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TCC LOEMA (1)

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Crimes Virtuais - uma reflexão
Loema Lessa de Melo¹
Priscila Lima Rosa²
Resumo
A sociedade evoluiu para a era tecnológica com o surgimento da internet na década de 1960 e sua socialização a partir da década de 1980. A internet gerou o mundo virtual onde os relacionamentos acontecem diariamente e em grande velocidade, e como toda sociedade apresenta transgressões, na esfera virtual compreende delitos e crimes. Sendo o Direito uma ciência social, cabe a esse a observância das mudanças acontecidas para que o Estado possa exercer sua competência reguladora e organizadora. Nesse contexto, cabe ao Direito Penal [footnoteRef:1]definir as ações ou omissões caracterizadas como delitivas, imputando-lhes determinadas consequências jurídicas. Para tal utiliza a aplicabilidade da lei vigente em alguns casos e em outros faz-se necessária a adaptação, por analogia, como exceção. Portanto é necessária a revisão sobre o tema ao encargo de esclarecimento de alguns aspectos como a definição de crimes virtuais, a contextualização histórica de sua evolução, a caracterização de alguns dos diferentes tipos de crimes cibernéticos, as dificuldades que esses apresentam à investigação, e discriminando a legislação vigente e os projetos de lei que observam o tema, uma vez que a velocidade adaptativa da criminalidade virtual precisa ser combatida. [1: ¹ Loema Lessa de Melo, Graduanda em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira – 7º período.
² Priscila Lima Rosa, Professora, Mestre em Psicologia Social, Pós-Graduada em Direito Privado pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Especialista em Direito Civil pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), Professora Universitária de Direito Civil e Direito Civil V, Professora da Pós Graduação da Universidade Salgado de Oliveira e da Pós Graduação CBEPJUR/UCAM. Professora de Curso Preparatórios OAB. Advogada e sócia da Itabaiana & Lima advogados associados.
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Palavras-chave: internet; crimes virtuais; Direito; Direito Penal; leis
Introdução
O conceito de Direito é fundamentalmente social conforme Carneiro (2012) descreveu ser o Direito uma ciência de natureza social que acompanha a evolução do ser humano e da sociedade em si e como um todo e, por esse motivo, sofre algumas mudanças tantas quantas necessárias para que o Estado, como regulador e organizador da sociedade, tipifique as novas condutas que venham a transgredir a ordem legal estabelecida. (CARNEIRO, 2012)
Diante desse conceito, observando o aspecto tecnológico da sociedade atual, é pertinente mencionar que a internet surgiu no Brasil na década de 1980, após a Guerra Fria, no memento em que as universidades começaram a compartilhar informações com os Estados Unidos da América. Porém somente no ano de 1989, com a fundação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que a divulgação e acesso ganharam multiplicidade com o objetivo de troca de informações sobre estudos e pesquisas e de difundir a nova tecnologia pelo país. E, em 1997, foram criadas as redes locais de conexão difundindo a internet por todo o território nacional.
O advento e socialização da internet trouxe mudanças significativas na forma como a sociedade se relaciona, estabelece contatos, se comporta. Foram abertos inúmeros canais de comunicação como e-mail e as redes sociais; a interação entre as pessoas e entre essas e a sociedade sofreu uma revolução, pela velocidade de compartilhamento de informações.
A sociedade, em constante evolução, necessita ter regras para a regulação da vida, e segundo Otto (2017), não existe sociedade sem regras uma vez que a liberdade por si só, pressupõe responsabilidade, e todo direito é limitado, seja por um dever próprio ou por um direito alheio. Ainda nesse discurso, o autor afirma que todo ser humano tende a questionar essas regras, e tem em si a essência da transgressão, ou seja, a sociedade é transgressora por si só. (OTTO, 2017)
Nesse sentido, diante da revolução tecnológica e da atual sociedade ser caracterizada como a mais transgressora de todas (OTTO, 2017), a forma de cometer crimes e delitos evoluiu juntamente para a esfera digital, tanto como réplica de crimes existentes quanto a criação de novos, possíveis como uso da rede.
Sendo o Direito Penal um dos segmentos do Direito Público. Esse tem por objetivo, regular o poder punitivo do Estado, pois compreende a competência de determinar quais condutas humanas são consideradas indesejadas, necessitadas de reprovação social pois colocam em risco a convivência em sociedade, cabendo àquele estabelecer as penas que serão atribuídas aos agentes infratores, se, todavia, ferir os princípios constitucionais.
Diante dos aspectos apresentados é pertinente a necessidade de refletir acerca de crimes virtuais na atual sociedade. Para tal será realizado método de revisão de literatura compreendendo artigos científicos, periódicos, artigos em revistas eletrônicas e monografias, apontando para o esclarecimento da definição do que são crimes virtuais, para a contextualização histórica de sua evolução, caracterizando alguns das diferentes espécies de crimes cibernéticos, as dificuldades que esses apresentam à investigação, e discriminando a legislação vigente e os projetos de lei que observam o tema.
1 Crimes virtuais
1.1 Definições de crimes virtuais
A Organização das Nações Unidas para a Educação, ciência e cultura (UNESCO) caracteriza a internet como sendo um ambiente humano que compreende incontáveis formas de comunicação, expressão de ideias e transações, inclusive econômicas, entre pessoas de todos os países do mundo, um ambiente plural em cultura, língua, idades e profissões.
