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Armando Lúcio Ribeiro ANOTAÇÕES DE PROCESSO PENAL REVISTA, ATUALIZADA E AMPLIADA. 3ª EDIÇÃO O Autor é membro do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte e Professor de Direito Processual Penal da Faculdade de Direito da UERN. Militou na advocacia criminal e, atualmente, é titular da 5ª Promotoria de Justiça de Mossoró, com atribuições no Tribunal do Júri. Desde a 1ª edição da sua obra “Anotações de Processo Penal”, revela que todo o livro foi idealizado e desenvolvido na atividade acadêmica com as necessárias junções na sua atividade prática de Promotor de Justiça. Esta 3ª edição não é diferente: nasceu e se desenvolveu com o ímpeto acadêmico, e tem o condão de servir de acompanhamento para as mudanças trazidas ao Código de Processo Penal Seu conteúdo fortemente didático e com intenso enfoque na parte prática tem a pretensão de servir de consulta breve e direta das novas disposições processuais penais produzidas pelo legislador reformista em suporte às atividades acadêmicas e a atividade forense do cotidiano. Mossoró, Agosto/2015 Dedico: Ao Grande Arquiteto do Universo, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, meu agradecimento primeiro. Aos meus filhos Amanda Cristina Lara Fernanda e Armando Filho. À Presidente do meu coração, Flávia Queiroz APRESENTAÇÃO DA 3ª EDIÇÃO Para a consecução do nosso mister frente às aulas que ministramos na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e o enfrentamento dos processos a cargo da Promotoria de Justiça onde exercemos nossa titularidade, surgiu desde o primeiro dia de aula a idéia de lançarmos o já aprovado livro “Anotações de Processo Penal”. Da ousadia primária, amadureceu o pensamento de que quanto mais debatido um assunto, conquanto possa ser o debate construtivo, não se pode fechar questão em torno de muitos temas. Já tivemos oportunidade de dizer, e continuamos com o mesmo pensamento de que a academia muito nos ensina e, em troca, ficamos sempre receptivos às inovações. Pensando em ensinar, abre-se para o professor um aprendizado contínuo, inclusive no campo operacional a tarefa resta facilitada, daí porque a conclusão de que muito mais se recebe do que se oferece, quando o propósito é o estudo do direito. Com as constantes reformas introduzidas no Código de Processo Penal, partimos para a elaboração dessas “Anotações de Processo Penal”, em sua 3ª edição. O estagiário Rivelino Oliveira colaborou na pesquisa jurisprudencial. Assim, oferecemos aos alunos e leitores mais essas linhas para auxílio à indispensável reflexão em torno do processo penal, não como uma obra perfeita e acabada, porém na forma de uma carta aberta, objetivando deixar nossas impressões acerca dos assuntos enfrentados. Não prevalece o pensamento do Promotor de Justiça, nem se divaga unicamente no campo teórico do academicismo. A pretensão é reunir as duas experiências, fazendo do direito, efetivamente, uma ciência social aplicada, sempre ponderando que essas anotações ficam dispostas às críticas e sugestões, as quais serão sempre bem vindas. Conquanto ainda escassa a literatura em torno das novas modificações, buscamos o apoio de alguns doutrinadores que nos anteciparam em seus comentários, sem descuidar do estudo e das observações dos renomados autores e de uma tentativa de burilar o pensamento com o objetivo de construir o direito processual penal. Este último enfoque deve ser a linha de pensamento de quem se compromete a estudar o direito, mostrando-se um verdadeiro estudante e amante do debate e investigador perpétuo da consistência do direito processual penal. Essa é a nossa proposta, a razão de ser da nossa modesta, conquanto aguerrida pesquisa. Continuamos receptivos aos comentários e sugestões de aperfeiçoamento pelo endereço pjarmando@uol.com.br, afinal e obra não é minha, mas dos leitores. Mossoró, agosto/2015 Armando Lúcio Ribeiro CONTRA CAPA Título da obra: Anotações de Processo Penal Autor: Armando Lúcio Ribeiro, Promotor de Justiça do MPRN e Professor de Direito Processual Penal da Faculdade de Direito da UERN. Resumo: A obra de cunho didático-científico foi elaborada a partir de anotações das aulas ministradas ao longo de quase duas décadas de militância acadêmica e no Ministério Público, e contém comentários aos dispositivos reformados do Código de Processo Penal, em seqüência cronológica, analisando os diversos institutos do processo penal à luz da Constituição Federal e da legislação ordinária correlata. Recheada de comentários e anotações de cada dispositivo alterado ou acrescentado pelo legislador reformista, a obra também brinda o leitor com roteiros práticos e os novos textos legais. Esse trabalho, pela natureza a que se propõe, traz indispensáveis abordagens doutrinárias para uma melhor compreensão da sistemática processual e os novos institutos remodelados com as reformas recentemente introduzidas. Guarda sintonia com programas de cursos de graduação em direito, ao mesmo tempo em traz a lume a experiência do autor em defesa de teses em Congressos Regionais e Nacionais Específicos na área jurídica e de interesse acadêmico e do Ministério Público, sobre diversos temas do Processo Penal. SUMÁRIO 1ª UNIDADE À guisa de introdução I – Princípios do processo penal 1. Princípios como garantias 2. Do processo em geral 2.1 Sistema inquisitivo 2.2 Sistema acusatório 2.3 Sistema misto 2.4 Princípio da territorialidade 2.5 Princípio da aplicação imediata 2.6 Interpretação e fontes da lei processual II – Inquérito Policial 1. Titularidade 2. Persecução Penal 3. Contraditório e ampla defesa 4. Finalidade 5. Formação do inquérito policial 5.1 De ofício 5.2 Por requisição 5.3 Por requerimento 5.4 Notitia criminis inqualificada 5.5 Notitia criminis ex-officio 5.6 Atos imediatos da autoridade policial 5.7 Reprodução simulada 5.8 Procedimento em caso de flagrante 6. Competência 7. Prazos de conclusão 8. Prazos e relatório – aspectos particulares 8.1 Na justiça comum estadual 8.2 Outras situações 8.3 Força maior 8.4 Destino dos objetos apreendidos 8.5 Vícios e características 9. Devolução dos autos pelo Ministério Público 10.Arquivamento e desarquivamento do inquérito 10.1 Legitimidade 10.2 Arquivamento 10.3 Desarquivamento 11.Inquérito e ação penal privada 12.Incomunicabilidade do indiciado preso 13.Circunscrição X jurisdição 14.Estatística criminal III – Ação Penal e Ação Civil 1. Considerações iniciais 2. Ação Penal Pública incondicionada 2.1 Opções do parquet ao receber inquérito policial 2.2 Início da ação penal pública 2.3 Prazo para oferecimento da denúncia 2.4 O que deve conter a denúncia ou a queixa 2.5 Rejeição da denúncia ou queixa 2.6 Natureza do despacho que recebe a denúncia 3. Ação Penal Pública condicionada 3.1 Irretratabilidade da representação 3.2 A retratação da retratação 4. Critério de distinção dos tipos de ação penal 5. Ação Penal nos crimes complexos 6. Ação Penal privada 6.1 Ação Penal exclusivamente privada 6.2 Ação Penal privada subsidiária da pública 6.3 Início da ação e seu conteúdo 6.4 Perempção e queixa X representação 6.5 Manifestação do parquet 6.6 Renúncia da queixa 6.7 Perdão do ofendido 7. Ação Penal nos crimes contra os costumes 7.1 A regra 7.2 As formas qualificadas 8. Desclassificação do crime 9. Ação Penal e Juizado Especial 9.1 A regra 9.2 Ação Penal pública condicionada 10.Reconhecimento de extinção de punibilidade de ofício 10.1 Formas de reconhecimento 10.2 Efeitos da extinção da punibilidade 11.Ação Civil 11.1 Decorrênciada sentença penal condenatória 11.2 Ação civil e valor fixado na sentença penal 11.3 Competência 11.4 A responsabilidade civil independe da criminal 11.5 Extinção da punibilidade e reparação do dano 11.6 Legitimidade para propor a ação civil IV – Jurisdição 1. Noção 2. Princípios que informam a jurisdição 2.1 Princípio do juiz natural 2.2 Princípio da investidura 2.3 Princípio da inevitabilidade 2.4 Princípio do devido processo legal 2.5 Princípio da inércia 3. Aspectos caracterizadores da jurisdição 3.1 Unidade 3.2 Substitutividade 3.3 Definitividade V – Competência 1. Conceito 2. Previsão 2.1 Rationi locci 2.2 Ratione materiae 2.3 Rationi personae 3. Divisão 3.1 Em razão do lugar da infração 3.2 Em razão do domicílio ou residência do réu 3.3 Em razão da natureza da infração 3.4 Em razão da distribuição 3.5 Em razão da conexão ou continência 3.6 Casos de separação dos processos 3.7 Em razão da prevenção 3.8 Em razão da prerrogativa de função VI – Disposições especiais sobre a competência 1. Extraterritorialidade 2. Crimes cometidos em rios, lagos, etc 3. Crimes cometidos em aeronaves 4. Incerteza sobre a competência VII – Das questões e processos incidentes 1. Das questões prejudiciais 1.1 Noção 1.2 Legitimidade 1.3 Atos que podem ser realizados, praos e recursos 2. Das exceções 2.1 Tipos 2.2 Exceção de suspeição 2.3 Exceção de incompetência do juízo 2.4 Exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada 3. Das incompatibilidades e impedimentos 4. Do conflito de competência 5. Da restituição das coisas apreendidas 6. Das medidas assecuratórias 7. Do incidente de falsidade 8. Da insanidade mental do acusado VIII – Provas no Processo Penal Provas em geral 1. Conceituação 1.1 Noção 1.2 Princípios gerais da prova 2. Objeto da prova 3. Classificação 3.1 Quanto ao objeto 3.2 Em razão do seu efeito: 3.3 Quanto à concretude 3.4 Quanto à forma ou aparência 4. Elaboração do convencimento judicial 5. Provas inadmissíveis 6. Ônus da prova 6.1 Equidade e Justiça Universal X Sistema Acusatório. 