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Star-Wars-A-Armadilha-Do-Paraiso-A-C-Crispin

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Este	livro	é	dedicado	à	minha	amiga	Thia	Rose.	Quando	nós	tínhamos	12	anos,
juramos	que	seríamos	melhores	amigas	para	sempre...
	
...e,	após	muitos	mais	anos	do	que
gostaríamos	de	contar,	ainda	somos.
Sumário
Nota	dos	editores
Agradecimentos
Capítulo	Um	.Sorte	de	Mercador
Capítulo	Dois.	Sonhos	ylesianos
Capítulo	Três.	Pouso	de	emergência
Capítulo	Quatro.	Muuurgh
Capítulo	Cinco.	Guerras	de	especiarias
Capítulo	Seis.	Alderaan	e	de	volta	outra	vez
Capítulo	Sete.	Bria
Capítulo	Oito.	Revelações
Capítulo	Nove.	Achados	e	perdidos
Capítulo	Dez.	Adeus	ao	paraíso?
Capítulo	Onze.	Velocidade	de	escape
Capítulo	Doze.	Togoria
Capítulo	Treze.	Retorno	a	Corellia
Capítulo	Catorze.	Na	pior	em	Coruscant
Capítulo	Quinze.	Saindo	do	fogo
Epílogo.	Renascimento
NOTA	DOS	EDITORES
O	universo	de	STAR	WARS	é	infinitamente	rico	e	criativo.	Desde	1977,
inúmeros	planetas,	raças	alienígenas	e	personagens	vêm	despertando	a
imaginação	de	fãs	do	mundo	inteiro.	A	ideia	de	expandir	um	universo	ficcional,
embora	não	seja	nova,	ganha	novas	proporções	com	STAR	WARS.	O	livro	STAR
WARS:	from	the	adventures	of	Luke	Skywalker	,	novelização	do	Episódio	IV	da
saga,	foi	lançado	em	1976,	antes	mesmo	da	estreia	do	filme	no	cinema.	E,	antes
do	final	da	trilogia	clássica,	já	existiam	diversos	quadrinhos	e	romances,	que
muitas	vezes	davam	sinais	dos	caminhos	a	ser	seguidos	depois	nas	telas,	ou
mesmo,	como	no	caso	do	livro	Splinter	of	the	mind’s	eye	,	de	Alan	Dean	Foster,
diferiam	completamente	da	trajetória	seguida	nas	continuações.	Esse	era	apenas
um	prelúdio	da	força	que	o	Universo	Expandido	de	STAR	WARS	acumularia
nas	décadas	seguintes.
Embora	outras	rarefeitas	obras	tenham	sido	lançadas	no	início	dos	anos
1980,	dois	marcos	importantes	deram	impulso	à	saga,	projetando-a	ao	atual
ousado	projeto	transmídia:	em	1987,	veio	o	lançamento	do	RPG	STAR	WARS:
The	Roleplaying	Game	;	em	1991,	a	publicação	de	STAR	WARS:	Herdeiro	do
Império	,	de	Timothy	Zahn.	Enquanto	a	importância	do	RPG	foi	estabelecer
novos	cenários	e	trazer	detalhes	do	universo	de	STAR	WARS,	o	livro	de	Zahn
fez	história	ao	ser	o	primeiro	com	autorização	oficial	da	Lucasfilm	para	abordar
os	acontecimentos	posteriores	ao	Episódio	VI.	Os	personagens	e	as	histórias	do
livro	foram	aproveitados	por	toda	uma	nova	geração	de	autores,	que	escreveram
centenas	de	obras	a	fim	de	complementar	cada	vez	mais	esse	universo	e	saciar	a
sede	dos	fãs,	especialmente	durante	o	intervalo	de	quinze	anos	entre	os
lançamentos	das	duas	primeiras	trilogias	no	cinema	–	e	também	depois.
Em	2014,	a	Lucasfilm	lançou	o	novo	conceito	de	STAR	WARS,	aplicável	a
filmes,	HQs,	livros,	videogames	e	séries	televisivas	relacionados	à	franquia,
formando	um	só	cânone.	Juntos,	todos	esses	registros	contam	uma	única	história
no	universo	de	STAR	WARS,	complementando	e	continuando	os	filmes
lançados	no	cinema	entre	1977	e	2005,	além	de	servirem	como	preparação	para
os	tão	esperados	novos	filmes,	a	começar	com	STAR	WARS:	O	despertar	da
Força	em	2015.	Todas	as	obras	publicadas	antes	de	2014	passam	a	ser
classificadas	como	Legends	:	histórias	que	não	serviram	como	base	para	o
cânone	estabelecido	pela	Lucasfilm	para	STAR	WARS,	mas	cuja	importância	e
cuja	qualidade	continuam	sendo	apreciadas.
Participando	dessa	nova	e	empolgante	fase	de	STAR	WARS,	a	Editora	Aleph
pretende	lançar	todos	os	romances	adultos	do	novo	cânone,	bem	como	uma
seleção	dos	títulos	Legends	mais	relevantes.	Convidamos	os	leitores	a	embarcar
conosco	nessa	jornada	rumo	a	uma	galáxia	muito,	muito	distante.
E	trata-se	de	uma	viagem	que	não	tem	ponto	de	partida	nem	direção
definidos.	Não	importa	por	qual	obra	você	decida	começar,	seja	por	uma	das
novas	ou	uma	das	Legends	.	Temos	a	certeza	de	que	viverá	uma	grande	aventura.
Que	a	Força	esteja	com	você.
EDITORA	ALEPH
Agradecimentos
Escrever	para	o	universo	STAR	WARS	é	como	se	tornar	parte	de	uma
comunidade	–	ou	até	mesmo	de	uma	família.	Os	autores	são	encorajados	a	ler	os
livros	uns	dos	outros,	e	há	dúzias	de	livros	de	não	ficção	e	técnicos	dedicados
aos	personagens,	equipamentos,	planetas	e	assim	por	diante.	Nós,	autores,
trocamos	informações	e	dicas	e	nos	ajudamos	mutuamente	sempre	que	possível.
Assim	sendo,	muitas,	muitas	pessoas	me	ajudaram	com	este	livro.	Com	a
advertência	de	que	quaisquer	erros	que	os	leitores	possam	encontrar	são	só
meus,	eu	gostaria	de	agradecer	às	seguintes	pessoas:
Kevin	Anderson,	que	me	deu	minha	primeira	chance	de	escrever	para	o
universo	STAR	WARS.	Kevin	e	Rebecca	Moesta	também	me	ajudaram	com
informações	sobre	o	histórico	e	os	personagens	de	STAR	WARS,	além	de	me
darem	apoio,	incentivo	e	sábios	conselhos.
Michael	Capobianco,	meu	colega	e	marido,	pelas	sessões	de	brainstorming,
pela	ajuda	na	pesquisa,	pelos	conselhos	inteligentes,	e	por	me	trazer	o	jantar
quando	eu	estava	ocupada	demais	escrevendo	para	perceber	que	estava	com
fome.	Obrigada,	querido.
Bill	Smith	e	Peter	Schewighofer	da	West	End	Games	por	terem	me	ajudado	a
descobrir	as	respostas	para	perguntas	tão	estranhas	e	exóticas	como	“que	tipo	de
roupa	de	baixo	Han	Solo	prefere?”.	Eles	me	“desempacaram”	de	tais	dilemas
mais	vezes	do	que	posso	contar.
Tom	Dupree	e	Evelyn	Cainto	da	Bantam	Books	pela	ajuda,	conselhos	e
incentivo.
Sue	Rostoni	e	Lucy	Autrey	Wilson	da	Lucasfilm	pelos	“fatos	reais”.
Michael	A.	Stackpole,	pela	ajuda	em	descobrir	como	quebrar	um	raio	trator,
e	outros	conselhos	relacionados	a	naves	e	pilotagem.
Steve	Osmanski,	por	ter	lido	o	manuscrito	e	me	oferecido	conselhos
preciosos	sobre	coisas	“techies”.
Como	sempre,	Kathy	O’Malley,	amiga	e	colega	de	escrita,	por	segurar	minha
mão	e	me	dar	um	ocasional	e	merecido	chute	no	traseiro.
E,	é	claro,	George	Lucas,	que	começou	tudo	isso.	STAR	WARS	me	deixou
louca	na	primeira	vez	que	vi,	e	foi	uma	honra	dar	minha	pequena	contribuição
para	a	saga.
Obrigada	de	novo,	e	que	a	Força	esteja	com	todos	vocês.
O	antiquíssimo	transporte	de	tropas,	uma	relíquia	das	Guerras	Clônicas,
pairava	silencioso	e	aparentemente	abandonado	em	órbita	sobre	o	planeta
Corellia.	As	aparências	enganam,	porém.	A	velha	nave	da	classe	libertador,
outrora	batizada	de	Guardião	da	República	,	agora	vivia	uma	nova	existência
como	Sorte	de	Mercador	.	O	interior	tinha	sido	inteiramente	estripado	e
reformado	com	um	sortimento	heterogêneo	de	alojamentos,	e	agora	continha
quase	uma	centena	de	seres	sencientes,	muitos	deles	humanoides.	Naquele
momento,	porém,	apenas	alguns	deles	estavam	acordados,	já	que	era	o	meio	do
ciclo	de	repouso.
Havia	um	turno	de	serviço	na	ponte,	é	claro.	A	Sorte	de	Mercador	passava
muito	de	seu	tempo	em	órbita,	mas	ainda	era	capaz	de	viajar	pelo	hiperespaço,
mesmo	que	fosse	lenta	para	os	padrões	modernos.	Garris	Shrike,	o	líder	do	“clã”
frouxamente	unido	de	mercadores	que	vivia	na	Sorte	,	era	um	capataz	rígido,	que
seguia	protocolos	navais	formais.	Então	sempre	havia	um	turno	de	serviço	na
ponte.
As	ordens	de	Shrike	a	bordo	da	Sorte	eram	sempre	cumpridas,	pois	ele	não
era	um	homem	a	ser	confrontado	sem	um	bom	motivo	e	uma	pistola	carregada.
Governava	o	clã	de	mercadores	como	um	déspota	não	tão	benevolente.	Um
sujeito	magro	de	altura	mediana,	Garris	era	bonito	de	uma	forma	durona.	As
mechas	de	cabelo	branco-prateado	acima	das	têmporas	acentuavam	os	cabelos
negros	e	os	olhos	azul-gelo.	Tinha	lábios	finos	e	raramente	sorria;	jamais	por
bom	humor.	Garris	Shrike	era	um	exímio	atirador	e	tinha	passado	a	juventude
como	caçador	de	recompensas.	Havia	abandonado	essa	carreira,	porém,	devido
ao	“azar”;	ou	seja,	sua	falta	de	paciência	tinha	lhe	feito	sacrificar	as	recompensas
mais	polpudas,	reservadas	para	entregas	vivas.	Corpos	mortos	frequentemente
valiam	muito	menos.
Entretanto,	Shrike	era	dono	de	um	senso	de	humor	doentio,	especialmente	no
que	dizia	respeito	ao	sofrimento	alheio.	Quando	estava	ganhando	no	jogo,	era
sujeito	a	surtos	de	alegria	maníaca,	especialmente	se	também	estivesse	bêbado.
Que	era	como	ele	estava	naquele	momento.	Sentado	à	mesa	no	antigo
alojamento	de	oficiais	alistados,	Shrike	jogava	sabacc	e	virava	canecas	da
poderosa	cerveja	de	Alderaan,	suabebida	favorita.
Shrike	espiou	suas	cartas	chipadas,	calculando	mentalmente.	Deveria	ele
manter	aquela	mão,	na	esperança	de	completar	um	sabacc	puro?	A	qualquer
momento,	o	crupiê	poderia	apertar	um	botão	e	os	valores	de	todas	as	cartas
mudariam.	Se	isso	acontecesse,	ele	estaria	perdido,	a	não	ser	que	comprasse
mais	duas	cartas	e	jogasse	a	mão	quase	toda	no	campo	de	interferência	no	centro
da	mesa.
Um	dos	outros	jogadores,	um	imenso	Elomin,	virou	a	cabeça	com	presas	e
deu	uma	olhada	para	trás	subitamente.	Havia	uma	luz	piscando	num	dos	painéis
auxiliares	de	status.	O	enorme	ser	peludo	grunhiu,	depois	comentou	em	língua
básica	gutural:
–	Tem	alguma	coisa	estranha	com	o	sensor	da	tranca	do	arsenal,	capitão.
Shrike	insistia	em	manter	protocolo	e	cadeia	de	comando	“apropriados”,
especialmente	no	que	se	aplicasse	a	ele	mesmo.	A	não	ser	que	estivesse	metido
em	alguma	aventura	em	terra	firme,	sempre	vestia	uniforme	militar	dentro	da
Sorte;	um	uniforme	que	ele	mesmo	tinha	desenhado,	com	base	no	traje	de	gala
de	um	moff	de	alta	patente.	Era	cheio	de	“medalhas”	e	“condecorações”	que
Shrike	tinha	colecionado	em	casas	de	penhores	pela	galáxia.
Agora,	ao	ouvir	o	aviso	do	Elomin,	ele	ergueu	os	olhos	embaçados,	esfregou-
os,	depois	se	endireitou	e	largou	as	cartas	chipadas	na	mesa.
–	O	que	foi,	Brafid?
O	gigante	franziu	o	focinho	dentuço.
–	Não	sei	direito,	capitão.	Agora	está	normal,	mas	alguma	coisa	piscou,
como	se	a	tranca	tivesse	dado	curto	por	um	segundo.	Deve	ter	sido	só	uma
flutuação	de	força	momentânea.
O	capitão	se	levantou	com	graça	e	coordenação	incomuns,	que	não	foram
prejudicadas	pelo	“uniforme”	extravagante,	e	contornou	a	mesa	para	avaliar	os
indicadores.	Todos	os	sinais	de	embriaguez	desapareceram.
–	Não	foi	uma	flutuação	de	força	–	decidiu	depois	de	um	momento.	–	Foi
outra	coisa.
Em	seguida,	o	capitão	se	dirigiu	ao	humano	alto	e	corpulento	à	sua	esquerda.
–	Larrad,	dê	uma	olhada	nisto.	Alguém	deu	curto	na	tranca	e	colocou	uma
simulação	para	nos	fazer	achar	que	era	só	uma	flutuação	de	força.	Temos	um
ladrão	a	bordo.	Todo	mundo	armado?