Relacionando direito e internet, Carneiro (2012) discorre que o direito como instrumento regulador de fatos juridicamente considerados relevantes, tem o dever de acompanhar as mudanças provenientes da tecnologia objetivando a adaptação efetiva e gradual de acordo com a mudança ocorrida na realidade, esforçando-se para promover novas soluções para os novos problemas gerados, propondo-se a observar os aspectos jurídicos do uso da internet e dos desdobramentos de seu desenvolvimento. (CARNEIRO, 2012)
Conforme Trentin, (2012 apud Assunção, 2018), a internet é a grande revolução do meio tecnológico pela qual surgem tecnologias de informação fomentando mudanças no contexto global e social da contemporaneidade. Nesse contexto, os relacionamentos virtuais acentuam-se de forma nunca antes vista, o que contribui significativamente de forma positiva para muitos aspectos econômicos e sociais da globalização bem como de forma negativa, traz a crescente utilização da tecnologia para a prática de atos ilícitos (TRENTIN; TRENTIN, 2012 apud ASSUNÇÂO, 2018).
A internet é uma ferramenta de comunicação que gera, no sentido gênesis, um ambiente paralelo, social e virtual, que precisa ser regulamentado como os outros meios sociais de comunicação para que os direitos sejam individuais e coletivos sejam resguardados. 
No âmbito legislativo, encontra-se a definição de internet de acordo com a Lei n° 12.965, de 23 de abril de 2014, também conhecida como o Marco Civil da Internet, quando dispõe que: “Art. 5° [...] I - Internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para o uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes” (MELLO; ALMEIDA, 2019).
Os crimes virtuais, comumente denominados crimes digitais, de informática, cybercrimes, constituem-se como aqueles que são cometidos através de computadores, contra os mesmos, ou através deles. Com sua maioria praticados através da internet, o instrumento mais utilizado permanece sendo o computador, porém com o avanço da tecnologia foram acrescentados outros instrumentos de acesso à internet para a prática de crimes desse gênero.
Dentre alguns professores e autores, Sergio Marcos Roque (2007 apud CARNEIRO, 2012), conceitua crime de informática como sendo todos os tipos de conduta, que tenha sido definida pela lei como crime, tendoo computador como instrumento que tenha sido utilizado para perpetração.
Fabrizio Rosa (2002) também conceitua o crime de informática de maneira detalhada como sendo: 
 É a conduta atente contra o estado natural dos dados e recursos oferecidos por um sistema de processamento de dados, seja pela compilação, armazenamento ou transmissão de dados, na sua forma, compreendida pelos elementos que compõem um sistema de tratamento, transmissão ou armazenagem de dados, ou seja, ainda, na forma mais rudimentar; 2. o „Crime de Informática‟ é todo aquele procedimento que atenta contra os dados, que faz na forma em que estejam armazenados, compilados, transmissíveis ou em transmissão; 3. assim, o „Crime de Informática‟ pressupõe does elementos indissolúveis: contra os dados que estejam preparados às operações do computador e, também, através do computador, utilizando-se software e hardware, para perpetrálos; 4. a expressão crimes de informática, entendida como tal, é toda a ação típica, antijurídica e culpável, contra ou pela utilização de processamento automático e/ou eletrônico de dados ou sua transmissão; 5. nos crimes de informática, a ação típica se realiza contra ou pela utilização de processamento automático de dados ou a sua transmissão. Ou seja, a utilização de um sistema de informática para atentar contra um bem ou interesse juridicamente protegido, pertença ele à ordem econômica, à integridade corporal, à liberdade individual, à privacidade, à honra, ao patrimônio público ou privado, à Administração Pública, etc. (ROSA,2002, p. 53-54 apud CARNEIRO, online, 2017)
Ferreira (2005, apud MELLO; ALMEIDA, 2019) defini crimes virtuais como atos que são dirigidos contra um sistema de informática, ou contra dados ou programas de computadores. Acrescentam-se atos cometidos por intermédio de um sistema informatizado e que incluem infrações contra a liberdade individual e contra a propriedade e bem imaterial.
O professor Paulo Marco Ferreira Lima acrescenta a definição os crimes virtuais, os quais o mesmo chama de crimes de computador, como uma conduta dos seres humanos, que está compreendida no direito penal fato típico, antijurídico e culpável, no qual uma máquina de computador tenha sido instrumento facilitador da execução ou consumação do ato de delito, que cause danos a outras pessoas, e que beneficie ou não o autor do fato. (apud PALAZZI, 2000, apud FIORILLO;CONTE, 2016 apud ASSUNÇÃO, 2018)
Diante de alguns conceitos estabelecidos, percebe-se que a significância de crimes virtuais é genérica e varia de acordo com a interpretação pessoal de cada autor. Todavia o que é pertinente ressaltar, de acordo com Gonçalves (2013), fica ao encargo da essência desses crimes ser a internet e instrumentos de acesso a este ambiente serem máquinas computadorizadas. Salienta também não haver necessidade de conexão para a consumação do delito. (GONÇALVES, 2013 apud MELLO; ALMEIDA, 2019)
De acordo com Sydow (2009), o crime cibernético precisa ser analisado de forma particular pois possui peculiaridades intrínsecas, por exemplo, comparada ao crime “real” não possui local de ocorrido precisado, dispensa o contato físico para a ocorrência, acontece em um ambiente sem povo, governo ou território, não gera sensação de violência e não há padrões pré-estabelecidos para a ocorrência. (SYDOW, 2009 apud ASSUNÇÃO,2018)
No que concerne a classificação, segundo Bortot (2017), os crimes virtuais podem ser classificados dentre algumas categorias onde encontram-se compreendidos invasão cibernética, diferenciado por não haver acesso autorizado ao sistema; fraude cibernética ou roubo que compreende roubo de identidade, fraude online, pirataria digital, pornografia cibernética e obscenidade compreendendo materiais de exploração sexual infantil ou ciberviolência, o mesmo que cyberstalking; ciberterrorismo. (BORTOT, 2017 apud JÚNIOR; NASCIMENTO; SANTOS, 2020)