6.2 Poderes instrutórios do juiz. 7. Das provas ilícitas 8. Princípios da prova Provas em espécie 1. Exame de corpo de delito e perícias em geral 1.1 Realização das perícias 1.2 Apreciação dos laudos periciais 1.3 Exame de Corpo de delito 1.4 Exame Necroscópico ou cadavérico 1.5 Exames complementares à necropsia 1.6 Exame de corpo de delito indireto 1.7 Exame complementar 1.8 Perícias diversas 2. Interrogatório do acusado 2.1 Aspectos gerais 2.2 Conteúdo 2.3 Contraditório no interrogatório 2.4 Elementos auxiliares 2.5 Novo interrogatório 2.6 Aspectos processuais 3. Confissão 3.1 Noção 3.2 Requisitos 3.3 Valor probatório 3.4 Delação 4. O papel da vítima no processo penal 4.1 As declarações do ofendido. 4.2 Valor probatório do depoimento da vítima. 4.3 Histórico da vítima no direito criminal. 4.4 Tendências político-criminais. 4.5 Análise pontual do dispositivo. 5. Testemunhas 5.1 Noção 5.2 Características do depoimento testemunhal 5.3 Dos impedimentos 5.4 Quantidade 5.5 Diligências para inquirição das testemunhas 5.6 Deveres da testemunha 5.7 Formulação das perguntas 5.8 Providências preliminares 5.9 Inconveniências da presença do acusado 5.10 Testemunha faltosa e outros aspectos 5.11 Testemunha e precatória 5.12 Valor probatório 5.13 Outros aspectos da prova testemunhal 6. Reconhecimento de pessoas e coisas 6.1 Breve definição 6.2 Reconhecimento de coisas 6.3 Reconhecimento de pessoas 7. Acareação 8. Documentos 9. Indícios 10.Busca e apreensão Sinopse de provas IX – Sujeitos do Processo Penal 1. Do juiz 2. Do Ministério Público 3. Do acusado e seu defensor 4. Dos assistentes 5. Dos funcionários da justiça 6. Dos peritos e intérpretes 2ª UNIDADE I – Prisão processual 1. Aspectos Preliminares 2. Noção 3. Documentos que legitimam a prisão II - Prisão e Liberdade, conforme a Lei 12.403/2011 1. Requisitos e formas de aplicação 2. Partes legitimadas 3. Contraditório 4. Descumprimento e revogação das medidas cautelares 5. Noção de prisão processual 6. Infrações penais não alcançadas pelas cautelares 7. Uso da força e resistência 8. Conteúdo do mandado de prisão 9. Exceção quanto à exibição do mandado de prisão 10. Central nacional de mandados de prisão 11. Procedimento em caso de perseguição 12. Cumprimento do mandado de prisão 13. Óbices ao cumprimento do mandado de prisão 14. Prisão Especial 14.1. Prisão provisória domiciliar 14.2. Crítica da crítica à prisão especial 15. Reprodução dos mandados de prisão 16. Precauções no atendimento às capturas requisitadas 17. Estabelecimentos prisionais para presos provisórios III - Da prisão em flagrante 1. Legitimidade para executar prisão em flagrante 2. Tipos de flagrante 3. Flagrante em crime permanente 4. Providências imediatas para lavratura do auto 4.1. Legitimidade para lavratura do auto 4.2. Atos do flagrante 4.3. Escrivão da lavratura 4.4. Comunicação da prisão em flagrante 4.5. Flagrante por crime praticado em presença de autoridade ou contra esta 4.6. Inexistência de autoridade policial no lugar onde foi efetuada a prisão 4.7. A expressão “se livrar solto” 4.8. Recebimento do auto de prisão em flagrante 4.9. Tipos de flagrante, quanto à eventual punibilidade 4.10Obrigatoriedade da lavratura do auto de prisão em flagrante IV – Da prisão preventiva 1. Momento e Legitimidade para propor a prisão preventiva 2. Fundamentos ou requisitos da prisão preventiva 3. Condutas criminosas susceptíveis de prisão preventiva 4. Julgamento antecipado no processo penal? 5. Obrigatoriedade de fundamentação 6. Discricionariedade de aplicação incidental da medida 7. Adendo: prisão temporária 7.1. Fundamentos da prisão temporária 7.2. Legitimidade 7.3. Recurso 7.4. Disposições diversas V - Da prisão domiciliar 1. Breve noção da prisão preventiva domiciliar 2. Hipóteses de prisão preventiva domiciliar VI - Das outras medidas cautelares 1. Generalidades 2. Medidas cautelares e detração penal 3. Medidas cautelares em espécie 4. Modos de aplicação da fiança 5. Diligências quanto à proibição de ausentar-se do país 6. Prisão por pronúncia 7. Prisão por sentença condenatória recorrível VII - Da liberdade provisória com ou sem fiança 1. Generalidades 2. Espécies de liberdade provisória 2.1. Obrigatória 2.2. Permitida 2.3. Vedada 3. Liberdade provisória sem fiança 3.1. Desvinculada 3.2. Vinculada 4. Concessão da liberdade provisória a contrario sensu 5. A fiança 5.1. Fiança prestada perante a autoridade policial 5.2. Inafiançabilidade em razão do crime 5.3. Inafiançabilidade em razão da pessoa do acusado 5.4. O valor da fiança 5.5. Efeito vinculante da fiança 5.6. Livro de fiança 5.7. Formas de pagamento da fiança 5.8. Competência para concessão da fiança 5.9. Atuação do Ministério Público 5.10. Momento da prestação (concessão) 5.11. Destinação dos valores 5.12. Cassação da fiança 5.13. Reforço da fiança 5.14. Quebra da fiança 5.15. Perda da fiança 5.16. Execução dos bens 5.17. Liberdade provisória especial (pro misero) Resumo Técnico da Lei 12.403, de 04 de maio de 2011 VIII – Comunicação dos atos processuais 1. Das citações 1.1 Conteúdo do mandado de citação 1.2 Citação por precatória 1.3 Citação por carta de ordem 1.4 Formalidades na execução dos mandados 1.5 Citação do militar 1.6 Citação do funcionário público 1.7 Citação de réu preso 1.8 Citação por edital 1.9 Citação com hora certa 1.10 Formação do processo 1.11 Conteúdo do edital 1.12 Suspensão do processo e citação por edital 1.13 Mitigação do Art. 366 1.14 Disposições diversas sobre as citações 2. Das intimações IX – Da sentença 1. Noção e conteúdo da sentença 1.1 Embargos 1.2 Emendatio libelli 1.3 Mutatio libelli 1.4 Reconhecimento de agravantes genéricas2. Sentença absolutória 3. Sentença condenatória 3.1 Assinatura do juiz 3.2 Publicação e intimação da sentença 3.2.1 Intimação do Ministério Público 3.2.2 Intimações do querelante e do assistente de acusação 3.2.3 Intimações do acusado preso e do acusado solto 3.2.4 Intimação da sentença e coisa julgada 3.2.5 Efeitos da sentença penal condenatória recorrível X – Procedimentos no processo penal 1. Disposições comuns 1.1. Rejeição preliminar 1.2. A resposta do acusado 1.3. Absolvição sumária, em geral 2. O procedimento comum ordinário 2.1 Audiência de instrução e julgamento 2.2 Testemunhas no procedimento comum ordinário 2.3 Diligencias na audiência de instrução e julgamento 2.4 Alegações finais e sentença 2.5 Termo ou ata da audiência 2.6 Roteiro do procedimento comum ordinário 3. Do procedimento relativo aos processos da competência do tribunal do júri 3.1 A nova instrução 3.1.1. Generalidades 3.1.2. audiência de instrução 3.2 Da pronúncia 3.3 Da impronúncia 3.4 Da absolvição sumária 3.4.1. Considerações iniciais 3.4.2. Hipóteses da absolvição sumária 3.4.3. Absolvição imprópria 3.4.4. Recurso contra decisão de absolvição sumária 3.5 Outras considerações na fase de pronúncia 3.5.1 Aditamento na fase de pronúncia 3.5.2 Emendatio Libelli no procedimento do tribunal do júri 3.5.3 Desclassificação 3.5.4 Comunicação da pronúncia 3.6 Da preparação do processo 3.7 Do alistamento dos jurados 3.7.1 Periodicidade e quantidade 3.7.2 Lista geral 3.8 Desaforamento do julgamento 3.8.1 Os motivos, a iniciativa e o pedido 3.8.2 Processamento 3.8.3 Excesso de serviço 3.8.4 Discussão de temas próprios do desaforamento 3.9. Organização da pauta 3.9.1. Critério 3.9.2 Contagem do tempo de prisão 3.9.3 Listagem dos processos em pauta 3.9.4 Quando o julgamento deve ser realizado – prazo 3.9.5 Dias desimpedidos da pauta 3.9.6 Admissão do assistente 3.9.7 Diligências decorrentes da inclusão do processo na pauta 3.10 Sorteio e convocação dos jurados 3.10.1 Audiência especial 3.10.2 Formalidades da audiência especial 3.10.3 Formas de comunicação dos jurados 3.11 Função do jurado 3.11.1 Condições do alistamento e obrigatoriedade do serviço do júri 3.11.2 Pessoas isentas do serviço do júri 3.11.3 Serviço alternativo ao do júri 3.11.4 Prerrogativas do jurado 3.11.5 Deveres do jurado 3.12 Tribunal do júri e conselho de sentença 3.12.1 Impedimentos dos jurados 3.12.2 Impedimentos e instalação da sessão 3.12.3 Julgamento de mais de um processo pelo mesmo conselho de sentença 3.13 Reuniões e sessões do tribunal do júri 3.13.1 Ausência do Ministério Público 3.13.2 Ausência do advogado de defesa 3.13.3 Ausências do acusado, dos advogados do assistente e do querelante 3.13.4 Ausência da testemunha 3.13.5 Outras disposições referentes as testemunhas 3.13.6 O crivo da imprescindibilidade 3.13.7 Conclusão das diligências preliminares em plenário 3.13.8 Instalação dos trabalhos e pregão das partes 3.13.9 Sorteio dos suplentes 3.13.10 Formação do conselho de sentença e esclarecimentos 3.13.11 Recusas peremptórias 3.13.12 Recusas em caso de dois réus 3.13.13 Recusas motivadas 3.13.14 Estouro de urna 3.13.15 O compromisso do conselho de sentença 3.14 Instrução em plenário 3.14.1 Os depoimentos 3.14.2 Interrogatório em plenário 3.14.3 Os registros 3.15 Debates 3.15.1 O ápice da sessão de julgamento 3.15.2 Divisão do tempo 3.15.3 Um cerceamento da argumentação 3.15.4 Prazo máximo para juntada de documentos novos 3.15.5 Aparte técnico 3.15.6 Dissolução anômala do conselho de sentença 3.16 Questionário e votação 3.16.1 Questionário 3.16.2 Ordem dos quesitos 3.16.3 Voto definidor 3.16.4 Leitura dos quesitos 3.16.5 Encaminhamento da votação 3.16.6 Registro da votação 3.17 Sentença 3. 