Larrad,	que	calhava	de	ser	o	irmão	de	Garris,	Larrad	Shrike,	deu	tapinhas	no
coldre	na	perna	e	assentiu	com	a	cabeça.	Brafid,	o	Elomin,	apontou	o
“formigador”,	um	aguilhão	elétrico	que	era	sua	arma	preferida,	embora	o
alienígena	peludo	fosse	grande	o	bastante	para	pegar	a	maioria	dos	humanoides	e
parti-los	ao	meio	em	seu	joelho.
A	outra	pessoa	presente,	uma	Sullustana	que	trabalhava	como	a	navegadora
da	Sorte	,	levantou-se	e	mostrou	a	arma	de	raios	de	tamanho	reduzido	que
portava.
–	Pronta	para	a	ação,	capitão!	–	guinchou	ela.	Apesar	de	ser	baixinha,	com
bochechas	caídas	e	grandes	olhos	brilhantes	e	belos,	Nooni	Dalvo	parecia	ser
quase	tão	perigosa	quanto	o	imenso	Elomin,	que	era	seu	melhor	amigo	a	bordo.
–	Ótimo	–	resmungou	Shrike.	–	Nooni,	vá	colocar	um	guarda	no	arsenal,
para	o	caso	de	o	ladrão	voltar.	Larrad,	ative	os	biossensores,	veja	se	você
consegue	identificar	o	larápio	e	para	onde	ele	vai.
O	irmão	de	Shrike	fez	que	sim	com	a	cabeça	e	se	curvou	sobre	o	painel	de
controle	auxiliar.
–	Humano	corelliano	–	anunciou	depois	de	um	momento.	–	Homem.	Jovem.
Altura:	1,8	metro.	Cabelos	e	olhos	escuros.	Físico	esguio.	O	biossensor	o
reconhece.	Ruma	para	a	popa,	em	direção	à	cozinha.
A	expressão	de	Shrike	se	endureceu	até	que	seus	olhos	estavam	tão	frios	e
azuis	quanto	as	geleiras	de	Hoth.
–	O	moleque	Solo	–	disse	ele.	–	É	o	único	metido	o	bastante	para	tentar	uma
coisa	dessas.	–	O	capitão	flexionou	os	dedos	e	depois	os	cerrou	num	punho.	Seu
anel,	feito	de	uma	gema	solitária	de	veneno-de-sangue	devaroniano,	reluziu	num
prateado	baço	sob	as	luzes	da	antepara.	–	Bem,	peguei	leve	com	ele	até	agora,
porque	ele	manda	bem	no	swoop,	e	eu	nunca	perdi	apostando	nele,	mas	agora
chega.	Esta	noite	vou	ensinar	esse	garoto	a	respeitar	a	autoridade,	e	ele	vai	se
arrepender	de	ter	nascido.
Shrike	exibiu	os	dentes,	muito	mais	brilhantes	que	a	gema	do	anel.
–	Vai	se	arrepender	também	do	dia	que	eu	o	“encontrei”	dezessete	anos	atrás
e	trouxe	seu	traseiro	de	fedelho	chorão	de	fralda	molhada	para	a	Sorte.	Sou	um
homem	paciente,	tolerante...	–	Ele	suspirou	dramaticamente.	–	...	como	a	galáxia
bem	sabe,	mas	até	eu	tenho	meus	limites.
Deu	uma	olhada	no	irmão,	que	parecia	bem	constrangido.	Garris	se
perguntou	se	Larrad	estaria	se	lembrando	da	última	sessão	de	castigo	do
moleque	Solo	um	ano	antes.	O	garoto	tinha	ficado	dois	dias	sem	poder	andar.
Shrike	cerrou	os	lábios.	Ele	não	toleraria	nenhum	tipo	de	brandura	em	seus
subordinados.
–	Certo,	Larrad?	–	indagou	ele,	baixo	demais.
–	Certo,	capitão!
Han	Solo	segurou	a	arma	de	raios	roubada	enquanto	se	esgueirava	pelo
estreito	corredor	de	metal.	Quando	plugou	o	simulador	e	forçou	a	tranca	do
armário	de	arsenal,	teve	apenas	um	momento	para	enfiar	a	mão	e	agarrar	a
primeira	arma	que	tocou.	Não	houve	tempo	para	avaliar	e	escolher.
Nervoso,	o	rapaz	afastou	as	mechas	de	cabelo	castanho	úmidas	que	caíam
sobre	sua	testa	e	percebeu	que	estava	suando.	A	arma	parecia	pesada	e
desajeitada	em	suas	mãos	enquanto	ele	a	examinava.	Han	raramente	pegara
numa	arma	antes,	e	só	sabia	como	conferir	a	carga	porque	tinha	lido	sobre	isso.
Nunca	tinha	disparado	um	tiro.	Garris	Shrike	não	permitia	que	ninguém	além	de
seus	oficiais	andasse	armado.	O	jovem	piloto	de	swoop	estreitou	os	olhos	na
penumbra,	abriu	um	pequeno	painel	na	parte	mais	grossa	do	cano	e	espiou	as
leituras.	Ótimo.	Carga	completa.	Shrike	pode	ser	um	valentão	e	um	idiota,	mas
sabe	como	manter	uma	nave	organizada.
Solo	não	admitiria	nem	mesmo	para	si	o	quanto	ele	realmente	temia	e	odiava
o	capitão	da	Sorte	de	Mercador	.	Tinha	aprendido	há	muito	tempo	que
demonstrar	qualquer	tipo	de	medo	era	garantia	de	uma	surra	rápida,	ou	coisa
pior.	A	única	coisa	que	os	valentões	e	os	idiotas	respeitavam	era	coragem;	ou,
pelo	menos,	bravatas.	Então	Han	Solo	tinha	aprendido	a	nunca	deixar	que	o
medo	emergisse	em	sua	mente	ou	coração.	Havia	momentos	em	que	ele	ficava
vagamente	ciente	de	que	ele	estava	lá,	bem	no	fundo,	enterrado	sob	camadas	de
dureza	das	ruas,	porém,	sempre	que	reconhecia	o	sentimento	pelo	que	realmente
era,	Han	o	enterrava	ainda	mais	fundo,	com	vontade.
Como	teste,	ele	levou	a	arma	de	raios	até	a	altura	dos	olhos	e
desajeitadamente	fechou	um	olho	castanho,	enquanto	espiava	ao	longo	do	cano.
O	bocal	da	arma	oscilou	de	leve,	e	Han	praguejou	baixinho	ao	perceber	que	a
mão	estava	tremendo.	Qual	é,	disse	a	si	mesmo,	mostre	que	tem	uma	espinha
dorsal,	Solo.	Cair	fora	desta	nave	e	escapar	de	Shrike	valem	um	pouco	de	risco.
Deu	uma	olhada	para	trás	por	reflexo,	depois	se	virou	bem	a	tempo	de	se
abaixar	para	passar	sob	um	conduíte	de	energia	que	pendia	baixo.	Tinha
escolhido	esta	rota	porque	ela	evitava	todos	os	alojamentos	e	áreas	recreativas,
mas	era	tão	estreita	e	baixa	que	Han	começava	a	se	sentir	claustrofóbico
enquanto	avançava	pé	ante	pé,	resistindo	à	vontade	de	ficar	olhando	para	trás.
Adiante,	o	túnel	se	alargava	e	Han	percebeu	que	estava	quase	em	seu	destino.
Só	mais	alguns	minutos	,	disse	a	si	mesmo.	Ele	se	movia	com	uma	graça	furtiva
que	tornava	seu	progresso	tão	silencioso	quanto	as	almofadinhas	peludas	nas
patas	de	um	wonat.	Ele	estava	contornando	os	módulos	de	hiperespaço	naquele
momento	e	depois	chegaria	a	um	corredor	transversal	maior.	Han	virou	à	direita,
aliviado	em	poder	andar	ereto.
Esgueirou-se	até	a	porta	da	cozinha	principal	e	hesitou	do	lado	de	fora,
prestando	atenção	em	cheiros	e	ruídos.	Ruídos...	sim,	apenas	aquele	que	ele
esperava	escutar.	A	algazarra	das	panelas,	o	spluuuush	da	massa	sendo
esmurrada	e,	por	fim,	os	suaves	sons	dela	sendo	sovada.
Dava	para	sentir	o	cheiro	da	massa.	Pão	wastril,	o	favorito	dele.	Han
espremeu	os	lábios.	Com	sorte,	ele	não	estaria	aqui	para	comer	nenhum	pão
dessa	fornada	em	particular.
Meteu	a	arma	de	raios	no	cinto,	abriu	a	porta	e	entrou	na	cozinha.
–	Ei...	Dewlanna...	–	chamou	ele	em	voz	baixa.	–	Sou	eu.	Vim	me	despedir.
A	criatura	alta	e	peluda	que	estava	sovando	vigorosamente	a	massa	de	wastril
girou	para	o	rapazcom	um	grunhido	suave	e	inquisitivo.
O	nome	completo	de	Dewlanna	era	Dewlannamapia,	e	ela	tinha	sido	a
melhor	amiga	de	Han	desde	que	viera	morar	a	bordo	da	Sorte	de	Mercador	há
quase	10	anos,	quando	Han	tinha	mais	ou	menos	9.	(O	jovem	piloto	de	swoop
obviamente	não	fazia	ideia	de	quando	tinha	nascido.	Ou	quem	foram	seus	pais.
Se	não	fosse	por	Dewlanna,	ele	não	saberia	nem	que	seu	sobrenome	era	“Solo”.)
Han	não	conseguia	falar	wookiee;	tentar	reproduzir	os	grunhidos,	rosnados,
latidos	e	rugidos	deixava	sua	garganta	dolorida,	e	ele	sabia	que	soava	ridículo;
mas	entendia	muito	bem.	Por	sua	vez,	Dewlanna	não	conseguia	falar	a	língua
básica,	mas	a	compreendia	tão	bem	quanto	a	própria	língua.	Assim	sendo,	a
comunicação	entre	o	jovem	humano	e	a	idosa	viúva	Wookiee	era	fluente,	mas...
diferente.
Han	tinha	se	acostumado	à	situação	fazia	anos	e	nem	pensava	mais	no
assunto.	Ele	e	Dewlanna	simplesmente...	conversavam.	Entendiam	um	ao	outro
perfeitamente.	Agora	ele	ergueu	a	pistola	roubada,	tomando	o	cuidado	de	não
apontá-la	à	amiga.
–	Sim	–	respondeu	ele	à	pergunta	de	Dewlanna.	–	É	esta	noite.	Vou	embora
da	Sorte	de	Mercador	e	não	volto	nunca	mais.
Dewlanna	ribombou	de	volta	preocupada	enquanto	voltava	automaticamente
a	sovar	a	massa.	Han	balançou	a	cabeça,	lhe	dando	um	sorriso	torto.
–	Você	se	preocupa	demais,	Dewlanna.	Claro	que	eu	planejei	tudo.	Estou
com	um	traje	espacial	escondido	num	armário	perto	das	docas	de	cargueiros-
robô,	e	tem	uma	nave	atracada	lá	agora	que	vai	partir	assim	que	terminar	de
descarregar	e	reabastecer.	Um	cargueiro-robô,	que	vai	rumar	para	onde	eu	quero
ir.
Dewlanna	socou	a	massa,	depois	grunhiu	uma	pergunta.
–	Vou	para	Ylesia	–	contou	Han.	–	Lembra	que	eu	lhe	contei	tudo	sobre	esse
lugar?	É	uma	colônia	religiosa	perto	do	território	Hutt,	e	eles	oferecem	aos
peregrinos	santuário	do	universo	exterior.	Lá	eu	estarei	a	salvo	de	Shrike.	E...	–
Ele	ergueu	um	pequeno	holodisco	para	que	a	cozinheira	Wookiee	pudesse	ver.	–
Veja	só	isso!	Eles	puseram	um	anúncio	procurando	um	piloto!	Já	usei	o	resto	dos
créditos	da	minha	porção	daquele	último	serviço	que	a	gente	fez	para	mandar	a
mensagem,	avisando	que	vou	fazer	uma	entrevista	pelo	emprego.
Dewlanna	rugiu	baixinho.
–	Ei,	não	posso	aceitar	isso	–	protestou	Han,	assistindo	enquanto	a	cozinheira
colocava	os	pães	nas	formas	e	então	na	grade	termal,	para	que	assassem.	–	Vou
ficar	bem.	É	só	surripiar	alguns	créditos	a	caminho	da	nave-robô.	Não	esquenta,
Dewlanna.
A	Wookiee	o	ignorou	e	atravessou	rapidamente	a	cozinha,	um	vulto	peludo	e
um	pouco	curvado	que	se	movia	com	agilidade,	apesar	da	idade	avançada.
Dewlanna	tinha	quase	600	anos,	pelo	que	Han	sabia.	Velha	até	para	um
Wookiee.
Ela	desapareceu	pela	porta	do	seu	alojamento	particular	e	então,	um
momento	depois,	ressurgiu	segurando	uma	bolsa	trançada	de	algum	material
sedoso	que	poderia	até,	pela	aparência,	ser	de	pelo	de	Wookiee.
Dewlanna	estendeu	a	bolsa	para	Han	com	um	queixume	insistente.
Han	balançou	a	cabeça	de	novo	e	colocou	as	mãos	para	trás	de	forma
infantil.
–	Não	–	retrucou	com	firmeza.	–	Não	vou	levar	suas	economias,	Dewlanna.
Você	precisa	desses	créditos	para	comprar	uma	passagem	e	me	encontrar	depois.
A	Wookiee	inclinou	a	cabeça	para	o	lado	e	fez	um	ruído	curto	e	inquisitivo.
–	É	claro	que	você	vai	me	encontrar!	–	insistiu	Han.	–	Você	não	acha	que	eu
vou	deixar	você	apodrecendo	aqui	nessa	lata	velha,	né?	Shrike	fica	mais	maluco
a	cada	ano,	e	ninguém	está	a	salvo	a	bordo	da	Sorte	.	Depois	que	eu	chegar	a
Ylesia	e	me	assentar,	vou	mandar	buscar	você.	Ylesia	é	um	retiro	religioso,	e
eles	oferecem	asilo	aos	peregrinos.	Shrike	não	poderá	nos	tocar	por	lá.
Dewlanna	botou	a	mão	dentro	da	bolsa,	usando	os	dedos	surpreendentemente
ágeis	para	selecionar	as	fichas	de	créditos,	e	por	fim	entregou	várias	ao	jovem
amigo.	Com	um	suspiro,	Han	se	rendeu	e	as	aceitou.
–	Certo...	tudo	bem.	Mas	isto	é	só	um	empréstimo,	combinado?	Eu	vou	pagar
você.	Os	sacerdotes	Ylesianos	estão	oferecendo	um	bom	salário.
