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69 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Unidade II 5 A QUESTÃO SOCIAL Netto (2005, p. 17), baseado em Cerqueira Filho (1982), sustenta que a questão social significa “[...] o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista”. O autor, ancorado na perspectiva marxista de compreensão da realidade, compreende que a questão social é inerente ao capitalismo, ou seja, é uma condição para que o capitalismo possa se sustentar como modo de produção. De acordo com Netto (2005), supõe-se que o termo “questão social” surgiu há mais ou menos 150 anos como explicação do fenômeno do pauperismo relacionado ao primeiro ciclo de industrialização. O empobrecimento massivo da população levou os críticos da nova ordem a produzir extensa literatura sobre o tema. A esse propósito, Netto (2005, p. 153) afirma que [...] para os mais lúcidos observadores da época, independentemente da sua posição ideológico-política, tornou-se claro que se tratava de um fenômeno novo sem precedentes na história anterior conhecida. Com efeito, se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então se generalizava. Um fato inédito começa a se registrar na história. Netto (idem) nos informa que “[...] pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na medida em que aumentava a capacidade social de produzir riqueza”. Antigamente, a pobreza estava relacionada com a escassez de alimentos, causada por colheitas reduzidas em função de intempéries, guerras, mas, com o advento do capitalismo, não é isso que tem ocorrido. A produção da penúria estava relacionada ao aumento da produção. O fenômeno do pauperismo foi explicado pelos críticos da nova ordem e também pelos defensores; esses naturalizavam o empobrecimento, compreendendo-o como obra do destino e vontade de Deus, justificando a pobreza em razão das dificuldades dos indivíduos. Por outro lado, a luta dos trabalhadores em um processo revolucionário na França, a partir de 1848, começa a questionar a expressão “questão social”, pois era vista como uma expressão conservadora. A classe trabalhadora avança na consciência política e compreende a questão social como um elemento estrutural. CRAS2017 Nota L até p32 70 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Como afirma Netto (ibidem, p. 156): “[...] as vanguardas trabalhadoras acederam no seu processo de luta à consciência política de que a ‘questão social’ está necessariamente colada à sociedade burguesa: somente a supressão desta conduz a supressão daquela [...]”. É por isso que, em nossa literatura, vamos encontrar a expressão “questão social” sempre com a utilização de aspas. Quando isso ocorre, o autor quer indicar que identifica a utilização da expressão com um subterfúgio conservador. Mas não foi somente a consciência política dos trabalhadores que permitiu essa compreensão crítica sobre a questão social. Netto (idem) ensina que [...] a consciência política não é o mesmo que compreensão teórica – e o movimento dos trabalhadores tardaria ainda alguns anos até encontrar os instrumentos teóricos e metodológicos para apreender a gênese, a constituição e os processos de reprodução da ‘questão social’. É com o empreendimento teórico de Karl Marx que houve um avanço nessa compreensão, especialmente com a publicação do primeiro volume de O capital, em 1867. Ao verificar como o capital se produz, Marx nos esclarece a dinâmica da questão social (NETTO, 2005). Ainda de acordo com Netto (ibidem, p. 157), a partir de Marx compreendemos que “[...] a ‘questão social’ está claramente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital/trabalho – a exploração”. Mas como é que o Capitalismo vem enfrentando seus efeitos ao longo da história? O estado de bem-estar social que existiu nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, mas que não existiu no Brasil e na América Latina durante o período em que vigorou, suscitava a ilusão de que a questão social havia sido dominada. Entendia-se que apenas os países periféricos sofriam com isso por causa do subdesenvolvimento. Netto (2005, p. 159) diz que [...] apenas os marxistas insistiam em assinalar que as melhorias no conjunto das condições de vida das massas trabalhadoras não alteravam a essência exploradora do capitalismo, continuando a revelar-se por intensos processos de pauperização relativa [...] A crise estrutural do capital também afeta a discussão acerca da questão social. Alguns autores começam a falar em “nova” questão social e, em nosso entendimento, cabem as aspas, pois não entendemos que haja uma “nova” questão social. Como você já teve oportunidade de estudar, a crise estrutural do capital afeta diretamente a classe trabalhadora, e o desemprego estrutural causa um grande impacto na realidade social. Netto (2005, p. 160) destaca que 71 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO [...] a tese aqui sustentada – e, evidentemente, oferecida como hipótese de trabalho – é a de que inexiste qualquer ‘nova questão social’. O que devemos investigar é para além da permanência de manifestações ‘tradicionais’ da ‘questão social’, a emergência de novas expressões da “questão social” que é indivisível sem a ordem do capital. A dinâmica societária específica dessa ordem não só põe e repõe os corolários da exploração que a constitui medularmente a cada novo estágio de seu desenvolvimento, como instaura expressões sócio-humanas diferenciadas e mais complexas correspondentes à intensificação da exploração, que é a sua razão de ser. Assim, de acordo com o nosso meio acadêmico, não há uma “nova” questão social, mas sim a velha questão social com suas novas expressões. 5.1 Questão social como objeto de trabalho do Serviço Social O objeto/matéria-prima do serviço social é a questão social. Mas o que é a questão social? Nas primeiras aulas desse caderno, você viu bases teóricas e conceituais sobre isso. Antes de tudo, por que a questão social é vista como objeto do serviço social? O processo de seu conhecimento se constrói com a questão social, objeto genérico dado ao serviço social pela ABEPSS e referendado pela categoria dos assistentes sociais. O serviço social, profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, desenvolve uma tarefa que tem como objeto específico as múltiplas expressões da questão social. É sobre esse foco que incide sua ação/intervenção, a qual implica a apropriação de meios e instrumentos de trabalho para efetivar sua ação profissional e tem como fim o produto desse trabalho. Com um trabalho especializado, o serviço social apresenta-se por meio de trabalhos que geram produtos, isto é, interferem na produção e reprodução da vida material, social, política e cultural. Os autores clássicos de serviço social conceituam a questão social como expressão [...] do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão(IAMAMOTO; CARVALHO, 2003, p. 77). Netto (2005, p. 17), diz que a “[...] questão social é o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operaria impôs no curso da constituição da sociedade capitalista”. Resumindo: questão social são as múltiplas expressões, o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos decorrentes das desigualdades produzidas pelo sistema capitalista. CRAS2017 Destacar CRAS2017 Sublinhado 72 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Assim, o serviço social tem, na questão social, a base de sua fundação como especialização do trabalho. Então, podemos dizer que o cenário em que se insere a profissão é a questão social, e cabe ao assistente social nela intervir. 5.2 A questão social e o Serviço Social nas décadas de 1960 e 1970 A década de 1960 é de extrema importância para o serviço social, pois ocorreu o Movimento de Reconceituação, e este questiona as influências externas na profissão. Seu objetivo consistia em construir um serviço social adequado à realidade latino-americana. Havia, naquele contexto, um questionamento, como afirma Netto (2005, p. 6) [...] a prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética liberal-burguesa, que, de um ponto de vista claramente funcionalista, visava a enfrentar as incidências psicossociais da ‘questão social’ [...]