17.1 Sentença condenatória 3.17.2 Sentença absolutória 3.17.3 Desclassificação 3.17.4 Espécies de desclassificação 3.17.5 Efeitos da desclassificação 3.17.6 Leitura e intimação da sentença 3.18 Ata da sessão 3.18.1 Assinaturas 3.18.2 Conteúdo da ata 3.18.3 Falta da ata 3.19 Atribuições do juiz presidente 3.20 Júri federal e foro privilegiado por prerrogativa de função 3.20.1 Júri federal 3.20.2 Foro privilegiado por prerrogativa de função 3.21 Roteiro do novo processo do júri 3.21.1 Instrução preliminar 3.21.2 Preparação do processo para julgamento em plenário 3.21.3 Sessão do tribunal do júri 4. Do processo e do julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos 4.1 Disposições preliminares 4.2 Disposições especiais 4.3 Roteiro 5. Do processo e do julgamento dos crimes de calúnia e injúria, de competência do juiz singular 5.1 Preliminares 5.2 Roteiro 5.3 Notas finais sobre o rito 5.4 Pedido de explicações em juízo 5.5 Exceção da verdade 5.6 Pessoas que gozam de foro por prerrogativa de função 6. Do processo e do julgamento dos crimes contra a propriedade imaterial 7. O procedimento comum sumário 7.1 Audiência de Instrução e Julgamento 7.2 Testemunhas no procedimento comum sumário 7.3 Diferenciação dos procedimentos ordinário e sumário 7.4 Roteiro do Procedimento Comum Sumário. 7.5 Considerações finais 8. O procedimento comum sumaríssimo 9. Do processo de restauração de autos extraviados ou destruídos 3ª UNIDADE I - Nulidades no processo penal 1. Conceito 2. Classificação das nulidades 2.1 Atos inexistentes 2.2 Ato nulo 2.3 Ato anulável 2.4 Atos irregulares 3. Sistema legal 4. Nulidades em espécie 4.1 Nulidades referentes ao juízo 4.2 Nulidades referentes ao juízo especial 4.3 Nulidades referentes à ilegitimidade de parte 4.4 Nulidades referentes à falta de fórmulas ou termos 5. Saneamento, tempo da argüição e efeitos 5.1 Saneamento 5.2 Tempo da argüição 5.3 Nulidades relativas 5.4 Nulidades absolutas 5.5 Efeitos II – Recursos 1. Introdução 1.1 Generalidades – noções conceituais 1.2 Duplo grau de jurisdição Fundamento político do duplo grau Duplo grau no ordenamento jurídico brasileiro Limites à garantia do duplo grau 1.3 Características dos recursos 1.4 Juízo de prelibação dos recursos 1.5 Princípios gerais dos recursos Princípio da disponibilidade Princípio do interesse Princípio da taxatividade Princípio da unirrecorribilidade Princípio da variabildade Princípio da livre forma Princípio da fungibilidade Princípio da dialeticidade Princípio da irrecorribilidade das interlocutórias 1.6 Efeitos 2. Dos recursos em espécie 2.1 Recurso em sentido estrito 2.1.1 Efeitos do recurso em sentido estrito 2.1.2 Prazo para interposição 2.1.3 Formação do instrumento por traslado 2.1.4 Razões e processamento 2.2 Apelação 2.2.1 Noção 2.2.2 Cabimento e prazo 2.2.3 Características 2.2.4 Particularidades em torno da apelação das decisões do júri 2.2.5 Restrições ao direito de apelar em liberdade 2.2.6 Apelação subsidiária do apelo oficial 2.2.7 Apelação plena e limitada 2.2.8 Processamento 2.2.9 Aspectos diversos 2.3 Agravo em execução 2.4 Protesto por novo júri 2.4.1 Generalidades 2.4.2 Processamento 2.4.3 Pluralidade de recursos 2.5 Do processo e do julgamento dos recursos em sentido estrito e das apelações, nos Tribunais de Justiça e embargos infringentes 2.5.1 Regramento dos embargos infringentes e de nulidade 2.5.2 Regramento no processo e julgamento do recurso em sentido estrito e apelação sumária 2.5.3 Regramento no processo e julgamento dos habeas corpus 2.5.4 Regramento no processo e julgamento da apelação ordinária 2.5.5 Outras disposições 2.6 Embargos de declaração 2.7 Revisão criminal 2.7.1 Relativização da coisa julgada 2.7.2 Prazos da revisão criminal 2.7.3 Legitimidade para proposição da revisão criminal 2.7.4 A revisão e seu processamento 2.7.5 Julgamento da revisão criminal 2.7.6 Indenização decorrente da revisão criminal 2.8 Correição parcial 2.9 Recurso extraordinário2.9.1 Noção e pressupostos 2.9.2 Efeitos 2.10 Recurso especial 2.10.1 Hipóteses de cabimento 2.10.2 Legitimidade, prazo e efeitos 2.11 Carta testemunhável 2.11.1 Conceito e cabimento 2.11.2 Processamento 2.12 Habeas corpus 2.12.1 Breves anotações 2.12.2 Habeas corpus: recurso ou ação 2.12.3 Legitimidade e espécies 2.12.4 A coação ilegal e os recursos 2.12.5 Competência e limites 2.12.6 Sujeitos e conteúdo da petição de habeas corpus 2.12.7 Processamento do habeas corpus III – Da execução penal 1. Objetivo e abrangência da Lei das Execuções Penais 2. Pena: conceito e classificação 3. Regimes de cumprimento da pena 3.1 Espécies de regime 3.2 Regime fechado 3.3 Regime semi-aberto 3.4 Regime aberto 3.5 Regime disciplinar diferenciado 3.6 Critérios para fixação do regime inicial do cumprimento da pena 3.7 Fixação do regime inicial 3.8 Guia de Execução Criminal 3.9 Estabelecimentos prisionais 4. Trabalho externo 5. Progressão e regressão de regime 5.1 Progressão de regime 5.2 Regressão de regime 5.3 Incidentes de execução e recurso 6. Autorizações de saída 6.1 Saída de rua 6.2 Saída temporária 6.3 Condições da saída temporária 7. Detração penal e remição 8. Livramento condicional 9. Anistia e indulto 10. Reabilitação 10.1 Considerações gerais 10.2 Conceito e competência 10.3 Requisitos 10.4 Recurso ex-officio e comunicação da reabilitação 10.5 Revogação da reabilitação IV – Das relações jurisdicionais com autoridade estrangeira 1. Considerações gerais 2. Competência 3. Elementos e forma dos documentos 3.1 Juízo rogador nacional 3.2 Juízo rogador estrangeiro 4. Desfecho, prazo e efeitos da extraterritorialidade 4.1 Devolução 4.2 Prazo 5. Outros efeitos da sentença estrangeira 6. Regra para reivindicação dos efeitos civis V – Das disposições gerais ANEXO - ROTEIRO DO PROCESSO NOS JUIZADOS CRIMINAIS BIBLIOGRAFIA 1ª UNIDADE 1ª UNIDADE PROGRAMA I – Princípios do processo penal; II – Inquérito Policial; III – Ação Penal e ação civil; IV – Jurisdição; V – Competência; VI – Disposições especiais sobre a competência VII – Das questões e processos incidentes; VIII – Provas no processo penal; IX – Sujeitos do processo penal. À GUISA DE INTRODUÇÃO Desde que se organizou constitucionalmente, o Estado moderno, tendo substituído a vontade das partes nas soluções dos conflitos, tomou para si o direito de punir, surgindo daí a persecução penal como forma de solução dos conflitos oriundos da lide estabelecida no processo penal. Buscou-se equacionar o direito de liberdade individual, em face da paz social onde predomine a ordem jurídica. O Estado deve exercer o jus puniendi nos limites da legalidade, por isso a necessidade do estudo do processo penal. Confundem-se, neste particular, o Direito Processual e o jus puniendi, que, na concepção de José Frederico Marques, pode ser definido como “o direito que tem o estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica”. I - PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL 1. PRINCÍPIOS COMO GARANTIA Os princípios servem de dogmas que alicerçam as garantias de um processo penal mais justo e que visa a apurar a verdade real – objeto da persecução penal do Estado. Os princípios, por seu turno, têm estreita correlação com o conteúdo das normas jurídicas, sendo concludente o pensamento de que “a essência de um princípio, no campo do Direito, é fornecer uma diretiva jurídica para que se aplique corretamente a norma positiva. Em conseqüência, ele não possui uma normatividade própria que implique em se tornar possível a sua aplicação imediata e autônoma”.1 Nenhum princípio informativo do direito, o que equivale a dizer, nenhum direito pode existir ou mesmo ser exercido sem se levar em consideração outros princípios ou direitos contrapostos. Nesse sentido, a abalizada lição doutrinária2 sugere que o intérprete busque equilíbrio nas disposições principiológicas: Não se pode olvidar o chamado princípio da proporcionalidade como imprescindível instrumento de interpretação integradora dos princípios e regras constitucionais e, sobretudo, como elemento dinâmico de resolução de inevitáveis conflitos normativos que se albergam no seio da própria constituição. 