Ela	concordou	com	um	grunhido	e	em	seguida,	sem	aviso,	usou	a	pata
imensa	para	agitar	os	cabelos	do	rapaz,	deixando-os	eriçados	em	completa
bagunça.
–	Ei!	–	exclamou	Han.	Cafunés	de	Wookiees	não	eram	moleza.	–	Eu	acabei
de	pentear	o	cabelo!
Dewlanna	grunhiu,	divertida,	e	Han	se	endireitou	indignado.
–	Eu	não	fico	mais	bonito	relaxado.	Já	falei	para	você	que	o	termo	“relaxado”
não	é	um	elogio	para	os	humanos.
Han	encarou	a	amiga,	e	sua	indignação	desapareceu	conforme	ele	percebeu
que	esta	seria	a	última	vez	em	um	longo	tempo	que	veria	aquele	amado	rosto
peludo	e	os	gentis	olhos	azuis.	Dewlanna	tinha	sido	sua	amiga	mais	próxima	–	e
frequentemente	sua	única	amiga	–	por	tanto	tempo.	Deixá-la	era	difícil,	muito
difícil.
Num	impulso,	o	jovem	corelliano	se	jogou	contra	a	calorosa	e	sólida	amiga,
abraçando-a	com	força.	Sua	cabeça	batia	no	meio	do	peito	dela.	Han	se	lembrava
de	quando	mal	alcançava	a	cintura.
–	Vou	sentir	saudades	suas	–	afirmou	ele,	o	rosto	abafado	contra	o	pelo	e	os
olhos	ardendo.	–	Você	se	cuide,	Dewlanna.
Ela	rugiu	baixinho,	e	os	longos	braços	peludos	o	envolveram	quando	ela
devolveu	o	abraço.
–	Ora,	se	esta	não	é	uma	cena	tocante	–	comentou	uma	voz	fria	e	familiar
demais.
Han	e	Dewlanna	ficaram	paralisados,	e	depois	giraram	para	encarar	o
homem	que	entrou	pelo	alojamento	da	Wookiee.	Garris	Shrike	estava	encostado
na	porta,	seus	belos	traços	formando	um	sorriso	que	fez	o	sangue	de	Han	gelar
nas	veias.	Ao	seu	lado,	ele	sentiu	Dewlanna	estremecer,	de	medo	ou	talvez	de
ódio.
Dois	outros	tripulantes,	Larrad	Shrike	e	Brafid,	o	Elomin,	estavam	atrás	de
Shrike.	Han	cerrou	o	punho	em	frustração.	Se	fosse	apenas	Shrike,	ele	teria
podido	tentar	atacar	o	capitão	da	Sorte	.	Com	Dewlanna	para	ajudar,	os	dois
talvez	conseguissem	subjugar	Garris,	porém,	com	Larrad	e	o	Elomin	presentes,
não	teriam	chance.
Han	estava	muito	ciente	da	pistola	roubada	enfiada	no	cinto.	Por	um
momento,	considerou	sacá-la,	mas	abandonou	a	ideia.	Shrike	era	conhecido	por
ser	rápido	no	gatilho.	Não	teria	a	menor	chance	de	batê-lo,	e	poderia	acabar
provocando	as	mortes	dele	e	de	Dewlanna.	Shrike	estava	claramente	enfurecido.
Han	lambeu	os	lábios	secos.
–	Escute,	capitão	–	começou	ele.	–	Eu	posso	explicar...
Shrike	se	endireitou	e	estreitou	os	olhos.
–	Você	pode	explicar	o	quê	,	seu	traidorzinho	covarde?	O	roubo	à	sua
família?	A	traição	àqueles	que	confiaram	em	você?	A	facada	que	você	deu	nas
costas	do	seu	benfeitor,	seu	ladrãozinho	chorão?
–	Mas...
–	Estou	cansado	de	você,	Solo.	Fui	tolerante	até	hoje	por	causa	da	sua
habilidade	incrível	como	piloto	de	swoop,	e	todos	aqueles	créditos	de	premiação
vieram	a	calhar,	só	que	a	minha	paciência	se	esgotou.	–	Shrike	enrolou
cerimoniosamente	as	mangas	do	extravagante	uniforme,	depois	cerrou	as	mãos
em	punhos.	A	luz	artificial	da	cozinha	fez	o	anel	de	gema	de	sangue	brilhar	num
prateado	baço.	–	Vamos	ver	o	que	alguns	dias	enfrentando	envenenamento	de
sangue	devaroniano	farão	com	sua	atitude;	além	de	alguns	ossos	quebrados,
talvez.	Estou	fazendo	isso	pelo	seu	próprio	bem,	moleque.	Algum	dia	você	vai
me	agradecer.
Han	engoliu	em	seco	de	terror	quando	Shrike	começou	a	se	aproximar.	Tinha
agredido	o	capitão	mercador	uma	única	vez	antes,	há	dois	anos,	quando	se
sentira	arrogante	depois	de	vencer	o	vale-tudo	de	gladiadores	em	Jubilar;	e	se
arrependera	imediatamente.	A	velocidade	e	força	do	golpe	de	resposta	de	Garris
tinham	jogado	sua	cabeça	para	trás	e	ferido	seus	lábios	tão	completamente	que
Dewlanna	fora	forçada	a	alimentá-lo	com	mingau	por	uma	semana	até	sararem.
Com	um	rosnado,	Dewlanna	deu	um	passo	à	frente.	A	mão	de	Shrike	caiu	na
pistola.
–	Você	fique	fora	desta,	Wookiee	velha	–	retrucou	ele	com	tanta	ferocidade
quanto	Dewlanna.	–	Sua	comida	não	é	tão	boa	assim.
Han	segurou	o	braço	peludo	da	amiga	e	tentou	detê-la.
–	Dewlanna,	não!
Ela	se	soltou	do	rapaz	como	se	ele	fosse	um	inseto	irritante	e	rugiu	para
Shrike.	O	capitão	sacou	a	pistola	de	raios,	e	o	caos	irrompeu.
–	Nãããoo!	–	gritou	Han.	O	rapaz	saltou	em	seguida,	com	o	pé	estendido	parafrente	numa	velha	técnica	de	luta	de	rua.	O	peito	do	pé	acertou	solidamente	o
esterno	de	Shrike.	O	capitão	perdeu	o	fôlego	num	grande	houf!	enquanto	caía
para	trás.	Han	rolou	ao	aterrissar.	Um	disparo	de	formigador	passou	fervendo	de
raspão	pela	sua	orelha.
–	Larrad!	–	ofegou	o	capitão	enquanto	Dewlanna	vinha	para	cima	dele.
O	irmão	de	Shrike	sacou	a	arma	de	raios	e	a	apontou	contra	a	Wookiee.
–	Pare,	Dewlanna!
Suas	palavras	foram	tão	inúteis	quanto	as	de	Han.	O	sangue	de	Dewlanna
fervia;	ela	estava	possuída	pela	fúria	guerreira	wookiee.	Com	um	rugido	que
ensurdeceu	os	combatentes,	ela	agarrou	o	pulso	de	Larrad	e	deu	um	puxão,
girando-o	e	lhe	dando	um	tranco	numa	paródia	terrível	do	gesto	de	chicotear.
Han	ouviu	um	crunch	misturado	a	vários	pops	enquanto	tendões	e	ligamentos
cediam.	Larrad	Shrike	berrou,	um	grito	agudo	e	estridente	tão	cheio	de	dor	que	o
braço	do	jovem	corelliano	doeu	em	solidariedade.
Han	pegou	a	pistola	no	cinto	e	disparou	um	tiro	brusco	contra	o	Elomin	que
saltava	para	frente,	com	o	formigador	em	riste	e	apontado	para	o	abdome	de
Dewlanna.	Brafid	uivou	e	soltou	a	arma.	Han	ficou	espantado	de	ter	conseguido
acertar,	mas	não	teve	muito	tempo	para	se	maravilhar	com	sua	mira	precisa.
Shrike	se	levantava	cambaleante	com	a	pistola	na	mão,	mirando	diretamente
na	cabeça	de	Han.
–	Larrad?	–	gritou	ele	para	o	amontoado	de	agonia	que	era	seu	irmão.	Larrad
não	respondeu.
Shrike	engatilhou	a	pistola	e	chegou	mais	perto	de	Han.
–	Pare,	Dewlanna!	–	rosnou	o	capitão	para	a	Wookiee.	–	Ou	seu	amiguinho
Solo	vai	morrer!
Han	largou	a	arma	e	ergueu	as	mãos	num	gesto	de	rendição.
Dewlanna	se	deteve	onde	estava	e	grunhiu	baixinho.
Shrike	firmou	a	arma	e	o	dedo	tencionou	o	gatilho.	Suas	feições	estavam
marcadas	por	um	ódio	puro	e	malévolo.	Então	ele	sorriu,	seus	pálidos	olhos
azuis	cintilando	com	alegria	brutal.
–	Pelos	crimes	de	insubordinação	e	ataque	ao	seu	capitão	–	anunciou	ele	–,
eu	o	sentencio	à	morte,	Solo.	Que	você	apodreça	em	todos	os	infernos	que	já
existiram.
Han	ficou	paralisado,	esperando	o	raio	que	o	fritaria	a	qualquer	momento,
mas	Dewlanna	rugiu,	empurrou	Han	para	o	lado	e	saltou	contra	Shrike.	O	raio	de
energia	da	pistola	a	acertou	em	cheio	no	peito,	e	a	Wookiee	desabou	num	monte
de	pelo	chamuscado	e	carne	queimada.
–	Dewlanna!	–	gritou	Han	em	agonia.	Com	uma	velocidade	que	ele	não	sabia
ter,	o	rapaz	mergulhou	sobre	Shrike	e	acertou	com	força	os	joelhos	do	capitão.
Shrike	foi	atirado	para	trás	de	novo,	e	desta	vez	sua	cabeça	bateu	com	violência
no	convés.	Ele	desmaiou.
Han	engatinhou	até	a	amiga	e	a	virou	gentilmente,	vendo	o	grande	buraco
que	o	raio	da	pistola	tinha	aberto	em	seu	peito.	Soube	imediatamente	que	a
ferida	era	mortal.	Nenhum	droide	médico	já	construído	seria	capaz	de	curar
aquilo.	Dewlanna	gemeu,	arquejou	e	lutou	com	toda	sua	força	wookiee	para
respirar.	Han	passou	os	braços	sob	os	ombros	dela	e	tentou	facilitar	sua	luta.	Os
olhos	azuis	dela	se	abriram	e,	depois	de	um	momento,	se	fixaram	nos	dele.	A
lucidez	retornou,	e	Dewlanna	reverberou	baixinho.
–	Não,	não	vou	deixar	você!	–	respondeu	Han,	agarrando-a	com	mais	força.
As	lágrimas	borravam-lhe	a	visão,	e	ela	nadava	abaixo	do	rapaz	num	mar	de
pelos	castanhos.	–	Não	me	importo	mais	em	fugir!	Ah,	Dewlanna...
Com	grande	esforço,	ela	ergueu	uma	imensa	pata-mão	peluda	e	segurou	o
braço	do	rapaz.	Han	fez	um	esforço	para	traduzir	o	que	ela	dizia.
–	Eu	sei	–	soluçou	Han,	falando	alto	para	que	ela	soubesse	que	ele	tinha
entendido.	–	Sei	que	você	me	ama...	–	Ela	ribombou	de	novo.	–	...	tanto	quanto
ama	seus	próprios	filhos.
Han	engoliu,	a	garganta	apertada	e	dolorida.
–	Eu	também	me	sinto	assim,	Dewlanna.	Você	vai	sempre	ser	a	mãe	que	eu
não	tive.
Um	longo	gemido	de	angústia	a	fez	estremecer.	Ela	ribombou	mais	uma	vez.
–	Não	–	insistiu	Han.	–	Não	vou	deixar	você.	Vou	ficar	aqui	até...	até...	–	Ele
não	conseguiu	terminar	a	frase.
Dewlanna	agarrou	o	braço	dele	com	uma	ressurgência	de	sua	velha	força	e
rosnou	para	Han	com	urgência.
–	Se	eu...	–	Han	estava	com	dificuldades	para	entender	a	fala	pastosa	dela.	–
Se	eu	morrer...	nada?	Ah,	você	está	dizendo	que,	se	eu	não	viver,	você	terá
morrido	por	nada?
Ela	concordou	com	a	cabeça.	Em	meio	ao	ninho	de	pelos,	os	olhos	de
Dewlanna	sustentavam	o	olhar	de	Han	com	toda	a	intensidade	que	ela	conseguiu
reunir.	Han	balançou	a	cabeça	com	teimosia.	Como	ele	poderia	abandoná-la	para
morrer	sozinha?
Dewlanna	roncou	baixinho,	de	leve.
–	Sim,	eu	sei	que	você	ficará	bem,	reunida	ao	poder	vital	–	concordou	Han,
tentando	soar	sincero.	Sabia	que	os	Wookiees	acreditavam	num	poder	que	unia
toda	a	existência.	Pessoalmente,	ele	achava	que	esse	poder	(ele	nunca	tinha
conseguido	traduzir	o	termo	precisamente;	a	palavra	wookiee	poderia	significar
“potência”	ou	“força”)	em	que	Dewlanna	acreditava	com	tanta	firmeza	não
passava	de	superstição.
Porém,	se	fosse	um	conforto	para	ela	acreditar	naquilo	em	seus	momentos
finais,	Han	não	discutiria.	Lembrou-se	das	palavras	que	ela	tinha	lhe	dito	tantas
vezes.
–	Dewlanna,	que	o	poder	vital	esteja	com	você...	–	Por	um	momento	ele
desejou	que	também	pudesse	acreditar...
Ela	gemeu	de	dor.	Han	percebeu	que	ela	se	ia	rapidamente.	Então	Dewlanna
ribombou	fracamente,	e	mais	uma	vez	ele	traduziu	automaticamente.
–	Seu	último	pedido...	–	Ele	engasgou,	mal	capaz	de	pronunciar	as	palavras.
–	Você	quer	que	eu...	me	vá...	para	viver.	E	para	ser...	feliz.
Han	fez	um	esforço	para	não	irromper	em	lágrimas.
–	Tudo	bem	–	concordou	ele.	–	Eu	vou.	Ainda	tenho	tempo	para	embarcar
naquela	nave-robô	antes	que	ela	decole.
Dewlanna	ganiu	fracamente.
–	Eu	prometo	–	concordou	ele,	com	a	voz	falhando.	–	Vou	agora.	E	juro	que
sempre	me	lembrarei	de	você,	Dewlanna.
