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A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA LUDOVICENSE NO TRATAMENTO DE 2º PESSOA GRAMATICAL - artigo

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A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA LUDOVICENSE NO TRATAMENTO DA 2º DO DISCURSO
Alba Catarina Gama Costa Penha
Professora Dra. Veraluce da Silva Lima (Orientadora)
Universidade Federal do Maranhão
RESUMO
O trabalho busca investigar a variação linguística relacionada ao tratamento da segunda pessoa do discurso em São Luís do Maranhão. Tem como objetivo analisar a alternância entre tu/você utilizadas por informantes que se encaixam em determinados fatores extralinguísticos como faixa etária, escolaridade e gênero. O tu e você são amplamente utilizados na cidade de São Luís, porém investigamos se há preponderância de um sobre o outro no atual recorte sincrônico. Os principais autores que dão suporte teórico são: Wilian Labov (2008), Bagno (1999), Cezario (2008), Faraco (2018), Ilari (1996), Silva (1996), Soares (1980), dentre outros que discutem sobre linguística, sociolinguística, português brasileiro e formas de tratamento pronominal, categorias de fundamental importância para a compreensão das pesquisas sociolinguísticas sobre a variação pronominal referente ao interlocutor. Como procedimento metodológico, primeiramente, foram aplicados questionários para entrevistas, que constituem o corpus da pesquisa, o suporte da sociolinguística nos deu a base teórico-metodológica para desenvolver o estudo, a partir das formas de tratamento à segunda pessoa do discurso utilizadas pelos entrevistados. A análise dos dados também se fundamentou nos pressupostos da sociolinguística, mas especificamente na sociolinguística variacionista. Os resultados decorrentes da análise dos dados podem contribuir para identificarmos se estamos em uma mudança em curso ou em um estado de variação estável referente ao uso da segunda pessoa gramatical em São Luís do Maranhão. 
Palavras-chaves: Sociolinguística; Português brasileiro; Variação pronominal.
1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Uma das principais características das línguas naturais é o dinamismo proporcionado pela interação comunicativa em diferentes contextos e por falantes com diversas características socias e regionais. Embora a variação seja um processo inerente à língua, só passou a ser objeto de estudo a partir da década de 1960, quando Wilian Labov (2008) sugeriu um modelo de pesquisa sociolinguístico estruturado, com teoria e metodologia bem delimitados. Dentre os postulados Laboviano estão presentes a variação interna, motivada por fatores linguísticos e a variação externa, que abriga fatores extralinguísticos tais como: sociais, contextuais, regionais etc.
Weinreich, Labov e Herzog (1968) dentre outros teóricos que começaram a desenvolver estudos na área da sociolinguística postularam que os fatores externos à língua são essenciais para análise e compreensão do fenômeno da variação. Sendo assim, a idade, a escolaridade, a classe social e o gênero, por exemplo, são fatores extralinguísticos investigadas para a interpretação dos fenômenos linguísticos variáveis.
Estes fatores (linguístico e extralinguístico) não produzem variação/mudança de forma repentina, mas sim de forma gradual nos quais é possível identificar diferentes estágios no processo de variação. É evidente a variação no tratamento pronominal de segunda pessoa no Maranhão, porém para identificação dos estágios e para saber se haverá uma possível mudança são necessários estudos constantes para o mapeamento deste fenômeno linguístico. A respeito disso, Alves (2012) diz que:
[...]podemos observar que o português falado no Maranhão vem apresentado variações e/ou mudanças já observadas no âmbito pronominal do PB, justificando, mais uma vez, a necessidade de estudos como este. [...]
 (São Luís, masculino, 1a faixa etária) INQ. – E no passado falavam diferente aqui? 
INF. – Não... só que aqui (antigamente) chamava mais era de tu né, chamava mais era tu, nós, eu, aí agora tá todo mundo chamando é você... você, vocês, nós.