Otoboni et al, (2019) versa que os crimes virtuais podem ser classificados em quatro categorias distintas que são próprios, impróprios, mistos, mediatos ou indiretos. (OTOBONI et al, 2019 apud JÚNIOR;NASCIMENTO;SANTOS, 2020) 
1. Próprios: são aqueles em que a inviolabilidade das informações automatizadas (dados) é protegida pelo bem jurídico da norma penal. O maior exemplo a ser citado nesse aspecto de crime cibernético é a invasão dos criminosos no aparelho eletrônico das vítimas; 2. Impróprios: são aqueles em que o principal aparato para sua que seja consumada a sua execução é o próprio computador, entretanto, não há que se falar em agravo ao bem jurídico estabelecido dos dados dos usuários. Exemplo: crimes contra a honra, sendo cometidos através do envio de um email; 3. Mistos: são aqueles decorrentes da invasão de aparelhos eletrônicos. “Ganharam status de crimes sui generis, cedida a importância do bem jurídico diverso da inviolabilidade dos dados informáticos dos usuários” (VIANNA; MACHADO, 2013,p. 34 apud JÚNIOR;NASCIMENTO;SANTOS, 2020)).4. Mediatos ou indiretos: são aqueles delito-fim não informático que herdou as características do delito-meio informático, realizado para configurar a própria consumação do ato em si (VIANNA; MACHADO, 2013, p. 35 apud JÚNIOR;NASCIMENTO;SANTOS, 2020)
Apelando para uma forma mais didática e conferente com o que ocorre na realidade, dentre as classificações doutrinárias dos crimes cibernéticos, destacam-se os crimes como próprios ou impróprios. Porém, a nível de esclarecimento, cabe discriminar sujeito ativo e passivo, dentro do conceito de crimes virtuais. 
Sujeito ativo é aquele que, de fato, comete o crime, observando-se que, na maioria das vezes, é difícil a sua constatação pois existem diversas maneiras utilizadas pelos mesmos para mascarar, esconder sua identidade ou ainda tentar falsificar a autoria, ao passo que sujeito passivo é qualquer indivíduo, sendo pessoa física ou jurídica, em que é observado que recebeu qualquer tipo de dano na esfera virtual. (CARNEIRO, 2012)
 Considerando ainda a autora, Carneiro (2012), essa defende crime virtual próprio ser o que compreende todo e aqueles em que o sujeito utiliza-se necessariamente do computador para acessar ou invadir o sistema informático do sujeito passivo. Essa classificação engloba não somente a invasão de dados não autorizada como toda interferência em dados informatizados de outrem, incluindo invasão de dados armazenados em computador seja visando modificar, alterar, inserir dados falsos, nesse sentido, que atinjam diretamente os softwares ou hardwares do computador e que só podem ser concretizados pelo computador ou contra esse. (CARNEIRO, 2012)
Enquanto que crimes virtuais impróprios compreendem aqueles realizados com a utilização de computador, nesse caso, utilizado como instrumento para condutas ilícitas já tuteladas juridicamente, ou seja, crimes já tipificados que agora utilizam o computador e/ou a rede como meio de realização de crimes. O diferencial está na essencialidade do instrumento, o computador, que nesse caso não ocorre para que, de fato, o ato seja praticado, pode-se citar como exemplo a pedofilia que, para ser cometida, apesar de acontecer como crime no ambiente virtual, não tem o computador como instrumento essencial para que ocorra na realidade.
1.2 Evolução histórica
A sociedade humana desenvolveu, há muito tempo, um modelo harmônico de convivência social baseado em um sistema de regras de condutas. Antes, as regras eram transmitidas de forma oral evoluindo, rapidamente, para um formato escrito e documentado. Essa mudança é importante, tendo em vista que quando as normas são claras, objetivas e organizadas, são de mais fácil aceitação e até mesmo imposição para o coletivo (PINHEIRO, 2014 apud ASSUNÇÃO, 2018). 
Assim como a sociedade, o crime evoluiu na história. Com o advento da internet, evolui para crime virtual, sendo que o próprio crime caracterizado como virtual, consequentemente evoluiu de acordo com a evolução da interação dos indivíduos no meio cibernético.
O primeiro caso relatado de acordo como Bortot (2017 apud JÚNIOR;NASCIMENTO;SANTOS, 2020) descreve,que em 1820 existiu um homem chamado Joseph-Marie Jacquard, que foi um fabricante de têxteis na França, e produziu o tear que permitia a repetição de algumas etapas da produção de tecidos especiais, o que fez com que alguns funcionários temessem perder seus empregos e cometessem atos de sabotagem para fazer com que o dono declinasse da decisão pela nova tecnologia, sendo esse o primeiro crime cibernético registrado.
Desde a criação da internet, uma das maiores discussões é a respeito da necessidade ou não de regulamentação desse ambiente que surgiu, a princípio, sem nenhum controle impositivo (PINHEIRO, 2014 apud ASSUNÇÃO, 2018)
A evolução dos crimes virtuais acontece intimamente ligada a evolução tecnológica: a tecnologia evolui e o crime virtual idem. Nesse sentido, Ferreira (2011 apud JÚNIOR; NASCIMENTO; SANTOS, 2020) versa sobre a evolução dos computadores durante as décadas seguintes até a era digital como hoje se percebe, pois os equipamentos eram gigantescos e foram reduzindo de tamanho; a internet hoje opera em redes sem fio, e a maioria dos hackers utiliza hoje dispositivos e comunicação sem fios, de baixo custo e alta velocidade, incluindo computadores móveis para invadir conexões de acesso remoto. 
Sobre a Revolução Digital, Sydow (2009, apud ASSUNÇÃO, 2018) descreve ser essa o movimento mundial onde serão inseridos na sociedade novas tecnologias e serviços que utilizam instrumentos desenvolvidos muito recentemente e que transformarão a forma como a rotina do cidadão progride. 
