mediador 
em todo esse movimento. Se for além da simples junção dos conhecimentos da 
Psicologia e da Pedagogia, o psicopedagogo pode atuar em diferentes campos de 
ação, situando-se tanto na Saúde como na Educação, já que seu fazer visa 
compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana, que, afinal, ocorrem 
em todos os espaços e tempos sociais. 
 
 
 http://www.institutotratos.com.br/wp/produto/especializacao-em-psicopedagogia-clinica-e-institucional/ 
O modelo argentino da psicopedagogia no trabalho multidisciplinar em hospitais 
e escolas é institucionalizado. No Brasil apesar de se falar muito no trabalho 
multidisciplinar, pouco se vê desta atuação. Você acredita que somente com a 
regulamentação da profissão isto se tornará uma realidade? 
 
 
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Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda não seja prático 
comum nem mesmo em outros países, com raras exceções, evidentemente. O 
paradigma cartesiano-positivista ainda é o grande entrave a ser superado para que se 
possa pensar em um outro modo de fazer ciência e cuidar das pessoas. É necessário 
um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo como desafio a ser 
superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o trabalho multidisciplinar em 
hospitais e escolas também teve sua trajetória de luta, como em muitos momentos 
nos apontaram Jorge Visca e Alícia Fernandéz. Realmente em nosso país, esta 
atuação ainda é restrita de fato. E um ponto essencial para tal é a regulamentação da 
profissão: esta questão é primordial para o avançar da profissionalidade do 
psicopedagogo. A meu ver, é um processo muito rico a ser vivido por todos nós 
psicopedagogos. 
 
 
 http://faepefamerp.org.br/pagina/41/psicopedagogia-clinica-e-institucional-educacao-e-saude-fim-de-semana 
Ao falarmos de transdisciplinaridade na Psicopedagogia, pressupomos que a 
prática e o olhar psicopedagógico objetivem: aceitar um novo paradigma; ter 
preparação teórica adequada; possuir conhecimento prático suficiente; estar 
capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente; ser aberto e criativo; 
 
 
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conhecer as novas tecnologias; atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a 
diversidade discente. Em sua experiência acadêmica, isto é ensinado nos cursos de 
psicopedagogia? 
Se não é ensinado, pelo menos vivenciado enquanto perspectiva, caminho a 
ser trilhado não restaa menor dúvida. Compreendo que o psicopedagogo é um 
pesquisador permanente, um sujeito que, a cada movimento, ação e conduta 
enquanto profissional, busca alternativas para os dilemas, tensões, limites que lhe 
surgem, vislumbrando sempre novas possibilidades. E tudo é processo, movimento. 
Precisamos acreditar, cada vez mais, no ensinamento de nossa mestra Ivani Fazenda, 
que nos diz da importância da espera, da humildade, do conduzir-se com harmonia e 
perseverança em tudo o que se refere a mudanças de paradigmas. O cuidado maior, 
a meu ver, deve ser efetivamente, com a proliferação dos cursos de Psicopedagogia 
pelo Brasil sem as devidas orientações. 
 
 http://www.fundacaoaprender.org.br/564 
A ABPp esforça-se, de modo contundente, em mostrar o quanto é necessário 
ter preparação teórica adequada e possuir conhecimento prático suficiente, além de 
sugerir caminhos para a organização curricular de cursos de especialização em 
Psicopedagogia. Na minha vivência, enquanto docente da área em diferentes cursos 
 
 
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de formação em Psicopedagogia no país, observo o esforço imenso em fazer o 
melhor, pois afinal estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente, ser 
aberto e criativo, conhecer as novas tecnologias, atualizar-se permanentemente; 
entender e aceitar a diversidade discente são desafios imensos, para uma vida inteira. 
O essencial, acredito, é o desejar fazer o melhor possível e neste desejar, realizar. 
 
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL UMA VISÃO 
SISTÊMICA 
 
 http://www.cursogratisonline.com.br/curso-de-psicopedagogia/ 
 O papel do psicopedagogo numa instituição consiste em diagnosticar através 
de um processo investigativo, as causas que podem estar impedindo o curso regular 
da aprendizagem institucional, a circulação do conhecimento, o papel das lideranças 
e dos liderados, bem como os motivos que podem levar ao insucesso organizacional. 
 
 
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O profissional contratado, assiste aos clientes na melhoria de seu desempenho 
tanto nos aspectos de eficiência como na introdução da tecnologia, ou seja, no 
aprimoramento das relações interpessoais. 
O Psicopedagogo faz sua intervenção a partir da história da organização e de 
suas características atuais. Nesta perspectiva, a contribuição da Psicopedagogia é 
empenhar-se em levar a instituição à vivência que permita aos personagens 
(funcionários) desse cotidiano dar-se conta da importância do seu trabalho para a 
manutenção da saúde e sobrevivência organizacional, atuando diretamente nas 
relações de aprendizagem. 
 
 
 http://www.fce.edu.br/curso/pos-graduacao-em-psicopedagogia-institucional/ 
 
O trabalho do Psicopedagogo Institucional poderá ser dividido em 4 etapas: 
1. Identificação do Problema (Diagnóstico Psicopedagógico); 
 
 
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2. Caracterização da Organização; 
3. Intervenção; 
4. Integração. 
O Psicopedagogo também pode atuar como Assessor Psicopedagógico em 
instituições escolares, direcionando a potencialização da competência dos 
professores. Geralmente a assessoria é utilizada como um recurso, a fim de que estas 
possam dar uma resposta adequada às necessidades dos alunos diante das 
dificuldades para aprender, bem como facilitar a relação ensino / aprendizagem. 
Para trabalhar em instituições, o psicopedagogo deve adquirir competências na 
área administrativa e de planejamento estratégico, conhecer teorias sobre liderança, 
comportamento grupal e análise de potencial e desempenho. 
 
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: A BUSCA PELA 
SIGNIFICAÇÃO DO APRENDER 
 
http://cyberspaceandtime.com/PSICOPEDAGOGIA_Institucional_e_Cl%C3%ADnica_Autismo_e_Inclus%C3%A3o_como_Pr
%C3%A1ticas_educativas_fam%C3%ADlia_e_escola_by_Lucivanda_Correia/m7KHANQ 
 
 
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“Somos aqueles que podem ajudá-las a lidar melhor com suas vidas, a 
enfrentar as frustrações e a compensar suas fraquezas. Também somos os que 
podem ajudá-las a perceber seus dons e a valorizar seu jeito único de ser.” (Sandra 
Rief,1993) 
 Em uma época que muito se discute sobre dificuldades, inclusão e até mesmo 
o conhecido fracasso escolar de crianças e jovens e ao mesmo tempo multiplicam-
se diversas descobertas da neurociência, não poderíamos deixar de ressaltar a 
importância da intervenção psicopedagógico como forma de significação do 
aprender. 
 
 http://www.unip.br/ead/ensino/posgraduacao/psicopedagogia 
 Este especialista está preparado para trabalhar com todo processo da 
aprendizagem humana, ou seja, ensinar / aprender. Através de técnicas 
diferenciadas trabalha com os padrões normais ou não do aprender considerando 
sempre a influência e participação do meio (escola, família e sociedade) no seu 
desenvolvimento. Para Fabrício (2008), todo trabalho psicopedagógico está 
centrado e focalizado no autoconhecimento e na autoria do pensamento, buscando 
sempre estratégias de suporte com a finalidade que a criança aprenda. 
 Muitas das crianças que fracassam e são encaminhadas aos consultórios 
psicopedagógicos trazem consigo a queixas por parte dos educadores e da escola 
suspeitas de “deficiências” em uma ou várias funções cognitivas. O que estas 
instituições esquecem é que este sintoma produzido por tal criança pode ser 
 
 
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considerado um sinal de mal-estar mais profundo que se relaciona com um conflito 
inconsciente tornando-se desconhecido ao próprio sujeito, em outras palavras, 
dizemos que a criança não sabe os reais fatos de sua não aprendizagem. 
 
 http://cedpsicopedagogia.com/equipe-ced.php 
 
A intervenção psicopedagógico é um meio eficaz como forma de prevenção do 
fracasso escolar, seu trabalho norteado por recursos cognitivos e emocionais 
permite não apenas o sucesso na aprendizagem, mas possibilita o resgate de sua 
autoestima e autonomia individual tornando assim mais fácil sua socialização com 
os demais colegas. 
 De acordo com Maluf (2009), para estabelecer um bom diagnóstico é 
necessário ter conhecimento do desenvolvimento individual da criança bem como 
centrar-se em serviços especializados que vão além dos farmacológicos. Para que 
http://cedpsicopedagogia.com/equipe-ced.php
 
 
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todo este processo ocorra, sabemos que há uma grande necessidade de 
participação da família e da instituição escolar com vistas a juntos constituirmos 
meios afetivos e de estimulação cognitiva de forma que estas intervenções se tornem 
eficazes e alcancem seus reais objetivos que é o resgate e o gosto por aprender.
 