Como podemos observar, o próprio informante, na citação acima, percebe o processo de variação que está ocorrendo no uso da segunda pessoa pronominal na fala do maranhense. Portanto, com o objetivo de colaborar com a descrição e análise do português brasileiro, sobretudo no português ludovicense, investigamos neste trabalho o uso dos pronomes tu e você como formas de tratamento pronominal de segunda pessoa.
2- EM SÃO LUIS, EU FALO TU. E VOCÊ?
Faraco (2017) afirmou que a importância de estudar as formas de tratamento ao interlocutor ultrapassa as barreiras linguísticas. Muitos antropólogos, por exemplo, realizam este estudo “pelo que elas podem revelar, em sua complexa diferenciação pragmática, de aspectos da cultura (crenças e valores) de determinado grupo humano” (FARACO, 2017 p. 114).
No que diz respeito ao uso pragmático, as pesquisas comprovam que o tu está desaparecendo e dando lugar ao você em todo o Brasil, como podemos perceber na observação de Faraco abaixo:
A situação no Brasil é bastante diferente. Você é o pronome de uso comum para o tratamento íntimo, estando o pronome tu restrito a algumas variedades regionais. A razão para esse uso tão amplo de você no Brasil deve ser encontrada, certamente, na história da formação do País. (FARACO, 2017 p. 114).
Entretanto, em alguns lugares bem pontuais, como em São Luís do Maranhão, percebe-se a presença do tu, ora com concordância ora sem concordância, no tratamento do interlocutor.
São luís possui particularidades que a difere de todas as cidades brasileiras, a começar pela sua fundação, pois é a única capital que não foi fundada pelos lusitanos, mas sim pelos franceses. Ao longo de sua história foi marcada por momentos de glória, como por exemplo no período colonial, época em que o Brasil foi dividido em dois estados no qual São Luís e Salvador eram as únicas capitais do país. Já nos sécs. XVIII e XIX, o apogeu econômico proporcionou uma intensa atividade cultural e literária, pois muitos ludovicenses tinham condições financeiras de estudar fora do país, sendo a Europa o destino mais procurado. Consoante a isto, Silva (2008) diz que “A cidade herdou do século XIX, no campo intelectual o honroso epíteto de Atenas Brasileira devido ao destaque alcançado a nível nacional de inúmeros intelectuais (SILVA, 2008, p. 02)
Neste período da história, a elite priorizava o luxo e a erudição. Filhos de grandes comerciantes e fazendeiros da região ao completarem seus estudos, tornaram-se escritores reconhecidos nacionalmente. Notabilizando-se pelo surgimento de dois grupos intelectuais como os de Gonçalves Dias e Luís Antônio Vieira da Silva; Arthur e Aluízio Azevedo, respectivamente, correspondendo à terceira e quarta fase da literatura maranhense.
Surgiu, assim, a imagem do Maranhão como o estado que fala o melhor português do país, fato este que lhe deu o título de Atenas Brasileira. Uma característica da fala maranhense que ainda se assemelha com a fala lusitana é o uso do tu com concordância, por esta única razão, construiu-se este mito linguístico no estado. A respeito disso, Marco Bagno (p.44,1999) faz considerações sobre a “boa” fama do Maranhão em relação ao uso da língua:
Ora, somente por esse arcaísmo, por essa conservação de um único aspecto da linguagem clássica literária, que coincide com a língua falada em Portugal ainda hoje, é que se perpetua o mito de que o Maranhão é o lugar “onde melhor se fala o português” no Brasil.” 