A despeito de tal revolução, outros crimes relatados, conforme Barreto et al. (2020, apud JÚNIOR; NASCIMENTO;SANTOS, 2020) foram em 1966, um assalto realizado ao banco de Minnesota por criminosos cibernéticos, que utilizaram as novas tecnologias de informação; no ano de 1969, quando dois funcionários do Laboratório Bell criaram um sistema capaz de invadir outros sistemas utilizando a tecnologia, chamado UNIX. Conhecidos como Dennis Ritchie e Kene Thompson, esses começaram a hackear. Entretanto, Stewart Nelson foi um phreacker que desenvolveu o uso de computadores MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para acessar a tecnologia de serviços a longa distância das operadoras de telefonia; e, em 1970 a rede e o mundo cibernético encontravam-se multiplicados em todo o mundo, com rede aberta para usuários do globo, neste contexto surge um novo crime virtual que até hoje desafia legalmente todos os países, constituído pela pornografia cibernética.
Com relação a crimes de ódio virtuais, Barroso (2014) aponta que o Brasil é um país plural e tolerante, seja no aspecto social como nos raciais, culturais, religiosos e que, segundo afirmativa do Supremo Tribunal Federal, não legitima a discriminação de pessoas em razão da orientação sexual. Todavia, o Brasil estruturalmente possui desigualdades sociais extremas e abriga em cada ponto positivo, exceções negativas. (BARROSO, 2014 apud ASSUNÇÃO, 2018). 
Nesse contexto, crimes como o hate speech, configurados por discurso de ódio em que se manifestam pensamentos nesse sentido e de desprezo por minorias ou por algo que as identifique, estão em curva crescente com a evolução da internet. Sendo assim, o Brasil, como Estado Democrático de Direito, deve analisar os princípios de liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana para que possa estruturar o acesso à internet como um espaço de interação, participação e decisão na atual sociedade.(PANNAIN; PEZZELLA, 2015 apud ASSUNÇÃO, 2018).
2 Espécies de crimes virtuais
A espécies de crimes digitais são definidas de acordo com a tipicidade dos crimes, e para tal faz-se necessário discorrer acerca de tipicidade.
Um crime é considerado típico, quando o fato é perfeitamente enquadrado na definição legal de um crime, compreendendo todos os elementos e concretizando o fato que é descrito na lei como crime. A existência do crime consiste na interpretação de fenômenos criminosos, caracterizando-se como típico, antijurídico e culpável, nesse sentido a tipicidade criminal não é constituída com dados prontos, mas sim como uma construção de dados, mediante interpretação dos fatos. (CARNEIRO, 2012)
Carneiro (2012) afirma sobre a tipificação
É a ação de descriminar qual o tipo de crime e definir sua punição. Sendo necessários alguns requisitos para tipificar uma conduta, alguns deles são: o tipo penal que incide no caso; se a mesma está conforme a constituição; o âmbito de proteção ou de incidência do tipo; a causalidade e imputação objetiva; se a conduta é significativa ou de princípio da insignificância, a imputação subjetiva se é doloso ou culposo; havendo consentimento do ofendido, analisar se é válido e quais suas consequências; as margens de erro de tipo; a condição legal do agente se é autor, coautor ou partícipe; se foi um tipo consumado ou tentado e se é aplicável à pessoa jurídica. Obtendo então, a tipicidade da conduta cometida pelo indivíduo. (CARNEIRO, online, 2012)
Conjecturando que a tecnologia evolui de forma rápida, assim tem evoluído os crimes virtuais e surgidos novos tipos que necessitam ser analisados, para serem enquadrados no Direito Penal que precisa estar apto para punir as novas modalidades de crimes cibernéticos pois essas analogias não são permitidas, considerando que alguns crimes podem ser cometidos inclusive em ambientes virtuais.
Dentre esses, os crimes mais comuns são os crimes de ódio em geral que compreendem os cometidos contra a honra, sentimento religioso, e/ou bullyng, crimes de invasão de privacidade e crimes de estelionato, crimes de pedofilia, entre outros.
2.1 Crimes contra honra
A honra é protegida constitucionalmente, tendo status de direito fundamental (artigo 5º, X, da Constituição Federal).
A respeito dos crimes contra a honra em ambiente virtual, esses serão tipificados diretamente como está no Código Penal brasileiro, considerando que, na internet, na maioria das vezes a essa conduta se faz de maneira não verídica.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão traz em seu artigo 11, a seguinte redação:
Artigo 11º - A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem: todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, embora deva responder pelo abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei. (CIDADÃO, 1798 apud CAMPANHOLA, 2018)
Todos os cidadãos têm o direito de se expressarem, todavia deve ser observado o limite entre a livre comunicação de pensamentos e opiniões como liberdade e a ofensa a honra ou a moral de outrem.
A internet é um local de comunicação e relacionamentos dinâmico e múltiplo, no qual as pessoas estão expondo seus pensamentos e opiniões de forma liberal, porém todos têm o direito de terem sua honra resguardada pela lei.
Discriminação e preconceito
As condutas de discriminação e preconceito são motivadas pelo ódio, puro e simplesmente, sem qualquer motivação aparente. Um caso que repercutiu intensamente foi o da jornalista Maria Júlia Coutinho, em 2015, que recebeu muitos comentários racistas pelo simples fato de ter postado uma foto de si mesma em uma rede social (GLOBO.COM, online, 2015 apud ASSUNÇÃO, 2018). Porém é uma conduta corriqueira dos internautas que muitas vezes não possuem grande repercussão por não serem contra figura pública.
