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Este	livro	é	dedicado	à	minha	amiga	Thia	Rose.	Quando	nós	tínhamos	12	anos,
juramos	que	seríamos	melhores	amigas	para	sempre...
	
...e,	após	muitos	mais	anos	do	que
gostaríamos	de	contar,	ainda	somos.
Sumário
Nota	dos	editores
Agradecimentos
Capítulo	Um	.Sorte	de	Mercador
Capítulo	Dois.	Sonhos	ylesianos
Capítulo	Três.	Pouso	de	emergência
Capítulo	Quatro.	Muuurgh
Capítulo	Cinco.	Guerras	de	especiarias
Capítulo	Seis.	Alderaan	e	de	volta	outra	vez
Capítulo	Sete.	Bria
Capítulo	Oito.	Revelações
Capítulo	Nove.	Achados	e	perdidos
Capítulo	Dez.	Adeus	ao	paraíso?
Capítulo	Onze.	Velocidade	de	escape
Capítulo	Doze.	Togoria
Capítulo	Treze.	Retorno	a	Corellia
Capítulo	Catorze.	Na	pior	em	Coruscant
Capítulo	Quinze.	Saindo	do	fogo
Epílogo.	Renascimento
NOTA	DOS	EDITORES
O	universo	de	STAR	WARS	é	infinitamente	rico	e	criativo.	Desde	1977,
inúmeros	planetas,	raças	alienígenas	e	personagens	vêm	despertando	a
imaginação	de	fãs	do	mundo	inteiro.	A	ideia	de	expandir	um	universo	ficcional,
embora	não	seja	nova,	ganha	novas	proporções	com	STAR	WARS.	O	livro	STAR
WARS:	from	the	adventures	of	Luke	Skywalker	,	novelização	do	Episódio	IV	da
saga,	foi	lançado	em	1976,	antes	mesmo	da	estreia	do	filme	no	cinema.	E,	antes
do	final	da	trilogia	clássica,	já	existiam	diversos	quadrinhos	e	romances,	que
muitas	vezes	davam	sinais	dos	caminhos	a	ser	seguidos	depois	nas	telas,	ou
mesmo,	como	no	caso	do	livro	Splinter	of	the	mind’s	eye	,	de	Alan	Dean	Foster,
diferiam	completamente	da	trajetória	seguida	nas	continuações.	Esse	era	apenas
um	prelúdio	da	força	que	o	Universo	Expandido	de	STAR	WARS	acumularia
nas	décadas	seguintes.
Embora	outras	rarefeitas	obras	tenham	sido	lançadas	no	início	dos	anos
1980,	dois	marcos	importantes	deram	impulso	à	saga,	projetando-a	ao	atual
ousado	projeto	transmídia:	em	1987,	veio	o	lançamento	do	RPG	STAR	WARS:
The	Roleplaying	Game	;	em	1991,	a	publicação	de	STAR	WARS:	Herdeiro	do
Império	,	de	Timothy	Zahn.	Enquanto	a	importância	do	RPG	foi	estabelecer
novos	cenários	e	trazer	detalhes	do	universo	de	STAR	WARS,	o	livro	de	Zahn
fez	história	ao	ser	o	primeiro	com	autorização	oficial	da	Lucasfilm	para	abordar
os	acontecimentos	posteriores	ao	Episódio	VI.	Os	personagens	e	as	histórias	do
livro	foram	aproveitados	por	toda	uma	nova	geração	de	autores,	que	escreveram
centenas	de	obras	a	fim	de	complementar	cada	vez	mais	esse	universo	e	saciar	a
sede	dos	fãs,	especialmente	durante	o	intervalo	de	quinze	anos	entre	os
lançamentos	das	duas	primeiras	trilogias	no	cinema	–	e	também	depois.
Em	2014,	a	Lucasfilm	lançou	o	novo	conceito	de	STAR	WARS,	aplicável	a
filmes,	HQs,	livros,	videogames	e	séries	televisivas	relacionados	à	franquia,
formando	um	só	cânone.	Juntos,	todos	esses	registros	contam	uma	única	história
no	universo	de	STAR	WARS,	complementando	e	continuando	os	filmes
lançados	no	cinema	entre	1977	e	2005,	além	de	servirem	como	preparação	para
os	tão	esperados	novos	filmes,	a	começar	com	STAR	WARS:	O	despertar	da
Força	em	2015.	Todas	as	obras	publicadas	antes	de	2014	passam	a	ser
classificadas	como	Legends	:	histórias	que	não	serviram	como	base	para	o
cânone	estabelecido	pela	Lucasfilm	para	STAR	WARS,	mas	cuja	importância	e
cuja	qualidade	continuam	sendo	apreciadas.
Participando	dessa	nova	e	empolgante	fase	de	STAR	WARS,	a	Editora	Aleph
pretende	lançar	todos	os	romances	adultos	do	novo	cânone,	bem	como	uma
seleção	dos	títulos	Legends	mais	relevantes.	Convidamos	os	leitores	a	embarcar
conosco	nessa	jornada	rumo	a	uma	galáxia	muito,	muito	distante.
E	trata-se	de	uma	viagem	que	não	tem	ponto	de	partida	nem	direção
definidos.	Não	importa	por	qual	obra	você	decida	começar,	seja	por	uma	das
novas	ou	uma	das	Legends	.	Temos	a	certeza	de	que	viverá	uma	grande	aventura.
Que	a	Força	esteja	com	você.
EDITORA	ALEPH
Agradecimentos
Escrever	para	o	universo	STAR	WARS	é	como	se	tornar	parte	de	uma
comunidade	–	ou	até	mesmo	de	uma	família.	Os	autores	são	encorajados	a	ler	os
livros	uns	dos	outros,	e	há	dúzias	de	livros	de	não	ficção	e	técnicos	dedicados
aos	personagens,	equipamentos,	planetas	e	assim	por	diante.	Nós,	autores,
trocamos	informações	e	dicas	e	nos	ajudamos	mutuamente	sempre	que	possível.
Assim	sendo,	muitas,	muitas	pessoas	me	ajudaram	com	este	livro.	Com	a
advertência	de	que	quaisquer	erros	que	os	leitores	possam	encontrar	são	só
meus,	eu	gostaria	de	agradecer	às	seguintes	pessoas:
Kevin	Anderson,	que	me	deu	minha	primeira	chance	de	escrever	para	o
universo	STAR	WARS.	Kevin	e	Rebecca	Moesta	também	me	ajudaram	com
informações	sobre	o	histórico	e	os	personagens	de	STAR	WARS,	além	de	me
darem	apoio,	incentivo	e	sábios	conselhos.
Michael	Capobianco,	meu	colega	e	marido,	pelas	sessões	de	brainstorming,
pela	ajuda	na	pesquisa,	pelos	conselhos	inteligentes,	e	por	me	trazer	o	jantar
quando	eu	estava	ocupada	demais	escrevendo	para	perceber	que	estava	com
fome.	Obrigada,	querido.
Bill	Smith	e	Peter	Schewighofer	da	West	End	Games	por	terem	me	ajudado	a
descobrir	as	respostas	para	perguntas	tão	estranhas	e	exóticas	como	“que	tipo	de
roupa	de	baixo	Han	Solo	prefere?”.	Eles	me	“desempacaram”	de	tais	dilemas
mais	vezes	do	que	posso	contar.
Tom	Dupree	e	Evelyn	Cainto	da	Bantam	Books	pela	ajuda,	conselhos	e
incentivo.
Sue	Rostoni	e	Lucy	Autrey	Wilson	da	Lucasfilm	pelos	“fatos	reais”.
Michael	A.	Stackpole,	pela	ajuda	em	descobrir	como	quebrar	um	raio	trator,
e	outros	conselhos	relacionados	a	naves	e	pilotagem.
Steve	Osmanski,	por	ter	lido	o	manuscrito	e	me	oferecido	conselhos
preciosos	sobre	coisas	“techies”.
Como	sempre,	Kathy	O’Malley,	amiga	e	colega	de	escrita,	por	segurar	minha
mão	e	me	dar	um	ocasional	e	merecido	chute	no	traseiro.
E,	é	claro,	George	Lucas,	que	começou	tudo	isso.	STAR	WARS	me	deixou
louca	na	primeira	vez	que	vi,	e	foi	uma	honra	dar	minha	pequena	contribuição
para	a	saga.
Obrigada	de	novo,	e	que	a	Força	esteja	com	todos	vocês.
O	antiquíssimo	transporte	de	tropas,	uma	relíquia	das	Guerras	Clônicas,
pairava	silencioso	e	aparentemente	abandonado	em	órbita	sobre	o	planeta
Corellia.	As	aparências	enganam,	porém.	A	velha	nave	da	classe	libertador,
outrora	batizada	de	Guardião	da	República	,	agora	vivia	uma	nova	existência
como	Sorte	de	Mercador	.	O	interior	tinha	sido	inteiramente	estripado	e
reformado	com	um	sortimento	heterogêneo	de	alojamentos,	e	agora	continha
quase	uma	centena	de	seres	sencientes,	muitos	deles	humanoides.	Naquele
momento,	porém,	apenas	alguns	deles	estavam	acordados,	já	que	era	o	meio	do
ciclo	de	repouso.
Havia	um	turno	de	serviço	na	ponte,	é	claro.	A	Sorte	de	Mercador	passava
muito	de	seu	tempo	em	órbita,	mas	ainda	era	capaz	de	viajar	pelo	hiperespaço,
mesmo	que	fosse	lenta	para	os	padrões	modernos.	Garris	Shrike,	o	líder	do	“clã”
frouxamente	unido	de	mercadores	que	vivia	na	Sorte	,	era	um	capataz	rígido,	que
seguia	protocolos	navais	formais.	Então	sempre	havia	um	turno	de	serviço	na
ponte.
As	ordens	de	Shrike	a	bordo	da	Sorte	eram	sempre	cumpridas,	pois	ele	não
era	um	homem	a	ser	confrontado	sem	um	bom	motivo	e	uma	pistola	carregada.
Governava	o	clã	de	mercadores	como	um	déspota	não	tão	benevolente.	Um
sujeito	magro	de	altura	mediana,	Garris	era	bonito	de	uma	forma	durona.	As
mechas	de	cabelo	branco-prateado	acima	das	têmporas	acentuavam	os	cabelos
negros	e	os	olhos	azul-gelo.	Tinha	lábios	finos	e	raramente	sorria;	jamais	por
bom	humor.	Garris	Shrike	era	um	exímio	atirador	e	tinha	passado	a	juventude
como	caçador	de	recompensas.	Havia	abandonado	essa	carreira,	porém,	devido
ao	“azar”;	ou	seja,	sua	falta	de	paciência	tinha	lhe	feito	sacrificar	as	recompensas
mais	polpudas,	reservadas	para	entregas	vivas.	Corpos	mortos	frequentemente
valiam	muito	menos.
Entretanto,	Shrike	era	dono	de	um	senso	de	humor	doentio,	especialmente	no
que	dizia	respeito	ao	sofrimento	alheio.	Quando	estava	ganhando	no	jogo,	era
sujeito	a	surtos	de	alegria	maníaca,	especialmente	se	também	estivesse	bêbado.
Que	era	como	ele	estava	naquele	momento.	Sentado	à	mesa	no	antigo
alojamento	de	oficiais	alistados,	Shrike	jogava	sabacc	e	virava	canecas	da
poderosa	cerveja	de	Alderaan,	suabebida	favorita.
Shrike	espiou	suas	cartas	chipadas,	calculando	mentalmente.	Deveria	ele
manter	aquela	mão,	na	esperança	de	completar	um	sabacc	puro?	A	qualquer
momento,	o	crupiê	poderia	apertar	um	botão	e	os	valores	de	todas	as	cartas
mudariam.	Se	isso	acontecesse,	ele	estaria	perdido,	a	não	ser	que	comprasse
mais	duas	cartas	e	jogasse	a	mão	quase	toda	no	campo	de	interferência	no	centro
da	mesa.
Um	dos	outros	jogadores,	um	imenso	Elomin,	virou	a	cabeça	com	presas	e
deu	uma	olhada	para	trás	subitamente.	Havia	uma	luz	piscando	num	dos	painéis
auxiliares	de	status.	O	enorme	ser	peludo	grunhiu,	depois	comentou	em	língua
básica	gutural:
–	Tem	alguma	coisa	estranha	com	o	sensor	da	tranca	do	arsenal,	capitão.
Shrike	insistia	em	manter	protocolo	e	cadeia	de	comando	“apropriados”,
especialmente	no	que	se	aplicasse	a	ele	mesmo.	A	não	ser	que	estivesse	metido
em	alguma	aventura	em	terra	firme,	sempre	vestia	uniforme	militar	dentro	da
Sorte;	um	uniforme	que	ele	mesmo	tinha	desenhado,	com	base	no	traje	de	gala
de	um	moff	de	alta	patente.	Era	cheio	de	“medalhas”	e	“condecorações”	que
Shrike	tinha	colecionado	em	casas	de	penhores	pela	galáxia.
Agora,	ao	ouvir	o	aviso	do	Elomin,	ele	ergueu	os	olhos	embaçados,	esfregou-
os,	depois	se	endireitou	e	largou	as	cartas	chipadas	na	mesa.
–	O	que	foi,	Brafid?
O	gigante	franziu	o	focinho	dentuço.
–	Não	sei	direito,	capitão.	Agora	está	normal,	mas	alguma	coisa	piscou,
como	se	a	tranca	tivesse	dado	curto	por	um	segundo.	Deve	ter	sido	só	uma
flutuação	de	força	momentânea.
O	capitão	se	levantou	com	graça	e	coordenação	incomuns,	que	não	foram
prejudicadas	pelo	“uniforme”	extravagante,	e	contornou	a	mesa	para	avaliar	os
indicadores.	Todos	os	sinais	de	embriaguez	desapareceram.
–	Não	foi	uma	flutuação	de	força	–	decidiu	depois	de	um	momento.	–	Foi
outra	coisa.
Em	seguida,	o	capitão	se	dirigiu	ao	humano	alto	e	corpulento	à	sua	esquerda.
–	Larrad,	dê	uma	olhada	nisto.	Alguém	deu	curto	na	tranca	e	colocou	uma
simulação	para	nos	fazer	achar	que	era	só	uma	flutuação	de	força.	Temos	um
ladrão	a	bordo.	Todo	mundo	armado?
Larrad,	que	calhava	de	ser	o	irmão	de	Garris,	Larrad	Shrike,	deu	tapinhas	no
coldre	na	perna	e	assentiu	com	a	cabeça.	Brafid,	o	Elomin,	apontou	o
“formigador”,	um	aguilhão	elétrico	que	era	sua	arma	preferida,	embora	o
alienígena	peludo	fosse	grande	o	bastante	para	pegar	a	maioria	dos	humanoides	e
parti-los	ao	meio	em	seu	joelho.
A	outra	pessoa	presente,	uma	Sullustana	que	trabalhava	como	a	navegadora
da	Sorte	,	levantou-se	e	mostrou	a	arma	de	raios	de	tamanho	reduzido	que
portava.
–	Pronta	para	a	ação,	capitão!	–	guinchou	ela.	Apesar	de	ser	baixinha,	com
bochechas	caídas	e	grandes	olhos	brilhantes	e	belos,	Nooni	Dalvo	parecia	ser
quase	tão	perigosa	quanto	o	imenso	Elomin,	que	era	seu	melhor	amigo	a	bordo.
–	Ótimo	–	resmungou	Shrike.	–	Nooni,	vá	colocar	um	guarda	no	arsenal,
para	o	caso	de	o	ladrão	voltar.	Larrad,	ative	os	biossensores,	veja	se	você
consegue	identificar	o	larápio	e	para	onde	ele	vai.
O	irmão	de	Shrike	fez	que	sim	com	a	cabeça	e	se	curvou	sobre	o	painel	de
controle	auxiliar.
–	Humano	corelliano	–	anunciou	depois	de	um	momento.	–	Homem.	Jovem.
Altura:	1,8	metro.	Cabelos	e	olhos	escuros.	Físico	esguio.	O	biossensor	o
reconhece.	Ruma	para	a	popa,	em	direção	à	cozinha.
A	expressão	de	Shrike	se	endureceu	até	que	seus	olhos	estavam	tão	frios	e
azuis	quanto	as	geleiras	de	Hoth.
–	O	moleque	Solo	–	disse	ele.	–	É	o	único	metido	o	bastante	para	tentar	uma
coisa	dessas.	–	O	capitão	flexionou	os	dedos	e	depois	os	cerrou	num	punho.	Seu
anel,	feito	de	uma	gema	solitária	de	veneno-de-sangue	devaroniano,	reluziu	num
prateado	baço	sob	as	luzes	da	antepara.	–	Bem,	peguei	leve	com	ele	até	agora,
porque	ele	manda	bem	no	swoop,	e	eu	nunca	perdi	apostando	nele,	mas	agora
chega.	Esta	noite	vou	ensinar	esse	garoto	a	respeitar	a	autoridade,	e	ele	vai	se
arrepender	de	ter	nascido.
Shrike	exibiu	os	dentes,	muito	mais	brilhantes	que	a	gema	do	anel.
–	Vai	se	arrepender	também	do	dia	que	eu	o	“encontrei”	dezessete	anos	atrás
e	trouxe	seu	traseiro	de	fedelho	chorão	de	fralda	molhada	para	a	Sorte.	Sou	um
homem	paciente,	tolerante...	–	Ele	suspirou	dramaticamente.	–	...	como	a	galáxia
bem	sabe,	mas	até	eu	tenho	meus	limites.
Deu	uma	olhada	no	irmão,	que	parecia	bem	constrangido.	Garris	se
perguntou	se	Larrad	estaria	se	lembrando	da	última	sessão	de	castigo	do
moleque	Solo	um	ano	antes.	O	garoto	tinha	ficado	dois	dias	sem	poder	andar.
Shrike	cerrou	os	lábios.	Ele	não	toleraria	nenhum	tipo	de	brandura	em	seus
subordinados.
–	Certo,	Larrad?	–	indagou	ele,	baixo	demais.
–	Certo,	capitão!
Han	Solo	segurou	a	arma	de	raios	roubada	enquanto	se	esgueirava	pelo
estreito	corredor	de	metal.	Quando	plugou	o	simulador	e	forçou	a	tranca	do
armário	de	arsenal,	teve	apenas	um	momento	para	enfiar	a	mão	e	agarrar	a
primeira	arma	que	tocou.	Não	houve	tempo	para	avaliar	e	escolher.
Nervoso,	o	rapaz	afastou	as	mechas	de	cabelo	castanho	úmidas	que	caíam
sobre	sua	testa	e	percebeu	que	estava	suando.	A	arma	parecia	pesada	e
desajeitada	em	suas	mãos	enquanto	ele	a	examinava.	Han	raramente	pegara
numa	arma	antes,	e	só	sabia	como	conferir	a	carga	porque	tinha	lido	sobre	isso.
Nunca	tinha	disparado	um	tiro.	Garris	Shrike	não	permitia	que	ninguém	além	de
seus	oficiais	andasse	armado.	O	jovem	piloto	de	swoop	estreitou	os	olhos	na
penumbra,	abriu	um	pequeno	painel	na	parte	mais	grossa	do	cano	e	espiou	as
leituras.	Ótimo.	Carga	completa.	Shrike	pode	ser	um	valentão	e	um	idiota,	mas
sabe	como	manter	uma	nave	organizada.
Solo	não	admitiria	nem	mesmo	para	si	o	quanto	ele	realmente	temia	e	odiava
o	capitão	da	Sorte	de	Mercador	.	Tinha	aprendido	há	muito	tempo	que
demonstrar	qualquer	tipo	de	medo	era	garantia	de	uma	surra	rápida,	ou	coisa
pior.	A	única	coisa	que	os	valentões	e	os	idiotas	respeitavam	era	coragem;	ou,
pelo	menos,	bravatas.	Então	Han	Solo	tinha	aprendido	a	nunca	deixar	que	o
medo	emergisse	em	sua	mente	ou	coração.	Havia	momentos	em	que	ele	ficava
vagamente	ciente	de	que	ele	estava	lá,	bem	no	fundo,	enterrado	sob	camadas	de
dureza	das	ruas,	porém,	sempre	que	reconhecia	o	sentimento	pelo	que	realmente
era,	Han	o	enterrava	ainda	mais	fundo,	com	vontade.
Como	teste,	ele	levou	a	arma	de	raios	até	a	altura	dos	olhos	e
desajeitadamente	fechou	um	olho	castanho,	enquanto	espiava	ao	longo	do	cano.
O	bocal	da	arma	oscilou	de	leve,	e	Han	praguejou	baixinho	ao	perceber	que	a
mão	estava	tremendo.	Qual	é,	disse	a	si	mesmo,	mostre	que	tem	uma	espinha
dorsal,	Solo.	Cair	fora	desta	nave	e	escapar	de	Shrike	valem	um	pouco	de	risco.
Deu	uma	olhada	para	trás	por	reflexo,	depois	se	virou	bem	a	tempo	de	se
abaixar	para	passar	sob	um	conduíte	de	energia	que	pendia	baixo.	Tinha
escolhido	esta	rota	porque	ela	evitava	todos	os	alojamentos	e	áreas	recreativas,
mas	era	tão	estreita	e	baixa	que	Han	começava	a	se	sentir	claustrofóbico
enquanto	avançava	pé	ante	pé,	resistindo	à	vontade	de	ficar	olhando	para	trás.
Adiante,	o	túnel	se	alargava	e	Han	percebeu	que	estava	quase	em	seu	destino.
Só	mais	alguns	minutos	,	disse	a	si	mesmo.	Ele	se	movia	com	uma	graça	furtiva
que	tornava	seu	progresso	tão	silencioso	quanto	as	almofadinhas	peludas	nas
patas	de	um	wonat.	Ele	estava	contornando	os	módulos	de	hiperespaço	naquele
momento	e	depois	chegaria	a	um	corredor	transversal	maior.	Han	virou	à	direita,
aliviado	em	poder	andar	ereto.
Esgueirou-se	até	a	porta	da	cozinha	principal	e	hesitou	do	lado	de	fora,
prestando	atenção	em	cheiros	e	ruídos.	Ruídos...	sim,	apenas	aquele	que	ele
esperava	escutar.	A	algazarra	das	panelas,	o	spluuuush	da	massa	sendo
esmurrada	e,	por	fim,	os	suaves	sons	dela	sendo	sovada.
Dava	para	sentir	o	cheiro	da	massa.	Pão	wastril,	o	favorito	dele.	Han
espremeu	os	lábios.	Com	sorte,	ele	não	estaria	aqui	para	comer	nenhum	pão
dessa	fornada	em	particular.
Meteu	a	arma	de	raios	no	cinto,	abriu	a	porta	e	entrou	na	cozinha.
–	Ei...	Dewlanna...	–	chamou	ele	em	voz	baixa.	–	Sou	eu.	Vim	me	despedir.
A	criatura	alta	e	peluda	que	estava	sovando	vigorosamente	a	massa	de	wastril
girou	para	o	rapazcom	um	grunhido	suave	e	inquisitivo.
O	nome	completo	de	Dewlanna	era	Dewlannamapia,	e	ela	tinha	sido	a
melhor	amiga	de	Han	desde	que	viera	morar	a	bordo	da	Sorte	de	Mercador	há
quase	10	anos,	quando	Han	tinha	mais	ou	menos	9.	(O	jovem	piloto	de	swoop
obviamente	não	fazia	ideia	de	quando	tinha	nascido.	Ou	quem	foram	seus	pais.
Se	não	fosse	por	Dewlanna,	ele	não	saberia	nem	que	seu	sobrenome	era	“Solo”.)
Han	não	conseguia	falar	wookiee;	tentar	reproduzir	os	grunhidos,	rosnados,
latidos	e	rugidos	deixava	sua	garganta	dolorida,	e	ele	sabia	que	soava	ridículo;
mas	entendia	muito	bem.	Por	sua	vez,	Dewlanna	não	conseguia	falar	a	língua
básica,	mas	a	compreendia	tão	bem	quanto	a	própria	língua.	Assim	sendo,	a
comunicação	entre	o	jovem	humano	e	a	idosa	viúva	Wookiee	era	fluente,	mas...
diferente.
Han	tinha	se	acostumado	à	situação	fazia	anos	e	nem	pensava	mais	no
assunto.	Ele	e	Dewlanna	simplesmente...	conversavam.	Entendiam	um	ao	outro
perfeitamente.	Agora	ele	ergueu	a	pistola	roubada,	tomando	o	cuidado	de	não
apontá-la	à	amiga.
–	Sim	–	respondeu	ele	à	pergunta	de	Dewlanna.	–	É	esta	noite.	Vou	embora
da	Sorte	de	Mercador	e	não	volto	nunca	mais.
Dewlanna	ribombou	de	volta	preocupada	enquanto	voltava	automaticamente
a	sovar	a	massa.	Han	balançou	a	cabeça,	lhe	dando	um	sorriso	torto.
–	Você	se	preocupa	demais,	Dewlanna.	Claro	que	eu	planejei	tudo.	Estou
com	um	traje	espacial	escondido	num	armário	perto	das	docas	de	cargueiros-
robô,	e	tem	uma	nave	atracada	lá	agora	que	vai	partir	assim	que	terminar	de
descarregar	e	reabastecer.	Um	cargueiro-robô,	que	vai	rumar	para	onde	eu	quero
ir.
Dewlanna	socou	a	massa,	depois	grunhiu	uma	pergunta.
–	Vou	para	Ylesia	–	contou	Han.	–	Lembra	que	eu	lhe	contei	tudo	sobre	esse
lugar?	É	uma	colônia	religiosa	perto	do	território	Hutt,	e	eles	oferecem	aos
peregrinos	santuário	do	universo	exterior.	Lá	eu	estarei	a	salvo	de	Shrike.	E...	–
Ele	ergueu	um	pequeno	holodisco	para	que	a	cozinheira	Wookiee	pudesse	ver.	–
Veja	só	isso!	Eles	puseram	um	anúncio	procurando	um	piloto!	Já	usei	o	resto	dos
créditos	da	minha	porção	daquele	último	serviço	que	a	gente	fez	para	mandar	a
mensagem,	avisando	que	vou	fazer	uma	entrevista	pelo	emprego.
Dewlanna	rugiu	baixinho.
–	Ei,	não	posso	aceitar	isso	–	protestou	Han,	assistindo	enquanto	a	cozinheira
colocava	os	pães	nas	formas	e	então	na	grade	termal,	para	que	assassem.	–	Vou
ficar	bem.	É	só	surripiar	alguns	créditos	a	caminho	da	nave-robô.	Não	esquenta,
Dewlanna.
A	Wookiee	o	ignorou	e	atravessou	rapidamente	a	cozinha,	um	vulto	peludo	e
um	pouco	curvado	que	se	movia	com	agilidade,	apesar	da	idade	avançada.
Dewlanna	tinha	quase	600	anos,	pelo	que	Han	sabia.	Velha	até	para	um
Wookiee.
Ela	desapareceu	pela	porta	do	seu	alojamento	particular	e	então,	um
momento	depois,	ressurgiu	segurando	uma	bolsa	trançada	de	algum	material
sedoso	que	poderia	até,	pela	aparência,	ser	de	pelo	de	Wookiee.
Dewlanna	estendeu	a	bolsa	para	Han	com	um	queixume	insistente.
Han	balançou	a	cabeça	de	novo	e	colocou	as	mãos	para	trás	de	forma
infantil.
–	Não	–	retrucou	com	firmeza.	–	Não	vou	levar	suas	economias,	Dewlanna.
Você	precisa	desses	créditos	para	comprar	uma	passagem	e	me	encontrar	depois.
A	Wookiee	inclinou	a	cabeça	para	o	lado	e	fez	um	ruído	curto	e	inquisitivo.
–	É	claro	que	você	vai	me	encontrar!	–	insistiu	Han.	–	Você	não	acha	que	eu
vou	deixar	você	apodrecendo	aqui	nessa	lata	velha,	né?	Shrike	fica	mais	maluco
a	cada	ano,	e	ninguém	está	a	salvo	a	bordo	da	Sorte	.	Depois	que	eu	chegar	a
Ylesia	e	me	assentar,	vou	mandar	buscar	você.	Ylesia	é	um	retiro	religioso,	e
eles	oferecem	asilo	aos	peregrinos.	Shrike	não	poderá	nos	tocar	por	lá.
Dewlanna	botou	a	mão	dentro	da	bolsa,	usando	os	dedos	surpreendentemente
ágeis	para	selecionar	as	fichas	de	créditos,	e	por	fim	entregou	várias	ao	jovem
amigo.	Com	um	suspiro,	Han	se	rendeu	e	as	aceitou.
–	Certo...	tudo	bem.	Mas	isto	é	só	um	empréstimo,	combinado?	Eu	vou	pagar
você.	Os	sacerdotes	Ylesianos	estão	oferecendo	um	bom	salário.
Ela	concordou	com	um	grunhido	e	em	seguida,	sem	aviso,	usou	a	pata
imensa	para	agitar	os	cabelos	do	rapaz,	deixando-os	eriçados	em	completa
bagunça.
–	Ei!	–	exclamou	Han.	Cafunés	de	Wookiees	não	eram	moleza.	–	Eu	acabei
de	pentear	o	cabelo!
Dewlanna	grunhiu,	divertida,	e	Han	se	endireitou	indignado.
–	Eu	não	fico	mais	bonito	relaxado.	Já	falei	para	você	que	o	termo	“relaxado”
não	é	um	elogio	para	os	humanos.
Han	encarou	a	amiga,	e	sua	indignação	desapareceu	conforme	ele	percebeu
que	esta	seria	a	última	vez	em	um	longo	tempo	que	veria	aquele	amado	rosto
peludo	e	os	gentis	olhos	azuis.	Dewlanna	tinha	sido	sua	amiga	mais	próxima	–	e
frequentemente	sua	única	amiga	–	por	tanto	tempo.	Deixá-la	era	difícil,	muito
difícil.
Num	impulso,	o	jovem	corelliano	se	jogou	contra	a	calorosa	e	sólida	amiga,
abraçando-a	com	força.	Sua	cabeça	batia	no	meio	do	peito	dela.	Han	se	lembrava
de	quando	mal	alcançava	a	cintura.
–	Vou	sentir	saudades	suas	–	afirmou	ele,	o	rosto	abafado	contra	o	pelo	e	os
olhos	ardendo.	–	Você	se	cuide,	Dewlanna.
Ela	rugiu	baixinho,	e	os	longos	braços	peludos	o	envolveram	quando	ela
devolveu	o	abraço.
–	Ora,	se	esta	não	é	uma	cena	tocante	–	comentou	uma	voz	fria	e	familiar
demais.
Han	e	Dewlanna	ficaram	paralisados,	e	depois	giraram	para	encarar	o
homem	que	entrou	pelo	alojamento	da	Wookiee.	Garris	Shrike	estava	encostado
na	porta,	seus	belos	traços	formando	um	sorriso	que	fez	o	sangue	de	Han	gelar
nas	veias.	Ao	seu	lado,	ele	sentiu	Dewlanna	estremecer,	de	medo	ou	talvez	de
ódio.
Dois	outros	tripulantes,	Larrad	Shrike	e	Brafid,	o	Elomin,	estavam	atrás	de
Shrike.	Han	cerrou	o	punho	em	frustração.	Se	fosse	apenas	Shrike,	ele	teria
podido	tentar	atacar	o	capitão	da	Sorte	.	Com	Dewlanna	para	ajudar,	os	dois
talvez	conseguissem	subjugar	Garris,	porém,	com	Larrad	e	o	Elomin	presentes,
não	teriam	chance.
Han	estava	muito	ciente	da	pistola	roubada	enfiada	no	cinto.	Por	um
momento,	considerou	sacá-la,	mas	abandonou	a	ideia.	Shrike	era	conhecido	por
ser	rápido	no	gatilho.	Não	teria	a	menor	chance	de	batê-lo,	e	poderia	acabar
provocando	as	mortes	dele	e	de	Dewlanna.	Shrike	estava	claramente	enfurecido.
Han	lambeu	os	lábios	secos.
–	Escute,	capitão	–	começou	ele.	–	Eu	posso	explicar...
Shrike	se	endireitou	e	estreitou	os	olhos.
–	Você	pode	explicar	o	quê	,	seu	traidorzinho	covarde?	O	roubo	à	sua
família?	A	traição	àqueles	que	confiaram	em	você?	A	facada	que	você	deu	nas
costas	do	seu	benfeitor,	seu	ladrãozinho	chorão?
–	Mas...
–	Estou	cansado	de	você,	Solo.	Fui	tolerante	até	hoje	por	causa	da	sua
habilidade	incrível	como	piloto	de	swoop,	e	todos	aqueles	créditos	de	premiação
vieram	a	calhar,	só	que	a	minha	paciência	se	esgotou.	–	Shrike	enrolou
cerimoniosamente	as	mangas	do	extravagante	uniforme,	depois	cerrou	as	mãos
em	punhos.	A	luz	artificial	da	cozinha	fez	o	anel	de	gema	de	sangue	brilhar	num
prateado	baço.	–	Vamos	ver	o	que	alguns	dias	enfrentando	envenenamento	de
sangue	devaroniano	farão	com	sua	atitude;	além	de	alguns	ossos	quebrados,
talvez.	Estou	fazendo	isso	pelo	seu	próprio	bem,	moleque.	Algum	dia	você	vai
me	agradecer.
Han	engoliu	em	seco	de	terror	quando	Shrike	começou	a	se	aproximar.	Tinha
agredido	o	capitão	mercador	uma	única	vez	antes,	há	dois	anos,	quando	se
sentira	arrogante	depois	de	vencer	o	vale-tudo	de	gladiadores	em	Jubilar;	e	se
arrependera	imediatamente.	A	velocidade	e	força	do	golpe	de	resposta	de	Garris
tinham	jogado	sua	cabeça	para	trás	e	ferido	seus	lábios	tão	completamente	que
Dewlanna	fora	forçada	a	alimentá-lo	com	mingau	por	uma	semana	até	sararem.
Com	um	rosnado,	Dewlanna	deu	um	passo	à	frente.	A	mão	de	Shrike	caiu	na
pistola.
–	Você	fique	fora	desta,	Wookiee	velha	–	retrucou	ele	com	tanta	ferocidade
quanto	Dewlanna.	–	Sua	comida	não	é	tão	boa	assim.
Han	segurou	o	braço	peludo	da	amiga	e	tentou	detê-la.
–	Dewlanna,	não!
Ela	se	soltou	do	rapaz	como	se	ele	fosse	um	inseto	irritante	e	rugiu	para
Shrike.	O	capitão	sacou	a	pistola	de	raios,	e	o	caos	irrompeu.
–	Nãããoo!	–	gritou	Han.	O	rapaz	saltou	em	seguida,	com	o	pé	estendido	parafrente	numa	velha	técnica	de	luta	de	rua.	O	peito	do	pé	acertou	solidamente	o
esterno	de	Shrike.	O	capitão	perdeu	o	fôlego	num	grande	houf!	enquanto	caía
para	trás.	Han	rolou	ao	aterrissar.	Um	disparo	de	formigador	passou	fervendo	de
raspão	pela	sua	orelha.
–	Larrad!	–	ofegou	o	capitão	enquanto	Dewlanna	vinha	para	cima	dele.
O	irmão	de	Shrike	sacou	a	arma	de	raios	e	a	apontou	contra	a	Wookiee.
–	Pare,	Dewlanna!
Suas	palavras	foram	tão	inúteis	quanto	as	de	Han.	O	sangue	de	Dewlanna
fervia;	ela	estava	possuída	pela	fúria	guerreira	wookiee.	Com	um	rugido	que
ensurdeceu	os	combatentes,	ela	agarrou	o	pulso	de	Larrad	e	deu	um	puxão,
girando-o	e	lhe	dando	um	tranco	numa	paródia	terrível	do	gesto	de	chicotear.
Han	ouviu	um	crunch	misturado	a	vários	pops	enquanto	tendões	e	ligamentos
cediam.	Larrad	Shrike	berrou,	um	grito	agudo	e	estridente	tão	cheio	de	dor	que	o
braço	do	jovem	corelliano	doeu	em	solidariedade.
Han	pegou	a	pistola	no	cinto	e	disparou	um	tiro	brusco	contra	o	Elomin	que
saltava	para	frente,	com	o	formigador	em	riste	e	apontado	para	o	abdome	de
Dewlanna.	Brafid	uivou	e	soltou	a	arma.	Han	ficou	espantado	de	ter	conseguido
acertar,	mas	não	teve	muito	tempo	para	se	maravilhar	com	sua	mira	precisa.
Shrike	se	levantava	cambaleante	com	a	pistola	na	mão,	mirando	diretamente
na	cabeça	de	Han.
–	Larrad?	–	gritou	ele	para	o	amontoado	de	agonia	que	era	seu	irmão.	Larrad
não	respondeu.
Shrike	engatilhou	a	pistola	e	chegou	mais	perto	de	Han.
–	Pare,	Dewlanna!	–	rosnou	o	capitão	para	a	Wookiee.	–	Ou	seu	amiguinho
Solo	vai	morrer!
Han	largou	a	arma	e	ergueu	as	mãos	num	gesto	de	rendição.
Dewlanna	se	deteve	onde	estava	e	grunhiu	baixinho.
Shrike	firmou	a	arma	e	o	dedo	tencionou	o	gatilho.	Suas	feições	estavam
marcadas	por	um	ódio	puro	e	malévolo.	Então	ele	sorriu,	seus	pálidos	olhos
azuis	cintilando	com	alegria	brutal.
–	Pelos	crimes	de	insubordinação	e	ataque	ao	seu	capitão	–	anunciou	ele	–,
eu	o	sentencio	à	morte,	Solo.	Que	você	apodreça	em	todos	os	infernos	que	já
existiram.
Han	ficou	paralisado,	esperando	o	raio	que	o	fritaria	a	qualquer	momento,
mas	Dewlanna	rugiu,	empurrou	Han	para	o	lado	e	saltou	contra	Shrike.	O	raio	de
energia	da	pistola	a	acertou	em	cheio	no	peito,	e	a	Wookiee	desabou	num	monte
de	pelo	chamuscado	e	carne	queimada.
–	Dewlanna!	–	gritou	Han	em	agonia.	Com	uma	velocidade	que	ele	não	sabia
ter,	o	rapaz	mergulhou	sobre	Shrike	e	acertou	com	força	os	joelhos	do	capitão.
Shrike	foi	atirado	para	trás	de	novo,	e	desta	vez	sua	cabeça	bateu	com	violência
no	convés.	Ele	desmaiou.
Han	engatinhou	até	a	amiga	e	a	virou	gentilmente,	vendo	o	grande	buraco
que	o	raio	da	pistola	tinha	aberto	em	seu	peito.	Soube	imediatamente	que	a
ferida	era	mortal.	Nenhum	droide	médico	já	construído	seria	capaz	de	curar
aquilo.	Dewlanna	gemeu,	arquejou	e	lutou	com	toda	sua	força	wookiee	para
respirar.	Han	passou	os	braços	sob	os	ombros	dela	e	tentou	facilitar	sua	luta.	Os
olhos	azuis	dela	se	abriram	e,	depois	de	um	momento,	se	fixaram	nos	dele.	A
lucidez	retornou,	e	Dewlanna	reverberou	baixinho.
–	Não,	não	vou	deixar	você!	–	respondeu	Han,	agarrando-a	com	mais	força.
As	lágrimas	borravam-lhe	a	visão,	e	ela	nadava	abaixo	do	rapaz	num	mar	de
pelos	castanhos.	–	Não	me	importo	mais	em	fugir!	Ah,	Dewlanna...
Com	grande	esforço,	ela	ergueu	uma	imensa	pata-mão	peluda	e	segurou	o
braço	do	rapaz.	Han	fez	um	esforço	para	traduzir	o	que	ela	dizia.
–	Eu	sei	–	soluçou	Han,	falando	alto	para	que	ela	soubesse	que	ele	tinha
entendido.	–	Sei	que	você	me	ama...	–	Ela	ribombou	de	novo.	–	...	tanto	quanto
ama	seus	próprios	filhos.
Han	engoliu,	a	garganta	apertada	e	dolorida.
–	Eu	também	me	sinto	assim,	Dewlanna.	Você	vai	sempre	ser	a	mãe	que	eu
não	tive.
Um	longo	gemido	de	angústia	a	fez	estremecer.	Ela	ribombou	mais	uma	vez.
–	Não	–	insistiu	Han.	–	Não	vou	deixar	você.	Vou	ficar	aqui	até...	até...	–	Ele
não	conseguiu	terminar	a	frase.
Dewlanna	agarrou	o	braço	dele	com	uma	ressurgência	de	sua	velha	força	e
rosnou	para	Han	com	urgência.
–	Se	eu...	–	Han	estava	com	dificuldades	para	entender	a	fala	pastosa	dela.	–
Se	eu	morrer...	nada?	Ah,	você	está	dizendo	que,	se	eu	não	viver,	você	terá
morrido	por	nada?
Ela	concordou	com	a	cabeça.	Em	meio	ao	ninho	de	pelos,	os	olhos	de
Dewlanna	sustentavam	o	olhar	de	Han	com	toda	a	intensidade	que	ela	conseguiu
reunir.	Han	balançou	a	cabeça	com	teimosia.	Como	ele	poderia	abandoná-la	para
morrer	sozinha?
Dewlanna	roncou	baixinho,	de	leve.
–	Sim,	eu	sei	que	você	ficará	bem,	reunida	ao	poder	vital	–	concordou	Han,
tentando	soar	sincero.	Sabia	que	os	Wookiees	acreditavam	num	poder	que	unia
toda	a	existência.	Pessoalmente,	ele	achava	que	esse	poder	(ele	nunca	tinha
conseguido	traduzir	o	termo	precisamente;	a	palavra	wookiee	poderia	significar
“potência”	ou	“força”)	em	que	Dewlanna	acreditava	com	tanta	firmeza	não
passava	de	superstição.
Porém,	se	fosse	um	conforto	para	ela	acreditar	naquilo	em	seus	momentos
finais,	Han	não	discutiria.	Lembrou-se	das	palavras	que	ela	tinha	lhe	dito	tantas
vezes.
–	Dewlanna,	que	o	poder	vital	esteja	com	você...	–	Por	um	momento	ele
desejou	que	também	pudesse	acreditar...
Ela	gemeu	de	dor.	Han	percebeu	que	ela	se	ia	rapidamente.	Então	Dewlanna
ribombou	fracamente,	e	mais	uma	vez	ele	traduziu	automaticamente.
–	Seu	último	pedido...	–	Ele	engasgou,	mal	capaz	de	pronunciar	as	palavras.
–	Você	quer	que	eu...	me	vá...	para	viver.	E	para	ser...	feliz.
Han	fez	um	esforço	para	não	irromper	em	lágrimas.
–	Tudo	bem	–	concordou	ele.	–	Eu	vou.	Ainda	tenho	tempo	para	embarcar
naquela	nave-robô	antes	que	ela	decole.
Dewlanna	ganiu	fracamente.
–	Eu	prometo	–	concordou	ele,	com	a	voz	falhando.	–	Vou	agora.	E	juro	que
sempre	me	lembrarei	de	você,	Dewlanna.
Ela	já	não	conseguia	dizer	mais	nada,	mas	ele	tinha	certeza	de	que	a	amiga	o
ouvira.	Han	a	deitou	gentilmente	no	convés,	depois	se	levantou	e	pegou	a
pistola.	Então,	depois	de	lançar	um	último	olhar	a	Dewlanna,	Han	Solo	se	virou
e	saiu	correndo	pela	porta.
Seus	passos	ecoavam	enquanto	ele	corria	pelos	corredores	da	Sorte	de
Mercador	,	pois	aquele	não	era	mais	o	momento	de	ser	furtivo.	Ele	tinha	que
alcançar	o	vão	de	atracagem	e	aquele	cargueiro-robô	ylesiano!	Han	não	fazia
ideia	de	quando	a	nave	partiria	da	Sorte	,	mas	o	cronograma	de	carga	e	descarga
postado	para	os	estivadores	espaciais	tinha	listado	o	cargueiro	como	estando
pronto	para	partir	assim	que	os	droides	terminassem	de	reabastecê-lo.	E,	quando
Han	surrupiara	e	escondera	o	traje	espacial,	eles	tinham	acabado	de	iniciar	o
processo.
A	Sonho	Ylesiano	poderia	partir	a	qualquer	momento!
Ofegante,	Han	saiu	correndo	para	a	escotilha,	os	pés	batendo	nos	conveses
que	tinham	sido	seu	playground	desde	que	ele	se	entendera	por	gente.	Ao	longe,
o	rapaz	ouviu	vozes	sonolentas,	misturadas	a	gritos	e	ordens.
Não	posso	deixar	que	eles	me	peguem.	Shrike	vai	me	matar.	Essa	certeza
concedeu	velocidade	aos	seus	pés.
Han	derrapou	pela	curva	final	e	agarrou	o	traje	espacial	que	tinha	ocultado
atrás	de	alguns	equipamentos	de	reabastecimento.	O	capacete	pendeu	sobre	o
braço	e	bateu	na	barriga	dele	enquanto	o	rapaz	digitava	apressadamente	o	código
roubado	no	teclado	da	porta	da	escotilha.
Segundos	se	passaram.	Os	sons	de	perseguição	ficavam	mais	altos.	Porém,
eles	certamente	pensariam	que	Han	tinha	fugido	para	o	convés	das	naves
auxiliares	ou	mesmo	para	as	cápsulas	de	fuga.	Ninguém	adivinharia	que	ele	seria
louco	o	bastante	para	tentar	embarcar	clandestinamente	num	cargueiro-robô.	Ou,
pelo	menos,	era	com	isso	que	ele	contava...
A	escotilha	se	abriu.	Han	pulou	para	dentro,	fechou	a	porta	de	pressão	e
começou	a	vestir	o	traje	espacial.	Conferiu	o	suprimento	de	ar.	Cheio.	Ótimo.
Originalmente,	tinha	planejado	trazer	alguns	tanques	de	ar	adicionais,	mas	não
ousava	correr	o	risco	de	sair.	O	tanque	do	traje	duraria	dois	dias.	Deveria	bastar,
a	não	ser	que	a	Sonho	fosse	um	cargueiro	particularmente	lento.	Já	que	a	nave
era	automatizada,	o	rapaz	não	teria	como	descobrir	qual	rota	seguiria,	ou	qual
velocidade	fora	programada.
Han	fez	uma	careta.	Só	um	homem	desesperadousaria	esse	método	de	fuga.
E	ele	estava	realmente	desesperado.	Esperava	apenas	não	chegar	morto	em
Ylesia	por	ter	ficado	sem	ar.
Vamos	ver...	rações...	confere.	Tanque	de	água...	cheio.	Ótimo.	Mais	um
resultado	da	insistência	do	capitão	Shrike	em	manter	todo	o	equipamento	da
nave	em	perfeita	ordem.
Han	arrastou	o	traje	por	sobre	os	braços	do	seu	macacão	cinzento	de
tripulante	e	fechou	o	selo	frontal.	Pegou	o	capacete,	desajeitado	por	conta	das
luvas,	e	o	colocou	sobre	a	cabeça.	Era	quase	inteiramente	de	vidrine,	e	Han
conseguia	ver	em	todas	as	direções,	menos	diretamente	atrás	de	si.	Uma	fileira
de	holoindicadores	corria	pela	base	do	capacete,	informando	os	sinais	vitais,	a
quantidade	de	ar	restante	e	todos	os	outros	dados	necessários	para	a
sobrevivência.	Han	poderia	“falar”	com	o	traje	de	forma	limitada	ao	apertar	a
alavanca	de	comunicação	com	o	queixo	e	dar	instruções	relacionadas	à
temperatura,	mistura	de	ar,	e	coisas	do	gênero.
Certo,	é	agora	ou	nunca	,	pensou	o	rapaz	enquanto	seguia	até	a	escotilha	de
conexão	e	digitava	a	sequência	final	para	equalizar	a	pressão	entre	a	câmara
estanque	e	a	Sonho	Ylesiano.	Ouviu	o	leve	sibilo	do	ar	sendo	esvaziado	da
câmara.
A	Sonho	,	sendo	automatizada,	não	precisava	de	ar	para	operar.	A	nave
conteria	apenas	vácuo.
Finalmente,	a	escotilha	se	abriu	e	Han	entrou.
A	nave	estava	lotada	de	equipamento	e	carga,	e	os	corredores	eram	bem
estreitos.	A	Sonho	não	fora	construída	para	acomodar	uma	tripulação	viva,
apenas	para	manutenção	de	rotina,	e	Han	teve	que	se	virar	de	lado	para	se
espremer.	O	jovem	ficou	grato	por	um	instante	que	toda	a	engenharia	padrão
fosse	pensada	para	funcionar	com	gravidade.	De	outra	forma,	ele	poderia	ter	sido
obrigado	a	lidar	com	zero	g,	e	isso	teria	sido	um	enorme	aborrecimento.
Han	tinha	saído	da	Sorte	de	Mercador	em	traje	espacial	com	as	equipes	de
solda	várias	vezes	desde	que	fora	considerado	velho	o	bastante	para	serviços
perigosos	na	nave,	flutuando	no	espaço,	atado	à	nave	só	por	um	cordão	umbilical
aparentemente	frágil.	Tinha	sido	meio	empolgante	nas	primeiras	vezes,	mas	Han
não	era	lá	muito	fã	de	ficar	sem	peso,	e	logo	tinha	aprendido	a	nunca	olhar	para
“baixo”.	Não	ver	nada	além	de	espaço	sob	os	pés	por	anos-luz	sem	conta	bastava
para	fazer	sua	cabeça	girar.
Han	partiu	em	direção	à	“ponte”,	concluindo	que	seria	onde	encontraria	o
maior	espaço	vazio.	Chegou	lá	rapidamente;	a	Sonho	era	uma	nave	pequena.	Se
a	listagem	de	carga	estivesse	correta,	ela	tinha	trazido	uma	remessa	de	especiaria
brilhestim	de	primeira	e	partiria	com	um	estoque	de	componentes	eletrônicos
corellianos	de	alta	qualidade,	que	poderiam	ser	usados	em	manutenção
industrial.
Han	se	perguntou	por	um	instante	quem	Garris	Shrike	tinha	subornado	para
poder	receber	um	carregamento	de	especiaria.	A	substância	era	controlada
rigidamente	pela	maioria	dos	governos	planetários,	e	também	pela	comissão	de
comércio	imperial.
Virou-se	de	lado	para	entrar	na	ponte	e	ficou	paralisado.
O	que,	em	nome	de	todos	os	Filhos	de	Barab,	um	droide	astromec	está
fazendo	na	ponte?	Todo	mundo	sabia	que	droides	não	pilotavam	naves	sozinhos,
então	ele	não	poderia	ser	o	“capitão”.	Han	fez	uma	careta	dentro	do	capacete	de
vidrine.	O	droide	deveria	estar	ali	como	algum	tipo	de	alarme	antirroubo,	um
sofisticado	dispositivo	de	comunicação	para	ajudar	a	deter	ladrões	portuários	ou
piratas	espaciais.	Han	sabia	que	uma	das	razões	pelas	quais	os	sacerdotes
Ylesianos	estavam	ansiosos	para	contratar	um	piloto	–	preferencialmente	um
corelliano,	disse	o	anúncio	deles	–	era	o	fato	de	estarem	perdendo	naves-robô
para	piratas.
Enquanto	estava	ali	parado,	torcendo	para	que	o	droide	não	tivesse	percebido
sua	presença,	o	rapaz	sentiu	a	Sonho	estremecer.	Estamos	desatracando!	Preciso
me	preparar	para	o	impulso	de	separação!
Com	velocidade,	Han	se	afastou	da	ponte	e	voltou	ao	compartimento	de
carga.	Finalmente	encontrou	o	que	procurava,	e	bem	a	tempo.	Um	espaço
pequeno	onde	pudesse	se	sentar,	do	tamanho	certo	para	que	ele	encolhesse	as
pernas	e	as	abraçasse.
A	Sonho	estremeceu	de	novo	e	de	novo.	Mentalmente,	Han	visualizou	as
braçadeiras	de	atracação	se	soltando,	uma	de	cada	vez.	Falta	só	mais	uma,	e
então...
A	nave	estremeceu	uma	última	vez,	depois	deu	um	solavanco	violento.
Como	a	Sonho	não	deveria	ter	tripulantes,	podia	usar	padrões	de	aceleração
muito	mais	brutos	que	aqueles	empregados	por	uma	nave	com	ocupantes	vivos.
Wham!	O	corpo	de	Han	sofreu	um	tranco,	então	ele	se	segurou	contra	o
impacto	da	aceleração	violenta.	A	Sonho	tinha	desatracado	e	agora	zarpava!
Han	visualizou	a	nave	se	propelindo	para	longe	da	Sorte	de	Mercador	,	fora
do	abraço	do	campo	gravitacional	de	Corellia.	Fechou	os	olhos	e	imaginou	seu
mundo	natal	girando	preguiçosamente	contra	o	pano	de	fundo	das	estrelas.
Corellia	era	um	belo	planeta,	com	estreitos	mares	azuis,	florestas	marrons	e
verdes,	desertos	beges	e	grandes	cidades.	O	lado	noturno	cintilava	como	um
drone	de	batalha	cravejado	de	luzes...
O	impulso	mais	brutal	de	aceleração	o	atingiu	então,	e	Han	ficou
desconfortavelmente	preso	contra	o	contêiner	de	carga.	Fizemos	o	salto	para	a
velocidade	da	luz	,	percebeu	ele.
Momentos	depois,	enquanto	a	velocidade	da	nave	se	estabilizava,	ele
conseguiu	se	mover	de	novo.	Flexionou	os	braços	e	as	pernas	e	fez	uma	careta
ao	sentir	os	hematomas.	São	da	luta	na	cozinha,	entendeu.	Com	isso	se	lembrou
de	Dewlanna	com	uma	tristeza	súbita	e	visceral.	As	lágrimas	arderam	em	seus
olhos,	e	ele	tentou	contê-las	com	ferocidade.	Chorar	num	traje	espacial	era	uma
péssima	ideia,	já	que	você	não	poderia	enxugar	o	rosto.
Han	fungou	e	piscou	na	tentativa	de	bloquear	as	lágrimas.	Dewlanna...
pensou.	Sua	amiga	tinha	dado	a	vida	para	que	ele	tivesse	aquela	chance.
Controle-se,	Solo,	ordenou	a	si	mesmo	com	severidade.	A	garganta	doía,	mas
Han	engoliu	com	força	e	mordeu	o	lábio	até	a	vontade	de	chorar	se	ir.	Não
conseguia	lembrar	a	última	vez	que	tinha	chorado,	e	qual	seria	a	utilidade?	Não
traria	Dewlanna	de	volta...
Han	sabia	que	Dewlanna	acreditava	numa	pós-vida	do	espírito.	Se	ela
estivesse	certa	quanto	a	isso,	então	talvez	pudesse	ouvi-lo	agora.
–	Ei,	Dewlanna	–	sussurrou	Han.	–	Eu	consegui.	Caí	na	estrada.	Estou	indo
para	Ylesia	e	lá	me	tornarei	o	melhor	piloto	do	setor.	Vou	aprender	o	bastante	e
faturar	o	bastante	para	me	candidatar	à	Academia,	do	jeito	que	a	gente	sempre
sonhou.	Estou	livre,	Dewlanna.	–	A	voz	dele	falhou.	Estamos	seguros,
Dewlanna.	Shrike	não	pode	nos	tocar	agora...
Encravado	em	sua	pequena	fresta,	o	jovem	piloto	sorriu	com	determinação
implacável.	Estou	livre	e	devo	tudo	a	você.	Jamais	me	esquecerei,	também.	Se
algum	dia	tiver	uma	chance	de	pagar	essa	dívida	ajudando	alguém	do	seu	povo,
juro	por	tudo	que	há	lá	fora	–	qualquer	deus,	poder-vital	ou	força	–	que	não	vou
hesitar.
Han	Solo	inspirou	profundamente	uma	golfada	de	ar	enlatado	de	traje
espacial.
–	Obrigado,	Dewlanna	–	sussurrou.
Onde	quer	que	ela	estivesse	agora,	Han	esperava	que	ela	pudesse	ouvi-lo.
Quando	Han	acordou	do	sono	exausto,	ficou	completamente	desorientado	a
princípio.	Onde	estou?	,	perguntou-se	grogue.	A	memória	voltou	de	supetão	em
imagens	rápidas	e	violentas:	a	mão	dele	segurando	uma	pistola	de	raios...	o	rosto
de	Shrike	retorcido	com	ódio	e	fúria...	Dewlanna,	ofegante,	morrendo	sozinha...
Engoliu	em	seco,	com	a	garganta	doendo.	Dewlanna	havia	sido	parte	de	sua
vida	desde	que	ele	era	só	um	garotinho	de	8,	talvez	9	anos.	Han	se	lembrava	do
dia	em	que	a	Wookiee	tinha	embarcado	com	seu	companheiro,	Isshaddik.	Ele
havia	sido	expulso	do	planeta	natal	dos	Wookiees	por	algum	crime	que
Dewlanna	nunca	tinha	revelado.	Ela	seguira	o	companheiro	ao	exílio,	deixando
para	trás	tudo	que	já	conhecera;	seu	lar	e	seus	filhotes	crescidos.
Mais	ou	menos	um	ano	depois,	Isshaddik	fora	morto	durante	uma	missão	de
contrabando	a	Nar	Hekka,	um	dos	mundos	no	setor	Hutt.	Shrike	anunciou	a
Dewlanna	que	ela	poderia	ficar	a	bordo	da	Sorte	de	Mercador	como	cozinheira,
já	que	o	capitão	tinha	passado	a	gostar	da	comida	que	ela	preparava.	Dewlanna
poderia	ter	voltado	aKashyyyk;	afinal,	ela	não	tinha	cometido	crime	nenhum,
mas	decidiu	ficar	na	Sorte	.
Por	minha	causa	,	pensou	Han	enquanto	localizava	o	canudo	de	acesso	à
água	no	capacete	e	dava	um	gole	cuidadoso.	Depois	pegou	duas	bolinhas	de
ração	com	a	língua	e	as	engoliu	com	outro	gole.	Não	era	a	mesma	coisa	que
comida	de	verdade,	mas	daria	para	o	gasto	pelo	dia...	Ela	ficou	por	minha	causa.
Queria	me	proteger	de	Shrike...
Han	suspirou,	sabendo	que	era	verdade.	Wookiees	estavam	entre	os
companheiros	mais	leais	e	firmes	da	galáxia,	ou	pelo	menos	assim	ele	tinha
ouvido.	Lealdade	e	amizade	wookiee	não	eram	concedidas	facilmente,	porém,
uma	vez	dadas,	jamais	vacilavam.
O	rapaz	se	reclinou	na	alcova	e	conferiu	o	tanque	de	ar.	Restavam	três
quartos.	Han	se	perguntou	quão	longe	a	Sonho	teria	viajado	enquanto	ele	dormia.
Em	alguns	minutos,	ele	iria	à	sala	de	controle	ver	se	era	capaz	de	decifrar	os
instrumentos	do	piloto	automático.
A	mente	de	Han	vagueou	de	volta	no	tempo,	recordando	Dewlanna	com
tristeza.	Depois,	conforme	ele	relaxava,	sua	memória	se	perdeu	em	dias	ainda
mais	distantes.	Sua	primeira	memória	“real”	–	todo	o	resto	se	resumia	a
fragmentos	sem	sentido,	pedaços	de	imagens	velhas	e	distorcidas	demais	para
significar	alguma	coisa	–	era	do	dia	que	Garris	Shrike	o	trouxera	para	“casa”	na
Sorte	de	Mercador...
O	menininho	estava	encolhido	na	boca	de	um	beco	úmido	e	imundo,
tentando	não	chorar.	Ele	já	era	muito	grande	para	chorar,	não	era?	Mesmo	que
estivesse	com	frio,	com	fome	e	sozinho.	Por	um	momento,	ele	se	perguntou	por
que	estava	sozinho,	mas	foi	como	se	uma	imensa	porta	de	metal	se	fechasse
sobre	aquele	pensamento,	trancando	tudo	detrás	dela.	Do	outro	lado	da	porta
havia	perigo,	do	outro	lado	da	porta	havia...	coisas	ruins.	Dor,	e...	e...
O	menino	sacudiu	a	cabeça	e	seus	cabelos	escorridos	e	sujos	caíram
desordenados	em	seu	rosto.	Ele	os	afastou	com	a	mão	que	era	tão	encardida	de
sujeira	que	sua	cor	de	pele	natural	mal	era	visível.	Vestia	apenas	calças
esfarrapadas	e	uma	túnica	sem	mangas	rasgada	que	era	pequena	demais.	Seus
pés	estavam	descalços.	Ele	teve	sapatos	algum	dia?
