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Gestão e Liderança Dr. Rubens Muzio Janeiro / 2017 Professor Autor: Dr. Rubens Muzio / Ms. André L. Borges Coordenadoria de Ensino a Distância: Gedeon J. Lidório Jr Projeto Gráfico e Capa: Mauro S. R. Teixeira Revisão: Éder Wilton Gustavo Felix Calado Todos os direitos em língua portuguesa reservados por: Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200 03 SUMÁRIO Unid. - 01 Definição e Mitos da Liderança...............................................05 Unid. - 02 Tipos de Liderança no AT.........................................................11 Unid. - 03 Liderança no NT.......................................................................19 Unid. - 04 Modelos Atuais de Liderança..................................................27 Unid. - 05 Estilo de Liderança...................................................................35 Unid. - 06 A Espiritualidade do Lider......................................................43 Unid. - 07 Caráter e Qualidades dos Líderes Cristãos............................51 Unid. - 08 Cuidado Pastoral e Liderança.................................................57 Unid. - 09 Treinamento de Novos Líderes e o Desenvolvimento de Equipes.................................................................................................................63 Unid. - 10 A Gestão na Liderança.............................................................71 Unid. - 11 Gestão: Planejamento...............................................................79 Unid. - 12 Gestão: Organização.................................................................85 Unid. - 13 Gestão: Direção.........................................................................91 Unid. - 14 Gestão: Monitoramento ou Controle.....................................99 Unid. - 15 Autoconhecimento..................................................................107 Unid. - 16 Liderança frente ao tempo, finanças e conflitos..................115 Gestão e Liderança04 05 Gestão e Liderança Unidade - 01 Definições e Mitos da Liderança Introdução Bem-vindo à disciplina Gestão e Liderança. Nesta unidade vamos introduzir o tema da liderança reconhecendo os grandes desafios quanto a sua definição bem como seus mitos. No século 21, reina uma crescente preocupação e constante confusão com respeito a liderança, no entanto, é raro encontrar-se um bom líder. Isso fica claro quando olhamos ao redor para a política, a empresa, o comércio, os esportes, a igreja, e assim por diante. O mundo contemporâneo é complexo e multifacetado, tornando a função da liderança algo imprevisível, estressante e complexo. Objetivos Tratar dos seguintes assuntos: 1. Definições básicas e mitos da liderança; 2. Liderança e a natureza da influência. Gestão e Liderança06 Definições básicas Antes de aprofundar a discussão eu quero apontar alguns mitos e gostaria de refutá-los imediatamente: Liderança não é gerência. O líder influencia enquanto o gerente concentra-se na organização e manutenção de sistemas e processos. O gerente não consegue alterar a direção, nem mudar as estruturas. Liderança não é empreendedorismo. Nem todo empreendedor ou vendedor é um bom líder. Ele pode conseguir persuadir ou vender bem, mas não necessariamente influência de maneira permanente. Liderança não é informação. O melhor líder é aquele que possui maior conhecimento e inteligência? Isso não é automático. Bons PhD, professores universitários, acadêmicos e teólogos podem se tornar péssimos líderes e coordenadores. Inteligência não implica em capacitação para liderança. Liderança não é pioneirismo. O primeiro que aceita o trabalho não é geralmente o que melhor lidera. O bom líder pode não estar à frente mas fazer parte da discussão ao redor da mesa e influenciar outros. Liderança não é posição. Achar que liderar é ter uma posição de destaque é um grande equívoco. Não é a posição que faz o líder. O líder faz a posição. Quantas vezes pastores saíram de suas denominações, perderam sua posição e prédios, mas levaram centenas de membros para a nova igreja? O líder cristão tem como propósito supremo glorificar Deus realizando os Seus alvos na terra, expandindo o Seu Reino e não apenas seus interesses e ministérios. Liderança implica em firmar valores firmes, esclarecer a missão e visão da organização, buscar excelência, eficiência e eficácia, olhar para o futuro com esperança e capacitar e multiplicar discípulos que alcancem o seu potencial. Os líderes são responsáveis não apenas pelo presente mas pelo futuro. Reflita sobre algumas definições e conceitos básicos da liderança que nos ajudam a compreender seu propósito: • “A primeira responsabilidade do líder é definir a realidade”. Max DePree • “A primeira e última tarefa do líder é manter a esperança viva. 07 Nunca negando as dificuldades, eles devem manter a confiança perfeita”. John W. Gardner • “A primeira responsabilidade do líder é estabelecer uma visão correta e compartilhada”. Lovett H. Weems • “Para ser um bom líder, você precisa ser um bom seguidor”. Truett Cathy • “Um líder é alguém que influencia as pessoas a tomar um curso de ações”. • “Líder é alguém capacitado e responsabilizado por Deus, para influenciar Seu povo rumo aos Seus objetivos para eles”. • “Líderes são pioneiros. Eles são pessoas que se aventuram em território inexplorado. Eles nos guiam a novos destinos, frequentemente desconhecidos. Pessoas que lideram são os soldados na campanha por mudança. Líderes nos levam a outros lugares.” James M. Kouzes e Barry Z. Posner. Foi pensando em todas as responsabilidades da liderança, que George Barna1 descreveu os cinco atributos chaves da liderança, nos quais focaremos por diversas vezes neste curso: O líder mobiliza Seu foco é influenciar pessoas Dirigida pelos alvos e objetivos Mantém direção em comum com aqueles que confiam nele Tem pessoas dispostas a segui-lo O líder tem capacidades e responsabilidades para influenciar um específico grupo de pessoas a alcançarem os propósitos de Deus para eles. Liderança tem tudo a ver com o esforço de exercer conscientemente uma influência especial dentro de um grupo no sentido de levá-lo a atingir metas de permanente benefício que atendam às necessidades reais do grupo. 1Líderes em Ação (United Press, 1999) Gestão e Liderança08 Liderança e Influência: O ministério da liderança é um movimento cíclico de dar e receber influências. Neste movimento, a autoridade interior é a base para isso (1 Tm 4:12; 3:1-8; Tt 1:5-9), enquanto que a posição externa e delegada dá ao líder uma plataforma de influência. A liderança tem a ver com a influência em quatro áreas específicas: Modelo. As pessoas são influenciadas, inicialmente, pelo que veem. Isso é facilmente observável em relação aos filhos. Não importa o que digamos para eles fazerem, a inclinação natural deles será imitar o que estão vendo. Quando você encontra um líder digno de confiança e com boas qualidades é positivo, você o procura como um influenciador para a sua vida. E, quanto mais passa a conhecer o líder, maior será a capacidade de influência dele sobre você. Uma exceção à esta regra são celebridades. Tais pessoas, devido a sua exposição na mídia, tem a capacidade de influenciar aqueles que se expõem aos meios de comunicação nos quais aparecem, embora nunca tenha havido um encontro entre os dois lados. É algo que pode também ser feito à distância. Motivação. Para o líder causar um impacto realmente significativo na vida das pessoas, ele tem que estar próximo delas. E, isso nos traz à motivação. O líder torna-se uma influência motivadora quando encoraja as pessoas, e se comunica com elas no nível emocional. Com isso, ele constrói pontes de relacionamento e aumenta a confiança. Quando as pessoas sentem-se bem com o seu líder e com eles mesmos, quando estão com o líder, o nível de influência dele aumentasignificativamente. Ele começa a observar um impacto positivo em suas vidas. Mentoria. Para que esse impacto aumente ainda mais e prolongue-se por um longo tempo, o líder tem de mover-se para o estágio seguinte de influência, ou seja, a mentoria. Mentoria é o derramar da vida do líder na vida das outras pessoas para ajudá-las a alcançar o seu potencial. O poder da mentoria é tão forte que o líder pode, na realidade, ver, com os seus próprios olhos, a mudança ocorrendo na vida daqueles que ele está influenciando. Multiplicação. Outro importante aspecto da influência que o líder alcança sobre outras vidas é multiplicando. Na qualidade de um 09 influenciador, você pode ajudar as pessoas que está influenciando a se tornarem influenciadoras positivas nas vidas de outras, e a passarem adiante, não somente o que receberam de você, mas também o que aprenderam por si mesmas. Poucas pessoas chegam a este estágio de influência, embora todos, em geral, tenham o potencial para chegarem lá. Isso exigirá uma série de outros fatores que trataremos adiante, e também exigirá tempo. Você pode ser um modelo para grupos, mas, para formar multiplicadores, você terá de trabalhar com as pessoas, individualmente. Níveis de Liderança No que diz respeito aos níveis de liderança, John Maxwell desenvolveu o conceito dos cinco níveis diferentes de liderança. 