1 José Augusto Delgado, A supremacia dos princípios das garantias processuais do cidadão. Revista de Informação Legislativa. Brasília. Senado Federal, n. 123, jul/set. 1994, p. 39, Apud Sérgio Luiz de Souza Araújo, in Teoria Geral do Processo Penal, p. 179. 2 Paulo Afonso Linhares. Direitos Fundamentais e Qualidade de Vida, p. 182 A ciência do direito é trabalhada em torno de um ordenamento que pressupõe a existência de um padrão normativo informado pelos diversos “direitos”, e, postos todos como princípios que informam e consubstanciam o ordenamento, torna-se inconcebível a prevalência de uns em detrimento de outros. A ordem jurídica, portanto, reclama, para sua perfectibilização, o concurso de todos os direitos, e quanto mais perfeita a integração desses direitos, maior o grau de organização do sistema jurídico. Existem em nosso sistema, dentre outros, os seguintes princípios a informar o processo penal: a) Princípio da ampla defesa - garantia fundamental no enunciado do Art. 5º, LV, in verbis: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Estamos, pois, firmados em que a ampla defesa é uma garantia, e o princípio do enunciado constitucional informa, de modo iniludível, o caminho a ser trilhado. É um princípio constitucional, portanto garantidor da diretriz de ordem mundial, que, antes mesmo de São José da Costa Rica, já tinha como pressuposto a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. CAPEZ3 afirma categoricamente que o princípio da ampla defesa implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor) (CF, Art. 5º, LV), e o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (CF, Art. 5º, LXXIV). Não há restrição ao momento desse dever, donde se conclui que a ele fica obrigado o Estado, enquanto durarem o processo e sua execução, e mesmo nos processos administrativos, apagando a pálida impressão de que a ampla defesa fica adstrita ao que se convencionou chamar instrução criminal strictu sensu. A ampla defesa necessita ser exercida em todo momento em que haja alguma atividade a alterar o status quo ante, em uma relação processual, desde o momento em que alguém passa a ser incriminado, até onde se espraiem os efeitos da submissão de uma pessoa ao crivo de um processo penal. Essa efetividade da ampla defesa é atingida por intermédio do que se denomina princípio do contraditório, em que, a cada argumentação acusatória, a defesa tem de assistir-lhe a oportunidade de contrapô-la. No processo penal, mais do que em qualquer outro, e em razão do tema tratado – a liberdade humana, a efetivação da ampla defesa importa salutar providência, sem a qual vem o processo a padecer de nulidade. b) Princípio do estado de inocência (NÃO CULPABILIDADE) – alicerça-se na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, segundo a qual toda pessoa se presume inocente até que tenha sido declarada culpada. A nossa Constituição Federal não presume a inocência, mas declara que “ninguém será considerado culpado até o trânsito 3 Fernando Capez, Curso de Processo Penal, p. 20. em julgado de sentença penal condenatória” (artigo 5º, LVII), ou seja, que o acusado é inocente durante o desenvolvimentodo processo, e seu estado só se modifica por uma sentença final que o declare culpado, tanto é que lhe basta, para absolvição, a dúvida a respeito da culpa (in dubio pro reo). Diante do dispositivo constitucional, ficaram evidentemente revogados os artigos 393, II e 408, § 1º, do Código de Processo Penal, no que diz à inscrição do nome do réu no rol dos culpados, em decorrência de sentença condenatória recorrível ou pronúncia, respectivamente. c) Princípio do contraditório – é considerado o princípio mais importante no âmbito do processo penal, sendo a garantia constitucional que assegura a ampla defesa ao acusado (Art. 5º, LV), na medida em que este goza do direito de defesa, sem restrições, num processo em que deve estar assegurada a igualdade das partes. Desse princípio, decorre a igualdade processual, ou seja, a igualdade de direito entre as partes acusadora e acusada, que se encontram no mesmo plano. d) Princípio da verdade real – aqui se procura estabelecer a punição daquele que praticou a infração penal, nos exatos limites de sua culpa. Por este verdadeiro dogma do processo penal, se exclui a verdade formal, não se admitindo presunções e meros indícios desacompanhados de outras provas, tão comuns no processo civil. Decorre, desse princípio, o dever do juiz de dar seguimento à relação processual, quando da inércia da parte, e mesmo determinar, ex officio, provas necessárias à instrução do processo, a fim de que possa, tanto quanto possível, descobrir a verdade dos fatos objeto da ação penal intentada. Em tema criminal, a busca da verdade real é tida como objetivo de tal forma perseguido, que se pune mesmo a auto- acusação falsa, ao mesmo tempo em que o processo contra acusado citado por edital, que não comparece nem constitui defensor, aí aparecendo a figura da citação ficta, fica suspenso, e somente podem ser realizados atos probatórios e de instrução reputados como urgentes. A busca da verdade real, ao mesmo tempo em que aproveita ao coletivo que reclama o restabelecimento da ordem, também respeita àquele inculpado, colocando-o a salvo de situações pelas quais que não deva ser responsabilizado. Esse desiderato somente poderá ser atingido, proporcionando-se ao acusado meios e recursos para o exercício de sua ampla defesa. Pode-se dizer, então, que esses princípios, ampla defesa e verdade real, uns dos que regem o processo penal, têm a tendência de tornar a persecução penal, a espécie de processo mais justo, conquanto não se busca outra verdade que não aquela que melhor demonstre a realidade. Dione Prado Stamato, abordando a correção do comportamento das partes no processo, leciona: A tendência à verdade, ademais de um dado psicológico e gnosiológico, é um princípio ético, uma exigência moral. Tem-se não só o dever de procurar a verdade, na medida em que atingível, mas também o de respeitá-la e de a ela conformar a conduta... No conflito entre o valor representado pela verificação plena dos fatos e o valor da tutela dos direitos fundamentais do indivíduo, a opção de um ordenamento liberal moderno deve por certo recair no segundo: mas essa conseqüência não eqüivale a um direito genérico ao silêncio, ou talvez à mentira, mas somente ao direito de não se auto incriminar. Fora desse campo, prevalece o dever da verdade e de colaboração com a Justiça.4 Tourinho Filho enfatiza: A função punitiva do Estado, preleciona Fenech, só pode fazer-se valer em rente àquele que, realmente, tenha cometido uma infração; portanto, o processo penal deve tender à averiguação e descobrimento da verdade real, da verdade material, como fundamento da sentença.5 Com efeito, constituindo a meta do processo penal a busca da verdade real, temos que, diante de uma acusação formulada, assiste seja o acusado ouvido, porquanto a verdade que indica o norte do provimento jurisdicional a ser extraído do processo, somente neste poderá surgir, se nele praticado um diálogo entre as partes – o contraditório –, o que, no dizer de Carnelutti, “somente germinando a dúvida, é possível que germine o Juízo”. Em sede de processo penal, onde não subsiste a denominada hierarquia das provas, a confissão, mesmo recebendo a denominação de regina probationum (rainha das provas), não tem seu valor erigido à total significância, se desacompanhada de outros elementos que lhe dêem credibilidade. Evidentemente, o processo moderno que faculta ao incriminado o direito à auto-defesa. Às palavras do acusado, com certeza, deve ser dado um crédito de confiança; contudo a administração de um aparente conflito entre os princípios da verdade real e da ampla defesa não pode esquecer que não são raras no âmbito penal, confissões feitas por aqueles que não têm nenhuma relação com o delito e que, por motivos diversos, tentam assumir a culpa do real criminoso. Se o acusado declara ter praticado um delito sem que, no entanto, a tenha perpetrado, incide no tipo penal do artigo 341 do Código Penal, que preceitua: Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa. 4 Dione Prado Stamato, Veridicidade e completitude. p. 173-195. 