. O movimento teve algumas conquistas e a principal foi a “[...] recusa do profissional de Serviço Social de se situar como um agente técnico puramente executivo [...]” (NETTO, ibidem, p. 12). Esse movimento ocorreu em pleno regime militar, em abril de 1964, e ele foi sufocado e não se concluiu, isto é, não pôde avançar (NETTO, 2005). O processo de renovação do serviço social deflagrado pela Reconceituação se faz em meio à autocracia burguesa, ou seja, o governo da burguesia brasileira representado pelos militares. De acordo com Netto (1998, p. 154-155), esse processo de renovação se desenvolveu em três direções: a perspectiva modernizadora, que consiste em [...] um esforço no sentido de adequar o Serviço Social enquanto instrumento de intervenção, o qual é inserido no arsenal de técnicas sociais. O Serviço Social é operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista perante às exigências dos processos sociopolíticos emergentes no pós-64. Trata-se de uma linha de desenvolvimento profissional que atinge o auge de sua formulação exatamente na segunda metade dos anos 60 e seus grandes monumentos sem dúvida são os textos dos seminários de Araxá e Teresópolis. [...] Registram-se avanços inequívocos, com aportes extraídos do background pertinente ao estrutural funcionalismo [...] Outra perspectiva é a reatualização do conservadorismo, que, de acordo com Netto (ibidem, p. 157), se trata [...] de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão nos domínios da josil Realce CRAS2017 Destacar CRAS2017 Destacar CRAS2017 Sublinhado josil Realce 73 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO (auto)representação e da prática e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético de raiz marxiana. [...] a reatualização do conservadorismo reclama expressamente uma inspiração fenomenológica. A terceira perspectiva, afirma Netto (ibidem, p. 159), “[...] é a perspectiva que se propõe como intenção de ruptura com o Serviço Social ‘tradicional’”. O autor ainda assinala que Ao contrário das anteriores, esta possui como substrato nuclear uma crítica sistemática ao desempenho ‘tradicional’ e aos suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Com efeito, ela manifesta a pretensão de romper quer com herança teórico-metodológica do pensamento conservador (a tradição positivista), quer com os seus paradigmas de intervenção social (o reformismo conservador). Em sua constituição, é visível o resgate crítico de tendências que, no pré-64, supunham rupturas político-sociais de porte para adequar as respostas profissionais às demandas estruturais do desenvolvimento brasileiro (NETTO, idem). As direções indicadas por Netto (1998) representam as tendências teórico-metodológicas que compuseram o serviço social até 1996, período da aprovação das novas diretrizes curriculares, as quais são: o funcionalismo (modernização conservadora), a fenomenologia (reatualização do conservadorismo) e a dialética (intenção de ruptura). Essas três tendências se consolidaram ao longo dos encontros de: Araxá, ocorrido em 1967; de Teresópolis, em 1970; e o de Sumaré, em 1978, como se verifica no CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbios de Serviços Sociais (1984). Com a Reconceituação, o serviço social estabelece uma aproximação com os referenciais marxistas, e isso lhe permitirá fazer uma apreensão crítica da questão social. Mas como se desenvolveram os efeitos da questão social nas décadas de 1960 e 1970? De acordo com o que estudamos no item anterior, podemos chegar a essa resposta analisando a classe trabalhadora. No período ditatorial, o que preponderou foi a repressão da luta dos trabalhadores por direitos sociais. Por outro lado, o país vivia as consequências de sua entrada no capitalismo monopolista. Netto (ibidem, p. 26-27) afirma que O Estado erguido no pós-64 tem por funcionalidade assegurar a reprodução do desenvolvimento dependente e associado, assumindo, quando intervém diretamente na economia, o papel de repassador de renda para os monopólios e, politicamente, mediando os conflitos josil Realce josil Realce josil Realce josil Realce josil Realce josil Realce 74 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 setoriais e intersetoriais em benefício estratégico das corporações transnacionais na medida em que o capital nativo ou está coordenado com elas ou com elas não pode competir [...]. Nesse cenário, a classe trabalhadora brasileira teve muitos prejuízos, mas, a partir do final da década de 1970, com o deflagrado processo de abertura política em função das pressões da sociedade, ela começa a ter possibilidade de se manifestar. Estudemos, agora, o contexto da década de 1980. Saiba mais Com a reestruturação produtiva, a classe trabalhadora sofreu reveses. Para saber mais sobre o histórico sobre a luta de classe trabalhadora do final da década de 1970 para a de 1980, acesse o site: <http://www2.fpa. org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1449>. 5.3 A questão social e o Serviço Social na década de 1980 Inicialmente, é importante que analisemos o cenário político e econômico da década de 1980. O aumento do endividamento externo a partir de 1979 trouxe sérias consequências para o país. O problema que não diz respeito somente ao Brasil, mas a toda a América Latina, traz, de acordo com Behring (2003, p. 131), “[...] um aprofundamento das dificuldades de formulação das políticas econômicas de impacto nos investimentos e na redistribuição de renda”. Autores como Mandel (1982), denominam essa década como a “década perdida”, em razão da grande estagnação da economia. Mas, Behring (2003, p. 142) assinala que a força dos trabalhadores é “[...] oriunda de um movimento operário e popular que era um ingrediente político decisivo da história recente do país e que ultrapassou o controle das elites”. Behring(idem) nos informa, ainda, que A transição democrática brasileira diferencia-se de outras na América Latina exatamente a partir de alguns elementos fundamentais, como: as mudanças estruturais engendradas pela industrialização e a urbanização, as quais criaram as condições para surgir um movimento operário popular novo e decisivo para a refundação da esquerda brasileira, inclusive com uma, mas não única, obviamente, expressão partidária expressiva – o Partido dos Trabalhadores. Assim, a classe trabalhadora alcança projeção na década de 1980. Porém, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em 1985 representou uma derrota para os trabalhadores. 75 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO O cenário político brasileiro é marcado por uma intensa movimentação. Tivemos, também, nessa década, o movimento pelas Diretas Já, em 1984, que, embora não tenha sido vitorioso, foi de grande importância para a redemocratização do país. Nessa década, Behring (idem) afirma que houve “[...] uma redefinição das regras políticas do jogo no sentido da retomada do Estado democrático de direito”. A reivindicação dos trabalhadores era de que essa tarefa fosse cumprida por uma Assembleia Nacional Livre e Soberana, mas acabou sendo feita por um Congresso Constituinte. Nesse movimento de disputa, de acordo com Behring (2003, p. 143), a Constituinte significou [...] um processo duro de mobilizações e contramobilizações de projetos e interesses mais específicos, configurando campos definidos de forças. O texto constitucional refletiu a disputa dos direitos sociais, humanos e políticos e por isso mereceu a caracterização de Constituição Cidadã [...]. Apresentamos o cenário e as conquistas da sociedade civil na década de 1980 e as vitórias que trouxeram grande impacto ao serviço social. Mas como está o serviço social nessa década? Como está sua análise da realidade social? Apesar de a Reconceituação ter aproximado o serviço social da teoria social de Marx, a apropriação desse referencial não se faz de forma imediata. Netto (2005, p. 17) nos indica que É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentir no Brasil as ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma crítica radical do tradicionalismo – e essas ressonâncias reverberam tanto mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, com claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem dos anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário sindical e o protagonismo dos chamados novos sujeitos sociais, abriu novas perspectivas para os assistentes sociais que pretendiam a ruptura com o tradicionalismo. No projeto de formação profissional de 1982, a direção social da profissão já está relacionada com os interesses da classe trabalhadora. Nesse contexto, houve a necessidade da elaboração de um novo Código de Ética, o de 1986, como você já teve oportunidade de estudar. Nesse projeto, é dada uma centralidade à profissão nos seguintes termos: a profissão é analisada em sua historicidade e sua relação com o Capitalismo. Conforme a ABEPSS (1996, p. 147-148), [...] foi a partir da análise histórica do significado da profissão, no processo de reprodução das relações sociais capitalistas, que se desvelaram as implicações sociais da prática profissional em suas contradições fundantes”. josil Realce josil Realce josil Realce 76 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Mas, mesmo com esse novo significado, a profissão ainda conviveu com uma proposta de formação profissional fragmentada do ponto de vista teórico-metodológico expressa em: funcionalismo, fenomenologia e dialética, o que não lhe permitia apreender criticamente a realidade social. O documento da ABEPSS (ibidem, p. 151) assinala que A rigor, a profissão se afastou da dinâmica da sociedade civil privilegiando o Estado e as políticas sociais, razão pela qual os processos sociais vividos atualmente [contexto da década de 1990] pela sociedade, produto das determinações históricas muito precisas, são por vezes pensados como “novas questões” ou “novas demandas” que não encontram suporte profissional para o seu enfrentamento. No processo de discussão que culmina com a elaboração das atuais diretrizes curriculares, de acordo com a ABEPSS (ibidem, p. 