 
O ERRO NA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA: UMA FONTE DE 
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 
 
 http://tiakatiasouto.blogspot.com.br/2013/08/o-psicopedagogo-institucional.html 
“Devemos compreender que o cérebro é o órgão humano de processamento 
da informação, portanto, o que a boca fala (ou o que a mão escreve) não é 
necessariamente o que o ouvido escutou (ou o que o olho viu), mas sim o que o 
cérebro processou para que a boca dissesse (ou a mão escrevesse). ” (GOODMAN, 
1969) 
 
 
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 O erro sempre foi considerado um dos principais mal-estares presentes nas 
escolas desde os primórdios da educação. Mesmo com o passar dos anos com 
avanços tecnológicos e diversas mudanças, muitos educadores ainda o tratam da 
mesma forma as quais muitas vezes é o grande causador do fracasso escolar nas 
instituições. 
 Mas como mudarmos estas antigas concepções e incorporarmos uma nova 
visão a partir dos erros dos alunos? Este é um fato que de certa forma não depende 
somente das escolas, mas também dos educandos e da própria família. De acordo 
com Luckesi (1998)1[6], existe um preconceito por parte do próprio aluno que de 
certa forma tem um juízo culposo e punitivode si mesmo quando não consegue 
acompanhar aos demais. 
 
https://www.buzzero.com/educacao-e-inclusao-social-60/pedagogia-61/curso-online-intervencao-psicopedagogica-na-escola-
com-certificado-11411 
 
 
 
 
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Na visão psicopedagógico muitos profissionais tendem a considerar o erro 
como um sinal de alerta para o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o assim 
um ato construtivo tanto para educandos quanto para educadores. Através da 
intervenção psicopedagógico, partimos das diversas hipóteses as quais fizeram o 
aluno chegarem a tal resposta e só assim poderemos traçar estratégias de ajuda 
com vistas chegar a formulação correta. 
 Cabe ressaltarmos que em muitos casos o erro também poderá ocorrer devida 
uma distração ou até mesmo falta de atenção/concentração por parte do aluno não 
podendo assim ser considerado como um não aprendizado efetivo do conteúdo. 
Sobre este prisma consideramos de suma importância o trabalho psicopedagógico 
que através de técnicas diferenciadas este profissional estará apto a identificar os 
reais motivos da não aprendizagem o que de certa forma evitará o fracasso e a 
evasão escolar que pode originar-se por atos falhos ou avaliações não condizentes 
ao real problema. 
 
 http://www.construindooaprender.com.br/psicopedagogia-institucional 
Por fim deve ficar claro que o objeto de estudo do psicopedagogo é a 
aprendizagem como um processo individual em que a trajetória da construção do 
 
 
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conhecimento (aqui incluímos os erros cometidos pelos alunos) deve ser valorizada 
e entendida como parte do resultado final sempre visando desenvolver e trabalhar 
com este ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora e construtora da 
sua história. 
 
 
 http://jottaclub.com/2015/11/audiencia-publica-pede-inclusao-dos-assistentes-sociais-nas-escolas/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 BIBLIOGRAFIA 
 
BOSSA, Nádia Aparecida. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da 
prática. Porto Alegre: Artmed, 2000 
 
FABRÍCIO, Nívea Maria de Carvalho. Palestra “O psicopedagogo e seu papel 
frente as dificuldades de aprendizagem”. I Congresso sobre as dificuldades de 
aprendizagem, Gramado/RS, 2008 
 
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2000 
 
GÓMEZ, Ana Maria Salgado Gomes (org.) Dificuldades de Aprendizagem: 
manual de orientações para pais e professores. Cultural: código de área 24, 2009 
 
LUCKESI, Cipriano C. Pratica escolar: do erro como fonte de castigo ao erro 
como fonte de virtude. São Paulo: FTD, 1998. 
 
MALUF, Maria Irene. A intervenção psicopedagógico como recurso no 
tratamento dos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Revista Direcional 
Educador, Julho/2009 
 
 
 
19 
 
WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos 
problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. 
 
 
 
DISPONÍVEL EM: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862010000100009 
AUTORES: Sarah CazellaI; 
 Rinaldo MolinaII 
ACESSO EM: 17/06/2016 
 
 
A intervenção psicopedagógico institucional na 
formação reflexiva de educadores sociais 
 
The institutional psychopedagogic intervention in 
the reflexive formation of social educators 
 
 
 
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 Sarah CazellaI; Rinaldo MolinaII 
Psicopedagoga e Coordenadora pedagógica do Centro Pastoral Santa Fé 
Psicólogo; Doutor e Mestre em Educação; professor do curso de Graduação em 
Psicologia e de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie/SP 
 
 RESUMO 
OBJETIVO: Nosso objetivo é apresentar os resultados de um processo de 
intervenção que visou favorecer a construção de autonomia, pela via da prática 
reflexiva, de um grupo de educadores sociais. 
 
MÉTODO: 
 Para o desenvolvimento teórico foi realizada a interlocução entre autores da 
psicopedagogia, da prática reflexiva e da educação popular. Os participantes deste 
estudo de caso foram onze educadores sociais de uma Associação de Educação e 
Assistência Social localizada na periferia da cidade de São Paulo. O processo teve 
duração de um ano, num total de dezoito encontros que contemplaram as seguintes 
atividades: 1) observação participante; 2) construção de um "painel de queixas" para 
o entendimento dos problemas e satisfações vivenciadas; 3) diante das queixas foram 
produzidos desenhos, a partir da técnica projetiva "par educativo", que evidenciaram 
concepções de ensinar e aprender; 4) apresentação de relatos que visavam 
compreender os modelos de ação para o ensinar; 5) discussão de textos com 
temáticas pertinentes aos assuntos detectados nos momentos anteriores e; 6) 
dinâmica para a construção de um mapa conceitual, que objetivou uma reflexão sobre 
o processo vivenciado e a prática diária. 
 
RESULTADOS: Os educadores indicaram um repensar de sua atuação e novas 
propostas de trabalho, com base em processos interdisciplinares, que teriam como 
diretrizes a realidade sociocultural e a produção de um trabalho voltado ao resgate da 
história dos educandos, moradores da periferia, e a construção, com eles, da visão de 
cidadania para uma sociedade mais justa e humana. 
unitermos: Educação. Psicologia social. Aprendizagem. 
 
 
 
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SUMMARY 
OBJECTIVE: Our goal is to present the results of an intervention process that aimed 
to promote the construction of autonomy, by means of reflexive practice, the social 
educator. 
 
METHODS: For the theoretical development was carried out dialogue between the 
authors of the pedagogy of reflexive practice and popular education. The participants 
of this case study were 11 educators of the Association of Education and Social 
Welfare on the outskirts of São Paulo. The process lasted one year, a total of 18 
meetings distributed among the following activities: 1) participant observation in 
meetings with the coordination of the project and with the group of educators, 2) the 
construction of a panel of complaints to understand what problems they experienced 
educators, 3) before complaints were made drawings from the projective technique 
"par educativo" in revealing their conceptions of teaching and learning, to understand 
what each one had to act responsibly in their teaching, 4) activities were aimed at 
understanding the action models for teaching used by teachers; 5) from theoretical 
readings were discussed issues relevant to the issues identified in the moments before 
and, finally, 6) was a dynamic proposal to build a conceptual map for reflection on the 
experienced and the daily practice of educators. 
 
RESULTS: The teachers have produced a new work proposal on the basis of 
disciplinary proceedings, it had as the cultural reality and the production of a work 
aimed at rescuing the history of students, residents of the periphery, course 
participants, and build with them idea of citizenship for a more just and humane. 
Key words: Education. Psychology, social. Learning. 
 