Ele	pensou	que	talvez	se	lembrasse	de	sapatos.	Bons	sapatos,	de	qualidade,
sapatos	que	alguém	havia	colocado	nos	seus	pés	e	o	ajudado	a	amarrar.	Alguém
que	era	gentil,	que	sorria	em	vez	de	fazer	cara	de	raiva,	alguém	que	era	limpo,
cheirava	bem,	que	vestia	roupas	bonitas...
SLAM!
A	porta	se	fechou	de	novo,	e	o	pequeno	Han	(ele	sabia	que	esse	era	seu
nome,	mas	não	conhecia	nenhum	outro	que	o	acompanhasse)	estremeceu	com	a
dor	em	sua	mente.	Ele	já	sabia	que	não	deveria	deixar	tais	pensamentos
encherem	sua	cabeça.	Pensamentos	e	memórias	assim	eram	maus,	eles
machucavam...	melhor	não	pensá-los.
Ele	fungou	de	novo	e	esfregou	futilmente	o	nariz	que	escorria.	Percebeu	que
estava	parado	numa	poça	de	dejetos,	e	seus	pés	estavam	tão	frios	que	mal
conseguia	senti-los.	Era	noite,	e	prometia	fazer	uma	madrugada	bem	fria.
A	fome	se	retorceu	no	estômago	de	Han	como	uma	coisa	viva,	uma	criatura
que	mordia	dolorosamente.	Ele	não	conseguia	se	lembrar	de	quando	tinha
comido	pela	última	vez.	Tinha	sido	naquele	dia	de	manhã,	quando	ele
encontrara	uma	fruta	de	kasava	no	lixo,	aquela	fruta	madura	e	suculenta	que
tinha	sido	comida	apenas	pela	metade?	Ou	será	que	tinha	sido	na	noite
passada?
O	garotinho	decidiu	que	não	poderia	ficar	ali	parado.	Tinha	que	se	mover.
Han	saiu	do	beco	para	a	calçada.	Sabia	como	mendigar...	quem	é	que	lhe
ensinara	isso?
SLAM!
Não	importava	quem	tinha	ensinado,	só	que	tinha	ensinado	bem.	Ajustando
os	traços	para	ficar	o	mais	patético	possível,	Han	arrastou	os	pés	até	a
transeunte	mais	próxima.
–	Por	favor...	moça...	–	choramingou	ele.	–	Fome,	tô	com	tanta	fome...	–	Ele
estendeu	a	mão,	palma	para	cima.	A	mulher	com	quem	ele	falou	reduziu
minimamente	a	velocidade,	olhou	de	súbito	para	a	palma	imunda	e	recuou,
puxando	a	saia	para	que	não	encostasse	nele.
–	Moça...	–	sussurrou	Han,	virando-se	para	observá-la	se	afastar	com
interesse	mais	que	profissional.	Ela	trajava	um	belo	vestido,	macio	e	brilhoso,
tipo...	reluzente...	sob	as	luzes	ásperas	das	ruas	daquela	cidade	portuária
corelliana.
Ela	o	lembrava	de	alguém,	uma	mulher	com	grandes	olhos	escuros,	pele
macia,	cabelos...
SLAM!
Han	começou	a	soluçar,	desesperançoso,	o	corpinho	tremendo	de	frio,	fome,
tristeza	e	solidão.
–	Ei,	você!	Han!	–	A	voz	forte,	mas	não	hostil,	rompeu	sua	muralha	de
infelicidade.	Choramingando	e	engolindo,	Han	ergueu	o	olhar	e	viu	um	sujeito
alto	se	curvando	sobre	ele.	Cabelos	negros,	pálidos	olhos	azuis.	Fedia	a	cerveja
alderaaniana	e	a	fumaça	de	uma	dúzia	de	drogas	ilegais,	mas	se	mantinha	de	pé
sem	cambalear,	ao	contrário	de	vários	outros	pedestres.
Ao	ver	que	Han	o	encarava,	o	homem	se	agachou	sobre	os	calcanhares,	o
que	o	deixou	pouco	acima	do	nível	dos	olhos	do	menino.
–	Você	sabe	que	já	é	muito	grande	para	chorar	na	rua,	não	sabe?
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça,	ainda	fungando,	mas	tentando	se	controlar.
–	Thim...	sim.	–	Inicialmente	ele	ficou	com	a	língua	meio	presa,	como	tinha
acontecido	quando	ele	aprendera	a	falar.	Aquilo	fora	há	muito,	muito	tempo,
pensou	Han.	Já	falava	desde	a	estação	fria,	e	logo	seria	a	estação	fria	de	novo.
Ele	estava	falando	desde...
SLAM!
A	criança	estremeceu	de	novo	quando	sua	mente	bloqueou	decisivamente
todas	as	memórias	daquele	tempo	anterior.	Outra	coisa	emergiu,	algo	que	ele
tinha	ignorado	a	princípio	em	sua	infelicidade.	Han	arregalou	os	olhos.	Aquele
homem	o	chamou	pelo	nome!	Como	ele	sabe	o	meu	nome?
–	Você...	quem	é	você?	–	sussurrou	Han.	–	Como	que	você	sabe	o	meu
nome?
O	homem	sorriu,	mostrando	muitos	dentes.	Era	para	ser	uma	expressão
amistosa,	mas	havia	alguma	coisa	nele	que	incomodava	o	menino.	Lembrava
Han	das	alcateias	de	canoides	que	caçavam	nos	becos.
–	Eu	sei	de	muitas	coisas,	garoto	–	respondeu	o	homem.	–	Me	chame	de
capitão	Shrike.	Você	consegue	dizer?
–	S-sim.	Cap-tão	Shrike	–	repetiu	Han,	incerto.	Ele	soltou	um	soluço
enquanto	seu	choro	morria.	–	Mas...	mas	como	você	sabia	meu	nome?	Por
favor?
O	homem	estendeu	a	mão	como	se	fosse	bagunçar	o	cabelo	do	menino,
depois	pareceu	notar	a	sujeira	e	os	piolhos	que	habitavam	aquela	jovem	cabeça
e	mudou	de	ideia.
–	Você	ficaria	surpreso,	Han.	Sei	de	quase	tudo	que	acontece	aqui	em
Corellia.	Sei	quem	está	perdido	e	quem	foi	encontrado,	quem	está	à	venda	e
quem	foi	vendido,	e	onde	todos	os	corpos	estão	enterrados.	Na	verdade,	eu
estava	de	olho	em	você.	Parece	ser	um	rapaz	esperto.	Você	é	esperto?
Han	se	endireitou	e	olhou	o	homem	nos	olhos.
–	Sim,	capitão	–	respondeu	ele,	forçando	a	voz	a	ficar	firme.	–	Eu	sou
esperto.	–	Ele	sabia	que	era,	também.	Qualquer	um	que	não	fosse	não	duraria
meses	nas	ruas,	como	ele	tinha	durado.
–	Ótimo,	grande	garoto!	Bem,	preciso	de	um	menino	esperto	para	trabalhar
para	mim.	Por	que	você	não	vem	comigo?	Eu	lhe	darei	uma	refeição	decente	e
um	lugar	quente	para	dormir.	–	Ele	sorriu	de	novo.	–	E	eu	aposto	que	você
gostaria	de	ver	minha	nave.	–	Apontou	para	o	céu	que	escurecia.
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça,	empolgado.	Comida?	Uma	cama?	E
especialmente...
–	Uma	nave?	Sim,	capitão!	Quero	ser	um	piloto	quando	crescer!
O	homem	riu	e	estendeu	a	mão.
–	Bem,	venha	comigo,	então!
Han	deixou	a	mãozona	segurar	a	dele,	e	então	os	dois	foram	embora	juntos,
em	direção	ao	espaçoporto...
Han	se	ajeitou	e	balançou	a	cabeça.	Eu	nunca	deveria	ter	ido	com	ele
naquele	dia,	pensou.	Se	eu	não	tivesse	ido	com	ele,	Dewlanna	ainda	estaria
viva...
Porém,	se	ele	não	tivesse	ido	com	Shrike,	provavelmente	teria	acordado
alguma	noite	no	beco	e	descoberto	que	vrelts	tinham	comido	suas	orelhas	e
nariz,	que	nem	tinha	acontecido	com	uma	das	outras	“fedelhas	de	rua”	que
Garris	Shrike	tinha	“resgatado”.
Han	sorriu,	sombrio.	O	capitão	Shrike	não	tinha	um	único	osso	altruísta	no
corpo.	Ele	recolhia	as	crianças	e	as	usava	para	faturar	créditos.	Em	quase	todos
os	planetas	que	a	Sorte	visitava,	Shrike	juntava	um	grupo	de	seus	“resgatados”	e
os	levava	às	ruas	numa	nave	auxiliar.	Lá	ele	os	deixava	sob	a	supervisão	de	um
droide	que	elemesmo	tinha	programado,	F8GN.	8GN	os	distribuía	por
“territórios”	e	administrava	os	lucros	enquanto	as	crianças	espreitavam	as	ruas,
mendigando	e	batendo	carteiras.
Usava	os	menorzinhos,	os	magrinhos,	os	deformados	para	mendigar.	A
menina	mastigada	por	vrelts,	Danalis,	sempre	faturou	alto.	Shrike	a	fez	trabalhar
duro	por	anos,	prometendo	sempre	que,	depois	que	ela	ganhasse	créditos
suficientes	para	ele,	o	capitão	a	levaria	para	consertar	seu	rosto,	para	que	ela
parecesse	humana	outra	vez.
Só	que	ele	nunca	levou.	Por	volta	dos	14	anos,	Danalis	acabou	percebendo
que	Shrike	jamais	cumpriria	suas	promessas.	Certa	“noite”,	ela	entrou	na
escotilha	estanque	da	Sorte	e	a	abriu	para	o	vácuo...	sem	vestir	um	traje	antes.
Han	havia	participado	da	equipe	de	limpeza.	Estremeceu	com	a	memória.
Pobre	Danalis.	Han	ainda	conseguia	vê-la	em	sua	mente,	entregando	os
recibos	de	mendicância	do	dia	a	8GN.	O	droide	era	alto	e	estreito,	feito	de	metal
cor	de	cobre	avermelhado.	Tinha	sido	consertado	tantas	vezes	que	havia	pedaços
diferentes	por	toda	parte,	como	se	vestisse	um	traje	muito	remendado.	Remendos
acobreados,	remendos	dourados,	remendos	de	aço...	E	um	grande	remendo
prateado	no	topo	da	cabeça.
Han	ainda	escutava	a	voz	do	droide	em	sua	mente.	8GN	tinha	algum
problema	nos	alto-falantes,	e	sua	“voz”	alternava	entre	o	grave	melífluo	e
mecânico	guinchante.	Porém,	independentemente	de	como	ele	soasse,	todas	as
crianças	prestavam	atenção	ao	que	8GN	dizia...
–	Agora,	queridas	criancinhas,	vocês	todos	receberam	seus	territórios?	–	O
droide	acobreado	girou	a	cabeça	enferrujada	sobre	o	pescoço	de	cano,
contemplando	as	oito	crianças	da	Sorte	de	Mercador	alinhadas	diante	de	si.
Todas	as	crianças,	incluindo	Han,	com	seus	5	anos,	afirmaram	que	sim,	elas
de	fato	tinham	recebido	seus	territórios.
–	Muito	bem	então,	queridas	criancinhas	–	continuou	o	droide	em	seus	tons
graves,	depois	esganiçados.	–	Vou	lhes	passar	suas	tarefas	do	dia.	Padra	–	o
droide	olhou	para	um	garotinho	só	um	ano	mais	velho	que	Han	–,	hoje	vamos
oferecer	a	você	sua	primeira	chance	de	nos	mostrar	como	você	pode	ser	útil
àqueles	pobres	cidadãos	sobrecarregados	com	cédulas	de	créditos,	joias	e	caros
comlinks.
Os	olhos	do	droide	cintilaram	fantasmagoricamente.	Eles	eram	de	cores
diferentes;	um	deles	tinha	queimado	há	muito	tempo,	e	Shrike	o	substituíra	com
uma	lente	recuperada	de	um	droide	descartado,	deixando	F8GN	com	um	“olho”
vermelho	e	outro	verde.
–	Você	está	disposto	a	ajudar	esses	pobres	cidadãos	desavisados,	Padra?	–
indagou	8GN,	inclinando	a	cabeça	metálica	inquisitivamente	para	o	lado,	com	a
voz	carregada	de	camaradagem	artificial.
–	Com	certeza!	–	exclamou	o	garotinho.	Ele	lançou	um	olhar	triunfante	a
Han	e	às	outras	crianças	mais	novas.	–	Chega	de	pedir	esmola	que	nem	um
bebê!	–	sussurrou	ele	empolgado.
Han,	que	mal	tinha	começado	a	aprender	as	habilidades	necessárias	para
bater	carteiras	com	rapidez	e	sem	ser	detectado,	sentiu	uma	pontada	de	inveja.
Bater	carteiras	era	fácil,	depois	que	você	aprendia	a	fazer	direito.	Era	muito
mais	fácil	cumprir	a	cota	de	8GN	para	um	dia	de	“trabalho”	batendo	carteiras
do	que	mendigando.	Pedir	esmolas	exigia	que	você	abordasse	pelo	menos	uns
três	alvos	até	receber	alguma	coisa.
Mas	bater	carteiras...	essa	sim	era	a	melhor	maneira	de	faturar	alto!	Se	você
escolhesse	o	alvo	certo,	poderia	ganhar	o	bastante	numa	mãozada	para
comparecer	com	sua	cota	a	8GN	antes	do	meio-dia,	e	então	ficaria	livre	para
brincar.	Han	se	perguntou	se	8GN	lhe	daria	algum	tempo	para	treinar	se	ele	se
apressasse	e	mendigasse	sua	cota	do	dia	antes	que	os	outros	terminassem.
Era	divertido	treinar	com	o	droide	magricelo	avermelhado	porque	8GN
ficava	muito	engraçado	vestindo	roupas!	O	droide	vestiria	trajes	de	rua	típicos
do	planeta	onde	eles	estivessem,	e	então	ou	ficaria	parado,	ou	passaria
caminhando	pelo	estudante.	Han	tinha	aprendido	a	aliviar	o	droide	do	crono
escondido,	cédulas	de	créditos,	e	até	alguns	tipos	de	joias	sem	que	8GN
detectasse	seus	dedos	no	processo.
Só	que	não	conseguia	fazê-lo	100%	das	vezes.	Han	franziu	o	cenho	um
pouco	enquanto	se	afastava.	8GN	exigia	perfeição	de	sua	pequena	gangue,
especialmente	dos	punguistas.	O	droide	não	deixaria	que	ele	começasse	a
roubar	até	que	tivesse	certeza	de	que	Han	conseguiria	fazê-lo	perfeitamente
todas	as	vezes.
Distraído,	ele	pegou	um	punhado	de	terra	e	esfregou	nas	mãos	e	depois	no
rosto,	que	já	estava	suado.	Que	planeta	era	este,	aliás?	Não	se	lembrava	de	ter
ouvido	o	nome.	O	povo	nativo	tinha	pele	esverdeada,	com	pequenas	orelhas
giratórias	e	enormes	olhos	roxo-escuro.	Tinham	ensinado	a	Han	apenas
algumas	palavras	da	língua	local,	mas	ele	aprendia	rápido	e	sabia	que,	quando
chegasse	a	hora	de	a	Sorte	de	Mercador	seguir	adiante,	seria	capaz	de	entendê-
la	bem	e	falaria	(pelo	menos	o	jargão	das	ruas)	passavelmente.
Onde	quer	que	fosse,	era	quente.	Quente	e	úmido.	Han	ergueu	o	olhar	para
o	céu	azul	esverdeado,	onde	um	sol	laranja	pálido	fulgurava.	A	perspectiva	de
passar	várias	horas	na	sua	rua	designada	choramingando,	esmolando	e
bajulando	transeuntes	não	era	muito	atraente.	Eu	odeio	mendigar,	pensou	Han
azedamente.	Quando	eu	ficar	um	pouco	mais	velho,	vou	fazer	eles	me	deixarem
roubar	em	vez	de	mendigar.	Eu	sei	que	serei	um	bom	ladrão,	e	não	sou	lá	um
grande	mendigo.
Ele	sabia	que	sua	aparência	estava	correta;	tinha	ficado	mais	alto	nos
últimos	dois	anos,	mas	ainda	estava	magro	o	suficiente	para	ser	chamado	de
subnutrido.	E	sabia	como	deixar	a	voz	servil,	os	modos	encolhidos	e
acovardados,	como	se	apenas	o	desespero	o	fizesse	pedir	esmolas.
Talvez	fossem	os	olhos	dele,	pensou	Han.	Talvez	o	ressentimento	e	a
vergonha	secretos	em	ser	obrigado	a	mendigar	aparecessem	neles,	e	os	alvos
potenciais	notassem	isso.	Ninguém	respeitava	um	mendigo,	e	Han,	acima	de
tudo,	nutria	um	desejo	não	declarado	de	ser	respeitado.
Não	só	respeitado,	ele	queria	ser	respeitável.	Não	se	lembrava	muito	da	vida
antes	de	Garris	Shrike	o	ter	encontrado	nas	ruas	de	Corellia,	mas	Han	de
alguma	forma	sabia	que,	no	passado,	as	coisas	tinham	sido	diferentes.
Muito	tempo	atrás,	tinham	lhe	ensinado	que	mendigar	era	motivo	de
vergonha.	E	que	roubar...	roubar	era	pior.	Han	mordeu	o	lábio	com	raiva.	Sabia
que	alguém,	talvez	os	pais	de	que	não	se	lembrava	mais,	tinha	lhe	ensinado
essas	coisas.	Um	dia,	há	muito	tempo,	tinham	lhe	ensinado	caminhos
diferentes...	valores	diferentes.
Só	que	agora,	o	que	ele	poderia	fazer?	A	bordo	da	Sorte	de	Mercador,	havia
uma	regra	cardeal.	Se	você	não	trabalhasse,	deveria	mendigar	ou	roubar.	Han
não	tinha	outras	habilidades	para	oferecer.	Era	pequeno	demais	para	ser	piloto,
fraco	demais	para	ser	estivador	de	contrabando.
Mas	isso	não	vai	durar	para	sempre!,	lembrou	a	si	mesmo.	Cresço	mais	a
cada	dia	que	passa!	Logo	serei	grande,	em	só	mais	5	anos	eu	terei	10,	e	então,
talvez,	eu	seja	grande	o	bastante	para	ser	piloto!
Han	tinha	descoberto	que,	quando	decidia	realizar	alguma	coisa,	ele
conseguia.	Tinha	certeza	de	que	virar	piloto	não	seria	exceção.
E	quando	eu	souber	pilotar,	esse	vai	ser	meu	caminho	para	sair	da	Sorte	de
Mercador,	pensou	ele,	com	a	mente	mergulhando	automaticamente	num	velho
sonho	que	ele	nunca	tinha	contado	para	ninguém.	Uma	vez	ele	tinha
confidenciado	a	história	para	uma	das	outras	crianças,	e	aquele	vrelt	maldito
espalhara	para	todo	mundo.	Shrike	e	os	outros	passaram	semanas	rindo	de	Han,
chamando-o	de	“capitão	Han	da	Marinha	Imperial”,	até	Han	ficar	com	vontade
de	se	esconder	num	canto	com	as	mãos	sobre	as	orelhas.	Ele	precisou	de	todo	o
autocontrole	para	conseguir	apenas	dar	de	ombros	e	fingir	que	não	ligava...
É,	e	quando	eu	for	o	melhor	piloto	de	todos	e	tiver	um	montão	de	créditos,
vou	me	candidatar	à	Academia	Imperial.	Vou	virar	um	oficial	da	Marinha.	Aí
vou	voltar	e	pegar	Shrike,	prender	ele,	e	ele	será	mandado	para	as	minas	de
especiaria	de	Kessel.	E	vai	morrer	lá...	Esse	pensamento	fez	Han	abrir	um
sorriso	predatório.
No	extremo	final	de	sua	fantasia,	Han	se	imaginava	bem-sucedido,
respeitado,	o	melhor	piloto	da	galáxia,	com	uma	naveprópria,	um	monte	de
amigos	leais	e	créditos	de	sobra.	E...	uma	família.	É,	uma	família	para	chamar
de	sua.	Uma	bela	esposa	que	o	adoraria,	que	participaria	de	aventuras	com	ele,
e	talvez	filhos.	Ele	seria	um	ótimo	pai.	Não	abandonaria	seus	filhos,	como	ele
mesmo	tinha	sido	abandonado.
Pelo	menos,	Han	achava	que	tinha	sido	abandonado,	porém	não	conseguia
se	lembrar	de	nada	daquilo.	Não	sabia	nem	seu	sobrenome,	então	não	tinha
como	rastrear	a	família.	Ou	talvez...	talvez	os	pais	dele	não	o	tivessem
abandonado...
Talvez	eles	tivessem	sido	assassinados,	ou	ele	mesmo	fora	sequestrado	e
separado	deles.	Han	decidiu	que	gostava	mais	desse	cenário.	Se	achasse	que
seus	pais	estavam	mortos,	não	ficaria	tão	bravo	com	eles,	pois	as	pessoas	não
tinham	culpa	de	morrer,	né?
Han	decidiu	que,	daquele	momento	em	diante,	pensaria	na	mãe	e	no	pai
como	estando	mortos.	Era	mais	fácil	assim...
Sabia	que	provavelmente	nunca	iria	descobrir	a	verdade.	A	única	pessoa	que
conhecia	alguma	coisa	sobre	o	passado	de	Han	era	Garris	Shrike.	O	capitão
vivia	dizendo	a	Han	que,	se	ele	fosse	bom,	se	trabalhasse	e	mendigasse	muito,	se
ganhasse	créditos	suficientes,	algum	dia	Shrike	lhe	contaria	os	segredos	que
explicavam	porque	o	menino	tinha	ido	parar	nas	ruas	de	Corellia.
Han	estreitou	os	lábios.	Claro,	capitão,	pensou	ele	.	Que	nem	você	ia
consertar	a	cara	de	Danalis...
O	menino	espiou	as	placas	de	sinalização.	Ele	não	conseguia	ler	aquelas	na
língua	nativa	do	planeta,	mas	havia	uma	tradução	em	língua	básica	na	parte	de
baixo.	É,	aquele	era	o	seu	território,	mesmo.
Han	respirou	fundo	e	se	preparou.	Uma	mulher	de	pele	verde	vestindo	um
robe	curto	vinha	na	direção	dele.
–	Moça...	–	choramingou	ele,	avançando	todo	encolhido	até	ela,	com	a
mãozinha	estendida	num	apelo.	–	Por	favor,	moça	bonita	elegante,	eu	imploro...
uma	ajudinha,	só	um	creditozinho,	tô	com	tanta	foooomeeee...
As	orelhinhas	giraram	na	direção	dele,	então	ela	afastou	o	olhar	e	passou
direto.
Num	sussurro,	Han	murmurou	um	termo	nada	elogioso	em	jargão	de
contrabandista,	e	então	se	virou	para	esperar	o	próximo	alvo...
Han	balançou	a	cabeça	e	se	forçou	a	sair	de	seu	devaneio.	Hora	de	ir
verificar	o	progresso	da	Sonho	Ylesiano.
O	jovem	piloto	ergueu-se	do	seu	cantinho	e	se	espremeu	pelas	passagens
estreitas	até	alcançar	a	ponte.	O	droide	astromec	ainda	estava	lá,	com	luzes
piscando	sem	parar	conforme	ele	rememorava	seus	pensamentos.	Era	uma
unidade	R2	relativamente	nova,	ainda	reluzente	em	prata	e	verde,	com	um	domo
transparente	em	cima	da	cabeça.	Dentro	do	domo,	Han	via	luzes	piscando	com	o
trabalho	do	droide,	que	estava	conectado	aos	controles	da	nave-robô	por	um
cabo.
O	droide	R2	deveria	estar	equipado	com	um	sensor	de	movimento,	porque
girou	a	“cabeça”	para	Han	quando	o	rapaz	entrou	audaciosamente	na	ponte	em
seu	traje	espacial.
As	luzes	piscaram	freneticamente	quando	ele	“falou”,	mas,	obviamente,	as
ondas	sonoras	não	viajavam	no	vácuo.	Han	ligou	a	unidade	de	comunicação	do
traje	e,	de	súbito,	seu	capacete	ficou	cheio	com	os	bleeps,	blurps	e	wheeps
angustiados.
–	Whee...	bleewheeeep...	wheep-whirr-wheep	!	–	anunciou	o	astromec	R2,
claramente	surpreso.	Han	suspirou.	O	comunicador	do	traje	transmitiria	tudo	que
ele	dissesse	ao	droide,	mas	como	ele	poderia	realmente	falar	com	aquele	raio	de
R2	sem	um	intérprete?	Como	quem	quer	que	tivesse	programado	o	droide	falava
com	ele?
Han	ativou	o	comunicador	do	traje.
–	Alô,	você!
–	Blurpp...	wheeep,	bleep-whirrr!	–	respondeu	a	unidade,	prestativa.
Han	fez	uma	careta	e	xingou	a	unidade	em	rodiano,	jargão	de	mercadores	e,
finalmente,	língua	básica.
–	O	que	eu	vou	fazer	agora?	–	rosnou.	–	Se	ao	menos	você	tivesse	um
módulo	de	fala	básica.
–	Mas	eu	tenho,	senhor	–	anunciou	o	droide	em	tom	trivial.	As	palavras
soaram	mecânicas	e	sem	entonação,	só	que	perfeitamente	compreensíveis.
Han	ficou	boquiaberto	diante	da	máquina	por	um	momento,	depois	sorriu.
–	Ei!	Isso	eu	nunca	tinha	visto!	Como	é	que	você	pode	falar?
–	Como	não	havia	espaço	a	bordo	desta	nave	para	uma	unidade	astromec
junto	de	uma	unidade	contraparte,	meus	mestres	me	programaram	com	um
módulo	de	transmissão	de	fala	básica,	para	que	eu	pudesse	me	comunicar	com
mais	facilidade	–	explicou	o	droide.
–	Legal!	–	exclamou	Han,	sentindo	uma	onda	de	alívio.	Ele	não	gostava
muito	de	droides,	mas	pelo	menos	teria	alguém	com	quem	falar,	e	talvez	fosse
necessário	que	os	dois	se	comunicassem.	Viagens	espaciais	eram	geralmente
rotineiras	e	seguras...	mas	havia	exceções.
–	Lamento	informar,	senhor	–	acrescentou	a	unidade	R2	–,	que	o	senhor	é
culpado	de	entrada	não	autorizada.	Não	deveria	estar	aqui.
–	Eu	sei	disso	–	respondeu	Han.	–	Peguei	uma	carona	nesta	nave.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não	compreende	o	termo	usado,	senhor.
Han	chamou	a	unidade	R2	de	um	nome	nada	elogioso.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não	compreende...
–	Cale	a	boca	!	–	berrou	Han.
A	unidade	R2	ficou	em	silêncio.
Han	respirou	bem	fundo.
–	Tudo	bem,	R2	–	disse	ele.	–	Eu	sou	um	clandestino.	Essa	palavra	consta
dos	seus	bancos	de	memória?
–	Consta	sim,	senhor.
–	Ótimo.	Eu	embarquei	clandestinamente	nesta	nave	porque	precisava	de
uma	carona	até	Ylesia.	Vou	ser	contratado	como	piloto	pelos	sacerdotes
Ylesianos,	entendeu?
–	Sim,	senhor.	Entretanto,	sou	obrigado	a	informar	ao	senhor	que,	na	minha
posição	de	droide	vigia	designado	a	garantir	a	segurança	desta	nave	e	de	seu
conteúdo,	serei	forçado	a	selar	todas	as	saídas	quando	alcançarmos	Ylesia,	e	em
seguida	informar	aos	meus	mestres	que	o	senhor	está	a	bordo,	assim
promovendo	a	sua	captura	pela	equipe	de	segurança.
–	Escuta	aqui,	camarada	–	retrucou	Han	generosamente	–,	quando	chegarmos
a	Ylesia,	você	pode	ir	em	frente	e	fazer	isso	mesmo.	Quando	os	sacerdotes
perceberem	que	eu	me	encaixo	em	todos	os	requisitos	deles,	não	darão	uma
bunda	de	vrelt	para	como	eu	cheguei	lá.
–	Com	sua	licença,	esta	unidade	não...
–	Cale	a	boca.
Han	deu	uma	olhada	no	indicador	do	tanque	de	ar,	então	falou:
–	Muito	bem,	R2,	gostaria	de	dar	uma	olhada	no	nosso	plano	de	voo,
velocidade	e	tempo	previsto	de	viagem	até	Ylesia.	Por	favor,	transmita	esses
dados.
–	Lamento	informar,	senhor,	que	não	estou	autorizado	a	fornecer	essas
informações.
O	humor	de	Han	estava	entrando	em	ebulição;	ele	mal	conseguiu	se	controlar
para	não	chutar	o	droide	recalcitrante	com	sua	pesada	botina	espacial.
–	Preciso	verificar	nosso	plano	de	voo,	velocidade	e	tempo	previsto	de
viagem	porque	tenho	que	computar	como	está	o	meu	ar,	R2	–	explicou	ele	com
paciência	exagerada.
–	Com	sua	licença,	senhor,	mas	esta	unidade...
–	CALE	A	BOCA!
Han	começava	a	suar	agora,	e	a	unidade	de	refrigeração	do	traje	começou	a
girar	um	pouco	mais	forte.	Ele	fez	um	esforço	para	manter	o	tom	de	voz	calmo.
–	Escute	com	cuidado,	R2	–	começou	ele.	–	Você	não	tem	algum	tipo	de
programa	no	seu	sistema	operacional	que	o	faça	preservar	as	vidas	de	seres
inteligentes	sempre	que	possível?
–	Sim,	senhor,	essa	programação	é	incluída	em	todos	os	droides	astromecs.
Para	que	um	droide	cause	dano	ou	deixe	de	evitar	dano	a	um	ser	senciente,	seu
módulo	de	sistema	operacional	tem	que	ser	alterado.
–	Ótimo	–	concluiu	Han.	Aquilo	se	encaixava	com	o	que	ele	sabia	sobre
programação	astromec.	–	Escute,	R2.	Se	você	não	me	mostrar	nosso	plano	de
voo,	velocidade	e	tempo	previsto	de	viagem,	você	poderá	ser	responsável	pela
minha	morte	por	falta	de	ar.	Você	me	entendeu	agora?
–	Por	favor,	elabore,	senhor.
Han	explicou	sua	situação	com	paciência	exagerada.	Depois	de	terminar,	o
droide	ficou	calado	por	um	momento,	evidentemente	ponderando.	Finalmente,
ele	zumbiu	uma	vez	e	depois	respondeu:
–	Vou	aquiescer	à	sua	requisição,	senhor,	e	vou	exibir	a	informação	solicitada
na	tela	de	interface	de	diagnóstico.
Han	soltou	um	longo	suspiro	de	alívio.	Já	que	a	nave	era	basicamente	um
imenso	drone	automatizado,	não	tinha	controles	visíveis	nos	painéis,	só	luzes
piscantes	sortidas.	Porém,	para	que	fosse	possível	realizar	manutenção	na	nave,
havia	uma	tela	disponível	no	painel	de	controle.	Han	contornou	cuidadosamente
a	unidade	R2	e	contemploua	tela.
Os	dados	rolaram	pela	tela	tão	rapidamente	que	nenhum	humano	poderia	ter
lido.	Han	se	virou	para	a	unidade	R2.
–	Mostre	os	dados	de	novo,	e	desta	vez	deixe-os	lá	até	que	eu	consiga	ler!
Entendeu?
–	Sim,	senhor.	–	A	voz	artificial	do	droide	soava	quase	humilde.
Han	estudou	os	números	e	diagramas	que	surgiram	na	tela	por	vários
minutos,	sentindo	sua	preocupação	se	tornar	medo	real.	Ele	não	tinha	nada	com
que	escrever	e	nenhuma	forma	de	acessar	o	navicomputador,	mas	tinha	um	mau
pressentimento	sobre	o	que	estava	vendo.	Mordeu	o	lábio	e	se	obrigou	a	se
concentrar	enquanto	recalculava	os	valores	repetidamente.
O	plano	de	voo	da	Sonho	Ylesiano	tinha	sido	traçado	numa	rota	tortuosa	até
o	planeta,	de	modo	a	evitar	as	piores	áreas	infestadas	de	piratas	do	território
Hutt.	E	o	pequeno	cargueiro	estava	configurado	para	voar	bem	mais	lentamente
do	que	seria	capaz,	mais	devagar	até	do	que	a	Sorte	de	Mercador	normalmente
viajava	pelo	hiperespaço.
Nada	bom.	Nada	bom	mesmo.	Se	a	velocidade	e	o	curso	deles	não	fossem
alterados,	Han	percebeu,	ele	ficaria	sem	ar	cinco	horas	antes	de	a	Sonho	pousar
em	solo	ylesiano.	A	nave	aterrissaria	com	um	cadáver	a	bordo...	o	dele.
Han	se	virou	de	volta	à	unidade	R2.
–	Escuta,	R2,	você	tem	que	me	ajudar.	Se	eu	não	alterar	nosso	curso	e
velocidade,	não	terei	ar	suficiente	para	chegar	no	fim.	Eu	vou	morrer,	e	vai	ser
culpa	sua.
As	luzes	da	unidade	R2	piscaram	enquanto	a	máquina	contemplava	tal
revelação.
–	Só	que	eu	não	sabia	que	o	senhor	estava	a	bordo	–	disse	finalmente	o
droide.	–	Não	posso	ser	responsabilizado	pela	sua	morte.
–	Ah,	não.	–	Han	balançou	a	cabeça	dentro	do	capacete.	–	Não	é	assim	que
funciona,	R2.	Se	você	souber	sobre	a	situação	e	não	fizer	nada,	então	você
estará	causando	a	morte	de	um	ser	senciente.	É	isso	que	você	quer?
–	Não	–	respondeu	o	droide.	Até	mesmo	seus	tons	artificiais	soaram
estressados,	e	suas	luzes	tremeluziram	rápida	e	aleatoriamente.
–	Então	é	necessário	–	continuou	Han,	inexorável	–	que	você	faça	tudo	que
for	possível	para	evitar	minha	morte.	Certo?
–	Eu...	eu...	–	O	droide	agora	tremia,	de	tão	agitado.	–	Senhor,	estou
impossibilitado	de	ajudá-lo.	Minha	programação	está	em	conflito	com	meu
hardware.
–	O	que	você	quer	dizer?	–	Han	estava	preocupado	agora.	Se	o	pequeno
droide	sofresse	uma	sobrecarga	e	travasse,	ele	jamais	seria	capaz	de	acessar	os
controles	manuais	de	“diagnóstico”	que	Han	sabia	que	tinham	que	estar	em
algum	lugar	daqueles	painéis.	Seriam	minúsculos,	do	tipo	que	os	técnicos
usariam	para	testar	o	piloto	automático	do	drone.
–	Minha	programação	está	me	impossibilitando	de	informá-lo...
Han	deu	um	longo	passo	até	o	pequeno	droide	e	se	ajoelhou	diante	dele.
–	Raios!	–	Ele	bateu	com	o	punho	no	domo	transparente	do	droide.	–	Eu	vou
morrer!	Me	conte!
O	droide	balançava	agitado,	e	Han	se	perguntou	se	ele	se	desfaria	em
pedaços	com	o	estresse.	Por	fim,	o	droide	falou:
–	Senhor,	instalaram	um	parafuso	de	contenção	em	mim!	Ele	me	impede	de
atender	ao	seu	pedido!
Um	parafuso	de	contenção!	Han	se	agarrou	a	esse	detalhe	com	diligência.
Vamos	ver,	onde	está	ele?
Depois	de	um	momento,	Han	o	avistou,	bem	baixo	na	carapaça	metálica	do
droide.	O	rapaz	se	abaixou,	segurou	e	puxou.
Nada.	O	parafuso	não	se	mexeu.
Han	segurou	mais	forte,	tentou	torcer.	Grunhiu	com	o	esforço,	suando	para
valer	agora,	e	imaginou	que	podia	sentir	todas	aquelas	moléculas	de	oxigênio
sendo	consumidas	numa	torrente	constante.	O	rapaz	ouvira	falar	que	hipóxia	não
era	um	jeito	particularmente	ruim	de	morrer;	comparado	à	descompressão
explosiva	ou	levar	um	tiro,	por	exemplo;	só	que	ele	não	tinha	nenhuma	intenção
de	descobrir	pessoalmente.
O	parafuso	não	se	mexeu.	Han	fez	ainda	mais	força,	dando	puxões,
praguejando	em	meia	dúzia	de	línguas	alienígenas,	mas	a	coisa	teimosa	não
cedeu.
Tenho	que	achar	alguma	coisa	que	eu	possa	usar	para	bater,	pensou	Han,
olhando	em	volta	desesperadamente	pela	cabine	de	controle.	Só	que	não	havia
nada,	nem	uma	hidrochave,	um	martelo,	nada!
De	repente,	ele	se	lembrou	da	pistola.	Tinha	deixado	no	chão,	no	seu
cantinho.
–	Espere	aqui	mesmo	–	instruiu	Han	à	unidade	R2	e	partiu	em	seguida,	se
espremendo	pelos	corredores	apertados.
Disparar	uma	arma	de	raios	dentro	de	uma	nave	espacial,	mesmo	que	fosse
uma	nave	despressurizada,	não	era	uma	boa	ideia,	mas	ele	estava	desesperado.
Han	voltou	com	a	arma	e	examinou	as	configurações.	Potência	mínima,
pensou	ele.	Feixe	mais	estreito.	Com	as	luvas	desajeitadas,	ele	teve	dificuldades
em	ajustar	as	configurações	de	potência	e	largura	de	feixe.
As	luzes	da	unidade	R2	estavam	piscando	freneticamente	desde	que	ele
voltara,	e	agora	o	droide	soltou	um	wheep	lastimoso.
–	Senhor?	Senhor,	poderia	perguntar-lhe	o	que	o	senhor	está	fazendo?
–	Estou	me	livrando	daquele	parafuso	de	contenção	–	retrucou	Han
severamente.	Estreitou	os	olhos,	mirou	e	pressionou	o	gatilho	com	delicadeza.
Um	clarão	de	energia	irrompeu,	e	o	pequeno	droide	soltou	um
WHEEEEPPPP!	tão	estridente	que	soou	como	um	grito.	O	parafuso	de
contenção	caiu	no	convés,	deixando	para	trás	uma	cicatriz	negra	de	queimadura
no	metal	brilhante	da	unidade	R2.
–	Te	peguei	–	comentou	Han,	satisfeito.	–	Agora,	R2,	tenha	a	gentileza	de	me
mostrar	as	interfaces	e	os	controles	manuais	da	sua	nave.
O	droide,	obediente,	expôs	uma	“perna”	de	mobilidade	com	uma	roda	e	foi
até	os	painéis	de	controle,	com	o	cabo	de	interface	serpenteando	em	seu	rastro.
Han	o	seguiu	e	se	agachou	diante	do	painel	de	instrumentos,	desajeitado	por
conta	do	traje.	Seguindo	as	instruções	do	droide,	arrancou	o	tampo	de	um
console	em	branco	e	estudou	a	seleção	de	controles	minúsculos.	Amaldiçoando	a
dificuldade	em	manipular	os	controles	com	luvas	de	traje	espacial,	Han	começou
a	usar	o	modo	de	interface	manual	para	desativar	o	hiperdrive.	Só	era	possível
alterar	rota	e	velocidade	no	espaço	real.
Uma	vez	de	volta	ao	espaço	real,	Han	computou	meticulosamente	uma	nova
rota,	usando	a	unidade	R2	para	executar	os	cálculos	mais	complexos	para	o	salto
que	os	lançaria	de	volta	ao	hiperespaço.
O	jovem	corelliano	levou	algum	tempo	para	inserir	a	nova	rota	e	velocidade,
mas,	finalmente,	Han	pressionou	de	novo	o	botão	ATIVAR	HIPERDRIVE.	Um
segundo	depois,	ele	sentiu	o	tranco	quando	o	drive	disparou.	Han	se	segurou
determinado	ao	painel	de	instrumentos	enquanto	a	nave	se	lançava	ao
hiperespaço	em	sua	nova	rota,	numa	velocidade	vastamente	incrementada.
Quando	a	nave	ao	seu	redor	se	estabilizou,	Han	inspirou	longa	e
profundamente	e	depois	soltou	o	ar	bem	devagar.	Desabou	no	convés	e	ficou
sentado	ali,	com	as	pernas	esticadas.	Ufa!
–	O	senhor	compreende	–	comentou	a	unidade	R2	–	que	o	senhor	agora	terá
que	pousar	esta	nave	manualmente.	Alterar	nossa	rota	e	velocidade	invalidou	os
protocolos	de	aterrissagem	existentes	programados	na	nave.
–	É,	eu	sei	–	respondeu	Han,	se	reclinando	cansado	no	console.	Deu	mais	um
gole	de	água	e	então	comeu	dois	tabletes.	–	Mas	não	tinha	outro	jeito.	Eu	só
espero	que	consiga	operar	os	controles	rápido	o	bastante	para	pousar.	–	Ele	olhou
em	volta	pela	sala	de	controle	praticamente	nua.	–	Eu	só	queria	que	esta	lata
tivesse	uma	tela.
–	Um	piloto	automático	não	pode	ver,	senhor,	então	dados	visuais	são	inúteis
para	ele	–	explicou	a	unidade	R2,	prestativa.
–	Não	pode	ser!	–	retrucou	Han,	com	a	voz	carregada	de	sarcasmo.	–	Achei
que	droides	pudessem	ver	que	nem	a	gente!
–	Não,	senhor,	não	podemos	–	disse	R2.	–	Reconhecemos	nossas	cercanias
por	sensores	visuais	que	traduzem	para	nosso...
–	Cale	a	boca	–	disse	Han,	cansado	demais	até	para	se	divertir	atormentando
o	droide.
Ele	se	reclinou	contra	o	console	e	fechou	os	olhos.	Tinha	feito	tudo	o	que
podia	para	salvar	sua	vida,	levando	a	nave	a	Ylesia	por	uma	rota	muito	mais
direta	a	uma	velocidade	mais	alta.
Han	adormeceu	e	sonhou	com	Dewlanna,	como	ela	tinha	sido	há	muito
tempo,	na	época	em	que	eles	se	conheceram...
Han	já	tinha	passado	metade	do	corpo	pela	janela	quando	ouviu	o	grito
atrás	de	si.
–	Fomos	roubados!
O	menino	agarrou	seu	pequeno	saco	de	pilhagem	e	tentou	se	espremer	pelaabertura	estreita,	chutando	e	se	remexendo.	Na	escuridão	do	lado	de	fora	estava
a	segurança.
Um	grito	feminino	de	consternação.
–	Minhas	joias!
Han	grunhiu	com	o	esforço,	percebendo	que	estava	entalado.	Sufocou	o
pânico.	Tinha	que	escapar!	Aquela	era	uma	casa	rica	e,	quando	eles	chamassem
as	autoridades,	elas	com	certeza	viriam	de	imediato.
Silenciosamente,	ele	amaldiçoou	a	nova	moda	da	arquitetura	corelliana	que
tinha	feito	este	lar	luxuoso	ser	construído	com	estreitas	janelas	do	chão	ao	teto.
Eram	anunciadas	como	sendo	capazes	de	frustrar	assaltantes.	Bem,	pelo	jeito
isso	era	verdade,	decidiu	ele.	Tinha	se	esgueirado	mais	cedo	por	uma	das	portas
dos	jardins,	depois	se	escondera	até	achar	que	já	era	seguro	supor	que	todos	os
moradores	estavam	dormindo.	Por	fim,	ele	saíra	do	esconderijo	para	escolher
dentre	os	tesouros	deles.	Tinha	certeza	de	que	conseguiria	bambolear	seu	corpo
magricelo	de	menino	de	9	anos	por	aquelas	janelas	e	escapar	ileso.
Han	grunhiu	com	o	esforço	mais	uma	vez,	chutando	freneticamente.	Talvez
ele	estivesse	errado	quanto	à	parte	de	fugir	pelas	janelas...
Uma	voz	atrás	dele.	A	mulher.
–	Lá	está	ele!	Peguem-no!
Han	virou	mais	um	pouco	de	lado,	remexeu-se	violentamente	e	de	súbito
estava	do	outro	lado	da	janela,	caindo.	Mas	ele	não	soltou	o	saco	enquanto	se
esborrachava	num	canteiro	de	hera-dorva	cuidadosamente	cultivado.	O	ar	lhe
escapou	dos	pulmões	e	por	um	momento	o	menino	ficou	deitado	ali,	ofegando
como	um	drel	fora	da	água.	A	perna	doía,	assim	como	a	cabeça.
–	Chamem	a	patrulha	de	segurança!	–	gritou	uma	voz	masculina	de	dentro
da	casa.	Han	sabia	que	tinha	meros	segundos	para	lograr	sua	fuga.	Forçou	a
perna	a	sustentar	seu	peso,	rolou	o	corpo	e	se	levantou	cambaleante.
Árvores	adiante	ao	luar...	árvores	grandes.	Ele	poderia	sumir	facilmente	em
meio	a	elas.
Han	meio	que	mancou,	meio	que	correu	ao	abrigo	do	bosque.	Resolveu	não
contar	a	8GN	o	que	tinha	acontecido.	O	droide	poderia	acusá-lo	de	estar
ficando	lerdo	agora	que	tinha	quase	10	anos.
Han	fez	uma	careta	enquanto	corria.	Ele	não	estava	ficando	lerdo,	só	não	se
sentia	bem	naquele	dia.	Estava	com	uma	dor	de	cabeça	indistinta	desde	que
acordara	e	se	sentira	tentado	a	pedir	um	dia	de	folga	por	não	estar	passando
bem.
Já	que	Han	quase	nunca	ficava	doente,	eles	provavelmente	teriam
acreditado	nele,	mas	o	garoto	não	gostava	de	demonstrar	fraqueza	diante	dos
outros	habitantes	da	Sorte	de	Mercador,	especialmente	do	capitão	Shrike.	Aquele
homem	nunca	perdia	uma	chance	de	atormentá-lo.
Estava	abrigado	pelas	árvores,	agora.	E	o	que	fazer	em	seguida?	Ouvia	o
som	de	passos	correndo,	então	não	teria	muito	tempo	para	decidir.	Seus
músculos	escolheram	por	ele.	De	súbito,	o	saco	estava	preso	pelos	dentes,	havia
casca	de	árvore	contra	suas	palmas,	e	as	solas	das	botas	surradas	pisavam	em
galhos.	Han	escalou,	ouviu,	depois	escalou	de	novo.
Foi	só	quando	ele	estava	bem	alto	na	árvore,	acima	do	alcance	de	uma
olhada	casual	para	o	alto,	que	reduziu	a	velocidade.	Han	se	sentou	num	galho,
com	as	costas	no	tronco,	ofegando,	a	cabeça	um	redemoinho.	Sentia-se	tonto,
enjoado	e,	por	um	momento,	temeu	vomitar	e	entregar	sua	posição.	Mas	o
garoto	mordeu	o	lábio	e	se	obrigou	a	ficar	imóvel.	Depois	de	algum	tempo,
sentiu-se	melhor.
A	julgar	pelos	padrões	de	estrelas,	faltava	apenas	algumas	horas	até	a
alvorada.	Han	percebeu	que	seria	difícil	chegar	a	tempo	à	nave	auxiliar	da
Sorte.	Será	que	Shrike	simplesmente	o	abandonaria,	ou	será	que	iria	esperar?
Bem	abaixo,	as	pessoas	vasculhavam	o	bosque.	Luzes	piscavam	pela	noite,	e
Han	se	encolheu	junto	ao	tronco.	Com	os	olhos	fechados,	se	agarrava
desesperadamente	à	árvore	apesar	da	tontura.	Se	ao	menos	sua	cabeça	não
latejasse	tanto...
Han	se	perguntou	se	eles	trariam	biossensores	e	tremeu.	A	pele	dele	parecia
quente	e	inchada,	apesar	de	a	noite	estar	fresca	e	uma	brisa	soprar.
A	escuridão	cedeu	à	aurora.	Han	se	perguntou	o	que	Dewlanna	estaria
fazendo,	se	ela	sentiria	saudades	dele	se	a	Sorte	deixasse	órbita	sem	o	menino.
Finalmente,	as	luzes	se	apagaram	e	os	passos	sumiram.	Han	esperou	mais
vinte	minutos	para	garantir	que	os	perseguidores	tivessem	mesmo	ido	embora,	e
depois,	ainda	segurando	o	saco	de	pilhagem	nos	dentes,	desceu	com	cuidado,
movendo-se	com	cautela	exagerada	devido	à	intensa	dor	de	cabeça.	Cada
tranco,	até	mesmo	dos	próprios	passos,	fazia	sua	cabeça	girar,	e	ele	teve	que
trincar	os	dentes	para	aguentar.
Han	andou...	e	andou.	Várias	vezes	percebeu	que	estivera	cochilando
enquanto	andava,	e	em	uns	dois	momentos	ele	caiu	e	se	sentiu	tentado	a
simplesmente	ficar	onde	estava.	Só	que	alguma	coisa	o	mantinha	em	movimento,
enquanto	o	alvorecer	iluminava	as	ruas	e	casas	ao	seu	redor.	Amanheceres
corellianos	eram	belos,	Han	notou	atordoado.	Nunca	tinha	percebido	como
eram	bonitas	as	cores	no	céu.	Se	ao	menos	a	luz	não	machucasse	tanto	seus
olhos...
A	alvorada	virou	dia.	O	frescor	deu	lugar	à	tepidez,	depois	ao	calor.	O
menino	suava,	e	sua	visão	estava	borrada.	Só	que,	enfim,	lá	estava.	O
espaçoporto.	A	essa	altura,	Han	se	movia	como	um	autômato,	um	pé	na	frente
do	outro,	desejando	apenas	poder	deitar	e	dormir	na	rua.
Diante	dele,	agora...	a	nave	auxiliar	da	Sorte!	Com	um	arfar	que	foi	quase
um	soluço,	o	menino	se	obrigou	a	avançar.	Estava	quase	na	rampa	quando	um
vulto	alto	emergiu.	Shrike.
–	Por	onde	raios	você	andou?	–	Não	havia	nada	de	amistoso	no	apertão	que
o	capitão	lhe	dava	no	braço.	Han	estendeu	o	saco	de	pilhagem,	e	Shrike	o
agarrou.	–	Bem,	pelo	menos	não	voltou	de	mãos	abanando	–	resmungou	o
capitão.
Shrike	avaliou	rapidamente	o	conteúdo	da	bolsa,	acenando	sua	satisfação
com	a	cabeça.	Só	depois	de	terminar	ele	notou	que	Han	balançava	de	pé.
–	Qual	é	o	seu	problema?
Han	já	não	conseguia	dizer	nada	coerente,	então	apenas	balançou	a	cabeça.
Sua	consciência	ia	e	vinha	como	uma	transmissão	embaralhada.
Shrike	o	chacoalhou	um	pouco,	depois	colocou	a	mão	na	testa	do	menino.
Ao	sentir	o	calor,	praguejou.
–	Febre...	Será	que	eu	te	deixo	aqui?	E	se	for	contagioso?	–	Franziu	o
cenho,	claramente	com	dificuldade	para	decidir.	Por	fim,	sentiu	de	novo	o	peso
da	bolsa	de	pilhagem.	–	Acho	que	você	conquistou	uma	folga	–	murmurou.	–
Vamos.
Han	tentou	subir	a	rampa,	mas	tropeçou	e	tudo	ficou	escuro.
O	menino	emergiu	em	consciência	parcial	muito	tempo	depois,	ao	som	de
vozes	discutindo,	uma	em	língua	wookiee,	outra	em	língua	básica.	Dewlanna	e
Shrike.
A	Wookiee	grunhia,	insistente.
–	Dá	para	notar	que	ele	está	bem	doente	–	concordou	Shrike	–,	mas	esses
meus	moleques	não	morrem	nem	com	um	tiro	de	pistola	na	potência	máxima.
Ele	vai	ficar	bem	com	mais	uns	dois	dias	de	descanso.	Não	precisa	de	um	droide
médico,	e	eu	não	vou	desembolsar	o	custo.
Dewlanna	rugiu,	e	Han,	traduzindo	automaticamente,	ficou	surpreso	com	a
insistência	da	Wookiee.	Sentiu	uma	pata-mão	peluda	colocando	alguma	coisa
fria	na	sua	testa.	Era	uma	sensação	maravilhosa	em	comparação	ao	calor.
–	Eu	já	disse	não,	Dewlanna,	e	ponto-final!	–	retrucou	Shrike	e,	com	isso,	o
capitão	saiu	batendo	pé,	xingando	a	Wookiee	em	todas	as	línguas	que	conhecia.
Han	abriu	os	olhos	e	viu	Dewlanna	curvada	sobre	ele.	A	Wookiee	rosnou
gentilmente	para	o	menino.	Han	fez	força	para	falar:
–	Muito	mal...	–	admitiu	ele	diante	da	pergunta.	–	Com	sede...
Dewlanna	o	ergueu	e	lhe	deu	água,	golinho	por	golinho.	Ela	contou	que	ele
tinha	uma	febre	alta,	tão	alta	que	ela	temia	por	sua	vida.
Depois	que	Han	terminou	de	beber,	ela	se	abaixou	e	pegou	o	menino	nos
braços.
–	Aonde...	aonde	nós...
Ela	mandou	que	ele	se	calasse,	que	ela	o	levaria	para	a	superfície,	ao	droide
médico.	A	cabeça	de	Han	girava,	mas	ele	fez	um	grande	esforço.
–	Não...	capitão	Shrike...	muito	bravo...
A	resposta	dela	foi	curta	e	grossa.	Han	nunca	tinha	ouvido	Dewlanna
praguejar	antes.
Ele	ficou	apagando	e	voltando	enquanto	a	Wookiee	o	carregava	pelo
corredor,	e	sua	próxima	memória	definida	foi	ser	atado	ao	assento	de	uma	nave
auxiliar.	Han	não	sabia	que	Dewlanna	era	capaz	de	pilotar,	mas	ela	manejou	os
controles	competentemente	com	suas	enormes	patas	peludas.	A	navese	soltou	da
atracação	e	acelerou	em	direção	a	Corellia.
A	febre	deixou	Han	tonto,	e	ele	ficou	imaginando	a	voz	de	Shrike	praguejar.
Tentou	dizer	alguma	coisa	sobre	isso	a	Dewlanna,	mas	descobriu	que	não	tinha
força	para	fazer	as	palavras	saírem...
Recuperou	a	consciência	de	novo	na	sala	de	espera	do	droide	médico.
Dewlanna	estava	sentada,	ainda	apertando	o	corpinho	mirrado	do	menino	em
seus	braços	protetores.
Uma	porta	se	abriu	de	repente,	e	o	droide	apareceu.	Era	um	modelo	grande
e	alongado,	equipado	com	unidades	antigrav	de	modo	a	flutuar	ao	redor	do
paciente	enquanto	Dewlanna	colocava	Han	na	mesa	de	exame.	Han	sentiu	uma
picada	na	pele	quando	o	droide	tirou	uma	amostra	de	sangue.
–	Entende	língua	básica,	madame?	–	inquiriu	o	droide.
Por	um	momento,	Han	estava	prestes	a	responder	que	era	óbvio	que	ele
entendia	língua	básica,	e	quem	era	madame?	Só	que	então	Dewlanna
resmungou.	Ah,	é	claro.	A	unidade	médica	estava	falando	com	ela.
–	Este	jovem	paciente	contraiu	febre	tanamen	corelliana	–	o	droide	informou
a	Dewlanna.	–	O	caso	dele	é	bem	grave.	Felizmente	você	não	demorou	mais
para	trazê-lo.	Precisarei	mantê-lo	aqui	em	observação	até	amanhã.	A	senhora
deseja	permanecer	com	ele?
Dewlanna	grunhiu	que	sim.
–	Muito	bem,	madame.	Usarei	terapia	de	imersão	em	bacta	para	restaurar	o
equilíbrio	metabólico.	Isso	também	baixará	sua	febre.
Han	deu	uma	olhada	no	tanque	de	bacta	que	o	aguardava	e	tentou
debilmente	correr	para	a	porta.	Dewlanna	e	a	unidade	médica	não	tiveram
dificuldade	em	contê-lo.	O	menino	sentiu	outra	picada	de	agulha	no	braço,	e
então	o	universo	inteiro	descambou	para	o	lado	e	mergulhou	nas	trevas...
Han	abriu	os	olhos,	percebendo	que	o	devaneio	tinha	se	tornado	sono,	e
depois,	sonhos.	Balançou	a	cabeça,	recordando	como	tinha	ficado	bambo	quando
Dewlanna	e	o	droide	o	ajudaram	a	sair	do	tanque	de	bacta.	Em	seguida,	ela
pagara	o	droide	com	uma	parte	de	suas	pequenas	economias	e	o	levara	de	volta	à
Sorte	de	Mercador	.
O	jovem	piloto	fez	uma	careta.	E	como	Shrike	tinha	ficado	furioso!	Han
temeu	que	ele	jogasse	os	dois	para	fora	da	escotilha	estanque.	Só	que	Dewlanna
não	demonstrou	nem	o	menor	sinal	de	medo	quando	se	interpôs	entre	Han	e	o
capitão,	insistindo	que	tinha	feito	a	coisa	certa	e	que,	de	outra	forma,	o	menino
teria	morrido.
No	fim,	Shrike	cedeu	porque	uma	das	joias	que	Han	tinha	roubado	naquela
noite	estava	cravejada	com	o	que	se	descobriu	ser	uma	pérola	de	dragão	krayt
genuína.	Quando	o	capitão	se	informou	do	seu	valor,	foi	apaziguado.
Mas	ele	não	reembolsou	Dewlanna	pelas	despesas	médicas	de	Han...
Han	suspirou	e	fechou	os	olhos.	A	perda	de	Dewlanna	era	como	uma	ferida
de	faca;	não	importava	o	quanto	tentasse,	não	conseguia	se	livrar	da	dor	e	das
memórias.	Baixaria	a	guarda	e	subitamente	se	pegaria	pensando	nela	como
estando	ainda	viva,	visualizaria	a	si	mesmo	falando	com	ela,	contando	a	ela	seus
problemas	com	a	unidade	R2	recalcitrante;	só	para	se	deter	em	seguida	com	uma
dor	quase	tão	calcinante	e	imediata	quanto	a	que	ele	sentira	no	dia	anterior,	ao
segurar	o	corpo	moribundo	da	Wookiee.
Han	tomou	mais	um	gole	de	água,	tentando	afrouxar	o	aperto	na	garganta.
Ele	devia	a	Dewlanna...	devia	tanto	a	ela.	A	vida	–	até	mesmo	a	própria
identidade,	ele	devia	a	ela.
Han	suspirou.	Até	completar	11	anos,	seu	único	nome	fora	“Han”.	O	garoto
frequentemente	se	perguntava	ou	se	preocupava	se	teria	um	sobrenome.	Certa
vez,	ele	mencionou	a	questão	a	Dewlanna,	além	de	sua	convicção	de	que,	se
existisse	alguém	que	sabia	quem	ele	realmente	era,	seria	Shrike.
Logo	depois	disso,	Dewlanna	aprendeu	a	jogar	sabacc...
Han	ouviu	o	arranhar	leve	na	porta	de	seu	minúsculo	cubículo	e	acordou
num	instante.	Prestando	atenção,	ele	ouviu	o	arranhar	de	novo,	depois	um	ganir
suave.
–	Dewlanna?	–	sussurrou	ele,	enquanto	saía	da	cama	e	enfiava	os	pés
descalços	no	macacão	de	tripulante.	–	É	você?
Ela	grunhiu	baixinho	do	outro	lado	da	porta.	Han	puxou	o	macacão,	fechou-
o	e	abriu	a	porta.
–	Como	assim,	você	tem	novidades	incríveis	para	mim?
Dewlanna	entrou,	o	corpo	enorme	e	felpudo	quicando	de	empolgação.	Han
acenou	para	que	ela	passasse	por	ele,	e	a	Wookiee	se	sentou	no	catre	estreito.
Como	não	havia	outro	lugar	para	sentar,	Han	tomou	o	lugar	ao	lado	dela.
Dewlanna	o	acautelou	para	que	mantivesse	a	voz	baixa.	O	menino	deu	uma
olhada	no	crono	e	viu	que	era	o	meio	da	madrugada.
–	O	que	você	está	fazendo	acordada	agora?	–	indagou	ele,	confuso.	–	Não
me	diga	que	ficou	jogando	sabacc	até	essa	hora?