154), [...] a formação profissional tem na questão social sua base de fundação sócio-histórica, o que lhe confere um estatuto de elemento central e constitutivo da relação entre a profissão e a realidade social [...] [pois o] Serviço Social está inscrito no conjunto de práticas sociais que são acionadas pelas classes e mediadas pelo Estado em face das sequelas da “questão social”. Embora a profissão, em sua produção teórica, aproxime-se da questão social no início da década de 1980, é somente na década de 1990, com o projeto profissional de 1996, que o serviço social trouxe a questão social para o centro de suas discussões. Na década de 1980, o serviço social se alia às lutas da classe trabalhadora. Como nos indica Netto (2004, p. 22), [...] não é por acaso que no ‘congresso da virada’ (o III CBAS, São Paulo, 1979) tenha estado presente um jovem e carismático dirigente sindical do ABC paulista, Lula, até então apenas Luiz Inácio da Silva. Finalmente, cabe destacar que a aproximação do serviço social com o Partido dos Trabalhadores tem sido analisada criticamente após a conquista do governo pelos petistas em 2002. Mas há um grande significado histórico para a profissão, pois indica a sua vinculação com as lutas da classe trabalhadora, redefine o projeto profissional, consolida o processo de construção de uma nova identidade e estabelece o rompimento com a identidade atribuída. Exemplo de aplicação De toda a Legislação Social que sustenta a ação profissional do Serviço Social e que foi aprovada durante a década de 1990, destacamos: a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança josil Realce 77 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO e do Adolescente (ECA), a Lei Orgânica da Saúde (LOS), que constituem o conjunto de leis resultantes do capítulo da Ordem Social da Constituição Federal. Faça uma pesquisa na Constituição, analise essas leis e reflita sobre as possibilidades de enfrentamento da questão social. Organizem-se em grupo para essa discussão. Bons estudos! 5.4 A década de 1990 Nessa década, de acordo com Gohn (1998), houve uma diminuição das organizações de massas. Gohn (1998, p. 9) expõe que, [...] nos anos 90, o tema da organização passou a ser interpretado por vários analistas como algo já ultrapassado, pertencente à década passada ou como uma concepção que não daria conta de explicar os problemas atuais porque seria um conceito ordenador/organizador das relações buscando a diferenciação e não identidade. A esse respeito, Gohn (ibidem, p. 10) posiciona-se afirmando que Discordamos dessas interpretações e consideramos os movimentos como atores fundamentais no atual [final da década de 1990] momento político brasileiro. Basta que se abra um dos jornais nacionais em qualquer dia da semana, que vemos suas presenças registradas, principalmente no meio rural, na luta do MST ou na cidade, nas lutas contra a fome [...]. Na análise da pesquisadora, na qual fundamentamos esse estudo, na década de 1990, [...] estruturam-se ações a partir de redesassociativas compostas por atores coletivos remanescentes de alguns movimentos sociais dos anos 80, ONGs (Organizações não Governamentais) de variados tipos [...] (GOHN, idem). A própria Constituição estabeleceu a criação de órgãos colegiados, e havia participações no orçamento e elas eram utilizadas como instrumentos de gestão em vários governos. No contexto histórico que estamos estudando, verificamos a chegada de novas formas de representação popular, embora as formas antigas não tenham desaparecido. Na análise de Gohn (1998), o Brasil teve um período curto de vivência da prática democrática, e esse período se inicia com a queda do regime militar. Os anos de 1990 trazem mudanças na estrutura da produção (reestruturação produtiva), e elas trouxeram impacto na subjetividade da classe trabalhadora. Os confrontos entre movimentos e Estado, que ocorreram nos primeiros anos da década de 1980, imperaram até a promulgação da Constituição, mas faltava o aprendizado para atuar “[...] diante da nova conjuntura de políticas sociais estatais de parcerias entre Estado e entidades da sociedade civil organizada” (GOHN, ibidem, p. 11). josil Realce josil Realce CRAS2017 Concluído 78 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Assim, ainda de acordo com Gohn (idem), O despreparo dos movimentos possibilitou que novas ONGs e outras entidades associativas do chamado Terceiro Setor ocupassem aqueles espaços. E esse processo ocorreu tanto em administrações ‘situacionais’, sintonizadas com as diretrizes do governo federal, como em administrações advindas da oposição, a exemplo de certos programas do Orçamento Participativo. Esse contexto traz uma semiparalisação dos movimentos populares urbanos na década que estamos estudando, pois a atuação dos movimentos se restringia à resistência contra as medidas que extinguem ou alteram as conquistas obtidas com a Constituição. De acordo com Gohn (idem), “eles [os trabalhadores] não tiveram tempo, fôlego e nitidez para se reestruturar e assumir o novo papel que lhe é cobrado, de serem agente propositivo”. As ONGs que surgem não têm as mesmas características das da década de 1980, que eram politizadas. As organizações da década de 1990 se constituem como empresas e são as chamadas ONGs cidadãs devido às mudanças políticas e econômicas. A ação militante fica em segundo plano, pois essas organizações precisam cuidar de sua sobrevivência e qualificar seu quadro funcional. Para elas, chega também o imperativo da produtividade, da competência e da eficácia e da efetividade dos projetos sociais. Essas entidades, em vez de ficar contra o Estado, buscam parcerias. A participação, nesse cenário, passa a ser regida pela ideia da solidariedade. O pensamento de identidade de classe social se enfraquece, já que as identificações passam a se constituir por outros fios mais complexos (etnia, gênero, idade, sexo etc.). Outro aspecto que destacamos é que os movimentos da década de 1990 se caracterizam por mobilizações pontuais e não mobilizações de massa. Uma ressalva se faz, entretanto, para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra — MST, que naquele período se colocava como o maior movimento da América Latina. Sua posição não se alterou nos dias atuais (GOHN, 1998). A luta desses trabalhadores é uma das expressões da questão social. Esse movimento tem mantido a sua organização. 5.5 A questão social e o Serviço Social na década de 1990 No tópico anterior, vimos que, na década de 1990, o movimento sindical se enfraquece em função das mudanças ocasionadas pela reestruturação produtiva que afetam a classe trabalhadora em sua subjetividade (ANTUNES, 2005). O serviço social entra nessa década com grandes expectativas e tarefas. Após a promulgação da Constituição, faz-se necessária a regulamentação de direitos por meio de legislação específica. No quadro a seguir, apresentamos um resumo da legislação consolidada durante a década de 1990. josil Realce josil Realce josil Realce 79 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Quadro 3 Nº da Lei Federal ou decreto Data Tema Lei n. 8.069 13/07/1990 Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n. 8.080 19/09/1990 Lei Orgânica da Saúde Lei n. 8.142 28/12/1990 SUS — Sistema Único de Saúde Lei n. 8.212 24/07/1991 Organização da Seguridade Social Lei n. 8.213 24/07/1991 Planos de Benefícios da Previdência Social Lei n. 8.742 07/12/1993 Lei Orgânica da Assistência Social Lei n. 8.842 04/01/1994 Política Nacional do Idoso Lei n. 9.394 20/12/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei n. 9.790 23/03/1999 Organizações da sociedade civil deinteresse público. Decreto n. 3.298 20/12/1999 Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência Fonte: BRASIL, 2011. No quadro, apresentamos as leis e o decreto que se consolidaram durante a década de 1990. Digitando o número da lei e a data em uma página de busca na internet, você poderá acessá-la na íntegra. Nesse período, houve mudanças no âmbito da profissão e o projeto profissional de 1982 foi rediscutido. Dessa discussão, temos algumas mudanças, como: • a Resolução CFESS n. 273, de 13/3/1993: estabelece o Código de Ética da profissão; • a Lei n. 8.662, de 7/6/1993: dispõe sobre o exercício profissional que regulamenta a profissão; • as Diretrizes Curriculares de 1996. A conjuntura da década de 1990 exige que o serviço social sintonize o projeto profissional com as novas expressões da questão social. Na análise das diretrizes de 1982 avaliou-se, de acordo com a ABEPSS (1996, p. 146), “[...] que houve uma incorporação mecânica do método crítico dialético na apreensão da realidade social [...]. Avaliou-se, também, que seria importante atribuir maior importância à dimensão técnico-operativa. Essas diretrizes causaram amplo debate e pesquisas por parte da ABEPSS, pois a questão social permeia a discussão dos pressupostos da formação profissional. A seguir, destacamos dois pressupostos desse documento, conforme a ABEPSS (1996). • O serviço social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da questão social expressa pelas contradições do desenvolvimento do capitalismo monopolista. 