Na jurisprudência, é muito comum a conduta digital ser enquadrada na prática de racismo, prevista na Lei 7.716 de 1989, que diz, em seu artigo 20: “Praticar induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, configura crime.” (BRASIL, 1989 apud CAMPANHOLA, 2018)
Neste caso, a pena é de reclusão e 2 (dois) a 3 (três) anos e multa. Com efeito, os crimes contra a honra, quando o racismo é praticado pela Internet, pode ter sua pena aumentada, por ter feito uso de meios de comunicação social, ou publicação de qualquer natureza, indo para reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
Calúnia, difamação e injúria
Considerando a diversidade de meios de expressão num ambiente tão plural, pode-se dizerque quando alguém expõe imagens, vídeos ou áudios que não sejam próprios e sim de outros, está atingindo de alguma forma outras pessoas.
O Código Penal define crimes contra a honra em calúnia, difamação e injúria. Segundo Damásio de Jesus (2015, apud MOURA, 2019), o Código Penal brasileiro, em seus artigos 138 a 141 protege a honra que é um conjunto de atributos morais, físicos, intelectuais e demais características do cidadão, que o constitui merecedor de apreço no convívio da sociedade.
E, segundo Capez (2012 apud MOURA, 2019), O Código Penal deve observar delitos pelos quais são ofendidos os bens imateriais da pessoa humana, como sua honra.
 Correa (2015 apud MOURA, 2019) afirma ser importante diferenciar cada um dos três tipos de crimes contra a honra para haver identificação e visualização.
Calúnia
 O crime de calúnia é configurado no momento em que um indivíduo atribui falsamente a outro, um fato definido como crime ou seja, a pessoa passa a ser acusada de um crime não ocorrido ou, se o crime foi praticado, a pessoa não tem nenhuma responsabilidade ou nenhum envolvimento com o acontecido.
Calúnia 
Sobre a calúnia, o Código Penal pátrio é enfático ao dispor, da seguinte forma:
Art. 138 – Caluniar alguém, imputando e falsamente fato definido como crime: Pena-detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º-na mesma pena incorre quem, sabendo falsa imputação, a propala ou divulgar.
§ 2º-é punível a calúnia contra os mortos.
O Código Penal Brasileiro permite, no § 3º, a chamada exceção da verdade, que se caracteriza pela prova da verdade da imputação, gerando atipicidade na conduta (a conduta expressa diz imputar falsamente): Exceção da verdade § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível (BRASIL, 1940, online). (
Exceção da verdade
§ 3º- Admite ser a prova da Verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença um recorri viu;
II - se, o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n° I do artigo 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, ofendido foi absolvido por sentença e irrecorrível. (MELLO; ALMEIDA, 2019, online)
Difamação
O crime de difamação configura-se quando é atribuído a uma pessoa um fato que ofenda sua reputação de modo que não a torne merecedora de respeito no convívio social ou que fira, de alguma forma, o respeito que possui no convívio social fazendo com que a seja mal-vista perante terceiros ou uma sociedade.
 
Difamação
Sobre difamação, o Código Penal brasileiro é enfático, a dispor:
Art.139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena-detenção, de três meses a um ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e ausência é relativa ao exercício de suas funções. (MELLO; ALMEIDA, 2019, online)
Segundo Nucci (2017, apud ASSUNÇÃO 2018), difamar seria fazer uma pessoa perder seu “crédito” publicamente, imputando algo desonroso a reputação dessa por vontade e motivo específicos ocorrendo quando a acusação chega ao conhecimento de outras pessoas.
Assim como a calúnia, o estudo da difamação admite a chamada exceção da verdade, todavia somente nos casos em que o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções, cabendo ao ofensor comprovar a verdade da imputação sendo que, neste caso, exclui-se a ilicitude da sua conduta (CUNHA, 2014 apud ASSUNÇÃO, 2018).
Injúria
O crime de injúria constitui-se como uma ofensa à dignidade ou ao decoro de uma pessoa, mediante palavras torpes, abusivas e más ou a atribuição de qualidade negativa, ou seja, quando alguém ofende, insulta, fala mal do outro, com o intuito de ferir o conceito que a vítima tem de si própria, atingindo, portanto, a autoestima dessa.
Quanto à injúria, o Código Penal brasileiro garante:
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena-detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º-O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I-Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata que consista em outra injúria.
§ 2º - se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além de pena correspondente à violência.
§ 3°-Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de a pessoa idosa ou portadora de deficiência, (Redação dada pela Lei n° 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (MELLO; ALMEIDA, 2019, online)
2.2 Crimes de invasão de privacidade e intimidade
O direito à privacidade está intimamente ligado ao direito da personalidade de pessoa humana, sendo um direito constitucional que necessita ser protegido pela sua importância, contudo devido as inovações tecnológicas as relações e relacionamentos mudaram gerando novas questionamentos acerca do tema. 
A Constituição Federal brasileira define que a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são direitos fundamentais e invioláveis, assegurado o direito à indenização dano material ou moral decorrente de sua violação. (BRASIL, 1988, online apud ASSUNÇÃO, 2018) 
Devido a Revolução Digital, a vida torna-se a cada dia mais informatizada, ou seja, existem milhares de informações a respeito de cada indivíduo na internet, incluindo fotos, vídeos, documentos, entre outros. A vida está sendo armazenada em bancos de dados virtuais que podem ou não serem acessados indevidamente e de forma remota.