INTRODUÇÃO 
A psicopedagogia ganha hoje cada vez mais espaço e importância no tecido social. 
Muitos dos envolvidos com os processos escolares apontam o psicopedagogo como 
aliado na proposição de novos caminhos para a melhoria da aprendizagem daqueles 
que fracassam nos processos desenvolvidos na educação formal. Vários são os 
estudos que caminham nessa direção, o que pode ser observado nas publicações da 
Associação Brasileira de Psicopedagogia. 
Paralela à educação formal temos no Brasil várias experiências em educação popular, 
porém há na literatura da psicopedagogia poucos estudos que a exploraram1-9. 
Nesse sentido, para contribuir na produção de conhecimentos sobre o trabalho do 
psicopedagogo na educação informal, esse artigo objetiva apresentare analisar uma 
 
 
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intervenção em psicopedagogia institucional com base na prática reflexiva para a 
construção da autonomia e da melhoria das relações com a aprendizagem de um 
grupo de educadores populares. Assim, considera que uma intervenção 
psicopedagógico institucional pode contribuir na ação de educadores sociais por meio 
de uma proposta que favoreça a sua prática reflexiva. 
Algumas de suas questões norteadoras foram: Quais as concepções de 
aprendizagem de educadores populares? Quais seus modelos para a ação do 
ensinar? Quais dificuldades enfrentam em sua prática? Quais mudanças apresentam 
a partir de um processo de intervenção psicopedagógico institucional? 
A experiência foi realizada em uma Associação de Educação e Assistência Social, 
locada na periferia da cidade de São Paulo, que atende no período noturno, 
aproximadamente, 150 jovens entre 18 e 29 anos. Os sujeitos do processo de 
intervenção psicopedagógico foram onze educadores que atuavam como 
orientadores de grupos de educandos no "Curso C", oferecido pela Associação. 
No desenvolvimento do processo psicopedagógico, com duração de um ano, foram 
realizados aproximadamente dezoito encontros organizados dentro das 
possibilidades do cronograma institucional da Associação em que o grupo de sujeitos 
da pesquisa atuava. 
No processo de intervenção junto aos educadores foram utilizados: A) a análise dos 
documentos da Associação para entender seu processo histórico; B) a observação 
participante10; C) dinâmica de grupo e construção de um painel de queixas; D) a 
técnica do "par educativo"11; E) reflexão autobiográfica12; F) estudos de textos 
acadêmicos13 e; G) elaboração de mapa conceitual14. 
Algumas informações complementares necessárias são: 1) para formalizar a 
participação na pesquisa, com intuito de evitar faltas éticas na aquisição e análise dos 
resultados da pesquisa, foram utilizadas a "Carta de informação sobre pesquisa à 
instituição", a "Carta de informação ao sujeito de pesquisa" e o "Termo de 
consentimento livre e esclarecido" lidos e assinados pelos educadores e pela 
instituição; 2) no corpo do texto, cada educador ou educadora foi nomeado com as 
iniciais do seu nome, a fim de garantir a preservação da privacidade; 3) e, por se tratar 
de um trabalho voluntário, o número de participantes das atividades, acima 
apresentadas, variou de acordo com a disponibilidade dos envolvidos. 
Para desenvolvimento do artigo, inicialmente, apresenta-se uma discussão teórica 
fundamentada nas referências da psicopedagogia institucional, da prática reflexiva e 
da educação popular, posteriormente, explicita-se a evolução do processo de 
intervenção. 
 
REFERÊNCIAS TEÓRICAS ADOTADAS NA INTERVENÇÃO 
 
 
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A Psicopedagogia Institucional 
Apesar da prevalência da Psicopedagogia em seu viés clínico, nas últimas décadas, 
desenvolveu-se a compreensão que no ambiente institucional a dificuldade de 
aprendizagem seria gerada ou agravada segundo as concepções adotadas pela 
escola. 
[...] será o problema da não aprendizagem apenas do aluno? Não estará o professor 
[educador] estagnado em relação à busca de novos conhecimentos? Não estará a 
escola sendo apenas repetitiva, impondo diariamente uma dose de "conhecimentos 
prontos", que são "engolidos" pelo aluno e não "digeridos"? Discordâncias entre 
professores [educadores] vistas apenas como questão de "temperamento" ou 
"política" poderiam ser encaradas através do "modelo de aprendizagem" de cada um? 
A atualização da escola apenas em metodologias de ensino não poderia estar 
deixando de lado as questões de aprendizagem?15. 
Foram esses questionamentos que levaram ao aparecimento da psicopedagogia 
institucional. Para ela, no desenvolvimento do trabalho psicopedagógico, a instituição, 
enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem, seria o objeto de estudo da 
psicopedagogia, uma vez que se avaliariam os processos didático-metodológicos e a 
dinâmica institucional que interfere no processo de aprendizagem. 
Então a psicopedagogia institucional16: 
[...] está vinculada a uma concepção crítica da Psicopedagogia e, consequentemente, 
da educação, que muito tem a contribuir com as situações de não aprendizagem na 
escola e com sua consequente superação. Desta forma, a ação do psicopedagogo 
está centrada na prevenção do fracasso e das dificuldades escolares, não só do aluno 
como também dos educadores e demais envolvidos neste processo. Para tanto, é 
necessário que a intervenção psicopedagógico invista na melhoria das relações de 
aprendizagem e na construção da autonomia não só dos alunos, mas, principalmente, 
dos educadores. A construção da autonomia do professor [educador], a postura crítica 
em relação a sua ação pedagógica e o desenvolvimento da autoria de pensamento 
pode acontecer pela intervenção psicopedagógico na escola. 
E teria como objetivo16: 
[...] auxiliar o resgate da instituição com o saber e, portanto, com a possibilidade de 
aprender. A reflexão sobre o individual e o coletivo traz a possibilidade da tomada de 
consciência e da inovação por meio da criação de novos espaços de relação com a 
aprendizagem. 
Com isso, o profissional da psicopedagogia institucional assumiria como funções na 
instituição17: administrar as ansiedades geradas neste ambiente18; criar um clima 
harmonioso nos grupos de trabalho19; colaborar com a construção do conhecimento 
cognitivo20; identificar obstáculos no processo de aprendizagem21,22; implantar 
 
 
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recursos preventivos à fragmentação dos conteúdos23; conceber o aluno como 
aprendente e o educador como ensinante24; clarear funções e tarefas no grupo25; 
possibilitar a rotatividade na liderança26; possibilitar a elaboração do conhecimento 
sobre si e do outro27; e contribuir para a reflexão sobre a prática28. 
A Educação Popular 
A educação popular surgiu na década de 1970, como um movimento inovador capaz 
de produzir possibilidades educativas para a democratização da Educação em 
espaços não formais29,30. 
Seriam seus objetivos31: 
"Desenvolver um trabalho no qual as pessoas sejam capazes de compreender o seu 
contexto sócio-político-econômico-cultural, exercendo, neste entorno, sua cidadania 
de forma adequada. O que revela tratar-se, assim como a educação formal, de uma 
ação intencional e, portanto, destinada a alcançar determinados fins, porém não em 
nível escolar. No que tange à educação não formal, a concepção de educação 
permanente apresenta grandes semelhanças com a de desenvolvimento cultural da 
comunidade, não podendo ser posta em ação sem mudanças sociais profundas. 
Esta educação se diferenciou de outras, pois sua preocupação era "estimular a 
participação política [para] transformação das condições opressivas de sua existência 
social [por base no] desenvolvimento de habilidades básicas, como a leitura e a 
escrita"32. 
A interlocução entre psicopedagogia institucional e educação popular se 
fundamentaria na dimensão social envolvida no processo de aprendizagem (além 
dessa temos também as dimensões biológica e cognitiva), pois, com ela, haveria a 
garantia da continuidade do processo histórico e a preservação da sociedade como 
tal, por meio de transformações evolutivas e estruturais33. 
Esta dimensão cumpriria um papel relevante na ruptura das classes sociais, pois 
supõe transformações, incitando assim a necessidade da educação de promover, 
conscientizar e motivar a militância para essa transformação. 
Esta abordagem sociopolítica estava presente nas raízes da educação popular e teve 
como base teórica, a prática e o discurso de Paulo Freire34,35. 
A criticidade no processo de aprendizagem se construiria e se desenvolveria na 
"curiosidade epistemológica", concebida como um aprender crítico em que a 
experiência da produção de saberes, que não permite a mera transferência de 
conteúdo, favoreceria um conhecimento mais abrangente do objeto24. 
Se de um lado do processo existe a aprendizagem, e com destaque a aprendizagem 
social, do outro existe oensino, a ensinagem. 
 