80 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 • A relação do serviço social com a questão social – fundamento básico de sua existência – é mediada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico-metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho. Esse entendimento da profissão, já presente no projeto profissional de 1982, ganha maior densidade nas diretrizes de 1996, a partir do aprofundamento da discussão das relações da profissão com a questão social. Na década de 1990, as discussões acerca da profissão na literatura passam a se compor. Iamamoto (2006, p. 27) nos informa que O serviço social é considerado uma especialização do trabalho e atuação do assistente social, é uma manifestação do seu trabalho inscrito no âmbito da produção e reprodução da vida social [...]. O serviço social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho. A questão social é apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada e monopolizada por uma parte da sociedade. Em razão dos efeitosda reestruturação produtiva, a discussão da vinculação da profissão com a categoria trabalho sofre impacto. Fala-se na crise da sociedade do trabalho. Mas analisamos, a partir do estudo de Antunes (2005), que a categoria trabalho continua tendo a sua centralidade, pois o mundo de produção continua sendo o do Capitalismo; o que se alterou foi a forma de organização e gestão do trabalho que transita do taylorismo/fordismo para o toyotismo. A reestruturação produtiva traz desafios para a ação profissional. A esse respeito, César (1998, p. 143) assevera que [...] as mudanças engendradas pelo processo de reestruturação afetam as condições objetivas em que o trabalho do assistente social se realiza. Como essas mudanças não são alheias à sua prática, provocam inflexões na direção social, no conteúdo e nos meios objetivos para materialização dos resultados. A autora finaliza sua análise sobre a questão refletindo que responder crítica e criativamente às exigências colocadas pela reestruturação produtiva, defender suas condições de trabalho e resistir às práticas de passividade são, a rigor, os grandes desafios que estão postos para o assistente social e para os demais trabalhadores “que vivem do seu trabalho” (CÉSAR, ibidem, p. 145). O serviço social encerra a década de 1990 e entra no século XXI com o seguinte desafio: construir estratégias de enfrentamento das novas expressões da questão social desencadeadas pela reestruturação produtiva, que afetam a população e o assistente social como trabalhador assalariado. Lembre-se de que, nessa década, ocorre a contrarreforma do Estado. No governo Collor, que inicia seu mandato no 81 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO ano de 1990, ocorre a entrada das ideias neoliberais, e com Fernando Henrique, que governou de 1995 a 2003, e com Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 até 2011, não há recuo. Entramos no século XXI sob a égide do neoliberalismo. A partir das preocupações profissionais voltadas para desvelar a presença e o enfrentamento, por parte do Estado e da sociedade civil, da questão social no cenário histórico-cultural da sociedade brasileira evidenciado principalmente a partir da década de 1990, época em que houve a guinada do Estado brasileiro para a “mentalidade privatizante,” que as reformas estruturais de cunho neoliberal se promoveram. 5.6 Por que questão social e não políticas sociais como objeto de ação profissional? Essa pergunta nos instiga a reflexões diversas, até porque, no começo do curso, você estuda “Contexto Histórico das Políticas Sociais”. Num determinado momento, parece tudo tão igual; é verdade, pois questão social e políticas sociais não podem ser tratadas separadamente, têm que ser discutidas em conjunto. O serviço social tem seu espaço ocupacional “privilegiado” para trabalhar com políticas sociais, sejam públicas ou privadas, mas nem por isso elas são objetos da profissão e representam uma das respostas de enfrentamento à questão social aliada às de cunho privado e de outros segmentos da sociedade, como as organizações da sociedade civil. Iamamoto, (2001, p. 58-59) afirma que: A questão social explica a necessidade das políticas sociais no âmbito das relações entre as classes e o Estado, mas as políticas sociais, por si, não explicam a questão social. Aquela é, portanto, determinante, devendo traduzir-se como um dos polos chaves da formação e do trabalho profissional. Ao “exigir” a implantação ou efetivação de políticas sociais com vistas a minimizar os conflitos e contradições na sociedade, a questão social é a matéria-prima que os assistentes sociais vão utilizar no seu exercício profissional: o nosso “chão” é a questão social e suas múltiplas expressões, e as políticas sociais são uma das formas privilegiadas que utilizamos no enfrentamento às questões que se colocam em nosso cotidiano profissional. Porém, de quando em quando, as respostas são ações isoladas, fragmentadas e imediatistas, a menos que os profissionais, os usuários e a sociedade de um modo geral, lutem para que haja a efetivação de uma política pública para atender determinado segmento da sociedade ou as necessidades básicas de todos os cidadãos. 5.7 Configurações do objeto: questão social Observa-se, atualmente, o agravamento da questão social – objeto do serviço social – nas suas expressões regionais e locais nos mais diversos espaços de exclusão, como violência, desemprego, discriminação, empobrecimento, negação de acesso a direitos sociais, fome etc. 82 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Há de se destacar a separação clara de regiões (norte, sul, sudeste) e as particularidades econômicas, culturais, políticas, educacionais e sociais. A questão social está presente de modo igual ou desigual em todas elas; não escolhe lugar, hora, nem dia. O que a diferencia é a forma de acesso e o conhecimento dos sujeitos ou as formas históricas de resistência e de luta que algumas regiões apresentam. Os protagonistas – segmentos sociais, profissionais, instituições de classe etc. – têm papel fundamental na conquista e na luta de direitos. A questão social se configura de diversas formas, porém, atualmente, as mais evidentes são: • relações de trabalho precárias e sem condições mínimas de proteção; ruptura entre trabalho e proteção; • desemprego; • desestabilização dos trabalhadores estáveis; • uma sociedade de “sobrantes”, pessoas que não têm lugar na comunidade, que não são integradas; esses indivíduos sequer chegam à condição de excluídos, pois nunca participaram das convenções da sociedade civil; • violência urbana. Desse modo, a questão social não pode ser pensada isoladamente ou tomada sob um único prisma. É preciso reconhecer os diferentes contextos em que ela se apresenta de modo que se possam pensar as estratégias de enfrentamento. As configurações da questão social fazem acirrar a concentração/acumulação de capital/riquezas e a produção crescente da miséria, da pauperização e das desigualdades. Ela é propulsora de uma sociedade e articula as engrenagens nos diferentes espaços de produção e reprodução da vida social. 5.8 Questão social ou questões sociais? Alguns autores, como Vicente Faleiros e Marilda Iamamoto, diziam que não existem “questões sociais”, e sim um conjunto de expressões. Segundo eles, a questão social é única, visto ser fruto da relação capital x trabalho. Tal relação é que origina a questão social. Além disso, há apenas expressões dessa relação, como as desigualdades e as exclusões. 5.9 Como se apresenta e se inscreve a questão social no contexto das instituições, dos sujeitos e dos profissionais? 5.9.1 Nas instituições A questão social se apresenta por meio de demandas institucionais, ou seja, a própria instituição cria condições e serviços sociais específicos para atender determinados segmentos da sociedade. Exemplo: o 83 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Estado cria serviços específicos para atender segmentos “x”, “y”. As organizações do terceiro setor criam também serviços, de forma mais particular, para atender determinados segmentos da sociedade. E as empresas também criam serviços para atender seus funcionários. Dessa forma, a configuração do objeto ocorre no espaço institucional. Por exemplo, a instituição “X” atende crianças em situação de abrigo (problemas intrafamiliares, abandono etc.). Qual será meu objeto de intervenção do profissional de Serviço Social? Lembre-se:as pessoas não são objetos de intervenção, pois são sujeitos de direitos, o que é objeto é a expressão que dá visibilidade à questão social, vide a violência doméstica. Então, a partir dessa identificação, elaboro objetivos e estratégias metodológicas, constituindo meu plano de intervenção. Em outras disciplinas aprofundaremos a construção do plano de intervenção para o estágio/prática profissional. Se o objeto é construído no âmbito institucional, como intervir para que não se caia em rotinas, haja imediatismos, burocracia, entre tantos outros obstáculos? É importante ressaltar que o profissional deve olhar para além das rotinas e dos obstáculos de suas ações. Como aponta