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TCC ATUALIZADO

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CURSO DE LETRAS 
Natália de Oliveira Machado
CORPO NEGRO E CABELO CRESPO: UMA DISCUSSÃO ACERCA DA IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL NA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
 Santa Cruz do Sul
2019
NATÁLIA DE OLIVEIRA MACHADO
CORPO NEGRO E CABELO CRESPO: UMA DISCUSSÃO ACERCA DA IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL NA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Artigo ciêntifico apresentado ao Curso de Letras, da Universidade de Santa Cruz do Sul, como atividade integrante do currículo normal do curso. 
Orientadora: Prof. Rosane Maria Cardoso
Santa Cruz do Sul
 2019
 Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, a Deus, pois até aqui Ele me sustentou. 
A minha mãe...
Obrigado pela paciência, pelo incentivo, pela força e principalmente pelo carinho que de forma especial me deu força e coragem, sempre me apoiando nas dificuldades. Valeu todo sofrimento, todas as noites em claro, todas as angustias, todas as renuncias ... Valeu a pena...Essa vitória é nossa!
Quero agradecer também a meu pai que mesmo de longe sempre esteve perto, iluminando meu caminho e meus pensamentos durante toda essa árdua caminhada, graças a ele hoje não penso em parar de buscar mais conhecimento.
Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante a graduação, em especial a minha orientadora Prof. Rosane Maria Cardoso, responsável pela realização deste trabalho, queria dizer que nós formamos uma dupla imbatível! 
A equipe diretiva e colegas da EMEF Bom Jesus, em especial a Diretora/amiga Inês Mahle Fernandes pelo incentivo e apoio constante durante estes quase 5 anos de curso. 
E por último e não menos importante minha grande amiga e companheira Gabriela Moraes pelas palavras sábias e pela paciência, que serviram de motivação, inspiração, e foram essenciais para aqueles momentos que estive fraca a ponto de desistir de tudo. 
A vocês, fica minha eterna gratidão! 
 SUMÁRIO
RESUMO E ABSTRACT....................................................................................................................
INTRODUÇÃO................................................................................................................................
 RESUMO
Literatura infanto-juvenil, auto afirmação e um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo é basicamente o que se discute neste artigo, onde através da análise de três obras: Cabelo Ruim, Meu Crespo é de Rainha e Cabelo de Lelê, possibilitou-nos uma discussão acerca da identidade étnico racial e consequentemente uma reflexão sobre a representatividade do corpo negro, marcado, pelo cabelo crespo das personagens envolvidas. 
É de extrema importância fazer uma reflexão sobre os livros oferecidos a nossas crianças e jovens, principalmente sobre as contribuições que essas obras podem vir a nos trazer no processo de educação. A escolha das obras literárias pode auxiliar de forma positiva na construção de uma autoimagem positiva de nossas crianças negras e de como a imagem do negro é vista em relação a outras crianças, independentemente de sua cor/raça.
Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil. Auto afirmação. Representatividade do corpo negro através do cabelo crespo. Identidade étnico racial.
 ABSTRACT
Children's literature, self-affirmation and a look at the black body and curly hair is basically what is discussed in this article, where through the analysis of three works: Bad Hair, My Crespo is queen and lelê hair, allowed us a discussion about the racial ethnic identity and consequently a reflection on the representation of the black body, marked by curly hair of the characters involved. 
It is extremely important to reflect on the books offered to our children and young people, especially on the contributions that these works may bring us into the education process. The choice of literary works can positively assist in the construction of a positive self-image of our black children and how the image of black is seen in relation to other children, regardless of their color/race.
Keywords: Children's-youth literature. Self-affirmation. Black body representation through curly hair. Racial ethnic identity.
 INTRODUÇÃO
A criança é um ser social, cultural e histórico pertencente a um grupo étnico racial e social, e a literatura pode contribuir de forma muito positiva na questão da identidade, pois ela estabelece uma reação de conhecer o mundo, oportunizando a criança a ter acesso a informações variadas. Ela desenvolve o sentimento de merecimento e de empoderamento, sendo assim um recurso de afirmação positiva. 