Ela	assentiu	com	a	cabeça,	os	olhos	azuis	faiscando	de	empolgação	em	meio
aos	pelos	castanhos-claros	e	escuros.
–	Então	qual	é	a	novidade,	Dewlanna,	por	que	você	precisa	falar	comigo?
A	Wookiee	rumorejou	com	suavidade	para	ele.	Han	se	endireitou	no	catre,
subitamente	paralisado	de	espanto.
–	Você	descobriu	meu	sobrenome?	Como?
A	resposta	dela	foi	uma	só	palavra.
–	Shrike...	–	murmurou	Han.	–	Bem,	se	alguém	poderia	saber,	seria	ele.	O
quê...	como	foi	que	aconteceu?	Qual	é	meu	sobrenome?
O	nome	dele,	disse	Dewlanna,	era	“Solo”.	Shrike	tinha	ficado	muito,	muito
bêbado	e	começara	a	se	gabar	sobre	o	valor	da	pérola	de	dragão	krayt,	que
ótimo	negócio	ele	tinha	feito	ao	vendê-la.	Dewlanna	indagou	inocentemente	se
Han	tinha	vindo	de	uma	longa	linhagem	de	ladrões	bem-sucedidos.	Shrike,
segundo	o	relato,	explodiu	numa	gargalhada	diante	dessa	sugestão.
–	Talvez	algum	outro	ramo	da	família,	mas	este	Solo?	–	matraqueou	ele,
meio	que	rindo,	e	fez	uma	pausa	para	dar	mais	um	gole	na	cerveja
alderaaniana.	–	Temo	que	não,	Dewlanna.	Os	pais	desse	moleque	eram...
E,	neste	ponto	o	capitão	de	repente	se	deteve	no	meio	de	uma	palavra,
cravando	um	olhar	desconfiado	na	Wookiee.
–	E	por	que	você	se	importa,	aliás?	–	inquiriu	ele,	sem	sinal	do	seu	bom
humor	momentâneo.
Dewlanna	respondeu	simplesmente	cobrindo	e	aumentando	a	aposta	de
Shrike.
–	Solo	–	sussurrou	Han,	testando	o	novo	nome.	–	Han	Solo.	Meu	nome
completo	é	Han	Solo.
Ele	olhou	para	Dewlanna,	e	um	grande	sorriso	se	abriu	no	seu	rosto.
–	Eu	gostei!	Ficou	ótimo!
Dewlanna	respondeu	gentilmente	e	passou	o	longo	braço	em	volta	do
menino,	dando-lhe	um	abraço...
Han	sorriu	com	a	recordação,	mas	era	um	sorriso	triste.	Dewlanna	tinha
agido	com	boas	intenções,	mas	a	descoberta	dela	de	que	o	sobrenome	do	rapaz
era	“Solo”	tinha	levado	a	um	dos	piores	episódios	de	sua	jovem	vida.	Na	vez
seguinte	em	que	a	Sorte	orbitou	Corellia,	o	menino	extraviou	furtivamente	parte
do	tempo	que	seria	dedicado	aos	seus	deveres	de	roubos	e	furtos	para	visitar	um
dos	arquivos	públicos	e	pesquisar.
Shrike	não	gostava	que	nenhum	dos	seus	“protegidos”	investissem	um
minuto	sequer	na	melhoria	da	própria	educação.	Cada	criança	a	bordo	da	Sorte
de	Mercador	recebia	educação	de	nível	fundamental	pelo	computador	da	nave,
de	modo	que	fosse	capaz	de	ler	e	contar	créditos.	Shrike	desencorajava	as
crianças	a	buscarem	qualquer	conhecimento	além	disso.
Em	parte	porque	automaticamente	queria	desobedecer	Shrike,	e	em	parte
pelo	encorajamento	de	Dewlanna,	Han	manteve	seus	estudos	em	segredo.	Ele
tinha	uma	tendência	de	ignorar	as	matérias	das	quais	não	gostasse,	tais	como
história,	e	de	investir	todo	seu	tempo	em	assuntos	que	o	entretinham,	como
ficção	de	aventuras	e	equações	matemáticas.	Han	sabia	como	a	matemática	era
importante	para	qualquer	aspirante	a	piloto,	então	deu	duro	para	dominar	o
máximo	que	podia	da	disciplina.
Uma	vez	que	Dewlanna	descobriu	o	que	ele	estava	fazendo,	passou	a
monitorar	seu	currículo,	fazendo	o	menino	estudar	matérias	que	ele	teria	pulado,
o	que	deixaria	lacunas	em	seu	conhecimento.	Relutante,	Han	abordou	as	ciências
físicas	e	história.
O	garoto	ficou	surpreso	ao	descobrir	que	algumas	das	batalhas	reais
históricas	eram	tão	emocionantes	quanto	qualquer	coisa	que	tivesse	lido	nas
sagas	de	aventura.
Naquele	dia,	nos	arquivos	públicos	de	Corellia,	Han	aplicou	algumas	de	suas
recém-adquiridas	habilidades	de	pesquisa	para	aprender	a	respeito	do	novo
sobrenome.	Os	resultados	foram	surpreendentes.	Quando	Han	consultou	o
sobrenome	“Solo”	nos	registros	históricos,	ficou	espantadoao	descobrir	que	o
nome	era	muito	conhecido	em	Corellia.	Um	tal	de	“Berethron	e	Solo”	tinha
introduzido	a	democracia	ao	planeta	natal	de	Han	trezentos	anos	atrás.	Na
verdade,	ele	fora	um	governante,	um	rei!
Só	que	havia	outro	Solo,	mais	recente,	que	era	igualmente	famoso;	ou,	mais
precisamente,	infame.	Mais	ou	menos	cinquenta	anos	antes,	um	descendente	de
Berethron,	Korol	Solo,	teve	um	filho	chamado	Dalla	Solo.	O	rapaz	assumiu	o
pseudônimo	Dalla	Suul,	num	esforço	para	ocultar	sua	identidade,	e	ficou	muito
conhecido	como	assassino,	sequestrador	e	pirata.	“Dalla	das	Trevas”	se	tornara
um	personagem	usado	para	fazer	criancinhas	tremerem	nas	camas	em	colônias
distantes	ou	em	transportes	sem	destino.
O	menino	Han	se	perguntou	se	teria	parentesco	com	esses	homens.	Será	que
sangue	real	corria	em	suas	veias?	Ou	seria	o	sangue	de	um	pirata	assassino?	Ele
provavelmente	jamais	descobriria	a	não	ser	que,	de	alguma	forma,	pudesse
convencer	Shrike	a	divulgar	o	que	já	sabia.	Leu	sobre	as	aventuras	de	Dalla	Suul
como	ladrão	e	sorriu	sombriamente,	perguntando-se	se	estaria	no	fundo	seguindo
algum	tipo	de	tradição	de	família.
Em	seguida	ele	começou	a	conferir	os	artigos	e	as	colunas	sociais	corellianos
mais	recentes	no	computador.	Uma	busca	pelo	sobrenome	“Solo”	resultou	num
nome.	Tiion	Sal-Solo.	Era	uma	viúva	rica,	mas	reclusa,	que	tinha	um	filho.
Thrackan	Sal-Solo	era	6	ou	7	anos	mais	velho	que	Han,	no	fim	da	adolescência.
E	seu	eu	fosse	parente	dessa	Tiion	Solo,	ou	ela	conhecesse	meus	pais?,
perguntou-se	Han.	Essa	poderia	ser	a	minha	melhor	chance	de	escapar,	até
agora.
Ao	voltar	à	Sorte	de	Mercador,	Han	conversou	com	Dewlanna	sobre	essa
questão.	A	Wookiee	concordou	com	ele	que,	apesar	do	perigo,	Han	tinha	que
correr	o	risco	de	entrar	em	contato	com	a	família	Solo.
–	É	claro	que	–	comentou	Han,	apoiando	o	queixo	no	punho	e	fitando	a	mesa
desanimado	–,	depois	que	eu	fizer	isso,	não	poderei	mais	ver	você	de	novo,
Dewlanna.
A	Wookiee	grunhiu	baixinho,	dizendo	a	Han	que	é	claro	que	ele	a	veria	de
novo.	Só	não	seria	a	bordo	da	Sorte	de	Mercador	.
–	Da	última	vez	que	eu	fugi,	Shrike	me	deu	uma	surra	tão	forte	que	eu	fiquei
sem	poder	sentar	por	dias	–	lembrou	Han.	–	Se	Larrad	não	tivesse	lembrado	ele
que	tinha	outra	coisa	para	fazer,	acho	mesmo	que	ele	teria	me	matado.
Dewlanna	ribombou.
–	Tem	razão	–	concordou	Han.	–	Se	essa	família	Solo	me	receber,	eles	serão
ricos	e	poderosos	o	bastante	para	me	proteger	de	Shrike.
Han	conhecia	até	algumas	regras	e	costumes	exigidos	de	quem	vivia	na	alta
sociedade	corelliana.	De	tantos	em	tantos	anos,	Shrike	executava	um	grande
golpe	contra	os	ricos	de	Corellia.	Han	tinha	participado	como	figurante	em
várias	dessas	operações.
Shrike	alugaria	uma	propriedade	luxuosa	em	Corellia	e	então	armaria	uma
“unidade	familiar”	para	servir	de	pano	de	fundo	respeitável	ao	golpe.	Han	e
outras	crianças	designadas	como	parte	dessa	“família”	seriam	mandados	para
viver	nessa	mansão.	Ele	frequentaria	uma	escola	de	crianças	ricas,	e	uma	das
suas	tarefas	durante	o	golpe	era	fazer	amizade	com	os	filhos	dos	endinheirados	e
trazê-los	para	brincar	em	casa.	Várias	vezes,	isso	tinha	resultado	em	contatos
valiosos	cujos	pais	foram	convencidos	a	“investir”	no	esquema	corrente	de
Garris	Shrike.
Apenas	algumas	semanas	antes,	Han	fora	estudante	numa	dessas	escolas,
uma	tão	conhecida	que	tinha	merecido	a	visita	do	famoso	senador	Garm	Bel
Iblis.	Han	levantara	a	mão	e	fizera	ao	senador	duas	perguntas	inteligentes	e
perceptivas	o	bastante	para	que	o	visitante	realmente	o	notasse.	Depois	do	fim	da
aula,	Bel	Iblis	deteve	Han,	apertou-lhe	a	mão	e	perguntou	seu	nome.	Han	deu
uma	olhada	rápida	em	volta,	viu	que	não	havia	ninguém	por	perto,	e
orgulhosamente	disse	ao	senador	seu	verdadeiro	nome.	Foi	muito	legal	poder
fazê-lo...
Shrike	recrutava	Han	frequentemente	para	as	operações	de	estelionato,
parcialmente	por	conta	do	charme	e	sorriso	vencedor	do	menino,	e	em	parte
porque	seus	estudos	clandestinos	permitiam	que	Han	se	encaixasse	no	ano
correto	melhor	que	a	maioria	das	outras	crianças.	Han	também	tinha	conquistado
uma	reputação	nascente	de	piloto	promissor	de	swoop	e	speeder,	esportes	de
gente	rica.	Conhecera	vários	garotos	de	famílias	abastadas	participando	de
corridas	de	swoop,	e	várias	vezes	Shrike	tinha	convencido	os	pais	deles	a
participar	de	qualquer	que	fosse	o	esquema	que	ele	aplicava	na	época.
Em	um	ano,	Han	poderia	se	inscrever	na	divisão	Júnior	do	Campeonato
Corelliano.	Isso	significaria	um	grande	prêmio	em	dinheiro...	se	ele	vencesse.
Han	gostava	e	desgostava	dessas	missões.	Gostava	porque	elas	significavam
que	ele	viveria	no	bem-bom	por	semanas,	às	vezes	meses.	Corridas	de	swoop	e
speeder	eram	um	sopro	de	vida	para	o	menino,	e	assim	ele	podia	treinar	todos	os
dias.
Desgostava	dessas	operações	golpistas	porque	sempre	acabava	criando	laços
com	alguns	dos	meninos	com	quem	era	obrigado	a	fazer	amizade,	e	o	tempo
todo	sabia	que	eles	e	suas	famílias	seriam	irrevogavelmente	prejudicados	pelo
esquema	de	Shrike.
Geralmente,	Han	conseguia	abafar	qualquer	sentimento	de	culpa.	Estava
ficando	muito	bom	em	se	colocar	em	primeiro	lugar.	Outras	pessoas,	exceto	por
Dewlanna,	ficavam	em	segundo	lugar	ou	em	lugar	nenhum.	Era
autopreservação,	e	Han	era	muito,	muito	bom	nisso.
Ainda	sou,	pensou	Han	enquanto	se	levantava	do	convés	da	Sonho	Ylesiano	e
ia	verificar	rota	e	velocidade.	O	jovem	corelliano	sorriu	e	assentiu	com	a	cabeça
ao	ler	os	instrumentos.	Bem	na	mosca,	pensou.	Vamos	conseguir.
Conferiu	o	tanque	de	ar	e	viu	que	tinha	passado	da	metade.
Por	um	momento	Han	se	sentiu	tentado	a	explorar	mais	da	Sonho	,	mas
resistiu	ao	impulso.	Ficar	perambulando	simplesmente	gastaria	o	oxigênio	mais
rápido,	e	ele	já	estava	no	limite	da	segurança.
Então	se	sentou	novamente,	e	as	memórias	voltaram.	Tia	Tiion.	Pobre
mulher.	E	o	querido	primo	Thrackan.	Conforme	se	lembrava,	Han	repuxou	os
lábios	para	trás	num	esgar	feral	que	era	mais	parecido	com	o	rosnado	de	um
canoide...
Han	pulou	da	alta	muralha	de	pedra	e	aterrissou	de	leve	na	ponta	dos	pés.
Em	meio	às	árvores,	viu	uma	grande	estrutura	construída	na	mesma	rocha
nativa	que	o	muro,	então	seguiu	na	direção	dela,	ficando	à	sombra	das	árvores
sempre	que	possível.
Quando	alcançou	a	mansão,	ele	parou,	contemplando-a	impressionado.
Tinha	visto	muitas	moradas	abastadas,	até	vivido	em	várias	delas,	mas	nunca
vira	nada	como	o	palacete	Sal-Solo.
Torreões	decorados	com	hera,	quatro	deles,	se	erguiam	em	cada	quina	da
grande	e	quadrada	construção	de	pedra.	Um	antiquíssimo	droide	jardineiro	se
movia	artriticamente,	podando	os	arbustos	que	cresciam	à	margem	de	um	largo
fosso	cheio	de	água.	Han	contornou	até	a	lateral	e	percebeu,	para	sua	surpresa,
que	o	fosso	cercava	completamente	a	casa.	Não	havia	como	entrar	no	prédio,
exceto	cruzando	uma	estreita	ponte	de	madeira	que	cruzava	a	água	e	levava	à
porta	da	frente.
Han	tinha	interesse	em	táticas	militares	desde	que	era	pequeno	e	tinha	lido
muito	sobre	o	assunto.	Estudou	a	mansão	Sal-Solo,	percebendo	que	tinha	sido
construída	sob	padrões	quase	militares	de	inexpugnabilidade.	Bem,	isso	se
encaixava	com	as	coisas	que	ele	ouvira	falar	sobre	a	família	Solo.	Eles	não
socializavam,	não	compareciam	a	eventos	de	caridade	nem	iam	a	peças	ou
concertos.
Em	todas	as	vezes	que	Han	posara	como	menino	rico,	nunca	tinha	ouvido
ninguém	mencionar	a	família	Solo;	e,	do	jeito	que	aqueles	ricaços	viviam
falando	uns	dos	outros,	ele	teria	escutado	alguma	coisa	se	os	Solo	se
misturassem	aos	pares.
Han	avançou	cautelosamente	em	direção	à	casa.	Trocara	o	macacão
cinzento	de	tripulante	por	uma	calça	preta	e	uma	túnica	cinza-claro	que	tinha
pegado	“emprestadas”.	Não	queria	que	ninguém	descobrisse	de	onde	ele	viera.
Quando	estava	quase	no	começo	da	ponte,	parou	detrás	de	um	dos	grandes
arbustos	ornamentais	e	espiou	ressabiado	a	casa,	do	outro	lado	da	água.	O	que
ele	deveria	fazer	agora?	Simplesmente	ir	até	a	porta	e	tocar	a	campainha?
Mordeu	o	lábio,	indeciso.	E	se	eles	chamassem	as	autoridades,	denunciando-o
como	um	fugitivo?	Shrike	poria	as	mãosnele	tão	rápido	que...
–	Te	peguei!
Han	deu	um	pulo	quando	a	mão	segurou	seu	braço,	puxando-o	para	trás.
O	sujeito	que	o	pegara	era	uma	cabeça	mais	alto	que	ele.	Tinha	cabelo	mais
escuro	e	era	mais	forte	também.	Só	que	foi	o	rosto	que	fez	Han	o	encarar	em
espanto	mudo.
Han	ficou	boquiaberto	e	calado	diante	do	menino	mais	velho.	Se	em	algum
momento	ele	teve	alguma	dúvida	da	sua	conexão	à	família	Solo,	as	dúvidas
sofreram	morte	súbita.	O	rosto	do	rapaz	que	segurava	seu	braço	parecia	uma
versão	mais	velha	do	rosto	que	Han	via	no	espelho	todas	as	manhãs.
Não	que	eles	fossem	gêmeos	ou	coisa	do	tipo,	mas	havia	semelhança	demais
nos	traços	para	ser	coincidência.	O	mesmo	formato	dos	olhos	castanhos,	o
mesmo	tipo	de	lábios,	o	mesmo	jeito	das	sobrancelhas...	o	mesmo	nariz	e
queixo...
O	outro	garoto	encarava	Han	de	volta,	obviamente	tendo	notado	a	mesma
coisa.
–	Ei!	–	Ele	chacoalhou	o	braço	de	Han	com	força.	–	Quem	é	você?
–	Meu	nome	é	Han	Solo	–	respondeu	Han	calmamente.	–	Você	deve	ser
Thrackan	Sal-Solo.
–	E	se	eu	for?	–	retrucou	o	outro,	taciturno.	Han	estava	começando	a	se
sentir	apreensivo	com	a	forma	como	o	rapaz	o	espiava.	Ele	tinha	visto	vrelts
com	mais	simpatia	no	olhar.	–	Han	Solo,	é?	Nunca	ouvi	falar	de	você.	De	onde
você	veio?	Quem	são	seus	pais?
–	Eu	esperava	que	vocês	pudessem	me	dizer	isso	–	explicou	Han,	com
tranquilidade.	–	Eu	fugi	de	onde	estava	hospedado,	porque	queria	encontrar
minha	família.	Não	sei	nada	sobre	mim	mesmo	exceto	meu	nome.
–	Hum...	–	Thrackan	ainda	encarava.	–	Bem,	acho	que	você	deve	ser	da
família...
–	Está	na	cara	–	concordou	Han,	só	percebendo	o	trocadilho	depois	de	ter
falado.	Só	que	Thrackan	não	pareceu	notar.	Ele	estava	hipnotizado	por	Han	e,
depois	de	soltar	o	braço	dele,	contornou	o	invasor,	estudando-o	de	todos	os
ângulos.
–	De	onde	você	fugiu?	–	indagou	Thrackan.	–	Tem	alguém	procurando	você?
–	Não	–	assegurou	Han	secamente.	Ele	não	confiaria	a	Thrackan	nenhuma
informação	que	pudesse	assombrá-lo	mais	tarde.	–	Escuta,	nós	somos	parecidos,
então	devemos	ser	parentes,	né?	Será	que	nós	somos...	nós	somos	irmãos?	–
Engraçado,	mas,	depois	de	tantos	sonhos	sobre	encontrar	uma	família	que	o
resgataria	da	Sorte	de	Mercador,	Han	se	pegou	desejando	que	não	fosse	o	caso.
–	Sem	chance	–	retrucou	Thrackan,	torcendo	o	lábio.	–	Meu	pai	morreu	um
ano	depois	de	eu	nascer,	e	minha	mãe	se	trancou	aqui	desde	então.	Ela	é	meio...
eremita.
Isso	se	encaixava	com	o	que	Han	tinha	lido	sobre	a	família	Sal-Solo.	Tiion
Solo	se	casara	com	um	homem	chamado	Randil	Sal,	uns	vinte	anos	antes.	Os
registros	públicos	continham	seu	obituário.
–	Talvez	ela	saiba	alguma	coisa	sobre	mim	–	sugeriu	Han.	–	Eu	posso	falar
com	ela?	–	Ele	respirou	fundo.	–	Por	favor?
Thrackan	pareceu	considerar.
–	Tudo	bem	–	decidiu	ele	finalmente.	–	Mas,	se	ela	ficar...	chateada,	você	vai
ter	que	ir	embora,	tudo	bem?	Minha	mãe	não	gosta	de	gente.	Ela	é	que	nem	o
avô	dela,	não	aceita	serviçais	humanos,	só	droides.	Ela	diz	que	os	humanos
traem	e	matam	uns	aos	outros,	coisa	que	os	droides	nunca	fazem.
Han	seguiu	Thrackan	mansão	adentro,	passando	por	enormes	salas	cheias
de	mobília	coberta	e	pinturas	protegidas	contra	a	poeira.	Thrackan	explicou	que
a	família	usava	apenas	alguns	poucos	aposentos,	para	economizar	o	tempo	e	o
esforço	dos	droides	de	limpeza.
Finalmente,	chegaram	à	sala	de	estar	da	mãe	de	Thrackan.	Tiion	Solo	era
uma	mulher	pálida,	de	cabelos	escuros,	obesa	e	de	aparência	doentia.	Não	era
nada	atraente.	Porém,	depois	de	contemplá-la,	estudar	seu	rosto,	ver	os	ossos
sob	a	flacidez	inchada,	Han	concluiu	que,	um	dia,	há	muito	tempo,	ela	poderia
ter	sido	bonita.	Ao	ver	seus	traços,	uma	lembrança	se	agitou	dentro	dele,	bem	de
leve...
Um	dia,	ele	tinha	visto	traços	parecidos	com	os	dela,	pensou	Han.	Havia
muito	tempo,	longe	dali.	A	“memória”,	se	é	que	era	uma	memória,	era	tão	fugaz
e	elusiva	quanto	um	penacho	de	fumaça.
–	Mãe	–	disse	Thrackan.	–	Este	é	Han	Solo.	Ele	é	nosso	parente,	não	é?
O	olhar	de	Tiion	Sal-Solo	tocou	o	rosto	de	Han,	e	seus	olhos	se	arregalaram.
Ela	encarou	o	menino	horrorizada.	Sua	boca	se	mexeu,	e	um	som	agudo	e
estridente	emergiu.
–	Não...	não!	–	gritou	ela.	Lágrimas	se	acumularam	nos	olhos	castanhos,
escorreram	pelas	bochechas	flácidas.	–	Não,	não	é	possível!	Ele	se	foi!	Os	dois
se	foram!
A	mulher	enterrou	o	rosto	nas	mãos	e	começou	a	chorar	histericamente.
Thrackan	agarrou	Han	pelo	braço	e	o	arrastou	para	fora	da	casa.
–	Agora	veja	só	o	que	você	fez,	seu	idiotinha	–	exclamou	o	rapaz,	olhando
preocupado	para	a	janela	da	mãe.	–	Ela	vai	ficar	nesse	estado	por	dias,	é
sempre	assim	quando	ela	se	aborrece.
Han	deu	de	ombros.
–	Eu	não	fiz	nada.	Ela	só	me	olhou,	foi	tudo.	Qual	é	o	problema	dela?
Com	um	xingamento	abafado,	Thrackan	acertou	um	tapa	com	as	costas	da
mão	no	rosto	de	Han	tão	forte	que	abriu	o	lábio	do	menino.
–	Cale	a	boca!	–	rosnou.	–	Você	não	tem	o	direito	de	falar	dela!	Ela	não	tem
nenhum	problema,	ouviu?	Nenhum!
O	golpe	doeu,	mas	Han	levava	surras	constantes	aplicadas	por	especialistas,
e	uma	coisa	que	ele	sabia	era	como	levar	um	soco	e	continuar	de	pé.	Por	um
momento,	sentiu-se	tentado	a	se	atirar	contra	a	garganta	do	menino	mais	velho,
mas	se	obrigou	a	relaxar.	Havia	dor	genuína	nos	olhos	de	Thrackan	quando	ele
defendeu	a	mãe.	Han	imaginou	que	teria	feito	a	mesma	coisa	se	um	dia	tivesse
tido	uma	mãe.	Preciso	ficar	aqui,	ele	relembrou	a	si	mesmo.	Qualquer	coisa	é
melhor	que	Shrike...
–	Desculpa	–	ele	conseguiu	dizer.
Thrackan	pareceu	um	pouco	envergonhado.
–	É	só	você	prestar	atenção	em	como	fala	sobre	minha	mãe,	está	bem?
As	seis	semanas	seguintes	foram	algumas	das	mais	estranhas	na	vida	de
Han.	Thrackan	permitiu	que	Han	ficasse	com	ele	nos	seus	aposentos	(Tiion
quase	nunca	ia	à	parte	de	Thrackan	da	casa),	e	os	dois	passavam	o	tempo
conversando	e	se	conhecendo.
Thrackan	era	um	anfitrião	exigente,	Han	logo	descobriu.	Este	tinha	que
concordar	com	ele	incondicionalmente,	e	correr	para	cumprir	suas	ordens,	ou
ele	perdia	as	estribeiras	e	batia	no	menino	mais	novo.	Thrackan	fez	Han	pilotar
para	ele,	transportando	o	rapaz	pelo	campo	num	landspeeder	antiquíssimo,	e	os
dois	chegaram	até	a	partir	em	algumas	expedições	a	mansões	que	Thrackan
sabia	que	estavam	vazias,	cujos	habitantes	saíram	de	férias.	Thrackan	exigia
que	Han	arrombasse	as	fechaduras	e	desativasse	os	sistemas	de	segurança,	e
então	o	rapaz	roubava	qualquer	coisa	que	lhe	desse	na	telha.
Han	começou	a	se	perguntar	se	era	grande	vantagem	ter	fugido	da	Sorte	de
Mercador.	Duas	coisas	o	mantinham	na	mansão	Solo:	o	medo	de	que,	se
desagradasse	Thrackan,	o	rapaz	mais	velho	o	denunciasse	às	autoridades,	assim
permitindo	que	Shrike	o	encontrasse;	e	a	esperança	de	que	Thrackan	cedesse	e
contasse	a	Han	tudo	o	que	sabia	sobre	sua	identidade	real.	Ele	ficava
insinuando	que	sabia	qual	era	o	verdadeiro	grau	de	parentesco	dos	dois.
–	Tudo	a	seu	tempo	–	Thrackan	dizia	quando	Han	tentava	espremer
informação	dele.	–	Tudo	a	seu	tempo,	Han.	Vamos	dar	uma	volta.	Quero	que
você	me	ensine	a	pilotar	o	speeder.
Han	tentou,	mas	Thrackan	não	era	muito	bom	naquilo.	O	menino	mais	velho
quase	bateu	o	veículo	várias	vezes	antes	de	dominar	os	rudimentos	mais	básicos
da	pilotagem	do	pequeno	speeder.
Eu	tenho	que	cair	fora	daqui,	repetia	Han	para	si	mesmo.	Vou	fugir	para
algum	outro	mundo,	onde	ninguém	nunca	vai	me	encontrar.	Talvez	eu	consiga
ser	adotado	ou	arranjar	um	emprego	ou	coisa	assim.	Tem	que	haver	algum	jeito...
Só	que	ele	não	conseguia	pensar	em	nenhum	jeito	de	se	livrar	de	Thrackan.
O	rapaz	era	vingativo,	sádico	e	simplesmente	malvado.	Várias	vezes,	Han	viu
Thrackan	torturar	insetos	ou	outros	animais	e,	quando	o	rapaz	percebeu	que
seus	atos	o	perturbavam,	começou	a	fazê-lo	com	frequência.	Han	nunca	tivera
um	bicho	de	estimação,	mas	tendia	a	gostar	de	criaturas	peludas	por	causa	de
Dewlanna.
Sentia	saudades	dela	todos	os	dias.
A	situação	foi	se	tornando	cada	vez	mais	insustentável,	até	que	um	dia
Thrackan	perdeu	completamente	a	paciência	com	Han.	Agarrou-o	pelos	cabelos,
arrastou-o	até	a	cozinha,	pegou	umafaca	e	a	segurou	diante	de	seus	olhos.
–	Está	vendo	isto?	–	rosnou.	–	Se	você	não	pedir	desculpas	e	não	fizer
exatamente	o	que	eu	mandar,	vou	cortar	suas	orelhas	fora.	Agora	peça
desculpas!	–	Chacoalhou	Han	com	força.	–	E	é	melhor	você	ser	convincente!
Han	encarou	a	lâmina	brilhante	da	faca	e	lambeu	os	lábios.	Tentou	forçar	as
palavras	de	um	pedido	de	desculpas,	mas	uma	imensa	erupção	de	raiva
sanguinária	brotou	dentro	dele.	Todos	os	insultos,	tapas	e	socos	e	surras,	de
Shrike	e	de	Thrackan,	pareceram	transbordar.
Com	um	urro	tão	alto	quanto	o	de	um	Wookiee,	Han	virou	uma	fera.	Deu	um
soco	no	braço	de	Thrackan,	fazendo	a	faca	voar,	e	acertou	o	outro	cotovelo	no
estômago	do	rapaz.	Este	perdeu	completamente	o	fôlego	e,	antes	que	pudesse	se
recuperar,	Han	se	atirou	contra	ele.
Chutes,	mordidas,	socos,	dedo	no	olho;	Han	usou	todos	os	truques	sujos	que
tinha	aprendido	nas	ruas	para	surrar	Thrackan.	Atordoado	e	chocado	com	a
fúria	de	Han,	Thrackan	não	conseguiu	se	recuperar,	até	que	a	luta	terminou	com
Han	sentado	nele,	segurando	a	faca	em	seu	pescoço.
–	Ei...	–	Os	olhos	de	Thrackan	reluziam	como	os	de	um	vrelt	encurralado.	–
Ei,	Han,	pare	de	brincadeiras.	Isto	não	é	engraçado.
–	Você	cortar	minhas	orelhas	também	não	é	–	retrucou	Han.	–	Escute	aqui,
estou	farto.	Você	me	conte	o	que	você	sabe,	e	conte	agora	mesmo,	ou	eu	juro	que
abro	sua	garganta	de	orelha	a	orelha.	E	depois	vou	embora.	Já	me	cansei	de
você.
Os	olhos	escuros	de	Thrackan	se	arregalaram	de	medo.	Eles	viram	alguma
coisa	no	rosto	de	Han	que	o	convenceu	de	que	Han	estava	tão	furioso	que	seria
um	erro	provocá-lo.
–	Está	bem,	está	bem!
–	Agora	–	mandou	Han.	–	Fale.
Gaguejando	de	medo,	Thrackan	contou	a	história.
Anos	atrás,	o	avô	de	Thrackan,	Denn	Solo,	e	a	avó,	Tira	Gama	Solo,	viviam
no	quinto	planeta	habitado	do	sistema	corelliano,	uma	colônia	chamada	Tralus.
Eram	tempos	perigosos,	e	bandos	itinerantes	de	saqueadores	e	piratas
ameaçavam	vários	mundos	periféricos.	Os	saqueadores	nunca	chegaram	a
Corellia,	mas	chegaram	a	Tralus.	Uma	frota	deles	pousou	e	devastou	a	colônia
inteira.
–	Avó	Solo	estava	grávida	–	ofegou	Thrackan,	porque	era	difícil	respirar
com	Han	sentado	no	seu	peito.	–	E,	na	noite	que	a	cidade	deles	foi	atacada,	ela
teve	os	bebês.	Gêmeos.	Uma	delas	foi	batizada	mais	tarde	como	Tiion.	Vó	Solo
pegou	ela	e	fugiu	dos	saqueadores.	Conseguiu	se	esconder	numa	caverna	nas
colinas.
–	Tiion	–	repetiu	Han.	–	Sua	mãe.
–	Isso.	O	outro	bebê	era	um	menino,	a	vó	Solo	contou.	O	marido	dela	levou
ele.	Não	tiveram	tempo	nem	para	batizá-lo.	A	vó	disse	que	foi	terrível.	Incêndios
por	todos	os	lados,	gente	correndo	e	gritando.	Ela	e	vô	Denn	se	separaram	na
confusão	da	fuga.
–	E?	–	Han	flexionou	a	mão	de	leve,	e	a	lâmina	se	aproximou	da	garganta	de
Thrackan.
–	Como	eu	disse,	vó	Solo	e	Tiion	escaparam.	Mas	vô	Solo	e	o	bebê	menino
desapareceram.	Nunca	mais	se	soube	deles.
–	Então	o	que	isso	faz	de	mim?	–	indagou	Han,	completamente	confuso.
–	Eu	não	sei	–	admitiu	Thrackan.	–	Mas,	se	eu	tivesse	que	chutar,	eu	diria
que	você	é	meu	primo.	Que,	de	alguma	forma,	o	vô	Solo	e	seu	filho	escaparam,	e
que	você	é	o	filho	desse	filho.
–	Será	que	ninguém	sabe	nada	além	disso?	–	exclamou	Han,	sentindo-se
desesperado.	Aquele	era	um	beco	totalmente	sem	saída;	a	decepção	era
esmagadora.	–	Serviçais?
–	O	vô	Solo	não	gostava	de	serviçais	humanos.	Sempre	teve	droides.	E,
quando	a	vó	Solo	voltou	à	família	dela	aqui	em	Corellia,	o	bisavô	Gama	apagou
a	memória	de	todos	os	droides.	Ele	achou	que	seria	mais	fácil	assim.	Queria	que
ela	se	casasse	de	novo,	começasse	uma	nova	vida.	–	Thrackan	lutou	para
respirar	fundo.	–	Só	que	ela	nunca	fez	nada	disso.
–	Então	o	que	aconteceu	com	sua	mãe?
–	Não	sei.	Ela	sempre	teve	medo	de	confiar	nas	pessoas	e	odiava	multidões.
Depois	que	o	meu	pai	morreu,	ela	simplesmente	quis	se	isolar	do	mundo.	E	foi	o
que	ela	fez.
Han	baixou	a	mão	da	faca	e	balançou	a	cabeça.
–	Certo	–	disse	ele.	–	Eu	vo...
Com	um	corcovear	súbito,	Thrackan	lhe	deu	um	tranco	e,	antes	que	Han
pudesse	reagir	ao	golpe,	as	posições	estavam	invertidas.	Han	encarou	o	primo,
sabendo	que	teria	sorte	em	sair	daquela	com	vida.	Os	olhos	escuros	de
Thrackan	incandesciam	com	ódio,	raiva	e	prazer	sádico.
–	Você	vai	ser	arrepender	muito,	muito	mesmo,	Han	–	afirmou	o	rapaz	em
voz	baixa.
E	Han	de	fato	se	arrependeu.
Thrackan	o	trancou	numa	sala	vazia	por	três	dias,	lhe	dando	apenas	pão	e
água.	Na	tarde	do	terceiro	dia,	quando	Han	estava	sentado	deprimido	num
canto,	Thrackan	destrancou	a	porta.
–	Temo	que	seja	hora	do	adeus,	priminho	–	anunciou	ele,	animado.	–	Tem
alguém	aqui	para	levar	você	para	casa.
Han	olhou	em	volta	desesperado	enquanto	Garris	e	Larrad	Shrike	entravam
atrás	de	Thrackan,	porém,	como	ele	bem	sabia,	não	havia	para	onde	correr...
Han	balançou	a	cabeça	e	se	recusou	a	se	permitir	pensar	nos	dias	que
seguiram.	A	única	coisa	que	fez	Shrike	se	conter	um	pouco	na	hora	de	puni-lo
foi	o	fato	de	não	querer	“danificar”	Han	permanentemente	devido	à	sua
crescente	reputação	de	excelente	piloto	de	swoops	e	speeders.	Só	que	havia
muitas	coisas	que	o	capitão	podia	fazer	que	não	causavam	dano	permanente,	e
ele	tinha	feito	quase	todas	elas...
A	única	vez	que	Han	levou	uma	surra	pior	foi	depois	do	fracasso	em	Jubilar,
quando	tinha	17	anos.	Han	já	estava	machucado	e	dolorido	do	vale-tudo
gladiatório	em	que	fora	obrigado	a	lutar,	depois	de	ser	flagrado	trapaceando	no
baralho.	Daquela	vez,	Shrike	não	tinha	nem	se	dado	ao	trabalho	de	pegar	um
cinto,	tinha	simplesmente	usado	os	punhos,	massacrando	o	rosto	e	o	corpo	do
menino	até	que	Larrad	e	vários	outros	o	arrastaram	para	longe	do	garoto
desmaiado.
E	agora	ele	matou	Dewlanna,	pensou	Han	amargamente.	Se	existe	alguém
que	precisa	ser	morto,	é	Garris	Shrike.
Por	um	momento	Han	se	perguntou	por	que	nunca	lhe	ocorrera	matar	Shrike
quando	ele	ficou	inconsciente	durante	a	fuga	de	Han	para	a	Sonho	Ylesiano	.
Teria	sido	um	favor	aos	habitantes	da	Sorte	de	Mercador.	Por	que	ele	não	o
matara?	Tivera	uma	pistola	na	mão...
Han	balançou	a	cabeça.	Ele	nunca	tinha	atirado	em	ninguém	até	a	véspera,	e
matar	um	homem	inconsciente	simplesmente	não	era	seu	estilo.
Só	que	Han	sabia,	sem	que	ninguém	lhe	dissesse,	que,	se	Garris	Shrike
algum	dia	o	encontrasse	no	futuro,	Han	seria	um	homem	morto.	O	capitão	nunca
esquecia	e	nunca	perdoava.	Ele	se	especializava	em	guardar	rancores	contra
qualquer	um	que	lhe	tivesse	prejudicado.
Han	se	levantou	de	novo	para	conferir	a	rota	e	o	tanque	de	ar.	Só	restavam
algumas	horas	de	oxigênio.	Fez	alguns	cálculos	mentais	enquanto	verificava	a
tela.	Por	pouco.	Vai	ser	por	pouco.	É	melhor	eu	estar	preparado	para	ejetar	a
porta	de	carga	deste	caixote	assim	que	pousarmos...	Vai	ser	por	muito,	muito
pouco...
Mesmo	tendo	voado	centenas	de	horas	em	swoops	e	speeders,	a	experiência
de	Han	em	pilotar	naves	maiores	se	limitava	às	vezes	que	Garris	Shrike
permitira	que	ele	comandasse	a	nave	auxiliar	da	Sorte	em	trajetos	fáceis.	Ele
tinha	decolado	e	pousado,	mas	nunca	antes	tentara	aterrissar	nada	tão	grande
quanto	o	cargueiro-robô.	Han	esperava	que	fosse	capaz	de	dar	conta.	Tinha
confiança	em	sua	habilidade	de	piloto;	afinal,	não	tinha	sido	o	campeão
planetário	júnior	de	speeder	em	Corellia	por	três	anos	seguidos?	E,	ano	passado,
ele	não	tinha	vencido	o	campeonato	de	corrida	de	swoop	do	sistema	corelliano
inteiro?
Ainda	assim,	comparado	à	nave	auxiliar	da	Sorte	,	aquele	cargueiro	era
enorme	...
Han	cochilou	de	novo	e,	depois	que	acordou,	perambulou	inquieto	pela
cabine,	sabendo	que	deveria	conservar	energia	e	ar,	mas	sem	conseguir	se	deter.
–	Senhor?	–	A	unidade	R2	que	tinha	ficado	tão	quieta	por	tantas	horas	voltou
à	vida	de	repente.	–	Preciso	informá-lo	de	que	alcançamos	a	órbita	de	Ylesia.	O
senhor	precisa	se	preparar	para	executar	a	descida	e	o	pouso.
–	Obrigado	por	me	avisar	–	respondeu	Han.	Foi	até	os	painéis	de	controle	e
verificou	os	instrumentos,	calculando	mentalmente	a	taxa	de	descida.	Não	ia	ser
fácil.	Ele	não	tinha	nenhuma	forma	de	se	comunicar	com	o	navicomputador,
exceto	pela	unidade	R2.Um	piloto	tinha	que	tomar	decisões	em	frações	de
segundo	em	determinados	momentos	e,	nesses	casos,	Han	não	poderia	esperar	a
unidade	R2	responder.
A	nave	estremeceu	de	repente,	depois	oscilou	de	leve.
Eles	estavam	entrando	na	atmosfera,	percebeu	Han.
Respirou	fundo	e	deu	uma	olhada	no	nível	do	tanque	de	ar,	percebendo	que
seria	por	pouco...	por	muito,	muito	pouco.
Lá	vamos	nós	,	pensou	ele,	ativando	o	controle	manual	da	Sonho	Ylesiano	.
–	Ei,	R2	–	chamou	ele,	ajustando	o	curso	de	leve.
–	Sim,	senhor?
–	Me	deseje	sorte.
–	Com	sua	licença,	senhor,	mas	esta	unidade	não	está...
Han	praguejou,	e	a	Sonho	Ylesiano	desceu	em	direção	à	superfície	de	um
planeta	que	ele	não	conseguia	nem	ver.	Ele	conseguia	ver	as	leituras	dos
sensores	e	escâneres	infravermelhos,	porém,	e	percebeu	que	Ylesia	era	um
mundo	de	correntes	de	ar	tempestuosas,	até	mesmo	nas	camadas	superiores	da
atmosfera.	Sensores	de	mapeamento	criaram	um	retrato	global	do	planeta:	mares
rasos	cravejados	de	ilhas,	e	três	pequenos	continentes.	Um	desses	ficava	perto	do
polo	norte,	mas	os	outros	dois,	o	oriental	e	o	ocidental,	ficavam	em	latitudes
mais	baixas,	em	zonas	provavelmente	mais	temperadas.
–	Ótimo	–	murmurou	para	si	mesmo	enquanto	localizava	o	sinalizador	de
aproximação	final	da	nave.	Ele	poderia	usá-lo	como	um	guia	para	planejar	a
aterrissagem.	O	campo	de	pouso	ficava	no	continente	oriental.	Deveria	ser	lá	que
ficava	a	colônia	ylesiana	de	sacerdotes	e	peregrinos	religiosos.
A	Sonho	tremeu	violentamente,	jogada	pelas	correntes	rodopiantes	de	ar
como	uma	criança	num	balanço.	As	luvas	do	traje	de	Han	tocavam
desajeitadamente	os	pequenos	botões	do	controle	de	diagnóstico	enquanto	ele
usava	os	estabilizadores	para	endireitar	a	descida.	Ao	tentar	pegar	o	jeito	dos
controles,	Han	guinou	para	bombordo	e	depois	exagerou	na	correção,	fazendo	a
nave	derrapar	para	estibordo.
Na	imagem	infravermelha,	uma	enorme	bolha	vermelha	surgiu	de	repente.	É
uma	tempestade	imensa!	,	pensou	Han,	usando	os	propulsores	laterais	para
estabilizar	a	descida.	Permitiu	que	a	Sonho	desviasse	alguns	graus	para	o	norte,
planejando	assim	se	afastar	da	tempestade	e	depois	virar	de	volta	para	o	sul,
quando	estivesse	abaixo	da	tormenta.
As	partículas	ionizadas	no	rastro	de	todos	aqueles	relâmpagos	confundiam
completamente	os	instrumentos,	percebeu	Han.	Engoliu	seco,	sentiu	o	peito
apertar	e	conteve	o	pânico.	Bons	pilotos	não	podiam	se	dar	ao	luxo	de	deixar	as
emoções	atrapalharem,	ou	acabariam	mortos,	e	isso	encerraria	a	viagem	bem
rápido,	não	é	mesmo?
–	R2	–	disse	Han,	estressado.	–	Veja	se	você	consegue	mapear	essas	áreas
tempestuosas	para	que	eu	possa	evitar	os	rastros	ionizados	dos	relâmpagos.
Concentre-se	na	trajetória	entre	nossa	posição	atual	e	o	campo	de	pouso	no
continente	oriental.
–	Sim,	senhor	–	respondeu	a	unidade	R2.
Momentos	depois,	os	pontos	de	tempestades	elétricas	apareceram	diante
dele.
–	Coloque	uma	versão	desse	mapa	em	escala	reduzida	no	canto	desta	tela,	R2
–	ordenou	Han.	Geralmente,	seria	trabalho	do	navicomputador	consolidar	a
trajetória	de	voo	pretendida	com	dados	geográficos	e	climáticos,	e	então	sugerir
uma	rota	ideal,	que	o	piloto	poderia	implementar	e	modificar	conforme
necessário.
Han	nunca	tinha	sentido	tanta	falta	de	ter	um	navicomputador	ao	seu	dispor
quanto	naquele	momento.
Reduziu	marginalmente	o	avanço	precipitado	da	nave,	depois	foi	forçado	a
ativar	os	propulsores	para	tirá-los	do	caminho	de	mais	uma	rajada	de	vento	de
uma	das	tempestades.
O	suor	pingava	no	rosto	do	rapaz	enquanto	ele	lutava	com	os	minúsculos
controles,	jogando	a	Sonho	Ylesiano	em	manobras	que	só	se	poderia	esperar	que
fossem	executadas	por	um	swoop	ou	caça	militar.	Han	percebeu	que	ainda	estava
ofegante	e	se	perguntou	por	uma	fração	de	segundo	se	seria	por	causa	do	estresse
e	da	adrenalina,	ou	se	o	ar	estaria	acabando.
Não	tinha	como	desperdiçar	o	segundo	que	seria	necessário	para	verificar	o
tanque	de	ar.
Eles	estavam	agora	apenas	um	quilômetro	acima	da	superfície	do	planeta,
descendo	com	rapidez.	Rapidez	demais!	Han	reduziu	a	velocidade,	abusando	dos
retropropulsores.	A	aceleração	gravitacional	o	atingiu,	e	o	rapaz	sentiu	como	se
alguma	coisa	apertasse	seu	peito	num	imenso	torno.	Ofegava	forte	agora,	e
ousou	olhar	o	tanque	de	ar.
Vazio!	O	indicador	de	status	estava	completamente	na	zona	vermelha.
Aguenta	firme,	Han,	aconselhou	a	si	mesmo.	É	só	continuar	respirando.
Deve	ter	ar	bastante	no	seu	traje	para	sustentá-lo	por	alguns	minutos,	pelo
menos.
Balançou	a	cabeça,	sentindo-se	tonto.	Seus	pulmões	começaram	a	arder	com
a	respiração.
Só	que	agora	eles	estavam	quase	lentos	o	bastante	para	pousar.	Freou	de
novo,	de	leve,	e	a	nave	deu	um	tranco	súbito.	Perdi	meu	estabilizador	dianteiro!
Han	lutou	para	compensar.	Ainda	estavam	rápido	demais,	só	que	não	havia
mais	nada	que	ele	pudesse	fazer	quanto	a	isso.	Acionou	os	repulsores	e	começou
a	baixar	a	nave,	sentindo	a	vibração	nos	joelhos	e	nas	pernas,	ajoelhado	no
convés.
Aguenta	firme,	sua	linda!	,	ele	pensou	para	a	Sonho	.	Aguenta	firme...
Com	um	whooooommpppp!	estrondoso,	o	repulsor	dianteiro	de	bombordo
pifou.	A	Sonho	deu	uma	forte	guinada	para	bombordo,	bateu	no	chão,	depois
quicou.	O	repulsor	de	estibordo	estourou,	e	então	o	lado	correspondente	inteiro
se	chocou	contra	o	solo,	quase	fazendo	a	nave	capotar.
Wham!	Com	um	crunch	horroroso	que	Han	sentiu	no	corpo	inteiro,	a	Sonho
Ylesiano	se	esborrachou	na	superfície	do	planeta,	estremeceu	uma	vez	e	ficou
imóvel.
Han	foi	atirado	violentamente	pela	cabine.	Seu	capacete	bateu	com	força	na
antepara,	e	ele	ficou	deitado	ali,	atordoado,	com	braços	e	pernas	esparramados.
Lutou	para	continuar	consciente.	Se	desmaiasse,	nunca	mais	acordaria	de	novo.
Tentou	se	sentar	e	grunhiu	com	o	esforço.	Ondas	de	escuridão	o	ameaçavam.	Ele
ativou	o	canal	de	comunicação	do	traje.
–	R2...	R2...	responda!
–	Sim,	senhor,	estou	aqui,	senhor.	–	O	tom	mecânico	do	droide	soou	um
tanto	estremecido.	–	Se	o	senhor	me	perdoar	a	franqueza,	senhor,	esta	pareceu
ser	uma	aterrissagem	assaz	heterodoxa.	Estou	preocupado	com...
–	Cale	a	BOCA	e	ABRA	A	ESCOTILHA	DE	CARGA!	–	sibilou	Han.	Ele
conseguiu	ficar	sentado,	mas	temia	não	ser	capaz	de	se	levantar.	Balançava	como
um	bêbado	na	ventania.
–	Mas,	senhor,	eu	o	avisei	que,	por	questão	de	segurança,	todas	as	saídas
ficariam	seladas	pendendo...
Han	encontrou	a	pistola	que	tinha	metido	num	bolso	externo	do	traje,	sacou	e
apontou	para	R2.
–	R2,	OU	VOCÊ	ABRE	AQUELA	ESCOTILHA	AGORA,	OU	EU	FAÇO	SUA
CARAPAÇA	DE	METAL	EM	PEDAÇOS!
As	luzes	do	droide	piscaram	freneticamente.	O	dedo	de	Han	tocou	o	gatilho
enquanto	o	rapaz	se	perguntava	se	teria	força	suficiente	para	se	arrastar	até	a
escotilha.	As	trevas	rondavam	os	limites	de	sua	visão.
–	Sim,	senhor	–	decidiu	R2.	–	Farei	conforme	sua	requisição.
Momentos	depois,	Han	sentiu	o	impacto	quando	o	ar	irrompeu	na	Sonho	com
força	quase	explosiva.	Ofegante,	ele	contou	até	vinte	e	enfim,	com	seu	último
resquício	de	força,	arrancou	o	capacete.	Em	seguida,	deixou-se	cair	de	volta	ao
convés.
Han	arfou,	percebeu	que	conseguia	respirar	e	inspirou	profunda	e
repetidamente	o	ar	fresco.	Ar	morno,	ar	úmido,	ar	carregado	com	um	cheiro	que
ele	não	conseguia	identificar.	Mas	era	rico	em	oxigênio,	eminentemente
respirável	e	isso	era	tudo	que	importava	naquele	momento.
O	rapaz	fechou	os	olhos	e	se	concentrou	apenas	em	respirar,	sentindo	a
exaustão	dominá-lo.	A	cabeça	latejava,	e	ele	precisava	só	de	um	momento	para
descansar.	Só	um	momento...
Quando	Han	emergiu	de	volta	a	um	estado	completo	de	consciência	e	abriu
os	olhos,	se	deparou	com	um	rosto	saído	de	pesadelos.	Essa	é	a	criatura	mais
feia	que	eu	já	vi!	foi	seu	primeiro	pensamento.	Só	os	anos	de	experiência	lidando
com	todo	tipo	de	não	humanos	de	todas	as	variedades	permitiram	que	ele
controlasse	a	reação	inicial.
O	rosto	era	largo,	com	dois	olhos	protuberantes	e	bulbosos,	e	era	coberto	de
pele	coriácea	cinzenta-bronzeada.	Não	tinha	orelhas	visíveis,	e	apenas	fendas
servindo	de	narinas.	Acima	dessas	fendas	havia	um	grande	chifre	rombudo	quase
tão	longoquanto	o	antebraço	de	Han.	A	boca	era	um	risco	largo	e	sem	lábios	na
imensa	cabeça.
Han	balançou	a	própria	cabeça	dolorida	e	conseguiu	se	sentar,	percebendo
pelo	cenário	que	o	cercava	que	parecia	estar	em	algum	tipo	de	enfermaria.	Um
droide	médico	pairava	pela	sala,	com	luzes	piscando.
Seu	anfitrião	(se	é	que	a	criatura	era	isso)	era	grande,	Han	notou.	Muito
maior	até	que	um	Wookiee.	Lembrava	um	pouco	um	Berrite,	pois	caminhava
sobre	quatro	pernas	grossas	como	troncos	de	árvore,	mas	era	muito	maior.	A
cabeça	da	criatura	se	conectava	a	um	pescoço	curto	e	corcunda	que	levava	a	um
corpo	imenso.	Han	calculou	que	o	dorso	do	ser	teria	a	altura	dos	ombros	do
rapaz	de	pé.	A	pele	como	couro	que	recobria	o	corpo	pendia	em	pregas,	rugas	e
dobras	frouxas,	especialmente	no	pequeno	e	quase	inexistente	pescoço.	Esse
couro	tinha	um	brilho	oleoso.
As	quatro	pernas	curtas	terminavam	em	enormes	patas	acolchoadas.	Uma
longa	e	fina	cauda	ficava	enrolada	sobre	o	dorso.	Por	um	momento,	Han	se
perguntou	se	a	criatura	teria	membros	manipuladores,	mas	logo	notou	dois
bracinhos	que	se	dobravam	junto	ao	peito,	meio	escondidos	pela	papada	de	pele
frouxa.	As	mãos	da	criatura	eram	delicadas,	quase	femininas,	com	quatro	longos
dedos	flexíveis	em	cada.
O	ser	abriu	a	boca	e	falou	em	língua	básica,	com	sotaque	compreensível.
–	Saudações,	sr.	Draygo.	Permita-me	lhe	dar	as	boas-vindas	a	Ylesia.	Você	é
um	peregrino?
–	Só	que	eu	não	me	ch...	–	murmurou	Han,	com	a	cabeça	girando.	Por	um
momento	o	nome	não	fez	sentido,	mas	então	as	coisas	se	encaixaram.	É	claro.
Fechou	a	boca	com	força,	pensando	que	provavelmente	tinha	levado	uma
pancada	pior	do	que	pensara.	Vykk	Draygo	era	o	pseudônimo	cuja	identificação
ele	portava	naquele	momento.
Han	tinha	vários	alter	egos	e	a	documentação	apropriada	para	sustentá-los.
Ironicamente,	ele	não	tinha	nenhum	tipo	de	identidade	ou	documento	sob	seu
nome	verdadeiro.
–	Me	desculpe	–	murmurou	ele,	segurando	a	cabeça	com	a	mão,	na
esperança	de	que	o	deslize	fosse	descontado	como	resultado	do	ferimento	na
cabeça.	–	Acho	que	ainda	estou	meio	abalado.	Não,	não	sou	um	peregrino.	Vim
aqui	responder	a	um	anúncio	de	emprego	para	que	alguém,	de	preferência	um
corelliano,	viesse	ser	piloto.
–	Entendo.	Mas	como	o	senhor	calhou	de	estar	a	bordo	de	nossa	nave	quando
ela	sofreu	o	acidente?	–	inquiriu	a	criatura.
–	Queria	chegar	a	Ylesia	o	mais	rápido	possível,	então	aproveitei	a
oportunidade	para	pegar	uma	carona	na	Sonho	Ylesiano	–	explicou	Han.	–	Eu
teria	que	esperar	uma	semana	por	um	voo	comercial	e	o	anúncio	dizia	que	vocês
precisavam	de	um	piloto	com	urgência.	Vocês	receberam	minha	mensagem?
–	Sim,	recebemos	–	confirmou	o	ser.	Han	o	observava	atentamente,
lamentando	não	ser	capaz	de	interpretar	suas	expressões	faciais.	–	Nós
estávamos	esperando	você,	mas	não	na	Sonho	Ylesiano.
–	Veja,	trouxe	o	anúncio	comigo.	–	Han	estendeu	a	mão	para	o	macacão
pendurado	numa	cadeira	ao	lado	da	cama	e	pegou	o	holocubo	que	continha	o
anúncio	ao	qual	ele	tinha	respondido.	–	Diz	que	vocês	precisam	de	alguém	para
começar	imediatamente.
Ele	estendeu	o	cubo.
–	Então...	Vykk	Draygo	aqui,	me	apresentando	para	o	emprego.	Sou
corelliano	e	atendo	a	todos	os	seus	requisitos.	Eu	só...	Bem,	queria	dizer	que
lamento	ter	batido	a	Sonho.	Sua	nave	é	um	modelo	diferente	daqueles	que	eu	já
pilotei,	mas	umas	duas	horas	num	simulador	vão	resolver	isso.	E	temo	que	as
suas	correntes	atmosféricas	me	pegaram	de	surpresa.
O	ser	verificou	o	cubo,	depois	o	pousou	na	mesa.	Os	cantos	da	imensa	boca
sem	lábios	se	inclinaram	levemente	para	cima.
–	Entendo.	Sr.	Draygo,	sou	o	mui	exaltado	sumo	sacerdote	de	Ylesia,
Teroenza.	Seja	bem-vindo	à	nossa	colônia.	Estou	impressionado	com	a	sua
iniciativa,	jovem	humano.	Viajar	a	bordo	de	uma	nave-robô	para	poder
responder	ao	nosso	anúncio	tão	rapidamente	é	um	sinal	do	seu
comprometimento.
Han	franziu	o	cenho,	desejando	que	sua	cabeça	não	doesse	tanto.
–	Bem...	obrigado.
–	Fiquei	impressionado	que	você	tenha	conseguido	controlar	e	aterrissar	uma
nave-robô.	Poucos	pilotos	humanos	teriam	sido	capazes	de	reagir	com
velocidade	suficiente	para	lidar	com	os	padrões	climáticos	desafiadores	deste
planeta.	Os	danos	à	nossa	nave	não	foram	sérios,	e	os	reparos	já	estão	sendo
efetuados.	Você	pousou	em	terreno	macio,	felizmente.
–	Isso	quer	dizer	que	o	emprego	é	meu?	–	indagou	Han,	ansioso.	Ótimo!	Eles
não	estão	com	raiva	de	mim!
–	Você	estaria	disposto	a	assinar	um	contrato	de	um	ano?	–	perguntou
Teroenza.
–	Talvez	–	respondeu	Han,	se	reclinando	e	relaxando,	com	as	mãos	detrás	da
cabeça.	–	Pagando	quanto?
O	sumo	sacerdote	mencionou	uma	cifra	que	fez	Han	sorrir	por	dentro.
Mesmo	que	fosse	mais	do	que	ele	esperava,	o	rapaz	era	comerciante	demais	para
não	negociar	automaticamente.
–	Bem,	não	sei...	–	disse	ele,	esfregando	o	queixo	pensativo.	–	Eu	ganhava
mais	que	isso	no	meu	emprego	anterior...
Uma	mentira,	só	que	ninguém	teria	como	verificar.	Vykk	Draygo	de	fato
ganhava	mais	que	aquele	valor;	Han	tinha	pago	caro	para	garantir	que	o	histórico
de	empregos	de	seu	alter	ego	demonstrasse	que	ele	já	tinha	recebido	altos
salários.	Han	tinha	investido	todas	as	suas	economias,	mais	os	lucros	de	dois
roubos	perigosos	sobre	os	quais	Garris	Shrike	jamais	ficara	sabendo,	para
financiar	essas	alterações	no	histórico	profissional	do	alter	ego	;	mas	queria	que
Vykk	Draygo	pudesse	negociar	altos	salários.
Teroenza	ponderou	a	informação	e	enfim	respondeu:
–	Muito	bem,	posso	oferecer	30	mil	pelo	ano,	com	um	bônus	de	dez	depois
dos	seis	primeiros	meses,	no	caso	de	você	executar	todos	os	voos	programados
sem	atrasos.
–	Bônus	de	quinze	–	retrucou	Han	automaticamente.	–	E	vocês	fornecem	os
simuladores	de	treinamento.
–	Doze	–	barganhou	Teroenza.	–	E	você	paga	pelos	simuladores.
–	Treze	–	disse	Han.	–	Vocês	dão	os	simuladores.
–	Doze	e	meio	e	nós	fornecemos	os	simuladores	–	decidiu	o	sumo	sacerdote.
–	Oferta	final.
–	Combinado	–	anunciou	Han.	–	Vocês	conseguiram	seu	piloto.
–	Excelente!	–	Teroenza	chegou	a	rir,	um	som	grave,	retumbante	e
estranhamente	melodioso.
Num	instante	os	contratos	foram	trazidos.	Han	os	assinou	e	então	permitiu
uma	leitura	de	retina	como	prova	de	sua	identidade.	Espero	que	eles	sejam	como
todo	mundo,	pensou	ele,	e	façam	só	uma	verificação	geral	sistêmica	dos	meus
padrões	de	retina.	Se	os	sacerdotes	fizessem	uma	busca	completa	(e	muito	cara)
em	todos	os	sistemas	para	determinar	se	a	leitura	de	retina	de	Vykk	Draygo	era
única,	eles	acabariam	descobrindo	que	não.	Vykk	Draygo,	Jenos	Idarian,	Tallus
Bryne,	Janil	Andrus	e	Keil	d’Tana	todos	compartilhavam	exatamente	os	mesmos
padrões	de	retina;	o	que	não	era	de	estranhar,	pois	todos	esses	indivíduos	eram,
de	fato,	Han	Solo.