É importante ressaltar que as características linguísticas presentes em uma determinada região são frutos de processos históricos, culturais, dentre outros. Portanto, não existe uma variação linguística melhor que outra. Sobre isso, Bagno continua:
Toda variedade linguística é também o resultado de um processo histórico próprio, com suas vicissitudes e peripécias particulares. Se o português de São Luís do Maranhão e de Belém do Pará, assim como o de Florianópolis, conservou o pronome tu com as conjugações verbais lusitanas, é porque nessas regiões aconteceu, no período colonial, uma forte imigração de açorianos, cujo dialeto específico influenciou a variedade de português brasileiro falado naqueles locais. (BAGNO, p. 45 e 46,1999)
Com esta pesquisa, pretendemos identificar e investigar qual das duas variantes linguísticas tem se mostrado mais recorrente no atual recorte sincrônico. Além disso, pesquisas como estas podem contribuir para o delineamento da identidade do ludovicense, pelo viés linguístico, isto é, examinando o português falado em São Luís, uma vez que, ainda hoje, há quem defenda a ideia cristalizada de que o Maranhão é o estado brasileiro onde melhor se fala o português.
3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
Constituindo-se como um estudo de natureza sociolinguística, utilizamos os procedimentos teórico-metodológicos labovianos. Para isto, construímos um corpus a partir de entrevistas com informantes estratificados em gênero, faixa etária e escolaridade, sendo todos nascidos e residentes na cidade de são Luís. Trocando em miúdos, foram realizadas entrevistas com quatro informantes estratificados de acordo com base nos seguintes critérios: homens e mulheres em número igual distribuídos em duas faixas etárias, nascidos e residentes em São Luís, conforme mencionado anteriormente.
Este trabalho busca verificar, com base na análise do corpus construído, como as formas tu e você se encontram atualmente distribuídas no falar ludovicense. Dessa maneira, a análise dos dados objetivou o estudo da importância das variáveis linguísticas e extralinguísticas relevantes à escolha do uso do tu ou você. De tal modo, entre aos fatores extralinguísticos verificados, foram selecionadas como variáveis extralinguísticas: i) localidade – São Luís, ii) idade – faixa etária I (15 a 29 anos) e faixa etária II (30 a 49 anos), iii) sexo – masculino e feminino e iv) escolaridade – ensino médio e ensino superior. Como fator linguístico foi considerada a alternância no uso da segunda pessoa do discurso – tu e você. Uma vez selecionado o corpus mínimo e definidas as variáveis, submetemos os dados ao GoldVarbX, um programa computacional específico para a análise de regras linguísticas variáveis, que gerou os pesos relativos e a frequência de cada variável, bem como a sua distribuição e relevância estatística, possibilitando-nos observar como se configura a alternância do tu e do você no português falado em São Luís. A seguir, apresentamos a análise dos dados.
4- APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1 Tu e você: esse duelo terá fim? 
Neste item apresentamos os resultados obtidos com todos os dados coletados, bem como os fatores sociais e linguístico selecionados pelo programa com estatísticas relevantes para a compreensão da variação do tu e do você. 
Para preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, estes foram identificados da seguinte forma: aos informantes do sexo masculino atribui-se números 1 e 4, os números de 2 a 3 correspondem aos sujeitos do sexo feminino, e os de 3 a 4, aos sujeitos com formação superior e os números 1 e 2 correspondem aos que possuem o Ensino Médio. Com relação à faixa etária, os números 1 e 2 correspondem aos sujeitos mais jovens (faixa etária I), e os números 3 e 4, aos mais velhos (faixa etária II). Nesse sentido, para compor nossa amostra, selecionamos dados de 4 sujeitos, sendo todos nascidos e residentes em São Luís, como mostra o Quadro a seguir:
Quadro – Distribuição dos sujeitos da pesquisa.
	São Luís
	Informante
	Info. 1
	Inf. 2
	Inf. 3
	Inf. 4
	Escolaridade
	Ensino Médio
	Ensino Médio
	Ensino Superior
	Ensino Superior
	Sexo
	Masculino
	Feminino
	Feminino
	Masculino
	Faixa etária I
(15 a 29 anos)
	15 a 29 anos
	15 a 29 anos
	30 a 49 anos
	30 a 49 anos
Fonte: Elaborado pela autora.
