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Clique para adicionar texto Emulsões FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Curso de FarmáciaUNIP Profa. Viviane Borio Definição de emulsão Segundo a Farmacopeia Brasileira V (2010) e o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira (2012): “É a forma farmacêutica “líquida” de um ou mais princípios ativos, que consiste de um sistema de duas fases que envolvem, pelo menos, dois líquidos imiscíveis e na qual um líquido é disperso na forma de pequenas gotas (fase interna ou dispersa) através de outro líquido (fase externa ou contínua). Normalmente é estabilizada por meio de um ou mais agentes emulsificantes”. Quimicamente falando… ... são colóides, misturas heterogêneas compostas de partículas minúsculas suspensas em outro material imiscível. Estas partículas são maiores do que as moléculas, mas, menores que um milésimo de milímetro. Exemplo: maionese Parte oleosa: Óleo Parte aquosa: Água, vinagre, limão Emulsificante: lecitina (gema do ovo) lecitin a Exemplo de agente emulsivo endógeno… Bile: emulsifica as gorduras (lipídios) ingeridas. Logo, a constituição básica de uma emulsão será: Fase oleosa (F.O) Fase aquosa (F.A) Agente emulsificante = tensoativo, surfactante (anfifílico) Podendo ser acrescida de adjuvantes, tais como: Umectantes impedem a perda de água (propilenoglicol, glicerina, sorbitol) Flavorizantes fornecem odor e sabor Conservantesinibem crescimento microbiano (parabenos, ác. ascórbico, ác. benzóico, cetilpiridíneo) Corantes Antioxidantes – BHT, BHA, tocoferol, metabissulfito, etc. Quelantes complexam/inativam íons metálicos (ex: EDTA) Além dos Princípios ativos… Propilparabeno: F.O. Metilparabeno: F.A.: Considerações importantes… ● Produtos emulsionados têm uso extenso, com as mais diversas finalidades, em áreas cosméticas, farmacêuticas, alimentícias, detergentes, entre outros. A formulação e o controle das variáveis do processo de fabricação nos permite obter emulsões com características adequadas à finalidade específica desejada. Ex.: Creme para os pés: ↑ ↑ glândulas sudoríparas ↓ glândulas sebáceas espessura maior da pele Creme para o rosto: Pele oleosa? Pele seca? Creme para massagem Uso: oral? Injetável? Vantagens das formas farmacêuticas emulsificadas: ● Possibilidade de veicular ativos hidrossolúveis e lipossolúveis na mesma formulação; ● Via parenteral: veicular ativos lipossolúveis por IV; ● Hidratante da pele (afinidade pelo manto hidrolipídico natural); ● Carrear ativos para as camadas mais internas da pele (permeação de fármacos); ● Mascarar ativos de sabor ou odor desagradáveis (solubilizando na fase interna ou dispersa); ● Minimizar irritabilidade de alguns fármacos sobre a pele. Tipos de emulsões de acordo com as fases ● Emulsão O/A (óleo em água)– predomínio de fase A (aquosa). Neste caso temse a fase aquosa (A) como dispersante ou externa; a fase oleosa (O) é a fase dispersa, descontínua ou interna. ● Emulsão A/O (água em óleo) – predomina a fase O (dispersante, contínua ou externa), e a fase A está dispersa no interior. Importante: ● A viscosidade da emulsão varia de acordo com a quantidade de seus constituintes, podendo se tornar mais líquida ou menos líquida, sob influência da quantidade de água (F.A. determina a consistência); ● A solubilidade do princípio ativo determinará o melhor veículo e qual fase ele deverá ser incorporado. ● Emulsões múltiplas emulsões duplas ou “emulsões de emulsões”, são sistemas onde emulsões O/A e A/O coexistem. Ex.: Emulsão O/A/O = gotículas de óleo dispersadas em fase aquosa e esta última dispersada em outra fase oleosa, utilizandose emulsificantes para cada uma das emulsões. O/A/O emulsão 1 emulsão 2 Uso das emulsões múltiplas - Melhor forma de mascarar odores e sabores (introduzindo a substância de característica indesejada no interior da primeira micela) - Proteger substâncias fotossensíveis - Deixar a emulsão mais rica de ativos, pois facilita a introdução de vários ativos Tipos de emulsões quanto à consistência ● Leites (menos consistentes, líquidos) ● Loções cremosas (consistência média) ● Cremes Para uso tópico= preferese as