Antes	de	deixar	a	Sorte	de	Mercador	,	Han	tinha	tomado	o	cuidado	de
guardar	uma	pequena	soma	de	créditos	e	conjuntos	completos	de	documentos
em	duas	caixas-fortes	em	Corellia,	para	o	caso	de	algum	dia	precisar	de	uma
troca	rápida	de	identidade.	Garris	Shrike	tinha	provido	o	rapaz	com	conjuntos
diferentes	de	documentos	para	cada	golpe	em	que	Han	participara,	e	ele	tinha
guardado	cada	conjunto	e	os	atualizado	conforme	necessário.
O	corelliano	sabia,	porém,	que	nenhuma	de	suas	identidades	forjadas
resistiria	aos	scanners	imperiais.	Antes	que	pudesse	prestar	os	exames	seletivos
da	Academia,	Han	sabia	muito	bem	que	teria	que	gastar	uma	pequena	fortuna	em
subornos	em	Coruscant	para	obter	documentos	de	identidade	tão	genuínos	que
passariam	por	uma	verificação	de	segurança	imperial.
Com	todos	os	detalhes	administrativos	resolvidos,	Teroenza	então	chamou
um	sub-sacerdote,	ou	sacredot,	como	eles	eram	chamados,	e	o	instruiu	a	levar
Han	num	tour	do	complexo.	Han	foi	deixado	a	sós	para	vestir	o	macacão,	depois
de	receber	garantias	de	que	lhe	seriam	fornecidos	trajes	com	o	símbolo	ylesiano:
um	enorme	olho	aberto	e	uma	boca.
Enquanto	vestias	as	roupas	e	as	botas,	percebeu	que	suava	muito.	Quente	e
úmido,	pensou.	Que	clima	maravilhoso.	Porém,	pela	grana	que	os	sacerdotes
estavam	pagando,	o	rapaz	estava	disposto	a	aturar	um	ano	de	desconforto.	Ao
aceitaro	emprego,	ele	acumularia	muita	experiência	prática	pilotando	naves
grandes	e	teria	acesso	a	simuladores	de	treinamento.	Isso	deveria	bastar	para
garantir	seu	sucesso	nas	provas	seletivas	da	Academia.
O	dinheiro	significava	que	ele	poderia	pagar	as	propinas	necessárias	para	que
sua	inscrição	fosse	processada	rapidamente	e	realmente	chegasse	aos	oficiais	de
seleção.	Suas	pesquisas	revelaram	que,	sem	suborno,	era	comum	que	um
candidato	a	cadete	levasse	um	mês	ou	mais	fazendo	a	inscrição,	passando	por
todas	as	provas	relevantes,	sendo	entrevistado	até	finalmente	ser	aceito	na
Academia	Imperial.
O	sacredot	chegou	e	se	apresentou	como	Veratil.	Han	o	seguiu	por	um
corredor,	passando	por	um	grande	anfiteatro	e	o	que	parecia	ser	uma	área	de
registro.
–	Nosso	Centro	de	Hospitalidade	–	explicou	o	sacredot.	Veratil	o	levou	para
o	lado	de	fora.	Han	saiu	pela	porta	e,	antes	que	pudesse	respirar	fundo,	estava
imediatamente	coberto	de	suor.	Calor	fumegante	e	umidade	lhe	estapeavam	a
cara,	quase	como	golpes	físicos.	O	ar	estava	carregado	de	cheiros:	perfume	forte
das	flores,	vegetação	podre	e	outro	odor,	um	que	já	tinha	sentido	antes,	mas	não
conseguia	identificar.
Han	parou	no	alto	da	pequena	rampa	que	descia	do	prédio	e	contemplou	o
céu,	notando	que	era	de	um	azul-acinzentado	translúcido.	O	sol	era	vermelho-
alaranjado	e	parecia	maior	do	que	o	rapaz	estava	acostumado.	Esta	estrela
provavelmente	ficava	mais	próxima	daquele	planeta	que	Corel	de	Corellia.	Han
espiou	as	sombras,	percebeu	que	já	passava	muito	do	meio-dia	e	depois	deu	uma
olhada	no	crono	de	pulso.
–	Quanto	tempo	dura	o	dia	aqui?	–	perguntou	a	Veratil.
–	Dez	horas-padrão,	senhor	–	respondeu	o	sacredot.
Não	é	de	se	espantar	que	o	clima	aqui	seja	tão	tempestuoso,	pensou	Han.
Temos	um	mundo	quente	e	úmido	com	uma	rotação	bem	rápida.
Han	olhou	para	além	da	área	aberta.	O	permacreto	terminava	abruptamente,
dando	lugar	ao	solo	e	à	vegetação	naturais.	Poças	de	água	atestavam	a	recente
chuva	torrencial.	Lama	avermelhada	formava	um	forte	contraste	à	luxuriante
flora	verde-azulada.	As	flores	que	pendiam	de	vinhas	e	árvores	na	selva
circundante	eram	enormes	e	multicoloridas;	escarlates,	roxas	e	amarelonas.
–	Esta	é	Colônia	Um	–	explicou	Veratil.	–	Nós	também	estabelecemos	duas
novas	colônias	para	nossos	peregrinos.	Dois	anos	atrás	fundamos	Colônia	Dois,
e	no	inverno	passado	construímos	Colônia	Três,	que	ainda	é	bem	pequena.
Colônia	Dois	fica	a	uns	150	quilômetros	ao	norte,	e	Colônia	Três,	mais	ou
menos	70	quilômetros	ao	sul	daqui.
–	Há	quanto	tempo	Colônia	Um	foi	fundada?	–	perguntou	Han.
–	Quase	cinco	anos-padrão.
Han	deu	uma	boa	olhada	em	Colônia	Um.	Diretamente	em	frente	ao	Centro
de	Hospitalidade	ficava	a	plataforma	de	pouso.	Um	pequeno	cargueiro
aguardava	lá,	adernando	sobre	seus	repulsores.	Aquela	deve	ser	a	Sonho,	pensou
Han,	percebendo	que	nunca	tinha	visto	a	nave	do	lado	de	fora.
A	Sonho	Ylesiano	era	uma	nave	pequena,	com	forma	de	uma	lágrima	gorda	e
um	tanto	irregular.	No	ventre	havia	a	saliência	da	cabine	de	tiro,	provando	que	a
nave	não	tinha	sido	sempre	um	cargueiro-robô.	Outra	saliência	maior	indicava	o
porão	de	carga	principal.	Era	uma	nave	graciosa,	pequena	o	bastante	para	ser
ágil.	Quase	com	certeza	construída	em	Corellia.
Han	viu	os	imensos	droides	portuários	trabalhando	na	Sonho	,	começando	a
consertar	os	repulsores.	Nave,	droides	e	tudo	mais	em	volta	estavam	sujos	com	a
lama	vermelha	da	aterrissagem	forçada.
A	nordeste,	mais	altas	até	que	as	gigantescas	árvores	da	selva,	Han
vislumbrou	uma	cordilheira	nevada.	Apontou	para	ela.
–	Que	montanhas	são	aquelas?
–	As	Montanhas	dos	Exaltados	–	disse	Veratil.	–	O	Altar	das	Promessas	fica
no	sopé	delas,	onde	os	fiéis	se	reúnem	todas	as	noites	para	serem	Exultados.
Você	verá	esta	noite,	quando	comparecer	à	devoção.
Ah,	ótimo	,	pensou	Han.	Eu	tenho	que	participar	das	cerimônias,	também?
Então	ele	lembrou	quanto	os	Ylesianos	estavam	lhe	pagando.	Han	assentiu	com
a	cabeça.
–	Aposto	que	deve	ser	impressionante.
À	esquerda	do	piloto,	havia	um	vasto	campo	de	lama	vermelha.	Vários	seres
da	raça	de	Teroenza	e	Veratil	se	refestelavam	em	poços	de	lama,	sendo
paparicados	por	droides	e	serviçais	de	espécies	sortidas.	Han	reconheceu	um	par
de	Rodianos,	vários	Gamorreanos	e	pelo	menos	um	humano.
–	Esses	são	os	alagadiços	–	contou	Veratil,	acenando	para	os	banhistas
enlameados	e	seus	criados	com	a	mão	delicada.	–	Meu	povo	aprecia	muito	os
banhos	de	lama.
–	E	qual	é	seu	povo?	–	perguntou	Han.	–	Vocês	são	nativos	de	Ylesia?
–	Não,	na	verdade	somos	nativos	de	Nal	Hutta,	ou	pelo	menos	tão	nativos
quanto	nossos	primos	distantes,	os	Hutts	–	explicou	Veratil.	–	Somos	os	T’landa
Til.
Han	resolveu	aprender	a	língua	t’landa	til	o	mais	rápido	possível.	Era	quase
sempre	uma	vantagem	entender	uma	língua	que	os	outros	não	sabiam	que	você
falava...
O	sacredot	e	Han	contornaram	o	Centro	de	Hospitalidade	até	o	outro	lado.
Os	olhos	do	rapaz	se	arregalaram	ao	ver	a	enorme	área	aberta	adiante.	Derrubar
tanta	selva	assim	deve	ter	dado	um	trabalhão.	A	área	desflorestada	era	mais	ou
menos	retangular,	com	pelo	menos	um	quilômetro	em	cada	lado.	As	montanhas
agora	estavam	atrás	e	à	esquerda	e	dava	para	ver,	à	extrema	direita,	o	reluzir
azul-cinza	da	água.
–	Lago?	–	perguntou.
–	Não,	aquele	é	Zoma	Gawanga,	o	Oceano	Ocidental	–	informou-lhe	Veratil.
Han	contou	os	enormes	prédios	que	se	erguiam	diante	dos	alagadiços.	Havia
nove	deles.	Cinco	tinham	três	andares,	os	outros	quatro	eram	térreos.	Cada	um
tinha	facilmente	o	tamanho	de	um	quarteirão	em	Corellia.
–	Lares	para	os	peregrinos?	–	perguntou	Han,	acenando	para	os	prédios.
–	Não,	o	dormitório	para	nossos	peregrinos	fica	para	lá	–	respondeu	Veratil.
O	sacerdote	apontou	um	imenso	prédio	de	dois	andares	no	extremo	esquerdo.	–
Os	prédios	de	vários	andares	são	onde	processamos	ryll,	andris	e	carsunum.	Os
prédios	de	um	andar	que	você	vê	se	estendem	profundamente	no	subterrâneo,
uma	necessidade	para	a	fabricação	de	brilhestim,	que	precisa	acontecer	em
absoluta	escuridão.
Andris,	ryll,	carsunum	e	brilhestim...	As	narinas	de	Han	se	alargaram.	É
claro,	isso	explica	o	odor!	São	usinas	de	processamento	de	especiarias!	Ele
lembrou	que	a	Sonho	Ylesiano	tinha	levado	uma	carga	de	brilhestim	de	primeira
qualidade,	o	tipo	mais	caro	e	exótico	de	especiaria.	Os	outros	eram	geralmente
mais	baratos,	mas	ainda	assim	eram	uma	das	cargas	mais	lucrativas	que	um
contrabandista	poderia	transportar.
–	Recebemos	carregamentos	de	matéria-prima	de	mundos	como	Kessel,
Ryloth	e	Nal	Hutta	várias	vezes	por	mês	–	continuou	Veratil.	–	No	começo,	os
cargueiros-robô	que	nos	supriam	pousavam	aqui	em	Colônia	Um,	mas	essa
prática	logo	teve	que	ser	descontinuada.
–	Por	quê?	–	indagou	Han,	perguntando-se	se	queria	mesmo	saber.
–	Duas	naves,	muito	lamentavelmente,	não	conseguiram	lidar	com	nossa
atmosfera	complicada	e	se	acidentaram.	Então	construímos	uma	estação	espacial
e	decidimos	usar	pilotos	vivos	para	trazer	a	matéria-prima	de	especiaria	até	as
fábricas.	Tínhamos	três	pilotos,	mas	agora	só	resta	um,	e	o	pobre	Sullustano	que
está	nos	servindo	de	piloto	anda...	adoentado.	Por	isso	precisamos	de	você,
piloto	Draygo.
É	tão	bom	ser	necessário,	pensou	Han	sarcasticamente.
–	Hum...	Veratil...	o	que	aconteceu	aos	outros	dois	sujeitos?
–	Um	sofreu	um	acidente	de	espaçonave,	o	outro	simplesmente...
desapareceu.	Também	perdemos	um	número	determinado	de	naves-robô,	o	que
prejudicou	muito	gravemente	nossa	margem	de	lucro	–	contou	Veratil,
entristecido.	–	Especiaria	é	um	item	de	exportação	muito	rentável,	mas	naves
espaciais	são	muito	caras.
–	É	mesmo	–	concordou	Han	azedamente.	–	Todos	esses	acidentes	devem
atrapalhar	os	negócios.	–	Não	é	surpresa	que	eles	não	tenham	uma	fila	de	pilotos
querendo	se	candidatar,	pensou	o	rapaz.	A	maioria	dos	pilotos	experientes	deve
ter	espalhado	como	este	planeta	é	perigoso...
Han	sabia	alguma	coisa	sobre	os	vários	tipos	de	especiaria,	em	grande	parte
por	ter	escutado	Shrike	e	os	outros	contrabandistas	conversando	sobre	suas
propriedades.
Brilhestim,	extraído	em	Kessel,era	de	longe	a	mais	valiosa.	Quando	exposta
à	luz,	depois	ingerida	rapidamente,	dava	ao	usuário	a	habilidade	telepática
temporária	de	sentir	pensamentos	e	emoções	superficiais.	Espiões	a	usavam,
amantes	a	usavam,	e	o	Império	a	usava	para	interrogar	prisioneiros.	Na	verdade,
o	Império	reivindicava	todo	brilhestim	extraído	em	Kessel	como	sua	legítima
propriedade,	o	que	explicava	por	que	era	tão	raro	e	lucrativo	de	se
contrabandear.
Ryll	vinha	do	mundo	Twi’lek,	Ryloth,	onde	era	perfeitamente	legal	de	se
minerar	e	era	empregado	para	fins	analgésicos.	Mas	também	tinha	usos	ilegais	e
podia	ser	usado	para	produzir	vários	intoxicantes	e	alucinógenos.
Carsunum	era	uma	especiaria	negra	que	vinha	de	Sevarcos	e	era	bem	rara	e
muito	valiosa.	Usuários	experimentavam	euforia	e	um	aumento	nas	habilidades;
enquanto	o	efeito	durasse,	eles	ficavam	mais	fortes,	mais	rápidos	e	mais
inteligentes.	Havia	um	lado	negativo,	é	claro.	Depois	que	o	efeito	passava,	os
usuários	frequentemente	se	tornavam	apáticos,	deprimidos	e	alguns	até	morriam
quando	a	substância	era	tóxica	para	seus	metabolismos.
Sevarcos	também	supria	a	galáxia	com	andris,	um	pó	branco	que	era
adicionado	aos	alimentos	para	melhorar	o	sabor	e	conservá-los.	Alguns	usuários
afirmavam	que	a	droga	causava	uma	leve	euforia	e	aumento	de	sensações.
Eles	não	extraem	aqui,	pensou	Han.	Essas	fábricas	processam	a	matéria-
prima	e	a	transformam	no	produto	final.
–	Fábricas?	–	ecoou	Han.	–	Elas	são	enormes...
–	Sim,	e	Ylesia	conta	com	taxas	de	produção	admiráveis,	permitindo	que
possamos	competir	favoravelmente	com	o	custo	da	especiaria	despachada
diretamente	de	Kessel,	Ryloth	ou	Sevarcos	–	explicou	Veratil.	–	E	nós	somos	a
única	instalação	capaz	de	oferecer	tanta	variedade	de	especiarias.	Compradores
frequentemente	querem	adquirir	vários	tipos	diferentes	de	produto	para	seus
consumidores,	coisa	que	nós	suprimos.
Han	viu	vultos	entrando	e	saindo	das	fábricas.	Muitos	humanos,	alguns	não
humanos.	Reconheceu	Twi’leks,	Rodianos,	Gamorreanos,	Devaronianos,
Sullustanos...	E	havia	outros	que	ele	não	conhecia.	Todos	os	humanos	e
alienígenas	bípedes	vestiam	robes	beges	que	iam	até	embaixo	dos	joelhos	e
toucas	beges	que	cobriam	os	cabelos.
Ele	indicou	as	pessoas.
–	Operários	nas	fábricas?
O	sacredot	hesitou,	depois	respondeu:
–	São	peregrinos	que	decidiram	servir	à	Unidade,	o	Todo,	em	nossas
fábricas.
–	Ah	–	murmurou	Han.	–	Entendo.
Ele	estava	começando	a	entender	as	coisas	agora,	e	a	cada	momento	as
compreendia	melhor.	E	tinha	um	mau	pressentimento	sobre	o	que	estava	vendo.
Aqueles	peregrinos	vieram	para	cá	em	busca	de	santuário	religioso	e	acabam
trabalhando	em	fábricas	de	especiaria.	Sinto	cheiro	de	vrelt...	vrelt	morto.
O	sol	ylesiano	já	estava	bem	mais	baixo	no	céu	àquela	altura,	quase	no
horizonte.	Han	percebeu	que	as	multidões	de	trabalhadores	de	bege	seguiam	para
nordeste,	em	direção	às	montanhas.	Veratil	chamou	Han	com	a	mãozinha.
–	É	hora	de	os	abençoados	peregrinos	comparecerem	às	devoções	e	serem
Exultados	no	Um,	rendendo	suas	preces	ao	Todo.	Vamos	seguir	a	Trilha	da
Unidade	e	alcançar	o	Altar	das	Promessas.	Venha,	piloto	Draygo.
Han	seguiu	obediente	o	sacerdote	por	um	caminho	pavimentado	bem	gasto.
Apesar	de	estarem	cercados	por	peregrinos,	Han	percebeu	que	ninguém	se
aventurava	a	chegar	perto	deles.	Todos	os	peregrinos	se	curvavam
profundamente	para	Veratil,	com	mãos	cruzadas	sobre	o	coração.
–	Eles	estão	agradecendo	pela	Exultação	que	vão	receber	–	explicou	Veratil	a
Han	enquanto	eles	caminhavam.
Quando	os	dois	se	afastaram	dos	prédios,	a	selva	em	volta	se	fechou	até	que
o	caminho	ficou	recoberto	de	galhos	gigantes.	Han	se	sentia	caminhando	dentro
de	um	túnel.
Eles	passaram	por	uma	grande	área	aberta	que	era	com	certeza	algum	tipo	de
pântano,	porque	estava	completamente	coberta	por	imensas	flores	belas	e
exóticas	que	Han	nunca	vira	antes.
–	As	Planícies	Floridas	–	disse	Veratil,	ainda	desempenhando	o	papel	de	guia
de	turismo.	–	E	esta	é	a	Floresta	da	Fé.
Han	assentiu	com	a	cabeça.	Queria	saber	quanto	mais	disso	eu	consigo
aguentar,	pensou.	Tomara	que	não	esperem	que	eu	seja	convertido,	porque
pegaram	o	cara	errado.
Depois	de	vinte	minutos	de	caminhada,	o	grupo	alcançou	uma	grande	área
pavimentada	que	tinha	uma	parte	coberta	na	frente,	o	telhado	sustentado	por	três
imensos	pilares.	Han	viu	vários	dos	T’landa	Til	reunidos	sob	os	pilares,
incluindo	um	que	ele	identificou,	incerto,	como	sendo	Teroenza.	Estavam
distribuídos	em	volta	de	um	altar	baixo	entalhado	em	pedra	branca	translúcida
que	parecia	brilhar	com	uma	luz	interior.
As	montanhas	altas	de	picos	nevados	formavam	um	pano	de	fundo
impressionante	para	a	cena,	assombrando	sobre	a	selva.	Han	ergueu	o	olhar,	e
ergueu,	e	ergueu...	o	topo	dos	picos	mais	altos	estava	escondido	pelas	nuvens,
manchadas	de	branco	pelo	pôr-do-sol.	A	neve	no	lado	oeste	das	encostas
brilhava	carmesim	e	rosada.
Impressionante,	Han	foi	forçado	a	admitir.	A	simplicidade	do	anfiteatro
natural,	com	seu	chão	pavimentado	e	altar	com	pilares,	o	fazia	parecer	uma
imensa	catedral	natural.
Os	fiéis	se	organizaram	em	fileiras	e	esperaram.
Han	ficou	no	fundo,	se	remexendo	impacientemente,	esperando	que	qualquer
que	fosse	o	serviço	religioso	prestes	a	acontecer	não	demorasse	muito.	Estava
com	fome,	a	cabeça	latejava	e	o	calor	o	deixara	sonolento.
O	sumo	sacerdote	ergueu	os	bracinhos	e	entoou	uma	frase	na	sua	língua
nativa.	Os	sacredots,	incluindo	Veratil,	repetiram	a	fala.	Então	a	multidão
reunida	(Han	calculou	pelo	menos	400	ou	500)	ecoaram	a	frase	do	sumo
sacerdote.	Han	se	inclinou	para	perto	do	peregrino	mais	próximo,	um	Twi’lek.
–	O	que	eles	estão	dizendo?
–	Disseram	“o	Um	é	Todo”	–	traduziu	o	Twi’lek,	que	falava	muito	bem	a
língua	básica.	–	Você	gostaria	que	eu	lhe	servisse	de	intérprete	durante	a
cerimônia?
Já	que	Han	estava	determinado	a	aprender	a	língua	dos	T’landa	Til,
concordou	com	a	cabeça.
–	Se	você	não	se	importar.
O	sumo	sacerdote	entoou	de	novo.	Han	prestou	atenção	nas	frases	rituais
repetidas	pelos	sacredots,	depois	enunciadas	em	tom	monótono	pelos	peregrinos
fiéis.
–	O	Todo	é	Um.
–	Nós	somos	Um.	Pertencemos	ao	Todo.
–	Em	serviço	ao	Todo,	cada	Um	é	Exultado.
–	Nós	nos	sacrificamos	para	alcançar	o	Todo.	Servimos	o	Um.
–	Em	trabalho	e	sacrifício	somos	Todos	completados.	Se	cada	Um	tiver
trabalhado	duro,	somos	Todos	Exultados.
Han	sufocou	um	bocejo.	Aquilo	era	terrivelmente	repetitivo.
Finalmente,	depois	de	quase	quinze	minutos	de	ladainha,	Teroenza	e	todos	os
sacerdotes	se	adiantaram.
–	Vocês	trabalharam	bem	–	declarou	o	sumo	sacerdote.	–	Preparem-se	para	a
bênção	da	Exultação!
A	multidão	emitiu	um	som	de	antecipação	tão	ganancioso	que	Han	ficou
espantado.	Movendo-se	numa	grande	onda,	como	se	fossem	realmente	Um,	se
jogaram	no	chão	e	ficaram	lá	deitados,	com	braços	e	pernas	encolhidos	sob	o
corpo,	numa	atitude	de	esperança	e	desejo.
Todos	os	sacerdotes	ergueram	os	braços.	Han	observou	enquanto	a	papada
frouxa	e	enrugada	que	pendia	da	garganta	de	cada	um	se	encheu	com	ar	e
começou	a	pulsar.	Um	zumbido	grave	e	latejante	(ou	seria	uma	vibração?)
preencheu	a	atmosfera	gradualmente.
Os	olhos	de	Han	se	arregalaram	quando	ele	sentiu	alguma	coisa	invadir	seu
corpo	e	mente.	Parte	vibração,	parte	som?	Ele	não	tinha	certeza.	Seria	empatia,
telepatia,	ou	será	que	a	vibração	ativara	alguma	coisa	em	seu	cérebro?	Han	não
poderia	dizer.	Sabia	apenas	que	era	forte	...
O	efeito	atropelou	o	rapaz	numa	imensa	onda.	Emoções	calorosas,	prazer
físico,	era	tudo	isso	e	muito	mais.	Han	cambaleou	para	trás,	para	fora	do
permacreto,	até	ser	detido	pelo	tronco	de	uma	das	árvores	gigantes	da	floresta.
Segurou-se	no	tronco,	com	a	cabeça	girando.	Cravou	as	unhas	na	casca,	se
agarrando	à	árvore.	As	mãos	contra	a	textura	áspera	pareciam	ser	a	única	coisa
evitando	que	ele	fosse	levado	pela	onda	de	emoções	de	proximidade	e	prazer
extático...
Han	se	agarrou	à	árvore	fisicamente,	e	a	si	mesmo	mentalmente,	rejeitando
aquela	maré	que	o	sugava	para	as	profundezas.	Não	sabia	direito	onde	encontrou
força	para	tanto,	mas	lutou	o	máximoque	pôde.	Por	toda	sua	vida,	Han	fora
quem	ele	decidira	ser,	senhor	do	próprio	corpo	e	mente,	e	nada	mudaria	esse
fato.	Ele	era	Han	Solo	e	não	precisava	de	alienígenas	invadindo	sua	mente	ou
seu	corpo	para	fazê-lo	sentir-se	bem.
Não!	,	pensou	ele.	Sou	um	homem	livre,	não	um	peregrino	qualquer,	não	a
sua	marionete!	Livre,	ouviu?
Cerrando	os	dentes,	Han	enfrentou	a	invasão	como	teria	lutado	contra	um
oponente	físico,	e	então,	tão	de	repente	quanto	tinha	começado,	a	sensação
sumiu;	ele	estava	livre.
Só	que	era	claro	que	os	peregrinos	não	estavam.	Seus	corpos	se	contorciam
na	rocha,	e	gemidos	abafados	de	felicidade	e	prazer	se	somavam	numa
arrebentação	suave.
Enojado,	Han	olhou	os	sacerdotes.	Eles	obviamente	não	eram	afetados	como
os	peregrinos.	Então	é	por	isso	que	esses	pobres	otários	ficam,	depois	que
descobrem	que	terão	que	trabalhar	nas	fábricas	de	especiarias,	pensou	Han,
sentindo	uma	onda	de	ressentimento	amargo	em	nome	dos	peregrinos.	Eles
ralam	o	dia	inteiro,	depois	andam	até	aqui	e	recebem	uma	dose	de	vibrações
prazerosas	que	fazem	até	a	melhor	especiaria	parecer	fraca	em	comparação.
Han	se	perguntou	se	eles	esperavam	que	ele	frequentasse	esses	“cerimoniais
vespertinos”	todas	as	noites	e	torceu	para	que	não	fosse	o	caso.	Já	tinha	sido
muito	difícil	rechaçar	aquela	inundação	de	emoções	e	prazer	daquela	vez.	Ele
temia	que,	se	fosse	exposto	a	ela	diariamente,	não	teria	a	força,	a	determinação,
para	rejeitar	a	“pílula	de	felicidade”	dos	sacerdotes	Ylesianos.
Àquela	altura,	os	peregrinos	começavam	a	se	levantar,	alguns	oscilando	sem
firmeza.	Todos	tinham	olhos	vidrados,	e	muitos	se	pareciam	com	os	viciados	que
Han	vira	em	antros	de	especiarias	e	oobalah	em	Corellia	e	outros	mundos.
–	Eles	fazem	isso	todas	as	noites?	–	perguntou	ele	ao	Twi’lek	num	sussurro.
Os	olhos	avermelhados	do	alienígena	brilhavam	de	alegria.
–	Ah,	sim.	Não	foi	maravilhoso?
–	Fantástico	–	retrucou	Han,	mas	o	Twi’lek	estava	tão	enlevado	que	não
percebeu	o	sarcasmo.
–	E	tem	alguma	vez	que	eles	não	realizam	essas	cerimônias?	–	indagou	Han,
curioso.
–	Só	são	canceladas	se	houver	algum	problema	nas	fábricas.	Uma	vez	um
dos	trabalhadores	enlouqueceu	e	pegou	um	capataz	de	refém,	depois	exigiu
passagem	para	fora	do	planeta.	A	cerimônia	do	fim	do	dia	e	a	Exultação	foram
canceladas;	foi	horrível.
–	E	o	que	aconteceu	ao	trabalhador	louco?	–	inquiriu	Han,	refletindo	que	o
“insano”	parecia	perfeitamente	são	para	ele.
–	Antes	do	amanhecer,	nós	conseguimos	dominá-lo	fisicamente	e	o
entregamos	aos	guardas	–	contou	o	Twi’lek.
É,	aposto	que	sim,	pensou	Han.	Eles	não	aguentariam	ficar	sem	a	dosezinha
da	noite.
A	cerimônia	estava	claramente	encerrada.
Veratil	se	juntou	a	Han	pela	caminhada	de	volta	ao	complexo	central.	Han
estava	sem	ânimo	para	conversar	e	alegou	o	cansaço	que	realmente	sentia.	O
sacredot	respondeu	que	entendia	perfeitamente	e	levou	o	piloto	corelliano	de
volta	à	enfermaria.
–	Você	pode	jantar	e	dormir	aqui	esta	noite	–	disse	o	T’landa	Til.	–	Amanhã
vamos	levá-lo	aos	seus	alojamentos	permanentes	no	prédio	da	administração.
–	Onde	fica	isso?	–	perguntou	Han,	fazendo	uma	pausa	enquanto	mastigava
um	guisado	reedox	que	estava	um	tanto	insosso,	mas	enchia	a	barriga.
O	sacredot	apontou	o	bracinho	mais	ou	menos	para	nordeste.
–	Não	dá	para	ver	daqui,	mas	há	uma	trilha	pelas	árvores.	Nós	nos
encontramos	lá	em,	digamos,	seis	horas-padrão?	Isso	lhe	oferecerá	sono
suficiente?
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça.	Sempre	dava	para	tirar	uma	soneca	mais
tarde.
–	Tudo	bem.
Depois	que	o	sacerdote	saiu,	Han	tirou	suas	roupas	e	botas	e	percebeu	que
precisaria	de	alguma	coisa	limpa	para	vestir	no	dia	seguinte,	ou	não	estaria	digno
de	convívio	social	de	alto	nível.	Considerou	tomar	um	banho	antes	de	dormir,
mas	estava	simplesmente	cansado	demais.
Han	sempre	fora	capaz	de	se	programar	mentalmente	para	acordar	na	hora
que	quisesse,	então	ele	se	ajustou	mentalmente	para	se	levantar	dali	cinco	horas
e	meia.	Por	fim,	com	a	mente	rodopiando	com	imagens	e	impressões,	deitou-se
na	estreita	cama	de	enfermaria	e	adormeceu	instantaneamente.
Levou	alguns	minutos	na	manhã	seguinte	até	que	Han	se	lembrasse
exatamente	de	quem	era	(Vykk	Draygo,	e	não	se	esqueça	disso!	)	e	o	que	estava
fazendo	naquele	lugar	tão	quente	e	grudento.	Ele	se	aventurou	no	chuveiro	e
ficou	feliz	em	ver	que	a	unidade	de	limpeza	continha	tudo	o	que	era	necessário
para	um	ser	humano.
Cantarolou	distraído	enquanto	se	ensaboava,	porém,	quando	levantou	um	pé
para	lavá-lo,	ficou	paralisado	de	surpresa	e	desgosto.	Um	troço	felpudo,
musguento	e	verde-azulado	crescia	entre	seus	dedos!
Alarmado,	Han	verificou	o	resto	do	corpo	e	encontrou	tufos	da	coisa
brotando	nos	sovacos,	na	nuca	e	outros	lugares	ainda	mais	pessoais.
Praguejando,	o	rapaz	esfregou	forte	para	se	livrar	do	fungo	nojento,	deixando
pele	esfolada	no	lugar,	e	foi	aí	que	notou	que	estava	atrasado	e	saiu	correndo	do
chuveiro.	Que	tipo	de	lugar	é	este,	afinal?
Ao	voltar	ao	dormitório,	encontrou	o	droide	médico	esperando	por	ele,	com
um	novo	uniforme	de	piloto	pendurado	no	braço.	Segurava	um	pote	de	gosma
cinzenta	na	outra	mão.
–	Com	licença,	senhor	–	disse	o	droide.	–	Poderia	lhe	perguntar	se	o	senhor
está	sofrendo	alguma...	erupção	de	fungos	na	pele?
–	Estou	–	rosnou	Han.	–	O	clima	neste	lugar	é	infernal.	Ninguém	merece
viver	neste	lamaçal.
–	Entendo	muito	bem,	senhor	–	respondeu	o	droide,	soando	genuinamente
solidário.	–	Poderia	lhe	oferecer	o	conteúdo	deste	pote?	Vai	prevenir	infecções
fúngicas	com	aplicação	regular.
–	Obrigado	–	respondeu	Han,	e	se	retirou	para	tratar	as	áreas	afetadas.	O
troço	fedia	muito,	mas	aliviou	a	irritação.	Por	fim,	vestiu	o	traje,	admirando-se
em	seu	primeiro	uniforme	de	piloto	de	verdade.	Os	distintivos	coloridos	eram
muito	bacanas.
Han	se	recusou	a	se	preocupar	com	os	peregrinos	que	tinha	visto	na	véspera.
Ninguém	tinha	obrigado	os	idiotas	de	mente	fraca	a	vir	ali,	então	ele	não
perderia	mais	tempo	imaginando	o	destino	deles.	Ia	tomar	conta	de	Han	Solo,
ou,	mais	precisamente,	de	Vykk	Draygo	.
Além	disso	,	disse	Han	a	si	mesmo,	eu	vou	pilotar	para	esses	Ylesianos.	Terei
acesso	a	uma	nave.	Se	eu	decidir	que	não	gosto	mais	daqui,	posso	simplesmente
pegar	meus	créditos	e...	sumir.	O	que	eles	podem	fazer	para	me	deter,	afinal?
Sentindo-se	por	cima,	Han	sorriu	para	o	reflexo	no	espelho	e	bateu	uma
continência	elegante	para	si	mesmo.
–	Cadete	Han	Solo	se	apresentando	para	o	serviço,	senhor!	–	sussurrou,
experimentando	a	frase.	Seu	sonho	da	Academia	nunca	parecera	tão	próximo,
tão	atingível.
Quando	Han	saiu	da	enfermaria,	a	primeira	pessoa	que	viu	foi	Teroenza.	Deu
um	aceno	de	cabeça	agradável	ao	patrão.
–	Bom	dia,	senhor!
O	sumo	sacerdote	inclinou	a	imensa	cabeça.
–	E	para	você	também,	piloto	Draygo.	Permita-me	apresentar-lhe	alguém
com	quem	você	passará	muito	tempo	enquanto	estiver	trabalhando	conosco.	–	O
sumo	sacerdote	chamou	com	um	aceno,	e	Han	ouviu	uma	pessoa	atrás	de	si.
Girou	e	não	conseguiu	evitar	dar	um	rápido	passo	para	trás.
A	primeira	impressão	foi	de	altura,	a	segunda	foi	de	dentes	afiados	e	garras
como	facas.	Este	ser	tinha	quase	3	metros,	mais	alto	até	que	um	Wookiee.	A
criatura	tinha	a	boca	cheia	de	presas	como	agulhas	e	garras	que	pareciam	ser
capazes	de	rasgar	hiperaço.	Era	peludo,	mas	vestia	um	par	de	calças	curtas.
Tinha	uma	faca	curva	presa	no	cinto	e	uma	pistola	de	raios	num	coldre	atado	à
perna.	Músculos	ágeis	eram	visíveis	por	toda	parte.
O	recém-chegado	sorriu,	mostrando	ainda	mais	aqueles	dentões.
–	Ssaudaçõess...	–	disse	ele,	falando	língua	básica	com	um	forte	cecear.
–	Este	é	Muuurgh	–	apresentou-o	Teroenza.	–	Ele	é	um	Togoriano,	uma	das
espécies	sencientes	mais	honradas	nesta	galáxia.	A	reputação	togoriana	de
honestidade	e	lealdade	não	tem	paralelo,	você	sabia?
Han	contemplou	o	imenso	ser	e	engoliu	seco.
–	Hum,	não...	–	conseguiu	dizer.
–	Nós	designamos	Muuurgh	como	o	seu...	guarda-costas,	piloto	Draygo.
Neste	planeta	ou	fora,	Muuurgh	o	acompanhará	por	todos	os	lados...	não	é
mesmo,	Muuurgh?
–	Muuurgh	deu	palavra	de	honra	–	afirmou	o	Togoriano.O	sumo	sacerdote	cruzou	os	bracinhos	diminutos	diante	do	imenso	corpo,	e
sua	boca	se	curvou	naquele	que	parecia	ser	um	sorriso	zombeteiro.
–	Muuurgh	vai	garantir	com	muita	certeza,	piloto	Draygo,	não	importando
onde	você	estiver,	ou	o	que	faça...	que	você	estará...	seguro.
Han	encarou	a	enorme	criatura	de	pelagem	negra,	percebendo	que	seus
planos	tinham	sido	definitivamente	frustrados.	O	recado	de	Teroenza	era
inconfundível:	saia	da	linha,	e	Muuurgh	vai	rasgar	você	em	dois.	Han	espiou	o
Togoriano.
–	Prazer	em	conhecê-lo,	Muuurgh	–	disse	ele.	–	Vai	ser	bom	ter	companhia
de	verdade	durante	os	longos	voos.
–	Ssim...	–	concordou	o	guarda-costas,	se	aproximando.	Han	percebeu
consternado	que	o	topo	de	sua	cabeça	mal	alcançava	o	peito	do	Togoriano.	O
alienígena	parecia	tão	felino	que	Han	ficou	surpreso	que	não	tivesse	uma	cauda.
–	Muuurgh	gosta	de	viagem	espacial...	–	afirmou	o	guarda-costas	em	língua
básica	com	forte	sotaque	e	ceceio.	O	pelo	do	rosto	era	negro,	mas	as	suíças	e
pelagem	do	peito	eram	brancos.	Os	olhos	eram	de	um	azul-claro	espantoso,	com
pupilas	verticais	num	verde	brilhante.	–	Muuurgh	vai	muitoss	espaçoportos,
quanto	maiss,	melhor.
Han	tinha	um	pouco	de	dificuldade	para	entender	a	língua	básica	do
Togoriano,	mas	dava	para	se	virar.	O	rapaz	corelliano	se	perguntou	quão
inteligente	aquele	ser	era.	Tenho	que	conhecê-lo	bem	,	decidiu	Han.	Só	porque
ele	não	fala	língua	básica	muito	bem,	não	quer	dizer	que	ele	seja	burro.	Só	que,
se	ele	for...
Han	sorriu.
–	Decidimos	lhe	dar	um	dia	para	se	acomodar,	piloto	Draygo	–	disse
Teroenza.	–	Mude-se	para	o	alojamento	que	lhe	foi	designado,	no	prédio	da
administração.	Muuurgh	vai	lhe	mostrar	onde	é.	Então,	amanhã,	você	começa	a
transportar	carga	e	passageiros	entre	as	colônias.	Quando	o	próximo
carregamento	de	especiaria	for	entregue	à	nossa	estação	espacial,	você	estará
pronto	para	buscá-lo.	Depois	de	hoje,	vou	dar	uma	folga	ao	nosso	outro	piloto,
Jalus	Nebl.	Ele	anda	trabalhando	demais.
Han	concordou	com	um	aceno	de	cabeça.	Tenho	que	falar	com	esse
Sullustano	e	comparar	impressões.
–	Por	mim,	tudo	bem.	Será	que	eu	poderia...	dar	uma	olhada	por	aí?	Gostaria
de	conferir	a	disposição	do	terreno.
Teroenza	inclinou	a	imensa	cabeça.
–	Certamente,	desde	que	Muuurgh	o	acompanhe,	e	você	siga	todos	os
regulamentos	de	segurança	ao	visitar	as	fábricas.
–	Com	certeza	–	concordou	Han.
Teroenza	se	curvou	de	leve.
–	Se	você	me	dá	licença,	estamos	esperando	a	chegada	de	uma	remessa	de
peregrinos	vindos	da	nossa	estação	orbital	agora	de	manhã.	Tenho	muito	o	que
fazer	enquanto	me	preparo	para	recebê-los.
Han	fez	que	sim	com	a	cabeça,	pensando	em	tudo	que	aguardava	esses
peregrinos.	Ele	sabia	que	extrair	especiaria	era	considerado	perigoso	e	um
trabalho	extremamente	desagradável	–	de	fato,	ser	mandado	às	minas	de
especiarias	de	Kessel	era	uma	punição	comum	para	criminosos	–,	só	que	ele	não
sabia	quase	nada	sobre	o	que	acontecia	à	especiaria	depois	que	era	minerada.
Bem,	ele	pretendia	descobrir.	Talvez	houvesse	algum	jeito	de	tornar	aquela
situação	ainda	mais	vantajosa	para	ele.	Não	dava	para	saber	o	que	iria
encontrar...	e	nunca	era	bom	deixar	perguntas	sem	respostas.	Na	experiência	de
Han	Solo,	o	conhecimento	geralmente	levava	ao	poder;	ou,	pelo	menos,	a	uma
fuga	mais	rápida...
Muuurgh	levou	Han	por	uma	trilha	pavimentada	pela	selva,	até	que
alcançaram	um	grande	prédio	muito	moderno.
–	Centro	administrativo	–	disse	o	Togoriano,	apontando	o	prédio.
O	“guarda-costas”	então	guiou	Han	a	uma	entrada	lateral,	depois	por	um
corredor	até	que	alcançaram	uma	porta.
–	Você,	Muuurgh,	dormem	aqui	–	anunciou	ele,	abrindo	a	porta.
Dentro	havia	uma	pequena	suíte	composta	de	quarto,	unidade	de	limpeza	e
uma	saleta	de	estar.	Han	ficou	feliz	ao	notar	que	Teroenza	tinha	prestado	atenção
aos	termos	do	contrato.	Num	dos	cantos	do	quarto	havia	uma	unidade	de
simulação	completamente	equipada.	Muuurgh	foi	até	a	porta	do	quarto	e	acenou
com	a	mão	cheia	de	garras.
–	Seu.	Piloto	dorme	aqui.
–	Mas	e	você,	onde	vai	dormir?	–	indagou	Han.
Como	esperado,	Muuurgh	indicou	a	saleta	de	estar.
–	Muuurgh	aqui.
Ótimo,	pensou	Han.	Esses	sacerdotes	não	confiam	em	mim	do	mesmo	jeito
que	eu	não	confio	neles.	Com	Muuurgh	dormindo	entre	eu	e	a	porta	para	o	resto
do	mundo,	seria	um	risco	muito	grande	tentar	me	esgueirar	à	noite.
Maravilhoso.
–	Isso	não	me	parece	muito	confortável	–	comentou	Han,	fazendo	sua	melhor
imitação	de	doce	inocência.	Por	dentro,	estava	se	perguntando	se	Muuurgh	teria
sono	pesado.	–	Talvez	você	devesse	ter	um	quarto	próprio,	para	que	possa	dormir
confortavelmente.
–	Muuurgh	mais	confortável	quando	está	mantendo	palavra	de	honra	–
retrucou	o	Togoriano.	Han	encarou	o	ser	felino.	Será	que	tinha	visto	um	clarão
de	humor	naqueles	olhos	verdes-azuis	com	suas	pupilas	verticais?	–	Muuurgh
deu	palavra	de	honra	de	vigiar	Piloto	sempre,	então	Muuurgh	mais	confortável
aqui	.
Han	concordou	com	um	aceno	de	cabeça.
–	Certo.
Espiou	por	um	momento	a	pistola	de	raios	no	coldre	do	Togoriano.
–	Eu	tinha	uma	pistola	quando	cheguei	aqui,	mas	não	sei	onde	ela	foi	parar	–
comentou.	–	Acho	que	preciso	perguntar	a	alguém	como	recuperar	minha	arma.
–	Piloto	não	precisa	pistola.	–	Muuurgh	flexionou	os	dedos	e	as	garras
retráteis	apareceram.	–	Sumo	sacerdote	diz	Piloto	não	precisa	pistola.
–	Mas	e	se	eu	for	atacado	por	algum	tipo	de...	predador?	–	Han	acenou	para	a
selva	onipresente	em	volta	do	prédio.	Provavelmente	havia	dúzias	de	predadores
que	curtiriam	caçar	um	forasteiro,	por	comida	ou	diversão.
O	alienígena	gigante	balançou	a	cabeça	peluda.
–	Nunca	vai	acontecer.	Piloto	tem	Muuurgh,	que	tem	pistola.
–	Hã...	é	verdade	–	admitiu	Han.	Mentalmente,	fez	uma	anotação	de	pedir
algum	tipo	de	arma	a	Teroenza.	Sentia-se	nu	sem	uma	pistola,	mesmo	que	só
tivesse	andado	com	uma	por	dois	dias.
–	Então,	Muuurgh,	vamos	explorar?	–	perguntou	Han.	–	Não	tenho	nenhuma
bagagem	para	guardar,	como	você	mesmo	pode	ver.
–	Explorar	onde?	–	indagou	o	Togoriano.
–	Eu	gostaria	de	um	tour	das	fábricas	–	disse	Han.	–	E	deste	centro
administrativo.
–	Tudo	bem	–	respondeu	o	Togoriano.	–	Vem,	Piloto.
–	Logo	atrás	de	você	–	disse	Han,	adequando	as	ações	às	palavras.
Eles	caminharam	pelos	corredores	do	centro	administrativo,	deram	uma
olhada	no	refeitório,	passearam	pela	ala	dos	guardas	e	espiaram	os	alojamentos
dos	sacerdotes.	Quando	Han	notou	a	existência	de	um	arsenal,	percebeu	que	os
sacerdotes	Ylesianos	provavelmente	temiam	uma	revolta	de	peregrinos,	pois	a
relação	de	guardas	por	peregrinos	era	bem	alta.	O	arsenal	contava	com	um
monte	de	armamento	pesado	antitumulto	–	piques	de	força	e	gás	atordoante.	Os
guardas	por	quem	eles	passaram	vinham	de	muitos	mundos	diferentes.	Além	de
humanos,	Han	viu	Rodianos,	Sullustanos,	Twi’leks	e	os	Gamorreanos	porcinos.
–	Então	deixa	eu	ver	se	eu	entendi	bem	–	comentou	ele	com	Muuurgh
enquanto	eles	contornavam	uma	área	do	centro	administrativo	identificada	por
placas	em	várias	línguas	como	sendo	de	ACESSO	RESTRITO.	–	Os	guardas	todos
quase	sempre	dormem	aqui?	Mas	por	que	eles	não	dormem	perto	dos
alojamentos	de	peregrinos	se	os	sacerdotes	estão	tão	preocupados	em	manter	os
trabalhadores	sob	controle?
–	Hora	de	dormir	não	é	problema	–	explicou	o	Togoriano	em	sua	língua
básica	precária.	–	Depois	que	peregrinos	Exultados,	mal	conseguem	voltar
andando,	vão	dormir	direto.	Única	hora	que	peregrinos	bravos,	bravos	com
chefes,	é	antes	Exultação.
Faz	sentido,	pensou	Han	sombriamente.	Sacie	a	fissura	dos	viciados,	e	então
eles	simplesmente	vão	dormir	até	o	dia	seguinte.
–	Então	as	patrulhas	de	guar...
O	piloto	se	interrompeu	no	meio	da	palavra	ao	ver	de	relance	alguma	coisa
grande	e	cinzenta	deslizando	bem	longe	no	corredor	da	área	restrita.	Han
estreitou	os	olhos	na	penumbra.
–	Ei...	o	que	foi	aquilo?	–	murmurou	ele.	–	Parecia	um...	–	Han	parou	de
falar	quando	a	coisa	virou	uma	esquina.	Saiu	atrás	dela	num	passo	apressado.
Muuurgh	fez	uma	tentativa	fútil	de	segurar	o	“protegido”,	mas	Han	foi	mais
rápido	que	o	grandalhão	e	se	esquivou.	Correu	pelo	corredor	“proibido”,prestando	muita	atenção	em	possíveis	sons	de	passos,	mas	não	ouviu	nada.
Quando	alcançou	a	intercessão	entre	os	corredores,	Han	se	virou	para	olhar
aquele	onde	tinha	vislumbrado	movimento.	Arregalou	os	olhos.
Ei,	é	um	Hutt!	O	que	um	Hutt	está	fazendo	aqui?	Não	havia	como	confundir
a	identidade	daquele	vulto	enorme	de	lesma	que	se	reclinava	no	trenó	repulsor.
No	que	ele	hesitou,	Muuurgh	pulou	em	cima	de	Han,	como	se	este	fosse	um
vrelt,	e	pegou	o	corelliano.	Han	sufocou	um	ganido	de	consternação	quando	o
Togoriano	o	meteu	debaixo	de	um	dos	braços	musculosos	e	correu	de	volta	pelo
corredor,	até	que	estavam	de	volta	à	seção	de	ACESSO	IRRESTRITO	do	prédio.
Muuurgh	colocou	Han	de	volta	no	chão	e	flexionou	uma	das	mãos	debaixo
do	nariz	do	corelliano.
–	Meu	povo	ensina,	todo	mundo	tem	direito	a	um	erro	–	disse	o	guarda-
costas.	–	Piloto	acabou	de	ter	o	seu.	Agora	os	erros	acabaram,	ou	Muuurgh	terá
que	ensinar	Piloto	como	filhotinho.	Muuurgh	deu	palavra	de	honra,	lembra.
Entendido?
Han	espiou	as	garras	que	reluziam	debaixo	do	seu	nariz,	afiadas	e	brilhantes
como	navalhas.
–	Hum...	sim	–	ele	conseguiu	dizer.	–	Entendo,	Muuurgh.	É	só	que	nós
humanos	ficamos...	curiosos,	sabe?
–	Curiosidade	fatal	às	vezes	–	rosnou	Muuurgh.
–	Eu	entendo	seu	ponto...	de	vista	–	Han	disse	secamente.	–	Ou	melhor,	suas
pontas	.
Muuurgh	contemplou	as	pontas	aguçadas	e	brilhantes	das	garras,	depois
retraiu	o	focinho,	arreganhando	as	presas,	e	por	fim	soltou	um	miado	baixo.	Por
um	momento,	Han	ficou	paralisado,	depois	olhou	para	o	Togoriano	e	percebeu
que	aquela	era	a	risada	do	alienígena.	Evidentemente,	Muuurgh	havia	pescado	a
piada.
Han	conseguiu	dar	uma	risadinha	fraca.
–	Então,	que	tal	a	gente	descolar	um	rango,	depois	dar	uma	olhada	naquelas
fábricas,	hein,	meu	chapa?	–	indagou	ele.
–	Muuurgh	sempre	com	fome	–	concordou	o	Togoriano,	saindo	em	direção
ao	refeitório.	–	Que	quer	dizer	essa	palavra	“chapa”?
–	Ah,	um	chapa	é	um	amigo,	um	camarada,	sabe.	Alguém	com	quem	você
gosta	de	passar	o	tempo	–	explicou	Han.
–	Sssim...	–	disse	o	Togoriano,	concordando	com	a	cabeça.	–	Piloto	quer
dizer	“membro	da	alcateia”.
–	Certo.
–	Ótimo	–	concluiu	o	guarda-costas.	–	Muuurgh	sente	saudades	dos	membros
da	alcateia	dele.
Han	lembrou	que	Teroenza	tinha	dito	que	seu	povo	vinha	de	Nal	Hutta,	o
planeta	natal	dos	Hutts,	mas	não	tinha	percebido	naquele	momento	que	isso
significava	que	havia	Hutts	vivendo	em	Ylesia.	Quando	questionado,	Muuurgh
confirmou	que	tinha	visto	vários	dos	“mestres-lesmas	que	se	movem	no	ar”,
como	ele	os	chamava.
Existe	apenas	um	motivo	para	que	os	Hutts	estejam	aqui,	pensou	Han.	Eles
são	os	verdadeiros	mestres	de	Ylesia.	Afinal,	eles	dominam	o	negócio	de
contrabando	de	especiarias...
O	almoço	estava	bom,	mesmo	que	nada	imaginativo	e	(para	o	gosto	de	Han)
um	tanto	insosso.	Ainda	assim,	o	ser	responsável	pela	cozinha	não	era	nenhum
amador.	O	pão	ázimo	era	muito	bom,	pensou	Han	enquanto	mastigava	um
pedaço	de	pão	alderaaniano.	Percebeu	de	súbito,	com	uma	pontada	de	dor,	que	já
fazia	quase	um	dia	que	não	pensava	em	Dewlanna.	Isso	o	fez	se	sentir
vagamente	desleal,	mas	então	ele	recuperou	o	autocontrole.	Dewlanna	não	ia
querer	que	Han	ficasse	todo	choroso	e	deprimido	por	causa	dela.	Sempre	tinha
curtido	a	vida	e	não	esperaria	que	Han	agisse	de	forma	diferente	só	porque	ela	se
fora...
Han	voltou	de	seu	devaneio	e	se	deparou	com	Muuurgh	o	observando	com
curiosidade.
–	Piloto	está	pensando	em	alguém	distante	–	comentou	o	Togoriano,
acenando	com	o	osso	que	tinha	acabado	de	roer.	Ainda	havia	alguns	pequenos
fragmentos	de	carne,	mas	Muuurgh	tinha	feito	um	trabalho	impressionante,
pensou	Han.	Tinha	que	aproveitar	cada	pedacinho,	pois	era	necessária	muita
carne	crua	para	sustentar	aquele	corpo	imenso.
–	É	verdade	–	concordou	Han	com	um	suspiro.	–	Alguém	tão	distante	quanto
se	poderia	estar.
–	Piloto	tem	namoradinha?
Han	balançou	a	cabeça.
–	Bem,	houve	algumas	garotas	aqui	e	ali	–	admitiu	–,	mas	ninguém	especial.
Não,	estava	pensando	na	pessoa	que	mais	ou	menos	me	criou.
Muuurgh	tomou	um	longo	gole	de	alguma	bebida	espumante	numa	caneca.
–	Humanos	criam	filhotes	muito	diferente	do	jeito	do	meu	povo	–	afirmou.
–	É	mesmo?	Me	conte	sobre	seu	mundo.
Muuurgh,	obediente,	se	lançou	numa	descrição	de	Togoria,	um	mundo	onde
machos	e	fêmeas	eram	iguais	em	direitos,	mas	não	misturavam	suas	sociedades.
Machos	viviam	uma	existência	de	caçadores	nômades,	sobrevoando	as	planícies
em	seus	enormes	répteis	alados	de	estimação,	chamados	mosgoths.	Caçavam	em
alcateias.
As	fêmeas,	por	outro	lado,	tinham	domesticado	criaturas	que	abatiam	pela
carne,	então	não	precisavam	caçar.	Viviam	em	cidades	e	vilas,	e	foram	as	fêmeas
Togorianas	que	desenvolveram	toda	a	tecnologia	do	planeta.
–	Bem,	se	o	seu	povo	não	vive	junto,	como	vocês...	–	Han	buscou	um	termo
educado	–	hum,	se	reúnem,	você	sabe,	para...	hum...	se	reproduzir?
–	Viajamos	para	cidade	para	ficar	com	parceira	uma	vez	por	ano	–	disse
Muuurgh.	–	Entretempos,	pensamos	muito	um	no	outro.	Togorianos	povo	muito
emocional,	capaz	de	grande	amor	–	acrescentou	com	sinceridade.	–
Especialmente	machos.	Grande	amor	é	motivo	de	Muuurgh	estar	aqui.	Macho	da
minha	espécie	raramente	sai	de	nosso	mundo,	Piloto	sabe	disso?
–	Agora	sei	–	disse	Han.	–	Então...	Muuurgh...	quando	você	diz	que	grande
amor	fez	você	vir	a	Ylesia,	o	que	quis	dizer	com	isso?	Você	tem	uma	parceira?
O	Togoriano	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	Parceira	prometida.	Algum	dia	parceiros	por	vida	toda,	se	Muuurgh
conseguir	encontrar	ela.	–	O	imenso	alienígena	suspirou,	parecendo	tão	infeliz
que	Han	sentiu	pena	dele.
–	Qual	é	o	nome	dela?
–	Mrrov.	Bela,	bela	Mrrov.	Como	normal	para	fêmeas	Togorianas,	ela
decidiu	ver	grande	galáxia.	Muuurgh	implorou	para	ela	não	ir,	mas	fêmeas	muito
teimosas.
O	alienígena	olhou	para	Han,	que	concordou	com	um	aceno	de	cabeça.
–	É,	eu	também	já	passei	por	isso.
–	Mrrov	longe	muito	tempo,	anos.	Quando	ela	não	voltou	para	casa	para
união,	Muuurgh	tão	triste	que	não	pôde	ficar	em	Togoria.	Precisa	descobrir	o	que
aconteceu	com	ela.
–	Então...	você	descobriu?	–	Han	tomou	um	gole	da	cerveja	polaniana.
–	Muuurgh	rastreia	ela.	Alguém	em	Ord	Matell	diz	que	viu	ela	embarcar
nave	em	espaçoporto.	Muuurgh	confere	horários,	descobre	que	nave	tem	muitos
peregrinos.	Vários	portos	de	parada	para	nave.	Muuurgh	arrisca	chance,	vem
para	cá	porque	tantos	peregrinos	vêm	para	cá.	–	O	grande	felinoide	suspirou
forte	e	mordiscou	um	osso	cheio	de	carne.	–	Chance	não	boa.	Muuurgh	pergunta,
sacerdotes	diz	nenhum	Togoriano	aqui.	Muuurgh	não	sabe	mais	onde	ir.
Muuurgh	precisa	créditos	para	continuar	procurando...	–	O	alienígena	engoliu
uma	última	mordida,	e	seus	bigodes	se	inclinaram	para	baixo.
–	E	aí	você	decidiu	aceitar	um	emprego	como	guarda	aqui,	enquanto	junta
dinheiro	suficiente	para	seguir	com	sua	busca	–	disse	Han,	deduzindo	a
conclusão	lógica	da	história.
–	Sssim...
Han	balançou	a	cabeça.
–	Isso	é	muito	triste,	meu	chapa.	Espero	que	você	encontre	ela,	de	verdade.	É
difícil	perder	alguém	que	você	ama.
O	guarda-costas	concordou	com	a	cabeça.
Depois	do	almoço,	os	dois	desceram	até	as	fábricas	e	passearam	em	volta	dos
grandes	prédios.	Han	farejou	o	ar,	sentindo	o	cheiro	misturado	das	diferentes
especiarias.	O	nariz	dele	formigou	um	pouco,	e	ele	se	perguntou	se	bastaria
sentir	o	odor	da	especiaria	para	ficar	intoxicado.	Acenou	para	o	prédio	de
brilhestim.
–	Vamos	entrar.	Ouvi	falar	sobre	como	eles	processam	esta	especiaria	e
queria	ver	em	pessoa.
Quando	eles	entraram	no	prédio	cavernoso,	um	guarda	os	deteve	e	falou	com
Muuurgh,	que	explicou	quem	era	Han.	O	Rodiano	de	guarda	lhes	entregou
crachás	e	óculos	infravermelhos,	depois	acenou	para	que	entrassem.
–	Óculos?	–	indagou	Han	em	rodiano.	Entendia	a	linguagem	perfeitamente,
mas	sua	pronúncia	era	um	pouco	penosa.	–	Nós	temos	que	usá-los?
Os	olhos	roxos	do	guarda	faiscaram	ao	ouvir	um	humano	falando	sua	língua.
–	Sim,	piloto	Draygo	–	respondeu.	–	Abaixo	do	térreo	não	há	nenhuma	luz
visível.	Você	desce	no	turboelevador.	Cada	andar	para	baixo	representa	umamelhoria	de	um	grau	na	qualidade	da	especiaria.	As	fibras	melhores	e	mais
longas	são	processadas	bem	no	subterrâneo,	para	eliminar	qualquer	possibilidade
de	serem	estragadas	pela	luz.
–	Certo	–	disse	Han,	chamando	Muuurgh.	Os	dois	andaram	entre	prateleiras
de	suprimentos	até	alcançar	a	plataforma	do	turboelevador	no	centro	da
instalação.	–	Vamos	até	o	nível	mais	fundo	e	ver	o	bagulho	realmente	bom	–
sugeriu	ao	Togoriano.	Para	si	mesmo,	Han	se	perguntava	se	conseguiria
surrupiar	alguns	daqueles	frasquinhos	negros.	Vender	um	pouco	de	brilhestim
paralelamente	numa	cidade	portuária	engordaria	rapidamente	sua	reserva	de
créditos...
Han	apertou	o	botão	do	andar	mais	baixo,	e	a	plataforma,	balançando	um
pouco,	começou	a	descer.
Ar	fresco	subia	das	profundezas	enquanto	o	turboelevador	se	deslocava	nas
trevas	absolutas.	A	corrente	de	ar	era	deliciosa	depois	do	calor	úmido	da	selva
ylesiana.