1. Posição. Neste nível de liderança, as pessoas seguem o líder, porque têm de fazê-lo, pois ele tem autoridade. Neste nível, a influência do líder não ultrapassa as linhas que descrevem suas atividades na sua posição em particular. 2. Permissão. Neste nível de liderança, a palavra-chave é relacionamento. As pessoas não seguem o líder por causa da sua autoridade declarada (sua posição), mas porque querem fazê-lo. Este nível permite que o ambiente seja alegre e descontraído. Entretanto, é possível que a longa permanência neste nível, sem passar para os seguintes, possa provocar uma acomodação generalizada nas pessoas que encontravam-se, inicialmente, muito motivadas. 3. Produção. Neste nível de liderança, a palavra-chave é resultado. As pessoas seguem o líder pelo que ele tem feito pela organização, pelo seu sucesso. Elas gostam do líder e do que ele está fazendo. Os problemas são resolvidos com pouco esforço, devido ao momento que estão vivendo. 4. Desenvolvimento das pessoas. Neste nível de liderança, a palavra-chave é reprodução. As pessoas seguem o líder pelo que ele tem feito por elas. Este é o nível no qual ocorre o crescimento a longo termo. O compromisso do líder em desenvolver novos líderes garante um crescimento continuado da organização e das pessoas. Faça tudo Gestão e Liderança10 que possa para alcançar este nível, e permaneça nele. 5. Personalidade. Neste nível, a palavra-chave é respeito. As pessoas seguem o líder por causa do que ele é (integridade), do que ele faz (convergência) e do que ele representa (celebração). Conclusão Deus está buscando líderes fiéis (1 Sm 13:14, Jr 5:1, Ez 22:30). Quando ele encontra uma pessoa segundo o seu coração e comprometida com o seu Reino ele o usa ilimitada e criativamente. Veja por exemplo: Moisés, Gideão, Davi, Samuel, Pedro, Paulo, Calvino, Lutero, Wesley, Adoniram Judson, Charles Spurgeon, Billy Graham e milhares de outros santos e sábios. Deus está chamado pessoas segundo o seu coração. Você é uma delas? 11 Gestão e Liderança Unidade - 02 Tipos de liderança no Antigo Testamento Dr. Willian Lace Lane Introdução Nesta unidade vamos identificar e analisar alguns tipos de liderança no Antigo Testamento, de acordo com a instituição que representam ou lideram. No AT encontramos importantes instuições do povo de Deus, dentre elas, a estrutura dos clãs e tribos, o templo, o reino e a sociedade em geral. Cada uma dessas instituições tinha sua estrutura de liderança com suas características peculiares. Queremos observar em linhas gerais algumas dessas características. Objetivos 1. Identificar os tipos de liderança no AT; 2. Reconhecer as principais características de cada tipo de liderança; 3. Ser motivado a aplicar tipos diferente de liderança de acordo com a natureza do cargo ou da responsabilidade. Gestão e Liderança12 Tipos de liderança no Antigo Testamento Naturalmente, há diversos tipos de liderança na Bíblia, particularmente no AT. Pessoas são chamadas para exercerem responsabilidades no âmbito político, na vida religiosa do povo, na família, e no meio social. Apesar de indivíduos se identificarem particularmente com um ou outro tipo, de certo modo, eles se entrelaçam uns aos outros. Frequentemente o rei tinha uma liderança religiosa e social também. Por isso, temos que ver esses tipos não como campos completamente distintos, mas como expressões de liderança no tipo de cargo que ocupavam. Rapidamente, gostaria de destacar alguns desses tipos de liderança. A importância dessa discussão é perceber que o povo de Deus no AT era formado através de diversas organizações ou instituições. Na longa história do povo de Israel, o povo se organizou de maneira diferente em épocas diferentes. No início da formação do povo, principalmente no período patriarcal e até a entrada na terra prometida, a estrutura organizacional do povo girava em torno dos “chefes” (lit. “cabeças”) dos clãs ou tribos. Depois da morte de Josué, a liderança se concentra em um juiz que raramente conseguiu liderar todas as tribos. Esses juízes surgiam pelo carisma em situação especial de opressão do inimigo. Eles libertavam o povo e passavam a governar aquela tribo ou grupo de tribos. O período da monarquia possibilitou, pelo menos durante os reinados de Davi e Salomão, uma liderança política centralizada. Durante todo esse tempo, havia também a liderança religiosa dos sacerdotes e dos profetas, e a liderança social dos sábios e juízes. Portanto, há diferentes tipos de liderança em diferentes épocas e diferentes instituições. Esse estudo pode nos ensinar e despertar para o fato de que na igreja, e na sociedade como um todo, há também diversos tipos de liderança. Precisamos saber reconhecer esses tipos de liderança e implementar ações correspondentes. Fonte: Depositphotos 13 1. Tipos de liderança bíblica 1.1. Política As principais formas de liderança política em Israel são os juízes e reis. No livro de Juízes, vemos claramente que os juízes eram homens e mulheres revestidos do Espírito de Deus para libertar o povo da opressão estrangeira. Frequentemente, tinham também a função religiosa de eliminar a idolatria. De todo modo, eram pessoas designadas por Deus. Os reis se tornaram também a principal forma de liderança política em Israel depois dos juízes. É impressionante que na história dos reis em 1-2Reis e 1-2Crônicas, eles são julgados também por seu caráter, isto é, se durante o reinado “fizeram o mau” ou “fizeram o bem” diante do Senhor. Além do caráter, essa era também uma avaliação sobre o quanto eles observaram e fizeram o povo guardar a aliança com Deus de adorar somente a Deus. Em geral, o rei que destruia os altares pagãos recebia uma avaliação positiva, mas aquele que tinha feito proliferar a idolatria recebia nota negativa. Os reis dos povos também eram frequentemente usados por Deus para exercer juízo contra sua nação. Deus chama Ciro, rei da Pérsia, como o seu ungido (Is 45.1). Na verdade, Ciro foi aquele que possibilitou o retorno dos exilados para Jerusalém e o que colaborou para que o templo fosse reconstruído. 1.2. Religiosa A liderança religiosa de Israel era exercida principalmente pelos sacerdotes, através dos ritos e celebrações. Há vários aspectos dessa liderança, alguns positivos, outros negativos. De maneira geral, os sacerdotes estavam associados a um santuário ou altar e, posteriormente, ao templo. No templo, esse ofício se torna mais sofisticado e passa a ter diversas funções, dentre elas os encarregados do templo, juízes, oficiais, porteiros, instrumentistas e músicos(1Cr 23.2-5; cf. caps. 24 – 26). Por estarem ligados ao templo, sua função principal era tanto de líder de adoração e culto, como de preservação Gestão e Liderança14 do templo, manutenção de registros, segurança do tesouro do templo, e preservação das coisas sagradas. Podemos ver dentre essas funções aspectos tanto religiosos propriamente, quanto administrativos, didáticos e diaconais. Em geral, o sacerdote é visto como um mediador, aquele que ofi cia o sacrifício em favor de indivíduos e família perante Deus. Por outro lado, ele também é responsável em trazer da parte de Deus a mensagem para o povo. Um aspecto importante de sua liderança é o de cuidador. Nem sempre isso fi ca claro, mas o sacerdote era responsável em determinar quem estava doente ou cerimonialmente impuro e prover o restabelecimento da pessoa. Levítico 13 e 14 relacionam várias situações de enfermidade que precisava ser verifi cada pelo sacerdote. No entanto, no período da monarquia, o sacerdote passa a ter uma liderança negativa. Ele está preso aos interesses do rei, por isso, não age como mediador entre Deus e o povo e, sim como defensor e legitimador dos interesses do estado. Assim, ele perde sua autonomia e sua liderança religiosa. Na verdade, ele continua um líder religioso, porém, apenas para efeito de cumprir rituais e arrecadar ofertas para o templo, as quais, em última instância, eram destinadas aos projetos do estado. Por causa disso, a liderança do sacerdote é frequentemente vista de maneira negativa. Sua religiosidade refl etia mais os interesses institucionais do que a experiência com Deus e o bem estar do povo. Em Amós 7.10-17 vemos nitidamente o papel do sacerdote Amazias como defensor dos interesses e do “santuário do rei”. Ainda que se refi ra ao reinado do Norte, Israel, em Jerusalém, não foi muito diferente. Diante disso, há outros que exercem liderança religiosa. Estes são os profetas. Pode se dizer que a principal liderança religiosa em Israel não parte do status quo, da classe religiosa sacerdotal, mas dos Templo de Salomão- Fonte: Wikimedia Commons 15 profetas, que muitas vezes atuavam independentemente do templo e na periferia. Provavelmente, estes são os principais responsáveis pela grande maioria do que temos registrado no AT. Além dos escritos dos profetas, as grandes narrativas da história do povo foram formadas, influenciadas, organizadas e compiladas pelos profetas. A principal característica da liderança profética era de confrontação da realidade com os termos da aliança. Os profetas, muito mais do que anunciar coisas futuras, eram responsáveis por apontar os pecados do povo, chamá-lo ao arrependimento, anunciar o juízo de Deus, mas também de propagar consolo, esperança e confiança em Deus. Eles exerciam uma liderança religiosa através da pregação, não através do ritual, como os sacerdotes. Os sábios também exerciam algum tipo de liderança religiosa, embora de modo muito mais informal. Eles são, contudo, responsáveis por boa parte dos Escritos, ou os livros poéticos, do AT. O rei tinha muitas vezes sábios conselheiros, no entanto, muitos sábios estavam associados aos profetas ou às estruturas dos clãs ainda existentes, mesmo durante a monarquia. A liderança religiosa no AT tinha a função cúltica, a função profética e a da sabedoria. Apenas por essas funções, podemos perceber tipos diferentes de liderança religiosa. Cada uma delas têm suas características. 1.3. Social Quando falamos da liderança social, pensamos em lideranças espontâneas que influenciavam de algum modo as pessoas na comunidade. Nem sempre esse tipo de liderança estava associado a um cargo, ofício ou função na organização político-religiosa na nação. Outras vezes, líderes políticos e religiosos exerciam também uma liderança social. Penso aqui, principalmente, em dois grupos específicos: os sábios e os anciãos. Os sábios muitas vezes eram grupos organizados e até associados à corte real, mas em geral, tratava-se de uma liderança informal e espontânea. Os sábios representavam um modo de ver a vida, entender os acontecimentos e buscar soluções. Eles lideravam Gestão e Liderança16 por meio de seus ensinamentos e conselhos. Percebe-se, em muito do que eles ensinavam, pouca referência à aliança, aos atos salvífi cos de Deus e aos grandes temas da redenção. Eles buscavam modos de aplicar a lei, não de forma ritualista e legalista, mas no cotidiano da vida da comunidade. Além dos sábios, os “anciãos” ou “chefes” do povo exerciam uma liderança informal na comunidade. Muitas vezes esses grupos até formavam um tipo de tribunal para deliberações do cotidiano, resolução de confl itos etc (Rt 4.2, 9-11; 1Sm 8.4). Apesar desse grupo ser mais comum no período anterior à Monarquia, antes da centralização do poder no aparato do Estado, eles continuaram existindo e muitas vezes eram decisivos em apoiar ou não as intenções de um rei (1Rs 8.1,3; 12.8, 13; 2Rs 23.1). Eles exerciam uma liderança informal no campo religioso, político, judicial e social, mas tudo indica que eles estavam mais próximo, por isso, muitas vezes os reis dependiam de seu apoio para manter a coesão do povo e a “ “governabilidade”. 1.4. Familiar A liderança familiar no AT se verifi ca principalmente naqueles casos em que o pai de família exercia infl uência sobre seus fi lhos e netos de modo a manter a família unida e em foco. Naturalmente, lembramos dos patriarcas e de algumas das principais fi guras da história do AT (Noé, Abraão, Jacó, José, Davi, Salomão). Nem sempre esses chefes de família foram bem sucedidos em preservar sua família unida nem em evitar que os descendentes se desentendessem. Contudo, exerciam liderança importante. Um bom exemplo de líder familiar foi Jó. Na introdução do livro de Jó nos é contado que seus fi lhos gostavam de se reunir nas casas uns dos outros e que passado o período das festas Jó os convidava para um sacrifício e os “santifi cava” (Jó 1.5). Assim, Jó como pai ocupa Fonte: Wikimedia Commons 17 uma liderança espiritual sobre seus filhos. Outro exemplo completamente inesperado de liderança familiar é a de Rute, uma moabita, viúva de um israelita, pobre, sem filhos, sem terra e tendo de rebuscar espigas no campo de um fazendeiro. Apesar dessa condição, ela é a única mulher na Bíblia chamada de “mulher virtuosa” ('eshet hayil – Rt 3.11). Ela exerce uma liderança impressionante não só em relação à sua sogra, também viúva, mas em relação à linhagem de Davi e, consequentemente, do Messias, Jesus Cristo (Rt 4.13-22). Estes são alguns tipos de liderança que encontramos no AT. Eles nos ajudam a perceber como a liderança envolve diversas áreas. Não é diferente hoje. Contudo, nas diversas áreas da liderança percebe-se um enfoque comum em buscar preservar a integridade da aliança com Deus, do coração íntegro, do caráter segundo a vontade de Deus. Conclusão Através do estudo da liderança no AT, vemos algumas marcas essenciais da liderança e, principalmente, a importância que se dava à liderança. Ser um líder não era pouca coisa, era algo que envolvia uma vocação divinamente conferida e uma liderança para transformação. O líder tinha um claro objetivo de promover uma transformação na sociedade, mas essa promoção nunca podia ser confundida com um projeto pessoal do líder, sempre estava ligada à obediência aos intentos de Deus. Gestão e Liderança18 Anotações __________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 19 Gestão e Liderança Unidade - 03 Liderança no Novo Testamento Introdução Espero que você tenha percebido os modelos de liderança no Velho Testamento. Já falamos que o líder tem capacidades e responsabilidades para influenciar um específico grupo de pessoas a alcançarem os propósitos de Deus para eles. E Ninguém melhor que Jesus Cristo para nos ensinar sobre liderança. A sua vida na Palestina, suas palavras e ações, demonstra como a vida deveria ser vivida. É essencial que o líder cristão foque seu chamado, sua vida e ministério na pessoa de Cristo. Todo aquele que deseja liderar em qualquer parte do mundo tem por certo que a pessoa de Jesus, seu estilo e vida, é o modelo com o qual devemos comparar nosso estilo de vida. Objetivos 1. Compreender a natureza da liderança a partir da vida de Jesus Cristo, sua encarnação, morte, ressurreição, ascensão e segunda vinda. Gestão e Liderança20 Jesus é e será sempre nosso modelo Deveríamos observar mais atentamente o estilo de vida de Cristo. Sua encarnação e humildade de nascimento em Nazaré, sua paciência e dedicação como marceneiro, seu longo período de jejum e solitude após o batismo, suas noites de oração após longos períodos de ensino e antes da tomada de decisões importantes, seu silêncio diante das acusações dos inimigos, sua paciência, misericórdia e amor com o povo simples, seu sacrifício na cruz do calvário! Tudo isso nos encoraja a uma liderança mais eficaz, mais robusta, mais saudável. O mero conhecimento do evangelho sem a prática da vida evangélica de Jesus produzirá líderes flácidos e frouxos. A liderança deve se expressar em estratégias práticas de uma vida semelhante a Jesus, no dia a dia de nossa existência. Não adiantará nada o conhecimento dos ensinamentos de Cristo se não imitarmos o seu comportamento. A mensagem do evangelho é a própria pessoa de Cristo. Paulo, em Fp 1:21 mostra que as implicações disso são imensas: Porquanto para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. O ponto de partida e chegada da história é Jesus. Em 1Co 15:14, Paulo afirma o seguinte: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa pregação e vã a vossa fé”. Sem Jesus não há cristianismo. As implicações disso são imensas! O Novo Testamento narra a vida, morte e ressurreição de Jesus como ações que revelam a paixão de Deus pela humanidade, cujo propósito é sua própria glorificação. (Cl 1:27, Ef 1). A mensagem do evangelho é a própria pessoa de Cristo (1Co 1:23, 5:7, 15:3). Uma liderança impactada pela Encarnação de Jesus Cristo O que significa encarnação? Em Jo 1:14, Jesus se tornou carne e habitou (fez seu tabernáculo) entre nós. “Tornar-se carne” mostra sua identificação com a humanidade. Ele tornou-se igual a gente. Ele decidiu viver entre homens, não como Deus, mas restringindo-se a todas as limitações do corpo humano. É neste ato da intro-missão de Deus na história humana que a missão realmente começa. A encarnação de Jesus é o clímax de um longo processo em que o Senhor 21 atravessa as portas da eternidade, penetrando dentro da história da humanidade. Jesus se encarnou missionalmente. Jesus mergulha a si mesmo na cosmovisão da época. Ele cresce e vive como judeu, assimila a cultura do oriente médio, conhece seus valores, estuda sua Tora, compreende suas crenças, engaja-se em diversos assuntos relevantes à maior parte das pessoas. Jesus demonstra que devemos nos encontrar missionariamente com a cultura. O Deus-homem entra no mundo, vive uma vida de serviço e sacrifício, enfrenta tentações, experimenta o luto, raiva, angústia e morre uma