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Homicidio Privilegiado

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
Canoas, 23 de abril de 2019
NOME: Renata Machado Ballejo 
DISCIPLINA: Direito Penal IV
PROFESSOR: Paulo Dalla’Corte
UMA BREVE ANALISE DO ART. 121 DO DECRETO LEI Nº 2.848/40, COM ENFASE NO HOMICÍDIO PREVILEGIADO
CONCEITO DE HOMÍCIDIO
De acordo com Nelson Hungria: 
 "O homicídio é o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência. É o padrão da delinquência violenta ou sanguinária, que representa como que uma reversão atávica às eras primevas, em que a luta pela vida, presumivelmente, se operava com o uso normal dos meios brutais e animalescos. É a mais chocante violação do senso moral médio da humanidade civilizada.[footnoteRef:1]" [1: Comentários do Código Penal, v. 5, p. 25.] 
É a injusta supressão da vida humana extrauterina (a vida intrauterina cuida os artigos 124 e 128) praticada por outra pessoa. 
 QUEM PODE SER O SUJEITO ATIVO DO HOMICÍDIO
Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum que não demanda nenhum atributo especial do sujeito ativo. 
É unissubjetivo, pois não exige um número mínimo de praticantes. Admite o concurso eventual de agentes, tanto na coautoria quanto na participação.
São coautores os agentes que ingressam no verbo nuclear do tipo, que praticam atos de execução. São partícipes, por sua vez, os que, independentemente de ingressarem naquele verbo, como uma conduta acessória concorrem eficazmente para a produção do resultado. 
A autoria mediata ocorre quando o agente escolhe pessoa não culpável para praticar o homicídio. Ele (agente que escolheu) responderá pelo homicídio. 
Por outro lado, a autoria colateral ocorre quando dois desconhecidos, sem ajuste prévio, agem simultaneamente. 
É possível que se identifique o autor do disparo fatal. Nessa hipótese, esse responderá por homicídio consumado, enquanto o outro pela tentativa. 
A autoria incerta, por sua vez, ocorre quando no mesmo contexto da autoria colateral não é possível identificar o autor do disparo fatal, surgem três possibilidades: respondem por homicídio consumado; respondem por homicídio tentado; não respondem pelo crime. 
QUEM PODE SER O SUJEITO PASSIVO DO HOMICÍDIO 
Fernando Capez nos diz que o sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. Pode ser direto ou imediato, quando for a pessoa que sofre diretamente a agressão (sujeito ativo material), ou indireto ou mediato, pois o Estado (sujeito passivo formal) é sempre atingido em seus interesses, qualquer que seja a infração praticada, visto que a ordem pública e a paz social são violadas. No caso do crime de homicídio, o sujeito passivo é qualquer pessoa com vida, é “o ser vivo, nascido de mulher”. 
Sujeito passivo é qualquer pessoa criança ou adulto, pobre ou rico, letrado ou analfabeto, nacional ou estrangeiro, branco ou preto – toda criatura humana, com vida, pode ser sujeito passivo do homicídio, pois a qualquer ser humano é reconhecido o direito à vida que a lei penalmente tutela. 
BEM JURIDICO TUTELADO
O bem jurídico tutelado é o interesse protegido pela norma penal. A disposição dos títulos e capítulos da Parte Especial do Código Penal obedece a um critério que leva em consideração o objeto jurídico do crime. Colocando-se em primeiro lugar os bens jurídicos mais importantes: vida, integridade corporal, honra, patrimônio, etc. desse modo, a Parte Especial do Código Penal é iniciada com o delito de homicídio, que tem por objeto jurídico a vida humana extrauterina. O ataque à vida intrauterina é incriminado pelos tipos de aborto (arts. 124 a 126). Discute-se acerca do conceito de vida. é conhecido o aforismo de Galeano – “viver é respirar” – e por extensão o de Casper – “viver é respirar; não ter respirado não é ter vivido”. E Magalhães Noronha entende inexata essa conceituação, pois “apneia não é morte. Pode nascer-se asfixiado sem que se deixe de estar vivo. A respiração é prova de vida, porém esta se demonstra por outros meios: batimentos do coração, movimentos circulatórios, etc.”. E fazendo alusão ao ensinamento de Vincenzo Manzini, completa: “No sentido do art. 121, vida é o estado em que se encontra um ser humano animado, normais ou anormais que sejam suas condições físico-psíquicas. A noção de vira tira-se ex adverso daquele de morte. 