O corpus foi construído com base nos dados de fala obtidos por meio da aplicação de questionários que possibilitam o estudo de diversos fenômenos linguísticos em todos os níveis de análises.
4.2- A variável dependente 
No corpus analisado, das 12 ocorrências pronominais encontradas, registramos 4 casos de tu e 8 casos de você, o que representa, respectivamente, uma frequência de 33.3% e 66.7%. A princípio, os dados contrariam o mito da Atenas Brasileira, lugar onde se fala o melhor português do Brasil do ponto de vista gramatical, em que se imagina uma maior difusão do uso tu sobre o você. Assim, em uma análise superficial, o resultado do fenômeno observado mostra que o português falado em São Luís apresenta uma alternância entre o tu e o você, sendo esta última a forma mais utilizada pelos falantes para representar a segunda pessoa do singular, como podemos observar na tabela abaixo: 
Tabela 1 – Distribuição geral dos dados
	Variante
	Nº de ocorrências
	%
	Tu
	4
	33.3%
	Você
	8
	66.7%
	Total
	12
	100%
Fonte: Elaborado pela autora.
Conforme o exposto na Tabela 1, observamos que nossos dados corroboram com os de outros estudos sociolinguísticos (AMARAL, 1976; MARROQUIM, 1996; SOARES, 1980; MONTEIRO, 1990, 1994 e 1997; ILARI, 1996), em que a forma de tratamento pronominal de segunda pessoal gramatical está em variação em todo o Brasil, assinalando que a variante inovadora você vem substituindo cada vez mais o lugar do pronome tu pelos ludovicenses.
4.3 A variação diageracional 
Na análise da variação diageracional não foi possível a obtenção dos pesos relativos haja vista que o programa Varbrul acusou Knockout no resultado desta rodada, pois não houve variação pronominal na faixa etária mais jovem, ou seja, a forma inovadora você foi utilizada por 100% dos informantes pertencentes a esta estratificação. 
No entanto, a faixa etária mais velha apresentou uma variação pronominal de segunda pessoa equilibrada, com uma tendência discreta para um maior uso do tu. Tal fato pode ser explicado como sendo uma herança linguística dos antepassados. Segue tabela com a demonstração dos resultados:
Tabela 2 – Ocorrências de tu e você por faixa etária
	Faixa etária
	Variável
	Nº de ocorrências
	Aplicação/total
	15 a 29 anos
	Você
	5
	100%
	
	Tu
	0
	0%
	30 a 49 anos
	Você
	3
	42.9%
	
	Tu
	4
	57.1
Fonte: Elaborado pela autora.
Embora haja uma discreta preferencia do tu na faixa etária mais velha, a preferencia unanime da variante você pela faixa etária mais jovem pode indicar uma mudança em progresso, pois os mais jovens apresentam a maior frequência de uso da formas inovadora (cf. CHAMBERS e TRUDGILL, 1980, p. 91-3). Podemos, assim, considerar o aspecto diageracional como fator essencial na explicação deste fenômeno linguístico.
4.4 A variação de gênero
A tabela 3 apresenta o resultado da análise do fator sexo, sendo este considerado o mais importante após as rodadas no GoldVarB X.
Tabela 3 – Ocorrências de tu e você por sexo.
	Gênero
	Variável
	Nº de ocorrências
	Aplicação/total
	Peso relativo
	Mulheres
	Tu
	2
	66.7%
	0.38
	
	Você
	1
	33.3%
	
	Homens
	Tu
	2
	22.2%
	0.81
	
	Você
	7
	77.8%
	
Fonte: Elaborado pela autora.
