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AULA 05 DIREITO FALIMENTAR. FALÊNCIA. Sumário Sumário .................................................................................................. 1 1 – Considerações Iniciais.......................................................................... 2 2 – Aspectos Introdutórios: o regime jurídico da insolvência empresarial .........2 2.1. Antecedentes históricos.................................................................... 2 2.2. A Nova Lei de Recuperação de Empresas............................................3 3 – O Regime de Falência .......................................................................... 3 3.1. Aspectos gerais ............................................................................... 3 3.2. Princípios da falência ....................................................................... 4 3.3. Pressupostos da falência .................................................................. 5 3.4. Procedimento para decretação da falência ..........................................6 3.5. Efeitos da decretação da falência..................................................... 22 3.6. O processo falimentar .................................................................... 30 4 – Questões.......................................................................................... 45 4.1. Questões sem Comentários ............................................................ 45 4.2. Gabarito....................................................................................... 55 4.3. Questões comentadas .................................................................... 56 5 – Resumo da Aula ................................................................................ 84 6 – Jurisprudência Aplicável ..................................................................... 87 7 – Considerações Finais ......................................................................... 91 AULA 05 – DIREITO FALIMENTAR. FALÊNCIA. 1 – Considerações Iniciais Olá, futuro Delegado de Polícia! Hoje estudaremos o Direito Falimentar. Analisaremos em detalhes os dispositivos da Lei n. 11.101/2005 e a doutrina sobre a falência, e na próxima aula trataremos da recuperação judicial e extrajudicial. Pronto!? Bons estudos! 2 – Aspectos Introdutórios: o regime jurídico da insolvência empresarial 2.1. Antecedentes históricos Na Roma Antiga o próprio devedor era a garantia de sua dívida. Era comum que, em razão de sua insolvência, o devedor se tornasse escravo do credor por um tempo, ou mesmo que entregasse parte do seu corpo como pagamento. Caso você nunca tenha tido contato com a obra, recomendo fortemente o livro e o filme O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Nessa fantástica obra de ficção (que se passa na época do Renascimento) há uma bela discussão sobre esse tipo de pagamento. Voltando ao Direito Romano, temos em 420 a.C. a Lex Poetelia Papiria, que proibiu o encarceramento, a venda como escravo e a morte do devedor, iniciando a ideia que hoje chamamos de responsabilidade patrimonial. Na época de Justiniano começou a prática de expropriação dos bens do devedor, que eram entregues à administração por um curador, que, por sua vez, seria o responsável por negociar com os credores a venda desses bens para satisfação dos créditos. Nessa época, porém, esse embrião do Direito Falimentar apresentava um caráter muito mais repressivo do que propriamente voltado à satisfação dos direitos dos credores. Essa visão se seguiu até a época em que o Direito Comercial foi forjado a partir da compilação dos usos e práticas comerciais. Com a codificação napoleônica, podemos dizer que o Direito Falimentar passou a realmente existir, consistindo num conjunto de regras que se aplicam apenas aos comerciantes que encaravam a insolvência. O caráter repressivo, entretanto, continuou. Essa ideia passou a mudar somente depois da consolidação da Revolução Industrial e do início da globalização. A insolvência, que era comumente encarada sob um prisma pejorativo, relacionado à desonestidade do empresário, passou a ser compreendida como um fenômeno comum e inerente ao risco empresarial. Na realidade esta é a razão para a constituição de sociedades empresárias de responsabilidade limitada e, mais recentemente, da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), não é mesmo!? De tão naturais, essas crises econômicas passaram ao longo do tempo a ser encaradas sob novas perspectivas, não mais se colocando para elas como único e inevitável remédio a decretação da falência do devedor e o seu consequente afastamento do mercado. As noções relacionadas ao reconhecimento da função social da empresa e os efeitos desastrosos que a paralisação dos agentes econômicos pode produzir fizeram com que o legislador passasse a encarar a insolvência sob outro prisma, considerando a conveniência de possibilitar a permanência do empresário na atividade. Daí surgiu a ideia de recuperação empresarial, por meio da qual poderá ser feito um acordo entre o empresário e seus credores para a superação da crise. No Brasil, o Código Comercial de 1850 trazia, em sua terceira parte, disposições sobre as “quebras”. Também em 1850 foi aprovado o Regulamento n. 738, que tratava do processo falimentar. Nas décadas seguintes muitos outros diplomas normativos entraram em vigor, e esse intenso processo de reformulação do Direito Falimentar somente teve fim em 1945, quando foi editado o Decreto-Lei n. 7.661. Durante 60 anos, essa foi a norma básica sobre falências no Brasil. 2.2. A Nova Lei de Recuperação de Empresas Atualmente os institutos da falência e da recuperação de empresas são regulados no Brasil pela Lei n. 11.101/2005, que sofreu forte influência do princípio da preservação da empresa, que, segundo alguns autores, têm sua origem na própria Constituição Federal de 1988, que acolheu a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa como princípios jurídicos fundamentais. O projeto de lei que deu origem à nova Lei de Recuperação de Empresas foi apresentado em 1993, e, ao longo de mais de uma década, teve apresentadas mais de 400 emendas e 5 substitutivos. Durante esse longo período de tramitação, foi publicado um estudo do Banco Mundial que em muito influenciou nossos legisladores. Esse estudo se desenvolveu com foco nos sistemas de insolvência latino-americanos, com especial atenção ao Brasil. Em suas conclusões foi apontada a necessidade de diferenciar a empresa (business) do empresário (businessman). 