Diante possibilidades como essa, que ocorreu com a atriz Carolina Dieckmann e objetivando a coibição dessa prática, o Congresso Nacional aprovou a Lei Federal nº 12.737/2012 comumente chamada Lei Carolina Dieckmann, que incluiu o artigo 154-A no Código Penal, conforme transcrição:
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.(BRASIL, 1940, online apud ASSUNÇÃO, 2018)
Segundo Capez (2016) os objetos jurídicos compreendidos no texto são a intimidade, a vida privada e o direito ao sigilo em dados constantes em dispositivo informático, sendo fundamental para a interpretação o verbo “invadir”, ou seja, ingressar virtualmente sem autorização do dono do dispositivo, não sendo necessária a ocorrência de adulteração, obtenção ou destruição de dados ou informações e o verbo “instalar” que compreende a mera instalação de vulnerabilidade, não sendo necessária a obtenção com efeito da vantagem ilícita, tratando-se, portanto, de crime formal (CAPEZ, 2016 apud ASSUNÇÃO,2018).
No que diz respeito a esses crimes como virtuais, o Brasil trata do direito à privacidade tanto no Marco Civil da Internet, como na Lei Geral de Proteção de Dados, principalmente.
2.3 Crimes contra a inviolabilidade do patrimônio - Estelionato
Um crime virtual que teve seu campo de atuação estendido largamente com o advento da tecnologia e dos meios de comunicação na internet foi o crime de estelionato.
Com maior incidência, ou comum, quando se trata de inviolabilidade de patrimônio, recebeu maior notoriedade através de golpes que têm sido praticados no ambiente virtual
O Código Penal, no artigo 171, prevê, conforma Capez (2016) obter, para si ou para outros, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. O crime dá-se com a obtenção da vantagem ilícita indevida, em prejuízo alheio, ao induzir ou manter a vítima em erro; considera-se doloso pois é vontade livre e consciente induzir ou manter alguém em erro (CAPEZ, 2016 apud ASSUNÇÃO, 2018).
Cunha (2014 apud ASSUNÇÃO, 2018) versa que a doutrina discute acerca da diferença entre fraude penal e fraude civil, sinalizando negativamente, porém fraude não deixará de o ser, sendo penal ou civil, pé considerada como ato tramado, de má fé, que objetiva receber vantagem indevida, acarretando danos a outros. Nesse sentido, o Código Penal visou punir a “esperteza” daquele que pretende despojar a vítima de seu patrimônio fazendo com que o entregue, de espontânea vontade. 
Capez (2016, apud ASSUNÇÃO, 2018) afirma que o estelionato praticado através de ambiente eletrônico, é tipificado perfeitamente no estabelecido no artigo 171 do Código Penal, possível de ser aplicado sem maiores ressalvas.
2.4 Crimes contra a liberdade sexual envolvendo menores
 Ao fazer menção à pornografia infantil e à pedofilia, pode-se afirmar que com o advento e socialização da internet, a facilidade de se gravar vídeos, fazer fotos e compartilhar esse material, o quantitativo torna-se alarmante. Nesses casos, a aplicabilidade da lei acontece mediante o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que compreende, segundo Carneiro (2012 apud ASSUNÇÃO, 2018), o artigo 241 – A , que trata objetivamente da pornografia infantil no meio informático e o combate a essa, por meio da Lei 11.829/08, dispõe acerca de o indivíduo oferecer, disponibilizar ou trocar qualquer material de teor pornográfico que envolva criança ou adolescente (sujeito a pena de três a seis anos e multa, está apto a sofrer a mesma sanção aquele que assegurar ou facilitar o acesso a esse tipo de material).
Capez (2016 apud ASSUNÇÃO, 2018) considera importantíssimo a liberdade sexual como tema a ser abordado, principalmente no que diz respeito a menores de dezoito anos e acrescenta que o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta a principal tipificação dos crimes contra crianças e adolescentes visando a prevenção de múltiplas condutas que podem ser praticadas.
O artigo 241-B trata de quem adquire o material, observa punição para quem adquire por qualquer meio, possui ou guarda qualquer imagem ou fotografia de qualquer natureza contendo sexo aberto ou manifestação de pornografia envolvendo criança e/ou adolescente (TAVARES, 2012 apud ASSUNÇÃO, 2018). 
De acordo com Nucci (2016, apud ASSUNÇÃO, 2018) as condutas consideradas como crimes no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente visam a proteção da dignidade e da liberdade sexual de crianças e adolescentes. São considerados crimes dolosos, exigindo-se o dano potencial, não necessariamente dano material efetivo para serem considerados como consumados. Continua observando que o objeto material é o conteúdo sendo foto, vídeo ou imagem contendo pornografia ou sexo explícito envolvendo criança ou adolescente, ao passo que o objeto jurídico é a proteção à formação moral da criança ou adolescente (NUCCI, 2016 apud ASSUNÇÃO, 2018). 
Ainda sobre o tema, Nucci acrescenta:
 A maneira pela qual o autor do crime adquire, possui ou armazena o material é livre, valendo-se o tipo da e pressão “por qualquer meio” Comumente, com o avanço da tecnologia e da difusão dos computadores pessoais, dá-se a obtenção de extenso número de fotos e vídeos pela Internet, guardando-se o material no disco rígido do computador, em disquetes, DVDs, CDs, pen drives, entre outros. (NUCCI, 2016, p.785 apud ASSUNÇÃO, 2018)
3 Crimes virtuais na legislação
3.1 Legislação vigente
Cabe observar o que Bittencourt (2009 apud MELLO: ALMEIDA, 2019) leciona
[...] além dos conhecidos conceitos formal crime é toda ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena e material crime é a ação ou omissão de contrariar os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição com ameaça de pena, faz se necessário a adoção de um conceito analítico de crime, e nesse aspecto definisse como crime a ação ou omissão típica, um resultado jurídico que advenha da referida conduta e um nexo de causalidade ligando a conduta ao resultado. Além disso, uma ação típica e antijurídica somente se converte em crime com acréscimo da culpabilidade. (BITTENCOURT, 2009 apud MELLO: ALMEIDA, 2019)
Segundo Luís Regis Prado (2010 apud CARNEIRO, 2012), o Direito Penal significa o ramo do ordenamento jurídico público que define as ações ou omissões caracterizadas como delitivas, imputando-lhes determinadas consequências jurídicas, penas ou medidas de segurança; é o sistema jurídico integrado por normas jurídicas (mandados e proibições) que geram o injusto penal e suas consequências.