Iamamoto (2001, p. 22): Olhar para fora do serviço social é condição para se romper tanto com uma visão rotineira, reiterativa e burocrática do serviço social que impede vislumbrar possibilidades inovadoras para a ação, quanto com uma visão ilusória e desfocada da realidade que conduz a ações inócuas. Ambas têm um ponto em comum: estão de costas para a história e para os processos sociais contemporâneos. Assim, a construção do objeto também aporta, não só o viés institucional – demandas, rotinas, burocracia –, mas também a postura profissional frente a tais demandas. Ou o profissional fica “tomado” pela instituição e pela subalternidade frente a outros profissionais ou impõem-se, ou seja, valoriza sua profissão, mostrando sua importância frente às equipes de trabalho e aos usuários, destacando que sua atividade é fruto de conhecimentos científicos adquiridos em formação acadêmica. Observação Se as instituições criam serviços sociais para atender segmentos vulneráveis, isso já representa uma resposta ao problema? Como vou construir meu objeto se já tenho a “resposta” para a expressão que dá visibilidade à questão social? Então, qual é o meu objeto? Sim, as políticas são respostas à questão social (por parte do Estado ou de outros segmentos da sociedade civil e empresarial), mas a complexidade das expressões não pode ser resolvida de forma pragmática ou por ações imediatistas, burocráticas, ou seja, as ações têm que ser refletidas, discutidas e planejadas para que não ocorra uma “nova exclusão”. Por exemplo: a assistente social da instituição “x” repassa recursos financeiros – passagens – para todos os cidadãos que vão pedir um auxílio. Será que há planejamento ou critérios para isso? Será que os recursos não poderiam ser empregados em outras 84 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 ações? Quando um cidadão realmente precisa de um recurso? Em casos de doença, de desemprego? Esse é um exemplo, entre tantos outros que acontecem em práticas não planejadas, sistematizadas, discutidas etc. Por isso, reiteramos: uma prática profissional não comprometida e sem embasamento crítico, reflexivo, propositiva, aliada às instituições burocráticas, acaba reforçando mais as desigualdades sociais e as exclusões. O não comprometimento com a profissão poderá ser mais excludente que o próprio sistema em que o indivíduo está inserido. É uma afirmativa forte, mas necessária para que você pense sobre que tipo de profissional quer ser. Como assistente social, você deve refletir, discutir, ler e não cair no comodismo. 5.9.2 Os usuários como sujeitos de direitos São usuários do serviço social todos aqueles que têm seus direitos garantidos pela Carta Constitucional. Porém, existem pessoas que não são usuárias de qualquer serviço, estão à margem da sociedade, muitas vezes por desconhecerem os seus próprios direitos. Outras conhecem, mas fatores de inacessibilidade, de organização e de mobilização os impedem de exercê-los. Os sujeitos de direitos são protagonistas do cenário da questão social e têm papel fundamental na luta por melhores condições de vida. São aqueles que mobilizam forças, travam lutas e fazem resistências em prol de direitos. 5.9.3 Os assistentes sociais frente aos desafios da questão social Esses profissionais atuam como mediadores das relações e são comprometidos com a garantia e a defesa de direitos sociais. Sua identidade é construída nesse processo de lutas, resistências, confrontos etc. Esta não é alicerçada de modo neutro (positivismo), mas como defensora das garantias sociais, articuladores, mediadores, mobilizadores e gestores de políticas públicas. O assistente social é um profissional inserido nas relações sociais que busca reforçar os sujeitos, fortalecendo sua autonomia, seu poder e seus saberes. Trabalha na perspectiva da garantia dos direitos e do acesso a melhores condições de vida. Iamamoto (2001, p. 79) compara o trabalho do assistente social ao de um educador. Vejamos: Os assistentes sociais, ao realizar suas ações profissionais, seja no nível das secretarias de governo, dos bairros, das instâncias de organização e mobilização da população, das organizações não governamentais (ONGs), exercem a função de um educador político; um educador comprometido com uma política democrática ou um educador envolvido com a política dos “donos do poder”. Mas é nesse campo atravessado por feixes de tensões que se trabalha e que são abertas inúmeras possibilidades ao exercício profissional. CRAS2017 Concluído 85 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO As possibilidades de ação profissional são diversas, assim como os confrontos, as mediações, as lutas, as resistências, ou seja, os desafios profissionais são inúmeros. Cabe aos assistentes sociais ocupar, de fato, seus espaços de trabalho, sejam estatais, privados ou organizações da sociedade civil. Qual o lugar do assistente social nesses processos? É na tensão da produção das desigualdades e da produção das lutas e resistências que trabalham os assistentes sociais. O trabalho está situado em cenários distintos que exigem compromisso e competências teórico-metodológicas. É nesta tensão, entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, dos quais não é possível abstrair ou fugir porque tecem a vida em sociedade (IAMAMOTO, 2001, p. 28). Cabe ao assistente social decifrar as novas mediações em jogo nos diferentes cenários e apreender as novas expressões da questão social, ou seja, conhecer as diferentes formas de expressão das desigualdades sociais. Ao lançarmos mão da expressão que dá visibilidade à questão social, estaremos construindo nosso objeto, que é um dos primeiros passos para o processo de conhecimento. É preciso captar as formas de resistência, de lutas, de oposição, de pressão social, de invenção e reinvenção da vida cotidiana para que possamos projetar formas de enfrentamento e de defesa da vida por meio de políticas públicas ou de outras estratégias de empoderamento, de autonomia e de liberdade dos sujeitos de direitos. 6 CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL A construção do objeto significa a compreensão das mais variadas expressões cotidianas que os sujeitos vivenciam e que os assistentes sociais trabalham direta ou indiretamente. Expressões que fazem parte do tecido social de uma sociedade. Todos nós, independentemente de situação econômica, política, cultural, de credo, de raça, não conseguimos nos furtar delas, pois estas perpassam o cotidiano de cada um e fazem parte da trama de relações sociais do modo de produção e reprodução do sistema capitalista. Sobre as expressões cotidianas, Iamamoto (2001, p. 28) afirma que: Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho,na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. A questão social sendo desigualdade é também rebeldia por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. A matéria-prima do serviço social, portanto, situa-se em espaços contraditórios, conflituosos, de interesses antagônicos, de rebeldias, de lutas, de resistências por direitos inscritos na agenda pública ou em discussão para a viabilização de garantias por meio de políticas públicas. Ao ter uma matéria-prima de intervenção profissional, que tem como ingredientes principais a luta pela defesa da vida e pela garantia de direitos, o assistente social é um profissional que precisa ter postura ética, crítica e propositiva e se imbuir de conhecimentos teórico-metodológicos. 86 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 6.1 Formas de enfrentamentos da questão social A seguir, relacionaremos os agentes responsáveis pelo desencadeamento das ações de intervenção na questão social. • Estado: nas políticas públicas; • Empresariado: por meio de políticas sociais empresariais para a reprodução e gestão da força de trabalho; • Outros segmentos da sociedade civil: por meio de organizações não governamentais que têm atuado no campo das políticas sociais; • Classes subalternas: são formas de organização e de sobrevivência acionadas por estas classes como meio de fazer frente às condições crescentes de exclusão social a que são submetidas. A partir desses indicadores, é possível explicitar a compreensão dos fundamentos teórico- metodológicos do serviço social assim como sua dimensão técnico-operativa. Ao identificar o lugar do assistente social nos diferentes espaços e seu papel frente às expressões que dão visibilidade à questão social e aos mecanismos de enfrentamento, partimos para uma exemplificação da identificação/construção do objeto/matéria-prima do serviço social. Quadro 4 Unidade/ área de trabalho Expressão da questão social Qual é o meu objeto/ matéria-prima de trabalho? Outras fases: estratégias metodológicas Saúde Álcool/drogas Dependência química Entrevistas/encaminhamentos para grupos de mútua ajuda ou tratamento em clínicas especializadas. Ao identificarmos a expressão que dá visibilidade à questão social, neste caso o alcoolismo, partimos para o conhecimento teórico-metodológico. Por quê? Antes de qualquer intervenção, precisamos de embasamento teórico. Como posso fazer uma intervenção se não tenho conhecimento sobre o