3 – O Regime de Falência 3.1. Aspectos gerais A falência é um instituto jurídico que entra em cena quando o patrimônio do devedor não é suficiente para saldar todas as obrigações que tem em relação aos seus credores. A maior parte dos autores define a falência como um processo de execução especial, na qual todos os credores serão reunidos em um único processo, para execução conjunta do devedor. A essa reunião damos o nome de concurso de credores. Um dos princípios básicos da falência, portanto, consiste em não mais permitir as execuções individuais por parte de cada um dos credores, mas sim à execução concursal, em obediência ao princípio da par condicio creditorum, segundo o qual deve ser dado aos credores tratamento isonômico. O regime jurídico falencial, porém, aplica-se apenas quando o devedor é empresário. Se o devedor insolvente não for qualificado como empresário (se for um trabalhador ou sociedade simples, por exemplo), o procedimento aplicável à execução concursal diante da insolvência é estabelecido pelo Código de Processo Civil (arts. 748 a 786-A do CPC de 1973, mantidos em vigor pelo art. 1.052 do CPC de 2015 até que seja editada lei específica). A falência, portanto, somente se aplica ao devedor empresário, seja ele empresário individual, EIRELI ou sociedade empresária. Este procedimento conta com algumas prerrogativas que não constam no procedimento comum, em respeito ao princípio da função social da empresa. Diante disso, devemos mencionar questionamento já há muito enfretado pela doutrinaacerca da natureza jurídica da falência. Seria a falência um instituto de direito material ou de direito processual? Apesar de seu caráter marcadamente procedimental, devemos reconhecer o caráter híbrido ou complexo da falência, já que, além dos procedimentos, o Direito Falimentar também dispõe, por exemplo, sobre os direitos os efeitos da decretação da quebra em relação à pessoa do falido, seus bens e contratos. Apesar de seu caráter marcadamente procedimental, devemos reconhecer o caráter híbrido ou complexo da falência, já que, além dos procedimentos, o Direito Falimentar também dispõe, por exemplo, sobre os direitos os efeitos da decretação da quebra em relação à pessoa do falido, seus bens e contratos. 3.2. Princípios da falência O objetivo primordial da falência está previsto no art. 75 da Lei n. 11.101/2005. Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual. II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo; f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. 3.4. Procedimento para decretação da falência A execução concursal decorrente da falência se inicia com a sua decretação, que se dá por meio de sentença judicial. Antes do início do processo falimentar, porém, há uma fase pré-falimentar, que vai do pedido de falência até a decisão. Em primeiro lugar precisamos compreender quem é o sujeito passivo do processo falência, que ocupará a posição de réu numa eventual ação que tenha por objeto a decretação da falência. Você já sabe que esse sujeito passivo será o empresário, EIRELI ou sociedade empresário. Precisamos, porém, conhecer alguns detalhes adicionais. Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor. Obviamente utilizaremos, ao longo do nosso curso, a designação “devedor” para nos referir ao empresário que está entrando em falência ou em recuperação judicial ou extrajudicial. A redação do art. 1o, porém, deixa de mencionar a EIRELI, não tendo sofrido atualização desde a criação dessa modalidade empresarial, que se deu em 2011. Isso não nos cria problemas, desde que você sempre lembre que, quando falarmos no “devedor”, estaremos nos referindo a um empresário individual, EIRELI ou sociedade empresária. Nunca é demais lembrar que as associações, sociedades simples, fundações, partidos políticos e cooperativas não estão sujeitas ao regime falimentar, pois não têm caráter empresarial, assim como os profissionais liberais, que, ao menos em regra, não são considerados empresários. Art. 2o Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Até a entrada em vigor da Lei n. 11.101/2005, havia certa polêmica sobre a submissão ou não das empresas públicas e das sociedades de economia mista ao regime de falência, no caso das empresas estatais que explorem atividade econômica. A partir da vigência da nova lei, porém, essa discussão tem valor apenas acadêmico, pois seu art. 2º, I, expressamente determina que ela não se aplica a essas entidades estatais, não fazendo qualquer diferenciação ao fato de serem exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de serviços públicos. O regime falimentar da Lei de Recuperação de Empresas (Lei n. 11.101/2005) não se aplica às empresas públicas e às sociedades de economia mista. No mesmo dispositivo que exclui as estatais, a Lei n. 11.101/2005 também exclui de seu âmbito de incidência alguns agentes econômicos. Estamos falando das instituições financeiras públicas ou privadas, cooperativas de crédito, consórcios, entidades de previdência complementar, sociedades operadoras de planos de assistência à saúde, sociedades seguradoras, sociedades de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas a estas. Basicamente são entidades que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional, que estão sujeitas a regras bastante peculiares e à regulação por entes como o Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC). Essas instituições, porém, não estão completamente excluídas do regime falimentar. Na realidade sua liquidação dá-se segundo normas específicas aplicáveis a cada um desses segmentos, consistindo no que chamamos de liquidação extrajudicial, com marcada atuação das entidades reguladoras. A maior parte dessas leis, por sua vez, prevê a aplicação subsidiária da legislação falimentar. Na realidade, para ser mais preciso, a referência é feita ao Decreto- Lei n. 7.661/1945, que era a anterior Lei de Falências. Diante disso, a própria Lei de Recuperação de Empresas traz previsão de sua aplicação subsidiária a regimes específicos de liquidação, ao tempo em que também sugere a revisão dessas leis especiais, de forma que possam incorporar os princípios e paradigmas que hoje orientam o processo de liquidação/falência de empresas. Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-Lei no 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei no 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto-Lei no 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997. Falamos sobre o sujeito passivo da ação de falência, e agora falaremos sobre o sujeito ativo. As regras aplicáveis se encontram previstas no art. 97 da Lei n. 11.101/2005. Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV – qualquer credor. Perceba que aqui surge a possibilidade de requerimento de autofalência, que na prática é muito rara. Apesar disso, a lei impõe ao empresário o dever de requerer a própria falência, nos termos do art. 105. Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintesdocumentos: I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório do fluxo de caixa; II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos; III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade; IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais; V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei; VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participação societária. Uma vez protocolado o pedido de falência, o prazo para resposta do devedor é de 10 dias. Na contestação o devedor poderá alegar qualquer das matérias previstas no art. 96. Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar: I – falsidade de título; II – prescrição; III – nulidade de obrigação ou de título; IV – pagamento da dívida; V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título; VI – vício em protesto ou em seu instrumento; VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei; VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. Se o devedor for uma sociedade anônima, aplica-se ainda a regra do §1º do art. 96: “será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor”. Por fim, as defesas previstas nos incisos I a VI não impedem a decretação de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas defesas em montante que supere o limite de 40 salários mínimos. Em outras palavras, se o juiz aceitar a defesa em relação a alguns dos títulos que fundamentam o pedido de falência, mas os títulos restantes ultrapassarem o limite mínimo de 40 salários mínimos, ainda assim poderá ser decretada a falência. Quero mencionar ainda a previsão do inciso VII do art. 96, que consiste na possibilidade de apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação. Trata-se de um pedido de recuperação judicial incidental ao pedido de falência. Na prática funciona como uma contraproposta ao pedido de falência, que permite que o devedor ainda não falido renegocie suas dívidas com os credores. No prazo de resposta o devedor pode ainda elidir a falência, assegurando-se de que o juiz não a decretará de forma alguma. Isso pode ser feito com o depósito em juízo do valor da dívida reclamada no pedido de falência, devidamente corrigido e acrescido de juros e honorários advocatícios. Se o pedido de falência for julgado procedente, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor. Há alguma discussão doutrinária acerca da natureza jurídica da sentença que decreta a falência, mas podemos dizer sem medo de errar que se trata de sentença constitutiva, pois somente a partir dela pode-se dizer que o devedor se tornou falido. Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse tempo seus administradores; II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados; III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência; IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1o do art. 7o desta Lei; V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei; VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo; VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei; VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei; IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei; X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido; XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 desta Lei; XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembléia-geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência; XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência. Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a relação de credores. Uma das medidas mais importantes que devem ser tomadas pelo juiz é a decretação do termo legal da falência, conforme dispõe o inciso II do art. 99. Esse ato é importante porque a partir da data tida por termo legal teremos a delimitação do lapso temporal imediatamente anterior à decretação da falência que será investigado pelos credores. Se o pedido tiver sido fundamentado na impontualidade injustificada, o termo legal deve ser fixado pelo juiz da seguinte maneira: na data da decretação da sentença, considera-se a data do primeiro protesto por falta de pagamento. Atenção aqui, pois não é necessariamente a data do protesto do título que embasa a falência, mas a do primeiro protesto feito contra o devedor, subtraindo- se 90 dias. Se o pedido é fundado em ato de falência praticado pelo devedor, será considerada a data do próprio pedido, subtraindo-se até 90 dias. Por outro lado, se a decretação decorre da convolação de recuperação em falência, será considerada a data do respectivo requerimento da recuperação, também subtraindo-se até 90 dias. O inciso VII do art. 99 confere ao juízo que decreta a falência o poder geral de cautela, que lhe permite tomar medidas de salvaguarda dos interesses das partes, decretar a prisão preventiva do empresário individual falido ou dos administradores da sociedade empresária falida, bemcomo para autorizar a continuação provisória das atividades do devedor. Quanto à prisão preventiva, é importante frisar que essa medida somente pode ser decretada se a falência tiver sido requerida com base em provas de crime falimentar. Além disso, obviamente devem estar presentes os pressupostos da prisão preventiva, que estão nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. O Decreto-Lei n. 7.661/1945 previa ainda a possibilidade de prisão administrativa do devedor, o que obviamente não foi recepcionado pela Constituição de 1988 e não encontra previsão na Lei de Recuperação de Empresas. A Junta Comercial deve ser imediatamente comunicada da decretação da falência, para que se promova a anotação do fato junto aos atos constitutivos do empresário devedor. De acordo com o art. 102, a partir desse momento, o devedor e os administradores da sociedade empresária devedora estão inabilitados para o exercício da atividade empresarial. Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei. Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro. Além da Junta Comercial, outros órgãos que possam fornecer informações relevantes sobre a existência de bens e direitos do devedor também devem ser comunicados acerca da decretação da falência. São exemplos a Receita Federal, o Banco Central, o Detran, o Cartório de Registro de Imóveis, etc. Por fim, o juiz deve também mandar intimar o Ministério Público e comunicar a decretação da falências às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tenha estabelecimento, bem como ordenar a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a relação de credores. O inciso IX determina que a sentença que decreta a falência deve também nomear o administrador judicial, que é o principal auxiliar do juiz na condução do processo falimentar. Além de ser o representante legal da massa falida, o administrador judicial exerce uma série de atribuições de natureza administrativa, previstas no art. 22 da Lei n. 11.101/2005. Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – na recuperação judicial e na falência: a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações; e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei; f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei; g) requerer ao juiz convocação da assembleia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções; i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei; II – na recuperação judicial: a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação; c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor; d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei; III – na falência: a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido; b) examinar a escrituração do devedor; c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida; d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa; e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei; f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei; g) avaliar os bens arrecadados; h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa; i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei; l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação; m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10o (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa; q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade; r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo. Ainda segundo a própria Lei de Recuperação de Empresas, a escolha do administrador judicial deve recair sobre profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Caso seja designada uma pessoa jurídica, deve ser declarado o nome do profissional que será responsável pela condução da falência ou da recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz. Segundo a própria Lei de Recuperação de Empresas, a escolha do administrador judicial deve recair sobre profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Caso seja designada