Depois	de	um	andar,	toda	luz	se	foi.	Han	remexeu	nos	óculos	e	os	colocou
sobre	os	olhos.	Imediatamente	voltou	a	ver,	apesar	de	tudo	estar	em	tons	de	preto
e	branco.	A	iluminação	vinha	de	pontos	embutidos	nas	paredes.	O	turboelevador
continuou	descendo,	e	Han	viu	os	trabalhadores	curvados	sobre	suas	estações	de
trabalho.	Havia	pilhas	de	filamentos	crus	cravejados	de	minúsculos	cristais
diante	de	cada	um	deles.
Finalmente,	depois	de	seis	andares,	o	turboelevador	parou.	Han	e	Muuurgh
saltaram.
–	Você	já	esteve	aqui	antes?	–	perguntou	ao	guarda-costas	em	voz	baixa.	O
pelo	do	cangote	de	Muuurgh	estava	arrepiado,	e	os	bigodes	brancos	se	eriçavam
abaixo	dos	óculos.
–	Não...	–	sussurrou	de	volta	o	Togoriano.	–	Meu	povo	vive	em	planícies.
Não	gosta	cavernas.	Não	gosta	escuro.	Muuurgh	vai	ficar	feliz	quando	Piloto
quer	sair	deste	lugar.	Só	palavra	de	honra	de	Muuurgh	segura	ele	aqui	no	escuro
maldito.
–	Calma	–	respondeu	Han.	–	Não	vamos	ficar	aqui	tanto	tempo.	Só	quero	dar
uma	olhada.
Ele	saiu	na	frente	fábrica	adentro.	A	área	cavernosa	estava	cheia	de	um
farfalhar	suave,	mas	não	havia	nenhum	outro	ruído.	Longas	mesas	estavam
encostadas	ao	longo	das	paredes	e	distribuídas	em	colunas	nos	corredores.	Cada
mesa	era	uma	estação	de	trabalho,	e	um	trabalhador	ficava	sentado	ou	acocorado
diante	dela,	de	acordo	com	sua	anatomia	individual.	Havia	muitos	humanos,	Han
percebeu,	sentados	em	altos	bancos	e	encurvados	sobre	o	trabalho.
Poucos	ergueram	o	olhar	quando	Han	e	Muuurgh	foram	até	a	supervisora	do
andar,	uma	peluda	Devaroniana,	e	se	identificaram.	A	supervisora	indicou	o
andar	com	um	gesto	da	mão	vermelha	com	unhas	afiadas.
–	Meus	trabalhadores	são	os	mais	habilidosos	–	declarou	ela,	orgulhosa.	–	É
preciso	muita	perícia	para	medir	e	cortar	o	número	certo	de	filamentos	fibrosos
para	que	cada	dose	contenha	a	quantidade	certa	de	especiaria.	É	essencial,	e
muito	difícil,	alinhar	as	fibras	tão	precisamente	de	forma	que	sejam	ativadas	ao
mesmo	tempo	quando	expostas	à	luz	visível.
–	Essa	substância	é	um	mineral?	–	perguntou	Han.	–	Sei	que	é	minerada.
–	Ocorre	naturalmente,	mas	não	sabemos	como	é	formada,	Piloto.
Acreditamos	que	tenha	uma	origem	biológica,	mas	não	temos	certeza.	É
encontrada	bem	nas	profundezas	dos	túneis	em	Kessel	e	precisa	ser	extraída	em
escuridão	absoluta,	tal	qual	você	vê	aqui.
–	E	os	filamentos	precisam	ser	colocados	nesses	recipientes	do	jeito	certo.
–	Isso	mesmo.	O	alinhamento	incorreto	pode	fazer	os	pequenos	cristais	se
fraturarem	uns	contra	os	outros.	Se	isso	acontecer,	eles	moem	uns	aos	outros
num	pó	muito	menos	potente	e	valioso.	Um	trabalhador	habilidoso	leva	uma
hora	para	alinhar	adequadamente	só	um	ou	dois	cilindros	de	brilhestim.
–	Faz	sentido	–	disse	Han,	fascinado.	–	Você	se	importaria	se	eu	desse	uma
olhada	por	aí?	Prometo	que	não	vou	mexer	em	nada.
–	Pode	dar	uma	volta,	sim.	Porém,	por	favor,	evite	distrair	os	trabalhadores
enquanto	eles	estiverem	alinhando	a	especiaria.	Um	giro	acidental,	como	eu
disse,	poderia	arruinar	um	filamento	inteiro.
–	Entendi	–	disse	Han.
Os	filamentos	de	brilhestim	cru	eram	todos	negros,	mas	Han	tinha	ouvido
falar	que	brilhariam	azuis	quando	ativados	com	luz	visível.	Han	parou	atrás	de
um	dos	trabalhadores	humanos	e	assistiu	com	fascinação	enquanto	ele	separava
os	filamentos	de	especiaria	cor	de	ébano,	alinhando-os	com	cuidado	absoluto.	Os
filamentos	se	enrolavam	nos	dedos	do	trabalhador,	alguns	deles	tão	delicados
quanto	seda,	mas	os	pequenos	cristais	os	deixavam	muito	afiados.
O	trabalhador	posicionou	um	grupo	de	filamentos	incrivelmente
emaranhados	nas	mandíbulas	de	um	pequeno	torno,	depois	passou	a	separá-los
meticulosamente,	até	que	as	estruturas	cristalinas	ficaram	alinhadas.	Os	dedos	do
trabalhador	se	moviam	quase	rápido	demais	para	se	ver,	e	Han	percebeu	que
estava	assistindo	a	um	artesão...	não,	artesã	,	incrivelmente	habilidosa.	Ele	ficou
espantado	que	os	peregrinos	conseguissem	realizar	alguma	coisa	que	exigisse
tanta	destreza	assim.	Depois	de	vê-los	na	noite	passada,	depois	da	“Exultação”,
tinha	mais	ou	menos	presumido	que	se	tratava	de	cretinos	mentalmente
limitados.	Certamente	pareciam	sê-lo...
A	operária	de	brilhestim	pegou	um	minúsculo	alicate	para	desembaraçar	um
emaranhado	particularmente	ruim.	Ela	enfiou	as	pontas	finas	da	ferramenta	no
meio	da	maçaroca,	espiando	intensamente	para	localizar	o	ponto	em	que	os
pequenos	cristais	se	prenderam	uns	nos	outros.	O	brilhestim	fibroso	se	enrolava
nas	mãos	dela	como	pequenos	tentáculos	vivos,	com	cristais	cintilantes.	A	artesã
de	repente	trouxe	a	mão	para	trás,	puxando,	e	num	instante	o	emaranhado	se
endireitou	até	que	todas	as	fibras	se	alinharam	perfeitamente.
Exceto	uma.
Han	observou	angustiado	quando	um	filamento	cravejado	de	cristais	afiados
cortou	a	carne	entre	o	indicador	e	o	polegar	da	mulher.	Uma	linha	fina	de	sangue
emergiu	do	corte	profundo.	Han	prendeu	a	respiração.	Mais	alguns	milímetros	de
profundidade,	e	o	tendão	do	polegar	teria	sido	rompido.	Ela	sibilou	de	dor,
murmurou	alguma	coisa	em	língua	básica	e,	soltando	a	mão,	ergueu-a	para	parar
o	sangramento.	Han	ficou	paralisado	ao	ouvir	o	sotaque.	Essa	peregrina	era
corelliana!
Ele	nem	tinha	olhado	para	ela	antes,	escondida	como	estava	pelo	manto	bege
sem	forma,	com	o	chapéu	bem	puxado	sobre	a	cabeça	e	os	óculos.	Só	que	agora
o	rapaz	notou	que	ela	era	jovem,	não	velha.	A	mulher	fez	uma	careta	de	leve	ao
examinar	o	corte.	Virou	a	mão,	girou	no	banco	e	apoiou	a	mão	sobre	o	piso,	para
que	o	sangue	não	pingasse	na	mesa	de	trabalho.
Han	sabia	que	não	deveria	falar	com	a	peregrina,	mas	ela	não	estava
trabalhando	no	momento,	e	ele	estava	preocupado.	Ela	sangrava	profusamente.
–	Você	está	ferida	–	afirmou	ele.	–	Deixe-me	chamar	a	supervisora	para	que
ela	possa	ajudar	você.
A	garota	(que	tinha	a	idade	dele,	talvez	menos)	levou	um	leve	susto,	depois	o
encarou.	Seu	rosto	era	um	borrão	branco	esverdeado	sob	os	óculos	e	o	chapéu,	e
parecia	mortalmente	pálida	sob	a	luz	infravermelha.	Não	é	de	se	estranhar,
pensou	Han,	trancafiada	aqui	embaixo	o	dia	inteiro,	sem	exposição	à	luz	do	sol.
–	Não,	por	favor,	não	–	respondeu	ela,	falando	língua	básica	com	um	sotaque
suave	que	a	marcava	como	sendo	do	continente	meridional	de	Corellia.	–	Se	ela
me	mandar	para	a	enfermaria,	eu	vou	perder	a	Exultação.	–	A	moça	estremeceu
com	o	pensamento,	ou	talvez	de	frio.	O	próprio	Han	tinha	começado	a	se	sentir
meio	friorento,	e	não	estava	lá	embaixo	há	horas.	Como	aqueles	peregrinos
aguentavam	trabalhar	ali	embaixo	na	escuridão	gélida	o	dia	todo?
–	Mas	esse	corte	está	com	uma	cara	horrível	–	protestou	Han.
A	peregrina	deu	de	ombros.
–	Já	está	parando	de	sangrar.
Han	percebeu	que	era	verdade.
–	Mas	e	quanto	a...
Ela	balançou	a	cabeça,	interrompendo	o	rapaz	no	meio	da	frase.
–	Agradeço	sua	preocupação,	mas	não	foi	nada.	Acontece	toda	hora.	–	Com
um	sorriso	irônico,	ela	estendeu	as	mãos.	Os	dedos,	pulsos	e	antebraços	estavam
completamente	riscados	com	pequenos	cortes.	Alguns	eram	antigos,	brancos	e	já
tinham	sarado,	mas	muitos	estavam	roxos,	ainda	recentes	e	dolorosos.
Han	viu	pequenos	pontos	fosforescentes	entre	os	dedos	dela	e	percebeu	que
deveriam	ser	ofungo	que	ele	tinha	descoberto	em	si	mesmo	aquela	manhã.
Enquanto	ele	observava,	um	filete	luminescente	se	estendeu	de	repente,
crescendo	na	direção	do	corte	entre	os	dedos.	Ela	exclamou	baixinho	e	arrancou
a	coisa.
–	O	fungo	adora	sangue	fresco	–	comentou	ela,	evidentemente	notando	o
nojo	dele.	–	Pode	infeccionar	um	corte	e	deixar	você	doente	muito	fácil.
–	Coisa	asquerosa	–	disse	ele.	–	Tem	certeza	que	não	precisa	cuidar	disso?
Ela	balançou	a	cabeça.
–	Como	você	pode	ver,	acontece	o	tempo	todo.	Com	licença,	mas...	você	é
corelliano,	não	é?
–	Que	nem	você	–	respondeu	Han.	–	Eu	sou	Vykk	Draygo,	o	novo	piloto.	E
você	é?
A	moça	apertou	os	lábios.
–	Eu...	não	deveria	estar	conversando.	Melhor	voltar	ao	trabalho.
Muuurgh,	que	tinha	ficado	observando	em	silêncio,	falou	de	repente:
–	Trabalhadora	certa.	Piloto	tem	que	deixar	trabalhadora	voltar	a	trabalho
agora.
–	Certo,	meu	chapa,	entendi	–	respondeu	Han	ao	Togoriano,	mas	depois
acrescentou	para	a	corelliana:	–	Talvez	a	gente	possa	conversar	outra	hora.	No
jantar,	talvez.
Ela	balançou	a	cabeça	silenciosamente	e	voltou	ao	trabalho.
Muuurgh	sinalizou	para	que	Han	seguisse	adiante.
O	rapaz	deu	um	passo,	mas	continuou	falando.
–	Certo,	mas...	nunca	se	sabe.	A	gente	com	certeza	vai	se	esbarrar	de	novo,
este	lugar	não	é	tão	grande	assim.	Então...	qual	é	o	seu	nome?
Ela	balançou	a	cabeça	de	novo,	sem	falar.	Muuurgh	soltou	um	rosnado
gutural	bem	grave,	mas	Han	continuou	ali,	teimoso.
A	mulher	parecia	perturbada	pela	ameaça	implícita	de	Muuurgh.	Enquanto
amarrava	uma	bandagem	no	corte,	respondeu:
–	Abandonamos	nossos	nomes	quando	desistimos	de	todas	as	coisas
mundanas	pelo	santuário	de	Ylesia.
Han	se	sentia	cada	vez	mais	frustrado.	Ali	estava	alguém	que	conhecia	este
lugar	intimamente,	e	ela	era	a	primeira	pessoa	do	seu	mundo	natal	que	ele
descobria	neste	planeta.
–	Por	favor	–	insistiu	ele	enquanto	Muuurgh	o	empurrava	de	leve.	–	Deve	ter
algum	jeito	que	eles	usam	para	se	referir	a	você.	–	Han	abriu	seu	sorriso	mais
charmoso.	Muuurgh	rosnou	de	novo,	mais	alto,	e	mostrou	as	presas.
Os	olhos	da	mulher	se	arregalaram	com	a	exibição	de	dentes.
–	Sou	Peregrina	921	–	respondeu	ela	apressadamente.	Han	ficou	com	a
impressão	de	que	ela	falou	para	salvá-lo	da	ira	de	Muuurgh.
Muuurgh	agarrou	o	braço	de	Han	e	começou	a	se	afastar,	arrastando	o
corelliano	sem	esforço.
–	Obrigado,	Peregrina	921	–	exclamou	Han	para	ela,	acenando
animadamente,	como	se	ser	arrastado	pelo	Togoriano	fosse	uma	ocorrência
corriqueira.	–	Boa	sorte	com	essas	fibras.	A	gente	se	vê.
Ela	não	respondeu.	Quando	Muuurgh	enfim	o	soltou,	no	fim	do	corredor,
Han	seguiu	o	guarda-costas	obedientemente,	meio	que	esperando	uma	bronca	do
ser	gigante.	Mas	Muuurgh	parecia	satisfeito	que	Han	o	estivesse	obedecendo	e
retornou	ao	silêncio	atento.
Han	olhou	de	volta	e	percebeu	que	a	corelliana	estava	mais	uma	vez
concentrada	no	trabalho,	como	se	já	o	tivesse	esquecido.
Peregrina	921	,	pensou	ele.	Eu	me	pergunto	se	seria	mesmo	capaz	de
reconhecê-la...	Considerando	os	óculos,	o	chapéu	e	a	visão	prejudicada	dele,
Han	não	fazia	ideia	de	qual	seria	a	aparência	da	mulher;	sabia	apenas	que	era
jovem.
Han	perambulou	por	toda	a	instalação,	observando	vários	outros
trabalhadores	que	alinhavam	filamentos	e	cristais	para	que	ficassem
perfeitamente	simétricos.	Não	tentou	falar	com	nenhum	deles.	Finalmente,
voltou	à	supervisora	Devaroniana.
–	Então,	quando	eles	terminam	o	trabalho	aqui,	quem	é	que	coloca	os
filamentos	e	cristais	nos	frascos?	–	indagou.
–	Isso	é	feito	no	quinto	andar	–	explicou	a	supervisora.
–	Acho	que	vou	dar	um	pulo	lá	–	comentou	Han.	–	Isto	é	muito	fascinante,
sabia?
–	Certamente.
Certo,	então	eles	terminam	o	processamento	do	bagulho	realmente	bom	aqui
em	cima	,	pensou	Han	enquanto	ele	e	Muuurgh	subiam	pelas	trevas.	O	Togoriano
soltou	um	uivinho	de	protesto	quando	Han	levou	o	elevador	só	um	andar	acima.
–	Fica	frio,	Muuurgh	–	disse	ele.	–	Só	quero	dar	uma	olhadinha	rápida	por
aqui.
O	rapaz	vagueou	pelos	corredores,	tentando	descobrir	discretamente	o	lugar
onde	o	brilhestim	de	alta	qualidade	era	embalado	nos	pequenos	frascos	negros
que	qualquer	usuário	da	substância	reconheceria.	Quando	chegou	lá,	porém,	seu
estômago	gelou.	Quatro	guardas	armados	estavam	ao	lado	da	esteira
transportadora,	vigiando	os	pequenos	frascos	enquanto	os	trabalhadores	traziam
cestas	cheias	e	as	despejavam.	Han	sentiu	uma	corrente	de	ar,	percebendo	que
havia	uma	pequena	unidade	aquecedora	ali,	afastando	a	friagem,	evidentemente
para	o	conforto	dos	guardas.
Quatro	guardas?	Han	espiou	mais	atentamente	a	penumbra.	Não,	espera	um
segundo	.	Viu	um	borrão	de	movimento,	mas	não	conseguiu	discernir	nada	por
um	longo	instante.	Depois,	no	que	focalizou	os	olhos,	distinguiu	lentamente	um
negrume	oleoso	e	granulado,	mal	visível	no	meio	de	tanta	treva.	Só	que	havia
olhos	no	meio	da	escuridão,	olhinhos	vermelho-alaranjados.	Quatro	deles.	Han
estreitou	os	dele,	ficou	imóvel,	forçando	a	visão.	Então	notou	duas	pistolas,	cada
uma	atada	a	uma	perna	negra	verruguenta.
Aar’aa!	Percebeu.	Camaleões!
Os	Aar’aa	eram	uma	espécie	do	outro	lado	da	galáxia.	Habitantes	de	Aar
eram	capazes	de	mudar	de	cor	gradualmente	para	igualar-se	à	cor	do	que
houvesse	atrás	deles.	Essa	habilidade	os	deixava	muito	difíceis	de	ver,
especialmente	nas	trevas.
Han	tinha	ouvido	falar	nos	Aar’aa	antes,	mas	nunca	esbarrara	num	deles	até
agora.	Eram	criaturas	reptilianas,	o	que	explicava	por	que	aquela	seção	da
fábrica	subterrânea	era	aquecida.	Muitos	répteis	ficavam	lentos	e	abobados	no
frio.
Han	espiou	a	penumbra	e	lenta	e	gradualmente	percebeu	os	contornos	dos
dois	guardas	Aar’aa.	Tinham	uma	pele	de	textura	pedregosa,	mãos	e	pés	com
garras	e	uma	pequena	crista	de	pele	correndo	pelas	costas.	As	cabeças	eram
grandes,	com	arcadas	supraorbitárias	salientes,	sob	as	quais	os	olhos	pareciam
duplamente	pequenos.	As	caras	tinham	focinhos	curtos	e,	quando	uma	das
criaturas	abriu	a	boca,	Han	vislumbrou	uma	língua	vermelha	grudenta	e	dentes
brancos	afiados.	Uma	crista	ereta	de	pele	começava	entre	os	olhos,	subia	pelo
alto	da	cabeça	até	descer	para	a	nuca	e	se	conectava	com	a	crista	das	costas.
Apesar	da	aparência	desajeitada,	pareciam	ser	bem	ágeis.	Han	decidiu	que
não	queria	se	meter	com	eles.	Apesar	de	serem	mais	baixos	que	o	rapaz,	tinham
ombros	largos	e	certamente	eram	mais	pesados	que	ele	por	uma	vasta	margem.
Han	suspirou.	Esqueça	o	Plano	A.
Além	dos	Aar’aa,	os	outros	guardas	-–	dois	Rodianos,	um	Devaroniano	e	um
Twi’lek	–	pareciam	durões	e	obviamente	levavam	o	serviço	a	sério.	Não	eram
Gamorreanos,	então	não	havia	muita	chance	de	desnorteá-los,	confundi-los,
distraí-los	ou,	de	alguma	forma,	enrolar	algum	deles	para	lhe	entregar	uma
fortuna	em	especiaria.	Han	fez	uma	careta	e	partiu	com	Muuurgh	de	volta	ao
turboelevador.	E	não	há	Plano	B,	pensou	ele	soturno.	Acho	que	terei	que	faturar
meus	créditos	do	jeito	honesto.
Nem	ocorreu	ao	rapaz	que	transportar	especiaria	pela	galáxia	já	seria,	em	si,
altamente	ilegal.
A	Peregrina	921	mordiscou	um	bolo	de	grãos	amanhecido	e	tentou	esquecer
o	jovem	corelliano	que	tinha	visto	mais	cedo.	Ela	era	uma	peregrina,	afinal,	parte
do	Todo,	uma	com	o	Um,	e	preocupações	mundanas	como	rapazes	bonitões
tinham	ficado	definitivamente	para	trás.	Ela	estava	ali	para	trabalhar,	de	modo	a
ser	Exultada	e	oferecer	suas	preces	pela	bênção	do	Um	como	parte	do	Todo;	e
conversas	com	rapazes	chamados	Vykk	não	faziam	parte	disso.
Ainda	assim,	ela	se	perguntava	como	ele	seria	debaixo	daqueles	óculos.	Qual
era	a	cor	dos	cabelos?	Dos	olhos?	Aquele	sorriso	tinha	feito	um	calor	brotar
dentro	dela,	apesar	do	frio...
Balançando	a	cabeça,	a	Peregrina	921	(Que	saudade	do	meu	nome!	)	tentou
exorcizar	a	memória	do	sorriso	torto,	de	parar	o	coração,	de	Vykk	Draygo.	Ela
precisava	rezar,	oferecer	a	devoção	apropriada.	Tinha	que	se	redimir	por	ter	se
separado	do	Um,	para	não	ser	expulsa	do	Todo.
Ainda	assim,	aqueles	pensamentos	sacrílegos	continuavam	se	intrometendo.
Pensamentos...	memórias,	também.	Ele	era	corelliano...	assim	como	ela.
A	Peregrina921	pensou	no	seu	planeta	natal	e,	por	um	mero	instante,	se
permitiu	lembrar-se	dele,	lembrar-se	da	família.	Os	pais	dela	ainda	estariam
vivos?	O	irmão?
Há	quanto	tempo	ela	já	estava	ali?	921	tentou	recordar,	mas	os	dias	ali	eram
todos	iguais...	trabalho,	alguns	bocados	de	comida	insossa,	Exultação	e	preces,
depois	sono	exausto.	Um	dia	fluía	no	outro,	e	Ylesia	quase	não	tinha	estações...
Por	um	momento,	ela	se	perguntou	há	quanto	tempo	estava	lá.	Meses?	Anos?
Quantos	anos	ela	tinha?	Será	que	teria	rugas?	Cabelos	grisalhos?
As	mãos	cheias	de	cicatrizes	de	921	voaram	até	a	testa,	as	faces.	Ossos	sob
carne,	ossos	proeminentes.	Muito	mais	do	que	jamais	foram	antes.
Mas	nada	de	rugas.	Ela	não	era	velha.	Poderia	estar	lá	há	meses,	mas	não
anos.
Que	idade	ela	tinha	quando	ouviu	falar	em	Ylesia	e	vendeu	todas	as	joias
para	comprar	passagem	numa	nave	de	peregrinos?	Dezessete...	ela	tinha
encerrado	seus	estudos	pré-universitários	e	estivera	ansiosa	para	deixar	seu
mundo	e	frequentar	a	universidade	em	Coruscant.	Ela	ia	estudar...	arqueologia.
Com	ênfase	em	arte	antiga.	Sim,	era	isso.	Ela	ia	até	passar	uns	dois	verões
trabalhando	numa	escavação,	aprendendo	a	preservar	tesouros	ancestrais.
Ela	queria	se	tornar	curadora	de	museu.
Desde	criança,	história	sempre	fora	sua	matéria	favorita.	Ela	adorava
aprender	sobre	os	cavaleiros	Jedi	e	ficava	fascinada	com	suas	aventuras.	Tinha
crescido	no	período	pós-Guerras	Clônicas,	e	o	conflito	a	interessava	também.	E
o	nascimento	da	República,	há	tantos	e	tantos	anos...
921	suspirou	enquanto	engolia	mais	uma	mordida	do	bolo	farelento.	Às
vezes	ela	se	incomodava	que	suas	memórias	estivessem	se	esvaindo,	que	sua
inteligência	parecesse	estar	se	esvaindo,	junto	com	sua	habilidade	de	perceber	o
mundo	exterior.	Ela	sabia	que,	como	peregrina,	era	seu	dever	expulsar	de	sua
mente	e	corpo	a	apreciação	dos	prazeres	carnais.
Nos	velhos	tempos,	prazer	e	diversão	tinham	sido	o	foco	de	sua	vida.
Naqueles	dias,	sua	vida	tivera	pouco	propósito,	comparado	com	agora.	Nos
velhos	tempos,	ela	vagueava	de	lugar	em	lugar,	assunto	em	assunto,	festa	em
festa...
E	tudo	fora	tão	sem	sentido	.
A	vida	agora	tinha	sentido	.	Agora	ela	era	Exultada.	Todas	as	noites,	o	Um
conferia	sua	bênção	sobre	ela,	por	meio	dos	sacerdotes.	Exultação	era	a	forma
como	o	Todo	se	comunicava	com	os	peregrinos.	Era	uma	experiência
profundamente	espiritual	–	e	era	tão	gostosa	...
921	pensou	que	tinha	conseguido	com	sucesso	apagar	da	mente	toda
lembrança	de	Vykk	Draygo	e	de	seu	sorriso,	então	voltou	a	trabalhar	na	pilha	de
brilhestim	–	só	para	perceber,	minutos	mais	tarde,	que	estava	se	perguntando	se
o	rapaz	realmente	procuraria	por	ela,	tentaria	falar	com	ela	de	novo...
921	sentiu	um	calafrio	naquela	eterna	friagem	úmida	e	fez	um	grande	esforço
para	esquecer	Vykk	Draygo	e	tudo	o	que	ele	representava...
Naquela	noite,	Han	faltou	à	cerimônia	para	poder	passar	tempo	com	vários
dos	simuladores.	Era	sua	primeira	oportunidade	de	ganhar	a	vida
“honestamente”	e	não	queria	estragar	tudo.	Han	sabia	que	os	cidadãos
reclamavam	sobre	como	trabalhavam	duro	e	concluiu	que	isso	seria	essencial
para	o	sucesso.	Era	verdade	que	mendigar,	bater	carteiras,	roubar	casas	e	aplicar
golpes	em	cidadãos	muitas	vezes	exigia	muito	tempo	e	esforço,	mas	Han	sabia,
de	alguma	forma,	que	simplesmente	não	era	comparável.
Ele	foi	até	o	console	de	simulação	no	quarto	e	verificou	o	conteúdo	do
sistema,	os	programas	que	estavam	disponíveis	para	ele.	Teroenza	tinha
cumprido	a	promessa,	e	os	simuladores	estavam	lá.	Han	viu	quais	eram	as
opções,	escolheu	os	simuladores	que	queria	praticar	e	ordenou	ao	sistema	que
preparasse	várias	sequências.	Tomou	o	cuidado	de	especificar	que	“turbulência
atmosférica”	fosse	incluída	em	cada	exercício	de	treinamento.
Olhou	para	Muuurgh,	que	estava	ali	parado,	observando.
–	Vou	ficar	trabalhando	um	tempo	–	anunciou.	–	Por	que	você	não	tira	um
tempo	para	descansar?
Muuurgh	balançou	a	cabeça	devagar.
–	Muuurgh	não	deixa	piloto	sozinho.	Contra	ordens.
–	Tudo	bem.	–	Han	deu	de	ombros.	–	Você	que	sabe.
Muuurgh	observou	nervoso	enquanto	Han	vestiu	o	visicapuz,	cortando
qualquer	contato	com	o	mundo	real	ao	seu	redor	e	mergulhando	num	voo	de
treino	que	parecia	exatamente	a	coisa	real.	Tecnologia	deixava	o	Togoriano
desconfortável.
Han	se	deixou	afundar	no	simulador	e,	em	questão	de	minutos,	o	programa
tinha	alcançado	um	de	seus	objetivos	primários	–	ele	tinha	esquecido
completamente	que	estava	num	simulador.	Estava	convencido	de	que	realmente
pilotava	–	que	realmente	traçava	uma	rota	em	meio	a	campos	de	asteroides	em
alta	velocidade,	que	realmente	navegava	na	atmosfera	ylesiana,	que	realmente
aterrissava	a	nave	sob	toda	sorte	de	condições	adversas.
O	corelliano	emergiu	do	simulador	duas	horas	depois,	tendo	obtido	sucesso
em	pousos,	voos,	decolagens	e	executado	todas	as	variações	de	manobras
possíveis	para	a	nave	auxiliar	que	pilotaria	até	Colônia	Dois	e	Colônia	Três	no
dia	seguinte.	Tinha	também	revisto	os	controles	das	naves	de	transporte	que
comandaria	–	a	Sonho	Ylesiano	estava	sendo	convertida	para	pilotagem	manual
–	além	dos	controles	do	iate	particular	de	Teroenza.
Àquela	altura,	o	curto	dia	ylesiano	já	tinha	se	esvaído	há	muito.	Muuurgh
estava	cochilando	na	cadeira,	mas	acordou	instantaneamente	assim	que	Han	se
espreguiçou.	Han	espiou	o	Togoriano,	lamentando	o	fato	de	o	alienígena	ser	tão
alerta.	Seria	muito	difícil	partir	nas	expedições	furtivas	noturnas	que	ele	tinha
em	mente...
Muuurgh	caminhava	atrás	do	piloto,	feliz	que	seu	fardo	tivesse	sugerido	uma
visita	ao	refeitório	para	uma	ceia	tardia.	O	Togoriano	estava	sempre	faminto.	Seu
povo	estava	acostumado	a	caçar	e	matar,	depois	compartilhar	da	presa,	então
carne	fresca	era	uma	parte	constante	da	dieta	deles.	Aqui,	ele	tinha	que	se	virar
com	carne	cura	descongelada.
Antes	de	o	Piloto	aparecer	na	sua	vida,	ele	tinha	a	liberdade	ocasional	de
entrar	na	selva	e	caçar,	para	manter	as	garras	–	e	as	habilidades	–	afiadas.
Sentia	falta	da	sua	mosgoth,	de	voar	pelo	ar	montado	nela,	de	sentir	os
poderosos	músculos	das	asas	propelindo-o	pelos	céus	de	Togoria.
Muuurgh	suspirou.	Os	céus	de	Togoria	eram	de	um	azul-esverdeado	vívido,
muito	diferente	deste	azul-acinzentado	desbotado	do	céu	em	Ylesia.	Sentia	falta
disso.	Será	que	um	dia	os	veria	de	novo,	algum	dia	voaria	em	sua	mosgoth	rumo
a	um	ocaso	carmesim	naqueles	céus	tão	vívidos?
Os	sacerdotes	tinham	feito	o	Togoriano	assinar	um	contrato	de	seis	meses
pelos	seus	serviços	de	guarda.	Ele	tinha	dado	a	palavra	de	honra	de	que
cumpriria	o	contrato.	Se	passariam	muitas	dezenas	de	dias	antes	que	pudesse
voltar	à	sua	busca	por	Mrrov.
Muuurgh	a	visualizou	em	sua	mente,	o	pelo	cor	de	creme,	as	listras
alaranjadas,	os	olhos	amarelos	inteligentes.	Linda	Mrrov.	Ela	tinha	sido	parte	da
vida	dele	por	tanto	tempo	que	não	saber	seu	paradeiro	era	como	uma	ferida
aberta	no	coração.	Será	que	ela	teria	voltado	a	Togoria?	Estaria	ela	de	volta	ao
mundo	dos	dois,	esperando	por	Muuurgh?
Muuurgh	desejou	poder	mandar	uma	mensagem	ao	seu	mundo	natal,
perguntar	se	Mrrov	tinha	voltado,	mas	mensagens	enviadas	por	distâncias
interestelares	eram	muito	caras,	e	uma	delas	acrescentaria	quase	dois	meses	ao
seu	tempo	aqui	em	Ylesia.
Ainda	assim...	Muuurgh	considerou,	depois	pensou	que	talvez	numa	das
entregas	de	especiarias	a	Nal	Hutta,	Piloto	não	se	incomodaria	se	Muuurgh
mandasse	uma	mensagem.	O	Togoriano	não	tinha	confiança	suficiente	nos
sacerdotes	Ylesianos	para	mandar	uma	mensagem	deste	mundo.
Piloto	parecia	ser	um	camarada	decente,	para	um	humano,	ruminou
Muuurgh.	Ardiloso,	rápido,	sempre	procurando	por	um	jeito	de	contornar	as
coisas,	mas	humanos	eram	frequentemente	assim.	Pelo	menos	Piloto	tinha
aceitado	a	dominância	de	Muuurgh	como	líder	de	alcateia.	Foi	esperto	da	parte
dele.	Viveria	muito	mais	tempo	assim...
Muuurgh	realmente	torcia	para	que	Piloto	continuasse	sendo	esperto.	Ele
gostava	do	humano	e	não	queria	ser	obrigado	a	machucá-lo.
Só	que,	se	Piloto	tentasse	quebrar	as	regras,	Muuurgh	não	hesitaria	em
machucar	–	ou	mesmomatar	–	o	corelliano.	Teroenza	tinha	dado	a	Muuurgh
ordens	específicas,	e	o	Togoriano	as	cumpriria	da	melhor	maneira	possível.
Tinha	dado	a	palavra	de	honra,	e	isso	era	a	coisa	mais	importante	do	mundo	para
seu	povo.
O	Togoriano	distraidamente	penteou	os	bigodes	e	o	pelo	do	rosto,	refletindo
que,	desde	que	Piloto	não	saísse	da	linha,	tudo	ia	ficar	bem...
No	dia	seguinte	Han	levou	a	nave	auxiliar	ylesiana	a	Colônia	Dois	e	Colônia
Três.	Descobriu	que	gostava	muito	de	comandar	naves	maiores,	e	sua	pilotagem
era	perfeita.	Conseguiu	descolar	alguns	minutos	extras	no	trajeto	de	volta	a
Colônia	Um	para	praticar	voo	em	baixa	altitude,	dando	um	rasante	tão	baixo
com	o	transporte	que	a	barriga	quase	raspou	nas	copas	das	árvores	da	selva.	Ao
lado	dele,	Muuurgh	alternava	entre	a	euforia	e	o	terror	enquanto	vivenciava
rasantes,	tonneaus	e	até	voar	de	cabeça	para	baixo	em	alta	velocidade.	Han
estava	em	seu	elemento,	executando	manobras	com	a	nave	auxiliar	que	só	tinha
feito	antes	em	simulador.	O	corelliano	percebeu	que	gritava	alegre	e	empolgado
com	a	pura	emoção	daquilo	tudo.
Como	seu	último	e	melhor	feito	de	voo	de	precisão,	Han	mergulhou	com	a
nave	a	toda	velocidade	e	correu	por	um	cânion	escavado	por	um	rio,	zunindo
entre	as	paredes	rochosas	com	tão	pouco	espaço	de	sobra	que	Muuurgh	uivou,
fechou	os	olhos	e	se	recusou	a	abri-los.	Uma	vez	que	eles	estavam	de	volta	a	céu
aberto,	Han	teve	que	chacoalhar	o	braço	do	Togoriano	e	assegurar	repetidamente
ao	grande	alienígena	que	ele	tinha	terminado	a	prática	daquele	dia.
–	Muuurgh	certo	de	que	Piloto	é	louco	–	afirmou	o	Togoriano,	abrindo
cuidadosamente	os	olhos	e	se	endireitando	no	assento.	–	Muuurgh	voa	na	sua
mosgoth	em	casa,	mas	não	desse	jeito	.	Mosgoths	sensatos	demais	para	voar
assim	.	Muuurgh	sensato	também.	Piloto	–	o	Togoriano	lançou	um	olhar
queixoso	–,	prometa	a	Muuurgh	que	não	vai	mais	voar	maluco.
–	Mas,	Muuurgh	–	retrucou	Han,	pousando	cuidadosamente	no	campo	de
aterrissagem	em	Colônia	Um	–,	eu	tenho	que	treinar	sempre	que	tiver	uma
chance!	Veja	bem...	–	Ele	hesitou,	depois	decidiu	confiar	parte	da	verdade	a
Muuurgh.	–	Eu	meio	que	exagerei	um	pouquinho	os	fatos	quando	contei	da
minha	experiência	de	voo	a	Teroenza.	Realmente	sou	um	piloto	campeão,	isso	é
verdade,	mas...	eu	preciso	praticar	com	esta	nave	auxiliar.	E	com	as	naves
maiores.	Simuladores	são	legais,	mas	não	se	comparam	à	experiência	real.
Muuurgh	encarou	Han	longa	e	diretamente,	depois	concordou	com	um	aceno
de	cabeça.
–	Muuurgh	compreende.	Piloto	confia	em	Muuurgh	para	não	dizer	isso	a
Teroenza?
–	É,	alguma	coisa	do	tipo	–	admitiu	Han.	–	Então,	eu	posso?	Quero	dizer,
confiar	em	você?
O	Togoriano	tratou	pensativo	dos	bigodes	brancos.
–	Enquanto	Piloto	não	bater	com	nave,	Muuurgh	não	fala	nada.
–	Muito	justo,	meu	chapa	–	respondeu	Han	com	um	sorriso.
Quando	ele	e	Muuurgh	desceram	pela	rampa	da	nave,	Veratil	os	aguardava
na	chuva	torrencial.	Àquela	altura,	Han	já	estava	acostumado	com	os	temporais
diários,	apesar	de	o	calor	úmido	ainda	o	deixar	exausto.
–	O	sumo	sacerdote	deseja	vê-lo	imediatamente,	piloto	Draygo	–	informou-o
Veratil.
O	sacredot	levou	Han	e	seu	guarda-costas	aos	aposentos	pessoais	do	sumo
sacerdote,	que	ocupavam	uma	grande	porção	do	nível	subterrâneo	do	centro
administrativo.	Depois	que	Veratil	digitou	o	código	de	autorização	de	segurança
e	eles	entraram	pelas	imensas	portas	duplas	no	santuário	pessoal	do	sumo
sacerdote,	Han	não	conseguiu	conter	um	assovio	de	espanto.
–	Lugarzinho	bacana!
–	Esta	é	a	sala	de	exposição	do	sumo	sacerdote	–	anunciou	Veratil.	–	Ele	é
um	colecionador	ávido	e	muito	orgulhoso	de	sua	coleção	de	raridades.
–	Merecidamente	–	afirmou	Han,	com	sinceridade.
O	aposento	era	pelo	menos	dez	vezes	maior	que	o	pequeno	apartamento	de
Han	no	primeiro	andar.	Mesas,	prateleiras	e	estantes	de	exposição	continham
tesouros	e	antiguidades	de	toda	a	galáxia.	Esculturas	de	uma	dúzia	de	mundos,
pinturas	e	outros	objetos	de	arte	estavam	espalhados	em	meio	a	ornadas	armas
antigas.	Tapeçarias	decoravam	as	paredes.	Tapetes	de	beleza	extraordinária
estavam	cobertos	por	campos	de	força	protetores	que	tinham	uma	textura
gelatinosa	quando	Han	caminhou	sobre	eles.
Gemas	semipreciosas	adornavam	a	coleção	de	flautas	e	outros	instrumentos
musicais.	Garrafas	das	bebidas	alcoólicas	mais	raras	da	galáxia	estavam
suspensas	numa	estante	com	altos-relevos	dourados.
Os	dedos	de	Han	literalmente	coçaram	durante	todo	o	tempo	que	ele	levou
para	atravessar	a	sala	de	exposição.	Se	eu	pudesse	ter	cinco	minutos	a	sós	aqui
dentro,	estaria	feito	pelo	resto	da	vida!	,	pensou,	desejoso,	enquanto	reduzia	o
passo	para	observar	um	drreelb	escavado	em	gelo	vivo.	A	pequena	estatueta
estava	coberta	com	uma	camada	de	poeira,	que	foi	perturbada	pela	respiração	de
Han.	O	pó	se	espalhou	no	ar,	e	o	piloto	deu	um	espirro	retumbante.
Poeirento	ou	não,	este	lugar	vale	várias	fortunas.	Se	ao	menos...
Severo,	Han	lembrou	a	si	mesmo	que	tinha	virado	a	página	e	era	um	cidadão
honesto	e	trabalhador	naqueles	tempos.
Veratil	levou	os	dois	por	mais	outra	porta	de	segurança	até	o	alojamento
pessoal	do	sumo	sacerdote.	Os	visitantes	foram	recebidos	por	um	antiquíssimo
mordomo	Zisiano,	que	Teroenza	chamou	de	Ganar	Tos.	O	Zisiano	era
humanoide,	mas	tinha	uma	pele	verde	enrugada	que	pendia	em	papadas	flácidas
do	queixo	quase	inexistente.	Os	olhos	alaranjados	eram	ranhentos,	e	ele	fungava
constantemente,	como	se	tivesse	sinusite.	Provavelmente	alérgico	a	toda	aquela
poeira,	pensou	Han.
O	sumo	sacerdote	acenou	para	que	Han	e	Muuurgh	se	sentassem	e	se	dirigiu
aos	dois.
–	Tão	bom	você	ter	vindo,	piloto	Draygo.	Ouvi	boas	coisas	sobre	sua
pilotagem	de	Colônia	Dois	e	Três.	Hoje	nosso	droide	médico	colocou	o	outro
piloto,	Jalus	Nebl,	em	licença	por	duração	indeterminada,	então	você	assumirá	o
lugar	dele	em	voos	interestelares	de	agora	em	diante.
Han	assentiu	com	a	cabeça,	tentando	esconder	o	entusiasmo.
–	Ótimo,	senhor.	Vou	cumprir	os	prazos.	Quando	eu	parto?
–	Depois	de	amanhã	–	contou	Teroenza.	–	Muuurgh	vai	acompanhá-lo,	é
claro.
–	Quais	são	a	carga	e	destino,	senhor?	–	indagou	Han.
–	Você	vai	se	encontrar	com	uma	nave	de	Nal	Hutta	nas	coordenadas	que
vamos	lhe	passar	no	último	minuto.	A	segurança	é	vital,	como	você	pode	muito
bem	entender.	Sabe	que	tivemos	problemas	com	piratas	no	passado.	–	Teroenza
aceitou	uma	pequena	criatura	debilitada	que	o	mordomo	lhe	estendeu	e	fez	uma
pausa	para	engoli-la.	–	Você	treinou	Muuurgh	como	artilheiro,	piloto?
–	Hum,	não,	ainda	não,	senhor.
–	Cuide	disso.	Um	bom	piloto	está	preparado	para	todas	as	eventualidades,
correto?
–	Sim,	senhor	–	concordou	Han.	–	Vou	cuidar	disso.	Hum,	senhor?	Qual	é	a
carga?
–	Você	levará	uma	remessa	de	carsunum	processado	e	receberá	um
carregamento	de	ryll	virgem	trasladado	de	Ryloth.
–	Mas	a	nave	com	a	qual	vou	me	encontrar	é	de	Nal	Hutta?
–	Sim.	–	Teroenza	não	se	estendeu	na	explicação,	então	Han	abandonou	o
assunto,	decidido	a	ficar	de	orelhas	em	pé.	Percebeu	que	havia	mais	que	o	sumo
sacerdote	não	lhe	contava,	mas	não	estava	exatamente	em	posição	de	exigir
todos	os	detalhes	sujos.
Teroenza	se	sentou	sobre	os	imensos	quartos	traseiros,	acenando	com	os
bracinhos	para	o	portal	pelo	qual	Muuurgh	e	Han	entraram.
–	Soube	que	você	gostou	da	minha	sala	de	exposição?
–	Se	eu	gostei?	–	Han	pôde	responder	com	total	honestidade.	–	É	incrível	,
senhor.	Nunca	vi	tantos	tesouros	reunidos	fora	de	um	museu!
–	Minha	espécie	tem	uma	longa	vida,	assim	como	nossos	primos,	os	Hutts	–
contou	Teroenza.	–	Já	venho	colecionando	há	centenas	de	anos-padrão,	mais
tempo	que	você,	em	sua	juventude,	poderia	imaginar,	piloto.
–	Eu	realmente	queria	fazer	um	tour	um	dia	–	comentou	Han.
–	Eu	gostaria	que	minha	coleção	estivesse	em	condições	de	ser	vista	–
lamentou	Teroenza.	–	Ganar	Tos,	mesmo	sendo	um	excelente	cozinheiro	e	um
camareiro	eficaz,	não	recebeu	o	treinamento	necessário	para	fazer	a	manutenção
das	minhas	peças,	muito	menos	catalogá-las	e	arrumá-las	adequadamente.	E	eu
sou	muito	ocupado	para	dedicar	meu	tempo	a	essa	atividade.	–	O	ser	gigante	osdispensou	com	um	aceno	da	mãozinha.	–	Por	hora	é	tudo.	Nos	vemos	quando
você	voltar,	piloto.
–	Sim,	senhor.	–	Han	se	levantou	e	chamou	Muuurgh.	Os	dois	partiram,
escoltados	por	Veratil.
Uma	vez	do	lado	de	fora,	o	sacredot	saiu	para	cuidar	de	alguma	tarefa,
deixando	os	dois	sozinhos.	Han	deu	uma	olhada	no	crono	e	então	para	o	sol
ocidental.
–	Esta	noite	vou	começar	a	treinar	você	na	função	de	artilheiro	–	disse	ele	ao
Togoriano	–,	mas,	por	enquanto,	acho	que	a	gente	merece	uma	folga.	Na
verdade,	está	bem	na	hora	de	visitarmos	o	refeitório	onde	os	peregrinos	comem.
Vamos	lá.
–	Por	quê?	–	indagou	Muuurgh.	–	Piloto	não	quer	comida	de	peregrino.
Piloto	e	Muuurgh	comem	no	refeitório	do	centro	administrativo...	comida
decente,	não	lixo.
Han	balançou	a	cabeça	e	seguiu	pela	trilha	que	cortava	a	selva	até	a	área	dos
peregrinos.
–	Eu	não	quero	comer	com	os	peregrinos,	meu	chapa	–	explicou	ele.	–	Só
quero	conversar	com	alguns	deles.	Calculei	que,	na	hora	do	jantar,	eles	estarão
todos	juntos,	e	eu	poderei	encontrar...	eles...	mais	fácil.
–	Eles?	Quantos	são	“eles”?
–	Hum...	bem,	olha	só...	–	começou	Han,	depois	parou,	fazendo	uma	careta.
–	Só	uma	–	admitiu.	–	Peregrina	921,	aquela	que	eu	vi	no	outro	dia.	Eu	gostaria
de	ver	como	ela	realmente	é.
Muuurgh	assentiu	com	a	cabeça.
–	Ah,	sssim...	Muuurgh	entende	muito	bem	o	que	Piloto	quer.
Han	sentiu	a	cara	ficar	quente	e	ficou	feliz	que	o	Togoriano	não	pudesse
reconhecer	aquele	sinal	denunciador	de	vergonha.
–	Você	sabe,	Muuurgh,	meu	velho	chapa	–	começou	ele,	deliberadamente
mudando	de	assunto	–,	você	fala	língua	básica	muito	bem	para	quem	só
aprendeu	há	menos	de	um	ano.	Só	que	tem	uma	parte	do	idioma	que	você	ainda
não	dominou,	que	são	os	pronomes.	Nunca	achei	que	ia	dar	uma	de	professor,
mas,	vamos	lá...
Os	dois	caminharam	juntos	pelo	caminho,	enquanto	Han	explicava	as	regras
gramaticais	que	governam	o	uso	dos	pronomes...
Uma	vez	no	refeitório	dos	peregrinos,	Han	e	Muuurgh	perambularam	pela
enorme	área	onde	os	peregrinos	jantavam.	Han	espiava	cada	rosto,	imaginando
se	conseguiria	reconhecê-la	sem	os	óculos,	sob	iluminação	normal.	O	cabelo
dela	estivera	coberto	pelo	chapéu,	então	o	rapaz	não	sabia	nem	se	era	claro	ou
escuro.
Han	acelerou	o	passo	ao	perceber	que	a	refeição	estava	quase	encerrada	e	ele
ainda	não	tinha	localizado	921.	Talvez	ela	não	estivesse	ali.	Talvez	tivesse
jantado	num	outro	turno,	como	ele	tinha	ouvido	que	alguns	peregrinos	faziam.
Só	que	ele	tinha	achado	que	quase	todos	os	humanoides	comiam	durante	este
turno...
Lá	está	ela!	É	ela	mesma!	Han	não	tinha	muita	certeza	de	como	sabia...	mas
sentia-se	seguro	como	se	ela	tivesse	uma	placa	pendurada	no	pescoço	dizendo
PEREGRINA	921.
Numa	iluminação	normal,	o	rapaz	notou	que	ela	era	alta	e	esguia	–	esguia
demais,	na	verdade.	As	maçãs	do	rosto	se	destacavam	proeminentes,	e	os	olhos
pareciam	ainda	maiores	do	que	realmente	eram	naquele	rosto	magro	e
excessivamente	pálido.
Porém,	magra	demais	ou	não,	ela	era,	mesmo	de	modo	simples,	linda.	Não
classicamente	bela.	A	mandíbula	era	um	pouco	larga	demais	e	meio	quadrada,	o
nariz	meio	longo	para	a	beleza	clássica.	Mas	linda...	ah,	sim...
921	tinha	grandes	olhos	azuis-esverdeados,	cílios	escuros	e	pele	branca	e
lisa.	Várias	madeixas	de	cabelos	curtos	e	cacheados	tinham	escapado	de	baixo
do	chapéu	de	peregrina,	e	Han	viu	que	eram	vermelho-dourados	–	a	cor	de	um
pôr-do-sol	corelliano	num	dia	limpo.
O	salão	geralmente	era	bem	silencioso.	Os	peregrinos	não	conversavam
muito,	cansados	como	estavam	de	um	longo	dia	de	trabalho	nas	fábricas,	e	a
Exultação	que	se	aproximava.	Mas	eles	geralmente	comiam	em	grupos.
921	estava	completamente	só.
Han	viu	que	ela	cutucava	o	jantar,	e	depois	de	uma	olhada	na	massa	nada
apetitosa	de	mingau	grudento,	verduras	murchas	e	pão	ázimo	no	prato	dela,	ele
não	a	culpou.	A	comida	cheirava	mal	–	quase	estragada.	Han	franziu	o	nariz
enquanto	puxava	a	cadeira	diante	dela	e	se	sentava.	Estava	vagamente	ciente	da
presença	de	Muuurgh,	encostado	na	parede,	observando.
921	–	eu	tenho	que	convencê-la	a	me	contar	seu	nome	verdadeiro!	–	ergueu
os	olhos	cor	de	turquesa,	que	se	arregalaram	ao	reconhecê-lo.	Han	ficou
imensamente	feliz	com	isso	e	sorriu	para	ela.
–	Olá.	Encontrei	você	de	novo,	viu?
A	moça	o	encarou,	olhos	ainda	arregalados,	depois	baixou	o	olhar	para	o
prato.	Han	se	inclinou	na	direção	dela.
–	Então,	qual	é	o	rango?	Não	parece	grande	coisa,	tenho	que	admitir.	Mas
você	não	pode	só	ficar	empurrando	pelo	prato,	sabe.
Ela	balançou	a	cabeça.
–	Por	favor...	vá	embora.	–	Sua	voz	era	pouco	mais	que	um	sussurro.	–	Não
deveria	estar	falando	com	você.	Você	não	é	do	Um.
–	Claro	que	sou	–	retrucou	Han.	–	Só	que	eu	sou	um	tipo	um	pouco	mais
individual	de	Um,	pode-se	dizer.
A	boca	de	921	estremeceu,	muito	de	leve.	Han	percebeu	que	desejava	ser
capaz	de	fazê-la	sorrir	de	verdade.
–	Você	não	sabe	do	que	está	falando,	piloto	Draygo	–	respondeu	ela	em	voz
baixa.	–	Temo	que	isso	seja	óbvio.
–	Bem,	pregue	para	mim,	então	–	argumentou	Han.	–	Tenho	a	mente	aberta,
talvez	você	consiga	me	converter.	–	Ele	sorriu,	feliz	em	tê-la	encontrado,	e	que
ela	estivesse,	pelo	menos,	falando	com	ele.
921	balançou	a	cabeça.
–	Temo	que	você	seja	infiel	em	demasia,	piloto	–	comentou	ela.
Han	estendeu	a	mão	e	pegou	na	dela,	aquela	que	tinha	se	machucado.
–	É	Vykk	–	disse	ele,	sufocando	um	impulso	louco	de	contar	seu	nome
verdadeiro	.	Conseguiu	resistir.	–	Então,	como	vai	sua	mão?	Alguma	sequela
daquele	machucado	no	outro	dia?
Quando	Han	tocou	a	peregrina,	ela	se	enrijeceu,	como	se	fosse	puxar	a	mão.
Depois,	quando	ele	perguntou	do	corte,	ela	relaxou.
–	Está	sarando	–	contou	ela,	confirmado	o	que	Han	tinha	visto.	–	Só	vai	levar
um	tempinho.
–	É	um	serviço	duro,	ficar	ralando	lá	embaixo	no	escuro	e	no	frio	o	dia	todo
–	apontou	Han.	–	Você	não	preferiria	fazer	alguma	coisa	mais...	fácil?
–	Tipo	o	quê?	–	perguntou	ela.
–	Não	sei.	No	que	você	é	boa?	O	que	você	estudou?
–	Bem...	um	dia	eu	quis	ser	curadora	de	museu	–	revelou	921,	soando	um
tanto	nostálgica.	–	Eu	ia	estudar	arqueologia.	Sei	muita	coisa	sobre	isso.
–	Só	que	você	veio	para	cá	em	vez	de	seguir	com	os	estudos	–	deduziu	Han.
–	Sim	–	confirmou	921.	–	Esta	vida	é	espiritualmente	recompensadora.
Minha	antiga	vida	era	vazia	e	sem	sentido.
Han	hesitou.
–	Como	você	sabe	que	a	doutrina	que	eles	ensinam	aqui	é	a	certa?	Tem	um
monte	de	religiões	na	galáxia.
Ela	considerou	a	pergunta	cuidadosamente,	então,	finalmente,	respondeu.
–	Porque,	quando	nós	somos	Exultados,	eu	me	sinto	muito	próxima	do	Um.
É	um	momento	místico.	Eu	me	sinto	Uma	com	o	Todo.	Tenho	certeza	que	os
sacerdotes	devem	ser	Divinamente	Dotados	para	poderem	oferecer	aos
peregrinos	a	chance	de	serem	Exultados.
–	Humm	–	comentou	Han.	–	Parece	que	eu	deveria	experimentar.	–	Por	cima
do	meu	cadáver,	pensou	ele,	mas	tomou	cuidado	para	esconder	os	verdadeiros
sentimentos.
–	Talvez	você	devesse	–	concordou	ela.	–	Está	na	hora	de	seguir	para	o	Altar
das	Promessas.	Talvez	você	seja	abençoado	e	receba	a	Exultação,	também.
–	Nunca	se	sabe	–	disse	Han.	–	Posso	acompanhar	você	até	lá?
Ela	deu	um	sorriso	discreto,	olhando	para	o	chão.
–	Tudo	bem.
Os	dois	caminharam	juntos	pela	trilha	na	selva,	lado	a	lado	em	meio	aos
peregrinos,	com	Muuurgh	no	rastro.	Han	tentou	puxar	conversa,	mas	921	estava
quieta	e	sem	reação.	Quando	alcançaram	o	altar,	Han	não	se	retirou	para	o	fundo,
mas	ficou	ao	lado	de	921	no	meio	do	grupo	de	fiéis.
–	Você	não	deveria	estar	aqui	–	sussurrou	ela.	–	É	óbvio	que	você	não	é	um
peregrino.
–	Se	alguém	reclamar,	é	só	dizer	que	eu	sou	um	candidato	a	peregrino	–	disse
Han,	tentando	provocá-la	de	leve,	mas	921	não	caiu.	Fez	uma	cara	feia	e	lhe	deu
as	costas,	concentrando-se	na	cerimônia.
Teroenza	e	os	outros	sacerdotes	recompensaram	a	multidão	de	fiéis	com	uma
devoção	idêntica	àquela	que	Han	tinha	visto	antes.	Desta	vez,	Han	teve	pouca
dificuldade	em	resistir	aos	efeitos	da	Exultação	–	permaneceu	lúcido	do	começo
ao	fim.	Em	vez	disso,	observou	921,	viu	sua	expressão	arrebatada	e	balançou	a
cabeça	por	dentro.	Comoela	pode	ser	iludida	por	esse	embuste?	,	perguntou-se
ele.	Ela	é	claramente	inteligente.	Por	que	não	percebe	que	seja	lá	o	que	for	que
esses	sacerdotes	fazem,	é	algum	truque,	e	não	um	Dom	Divino?
Han	assistiu	angustiado	enquanto	921	se	prostrava	para	receber	a	Exultação,
depois	se	acocorou	ao	lado	dela	enquanto	ela	se	contorcia	no	chão.	É	um	milagre
que	os	corações	deles	não	parem	de	funcionar	de	repente,	pensou.	Mais	tarde,
depois	que	o	momento	de	Exultação	terminou	e	os	sacerdotes	se	foram,	ele	a
ajudou	a	se	sentar.	A	peregrina	sorria,	ainda	que	muito	fraca.
–	Tudo	bem?	–	indagou	Han,	preocupado.	A	Exultação,	além	de	qualquer
que	fossem	seus	efeitos	emocionais	e	físicos,	parecia	deixar	os	peregrinos
exaustos.	–	Você	parece	meio	mal.
–	Estou	bem	–	disse	ela,	ainda	tremendo,	e	tentou	se	levantar.	Han
rapidamente	a	segurou	e	ofereceu	a	mão.
–	Obrigada	–	sussurrou	921,	com	a	respiração	ainda	ofegante.	–	Vou	ficar
bem,	agora.
–	Vou	acompanhar	você	de	volta	ao	dormitório	–	decidiu	Han.	–	Por	via	das
dúvidas.	Você	parece	meio	fraca.
Ela	não	discutiu	quando	Han	pegou	seu	braço	e	os	dois	seguiram	o	caminho
de	volta.	Estava	ficando	bem	escuro,	e	Ylesia	não	tinha	lua.	Han	mal	podia
distinguir	a	trilha	adiante,	mas	921	pegou	seus	óculos	no	bolso	do	robe	e	os
colocou.	Ela	guiava,	mas	Han	continuou	segurando	seu	braço	e	servindo	de
apoio	para	a	peregrina.
–	Então,	você	tem	saudades	de	Corellia	de	vez	em	quando?	–	perguntou	o
piloto.
–	Não	–	respondeu	ela,	mas	Han	percebeu	que	era	mentira.	–	E	você?
–	Não	sinto	falta	das	pessoas,	mas	tenho	saudades	do	planeta	–	contou	Han
com	sinceridade.	–	Corellia	é	um	belo	lugar.	Sempre	quis	visitar	o	oceano,	mas
nunca	tive	uma	chance.	Você	já	foi	ao	oceano?
–	Sim...	–	disse	ela	lentamente,	como	se	a	pergunta	trouxesse	de	volta
memórias	que	ela	preferia	não	recordar.
–	Você	tem	família	por	lá?
–	Tenho...	–	921	hesitou,	depois	acrescentou:	–	Pelo	menos	acho	que	sim.
Não	falo	com	eles	há	quase	um	ano.
–	Desde	que	chegou	aqui?	–	perguntou	Han.
–	Isso.
Eles	seguiram	em	silêncio	pela	escuridão	quente	e	úmida.	Han	estava	muito
consciente	de	que	segurava	o	braço	dela	sob	a	larga	manga	do	robe.	Os	ossos	da
peregrina	ficavam	muito	próximos	da	pele,	mas	a	carne	em	si	era	quente,	macia
e	muito	feminina.
–	Então,	você	tá	planejando	ficar	aqui	de	vez?	–	inquiriu	Han	enquanto	um
pequeno	grupo	de	peregrinos	cambaleantes	passava	por	eles	nas	trevas.	–	Ou
isso	aqui	é	tipo	temporário?
–	Temporário?	–	O	piloto	mal	podia	ver	o	borrão	indistinto	do	rosto	dela,	que
a	linha	escura	dos	óculos	dividia	ao	meio,	quando	ela	se	virou	para	ele.	–	Como
poderia	ser	temporário?	Eu	quero	servir	ao	Um,	ser	parte	do	Todo,	para	sempre.
–	Ah.	Bem,	hum...	e	quanto	às	coisas	tipo...	se	apaixonar,	viajar,	talvez	se
estabelecer	em	algum	lugar	e	ter	filhos?
–	Desistimos	de	todas	essas	coisas	quando	nos	tornamos	parte	do	Todo	–
explicou	ela,	mas	havia	um	tom	de	arrependimento	em	sua	voz.