Ela	já	não	conseguia	dizer	mais	nada,	mas	ele	tinha	certeza	de	que	a	amiga	o
ouvira.	Han	a	deitou	gentilmente	no	convés,	depois	se	levantou	e	pegou	a
pistola.	Então,	depois	de	lançar	um	último	olhar	a	Dewlanna,	Han	Solo	se	virou
e	saiu	correndo	pela	porta.
Seus	passos	ecoavam	enquanto	ele	corria	pelos	corredores	da	Sorte	de
Mercador	,	pois	aquele	não	era	mais	o	momento	de	ser	furtivo.	Ele	tinha	que
alcançar	o	vão	de	atracagem	e	aquele	cargueiro-robô	ylesiano!	Han	não	fazia
ideia	de	quando	a	nave	partiria	da	Sorte	,	mas	o	cronograma	de	carga	e	descarga
postado	para	os	estivadores	espaciais	tinha	listado	o	cargueiro	como	estando
pronto	para	partir	assim	que	os	droides	terminassem	de	reabastecê-lo.	E,	quando
Han	surrupiara	e	escondera	o	traje	espacial,	eles	tinham	acabado	de	iniciar	o
processo.
A	Sonho	Ylesiano	poderia	partir	a	qualquer	momento!
Ofegante,	Han	saiu	correndo	para	a	escotilha,	os	pés	batendo	nos	conveses
que	tinham	sido	seu	playground	desde	que	ele	se	entendera	por	gente.	Ao	longe,
o	rapaz	ouviu	vozes	sonolentas,	misturadas	a	gritos	e	ordens.
Não	posso	deixar	que	eles	me	peguem.	Shrike	vai	me	matar.	Essa	certeza
concedeu	velocidade	aos	seus	pés.
Han	derrapou	pela	curva	final	e	agarrou	o	traje	espacial	que	tinha	ocultado
atrás	de	alguns	equipamentos	de	reabastecimento.	O	capacete	pendeu	sobre	o
braço	e	bateu	na	barriga	dele	enquanto	o	rapaz	digitava	apressadamente	o	código
roubado	no	teclado	da	porta	da	escotilha.
Segundos	se	passaram.	Os	sons	de	perseguição	ficavam	mais	altos.	Porém,
eles	certamente	pensariam	que	Han	tinha	fugido	para	o	convés	das	naves
auxiliares	ou	mesmo	para	as	cápsulas	de	fuga.	Ninguém	adivinharia	que	ele	seria
louco	o	bastante	para	tentar	embarcar	clandestinamente	num	cargueiro-robô.	Ou,
pelo	menos,	era	com	isso	que	ele	contava...
A	escotilha	se	abriu.	Han	pulou	para	dentro,	fechou	a	porta	de	pressão	e
começou	a	vestir	o	traje	espacial.	Conferiu	o	suprimento	de	ar.	Cheio.	Ótimo.
Originalmente,	tinha	planejado	trazer	alguns	tanques	de	ar	adicionais,	mas	não
ousava	correr	o	risco	de	sair.	O	tanque	do	traje	duraria	dois	dias.	Deveria	bastar,
a	não	ser	que	a	Sonho	fosse	um	cargueiro	particularmente	lento.	Já	que	a	nave
era	automatizada,	o	rapaz	não	teria	como	descobrir	qual	rota	seguiria,	ou	qual
velocidade	fora	programada.
Han	fez	uma	careta.	Só	um	homem	desesperadousaria	esse	método	de	fuga.
E	ele	estava	realmente	desesperado.	Esperava	apenas	não	chegar	morto	em
Ylesia	por	ter	ficado	sem	ar.
Vamos	ver...	rações...	confere.	Tanque	de	água...	cheio.	Ótimo.	Mais	um
resultado	da	insistência	do	capitão	Shrike	em	manter	todo	o	equipamento	da
nave	em	perfeita	ordem.
Han	arrastou	o	traje	por	sobre	os	braços	do	seu	macacão	cinzento	de
tripulante	e	fechou	o	selo	frontal.	Pegou	o	capacete,	desajeitado	por	conta	das
luvas,	e	o	colocou	sobre	a	cabeça.	Era	quase	inteiramente	de	vidrine,	e	Han
conseguia	ver	em	todas	as	direções,	menos	diretamente	atrás	de	si.	Uma	fileira
de	holoindicadores	corria	pela	base	do	capacete,	informando	os	sinais	vitais,	a
quantidade	de	ar	restante	e	todos	os	outros	dados	necessários	para	a
sobrevivência.	Han	poderia	“falar”	com	o	traje	de	forma	limitada	ao	apertar	a
alavanca	de	comunicação	com	o	queixo	e	dar	instruções	relacionadas	à
temperatura,	mistura	de	ar,	e	coisas	do	gênero.
Certo,	é	agora	ou	nunca	,	pensou	o	rapaz	enquanto	seguia	até	a	escotilha	de
conexão	e	digitava	a	sequência	final	para	equalizar	a	pressão	entre	a	câmara
estanque	e	a	Sonho	Ylesiano.	Ouviu	o	leve	sibilo	do	ar	sendo	esvaziado	da
câmara.
A	Sonho	,	sendo	automatizada,	não	precisava	de	ar	para	operar.	A	nave
conteria	apenas	vácuo.
Finalmente,	a	escotilha	se	abriu	e	Han	entrou.
A	nave	estava	lotada	de	equipamento	e	carga,	e	os	corredores	eram	bem
estreitos.	A	Sonho	não	fora	construída	para	acomodar	uma	tripulação	viva,
apenas	para	manutenção	de	rotina,	e	Han	teve	que	se	virar	de	lado	para	se
espremer.	O	jovem	ficou	grato	por	um	instante	que	toda	a	engenharia	padrão
fosse	pensada	para	funcionar	com	gravidade.	De	outra	forma,	ele	poderia	ter	sido
obrigado	a	lidar	com	zero	g,	e	isso	teria	sido	um	enorme	aborrecimento.
Han	tinha	saído	da	Sorte	de	Mercador	em	traje	espacial	com	as	equipes	de
solda	várias	vezes	desde	que	fora	considerado	velho	o	bastante	para	serviços
perigosos	na	nave,	flutuando	no	espaço,	atado	à	nave	só	por	um	cordão	umbilical
aparentemente	frágil.	Tinha	sido	meio	empolgante	nas	primeiras	vezes,	mas	Han
não	era	lá	muito	fã	de	ficar	sem	peso,	e	logo	tinha	aprendido	a	nunca	olhar	para
“baixo”.	Não	ver	nada	além	de	espaço	sob	os	pés	por	anos-luz	sem	conta	bastava
para	fazer	sua	cabeça	girar.
Han	partiu	em	direção	à	“ponte”,	concluindo	que	seria	onde	encontraria	o
maior	espaço	vazio.	Chegou	lá	rapidamente;	a	Sonho	era	uma	nave	pequena.	Se
a	listagem	de	carga	estivesse	correta,	ela	tinha	trazido	uma	remessa	de	especiaria
brilhestim	de	primeira	e	partiria	com	um	estoque	de	componentes	eletrônicos
corellianos	de	alta	qualidade,	que	poderiam	ser	usados	em	manutenção
industrial.
Han	se	perguntou	por	um	instante	quem	Garris	Shrike	tinha	subornado	para
poder	receber	um	carregamento	de	especiaria.	A	substância	era	controlada
rigidamente	pela	maioria	dos	governos	planetários,	e	também	pela	comissão	de
comércio	imperial.
Virou-se	de	lado	para	entrar	na	ponte	e	ficou	paralisado.
O	que,	em	nome	de	todos	os	Filhos	de	Barab,	um	droide	astromec	está
fazendo	na	ponte?	Todo	mundo	sabia	que	droides	não	pilotavam	naves	sozinhos,
então	ele	não	poderia	ser	o	“capitão”.	Han	fez	uma	careta	dentro	do	capacete	de
vidrine.	O	droide	deveria	estar	ali	como	algum	tipo	de	alarme	antirroubo,	um
sofisticado	dispositivo	de	comunicação	para	ajudar	a	deter	ladrões	portuários	ou
piratas	espaciais.	Han	sabia	que	uma	das	razões	pelas	quais	os	sacerdotes
Ylesianos	estavam	ansiosos	para	contratar	um	piloto	–	preferencialmente	um
corelliano,	disse	o	anúncio	deles	–	era	o	fato	de	estarem	perdendo	naves-robô
para	piratas.
Enquanto	estava	ali	parado,	torcendo	para	que	o	droide	não	tivesse	percebido
sua	presença,	o	rapaz	sentiu	a	Sonho	estremecer.	Estamos	desatracando!	Preciso
me	preparar	para	o	impulso	de	separação!
Com	velocidade,	Han	se	afastou	da	ponte	e	voltou	ao	compartimento	de
carga.	Finalmente	encontrou	o	que	procurava,	e	bem	a	tempo.	Um	espaço
pequeno	onde	pudesse	se	sentar,	do	tamanho	certo	para	que	ele	encolhesse	as
pernas	e	as	abraçasse.
A	Sonho	estremeceu	de	novo	e	de	novo.	Mentalmente,	Han	visualizou	as
braçadeiras	de	atracação	se	soltando,	uma	de	cada	vez.	Falta	só	mais	uma,	e
então...
A	nave	estremeceu	uma	última	vez,	depois	deu	um	solavanco	violento.
Como	a	Sonho	não	deveria	ter	tripulantes,	podia	usar	padrões	de	aceleração
muito	mais	brutos	que	aqueles	empregados	por	uma	nave	com	ocupantes	vivos.
Wham!	O	corpo	de	Han	sofreu	um	tranco,	então	ele	se	segurou	contra	o
impacto	da	aceleração	violenta.	A	Sonho	tinha	desatracado	e	agora	zarpava!
Han	visualizou	a	nave	se	propelindo	para	longe	da	Sorte	de	Mercador	,	fora
do	abraço	do	campo	gravitacional	de	Corellia.	Fechou	os	olhos	e	imaginou	seu
mundo	natal	girando	preguiçosamente	contra	o	pano	de	fundo	das	estrelas.
Corellia	era	um	belo	planeta,	com	estreitos	mares	azuis,	florestas	marrons	e
verdes,	desertos	beges	e	grandes	cidades.	O	lado	noturno	cintilava	como	um
drone	de	batalha	cravejado	de	luzes...
O	impulso	mais	brutal	de	aceleração	o	atingiu	então,	e	Han	ficou
desconfortavelmente	preso	contra	o	contêiner	de	carga.	Fizemos	o	salto	para	a
velocidade	da	luz	,	percebeu	ele.
Momentos	depois,	enquanto	a	velocidade	da	nave	se	estabilizava,	ele
conseguiu	se	mover	de	novo.	Flexionou	os	braços	e	as	pernas	e	fez	uma	careta
ao	sentir	os	hematomas.	São	da	luta	na	cozinha,	entendeu.	Com	isso	se	lembrou
de	Dewlanna	com	uma	tristeza	súbita	e	visceral.	As	lágrimas	arderam	em	seus
olhos,	e	ele	tentou	contê-las	com	ferocidade.	Chorar	num	traje	espacial	era	uma
péssima	ideia,	já	que	você	não	poderia	enxugar	o	rosto.
Han	fungou	e	piscou	na	tentativa	de	bloquear	as	lágrimas.	Dewlanna...
pensou.	Sua	amiga	tinha	dado	a	vida	para	que	ele	tivesse	aquela	chance.
Controle-se,	Solo,	ordenou	a	si	mesmo	com	severidade.	A	garganta	doía,	mas
Han	engoliu	com	força	e	mordeu	o	lábio	até	a	vontade	de	chorar	se	ir.	Não
conseguia	lembrar	a	última	vez	que	tinha	chorado,	e	qual	seria	a	utilidade?	Não
traria	Dewlanna	de	volta...
Han	sabia	que	Dewlanna	acreditava	numa	pós-vida	do	espírito.	Se	ela
estivesse	certa	quanto	a	isso,	então	talvez	pudesse	ouvi-lo	agora.
–	Ei,	Dewlanna	–	sussurrou	Han.	–	Eu	consegui.	Caí	na	estrada.	Estou	indo
para	Ylesia	e	lá	me	tornarei	o	melhor	piloto	do	setor.	Vou	aprender	o	bastante	e
faturar	o	bastante	para	me	candidatar	à	Academia,	do	jeito	que	a	gente	sempre
sonhou.	Estou	livre,	Dewlanna.	–	A	voz	dele	falhou.	Estamos	seguros,
Dewlanna.	Shrike	não	pode	nos	tocar	agora...
Encravado	em	sua	pequena	fresta,	o	jovem	piloto	sorriu	com	determinação
implacável.	Estou	livre	e	devo	tudo	a	você.	Jamais	me	esquecerei,	também.	Se
algum	dia	tiver	uma	chance	de	pagar	essa	dívida	ajudando	alguém	do	seu	povo,
juro	por	tudo	que	há	lá	fora	–	qualquer	deus,	poder-vital	ou	força	–	que	não	vou
hesitar.
Han	Solo	inspirou	profundamente	uma	golfada	de	ar	enlatado	de	traje
espacial.
–	Obrigado,	Dewlanna	–	sussurrou.
Onde	quer	que	ela	estivesse	agora,	Han	esperava	que	ela	pudesse	ouvi-lo.
Quando	Han	acordou	do	sono	exausto,	ficou	completamente	desorientado	a
princípio.	Onde	estou?	,	perguntou-se	grogue.	A	memória	voltou	de	supetão	em
imagens	rápidas	e	violentas:	a	mão	dele	segurando	uma	pistola	de	raios...	o	rosto
de	Shrike	retorcido	com	ódio	e	fúria...	Dewlanna,	ofegante,	morrendo	sozinha...
Engoliu	em	seco,	com	a	garganta	doendo.	Dewlanna	havia	sido	parte	de	sua
vida	desde	que	ele	era	só	um	garotinho	de	8,	talvez	9	anos.	Han	se	lembrava	do
dia	em	que	a	Wookiee	tinha	embarcado	com	seu	companheiro,	Isshaddik.	Ele
havia	sido	expulso	do	planeta	natal	dos	Wookiees	por	algum	crime	que
Dewlanna	nunca	tinha	revelado.	Ela	seguira	o	companheiro	ao	exílio,	deixando
para	trás	tudo	que	já	conhecera;	seu	lar	e	seus	filhotes	crescidos.