5 Fernando da Costa TOURINHO FILHO, Processo Penal, p. 56 Diante de toda essa preocupação do legislador, temos que a verdade real, a par de se constituir em um princípio a nortear o processo penal, quando se tem a conjugação deste com o princípio da ampla defesa, surge, com maior exuberância, o exato sentido da finalidade do processo, do qual brota o contraditório. Como observa Fernando de Almeida Pedroso6, “Se apenas ao órgão estatal acusatório fosse permitido deduzir os fatos e provas sobre os quais almeja a incidência de conseqüências jurídico-penais, ao Estado – Juiz só restaria homologar a única proposição emergente (analogicamente: testis unus, testis nullus)”. Dessa correlação, do debate que somente a existência da ampla defesa pode proporcionar – o contraditório - , surgirá a corporificação da verdade real. No dizer de Carnelutti7, faz-se necessário que “uma pedra se choque contra a outra, a fim de que salte a centelha da verdade”. Daí porque se tem por certo que, somente com a efetivação da ampla defesa, o fim do processo, a verdade real será alcançada em sua plenitude. e) Princípio da oralidade – as declarações são dadas perante os juízes e tribunais, só possuindo eficácia, porém, quando formuladas através da palavra oral, (ressalvadas exceções que adiante serão analisadas), sendo tomados os depoimentos por termo. Como conseqüência desse princípio, se compreende a necessidade de concentração, que consiste em realizar-se todo o julgamento em uma ou em poucas audiências. f) Princípio da publicidade – é uma garantia para o indivíduo e para a própria sociedade, decorrente do princípio democrático, que se contrapõe ao procedimento secreto, característica de Estados totalitários. Vigora, na Carta Constitucional, que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou interesse social o exigirem”. No mesmo sentido, dispõe que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes”. g) Princípio da obrigatoriedade – este princípio visa a impedir que os delitos não fiquem impunes, o que torna obrigatória a ação penal pública. No momento em que ocorre a infração penal, é de mister que o Estado promova, obrigatoriamente, o jus puniendi, sem que se concedam aos órgãosencarregados da persecução penal, poderes discricionários para apreciar a conveniência ou oportunidade de apresentar sua pretensão punitiva ao Estado-Juiz. No moderno processo penal não podemos abstrair institutos como os da transação penal e da suspensão condiconal do processo, trazidos pela Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais). Com efeito, os novéis instrumentos reduzem a força do princípio da obrigatoriedade, justamente 6 op. cit. pág. 30 7 Apud Roberto Joacir Grassi, Ação privada subsisidária, RT 507/285 para a busca de novas ferramentas que acelerem e otimizem o processo. Como tem ponderado a doutrina8: Para exercer uma espécie de freio ao Direito Penal, os institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão condicional do processo, devem então ser ponderados como instrumentos de anseios garantistas, servindo antes como controle da expectativa de máxima intervenção e como moderador dos estigmas da Justiça Penal do que como instrumento de eficácia e de distribuição de penas. A mitigação do princípio da obrigatoriedade, que alguns entendem presente, como é o caso das situações afetas aos Juizados Especiais Criminais, submete-se, contudo, ao rígido controle da legalidade (hipóteses previstas em lei) e à fundamentação que deve ser dada à quebra do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública. h) Princípio da oficialidade - este princípio estabelece que os órgãos encarregados de deduzir a pretensão punitiva sejam órgãos oficiais. Em nosso país, em termos constitucionais, a apuração das infrações é feita, em regra, pela polícia judiciária; a ação penal pública é promovida, privativamente, pelo Ministério Público, e o julgamento pelo Poder Judiciário. i) Princípio da indisponibilidade do processo – este princípio é decorrência da obrigatoriedade do processo que, uma vez instaurado, não pode ser paralisado por conveniência da parte pública. O próprio Código de Processo Penal proíbe que o Ministério Público desista da ação penal já instaurada, tanto quanto dos recursos por ele interpostos. j) Princípio do juiz natural – este princípio também é denominado princípio do juiz constitucional, ou seja, de que o autor do ilícito só pode ser processado e julgado perante o órgão a que a Constituição Federal, implícita ou explicitamente, atribui a competência para o julgamento. A Constituição é clara em seu artigo 5º, inciso LIII, “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. Juízos e Tribunais de exceção estão proscritos, sendo o princípio do juiz natural uma garantia tanto para o cidadão quanto para o regime democrático. O mesmo pode ser dito em relação ao princípio do Promotor natural, firmando-se a segurança jurídica também em relação ao órgão privativo para intentar a ação penal pública. k) Princípio do devido processo legal Assegura Grinover, que a defesa é mais que um direito, chegando mesmo a “constituir uma garantia – garantia do acusado, de um lado, e garantia do justo processo, do outro”. A festejada autora, arremata sobre a defesa: 8 Olegário Gurgel Ferreira Gomes. Justiça Juvenil, p. 159 No processo moderno adquire relevância o perfil objetivo da defesa, como ofício essencialmente social: defesa, portanto, como condição de regularidade do procedimento, na ótica do interesse público à atuação do contraditório, defesa, em última análise, legitimante da própria jurisdição.9 Sua referência positivada encontra-se no Art. 5º, LIV, da Constituição Federal. Sua origem remonta à Carta Magna de 1215, em que se estabelecia a garantia de que a aplicação de sanção só poderia ser efetuada de acordo com a lei da terra (by the law of the land). Inegável a necessidade de que o Estado, acercando-se do jus puniendi, encaminhe soluções apontando que, diante de um ilícito penal cometido, a imposição da pena, enquanto medida de caráter sancionatório, seja uma conseqüência jurídica para tal comportamento. É necessária, contudo, a existência de um elo entre a infração e a aplicação da pena. Essa necessidade é atendida pelo devido processo legal, instituído de forma anterior ao cometimento do delito, e em que a defesa atua em sua plenitude, objetivando anular, ou mesmo atenuar, a pretensão punitiva estatal. l) Princípio da razoabilidade da duração do processo: conforme acentuado pelo magistral Paulo Rangel,10 a Emenda Constitucional nº 45 (que pretendeu operar uma reforma no judiciário), acrescentou um novo inciso ao já extenso rol do Art. 5º, da CF11. Com efeito, nos Artigos 800 e 801, das disposições gerais do CPP, há estipulação de alguns prazos em que o juiz deve se manifestar, sob pena de receber sanções. Os dispositivos processuais, no entanto, não se mostraram suficientes para o desiderato de um processo mais ágil, daí o motivo do legislador reformista em elevar à categoria de princípio constitucional, a razoabilidade da duração do processo. Por isso mesmo, o eminente Ministro José Augusto Delgado12 já há algum tempo tem se pronunciado assim: “Não se quer a justiça do amanhã. Quer-se a justiça de hoje. Logo, a presteza da resposta jurisdicional pleiteada contém-se no próprio conceito do direito-garantia que a jurisdição representa...” m) Princípio da proibição da prova ilícita: o enunciado do Art. 5º, LVI da CF/88, estabelece que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícitos”. Sem dúvida, tal disposição situa-se entre as garantias do cidadão, que devem ser preservada no processo. Nos últimos tempos, procurando uma adequação entre a finalidade do processo e o estabelecimento de uma equação que preserve direitos do cidadão, individualmente, e da sociedade enquanto ente coletivo, são erigidos à 9 Ada Pellegrini GRINOVER, As Garantias Constitucionais do Processo, Novas Tendências do Direito Processual, p. 8. 10 Direito Processual Penal, p. 44. 11 LXXVIII. A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 12 José Augusto Delgado, Processo no Séc. XXI, p. 11. categoria de princípios, a proporcionalidade e a razoabilidade, em ordem a mitigar a proibição da prova ilícita. Cumpre destacar, prima facie, que tal enunciado de proibição já não se propunha como de caráter absoluto, quando se tratasse de argumento defensivo. Busca-se, deste modo, verificar tanto a extensão da lesão primária quanto a proporcionalidade dos efeitos que sua utilização possa trazer como benefício ao meio social. Seria razoável, para garantir um único indivíduo, deixar ao desamparo toda uma coletividade? José Herval Sampaio Júnior13 nos ensina: Existem situações, em todas as espécies de processo, na qual dependendo das circunstâncias específicas, se aceita o uso de provas obtidas “ilicitamente”, desde que o escopo seja razoável e se procure proteger também direitos fundamentais. Entre nós, proporcionalidade e razoabilidade enquanto princípios informadores do direito, buscam proteger a mesma escala de valores, com base no bom senso e equidade, e por isso se confundem. Como já observado e anotado pela doutrina14: A tradição doutrinária e jurisprudencial brasileira, com acerto, não procura distinguir a noção de proporcionalidade, própria do direito alemão, do juízo de razoabilidade, típico do pensamento jurídico norte-americano. Existem, ainda, outros princípios utilizados no processo penal: princípio da iniciativa das partes e do impulso oficial, princípio da economia processual, do duplo grau de jurisdição, princípio do in dubio pro reo, dentre outros. 