–	Que	pena.
Sem	aviso,	começou	uma	chuva	constante.	Han	sentiu	921	tremer	um	pouco,
apesar	do	calor.	O	piloto	puxou	um	poncho	de	chuva	do	bolso	e	abriu	sobre	a
cabeça	de	ambos.	Os	dois	continuaram	andando,	encolhidos	debaixo	da
cobertura,	os	corpos	em	contato.	Han	estava	ciente	de	que	Muuurgh	os	seguia	a
uma	distância	discreta.	Pobre	camarada.	Ele	odeia	se	molhar.
Han	começou	a	falar	mais	alto	para	que	fosse	escutado	apesar	do	barulho	da
chuva.
–	Sabe,	eu	não	posso	ficar	chamando	você	de	921.	Se	a	gente	vai	ser	amigo,
você	tem	que	me	dizer	seu	nome.
–	E	quem	disse	que	a	gente	vai	ser	amigo?	–	indagou	ela.
–	Eu	simplesmente	sei	que	vamos	–	insistiu	Han.	Ele	sorriu,	sabendo	que	ela
conseguia	vê-lo	no	escuro.	–	Eu	sou	irresistível	quando	quero.
–	Você	é	um	metido,	isso	sim	–	retrucou	ela,	soando	meio	irritada,	meio
divertida.	–	Metido,	presunçoso,	arrogante...	insuportável...	–	A	peregrina	parou
de	falar	para	rir.	Han	percebeu	que	era	a	primeira	vez	que	ouvia	a	risada	dela.
–	Ah,	por	favor,	continue!	–	protestou	de	brincadeira	o	piloto,	rindo	também.
–	Eu	adoro	quando	as	mulheres	me	elogiam,	é	música	para	meus	ouvidos.	–	Han
ficou	deleitado	de	ouvir	921	soando	tão	viva	.
–	Estou	cansada	–	declarou	ela,	o	bom	humor	momentâneo	sumindo	como	a
névoa	da	manhã.	–	E	aqui	estamos	nós	diante	do	alojamento.	Obrigada	por	me
acompanhar	de	volta...	piloto	Draygo.
Havia	um	fraco	círculo	de	luz	emanando	das	janelas	do	dormitório,	e	Han
parou	bem	na	beira,	de	modo	que	conseguia	ver	921,	mas	que	eles	não
estivessem	sob	o	foco	da	luz	e	não	pudessem	ser	vistos	por	alguém.
–	Nada	de	“piloto”	–	lembrou	ele.	–	É	Vykk.
A	peregrina	tentou	dar	um	passo	para	trás	e	se	afastar	dele,	mas	Han
segurou-lhe	o	braço	com	mais	força,	tomando	cuidado	de	não	machucá-la,	mas
não	deixando	que	ela	se	desvencilhasse.
–	Vykk,	está	bem?
–	Vykk...	certo	–	repetiu	ela.	–	Agora,	por	favor...	me	deixe	ir.	E...	não	volte.
Por	favor.
–	Por	que	não?	–	Han	estava	magoado.
–	Porque...	você	não	é	bom	para	mim.	Para	a	minha	essência	espiritual.
Ele	sorriu	nas	trevas	calorosas.
–	Admita,	você	gosta	de	mim.
–	Não	gosto,	não.
–	Gosta,	sim.	Admita.	–	Ele	deu	um	passo	adiante,	olhando	para	baixo,	para
o	rosto	dela.	921	era	alta,	só	meia	cabeça	mais	baixa	que	ele.	Gentilmente,	Han
ergueu	as	mãos	para	levantar	os	óculos	que	escondiam	os	olhos	dela.	Os	dedos
se	demoraram	no	rosto	da	mulher	durante	o	gesto.	–	Pronto	–	disse	ele	baixinho.
–	Assim	fica	melhor.	É	errado...	totalmente	errado...	cobrir	esse	rosto,	esses
olhos...
–	Você	está...	está	blasfemando	–	acusou	ela,	sem	fôlego,	mas	não	se	afastou.
–	Não,	não	estou.	Me	diz	o	seu	nome.
921	balançou	a	cabeça	miseravelmente,	com	olhos	assombrados.
–	Vykk...	eu	não	posso...
–	Tudo	bem.	–	Eu	posso	esperar,	pensou	Han.	–	Mas	a	gente	vai	se	ver	de
novo,	né?
A	peregrina	hesitou	por	tanto	tempo	que	Han	notou	que	ele	mesmo	prendia	a
respiração.	Então	ela	abaixou	a	cabeça,	murmurou	“sim”	e	se	afastou.	Desta	vez,
Han	a	deixou	ir.
921	saiu	correndo,	dormitório	adentro,	sem	olhar	para	trás.
Han	se	inclinou	para	frente	no	assento	do	piloto,	espiando	os	números	que
corriam	pela	tela	do	navicomputador.
–	Prontos	para	voltar	ao	espaço	real,	nas	coordenadas	de	encontro	–	anunciou
em	voz	alta.	–	Três...	dois...	um...
Puxou	a	alavanca,	e	as	estrelas	ao	redor	da	Sonho	Ylesiano	subitamente	se
alongaram	em	finos	rastros	de	luz,	todos	se	estendendo	a	um	ponto	central	–	um
ponto	para	onde	a	nave	se	lançava.	Os	motores	rugiram,	depois	reduziram	a
marcha,	e	enfim	–	de	uma	forma	abrupta	que	levava	algum	tempo	para	se
acostumar	–	eles	estavam	de	volta	ao	espaço	real.
–	Bem	na	rota,	Muuurgh	–	exclamou	Han,	triunfante.	–	Tô	ficando	bom
demais	nesse	negócio	de	voos	interestelares,	não	tô?
–	“Estou”	–	corrigiu	o	Togoriano.	–	Eu	estive	lendo	livro	que	Piloto	deu	para
Muur...	–	ele	se	deteve.	–	Hum,	mim	,	e	“tô”	não	é	forma	correta	de	falar	língua
básica.
–	Me	lembre	de	ensinar	você	a	usar	artigos,	algum	dia	–	murmurou	Han.	–
Eu	não	mereço	nem	parabéns	por	ter	nos	trazido	ao	ponto	de	encontro	bem	na
mosca?
–	Bem	melhor	que	primeira	vez	–	comentou	Muuurgh,	referindo-se	à
primeira	jornada	interestelar	deles,	três	semanas	atrás.	Han	tinha	cometido	um
pequeno	erro	ao	programar	no	navicomputador	exatamente	onde	eles	sairiam	do
hiperespaço,	e	a	Sonho	tinha	acabado	a	três	parsecs	de	distância	do	lugar	em	que
deveriam	ter	emergido.
Han	tivera	que	fazer	um	salto	hiperespacial	extra	para	alcançar	a	posição
correta.
–	Ei	–	protestou	Han	–,	aquela	foi	a	minha	primeira	vez!	E	não	é	culpa	minha
que	essa	tela	seja	tão	velha	que	o	oito	parecia	um	seis.
–	Piloto	tem	ido	melhor	desde	então	–	reconheceu	Muuurgh.	–	Segunda	e
terceira	viagens	foram	bem.
–	Pode	apostar	que	foram	–	murmurou	Han.	–	Eu	sou	bom	,	Muuurgh...	bom
mesmo.	Aposto	que	agora	consigo	passar	nas	provas	de	admissão	da	Academia
Imperial.	Mais	alguns	meses	de	prática,	e	eu	estarei	pronto.
–	Muuurgh	vai	sentir...	–	O	Togoriano	fez	uma	pausa.	–	Correção.	Eu	vou
sentir	falta	de	Piloto	quando	ele	se	for.
–	Vou	sentir	saudades	suas	também,	chapa	–	respondeu	Han,	com
sinceridade.–	Mas	não	se	preocupe,	a	gente	pode...
A	Sonho	Ylesiano	estremeceu	violentamente	quando	um	alto	whang!
reverberou	pelo	casco.
–	Mas	que...	–	Han	apertou	alguns	botões,	ativando	a	tela	traseira.	–
Muuurgh,	alguma	coisa	atingiu	a	gente!
–	Asteroide?	–	sugeriu	o	Togoriano.
Whanggggg!
–	Não!	–	gritou	Han,	encarando	incrédulo	a	tela.	–	Duas	naves!	Só	podem	ser
piratas!	Vá	para	a	cabine	de	tiro!
Enquanto	Han	encarava	a	tela,	a	nave	à	direita	disparou	outro	tiro.
–	Se	segura!
Muuurgh,	que	tinha	acabado	de	se	desatar	de	seu	assento	e	estava	se
levantado	para	ir	à	cabine	de	tiro,	gritou	quando	mais	um	tiro	retiniu	contra	o
casco,	jogando-o	de	volta	à	cadeira	com	força	o	bastante	para	deixar	hematomas.
Praguejando,	Han	guinou	a	Sonho	forte	para	bombordo.	Quem	eram	aqueles
caras?	Piratas	geralmente	davam	tiros	de	advertência	e	exigiam	que	a	nave
atacada	se	rendesse.	O	objetivo	era	roubar	a	carga,	sequestrar	a	nave	e	manter	a
tripulação	viva	para	que	pudesse	ser	vendida	como	escravos.	Destruir	ou
incapacitar	a	nave	e	matar	os	ocupantes	não	era	economicamente	vantajoso.
–	Muuurgh!	Vá	lá	para	baixo!	Eles	vão	nos	fazer	em	pedaços!	Perdemos	um
escudo!
Enquanto	o	Togoriano	se	propelia	da	cadeira	do	copiloto	e	saía	cambaleante
da	sala	de	comando,	mais	dois	disparos	pegaram	a	Sonho	Ylesiano	de	raspão.
Eles	estão	mirando	nos	motores	de	hiperespaço!	Querem	nos	imobilizar!
Han	lançou	a	nave	numa	manobra	desesperada,	virando-a	de	lado,	bem	a
tempo	de	escapar	de	outra	rajada	que	quase	acertou	o	ventre	da	nave	e	teria
explodido	o	núcleo	energético	Quadex	dela.
O	piloto	acelerou,	tentando	se	afastar	o	bastante	dos	piratas	para	poder	dar
meia-volta	e	atirar	neles.	Tinha	pouca	confiança	na	habilidade	de	Muuurgh	de
conseguir	de	fato	atingir	alguma	coisa	ao	manobrar	a	cabine	de	tiro.	O	Togoriano
era	rápido	e	capaz,	mas	nunca	tinha	realmente	atirado	contra	um	alvo	vivo	–
muito	menos	em	movimento.
Enquanto	lançava	a	nave	adiante,	forçando	a	velocidade	ao	máximo,	Han
abriu	o	canal	de	comunicações.	Tinha	que	avisar	alguém	sobre	o	que	estava
acontecendo,	para	o	caso	da	Sonho	ser	inutilizada	e	eles	terem	que	escapar	numa
cápsula	salva-vidas.
–	Colônia	Um	Ylesia,	aqui	é	a	Sonho	Ylesiano	.	Colônia	Um,	é	a	Sonho	.
Estamos	sendo	atacados,	repito,	sendo	atacados.	Duas	naves	nos	emboscaram
assim	que	emergimos	do	hiperespaço!	–	A	voz	do	rapaz	rachou	com	o	esforço.	–
Honestamente,	não	foi	minha	culpa!	Eles	estão	perseguindo	a	gente,	e	eu	estou
fazendo	manobras	evasivas.	Piloto	Draygo	câmbio	e	desligo!
Han	deu	uma	olhada	na	tela	com	as	leituras	dos	sensores	abaixo,	viu	que
tinham	se	afastado	dos	perseguidores	–	ainda	não	tinha	dado	uma	boa	olhada	nas
naves	piratas	–	e	então	jogou	a	Sonho	num	parafuso	para	baixo,	sob	as	naves	que
se	aproximavam.	Quando	elas	passaram	a	toda	acima	dele,	Han	virou	a	Sonho
numa	curva	fechada.
–	Muuurgh!	Agora!	–	gritou	no	intercom.
Um	rugido	togoriano	e	uma	erupção	de	lasers	recompensaram	o	comando	–
só	que	Muuurgh	errou	completamente	o	alvo.	Um	dos	piratas	deu	a	volta	e
começou	a	atirar	de	novo...
Bam!
A	Sonho	Ylesiano	tremeu	violentamente	ao	receber	um	sério	impacto.	O
estômago	de	Han	deu	um	nó	quando	o	piloto	ouviu	um	uivo	de	pura	agonia	subir
da	cabine	de	tiro.
–	Muuurgh?	Muuurgh?	Você	foi	atingido?	–	gritou	ele,	mas	não	houve
resposta.
Uma	rápida	verificação	de	status	revelou	que	eles	tinham	sofrido	uma
minúscula	queda	de	pressão,	mas	que	o	vazamento	tinha	sido	automaticamente
selado	pelos	sistemas	da	nave.
–	Tudo	bem,	seus	palhaços...	–	murmurou	Han,	fazendo	pontaria	com	seus
mísseis	de	concussão,	centralizando	o	pirata	da	direita	na	mira	–	...	tomem	isto!
A	Sonho	deu	um	tranco	violento	quando	o	míssil	voou.	Han	fez	uma	careta
quando	o	pirata	conseguiu	se	esquivar	no	último	segundo.	Ele	tentou	de	novo...
se	pelo	menos	pudesse	fazê-lo	se	mover	um	pouco	mais	para	bombordo...
–	Isso!	–	murmurou	Han	selvagemente	ao	lançar	outro	míssil	bem	no
caminho	do	pirata,	antecipando	a	manobra	evasiva	dele.	–	Te	peguei!
Um	segundo	depois,	uma	luz	amarela	e	branca	se	espalhou	em	todas	as
direções,	expandindo	numa	bola	de	fogo	de	beleza	incandescente.	Han	teve	que
desviar	o	olhar	e,	quando	encarou	a	tela	novamente,	o	outro	pirata	estava	em
fuga	na	direção	oposta	com	aceleração	máxima.
–	Ah,	não,	sem	chance	–	grunhiu	Han.	–	Vou	te	pegar	também...	–	Com	um
apertão	feroz	do	dedo,	ele	rastreou	o	alvo	e	disparou	de	novo.
O	míssil	de	concussão	seguiu	o	alvo,	mas	então	a	nave	pirata	desapareceu
num	estouro	de	luz	estriada.	Eles	tinham	escapado	para	o	hiperespaço	em
segurança.	Han	praguejou	enquanto	botava	a	Sonho	em	piloto	automático	e
corria	para	a	cabine	de	tiro.	Será	que	Muuurgh	estava	bem?
Segundos	depois,	Han	se	encontrava	nas	ruínas	do	suporte	do	canhão,
examinando	o	selante	de	pressão	que	os	sistemas	da	Sonho	tinham	espirrado
automaticamente	para	fechar	o	vazamento	de	ar.	Havia	um	forte	cheiro	de
ozônio	e	marcas	de	chamuscado	onde	os	raios	tinham	atingido.
Muuurgh	ainda	estava	atado	ao	assento	móvel,	mas	o	Togoriano	estava
desmoronado,	inconsciente,	e	nem	se	mexeu	quando	Han	soltou	o	cinto	e
conseguiu	meio	que	arrastá-lo,	meio	que	carregá-lo	pela	escadinha	até	a	sala	de
controle.
Muuurgh	ainda	respirava,	mas	tinha	uma	marca	de	queimadura	num	lado	da
cabeça,	logo	abaixo	da	orelha	direita.	Han	examinou	mais	atentamente,	passando
os	dedos	pelo	pelame	negro,	e	descobriu	um	galo	cada	vez	mais	inchado	logo
atrás	da	orelha.	O	Togoriano	obviamente	tinha	levado	uma	pancada	feia	na
cabeça.	Han	não	sabia	o	que	fazer	–	conhecia	primeiros	socorros	para	humanos,
e	algumas	espécies	de	alienígenas,	mas	o	povo	de	Muuurgh	era	raro	na	galáxia.
Preciso	levá-lo	a	uma	instalação	médica,	pensou	ele,	cobrindo	o	alienígena
inconsciente	com	um	cobertor.	Em	seguida,	conferiu	o	navicomputador.	Onde
fica	o	sistema	mais	próximo?
Han	esquadrinhou	as	cartas	estelares,	cravando	o	dedo	num	ponto	específico.
–	Certo	–	sussurrou.	–	Lá	vamos	nós.	–	Deu	uma	olhada	no	Togoriano.	–
Aguenta	firme,	Muuurgh!
Han	programou	o	curto	salto	pelo	hiperespaço	e,	antes	de	dar	o	comando,	foi
verificar	os	motores.	O	cheiro	desagradável	de	conectores	queimados	lhe
provocou	uma	careta.	Será	que	eu	deveria	usar	a	unidade	de	hiperdrive	de
reserva?
Só	que	a	reserva	era	muito	mais	lenta,	e	ele	não	tinha	como	avaliar	a
seriedade	da	condição	de	Muuurgh.	Han	decidiu	correr	o	risco	de	usar	o	motor
hiperdrive	principal.	Prendeu	a	respiração	ao	iniciar	o	salto	para	o	hiperespaço.
Han	começou	a	suar	com	a	forma	como	a	nave	hesitou	e	com	o	barulho	de
esforço	que	o	motor	fez.
A	Sonho	estremeceu,	gemeu,	mas	as	estrelas	subitamente	correram	contra	ela
em	listras,	e	eles	saltaram.
Han	saiu	do	hiperespaço	um	curto	período	depois,	agradecendo	às	suas
estrelas	da	sorte	que	a	Sonho	Ylesiano	tivesse	aguentado	o	pulo.	Os	motores	de
velocidade	da	luz	da	nave	certamente	precisavam	de	reparos...
O	corelliano	seguiu	para	o	sistema	estelar	que	tinha	escolhido,	na	direção	do
único	mundo	habitado.	Enquanto	ainda	estavam	bem	distantes,	colocou	a	Sonho
em	piloto	automático	e	foi	no	compartimento	de	carga	verificar	a	caixa	de
brilhestim.	O	mundo	que	ele	tinha	escolhido	era	conhecido	por	ter	inspeções	de
alfândega	e	especiarias,	então	o	rapaz	abriu	o	compartimento	secreto	que	os
sacerdotes	tinham	incluído	no	convés	de	carga	e	tirou	as	caixas	de	perfume
âmbar	gris	doreeniano	que	transportava	como	carga	de	“cobertura”.	Grunhindo
com	esforço,	Han	carregou	os	pesados	caixotes	de	perfume	até	o	porão.	Depois
levou	a	caixa	muito	menor	de	frascos	de	brilhestim	ao	compartimento	oculto,
assegurando-se	de	que	o	tinha	fechado	bem.	A	não	ser	que	alguém	soubesse	que
aquilo	estava	ali,	jamais	encontraria,	e	o	espaço	tinha	sido	criado	para	ser	à
prova	de	varreduras.
Quando	Han	chegou	de	volta	ao	assento	de	piloto,	o	mundo	escolhido	já
crescia	nas	telas.	Com	a	aproximação,	viu	que	era	um	lindo	planeta,	azul,	branco
e	bege	contra	a	treva	noturna	do	espaço.
O	piloto	lembrou	de	repente	que	tinha	desligado	o	sistema	de	comunicações
depois	de	mandar	a	mensagem	a	Ylesia.	Melhor	ligarde	novo,	pensou,	entrar
em	contato	com	o	controle	do	espaçoporto	e	receber	autorização	para	pousar.
Olhou	de	volta	para	Muuurgh,	que	não	tinha	se	mexido	ou	feito	um	ruído.	E
solicitar	transporte	ao	hospital	mais	próximo...
Assim	que	seus	dedos	clicaram	na	unidade	de	comunicação,	a	tela	de	vídeo
foi	preenchida	com	a	imagem	de	um	homem	de	aparência	gentil,	com	uma
garotinha	de	cabelos	negros	sentada	no	seu	colo.	Han	levou	um	susto,	depois
percebeu	que	a	mensagem	era	pré-gravada	e	transmitida	a	todas	as	naves	num
vetor	de	aproximação.
Uma	narração	identificou	o	homem:
–	Sua	majestade,	Bail	Prestor	Organa,	vice-rei	e	primeiro-secretário.
O	homem	sorriu	para	a	tela.
–	Saudações.	Em	meu	nome	e	do	meu	povo,	lhe	dou	as	boas-vindas	a
Alderaan.
Han	ouviu	sem	prestar	muita	atenção	enquanto	o	homem	–	rei	Fulano	de	Tal,
ele	disse?	–	continuou	com	a	vídeo-mensagem.
–	Como	muitos	de	nossos	visitantes	já	sabem,	Alderaan	é	um	mundo
pacífico,	onde	nos	abstemos	das	armas	e	de	seu	uso.	Enquanto	você	for	nosso
hóspede,	pedimos	que	respeite	nossas	tradições	e	leis	e	deixe	suas	armas	com	a
Capitania	dos	Portos	durante	sua	estadia.	Você	perceberá	que	Alderaan	tem
muito	a	oferecer	aos	visitantes.	Não	temos	praticamente	nenhum	crime...
Certo,	pensou	Han.	Aposto	que...
–	...	e	nenhuma	poluição.	Nossos	lagos	são	límpidos,	nosso	ar	é	puro	e	nosso
povo	é	feliz.	Temos	museus	maravilhosos,	e	o	convidamos	a	visitá-los.	Não
perca	nossas	gravuras	de	grama	quando	as	sobrevoar	na	sua	aproximação	de
pouso.	Nossos	pintores	de	relva	estão	entre	os	maiores	artistas	da	galáxia.
Damos	as	boas-vindas	a	todos	os	visitantes	de	nosso	bel	mundo	e	pedimos
apenas	que	venham	em	paz	e	que	obedeçam	nossos...
Han	murmurou	uma	ofensa,	inclinou-se	para	a	frente	e	desativou	o	som	da
transmissão.	Fez	um	gesto	rude	para	a	tela.	Um	planeta	inteiro	de	cidadãos
honestos?	Só	vou	acreditar	quando	vir...
Minutos	depois,	a	mensagem	enlatada	de	Bail	Organa	foi	substituída	por	um
controlador	de	tráfego	da	Capitania	dos	Portos.	Han	reativou	o	áudio.
–	Capitão	Draygo,	pilotando	a	Sonho	Ylesiano	–	anunciou,	eficiente.	–	Peço
permissão	para	pousar.	Fui	atacado	por	piratas,	minha	nave	está	danificada,	e	eu
estou	com	um	artilheiro	ferido.	Vocês	poderiam	providenciar	um	veículo	de
remoção	médica	para	se	encontrar	com	minha	nave	assim	que	eu	pousar?
–	Certamente,	capitão	Draygo.	Designei	a	você	um	vetor	de	aproximação
prioritário.	Vamos	encaixá-lo	na	Baia	de	Atracação	422.	É	só	seguir	o
sinalizador	de	aterrissagem	até	seu	ponto.	Teremos	um	transporte	e	um	droide
médico	no	aguardo.
–	Obrigado.
O	vetor	de	aproximação	de	Han	realmente	o	levou	por	sobre	as	pinturas	de
grama	e,	mesmo	ocupado	como	ele	estava,	não	conseguiu	deixar	de	se
impressionar.	A	imensa	planície	de	relva	ondulante,	soprada	pelo	vento,	exibia
um	design	abstrato	de	quilômetros	de	extensão,	composto	com	flores	silvestres
multicoloridas.	Truque	bacana,	pensou.	Como	será	que	eles	fazem?	E	por	que	se
dão	ao	trabalho?	Não	é	como	se	você	pudesse	vender	arte	desse	tipo	e	ganhar
dinheiro	com	isso...
A	capital	de	Alderaan,	Aldera,	ficava	numa	ilha	no	meio	de	um	lago.	O	local
do	lago	na	verdade	era	uma	cratera	de	meteoro	que	tinha	se	enchido	com	a	água
dos	lençóis	freáticos.	Os	restos	da	cratera	imensa	e	relativamente	“recente”	(em
termos	geológicos,	pelo	menos)	cercavam	o	lago	numa	série	de	contrafortes
baixos	e	pontiagudos	cujas	encostas	estavam	salpicadas	com	prados	verdes	e
florestas.	A	água	azul-gelo	que	preenchia	a	cratera	milenar	faiscava	sob	os	raios
do	sol	matinal.
O	espaçoporto	ficava	do	lado	oposto	da	ilha,	e	Han	mergulhou	sobre	a	cidade
no	seu	vetor	de	aproximação	designado.	Em	poucos	minutos,	ele	baixou	a	Sonho
Ylesiano	num	pouso	perfeito.	Agora	tinha	tanta	experiência	aterrissando	apesar
das	imensas	tempestades	e	correntes	de	ar	maldosas	que	pousar	uma	nave	num
planeta	normal	parecia	brincadeira	de	criança.
A	unidade	médica	estava	esperando,	conforme	prometido.	Han	rapidamente
pegou	a	pistola	de	Muuurgh	e	a	guardou,	depois	trouxe	a	bordo	o	droide	médico
com	a	maca	antigrav	e	ajudou	a	colocar	Muuurgh	nela.
–	Você	acha	que	ele	vai	ficar	bem?	–	perguntou	ao	droide	atendente.
–	Minha	varredura	preliminar	indica	que	não	há	trauma	com	risco	de	vida
como	resultado	do	ferimento	craniano	–	respondeu	o	droide.	–	Entretanto,
teremos	que	executar	testes	adicionais.	Eu	anteciparia	que	seu	tripulante	vai
precisar	passar	a	noite	em	nossa	instalação.
–	Certo	–	disse	Han.	Tenho	que	dar	algum	jeito	para	pagar	pelo	tratamento
de	Muuurgh	,	pensou	ele	enquanto	observava	a	maca	que	levava	o	Togoriano
desaparecer	dentro	do	transporte,	que	imediatamente	decolou	e	seguiu	para	o	sul.
Han	viu	uma	técnica	passando	e	a	chamou	com	um	aceno.
–	Escuta,	eu	sofri	alguns	danos	–	contou	ele.	–	Tem	como	uma	equipe	de
reparos	aparecer	aqui	imediatamente?
–	Deixe-me	ver	o	tamanho	do	estrago	–	respondeu	ela.	Han	a	guiou	até	o
suporte	do	canhão,	depois	até	a	sala	de	máquinas	para	conferir	o	hiperdrive.	–	Os
dois	serviços	vão	levar	pelo	menos	seis	horas	para	ficarem	prontos	–	informou
ela.	–	Mas	já	podemos	começar	a	trabalhar	hoje	mesmo.
–	Ótimo	–	disse	Han.	Ele	fizera	pequenos	reparos	em	swoops	e	speeders
quando	era	piloto	de	corrida,	mas	nunca	tinha	lidado	com	algo	tão	grande	assim
e	queria	se	assegurar	de	que	o	serviço	ficaria	perfeito.
Quando	a	equipe	de	reparo	embarcou	na	Sonho	,	Han	se	perguntou	o	que
deveria	fazer	em	seguida.	Ligar	para	Ylesia,	decidiu.	Os	sacerdotes	teriam	que
providenciar	o	pagamento	dos	reparos	e	do	tratamento	de	Muuurgh.
Han	seguiu	para	a	cabine	de	comando,	querendo	fazer	a	chamada
imediatamente.	A	mão	estava	no	botão	quando	o	rapaz	subitamente	ficou
paralisado.
Espeeeeeera	um	minuto...	pensou	ele.	O	que	eu	estou	fazendo?	Estou
sentado	aqui	com	uma	remessa	de	brilhestim,	a	especiaria	mais	valiosa	de
todas,	e	vou	simplesmente	levá-la	de	volta	a	Ylesia	para	que	eles	possam	vendê-
la	de	novo?
Han	conferiu	a	gravação	automática	dos	registros,	prestando	atenção	no	que
tinha	dito	durante	a	transmissão.	Sorriu	para	si	mesmo.	Isso	é	moleza.	Só	tenho
que	dizer	aos	sacerdotes	que	fui	abordado	e	os	piratas	levaram	o	brilhestim.
Muuurgh	estava	apagado,	e	não	sabe	o	que	aconteceu.	Posso	vender	essa
especiaria	aqui	em	Alderaan,	esconder	o	dinheiro	numa	conta	local,	depois
transferir	mais	tarde.	Eles	nunca	vão	saber...
Porém,	se	ele	quisesse	manter	o	emprego	de	piloto	para	os	sacerdotes
Ylesianos,	teria	que	fazer	negócio	rápido	.	Tinha	informado	que	estava	nas
coordenadas	de	encontro	na	mensagem,	e	os	sacerdotes	não	eram	burros.
Poderiam	conferir	quanto	tempo	levava	para	uma	nave	ir	de	onde	ele	tinha	sido
atacado	até	Alderaan.	Han	poderia	explicar	algumas	horas	adicionais	apontando
o	dano	que	a	Sonho	tinha	sofrido	e	alegando	a	lerdeza	da	viagem,	a	necessidade
de	pegar	leve	com	a	nave...
Certo,	pensou	Han.	Posso	enrolar	mais	ou	menos	cinco	horas	por	aqui...	não
mais.	A	essa	altura,	eu	terei	que	ligar	e	contar	para	eles	que	estou	vivo,	que	a
nave	está	danificada,	e	que	eles	terão	que	providenciar	pagamento.	Mais	tempo
que	isso,	e	eles	vão	ficar	desconfiados...
Han	tirou	a	surrada	jaqueta	marrom	de	couro	de	lagarto	do	armário	e
endireitou	o	velho	macacão	de	piloto	do	melhor	jeito	que	pode.	Depois	penteou
o	cabelo.	Não	quero	parecer	relaxado,	pensou	ele	ironicamente,	recordando
Dewlanna	e	como	a	Wookiee	sempre	insistira	que	ele	ficava	bonito	com	o	cabelo
espetado	para	cima,	como	o	povo	dela	fazia.
Vestiu	a	jaqueta	sobre	o	uniforme	cinzento	e	contemplou	com	tristeza	a
pistola	de	raios	de	Muuurgh,	desejando	poder	levá-la.	Planeta	idiota.	Quem	já
ouviu	falar	num	mundo	onde	armas	não	são	permitidas?	Suspirou,	balançou	a
cabeça	e	deixou	a	Sonho	Ylesiano	para	as	equipes	de	reparo.
Caminhou	rapidamente	até	a	entrada	do	espaçoporto,	depois	tomou	um	dos
transportes	gratuitos	que	levavam	à	capital	de	Aldera.	A	metrópole	reluzia
branca	sob	a	luz	do	sol,	tão	limpa	e	luxuriante	quanto	uma	cidade	de	sonho.	Han
encarava	tudo	pela	janela	do	transporte,	prestando	atenção	nas	torres,	domos	e
prédios	em	camadas,todos	ultramodernos,	formas	brancas	entremeadas	com
terraços	verdes.	A	ilha	era	montanhosa,	e	os	arquitetos	da	cidade	tinham	seguido
as	linhas	naturais	do	terreno	em	vez	de	terraplenar	tudo.	O	resultado	era
agradável	e	variável	aos	olhos...	belo	e	moderno,	sem	parecer	agressivo	ou
artificial.
O	programa	enlatado	do	transporte	automatizado	indicava	pontos	de
interesse	conforme	passavam	por	eles.	Han	viu	museus,	galerias	fechadas
gigantescas,	edifícios	de	escritórios	e	governamentais	e,	finalmente,	ao	se
aproximar	do	coração	da	cidade,	viu	os	altos	pináculos	e	domos	rasos	do	palácio
real	cintilando	brancos	e	dourados	ao	sol.	Han	sorriu	ironicamente,	imaginando
se	aquela	princesinha	que	tinha	visto	na	mensagem	estaria	em	algum	lugar	por
ali,	vivendo	sua	vidinha	rica	e	perfeita.	Com	alguma	sorte,	eu	logo	serei	rico
também...
Han	ficou	no	transporte	enquanto	ele	deslizava	pela	rota	e	continuou
avaliando	a	cidade.	Tinham	saído	da	área	de	grandes	prédios	e	agora	seguiam	em
meio	aos	subúrbios	residenciais.
O	piloto	admitiu	que	parecia	um	bom	lugar	para	se	viver,	enquanto
contemplava	as	muitas	praças	com	chafarizes	e	pátios,	as	casas	opulentas,	ruas
limpas,	e	as	pessoas	bem	vestidas	por	quem	eles	passavam.	Só	que	esta	não	é	a
área	que	eu	quero...	Melhor	eu	sair	explorando	sozinho.	Eles	não	querem	que	os
turistas	vejam	os	lugares	que	eu	preciso	visitar...
Depois	de	saltar	do	transporte,	Han	perambulou	pela	parte	central	da	cidade,
conferindo	a	disposição	do	terreno.	Por	instinto,	seguiu	para	uma	região	em	que
as	casas	eram	menores	e	não	tão	bem	mantidas.	Por	fim,	numa	vizinhança	que
era	definitivamente	de	baixa	renda	e	contava	com	mais	de	uma	taverna	e	loja	de
penhores,	o	rapaz	percebeu	que	tinha	chegado	ao	lugar	certo.
Han	esquadrinhou	as	ruas	conforme	andava,	procurando	um	tipo	particular
de	indivíduo.	Finalmente,	encontrou	o	que	queria.	Um	garoto	vestindo	roupas
quase	pequenas	demais,	esfarrapadas,	e	não	muito	limpas	passeava	pela	rua,
espiando	ah-tão-casualmente	cada	transeunte.	Han	reconheceu	o	menino,	mesmo
que	nunca	o	tivesse	visto	antes.
Um	batedor	de	carteiras.	Dez	anos	antes,	ele	tinha	sido	esse	menino.
Han	esticou	o	passo	até	alcançar	o	menino.	Como	esperado,	o	garoto
deslocou	o	peso	e	alterou	a	passada	para	esbarrar	em	Han	quando	o	corelliano
passou	por	ele.	E,	também	como	esperado,	os	dedos	rápidos	como	relâmpagos
mergulharam	fundo	no	bolso	da	jaqueta	do	piloto.	Mas	emergiram	vazios;	a
identidade	e	poucos	créditos	que	Han	carregava	estavam	selados	dentro	do	bolso
interno	do	macacão.
Han	andou	mais	rápido	até	estar	à	frente	do	menino,	então,	sem	aviso,	deu
meia-volta	e	confrontou	a	criança.
–	E	aí?	–	disse	ele,	sorrindo	agradavelmente	e	estendendo	o	identidisco	e	o
dinheiro	do	menino.	–	Perdeu	alguma	coisa?
O	garoto	ficou	boquiaberto	de	espanto,	depois	se	recuperou	e	fez	cara	feia
para	Han,	com	olhos	negros	incandescentes.
Han	se	encostou	casualmente	numa	vitrine	de	loja.
–	Você	é	descuidado	de	perder	essas	coisas...
O	menino	inchou	como	um	lagarto	mrelfa	envenenado,	depois	se	lançou
numa	descrição	furiosa	e	detalhada	dos	ancestrais,	hábitos	pessoais	e	provável
destino	de	Han.	O	piloto	escutou	pacientemente	até	que	o	pivete	começou	a
gaguejar	e	se	repetir,	aí	ele	acenou,	pedindo	silêncio.
–	Eu	vou	te	devolver	–	afirmou,	alegremente	–,	em	troca	de	algumas
informações.
O	garoto	o	encarou	zangado,	tirando	os	cabelos	longos	demais	dos	olhos.
–	Que	tipo	de	informações,	seu	filho	de	um	tarado	pestilento?
Han	jogou	uma	das	moedas	no	ar	e	a	pegou	de	novo	com	facilidade,	sem
olhar.
–	Meça	suas	palavras,	moleque.	Só	quero	saber	aonde	as	pessoas	vão	nesta
cidade	para	fazer	negócios.
–	Que	tipo	de	negócios?
–	Você	sabe	que	tipo	de	negócios.	Negócios	que	elas	não	querem	que	a	lei
fique	sabendo.	Negócios	que	envolvem	substâncias	que	você	não	pode	comprar
legalmente.
–	Especiaria?	–	O	menino	franziu	o	cenho.	–	Qual	tipo?
–	Brilhestim.
O	cenho	do	menino	se	franziu	ainda	mais.
–	Que	que	é	isso?
Bem	a	minha	sorte,	pensou	Han.	Eu	encontrei	o	único	pivete	burro	de
Aldera.	Maravilha.
–	Brilhestim	–	repetiu	Han.	–	É	tipo...	bem,	é	valioso	pra	caramba.	Mais	até
que	carsunum	ou	andris.
O	menino	balançou	a	cabeça	de	novo.
–	Nunca	ouvi	falar	neles	também.
Não	acredito	nisso!
–	E	quanto	a	andris?	Vocês	têm	andris	aqui?	Usam	para	temperar	a	comida,
preservar?
O	menino	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	É,	andris.	Temos	isso	sim.	Troço	caro.
–	Certo,	quando	vocês	compram	andris,	com	quem	vocês	compram?
–	Eu	não	compro	andris,	seu	nojento	–	retrucou	o	menino.	–	Agora	me
devolve	meu	dinheiro	e	documento.
–	Só	um	segundo,	tenha	paciência	–	insistiu	Han,	levantando	os	itens	para
fora	do	alcance	do	menino.	–	Tá,	tudo	bem,	você	não	compra	andris	você
mesmo.	Mas	e	se	os	seus	amigos	quiserem	um	pouco,	onde	eles	conseguiriam?
Numa	loja?	Numa	agência	do	governo?
A	expressão	do	menino	foi	eloquente	enquanto	ele	balançava	a	cabeça.
–	Não,	cara.	A	gente	compra	do	Darak	Lyll.
Finalmente!	Um	nome!
–	Era	isso	que	eu	queria.	Darak	Lyll.	Como	é	que	ele	é?
–	Mais	alto	que	você.	Cabelo	comprido,	barbudo.	Barrigudo.
–	Velho	ou	jovem?
–	Velho.	Cabelo	grisalho.
–	E	por	onde	ele	circula?
–	Eu	lá	tenho	cara	de	mãe	dele?	–	zombou	o	pivete.
Han	respirou	fundo.
–	É	só	você	me	dizer	os	nomes	de	quaisquer	lugares	que	ele	frequente	num
dia	normal.	Não	minta,	ou	eu	juro	que	vou	gritar	que	você	tentou	me	roubar.
O	garoto	indicou	seis	tavernas,	explicando	que	todas	ficavam	a	5	minutos
dali.	Han	se	endireitou	e	devolveu	as	posses	do	menino.
–	Da	próxima	vez,	guarde	suas	coisas	dentro	das	suas	roupas,	moleque	–
aconselhou.	–	Junto	ao	seu	corpo.	–	Han	deu	tapinhas	no	próprio	dinheiro	e	abriu
um	sorriso	arrogante.
O	garoto	vociferou	para	Han	e	se	afastou	xingando.
Tavernas	alderaanianas	eram	limpas	e	bem	iluminadas	demais,	Han	concluiu
uma	hora	mais	tarde.	Já	tinha	visitado	três	das	seis	até	aquele	momento,	e
nenhuma	delas	tinha	parecido	suficientemente	mal	frequentada	para	seus
propósitos.	Nenhum	sinal	de	Darak	Lyll	também.
Num	dos	lugares	ele	viu	de	relance	um	sujeito,	no	fundo,	deslizar	alguma
coisa	para	outro	homem,	escondida	debaixo	do	braço,	e	em	seguida	um	disco	de
créditos	foi	passado	de	volta	para	ele	de	uma	forma	igualmente	clandestina.	Han
esperou	até	que	o	primeiro	homem	se	levantasse	para	usar	a	unidade	de	limpeza,
depois	foi	atrás	dele.	Quando	o	sujeito	saiu,	Han	esperava	por	ele	no	corredor
escuro.
–	Queria	bater	um	papo	contigo,	meu	chapa.
O	“comerciante”,	um	cara	pequeno	e	de	rosto	fino	que	lembrava	Han	de	um
ranat,	espiou	desconfiado	o	corelliano,	depois	claramente	concluiu	que	Han	não
representava	risco.
–	É	mesmo?	Sobre	o	quê?
–	Você	trabalha	com	especiarias?
O	homem	hesitou	por	um	longo	momento.
–	Quanto	você	quer?
–	Não,	chapa,	eu	tô	vendendo,	não	comprando.	Interessado?
–	Que	que	você	tem?
–	Brilhestim.	Cem	frascos.
–	Brilhestim!	–	A	voz	do	homem	se	elevou,	mas	ele	a	baixou	apressadamente
e	chegou	mais	perto.	–	Onde	que	você	arranjou	isso	,	filho?
–	Não	sou	seu	filho,	e	não	é	problema	seu	onde	eu	arranjei.	Tá	interessado?
–	Em	qualquer	outro	mundo	que	não	este,	pode	crer	que	eu	estaria
interessado,	mas...	–	O	sujeito	balançou	a	cabeça.	–	Não.	Nenhum	canal	para
desovar	o	material.	Teria	que	contrabandear	para	fora	do	planeta,	e	isso	é
arriscado	demais.	Eles	me	mandariam	para	as	minas	de	Kessel	para	escavar	essa
coisa	infernal.	Brilhestim	pode	ser	perigoso,	sabe.	Te	deixa	cego	se	você	tomar
demais.	Deixa	os	Biths	loucos,	sabe.
–	Sei	disso	tudo	–	retrucou	Han,	impaciente.	–	Obrigado	por	nada,	chapa.
Fazendo	cara	feia,	Han	saiu	da	taverna.
Finalmente	esbarrou	com	Darak	Lyll	na	quinta	taverna	que	visitou.
Reconheceu	o	traficante	pela	descrição	do	pivete.	Lyll	jogava	sabacc	e,	quando
viu	Han	parado	ali,	observando	o	jogo,	cordialmente	chamou	o	jovem	corelliano
com	um	aceno.
–	Topa	jogar	uma	mão?
Han	já	tinha	jogado	sabacc	antes,	mas	não	era	esse	o	motivo	da	sua	vinda.
Encarou	Darak	Lyll	diretamente	e	ergueu	as	sobrancelhas.
–	Tudo	depende	do	que	você	aceitar	como	aposta,	Lyll.
A	expressão	do	homem	nãomudou	em	nada	enquanto	ele	deu	uma	olhada
casual	para	Han.
–	Tem	alguma	coisa	boa,	piloto?
–	Talvez.
–	Bem,	a	aposta	inicial	é	de	vinte	créditos.
Han	balançou	a	cabeça.
–	Mudei	de	ideia.	Vou	lá	fora	pegar	um	ar	fresco.
O	rapaz	esperou	do	lado	de	fora,	encostado	na	parede	do	beco,	por	uns	5
minutos.	Quando	ouviu	alguém	se	aproximando,	Han	falou	sem	olhar:
–	Demorou	bastante.	Estava	ganhando?
–	Mão	do	idiota	–	explicou	Lyll,	usando	o	jargão	de	jogador	de	sabacc	para
uma	poderosa	sequência	vencedora.	–	Então,	o	que	você	tem?
Han	se	virou	para	o	homem.
–	Brilhestim.	Cem	frascos.
–	Uau!	–	Darak	Lyll	assoviou,	impressionado.	–	Onde	você	arranjou	isso	?
–	Não	é	assunto	seu	–	retrucou	Han.	–	Vai	querer?	Faço	um	bom	preço...
–	Bem	que	eu	queria,	meu	jovem	amigo,	bem	que	eu	queria	–	respondeu
Lyll,	soando	pesaroso.	–	Mas	eu	seria	um	idiota	de	aceitar.	Não	tem	mercado
nenhum	aqui	em	Alderaan.
Han	praguejou	em	voz	baixa	e	lhe	deu	as	costas.	O	que	eu	vou	fazer?	,
perguntou-se.	O	tempo	dele	estava	definitivamente	acabando.	Talvez	ele	devesse
embarcar	num	transporte	intercontinental	e	tentar	outra	cidade.	Talvez	só	Aldera
fosse	assim	tão	absolutamente	limpa	neste	mundo.
Han	suspirou.	Não	tenho	tempo.	Ou	vendo	o	bagulho	em	uma	hora,	ou	eu	...
Alguém	pôs	a	mão	em	seu	ombro.	Han	precisou	de	cada	gota	de	autocontrole
que	tinha	para	não	gritar	e	sair	correndo,	de	tão	tenso	que	estava.	Em	vez	disso,
apenas	se	virou	e	olhou	feio	para	o	homem	de	meia-idade	e	pele	escura	que
caminhava	ao	seu	lado.
–	Acho	que	você	me	confundiu	com	outra	pessoa	–	afirmou	o	rapaz	com	voz
calma.
–	Acho	que	não,	Vykk	–	respondeu	o	homem.	–	Piloto	Vykk	Draygo,	vindo
de	Ylesia,	não	é?
–	E	se	eu	for?	–	retrucou	Han.	–	Eu	não	te	conheço.
–	Marsden	Latham	–	apresentou-se	o	sujeito,	sacando	um	distintivo	de
holoidentidade	debaixo	do	nariz	de	Han.	–	Força	de	segurança	interna
alderaaniana.
Ah,	não...
–	Estamos	de	olho	em	você,	piloto	Draygo,	desde	que	você	chegou	todo
estragado	esta	manhã.	Ficamos	felizes	em	poder	ajudar	com	os	reparos	e	com	o
tratamento	do	seu	colega.	Você	viu	aquela	mensagem	quando	entrou	no	alcance
da	frequência	de	Alderaan?
–	Vi.
–	Bem,	é	para	ser	levada	a	sério.	Não	gostamos	de	encrencas	aqui.	–	O
homem	sorriu	de	repente,	mostrando	dentes	muito	brancos	e	retos.	–	Você	não
gostaria	de	provocar	encrencas,	gostaria,	piloto?
Han	fez	um	esforço	para	manter	o	rosto	impassível.	Eles	sabem	que	eu	andei
tentando	vender	o	bagulho	...	devem	estar	me	vigiando	a	manhã	inteira	...
Silenciosamente,	amaldiçoou	o	policial.	Em	voz	alta,	respondeu:
–	Claro	que	não,	senhor.	Sou	um	cara	do	tipo	paz	e	amor.
–	Disse	isso	ao	meu	chefe	e	fico	feliz	que	a	minha	impressão	tenha	se
confirmado.	Bom	falar	com	você,	piloto	Draygo.	Tenha	uma	boa	estadia	em
Alderaan.
Os	passos	do	homem	se	alongaram	e	aceleraram,	então,	e	ele	se	afastou	de
Han,	rua	acima.
O	corelliano	se	forçou	a	continuar	andando	devagar,	a	não	olhar	para	trás.
Sem	dúvida	alguma	eles	estariam	lá,	seguindo-o.	A	brincadeira	acabara,	e	Han
tinha	perdido.	Fez	uma	cara	feia	e	balançou	a	cabeça,	meio	aborrecido,	meio
impressionado.	Aqueles	agentes	de	segurança	eram	muito	bons.	Han	não	fizera
ideia	de	que	estava	sendo	vigiado.
Era	óbvio	que	a	“conversa”	do	homem	tinha	sido	uma	advertência	não	tão
velada	para	que	ele	parasse	de	tentar	vender	a	carga.	Teria	que	levá-la	de	volta	a
Ylesia.	Não	havia	nenhum	outro	planeta	próximo	que	ele	pudesse	alcançar	para
fazer	negócio.
Conferiu	a	hora	e	percebeu	que	teria	tempo	apenas	para	visitar	Muuurgh
antes	de	ligar	para	Ylesia.	Han	apertou	o	passo	e	seguiu	para	a	estação	de
transporte	público	mais	próxima.
O	hospital	universitário	aonde	o	Togoriano	tinha	sido	levado	ficava	no
campus	da	Universidade	de	Alderaan.	Han	saltou	do	transporte	e	deu	uma
olhada	em	volta	por	um	momento.	Bacana...	pensou	ele,	bacana	mesmo...	Por
um	momento,	perguntou-se	se	a	Academia	seria	parecida	com	aquilo.
Provavelmente	não	,	concluiu.	É	uma	instalação	militar.	Vai	ser	mais	parecida
com	uma	base,	aposto	...	mas	isto	aqui	...	é	classudo	de	verdade	...
Gramados	verdes	e	azuis	se	estendiam	pelo	quadrângulo	central.	Canteiros
de	flores	criavam	manchas	brilhantes	de	cor	e	cercavam	o	imenso	chafariz
central.	No	meio	do	chafariz	havia	uma	enorme	escultura	em	gelo	vivo	de	um
jovem	casal	alderaaniano	de	mãos	dadas	e	estendidas	aos	céus.	Ei,	isso	deve
valer	um	barril	de	créditos	,	pensou	Han,	espiando	a	escultura	e	concluindo	que
deveria	ser	uma	obra	de	arte	sem	preço.
Definitivamente	um	casebre	de	classe	,	decidiu	Han	enquanto	passava	ao
lado	da	escultura	e	seguia	em	direção	à	impressionante	escadaria	de	pedra	branca
que	levava	ao	hospital.
O	infodroide	na	recepção	forneceu	o	número	do	quarto	do	Togoriano.	Han	se
apressou	pelos	corredores	e,	diante	do	quarto,	parou	para	falar	com	o	droide
médico.
–	Seu	amigo	sofreu	um	impacto	severo	no	crânio	–	explicou	o	droide.	–
Provavelmente	teria	matado	um	humanoide.	Felizmente,	Togorianos	têm	tecidos
ósseos	muito	densos,	portanto	ele	está	relativamente	ileso.	Está	recebendo
tratamento	de	cura	rápida	desde	que	chegou	aqui	e	deve	estar	pronto	para	partir
amanhã	de	manhã.
–	Obrigado	–	disse	Han,	abrindo	a	porta	e	entrando.
Muuurgh	estava	enrodilhado	num	grande	catre	redondo.	Estava	coberto	por
pequenos	sensores	que	monitoravam	sua	condição.	Quando	Han	entrou,	o
Togoriano	abriu	os	olhos	azuis.	Muuurgh	se	ergueu	parcialmente.
–	Piloto!
–	Ei,	como	vai	você,	meu	chapa?	–	Han	ficou	surpreso	ao	sentir	uma	imensa
onda	de	alívio	ao	ver	o	Togoriano	consciente	e	lúcido	outra	vez.	Não	tinha
percebido	que	passara	a	gostar	tanto	do	grande	felinoide.	–	Tão	te	tratando
direito?
–	Piloto...	–	Muuurgh	dava	impressão	de	estar	completamente	espantado	de
encontrar	Han	ali.
–	Você	parece	surpreso	em	me	ver	–	comentou	Han.	Era	um	tremendo
eufemismo.	Muuurgh	não	parecia	surpreso,	ele	estava	totalmente	pasmo.
–	Muuurgh	está...	–	O	grande	alienígena	balançou	a	cabeça	peluda,	meio
tonto.	–	Quer	dizer,	eu	estou	sim.	Não	pensei	que	veria	você	de	novo	nunca
mais.
Han	se	endireitou.
–	Por	que	não?	Você	achou	que	eu	ia	simplesmente	largar	você	aqui	e	sumir
com	a	carga?
–	Isso	–	confirmou	Muuurgh	com	simplicidade.
–	Bem,	eu	tô	aqui,	não	tô?	Se	eu	não	tivesse	arrastado	nós	dois	até	o	espaço
de	Alderaan	por	um	triz,	você	estaria	morto	agora.	Sugiro	que	você	se	lembre
disso,	chapa.	Você	me	deve	uma.
Muuurgh	concordou	com	a	cabeça,	tonto.
–	Sim,	Piloto...	Eu	lhe	devo	uma.
Han	fez	uma	careta	e	se	sentou	na	beira	do	catre.
–	E	chega	dessa	formalidade	de	“piloto”.	Sou	Vykk	de	agora	em	diante,	está
bem?
Muuurgh	estendeu	a	pata	e	a	pousou	com	gentileza	no	braço	de	Han.	Os
enormes	dedos	com	as	garras	agora	retraídas	faziam	o	membro	humano	parecer
minúsculo.
–	Certo,	Vykk...
Depois	que	Han	deixou	Muuurgh	aos	cuidados	atenciosos	dos	droides
médicos,	voltou	à	Sonho	e	ligou	para	Ylesia.	Teroenza	não	estava	disponível,
então	ele	pediu	para	falar	com	Veratil.	Quando	o	semblante	chifrudo	e	inchado
do	Ylesiano	apareceu	na	tela,	Han	lhe	deu	um	relato	resumido	das	aventuras
recentes,	prometendo	partir	de	volta	para	Ylesia	no	dia	seguinte.	Veratil,	por	sua
vez,	se	comprometeu	a	providenciar	o	pagamento	pelos	reparos	da	nave	e	o
tratamento	de	Muuurgh.
Depois	de	encerrar	a	chamada,	Han	percebeu	que	estava	com	fome.	Então,
depois	de	conferir	sua	pequena	reserva	de	créditos,	seguiu	para	uma	combinação
de	taverna	e	lanchonete	no	campus	da	Universidade	de	Alderaan.	Ficava	num
pátio	reservado,	e	um	chafariz	das	cores	do	arco-íris	lançava	cascatas	de	gotas
cristalinas	no	ar	diante	da	entrada.
Han	abriu	a	porta	e	entrou.
A	taverna	estava	cheia	de	jovens	vestidos	com	roupas	da	moda...
conversando,	rindo,	bebendo	e	comendo.	Han	hesitou,	sentindo-se	subitamente
inibido,	mas	sua	ousadia	natural	veio	ao	resgate.	Sou	tão	bom	quanto	qualquer
um	deles,	pensou	ele,	desafiador,	seguindo	o	droide	garçom	até	uma	mesinha.
Apesar	da	fachada	de	coragem,	o	jovem	corelliano	estava	embaraçosamente
ciente	da	forma	como	seu	macacão	manchado	de	suor	e	jaqueta	surrada
contrastavam	comos	trajes	elegantes	e	contemporâneos	dos	estudantes	que
papeavam	e	riam	nas	mesas.
Uma	vez	sentado,	Han	pediu	uma	cerveja	alderaaniana.	Estudou	o	menu	e
notou	que	o	lugar	oferecia,	como	prato	do	dia,	“cubos	de	nerf	e	tubérculos	em
molho	de	vinho”.	Era	meio	caro,	mas	ele	pediu	mesmo	assim,	sabendo	que	nerf
era	conhecido	como	uma	iguaria.	O	ensopado	veio	com	um	prato	de	pão	ázimo,
o	que	o	fez	pensar	na	Peregrina	921.	Queria	que	ela	estivesse	aqui,	pensou	ele.
Seria	legal	ter	alguém	com	quem	conversar...	Mergulhou	um	pedaço	de	pão	no
caldo,	provou,	mastigou	e	sorriu.	Isto	é	bom	demais!	Fazia	muito,	muito	tempo
que	ele	não	comia	algo	bom	de	verdade...	os	habitantes	da	Sorte	de	Mercador
frequentemente	sobreviviam	à	base	de	rações	espaciais	durante	as	viagens.	As
únicas	vezes	que	Han	comera	bem	tinha	sido	quando	desempenhava	um	papel
num	dos	golpes	de	Garris	Shrike.	Lembrava	de	um	churrasco	a	que	tinha	ido	em
Corellia.	Costelas	de	traladon	com	molho	especial...
Só	que	mesmo	costelas	de	traladon	grelhadas	não	se	igualavam	a	nerf,
concluiu	ele.	Esfomeado,	Han	caiu	matando	no	prato.	Quando	estava	na	metade,
uma	menina	bonita	com	longos	e	cacheados	cabelos	castanhos	e	olhos	azuis
brilhantes	subiu	no	pequeno	palco,	carregando	uma	bandoviola.	Sentou-se	num
banco	e	começou	a	dedilhar.	Então,	um	momento	mais	tarde,	sua	voz	soou,	clara
e	cristalina,	no	que	era	evidentemente	uma	balada	tradicional	alderaaniana.
Era	aquela	história	de	sempre,	sobre	uma	garota	que	perdeu	o	namorado	para
o	encanto	das	trilhas	espaciais,	e	como	ela	o	esperava,	mas	ele	nunca	voltava
para	casa	–	só	que	a	voz	da	cantora	era	tão	pura,	tão	sem	afetações,	que	ela
conferia	emoção	verdadeira	e	dignidade	à	letra	cheia	de	clichês.
Depois	que	ela	terminou,	Han,	acompanhado	dos	outros	presentes,	bateu
palmas	com	entusiasmo.	A	jovem	cantou	outra	canção,	depois	desceu	do	palco	e
veio	direto	na	direção	de	Han.	Por	um	momento,	ele	achou	–	torceu!	–	que	ela
estivesse	vindo	se	sentar	com	ele,	mas	não	teve	essa	sorte.	Ela	se	acomodou	num
assento	na	mesa	ao	lado.
Como	a	taverna	era	evidentemente	um	ponto	de	encontro	popular,	as	mesas
ficavam	todas	bem	próximas;	a	moça	estava	a	um	braço	de	distância	de	Han.	A
outra	pessoa	na	mesa	era	um	jovem	de	rosto	redondo,	um	ano	ou	dois	mais	velho
que	o	piloto.	Provavelmente	o	namorado	dela,	pensou	Han,	espiando	o	rapaz
disfarçadamente.	Tinha	cabelos	castanho-claros	e	olhos	verde-castanho-claros
pálidos.	Ao	contrário	da	garota,	que	vestia	um	vestido	simples,	que	descia	até	os
tornozelos,	e	sandálias,	o	acompanhante	era	um	tributo	à	moda	moderna.
Sua	túnica	roxa	era	atada	com	um	largo	cinturão	laranja	que	contrastava	com
as	botas	vermelhas	até	os	joelhos.	As	calças	amarelas	aderiam	às	pernas	como
uma	segunda	pele.	Han,	em	seu	velho	macacão	cinzento,	parecia	um	pardal	perto
de	uma	ave	do	paraíso.
Quando	a	cantora	jogou	o	cabelo	para	trás	e	sorriu	triunfante,	Han	conseguiu
chamar	sua	atenção.	Fez	um	gesto	de	bater	palmas	em	silêncio,	e	ela	sorriu	e	se
curvou	em	agradecimento.
–	Você	foi	ótima!	–	disse	ele.
–	Obrigada!	–	respondeu	ela.	–	Foi	a	primeira	vez	que	eu	tive	coragem	de
cantar	diante	de	uma	plateia!	–	A	garota	estava	corada,	sem	fôlego	e	era	muito
charmosa.	Han	sorriu	de	volta	para	ela.	Não	me	incomodaria	em	passar	algumas
horas	(e	o	resto	da	noite)	com	ela...
Em	voz	alta,	ele	disse:
–	Somos	uma	plateia	muito	sortuda,	então.	Testemunhamos	o	nascimento	de
uma	grande	carreira.
–	Obrigada!	–	Ela	estendeu	a	mão.	–	Sou	Aryn	Dro,	e	este	é	Bornan	Thul.
Han	tomou	a	mão	dela	e,	em	vez	de	apertar,	curvou-se	sobre	ela,	como	se
Aryn	fosse	da	nobreza	corelliana.	Seus	lábios	não	chegaram	a	tocar	as	costas	da
mão	da	cantora,	mas	chegaram	perto	o	bastante	para	que	ela	sentisse	o	calor	do
hálito	dele	na	pele.
–	Estou	honrado,	Aryn	–	disse	ele.	–	Vykk	Draygo.
Depois	que	soltou	a	mão	de	Aryn	e	se	virou	para	cumprimentar	o	rapaz,	Han
percebeu	que	este	estava	irritado	e	não	fazia	o	menor	esforço	para	esconder.
–	Saudações...	–	disse	Han,	já	que	não	sabia	qual	honorífico	seria	apropriado
em	Alderaan,	isso	se	eles	usassem	algum.
–	Saudações	–	respondeu	Thul.	–	Aryn,	você	esteve	magnífica.	Gostaria	de	ir
a	algum	outro	lugar	para	celebrar	seu	triunfo?
Não	aguenta	a	competição	...	pensou	Han,	sufocando	um	sorriso	maroto.	Ele
também	tinha	visto	os	olhos	azuis	de	Aryn	se	iluminando	quando	Han	se
apresentou.
–	Olha,	não	quero	atrapalhar	–	afirmou	Han,	abrindo	seu	sorriso	mais
charmoso	para	a	cantora.	–	Só	queria	lhe	dizer	o	quanto	eu	gostei	de	te	ver
cantar.	Não	vou	mais	tomar	seu	tempo.
Thul	o	encarou	como	se	quisesse	dizer	“ótimo!”	mas	não	tivesse	coragem.
Aryn	balançou	a	cabeça	e	pousou	a	mão	de	forma	reconfortante	no	braço	de
Han.
–	Ah,	não!	Claro	que	você	não	está	atrapalhando...	Vykk.	–	Ela	espiou	o
macacão.	–	Eu	ia	perguntar	se	você	era	aluno	aqui,	mas	você	não	é,	é?
Han	fez	que	não	com	a	cabeça.