Mais	ou	menos	um	ano	depois,	Isshaddik	fora	morto	durante	uma	missão	de
contrabando	a	Nar	Hekka,	um	dos	mundos	no	setor	Hutt.	Shrike	anunciou	a
Dewlanna	que	ela	poderia	ficar	a	bordo	da	Sorte	de	Mercador	como	cozinheira,
já	que	o	capitão	tinha	passado	a	gostar	da	comida	que	ela	preparava.	Dewlanna
poderia	ter	voltado	aKashyyyk;	afinal,	ela	não	tinha	cometido	crime	nenhum,
mas	decidiu	ficar	na	Sorte	.
Por	minha	causa	,	pensou	Han	enquanto	localizava	o	canudo	de	acesso	à
água	no	capacete	e	dava	um	gole	cuidadoso.	Depois	pegou	duas	bolinhas	de
ração	com	a	língua	e	as	engoliu	com	outro	gole.	Não	era	a	mesma	coisa	que
comida	de	verdade,	mas	daria	para	o	gasto	pelo	dia...	Ela	ficou	por	minha	causa.
Queria	me	proteger	de	Shrike...
Han	suspirou,	sabendo	que	era	verdade.	Wookiees	estavam	entre	os
companheiros	mais	leais	e	firmes	da	galáxia,	ou	pelo	menos	assim	ele	tinha
ouvido.	Lealdade	e	amizade	wookiee	não	eram	concedidas	facilmente,	porém,
uma	vez	dadas,	jamais	vacilavam.
O	rapaz	se	reclinou	na	alcova	e	conferiu	o	tanque	de	ar.	Restavam	três
quartos.	Han	se	perguntou	quão	longe	a	Sonho	teria	viajado	enquanto	ele	dormia.
Em	alguns	minutos,	ele	iria	à	sala	de	controle	ver	se	era	capaz	de	decifrar	os
instrumentos	do	piloto	automático.
A	mente	de	Han	vagueou	de	volta	no	tempo,	recordando	Dewlanna	com
tristeza.	Depois,	conforme	ele	relaxava,	sua	memória	se	perdeu	em	dias	ainda
mais	distantes.	Sua	primeira	memória	“real”	–	todo	o	resto	se	resumia	a
fragmentos	sem	sentido,	pedaços	de	imagens	velhas	e	distorcidas	demais	para
significar	alguma	coisa	–	era	do	dia	que	Garris	Shrike	o	trouxera	para	“casa”	na
Sorte	de	Mercador...
O	menininho	estava	encolhido	na	boca	de	um	beco	úmido	e	imundo,
tentando	não	chorar.	Ele	já	era	muito	grande	para	chorar,	não	era?	Mesmo	que
estivesse	com	frio,	com	fome	e	sozinho.	Por	um	momento,	ele	se	perguntou	por
que	estava	sozinho,	mas	foi	como	se	uma	imensa	porta	de	metal	se	fechasse
sobre	aquele	pensamento,	trancando	tudo	detrás	dela.	Do	outro	lado	da	porta
havia	perigo,	do	outro	lado	da	porta	havia...	coisas	ruins.	Dor,	e...	e...
O	menino	sacudiu	a	cabeça	e	seus	cabelos	escorridos	e	sujos	caíram
desordenados	em	seu	rosto.	Ele	os	afastou	com	a	mão	que	era	tão	encardida	de
sujeira	que	sua	cor	de	pele	natural	mal	era	visível.	Vestia	apenas	calças
esfarrapadas	e	uma	túnica	sem	mangas	rasgada	que	era	pequena	demais.	Seus
pés	estavam	descalços.	Ele	teve	sapatos	algum	dia?
Ele	pensou	que	talvez	se	lembrasse	de	sapatos.	Bons	sapatos,	de	qualidade,
sapatos	que	alguém	havia	colocado	nos	seus	pés	e	o	ajudado	a	amarrar.	Alguém
que	era	gentil,	que	sorria	em	vez	de	fazer	cara	de	raiva,	alguém	que	era	limpo,
cheirava	bem,	que	vestia	roupas	bonitas...
SLAM!
A	porta	se	fechou	de	novo,	e	o	pequeno	Han	(ele	sabia	que	esse	era	seu
nome,	mas	não	conhecia	nenhum	outro	que	o	acompanhasse)	estremeceu	com	a
dor	em	sua	mente.	Ele	já	sabia	que	não	deveria	deixar	tais	pensamentos
encherem	sua	cabeça.	Pensamentos	e	memórias	assim	eram	maus,	eles
machucavam...	melhor	não	pensá-los.
Ele	fungou	de	novo	e	esfregou	futilmente	o	nariz	que	escorria.	Percebeu	que
estava	parado	numa	poça	de	dejetos,	e	seus	pés	estavam	tão	frios	que	mal
conseguia	senti-los.	Era	noite,	e	prometia	fazer	uma	madrugada	bem	fria.
A	fome	se	retorceu	no	estômago	de	Han	como	uma	coisa	viva,	uma	criatura
que	mordia	dolorosamente.	Ele	não	conseguia	se	lembrar	de	quando	tinha
comido	pela	última	vez.	Tinha	sido	naquele	dia	de	manhã,	quando	ele
encontrara	uma	fruta	de	kasava	no	lixo,	aquela	fruta	madura	e	suculenta	que
tinha	sido	comida	apenas	pela	metade?	Ou	será	que	tinha	sido	na	noite
passada?
O	garotinho	decidiu	que	não	poderia	ficar	ali	parado.	Tinha	que	se	mover.
Han	saiu	do	beco	para	a	calçada.	Sabia	como	mendigar...	quem	é	que	lhe
ensinara	isso?
SLAM!
Não	importava	quem	tinha	ensinado,	só	que	tinha	ensinado	bem.	Ajustando
os	traços	para	ficar	o	mais	patético	possível,	Han	arrastou	os	pés	até	a
transeunte	mais	próxima.
–	Por	favor...	moça...	–	choramingou	ele.	–	Fome,	tô	com	tanta	fome...	–	Ele
estendeu	a	mão,	palma	para	cima.	A	mulher	com	quem	ele	falou	reduziu
minimamente	a	velocidade,	olhou	de	súbito	para	a	palma	imunda	e	recuou,
puxando	a	saia	para	que	não	encostasse	nele.
–	Moça...	–	sussurrou	Han,	virando-se	para	observá-la	se	afastar	com
interesse	mais	que	profissional.	Ela	trajava	um	belo	vestido,	macio	e	brilhoso,
tipo...	reluzente...	sob	as	luzes	ásperas	das	ruas	daquela	cidade	portuária
corelliana.
Ela	o	lembrava	de	alguém,	uma	mulher	com	grandes	olhos	escuros,	pele
macia,	cabelos...
SLAM!
Han	começou	a	soluçar,	desesperançoso,	o	corpinho	tremendo	de	frio,	fome,
tristeza	e	solidão.
–	Ei,	você!	Han!	–	A	voz	forte,	mas	não	hostil,	rompeu	sua	muralha	de
infelicidade.	Choramingando	e	engolindo,	Han	ergueu	o	olhar	e	viu	um	sujeito
alto	se	curvando	sobre	ele.	Cabelos	negros,	pálidos	olhos	azuis.	Fedia	a	cerveja
alderaaniana	e	a	fumaça	de	uma	dúzia	de	drogas	ilegais,	mas	se	mantinha	de	pé
sem	cambalear,	ao	contrário	de	vários	outros	pedestres.
Ao	ver	que	Han	o	encarava,	o	homem	se	agachou	sobre	os	calcanhares,	o
que	o	deixou	pouco	acima	do	nível	dos	olhos	do	menino.
–	Você	sabe	que	já	é	muito	grande	para	chorar	na	rua,	não	sabe?
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça,	ainda	fungando,	mas	tentando	se	controlar.
–	Thim...	sim.	–	Inicialmente	ele	ficou	com	a	língua	meio	presa,	como	tinha
acontecido	quando	ele	aprendera	a	falar.	Aquilo	fora	há	muito,	muito	tempo,
pensou	Han.	Já	falava	desde	a	estação	fria,	e	logo	seria	a	estação	fria	de	novo.
Ele	estava	falando	desde...
SLAM!
A	criança	estremeceu	de	novo	quando	sua	mente	bloqueou	decisivamente
todas	as	memórias	daquele	tempo	anterior.	Outra	coisa	emergiu,	algo	que	ele
tinha	ignorado	a	princípio	em	sua	infelicidade.	Han	arregalou	os	olhos.	Aquele
homem	o	chamou	pelo	nome!	Como	ele	sabe	o	meu	nome?
–	Você...	quem	é	você?	–	sussurrou	Han.	–	Como	que	você	sabe	o	meu
nome?
O	homem	sorriu,	mostrando	muitos	dentes.	Era	para	ser	uma	expressão
amistosa,	mas	havia	alguma	coisa	nele	que	incomodava	o	menino.	Lembrava
Han	das	alcateias	de	canoides	que	caçavam	nos	becos.
–	Eu	sei	de	muitas	coisas,	garoto	–	respondeu	o	homem.	–	Me	chame	de
capitão	Shrike.	Você	consegue	dizer?
–	S-sim.	Cap-tão	Shrike	–	repetiu	Han,	incerto.	Ele	soltou	um	soluço
enquanto	seu	choro	morria.	–	Mas...	mas	como	você	sabia	meu	nome?	Por
favor?
O	homem	estendeu	a	mão	como	se	fosse	bagunçar	o	cabelo	do	menino,
depois	pareceu	notar	a	sujeira	e	os	piolhos	que	habitavam	aquela	jovem	cabeça
e	mudou	de	ideia.
–	Você	ficaria	surpreso,	Han.	Sei	de	quase	tudo	que	acontece	aqui	em
Corellia.	Sei	quem	está	perdido	e	quem	foi	encontrado,	quem	está	à	venda	e
quem	foi	vendido,	e	onde	todos	os	corpos	estão	enterrados.	Na	verdade,	eu
estava	de	olho	em	você.	Parece	ser	um	rapaz	esperto.	Você	é	esperto?
Han	se	endireitou	e	olhou	o	homem	nos	olhos.
–	Sim,	capitão	–	respondeu	ele,	forçando	a	voz	a	ficar	firme.	–	Eu	sou
esperto.	–	Ele	sabia	que	era,	também.	Qualquer	um	que	não	fosse	não	duraria
meses	nas	ruas,	como	ele	tinha	durado.
–	Ótimo,	grande	garoto!	Bem,	preciso	de	um	menino	esperto	para	trabalhar
para	mim.	Por	que	você	não	vem	comigo?	Eu	lhe	darei	uma	refeição	decente	e
um	lugar	quente	para	dormir.	–	Ele	sorriu	de	novo.	–	E	eu	aposto	que	você
gostaria	de	ver	minha	nave.	–	Apontou	para	o	céu	que	escurecia.
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça,	empolgado.	Comida?	Uma	cama?	E
especialmente...
–	Uma	nave?	Sim,	capitão!	Quero	ser	um	piloto	quando	crescer!
O	homem	riu	e	estendeu	a	mão.
–	Bem,	venha	comigo,	então!
Han	deixou	a	mãozona	segurar	a	dele,	e	então	os	dois	foram	embora	juntos,
em	direção	ao	espaçoporto...
Han	se	ajeitou	e	balançou	a	cabeça.	Eu	nunca	deveria	ter	ido	com	ele
naquele	dia,	pensou.	Se	eu	não	tivesse	ido	com	ele,	Dewlanna	ainda	estaria
viva...
Porém,	se	ele	não	tivesse	ido	com	Shrike,	provavelmente	teria	acordado
alguma	noite	no	beco	e	descoberto	que	vrelts	tinham	comido	suas	orelhas	e
nariz,	que	nem	tinha	acontecido	com	uma	das	outras	“fedelhas	de	rua”	que
Garris	Shrike	tinha	“resgatado”.
Han	sorriu,	sombrio.	O	capitão	Shrike	não	tinha	um	único	osso	altruísta	no
corpo.	Ele	recolhia	as	crianças	e	as	usava	para	faturar	créditos.	Em	quase	todos
os	planetas	que	a	Sorte	visitava,	Shrike	juntava	um	grupo	de	seus	“resgatados”	e
os	levava	às	ruas	numa	nave	auxiliar.	Lá	ele	os	deixava	sob	a	supervisão	de	um
droide	que	elemesmo	tinha	programado,	F8GN.	8GN	os	distribuía	por
“territórios”	e	administrava	os	lucros	enquanto	as	crianças	espreitavam	as	ruas,
mendigando	e	batendo	carteiras.
Usava	os	menorzinhos,	os	magrinhos,	os	deformados	para	mendigar.	A
menina	mastigada	por	vrelts,	Danalis,	sempre	faturou	alto.	Shrike	a	fez	trabalhar
duro	por	anos,	prometendo	sempre	que,	depois	que	ela	ganhasse	créditos
suficientes	para	ele,	o	capitão	a	levaria	para	consertar	seu	rosto,	para	que	ela
parecesse	humana	outra	vez.
Só	que	ele	nunca	levou.	Por	volta	dos	14	anos,	Danalis	acabou	percebendo
que	Shrike	jamais	cumpriria	suas	promessas.	Certa	“noite”,	ela	entrou	na
escotilha	estanque	da	Sorte	e	a	abriu	para	o	vácuo...	sem	vestir	um	traje	antes.
Han	havia	participado	da	equipe	de	limpeza.	Estremeceu	com	a	memória.
Pobre	Danalis.	Han	ainda	conseguia	vê-la	em	sua	mente,	entregando	os
recibos	de	mendicância	do	dia	a	8GN.	O	droide	era	alto	e	estreito,	feito	de	metal
cor	de	cobre	avermelhado.	Tinha	sido	consertado	tantas	vezes	que	havia	pedaços
diferentes	por	toda	parte,	como	se	vestisse	um	traje	muito	remendado.	Remendos
acobreados,	remendos	dourados,	remendos	de	aço...	E	um	grande	remendo
prateado	no	topo	da	cabeça.
Han	ainda	escutava	a	voz	do	droide	em	sua	mente.	8GN	tinha	algum
problema	nos	alto-falantes,	e	sua	“voz”	alternava	entre	o	grave	melífluo	e
mecânico	guinchante.	Porém,	independentemente	de	como	ele	soasse,	todas	as
crianças	prestavam	atenção	ao	que	8GN	dizia...
–	Agora,	queridas	criancinhas,	vocês	todos	receberam	seus	territórios?	–	O
droide	acobreado	girou	a	cabeça	enferrujada	sobre	o	pescoço	de	cano,
contemplando	as	oito	crianças	da	Sorte	de	Mercador	alinhadas	diante	de	si.
Todas	as	crianças,	incluindo	Han,	com	seus	5	anos,	afirmaram	que	sim,	elas
de	fato	tinham	recebido	seus	territórios.