assunto? Não temos nada pronto – e nem podemos. Nossa área de atuação é ampla, temos que ser dinâmicos, propositivos e manter uma rede de contatos e serviços de nossa cidade e região. Atualmente, os concursos públicos exigem um rol de conhecimentos dos mais diversos para o cargo de assistente social. Então, ter conhecimento básico em alcoolismo/dependência química é um dos requisitos para o exercício profissional. Isso não significa que o profissional fique fazendo diversos cursos em todas as áreas, mas sim saber diferenciar, por exemplo, alcoolismo de dependência química. Saber identificar se o sujeito é 87 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO usuário de drogas ou de álcool, o tempo de uso, abuso, consumo, problemas com polícia e possíveis encaminhamentos para os serviços sociais de que dispõe a rede. Em muitas situações, nossa intervenção pode ir além de um simples encaminhamento para serviços especializados. Sabemos que as condições de trabalho vão variar de local para local. Em determinada instituição, você poderá ter recursos materiais e humanos para planejar, desenvolver e avaliar ações interventivas. Em outros locais, você deverá buscar estratégias e meios alternativos para desenvolver ações interventivas, apesar das dificuldades institucionais. Em grande parte das organizações, há falta de profissionais especializados para determinados tipos de atendimento, falta de salas/espaços, de recursos materiais etc. Então, o que fazer? Nós, assistentes sociais, temos uma compromisso com a classe trabalhadora explicitado no código de ética. Dessa forma, buscamos a primazia do acesso a bens e serviços para as classes subalternas, apesar das dificuldades e dos entraves impostos pelas políticas e instituições em que estamos inseridos. Vamos objetivar/esquematizar: 1° Preciso conhecer a realidade em que vou trabalhar/atuar/intervir. Perguntas básicas: Como? Quando? 2º Como vou analisar/conhecer? Você precisa ler e estudar as políticas públicas a que está vinculada a instituição/ organização em que vai estagiar/trabalhar. Se você estagiar/trabalhar, por exemplo, num hospital, é importante conhecer a qual política pública ele poderá estar vinculado. Parece claro, à política da saúde. Porém, num hospital também há assistência. E agora? Qual é a política de fato? Para essa identificação, você precisará se inteirar de suas atribuições – veja o plano de trabalho de cada instituição – para poder delimitar/especificar sua atuação. Com certeza, a política da saúde prevalecerá em hospitais, clínicas e ambulatórios vinculados ao SUS. Não pretendemos estudar passo a passo sua rotina de trabalho, até porque, como já observamos, não há receitas ou modelos fixos. É mister que você possua fundamentos para poder planejar e organizar seu trabalho. As ações profissionais são pautadas no que denominamos de plano de intervenção/ação. Essa é uma das estratégias metodológicas que vamos operacionalizar no campo de estágio e em nossas futuras ações. E a desconstrução do objeto profissional? Como e quando desconstruímos nosso objeto de ação profissional? Ela se inicia quando você percebe que as estratégias utilizadas até então não dão mais conta da realidade e da dinâmica profissional. Ela também ocorre quando o assistente social busca ampliar, aprofundar seus conhecimentos e sua forma de intervenção; quando sai dos muros profissionais e institucionais; e quando almeja ir além do seu cotidiano profissional. A desconstrução ou reelaboração do objeto também pode partir de demandas institucionais percebidas pelos profissionais ou pelos usuários. 88 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Seu objeto de intervenção profissional estará em constante mudança devido à dinamicidade das expressões da questão social. O quadro a seguir aponta algumas categorias que perpassarão por toda a formação e todo o exercício profissional do assistente social. Leia atentamente e procure assimilá-las, pois fazem parte do nosso cotidiano profissional. Quadro 5 Objeto/matéria-prima do serviço social Múltiplas expressões/refrações da questão social. Questão social Contradição entre capital e trabalho = desigualdades x resistências/lutas; exclusões. Capital Relações sociais que tomam forma de riqueza/poder monopolizado, confrontando-se com o trabalho concreto e impondo a produção de trabalho alienado. Trabalho Toda a expressão e produção humana. Desconstrução ou reelaboração do objeto Demanda institucional; identificação pelo profissional; demanda do usuário. Modos de vida Significados atribuídos pelos sujeitos ao seu modo de viver (valores, crenças e práticas sociais). A construção do objeto profissional não pode ser pensada só de modo teórico e conceitual; é preciso levar em conta a história, as discussões, os debates dos projetos de sociedade e de intervenção profissional nos diferentes contextos. Nesse processo, também é preciso considerar a dinâmica local, regional, institucional,as relações de poder, os saberes, as estratégias e os diferentes atores. Assim, o objeto de trabalho do assistente social terá especificidades próprias da conjuntura em que ele está inserido. Portanto, não existem modelos, receitas, e sim construções coletivas de um determinado contexto sócio-histórico e ideológico-político. 6.2 As principais demandas do Serviço Social As demandas para o serviço social podem ser constituídas de forma dirigida ou manifestada, no entanto, não podemos caracterizá-las somente dessa forma, uma vez que elas extrapolam tais conceitos. Estudemos, então, as demandas dirigidas e manifestadas. No desdobramento do texto, você perceberá que as demandas podem ser caracterizadas de outras formas, dado o seu contexto profissional, institucional e do usuário, levando em conta a realidade em que estão inseridas. Lembrete Usuário é a terminologia usada pela profissão para identificar as pessoas ou grupos que utilizam os serviços sociais. 89 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO As demandas dirigidas ao serviço social são aquelas instituídas dado o caráter do serviço prestado. Elas caracterizam-se por rotinas apresentadas pela dinâmica da instituição ou serviço prestado ou pelo próprio profissional. Também podem ser comuns para profissionais de determinada área ou de áreas específicas, isso depende do setor em que o assistente social está locado. Em uma área, há serviços setorizados e outros que são comuns a todos os setores e profissionais. As rotinas fazem parte do exercício profissional do assistente social que se efetiva no cotidiano da instituição na qual está inserido. A rotina transforma-se continuamente e diferencia-se conforme as experiências, em função de particularidades, valores, interesses e época histórica. Ela é a vida dos mesmos gestos, atitudes, ritmos de todos os dias, o que implica o imediatismo, o útil e o funcional. Cabe ao profissional romper com esses procedimentos. Como? Quando ele gosta do que faz, tem motivação, paixão, comprometendo-se com o trabalho e com os usuários e ele tem uma ação proativa em relação a isso. Citamos como exemplo de rotinas dirigidas do serviço social em uma empresa: entrevista domiciliar, visita hospitalar, atendimentos individuais para resolução de problemas relacionados a absenteísmo, financeiros, relacionamentos interpessoais no setor etc. As demandas dirigidas são explicitadas com clareza pela instituição e pelos profissionais. Pode ocorrer ou não o reconhecimento do serviço como demanda. Essa é uma questão polêmica, o profissional e a instituição às vezes não têm meios/instrumentos (sociais e materiais) para realizar os serviços aliados às políticas públicas que ainda não conseguiram ser efetivadas na sua totalidade. A efetivação não ocorre devido aos problemas burocráticos, políticos, ideológicos, ou por falta de profissionais qualificados para assumir a gestão. Se as demandas explícitas às vezes se tornam complexas (pode ser difícil a sua identificação ou não são priorizadas, pois não são reconhecidas como serviço pelo profissional ou pela instituição), imagine como são tratadas as demandas manifestadas e as implícitas. Faça uma reflexão de um serviço que você conhece problematizando os aspectos levantados no decorrer do texto. Um serviço público fácil de problematizar é a saúde, tão polêmico e preocupante. Lembre-se de que as demandas existem e são muitas. Como equacioná-las, levando em conta os meios de trabalho para os profissionais e para as instituições e as políticas públicas existentes? E qual é a sua real efetivação? As demandas manifestadas são aquelas que extrapolam a rotina dos serviços, geralmente são solicitadas pelos próprios usuários, outras vezes estão implícitas, não sendo identificadas inicialmente pelo profissional ou pela instituição. Quando solicitadas pelos usuários, o profissional trata o atendimento como demanda individual/particular, negando o caráter coletivo. Contudo, é preciso compreender que as demandas “[...] são coletivas não só porque são vivenciadas por todos, mas também porque só coletivamente poderão ser enfrentadas” (VASCONCELOS, 2002, p. 171). A manifestação por parte do usuário ocorre quando ele percebe a necessidade de um serviço complementar a que ele já está recebendo. Isso ocorre quando o indivíduo toma ciência da existência desse serviço e também por solicitação de um serviço que não existe no bairro ou comunidade do usuário. 