mais consistentes Para uso interno= mais fluidas Reologia: estudo do fluxo considerando a viscosidade Os leites e loções cremosas possuem característica newtoniana (viscosidade constante = gravidade); Os cremes comportamse de forma não newtoniana = pseudoplástica: oferecem pouca resistência ao serem aplicados sobre a pele, mas também não fluem por efeito gravitacional. Como saber se uma emulsão é do tipo O/ A ou A/O? 1 Teste da miscibilidade: O/A: misturase bem com água A/O: misturase bem com óleo 2 Teste do corante hidrófilo: O/A: coloração homogênea 3 Teste da microscopia de fluorescência: O/A: fluorescência de alguns pontos A/O: Fluorescência total da emulsão 4 Condutividade elétrica: O/A: conduz eletricidade A/O: não conduz Agentes emulsificantes ● Substâncias capazes de reduzir a tensão entre água e óleo, permitindo estabilidade à emulsão. ● Possuem característica anfipática (porção polar e cauda apolar na sua molécula: Características dos agentes emulsificantes ● Inocuidade ● Ausência de cor, odor e sabor fortes ● Compatibilidade com os componentes ● Garantia de estabilidade durante a validade da emulsão ● Moléculas anfifílicas de EHL característico. ⇨Segundo seu mecanismo de ação, podem ser: 1.PRIMÁRIOS : Agem sobre a tensão superficial Ex.: Polissorbato 80 (Tween 80) 2. SECUNDÁRIOS : Interferem com a viscosidade da fase externa. Ex.: Álcool cetílico, bentonita, Metilcelulose. Características dos agentes emulsificantes ⇨Segundo sua obtenção, podem ser: ⇒NATURAIS : argilas (bentonita), polioses (alginatos, Carboxi Metil Celulose, Metil Celulose, pectina) dióxidos de silício, ceras, lanolina e seus derivados, lecitina, goma arábica. ⇒SINTÉTICOS : aniônicos (carga negativa), catiônicos (carga positiva), anfóteros (ambas as cargas na mesma molécula) e nãoiônicos. Características dos agentes emulsificantes ⇨Segundo sua característica química, podem ser: Aniônicos: Sabões alcalinos Oleato de trietanolamina, estearato de trietanolamina, Lauril Sulfato de Sódio (LSS). Catiônicos: Quaternários de amônio cloreto de benzalcônio, Cetrimida (estáveis em pH ácido). Anfóteros: derivados da betaína (menos importantes). Nãoiônicos: maior grupo menos incompatibilidades e resistentes a vários pHs Ésteres de sorbitano (Span 20 ,40, 60, 80), ésteres de sorbitano polihidroxilados (Tween 20, 40, 60, 80), ésteres de PEG, álcoois graxos superiores. Ceras autoemulsionantes ► São compostas de ceras + tensoativos: ► Comprados prontos. ► Não calculase o EHL. Alguns exemplos: Polawax® CosmoWax ® Chembase ® Crodabase ® Lanette N ® Monoestearato de glicerila AE ® Equilíbrio HidrofílicoLipofílico (E.H.L) 1950 (Griffin) estruturou uma tabela contendo valores numéricos de EHL dos emulsificantes, com base em suas características hidro ou lipofílicas, facilitando a identificação da função de cada um. Assim, todas as emulsões podem ser previstas no papel, antes da sua execução. O valor de EHL pode variar entre 0 e 50 (usual de 1 a 20). Quanto maior o valor do EHL, maior a hidrofilia (polaridade) do composto, e viceversa Os emulsificantes devem apresentar valores de EHL semelhantes ao da fase oleosa da emulsão. Pode ser necessário combinar 2 ou mais emulsificantes para atingir o valor de EHL da fase oleosa. Os emulsificantes podem ter função: Solubilizante: “solubiliza”( = faz perder de vista) pequenas quantidades de óleo em água (≈ 1 gota de óleo/1 panela de água) Detergente (facilita a emulsificação) Molhante: ↓ tensão superficial entre os líquidos (favorece a ‘sustentação’ da água nas emulsões) Agente antiespuma (para emulsões de ↑↑ detergência, muito aeradas) Agente emulsivo O/A Agente emulsivo A/O Equilíbrio HidrofílicoLipofílico (EHL) VALOR DE EHL APLICAÇÃO13 Antiespuma 36 Emulsificantes A/O 79 Molhantes 818 Emulsificantes O/A* 1520 Solubilizantes 1316 Detergentes* * Detergentes: incluídos no grupo dos emulsificantes O/ A A hidrofilia vai aumentando de cima para baixo E.H.L Assim como as substâncias tensoativas isoladas apresentam um EHL específico, as emulsões também apresentam seu EHL característico, seja O/A ou A/O. Vai depender da concentração dos compostos. Obs.: Quantidade de agente emulsivo a ser adicionada nas formulações: 2 a 5% (não se deve passar de 5 %) pois podem se tornar irritantes para o local de aplicação. Devese calcular o EHL das emulsões para chegar a um agente emulsivo ideal = valor próximo ao do EHL da F.O daquela dada emulsão. Cálculo do EHL de emulsões Cera de abelha………. 