–	Não,	eu	só	estou	por	aqui	esta	noite.	Cheguei	esta	manhã	para	fazer
reparos.	Me	meti	numa	luta	com	alguns	piratas	e	minha	nave	sofreu	alguns
danos.
Os	grandes	olhos	azuis	se	arregalaram	ainda	mais.
–	Nave?	Piratas?	Você	é	piloto	estelar?
Han	deu	de	ombros	modestamente.
–	Sou.
Bornan	Thul	estava	ficando	irritado,	o	corelliano	notou.	Não	gosta	da	ideia
da	sua	garota	conversando	com	um	cara	trabalhador	que	nem	eu,	esse	palhaço
metido	a	besta...	bem,	azar	o	seu,	irmão	Bornan...
–	Minha	nossa...	–	suspirou	Aryn.	–	Isso	é	tão...	empolgante.	Piratas	de
verdade?	O	que	aconteceu?
Han	deu	de	ombros	outra	vez.
–	Saí	do	hiperespaço,	e	eles	colaram	em	mim	mais	rápido	que	fedor	num
skeeg.	Dois	deles.	Detonei	um,	mas	os	dois	juntos	conseguiram	estragar	meu
hiperdrive.	Então	eu	vim	para	Alderaan	consertar	a	nave.
–	Você	detonou	um?	–	inquiriu	Bornan	agressivamente,	erguendo	uma
sobrancelha	cética.	–	Com	o	quê?
–	Com	um	míssil	Arakyd,	meu	chapa	–	respondeu	Han	calmamente.	–
Explodi	o	traseiro	dele	em	mil	pedacinhos.
Aryn	teve	um	calafrio,	em	parte	de	excitação,	em	parte	de	aflição.
–	Isso	parece...	realmente	assustador.
Han	deu	um	gole	na	cerveja.
–	Um	mero	dia	de	trabalho	–	comentou,	deliberadamente	lacônico.
A	essa	altura,	Bornan	já	tinha	aturado	demais.	Com	o	rosto	vermelho,	ele
segurou	o	braço	de	Aryn.
–	Querida,	vamos	indo?	Vou	levar	você	ao	melhor	restaurante	da	cidade.	Se
você	nos	dá	licença...	Piloto	Draygo.
Aryn	hesitou	por	um	longo	momento.	Eu	poderia	conquistá-la,	pensou	Han.
Sei	que	poderia.	E	isso	ia	deixar	esse	babaca	de	alta	classe	realmente	fulo	da
vida,	ver	sua	garota	sair	daqui	comigo...
Por	um	momento,	Han	se	sentiu	tentado,	depois	decidiu	relaxar	e	abrir	mão
da	conquista.	Sentia	que	Aryn	era	uma	garota	muito	legal	,	alguém	que	não
merecia	ser	tratada	como	uma	peça	de	jogo	para	que	ele	pudesse	ganhar	pontos
em	cima	do	namorado	arrogante	dela.	Uma	das	razões	que	ele	a	achava	tão
atraente,	Han	percebeu,	era	que	Aryn	o	lembrava	um	pouco	de	921,	com	seus
grandes	olhos	azuis	e	sorriso	doce.
Além	disso,	pensou	ele,	aqueles	sujeitos	de	segurança	provavelmente	ainda
estão	me	seguindo.	O	velho	Bornan	aqui	poderia	ser	homem	o	bastante	para
comprar	uma	briga,	e	se	eles	ainda	estiverem	por	aí,	a	coisa	pode	ficar	feia...
Então	Han	se	levantou	de	forma	respeitosa	e	se	curvou	formalmente	para
Aryn.
–	Foi	um	grande	prazer	–	disse.	–	Divirta-se	na	sua	celebração.
–	Obrigada...	–	respondeu	ela,	abrindo	um	último	e	rápido	sorriso	para	o
piloto	antes	de	deixar	que	Bornan	a	conduzisse	para	fora.
Han	se	sentou	de	volta	com	o	jantar	que	esfriava,	refletindo	que	o	incidente
reforçava	o	quanto	ele	detestava	gente	rica	e	metida.	Tinha	encontrado	muitos
deles	em	Corellia,	quando	trabalhava	nos	golpes	de	Shrike,	e	o	fato	de	que	a
maioria	deles	não	valia	o	custo	de	um	tiro	de	arma	de	raios	para	desfazê-los	em
átomos	era	a	única	coisa	que	possibilitara	sua	participação	nos	golpes.
Quando	Han	chegou	à	Sonho	Ylesiano	e	à	minúscula	cama	de	campanha	que
tinha	sido	instalada	na	área	de	carga	para	ele,	já	estava	meio	afetado	pela	cerveja
alderaaniana.	Pensamentos	sobre	921	continuavam	voltando	à	sua	cabeça,	e	ele
praguejouem	voz	alta	na	nave	silenciosa,	desejando	ser	capaz	de	parar	de
pensar	nela.	Han	nunca	tinha	encontrado	uma	mulher	em	quem	pensasse	tanto
quando	não	estava	com	ela...
Saber	que	921	tinha	se	aninhado	tão	profundamente	na	sua	mente	deixava
Han	perturbado	e	incomodado.	Ela	é	só	uma	garota,	Solo.	Você	nem	sabe	o
maldito	nome	dela.	Pare	de	sonhar	acordado	assim.	Tá	ficando	abestalhado?
Han	se	jogou	na	cama	e	grunhiu	em	voz	alta,	relembrando	os	eventos	do	dia.
Que	planeta,	pensou	ele,	sonolento.	Tão	certinho	que	um	cara	não	consegue
nem	vender	uma	carga	perfeitamente	boa	de	especiaria...
A	viagem	de	volta	a	Ylesia	foi	tranquila.	Han	pilotou	a	Sonho	através	das
nuvens	na	reentrada	sem	problema	nenhum,	e	praticamente	não	houve
turbulência.	Nem	mesmo	Muuurgh,	que	ainda	sofria	de	dor	de	cabeça,	pôde
reclamar.	Para	Han,	o	processo	de	ver,	analisar	e	evitar	os	imensos	sistemas	de
tempestades	do	planeta	estava	se	tornando	algo	instintivo.
Assim	que	a	nave	se	assentou	na	plataforma	de	pouso,	o	comunicador	de
Han	ganhou	vida,	convocando-o	para	se	encontrar	com	Teroenza	imediatamente.
Han	já	esperava	por	isso.	Mandou	Muuurgh	para	a	enfermaria	para	que
cuidassem	da	sua	dor	de	cabeça	e	caminhou	sozinho	até	o	centro	administrativo.
Desta	vez,	foi	recebido	por	Ganar	Tos	e	escoltado	ao	santuário	interior	do
sumo	sacerdote,	que	já	tinha	visitado	antes.	Teroenza	descansava	numa	peça	de
mobília	muito	exótica	–	um	tipo	de	rede	que	permitia	que	o	sumo	sacerdote	se
reclinasse	para	trás	sobre	os	imensos	quartos	traseiros,	tirando	o	peso	das	patas
posteriores.	As	grossas	pernas	dianteiras	ficavam	apoiadas	num	descanso
acolchoado	que	girava	para	dentro	e	para	fora,	permitindo	que	ele	entrasse	e
saísse	da	engenhoca.
Assim	que	o	sumo	sacerdote	viu	Han,	sua	expressão	(que	o	rapaz	estava
começando	a	conseguir	interpretar)	se	tornou	positivamente	benevolente.
–	Piloto	Draygo!	–	ribombou.	–	Fiquei	sabendo	que	você	é	um	herói!	Sua
bravura	e	coragem	não	têm	preço,	mas	ordenei	que	um	bônus	fosse	depositado
na	sua	conta.
Han	piscou,	depois	sorriu.
–	Obrigado,	senhor.
–	No	último	ano	e	meio,	perdemos	duas	naves	que	deixaram	de	voltar	dos
pontos	de	encontro	–	continuou	Teroenza.	–	Você	é	o	primeiro	piloto	a	dar	uma
olhada	nos	atacantes	e	voltar	para	nos	contar	quem	eram.	O	que	você	viu?
Han	deu	de	ombros.
–	Bem,	tudo	aconteceu	muito	rápido,	e	eu	estava	meio	que	ocupado,	senhor.
Mas	eu	tenho	bastante	certeza	de	que	a	nave	que	eu	destruí	era	de	construção
drelliana.	Parecia	muito.	Aquela	proa	afilada	e	popa	atarracada	são	bem
distintas.
–	Eles	se	comunicaram	com	você?	Deram	alguma	chance	de	se	render	antes
de	atacar?
–	Não,	eles	chegaram	atacando	e	atiraram	sem	parar.	Não	estavam	tentando
destruir	a	Sonho	,	porque,	se	eles	quisessem	isso,	teriam	conseguido.	Só	que	eles
não	tinham	interesse	pela	nave,	o	que	é	estranho.	A	maioria	dos	piratas	tentaria
enfraquecer	a	nave	o	suficiente	para	tomá-la,	mas	sem	causar	estragos	que	não
fossem	fáceis	de	consertar,	para	poderem	usá-la	ou	vendê-la	depois.	Esses	caras
queriam	avariar	a	Sonho	e	matar	Muuurgh	e	eu.
–	Como	eles	atacaram?
–	Por	trás.	Poderiam	ter	detonado	a	gente	antes	mesmo	que	soubéssemos	que
eles	estavam	lá.	Tiveram	pelo	menos	dois	tiros	livres,	e	os	escudos	da	Sonho	não
são	tão	bons	assim.	–	Ao	se	lembrar	da	batalha,	Han	respirou	fundo.	–	Acho	que
temos	que	reforçar	os	escudos,	senhor.
–	Vou	mandar	que	isso	seja	feito,	piloto	–	concordou	Teroenza.	O	enorme
T’landa	Til	cruzou	os	bracinhos	e	franziu	a	testa	imensa	enquanto	considerava	o
relatório	de	Han.	–	Interessante	que	eles	tenham	atacado	primeiro,	sem	usar	um
raio	trator	para	tentar	provocar	sua	rendição.
–	É...	foi	isso	que	eu	pensei.
Han	havia	conhecido	vários	mercadores	na	Sorte	que	tinham	passado	algum
tempo	em	tripulações	de	piratas	e	tinha	ouvido	esses	sujeitos	se	gabando	sobre
suas	aventuras.	Um	ataque	direto	não	fazia	o	estilo	piratesco;	teria	sido	mais
típico	que	um	pirata	interestelar	disparasse	um	tiro	de	advertência,	e	então,
depois	que	o	piloto	tivesse	se	rendido,	abordasse	a	nave.
–	Estranho,	é	como	se	eles	tivessem	planejado	aleijar	a	Sonho	,
provavelmente	matando	Muuurgh	e	eu	no	processo,	e	então	abordar,	enquanto
ela	estivesse	à	deriva	no	espaço.
–	Absolutamente	nenhuma	comunicação	ou	exigência	de	rendição.
–	Não	–	confirmou	Han.
Teroenza	alisou	as	dobras	de	pele	frouxa	da	papada	pensativamente.
–	Quase	como	se	eles	estivessem	dispostos	a	correr	o	risco	de	destruir	a
Sonho	e	sua	carga	em	vez	de	se	comunicar	com	você...
–	É,	eu	diria	que	sim.
–	Quão	perto	você	estava	do	ponto	de	encontro	quando	foi	atacado?
–	A	gente	tinha	saído	do	hiperespaço	há	menos	de	cinco	minutos.	Sem
dúvida,	senhor,	eles	estavam	esperando.	Sabiam	que	a	gente	estava	chegando.
–	Você	fez	alguma	transmissão	fazendo	referência	à	sua	rota	ou	coordenadas,
piloto	Draygo?
–	Não,	senhor.	Conforme	instruído,	mantive	silêncio	estrito	em	todas	as
frequências.
Teroenza	retumbou	nas	profundezas	do	peito,	enquanto	pensava,	e	por	fim
assentiu	com	a	enorme	cabeça	chifruda.
–	Mais	uma	vez,	parabéns	pela	sua	bravura.	Como	vai	Muuurgh?
–	Ele	vai	ficar	bem.	Mas	levou	uma	bela	pancada	na	cabeça.
–	Quero	falar	com	ele	quando	estiver	melhor.	Muito	bem,	piloto,	dispensado.
Han	não	se	moveu.
–	Senhor...	gostaria	de	pedir	um	favor.
–	Sim?
–	Minha	pistola	de	raios	foi	confiscada	quando	eu	cheguei	em	Ylesia.	Queria
ela	de	volta.	Se	há	chance	de	eu	ser	abordado	por	piratas	em	algum	momento	do
futuro,	quero	poder	atirar	de	volta.
Teroenza	considerou	por	um	momento,	depois	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	Vou	mandar	que	lhe	devolvam	sua	arma,	piloto.	Você	certamente
demonstrou	sua	lealdade	e	conquistou	nossa	confiança	com	suas	ações	nestes
últimos	dias.	–	O	enorme	ser	acenou	com	a	mãozinha.	–	Diga-me,	piloto	Draygo,
nunca	lhe	ocorreu	tentar	vender	a	carga	e	nos	dizer	que	ela	foi	roubada	por
piratas?
Han	balançou	a	cabeça.
–	Não,	senhor,	de	forma	alguma	–	respondeu	ele,	soando	sincero.
–	Muito	bem.	Eu	estou...	impressionado.	–	A	boca	larga	e	sem	lábios	de
Teroenza	se	curvou	para	cima	naquilo	que	obviamente	era	para	ser	um	sorriso	de
aprovação.	–	Muito	impressionado...
Han	saiu	do	centro	administrativo,	grato	por	ser	capaz	de	mentir	de	forma
convincente	desde	os	7	anos	de	idade.	Estava	especialmente	orgulhoso	da
habilidade	de	inventar	histórias	no	calor	do	momento.
Seus	passos	o	levaram	pela	trilha	da	enfermaria.	Hora	de	conferir	Muuurgh,
ver	como	o	Togoriano	estava.	Além	disso...	era	hora	de	conhecer	Jalus	Nebl,	o
piloto	Sullustano	que	tinha	sido	colocado	em	licença	médica.
Han	tinha	algumas	perguntas	para	o	Sullustano...
Muuurgh	estava	deitado,	enrodilhado	num	dos	grandes	catres	que	a	espécie
dele	usava	como	cama.	Han	foi	até	o	Togoriano	e	se	sentou	ao	lado	dele.
–	Como	vai	a	cabeça?
–	Minha	cabeça	ainda	dói	–	respondeu	Muuurgh.	–	O	droide	médico	disse
que	eu	tenho	que	ficar	aqui	esta	noite.	Mas	eu	lhe	disse	que	não,	eu	não	poderia
fazer	isso,	porque	Vykk	poderia	precisar	de	mim.
–	Não,	eu	estou	bem	–	garantiu	Han	ao	grande	felinoide.	–	Vou	visitar	o
Sullustano,	jantar,	treinar	no	simulador	e	praticar	um	pouco	de	tiro	ao	alvo.
Depois	eu	vou	me	deitar	cedo.	Foi	um	longo	dia.
–	Vykk	falou	com	Teroenza	sobre	os	piratas?
–	É,	falei	sim.	Ele	vai	querer	conversar	com	você	quando	você	conseguir.	E...
boas	notícias.	Teroenza	me	deu	minha	pistola	de	volta.
–	Ótimo	–	afirmou	Muuurgh.	–	Vykk	precisa	se	proteger	de	piratas.
–	Foi	isso	que	eu	comentei,	meu	chapa.	–	Han	se	levantou.	–	Escuta,	eu	vou
no	quarto	ao	lado,	bater	um	papo	com	o	outro	piloto.	Volto	aqui	para	te	ver	de
novo	amanhã	de	manhã,	está	bem?
Muuurgh	se	espreguiçou	luxuriantemente,	depois	se	enrodilhou	no	catre,
parecendo	quase	um	enorme	círculo	negro	e	peludo.
–	Tudo	bem,	Vykk.
Han	seguiu	pelo	corredor	até	encontrar	o	droide	médico,	depois	pediu	para
ser	levado	ao	quarto	do	piloto	Sullustano.
Uma	vez	lá,	tocou	a	campainha	e,	um	momento	depois,	ouviu	uma	voz	em
sullustano	dizer:
–	Entre.
Han	abriu	a	porta	e	se	deparou	com	uma	parede	de	vento	que	cobria	a
entrada	como	uma	cortina.O	rapaz	passou	do	calor	a	uma	atmosfera	fria	e
refrescante.	A	porta	se	fechou	atrás	dele	com	um	sibilo.	Ar	enlatado,	percebeu
Han.	Eles	colocaram	o	Sullustano	num	sistema	de	ar	recirculante,	para	que	ele
não	respire	ar	ylesiano.	Por	que	será?
Jalus	Nebl	estava	sentado	diante	de	uma	vid-unidade	de	entretenimento,
assistindo	a	um	documentário	de	notícias	galácticas.	Han	foi	até	lá	e	ofereceu	a
mão	ao	ser	olhudo	com	bochechas	caídas.
–	Oi,	sou	Vykk	Draygo,	o	novo	piloto.	Prazer	em	conhecê-lo.
Falou	em	básico,	torcendo	para	o	alienígena	entender.	O	ser	bochechudo
assentiu	para	Han	e	respondeu	na	própria	linguagem,	rápida	e	aguda.
–	Você	entende	a	língua	do	meu	povo,	ou	vamos	precisar	de	um	tradutor	para
conversar?
–	Eu	entender	–	respondeu	Han	em	sullustano	extremamente	precário	–,	mas
fala	só	mau.	Entender	básica	você	bom?
–	Sim	–	confirmou	o	Sullustano.	–	Eu	entendo	língua	básica	muito	bem.
–	Ótimo	–	concluiu	Han,	voltando	ao	próprio	idioma.	–	Você	se	importa	se
eu	me	sentar?
–	Por	favor,	fique	à	vontade	–	respondeu	o	outro	piloto.	–	Eu	já	queria	falar
com	você	há	algum	tempo,	mas	estive	muito	doente	e,	como	você	pode	ver,
confinado	a	estes	poucos	aposentos	onde	o	ar	é	filtrado	especialmente	para	mim.
Han	se	sentou	num	banco	baixo	e	deu	uma	boa	conferida	no	alienígena.	Não
conseguiu	ver	nenhum	ferimento	ou	dano	externo.
–	Que	chato,	meu	chapa.	O	que	foi	que	aconteceu?	Trabalho	demais?
A	boca	pequena	e	molhada	do	Sullustano	se	franziu,	infeliz.
–	Missões	demais,	é.	Tempestades	demais,	eu	tive	que	enfrentar.	Quase-
colisões	demais,	meu	amigo.	Um	dia	eu	acordei,	e	minhas	mãos...	–	O
Sullustano	ergueu	as	pequenas	mãos	delicadas	com	suas	estreitas	unhas-garras
ovais.	–	...	minhas	mãos	não	paravam	de	tremer.	Eu	não	conseguia	mais	lidar
com	os	controles	da	minha	nave.	–	A	expressão	já	pesarosa	do	alienígena	ficou
ainda	mais	triste.	Han	quase	esperou	ver	lágrimas	enchendo	aqueles	grandes
olhos	já	tão	úmidos.
Han	espiou	as	mãos	do	outro	piloto	e	viu	que,	de	fato,	tremiam
descontroladamente.	Sentiu	uma	mistura	de	consternação	e	pena.	Pobre	sujeito!
Isso	deve	ser	horrível!
–	Mas	que	azar,	meu	chapa	–	comentou	o	rapaz.	–	Foi	só,	cê	sabe,	os	seus
nervos	indo	pro	espaço,	ou	o	quê?
–	Muita	pressão,	sim	–	concordou	o	Sullustano.	–	Missões	demais,	descanso
de	menos,	repetidamente.	Tempestades	demais.	Só	que	também...	muito
transporte	de	brilhestim.	Droide	médico	diz	que	eu	tenho	reação	ruim	a	isso.
Deixa	Jalus	Nebl	muito	doente	mesmo.
Han	se	ajeitou	desconfortável	no	banco.
–	Você	quer	dizer	que	é	alérgico	a	brilhestim?
–	Isso.	Descobri	assim	que	comecei	a	transportar	e	tentei	ficar	longe	da
substância,	mas	está	no	próprio	ar	deste	mundo.	Mesmo	trancado	naqueles
frascos,	mínimos	resíduos	escapam	no	ar.	Quando	Jalus	Nebl	respira	isso	tudo,
ao	longo	de	dias,	semanas,	mais	de	um	ano	planetário...	causa	maus	efeitos.
Tremores	nos	músculos.	Reflexos	reduzidos.	Estômago	revirado,	respiração
difícil...
–	Então	é	por	isso	que	você	está	confinado	à	enfermaria,	com	esses	filtros	de
ar	–	percebeu	Han.	–	Tentando	tirar	isso	aí	do	seu	sistema.
–	Correto.	Eu	quero	voar	de	novo,	amigo	e	colega	piloto	Draygo.	Você	é	um
dos	poucos	que	conseguem	entender,	correto?
Han	pensou	em	como	se	sentiria	se	não	pudesse	mais	voar	–	se	ficasse	tão
sobrecarregado	de	trabalho	e	envenenado	por	exposição	a	especiaria	que	suas
mãos	tremessem	o	tempo	todo	–	e	assentiu	com	a	cabeça.
–	Ei,	chapa	–	comentou	ele	com	sinceridade.	–	Lamento	muito	mesmo.
Espero	que	você	melhore	logo.	–	Baixou	a	voz	e	passou	a	falar	em	jargão	de
mercador.	–	Entende	tu	fala-de-mercador,	amigo?
O	Sullustano	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	Não	falo	–	respondeu,	em	voz	igualmente	baixa.	–	Mas	entendo	bem.
Han	deu	uma	olhada	para	o	teto.	Estariam	os	Ylesianos	ou	seus	seguranças
monitorando	o	quarto?	Não	havia	como	ter	certeza.	Mas	Han	não	conhecia
muitos	droides	capazes	de	traduzir	jargão	de	mercador,	porque	se	tratava	de	uma
mistura	bastarda	de	uma	dúzia	ou	mais	línguas	e	vários	dialetos,	sem	uma
sintaxe	fixa.	Han	aumentou	o	volume	do	documentário	mais...	e	mais,	depois
disse,	mal	emitindo	som:
–	Amigo-piloto,	quando	mãos	ficar	firme,	então	se	eu	você,	não	dizer	adeus,
só	voar	para	longe	mau	mundo	de	especiaria,	rápido	rápido,	entende?
O	Sullustano	fez	que	sim	com	a	cabeça.
Han	baixou	um	pouco	o	volume	do	programa,	depois	continuou
conversando,	como	se	nada	tivesse	acontecido.
–	Fui	atacado	por	piratas	outro	dia.
O	Sullustano	se	inclinou	para	a	frente.
–	O	que	aconteceu?
–	Eles	atiraram	na	minha	nave,	estragaram	os	motores	hiperdrive,	mas	eu
consegui	pegar	um	deles	com	um	míssil	–	contou	Han,	fazendo	um	gesto	de
“buum”	com	as	mãos.	–	Tive	que	fazer	uma	parada	em	Alderaan	para	o	conserto.
Já	passou	por	lá?
–	Mundo	legal	–	comentou	o	Sullustano	secamente.	–	Legal	até	demais,	em
alguns	aspectos.
–	Nem	me	fale	–	concordou	Han	de	coração.	–	Enfim,	quando	cheguei	aqui
de	volta,	Teroenza	me	fez	um	milhão	de	perguntas	sobre	que	tipos	de	nave	os
piratas	usaram,	por	que	eles	não	dispararam	tiros	de	advertência	ou	tentaram
sequestrar	a	Sonho	,	coisas	assim.	Eu	fiquei	com	a	impressão	clara	de	que	esse
ataque	era	algo	mais	que	uma	mera	ação	de	pirataria.	Para	começar,	eles	estavam
me	esperando	no	ponto	de	encontro.	Como	poderiam	ter	descoberto	as
coordenadas?
–	Ah	–	disse	Jalus	Nebl.	–	Pode	mesmo	haver	muita	coisa	por	trás	desse
ataque,	piloto.
–	Por	favor...	me	chame	de	Vykk.	Nós,	pilotos,	temos	que	ficar	unidos.
–	Você	me	chame	de	Nebl,	então.	Meu	nome	de	ninho.
–	Obrigado.	Então,	o	que	você	acha	que	está	acontecendo?
–	Acredito	que	os	T’landa	Til	estejam	preocupados	que	essas	naves	“piratas”
possam	ser	na	verdade	de	Nal	Hutta.	Despachadas	por	Hutts,	se	passando	por
piratas	comuns.
Han	assoviou	baixinho.
–	Por	todos	os	Lacaios	de	Xendor...	essa	foi	demais.	Os	Hutts	estão	lutando
uns	contra	os	outros?
–	Não	é	difícil	de	acreditar	se	você	já	tiver	passado	um	tempo	entre	eles	–
comentou	Nebl	secamente.	–	As	alianças	dos	Hutts	são	criadas	e	rompidas	no
girar	de	uma	moeda.	A	lealdade	hutt	derrete	diante	da	perda	de	lucro	ou	poder,
sabe?
–	Estou	começando	a	perceber	um	padrão,	aqui	–	afirmou	Han,	se	ajeitando
desconfortável	no	banco	duro,	pensando	em	como	chegou	perto	de	virar	poeira
cósmica.	–	Tem	facções	hutts	em	Nal	Hutta?
–	Ah,	sim.	Uma	família	ou	clã	acumula	poder	e	riqueza	só	para	cair	quando
outra	família	planeja	sua	derrota.	Não	é	de	se	espantar	que	os	Hutts	sejam	os
mais	desconfiados	dos	sencientes.	Ser	um	provador	de	comida	para	um	Hutt	é
provavelmente	uma	carreira	muito	curta,	Vykk.	É	bem	difícil	envenenar	um
Hutt,	mas	isso	não	impede	os	assassinos	de	tentar	e,	de	vez	em	quando,	de
conseguir.	Os	clãs	também	não	deixam	de	usar	mísseis,	assassinos	ou	tropas	de
infantaria	para	atingir	seus	objetivos.
–	Só	que	são	os	Hutts	que	realmente	mandam	aqui	–	argumentou	Han.
–	Ah!	Você	viu	Zavval,	então?
–	Se	esse	for	o	filho	da	mãe	inchado	que	anda	por	aí	num	trenó	repulsor,
pode	apostar	que	eu	vi.	Ainda	não	tive	a	honra	de	me	encontrar	com	ele	cara	a
cara.
–	Reze	para	isso	nunca	acontecer,	Vykk.	Zavval,	como	a	maioria	dos	Hutts,
não	é	fácil	de	agradar.	Os	sacerdotes	podem	até	ser	mestres	difíceis	de	satisfazer,
mas	não	são	nada	comparados	aos	Hutts,	os	mestres	deles	.
–	Então,	o	que	está	rolando	neste	mundo?	Temos	Hutts	que	mandam	aqui	e
que	estão	brigando	com	outros	clãs	de	Hutts	em	Nal	Hutta.	Por	quê?	–	Han
pensou	por	um	momento,	depois	respondeu	à	própria	pergunta.	–	Ah.	É	claro.
Pela	especiaria.
–	Naturalmente.	Os	Hutts	e	os	T’landa	Til,	seus	representantes,	lucram	com
Ylesia	de	duas	formas.	Primeiro,	tem	a	especiaria	processada.	Só	que	os	Hutts
Ylesianos	precisam	comprar	a	especiaria-base	de	outras	famílias	Hutts	que
fornecem	a	matéria-prima.	Você	já	ouviu	falar	em	Jiliac	ou	Jabba?
–	Jabba?	–	Han	franziu	o	cenho.	–	Jabba,	o	Hutt?	Acho	que	ouvi	falar	nele
sim.	Não	é	o	tal	do	cara	que	praticamente	controla	toda	Nar	Shaadaa,	a	lua	de
contrabandistas	em	órbita	de	Nal	Hutta?
–	Ele	mesmo.	Jabba	divide	o	tempo	entre	seu	lar	em	Nal	Hutta	e	uma
operaçãode	translado	de	especiarias	que	ele	faz	passar	por	um	planeta	no	meio
do	nada,	chamado	Tatooine.
–	Tatooine?	Nunca	ouvi	falar.
Nebl	estremeceu.
–	Acredite	em	mim,	você	não	ia	querer	ir	lá.	É	uma	espelunca.
–	Vou	me	lembrar	disso.	Então	os	tais	Jabba	e	Jiliac	pegam	a	especiaria	crua
e	mandam	para	cá	para	ser	processada,	certo?
–	Isso.	Só	que	eu	acho	que,	ultimamente,	eles	podem	estar	tentando	engordar
os	lucros,	mandando	naves	se	passando	por	piratas	para	roubar	os	transportes	de
especiarias	ylesianos.	Assim,	Jabba	e	Jiliac	ficam	com	a	especiaria	processada
de	graça,	algo	que	os	agradaria	imensamente.
Han	franziu	os	lábios	num	assovio	silencioso.
–	Isso	é	que	é	morder	a	mão	que	o	alimenta...
–	De	fato.	Porém,	não	tenho	dificuldade	alguma	em	crer	que	eles	são	capazes
de	tal	ato.
Han	passou	a	mão	no	cabelo	e	suspirou.	Tinha	sido	um	dia	muito	longo.
–	É,	pelo	que	eu	ouvi,	um	Hutt	venderia	a	própria	avó	por	um	crédito	de
lucro;	isso	se	eles	tiverem	avós.
–	Portanto	você	precisa	ser	muito,	muito	cauteloso,	jovem	Vykk.	Diga	a
Teroenza	que	você	precisa	de	escudos	reforçados.
–	Já	disse.
–	Ótimo.	Mais	poder	de	fogo	também	não	seria	ruim.
–	É,	tem	razão.	–	Han	encarou	fixamente	o	Sullustano.	–	Nebl,	já	que	a	gente
tá	conversando	francamente	aqui,	me	diz	uma	coisa.	Essa	religião	que	os
sacerdotes	empurram	pros	peregrinos	não	vale	nada,	né?
–	Acredito	que	não,	Vykk.	Porém,	eu	não	entendo	exatamente	no	que
consiste	a	Exultação.	Não	sou	um	fiel,	então	nunca	a	senti.	Entretanto,	a	julgar
pela	forma	como	os	peregrinos	reagem,	tem	um	efeito	mais	intoxicante	que
qualquer	dose	de	especiaria.
–	É,	tem	um	coice	brabo	mesmo	–	concordou	Han.	–	O	que	eu	estou
percebendo	é	que	essa	coisa	toda	aqui	em	Ylesia	é	um	imenso	golpe	para	poder
processar	especiaria	baratinho.
–	Não	é	o	único	motivo,	Vykk.	Você	lembra	que	eu	afirmei	que	havia	duas
formas	pelas	quais	os	sacerdotes	e	Hutts	lucravam	com	estas	colônias?
–	Lembro	–	disse	Han.	–	Então	me	conta,	qual	é	a	segunda	forma?
–	Escravos	–	revelou	Nebl	sem	rodeios.	–	Escravos	treinados	e	dóceis.	Os
Ylesianos	exportam	os	peregrinos	das	fábricas	de	especiarias	quando	consideram
ter	terminado	seu	treinamento	e	removido	toda	vontade	de	resistir.	São	levados	a
outros	mundos	para	serem	vendidos.	Seus	lugares	nas	fábricas	são	ocupados	por
novas	levas	de	peregrinos.
–	E	os	escravos	estão	submissos	e	condicionados	demais	para	reclamar	ou
contar	a	verdade	sobre	Ylesia	e	sobre	o	que	aguarda	os	peregrinos	por	aqui?	–
complementou	Han.
–	Certamente.	E	mesmo	se	eles	falassem,	quem	é	que	escuta	um	escravo?	E
se	o	escravo	ficar	barulhento	demais...	–	Nebl	fez	um	gesto	súbito	e
inconfundível	com	a	mão,	como	se	cortasse	a	garganta.	–	Silenciar	um	escravo	é
fácil.
Han	estava	pensando	em	921.	Ela	contou	que	já	estava	em	Ylesia	havia
quase	um	ano...
–	Quanto	tempo	os	escravos	ficam	aqui	antes	de	serem	despachados?	E	para
onde	são	mandados?
–	O	padrão	é	um	ano.	Eles	mandam	muitos	dos	mais	fortes	para	Kessel,	para
trabalhar	nas	minas	de	especiaria.	Ninguém	nunca	sai	vivo	de	Kessel,	você	sabe.
E	os	bonitinhos...	São	os	poucos	sortudos.	Viram	dançarinos	ou	dançarinas,	ou
acabam	nas	casas	de	prazer	de	quartel.	Uma	vida	sem	dignidade,	talvez,	mas
muito	mais	fácil	que	escravidão	e	morte	nas	minas.
Nebl	observava	Han	atentamente	com	seus	olhos	úmidos	e	luminosos.
–	Por	que	você	pergunta?	Tem	alguma	escrava	em	particular	que	lhe	é
importante?
–	Bem...	mais	ou	menos	–	admitiu	Han.	–	Ela	trabalha	na	fábrica	de
brilhestim,	lá	no	nível	mais	fundo.	Já	está	aqui	há	quase	um	ano.
–	Se	você	se	importa	com	ela,	deveria	tirá-la	daqui,	Vykk	–	aconselhou	o
Sullustano.	–	As	taxas	de	mortalidade	dos	operários	de	brilhestim	são	muito
altas.	A	especiaria	os	corta,	depois	o	fungo	entra	na	corrente	sanguínea	deles,	e...
–	Nebl	fez	um	gesto	de	jogar	fora.	–	Tire-a	daqui.	Ser	despachada	para	fora	deste
mundo	como	escrava	é	sua	última	esperança.
–	Fora	deste	mundo?	–	Han	sufocou	uma	pontada	de	medo	ao	pensar	que
poderia	não	ver	a	Peregrina	921	nunca	mais.	–	O	quê,	eu	tenho	que	torcer	para
que	ela	seja	mandada	para	uma	casa	de	prazer	de	quartel,	para	ser	um	brinquedo
para	soldados	imperiais	entediados?
–	Melhor	que	uma	morte	lenta	e	dolorosa	por	envenenamento	sanguíneo.
Han	estava	pensando	rápido	e	não	gostava	de	seus	pensamentos.
–	Escuta,	Nebl,	foi	bom	a	gente	ter	conversado.	Vou	voltar	para	te	visitar	de
novo	outro	dia.	Por	enquanto...	tem	uma	coisa	que	eu	preciso	fazer.
O	alienígena	acenou	com	a	cabeça,	compreensivo.
–	Eu	entendo	bem,	Vykk.
Uma	vez	do	lado	de	fora,	Han	percebeu	que	o	curto	dia	ylesiano	estava
definitivamente	terminando.	Os	peregrinos	estariam	nas	devoções	vespertinas.
Se	ele	corresse,	talvez	pudesse	alcançar	921	e	falar	com	ela.	Tinha	que	inventar
algum	jeito	de	tirá-la	daquela	fábrica	e	mesmo	assim	mantê-la	em	Ylesia.
Apesar	do	calor	úmido	e	da	garoa	fina	que	caía,	Han	começou	a	correr	pela
selva,	até	a	trilha	familiar.	Seu	peito	ardia	a	cada	respiração,	depois	dos
primeiros	cinco	minutos,	mas	ele	se	recusou	a	reduzir	o	passo.	Tinha	que	ver	o
rosto	de	921	de	qualquer	jeito,	se	assegurar	de	que	ela	ainda	estava	lá,	em	Ylesia.
E	se	ela	tivesse	sido	despachada?	Ele	nunca	a	encontraria...	nunca!	Han
sentiu	o	pânico	roer	os	limites	da	sua	mente	e	se	xingou	em	todas	as	línguas	que
conhecia.	O	que	foi	que	deu	em	você,	Solo?	Você	tem	que	se	controlar!	As	coisas
vão	bem	para	você	aqui	em	Ylesia.	No	fim	do	ano,	você	terá	uma	pilha	de
créditos	lhe	esperando	numa	conta	em	Coruscant.	Agora	não	é	hora	de	perder	a
cabeça	por	causa	de	uma	fanática	religiosa	qualquer.	Supere	isso!
Só	que	seu	corpo	e	seu	coração	não	estavam	escutando	aos	apelos	de	sua
mente.	Os	passos	de	Han	ficaram	mais	longos	e	rápidos	até	que	ele	começou	a
correr	a	toda	velocidade.	Virou	uma	curva	perto	das	Planícies	Floridas	e	quase	se
chocou	contra	os	primeiros	peregrinos	que	voltavam	da	cerimônia	de	fim	de
tarde.	Eles	cambaleavam	ou	bamboleavam	adiante,	com	aquela	expressão
drogada	e	extasiada	nos	olhos	vidrados.
Han	começou	a	se	acotovelar	pela	massa,	sentindo-se	como	um	peixe
nadando	rio	acima.	Espiava	os	rostos	na	penumbra	crescente,	sob	os	chapéus,
procurando,	procurando...
Cadê	ela?
Cada	vez	mais	preocupado,	Han	começou	a	segurar	os	peregrinos	pelo	braço
e	inquirir	se	algum	deles	tinha	visto	a	Peregrina	921.	A	maioria	o	ignorou	ou	só
olhou	estupidamente,	de	queixo	caído,	mas	finalmente	uma	velha	mulher
corelliana	apontou	para	trás	com	o	dedão.	Han	se	virou	e	descobriu	921	a
alguma	distância	atrás	dos	outros.	O	alívio	lhe	inundou	o	corpo.	Se	apressou	ao
seu	lado,	ainda	ofegante,	suado	e	desarrumado	por	conta	da	corrida.
–	Oi	–	ofegou	ele,	torcendo	para	que	a	saudação	não	tivesse	soado	tão
ridícula	para	ela	quanto	soara	para	ele.
Ela	ergueu	o	olhar	para	o	rapaz	no	crepúsculo.
–	Oi	–	respondeu,	incerta.	–	Você	sumiu	por	um	tempo.
–	No	espaço	–	explicou	Han.	Tomou	o	braço	dela	e	passou	a	caminhar	ao	seu
lado.	–	Tinha	carga	para	levar.
–	Ah.
–	Então,	como	vão	as	coisas?	–	indagou	ele.
–	Bem.	A	Exultação	foi	maravilhosa	esta	noite.
–	É	–	concordou	Han,	aborrecido.	–	Tenho	certeza	de	que	foi.
–	Como	foi	sua	viagem,	Vykk?	–	perguntou	ela	depois	de	um	minuto	de
silêncio.	Han	ficou	feliz	com	a	pergunta;	era	a	primeira	vez	que	921	demonstrara
qualquer	curiosidade	sobre	ele	e	sua	vida.
–	Acabou	tudo	bem	–	contou	o	rapaz,	escolhendo	um	caminho	pela	trilha
enlameada,	tentando	não	deixar	as	botas	ainda	mais	sujas	do	que	já	estavam.	Por
causa	da	corrida,	sua	perna	estava	emporcalhada	até	a	altura	dos	joelhos.	–	Mas
uns	piratas	atiraram	em	mim.
–	Ah,	não!	–	Ela	parecia	angustiada.	–	Piratas!	Você	poderia	ter	se
machucado!
Han	sorriu	e	mudou	o	braço	de	lugar	para	que	eles	caminhassem	de	mãos
dadas.
–	Que	bom	saber	que	você	se	importa	–	comentou	ele	com	um	traço	da	sua
velha	arrogância.	Por	um	momento,	Han	achou	que	921	poderia	se	afastar,	mas
deixou	que	ele	continuasse	segurando	sua	mão.
Quando	eles	chegaram	ao	dormitório,	já	estava	escuro.	Han	a	levou	até	o
mesmo	lugar,	a	meio	do	caminho	entre	a	luz	e	as	trevas.	Entãotirou	os	óculos
infravermelhos	dela.
–	O	que	você	está	fazendo?	–	indagou	ela,	nervosa.
–	Eu	quero	te	ver	–	explicou	Han.	–	Você	sabe	que	estes	óculos	escondem
seus	olhos.	–	Han	levou	aos	lábios	e	beijou	a	mão	de	921.	–	Senti	sua	falta
enquanto	estava	fora	–	murmurou.
–	Sentiu?
Han	não	conseguia	definir	se	a	ideia	a	agradava	ou	angustiava.	Talvez
ambos.
–	É,	eu	pensei	em	você	–	continuou	ele	baixinho.	O	rapaz	percebeu	que
nunca	tinha	sido	tão	honesto	sobre	seus	sentimentos	com	uma	garota.	Pela
primeira	vez	na	vida,	não	estava	fingindo.	–	Eu	não	queria	–	acrescentou,	com
sinceridade	–,	mas	pensei.	Você	também	sente	alguma	coisa,	né?	Um
pouquinho?
–	Eu...	eu...	–	gaguejou	ela.	–	Eu	não	sei...	–	921	tentou	puxar	a	mão,	mas
Han	não	deixou.	Ele	começou	a	beijar	os	dedos,	os	dedos	cheios	de	cicatrizes	e
cortes.	O	toque	da	pele	da	menina	contra	seus	lábios	o	intoxicou	tanto	quanto	a
cerveja	alderaaniana.	Ele	despejou	beijinhos	delicados	nos	nós	e	pontas	dos
dedos.
–	Pare	com	isso...	–	sussurrou	ela.	–	Por	favor...
–	Por	quê?	–	indagou	ele,	virando	a	mão	dela	para	beijar	o	pulso.	Han	se
sentiu	extasiado	com	o	saltar	da	pulsação	dela	contra	os	lábios.	Pressionou	a
boca	contra	a	palma,	sentindo	o	relevo	das	velhas	e	novas	cicatrizes.	–	Você	não
gosta?
–	Sim...	não...	eu	não	sei!	–	explodiu	921,	soando	à	beira	das	lágrimas.	Puxou
a	mão	de	volta	e,	desta	vez,	Han	deixou,	mas	deu	um	passo	à	frente	para	pegar
sua	manga.
–	Por	favor...	–	pediu	o	piloto,	segurando-a	com	os	olhos	tanto	quanto	com	as
mãos.	–	Por	favor...	não	vá.	Você	não	percebe	que	eu	gosto	de	você?	Eu	me
preocupo	com	você,	eu	penso	em	você...	Eu	gosto	de	você.	–	Han	engoliu,	e	isso
doeu.	–	Muito.
Ela	ofegou	e	soou	como	um	soluço	de	choro.
–	Eu	não	quero	que	você	goste	–	retrucou	ela	com	a	voz	emocionada.	–
Porque	eu	não	posso	gostar...
–	Você	não	me	disse	nem	o	seu	nome	–	acusou	Han,	sem	conseguir	esconder
o	amargor	na	voz.
921	estava	pronta	para	fugir,	como	um	pássaro,	com	olhos	arregalados	e
atormentados.
–	Eu	gosto	de	você	também	–	ela	sussurrou,	finalmente.	A	voz	tremia.	–	Mas
eu	não	deveria.	Só	devo	me	importar	com	o	Um	e	com	o	Todo!	Você	quer	que	eu
quebre	meus	votos,	Vykk!	Como	eu	poderia	desistir	de	tudo	em	que	acredito?
Ouvir	a	admissão	de	que	ela	tinha	sentimentos	por	ele	fez	o	coração	de	Han
dar	um	salto.
–	Me	diga	seu	nome	–	implorou	ele.	–	Por	favor...
921	o	encarou,	olhos	brilhantes	com	lágrimas,	depois	sussurrou:
–	É	Bria.	Bria	Tharen.
Então,	sem	outra	palavra,	ela	ergueu	a	barra	do	robe	e	saiu	correndo	pela
porta	dormitório	adentro.
Han	ficou	na	escuridão	e	sentiu	um	lento	e	largo	sorriso	se	abrindo	no	rosto.
Todo	o	cansaço	sumiu,	e	o	piloto	se	sentiu	como	se	vestisse	botas	repulsoras.
Afastou-se	do	alojamento,	ainda	sorrindo,	e	mal	notou	quando	os	céus	se
derramaram	num	temporal.
Ela	gosta	de	mim...	pensou	ele,	caminhando	pela	lama	onipresente.	Bria...
que	bonito.	Parece	música	ou	coisa	assim.	Bria...
No	dia	seguinte,	depois	de	longas	horas	pensando	e	planejando	durante	uma
noite	praticamente	sem	dormir,	Han	foi	atrás	de	Teroenza.	Encontrou	o	sumo
sacerdote	e	Veratil	relaxando	nos	alagadiços	que	ficavam	a	mais	ou	menos	um
quilômetro	do	raso	oceano	ylesiano.	Os	dois	sacerdotes	se	espojavam	à	vontade,
imersos	em	lama	morna	vermelha	até	os	imensos	flancos.	De	vez	em	quando,
um	deles	ficava	de	patas	para	cima	e	chafurdava	um	pouco	para	cobrir	uma	área
que	tivesse	secado.
Os	dois	Gamorreanos	de	guarda	pareciam	sentir	uma	profunda	inveja	dos
mestres.	Han,	por	outro	lado,	chegou	perto	o	bastante	do	lamaçal	para	sentir	o
perfume	e	fez	uma	careta.	Ugh!	Fede	como	se	alguma	coisa	tivesse	morrido
semana	passada!
O	corelliano	se	equilibrou	precariamente	na	margem	e	acenou	para	chamar	a
atenção	de	Teroenza.
–	Hã,	senhor?	Gostaria	de	falar	com	o	senhor,	se	possível.
O	sumo	sacerdote	estava	de	ótimo	humor,	relaxado	com	a	lama.	Acenou	com
o	bracinho.
–	Nosso	heroico	piloto!	Por	favor,	se	junte	a	nós!
Entrar	nesse	lodo?	De	propósito?	pensou	Han,	reprimindo	uma	careta.	Só
que	ele	sabia	que	o	T’landa	Til	lhe	oferecia	uma	grande	honra.	Então	suspirou.
Quando	Teroenza	lhe	chamou	de	novo	com	um	gesto,	Han	sorriu	e	acenou	de
volta,	animado.	Desatou	o	cinto	do	coldre	e	pousou	sua	recém-recuperada	pistola
no	chão.	Depois	de	tirar	as	botas,	abriu	o	macacão	de	piloto	e	o	tirou,	ficando
apenas	de	shorts.	Com	cuidado,	colocou	a	cartucheira	do	cinto	em	cima	da	pilha,
com	o	lado	aberto	virado	para	o	lodaçal.
Então,	com	uma	careta	que	tentou	transformar	em	sorriso,	o	corelliano
desceu	da	margem.	Lama	vermelha	subiu	pelas	pernas	e,	por	um	segundo,	Han
quase	entrou	em	pânico,	imaginando	que	afundaria	por	completo	até	sumir	de
vista.	Só	que	havia	chão	sólido	sob	a	lama.	Acenando	e	sorrindo	para	os	dois
T’landa	Til,	Han	vadeou	até	a	lama	ficar	na	altura	das	coxas.
–	Não	é	maravilhoso?	–	indagou	Veratil,	generosamente	pegando	uma
mãozada	de	lama	e	esfregando	nas	costas	de	Han.	–	Nada	nesta	galáxia	se
compara	a	um	bom	banho	de	lama!
Han	assentiu	vigorosamente	com	a	cabeça.
–	É!	Legal!
–	Sugiro	que	você	role	um	pouco	–	ribombou	Teroenza.	–	Isso	sempre	me
recupera	depois	dos	estresses	da	vida	cotidiana.	Experimente!
–	Claro!	–	concordou	Han,	sorrindo	entre	dentes	trincados.	–	Um	bom
chapinhar	nessa	lama	toda	parece	um	sonho!	–	Cuidadosamente,	ele	se	baixou	na
lama	e,	com	um	grande	slosh	e	um	splat!	,	rolou	completamente	na	coisa
gosmenta	e	viscosa.	Não	ajudou	perceber	que	havia	longas	minhocas	brancas
vivendo	na	substância.	Han	presumiu	que	não	seriam	carnívoras,	ou	os
sacerdotes	não	estariam	se	divertindo	tão	maravilhosamente.
Bria,	meu	bem,	espero	que	você	fique	agradecida...	pensou	Han	enquanto
completava	seu	giro	e	se	sentava,	recoberto	do	pescoço	para	baixo.
–	Que	maravilha!	–	exclamou.	–	Tão...	melequento!
–	Então,	piloto	Draygo...	o	que	você	queria	falar	comigo?	–	indagou
Teroenza	enquanto	se	afundava	languidamente	ainda	mais	no	lodaçal.
–	Bem,	acho	que	posso	ter	resolvido	seu	problema,	senhor.	Aquele	de	como
cuidar	da	sua	coleção,	quer	dizer.
Teroenza	girou	a	imensa	cabeça	sobre	o	pescoço	quase	inexistente.
–	É	mesmo?	Como?
–	Fiz	amizade	com	uma	das	peregrinas,	uma	jovem	do	meu	planeta	natal.
Antes	de	ela	ter	vindo	para	cá,	estava	estudando	para	ser	curadora	de	museu,	e
sabe	muita	coisa	sobre	como	cuidar	de	objetos	raros.	Antiguidades,
colecionáveis,	essas	coisas.	Aposto	que	ela	poderia	catalogar	e	manter	as	coisas
na	sua	coleção.
Teroenza	ouviu	muito	atento,	depois	o	sumo	sacerdote	se	sentou	sobre	os
quartos	traseiros,	esguichando	lama	ao	seu	redor.
–	Não	fazia	ideia	que	uma	de	nossas	peregrinas	tinha	recebido	tal
treinamento.	Talvez	eu	entreviste	essa	moça.	Qual	é	a	designação	dela?
–	É	a	Peregrina	921,	senhor.
–	E	onde	ela	trabalha?
–	Na	fábrica	de	brilhestim,	senhor.
–	Há	quanto	tempo	ela	já	está	aqui	em	Ylesia?
–	Quase	um	ano,	senhor.
Teroenza	se	virou	para	Veratil,	e	os	dois	começaram	a	conversar	na	própria
língua.
Eu	tenho	que	aprender	a	entender	essa	linguagem	deles,	pensou	Han.	Tinha
encontrado	um	programa	que	ensinava	huttês	básico	e	passara	o	mês	estudando.
Só	que	não	conseguira	localizar	nenhum	guia	ou	programa	de	tradução	para	o
idioma	t’landa	til.	Han	prestou	muita	atenção,	na	esperança	de	decifrar	o	que	os
sacerdotes	diziam,	mas	t’landa	til	parecia	ser	diferente	de	huttês	o	suficiente	para
que	Han	não	entendesse	nada.
Voltando-se	para	Han,	Veratil	perguntou:
–	Essa	Peregrina	921...	você	diria	que	ela	é	atraente,	de	acordo	com	os
padrões	de	avaliação	de	atratividade	da	sua	espécie?	Por	exemplo,	você	a
considera	interessante	como	uma	parceira	sexual	em	potencial?
Dentro	da	lama,	Han	cruzou	os	dedos.
–	921?	Ah,	não	senhor,	ela	é...	bem,	para	ser	franco,	senhor,	é	tão	feia	que,	se
eu	tivesse	um	bicho	de	estimação	com	aquela	cara,	faria	ele	andar	de	costas.
Ao	escutar	as	palavras	de	Han,	os	dois	santos	seres	caíram	na	gargalhada,
dando	tapas	com	as	mãozinhas	no	peito,	o	que,	aparentemente,	era	a	forma
daquela	espécie	de	prestar	tributo	a	uma	frase	espirituosa.
–	Muito	bem,	piloto	Draygo	–	ribombouTeroenza.	–	Você	é	realmente	um
camarada	esperto,	e	eu	vou	investigar	essa	jovem.	–	Ele	chafurdou	mais	um
pouco,	deixando	a	lama	se	acumular	e	escorrer	pelos	grandes	flancos.	–
Ahhhhhh...	–	suspirou	com	prazer.
–	Então,	Veratil.	–	Han	se	remexeu	na	lama	até	ficar	de	frente	para	o
sacredot.	–	Eu	estou	curioso	com	uma	coisa.	O	senhor	se	importaria	se	eu	fizesse
uma	pergunta?
–	De	forma	alguma	–	respondeu	o	sacerdote	mais	jovem.
–	Como	que	vocês	fazem	aquele	lance	com	os	peregrinos	todas	as	noites	na
cerimônia?	Aquilo	que	eles	chamam	de	Exultação?	Tem	um	coice	brabo,	o	que
quer	que	seja.
–	A	Exultação?	–	Veratil	deu	uma	risadinha,	um	som	grave	e	ribombante.	–
Aquele	momento	de	êxtase	que	os	peregrinos	consideram	uma	dádiva	divina?
–	Isso	mesmo	–	concordou	Han.	–	Nunca	consegui	sentir	–	admitiu.	Porque
eu	lutei	contra	ele	com	toda	a	minha	força,	acrescentou	silenciosamente.	Porque
a	última	coisa	que	eu	quero	é	uma	criatura	feia	que	nem	você	dando	choques
nos	meus	neurônios	de	prazer...
–	Isso	porque	você	é	um	indivíduo	com	muita	força	de	vontade,	piloto
Draygo	–	explicou	Veratil.	–	Nossos	peregrinos	vêm	até	nós	porque	não	têm
muita	força	de	vontade,	são	fracos	e	buscam	orientação.	E	suas	dietas	foram
criadas	para	deixá-los	ainda	mais...	maleáveis.
–	A	Exultação	é	o	refinamento	de	uma	habilidade	que	nós,	machos	da
espécie	T’landa	Til,	usamos	para	atrair	as	fêmeas	durante	a	temporada	de
acasalamento	–	explicou	Teroenza.	–	Estimulamos	os	centros	de	prazer	criando
uma	ressonância	de	frequência	dentro	do	cérebro	do	receptor.	Esse	zumbido	é
gerado	pelo	ar	fluindo	sobre	os	cílios	no	interior	das	nossas	papadas,	quando	nós
as	inflamos.	Nossas	fêmeas	acham	irresistível.
–	Nós	machos	também	temos	uma	habilidade	de	projeção	empática	em	baixo
nível	–	continuou	Veratil.	–	Se	nos	concentrarmos	em	nos	sentir	bem,	podemos
projetar	essas	sensações	sobre	a	multidão	de	peregrinos.	Ambos	efeitos,
combinados,	produzem	a	Exultação.
–	Que	truque	bacana!	–	exclamou	Han,	admirado.	–	É	difícil	de	fazer?
–	De	forma	alguma	–	respondeu	Teroenza.	–	O	mais	difícil	é	ter	que	celebrar
aquelas	cerimônias	e	preces	intermináveis	para	os	peregrinos.	Às	vezes,	eu	fico
tão	entediado	que	quase	caio	no	sono,	enquanto	espero	pela	minha	vez	de	falar
durante	a	devoção.
–	Ano	passado,	um	dos	sacredots	chegou	a	cair	no	sono	de	verdade	–	contou
Veratil,	ribombando	com	a	versão	da	espécie	dele	para	uma	risada.	–	Palazidar
desabou	ali	mesmo.	Os	peregrinos	ficaram	muito	chateados.
Os	dois	sacerdotes	curtiram	a	memória.	Han	riu	também,	mas	por	dentro
fervia	de	raiva,	pensando	nos	peregrinos	que	cambaleavam	pela	trilha,	com
olhos	brilhantes	de	devoção	e	fé	religiosa.	Este	lugar	faz	qualquer	um	dos	golpes
de	Garris	Shrike	parecer	brincadeira,	pensou	ele	enojado.	Alguém	deveria
encerrar	o	negócio	desses	vermes	gananciosos...
Por	um	momento,	Han	desejou	que	pudesse	ser	o	cara	que	iria	acabar	com
aquilo.	Depois,	se	lembrou	que	se	arriscar	pelos	outros	era	um	ótimo	jeito	de	ter
a	cabeça	permanentemente	separada	do	pescoço.	Então	por	que	você	está
fazendo	tudo	isto	por	Bria?	,	indagou	com	sarcasmo	sua	mente	traiçoeira.
Porque	,	respondeu	o	coração,	o	bem-estar	de	Bria	se	tornou	tão	importante
para	mim	quanto	o	meu	próprio.	Eu	não	tenho	como	evitar,	as	coisas
simplesmente	são	assim...
Agora	que	tinha	alcançado	a	meta	que	o	trouxera	até	ali,	Han	começou	a
pensar	em	como	se	remover	graciosamente	(em	termos	metafóricos)	da	lama	e
da	companhia	dos	sacerdotes.
Foi	resgatado	pela	chegada	de	um	Hutt,	que	veio	pairando	sobre	o	lamaçal
no	seu	trenó	repulsor.	Um	pequeno	esquadrão	de	guardas	trotava	com	vigor	ao
lado,	ofegando	no	calor	úmido	enquanto	se	esforçavam	para	acompanhar.
–	Zavval!	–	Teroenza	saudou	seu	mestre	Hutt	e	se	levantou	respeitosamente.
Sentindo-se	ridículo,	Han	fez	o	mesmo.
Aquele	era	o	primeiro	encontro	ao	vivo	e	de	perto	do	corelliano	com	um
Hutt,	e	ele	tentou	não	encarar	o	vulto	imenso	e	reclinado	da	criatura,	os	enormes
olhos	empapuçados	em	meio	à	pele	castanha	coriácea,	e	a	gosma	verde	que
escorria	dos	cantos	da	boca.	Ugh...	eles	são	ainda	mais	feios	que	Teroenza	e	a
turma	dele,	pensou	Han.	O	rapaz	lembrou	a	si	mesmo	que	os	Hutts	já	eram
civilizados	provavelmente	desde	muito	antes	que	os	seres	humanos	–	mas	ainda
assim	não	conseguiu	eliminar	a	repulsa	que	a	aparência	deles	causava.
Ou	talvez	sua	repugnância	viesse	da	simples	consciência	de	que	tinham	sido
os	Hutts	que	desenvolveram	aquele	plano	de	tocar	uma	religião	em	Ylesia	como
forma	barata	de	escravizar	sencientes	inocentes.
O	Hutt	se	inclinou	para	Teroenza	e	disse	em	huttês:
–	Recebi	uma	mensagem	de	casa.	Jabba	e	Jiliac	negam	tudo,	e	nós	não	temos
provas.	O	conselho	dos	clãs	se	recusou	a...	–	Han	não	conseguiu	entender	a
palavra	–,	então	não	temos	outro	jeito	de...	–	e	terminou	com	uma	frase	que	Han
não	sabia	traduzir.
–	Lamentável	–	respondeu	Teroenza	na	mesma	língua.	–	E	quanto	ao	meu
pedido	de	mais	soldados,	armamentos	e	escudos	para	nossas	naves,	vossa
excelência?
–	Aprovado	–	confirmou	Zavval.	–	Devem	chegar	a	qualquer	momento.
–	Ótimo.
Teroenza	então	continuou	em	língua	básica:
–	Zavval,	gostaria	de	lhe	apresentar	nosso	corajoso	piloto,	Vykk	Draygo,	que
salvou	nosso	carregamento	de	brilhestim.
O	enorme	Hutt	deu	uma	risada,	um	som	de	“heh,	heh,	heh”	que	era	tão	grave
e	ressonante	que	Han	se	sentiu	tonto	quando	ouviu.
–	Saudações,	piloto	Draygo.	Você	tem	nossa	gratidão.
–	Obrigado,	senhor...
Teroenza	acenou	com	o	bracinho.
–	A	forma	correta	de	tratamento	é	“vossa	excelência”,	piloto	Draygo.
–	Certo,	então.	Obrigado,	vossa	excelência.	Fico	honrado	em	poder	servi-lo.
O	Hutt	riu	de	novo	e	falou	com	Teroenza	em	huttês:
–	Um	rapaz	muito	educado	e	perceptivo,	para	um	humano.	Você
providenciou	um	bônus?	Queremos	mantê-lo	feliz.
–	Sim,	providenciei,	vossa	excelência	–	respondeu	Teroenza.
Han,	é	claro,	não	deixou	transparecer	que	entendia	as	conversas	em	huttês.
–	Ótimo,	ótimo	–	concluiu	Zavval.
Han	observou	enquanto	o	alienígena	girou	seu	trenó	repulsor	e	se	afastou.
Teroenza	e	Veratil	começaram	a	vadear	para	sair	do	alagadiço,	grunhindo	com	o
esforço.	O	sumo	sacerdote	falou	com	Han	em	língua	básica:
–	Sua	Excelência	está	satisfeito	com	o	seu	desempenho,	piloto.	O	capataz	da
fábrica	já	lhe	informou	quando	o	próximo	carregamento	estará	pronto	para
transporte?
Han	também	voltava	à	margem.
–	Ele	disse	que	deve	ser	no	fim	da	semana,	senhor.	Enquanto	isso,	tem	dois
carregamentos	de	peregrinos	chegando	na	estação	espacial;	um	amanhã,	o	outro
no	dia	seguinte.