Diante desse conceito e de sua empregabilidade, cobra-se do Direito Penal maior rigor no que diz respeito aos crimes cibernéticos.
E considerando-se que até o ano de 2012, a internet não possuía nenhuma regulamentação jurídica específica, o que a tornou ambiente propício à prática de crimes e condutas dolosas, incluso neste contexto a ausência da necessidade do uso de força física ou arma de fogo, usa-se necessariamente apenas um aparelho com acesso à internet e inteligência por parte do autor. Nesse sentido, o tema era problematizado pelas novas condutas ilegítimas que o Direito Penal mostrava-se estagnado no que concerne a sua punição, nessa consciência da legislação penal foi criada a Lei 12. 737/2012.
A Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, surgiu a partir do Projeto de Lei nº 2.793/2011, apelidada de Lei Carolina Dieckmann, conforme Mello e Almeida (2019) já no primeiro artigo dispõe:
Art. 1º Esta lei dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos e dá outras providências”. Essa lei compreende ainda “Art. 2º do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, fica acrescido dos seguintes artigos: 154-A e 154-B: 
Invasão de dispositivo informático
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidade para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre que produz, oferece, distribuir, vende ou difunde dispositivo o programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resultar prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resulta obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: pena-reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do parágrafo terceiro, aumentasse a pena de um a 2/3 de se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidas.
§ 5º Aumenta-se a pena de 1/3 a metade seo crime for praticado contra:
I - Presidente da república, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da câmara dos deputados, do Senado Federal, de assembleia legislativa do estado, da câmara legislativa do Distrito Federal ou de câmara municipal; ou
IV - Dirigente máximo da administração direta indireta Federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. 
 “Ação penal - Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-a, somente procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, estados, Distrito Federal ou município ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. “
Art. 3º Os artigos 266 e 298 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, passaram a vigorar com a seguinte redação: “Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública
Art. 266.
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe serviço Telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta ele o restabelecimento.
§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública. 
“Falsificação de documento particular
art. 298.
Falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara se a documento particular o cartão de crédito ou débito. (MELLO; ALMEIDA, 2019, online)
Pode-se acrescentar a título de conhecimento de proteção ao indivíduo no ambiente virtual algumas outras normas como a Lei nº 11.829/08, atuante no combate à pornografia infantil na internet; a Lei nº 983/00, tipificando delitos relacionados ao acesso indevido dos sistemas integrados tecnologicamente da Administração Pública; Lei nº 9.0609/98, compreendendo a proteção intelectual do programa de computador; a Lei nº 9.296/96, disciplina a interceptação de comunicação telemática ou informática e a Lei nº 12.034/09, que define as normas que regem a rede mundial entre deveres e direitos, em período de campanha eleitoral. 
Observa-se, porém, ainda segundo Carneiro (2017) que o Código Penal é aplicado de acordo com algumas legislações que estão em vigor em determinados casos de crimes virtuais, dentre esses estão: os crimes de ameaça, difamação, calunia, injúria, constrangimento ilegal, apologia ao crime ou criminoso, falsa identidade, entre outros. (CARNEIRO, 2017)
Segue-se um pequeno resumo da aplicabilidade penal para alguns crimes virtuais penalizados de acordo com o Código Penal brasileiro, mesmo que por analogia, que são calúnia - Art. 138 do Código Penal; difamação - Art. 139 do Código Penal; injúria	- Art. 140 do Código Penal; ameaça - Art. 147 do Código Penal; furto - Art. 155 do Código Penal; extorsão - Art. 158 do Código Penal; extorsão indireta- Art. 160 do Código Penal; Dano - Art. 163 do Código Penal; apropriação Indébita - Art. 168 do Código Penal; estelionato - Art. 171 do Código Penal; violação ao direito autoral- Art. 184 do Código Penal; pedofilia - Art. 247 da Lei N° 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) ; crime contra a propriedade industrial - Art. 183 da Lei N° 9.279/96; interceptação de comunicação de informática - Art. 10 da Lei N° 9.296/96; interceptação de e-mail comercial ou pessoal - Art. 10 da Lei N° 9.296/96; crimes conta software - "pirataria" - Art. 12 da Lei N° 9. 609/98; invasão de dispositivo informático alheio, conectado ou não a rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalação de vulnerabilidade para obter vantagem ilícita - Art. 154-A do Código Penal inserido pela Lei N° 12. 737/2012; pornografia infantil - Art. 234 do Código Penal; falsificação de documento particular - Art. 298 do Código Penal. (BRASIL, online apud MELLO; ALMEIDA 2019).
Acrescenta-se a título de conhecimento, o projeto de lei 21.626/11, conhecido popularmente como o Marco Civil da Internet, que são normas que vão reger o uso da rede no Brasil definindo direitos e deveres de usuários e provedores da web no país. No dia 25 de março de 2014, após quase três anos de tramitação na Câmara, o plenário da Casa aprovou o projeto (Portal EBC, 2014 apud SILVEIRA; SOUZA; MELO, 2017) 
O Marco civil da Internet foi construído com o objetivo de fechar as lacunas deixadas pela Lei Carolina Dieckmann. Essa lei funciona como a constituição regente do uso da rede no território brasileiro, versando a respeito dos direitos e deveres dos usuários e provedores da internet.