Os resultados da Tabela 3 mostram que os sujeitos do sexo masculino tendem a fazer mais uso do pronome você (0.81), enquanto as mulheres inclinam-se à variante tu (0.38). A diferença fica bem evidente quando verificamos que o range, a força de uma variável sobre a outra, dos pesos relativos resultou em 42. Esses números indicam que a variante você está sendo cada vez mais aceita e utilizada pelos falantes. Embora tenha constatado maior recorrência na fala dos homens, as mulheres também fazem uso da variante inovadora. Percebemos que os resultados corroboram, assim, com o que postula a Sociolinguística Variacionista – as mulheres tendem a usar a forma padrão com mais frequência que os homens. Este fato pode ser explicado pelas evidências históricas, pois a mulher, a alguns anos atrás, mantinha contato apenas com familiares e restringia-se somente ao ambiente do lar. Tal fato acabou “engessando” o seu comportamento linguístico por anos, já que ela não recebia influencias externas, além de serem cobradas a reproduzir as formas linguísticas prestigiadas, pois um bom comportamento linguístico seria considerado um bom comportamento social. Consoante a isto, Maria Maura Cezario e Sebastião Votre dizem que:
Pesquisas mostram que as mulheres tendem a usar as formas padrão de uma língua com maiorfrequência do que os homens. Há muitas tentativas de explicação para a diferença, nenhuma totalmente convincente ou suficiente. Segundo alguns estudiosos, isso se dá porque, dentre outros fatores, da mulher é cobrado um comportamento mais rígido, em conformidades com as normas, em todos os sentidos, inclusive no que se refere ao comportamento linguístico. (CEZARIO; VOTRE, 2008).
4.5 O fator escolaridade
Neste fator, mais uma vez, o Varbrul apresentou knockout após a rodada dos dados. A falta de variação adveio dos informantes de nível superior, pois estes utilizaram somente você ao se referirem à segunda pessoa gramatical. Este fato também contraria, em parte, o mito da Atenas Brasileira, pois segundo este mito, o uso do tu no tratamento de segunda pessoa caracteriza um falar correto, erudito. Além do mais, a variante tu é ensinada nas escolas como sendo a forma correta de se referir ao interlocutor, como constatam Cezario e Votre:
“a variante padrão é ensinada na escola e valorizada pelos membros da sociedade, tanto pelos que a dominam como pelos que gostariam de dominá-la, posto que sabem de sua importância para se adquiri prestigio.” (CEZARIO; VOTRE, p. 145, 2008). 
Sendo assim, o esperado seria que as pessoas mais escolarizadas utilizassem com mais frequência a variante tu, fato que foi contrariado nesta pesquisa, como podemos observar na tabela abaixo.
Tabela 4 – Ocorrências de tu e você por nível escolar.
	Escolaridade
	Variável
	Nº de ocorrências
	Aplicação/total
	Ensino Médio
	Tu
	4
	57.1%
	
	Você
	3
	42.9%
	Ensino Superior
	Tu
	0
	0%
	
	Você
	5
	100.0%
Fonte: Elaborado pela autora.
No que diz respeito aos informantes que apresentam apenas o ensino médio, observa-se uma variação equilibrada com uma discreta tendência ao uso do tu. Cabe ressaltar que este resultado não sugere que estes informantes sejam mais eruditos, haja vista que, com exceção de um, eles utilizaram o tu sem a devida concordância. 
4.6 Concordância verbal com o tu 
Este fator linguístico não foi considerado para a rodagem de dados no Varbrul, porém em uma análise visual dos dados coletados, verificou-se que apenas um informante fez uso do tu com e sem concordância. O exemplo a seguir foi retirado do nosso corpus.
INQ: imaginas que eu não daqui e eu queria muito conhecer a praia. Como é que eu faço para sair daqui do Monte Castelo para chegar lá? Queria que tu me desse as instruções.
INF: tu me pegou agora...mas de que forma que tu vais? Carro próprio, ônibus?
Sendo assim, pode-se concluir que a variante tu com concordância está em processo de desaparecimento do português falado em São Luís, porém, faz-se necessário a realização constante de pesquisas a fim de mapear este envelope variável. 