2. Do processo em geral Abordar o processo penal exigeuma preliminar análise do sistema processual praticado em determinado lugar, situando-o no momento histórico. Sistema processual, como bem define Paulo Rangel15, é o conjunto de princípios e regras constitucionais, de acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as diretrizes a serem seguidas para a aplicação do direito penal a cada caso concreto. Sem pretensão de apontar o melhor deles, ou fechar questão sobre aquele vigente no nosso ordenamento jurídico, pois a leitura, a compreensão e a convivência com o tema se encarregarão da formação desse juízo, aponta-se a existência de três sistemas processuais para efetivação do direito 13 José Herval Sampaio Júnior, Processo Constitucional – Nova concepção de jurisdição, p. 151. 14 Olavo Hamilton. Princípio da Proporcionalidade, 34 15 Paulo Rangel, Direito Processual Penal, p. 49. criminal16: o sistema inquisitivo; o acusatório; e o misto, também conhecido como acusatório formal. O que não se pode é abdicar de pensar, ficando-se a reboque da jurisprudência mais dominante, nem sempre tão pensada, e que, ainda assim, aplica-se a um caso em concreto, com aspectos particulares, isto é, somente aquele procedimento em que surge a oportunidade do pronunciamento. Não é raro juristas pensarem como pensam os tribunais, para que o sucesso da causa patrocinada, a fundamentação do parecer ou decisão judicial, sejam mantidos e reconhecidos, caso haja recurso. Como anotado por Lênio Streck17: Cada vez mais os juristas ficam à mercê de decisões tribunalícias, como a dar razão ou repristinar as velhas teses do realismo jurídico, pelas quais o direito se realiza na decisão, forma acabada de um positivismo que, buscando superar o exegetismo, abriu, historicamente, o caminho para as discricionariedades e decisionismos. 2.1 Sistema inquisitivo Sem contar o tempo em que se praticava a vingança privada, em que, quando alcançado o autor da infração, no que se poderia conceber como esboço de processo, havia total sujeição à vontade da vítima ou seus representantes, se conhece o primitivo sistema inquisitivo, surgido concomitantemente ao momento em que, substituindo-se aos arbítrios das partes, o Estado trouxe para si o direito de punir, o jus puniendi. Vislumbra-se, nesse primeiro momento, meramente uma substituição da vontade arbitrária, a da parte pelo Estado, que passa a concentrar as funções de julgar e acusar em uma única pessoa. As garantias hoje existentes eram inconcebíveis, e as possibilidades de defesa que eventualmente ocorriam se constituíam liberalidades a depender da discricionariedade do julgador/acusador. Próprio dos regimes ditatoriais, custa até assemelhar tal sistema ao atual inquérito policial, porquanto o vigente modelo de investigação policial se sujeita ao controle da legalidade. 2.2 Sistema acusatório Com o advento do Estado democrático de direito, passou-se a adotar o sistema acusatório, tanto mais aperfeiçoado quanto maiores as garantias individuais e processuais. A imparcialidade do julgador, que não mais acumula a de acusador, é a tônica. O processo penal é concebido como ato de três personagens (actum trium personarumI), representado pelas figuras do juiz, autor e réu. Funda-se em princípios, progressivamente, assecuratórios do processo e da defesa. Não é um sistema, desde seu nascedouro, inflexível e que dispense aperfeiçoamentos e, por isso mesmo, como não se pode afirmar 16 Usamos a nomenclatura “Direito Criminal”, designando os conteúdos, e conceitos doutrinários referentes à matéria criminal, em geral, em nossa compreensão o Direito Penal, Direito Processual Penal e o Processo Penal Constitucional. 17 Lênio Luiz Streck. Jurisdição Constitucinal e decisão jurídica, p. 59. a existência de democracia plena, não há modelo de sistema acusatório puro. Embora possa se dizer que nosso sistema adota o modelo acusatório, por ênfase na distinção dos órgãos julgadores e acusadores, essa formatação somente ganhou plenitude com a atual Carta Magna de 1988. Até sua promulgação, convivíamos com a chamada persecução penal in judicium, em que determinadas ações penais eram deflagradas ex officio pela autoridade judiciária. As garantias do sistema acusatório não pararam de surgir com a CF/88, basta ver a leitura da Emenda Constitucional nº 45, para se vislumbrar outro princípio a informar o sistema, que é o da razoabilidade da duração do processo. Assim, o sistema acusatório é, acima de tudo, um sistema em constante aperfeiçoamento, sobressaindo o Estado-juiz como ente imparcial, cujo originário direito de punir se correlaciona com a incessante busca da verdade real, tendo por veículo o devido processo legal. 2.3 Sistema misto Espécie eclética, com forte tendência de utilização de elementos dos dois sistemas anteriores, é o sistema misto. Há duas tendências distintas para sua concepção: a que o compreende como um juizado de instrução, com fase de instrução preliminar e fase de instrução propriamente dita, ambas presididas por um juiz, destacando-se apenas as funções autônomas de um órgão acusador na segunda fase; a outra tendência elabora-o como sendo a por nós vivenciada, ressaltando a primeira fase de investigação baseada nos princípios regentes do sistema inquisitivo, e a segunda o sistema acusatório puro, fundada nas garantias próprias do sistema acusatório. No dizer de Nucci18, “Essa junção do ideal (CF) com o real (CPP) evidencia o sistema misto”. Seria custoso admitir que o nosso ordenamento jurídico adota os dois sistemas (inquisitivo e acusatório), conforme a fase da persecução penal? 2.4 Princípio da territorialidade Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); III - os processos da competência da Justiça Militar; 18 Guilherme de Souza Nucci, Manual de Processo e Execução Penal, p. 100. IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, Art. 122, no 17); V - os processos por crimes de imprensa. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. O Código de Processo Penal é inaugurado com o princípio da territorialidade, delimitando, espacialmente, a aplicação da lei processual penal brasileira, coroando sua soberania em toda extensão do território pátrio, abrangendo os locais assim considerados, v. g. as disposições dos artigos 89 e 90. As ressalvas são postas no mesmo dispositivo, não mitigando, todavia, a soberania em razão de que os tratados, convenções e regras do direito internacional dos quais o Brasil é signatário integram o nosso ordenamento jurídico, igualmente integrando-o a legislação extravagante que dita regras processuais próprias, permanecendo incólume o império da legislação nacional. Restrição única nos parece acontecer somente pela novel disposição contida no Art. 5º, § 4º, CF/88, introduzida pela EC/45 a qual prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja manifestação tenha manifestado adesão”, contudo a moderna era da globalização exige flexibilização deste quadrante para um melhor enfrentamento mundial dos crimes com repercussão além-fronteiras, implicando em tendência e esforço conjunto para preservação de interesses supra nacionais.Quanto aos processos por crimes de imprensa faz-se necessário averiguar o conteúdo da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF nº 130, julgada pelo Supremo Tribunal Federal em 30.4.2009: EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA “LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA”, EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A “PLENA” LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA. PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 2.5 Princípio da aplicação imediata Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. A lei processual penal adota o princípio tempus regit actum, que implica em conferir imediato efeito à norma processual estabelecida em relação aos atos atuais e futuros do processo em trâmite, sem deixar de conferir validade aos atos praticados de conformidade com a lei anterior. O escopo de tal determinação deriva do pensamento de que, sendo o direito um edifício em permanente construção, a nova lei apenas aperfeiçoa os institutos jurídicos, seja por imprimir maior agilidade e adequação, ou por estabelecer mecanismos de maior eficiência aos fins do processo. Tem-se apontado como exceção a esta regra, aplicando-se a lei revogada, o transcurso do prazo que já tenha se iniciado sob a vigência da lei anterior, e em outras situações para beneficiar o acusado em que se denote intercessão com normas processuais de natureza material. 