Vale ressaltar que a linguagem oral surgiu muito antes da linguagem escrita, e graças a isso foram preservadas muitas memórias e histórias que nos fazem hoje ser quem somos. Não podemos ver o mundo apenas por um único ângulo, por isso é preciso contar histórias a partir de uma nova ótica. Dessa forma, se faz necessário ativar os personagens da resistência e da escravização, apresentando às crianças livros e histórias que contenham personagens negros e de etnias responsáveis pela diversidade que hoje é o povo brasileiro.
A oralidade é uma força poderosa relacionada ao povo africano, ao seu modo de vida, sendo rico em diversidade, como contos, fábulas, mitos, provérbios, canções, etc. É preciso também apresentar autores negros como Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Cruz e Souza, dentre outros que deixam nossa literatura riquíssima em obras.
A criança precisa se reconhecer através de histórias maravilhosas, e descobrir assim através do próprio corpo a beleza de sua cor ou de seu cabelo. Interiorizar esse sentimento de ser negro é um processo de desconstrução: desconstruir conceitos e construir novos. Por isso, faz-se necessário ir além do papel e do livro: precisamos acreditar na literatura que estamos oferecendo, pensar no modo em como estamos oferecendo e acreditar que a história precisa ser corrigida. 
Como professores, precisamos oferecer a nossas crianças histórias que oportunizem e preservem o seu amor próprio, o seu orgulho de ser quem é, além de lembrar-nos sempre do que disse Mandela em sua autobiografia O longo Caminho para a Liberdade (1994): “Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
Para finalizar e ainda aguçar sua vontade de ler este artigo seu principal objetivo é analisar e discutir a importância da literatura no resgate da identidade e no processo de construção e desconstrução de conceitos, pois, de acordo com Abramovich (2002), [...] ela nos possibilita descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos [...].
 TITULO
Os negros vinham da África para o Brasil dentro de grandes embarcações chamadas de navios negreiros, e muitos morriam durante esta travessia devido à falta de água, alimentação e doenças ligadas a falta de higiene. Eles eram transportados dentro dos porões em meio a ratos, fezes e falta de iluminação e ar, e quando morriam eram jogados no mar da forma mais desumana, mas o lucro era tão grande que mesmo com a morte de uma parte do que os portugueses chamavam de “mercadoria”, era vantajoso a vinda deles para cá. 
Alguns padres e cronistas retrataram a realidade de um navio negreiro através de suas obras, como no poema belíssimo de Castro Alves “Navio Negreiro”.
...Que importa do nauta o berço, 
Donde é filho, qual seu lar? 
Ama a cadência do verso 
Que lhe ensina o velho mar! 
Cantai! que a morte é divina! 
Resvala o brigue à bolina 
Como golfinho veloz. 
Presa ao mastro da mezena 
Saudosa bandeira acena 
As vagas que deixa após...
 (Trecho do poema: Navio Negreiro)
Os negros que vinham para cá cativosem sua grande maioria homens de boa aparência, eram tiradas de suas famílias e de suas culturas para trabalhar a base da violência, da exploração de sua mão de obra e da violação de seus direitos enquanto seres humanos dentro do Brasil colonial. Assim que chegavam recebiam forte alimentação na base do milho para recuperar as forças perdidas durante a viagem, depois eram vendidos em leilão para trabalhar nos engenhos ou no cultivo da cana de açúcar. 
Trabalhavam de sol a sol, arduamente em torno de 18 horas diárias as condições de vida eram precárias e desumanas, eram tratados como se fossem animais sua alimentação era precária e eram cruelmente maltratados. Eram constantemente alvos de castigos de senhores de engenho e além disso aqueles que se rebelavam contra seus “senhores” eram mortos e torturados de diversas formas com: chibatadas no corpo, marcação a ferro quente como se fosse gado, muitos ficavam acorrentados por um longo tempo para que não fugissem.
Esse tipo de trabalho mercantil que foi formado através da violência sobre uma etnia marcada pelo estereótipo do trabalho e da escravidão, vai permear toda uma sociedade diferenciada do Brasil, regida por citações de desigualdade e preconceito. Essa mesma sociedade vai dividir as pessoas pela raça e o tom da pele vai ganhar conotação política.