–	Muito	bem	então,	queridas	criancinhas	–	continuou	o	droide	em	seus	tons
graves,	depois	esganiçados.	–	Vou	lhes	passar	suas	tarefas	do	dia.	Padra	–	o
droide	olhou	para	um	garotinho	só	um	ano	mais	velho	que	Han	–,	hoje	vamos
oferecer	a	você	sua	primeira	chance	de	nos	mostrar	como	você	pode	ser	útil
àqueles	pobres	cidadãos	sobrecarregados	com	cédulas	de	créditos,	joias	e	caros
comlinks.
Os	olhos	do	droide	cintilaram	fantasmagoricamente.	Eles	eram	de	cores
diferentes;	um	deles	tinha	queimado	há	muito	tempo,	e	Shrike	o	substituíra	com
uma	lente	recuperada	de	um	droide	descartado,	deixando	F8GN	com	um	“olho”
vermelho	e	outro	verde.
–	Você	está	disposto	a	ajudar	esses	pobres	cidadãos	desavisados,	Padra?	–
indagou	8GN,	inclinando	a	cabeça	metálica	inquisitivamente	para	o	lado,	com	a
voz	carregada	de	camaradagem	artificial.
–	Com	certeza!	–	exclamou	o	garotinho.	Ele	lançou	um	olhar	triunfante	a
Han	e	às	outras	crianças	mais	novas.	–	Chega	de	pedir	esmola	que	nem	um
bebê!	–	sussurrou	ele	empolgado.
Han,	que	mal	tinha	começado	a	aprender	as	habilidades	necessárias	para
bater	carteiras	com	rapidez	e	sem	ser	detectado,	sentiu	uma	pontada	de	inveja.
Bater	carteiras	era	fácil,	depois	que	você	aprendia	a	fazer	direito.	Era	muito
mais	fácil	cumprir	a	cota	de	8GN	para	um	dia	de	“trabalho”	batendo	carteiras
do	que	mendigando.	Pedir	esmolas	exigia	que	você	abordasse	pelo	menos	uns
três	alvos	até	receber	alguma	coisa.
Mas	bater	carteiras...	essa	sim	era	a	melhor	maneira	de	faturar	alto!	Se	você
escolhesse	o	alvo	certo,	poderia	ganhar	o	bastante	numa	mãozada	para
comparecer	com	sua	cota	a	8GN	antes	do	meio-dia,	e	então	ficaria	livre	para
brincar.	Han	se	perguntou	se	8GN	lhe	daria	algum	tempo	para	treinar	se	ele	se
apressasse	e	mendigasse	sua	cota	do	dia	antes	que	os	outros	terminassem.
Era	divertido	treinar	com	o	droide	magricelo	avermelhado	porque	8GN
ficava	muito	engraçado	vestindo	roupas!	O	droide	vestiria	trajes	de	rua	típicos
do	planeta	onde	eles	estivessem,	e	então	ou	ficaria	parado,	ou	passaria
caminhando	pelo	estudante.	Han	tinha	aprendido	a	aliviar	o	droide	do	crono
escondido,	cédulas	de	créditos,	e	até	alguns	tipos	de	joias	sem	que	8GN
detectasse	seus	dedos	no	processo.
Só	que	não	conseguia	fazê-lo	100%	das	vezes.	Han	franziu	o	cenho	um
pouco	enquanto	se	afastava.	8GN	exigia	perfeição	de	sua	pequena	gangue,
especialmente	dos	punguistas.	O	droide	não	deixaria	que	ele	começasse	a
roubar	até	que	tivesse	certeza	de	que	Han	conseguiria	fazê-lo	perfeitamente
todas	as	vezes.
Distraído,	ele	pegou	um	punhado	de	terra	e	esfregou	nas	mãos	e	depois	no
rosto,	que	já	estava	suado.	Que	planeta	era	este,	aliás?	Não	se	lembrava	de	ter
ouvido	o	nome.	O	povo	nativo	tinha	pele	esverdeada,	com	pequenas	orelhas
giratórias	e	enormes	olhos	roxo-escuro.	Tinham	ensinado	a	Han	apenas
algumas	palavras	da	língua	local,	mas	ele	aprendia	rápido	e	sabia	que,	quando
chegasse	a	hora	de	a	Sorte	de	Mercador	seguir	adiante,	seria	capaz	de	entendê-
la	bem	e	falaria	(pelo	menos	o	jargão	das	ruas)	passavelmente.
Onde	quer	que	fosse,	era	quente.	Quente	e	úmido.	Han	ergueu	o	olhar	para
o	céu	azul	esverdeado,	onde	um	sol	laranja	pálido	fulgurava.	A	perspectiva	de
passar	várias	horas	na	sua	rua	designada	choramingando,	esmolando	e
bajulando	transeuntes	não	era	muito	atraente.	Eu	odeio	mendigar,	pensou	Han
azedamente.	Quando	eu	ficar	um	pouco	mais	velho,	vou	fazer	eles	me	deixarem
roubar	em	vez	de	mendigar.	Eu	sei	que	serei	um	bom	ladrão,	e	não	sou	lá	um
grande	mendigo.
Ele	sabia	que	sua	aparência	estava	correta;	tinha	ficado	mais	alto	nos
últimos	dois	anos,	mas	ainda	estava	magro	o	suficiente	para	ser	chamado	de
subnutrido.	E	sabia	como	deixar	a	voz	servil,	os	modos	encolhidos	e
acovardados,	como	se	apenas	o	desespero	o	fizesse	pedir	esmolas.
Talvez	fossem	os	olhos	dele,	pensou	Han.	Talvez	o	ressentimento	e	a
vergonha	secretos	em	ser	obrigado	a	mendigar	aparecessem	neles,	e	os	alvos
potenciais	notassem	isso.	Ninguém	respeitava	um	mendigo,	e	Han,	acima	de
tudo,	nutria	um	desejo	não	declarado	de	ser	respeitado.
Não	só	respeitado,	ele	queria	ser	respeitável.	Não	se	lembrava	muito	da	vida
antes	de	Garris	Shrike	o	ter	encontrado	nas	ruas	de	Corellia,	mas	Han	de
alguma	forma	sabia	que,	no	passado,	as	coisas	tinham	sido	diferentes.
Muito	tempo	atrás,	tinham	lhe	ensinado	que	mendigar	era	motivo	de
vergonha.	E	que	roubar...	roubar	era	pior.	Han	mordeu	o	lábio	com	raiva.	Sabia
que	alguém,	talvez	os	pais	de	que	não	se	lembrava	mais,	tinha	lhe	ensinado
essas	coisas.	Um	dia,	há	muito	tempo,	tinham	lhe	ensinado	caminhos
diferentes...	valores	diferentes.
Só	que	agora,	o	que	ele	poderia	fazer?	A	bordo	da	Sorte	de	Mercador,	havia
uma	regra	cardeal.	Se	você	não	trabalhasse,	deveria	mendigar	ou	roubar.	Han
não	tinha	outras	habilidades	para	oferecer.	Era	pequeno	demais	para	ser	piloto,
fraco	demais	para	ser	estivador	de	contrabando.
Mas	isso	não	vai	durar	para	sempre!,	lembrou	a	si	mesmo.	Cresço	mais	a
cada	dia	que	passa!	Logo	serei	grande,	em	só	mais	5	anos	eu	terei	10,	e	então,
talvez,	eu	seja	grande	o	bastante	para	ser	piloto!
Han	tinha	descoberto	que,	quando	decidia	realizar	alguma	coisa,	ele
conseguia.	Tinha	certeza	de	que	virar	piloto	não	seria	exceção.
E	quando	eu	souber	pilotar,	esse	vai	ser	meu	caminho	para	sair	da	Sorte	de
Mercador,	pensou	ele,	com	a	mente	mergulhando	automaticamente	num	velho
sonho	que	ele	nunca	tinha	contado	para	ninguém.	Uma	vez	ele	tinha
confidenciado	a	história	para	uma	das	outras	crianças,	e	aquele	vrelt	maldito
espalhara	para	todo	mundo.	Shrike	e	os	outros	passaram	semanas	rindo	de	Han,
chamando-o	de	“capitão	Han	da	Marinha	Imperial”,	até	Han	ficar	com	vontade
de	se	esconder	num	canto	com	as	mãos	sobre	as	orelhas.	Ele	precisou	de	todo	o
autocontrole	para	conseguir	apenas	dar	de	ombros	e	fingir	que	não	ligava...
É,	e	quando	eu	for	o	melhor	piloto	de	todos	e	tiver	um	montão	de	créditos,
vou	me	candidatar	à	Academia	Imperial.	Vou	virar	um	oficial	da	Marinha.	Aí
vou	voltar	e	pegar	Shrike,	prender	ele,	e	ele	será	mandado	para	as	minas	de
especiaria	de	Kessel.	E	vai	morrer	lá...	Esse	pensamento	fez	Han	abrir	um
sorriso	predatório.
No	extremo	final	de	sua	fantasia,	Han	se	imaginava	bem-sucedido,
respeitado,	o	melhor	piloto	da	galáxia,	com	uma	naveprópria,	um	monte	de
amigos	leais	e	créditos	de	sobra.	E...	uma	família.	É,	uma	família	para	chamar
de	sua.	Uma	bela	esposa	que	o	adoraria,	que	participaria	de	aventuras	com	ele,
e	talvez	filhos.	Ele	seria	um	ótimo	pai.	Não	abandonaria	seus	filhos,	como	ele
mesmo	tinha	sido	abandonado.
Pelo	menos,	Han	achava	que	tinha	sido	abandonado,	porém	não	conseguia
se	lembrar	de	nada	daquilo.	Não	sabia	nem	seu	sobrenome,	então	não	tinha
como	rastrear	a	família.	Ou	talvez...	talvez	os	pais	dele	não	o	tivessem
abandonado...
Talvez	eles	tivessem	sido	assassinados,	ou	ele	mesmo	fora	sequestrado	e
separado	deles.	Han	decidiu	que	gostava	mais	desse	cenário.	Se	achasse	que
seus	pais	estavam	mortos,	não	ficaria	tão	bravo	com	eles,	pois	as	pessoas	não
tinham	culpa	de	morrer,	né?
Han	decidiu	que,	daquele	momento	em	diante,	pensaria	na	mãe	e	no	pai
como	estando	mortos.	Era	mais	fácil	assim...
Sabia	que	provavelmente	nunca	iria	descobrir	a	verdade.	A	única	pessoa	que
conhecia	alguma	coisa	sobre	o	passado	de	Han	era	Garris	Shrike.	O	capitão
vivia	dizendo	a	Han	que,	se	ele	fosse	bom,	se	trabalhasse	e	mendigasse	muito,	se
ganhasse	créditos	suficientes,	algum	dia	Shrike	lhe	contaria	os	segredos	que
explicavam	porque	o	menino	tinha	ido	parar	nas	ruas	de	Corellia.
Han	estreitou	os	lábios.	Claro,	capitão,	pensou	ele	.	Que	nem	você	ia
consertar	a	cara	de	Danalis...
O	menino	espiou	as	placas	de	sinalização.	Ele	não	conseguia	ler	aquelas	na
língua	nativa	do	planeta,	mas	havia	uma	tradução	em	língua	básica	na	parte	de
baixo.	É,	aquele	era	o	seu	território,	mesmo.
Han	respirou	fundo	e	se	preparou.	Uma	mulher	de	pele	verde	vestindo	um
robe	curto	vinha	na	direção	dele.
–	Moça...	–	choramingou	ele,	avançando	todo	encolhido	até	ela,	com	a
mãozinha	estendida	num	apelo.	–	Por	favor,	moça	bonita	elegante,	eu	imploro...
uma	ajudinha,	só	um	creditozinho,	tô	com	tanta	foooomeeee...
As	orelhinhas	giraram	na	direção	dele,	então	ela	afastou	o	olhar	e	passou
direto.
Num	sussurro,	Han	murmurou	um	termo	nada	elogioso	em	jargão	de
contrabandista,	e	então	se	virou	para	esperar	o	próximo	alvo...
Han	balançou	a	cabeça	e	se	forçou	a	sair	de	seu	devaneio.	Hora	de	ir
verificar	o	progresso	da	Sonho	Ylesiano.
O	jovem	piloto	ergueu-se	do	seu	cantinho	e	se	espremeu	pelas	passagens
estreitas	até	alcançar	a	ponte.	O	droide	astromec	ainda	estava	lá,	com	luzes
piscando	sem	parar	conforme	ele	rememorava	seus	pensamentos.	Era	uma
unidade	R2	relativamente	nova,	ainda	reluzente	em	prata	e	verde,	com	um	domo
transparente	em	cima	da	cabeça.	Dentro	do	domo,	Han	via	luzes	piscando	com	o
trabalho	do	droide,	que	estava	conectado	aos	controles	da	nave-robô	por	um
cabo.
O	droide	R2	deveria	estar	equipado	com	um	sensor	de	movimento,	porque
girou	a	“cabeça”	para	Han	quando	o	rapaz	entrou	audaciosamente	na	ponte	em
seu	traje	espacial.
As	luzes	piscaram	freneticamente	quando	ele	“falou”,	mas,	obviamente,	as
ondas	sonoras	não	viajavam	no	vácuo.	Han	ligou	a	unidade	de	comunicação	do
traje	e,	de	súbito,	seu	capacete	ficou	cheio	com	os	bleeps,	blurps	e	wheeps
angustiados.
–	Whee...	bleewheeeep...	wheep-whirr-wheep	!	–	anunciou	o	astromec	R2,
claramente	surpreso.	Han	suspirou.	O	comunicador	do	traje	transmitiria	tudo	que
ele	dissesse	ao	droide,	mas	como	ele	poderia	realmente	falar	com	aquele	raio	de
R2	sem	um	intérprete?	Como	quem	quer	que	tivesse	programado	o	droide	falava
com	ele?
Han	ativou	o	comunicador	do	traje.
–	Alô,	você!
–	Blurpp...	wheeep,	bleep-whirrr!	–	respondeu	a	unidade,	prestativa.
Han	fez	uma	careta	e	xingou	a	unidade	em	rodiano,	jargão	de	mercadores	e,
finalmente,	língua	básica.
–	O	que	eu	vou	fazer	agora?	–	rosnou.	–	Se	ao	menos	você	tivesse	um
módulo	de	fala	básica.
–	Mas	eu	tenho,	senhor	–	anunciou	o	droide	em	tom	trivial.	As	palavras
soaram	mecânicas	e	sem	entonação,	só	que	perfeitamente	compreensíveis.