90 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 A demanda manifestada pode ser explícita ou implícita. Aí complica mais: como pode ser implícita dentro da manifestada? Vejamos: ao manifestar sua demanda, o usuário poderá apresentar uma demanda implícita (não identificada dentro de um processo maior). Por detrás da manifestada, o profissional poderá captar situações implícitas que levaram à primeira, ou seja, o assistente social está tratando a consequência, o efeito, e a causa não foi observada. Em outras palavras, está tratando a parte e não o todo, ela é uma ação fragmentada e focalizada no problema e não no ser humano como um todo. A demanda implícita poderá ser muito maior que a manifestada, por isso o profissional precisa possuir alguns meios (conhecimentos para decifrar o problema). O implícito é aquilo não dito pelo usuário e o não percebido pelo profissional. É o que está nas entrelinhas da fala do usuário. 6.3 Demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais Diante das demandas existentes, é notória a procura por serviços sociais. Entretanto, é preciso ressaltar o aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais, a diminuição de recursos, a redução dos salários e a imposição de critérios cada vez mais restritivos à população para ter acesso aos direitos sociais públicos. Nessa perspectiva de seletividade, o profissional tem de trabalhar pautado nos princípios do Código de Ética Profissional, defendendo, intransigentemente, o usuário e os direitos que lhes são garantidos por lei e que “algumas” vezes são repassados como forma de favor, clientelismo e paternalismo. Quando o indivíduo procura um serviço, geralmente ele é portador de uma necessidade material ou social. Paulo Netto e Falcão (2000, p. 54) mencionam que [...] sabemos que o atendimento dessas necessidades é realizado de forma setorizada, fragmentada, como se o indivíduo fosse um somatório de necessidades a serem satisfeitas, cada uma delas pela superposição de instituições específicas. Sabemos igualmente que, no caso brasileiro, o atendimento a estas necessidades é pulverizado e individualizado, requerendo sempre uma seleção ou triagem que confirme o mérito ou validade do pedido de atendimento. Essa demanda requer mediação por parte do assistente social entre as necessidades básicas e as possibilidades institucionais. É um trabalho de ligação/ponte entre os grupos em situação de exclusão e as organizações. É um processo de passagem da situação de excluído para a de inclusão em um serviço ou acesso a um bem. A mediação é um processo que implica o engajamento ou compromisso dos assistentes sociais em um conjunto de atividades com o usuário e objetiva o fortalecimento da sua identidade, da autonomia, do reconhecimento e do uso de recursos. Segundo Paulo Netto e Falcão (2000), a mediação é um instrumento de que o assistente social se utiliza no seu fazer profissional, categoria que está inserida tanto nas demandas quanto nas práticas sociais e ela também é compreendida como um processo de passagem. 91 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão de ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO Na operacionalização de suas ações, o profissional é “demandado” pela organização/instituição a desenvolver quase sempre práticas imediatistas e focalistas. Cabe a ele, ao dar respostas às demandas, superar essa prática de forma crítica e propositiva. Cabe ao assistente social dar respostas que vão além do imediatismo. O profissional deve estar comprometido com sua profissão e com o usuário, ter o cuidado de não cair na subalternidade que existe na profissão em algumas instituições, achar que é tudo natural, normal e cumprir apenas as normas e rotinas estabelecidas. Sucintamente, podemos definir como “novas demandas” para o serviço social: a) identificar novas oportunidades de trabalho e demandas sociais: cooperativas, assessoria e consultoria, terceiro setor, responsabilidade social, turismo social, desenvolvimento sustentável etc.; b) decodificar expressões da questão social, buscar formas de enfrentamento respeitando suas especificidades, como: gênero, etnia, raça etc. Para atender essas demandas e outras questões que surjam nessa profissão, é importante que o profissional identifique as oportunidades e as diversidades da realidade social. O social não é especificidade de qualquer profissão: o que existe são formas diferentes de cada profissão no trato do social. Diante das novas demandas, apresentaremos, a seguir, os desafios postos para a profissão. As demandas e os desafios não se esgotam em um estudo, é preciso buscar o seu entendimento paulatinamente. Por isso, a formação é contínua, e o desafio maior é aprender as alterações históricas que os processos sociais vêm criando. Detectar as demandas e exigências de reformulações no modo de ser, do fazer profissional, assegurando sua necessidade social, é buscar aprender o significado social da profissão no contexto das profundas alterações na divisão internacional do trabalho. Para tanto, o serviço social, na atual conjuntura, deve estar atento às determinações sócio-históricas e ideológico-políticas que requalificam as respostas profissionais incidindo em: • capacitação teórico-metodológica que permita apreensão crítica da realidade; • capacitação investigativa articulada à intervenção profissional com o intuito de instaurar habilidades teórico-metodológicas e técnico-políticas, entre outras; • entendimento de que a instituição não é um limite, mas a possibilidade do exercício profissional; é nesse espaço que se realiza o trabalho profissional; • não ter a ilusão que outrora permeou a prática profissional que postulava como objetivo a transformação radical da sociedade; 92 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 • reconhecer que, no sistema capitalista, os direitos econômicos, sociais, políticos e culturais são capazes de reduzir desigualdades, mas não de acabar com elas de modo definitivo; • o reconhecimento dos limites profissionais não invalida a luta pela efetivação dos direitos pelas políticas públicas. Os limites sinalizam que existe uma agenda estratégica de luta democrática em prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária; • quando o assistente social repensa sua prática, reconstrói seu objeto de intervenção deixando de ser mero executor, como no passado, para ser um profissional propositivo, criativo, gestor, formulador de estratégias de intervenção e controlador dos recursos destinados às políticas públicas. As respostas apresentadas às demandas nunca são absolutamente novas ou obsoletas. Isso depende muito da conjuntura em que o assistente social está inserido. Por exemplo: algumas práticas profissionais nos grandes centros já estão ultrapassadas, porque já foram instauradas há muito tempo, já foram avaliadas e reavaliadas e estão sendo ampliadas ou substituídas por outras para dar conta da realidade. Já em lugares mais remotos, algumas práticas ainda nem chegaram e sequer existem profissionais do serviço social. O que vai caracterizar as demandas profissionais diante da questão social são as determinações sócio-históricas e ideológico-políticas da realidade em que você estiver atuando. Portanto, as demandas profissionais poderão ser distintas nos diversos cantos do Brasil, mas a gênese das desigualdades e exclusões é uma só: a relação conflituosa entre capital e trabalho. As respostas e a forma de enfrentamento da questão social serão determinadas pelo profissional na conjuntura em que ele estiver inserido. Em relação à questão social, Iamamoto (2001, p. 27) nos assevera que A questão social é apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada e monopolizada por uma parte da sociedade. É polêmico dizer que a fome, a pobreza, a violência e outras expressões são diferentes no norte e no sul do país. Também é controverso dizer que a fome no sul é diferente da fome no nordeste, que a violência nas grandes cidades é diferente da violência das cidades pequenas, bem como mencionar que as demandas são totalmente diferentes. Existem, sim, especificidades regionais, culturais, econômicas, políticas e sociais que devem ser levadas em conta no momento de formular ações de enfrentamento à questão social. É nesse sentido que, para nós, a questão social é única, mas suas expressões são múltiplas. E o conhecimento teórico-metodológico que o profissional de Serviço Social possui poderá contribuir para respostas eficazes. Dissemos “poderá”, pois depende de cada um buscar se aperfeiçoar e se qualificar. Mas lembre-se: antes de tudo, você está trabalhando com pessoas e não com objetos; pessoas com diversas carências (recursos, afeto, entre outras necessidades sociais e materiais). 93 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO É importante gostar do que se faz, pois, do contrário, você não estará contribuindo em nada para uma sociedade mais justa e igualitária, nem com o trabalho em prol do combate às expressões da questão social. 