Quando não estavam trabalhando os escravos ficavam nas senzalas, porém eram proibidos de usar sua língua e sua cultura. A igreja que tanto defendia o direito dos índios de serem catequisados diziam que os escravos tinham que passar por tudo aquilo como forma de purgar todos os seus pecados e convertê-los ao reino de Deus.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta, logo eles começaram a utilizar os ritmos e os movimentos de suas danças africanas adaptando a um tipo de luta, surgiu então a Capoeira, um tipo de arte marcial disfarçada de dança e foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
Os escravos africanos também sofriam com doenças, as mais frequentes eram: o banzo (uma espécie de depressão que batia no escravo, ele deixava de comer e enfraquecia até morrer), o sarampo e a varíola. Quando existiam fugas individuais ou coletivas das fazendas eram capturados pelos capitães do mato, e os que conseguiam escapar se juntavam com outros escravos fugitivos em mocambos (ligado a esconderijos) ou quilombos (ligado a resistência, fortaleza...). O mais famoso quilombo chamava-se Palmares, onde hoje é o estado de Alagoas que era uma confederação de quilombos num lugar onde existia essa resistência ao mundo colonial escravista.
 Por diversas vezes tentaram pôr ao chão esse quilombo e não conseguiram, inicialmente era liderado por Gangazumba, mas logo foi substituído por Zumbi que ficou no poder por vários anos até que em 20 de novembro de 1695 ele foi invadido, destruído e Zumbi foi morto. Atualmente em sua homenagem esse dia é considerado o dia da consciência negra e o quilombo de Palmares é lembrado como um sinônimo de resistência de uma etnia que foi trazida para cá, feita de escrava e que até hoje não é tratada com o respeito que merece.
Apesar de não conseguirem viver com sua cultura, os negros conseguiram conservar seus valores e costumes, hoje ainda muitos praticam a capoeira. Também são de origem africana muitas festas, danças e certas crenças que ainda tem tantos seguidores como o candomblé, já na culinária podemos destacar comidas como: vatapá, angu e mugunzá.
Em 13 de maio de 1988 o Brasil aboliu a escravidão, através de uma lei assinada pela Princesa Isabel chamada: Lei Áurea, que libertada os escravos porém eles foram jogados em uma sociedade cheia de preconceito da forma mais desumana possível sem dinheiro, sem casa, sem comida, enfim, sem nenhuma condição de se estabelecer em sua nova vida. Comeram a trabalhar duro por esmolas e muitos chegaram até a roubar para sobreviver, aquele sonho de liberdade tornou-se um pesadelo para eles.
Séculos depois a população negra cresceu, e juntos com os pardos são considerados mais de 50% de todo país e novas conquistas vieram com o tempo. Existe uma lei que protege contra o racismo e a qualquer ato de discriminação, mas ainda exige muita caminhada até isso acontecer, principalmente com relação a entrada do mercado de trabalho, entrada nas universidades, a participação da vida social do Brasil.
O dia da Consciência Negra (20 de novembro) é uma data de comemoração e também de reflexão onde envolve toda uma temática social de luta do povo negro para conquistar seu espaço dentro da sociedade. Este dia nos remete a morte de Zumbi dos Palmares, importante figura que morreu na luta pela liberdade do povo negro. Apesar de todos nós sabermos que a abolição da escravatura não foi suficiente para a aquisição de um ambiente social igualitário, todos os avanços em relação ao posicionamento do povo negro na sociedade foram conquistas de seu próprio trabalho mobilização. 
A mérito do dia da Consciência negra está no reconhecimento e na afirmação dos descendentes africanos na constituição e na composição do povo brasileiro. E os principais temas discutidos neste dia são: racismo, discriminação, igualdade/inclusão do negro na sociedade, aspectos culturais e religiosos afro-brasileiros... Segundo a Lei nº 10.639 (9 de janeiro de 2003) fica obrigatória a inclusão no currículo oficial a temática “História e Cultura Afro-Brasileira, outra grande conquista.
Embora os anos de sofrimento tenham ficado para trás, e o 20 de novembro está ai para nos lembrar de toda uma época de luta por liberdade e conscientização das pessoas sobre a importância da raça negra e de sua cultura para a formação do povo brasileiro o desejo de muita gente é que o preconceito também permaneça no passado, o que sabemos que não acontece.