uma pessoa jurídica, deve ser declarado o nome do profissional que será responsável pela condução da falência ou da recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz. A remuneração do administrador judicial e de seus auxiliares será custeada pela massa falida. O valor deve ser fixado pelo juiz, atendendo aos critérios estabelecidos no art. 24: capacidade de pagamento do devedor, grau de complexidade do trabalho, e os valores praticados pelo mercado para o desempenho de atividades semelhantes. Essa remuneração não poderá ultrapassar o montante de 5% do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou o valor de venda dos bens na falência, exceto no caso de microempresas e empresas de pequeno porte, para as quais a remuneração fica reduzida ao limite de 2%. Uma das principais características da legislação mais recente é a previsão de uma maior participação dos credores no processo falimentar, o que é possível basicamente por meio da assembleia geralde credores e do comitê de credores. O inciso XII do art. 99 determina que o juiz, na sentença que decretar a falência, “determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência”. Art. 35. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: I – na recuperação judicial: a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) (VETADO) d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4o do art. 52 desta Lei; e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores; II – na falência: a) (VETADO) b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145 desta Lei; d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. O comitê de credores não é um órgão obrigatório. Se o juiz entender necessária sua criação, convocará a assembleia para que eleja seus membros. Quando não houver comitê, o administrador judicial exercerá suas atribuições. Quando houver comitê, em regra terá 4 componentes: um indicado pelos credores trabalhistas, um indicado pelos credores não sujeitos a rateio, um indicado pelos credores com garantia real e com privilégio especial, e um indicado pelos credores quirografários e com privilégio geral. “Mas professor, para que serve esse tal comitê então?” As atribuições do comitê consistem na fiscalização do trabalho do administrador judicial e no auxílio ao juiz. Em muitos casos a própria lei determina que antes de tomar determinadas decisões, o juiz deve ouvir o comitê de credores. Diferentemente do administrador judicial e dos seus auxiliares, os membros do comitê não são remunerados pela massa ou pelo devedor em recuperação. O máximo que pode ocorrer é o ressarcimento de despesas comprovadas e autorizadas pelo juiz, conforme previsão do art. 29. Diferentemente do administrador judicial e dos seus auxiliares, os membros do comitê de credores não são remunerados pela massa ou pelo devedor em Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação. Embora a Lei n. 11.101/2005 não preveja expressamente, são oponíveis embargos de declaração contra a sentença que decreta ou que denega a falência. Não precisamos falar sobre isso, mas o recurso está previsto no art. 1.022 do Código Civil de 2015, e é cabível contra qualquer decisão que contenha omissão, obscuridade ou contradição. O art. 100, por outro lado, prevê expressamente o cabimento de agravo contra a sentença que decreta a falência, e de apelação contra a sentença que nega o pedido. No atual regime da Lei de Recuperação de Empresas, a participação do Ministério Público no processo falimentar é muito pequena, restringindo-se aos casos em que a lei determinar expressamente essa necessidade. Isso ocorre, por exemplo, quando há indícios de crime, ou quando for determinada a alienação de bens do devedor. A redação original da lei, porém, previa em art. 4o, de forma genérica, a intervenção de membro do Ministério Público nos processos de falência, mas o dispositivo à época foi vetado pelo Presidente da República. O entendimento do STJ tem sido no sentido da intervenção mínima do Ministério Público nos processos de falência. recuperação. O máximo que pode ocorrer é o ressarcimento de despesas comprovadas e autorizadas pelo juiz. Neste caso a repercussão da falência sobre a pessoa dos sócios é tão grande que a própria lei determina que eles sejam citados para que possam defender-se. Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil. No caso da sociedade em que todos os sócios têm responsabilidade limitada, caberá ao juízo da falência apurar eventual responsabilidade pessoal dos quotistas e administradores. Essa ação para apuração de responsabilidade dos sócios e administradores prescreve em 2 anos contados do trânsito em julgado da sentença que encerra a falência, sendo possível ao juiz ordenar a indisponibilidade de bens particulares os réus em montante compatível com o dano provocado, de ofício ou a requerimento das partes interessadas. As regras que estudamos agora são bem diferentes para os sócios de responsabilidade limitada e para os de responsabilidade ilimitada, não é mesmo? Pois bem, as mesmas regras aplicadas aos sócios de responsabilidade ilimitada são também aplicáveis ao empresário individual falido, enquanto as regras para os sócios de responsabilidade limitada são aplicáveis também ao titular de EIRELI. Um outro efeito da decretação da falência, também muito importante, é a inabilitação empresarial prevista pelo art. 102 da Lei n. 11.101/2005. Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei. Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro. Essa inabilitação é automática, iniciando-se com a decretação da falência e terminando com a sentença de encerramento do processo falimentar. Por outro lado, caso o falido seja condenado por crime falimentar, a condenação também lhe imporá a pena acessória de inabilitação empresarial, e nesse caso ele ficará inabilitado até o limite de 5 anos após a extinção da punibilidade, de acordo com o art. 181. Aqui é importante diferenciar, mais uma vez, o empresário individual da sociedade empresária. No caso da sociedade, seus sócios não são, a rigor, empresários, já que a atividade é desenvolvida pela sociedade, em seu nome e à sua conta. Assim, caso o empresário individual ou venha a falir, ficará impedido de exercer qualquer atividade empresarial até que suas obrigações sejam extintas, aplicando-se a mesma regra ao sócio de responsabilidade ilimitada. É importante ainda não confundir a inabilitação automática decorrente da decretação da falência com a pena acessória de inabilitação decorrente da condenação por crime falimentar. No primeiro caso a inabilitação vai durar até a sentença que declara extintas as obrigações do falido, enquanto a pena acessória só cessará 5 anos após a extinção da punibilidade. Não confunda a inabilitação automática decorrente da decretação da falência com a pena acessória de inabilitação decorrente da condenação por crime falimentar. No primeiro caso a inabilitação vai durar até a sentença que declara extintas as obrigações do falido, enquanto a pena acessória só cessará 5 anos após a extinção da punibilidade. Mais um efeito importante em relação ao falido é a perda do direito de administração dos seus bens e da disponibilidade sobre eles. Art. 103. Desde a decretação da falência ou do sequestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor. Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis. Caso a falência não seja bem administrada, não apenas os credores sairão prejudicados, mas também o próprio devedor, que tem o interesse de honrarsuas dívidas e conseguir o mais rápido possível que suas obrigações sejam declaradas extintas por sentença. Nesse sentido o art. 104 traz uma série de deveres atribuídos ao falido. Art. 104. A decretação da falência impõe ao falido os seguintes deveres: I – assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de comparecimento, com a indicação do nome, nacionalidade, estado civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para constar do dito termo: a) as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos credores; b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas controladores, diretores ou administradores, apresentando o contrato ou estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como suas alterações; c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios; d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome e endereço do mandatário; e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento; f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato; g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento em que for autor ou réu; II – depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento, os seus livros obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador judicial, depois de encerrados por termos assinados pelo juiz; III – não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei; IV – comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por procurador, quando não for indispensável sua presença; V – entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao administrador judicial, indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que porventura tenha em poder de terceiros; VI – prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou Ministério Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à falência; VII – auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza; VIII – examinar as habilitações de crédito apresentadas; IX – assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros; X – manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz; XI – apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores; XII – examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial. Parágrafo único. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que esta Lei lhe impõe, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o falido por crime de desobediência. A decretação da falência também atinge as obrigações do devedor falido. A partir da decretação da falência, todos os credores se sujeitarão às suas regras, e só poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido na forma prescrita pela Lei de Recuperação de Empresas. Art. 115. A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever. Para que esses credores exerçam seus direitos, é necessário seguir o procedimento da habilitação de créditos, para recebimento no momento oportuno, conforme a ordem legal de classificação. A exceção aqui fica por conta do pedido de restituição, que pode ser ajuizado nos termos do art. 85 e seguintes. Além disso, a decretação da falência acarreta o vencimento antecipado das dívidas, nos termos do art. 77. Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei. Devemos ainda mencionar o art. 124, segundo o qual contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados. Em outras palavras, com a decretação da falência param de fluir juros contra o devedor falido. Entretanto, uma vez realizado o ativo e verificando-se que a massa possui recursos suficientes para saldar todos os seus credores, inclusive os subordinados, devem ser computados os juros normalmente, e a massa deve pagá-los. Esse é o entendimento do STJ. Devemos ainda mencionar que os contratos do devedor falido não se extinguem em razão da decretação da falência, de acordo com o art. 117. Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê. § 1o O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90 (noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato. § 2o A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário. Art. 118. O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada. Muitas vezes a manutenção de certos vínculos contratuais pode ser extremamente interessante para maximizar o ativo da massa. Caso o administrador não se manifeste expressamente acerca da continuação do contrato, o contratante pode interpela-lo no prazo de até 90 dias contados da assinatura do termo de sua nomeação, para que, no prazo de 10 dias, declare se cumprirá ou não o contrato. É importante ressaltar, porém, que, segundo parte importante da Doutrina, os arts. 117 e 118 somente se referem aos contratos bilaterais que ainda não tiveram sua execução iniciada por qualquer das partes contratantes. Se a execução do contrato já tiver sido iniciada e o falido por credor, caberá ao administrador judicial tomar as providencias necessárias ao recebimento do crédito, que será incorporado à massa. Se o falido for o devedor, caberá à parte contratante habilitar seu crédito no processo falimentar. A legislação falimentar traz ainda regras específicas para certas modalidades de contratos, nos termos do art. 119. Art. 119. Nas relações contratuais a seguir mencionadas prevalecerão as seguintes regras: I – o vendedor não pode obstar a entrega das coisas expedidas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da falência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor; II – se o devedor vendeu coisas compostas e o administrador judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr à disposição da massa falida as coisas já recebidas, pedindo perdas e danos; III – não tendo o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou contratara a prestações, e resolvendo o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria; IV – o administrador judicial, ouvido o Comitê, restituirá a coisa móvel comprada pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se resolver não continuar a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do contrato, dos valores pagos; V – tratando-se de coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou mercado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e pagamento do preço, prestar- se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação em bolsa ou mercado; VI – na promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação respectiva;VII – a falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato; VIII – caso haja acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito do sistema financeiro nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não falida poderá considerar o contrato vencido antecipadamente, hipótese em que será liquidado na forma estabelecida em regulamento, admitindo-se a compensação de eventual crédito que venha a ser apurado em favor do falido com créditos detidos pelo contratante; IX – os patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destinação específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permanecendo seus bens, direitos e obrigações separados dos do falido até o advento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer. Agora falemos de um dos mais importantes efeitos da decretação da falência, que é a aptidão atrativa do juízo falimentar. Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. Uma vez decretada a falência pelo juízo competente, é instaurado o chamado juízo universal da falência. Basicamente isso significa que o juízo da falência passa a atrair outros feitos, tornando-se competente para processar e julgar todas as demandas relacionadas ao patrimônio do devedor, salvo algumas exceções. O próprio art. 76 excepciona da regra da universalidade as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não regulamentadas pela Lei n. 11.101/2005. Devemos acrescentar ainda a essa lista as ações que demandem quantia ilíquida (art. 6º, 3.6. O processo falimentar 3.6.1. Arrecadação dos bens Uma vez decretada a falência, o devedor perde o direito de administrar os seus bens, nos termos do art. 103 da Lei n. 11.101/2005. A prerrogativa de administrar o patrimônio do devedor passa ao administrador judicial, que efetuará a arrecadação e a avaliação dos bens, requerendo ao juiz as medidas necessárias. Os bens arrecadados, que são todos os bens do devedor, com exceção daquelas considerados absolutamente impenhoráveis, constituem a chamada massa falida objetiva, que corresponde ao ativo que será submetido à execução concursal falimentar. Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias. Arrecadados os bens, estes ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida, podendo o próprio falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens. A arrecadação será formalizada por meio do auto de arrecadação, nos termos do art. 110. Art. 110. O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou presenciarem o ato. § 1o Não sendo possível a avaliação dos bens no ato da arrecadação, o administrador judicial requererá ao juiz a concessão de prazo para apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias, contados da apresentação do auto de arrecadação. § 2o Serão referidos no inventário: I – os livros obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor, designando-se o estado em que se acham, número e denominação de cada um, páginas escrituradas, data do início da escrituração e do último lançamento, e se os livros obrigatórios estão revestidos das formalidades legais; II – dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa falida; III – os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda, depósito, penhor ou retenção; IV – os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por estes, mencionando-se essa circunstância. § 3o Quando possível, os bens referidos no § 2o deste artigo serão individualizados. § 4o Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15 (quinze) dias após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro, extraídas posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações que nele constarem. Se houver necessidade para sua guarda e conservação, os bens arrecadados poderão ser removidos, e neste caso permanecerão em depósito sob responsabilidade do administrador judicial, mediante compromisso. Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos a alta desvalorização ou cuja conservação seja arriscada ou muito cara, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48h. É possível ainda que o juiz autorize, ouvido o Comitê, que alguns credores, de forma individual ou coletiva, adquiram ou adjudiquem os bens arrecadados, pelo valor da avaliação. Isso é interessante porque evitar a realização de leilão, acelerando o processo. Por fim, o art. 114 autoriza o administrador judicial a alugar ou celebrar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa, mediante autorização do Comitê. 3.6.2. Investigação do período suspeito Além da arrecadação e avaliação, deve-se ainda promover a investigação do período suspeito. Esse período corresponde justamente ao lapso temporal a partir do termo da falência, determinado pelo juiz. Durante esse período será necessário verificar se os administradores ou sócios se desfizeram de bens, gerando efeitos patrimoniais prejudiciais ao interesse dos credores. Esses atos são, em geral, considerados objetivamente ineficazes pelas regras da lei, nos termos do art. 129. Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores: I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título; II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato; III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada; IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência; V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência; VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos; VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior. Descoberta a prática de um dos atos descritos pelo dispositivo, a ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo. Além dos atos objetivamente ineficazes, previstos no art. 129, a lei também prevê, em seu art. 130, o rol de atos subjetivamente ineficazes, que são revogáveisos atos praticados com a intenção de prejudicar credores, quando for comprovado que o devedor entrou em conluio com terceiro, gerando efetivo prejuízo para a massa falida. Basicamente isso significa que será possível revogar atos praticados pelo devedor quando estiverem presentes os seguintes elementos: a) A intenção de prejudicar os credores; b) O conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que contratou com ele; e c) O real prejuízo causado à massa. No caso dos atos subjetivamente ineficazes não há condutas típicas e nem um período temporal determinado. Se algum credor achar que um ato se encaixa no art. 130, poderá questioná-lo, independentemente de quando foi praticado. Por outro lado, nestes casos a ineficácia não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, sendo necessário o ajuizamento de ação própria, chamada ação revocatória. Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência. A Lei n. 11.101/2005 inovou neste aspecto, ampliando o prazo para propositura da ação, que no regime anterior era de apenas 1 ano. Além disso, a legitimidade no primeiro mês era apenas do síndico, enquanto agora a ação pode ser proposta a qualquer momento pelo administrador, por qualquer credor ou pelo Ministério Público. A ação revocatória pode ser promovida contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados; contra os terceiros adquirentes que tiveram conhecimento da intenção do devedor de prejudicar os credores; ou ainda contra os herdeiros ou legatários dessas pessoas. Obviamente o juízo competente para conhecer da ação é o próprio juízo da falência, obedecendo-se ao procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil. Se a sentença for favorável ao autor, os bens retornarão à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos. 3.6.3. Pedidos de restituição Como o administrador judicial arrecada tanto bens de propriedade do devedor quanto bens que se encontram em sua posse, é possível que a arrecadação atinja bens de terceiros, que, por óbvio, não poderão ser utilizados para pagamentos dos credores. Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição. Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada. A primeira hipótese de restituição está no caput do art. 85. É o caso em que o bem arrecadado é de propriedade de terceiro, como ocorre, por exemplo, nos casos de bens entregues em comodato. A segunda hipótese de pedido de restituição está no parágrafo único art. 85. Neste caso temos um bem que foi vendido a crédito ao falido, entregue até 15 dias antes da decretação da falência e ainda não alienado. Neste caso o legislador está protegendo o terceiro de boa-fé que vendeu a crédito para o falido logo antes da quebra. Deve-se presumir que os sócios e administradores sabiam da situação de crise, o que deveria fazer com que não adquirissem mercadorias a crédito. Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado; II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente; III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta Lei. Parágrafo único. As restituições de que trata este artigo somente serão efetuadas após o pagamento previsto no art. 151 desta Lei. Quero agora tratar rapidamente da hipótese do inciso II do art. 86. Neste caso temos a previsão de restituição em dinheiro dos valores decorrentes de adiantamento a contrato de câmbio para exportação. Alguns doutrinadores criticam essa previsão, dizendo que o legislador está privilegiando o capital financeiro especulativo, mas o STJ já consolidou em sua súmula de jurisprudência Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias. Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito. Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores, a relação dos credores constante do edital de que trata o art. 7o, § 2o, desta Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei. Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos de impugnação serão conclusos ao juiz, que: I – determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos não impugnadas, no valor constante da relação referida no § 2o do art. 7o desta Lei; II – julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas alegações e provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor e a classificação; III – fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos controvertidos e decidirá as questões processuais pendentes; IV – determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário. Art. 16. O juiz determinará, para fins de rateio, a reserva de valor para satisfação do crédito impugnado. Parágrafo único. Sendo parcial, a impugnação não impedirá o pagamento da parte incontroversa. Art. 17. Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo. “Mas professor, o prazo para habilitação é muito curto! Se o credor perder esse prazo seu crédito será extinto!?” De forma alguma, caro aluno! O art. 10 determina apenas que as habilitações nesse caso sejam recebidas como retardatárias, o que trará algumas consequências negativas, mas o crédito não será fulminado. Se a habilitação retardatária for apresentada antes da homologação do quadro-geral de credores, será recebida como impugnação, e se for apresentada após a homologação, deverá ser apresentada em ação própria de retificação do quadro, para inclusão do novo crédito retardatário. Os credores retardatários, com exceção dos titulares de créditos decorrentes de relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da assembleia geral de credores, perderão o direito a rateios e ficarão sujeitos ao pagamento de custas. Devemos ainda mencionar a necessidade de habilitação dos créditos da Fazenda Pública. Lembre-se de que o juízo da execução fiscal deverá comunicar ao juízo da falência o valor do crédito tributário devido, que será devidamente inscrito no quadro geral de credores. O STJ, por sua vez, entende que, apesar dessa previsão, a Fazenda Pública pode, se assim desejar, optar por habilitar o crédito como os demais credores. Art. 142. O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades: I – leilão, por lances orais; II – propostas fechadas; III – pregão. Independentemente da modalidade escolhida, a realização da alienação depende de publicação de anúncio em jornal de grande circulação com antecedência de 15 dias para bens móveis e de 30 dias para a alienação da própria empresa ou de bens imóveis. A alienação será feita pelo maior valor oferecido, não importandoo valor de avaliação. A própria Lei n. 11.101/2005 explica como funciona cada uma das modalidades, mas antes de entrarmos em detalhes sobre elas você deve saber que o Ministério Público deve ser intimado pessoalmente, sob pena de nulidade da alienação. No leilão por lances orais devem ser aplicadas as regras do Código de Processo Civil (art. 142, §3o). Nas propostas fechadas, a venda dos bens do devedor ocorrerá mediante a entrega, em cartório e sob recibo, de envelopes lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados no edital, lavrando o escrivão o auto respectivo, assinado pelos presentes, e juntando as propostas aos autos da falência (art. 142, §4o). A venda por pregão, por sua vez, constitui modalidade híbrida das anteriores, comportando duas fases: a) Recebimento de propostas; b) Leilão por lances orais, de que participarão somente aqueles que apresentarem propostas não inferiores a 90% da maior proposta ofertada. Havendo motivos que justifiquem a medida, o juiz poderá ainda, a requerimento do administrador judicial ou do comitê, autorizar que sejam utilizadas outras modalidades de alienação judicial. 3.6.6. Pagamento dos credores Uma vez realizado o ativo, estaremos diante do momento de realizar o pagamento dos credores. Esse pagamento será realizado de acordo com a ordem de preferência de cada crédito previsto no art. 83 da Lei n. 11.101/2005. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006 V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. Os créditos previstos no art. 83 são aqueles que se submetem ao concurso de credores que estamos estudando. A lei, porém, traz ainda créditos que têm “super privilégios”, e que não se submetem ao concurso. São os chamados créditos extraconcursais: a) remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; b) quantias fornecidas à massa pelos credores; c) despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência; d) custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida; e) obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83. Mesmo os créditos extraconcursais, portanto, obedecem a uma ordem de preferência. Em regra, estamos falando de créditos que não existiam antes da decretação da falência. Na realidade, esses créditos surgem em decorrência da falência, e não o contrário. Esta é uma ótima dica para sua memorização. menção ao art. 964 do Código Civil. Lembre-se, porém, de que não se trata de uma lista exaustiva, ok!? Art. 964. Têm privilégio especial: I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. Em quinto lugar temos os créditos com privilégio geral, e aqui mais uma vez a lei menciona o Código Civil, que traz um rol não exaustivo em seu art. 965. Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor: I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar; II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa; III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas; IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento; VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior; VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; VIII - os demais créditos de privilégio geral. Em sexto lugar estão os créditos quirografários, que nada mais são do que aqueles que não possuem nenhum tipo de privilégio ou garantia. Nos termos do inciso VI do art. 83 da Lei n. 11.101/2005, são os seguintes: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; Em sétimo lugar temos as multas e penas pecuniárias, tanto as contratuais quanto as penais, administrativas e tributárias. Por fim, em oitavo lugar temos os créditos subordinados, que nada mais são do que aqueles que sejam desta forma previstos na legislação, e os créditos dos sócios e administradores sem vínculo empregatício. 