Han	ficou	boquiaberto	diante	da	máquina	por	um	momento,	depois	sorriu.
–	Ei!	Isso	eu	nunca	tinha	visto!	Como	é	que	você	pode	falar?
–	Como	não	havia	espaço	a	bordo	desta	nave	para	uma	unidade	astromec
junto	de	uma	unidade	contraparte,	meus	mestres	me	programaram	com	um
módulo	de	transmissão	de	fala	básica,	para	que	eu	pudesse	me	comunicar	com
mais	facilidade	–	explicou	o	droide.
–	Legal!	–	exclamou	Han,	sentindo	uma	onda	de	alívio.	Ele	não	gostava
muito	de	droides,	mas	pelo	menos	teria	alguém	com	quem	falar,	e	talvez	fosse
necessário	que	os	dois	se	comunicassem.	Viagens	espaciais	eram	geralmente
rotineiras	e	seguras...	mas	havia	exceções.
–	Lamento	informar,	senhor	–	acrescentou	a	unidade	R2	–,	que	o	senhor	é
culpado	de	entrada	não	autorizada.	Não	deveria	estar	aqui.
–	Eu	sei	disso	–	respondeu	Han.	–	Peguei	uma	carona	nesta	nave.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não	compreende	o	termo	usado,	senhor.
Han	chamou	a	unidade	R2	de	um	nome	nada	elogioso.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não	compreende...
–	Cale	a	boca	!	–	berrou	Han.
A	unidade	R2	ficou	em	silêncio.
Han	respirou	bem	fundo.
–	Tudo	bem,	R2	–	disse	ele.	–	Eu	sou	um	clandestino.	Essa	palavra	consta
dos	seus	bancos	de	memória?
–	Consta	sim,	senhor.
–	Ótimo.	Eu	embarquei	clandestinamente	nesta	nave	porque	precisava	de
uma	carona	até	Ylesia.	Vou	ser	contratado	como	piloto	pelos	sacerdotes
Ylesianos,	entendeu?
–	Sim,	senhor.	Entretanto,	sou	obrigado	a	informar	ao	senhor	que,	na	minha
posição	de	droide	vigia	designado	a	garantir	a	segurança	desta	nave	e	de	seu
conteúdo,	serei	forçado	a	selar	todas	as	saídas	quando	alcançarmos	Ylesia,	e	em
seguida	informar	aos	meus	mestres	que	o	senhor	está	a	bordo,	assim
promovendo	a	sua	captura	pela	equipe	de	segurança.
–	Escuta	aqui,	camarada	–	retrucou	Han	generosamente	–,	quando	chegarmos
a	Ylesia,	você	pode	ir	em	frente	e	fazer	isso	mesmo.	Quando	os	sacerdotes
perceberem	que	eu	me	encaixo	em	todos	os	requisitos	deles,	não	darão	uma
bunda	de	vrelt	para	como	eu	cheguei	lá.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não...
–	Cale	a	boca.
Han	deu	uma	olhada	no	indicador	do	tanque	de	ar,	então	falou:
–	Muito	bem,	R2,	gostaria	de	dar	uma	olhada	no	nosso	plano	de	voo,
velocidade	e	tempo	previsto	de	viagem	até	Ylesia.	Por	favor,	transmita	esses
dados.
–	Lamento	informar,	senhor,	que	não	estou	autorizado	a	fornecer	essas
informações.
O	humor	de	Han	estava	entrando	em	ebulição;	ele	mal	conseguiu	se	controlar
para	não	chutar	o	droide	recalcitrante	com	sua	pesada	botina	espacial.
–	Preciso	verificar	nosso	plano	de	voo,	velocidade	e	tempo	previsto	de
viagem	porque	tenho	que	computar	como	está	o	meu	ar,	R2	–	explicou	ele	com
paciência	exagerada.
–	Com	sua	licença,	senhor,	mas	esta	unidade...
–	CALE	A	BOCA!
Han	começava	a	suar	agora,	e	a	unidade	de	refrigeração	do	traje	começou	a
girar	um	pouco	mais	forte.	Ele	fez	um	esforço	para	manter	o	tom	de	voz	calmo.
–	Escute	com	cuidado,	R2	–	começou	ele.	–	Você	não	tem	algum	tipo	de
programa	no	seu	sistema	operacional	que	o	faça	preservar	as	vidas	de	seres
inteligentes	sempre	que	possível?
–	Sim,	senhor,	essa	programação	é	incluída	em	todos	os	droides	astromecs.
Para	que	um	droide	cause	dano	ou	deixe	de	evitar	dano	a	um	ser	senciente,	seu
módulo	de	sistema	operacional	tem	que	ser	alterado.
–	Ótimo	–	concluiu	Han.	Aquilo	se	encaixava	com	o	que	ele	sabia	sobre
programação	astromec.	–	Escute,	R2.	Se	você	não	me	mostrar	nosso	plano	de
voo,	velocidade	e	tempo	previsto	de	viagem,	você	poderá	ser	responsável	pela
minha	morte	por	falta	de	ar.	Você	me	entendeu	agora?
–	Por	favor,	elabore,	senhor.
Han	explicou	sua	situação	com	paciência	exagerada.	Depois	de	terminar,	o
droide	ficou	calado	por	um	momento,	evidentemente	ponderando.	Finalmente,
ele	zumbiu	uma	vez	e	depois	respondeu:
–	Vou	aquiescer	à	sua	requisição,	senhor,	e	vou	exibir	a	informação	solicitada
na	tela	de	interface	de	diagnóstico.
Han	soltou	um	longo	suspiro	de	alívio.	Já	que	a	nave	era	basicamente	um
imenso	drone	automatizado,	não	tinha	controles	visíveis	nos	painéis,	só	luzes
piscantes	sortidas.	Porém,	para	que	fosse	possível	realizar	manutenção	na	nave,
havia	uma	tela	disponível	no	painel	de	controle.	Han	contornou	cuidadosamente
a	unidade	R2	e	contemploua	tela.
Os	dados	rolaram	pela	tela	tão	rapidamente	que	nenhum	humano	poderia	ter
lido.	Han	se	virou	para	a	unidade	R2.
–	Mostre	os	dados	de	novo,	e	desta	vez	deixe-os	lá	até	que	eu	consiga	ler!
Entendeu?
–	Sim,	senhor.	–	A	voz	artificial	do	droide	soava	quase	humilde.
Han	estudou	os	números	e	diagramas	que	surgiram	na	tela	por	vários
minutos,	sentindo	sua	preocupação	se	tornar	medo	real.	Ele	não	tinha	nada	com
que	escrever	e	nenhuma	forma	de	acessar	o	navicomputador,	mas	tinha	um	mau
pressentimento	sobre	o	que	estava	vendo.	Mordeu	o	lábio	e	se	obrigou	a	se
concentrar	enquanto	recalculava	os	valores	repetidamente.
O	plano	de	voo	da	Sonho	Ylesiano	tinha	sido	traçado	numa	rota	tortuosa	até
o	planeta,	de	modo	a	evitar	as	piores	áreas	infestadas	de	piratas	do	território
Hutt.	E	o	pequeno	cargueiro	estava	configurado	para	voar	bem	mais	lentamente
do	que	seria	capaz,	mais	devagar	até	do	que	a	Sorte	de	Mercador	normalmente
viajava	pelo	hiperespaço.
Nada	bom.	Nada	bom	mesmo.	Se	a	velocidade	e	o	curso	deles	não	fossem
alterados,	Han	percebeu,	ele	ficaria	sem	ar	cinco	horas	antes	de	a	Sonho	pousar
em	solo	ylesiano.	A	nave	aterrissaria	com	um	cadáver	a	bordo...	o	dele.
Han	se	virou	de	volta	à	unidade	R2.
–	Escuta,	R2,	você	tem	que	me	ajudar.	Se	eu	não	alterar	nosso	curso	e
velocidade,	não	terei	ar	suficiente	para	chegar	no	fim.	Eu	vou	morrer,	e	vai	ser
culpa	sua.
As	luzes	da	unidade	R2	piscaram	enquanto	a	máquina	contemplava	tal
revelação.
–	Só	que	eu	não	sabia	que	o	senhor	estava	a	bordo	–	disse	finalmente	o
droide.	–	Não	posso	ser	responsabilizado	pela	sua	morte.
–	Ah,	não.	–	Han	balançou	a	cabeça	dentro	do	capacete.	–	Não	é	assim	que
funciona,	R2.	Se	você	souber	sobre	a	situação	e	não	fizer	nada,	então	você
estará	causando	a	morte	de	um	ser	senciente.	É	isso	que	você	quer?
–	Não	–	respondeu	o	droide.	Até	mesmo	seus	tons	artificiais	soaram
estressados,	e	suas	luzes	tremeluziram	rápida	e	aleatoriamente.
–	Então	é	necessário	–	continuou	Han,	inexorável	–	que	você	faça	tudo	que
for	possível	para	evitar	minha	morte.	Certo?
–	Eu...	eu...	–	O	droide	agora	tremia,	de	tão	agitado.	–	Senhor,	estou
impossibilitado	de	ajudá-lo.	Minha	programação	está	em	conflito	com	meu
hardware.
–	O	que	você	quer	dizer?	–	Han	estava	preocupado	agora.	Se	o	pequeno
droide	sofresse	uma	sobrecarga	e	travasse,	ele	jamais	seria	capaz	de	acessar	os
controles	manuais	de	“diagnóstico”	que	Han	sabia	que	tinham	que	estar	em
algum	lugar	daqueles	painéis.	Seriam	minúsculos,	do	tipo	que	os	técnicos
usariam	para	testar	o	piloto	automático	do	drone.
–	Minha	programação	está	me	impossibilitando	de	informá-lo...
Han	deu	um	longo	passo	até	o	pequeno	droide	e	se	ajoelhou	diante	dele.
–	Raios!	–	Ele	bateu	com	o	punho	no	domo	transparente	do	droide.	–	Eu	vou
morrer!	Me	conte!
O	droide	balançava	agitado,	e	Han	se	perguntou	se	ele	se	desfaria	em
pedaços	com	o	estresse.	Por	fim,	o	droide	falou:
–	Senhor,	instalaram	um	parafuso	de	contenção	em	mim!	Ele	me	impede	de
atender	ao	seu	pedido!
Um	parafuso	de	contenção!	Han	se	agarrou	a	esse	detalhe	com	diligência.
Vamos	ver,	onde	está	ele?
Depois	de	um	momento,	Han	o	avistou,	bem	baixo	na	carapaça	metálica	do
droide.	O	rapaz	se	abaixou,	segurou	e	puxou.
Nada.	O	parafuso	não	se	mexeu.
Han	segurou	mais	forte,	tentou	torcer.	Grunhiu	com	o	esforço,	suando	para
valer	agora,	e	imaginou	que	podia	sentir	todas	aquelas	moléculas	de	oxigênio
sendo	consumidas	numa	torrente	constante.	O	rapaz	ouvira	falar	que	hipóxia	não
era	um	jeito	particularmente	ruim	de	morrer;	comparado	à	descompressão
explosiva	ou	levar	um	tiro,	por	exemplo;	só	que	ele	não	tinha	nenhuma	intenção
de	descobrir	pessoalmente.
O	parafuso	não	se	mexeu.	Han	fez	ainda	mais	força,	dando	puxões,
praguejando	em	meia	dúzia	de	línguas	alienígenas,	mas	a	coisa	teimosa	não
cedeu.
Tenho	que	achar	alguma	coisa	que	eu	possa	usar	para	bater,	pensou	Han,
olhando	em	volta	desesperadamente	pela	cabine	de	controle.	Só	que	não	havia
nada,	nem	uma	hidrochave,	um	martelo,	nada!
De	repente,	ele	se	lembrou	da	pistola.	Tinha	deixado	no	chão,	no	seu
cantinho.
–	Espere	aqui	mesmo	–	instruiu	Han	à	unidade	R2	e	partiu	em	seguida,	se
espremendo	pelos	corredores	apertados.
Disparar	uma	arma	de	raios	dentro	de	uma	nave	espacial,	mesmo	que	fosse
uma	nave	despressurizada,	não	era	uma	boa	ideia,	mas	ele	estava	desesperado.
Han	voltou	com	a	arma	e	examinou	as	configurações.	Potência	mínima,
pensou	ele.	Feixe	mais	estreito.	Com	as	luvas	desajeitadas,	ele	teve	dificuldades
em	ajustar	as	configurações	de	potência	e	largura	de	feixe.
As	luzes	da	unidade	R2	estavam	piscando	freneticamente	desde	que	ele
voltara,	e	agora	o	droide	soltou	um	wheep	lastimoso.
–	Senhor?	Senhor,	poderia	perguntar-lhe	o	que	o	senhor	está	fazendo?
–	Estou	me	livrando	daquele	parafuso	de	contenção	–	retrucou	Han
severamente.	Estreitou	os	olhos,	mirou	e	pressionou	o	gatilho	com	delicadeza.
Um	clarão	de	energia	irrompeu,	e	o	pequeno	droide	soltou	um
WHEEEEPPPP!	tão	estridente	que	soou	como	um	grito.	O	parafuso	de
contenção	caiu	no	convés,	deixando	para	trás	uma	cicatriz	negra	de	queimadura
no	metal	brilhante	da	unidade	R2.
–	Te	peguei	–	comentou	Han,	satisfeito.	–	Agora,	R2,	tenha	a	gentileza	de	me
mostrar	as	interfaces	e	os	controles	manuais	da	sua	nave.
O	droide,	obediente,	expôs	uma	“perna”	de	mobilidade	com	uma	roda	e	foi
até	os	painéis	de	controle,	com	o	cabo	de	interface	serpenteando	em	seu	rastro.
Han	o	seguiu	e	se	agachou	diante	do	painel	de	instrumentos,	desajeitado	por
conta	do	traje.	Seguindo	as	instruções	do	droide,	arrancou	o	tampo	de	um
console	em	branco	e	estudou	a	seleção	de	controles	minúsculos.	Amaldiçoando	a
dificuldade	em	manipular	os	controles	com	luvas	de	traje	espacial,	Han	começou
a	usar	o	modo	de	interface	manual	para	desativar	o	hiperdrive.	Só	era	possível
alterar	rota	e	velocidade	no	espaço	real.
Uma	vez	de	volta	ao	espaço	real,	Han	computou	meticulosamente	uma	nova
rota,	usando	a	unidade	R2	para	executar	os	cálculos	mais	complexos	para	o	salto
que	os	lançaria	de	volta	ao	hiperespaço.