2.6Interpretação e fontes da lei processual Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. A significação de uma lei não é encontrada na consciência do legislador, mas na do operador do direito. Fosse diferente, não haveria necessidade do elemento humano, único capaz de compreender, interpretar e formular juízo crítico, para aplica-la ao direito, daí dizer-se deste uma ciência social aplicada. Um programa de computador, elaborado segundo a concepção de quem produziu a norma resolveria todos os questionamentos de ordem jurídica. Felizmente não é assim, mas o texto da lei requer atenção e busca do seu espírito, nem sempre exposto às claras ou desvendado em primeiro momento. Surge, então, o que nos parece ser o sistema de interpretação mais completo, o teleológico-sistemático, também conhecido por contextual, consistente em imprimir o sentido da norma em apreciação, em cotejo com as demais disposições legais vigentes, pois nenhuma norma existe de forma isolada, mas integrante de um sistema que se denomina ordenamento jurídico. Fora desses parâmetros instala-se uma interpretação casuística ou, no mínimo, sem compromisso com as forças que compõem a sociedade, quiçá reveladora de preguiça mental para o enfrentamento da questão posta. A fonte, por excelência, do direito processual penal, é a lei federal ordinária. A norma constitucional não pode ser esquecida, aliás, deve mesmo toda a legislação ordinária, até pela questão da hierarquia, com ela guardar perfeita sintonia, sob pena de perecimento, por inconstitucionalidade. Nesse aspecto forte é a corrente a defender, como matéria autônoma, um processo penal constitucional, até do ponto de vista acadêmico, a fim de incutir e formar uma consciência sólida em torno do tema. O direito, em geral, possui fontes múltiplas, e a lei processual penal não destoa de tal regra, admitindo a aplicação da analogia e dos princípios gerais do direito. Aquela vista como complemento de expressões normativas abertas; estes como elementos que excedem até mesmo o arcabouço constitucional, situando-se na condição de postulados éticos. II - INQUÉRITO POLICIAL 1 TITULARIDADE Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. (Redação dada pela Lei 9.043, de 9.5.1995). Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. Em geral, a ação penal é oferecida com lastro no Inquérito Policial, cuja presidência está sob o encargo, em regra, da Polícia Judiciária (Art. 4º do CPP). Tal atuação das autoridades policiais se verifica no território de suas respectivas circunscrições (Lei 9043/95). Nada impede, contudo, que a persecução penal possa ser exercida diretamente pelo Ministério Público, desde que disponha de elementos suficientes. Basta ver a disposição do parágrafo único, do Art. 4º, CPP, para se conferir exceção à regra estabelecida no caput. Aliás, o STJ assim já se pronunciou: “A legitimidade do Ministério Público para conduzir diligências investigatórias decorre de expressa previsão constitucional, oportunamente regulada pela Lei Complementar nº 75/93. É consectário lógico da própria função do órgão ministerial – titular exclusiva da ação penal pública – proceder à coleta de elementos de convicção, a fim de viabilizar a realização adequada da opinio delicti”.19 Em julgamento acontecido em 14.5.2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a legitimidade do Ministério Público (MP) quanto a promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, e fixou os parâmetros da atuação do MP. Por maioria, o Plenário negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 593727, comrepercussão geral reconhecida. Com isso, a decisão tomada pela Corte será aplicada aos processos sobrestados nas demais instâncias, sobre o mesmo tema. Aliás, um fato que o parágrafo único do Art. 4º, CPP, já prevê, desde 1941, ganha uma imensa repercussão nos últimos tempos, nada menos do que pelo avanço fenomenal do Ministério Público brasileiro atual, como sejam estrutura e pessoal capazes de investigar as mais urdidas imbricações criminosas. As defesas apostam na produção de argumentos e doutrinações tendentes à criação de obstáculos ao trabalho do Ministério Público, enquanto associações e órgãos ligados à polícia judiciária, por motivos os mais diversos, engrossam as fileiras contrárias ao entendimento ministerial. Uma certeza se destaca, e que são os grupos que perdem ou ganham com a 19 STJ – HC 35.484. Rel. Min. Laurita Vaz. T5. DJU 01.10.2005, p. 291. eventual proibição de o Ministério Público investigar: a sociedade e os criminosos, respectivamente. Conquanto a decisão do STF que comentamos, em linhas anteriores, justamente pela inexistência prática da súmula impeditiva de recurso, os questionamentos recursais quanto ao fato não arrefecem e, certamente, outras decisões deverão ser proferidas pela Excelsa Corte. Rogério Greco20 assim se posiciona: Enquanto os pobres e miseráveis estavam sendo processados, como ainda estão até hoje, ninguém nunca se incomodou, nunca se preocupou se o Ministério Público estava à frente de alguma investigação. No entanto, a partir do momento em que pessoas tidas como “ilustres” foram começando a ser desmascaradas pelo Ministério Público, e seus nomes começaram a figurar nas páginas dos cadernos policiais dos jornais de maior circulação no país, divulgados em todos os canais de TV, pelas rádios, enfim, quando se começou a punir, efetivamente, ricos e pobres, já não cabia mais ao Ministério Público esse poder de investigar. Nada obstante um certo movimento pugnando pela invalidade dos atos praticados por policial militar, ou qualquer outro funcionário que não seja da “carreira”, investido da função de polícia judiciária, entendemos pela sua admissibilidade, desde que autorizados por instrumento legal para esse exercício, pelo chefe do executivo. Como as polícias estaduais podem se ressentir de funcionários para o desempenho dessas funções (delegados de polícia), o responsável por sua manutenção, no caso, os governadores, excepcionalmente, podem proceder a nomeação, muito embora não seja o ideal. PROCESSUAL PENAL – FLAGRANTE – LAVRATURA – POLICIAL MILITAR INVESTIDO NA FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA – NULIDADE – INEXISTÊNCIA – INTERPRETAÇÃO DO ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPP – 1 – Se o flagrante foi lavrado por policial militar, legítima e legalmente investido na função de polícia judiciária, consoante o parágrafo único, do Art. 4º do CPP, não há falar em nulidade daquele ato. 2 – Ordem denegada. (STJ – HC 17137 – TO – 6ª T. – Rel. Min. Fernando Gonçalves – DJU 24.06.2002) 2 PERSECUÇÃO PENAL É a atividade investigatória de que dispõe o Estado, tendo em vista a sua pretensão punitiva. Divide-se em duas partes: o Inquérito Policial e a Ação Penal. Ambos se sujeitam ao controle de legalidade, o primeiro porque, por meio dele, é formada a opinio delicti, e esta por redundar no devido processo legal. Há quem aponte a persecução penal estabelecida, inclusive na execução penal, em que podemos observar que assiste razão a tal 20 Rogério Greco. Atividade Policial – Aspectos penais, processuais penais, administrativos e constitucionais, p. 97/98. pensamento, pois a persecução penal nada mais é do que o legítimo interesse-dever do Estado e, nesse contexto, não há como abstrair a execução da sentença penal condenatória como interesse do detentor do jus puniendi. 3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA Por se tratar de procedimento administrativo, é inexigível que se estabeleça nesta fase o princípio do contraditório, dada sua natureza inquisitiva. O mesmo, contudo, não se pode dizer do princípio da ampla defesa, no Inquérito Policial. O enunciado constitucional é garantidor da ampla defesa em processo judicial ou administrativo. Estabelece, também, que essa garantia é extensiva aos “acusados em geral”. Convém anotar que, na esfera policial, conquanto mero procedimento a ensejar um juízo de probabilidade e informação para oferecimento da denúncia, não se pode deixar de reconhecer o fato de que, nesta pós-modernidade em que se encontra o processo penal, o princípio da ampla defesa é exigível nesta fase, evidentemente que com os meios e recursos inerentes ao procedimento, como já é do próprio corpo do texto constitucional garantidor de sua aplicação. Tem-se, portanto, que qualquer que seja a fase ou instância do processo penal, e a persecução inclui o Inquérito Policial, e mesmo na execução da pena, há que ser observado o princípio, sob pena de nulidade. Essa tendência de fazer fluir a ampla defesa em todos os momentos da persecutio criminis deve merecer aplauso, elogio e até mesmo defesa dessa nova ordem, uma vez que não se pretende a reedição de procedimentos inquisitoriais escusos, e razão não assiste em privar os indiciados – compreendendo a expressão consignada no texto constitucional de “acusados em geral” -, de uma garantia constitucional. A atividade persecutória do Estado em relação ao crime em nada fica prejudicada com a presença da defesa, pelo contrário, ela robustece a prova produzida. Ordenamentos mais adiantados, e cujo processo penal tem demonstrado comprovada eficácia, já consagram a existência da ampla defesa na fase de investigação, como na Itália, cuja Constituição menciona, em seu Art. 24, § 1º, ser a defesa direito inviolável em todo estado e grau do procedimento. Quanto ao entendimento dessa abordagem, no sentido de que deve a defesa ser assegurada, na sua forma mais ampla, desde a fase policial, trazemos à lume a lição de Rogério Tucci: Assistência de advogado não só ao preso, como indiciado, durante o desenrolar da informatio delicti, não significa assistência passiva, de mero espectador dos atos praticados pela autoridade policial e seus agentes, mas, sim, assistência técnica, na acepção jurídica do termo, qual seja a de atuação profissional de advogado. 