EUTANÁSIA E ORTOTANÁSIA
Eutanásia é entendida como morte provocada por sentimentos de piedade à pessoa que sofre. Ao invés de deixar a morte acontecer, a eutanásia age sobre a morte, antecipando-a. assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte sofrimento, se a doença for curável não será eutanásia, mas sim o homicídio tipificado no art. 121, do Código Penal, pois a busca pela morte sem a motivação humanística não pode ser considerada eutanásia.
Não há em nosso ordenamento jurídico previsão legal para a eutanásia, contudo se a pessoa estiver em forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal dependendo da conduta, podemos classifica-la como homicídio privilegiado, no qual se aplica a diminuição de pena do paragrafo 1º, do artigo 121 do Código Penal, como auxilio ao suicídio, desde que o paciente solicite ajuda para morrer, disposto no artigo 121 deste mesmo código ou ainda a conduta poderá ser atípica. 
Diz o artigo 121, § 1º do Código Penal: se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzi a pena de um sexto a um terço (grifei). 
Nota-se que, ausentes os requisitos da eutanásia, a conduta poderá ser classificada como homicídio simples ou qualificado. E no que tange ao auxílio ao suicídio a solicitação ou o consentimento do ofendido não afastam a ilicitude da conduta. 
A ortotanásia significa morte correta, ou seja, morte pelo seu processo natural. Neste caso o doente já está em processo natural de morte e recebe a contribuição do médico para que este estado siga seu curso natural. Assim, ao invés de prolongar artificialmente o processo de morte, deixa-se que este se desenvolva naturalmente. Somente o médico pode realizar a ortotanásia, e ainda não está obrigado a prolongar a vida do paciente contra a vontade deste e muito menos aprazar sua dor.
É uma causa atípica frente ao Código Penal, pois não é causa de morte da pessoa, uma vez que o processo de falecimento já está instalado. 
Desta forma, diante de dores intensas sofridas pelo paciente terminal, consideradas por este como intoleráveis e inúteis, o médico deve agir para amenizá-las, mesmo que a consequência venha a ser, indiretamente, a morte do paciente (VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética[footnoteRef:2] e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999, p, 90). [2: BIOÉTICA – ciência da sobrevivência humana. Estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos valores e de princípios morais; o estudo interdisciplinar, e sua repercussão na sociedade e no seu sistema de valores, tanto no momento atual como no futuro. ] 
Cabe à ortotanásia a promoção de cuidados paliativos ao paciente, até o momento de sua morte. Estes são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o controle da dor e de outros sintomas, e o cuidado dos problemas de ordem psicologia, social e espiritual; atingindo a melhor qualidade de vida possível para os pacientes e suas famílias. Dessa forma, os cuidados visando o bem-estar da pessoa passam a ser prioridade, e não a luta contra algo que, inevitavelmente, não tem como se combater – no caso, a doença e o vim da vida. 
Nessa perspectiva, a morte passa a ser vista como uma condição natural de todo ser humano, sendo ideal a busca da aceitação desse fato, garantindo a dignidade daquele que está partindo. Ao não se submeter a procedimento invasivos, geralmente longe de casa, e que o deixam exaurido; o paciente em questão pode ter maior tempo e energia para estar ao lado de pessoasqueridas, aproveitando também para, dentro de suas condições, viver ativamente.