5 g Parafina líquida……… 26 g Óleo vegetal…………. 18 g Glicerina………………. 4 g Agente emulsivo…….. 5 g Agua destilada q.s.p. 100 g 1) Identificar os compostos lipofílicos: cera, parafina líquida e óleo vegetal 2) Calcular o total da fase oleosa (F.O) na formulação: Cera 5 g Parafina 26 g somar Óleo 18 g 49 g 100% de F.O. 3) Calcular a concentração (%) de cada componente da F.O.: Cera: 49 g 100 % 5g x x = 10% Parafina: 49 g 100 % 26 g x x = 53 % Óleo: 49 g 100 % 18g x x = 37% 4) Multiplicar o EHL de cada componente pela sua respectiva [ ] na F.O.: Cera (EHL):15 x 10 % (10/100)= 1,5 Parafina (EHL):10,5 x 53 % = 5,6 Óleo (EHL):9,0 x 37 % = 3,3 Somando: 1,5 + 5,6 + 3,3 = 10,4 5) Verificar na tabela um emulsificante nesta faixa de EHL. = faixa dos emulsivos O/A) Cálculo de EHL de emulsão Exemplo 2: Óleo mineral.................35,0 g Lanolina..........................1,0 g F.O. Total: 37 g Álcool cetílico.................1,0 g Emulsificante..................5,0 g Água.........qsp.........100,0 mL % óleo mineral: 94,6 % (= 94,6/100) x 12 = 11,4 % lanolina: 2,70 % (= 2,70/100) x 10 = 0,3 12,1 % alc. cetílico: 2,70 % ( “ ) x 15 = 0,4 (soma dos 3) Procurase um agente emulsivo cujo EHL esteja próximo de 12,1. Mas…se desejar mais de 1 agente emulsivo??? + + 2 agentes emulsivos na mesma emulsão… Quantidades de cada um? Considerase os emulgentes como A e B. Desejase que A seja Monooleato de sorbitan (EHL= 4,3) Desejase que B seja monooleato de polioxietileno de sorbitan (EHL = 15) ⇨Sabese que o EHL requerido pela emulsão é de 12,1, e que a porcentagem de emulsivo na formulação é de 5 %: A + B = 1 (ou 100%) (A x EHL A ) + (B x EHL B ) = EHL req Resolvendo as equações: A = 1 – B (1 B). 4,3 + B. 15 = 12,1 B= 0,73 ⇨ 73 % A= 1 0,73 = 0,27 ⇨ 27 % 5g de emulsificante: 5g 100 % A= 5g – 3,64g B 73% A= 1,36 g B= 3,64 g Problemas comuns na estabilidade física das emulsões… Flocação ou formação de creme: fase interna forma agregados que podem sedimentar ou subir em forma de creme. Pode ser reversível. Coalescência : reagrupamento (fusão) das gotículas da fase interna havendo separação de fases= irreversível. Como evitar estes problemas? Escolhendo o emulsificante adequado; Aumentandose a viscosidade da fase externa (Lei de Stokes) Preparo de emulsões: método atual pesage m homogeneização Junção das fases A e O Mistura de cada componente com sua fase 1 3 2 4 Preparo de emulsões: método atual 1: Pesar e aquecer todos os componentes lipossolúveis (fase oleosa) ≈ 70 75°C (pode ser necessário o aquecimento até 80°C, dependendo do ponto de fusão dos materiais graxos presentes). 2: Pesar e aquecer todos os componentes hidrossolúveis (fase aquosa) ≈ 75 80°C (ou conforme recomendado). 3: Adicionar uma fase à outra (vertendo lentamente a fase com maior quantidade sobre a menor). Misturar por alguns minutos (5 a 10), mantendo a temperatura. 4: Reduzir a velocidade de agitação, mas ainda agitar até resfriar (abaixo de 35°C). 5: Abaixo de 30°C adicionar: corantes, essências, hormônios, vitaminas, bioativos (matériaprima orgânica em geral). Preparo de emulsões Em emulsões O/A a adição da fase aquosa sobre a fase oleosa deve ser realizada de forma lenta, sob agitação vigorosa e constante. A fase aquosa deve ser aquecida alguns graus a mais do que a fase oleosa (≈ 5°C), pois sua capacidade de manter a temperatura é menor (menor calor específico). Em pequena escala (farmácia de manipulação): gral e pistilo; mixer; batedeiras; Em grande escala: moinhos Batedeir a Mixe r moinh o Gral e pistilo Conservação e embalagem de emulsões Cremes são melhor embalados em tubos ou potes de plástico ou de alumínio, bem vedados que evitem a evaporação da água. Loções cremosas poderão ser embaladas em frascos plásticos ou bisnagas comprimíveis. As emulsões podem ser armazenadas em temperatura ambiente ou sob refrigeração (em função dos ativos)