21 Dizer da inaplicabilidade do princípio da ampla defesa no Inquérito Policial, porque a instrução do procedimento inquisitivo não tem como destinatário principal o Juiz, mas o Representante do Ministério Público, a quem está reservado o exercício da ação penal, data venia as ilustradas opiniões em contrário, é minimizar, e até mesmo esquecer o alcance de tão grande conquista humanística no processo penal. Princípio cujas raízes estão fincadas no direito natural, a ampla defesa deve existir mesmo que nem sequer procedimento esteja instaurado, ainda mais em havendo existência da informatio delicti, pois seu objetivo, neste momento, é justamente, coibir abusos tanto substanciais como formais. Já nos adverte A. Scarance Fernandes: Quanto à participação da defesa, é ponto incontroverso. A dificuldade está em delimitar o âmbito dessa participação, não nos parecendo que se trata de participação em contraditório, mas a que proporciona ao advogado o direito à ampla ciência das atividades de investigação, podendo efetuar requerimentos e usar de todos os mecanismos que o sistema lhe outorgue em favor do investigado: pedido de relaxamento de prisão em flagrante, pedido de liberdade provisória, impetração de habeas corpus.22 Entendemos até que o eminente Professor nãoesgota os mecanismos de que pode se valer a defesa, atuando de forma ampla na fase do Inquérito Policial, posto que observamos ainda a fiança, o mandado de segurança e, ainda, providências na órbita administrativa, que, sem embargo de uma própria atuação, em vez de quedar os objetivos da primeira fase da persecução penal, maior lisura e grau de certeza podem conferir ao processo penal. É o ensinamento jurisprudencial simulado: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.(Súmula Vinculante 14.) O fato de não ser a informatio delicti dirigida, essencialmente, ao Juiz, não traduz o pensamento de que este não se veja obrigado a reparar os abusos existentes, com toda a evidência, desde que provocado. Nesse sentido, o texto constitucional informa, pela eloqüência do inciso XXXV, do Art. 5º: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Mesmo sendo, em sua essência, um procedimento inquisitivo, o 21 Rogério Luaria Tucci, Direitos e Garantias individuais no processo penal brasileiro, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, p. 115. 22 Antônio Scarance Fernandes, Processo Penal Constitucional, p. 261. Inquérito Policial não pode dispensar que, nele, reine o princípio da ampla defesa, porquanto, nele, estão presentes formalidades, aí incluído o respeito à dignidade da pessoa, o qual, desrespeitado, origina o direito de a defesa recorrer para o judiciário, a fim de que cessem eventuais constrangimentos resultantes dessa inobservância. 4 FINALIDADE O inquérito policial tem por finalidade precípua a elucidação da autoria, materialidade e circunstâncias em que se deu o fato tido como delituoso (a questão das circunstâncias não é imprescindível, mas de fundamental valor para a persecução penal). Nos crimes de menor potencial ofensivo, elabora-se o que a práxis denomina TCO ou BO (termo circunstanciado de ocorrência ou boletim de ocorrência), espécie sumária de um Inquérito Policial. 5 FORMAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL Art. 5º. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. § 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. § 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 5.1 De ofício A autoridade policial, sob pena de incorrer em prevaricação, deve instaurar inquérito policial sempre que tomar conhecimento da existência de uma infração penal de ação penal pública, tendo como peças inaugurais o auto de prisão em flagrante, quando ocorrem as hipóteses previstas no Art. 301 do CPP; e a portaria nas situações em que não seja possível a autuação em flagrante. 5.2 Por requisição Não sendo o procedimento policial instaurado de ofício, a autoridade policial também deve instaurar o inquérito quando ocorrer requisição de autoridade judiciária, do Ministério Público, e, para tanto, obrigatoriamente, baixará portaria em que mencione o fato da requisição. Observa-se que, indevidamente, no âmbito de alguns departamentos de polícia judiciária, o responsável pela sua instauração encaminha a requisição que lhe foi dirigida a um supervisor ou coordenador, o que entendemos como aporte burocrático desnecessário e protelatório. O caráter da obrigatoriedade da instauração requisitada somente poderia ser atacado por habeas corpus em que se verifique a falta de justa causa. O invariável despacho que o supervisor ou coordenador profere enuncia que “é cabível a instauração do inquérito”, contudo, tal procedimento usurpa uma função judicante, ao passo em que se houver um pronunciamento que obste ao atendimento da requisição estarão ambas as autoridades policiais cometendo prevaricação. HABEAS CORPUS – DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ADVOCATÍCIO – REQUISIÇÃO DE INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL – CRIME EM TESE – LEGALIDADE – 1. No sistema de direito positivo vigente, não pode a Polícia Civil, que tem a função constitucional de apurar infrações penais, exceção feita aos crimes militares (Constituição Federal, artigo 144, parágrafo 4º), inatender requisição de instauração de inquérito policial, feita pelo Ministério Público (Código de Processo Penal, artigo 5º, inciso II), a quem a Constituição da República atribuiu a ação penal, com exclusividade (artigo 129, inciso I), estabelecendo evidente subordinação institucional. 2. É também de nosso sistema de direito positivo que as questões de legalidade da dimensão inquisitorial da persecutio criminis do Estado são próprias da competência do Poder Judiciário, fazendo-se induvidosa a vinculação da autoridade policial ao Juízo criminal com competência para a actio poenalis, salvo regra legal diversa. 3. Atendida a requisição ministerial, ficam-lhe exauridos os efeitos, estabelecendo-se a relação autoridade policial – autoridade judiciária, para o devido controle da legalidade do procedimento inquisitorial, do qual não se subtrai o próprio ato policial de sua instauração. 4. Havendo notícia de fatos que, em tese, caracterizam infração penal, não há falar em ilegalidade da requisição ministerial de instauração de inquérito policial, que não se compromete formalmente pela ausência de expressa tipificação penal, até recomendável em obséquio da formação do juízo da autoridade policial, em nada estranho à disciplina da requisição, como é da essência do Estado de Direito, na perspectiva dos direitos fundamentais. 5. Ordem denegada. (STJ – HC 15115 – MS – 6ª T. – Rel. Min. Hamilton Carvalhido – DJU 25.02.2002 – p. 00447) A TEOR DO ART. 5º, INC. II, DO CPP, A AUTORIDADE JUDICIÁRIA, AINDA QUE DA INSTÂNCIA MONOCRÁTICA, TEM O PODER, RECTIUS, DEVER DE REQUISITAR A ABERTURA DE INQUÉRITO POLICIAL, SEMPRE QUE SE DEFRONTE, EM RAZÃO DO OFÍCIO, COM FATOS QUE, EM TESE, CONFIGUREM CRIMES – E sendo tal prerrogativa taxativamente concedida por Lei, de afastar-se, de logo, a idéia de que o seu exercício desfralda arbitrariedade ou perfaz coação extralegal, mesmo seja detentor de prerrogativa de foro, por exercente do cargo de prefeito, o indivíduo passível de indiciamento por força da requisição judicial. O que o juiz unitário não pode é receber denúncia contra edil indiciado, pois, recebido o inquérito em juízo, cabe-lhe, única e exclusivamente, repassar o investigatório ao tribunal competente para conhecer e julgar a ação penal, o qual, a sua vez, abrirá vista ao procurador nele atuante "para requerer
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