A grande população negra enfrenta barreiras de diversas naturezas diante da hipocrisia que predomina o discurso de igualdade racial, Para Maria Nazareth Soares Fonseca:
Assumir-se negro numa sociedade cujos referenciais de beleza passam pelos traços europeus, que também nela se mostram, é uma atitude de enfrentamento quase sempre diagnosticada como decorrente de rancor que não tem motivo para existir. Em vez de lidar com as formas discriminatórias que produz, o senso comum descarta a questão porque acredita que vivemos numa sociedade que não tem preconceitos. O mito da democracia racial continua a perpetuar entre nós. (FONSECA, 2011, p. 13)
A busca por novas condições de vida levou a criação dos movimentos negros que lutaram e ainda lutam por igualdade social. Várias conquistas ocorreram, podemos citar aqui o sistema de cotas nas universidades e concursos públicos, mas ainda hoje no Brasil é possível observar os reflexos dessa história de desigualdade e exploração. Nosso pais é conhecido no mundo inteiro como a nação da tolerância, mas ainda conserva marcas de uma das piores doenças sociais que é o racismo. É necessário ainda percorrer um longo caminho para que esta doença seja erradicada de nossa história, a tarefa de combater todas as formas de discriminação depende de todos nós, uma ferramenta para esse processo de desconstrução do preconceito é a literatura, ela por si só já é diversa e nos propõe variados temas, as histórias infantis são instrumentos de conhecimento do mundo, assim o leitor de uma maneira prática consegue decifrar a sociedade e todos os problemas existentes nela e concomitantemente ampliar, transformar e enriquecer suas vivências.
Apesar de aprovada a mais de 20 anos a lei federal nº 10639/03 (2003) que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, a mesma é pouco aplicada e não podemos dizer que o motivo é a falta de informação, pois existem livros, sites, estudos, e enfim, uma gama de materiais que podemos pesquisar. 
Ainda existe um certo preconceito de falar de nossos antepassados e de sua história riquíssima que aconteceu lá atrás. Só um dia de consciência negra, ou só um mês é muito pouco,a lei de 2003 precisa ser aplicada em todos os parâmetros, resgatando a identidade e a autoestima, sobretudo na educação onde a grande maioria dos alunos afrodescendentes tem vergonha do corpo negro e do cabelo crespo.
Antigamente o negro vivia oprimido sem nenhuma oportunidade e sem nenhuma possibilidade de dar um salto qualitativo, hoje em dia as coisas deram um salto que ainda não sabemos para onde estamos caminhando mas não é mais aquilo, mas é preciso que a gente comece a construir caminhos diversos para que nós todos sejamos tratados como cidadãos independente de sermos brancos, negros, índios, pardos... essa ideia degradadora ou separatista que eu sou negro, que você é branco, que você é amarelo e assim por diante é que precisam deixar de existir. Todos nós fazemos parte de uma raça apenas, a humana.
Não se pode descrever o Brasil nem compreender sua história sem falar da presença africana que está muito clara em todos os aspectos. A herança de nossos antepassados africanos está presente na cultura, no esporte, na literatura, na religião, na culinária, música...até hoje.
Na literatura brasileira o negro vai ser retratado inicialmente a partir do período romântico, como o marginalizado, sem cultura, sem possibilidades de crescimento dentro de uma sociedade, enfim não muito diferente da época da escravidão.
Castro Alves, conhecido como o “poeta dos escravos” procurou retratar em muitas de suas obras a luta em prol da abolição da escravatura, como exemplo posso citar: O Navio Negreiro e Vozes da África, onde ele uniu arte e lutas sociais.
Bernardo Guimarães também de alguma forma trouxe a negritude para o período romântico, autor de A Escrava Isaura ele procura idealizar uma personagem até então escrava, que sofre um processo de embranquecimento, que a deixa mais parecida com uma dama da corte, totalmente revestida de traços eurepeus. Fato esse totalmente plausível dentro da visão de mundo do século XIX, uma vez que Guimarães estava inserido em uma sociedade marcada ideologicamente, que vai refletir na ideia da supremacia do branco.
