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Resumo Direito Constitucional 1 Prof.ª Lucimar UNICURITIBA

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CONCEPÇÕES E TEORIAS 
Concepção sociológica: a Constituição de um país é o conjunto de forças políticas, 
econômicas e sociais, atuando dialeticamente estabelecem uma realidade, um 
sistema de poder, esta é a Constituição real, efetiva do Estado. 
Concepção jurídica: mera folha de papel que se limita a converter esses fatores 
reais do poder em Direito. 
Concepção estritamente jurídica: a Constituição é vista como lei suprema do 
Estado. 
 
TIPOLOGIA DAS CONSTITUIÇÕES 
Conteúdo: diz respeito às matérias disciplinadas no texto constitucional 
• Material ⮕ conjunto de regras materialmente constitucionais, estejam ou não 
codificadas em um único documento; 
• Formal ⮕ forma escrita, por meio de um documento solene, estabelecido 
pelo poder constituinte originário. 
Forma: diz respeito a forma de veiculação das normas constitucionais 
• Não-escritas ⮕ conjunto de regras não aglutinadas em um texto solene, mas 
baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudência e convenções; 
• Escrita ⮕ conjunto de regras codificado e sistematizado em um único 
documento para fixar-se a organização fundamental. 
Modo de elaboração: 
• Histórica ⮕ fruto da lenta e contínua síntese da história e tradições de um 
determinado povo; 
• Dogmática ⮕ produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a 
partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito 
dominante. 
Origem: diz respeito a identificação da legitimidade democrática subjacente ao seu 
exercício: 
• Promulgada ⮕ deriva do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, 
composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua 
elaboração; 
• Outorgada ⮕ elaborada e estabelecida sem a participação popular, através 
de imposição do poder da época. 
Estabilidade ou mutabilidade: diz respeito ao procedimento adotado para a 
modificação do texto constitucional 
• Imutável ⮕ constituições onde se veda qualquer alteração, constituindo-se relíquias 
históricas; 
• Flexível ⮕ podem ser alteradas pelo processo legislativo ordinário; 
• Rígida ⮕ podem ser alteradas por um processo legislativo mais solene e dificultoso 
do que o existente para a edição das demais espécies normativas; 
• Semirrígida ⮕ algumas regras poderão ser alteradas pelo processo legislativo 
ordinário, enquanto outras somente por um processo legislativo especial e mais 
dificultoso. 
Ontológica (ser e seu significado) ou Axiológica (valores): 
• Semântica ⮕ Constituições cuja realidade ontológica não é senão a formalização da 
situação do poder político em benefício exclusivo dos detentores de facto desse 
poder; 
• Nominal ⮕ Constituições cujas normas não conseguem se adaptar à dinâmica do 
processo político, pelo que ficam sem realidade existencial; 
• Normativa ⮕ Constituições cujas normas dominam o processo político, aquelas em 
que o processo do poder se adapta às normas constitucionais e são subordinadas a 
ela. 
Extensão e finalidade: diz respeito ao grau de minúcia empregado no texto e à a 
abrangência das matérias nele disciplinadas 
• Sintéticas ⮕ preveem somente os princípios e as normas gerais de regência do 
Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio de estipulação de direitos e 
garantias fundamentais; 
• Analíticas ⮕ examinam e regulamentam todos os assuntos que entendam 
relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado. 
 
RETROATIVIDADE 
DIREITO ADQUIRIDO: os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa 
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição 
preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem. 
ATO JURÍDICO: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se 
efetuou. 
COISA JULGADA: decisão judicial que não cabe mais recurso. 
 
• O direito deve existir para disciplinar o futuro, jamais o passado, não sendo 
razoável entender que normas construídas a posteriori possam dar definições 
e consequências novas a eventos já ocorridos. 
• Doutrina do direito adquirido (teoria subjetiva): retroativa toda lei que viola 
direitos constituídos; 
• Doutrina do fato passado (teoria objetiva): retroativa a lei que se aplicava a 
fatos passados antes da sua vigência. 
 
RETROATIVIDADE MÁXIMA: a lei nova ataca fatos consumados. 
RETROATIVIDADE MÉDIA: a lei nova atinge os efeitos pendentes de atos jurídicos. 
RETROATIVIDADE MÍNIMA: a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos 
anteriores, verificada após a data em que ela entra em vigor. 
 