 
25 
 
Freire24 indicou alguns saberes indispensáveis a uma prática educacional crítica e 
progressista do educador comprometido com a educação popular. Para ele, ensinar 
inexiste sem aprender e vice-versa e, este ensinar não seria meramente a 
transferência de conhecimento, mas a possibilidade da sua produção, criação e 
construção. 
Assim, a experiência de cada aprendente seria considerada importante no momento 
da ensinagem e, produzir-se-ia a oportunidade de, no ensinar, deixar transparecer, a 
quem aprende, a peculiaridade do ser humano em "estar no mundo e com o mundo", 
como ser histórico. Possibilitar-se-ia com isso condições, por meio do ensinar, para 
que o sujeito do aprender se assumisse como ser social, por isso capaz de 
transformar, criar e pensar. 
Deste modo, as ideias de Freire24,33,34 fazem eco ao olhar da psicopedagogia 
institucional, uma vez que esta promoveria a aprendizagem de forma a criar vínculos 
saudáveis e críticos com o conhecimento. 
A Prática Reflexiva 
Dentro do pensamento educacional a corrente da prática reflexiva definiu que a 
reflexão sobre a prática profissional seria a estratégia para o desenvolvimento 
profissional de professores, para nós de educadores, ao defender que os processos 
de construção do saber profissional partiriam da prática e da ação reflexiva e 
compartilhada. 
Para Gómez36, a formação do professor (educador) reflexivo abrangeu duas grandes 
áreas. A primeira seria a do componente "científico-cultural" no qual se pretendia 
assegurar o conhecimento do conteúdo a ser ensinado. Já a segunda, foi a do 
componente "psicopedagógico", que permitia aprender como atuar com eficácia em 
sala de aula. 
"No componente psicopedagógico é preciso distinguir duas fases principais: na 
primeira, adquire-se o conhecimento dos princípios, leis e teorias que explicam os 
processos de ensino-aprendizagem e oferecem normas e regras para a sua aplicação 
racional; na segunda, tem lugar a aplicação na prática real ou simulada de tais normas 
e regras, de modo que o docente adquira competências e capacidades requeridas 
para uma intervenção eficaz". 
Neste sentido, Zeichner37 defendeu que o processo reflexivo não se limitaria a 
questões metodológicas do ensino ou a organização da sala de aula, o que poderia 
significar incorporar novas experiências em velhas estruturas. Esta incluiria também a 
problematização de aspectos que envolveriam a organização escolar e sua cultura, 
por exemplo, práticas concorrentes, estruturas hierárquicas, atuações excludentes, 
entre outras. 
 
 
26 
 
Para Nóvoa38, na formação do professor (educador), a preocupação da técnica e do 
conhecimento deveria ser superada, permitindo um avanço para a socialização e a 
reflexão de sua configuração profissional. 
"A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos 
professores [educadores] os meios de um pensamento autônomo e que facilite as 
dinâmicas de auto formação participada. Estar em formação implica investimento 
pessoal, trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista 
à construção de uma identidade profissional." 
Ainda para este autor, deveriam ser criados espaços permanentes dessa formação, 
em ambientes que favorecessem a troca de experiências e a partilha dos saberes, em 
que cada um dos profissionais seria chamado ao papel de "formador" e também ao 
papel de "formando". Este seria o único caminho para a conquista do exercício da 
autonomia. 
"O trabalho centrado na pessoa do professor [educador] e na sua experiência é 
particularmente relevante nos períodos de crise e mudança, pois uma das fontes mais 
importantes de stress é o sentimento de que não se dominam as situações e os 
contextos de intervenção profissional38." 
Este tipo de formação valorizaria os paradigmas de formação que promovem a 
preparação de educadores reflexivos para assumirem responsabilidades frente ao seu 
próprio desenvolvimento profissional, diante dos desafios do ato de ensinar. "As 
situações que os professores [educadores] são obrigados a enfrentar (e a resolver) 
apresentam características únicas, exigindo, portanto, respostas únicas"38. 
Para a formação de educadores reflexivos, o desafio estaria na concepção de um 
espaço institucional educativo, que concebesse o trabalho prático e a formação de 
seus profissionais, não como atividades distintas, mas como um processo 
permanente, integrado ao cotidiano da instituição. 
Ou seja, sua metodologia de trabalho se apoiaria na produção de espaços reflexivos 
coletivos de formação, presentes nas próprias instituições em que os educadores 
trabalham, que compreenderiam as possibilidades de reflexão e tomada de 
consciência das limitações sociais, culturais, pedagógicas contextuais e da própria 
profissão. 
Diante do contexto teórico colocado, apresentamos a seguir o relato e a análise de 
uma intervenção psicopedagógico realizada com educadores sociais, na educação 
não formal. O olhar psicopedagógico, as intervenções e o processo reflexivo 
contribuíram para que o grupo participasse efetivamente na sugestão de propostas 
para o trabalho que desenvolviam, buscando autonomia na sua prática e melhorando 
as condições de aprendizagem dos seus educandos. 
 
 
 
27 
 
A PRÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL NA EDUCAÇÃO POPULAR 
Momento um: apresentação das queixas 
A proposta inicial foi de diagnóstico dos incômodos e satisfações sentidas pelos 
educadores; para que esses não se sentissem constrangidos, foram expressas 
individualmente e anonimamente por escrito. Esse processo foi disparado com a 
apresentação de dois grandes cartazes: um com a imagem de um saco e outro com 
a imagem de um prato sob uma toalha. Foram dadas orientações para que 
escrevessem em papeletas, a partir do trabalho diário no "Curso C" e dentro da 
Associação: a) os incômodos e colassem no cartaz do saco e; b) as vivências boas e 
colassem no cartaz do prato. 
Posteriormente, as papeletas foram lidas e seu conteúdo organizado em categorias 
determinadas pelos próprios educadores. 
Como resultados, uma primeira categoria foi nomeada como "Queixas externas ao 
trabalho". Foram elas: A) "O tempo parece pouco para podermos ajudar os 
educandos, tanto na parte da formação humana, quanto no que se refere à parte 
educacional"; B) "O tempo que nos atropela"; C) "Falhas educacionais aberrantes"; D) 
"Dificuldade de entendimento dos educandos"; E) "Alternância de humor dos 
educadores e coordenação". 
As "queixas A e B" trouxeram o conceito do tempo que educandos e educadores 
teriam para superar as "queixas C e D". Segundo Bonals e González21, essas se 
apresentaram como queixas ilimitadas, pois indicaram o caráter de dificuldade diante 
de uma situação, em que não estava definida a forma de superação da mesma, 
causando, muitas vezes, o desânimo e a impotência. 
A "queixa D" sugeriu uma separação nas relações entre aprender e ensinar, fato 
entendido por Freire24 como impossível numa relação pedagógica. Assim, evidenciou-
se uma queixa de delegação21, pois houve a transferência da não aprendizagem, 
centrando-a no outro, no caso o educando. 
A "queixa E" teve como característica a busca de uma reação psicológica a falta de 
enfrentamento, a não superação dos problemas de aprendizagem dos educandos, 
caracterizando-se como uma queixa jogo21. 
A segunda categoria foi nomeada como "Queixas de problemas de ordem individual": 
A) "Falta de material de apoio para as aulas de Biologia. Esclarecendo - o meu 
computador está na UTI. Problema pessoal!"; B) "Acho o tempo insuficiente para se 
trabalhar as disciplinas / sei a importância das optativas, mas acho que deveríamos 
ter mais aulas, pois acho a quantidade que temos insuficiente"; C) "Conversas 
excessivas na turma D, porém considero ser imaturidade específica desta turma por 
conta da faixa etária"; D) "Uma coisa que me incomodou muito quando comecei a 
trabalhar com o 'Curso C' foi a minha inexperiência em dar aulas, porqueapesar de 
 