morte humana. As implicações são tremendas! Esta postura de Cristo demonstra que as condições histórica, cultural e social das pessoas e cidades não são de menos importância que a missão da igreja. Como podemos obedecer a Jesus, desenvolvendo um estilo de liderança encarnacional? Como podemos nos relacionar melhor com as pessoas, inserindo-nos em seu contexto, compreendendo suas circunstâncias e entendendo suas fraquezas e inseguranças com o mesmo sentimento de graça que havia em Jesus? Um estilo de liderança impactado pela Morte de Jesus Cristo Sem a cruz, o Cristianismo é apenas outra forma de experiência religiosa ou espiritualidade do tipo nova era. O cristianismo é diferente de todas as outras religiões. Paulo afirma que o amor de Deus por nós é comprovado e confirmado na morte de Cristo pelos pecadores (Rm 5:8 e 2 Co 5:14). Na cruz, o ser humano lembra-se da tragicidade da vida. A morte revela que nossos modelos de vida são falhos, nossos resultados são ambíguos, nosso sucesso é passageiro, nossa fama é transitória e nenhum deles leva à perfeição que buscamos. Morte é o sinal externo que comprova que nenhuma das nossas realizações se encaixa no reino de Deus. A cruz é a única opção, a única alternativa que conecta céus e terra, que une ideal e realidade. A cruz é a perfeita combinação da ira de Deus com seu amor e misericórdia. A cruz é o marco histórico que revela ambos os atributos: a severidade da ira de Deus diante do pecado e a profundidade de seu amor compassivo através do sacrifício substitutivo de Jesus. Gestão e Liderança22 A cruz revela simultaneamente a quantidade do nosso pecado contra Deus e a quantidade do seu amor para conosco. Ela é o lugar onde todo ser humano, sem exceção, é aceito como amado de Deus, tornando-se objeto de sua graça. A cruz é o lugar da expiação, lugar onde o pecado é perdoado. O único centro da história da humanidade. A igreja é portadora desta visão e somente ela pode levar as nações à verdadeira unidade de propósito. A cruz simboliza o sofrimento. Sofrimento é um aspecto do cristianismo evidentemente negligenciado, mas indispensável na compreensão de nossa missão neste mundo. Quando Jesus enviou seus discípulos em missão, ele mostrou a eles suas mãos e pés (Lc 24:39, 40). Eles compartilhariam não somente sua missão, mas também sua paixão. Vivemos esse evangelho somente quando nos identificamos como comunidade que vive diariamente sob o impacto da cruz. Somente quando a igreja se esvazia de si mesma, sacrificando-se, amando com sinceridade, perdoando e curando, humilhando-se com vulnerabilidade e morrendo diariamente, ela poderá conquistar e atrair a Jesus. Um estilo de liderança impactado pela Ressurreição de Jesus A mensagem do evangelho é estéril sem ela, 1Co 15:14, “e, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (Rm 8:11, Cl 3:1). Sem a ressurreição, a mensagem da cruz é incompleta e ilusória. Enquanto na cruz a missão reflete o sacrifício, perdão, fraqueza e sofrimento do Cristo, na ressurreição ela demonstra a vitória, grandeza, vida e poder do Messias. A jornada não termina com a morte. Essaapenas abre passagem para a vida eterna. A ressurreição, a igreja promove o Cristo ressuscitado como rei e senhor. A ressurreição ressalta a presença do reino. Mateus, Marcos e Lucas sustentam que o Reino desfruta de uma posição central no ministério da igreja. Várias parábolas são dedicadas a esse tema - Mt 5:19; 6:33; 9:35; 13:24, 31; 18:3; Mc 9:1, 10:15 e 17; Lc 6:20; 9:2, 11; 12: 31, por exemplo. Jesus veio trazer o Reino de forma mais extraordinária e perceptível. Participamos na grande obra de trazer o máximo possível do reino de Cristo na terra. Roger Mitchell chama isso do elemento 23 reino. “A obra do reino não é tanto tirar as pessoas da terra e levá-las para o céu, mas trazer o quanto pudermos do céu nesta terra e nas pessoas”. O reino avança quando a igreja se compromete com justiça, paz, retidão e amor. Ações por justiça e paz social neste mundo não se tornam temas secundários, mas sim centrais à missão da igreja. Embora a igreja seja imperfeita, ela tem o potencial de refletir em seus ministérios e programas muitos dos valores do reino. Um estilo de liderança impactado pela ascensão de Jesus Cristo Para o braço reformado do cristianismo, a igreja encontra-se entre ascensão e escatologia, entre a partida de Jesus e seu retorno. Em Atos 1, verso 11, a mensagem dos anjos foi: “Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”. Ele foi visto subindo e será visto descendo. O espaço entre a ascensão e retorno, entre a primeira e a segunda vida de Cristo deve ser preenchido pelo testemunho da igreja. Para que isso ocorra, o Espírito desce na festa de Pentecostes e a igreja entra no mundo como comunidade do Espírito: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra” (At 1:8). O Espírito Santo é Espírito missionário! Sem ele, a missão será missão impossível. Como os discípulos poderiam realizar a Grande Comissão instituída por Cristo? O Espírito é quem os capacita (Rm 8:9, 11, 13, 14; Gl 5:16-25). O Espírito é quem labuta pelo discipulado das nações. (2Tm 1:14; 1 Ts 3:5). O Espírito de Deus é o grande missionário e somente com seu domínio sobre o campo da colheita e sobre os trabalhadores da seara poderemos esperar sucesso na tarefa de tornar Cristo conhecido de todos os povos. Sem o Espírito, o melhor planejamento estratégico fracassará. Devemos administrar, organizar, planejar, treinar e liderar profundamente conscientes de nossa dependência seu poder e presença. Gestão e Liderança24 Um Estilo de Liderança impactado pela segunda vinda de Cristo Jesus prometeu que o fim não viria até que o evangelho do reino fosse pregado a todas as nações (Mt 24:14). Essa seção profética dos evangelhos já foi chamada de “pequeno apocalipse”. Haverá guerras, sofrimento, perseguição e outras tribulações que muitos interpretarão como sinais dos tempos. Falsos cristos edificarão seus impérios. Falsos profetas oferecerão as bênçãos de uma nova era diferente da história de Jesus. Entretanto, isso não é o fim de todas as coisas. O evangelho precisa ser pregado a todas as nações. Todos devem ter a oportunidade de arrepender-se e crer na realidade do reino de Deus. Milhões serão martirizados por amor ao evangelho. O clímax da história é o evento escatológico. Naquela hora, os incalculáveis atributos de Deus - sua graça, poder, majestade, amor e sabedoria - serão revelados. Até lá, estamos somente a caminho. Não há espaço para ansiedade com nossas falhas e vaidade com nosso sucesso. Há somente espaço para fidelidade no testemunho do Jesus, crucificado e ressurreto. Nele, o propósito da história cósmica foi revelado. A lógica da missão é esta: o verdadeiro sentido da história humana foi descoberto em Cristo. Portanto, a questão do sentido e objetivo da história não pode ser evitada. A vinda de Jesus nos dá coragem para assumirmos uma nova atitude diante da história e sociedade. Escatologia é a única opção capaz de conferir real significado à história humana. Conclusão É óbvio que a intenção de Jesus não era criar um sistema religioso. De outra feita, Deus teria escrito um compêndio teológico semelhante à Dogmática de Barth. Seu ensino não foi meramente intelectual. Deus entregou seu Filho. Sua mensagem veio em forma humana, 25 encarnada em vida e ação, com lágrimas, sangue e suor de seu Filho. Por essa razão, a mensagem do evangelho não poderia ser reduzida a abstrações, teorias, estratégias e sistemas. A mensagem de Deus é o próprio Jesus Cristo. Referências Bibliográficas MUZIO, Rubens. O DNA da Liderança Cristã. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2007. Newbigin, Lesslie.. The Gospel in a Pluralist Society. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing Company, 1989. Gestão e Liderança26 Anotações __________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 27 Gestão e Liderança Unidade - 04 Modelos Atuais de Liderança Introdução O que significa ser um bom líder nos dias de hoje? Vários modelos atuais foram emprestados dos símbolos sociais que tem mais proeminência na cultura brasileira. O líder virou treinador, técnico ou couch, empreendedor ou estrategista, marketeiro, empresário, mestre ou doutor. A maioria deles apresenta aspectos positivos e continuarão a influenciar o modus operantis da igreja. Mas há vantagens e desvantagens para cada uma das tendências. Até que ponto as igrejas foram e devem ser influenciadas pelas formas contemporâneas de liderança? Objetivos 1. Expor e ter atitude crítica diante dos modelos atuais de liderança que incluam os paradigmas da imitação, do profissionalismo, do gerenciamento, da tecnologia, do marqueteiro, do entretenimento e da psicologização. Gestão e Liderança28 O paradigma da repetição Se você visitar uma livraria evangélica em sua cidade, você notará que muitos dos livros encontrados nas prateleiras são traduções de livros americanos (e europeus). Não faltam aos pastores e líderes oportunidades para clonagem. Ao alcance de um simples telefonema ou link da internet estão centenas de modelos importados que descrevem “como fazer” bem, ferramentasministeriais, verdadeiros pacotes para reprodução e kits para repetição. As ferramentas da Internet capacitaram os americanos a disseminarem mundialmente sua própria literatura e cursos, frequentemente às custas de negar que seu pessoal desenvolvesse um material que refletisse mais adequadamente sua individualidade cultural. Como isso tudo afeta o líder? O líder-clone acaba investindo boa parte de seu tempo na busca de uma receita mágica, ignorando as tradições, a cultura brasileira e seu contexto. O missiologista urbano, Ray Bakke, chama isso de Mentalidade de Franchising do McDonald.1 Em círculos evangélicos, muitas visões e planos são copiados da Igreja WilllowCreek, de Bill Hybels. Muitas outras congregações procuram surfar pelas ondas de sucesso de Rick Warren, pastor da Igreja com Propósitos, de Saddleback, Califórnia, G12, de César Castelhano, na Colômbia, Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte e várias outras. A reprodução de um modelo que deu certo em outro lugar sem a adaptação ao contexto local pode trazer resultados desastrosos. A duplicação ou clonagem de um protótipo de igreja de uma comunidade para outra, ou de uma cidade para outra, traz tremendos obstáculos. Para começar, os dados demográficos do IBGE são diferentes de região para região: o número de homens, mulheres, jovens, crianças e idosos. Também são diferentes a história e fatores sociais da cidade como: analfabetismo, riqueza e pobreza, drogas e violência. Por isso, muitos dos protótipos bem sucedidos que vem dos Estados Unidos e Europa, falharão ao serem adaptados ao contexto das igrejas brasileiras. 1Ray Bakke, The Urban Christian )Downers Grove: Intervarsity Press, 1989), 23 29 O paradigma do profissionalismo Uma outra tendência que afeta os diversos estilos de liderança é o professionalismo religioso. O pastor-profissional deve ser um experto formado para desempenhar determinadas tarefas administrativas e funções técnicas. Ele é um profissional em meio a outros profissionais. Em meio a tantas conferências e workshops, ministérios e programas eclesiásticos, permeia o sentimento de que pastorear é funcionar como profissional da igreja. As escolas de MBA e livros de administração agora substituem os livros de teologia clássica, influenciando os seminários de liderança e ditando as regras de como ser um bom pastor. Consciente ou inconscientemente, uma das motivações para o profissionalismo é ganhar mais dinheiro. Afinal de contas, o pastor é “pago” para pregar, “pago” para visitar, “pago” para aconselhar, “pago” para administrar e assim por diante. Alberto Tapia entende que nesse tipo de contexto há uma marcante dependência do pastor. Ele é pago para fazer isso ou aquilo: visitar, dirigir os cultos, cantar, pregar, consolar os enfermos e mil outras tarefas a mais que a congregação lhe impõe. Seu ministério se limita a que o grosso da congregação concorra mais ou menos com regularidade aos cultos que a igreja celebra, contribua economicamente e aceite uma visita pastoral em alguma circunstância especial.2 O pastorado não é uma mera profissão; é um chamado para servir o Rei. Ser pastor é ser vocacionado para profetizar mensagens que, apesar de serem enviadas pelo Senhor, por vezes, serão impopulares e desagradáveis, causando descontentamento e aborrecimento. Os dias do pastor-profissional estão contados. O paradigma da empresa e administração Especialmente nos últimos 20 anos, a igreja tem adotado padrões empresariais e valores organizacionais e sociológicos. Afinal de contas, a igreja precisa crescer! A estrutura das igrejas tem se orientado para produtividade, eficiência, estatística e sucesso. Na prática, essa tendência 2Tapia, Alberto Tuang, Hacia una pastoral paulina, Publicaciones INDEF, San Jose (Costa Rica), 1975, p. 92 Gestão e Liderança30 reduz a igreja a uma série de ministérios administrados pela habilidade de um bom gestor que mantém eficácia; uma organização designada para a realização de certos objetivos. Muitas das igrejas avaliam sua performance a partir das estatísticas, elogiam seus excelentes resultados financeiros a partir da reengenharia e são alavancada por eficientes estratégias de comunicação de massa que se aproveitam do crescente processo de globalização econômica. A liderança pastoral, primeiramente administrativa requer dos líderes que sejam geradores de novos programas e gestores hábeis que mantenham a ordem e façam tudo andar “redondinho” Na igreja-empresa, o líder tende a ser avaliado pela produtividade e resultado especialmente em duas áreas: aumento do número de fiéis e arrecadação dos dízimos e ofertas. A igreja então será administrada como uma série de departamentos humanos e estruturas seculares que necessitam apenas de um bom gerenciamento. A forma de a igreja funcionar, sua eclesiologia operacional, acabará se baseando fundamentalmente em conceitos da gestão de empresas. Eventualmente a igreja perderá a visão de sua real identidade como comunidade social. O paradigma da tecnologia O líder-técnico é influenciado pela tecnologia atual e preocupa-se especialmente com o caráter funcional da igreja, ou seja, suas funções e ministérios. A igreja é avaliada por aquilo que ela faz e não por aquilo que ela é. O importante é diagnosticar as fraquezas da igreja e depois aplicar as técnicas e ferramentas certas para corrigir o problema e revitalizar o ministério.3 Inconscientemente, o líder acredita que pode manipular o ambiente ao seu redor e chegar aos resultados desejados se tão somente utilizar corretamente as técnicas e ferramentas ministeriais. Ele pensa que, se usar os instrumentos certos, misturados a uma boa dose de esforço e dedicação, a “receita” irá funcionar. Esta percepção antropocêntrica tem se tornado a visão reinante. Isso é facilmente comprovado pelos numerosos seminários, conferências e workshops que oferecem aos líderes métodos de “como” aplicar técnicas e habilidades em diferentes contextos que nada diferenciam daquelas utilizadas em ambientes não-cristãos. Alguns líderes, verdadeiros gurus do sucesso, atraem para os seus workshops centenas de 3Van Gelder, The Essence. 31 famintos acólitos desejosos de uma iniciação nas técnicas mais atualizadas. Querem saber “como fazer” para ______________ (preencha o espaço em branco) e tentarão reproduzir em suas igrejas. Essa mentalidade pode também levar à ilusão que meras técnicas e novos programas irão trazer o sucesso. A tentação é grande para buscar pastores que realizem grandes ministérios em outras bandas e a tentativa de adotá-los como protótipos para se reproduzirem em nosso local. A impressão que fica é que o Reino de Deus pode ser alcançado através de genialidade e capacidade humana. A percepção que muitos pastores e líderes têm é que sempre existirá uma técnica certa para cumprir a missão da igreja local em seu contexto, existirão sempre estratégias e métodos infalíveis para se chegar ao objetivo desejado pela igreja. O paradigma do consumismo e marketização Sem dúvida, o marketing tem transformado a natureza da igreja. Ela tem sido vista apenas como uma instituição que provê bens e serviços em um mercado cada vez mais competitivo e consumista. Assim sendo, elas tornam-se economias religiosas, verdadeiros mercados, repletos de “crentes clientes”, produtoras dos bens religiosos que competem entre si para atrair os consumidores em potencial. Muitas delas passaram desde então a disputar a fidelidade de seus membros, desenvolvendo estratégias de propaganda e marketing para garantir sua permanência. Muitas vendem bens religiosos e serviços em um competitivo varejão religioso. Membros e não-membros são vistos como consumidores. Diante de tantos produtos religiosos e opções eclesiásticas, lamentavelmente o crente-cliente se vê com toda a liberdade para utilizar critérios próprios na escolha da melhor igreja ou religião. Os critérios são semelhantes àqueles utilizados na escolha de um restauranteou pizzaria: prazer, sabor, gosto, qualidade do produto e atendimento, promoções, boa propaganda, etc. O líder-marketeiro precisa, portanto, apelar aos desejos emocionais e espirituais que já existem na mente dos seus ouvintes. Mas será que a igreja existe apenas para ajudar seus membros a descobrirem seus dons, expandirem seus ministérios, enfim, a ajudarem uns aos outros a terem uma vida melhor aqui na terra ou ela tem propósitos mais amplos dentro da cosmovisão da vinda do Reino de Deus em Cristo? Gestão e Liderança32 O paradigma do entretenimento Muitos dos cultos e missas parecem apresentações teatrais, verdadeiros espetáculos para serem assistidos. O perfil de um bom líder-ator deve misturar o treinamento em relações humanas com a simpatia e