EFICÁCIA E APLICABILIDADE 
EFICÁCIA SOCIAL: é efetivamente aplicada a casos concretos. 
EFICÁCIA JURÍDICA: apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas, 
já produz efeitos jurídicos pois resulta na revogação de todas as normas anteriores 
que com ela conflitam. 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA E APLICABILIDADE DIRETA, 
IMEDIATA E INTEGRAL 
• Também chamadas de auto-aplicáveis; 
• Estão aptas a produzir todos os seus efeitos independentemente de norma 
integrativa infraconstitucional; 
• Como regra geral, criam órgãos ou atribuem aos entes federativos 
competências; 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA DE APLICABILIDADE 
DIRETA, IMEDIATA, MAS POSSIVELMENTE NÃO INTEGRAL OU NORMA 
CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA REDUZÍVEL OU RESTRINGÍVEL 
• Tem condição de produzir todos os seus efeitos desde a promulgação da 
constituição, podendo a norma infraconstitucional reduzir a sua abrangência; 
NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA LIMITADA E APLICABILIDADE 
DIFERIDA, MEDIATA E REDUZIDA 
• Não produzem todos os efeitos a partir da promulgação, precisando de uma 
lei integrativa infraconstitucional 
• Produzem o efeito de vinculador, o legislador infraconstitucional 
• Podem ser: 
• Normas de princípio institutivo ou organizativo (aquelas através das 
quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e 
atribuições de órgãos, entidades ou institutos para que o legislador 
ordinário os estruture em definitivo, mediante lei) 
• Normas de princípio programático (aquelas através das quais o 
constituinte, em vez de regular, direta e indiretamente, determinados 
interesses, limitou-se a traçar-lhes os princípios para serem cumpridos 
pelos órgãos, visando à realização dos fins sociais do Estado) 
 
NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
• Normas de eficácia plena ou contida possuem aplicabilidade imediata 
• Não há norma constitucional destituída de eficácia 
 
Eficácia plena: aplicabilidade direta, imediata (produz todos os seus efeitos) e 
integral (não sofre limitação de seu conteúdo por norma infraconstitucional). 
Eficácia contida: aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente não integral 
(uma lei infraconstitucional poderá reduzir sua abrangência). 
Eficácia limitada: aplicabilidade diferida (depende de outra norma pra surtir efeitos), 
mediata, reduzida (dependem de normas regulamentares e não produzem todos os 
efeitos a partir da promulgação) e vinculante (norma regulamentar não poderá ferir a 
norma constitucional). 
 
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 
A Constituição deve ser interpretada com o objetivo de achar o real significado dos 
termos constitucionais, sendo de extrema importância já que a constituição dará 
validade para as demais normas do ordenamento jurídico. 
SUJEITOS DE INTERPRETAÇÃO 
• Doutrinária 
• Judicial 
• Aberta 
• Autêntica 
EFEITOS DA INTERPRETAÇÃO 
• Declarativa 
• Extensiva 
• Restritiva 
REFORMA CONSTITUCIONAL: modificação do texto 
MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS: não são alterações materialmente perceptíveis, 
mas sim alterações no significado e sentido interpretativo do texto constitucional 
A Constituição é considerada lei, então a sua interpretação se fará a partir dos 
elementos (Hermenêutico clássico): 
• Genérico – investigar a origem dos conceitos 
• Gramatical – a análise se realiza de modo textual e literal 
• Lógico – procura harmonia lógica 
• Histórico – analisa o projetode lei, a sua justificativa, exposição de motivos... 
• Teleológico ou sociológico – busca a finalidade da norma 
• Popular: a análise se implementa por meio do plebiscito, referendo, recall, 
veto popular 
• Doutrinário – parte-se da interpretação feita pela doutrina 
• Evolutivo – segue a linha da mutação constitucional 
 
MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO: o intérprete parte de um problema concreto, 
um fato da vida, para tentar encaixar na norma constitucional. 
MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR: o intérprete parte de uma pré-
compreensão da norma constitucional, e não diretamente do problema da vida para 
se chegar à norma constitucional. 
• Pressupostos subjetivos: o intérprete vale-se de suas pré-compreensões 
sobre o tema 
• Pressupostos objetivos: o intérprete atua como mediador entre a norma e a 
situação concreta 
• Círculo hermenêutico: movimento de ir e vir do subjetivo para o objetivo 
MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL: a análise não se fixa na literalidade da norma, 
mas parte da realidade social, buscando valores implícitos na Constituição, que 
deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova. 
MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE: reconhece-se a inexistência da 
identidade entre a norma jurídica e o texto normativo, o teor literal da norma deve 
ser analisado a luz da concretização da norma em sua realidade social. 
MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL: a interpretação dos institutos se 
implementa mediante comparação nos vários ordenamentos 
 
PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
• Princípio da unidade ⮕ a constituição deve ser interpretada em sua 
globalidade e o intérprete deve harmonizar os espaços de tensão, e só então 
analisar se não é caso de revogação ou inconstitucionalidade 
• Princípio da justeza ⮕ estabelece a força normativa constitucional no sentido 
de não poder alterar a repartição de funções estabelecidas em normas 
constitucionais originárias 
• Princípio da máxima efetividade ⮕ a norma constitucional deve ter a mais 
ampla efetividade social 
• Princípio do efeito integrador ⮕ na resolução dos problemas jurídico-
constitucionais deve utilizar os pontos de vista que favoreçam a integração 
política e social e o reforço da unidade política, não pode colocar em risco a 
estabilidade das instituições e da sociedade 
• Princípio da concordância prática ou harmonização ⮕ visa compatibilizar 
direitos fundamentais em conflito ou entre direitos fundamentais e bens 
jurídicos constitucionalmente protegidos, impõem a coordenação e 
combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício total 
de uns em relações aos outros 
• Princípio da força normativa ⮕ interpretação que mantenha a atualização 
normativa, o intérprete deve garantir a maior efetividade e maior longevidade 
e permanência da Constituição 
• Princípio da razoabilidade ⮕ o intérprete deve se perguntar se tal medida é 
razoável ou justa 
• Princípio da proporcionalidade ⮕ verificar a constitucionalidade de leis e atos 
normativos que limitam os efeitos das normas constitucionais, aferir a 
legitimidade das restrições de direitos 
 
CRITÉRIO DA ADEQUAÇÃO: relação de causa e efeito, a norma alcança os seus 
objetivos? 
CRITÉRIO DA NECESSIDADE: compara a solução dada pela lei com alternativas 
menos lesivas 
CRITÉRIO DE PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: verifica-se o peso 
entre o direito violado pela norma restritiva e o direito tutelado por ela 
• Proibição em excesso – o Estado não pode restringir excessivamente os 
efeitos da norma constitucional 
• Proibição de insuficiência – o Estado tem o dever de proteção e promoção 
dos direitos e garantias do bem-estar coletivo 
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO: diante de 
normas que possuam mais de uma interpretação deve-se preferir a que mais se 
aproxime da constituição 
 
DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Os direitos e garantias previstos no art. 5º da CR têm como destinatários as 
pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, públicas ou privadas ou 
mesmo entes despersonalizados nacionais (massa falida, espólio...), estrangeiros 
residentes ou de passagem pelo território nacional. 
Aplicabilidade e intervenção: 
• A aplicabilidade é imediata; 
• Deve observar os seguintes princípios para a interpretação das normas 
constitucionais de direitos e garantias fundamentais: 
o Elas devem ser interpretadas de forma ampla, extensiva, para 
abranger o maior número possível de sujeitos e situações; 
o As normas excepcionadoras de direitos e garantias devem ser 
interpretadas restritivamente. 
Os direitos fundamentais de primeira dimensão: 
• Estão presentes em todas as Constituições das sociedades democráticas e 
estão integrados pelos direitos civis e políticos; 
• São os direitos de liberdade. 
Os direitos fundamentais de segunda dimensão: 
• Reclama do Estado uma ação que possa proporcionar condições mínimas de 
vida com dignidade; 
• São os direitos sociais, econômicos e culturais; 
• Procuram diminuir as desigualdades sociais e proporcionar proteção aos 
mais fracos. 
 Os direitos de terceira dimensão: 
• Direitos de solidariedade e fraternidade; 
• Direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao 
progresso, a paz, a autodeterminação de povos e etc. 
Os direitos de quarta dimensão: 
• Direito a democracia, a informação e ao pluralismo. 
Características dos direitos fundamentais: 
• Historicidade ⮕ indica que os direitos fundamentais foram construídos ao 
longo do tempo, dependendo de seu contexto e conflitos ocorridos; 
• Relatividade ⮕ nenhum deles é absoluto por si, garantindo que nenhum seja 
utilizado como uma proteção aos infratores; 
• Inalienabilidade ⮕ apenas o direito à propriedade é alienável, todos os outros 
não se sujeita a alienação; 
• Indisponibilidade ⮕ o titular não pode fazer deles o que bem entender, com 
exceção dos direitos à propriedade e à intimidade; 
• Imprescritibilidade ⮕ não são prescritíveis; 
• Indivisibilidade ⮕ não é possível separar grupos de direitos válidos para 
determinadas pessoas e inválido para outras; 
• Universalidade ⮕ alcançam a todos os seres humanos indistintamente; 
• Inexauribilidade ⮕ são inesgotáveis; 
• Essencialidade ⮕ são inerentes ao ser humano, tendo por base os valores 
supremos do homem e sua dignidade; 
• Efetividade ⮕ a Administração Pública deve criar mecanismos coercitivos 
aptos a efetivação dos direitos fundamentais; 
• Complementaridade ⮕ devem ser observados de forma conjunta e interativa 
com as demais normas, princípios e objetivos estatuídos pelo constituinte; 
• Concorrência ⮕ podem ser exercidos de forma acumulada; 
• Vedação do retrocesso ⮕ jamais poderão ser diminuídos ou reduzidos no 
seu aspecto de proteção.

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