3.6.7. Encerramento da falência Satisfeitos os créditos conforme a ordem de classificação que acabamos de analisar, caberá ao administrador judicial apresentar suas contas ao juiz no prazo de 30 dias. O juiz então colocará as contas à disposição dos interessados para que ofereçam impugnações no prazo de 10 dias e depois enviará os autosao Ministério Público, que oferecerá seu parecer no prazo de 5 dias. Se as contas forem rejeitadas, o juiz fixará as responsabilidades do administrador judicial e poderá inclusive determinar a indisponibilidade ou o sequestro dos seus bens, servindo a sentença como título executivo para indenização da massa. Após o julgamento das contas cabe ainda ao administrador judicial apresentar o seu relatório final, nos termos do art. 155. Art. 155. Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido. Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença. Parágrafo único. A sentença de encerramento será publicada por edital e dela caberá apelação. Art. 157. O prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que transitar em julgado a sentença do encerramento da falência. O encerramento da falência não significa que as obrigações do falido serão extintas. Isso somente ocorrerá na nas condições do art. 158, e após a respectiva sentença. Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I – o pagamento de todos os créditos; II – o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinquenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo; III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei; IV – o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei. Verificada uma das hipóteses descritas no dispositivo, o devedor falido poderá então requerer ao juízo a prolação de sentença que declare extintas as duas obrigações. 4 – Questões 4.1. Questões sem Comentários 1. TJ-PR – Juiz Substituto – 2017 – Cespe. Uma sociedade limitada, cujo único sócio administrador era João Rios, sofreu algumas condenações judiciais ao pagamento de dívidas e, em uma execução, não pagou, não depositou e não nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da sociedade. Nessa situação hipotética: a) com a decretação da falência, João Rios perdeu o direito de administrar e dispor de seus bens e não poderá viajar sem prévia comunicação ao juiz. b) a decretação da falência fundamentou-se no fato de que o passivo da sociedade era maior que seu ativo. c) são quirografários os créditos decorrentes das condenações judiciais, tanto os principais quanto os de honorários advocatícios. d) como efeito da decretação da falência, haverá a inabilitação empresarial de todos os sócios. 2. PGE–AM – Procurador do Estado – 2016 – Cespe. Se a falência for decretada por sentença em processo de falência, todos os bens do falido tornar-se-ão indisponíveis, mesmo aqueles que façam parte das atividades normais do devedor, se autorizada a continuação provisória destas. 3. DPE-BA – Defensor Público – 2016 – FCC. De acordo com a Lei nº 11.101/2005 (Lei de Falências): a) As obrigações do falido somente serão extintas depois do pagamento de todos os créditos. b) Os credores da massa falida são extraconcursais e devem ser pagos com precedência aos débitos trabalhistas e tributários dos créditos da falência. c) Pode ser decretada com fundamento na falta de pagamento, no vencimento, de obrigação líquida materializada em títulos executivos protestados, independentemente de seu valor. d) O administrador judicial deve ser pessoa física, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador. e) O plano de recuperação judicial não implica novação dos créditos anteriores ao pedido. 4. TRT - 1ª Região (RJ) – Juiz do Trabalho – 2016 – FCC. José da Silva, empregado da Empresa XYZ, sofreu um acidente de trabalho no dia 15/01/2016. Em 30/01/2016, a Empresa XYZ teve decretada a sua falência. Em 14/02/2016, João da Pedra sofreu um acidente de trabalho decorrente de serviços prestados à Empresa XYZ. Considerando-se o que dispõe a Lei n° 11.101/2005, a) por se tratar de crédito com privilégio geral, José da Silva terá o direito de receber anteriormente a João da Pedra, caso tenha habilitado o seu crédito antes do acidente de trabalho ocorrido com este último. b) José da Silva terá o direito de receber o seu crédito decorrente do acidente de trabalho antes de João da Pedra por ter sofrido em momento anterior o seu acidente do trabalho. c) João da Pedra terá o direito de receber o seu crédito decorrente do acidente de trabalho antes de José da Silva. d) terá o direito de receber antes o seu crédito decorrente do acidente de trabalho aquele que habilitar o seu crédito em primeiro lugar, pois se trata de créditos de mesma natureza. e) José da Silva, assim como João da Pedra, terão tratamento privilegiado em seus créditos, limitados a 150 salários mínimos por credor. 5. TJ-RJ – Juiz de Direito – 2016 – VUNESP. Assinale a assertiva correta acerca da ineficácia e da revogação dos atos praticados antes da falência. a) Da sentença que julgar procedente a ação revocatória cabe agravo na modalidade de instrumento, da que julgá-la improcedente cabe apelação. b) Tratando-se de ato revogável, a ação revocatória deverá ser proposta no prazo de 3 anos contado da decretação da falência pelo administrador judicial, pelo Ministério Público ou por qualquer credor. c) Os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, desde que provado o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar, são revogáveis de per si, sem necessidade da produção de qualquer outra prova. d) Os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, não geram efeitos em relação à massa falida, independentemente de prenotação anterior. e) A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, mas não dará direito a acréscimo a título de perdas e danos. 6. TJDFT – Juiz de Direito – 2016 – Cespe. Acerca de falência, assinale a opção correta. a) Segundo a jurisprudência do STJ, os honorários advocatícios, na falência, são créditos quirografários qualquer que seja o seu valor. b) O encerramento da falência tem por efeito a extinção de todas as obrigações do falido não satisfeitas no processo. c) De acordo com a legislação brasileira, a situação falimentar do empresário se revela quando as dívidas excedem a importância de seu patrimônio. d) Um empresário deverá comprovar a regularidade do exercício da atividade empresarial, mediante a apresentação de certidão da junta comercial, para requerer a falência de outro empresário. e) O MP terá legitimidade para propor ação para anular atos praticados pelo falido em fraude a credores caso, no prazo de três anos da decretação da falência, os credores ou o administrador não a proponham. 7. AGU – Advogado da União – 2015 – Cespe. Julgue o item a seguir, relativo à regularidade, ou não, de sociedades empresárias e às possíveis consequências devidas a situações de irregularidade. A sociedade empresária irregular não tem legitimidade ativa para pleitear a falência de outro comerciante, mas pode requerer recuperação judicial, devido ao princípio da preservação da empresa. 8. TCU– Procurador – 2015 – Cespe. A falência de uma empresa X foi decretada e ela recorreu da sentença. Em seguida, foi ajuizada contra a referida empresa uma execução fiscal; no entanto, a demanda executiva foi extinta in limine, sob o argumento de ilegitimidade passiva devido à sentença declaratória de falência. Com
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