 
28 
 
trabalhar com educação popular e formação em Fé e Política há muito tempo me dei 
conta que eram coisas diferentes"; E) "Educandos engraçadinhos"; F) "Quando 
trabalho com uma aula na turma, sinto a falta do trabalho na turma"; G) "Tempo para 
organizar a aula de laboratório / tenho muitas atividades na memória do computador". 
A criação dessa categoria apontou, de maneira geral, para a consciência dos 
educadores de que poderiam e deveriam fazer algo para mudar. Também 
confirmavam a importância do processo de intervenção e das reflexões propostas, já 
que as mesmas sugeriram a revisão de algumas ideias, atitudes e propósitos diante 
de sua atuação. 
Na terceira categoria, segundo a reflexão e classificação dos educadores, 
encontramos as "Queixas de problemas a serem resolvidos": A) "Falta de uma 
definição mais clara de tarefas e responsabilidades secundárias nos eventos 
(semanas / atividades especiais)"; B) "Falta de colaboração dos educadores (todos) 
na organização de eventos, semana da acolhida, por exemplo. Sempre as mesmas 
pessoas cuidam dos detalhes de providenciar materiais, etc."; C) "Existe ainda uma 
deficiência de logística quanto a preparar as atividades extras com as 'semanas', as 
reuniões de orientação, as saídas planejadas"; D) "Organicidade dos educadores e 
coordenação"; E) "Eu creio que deveríamos ser mais assíduos nos horários, pois 
temos pouco tempo para nos prepararmos melhor, devemos otimizar melhor o nosso 
tempo"; F) "Acho que também, às vezes, acabamos por deixar passar algumas 
atitudes de alguns educandos. Creio que devemos ser severos com eles, não se 
esquecendo de sua realidade, mas que essa realidade não sirva de pretexto para 
deixarmos passar essas atitudes (bagunça, falta de respeito, atrasos, conversas, 
desinteresse, etc.)"; G) "Decisões que deveriam e devem ser tomadas por toda a 
equipe reunida"; H) "Algumas coisas que foram ditas que seriam para serem feitas de 
um jeito e que depois foram feitas totalmente diferente"; I) "Falta de pontualidade"; J) 
"Questões, decisões em aberto, às vezes não fica claro o que foi decidido ou 
acabamos nem decidindo. Isso dificulta o andamento do trabalho"; K) 
"Desorganização (horário)"; L) "Poucos jovens a procura do apoio no plantão de 
dúvidas. Principalmente os que estão começando"; M) "Às vezes falta limite para as 
brincadeiras, isso nos faz perder tempo e o foco do que estamos discutindo". 
As "queixas A B, C, D, G, H e J" evidenciaram a insatisfação com o trabalho coletivo, 
além das queixas de falta de organização da coordenação para que esse trabalho 
acontecesse. Interessante notar que estas se apresentaram de maneira imperativa, 
como queixas que demandavam uma expectativa de mudança de atitude de outras 
pessoas para haver colaboração na realização das tarefas educativas. 
A presença das "queixas E, I, K" retomaram o tema da falta de organização, mas 
especificamente ligadas à questão do tempo. A temática do tempo esteve presente 
no grupo "Queixas externas ao trabalho", porém agora apareceram com uma 
conotação diferente já que se tornaram fatores a serem considerados no processo 
educativo, ou seja, não mais tão externas as atividades realizadas pelos educadores. 
 
 
29 
 
As "queixas F e M" referiam-se diretamente ao comportamento de determinados 
educandos na realização das atividades. 
A "queixa L" revelou o descontentamento quanto a pouca frequência dos educandos 
no plantão de dúvidas, espaço que possibilitaria o atendimento individualizado e uma 
tentativa de reverter o quadro de não aprendizagem. 
Momento dois: a concepção de ensinar e aprender 
Diante das queixas apresentadas, foi iniciada uma ação que objetivou conhecer e 
analisar o que cada um dos educadores manifestava como responsabilidade no seu 
ato de ensinar e como entendia as relações entre ensinam-te e aprendem-te e, assim 
tivesse a possibilidade de refletir sobre como se via neste processo. Foi utilizada para 
este trabalho a técnica do "par educativo". Nela cada educador desenhou uma pessoa 
que aprende e uma que ensina e formulou uma história envolvendo esses 
personagens. 
AD ao escrever sobre o desenho, uma situação de trânsito feito na frente e no verso 
da folha com riqueza de detalhes, afirmou que: "essa pessoa que está ensinando [...] 
não está deixando a pessoa que está aprendendo à vontade e com a calma 
necessária para aprender, não respeitando o seu tempo e seu raciocínio [...]". 
Salientou, com isso, que o educador não deveria se eximir de suas responsabilidades, 
porém deveria respeitar a experiência que tem o educando ao favorecer outros 
esquemas de aprendizagem. Sua frase para o desenho foi: "Aprendendo a dirigir de 
forma espantosa e assustada". 
FR ao referir-se ao seu desenho, um adulto e uma criança com sua bicicleta na rua, 
afirmou: "Estar presente em todos eles" seria fundamental ao educador para 
acompanhar o processo de desenvolvimento da aprendizagem do educando. Fazer-
se presente seria o desafio do acompanhamento permanente, características da 
maternagem39. Sua frase para o desenho foi: "Sou eu ensinando meu filho a andar de 
bicicleta". 
A escrita da história do desenho realizado por LC, uma situação de conflito entre 
educandos com a presença passiva do educador, pareceu incomodá-lo no momento 
em que realizava o desenho. Em sua história os educandos brigavam, mas não 
sabiam o motivo. Quando da intervenção do educador presente no desenho o 
destaque esteve na frase: "Paulo [educador nomeado no desenho] não podia deixar 
aquilo acontecer". Indicou-se um conflito quanto à resolução de problemáticas 
advindas das relações que os educandos criaram. A história terminou de maneira 
bastante afetiva "um grande abraço"! Sua frase para o desenho foi: "A necessidade 
de compreensão, por parte do mediador, dá importância, dá proximidade e 
compreensão na construção de um ambiente de aprendizagem". 
No desenho realizado por FB, crianças brincavam o jogo de amarelinha. Não havia 
presença de um adulto que fizesse o papel de quem ensinava. Na escrita da história 
 
 
30 
 
do desenho, houve destaque para a ideia de que o lúdico envolveu a criança e nela 
as situações de aprendizagem espontânea ficariam mais fortes que as situações 
formais de aprendizagem. A transmissão do conhecimento aconteceu de maneira 
bastante espontânea entre as crianças que ensinavam, a outras crianças, as regras 
da brincadeira. Essa característica pareceu muito peculiar, já que FB também 
lecionava aulas na Educação Infantil. Sua frase para o desenho foi: "Ensinar e 
aprender em situações não escolares. É importante não escolarizar todos os 
conhecimentos, eles são da vida. Aprende-se no brincar, e em cada fase com coisas 
diferentes". 
Para EC o ambiente da aprendizagem também estava relacionado ao espaço não 
formal. Ele trouxe em sua narrativa a presença de um ambiente cercado por árvores, 
em que um educador, no desenho representado por um homem cercado por crianças, 
que aprendeu com "os mais velhos" transmitia para crianças, de forma oral, seus 
saberes e vivências. Sua frase para o desenho foi: "Conhecer para preservar". 
Numa mesma tendência, ou seja, uma história de aprendizagem e ensino que 
acontecia em um ambiente extraclasse, BR representou em seu desenho uma criança 
e um adulto contemplando e conversando embaixo de uma árvore. Em sua 
apresentação, foi pertinente a afirmativa sobre as dificuldades que os educadores 
encontravam em ensinar em um ambiente que não fosse a sala de aula. Sua frase 
para o desenho foi: "Aprender com a realidade do cotidiano, de maneira informal, 
apreciando o conhecimento". 
Ao narrar a história de seu desenho, uma área urbana com muitos carros e uma 
escola, EZ tomou o lugar de seus educandos para relacionar o aprender e o ensinar. 
Detalhadamente apontou a observação dos educandos sobre a realidade como ponto 
de partida para que a aprendizagem acontecesse em sala de aula. Sua frase para o 
desenho foi: "Observando e decifrando a paisagem".O desenho de NZ foi um resgate em sua memória do que viveu no período escolar 
com sua educadora de Língua Portuguesa. NZ definiu que ensinar seria viver aquilo 
que se sabe com "magia, amor, empatia [...]" e aprender seria "descobrir que o 
conhecimento pode ser mágico - lugar da criatividade, da experiência do novo - amor, 
empatia [...]". NZ afirmou que repetiu a palavra empatia, para aprender e ensinar, por 
se tratar de um processo de uma "via de mão dupla". Sua frase para o desenho foi: 
"Para aprender e ensinar é preciso amor ao conhecimento, empatia, acolhida, partilha 
[...]". 
As memórias negativas do ambiente escolar formal foram lembradas por PL. Em seu 
desenho, o professor de matemática, a sua frente, ensinava sem se dar conta de que 
seu aluno pouco entendia do que ele falava. Na narrativa sobre o desenho, PL 
destacou que o aprendido pelo aluno foram apenas as palavras: "Blá, Blá, Blá", dando 
a conotação de que o conteúdo apresentado pelo professor não possuía nenhum 
sentido. Sua frase para o desenho foi: "O professor de matemática está ensinando e 
o aluno não está aprendendo. Enquanto o professor fala, pensa no que ouve, isto é, 
 