O	jovem	corelliano	levou	algum	tempo	para	inserir	a	nova	rota	e	velocidade,
mas,	finalmente,	Han	pressionou	de	novo	o	botão	ATIVAR	HIPERDRIVE.	Um
segundo	depois,	ele	sentiu	o	tranco	quando	o	drive	disparou.	Han	se	segurou
determinado	ao	painel	de	instrumentos	enquanto	a	nave	se	lançava	ao
hiperespaço	em	sua	nova	rota,	numa	velocidade	vastamente	incrementada.
Quando	a	nave	ao	seu	redor	se	estabilizou,	Han	inspirou	longa	e
profundamente	e	depois	soltou	o	ar	bem	devagar.	Desabou	no	convés	e	ficou
sentado	ali,	com	as	pernas	esticadas.	Ufa!
–	O	senhor	compreende	–	comentou	a	unidade	R2	–	que	o	senhor	agora	terá
que	pousar	esta	nave	manualmente.	Alterar	nossa	rota	e	velocidade	invalidou	os
protocolos	de	aterrissagem	existentes	programados	na	nave.
–	É,	eu	sei	–	respondeu	Han,	se	reclinando	cansado	no	console.	Deu	mais	um
gole	de	água	e	então	comeu	dois	tabletes.	–	Mas	não	tinha	outro	jeito.	Eu	só
espero	que	consiga	operar	os	controles	rápido	o	bastante	para	pousar.	–	Ele	olhou
em	volta	pela	sala	de	controle	praticamente	nua.	–	Eu	só	queria	que	esta	lata
tivesse	uma	tela.
–	Um	piloto	automático	não	pode	ver,	senhor,	então	dados	visuais	são	inúteis
para	ele	–	explicou	a	unidade	R2,	prestativa.
–	Não	pode	ser!	–	retrucou	Han,	com	a	voz	carregada	de	sarcasmo.	–	Achei
que	droides	pudessem	ver	que	nem	a	gente!
–	Não,	senhor,	não	podemos	–	disse	R2.	–	Reconhecemos	nossas	cercanias
por	sensores	visuais	que	traduzem	para	nosso...
–	Cale	a	boca	–	disse	Han,	cansado	demais	até	para	se	divertir	atormentando
o	droide.
Ele	se	reclinou	contra	o	console	e	fechou	os	olhos.	Tinha	feito	tudo	o	que
podia	para	salvar	sua	vida,	levando	a	nave	a	Ylesia	por	uma	rota	muito	mais
direta	a	uma	velocidade	mais	alta.
Han	adormeceu	e	sonhou	com	Dewlanna,	como	ela	tinha	sido	há	muito
tempo,	na	época	em	que	eles	se	conheceram...
Han	já	tinha	passado	metade	do	corpo	pela	janela	quando	ouviu	o	grito
atrás	de	si.
–	Fomos	roubados!
O	menino	agarrou	seu	pequeno	saco	de	pilhagem	e	tentou	se	espremer	pelaabertura	estreita,	chutando	e	se	remexendo.	Na	escuridão	do	lado	de	fora	estava
a	segurança.
Um	grito	feminino	de	consternação.
–	Minhas	joias!
Han	grunhiu	com	o	esforço,	percebendo	que	estava	entalado.	Sufocou	o
pânico.	Tinha	que	escapar!	Aquela	era	uma	casa	rica	e,	quando	eles	chamassem
as	autoridades,	elas	com	certeza	viriam	de	imediato.
Silenciosamente,	ele	amaldiçoou	a	nova	moda	da	arquitetura	corelliana	que
tinha	feito	este	lar	luxuoso	ser	construído	com	estreitas	janelas	do	chão	ao	teto.
Eram	anunciadas	como	sendo	capazes	de	frustrar	assaltantes.	Bem,	pelo	jeito
isso	era	verdade,	decidiu	ele.	Tinha	se	esgueirado	mais	cedo	por	uma	das	portas
dos	jardins,	depois	se	escondera	até	achar	que	já	era	seguro	supor	que	todos	os
moradores	estavam	dormindo.	Por	fim,	ele	saíra	do	esconderijo	para	escolher
dentre	os	tesouros	deles.	Tinha	certeza	de	que	conseguiria	bambolear	seu	corpo
magricelo	de	menino	de	9	anos	por	aquelas	janelas	e	escapar	ileso.
Han	grunhiu	com	o	esforço	mais	uma	vez,	chutando	freneticamente.	Talvez
ele	estivesse	errado	quanto	à	parte	de	fugir	pelas	janelas...
Uma	voz	atrás	dele.	A	mulher.
–	Lá	está	ele!	Peguem-no!
Han	virou	mais	um	pouco	de	lado,	remexeu-se	violentamente	e	de	súbito
estava	do	outro	lado	da	janela,	caindo.	Mas	ele	não	soltou	o	saco	enquanto	se
esborrachava	num	canteiro	de	hera-dorva	cuidadosamente	cultivado.	O	ar	lhe
escapou	dos	pulmões	e	por	um	momento	o	menino	ficou	deitado	ali,	ofegando
como	um	drel	fora	da	água.	A	perna	doía,	assim	como	a	cabeça.
–	Chamem	a	patrulha	de	segurança!	–	gritou	uma	voz	masculina	de	dentro
da	casa.	Han	sabia	que	tinha	meros	segundos	para	lograr	sua	fuga.	Forçou	a
perna	a	sustentar	seu	peso,	rolou	o	corpo	e	se	levantou	cambaleante.
Árvores	adiante	ao	luar...	árvores	grandes.	Ele	poderia	sumir	facilmente	em
meio	a	elas.
Han	meio	que	mancou,	meio	que	correu	ao	abrigo	do	bosque.	Resolveu	não
contar	a	8GN	o	que	tinha	acontecido.	O	droide	poderia	acusá-lo	de	estar
ficando	lerdo	agora	que	tinha	quase	10	anos.
Han	fez	uma	careta	enquanto	corria.	Ele	não	estava	ficando	lerdo,	só	não	se
sentia	bem	naquele	dia.	Estava	com	uma	dor	de	cabeça	indistinta	desde	que
acordara	e	se	sentira	tentado	a	pedir	um	dia	de	folga	por	não	estar	passando
bem.
Já	que	Han	quase	nunca	ficava	doente,	eles	provavelmente	teriam
acreditado	nele,	mas	o	garoto	não	gostava	de	demonstrar	fraqueza	diante	dos
outros	habitantes	da	Sorte	de	Mercador,	especialmente	do	capitão	Shrike.	Aquele
homem	nunca	perdia	uma	chance	de	atormentá-lo.
Estava	abrigado	pelas	árvores,	agora.	E	o	que	fazer	em	seguida?	Ouvia	o
som	de	passos	correndo,	então	não	teria	muito	tempo	para	decidir.	Seus
músculos	escolheram	por	ele.	De	súbito,	o	saco	estava	preso	pelos	dentes,	havia
casca	de	árvore	contra	suas	palmas,	e	as	solas	das	botas	surradas	pisavam	em
galhos.	Han	escalou,	ouviu,	depois	escalou	de	novo.
Foi	só	quando	ele	estava	bem	alto	na	árvore,	acima	do	alcance	de	uma
olhada	casual	para	o	alto,	que	reduziu	a	velocidade.	Han	se	sentou	num	galho,
com	as	costas	no	tronco,	ofegando,	a	cabeça	um	redemoinho.	Sentia-se	tonto,
enjoado	e,	por	um	momento,	temeu	vomitar	e	entregar	sua	posição.	Mas	o
garoto	mordeu	o	lábio	e	se	obrigou	a	ficar	imóvel.	Depois	de	algum	tempo,
sentiu-se	melhor.
A	julgar	pelos	padrões	de	estrelas,	faltava	apenas	algumas	horas	até	a
alvorada.	Han	percebeu	que	seria	difícil	chegar	a	tempo	à	nave	auxiliar	da
Sorte.	Será	que	Shrike	simplesmente	o	abandonaria,	ou	será	que	iria	esperar?
Bem	abaixo,	as	pessoas	vasculhavam	o	bosque.	Luzes	piscavam	pela	noite,	e
Han	se	encolheu	junto	ao	tronco.	Com	os	olhos	fechados,	se	agarrava
desesperadamente	à	árvore	apesar	da	tontura.	Se	ao	menos	sua	cabeça	não
latejasse	tanto...
Han	se	perguntou	se	eles	trariam	biossensores	e	tremeu.	A	pele	dele	parecia
quente	e	inchada,	apesar	de	a	noite	estar	fresca	e	uma	brisa	soprar.
A	escuridão	cedeu	à	aurora.	Han	se	perguntou	o	que	Dewlanna	estaria
fazendo,	se	ela	sentiria	saudades	dele	se	a	Sorte	deixasse	órbita	sem	o	menino.
Finalmente,	as	luzes	se	apagaram	e	os	passos	sumiram.	Han	esperou	mais
vinte	minutos	para	garantir	que	os	perseguidores	tivessem	mesmo	ido	embora,	e
depois,	ainda	segurando	o	saco	de	pilhagem	nos	dentes,	desceu	com	cuidado,
movendo-se	com	cautela	exagerada	devido	à	intensa	dor	de	cabeça.	Cada
tranco,	até	mesmo	dos	próprios	passos,	fazia	sua	cabeça	girar,	e	ele	teve	que
trincar	os	dentes	para	aguentar.
Han	andou...	e	andou.	Várias	vezes	percebeu	que	estivera	cochilando
enquanto	andava,	e	em	uns	dois	momentos	ele	caiu	e	se	sentiu	tentado	a
simplesmente	ficar	onde	estava.	Só	que	alguma	coisa	o	mantinha	em	movimento,
enquanto	o	alvorecer	iluminava	as	ruas	e	casas	ao	seu	redor.	Amanheceres
corellianos	eram	belos,	Han	notou	atordoado.	Nunca	tinha	percebido	como
eram	bonitas	as	cores	no	céu.	Se	ao	menos	a	luz	não	machucasse	tanto	seus
olhos...
A	alvorada	virou	dia.	O	frescor	deu	lugar	à	tepidez,	depois	ao	calor.	O
menino	suava,	e	sua	visão	estava	borrada.	Só	que,	enfim,	lá	estava.	O
espaçoporto.	A	essa	altura,	Han	se	movia	como	um	autômato,	um	pé	na	frente
do	outro,	desejando	apenas	poder	deitar	e	dormir	na	rua.
Diante	dele,	agora...	a	nave	auxiliar	da	Sorte!	Com	um	arfar	que	foi	quase
um	soluço,	o	menino	se	obrigou	a	avançar.	Estava	quase	na	rampa	quando	um
vulto	alto	emergiu.	Shrike.
–	Por	onde	raios	você	andou?	–	Não	havia	nada	de	amistoso	no	apertão	que
o	capitão	lhe	dava	no	braço.	Han	estendeu	o	saco	de	pilhagem,	e	Shrike	o
agarrou.	–	Bem,	pelo	menos	não	voltou	de	mãos	abanando	–	resmungou	o
capitão.
Shrike	avaliou	rapidamente	o	conteúdo	da	bolsa,	acenando	sua	satisfação
com	a	cabeça.	Só	depois	de	terminar	ele	notou	que	Han	balançava	de	pé.
–	Qual	é	o	seu	problema?
Han	já	não	conseguia	dizer	nada	coerente,	então	apenas	balançou	a	cabeça.
Sua	consciência	ia	e	vinha	como	uma	transmissão	embaralhada.
Shrike	o	chacoalhou	um	pouco,	depois	colocou	a	mão	na	testa	do	menino.
Ao	sentir	o	calor,	praguejou.
–	Febre...	Será	que	eu	te	deixo	aqui?	E	se	for	contagioso?	–	Franziu	o
cenho,	claramente	com	dificuldade	para	decidir.	Por	fim,	sentiu	de	novo	o	peso
da	bolsa	de	pilhagem.	–	Acho	que	você	conquistou	uma	folga	–	murmurou.	–
Vamos.
Han	tentou	subir	a	rampa,	mas	tropeçou	e	tudo	ficou	escuro.
O	menino	emergiu	em	consciência	parcial	muito	tempo	depois,	ao	som	de
vozes	discutindo,	uma	em	língua	wookiee,	outra	em	língua	básica.	Dewlanna	e
Shrike.
A	Wookiee	grunhia,	insistente.
–	Dá	para	notar	que	ele	está	bem	doente	–	concordou	Shrike	–,	mas	esses
meus	moleques	não	morrem	nem	com	um	tiro	de	pistola	na	potência	máxima.
Ele	vai	ficar	bem	com	mais	uns	dois	dias	de	descanso.	Não	precisa	de	um	droide
médico,	e	eu	não	vou	desembolsar	o	custo.
Dewlanna	rugiu,	e	Han,	traduzindo	automaticamente,	ficou	surpreso	com	a
insistência	da	Wookiee.	Sentiu	uma	pata-mão	peluda	colocando	alguma	coisa
fria	na	sua	testa.	Era	uma	sensação	maravilhosa	em	comparação	ao	calor.
–	Eu	já	disse	não,	Dewlanna,	e	ponto-final!	–	retrucou	Shrike	e,	com	isso,	o
capitão	saiu	batendo	pé,	xingando	a	Wookiee	em	todas	as	línguas	que	conhecia.
Han	abriu	os	olhos	e	viu	Dewlanna	curvada	sobre	ele.	A	Wookiee	rosnou
gentilmente	para	o	menino.	Han	fez	força	para	falar:
–	Muito	mal...	–	admitiu	ele	diante	da	pergunta.	–	Com	sede...
Dewlanna	o	ergueu	e	lhe	deu	água,	golinho	por	golinho.	Ela	contou	que	ele
tinha	uma	febre	alta,	tão	alta	que	ela	temia	por	sua	vida.
Depois	que	Han	terminou	de	beber,	ela	se	abaixou	e	pegou	o	menino	nos
braços.
–	Aonde...	aonde	nós...
Ela	mandou	que	ele	se	calasse,	que	ela	o	levaria	para	a	superfície,	ao	droide
médico.	A	cabeça	de	Han	girava,	mas	ele	fez	um	grande	esforço.
–	Não...	capitão	Shrike...	muito	bravo...
A	resposta	dela	foi	curta	e	grossa.	Han	nunca	tinha	ouvido	Dewlanna
praguejar	antes.
Ele	ficou	apagando	e	voltando	enquanto	a	Wookiee	o	carregava	pelo
corredor,	e	sua	próxima	memória	definida	foi	ser	atado	ao	assento	de	uma	nave
auxiliar.	Han	não	sabia	que	Dewlanna	era	capaz	de	pilotar,	mas	ela	manejou	os
controles	competentemente	com	suas	enormes	patas	peludas.	A	nave

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