carisma de um showman. O líder sério e compenetrado dificilmente se torna popular entre seus membros. Cada vez mais frequentemente, o pastor deve ser um bom animador de auditório. O líder-ator aprende as melhores técnicas e sabe trabalhar com as emoções do público; ele é cuidadoso com sua presença, preocupado com as variações e tons de voz, atento aos gestos e a sua performance. O culto-entretenimento raramente produz um senso de identidade e continuidade na vida da igreja e no pastor-ator. Ele tende a deixar as pessoas confusas sobre quem elas são: clientes, consumidores e ouvintes ou membros do corpo de Cristo e discípulos de Cristo. O crescimento é instável. A igreja perde sua identidade como comunidade da aliança. Sua transformação em clube, multidão ou organização converte seus membros em expectadores que, ao lado de muitos outros, assiste a um jogo de futebol, comendo cachorro- quente e pipoca, e criticando todos os passos dos 22 jogadores (presbíteros, diáconos, pastores e missionários) que se esforçam para marcar um gol. O paradigma da Psicologização A pós-modernidade fortaleceu a dimensão terapêutica da cultura global. Percebe-se, já há várias décadas, uma transição do caráter protestante que enfatizava a salvação unicamente em Cristo para uma cultura motivacional de salvação na terapia, na autossatisfação e na autorrealização desse mundo. Jesus e sua graça não são mais suficientes para esse mundo complexo. Precisa-se de ajuda. Exemplo disso é a mais que obsessiva preocupação com a saúde física e emocional. Essa busca constante por terapia, cura, vida livre da dor como a maior necessidade da geração atual tem trazido muita insegurança aos conceitos de pecado e salvação na igreja. A pressão é enorme para que os líderes concentrem seu 33 ministério na prática pseudo-terapêutica. Pastores tornam-se clínicos ou conselheiros responsáveis meramente pelo cuidado pastoral das crises e direção espiritual na resolução dos problemas pessoais e sociais. As pregações mais populares não são as exposições sólidas e profundas dos textos bíblicos, mas sim os cursos de cinco passos para uma vida feliz e cheia de paz, seis princípios para um casamento feliz e ideal, sete passos para uma vida profissional bem-sucedida e próspera. Tudo isso acentua um evangelho reducionista e secularizado que apenas supre necessidades individuais e enfraquece a relação pessoal com Deus em Cristo. O fato do religioso buscar apenas uma melhor autoestima como centro de sua existência, gera graves distorções na identidade da igreja. A tendência moderna de ver a igreja em termos de indivíduos em busca de saúde mental, pessoas extremamente vulneráveis às mais diversas crises de autoestima, está distante anos-luz da visão igreja como comunidade de fiéis às promessas de Deus.4 Conclusão Talvez o elemento unificador de todas as tendências seja o eclesiocentrismo, a centralização dos projetos e ministérios em torno da própria igreja, como instituição, a enxergar-se como sendo mais importante que o mundo ao seu redor. O esforço do líder se centraliza na formação de uma igreja maior e melhor. A igreja torna-se um fim em si mesma, deixando de ser meio, sinal, instrumento do Reino. Em vez de ser responsável por cumprir sua missão e realizar os propósitos redentores de Deus, a igreja acaba voltando-se para o cumprimento de seus próprios projetos. Como esses modelos de contemporâneas de liderança estão influenciando o seu ministério? 4Lamin Sanneh, Encountering the West: Christianinty and the Global Cultural Process (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1993), p. 221 Gestão e Liderança34 Referências Bibliográficas AMORESE, R. M. Igreja & Sociedade: O Desafio de ser Cristão no Brasil do Século XXI. Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 1998. BAKKE, Ray. The Urban Christian. Downers Grove: Intervarsity Press, 1989. CLAPP, Rodney. A Peculiar People: The Church as Culture in a Post- Christian Society. Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1996. MUZIO, Rubens. O DNA da Liderança Cristã. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2007. HUNSBERGER, George R. “The Newbigin Gauntlet: Developing a Domestic Missiology for North America.” Missiology: An International Review nº 4 (October 1991): 391-407. PETERSON, Eugene. Working the Angles: the Shape of Pastoral Integrity. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1987. STEUERNAGEL, Valdir, ed. Igreja: Comunidade Missionária. São Paulo, SP: ABU, 1978. TAPIA, Albero Guang. Hacia una Pastoral Paulina. San José, Costa Rica: Publicaciones INDEF, 1975. VALERIO, Ruth, “A World Gone Bananas. Globalization and Economics.” In One World or Many; ed. by Richard Tiplady. Pasadena, CA: William Carey Library, 2003. 35 Gestão e Liderança Unidade - 05 Estilos de Liderança Introdução Um dos aspectos mais importantes dessa unidade é ajudá-lo a descobrir o seu próprio estilo de liderança. Que tipo de líder Deus deseja que você seja? Objetivos 1. Reconhecer os principais estilos de liderança; 2. Ampliar sua compreensão sobre os diversos estilos. Gestão e Liderança36 Estilos de Liderança Bill Hybells, no seu livro Liderança Corajosa, fala sobre vários estilos de líderes: visionário, direcional, estratégico, gerencial, motivacional, pastoral, formador de equipes, empreendedor, reformista e consensual. Contudo, existem várias maneiras diferentes de abordar esta questão de estilos de liderança. Veja alguns exemplos de ações e modelos diferentes de liderança: Liderar por tarefa. O líder organiza e define as funções dos membros do grupo (liderados); explica que atividades cada um deve fazer, e quando, onde e como as tarefas devem estar realizadas. Este tipo de liderança caracteriza-se por pretender estabelecer modelos de organização bem-definidos, que incluem canais de comunicação e maneiras de ter o trabalho realizado. Liderar focado nos relacionamentos. Os líderes mantem um relacionamento pessoal entre ele mesmo e os liderados, através da abertura de canais de comunicação, provendo apoio sócioemocional, e facilitando ações. Liderar com determinação. É um estilo de liderança situacional, usado com seguidores que são incapazes ou não-desejosos de assumir responsabilidades para fazer algo, e são então julgados incompetentes ou sem merecer confiança. O estilo é caracterizado por uma direção e supervisão clara e específica, ou seja, alta ênfase em tarefas, e baixa ênfase em relacionamentos. Liderar com participação. É um estilo de liderança usado com seguidores que são habilitados, mas não-desejosos de fazer o que o líder quer. É caracterizado por um estilo não-diretivo e apoiador, no qual o líder e os seguidores compartilham no processo decisório, fazendo com que as principais funções do líder sejam as de facilitador e comunicador. Liderar com delegação. É um estilo de liderança usado com seguidores que são hábeis e desejosos de fazer o que o líder quer. É caracterizado por uma baixa ênfase em relacionamentos de apoio e uma alta mas não diretiva, ênfase em tarefa pelo líder. 37 No entanto, é importante observar que a liderança varia entre uma conduta mais autoritária e uma conduta mais liberal. Temos a tendência de imaginar que um bom líderé aquele que impõe suas ideias, mantém-se focado em seus objetivos e faz com que as pessoas o sigam. Na verdade esse é apenas um dos estilos de liderança. 1. Liderança Autocrática. Esse estilo de liderança tende a ser centralizador. Ao mesmo tempo em que pode trazer certa segurança ao grupo de liderados, pode desenvolver certa dependência do líder e desmotivar a iniciativa dos indivíduos. As pessoas podem ter dificuldades de agir sozinhas e tomar decisões até para questões menores sem consultar o líder. Em geral, líderes autocráticos estão focados nas tarefas e metas, procurando alcançar a todo custo seus objetivos; por isso, nem sempre se preocupam com o processo de fortalecimento da equipe. Veja algumas características do comportamento do líder de estilo autocrático: • O líder é quem determina o que fazer e como fazer; • Não diz nem explica o que os liderados devem fazer depois; • As ordens são dadas passo a passo; • Elogios e críticas são estritamente pessoais; • Relaciona-se com o grupo só para dar “ordens”. Segundo Maximiano (2000), quanto mais concentrada a autoridade no líder, mais autoritário seu comportamento ou estilo. Infelizmente o estilo autocrático pode degenerar, transformando-se em autoritarismo, arbitrariedade, despotismo e tirania. Alguns membros do grupo passam a depender completamente do líder. Quando este está ausente, o trabalho tende a cair de produção, não progredindo com a mesma intensidade. Os comportamentos do grupo podem se tornar conflituosos e agressivos. Gestão e Liderança38 2. Liderança Democrática. O líder democrático é visto como o meio termo entre o autocrático e o liberal. Veja algumas características: • Líder discute com os liderados sobre o que fazer e como fazer; • Atribui responsabilidade de decisão aos liderados; • Os objetivos das tarefas são antecipadamente discutidos, definidos e explicados aos liderados; • Deixa que os liderados optem por várias maneiras de agir, desde que justifiquem suas escolhas; • É visto como um membro do grupo; • Permite que os liderados escolham o grupo de trabalho e a divisão das suas tarefas; • Ao elogiar e criticar, se atém aos fatos e não às pessoas. Age com imparcialidade. O benefício desse estilo de liderança é o envolvimento do grupo. Suas relações com o líder são mais livres e espontâneas. Quanto mais as decisões forem influenciadas pelos integrantes do grupo, mais democrático é o comportamento do líder. Sabemos que quando as pessoas não participam do processo de decisão, muitas vezes, não se empenham com tanto afinco. Os comportamentos democráticos envolvem alguma espécie de influência ou participação dos liderados no processo de decisão ou de uso de autoridade por parte do dirigente. O trabalho pode progredir de maneira mais suave e contínua, mantendo-se assim, mesmo na ausência do líder. 