No Realismo percebe-se algumas obras em forma de críticas sociais voltada para a época mais escura de nossa história que foi a escravidão. Aluísio de Azevedo nos traz O Cortiço, onde retrata a sociedade do Rio de Janeiro (burguesia x sociedade marginalizada) e todo aquele problema da condição do negro que, mesmo liberto (sera?), vivia em condição de servidão.
O tema negro sempre vai aparecer na literatura brasileira mas a forma de como vai ser representada vai depender do contexto social, político, ideológico da época. Já no Modernismo, mais a partir do ano de 1930, é que a literatura brasileira vai tratar os temas sociais com mais criticidade. O negro será resgatado não mais como o escravo, o marginalizado, o antissocial... uma vez que este fora "libertado" anos atrás, mas numa perspectiva de elemento formador junto com as demais etnias da cultura nacional, por meio de suas contribuições: na língua, costumes, culinária, música, nas danças, folclore, mas tradições.
Rosane Cardoso, argumenta na obra Deslocamentos Críticos que:
A presença de personagens negros na literatura é fundamental para todos os leitores. Se, por um lado, para a criança negra, essa mudança pode contribuir para a autoestima e o seu reconhecimento no mundo, para a branca pode ser o espaço de reconhecimento da diversidade étnica. (CARDOSO, 2011, p 131).
Atualmente com o avanço da ideia de igualdade a temática do negro voltou com tudo e com ela uma gama de obras a respeito desta representação que com certeza vai deixar transparecer nosso momento histórico preocupando-se com a igualdade e deixando de lado as diferenças. Ainda há muito o que se fazer mas estamos no caminho certo, quando pensamos em literatura infanto juvenil lá nos anos 80/90 ainda percebia-se uma discriminação bastante acentuada, já na atualidade os textos buscam igualar as raças e consequentemente exterminas as diferenças.
Neusa Baptista Pinto é jornalista, escritora e autora de livros para o público infanto juvenil e em seu livro: Cabelo Ruim? trata de um tema que para as mulheres negras é muito importante que é a aceitação do cabelo crespo. Este livro nos conta a história de três meninas negras que sofrem preconceito dentro da sala de aula, e em um determinado momento elas começam a se perguntar o motivo de acharem o cabelo delas ruim, se ruim é uma coisa que faz mal para os outros. Depois de muito se questionarem, levantarem hipóteses e conseguir respostas elas vão aprendendo a gostar do próprio cabelo e a cuidar dele. 
É um livro bem legar de trazer para a sala de aula, porque além de interatividade que tem na linguagem com as crianças, as ilustrações são incríveis e na última página tem a imagem de três meninas que podem sem pintados do jeito que a criança quiser, o que vale é mandar o preconceito para longe e explorar a criatividade. 
Neste livro a autora propôs um trabalho voltado para a valorização da estética negra, pois a gente sabe que no Brasil a discriminação racial é baseada na aparência física então é uma tentativa de falar um NÃO para isso.
Bell Hooks em seu livro “Meu Crespo é de Rainha” fala da importância da representatividade desde a infância, um dos vários motivos que me encantou é que não é um simples livro de histórias e sim um poema ilustrado para celebrar as diversidades.
Este livro traz uma questão muito importante que é o emponderamento de nossas crianças “Meu crespo é de Rainha” já indica que a temática é sobre o cabelo crespo de meninas e vai muito além disso, pois trata dos diversos tipos de cabelos, cores, tamanhos, texturas... para que as crianças possam se identificar e sentir orgulho dos seus cabelos. 
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1993.
BAZZANELLA, W. Valores e estereótipos em livro de leitura. Boletim do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de Janeiro, vol. 2, n. 4, mar., 1957.
NEGRÃO, Esmeralda V. A discriminação racial em livros didáticos e infanto-juvenis. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 63, p. 86-87, nov. 1987.
SOUSA, Andréia Lisboa de. Personagens negros na Literatura Infanto-Juvenil: Rompendo Estereótipos. In: Racismo e Anti-racismo na Escola: Repensando nossa Escola. São Paulo: Summus, 2001.

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