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
 Caso de diminuição de pena: Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço (grifei).
A primeira circunstância apontada no dispositivo como privilégio é o motivo de relevante valor social ou moral. A motivação, o porquê do crime, é um aspecto que é bastante considerado em nosso ordenamento, é sempre uma circunstância de grande relevância. O artigo 67 do Código Penal denuncia esta nossa preferência sociológica em atribuir maior valor às circunstâncias subjetivas: 
No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. (grifei). 
Antes de tudo é importante diferenciar três conceitos: a voluntariedade, a finalidade e o motivo. Voluntariedade é elemento da conduta, porque é o que representa um atuar do agente, sem se cogitar da finalidade de sua conduta. A finalidade, por sua vez, situa-se na tipicidade, porque nada mais é do que expressão simoníaca do dolo. A motivação, por outro turno, é elemento que se insere na culpabilidade, porque é medida da reprovabilidade da conduta do agente.
Como medida de culpabilidade, balança de reprovabilidade, a motivação pode ser classificada a grosso modo, como torpe, neutra ou nobre. Para a torpeza, maior reprovabilidade; para a neutralidade, nem aumento, nem minoração, para a nobreza, privilégio.
Relevante valor moral: a titulo de exemplo pode se dizer que é a eutanásia: ao matar o ente querido que se encontra em agonia, o agente está impelido, em verdade, por amor e piedade, pelo que a sua culpabilidade deve ser reduzida. 
Relevante valor social: o valor que privilegia o crime é diretamente claro à sociedade, e não apenas reconhecido por ela como relevante, mas atinente apenas ao homicida, como ocorre no relevante valor moral. É a sociedade quem tem interesse direto no valor aqui privilegiado, e não apenas o criminoso, não sendo o privilégio fruto de mero reconhecimento social de que o valor intimamente importante ao agente é moralmente relevante. Esta é a diferença entre o valor moral e o valor socialmente relevante; no primeiro, o motivo é dedicado a interesse íntimo, mas reconhecido como moralmente relevante pela sociedade; no segundo, o motivo é dedicado a interesse da própria sociedade.
Violenta emoção: o dispositivo empresta privilégio ao agente que mata alguém após ser tomado pelo domínio de violenta emoção logo após sofrer injusta provocação da vítima. Há que se ter cuidado com diversos aspectos como:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
(...) III - ter o agente:
(...) c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; (...)
A influência da emoção é motivo parcial, enquanto o domínio é motivação total para o crime. A emoção também descrita no artigo 28, I, do Código Penal: 
Não excluem a imputabilidade penal:
 I - a emoção ou a paixão; (...)
O que o legislador quis relatar é que a emoção, assim como a paixão, são sensações e estados de espirito que acometem todos os indivíduos, e são perfeitamente controláveis, e, se não forem controlados, levando o agente a cometer crime, não excluirão a imputabilidade. 
Ao contrário, se a emoção e a paixão criarem processos patológicos, capazes de ilidir completamente a capacidade de discernimento, o agente será tido por inimputável, mas esta constatação é técnica, pericial médica psiquiátrica.
Mesmo não excluindo a imputabilidade, a violenta emoção foi eleita como causa de diminuição de pena no homicídio, mas a paixão não teve o mesmo tratamento. A razão é técnica: enquanto a emoção é um sentimento perturbador e passageiro, que presume maturação da ideia, premeditação, e não um rompante causado por uma obliteração momentânea da plenitude de consciência. Em verdade, o crime decorrente da paixão tem maior probabilidade de ser qualificado do que privilegiado, eis que o agente contaminado por este sentimento poderá incorrer em alguma das situações que qualificam o homicídio. 
BIBLIOGRAFIA:
CUNHA, Rogerio Sanches. Manual do Direito Penal Parte Especial (art. 121 ao 361). 8ª Edição. Editora Jus Podivm. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Especial. Vol. 2. 12º Edição. Editora Saraiva.

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