 
31 
 
não entende o raciocínio do professor, mas não tem coragem de falar que não está 
entendendo". 
Outra situação de trânsito foi criada para representar a situação de ensino e 
aprendizagem. Desta vez, SL apresentou em seu desenho, com riqueza de detalhes, 
personagens que foram descritos em sua narrativa como cumpridores de regras 
específicas para o "trânsito". Demonstrou preocupação com o papel que cada 
indivíduo deveria ocupar para que o processo de ensino e aprendizagem pudesse 
acontecer. Sua frase para o desenho foi: "Aprender também é saber respeitar". 
Dos dez desenhos e das discussões destacamos que: 
• Quatro educadores indicaram para o uso da realidade como ponto de partida e 
suporte para o trabalho de ensinar, como facilitador da aprendizagem (AD, LC, PL e 
EZ). Tem-se, assim, a possibilidade de no ensinar deixar transparecer, a quem 
aprende, a peculiaridade do ser humano em estar no mundo e com o mundo, como 
ser histórico, intervindo no mundo. Assim, deve-se considerar a experiência do 
aprendente no momento da ensinagem; 
• Sete educadores apontaram para a necessidade de construção da proximidade entre 
educador e educando (PL, LC, AD, FR, EZ, EC e NZ) e, com isso, nos remeteram aos 
"saberes necessários à prática educativa" (Freire24), em que ensinar exige do 
educador o respeito ao que o educando sabe e, além disso, autonomia do ser 
educando; 
• para FR, aprender e ensinar significou também o acompanhamento permanente do 
educando pelo educador; 
• FB assinalou a importância da aprendizagem não escolarizada, ou seja, essa 
também se dá na vida e no prazer de viver; 
• Três desenhos relacionaram-se a paisagens: dois deles à paisagem natural (BR e 
EC) e outro à paisagem urbana (EZ). Mais uma vez, a formação dos educadores se 
fez presente: os dois educadores que representaram a paisagem natural eram 
formados na área de Biologia e responsáveis por alguns projetos ambientais da 
Associação. O desenho da paisagem urbana foi feito pelo educador da área de 
Geografia; 
• Dois desenhos apresentaram a temática do trânsito e suas regras. Os educadores 
que os realizaram (AD e SL) ministravam disciplinas das Ciências da Natureza e 
Matemática, o que evidenciou a preocupação que tinham com as ordens e regras, 
exigências dessas disciplinas para se alcançar um resultado exato; 
• Três desenhos representaram a situação escolar com a presença física do 
responsável pelo ensinar - o professor (PL, LC e NZ). Interessante notar que nos 
desenhos o professor presente faz toda diferença para o processo de quem aprende. 
 
 
32 
 
Em um dos desenhos, o professor estava distante e não percebeu as dificuldades do 
aluno, já nos outros dois, a interferência e a proximidade do professor facilitaram a 
aprendizagem do aluno; 
• Dois desenhos tratavam do lúdico (FB e FR). O lúdico se apresentou na convivência 
diária ao favorecer a construção de uma relação de proximidade entre as pessoas, 
assim como facilitador na aproximação dos conteúdos à vida dos educandos, o que 
tornaria o aprender prazeroso e favoreceria a melhoria da aprendizagem24,34,35. 
Esta atividade, além de ser um momento de bastante descontração no grupo, deixou 
claro que seus componentes valorizavam as atividades educativas não formais, já que 
em várias situações quem ensina e quem aprende não estavam identificados 
especificamente com esta função e não estavam no ambiente formal de educação. 
Outra questão presente nas discussões da psicopedagogia, e que se evidenciou nos 
desenhos e na fala dos educadores foi que no processo educativo, aspectos 
biológicos, afetivos e intelectuais sofreriam influências e seriam influenciados pelas 
condições socioculturais do indivíduo e do seu meio27. 
Momento três: Os educadores modelos 
Em um processo reflexivo, fez-se importante o resgate das matrizes pedagógicas, os 
modelos para a ação do ensinar. Freire40 defendeu esta tese destacando que o 
processo de resgate contribuiria para a percepção da distância entre aquele que 
constrói e aquele que reproduz o processo de aprendizagem. Para ele, tal processo 
"possibilita que [se] compreenda a diferença entre construir conhecimento e reproduzir 
conhecimento, repetir história e construir história". 
Os dez sujeitos da pesquisa relataram quem/qual eram seus modelos a partir da frase: 
"Aprendemos sempre a partir de um modelo, nunca do nada. Não existe ação 
educativa que prescinda de modelos"41. 
Como resposta um deles trouxe como modelo para sua atuação a experiência direta 
com seus educandos. A proposta apresentada era clara para que buscassem em sua 
memória exemplos de educadores que ajudaram a construir os profissionais que eram 
hoje. Não houve tempo para discutir a presença dos educandos neste resgate, porém 
não houve falta de participação do mesmo, já que outros "modelos" foram trazidos em 
seu registro. 
De maneira geral, os educadores citaram que o grupo do qual fazem parte, ou seja, o 
grupo aqui estudado, colaborou como modelo para a sua atuação individual. Para 
alguns, essa presença do modelo do comportamento do grupo foi tão importante que 
o exemplo de ser educador nesse foi levado para outros ambientes de atuação na 
educação formal. 
 
 
33 
 
O nome de um educador, do próprio grupo, foi citado como modelo. Tal situação 
decorreu da característica comum de que um grupo de educadores passou pela 
Associação como educando e hoje trabalha nela, tendo no grupo de trabalho esse 
antigo educador. A maneira peculiar de como tratava cada um deles favoreceu o 
resgate, pois tinha uma postura de cumplicidade ao mesmo tempo em que dominava 
o conteúdo. 
Apresentaram-se modelos familiares que ajudaram a construir a maneira de atuar. O 
caráter, os valores e atitudes de respeito diante do educando e das diferenças que 
cada um apresentava eram, segundo os relatos, contribuições de aprendizagens que 
construíram dentro das relações familiares. 
Outros modelos para a prática pedagógica foram lembrados pelo domínio de certo 
conteúdo e a aproximação do mesmo com a realidade, modelos esses baseados em 
profissionais de diversas áreas do mercado de trabalho. 
Um último dado relevante foi que apenas dois educadores não relataram como modelo 
educadores/professores antigos, das disciplinas que ministravam no curso. 
Momento quatro: As propostas de mudanças 
Apoiados pelas provocações metodológicas e didáticas de alguns textos, 
principalmente Fazenda42 e M. Freire43, os educadores foram convidados a confrontar 
a prática efetivada junto aos educandos na expectativa de evidenciarem aspectos que 
necessitavam de revisão e refletir sobre as possibilidades do desenvolvimento de 
novas experiências pedagógicas. 
Depois de um longo caminho de reflexão possibilitado pela leitura e discussão dos 
textos, uma dinâmica foi proposta para a construção de um mapa conceitual.Foi 
escolhido entre o grupo um dos educadores para ser o escriba de tudo o que 
acontecesse na reunião e um segundo para registrar o mapa conceitual, que foi 
construído na lousa, no papel. 
A dinâmica tinha como objetivo, a partir da ideia central "Curso C", que os educadores 
individual e coletivamente, e em silêncio, construíssem relações, em um 
organograma, entre questões da sua prática diária no curso. Ou seja, de forma 
organizada, cada educador poderia levantar-se, ir à lousa, e contribuir no mapa, 
também era permitido apagar uma ideia colocada anteriormente, ou relacioná-la com 
outras. O grupo aceitou e reagiu com muita expectativa. 
Ao final da construção, foi pedido que cada educador registrasse, por escrito, o que 
era possível ler no que haviam acabado de construir. Quando encerraram esta etapa, 
houve a partilha e alguns deles relataram ver uma grande confusão e que não podiam 
explicar tudo o que estava colocado no mapa conceitual. 
 