A lei parte do princípio que a mesma garante, de que a rede é igual para todos os usuários, indiferentemente do tipo de uso paga-se somente a velocidade e o volume que serão contratados no plano. Cabe ratificar o aspecto privacidade que é garantido, através da inviolabilidade e sigilo das informações que serão acessíveis mediante ordem judicial para fins de investigação criminal.
Conforme está disposto no Marco Civil da Internet, através da Lei n° 12.965, de 23 de abril de 2014, a respeito dos direitos e garantias dos usuários, in verbis:
Art. 7º o acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos:
I - inviolabilidade da intimidade da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;
III - Inviolabilidade de sigilo das comunicações privadas armazenados, salvo por ordem judicial;
IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização;
V - manutenção da qualidade contratada da conexão à internet;
VI - informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e ao serviço de acesso a aplicação de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento de rede que possam afetar a sua qualidade;
VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso informado ou nas hipóteses previstas em lei;
VIII - informações claras e completa sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção do seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:a) justifique sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e c) estejam especificadas no contrato de prestação de serviço ou em termos de uso das aplicações internet;
IX - consentimento expresso sobre coleta, o uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais;
X - exclusão definitiva dos dados pessoais que eu tiver fornecida determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstos nesta LeiXI - Publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet de aplicações de internet;
XII - acessibilidade, consideradas as características físico motora, perspectivas sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei;
XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizados na internet. (MELLO; ALMEIDA, 2019, online)
Ratifica-se que a aplicação do Código Penal existente, usada para defesa da vítima, acontece devido aos juristas e operadores de Direito entenderem que a conduta criminosa é a mesma dos cometidos na realidade que já são tipificados pela lei, ocorrendo apenas a mudança de cenário, no caso, virtual, sendo esse aspecto o único que permite analogia: em benefício da defesa, quando a conduta estabelecida é ilícita, aplicada a sansão, sem acréscimo de limitações. 
O autor Fabrízio Rosa ressalva que não somente a lei deve atuar no caso de crimes virtuais, e sim haveruma atuação em conjunto das principais instituições organizadas integrantes do Poder Judiciário no âmbito nacional e internacional pois destaca que o combate aos crimes virtuais não deve se esgotar no processo tipificador, mas deve buscar a cooperação internacional bem como a melhoria da aparelhagem policial e judicial. Esses crimes merecem atenção especial. (ROSA, 2006 apud ROCHA, 2013)
A proteção jurídica no espeço virtual existe verdadeiramente, é uma realidade. E tem evoluído de acordo com a demanda que é substancial, e a necessidade de intervenção cada vez mais frequente pois o processamento na esfera virtual é extremamente rápido. Para aumentar a cobertura desse espaço, foram criadas delegacias especializadas para crimes cibernéticos, investigando de forma mais intensa e em menor tempo pois a especialização está acontecendo, contribuindo para maior êxito em detectar o dano causado e localizar o autor, com menor margem de erro.
3.2 Projetos de Lei
A incessante inovação, dinâmica e veloz adaptabilidade da sociedade contemporânea e consequentemente dos crimes virtuais exige permanente necessidade de avaliações a aprimoramentos legislativos bem como o enquadramento de condutas ilícitas nesse ambiente se tornam um desafio tanto para a investigação como para o poder judiciário, esses, por sua vez, recorrem ao legislativo para aprimoramento do conjunto normativo. (TOMASEVICIUS FILHO, 2016 apud ASSUNÇÃO, 2018)
Conforme Siqueira (2017 apud ASSUNÇÃO, 2018) notadamente, o sistema jurídico não está totalmente preparado para coibir condutas criminosas virtuais, entretanto caso as normas sofram aperfeiçoamento, haveria esperança de menores índices de criminalidade uma vez que a lei seria eficaz. 
Nesse contexto, existem mais de 40 projetos de lei aguardando aprovação no Congresso Nacional. Segundo Júnior, Nascimento e Santos (2020) consideram que o acúmulo de projetos aguardando aprovação reflete o legalismo em excesso no sistema político brasileiro. (JÚNIOR; NASCIMENTO; SANTOS, 2020)
Considerações finais
A internet trouxe para a sociedade uma nova realidade social e de relacionamentos denominada realidade virtual, onde milhões de pessoas se conectam através da rede utilizando dispositivos múltiplos que variam de computadores a telefones celulares.
 A agilidade de comunicação e interação nesse espaço virtual, o volume de troca de informações e transações fomenta a prática de delitos e crimes, que são denominados crimes virtuais ou cibernéticos.
 Nesse novo contexto gerado, o Direito tem a responsabilidade de criar normas de condutas e o Direito Penal de garantir que sejam cumpridas e a segurança dos usuários, o que se tornou um desafio mundial, pois os crimes virtuais compreendem a multiplicidade de meios e instrumentos facilitadores para a ocorrência, o anonimato dos autores, as características que dificultam a investigação.
 O Direito Penal brasileiro usa de aplicabilidade do código penal existente em alguns casos, e em algumas poucas exceções, por analogia ao passo que leis são promulgadas para compreender melhor os crimes em questão. Porém devido à engenhosidade dos autores, a facilidade de cometer os delitos em ambiente virtual e as dificuldades enfrentadas no processo investigativo, o Direito brasileiro está diante um grande desafio: combater a criminalidade em ambiente virtual. 
Algumas leis já foram criadas atualizando o Código Penal, porém devido a velocidade de inovação da criminalidade no ambiente virtual, rapidamente tornam-se pouco eficazes.
As soluções estão sendo pensadas, discutidas, debatidas, redigidas, porém esbarram no excesso de legalismo político do país
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JESUS. Damásio de. Direito penal 2º volume: parte especial; Crimes contra a pessoa a crimes contra o patrimônio. 35. ed. São Paulo. Saraiva, 2015.
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