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WWW.FTD.COM.BRCapaCitação de professores É inegável o aumento do uso da internet e das redes so- ciais nos últimos anos. Da mesma forma, não podemos ignorar a nova forma de relacionamento interpessoal no mundo digital. Nesse contexto, surgem dúvidas sobre esta forma de interação, especialmente sobre a existência de regras que pautem a con- duta diária dos internautas. É imprescindível estabelecer algumas premissas sobre a utili- zação da internet. Sem sombra de dúvidas, as condutas no mundo digital devem refletir àquelas da vida existente além dos compu- tadores, smartphones e afins. Isso significa dizer que as condutas nas redes sociais devem se pautar pelo respeito e obediência às regras de convívio social decorrente dos costumes da população. Além disso, deve-se ter ciência de que a utilização da inter- net não afasta a incidência das regras jurídicas existentes para o mundo “real”, ou aquele em que há contato físico e/ou direto entre as pessoas. Ou seja, a utilização da internet, e por conse- quência das redes sociais, deve obedecer – acima de tudo – as disposições contidas na Constituição Federal, a começar pela igualdade dos cidadãos. Com isso, busca-se evitar qualquer forma de discriminação. Tanto que o mesmo texto legal dispõe, em seu art. 3º, inciso IV, que o país tem como objetivo fundamental “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Certo é também que a Constituição Federal estabelece a liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, inciso IV), no entanto, veda o anonimato. E segue prevendo o direito de resposta daquele que se sentir ofendido, além de indenização, tema que será abordado mais adiante. Além dessas disposições gerais previstas pela Constituição Federal, a legislação brasileira também estabelece parâmetros para o convívio social. Muito importante esclarecer que apesar de não serem leis criadas especialmente para a utilização das redes sociais na internet, são disposições aplicáveis também nesse âmbito. Em primeiro lugar, cita-se a legislação cível, que estabelece a possibilidade de proposição de pedido de indenização por dano moral ou material por aquele que se sentir ofendido. Ou seja, manifestações discriminatórias ou ofensivas na internet podem ser objeto de discussão judicial, inclusive com repercussão fi- nanceira, caso a ofensa seja reconhecida pelo juiz. Esse direito à indenização está previsto, além da Constituição Federal, no art. 186 do Código Civil. Importante indicar que o Código Civil estabelece que essa reparação civil (indenização), quando de- corrente de ação de menor de idade, será também de responsa- bilidade dos pais (art. 932)1. No tocante ao âmbito criminal2, as ofensas perpetradas na internet podem ser consideradas como crime (para os maiores de 18 anos) ou como ato infracional (para os menores de 18 anos)3, inclusive com responsabilização àqueles menores de idade4. Indica-se, como exemplo, as seguintes condutas, todas pre- vistas no Código Penal, possíveis de serem praticadas mediante o uso da internet: ameaça, calúnia, injúria e difamação. O crime de ameaça, previsto no art. 147, consiste em violen- tar emocionalmente alguém de forma verbal, escrita, com gesto ou outro meio simbólico, com o intuito de perturbar a liberdade psíquica e a tranquilidade da vítima. Com esta previsão, a legis- lação visa preservar a liberdade pessoal dos cidadãos. O crime de calúnia, previsto no art. 138, consiste em impu- tar falsamente a alguém fato definido como crime. Esse crime também pode ser praticado por meio oral, escrito, gesto ou ou- tro meio simbólico. Exige-se o propósito de ofender e pratica o mesmo crime aquele que, sabendo ser falsa a imputação, pro- pala, espalha ou a divulga. O crime de difamação, previsto no art. 139, consiste na im- putação de fato ofensivo a alguém. Frise-se que o fato deve ser determinado, não estando condicionado à falsidade e não versando sobre crime. Tal como o crime de calúnia, a difamação Mídias sociais: regras e condutas DANYELLE DA SILVA GALVÃO As atitudes no mundo digital devem ser pautadas pelas regras sociais estabelecidas e refletir as condutas da vida “real”. 1 Sobre a responsabilidade civil, vide VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. v. 4. 2 Importante destacar que a responsabilização no âmbito cível (indenizatório) não afasta a possibilidade de apuração da mesma conduta na esfera criminal, e vice-versa. Isso porque são áreas independentes do Direito. 3 O Estatuto da Criança e do Adolescente, aplicável aos menores de 18 anos, nomeia como “ato infracional” a conduta descrita como crime no Código Penal. Assim sendo, o mesmo fato concreto pode ter nomenclatura diferente a depender da idade daquele que o praticar. 4 Importante esclarecer que a responsabilização dos menores de idade ocorre de acordo com a previsão do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo possível a aplicação das seguintes me- didas para as crianças (até 12 anos incompletos): encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de Ensino Fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; e/ou as seguintes para os adolescentes (entre 12 e 18 anos incompletos): advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional. WWW.FTD.COM.BRCapaCitação de professores MÍDIAS SOCIAIS: REGRAS E CONDUTAS DANYELLE DA SILVA GALVÃO | 2 pode ser praticada com o uso da palavra, da escrita, do gesto ou de outro meio simbólico, e exige-se o propósito de ofender. Por sua vez, o crime de injúria (art. 140) consiste em ofen- der a honra ou o decoro de alguém. Ou seja, fundamenta-se na atribuição genérica de qualidades negativas ou de fatos vagos e indeterminados, não sendo exigida a falsidade da imputação. E como os crimes de calúnia e difamação pode ser praticado com o uso da fala, da escrita, do gesto ou de outro meio simbólico, exigindo-se o propósito de ofender. Esses três últimos crimes (calúnia, difamação e injúria) são denominados crimes contra a honra, justamente porque visam a sua proteção, e podem ser praticados por qualquer pessoa. Destaca-se que a apuração da ameaça e dos crimes contra a honra depende de representação (popularmente conhecida como “queixa”) da vítima na Delegacia ou no Poder Judiciário. Ou seja, apenas aquele que se sentir ofendido, ou seu repre- sentante legal, tem o direito de apresentar reclamação formal perante os órgãos públicos responsáveis pela apuração da con- duta contra si perpetrada. Por fim, destaca-se que fatos recentes envolvendo a atriz Caro- lina Dieckman (vazamento de fotos íntimas) culminaram na aprova- ção e sanção da Lei nº 12737/2012, que entra em vigor em meados do mês de março de 2013. A nova legislação prevê crimes informá- ticos, tal como a invasão de dispositivo informático alheio com o fim de obter dados sem autorização expressa do titular. Vê-se, assim, a preocupação governamental com a utiliza- ção indevida da internet e das redes sociais, especialmente vi- sando proteger a intimidade do cidadão5. Conclui-se, portanto, que a internet e as mídias sociais são uma realidade inegável, cuja utilização só tende a aumentar. No entanto, seus usos devem seguir os parâmetros de conduta já estabelecidos para a convivência em sociedade. Danyelle da Silva Galvão é advogada e Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESTATUTODA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Ministério da Saúde. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008. 96 p. (Série E. Legislação de Saúde). Disponível em: <http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_crianca_adolescente_3ed.pdf>. Acesso em 09 jan. 2013. MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal. Parte Especial. Arts. 121 a 234-B do CP. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 148-151. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 8. ed. São Paulo: RT, 2010. v. 2. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. v. 4. 5 Para tanto, é visível políticas públicas de capacitação de pessoal e incremento das Delegacias especializadas em apuração de crimes cibernéticos.
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