 
34 
 
No encontro seguinte, cada educador recebeu uma cópia do mapa conceitual 
construído coletivamente. A intenção foi promover uma discussão entre duplas que 
objetivava o repensar do mapa com a produção de uma nova organização para clarear 
a atuação do grupo. 
Para finalizar esse trabalho, a partir da reorganização do mapa, foi criada uma 
proposta de atividades que tinha como base as atividades já desenvolvidas no "Curso 
C", ou seja, simulados, encontros dos educadores, a metodologia utilizada em sala de 
aula, a organização das turmas, o cronograma de horários e o material para os 
educandos. 
A reflexão nas duplas foi um momento de muito trabalho criativo, em que os 
educadores trocaram e leram a forma como enxergavam cada ponto colocado na 
primeira proposta do mapa conceitual. 
O momento seguinte serviu para a partilha das duplas. 
A primeira dupla, AD e SL, relatou que a partir do momento que se dedicaram ao mapa 
algumas coisas pouco compreendidas inicialmente fizeram sentido. Propuseram 
atividades para além do curso do qual estavam envolvidos: organização de um 
cronograma específico por eixo temático de aulas "diferentes"; realização de 
simulados mensais nos finais de semana e; a realização de atividades culturais e 
esportivas complementares. 
A segunda dupla, EC e FR, apresentou uma releitura que evidenciou a saída do caos 
em que se encontravam frente a tantas questões emergentes. Quanto às sugestões 
concluíram: algumas semanas temáticas da instituição (atividades semestrais em que 
alguns temas relacionados a questões ambientais e de cidadania eram estudados 
durante uma semana por todos os educandos que participavam da Associação) 
deviam ser agregadas e repensadas em seu tempo de duração; que era necessário 
intensificar os temas dos eixos com atividades conjuntas; que o momento coletivo e 
mensal de assistir um filme, para reflexão de um tema proposto pela Associação, 
contasse com participação dos educandos em sua preparação; que acontecessem 
simulados nos finais de semana; que houvesse estímulo aos educandos e aos outros 
educadores da instituição na participação em lutas sociais e políticas; além da garantia 
de um dia de encontro por eixo no cronograma de atividades semanais dos 
educandos. 
A terceira dupla, FB e BR, organizou o mapa conceitual por cores, em torno de quatro 
eixos de atuação: o contexto individual, o contexto coletivo, o que ofereciam no curso 
e as dúvidas que surgiram no processo. Sugeriram muitas propostas: encontros de 
formação do grupo de educadores com mais afinidade temática; otimização do tempo 
de planejamento coletivo; exploração dos diversos espaços da instituição; preparação 
dos conteúdos com oportunidades para que os educandos se expressassem por meio 
de registros; aulas temáticas; o uso de material de apoio, pronto ou elaborado pelos 
educadores; estudo de meio com diversidade de temas; simpósios preparados pelos 
 
 
35 
 
educandos; organização da semana da primavera e da cidadania; participação dos 
educandos na preparação da atividade intitulada cine fórum; e integração dos eixos, 
projeto de vida e atividades complementares. 
A última dupla, EZ e LC, ao apresentar seu mapa conceitual, provocou um grande 
debate, caracterizado pela confusão que, segundo os outros participantes, ainda 
apresentavam em sua leitura. A dupla conseguiu explicar que o processo que fizeram 
era de separar o antes e depois da passagem dos educandos no curso. Sugeriram: 
adequação do espaço, com diferenciação da organização tradicional de escola; 
exposições artísticas que atingissem e influenciassem o espaço da sala de aula; 
semanas temáticas por eixos; mais estudos do meio e; reorganização do cronograma 
de aulas. 
As discussões trouxeram novos ares para as relações entre os educadores e, para 
finalizar, todas as sugestões foram encaminhadas à coordenação geral do projeto 
como demonstração da necessidade de reformulação de aspectos importantes na 
produção do trabalho pedagógico com os educandos. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
"Talvez que um professor seja um funcionário das instituições que gerenciam lagoas 
e charcos, especialista em reprodução, peça num aparelho ideológico de Estado. Um 
educador, ao contrário, é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor 
de projetos. Não sei como preparar o educador. Talvez que isto não seja nem 
necessário e nem possível.... É necessário acordá-lo. E aí aprenderemos que 
educadores não se extinguiram como tropeiros e caixeiros. Porque, talvez nem 
tropeiros e nem caixeiros tenham desaparecido, mas permaneçam como memórias 
de um passado que está mais próximo do nosso futuro que o ontem. Basta que o 
chamemos do seu sono, por um ato de amor e coragem, E talvez, acordado, ele 
repetirá o milagre da instauração de novos mundos44". 
Durante a intervenção, ficou clara a necessidade da construção de um olhar 
psicopedagógico específico voltado ao grupo de educadores sociais. Os mesmos 
possuíam inúmeras práticas, porém lhes faltavam os momentos de análises das 
mesmas para perceber a qualidade de sua atuação e o envolvimento com a 
aprendizagem dos educandos que chegavam à educação não formal, sem algumas 
aprendizagens entendidas como básicas no momento formal da educação escolar. 
A psicopedagogia institucional pôde colaborar com este grupo em sua perspectiva 
preventiva16, pois favoreceu o resgate das concepções e estratégias metodológicas 
utilizadas com vistas à diminuição da frequência dos problemas de aprendizagem 
apresentadas pelos educandos. 
 
 
36 
 
No processo, os educadores entenderam que o ambiente em que acontecia o 
processo de aprender e ensinar poderia se organizar para favorecer que os diversos 
conhecimentos trabalhados fossem usados por seus educandos, diante das várias 
temáticas abordadas, de forma interdisciplinar24. 
Seus modelos de educadores contribuíram para justificar esta ideia, pois tais modelos 
iam desde pessoas que não atuavam em instituições educacionais, passando por 
seus familiares, até os educadores identificados como seus companheiros de trabalho 
ou os professores do passado que dominavam os conteúdos e os aproximava da 
realidade. 
Na observação desse grupo, foi possível entender um conceito defendido por M. 
Freire43 de que todo educador é um "alfabetizador", não só entendido como aquele 
que nos primeiros anos de vida escolar ensina a linguagem escrita à criança, mas 
como um profissional preocupado com outras linguagens e, em qualquer faixa etária 
da vida. 
Para tanto, sugere-se que a prática de intervenção crie espaços sistematizados de 
acompanhamento desses educadores, em uma constante entre: a) uma prática 
estética: apropriação do seu pensamento por meio de referências culturais e pessoais; 
b) uma prática reflexiva sobre a ação pedagógica: momento para pensar com o outro, 
estruturar hipóteses, registrar o processo para revê-lo, aprofundar e ampliar suas 
ideias e; c) uma prática teórica: significação da realidade por meio de estudos para 
recriar a prática16,24,28. 
Nesteprocesso de intervenção psicopedagógico, o desenvolvimento do trabalho foi 
mediado pelas práticas estéticas, reflexivas e teóricas, o que possibilitou a produção 
de propostas do grupo de educadores, para a Associação. 
Nesse contexto de educação popular, em que se considerou a realidade sociocultural 
do educando, possibilitou-se o avanço da intervenção de maneira crítica sobre a 
atuação dos educadores. Com isso finalizaram com propostas que, fundamentadas 
na melhoria do trabalho educativo, pretenderam resgatar a história dos educandos da 
periferia e construir, com eles, discussões sobre a cidadania para uma sociedade mais 
justa e humana, como pretende essa concepção de educação. 
Por fim, cabe ressaltar a importância do distanciamento do profissional psicopedagogo 
do processo vivenciado. Desafio importante para que o envolvimento necessário 
possibilitasse intervenções profundas com o devido "cuidado do cuidador"33,45. 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
37 
 