6.4 Reordenamento dos serviços sociais A categoria profissional vem discutindo um reordenamento de sua prática, tanto na defesa de direitos como na prestação de serviços que antes eram executados predominantemente pelo Estado e que agora são transferidos em etapas por meio de parcerias, convênios etc. para outros setores da sociedade civil (principalmente para organizações não governamentais). Os serviços têm caráter voluntário ou não. Caracterizam-se por ações fragmentadas, isoladas, paliativas e de cunho individualista. Como nos assevera Iamamoto (ibidem, p. 159) Cortam-se gastos sociais e transferem-se serviços para o setor empresarial condizente com a política mais ampla de privatização que é levada a efeito pelo Estado. O enxugamento e sucateamento dos serviços públicos têm redundado não apenas na perda de qualidade dos atendimentos, como têm reforçado a seletividade, o que entra em colisão como uma das principais conquistas obtidas na Carta Constitucional de 1988, relativa à universalização dos direitos sociais e dos serviços que lhes atribuem materialidade. O Estado não tem poder de controle sobre esses serviços e isso os desqualifica, pois seus agentes fazem o que querem. Muitos desses trabalhos têm “donos”, ou seja, quem os criou não socializa e nem possibilita a abertura para o ingresso de outros participantes. Algumas ações bem-sucedidas promovem a cidadania e a emancipação, mas sabemos que a maioriasão apenas obras caritativas e assistencialistas que reforçam a subalternidade dos sujeitos; outras servem de fachada para receber recursos do governo e de agências internacionais. 6.5 Terceirização da gestão da questão social O desrespeito à institucionalização da questão social ocorre quando o Estado deixa de atender serviços básicos e a garantia dos direitos fica à mercê de organizações não governamentais com critérios próprios, e isso muitas vezes acaba reforçando exclusões. Os critérios de acesso aos serviços são excludentes, uma vez que não são universais, e os sujeitos que os solicitam precisam se “enquadrar” em determinados perfis. Essa é uma questão muito discutida, visto que muitas vezes somos nós (assistentes sociais) que reforçarmos a exclusão ao criar critérios de seleção, ingresso em programas, projetos e benefícios. Por isso, nossa prática é contraditória e conflituosa. Assim, surge a questão: como incluir se também estou excluindo? O Estado, ao terceirizar a gestão da questão social, promove a distribuição de verbas públicas para entidades privadas exercer ações de caráter público. Esse orçamento se efetiva por meio de convênios, contratos, parcerias, prestação de serviços, subvenções temporárias ou periódicas etc. 94 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Mesmo diante desses impasses de terceirização ou desrespeito à institucionalização, o serviço social vem trabalhando na gestão de ações para inclusão ou integração dos cidadãos no terceiro setor de modo que não sejam tão desiguais ou excludentes, embora os critérios de seleção/ingresso sejam preponderantes nesse processo. A intervenção do serviço social no terceiro setor tende a se ampliar, tendo em vista os cortes com gastos sociais e os recursos distribuídos de forma focalizada e fragmentada por parte do Estado. Ao transferir responsabilidades, o Estado inclina-se a prestar serviços com menos custos e menos garantias. E o terceiro setor, por sua vez, tende a ações mais individualistas, isto é, a ações cujo público alvo possui determinados segmentos (idosos, crianças, abrigos, clínicas, casas de apoio) com critérios de acesso estabelecidos em regimentos ou estatutos. Como nos afirma Faleiros, (1996, p. 24) Essa terceirização é uma nova forma de gestão da questão social que, na linha da “desinstitucionalização”, agora se volta para o empenho da própria população na participação dos serviços prestados pelo Estado. Esse cenário se realiza sob múltiplas formas, como pelo fechamento de hospitais, implicando nos familiares o cuidado aos doentes. O mesmo se passa com o atendimento a crianças e pessoas idosas, ficando cada região e cada localidade responsável pela gestão de um fundo para projetos que envolvam, por um lado, os serviços e, por outro, admitam para trabalhar pessoas envolvidas em programas de bem-estar social com o dinheiro desse mesmo fundo. Faleiros (1996) adverte que é nesse processo que o serviço social precisa encontrar as categorias adequadas para repensar o social e sua gestão. Logo, o assistente social precisa desenvolver sua condição criativa e reflexiva, bem como contribuir para que os sujeitos desenvolvam mais sua capacidade crítica frente às instituições e aos serviços prestados. 6.6 Matrizes do processo de trabalho do assistente social O processo de trabalho do serviço social constitui-se no espaço em que os conhecimentos são processados e ele se reconstrói a partir da análise da questão social e do conhecimento produzido pelo Serviço Social. Depois que identificamos nosso objeto de trabalho, partimos para o processo de trabalho propriamente dito. Ele tem seu início com o processo de conhecimento e prossegue no processo de intervenção. Na verdade, não há como dizer o que vem primeiro, mas é necessário identificarmos, inicialmente, o objeto de intervenção, para depois contextualizar o processo de estratégias e atividades de trabalho. A prática profissional do assistente social é considerada trabalho, pois é orientada para uma finalidade e possui teleologia. O assistente social, na condição de trabalhador assalariado, “[...] também sofre todas 95 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ACADÊMICO as injunções decorrentes da divisão social do trabalho, da reestruturação produtiva e das reformas por que vem passando o Estado” (ABESS/CEDEPESS,1996, p. 163-164). Embora o assistente social esteja sujeito às alterações do mercado de trabalho, ele deve estabelecer um distanciamento crítico disso no sentido de apreender a dinâmica da sociedade. Essa mediação é determinante para a sobrevivência do serviço social. O processo de trabalho do serviço social, como qualquer trabalho no setor de serviços, gera “valores de uso”, apesar de não “produzir diretamente mais-valia”. Seu produto não é necessariamente de base corpórea, material, mas expressa um resultado, um valor de uso. Ele participa do processo ampliado de produção e reprodução social, exercendo funções mais ou menos estratégicas à medida que se articula a setores produtivos mais ou menos importantes (GENTILLI,1997, p. 132). O processo de exercício do serviço social vê-se sufocado tanto pelas transformações societárias, como pela globalização e pelo retraimento do Estado em relação às políticas sociais e aos cortes nos gastos sociais. A globalização e o desenvolvimento tecnológico, a transferência de serviços do Estado para ONGs e instituições privadas, entre outras mudanças em curso, são movimentos contraditórios que geram conflitos, desigualdades, exclusões, lutas e resistências. Essas mudanças incidem nas instituições prestadoras de serviços sociais e no cotidiano da profissão e sua dinâmica se configura a partir de enfrentamentos de questões, como: contradições da realidade, conjuntura social, política, ideológica, econômica e cultural. O trabalho do assistente social aporta perspectivas diferentes na empresa e no Estado. Na primeira, o profissional é partícipe na reprodução da força de trabalho. No segundo caso, participar na prestação de serviços sociais, na redistribuição de riquezas, via políticas públicas, na defesa de direitos sociais, na gestão de serviços públicos, em especial políticas públicas – programas, projetos; pode reforçar estruturas e relações de poder; e também pode contribuir para a partilha do poder e sua democratização. O produto desses dois últimos itens tem apontado as mais diversas práticas sociais. É a partir do intervir que construímos o objeto de intervenção. A construção desse objeto se realiza por meio do conhecimento e utilização de estratégias metodológicas que se desdobram em vários instrumentos técnico-operativos, tais como: análise institucional, plano/projeto de intervenção, documentação (pareceres sociais, laudos, perícias), abordagens individuais, abordagens grupais, entre tantas outras. O conhecimento, instigado por estudos, reflexões, debates, pesquisas (exatamente como estamos fazendo agora) não pode ser pensado isoladamente da prática profissional. Ele tem que ser um meio em que se possa decifrar a realidade e iluminar o processo de trabalho a ser realizado. 96 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 3/ 12 /1 1 - In se rç ão d e ex er cí ci os C Q A : V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 01 /1 1/ 20 13 Segundo Iamamoto (2001, p. 63), As bases teórico-metodológicas são recursos [...] que o assistente social aciona para exercer seu trabalho: contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos à ação, ao mesmo tempo em que a moldam. Assim, o conjunto de conhecimentos e habilidades
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