3. Liderança liberal. Ser liberal implica na decisão de abdicar deliberadamente do poder de tomar determinadas decisões, que são delegadas para os liderados. O líder transfere sua autoridade para os liderados, conferindo-lhes o poder de tomar decisões. Quanto mais o líder delegar decisões para os liderados, mais liberal é o seu comportamento. Em contraste com líder autocrático, na liderança liberal: • Liberdade aos liderados sobre o que fazer e como fazer; • Cada um decide como quer; • Omite-se em relação às tarefas; • Quase não interfere no comportamento dos liderados; 39 • Críticas e elogios somente se for indagado. Se de um lado esse estilo de liderança possibilita o desenvolvimento pessoal e criatividade dos liderados, por outro lado, pode se tornar ineficaz, não valorizando o alcance de metas e objetivos. O trabalho progride desordenadamente e sem muita eficiência. Além disso, muitas vezes pessoas lideradas por esse estilo se sentem perdidas sem um direcionamento. Embora haja considerável atividade, a maior parte dela é improdutiva. Liderança Situacional Qual é o melhor estilo de liderança? Muitos pesquisadores e praticantes da administração vêm fazendo essa pergunta. É preciso ter consciência de que as circunstâncias nas quais estamos envolvidos definem o estilo de liderança que devemos desenvolver. Precisamos considerar que as pessoas não são iguais, logo os estilos de liderança também serão diferenciados de acordo com o contexto. Desta forma, podemos dizer que situações requerem um estilo de liderança que envolva flexibilidade e adaptabilidade, podendo variar de acordo com as necessidades da organização e da época. A liderança situacional ressalta, como o próprio termo já diz, a análise crítica de cada situação e das pessoas ou grupos envolvidos. Na década de 1960, Robert Blake e Jane Mouton desenvolveram um modelo simples de liderança, que utiliza dois eixos fundamentais: a preocupação com as pessoas e a preocupação com as tarefas. Aqueles focados exclusivamente em fazer o trabalho e alcançar os objetivos, é provável quem, a médio ou longo prazo, se torne impopular, especialmente numa organização voluntária como a igreja. Por outro lado, aqueles unicamente preocupados com a pessoas e suas necessidades, formarão um “clube” bem acolhedor, mas nada realmente acontece! Um estilo de liderança fraco, despreocupado com pessoas e com projeto levará ao pior dos dois mundos. Nosso alvo deve ser um modelo de liderança ao longo do eixo diagonal de integração e equilíbrio entre as necessidades das tarefas a serem feitas e das necessidades das pessoas. Gestão e Liderança40 Veja o gráfi co abaixo: Embora esse estilo de liderança forte em pessoas e forte em tarefas possa ser a abordagem desejada a longo prazo, diferentes situações exigirão que você utilize uma variedade de estilos, em momentos diferentes. O modelo de liderança situacional foi desenvolvido por Blanchard1 nos Estados e identifi ca quatro diferentes estilos de liderança baseados no envolvimento com o projeto e no envolvimento com as pessoas, em relação a um ponto no tempo. Estilo 1 (S1) é chamado de estruturação. O líder demonstra elevado envolvimento com a execução da tarefa, mas baixo envolvimento nos relacionamentos. Por exemplo, quando um incêndio irrompe, preocupação com a tarefa de esvaziar um prédio de forma segura e ordenada é primordial. Pedir às pessoas para conversar em pequenos grupos e refl etir sobre como se sentem sobre a perspectiva de serem consumidos pelas chamas será claramente inútil. Você simplesmente terá que levar todos para fora do prédio o mais rápido possível. Espero que tenham saídas de incêndios regularizadas. 1Blanchard et al., Leadership and the One Minute Manager. 41 Estilo 2 (S2) é o estilo mentoria, no qual o líder fica ao lado das pessoas e usa seu exemplo e encorajamento, para ajudá-los a realizar tarefas ministeriais. Um exemplo disso é um técnico de time de futebol, que fornecerá ajuda técnica nos treinamentos, mas também estará ao lado do campo, incentivando os jogadores para dar o seu melhor. Um bom técnico tem a capacidade de treinar para as tarefas e ao mesmo tempo incentivar as pessoas a pensarem por si mesmas. Estilo 3 (S3) é um estilo apoiador, no qual o líder fornece o incentivo, em um nível mais alto, se envolvendo com a visão geral da obra, ajudando a trabalhar através de direção de nível superior e de soluções para questões importantes, mas permitindo que as tarefas do dia a dia sejam conduzidas por outros líderes. Estilo 4 (S4) refere-se ao líder que permanentemente delega tarefas e responsabilidades aos membros da equipe, demonstrando um baixo envolvimento com as tarefas e com os relacionamentos. Um exemplo de tal estilo é o modelo episcopal (bispo) de liderança que permite que seus líderes executem suas funções da maneira que desejarem. Conclusão Pode-lhe parecer que estilos S2 e S3 sejam os melhores para a liderança cristã. Afinal, devemos sempre manter um alto nível de relacionamento, não deveríamos? Mas nem sempre isso é apropriado. Como líderes cristãos, devemos sempre teruma alta consideração as pessoas e manter relacionamentos de qualidade com eles. Isso é prática pastoral e um resultado claro e direto de amor ao próximo. No entanto, o estilo de liderança situacional é apropriado para diferentes situações que envolvem tarefas e projetos organizacionais e não somente relacionamentos. Gestão e Liderança42 Referências Bibliográficas BARNA, G. Líderes em Ação. Campinas, SP, United Press, 1999 SANDERS, O.J. Liderança Espiritual. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 1997. CLINTON, Robert. Etapas na vida de um líder. Londrina, Editora Descoberta, 2000. EIMS, L. A Formação de um Líder. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 1998. HYBELS, B. Liderança Corajosa. São Paulo, Editora Vida, 2002. MAXWELL, J. As 21 Irrefutáveis Leis da Liderança. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 1999. _________ Becoming a Person of Influence. Nashville. Thomas Nelson, 1997. _________ Developing the Leader within you. Nashville. Thomas Nelson, 1993. AMARAL, I. Programa de Aperfeiçoamento de chefias. Apostila não Publicada. Lençóis Paulista, São Paulo,1986. HERSEY, P., BLANCHARD, K. Management of organizational behavior. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1972, p. 135. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à Administração. São Paulo, Editora Atlas, 2000. 43 Gestão e Liderança Unidade - 06 A Espiritualidade do Líder Introdução Nesta unidade, introduzirem o assunto da espiritualidade do líder. Todo líder cristão precisa ser um bom cristão. Isso pode soar simples e elementar, mas quando olhamos ao redor percebemos que a espiritualidade do líder evangélico parece estar comprometida. Espiritualidade, nos dias de hoje, é uma palavra popular que, ao ser pronunciada, todos começam a aplaudi-la. Entretanto, a palavra é resistente a uma definição precisa pela variedade de sentidos e pelas controvérsias entre os acadêmicos.1 Frequentemente, os estudiosos olham para a pintura exterior da teologia cristã e suas estruturas, mas se esquecem onde está a energia interior e a vitalidade do cristianismo. A vida cristã saudável deveria ser o centro da herança evangélica. Objetivos 1. Conceituação, elementos básicos e importância da Espiritualidade Cristã para o líder cristão. 1McGrath, Christian Spirituality. Gestão e Liderança44 Espiritualidade Carnal A conversão ao cristianismo deveria levar necessariamente a uma vida nova, à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida. O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberto na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus. Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem alguns tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, frequentadores dos cultos, sendo imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora. Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade 45 das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têm cara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27). Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc. Da mesma maneira, o joio está misturado no coração de todas as pessoas. O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. Espiritualidade Superficial Observemos a superficialidade das conversões. John Stott, no 1º Congresso de Lausanne, descreveu com ousadia a igreja africana da seguinte forma: como um grande rio, com milhares de quilômetros de extensão e centímetros de profundidade. Apesar de milhões tornarem- se cristãos e demonstrarem um entusiasmo superficial e alegria contagiante, os corações não foram profundamente afetados com o evangelho. O Brasil, com seus 45 milhões de membros e 250 mil templos evangélicos, deve constantemente avaliar se o crescimento acelerado está sendo acompanhado com profundidade teológica, substância espiritual, maturidade no discipulado e transformação comunitária. Falando na International Consultation on Discipleship, para 400 líderes de 90 organizações de 54 países, em 1999, Stott reafirmou que a igreja está crescendo com força, mas em muitos lugares o problema é que o crescimento não tem profundidade (Oosterhoff, 1999, p. 1). Gestão e Liderança46 Sem dúvida, fizemos um ótimo trabalho como obstetras da evangelização, parteiros espirituais, gerando milhões de novos-crentes, introduzindo-os ao leite materno da fé cristã. Entretanto, a liderança evangélica demonstra grandes dificuldades no conhecimento de Deus, no aprofundamento das dinâmicas da fé, na mortificação do pecado e no processo de transformação pessoal e comunitário. O evangélico brasileiro ainda crê e pratica um cristianismo infantil, bastante rudimentar, sem consciência da abrangência do pecado. Muitos cristãos brasileiros foram superficialmente evangelizados e praticam o sub-cristianismo do aceitar-Jesus e das 12 lições de discipulado, desde que lhes garanta a entrada no trem celestial. Com os cultos de entretenimento e suprimento de necessidades, o crente continua a viver um estilo de vida pouco tocado pelos valores do evangelho, cuja semente não penetra nos terrenos mais profundos do coração humano e da sociedade brasileira. Qual a influência da igreja evangélica na sociedade brasileira? Assista a TV e perceba que, apesar dos muitos programas evangélicos, o sensacionalismo popular dos shows de televisão e a mentalidadecompetitiva e derrotista do Big Brother Brasil revelam uma cultura cada vez mais brutal, sensual, animalesca e enamorada de sequestros e da violência. Corrupção e oportunismo impregnam as estruturas de poder, inclusive a política evangélica. Não estaria longe dos princípios do reino de Deus a igreja defensora da cobiça, incentivadora dos valores materiais, protetora do forte, do famoso, do rico e do belo, e desvalorizadora do fraco, da viúva, do velho e do pobre? Elementos da Espiritualidade Por estas e outras razões, o líder cristão deve vivenciar sua espiritualidade cristã, assimilando pessoalmente a missão salvífica de Cristo, progredindo diariamente em santidade e crescendo na vida cristã. A espiritualidade Cristã combina a doutrina com a devoção. Ela é uma disciplina teoria e prática, ciência e arte. Por um lado, a espiritualidade tem um forte elemento doutrinário, da crença nas doutrinas bíblicas da redenção, da aliança, da eleição, do negar-se a 47 si mesmo, da mortificação do pecado e assim por diante. Os protestantes abordam a espiritualidade como resultado da justificação pela fé e da justiça de Cristo que nos foi imputada. Por outro lado, a espiritualidade tem o elemento devocional, o prático, uma forma de viver as doutrinas com autenticidade, energia, intensidade, efetividade e fervor. Espiritualidade tem a ver com nossa experiência com Deus e a transformação das nossas vidas como consequência dessa experiência. Espiritualidade brota da síntese da fé com a vida. Espiritualidade é a parte da teologia que estuda as verdades das Escrituras focando na experiência interior e no ministério santificador do Espírito Santo. Espiritualidade tem a ver com crescimento espiritual, transformação, piedade, devoção e santidade. Espiritualidade aborda diretamente a jornada da santificação e o desenvolvimento da vida cristã.2 Prática da Espiritualidade Entretanto, a santificação não se torna simplesmente um alvo de vida, mas sim o solo, o terreno da verdadeira vida cristã. A espiritualidade cristã tem a ver com as práticas cristãs que cultivam a santidade no chão fertilizado pelo Espírito. Quando buscamos ao Senhor em adoração, meditamos na sua Palavra, oramos com intensidade e vivemos em comunhão com seu povo, com isso, estamos cultivando o solo do coração. O líder deve estudar profundamente as atividades vitais que levam ao crescimento e maturidade na vida cristã. Ele precisa identificar as causas do crescimento, os estágios necessários ao compromisso e desenvolvimento, bem como os meios pelos quais a graça de Deus se manifesta na vida do discípulo de Cristo. Deveríamos observar mais atentamente o estilo de vida de Cristo. Sua encarnação e humildade de nascimento em Nazaré, sua paciência e dedicação como marceneiro, seu longo período de jejum e solitude após o batismo, suas noites de oração após longos períodos de ensino e antes da tomada de decisões importantes, seu silêncio diante das acusações dos inimigos, sua paciência, misericórdia e amor com o 2Kloosterman, “Studying Spirituality in a Reformed Seminary a Calvinist Model,” 126. Also Gordon, Evangelical Spirituality, Fick, “John Calvin and Postmodern Spirituality.” Gestão e Liderança48 povo simples, seu sacrifício na cruz do calvário! Tudo isso nos encoraja a uma liderança mais eficaz, mais robusta, mais saudável. O mero conhecimento do evangelho sem a prática da vida evangélica de Jesus produzirá líderes flácidos e frouxos. A liderança cristocêntrica deve se expressar em estratégias práticas de uma vida semelhante a Jesus, no dia a dia de nossa existência. Não adiantará nada o conhecimento dos ensinamentos de Cristo se não imitarmos o seu comportamento. Pensemos na vida de Jesus: há três áreas bem distintas na vida cristã que ele praticou com afinco e dedicação: oração, leitura bíblica e discipulado. São atos silenciosos, sem glamour, sem celebridade, sem o big, sem o marketing, sem a mídia. Eugene Petterson nos lembra que são áreas de atenção. Na oração estamos atentos perante Deus. Lendo as Escrituras, estamos atentos a voz e ação de Deus em dois mil anos de história no Oriente Médio. No discipulado (direção espiritual), atentamos aquilo que Deus está fazendo na pessoa que compartilha sua história comigo. A comunhão com Cristo nos leva a oração e ao amor. O amor pelas pessoas nos leva a sensibilidade: sentimos a dor, somos afetados pelo sofrimento do outro. Não nos acostumamos mais com a miséria, com a injustiça, com a dor, com a desonestidade, com a violência, com a imoralidade e assim por diante. Se o amor nos torna mais sensíveis ao sofrimento dos outros, também somos levados a orar. Choramos, sofremos pelo perdido. Me lembro quando missionário no Canadá, num período em que chorava todas as noites pela cidade de Toronto, pelos imigrantes de centenas de etnias, pelos muitos não alcançados daquela cidade. Não faço isso com tanta frequência. Poucos nos pressionam para que vivamos e cresçamos nessas três áreas. Poucos se impressionam se as praticamos. É possível ser um líder de sucesso, próspero e conhecido no mundo evangélico sem exercitá-las. É possível agradar aqueles que pagam nossos salários sem experimentá-las. Como quase ninguém nota quando estamos fazendo isso direito, elas são áreas negligenciadas pela maioria dos líderes. Existe uma grande trama no mundo para eliminar a oração, as Escrituras e o discipulado das nossas vidas. 49 Conclusão Nos preocupamos muito com nossa autoimagem, nossa aparência, nos medimos pelo sucesso, programas, prédios e números, impacto econômico e influência política. Enchemos nossa agenda com reuniões e compromissos para não sobrar tempo em solitude e repouso diante de Deus, ou ponderar sua Palavra ou sentar-se tranquilo e despreocupadamente com um amigo. O verdadeiro sucesso não é medido pelo nosso endereço, pelo tamanho de nossa casa, pelo tipo de carro, pelo prestígio na mídia evangélica. O lugar onde medimos sucesso é na eternidade. Devemos nos perguntar: “O que estamos fazendo aqui que realmente permanecerá e quais dos nossos investimentos atuais farão a diferença lá no céu”? Priorizemos a santificação e a comunhão com Cristo. Gestão e Liderança50 Anotações __________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________
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