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pedagógica na educação popular de Chapecó (SC) [Dissertação]. Ijuí: Universidade 
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29. Melo Neto J. Ed. popular: enunciados teóricos. Vol. 1. João Pessoa: UFPB;2004. 
30. Melo Neto J, Rosas A. Ed. Popular: enunciados teóricos. Vol. 2. João Pessoa: 
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39 
 
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40. Freire P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra;1964. 
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41. Freire P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra;1964. 
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42. Fazenda I. Interdisciplinaridade. Campinas: Papirus;1994. 
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40 
 
 
DISPONÍVEL EM: http://www.webartigos.com/artigos/a-atuacao-psicopedagogica-e-aprendizagem-
escolar/24959/#ixzz4BnAFx8Z6 
AUTORA: Antônia Lima 
ACESSO EM: 17/06/2016 
 
A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM 
ESCOLAR 
 
RESUMO: 
 
 
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de se buscar soluções para a questão do problema de 
aprendizagem; ela vem caminhando com a intenção de contribuir para uma melhor compreensão desse 
processo. A Psicopedagogia é uma área de estudos recentes, que resultou da união dos 
conhecimentos não só da Psicologia e da Pedagogia, mas também de diversas outras áreas como 
Fonoaudiologia, Medicina, Psicanálise. Porém, mesmo sendo a Psicopedagogia uma área 
interdisciplinar que teve um crescimento considerável nos últimos anos, ela tem, historicamente, se 
ligado mais a Educação do que à Medicina e a Psicologia. O profissional da psicopedagogia deve atuar 
como mediador, intervindo entre o indivíduo e suas dificuldades de aprendizagem, deve conhecer os 
problemas e interpretá-lo para então intervir da maneira mais correta. Dessa forma, o Psicopedagogo 
irá auxiliar o indivíduo a retornar o percurso normal da aprendizagem, estabelecendo um vínculo 
positivo com o mesmo e com seus familiares, objetivando resgatar o prazer de aprender. Destacando 
como referencial teórico. 
http://www.webartigos.com/artigos/a-atuacao-psicopedagogica-e-aprendizagem-escolar/24959/#ixzz4BnAFx8Z6
http://www.webartigos.com/artigos/a-atuacao-psicopedagogica-e-aprendizagem-escolar/24959/#ixzz4BnAFx8Z6
 
 
41 
 
 
 
PALAVRAS-CHAVE:Psicopedagogia; aprendizagem; conhecimentos; Educação. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e 
pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa 
que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto 
que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. 
É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto 
de estudo o ser em processo de construção do conhecimento. 
 
Tem sido muito acentuado os desafios da educação, sendo que os números e a 
realidade revelam, claramente, que não tem sido fácil superá-los. Acreditamos que há 
necessidade de um esforço conjunto, envolvendo profissionais de formações distintas, 
mas complementares, que possam colaborar para a elaboração de novas propostas 
educacionais, que melhor se ajustem ao perfil da população a ser educada Zorzi apud 
SCOZ et, al, (2003, p 166). 
 
Surgiu no país baseada em modelos médicos, tendo início nos anos 70 cursos de 
formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com 
duração de dois anos, preocupados com o grande número de crianças com fracasso 
escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver 
tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual 
a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, 
junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-
aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu 
papel de parceira nesse processo. 
 
Parente e Renña salienta que: 
É necessário "diferenciar com cuidado as crianças com dificuldades de aprendizagem 
das crianças com dificuldades escolares". Para elas essas últimas revelam a 
incompetência da instituição educacional no desempenho de seu papel social e não 
podem ser consideradas como problemas dos alunos. PARENTE e RENÑA- 
Scoz(1987 op. cit. Sisto 2008) 
 
 
42 
 
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o 
trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no 
sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. 
Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades 
de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a 
intervenção psicopedagógico ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino. 
O presente trabalho tem o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a 
importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar. 
 
1. A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR 
1.1. HISTORIA E CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA 
 
Segundo Rubinstein, 
A Psicopedagogia surgiu da inquietação e insatisfação dos profissionais que tratavam 
das dificuldades de aprendizagem. ... quero ressaltar que o que estava em evidencia 
era o tratamento das dificuldades, pouca preocupação havia sobre sua origem 
levando em conta a história do aprendiz. A ênfase estava em afastar o mal 
funcionamento por meio de uma boa "ensinagem", e, como consequência, o aprendiz 
poderia inteirar-se voltando a aprender normalmente. Rubinstein apud SCOZ, et, al 
(2003, p. 127-128): 
Os primeiros Centros Psicoterápicos foram fundados na Europa, em 1946 por 
Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam 
conhecimentos da área da psicologia, psicanálise e pedagogia onde se tentava 
readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou lar e 
atender muitas outras com dificuldades de aprendizagem apesar destas serem 
crianças inteligentes. Esperava-se na época através da união psicologia-psicanálise-
pedagogia conhecer a criança e o seu meio para que fosse possível compreender o 
caso para determinar uma ação reeducadora, diferenciando os que não aprendiam 
dos que aprendiam daqueles que apresentavam algumas deficiências mentais, físicas 
ou sensoriais. 
 
Esta corrente europeia influenciou significativamente a Argentina, tendo surgido aí há 
mais de 30 anos sendo Buenos Aires a primeira cidade a oferecer o curso. Foi na 
década de 70 que surgiram lá os Centros de Saúde Mental, onde equipes de 
psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Percebendo estes que 
um ano após o tratamento os pacientes resolviam seus problemas de aprendizagem, 
 
 
43 
 
mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. 
Assim resolveram incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica nas suas práxis. 
 
Sisto adverte: 
Convém lembrar, também, que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, na 
teoria psicanalítica, é de causa e efeito, tendo o desenvolvimento emocional como 
gerenciador primaz do processo de relação com o mundo e determinante de 
aprendizagens e seus problemas. Sisto, et al. (2008, p. 43) 
 
Nesta época as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção 
neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste 
período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Inicialmente, os 
problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por médicos na Europa no 
século XIX e no Brasil. Ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já 
foram examinadas por um médico, por indicação da Escola ou mesmo por iniciativa 
da família, devido aos problemas que este indivíduo está apresentando na escola. 
 
A Psicopedagogia foi introduzida aqui no nosso país baseada em modelos médicos e 
foi assim que se iniciaram nos anos 70 cursos de formação de especialistas em 
psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de dois anos. 
De acordo com Visca (1987): 
A Psicopedagogia foi num primeiro momento uma ação subsidiada da Medicina e da 
psicologia, perfilando-se como saber independente e complementar, possuída de um 
objeto de estudo – o processo aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores 
e preventivos próprios. VISCA (1987, op. cit. CHAMAT. 2008) 
 
Em 1996 foi aprovado em Assembleia Geral no III Congresso Brasileiro de 
Psicopedagogia, o Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a 
Psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o 
processo de aprendizagem humana, é de natureza interdisciplinar e o trabalho pode 
se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou remediativo e cabe ao 
psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código. 
 
1.2 – Regulamentação 
 
 
 
44 
 
No Brasil vivencia-se ainda a luta, para que se regulamente a profissão de 
psicopedagogo, de modo que este seja formado em cursos de graduação a exemplo 
do que já acontece na Europa, em especial, na França e em Portugal, além de outros 
países. 
 
Em 2005 foi reconhecido o primeiro curso de graduação em psicopedagogia, oferecido 
pela PUC/RS. Na época o Brasil já contava com outros cursos em andamento: no 
Centro Universitário La Salle, (Canoas, RS) e no Centro Universitário FIEO (Osasco, 
São Paulo). Nesta última instituição, em 2006, foi recomendado pela CAPES o 
primeiro mestrado acadêmico com área de concentração em psicopedagogia 
. 
A regulamentação brasileira tem avançado a partir do Projeto de Lei nº 128/2000 e da 
Lei n.º 10.891. Entretanto, as regulamentações de qualquer nova profissão, a exemplo 
das tentativas de regulamentação da psicanálise no Brasil, têm encontrado uma forte 
barreira constitucional, pois o Art. 5º da Constituição Brasileira prevê o "livre exercício 
profissional", sendo entendido que é desnecessário e oneroso para o Estado a 
regulamentação de profissões, exceto quando há risco eminente para a sociedade. 
 
1.3- Quem é o Psicopedagogo 
 
Para Mery (1985). 
Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de 
pedagogo sem perder de vista os propósitos terapêuticos