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alternância de uso dos pronomes de segunda pessoa gramatical tu e você têm sido estudas amplamente em várias cidades brasileiras. Buscamos, por meio desta pesquisa, expandir os conhecimentos acerca desse fenômeno morfossintático, principalmente no que concerne a variedade falada em são Luís do Maranhão. Assim, faremos as seguintes considerações: 
 Fator localidade: foi considerada somente a cidade de São Luís nesta pesquisa, pois o objetivo não era a comparação linguística entre cidades, como fazem grande parte das pesquisas sociolinguísticas, mas sim investigar o uso pronominal de segunda pessoa por parte dos ludovicenses.
 Fator sexo: os homens, com peso relativo 0.81, favoreceram mais o uso do você, do que as mulheres (peso relativo 0.38), confirmando as postulações laboviana de que as mulheres estão mais propensas a preservar a linguagem e optam pelas formas de prestígio; 
 Fator faixa etária: Notamos que a faixa etária mais jovem favorece o uso da variante inovadora, você. Em contra partida, a faixa etária mais velha prefere o tu, ainda que discretamente. 
 Fator escolaridade: a maior frequência de uso do você foi computada na fala de pessoas com maior grau de escolaridade, enquanto que os informantes com o ensino médio apresentaram alternância praticamente equilibrada no uso das variantes em questão.
Com a análise dos dados coletados, espera-se ter contribuído para o desenho de um mapa dos padrões de uso de formas pronominais de segunda pessoa gramatical, fornecendo subsídios que levem a configuração atual do português falado em São Luís do Maranhão. Gostaríamos de reforçar que os resultados aqui apresentados devem ser encarados como tendências, dada à limitação de nosso corpus, e que nossos resultados contribuirão para uma melhor compreensão do português ludovicense.
REFERENCIA
ALVES, Cibelle Corrêa Béliche. O uso do tu e do você no português falado no Maranhão. 2010. 143f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010
AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira: gramática, vocabulário. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1976.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico — o que é, como se faz, Ed. Loyola, 1999.
CEZARIO, Maria Maura. VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mario Eduardo. (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008, p. 141-155.
Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário
FARACO, C. (2018). O tratamento "você" em português: uma abordagem histórica. LaborHistórico, 3(2), 114-132. doi:https://doi.org/10.24206/lh.v3i2.17150
ILARI, Rodolfo et al. Os pronomes pessoais do português falado: roteiro para a análise. In: CASTILHO, Ataliba Teixeira e BASÍLIO, Margarida. (Orgs). Gramática do português falado. São Paulo: FAPESP, Editora da Unicamp, 1996. v. 4: Estudos descritivos, p.79-166.
LABOV, William, Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008 [1972].
MARROQUIM, Mário. A língua do Nordeste: Alagoas e Pernambuco. 3.ed.Curitiba: HD Livros, 1996.
MONTEIRO, José Lemos. Variação no uso dos pronomes pessoais no português do Brasil. Verba: Anuário Galego de Filologia, Santiago de Compostela, n. 17, p.145-57, 1990. Separata.
RAMOS, Conceição de Maria de Araújo. O português falado em São Luís: os pronomes pessoais na posição de sujeito, 1996. (mimeo).
SILVA, João Ricardo Costa. O crepúsculo da antiga cidade: um olhar sobre o centro histórico de São Luís (1930 – 1955). 2006. 64 f. Monografia (Graduação em História) Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2006. ________________________. A Construção do Patrimônio: a trajetória de preservação do Centro Histórico de São Luís. 193 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2009.
SOARES, Maria Elias. As formas de tratamento nas interações comunicativas: uma pesquisa sobre o português falado em Fortaleza. Rio de Janeiro. 1980. 157f. Dissertação (Mestrado em Letras), PUC Rio de Janeiro, 1980.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 2002

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