–	Ótimo.	Não	queremos	ficar	sem	mão	de	obra	nas	fábricas.
Uma	vez	de	volta	à	terra	seca,	Han	catou	as	roupas,	depois	se	virou	para	leste
e	fez	um	gesto	na	direção	do	oceano,	a	um	quilômetro	dali.
–	Acho	que	vou	fazer	uma	caminhada	e	me	enxaguar	–	comentou	–	antes	de
me	vestir.
–	Ah,	sim	–	concordou	Veratil.	–	Nós	usamos	a	lama	como	um	agente	de
limpeza,	mas	ela	não	gruda	na	nossa	pele	da	forma	que	parece	grudar	na	sua.
Uma	vez	secos,	nós	só	precisamos	chacoalhar.	–	Ele	deu	uma	estremecida	forte,
e	a	poeira	se	ergueu	em	nuvens.	–	E	a	coisa	toda	descasca,	como	você	pode	ver.
–	É,	tô	vendo	–	concordou	Han.	–	Mas	eu	vou	precisar	de	água	para
enxaguar.
–	Tome	cuidado	de	não	entrar	demais	no	oceano,	piloto	Draygo	–	acautelou
Teroenza.	–	Alguns	dos	habitantes	dos	oceanos	ylesianos	são	bem	grandes,	e
muito	famintos.
–	Sim,	senhor	–	respondeu	Han.
Han	ergueu	as	roupas	e	botas,	mantendo-as	longe	do	corpo	coberto	de	lama
vermelha,	e	partiu	descalço	em	direção	ao	oceano,	escolhendo	onde	pisava.
Quando	lá	chegou,	pouco	tempo	depois,	aventurou-se	com	cuidado,	ficando
com	água	até	os	joelhos,	e	se	agachou	para	deixar	a	arrebentação	lavá-lo.	As
ondas	o	recobriram	repetidamente,	enxaguando	cada	traço	do	lodo	vermelho.
Han	voltou	à	praia	arenosa,	encontrou	um	pedaço	liso	e	se	esticou	para	secar.
Sentiu	o	turvo	sol	ylesiano	castigando-o,	secando-o,	deixando	seu	cabelo
endurecido	e	bagunçado.	Só	que	qualquer	coisa	é	melhor	que	lama,	concluiu	ele,
sonolento.
Han	estava	quase	adormecido	quando	acordou	num	susto,	lembrandoalgo
que	tinha	esquecido.	Levantou-se,	foi	até	as	roupas	e	remexeu	na	cartucheira	do
cinto.	Olhou	em	volta	muito	atentamente,	e	depois	puxou	o	minúsculo
dispositivo	de	gravação	de	áudio	que	ele	tinha	pegado	“emprestado”	da	Sonho
Ylesiano	e,	ao	ver	que	ainda	estava	gravando,	o	desligou	com	um	estalo	decisivo.
Depois	de	confirmar	que	tinha	gravado	a	conversa	inteira	com	os	sacerdotes
Ylesianos,	Han	voltou	ao	seu	lugar,	deitou	na	areia	morna	e	tirou	uma	bem
merecida	soneca.
Han	voou	em	muitas	missões	para	os	Ylesianos	nos	três	meses	seguintes.
Várias	vezes,	com	a	cumplicidade	de	Muuurgh,	ele	fez	pequenos	“voos
secundários”	para	treinar	suas	habilidades	de	pilotagem	e	permitir	que	Muuurgh
praticasse	com	os	canhões.	Han	conseguiu	pousar	naves	em	luas	sem	atmosfera,
luas	gélidas,	até	mesmo	num	pequeno	asteroide	apenas	um	pouco	maior	que	a
nave.	Aprendeu	a	atracar	com	estações	espaciais,	acoplando	escotilhas
perfeitamente	na	primeira	tentativa.
Como	resultado	do	encontro	de	Han	com	os	“piratas”,	os	Hutts	Ylesianos
aumentaram	o	armamento	e	equiparam	as	naves	com	escudos	melhores.	Também
incrementaram	a	segurança	ao	redor	das	datas	e	dos	locais	dos	carregamentos	e
passaram	a	recusar	pontos	de	encontro	no	espaço.	Em	vez	disso,	Han	recebia
ordens	de	levar	a	carga	a	algum	planeta	e	trocar	a	especiaria	processada	pela
matéria-prima	em	solo.	Em	regiões	habitadas,	havia	menos	chance	de	uma
traição	que	poderia	levar	a	uma	emboscada.
Teroenza	deixou	claro	para	Muuurgh	que	Vykk	Draygo	tinha	provado	seu
valor	como	empregado	de	confiança,	então	Muuurgh	não	se	sentia	mais	obrigado
a	passar	cada	segundo	com	o	corelliano.	Porém,	o	Togoriano	grandalhão	ainda
estava	preso	à	sua	promessa	de	guardar	o	piloto	e	nunca	se	esquecia	disso.
Teroenza	cumpriu	sua	promessa,	entrevistou	Bria	e	deu	a	ela	o	serviço	de
manter	e	catalogar	sua	coleção.	Uma	vez	que	começou	a	comer	melhor	no
refeitório	da	administração	e	receber	uma	exposição	saudável	ao	ar	fresco	e	à	luz
do	sol,	aquela	aparência	pálida,	doentia	e	magra	demais	desapareceu.	Os	olhos
verdes	ficaram	mais	brilhantes,	os	passos	mais	leves,	e	o	sorriso,	mais	fácil.
Ela	gostava	do	novo	serviço,	tanto	porque	curtia	cuidar	das	antiguidades
como	por	considerar	uma	honra	sagrada	servir	o	sumo	sacerdote.	Bria
continuava	participando	das	preces	toda	manhã	e	da	cerimônia	toda	noite.
Quando	Han	estava	em	Ylesia,	ele	geralmente	a	acompanhava	na	ida	e	na	volta
da	Exultação.
Haviam	oferecido	a	Bria	um	quarto	no	centro	administrativo,	mas	ela	disse	a
Teroenza	que	preferia	ficar	no	dormitório	dos	peregrinos.	Não	só	ela	gostava	da
companhia	dos	colegas	peregrinos	na	hora	das	preces,	mas	também	se	sentia
constrangida	com	a	ideia	de	ocupar	um	apartamento	no	mesmo	prédio	que	Vykk
Draygo.	Bria	Tharen	ainda	preferia	evitar	o	corelliano;	ainda	estava	indisposta	a
reconhecer	os	sentimentos	que	haviam	acordado	dentro	de	si.	Ela	era	uma
peregrina,	lembrava	a	si	mesma	constantemente.	Sua	lealdade,	dever	e	seu	eu
espiritual	estavam	reservados	para	o	Um	e	o	Todo.
Ainda	assim,	não	havia	dúvidas	de	que	Bria	gostava	da	companhia	de	Vykk.
Ele	era	tão	vivo,	tão	cheio	de	energia,	tão	charmoso	e	atraente...	ela	nunca
encontrara	ninguém	assim.
Durante	a	hora	anterior	às	devoções	vespertinas,	quando	seu	trabalho	com	a
coleção	do	sumo	sacerdote	já	estava	encerrado,	Bria	desenvolveu	o	hábito	de
procurar	Vykk	e	Muuurgh	(os	dois	estavam	sempre	juntos),	e	os	três	iam	para	o
refeitório	administrativo	para	tomar	uma	xícara	de	estim-chá	juntos...
Bria	caminhou	pela	selva,	curtindo	o	pequeno	alívio	do	calor	proporcionado
pelo	sol	poente.	Uma	brisa	soprava	vinda	do	mar,	que	era	aonde	a	peregrina
rumava.	Andava	com	rapidez,	sentindo	as	barras	do	robe	bege	de	fiel	roçar	as
plantas	que	cresciam	às	margens	da	trilha.	Flores	brilhantes	pendiam	de	cipós...
escarlates,	roxas	e	verde-amareladas.	O	perfume	cortante	e	um	pouco
adstringente	fazia	Bria	abrir	as	narinas	ao	passar	pelas	plantas.
O	Exaltado,	Teroenza,	tinha	dito	a	Bria	que	ela	poderia	vestir	roupas
normais,	em	vez	dos	volumosos	trajes	de	peregrino,	argumentando	que	assim
seria	mais	fácil	cuidar	da	coleção	dele...	Porém,	a	garota	ainda	insistia	nos	robes,
assim	como	insistia	nos	votos.
A	jovem	corelliana	alcançou	o	alagadiço	e	parou	para	prestar	uma	reverência
diante	do	lamaçal	onde	os	dois	sacerdotes	se	espojavam.	Ambos	a	ignoraram,
mas	Bria	estava	acostumada	com	isso.	Sacerdotes	não	prestavam	muita	atenção
aos	peregrinos,	a	não	ser	que	precisassem	orientar	o	trabalho	deles.	Era	natural...
suas	mentes	se	atinham	a	coisas	mais	elevadas,	alçando-se	a	planos	espirituais
que	humanoides	como	Bria	não	tinham	esperança	de	alcançar.
Na	primeira	vez	que	Bria	viu	os	santos	seres	chafurdando	na	fétida	lama
vermelha,	ficou	chocada.	Era	perturbador	vê-los	se	entregar	a	uma	atividade
tão...	secular.	Porém,	ao	longo	dos	últimos	três	meses,	desde	que	começara	a
trabalhar	para	Sua	Exaltidade,	Teroenza,	Bria	se	acostumara	a	vê-los	assim.
Estava	feliz	em	não	ter	que	trabalhar	mais	nas	trevas	da	fábrica	de	brilhestim.
O	serviço	no	centro	administrativo	era	tão	melhor.	Climatizado,	com	boa
iluminação	e	a	comida...	a	comida	era	muito	mais	saborosa.	Bria	levara	quase
um	mês	inteiro	para	conseguir	comer	uma	refeição	normal.	Inicialmente,	ela
estivera	tão	apática,	tão	drenada	de	energia,	que	só	cutucava	a	comida,	como	já
fazia	há	meses.	O	droide	médico	teve	que	tratar	sua	malnutrição,	além	de	traços
de	doença	de	sangue	induzida	pelos	fungos.
Mas	agora	ela	estava	bem.
As	coisas	tinham	melhorado	muito	para	ela,	Bria	tinha	que	admitir,	desde
que	Vykk	entrara	na	sua	vida.	Se	ao	menos...
Bria	franziu	o	cenho	e	suspirou.	Se	ao	menos	Vykk	fosse	um	peregrino
também.	Então	eles	poderiam	adorar	juntos,	participar	das	preces	juntos	e
receber	o	sacramento	da	Exultação	juntos.	Só	que	Vykk...	ela	não	podia	ignorar	o
fato	de	que	ele	era	um	infiel,	mesmo	que	o	rapaz	nunca	admitisse.	Vykk	não
acreditava	em	nada	além	de	si	mesmo.
Quando	eles	frequentavam	a	cerimônia	juntos,	ele	segurava	a	mão	ou	o	braço
dela	para	apoiá-la	no	caminho	de	volta	ao	dormitório.	O	toque	da	mão	dele	fazia
Bria	questionar	a	própria	devoção	ao	Um,	ao	Todo,	e	ela	não	gostava	disso.	Não
queria	que	nada	abalasse	sua	fé	ou	enfraquecesse	seus	votos.
Bria	chegou	às	dunas.	Como	tinha	meio	que	esperado,	ouviu	o	som	de	um
tiro	de	pistola	gemer	e	chiar.
–	Vykk!	–	chamou,	não	querendo	pegar	de	surpresa	um	homem	que	praticava
tiro	ao	alvo.	–	Vykk,	sou	eu!
Quando	alcançou	o	topo	da	duna,	o	vento	soprou-lhe	os	robes	e	os	agitou	em
volta	das	pernas.	Bria	teve	que	segurar	o	chapéu,	para	que	não	fosse	levado	pelo
vento	do	oceano.
Na	praia	abaixo	ela	viu	Vykk,	pernas	afastadas	numa	postura	de	pistoleiro,	a
arma	de	raios	no	coldre	que	usava	bem	baixo,	no	meio	da	coxa.	Muuurgh	estava
a	alguma	distância	do	corelliano,	segurando	vários	alvos	de	cerâmica	negra.	Sem
aviso,	o	Togoriano	grandalhão	jogou	dois	dos	alvos	no	ar,	um	bem	alto	e	à
esquerda,	o	outro	baixo	e	à	direita.
A	mão	de	Vykk	se	moveu	num	borrão	tão	rápido	que	os	olhos	de	Bria	mal
conseguiram	acompanhar.	Raios	de	pistola	destruíram	primeiro	o	alvo	da	direita,
depois	o	da	esquerda.	Pequenos	destroços	de	cerâmica	derretida	choveram	na
incansável	arrebentação	ylesiana.
Muuurgh	uivou	sua	aprovação.	Vykk	se	virou,	pronto	para	treinar	tiro	à
distância	com	o	alvo	estacionário	que	tinham	montado,	mas	então	viu	Bria.	Com
um	aceno	e	um	sorriso,	colocou	a	arma	de	raios	de	volta	no	coldre	e	correu	até
ela.
Bria	ficou	estarrecida,	como	sempre	acontecia,	com	como	o	rapaz	era	bonito,
com	suas	feições	regulares,	cabelos	e	olhos	castanhos	e	físico	esguio.	Tudo
somado,	ele	não	era	exatamente	um	homem	classicamente	belo	–	mas	nenhuma
mulher	que	fosse	o	alvo	daquele	sorriso	perceberia	isso.
–	Oi!	–	gritou	ele,	correndo	duna	acima.
Antes	que	Bria	pudesse	escapar,	ele	plantou	um	beijo	na	testa	dela.	Sem
fôlego,	ela	o	empurrou	para	trás.
–	Não,	Vykk.	Isso	vai	contra	meus	votos.
–	Eu	sei	–	admitiu	ele,	sem	vergonha.	–	Só	que,	algum	dia,	meu	bem,	você
vai	me	beijar	de	volta.
–	Eu	queriasaber	se	você	gostaria	de	tomar	um	estim-chá	antes	da	cerimônia
–	disse	ela.
–	Hoje	não	–	respondeu	ele,	subitamente	sério,	contemplando	o	rosto	dela.	–
Precisamos	conversar	sobre	uma	coisa,	Bria.	Esperei	até	que	você	estivesse...
melhor,	porque	eu	temo	que	será	um	grande	choque.	Só	que	você	vai	ter	que
descobrir	um	dia.
Bria	olhou	para	ele,	tentando	entender	o	que	estava	acontecendo.
–	Do	que	você	está	falando,	Vykk?
–	Vamos	nos	sentar	um	pouco.	Ali,	na	praia,	tudo	bem?
Ele	a	levou	até	uma	área	de	areia	lisa	e,	quando	Muuurgh	veio	ver	se	eles
iam	voltar,	Vykk	balançou	a	cabeça.
–	A	gente	vai	precisar	de	um	pouco	de	privacidade,	tudo	bem,	meu	chapa?
O	Togoriano	se	afastou,	duna	acima.	Bria	observou	o	vulto	sombrio
desaparecer	atrás	do	monte	de	areia.
O	coração	dela	se	acelerou	quando	Vykk	tirou	um	pequeno	dispositivo	do
bolso.
–	Este	é	o	gravador	de	registros	de	áudio	que	eu	tirei	do	painel	de	controle	da
Sonho	–	explicou	o	piloto.	–	Vou	tocar	uma	gravação	que	eu	fiz	há	uns	dois
meses,	antes	que	Teroenza	lhe	pedisse	para	tomar	conta	da	coleção	dele.	Seja
paciente	e	escute,	tudo	bem?
–	Eu	não	sei...	Já	vi	que	não	vou	gostar	disso	–	murmurou	ela.	–	Estou	com
um	mau	pressentimento	sobre	essa	gravação.
–	Por	favor	–	pediu	ele.	–	Por	mim.	É	só	escutar.
Bria	concordou	com	um	aceno	de	cabeça,	torcendo	as	mãos	no	colo.	De
repente,	a	brisa	oceânica,	em	vez	de	parecer	agradável,	fez	a	peregrina	tremer
apesar	do	sol	que	mergulhava	a	oeste.
Vykk	ligou	o	gravador.	Bria	escutou	a	conferência	que	se	seguiu...	Ouviu
Vykk	saudar	os	sacerdotes	e	ouviu	quando	eles	o	convidaram	para	um	banho	de
lama.	Bria	reconheceu	as	vozes	do	Exaltado	Teroenza	e	do	sacredot	Veratil
falando	com	o	piloto.	Banhos	de	lama.	Eles	discorriam	sobre	como	os	banhos	de
lama	eram	relaxantes.	Bria	se	mexeu,	agitada,	e	Vykk	ergueu	o	dedo	em	aviso	e
moveu	os	lábios,	dizendo	“espere”.
Ela	se	obrigou	a	continuar	quieta,	ainda	que	ficasse	cada	vez	mais
constrangida.	Certamente	os	sacerdotes	não	sabiam	que	Vykk	estava	gravando	a
conversa	–	as	ações	dele	eram	piores	que	bisbilhotice,	eram	espionagem
descarada!
Então	Bria	prendeu	o	fôlego,	chocada.	Ela	podia	ouvir	Veratil	e	Teroenza
rindo	e	comentando	sobre	a	Exultação	–	estavam	dizendo	que	não	era	uma
dádiva	divina,	que	não	tinha	absolutamente	nada	a	ver	com	o	Um	e	o	Todo!
Bria	arregalou	os	olhos,	depois	os	estreitou	furiosa,	e	se	levantou	num	salto.
O	vento	levou	seu	chapéu	de	peregrina,	permitindo	que	cachos	ruivo-dourados
se	libertassem,	mas	ela	não	prestou	atenção.	Tremia	de	raiva	enquanto	encarava
Vykk.	Ao	perceber	a	reação	dela,	o	piloto	desligou	o	gravador	e	se	levantou	para
encará-la.
–	Como	você	pôde	?	–	exigiu	Bria,	com	voz	grave	e	trêmula.	–	Eu	achei	que
você	era	meu	amigo.
Ele	deu	um	passo	adiante,	as	mãos	erguidas	em	atitude	apaziguadora.
–	Bria,	meu	bem,	eu	sou	seu	amigo.	Fiz	isso	por	você...	Você	tem	que	saber	a
verdade.	Lamento	que...
O	braço	e	a	mão	de	Bria	pareceram	se	mover	por	conta	própria,	acertando
um	slap!	sólido	na	bochecha	do	piloto.	Vykk	cambaleou	para	trás,	segurando	o
rosto.
–	Você	está	mentindo!	–	gritou	ela.	–	Mentindo!	Você	falsificou	isso	para	me
fazer	quebrar	meus	votos!	Admita!
Vykk	baixou	a	mão	e	ficou	parado,	olhando	fixamente	para	ela,	com	olhos
cheios	de	tristeza	e	pena.	Devagar,	ele	balançou	a	cabeça.
–	Eu	lamento	muito,	querida	–	respondeu	ele.	–	Lamento	mais	do	que	eu
poderia	expressar.	Mas	eu	não	falsifiquei	nada.	Isso	que	você	ouviu	é	a	verdade,
e	ficar	com	raiva	de	mim	não	vai	mudar	nada.	Teroenza	e	a	turma	dele	não	têm
nenhuma	dádiva	divina.	Inventaram	essa	vigarice	toda	só	para	conseguir
operários	para	as	fábricas	e	escravos	para	vender.
A	marca	da	mão	de	Bria	escurecia	no	rosto	de	Vykk,	um	vermelho	baço	onde
ela	tinha	acertado.	Bria	viu	as	marcas	dos	próprios	dedos	e	controlou	o	impulso
de	se	jogar	nele	e	se	desmanchar	em	pedidos	de	desculpas.	Como	ela	pôde
machucá-lo	assim?
Ao	mesmo	tempo,	porém,	ela	estava	absolutamente	brava	e	sentia	o	rosto	se
mexendo.	O	queixo	tremia	enquanto	ela	tentava	se	controlar.
–	Não!	–	Ela	cerrou	os	punhos.	–	Não!	Não	é	verdade!	Você	falsificou.	O	que
você	é...	telepático?	Como	é	que	você	sabe	do	sacredot	Palazidar?	Você	nem
estava	aqui	naquele	dia!
Vykk	balançou	a	cabeça.
–	Eu	não	sabia,	Bria.	Eu	não	sabia,	nem	falsifiquei	essa	gravação.	Vou	provar
a	você.	–	Remexeu	no	bolso	e	tirou	um	pequeno	vidro	negro.
Bria	conhecia	o	objeto	bem	até	demais.
–	Brilhestim?	Onde	você	conseguiu?
–	Surrupiei	durante	uma	entrega	–	respondeu	Vykk.	–	Você	sabe	o	que	ele
pode	fazer,	né?
Bria	assentiu	lentamente	com	a	cabeça.
–	Esse	é	meu	único	jeito	de	provar	que	não	estou	mentindo.	Se	você	abrir,
expor	à	luz	e	então	engolir,	vai	ficar	com	habilidades	telepáticas	temporárias.	Vai
poder	ler	minha	mente	e	saber	que	eu	não	estou	mentindo	sobre	a	Exultação;	e
que	eu	não	falsifiquei	a	gravação.	Aqui	–	ele	estendeu	o	frasco	e	soltou	na	mão
dela	–,	pegue.
Bria	contemplou	o	tubo.
–	Eu...	eu	preciso	pensar	nisso,	Vykk.	Preciso	decidir	o	que	fazer.
–	Não	estou	mentindo,	meu	bem,	eu	juro.	–	O	piloto	se	aproximou	da
peregrina	e	estendeu	as	mãos	para	pegar	as	dela.	–	Confie	em	mim.
Bria	se	afastou	de	Vykk.
–	Olha...	me	deixa	em	paz	por	enquanto,	Vykk.	Eu...	falo	com	você	mais
tarde.	Depois	da	cerimônia.	Agora,	eu	tenho	que	ir.
Ele	olhou	para	ela.
–	Você	poderia	faltar,	só	hoje.	Não	é	como	se	eles	fizessem	chamada.
Faltar	à	Exultação?	Bria	se	sentiu	nauseada	só	de	pensar	nisso,	e	a	reação	a
aterrorizou.	E	se	Vykk	estivesse	certo?	E	se	a	Exultação	não	passasse	de	uma
combinação	de	vibrações	físicas	e	mentais	de	uma	espécie	alienígena?	Se	não
havia	nenhuma	dádiva	divina	presente,	então	os	peregrinos	não	eram	nada	além
de	viciados	atrás	de	uma	dose.
Bria	fitou	os	olhos	de	Vykk	e	teve	a	sensação	vertiginosa	de	que	ele	estava
dizendo	a	verdade.	Os	dedos	dela	se	apertaram	em	volta	do	pequeno	cilindro
negro	de	brilhestim.	Ali	estava	a	resposta	dela.	Com	aquilo,	ela	poderia
descobrir	a	verdade...
Virou-se	e	saiu	andando,	deixando	Vykk	na	praia.	Bria	ouviu	o	piloto
chamar,	mas	o	dispensou	com	um	aceno	e	seguiu	em	frente.	Não	tinha	tempo	a
perder	se	quisesse	participar	da	cerimônia.
Meia	hora	depois,	ela	estava	em	meio	às	hordas	de	peregrinos,	vendo	o	sol	se
pôr	em	esplendor	sangrento	atrás	do	Altar	de	Promessas.	Era	quase	hora	da
Exultação.	Deu	uma	olhada	em	volta,	pensando	que,	se	ela	ia	fazer	aquilo,	tinha
que	ser	logo.	Furtivamente,	seus	dedos	puxaram	o	cilindro	negro	do	bolso	no
robe.	Luz...	ela	precisaria	de	luz	para	ativar	o	brilhestim.	Porém...	não	poderia
fazê-lo	enquanto	alguém	mais	pudesse	ver.
Por	fim,	chegou	o	momento	que	Bria	esperava	–	o	sinal	para	os	fiéis	de	que	a
Exultação	estava	prestes	a	começar.
Bria	se	posicionou	na	multidão	para	que	tivesse	visão	livre	do	sumo
sacerdote	e	dos	sacredots	enquanto	eles	liderassem	os	peregrinos	na	cerimônia.
Porém,	ela	estava	bem	no	fundo	da	massa,	longe	o	bastante	para	que	pudesse
ocultar	o	brilhestim	na	larga	manga,	de	modo	que	a	ativação	não	seria	notada
pelos	T’landa	Til.	E	os	outros	peregrinos	estariam	tão	ocupados	com	a	Exultação
que	provavelmente	nem	notariam	um	tiro	de	pistola.
A	toda	sua	volta,	os	peregrinos	caíam	de	joelhos.	Bria	se	deixou	segui-los,	e,
ao	se	abaixar,	abriu	a	tampa	do	frasco	de	brilhestim.	Sob	a	proteção	do	próprio
corpo,	dobrado	para	a	frente,	puxou	a	dose	fibrosa	da	droga	–	e	se	perguntou,	por
um	segundo	insano,	se	ela	mesma	teria	preparado	aquela	dose.
Quando	os	peregrinos	se	prostraram,	as	papadas	dos	sacerdotes	começaram	a
distender.	Enquanto	o	princípio	da	vibração	reverberava	no	ar,	Bria	ergueu	o
brilhestim,	expondo-o	por	completo	aos	últimos	raios	do	sol	poente.
Depois	de	alguns	segundos	ele	se	ativou,	faiscando	azul,	mas	nenhum	dos
peregrinos	percebeu,	e	o	efeito	ficou	escondido	do	sumo	sacerdote.	Mesmo	que
nunca	tivesse	tomado	brilhestim	antes,	Bria	sabia	exatamente	quantos	segundos
esperar.	Um	momento	depois,	ela	enfiou	a	fibra	na	boca	e	permitiu	que	a	saliva
apagasse	a	substância	faiscante.
Assim	que	ela	levou	a	droga	à	boca	edepois	engoliu,	a	Exultação	começou.
Bria	estremeceu	como	se	tivesse	sido	atingida	por	um	raio	de	pistola.	Os
efeitos	do	brilhestim	foram	imediatos.	O	sangue	corria	pelo	corpo	como	uma
nave	entrando	no	hiperespaço.	O	coração	disparou.
Só	que	os	efeitos	físicos	não	eram	nada	comparados	aos	mentais.	A	mente	da
peregrina	se	abriu	de	uma	forma	que	ela	jamais	conseguiria	explicar	depois.
Quando	as	ondas	de	Exultação	a	alcançaram,	ela	experimentou	o	prazer	de	todos
os	outros	peregrinos	na	multidão.
A	sensação	era	tão	poderosa	que	Bria	quase	desmaiou.	Só	a	raiva	que	fervia
dentro	de	si	desde	que	Vykk	lhe	tocara	aquela	gravação	a	manteve	sã	e
concentrada.
Tenho	que...	abrir...	meus	olhos...	pensou	ela.	Foco...
Engasgada	e	ofegante,	Bria	abriu	os	olhos,	estremecendo	com	as	ondas	de
prazer	que	a	devastavam	com	tamanha	intensidade	que	estavam	quase	virando
dor.	Encarou	Teroenza,	forçando	a	si	mesma	a	não	afastar	o	olhar,	a	estreitar	a
própria	mente	para	abarcar	apenas	a	dele.
Imagens	de	natureza	alienígena	inundaram	a	mente	de	Bria,	entalhando-se	de
forma	indelével	em	sua	consciência.	Não	importava	o	quanto	ela	queria
esquecer,	sabia	que	nunca,	jamais	conseguiria.	A	mente	de	Teroenza,	assim
como	a	de	qualquer	senciente,	estava	cheia	de	trivialidades	superficiais	–
perguntava-se	o	que	comeria	no	jantar,	estava	entediado	com	a	cerimônia,
pensava	sobre	as	novas	medidas	de	segurança	que	os	Hutts	tinham	lhe	mandado
implementar,	sentia	uma	pequena	agitação	gastrointestinal...
Não	havia	o	menor	traço	de	divindade	na	mente	do	sumo	sacerdote.	Ele	não
acreditava	no	Um	ou	no	Todo.	Na	verdade,	Teroenza	tinha	orgulho	de	si	mesmo
por	ter	inventado	o	Um	e	o	Todo,	para	que	aqueles	peregrinos	crédulos
pudessem	ter	algo	em	que	acreditar.
Bria	teve	ânsia	de	vômito;	sentia	a	boca	cheia	do	gosto	amargo	do	brilhestim.
Era	difícil	pensar	com	a	Exultação	em	curso,	mas	ela	se	obrigou	a	continuar
sintonizada	à	mente	do	sumo	sacerdote...	peneirando,	assegurando-se	com
certeza	absoluta	de	que	o	que	ele	fazia	era	um	truque	puramente	físico	e	mental
–	algo	que	todos	os	machos	de	sua	espécie	poderiam	fazer	quando	quisessem.
De	repente,	Teroenza	se	sacudiu,	olhando	em	volta	com	ansiedade.	Sua
mente	se	encheu	de	desconfiança,	depois	certeza	–	ele	sabia	que	estava	sendo
sondado	telepaticamente!
A	Exultação	vacilou,	depois	enfraqueceu	abruptamente	quando	o	sumo
sacerdote	parou	de	participar.	Os	sacredots	continuaram	num	coro	esfarrapado
mas,	sem	o	líder,	a	Exultação	se	deteve.	Peregrinos	gritaram,	em	choque,	e
alguns	até	desmaiaram.
Bria	desconectou	sua	mente	de	Teroenza	e	se	juntou	aos	peregrinos	que
gemiam	em	angústia,	choravam	e	cambaleavam,	desorientados.	Alguns	se
levantaram	tremendo	e	choramingando	enquanto	contemplavam	suplicantes	os
sacerdotes.
Teroenza	desceu	da	plataforma	junto	ao	Altar	e	se	enfiou	na	multidão.	O
T’landa	Til	espiava	os	rostos,	murmurando	bênçãos	distraído,	enquanto	tentava
encobrir	o	fato	de	que	buscava	em	desespero	o	peregrino	que	tinha	acabado	de
esquadrinhar	sua	mente.
Felizmente,	Bria	estava	bem	no	fundo	do	grupo,	próxima	do	fim	do
anfiteatro.	Ela	se	deixou	ser	empurrada	para	trás,	para	fora	do	permacreto,	até
que	seus	pés	encontraram	o	barro	viscoso	da	selva.	Com	um	único	movimento
rápido	e	decisivo,	Bria	cravou	o	dedão	do	pé	num	monte	de	lama	e	folhas
pisoteadas	e	o	ergueu.	Soltou	o	cilindro	de	brilhestim,	que	caiu	no	centro	do
buraco	recém-aberto.
Bria	se	virou	e,	ao	fazê-lo,	o	pé	pisou	a	bola	de	lama	de	volta	no	solo	da
floresta.	A	sequência	de	eventos	toda	levou	apenas	um	segundo.
Ela	começou	a	se	deslocar	ao	longo	do	fundo	da	multidão,	em	direção	à
trilha,	permitindo-se	ser	levada	pela	maré	de	peregrinos	incoerentes,
resmungões,	confusos	e	insatisfeitos.
Uma	cautelosa	olhadela	para	trás	assegurou	que	Teroenza	tinha	abandonado
a	busca,	aparentemente	por	ter	percebido	como	seria	infrutífera,	e	o	quanto	seu
comportamento	atípico	estava	aborrecendo	os	peregrinos.	Bria	torcia	para	que
ele	descontasse	a	experiência	toda	como	sendo	fruto	da	curiosidade	de	algum
recém-chegado	quanto	ao	brilhestim.
Caminhou	apática	pela	trilha,	com	passos	lentos	e	inseguros.	Os	efeitos	do
brilhestim	tinham	se	esvaído	tanto	que	ela	mal	estava	ciente	dos	pensamentos	e
emoções	daqueles	ao	seu	redor.
Não	ficou	surpresa	quando	Vykk	surgiu	caminhando	ao	seu	lado.	Como	de
costume,	tomou-lhe	o	braço	para	sustentá-la.	Bria	se	encostou	nele,	agradecida
pelo	apoio,	e	sentiu	o	braço	do	rapaz	passando	por	sua	cintura,	até	que	ele	estava
praticamente	segurando-a.
As	velozes	trevas	equatoriais	agora	os	envolviam.	Bria	mal	via	Vykk.	Ele	a
guiou	pela	trilha,	evitando	as	piores	poças	de	lama.	Então,	quando	chegaram	ao
dormitório,	ela	parou.
–	Eu...	não	vou	entrar	agora	–	murmurou.	–	Eu	preciso...	preciso	falar	com
você,	Vykk.
Ele	assentiu.	Seus	traços	mal	eram	visíveis	sob	a	luz	lançada	pelas	portas
abertas.
–	Certo.	Acho	que	ninguém	se	importaria	se	a	gente	fosse	para	o	refeitório
administrativo	para	uma	xícara	de	estim-chá.	Você	parece	estar	precisando.
Juntos	deram	meia-volta,	escuridão	adentro.	Bria	se	encostou	em	Vykk
enquanto	eles	subiam	o	caminho.	Nunca	tinha	se	sentido	tão	cansada.	Um	droide
teria	se	movido	com	mais	animação.
Quando	chegaram	ao	refeitório,	Vykk	a	sentou	e	foi	buscar	xícaras	de	estim-
chá,	além	de	um	doce	confeitado,	que	ele	empurrou	para	Bria.
–	Aqui,	coma	isso.	Você	parece	estar	precisando.
Obediente,	ela	bebericou	o	chá	e	mordiscou	o	doce.	Não	jantara,	e	a	comida
parecia	acalmá-la,	trazendo	o	mundo	de	volta	a	foco.
Inclinou-se	na	direção	de	Vykk,	pronta	para	falar,	mas	bem	quando	a
peregrina	abriu	a	boca,	Vykk	balançou	a	cabeça	em	advertência.
–	Acho	melhor	você	voltar	ao	seu	dormitório	–	comentou	ele	bem	alto.	–	Isso
vai	ensinar	você	a	não	pular	refeições,	921.	Achei	que	você	fosse	desmaiar	lá
atrás.
Recado	recebido,	Bria	se	levantou	em	silêncio	e	o	seguiu	para	fora.
Quando	chegaram	ao	lado	de	fora,	Vykk	pegou	e	colocou	um	par	de	óculos
infravermelhos.
–	Você	trouxe	os	seus?
Bria	fez	que	sim	com	a	cabeça,	localizou-os	e	os	colocou.	A	noite
subitamente	se	definiu	em	imagens	fantasmagóricas	verdes	e	negras.	Ela	via	o
rosto	de	Vykk	agora,	semioculto	pelos	óculos.
Ele	passou	o	braço	por	ela	de	novo	quando	os	dois	partiram	juntos	pela	trilha
na	selva.
–	Você	tomou	o	brilhestim	–	disse	ele	em	voz	baixa.
–	Sim	–	confirmou	ela,	sentindo-se	tão	dormente	quanto	se	tivesse	sido
espancada	até	desmaiar.	–	Você	tinha	razão.	Me	perdoe	por	ter	duvidado...
–	Ei	–	disse	ele,	tentando	soar	animado,	mas	fracassando	completamente.	–
Eu	também	ia	querer	confirmar	minha	história,	no	seu	lugar.	Foi...	foi	difícil?
Bria	assentiu	com	a	cabeça,	e	de	repente	o	sentimento	voltou,	numa	maré
negra,	deixando-a	trêmula	e	sem	fôlego.
–	Ah,	Vykk!	–	balbuciou.	–	Eu	entrei	na	mente	dele,	na	mente	de	Teroenza,	e
foi	terrível!	Nada	de	dádiva	divina,	só	um	senciente	entediado	e	egoísta	que	quer
ficar	rico	para	poder	aumentar	sua	coleção!
–	Calma	lá	–	disse	Vykk,	segurando	os	ombros	de	Bria	para	acalmá-la.	–
Você	recebeu	um	choque	horrível.
–	Eu	me	sinto...	me	sinto...	tão...	traída	–	desabafou	Bria,	entre	dentes	que
batiam.	–	Foi...	terrível...
–	Ei,	calma,	querida...	–	Vykk	a	abraçou,	e	sua	expressão	de	solidariedade	foi
a	gota	d’água.	Bria	começou	a	chorar,	soluçando	tão	forte	e	devastadoramente
que	chegava	a	doer.	Vykk	a	ajudou	a	tirar	os	óculos,	depois	ficou	apenas
abraçado	a	ela,	acariciando	os	cabelos	e	murmurando	palavras	carinhosas	e
tranquilizantes.
Bria	agarrou	a	frente	do	macacão	dele	com	as	duas	mãos,	torcendo	e
amassando	o	tecido,	e	chorando	tão	forte	que	assustou	a	si	mesma.	Ela	jamais
chorara	assim	antes.	A	sensação	de	desolação	era	terrível.
–	Não...	não...	me	resta	mais	nada	–	afirmou	ela	entre	espasmos	de	choro.	–
Nada...	nada...
–	É	claro	que	resta	–	murmurou	Vykk,	beijando	a	bochecha	dela
carinhosamente.	–	Você	ainda	tem	nós	dois,	né?
–	Hã...	nós	dois?	–	sussurrou	ela.
–	Claro.	Vamos	ficar	juntos,	meu	bem.	A	gente	vai	cair	fora	deste	planeta
infernal	e	vai	ser	feliz.
Bria	levantou	a	cabeça,encarando	cegamente	a	escuridão;	mal	conseguia
distinguir	o	borrão	mais	claro	do	rosto	dele.
–	Só	que	eles	nunca	deixam	os	peregrinos	irem	embora	–	resmungou	Bria.	–
Eu	li	isso	na	mente	de	Teroenza.
–	Nós	não	vamos	pedir	para	ir	embora,	querida.	A	gente	simplesmente	vai.
–	Fugir?
–	Isso	mesmo.	Assim	que	eu	conseguir	bolar	um	jeito,	a	gente	vai	dar	o	fora
daqui.	Já	comecei	a	tramar.	–	Ele	deu	um	beijo	rápido	na	bochecha	dela.	–
Confie	em	mim.	Tenho	experiência	com	esse	tipo	de	coisa.	Vou	dar	um	jeito.
–	Mas...	e	o	seu	dinheiro?	–	inquiriu	ela.	–	Você	está	sob	contrato,	e	não	pode
romper.	Se	fugir,	vai	perder	o	dinheiro.	Você	me	contou	que	precisa	dos	créditos
do	seu	salário	para	tentar	entrar	na	Academia.	Como	pode	desistir	disso?
Vykk	encolheu	os	ombros.
–	Um	crédito	é	tão	bom	quanto	qualquer	outro.	Eu	só	tenho	que	tirá-lo	de
Teroenza	de	outro	jeito.
A	mente	de	Bria	estava	nublada	com	exaustão	e	a	dor	da	traição.	Ela	levou
um	minuto	inteiro	para	perceber	o	que	Vykk	queria	dizer.
–	A	coleção...	–	sussurrou.	–	Você	está	planejando	roubar	a	coleção	de
Teroenza	e	fugir.
–	Muito	bem	–	respondeu	ele	com	aprovação.	–	Você	tem	certeza	de	que	não
está	mais	recebendo	as	transmissões	de	pensamento	do	brilhestim?
–	Acho	que	não	estou,	não	–	respondeu	Bria,	cansada.	–	Só	sei	que	você	me
perguntou	sobre	a	coleção	um	monte	de	vezes,	perguntou	quais	itens	são	mais
valiosos.	Você	realmente	acha	que	consegue	romper	as	travas	de	segurança	e
roubar	a	coleção?
–	Não	a	coisa	toda.	Eu	precisaria	de	um	cargueiro	maior	do	que	qualquer	um
em	Ylesia	para	levar	tudo	embora.	Vou	carregar	só	as	coisas	pequenas	e
realmente	valiosas.	–	Vykk	fitou	Bria	intensamente.	–	Você	vai	me	ajudar,	né?
Bria	hesitou.	Roubar	antiguidades	ia	contra	tudo	que	ela	já	acreditara.	Só	que
as	antiguidades	de	Teroenza	não	estavam	num	museu,	onde	o	público	poderia
vê-las.	Eram	acumuladas	por	um	colecionador	particular	ganancioso.	Se	Vykk	as
roubasse,	elas	seriam	postas	de	volta	em	circulação,	e	havia	uma	boa	chance	de
que	pelo	menos	algumas	delas	acabariam	em	exposição	pública	em	lojas	ou
galerias.
–	Tudo	bem	–	concordou	Bria.	Inspirou	profunda	e	tremulamente.	–	Vou	te
ajudar,	Vykk.
–	Ótimo.	Eu	e	você,	a	gente	vai	puxar	uma	nave	e	vai	cair	fora	deste	planeta.
Tô	de	saco	cheio	do	calor,	da	umidade,	e	de	saco	muito	cheio	desses	sacerdotes	e
da	religião	fajuta	deles.
Bria	respirou	fundo.	Ir	embora	daqui?	Nunca	mais	participar	da	cerimônia	e
receber	a	Exultação?	Como	posso	viver	sem	ela?
Decidida,	afastou	a	pergunta	da	mente.	Ia	conseguir,	de	algum	jeito.	Talvez
pudesse	ir	se	libertando	gradualmente	ao	longo	da	semana	seguinte,	até	que	eles
partissem.
–	Tem	só	mais	uma	coisa,	Vykk	–	comentou	ela,	incerta.
–	O	quê,	meu	bem?
–	Muuurgh.	E	quanto	a	Muuurgh?	Você	me	disse	que	ele	deu	a	palavra	que
seria	tanto	seu	guardião	como	seu	protetor.	O	que	você	fará	quanto	a	ele?
Vykk	respirou	fundo,	e	Bria	viu	o	borrão	do	rosto	dele	se	mover	quando	ele
balançou	a	cabeça.
–	Esse	é	o	vrelt	na	cozinha	–	respondeu,	usando	uma	velha	frase	corelliana
para	“azar”	ou	“desastre”.	–	Eu	não	sei	o	que	fazer	com	ele.	Gosto	muito	do
grandalhão,	mas	ele	me	contou	sobre	o	código	de	honra	do	povo	dele.	Temo	que
Muuurgh	será	leal	a	Teroenza	custe	o	que	custar.
–	Você	quer	dizer	que,	se	descobrir	o	que	nós	estamos	planejando,	ele	vai	nos
entregar?
–	Grandes	chances.
–	Ah,	Vykk...	–	A	voz	dela	estava	embargada.	–	O	que	nós	vamos	fazer?	E	se
não	conseguirmos	escapar?
–	Não	se	preocupe	com	isso,	querida,	deixa	comigo.	–	Vykk	suspirou.	–	Se
for	o	caso,	eu	cuido	de	Muuurgh.	Eu	atiro	muito	melhor	que	ele	e	sou	muito
mais	rápido	no	gatilho.
–	Você	atiraria	nele?
–	Se	for	uma	escolha	entre	nós	dois	ou	Muuurgh,	é,	eu	vou	atirar	sim.	Eu	só
queria	que	tivesse	como	convencê-lo	a	vir	com	a	gente.	Se	ele	viesse,	eu	o
levaria	aonde	ele	quisesse.	E	lhe	daria	créditos	suficientes	para	que	continuasse
sua	busca.
–	Busca?
–	É,	ele	está	procurando	pela	parceira,	e	veio	para	cá	achando	que	ela	estaria
em	Ylesia;	só	que	eu	acho	que	ele	deduziu	errado.	Togorianos	são	raros,	tão
raros	que	eu	nem	tinha	ouvido	falar	neles	até	chegar	aqui.	Se	tivesse	uma
Togoriana	neste	planeta,	seria	muito	fácil	de	encontrar.
Bria	arfou,	espantada.
–	Mas...	Vykk!	Havia	outro	Togoriano	aqui!	Eu	me	lembro	de	ter	visto	um
deles;	hum,	há	seis	ou	oito	meses.	Só	um	vislumbre,	mas	tenho	certeza	da
espécie.
–	É	mesmo?	Era	macho	ou	fêmea?	Como	se	parecia?
–	Não	faço	ideia	do	sexo.	Acho	que	esse	Togoriano	não	era	tão	grande
quanto	Muuurgh.	Era	branco,	com	listras	laranjas...	Acho.	Vi	uma	noite,	logo
após	a	cerimônia,	e	estava	escurecendo.
–	Tenho	que	contar	ao	Muuurgh	–	decidiu	Vykk.	–	Esses	sacerdotes	mentem
para	viver.	É	muito	capaz	que	Mrrov,	acho	que	esse	é	o	nome	dela,	esteja	aqui
em	Ylesia	esse	tempo	todo.	Talvez	em	Colônia	Dois	ou	Três.
O	rapaz	se	calou.	Bria	ficou	ali	parada,	ruminando	o	que	ele	tinha	acabado	de
dizer	e,	finalmente,	não	aguentou	mais.
–	Por	favor,	Vykk	–	implorou.	–	Diga	que	você	não	falou	sério	quanto	a	atirar
em	Muuurgh	se	ele	tentar	nos	impedir	de	roubar	a	coleção	de	Teroenza!	Tem	que
haver	um	jeito	de	evitar!	–	Bria	gostava	de	Muuurgh.	Ao	longo	dos	últimos
meses,	os	dois	haviam	se	conhecido	melhor,	e	a	peregrina	admirava	o	grande
felinoide.
–	Vou	cuidar	dele,	custe	o	que	custar.	Se	eu	for	obrigado,	atiro	nele.	–	Vykk
falava	com	determinação.	–	Mas,	talvez,	eu	possa	só...	atordoar	ele,	ou	então	dar
uma	pancada	naquela	cabeça	dura,	e	deixar	ele	amarrado,	para	que	os	sacerdotes
não	o	culpem	quando	nós	fugirmos.
–	Ah,	Vykk...	–	Os	olhos	de	Bria	se	encheram	de	lágrimas	de	novo.	–	Por
favor,	tente	pensar	em	alguma	coisa	para	que	Muuurgh	não	se	machuque.	Você	é
bom	nisso.
–	Vou	pensar,	querida,	vou	pensar...
O	piloto	se	inclinou	para	frente,	para	pregar	um	beijinho	na	testa	da
corelliana,	e	desta	vez	ela	não	o	lembrou	de	seus	votos.	Eu	não	tenho	mais	votos
,	pensou	Bria	atordoada	enquanto	os	dois	voltavam	ao	dormitório.	Nada	de
votos,	nada	de	religião...	nada	de	nada...
Deu	uma	olhada	de	lado	nas	trevas.
Nada	além	de	Vykk...
Muuurgh	saiu	silenciosamente	da	selva	e	seguiu	a	trilha.	A	visão	noturna	do
Togoriano	era	muito	melhor	que	a	dos	humanos;	conseguia	facilmente	distinguir
o	casal	distante	andando	pelo	caminho.	Estavam	quase	no	dormitório.
O	felinoide	tinha	se	esgueirado	pela	mata	com	cuidado	exagerado	pelos
últimos	minutos,	determinado	a	chegar	perto	o	bastante	para	escutar	o	fim	da
conversa	–	mas	tinha	ouvido	o	suficiente.
Piloto	e	Bria	planejavam	escapar.	Planejavam	roubar	dos	mestres	dele.	Piloto
planejava	“cuidar”	de	Muuurgh.
O	Togoriano	balançou	a	imensa	cabeça,	infeliz.	Muuurgh	tinha	dado	sua
palavra	de	honra	aos	mestres	–	seu	curso	deveria	estar	claro.	Mas	não	estava.
Ele	sabia	muito	bem	o	que	deveria	fazer.	Deveria	ir	falar	com	Teroenza	e	lhe
contar	o	que	tinha	escutado.	Ou,	talvez,	ele	mesmo,	Muuurgh,	deveria	matar
Piloto	e	contar	ao	sacerdote	o	motivo	depois	que	estivesse	feito.
Só	que	ele	ficou	parado	ali,	hesitando.	Era	óbvio	que	Piloto	estava
desesperado	o	bastante	para	atirar	nele	para	fugir.	Muuurgh	tinha	dado	sua
palavra	de	honra	de	guardar	Piloto.
Só	que	Piloto	também	era	Vykk...	e	Muuurgh	tinha	passado	a	pensar	em
Vykk	como	amigo.	Vykk	estava	determinado	a	defender	sua	mulher.	Muuurgh
entendia	isso.	Ele	faria	quase	qualquer	coisa	para	defender	Mrrov...	se	ao	menos
conseguisse	encontrá-la...
Muuurgh	rosnou	no	fundo	da	garganta.	Talvez	ele	devesse	se	passar	por
amistoso,	para	que	Piloto	lhe	deixasse	chegar	suficientemente	perto	para	usar	os
dentes	e	as	garras.	Muuurgh	era	um	excelente	caçador.	Depois	que	ele	pegava	a
presa,	não	havia	mais	escapatória.
Ele	conseguiria	matar	Vykk	para	manter	sua	palavra	de	honra?
Muuurgh	rosnou	de	novo	e	voltou	à	selva.	Naquela	noite	ele	ia	caçar,	e	ia
matar.	Ia	eviscerar	e	consumir	a	presa	fresca.	Talvez	isso	desanuviasse	sua
mente,	e	ele	então	conseguiria	decidir	o	que	fazer.
Muuurgh	deslizou	sob	as	árvores	gigantes,	tão	silencioso	e	invisível	quanto
um	espectro.
Na	manhã	seguinte,	Han	assoviou	animadoenquanto	tomava	banho,	e	nem
mesmo	aquela	fétida	e	nojenta	gosma	antifúngica	que	ele	tinha	que	esfregar	no
corpo	o	deprimiu.	Ele	e	Bria	iam	sair	daquele	mundo,	e	ele	teria	créditos	de
sobra	depois	que	vendesse	os	itens	roubados	da	coleção	de	Teroenza.	Han
poderia	pagar	pela	nova	identidade,	comida	e	hospedagem	enquanto	participasse
do	processo	seletivo	da	Academia.
E,	quando	saísse,	seria	um	oficial,	um	homem	respeitado,	e	Bria	estaria
esperando	por	ele...
Enxugou	os	cabelos	molhados	com	uma	toalha	e	foi	até	as	roupas,	que
estavam	arrumadas	no	pé	da	cama.
Ele	não	teve	aviso,	nada	mesmo.	Num	momento	estava	andando,	no	outro
alguma	coisa	o	tinha	agarrado	e	arremessado	no	chão	com	tanta	força	que	ele
ficou	sem	fôlego.	Ofegou	como	um	baleiodonte	encalhado	e	pontos	negros
voaram	diante	dos	seus	olhos.
Havia	mais	alguma	coisa	ali,	também...	prendendo-o	no	chão,	alguma	coisa
que	tinha	uma	imensa	pata	que	segurava	seu	peito.	Por	instinto,	Han	ficou
parado,	ofegando	e	tentando	respirar,	percebendo	que	a	mão	poderia	esmagá-lo
como	uma	noz-dilga.
As	trevas	se	mexiam	diante	dos	olhos	dele	–	não,	a	escuridão	era	real.	Real	e
peluda,	com	um	ponto	branco	no	meio	do	peito	e	bigodes	brancos	eriçados.	Han
conseguiu	focalizar	os	olhos.
–	Muuurgh...?	–	ofegou	fracamente.	–	Que	tá’contecendo...?
Muuurgh	rosnou	na	cara	de	Han,	as	presas	enormes	tão	próximas	que	Han	as
viu	reluzir	com	saliva.
–	Piloto	planeja	escapar,	levar	Bria	–	grunhiu.	–	Vykk	planeja	roubar	de
mestres	Ylesianos.	Vykk	planeja	cuidar	de	Muuurgh...
–	Mas...–	A	mão	pressionou	para	baixo,	um	pouco,	e	Han	desistiu,	com	olhos
arregalados.
Muuurgh	ergueu	uma	imensa	mão-pata	e	a	flexionou	de	leve.	Garras	como
cimitarras	surgiram.
–	Agora	Piloto	traiçoeiro	vai	morrer	–	rosnou	o	Togoriano.
–	Não!	–	Han	ergueu	as	mãos	num	gesto	de	apelo.	–	Por	favor!	Me	escuta!
–	Muuurgh	escutou	noite	passada.	Muuurgh	escutou	muito	–	retrucou	o
Togoriano	com	severidade.
–	Ei,	meu	chapa	–	balbuciou	Han,	imaginando	o	que	aquelas	garras	fariam
com	sua	garganta	exposta.	–	Achei	que	a	gente	fosse	amigo!
–	Muuurgh	gostava	Piloto.	Muuurgh	triste	ter	que	matar	Piloto.	Mas	palavra
de	honra	foi	dada.	Sem	opção	para	Muuurgh.
A	mão	começou	a	descer.	Han	apertou	os	olhos	e	esperou	o	fim.
Sentiu	a	brisa	do	golpe	do	Togoriano	passar	de	raspão	pela	bochecha,	pela
garganta,	mas	nada	o	tocou.	Depois	de	várias	eternidades,	Han	abriu	os	olhos	de
novo.	Muuurgh	o	encarava,	claramente	dividido.
Por	fim,	ele	segurou	Han	pelo	ombro	e	o	cabelo,	puxou-o	até	ficar	de	pé,	e
depois	o	empurrou	até	as	roupas.
–	Vista-se!	Muuurgh	não	quer	sangue	de	piloto	em	suas	garras.	Vamos	contar
a	Teroenza	o	que	Piloto	e	garota	planejam.	Sacerdote	vai	mandar	guardas	matar
traidores.
Han	se	apressou	até	a	cama	e	começou	a	se	vestir.	Pelo	menos,	ele	não	ia
morrer	pelado	e	molhado.
–	Escuta,	Muuurgh,	você	tem	que	me	escutar.	Por	favor!	Que	mal	pode
fazer?
–	Piloto	mente.	Muuurgh	sabe	que	mente.	Eu	não	vou	escutar.
É	um	bom	sinal	de	que	ele	está	recuperando	a	calma,	pensou	Han.	A
gramática	que	eu	lhe	ensinei	está	voltando.
Han	selou	a	frente	do	macacão	e	se	sentou	na	beira	da	cama	para	calçar	as
botas.
–	Seu	povo	tem	um	código	de	honra,	não	tem?	–	indagou	o	rapaz,	pensando
mais	rápido	do	que	nunca.
–	Temos.
–	Se	você	der	sua	palavra	de	honra	para	alguém	que	te	emprega,	você	tem
que	manter,	né?
–	Tenho.	Piloto	pode	se	mexer	mais	rápido	que	isso.	Calce	logo	essas	botas.
Han	lentamente	colocou	o	pé	direito,	com	os	dedos	esticados,	e	começou	a
puxar	a	bota.
–	Bem,	meu	chapa,	suponha	que	você	deu	sua	palavra	de	honra	para	alguém
e	descobriu	que	tudo	que	ele	lhe	contou	era	uma	mentira	na	parte	dele	do
contrato.	O	que	isso	faz	com	seu	acordo?	Você	tem	que	manter	sua	palavra	para
alguém	que	mentiu	para	você	e	fez	você	de	idiota?
Muuurgh	espiou	Han	desconfiado,	mas	não	disse	nada.
–	Vamos	lá,	chapa,	o	que	seu	código	de	honra	diz	quanto	a	fazer	acordos	com
mentirosos,	hein?
Muuurgh	balançou	a	cabeçorra,	depois	suas	orelhas	se	achataram	de	raiva.
–	Se	um	Togoriano	der	palavra	de	honra	a	um	mentiroso,	contrato	é	inválido.
Não	há	honra	alguma	em	se	lidar	com	um	mentiroso.
–	Tudo	bem	–	disse	Han	com	uma	onda	de	satisfação.	Ele	pegou	a	bota
esquerda.	–	Me	escute	bem,	chapa.	Acho	que	Mrrov	está	aqui	em	Ylesia.	Acho
que	Teroenza	mentiu	para	você.
Muuurgh	encarou	Han,	depois	estreitou	os	olhos	azuis.
–	Você	mentiria	para	continuar	vivo,	Vykk.
–	É,	eu	mentiria,	chapa	–	admitiu	Han	com	honestidade.	–	Mas	eu	vou	jurar
pra	você	que	não	estou	mentindo	quanto	a	isso.
–	Jurar?	O	que	é	isso	de	“jurar”?
–	É	como...	como	uma	palavra	de	honra,	mais	ou	menos.	Meu	povo	jura
pelas	coisas	mais	importantes	no	universo	para	eles.	É	como	se	fosse...	sagrado,
acho	que	você	diria.
–	Então	pelo	que	Vykk	jura?
Han	pensou	por	um	momento.
–	Eu	juro	–	começou	ele,	lenta	e	claramente	–	pela	vida	de	Bria.	Você	sabe
como	ela	é...	muito	importante	para	mim,	não	sabe?
Muuurgh	considerou	por	um	momento,	depois	assentiu.
–	Tudo	bem,	então,	eu	juro	para	você,	pela	vida	de	Bria,	que	noite	passada
ela	me	contou	que	viu	um	Togoriano	aqui,	há	uns	seis	meses	ou	mais.	Isso	se
encaixaria	com	a	época	em	que	você	estava	procurando	Mrrov,	não	é?
Silenciosamente,	o	Togoriano	assentiu	de	novo.
–	Ela	viu	um	Togoriano,	Muuurgh.	Pense	bem.	Teroenza	e	seus	capangas
mentiram	para	você	quando	disseram	que	ela	nunca	veio	aqui.	Provavelmente
ainda	está	aqui,	em	Ylesia.	Provavelmente	não	em	Colônia	Um,	porque	seria
arriscado	demais.	Mas	há	uma	boa	chance	de	ela	estar	em	Colônia	Dois...	ou
mesmo	Três.	Mas	Colônia	Dois	já	está	lá	há	mais	tempo,	eles	têm	muito	mais
peregrinos	lá	do	que	em	Colônia	Três.	Então	eu	aposto	que	ela	tá	em	Dois.	Vale
a	pena	conferir,	né?
–	E	como	era	esse	Togoriano?	–	indagou	Muuurgh	lentamente.
Por	um	momento,	Han	se	sentiu	tentado	a	mentir,	dizer	que	não	sabia...
porque,	e	se	ele	estivesse	errado	quanto	a	esse	Togoriano	ser	Mrrov,	e	Muuurgh
ficasse	furioso	e	o	matasse	ali	mesmo,	naquele	instante?	Respirou	fundo.
–	Bria	disse	que	ela	era	branca	e	alguma	outra	cor.	Listrada.	Disse	que
poderiam	ser	listras	laranjas,	mas	que	estava	quase	de	noite,	então	não	tinha
certeza.
Eu	realmente	espero	que	Mrrov	não	seja	de	cor	sólida	ou	malhada!
Muuurgh	achatou	as	orelhas	e	sibilou	como	uma	válvula	furada,	dentes
expostos	com	ferocidade.	Han	olhou	em	volta	em	desespero,	em	busca	de	algo
para	bater	na	cabeça	do	Togoriano,	mas	não	havia	nada	ao	alcance.	Em	silêncio,
se	resignou	a	ser	rasgado	em	dois.
Então	o	sibilo	furioso	de	Muuurgh	se	transformou	num	uivo	doloroso	de
angústia.	O	grande	alienígena	caiu	no	chão,	segurando	a	cabeça	e	uivando	um
lamento	ululante.
–	Você	descreveu	ela!	–	grunhiu,	finalmente.	–	Por	todos	os	deuses	dos	meus
pais,	será	que	ela	estava	aqui	todos	esses	dias	enquanto	eu	acreditava	nesses
mentirosos?	Eu	vou	lá	agora	arrancar	suas	gargantas	e	comer	seus	corações!
–	Ufa	–	murmurou	Han	bem	baixo.	Que	bom	que	deu	certo!
Muuurgh	se	levantou	num	salto,	obviamente	pronto	para	cumprir	a	ameaça.
–	Espere!	–	Han	pulou	e	segurou	um	bração,	pendurado	nele	enquanto	era
arrastado	pelo	quarto,	pela	sala	de	estar,	quase	pela	porta.	Cravou	os	calcanhares
no	chão	e	se	recusou	a	soltar.	–	Muuurgh,	se	você	quiser	ela	de	volta,	pare!
Muuurgh	reduziu	o	passo,	depois	parou.
–	Ótimo	–	disse	Han,	ofegante.	–	Agora	vamos	conversar	sobre	isso	como
sencientes	racionais,	está	bem?	Sente-se.
Muuurgh	desabou	no	seu	catre.	Han	ligou	a	música,	depois	puxou	a	cadeira
surrada	para	tão	perto	do	Togoriano	que	os	dois	ficaram	quase	encostados.
–	Fale	baixo	–	sussurrou	ele,	e	Muuurgh	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	Eu	tenho	um	plano,	acho	que	sei	como	buscar	Mrrov,	se	ela	ainda	estiver
aqui	em	Ylesia.	–	Eu	só	espero	que	ela	não	tenha	sido	despachada	para	as
minas	de	especiarias,	pensou,	mas	não	disse	em	voz	alta.	Muuurgh	já	sabia	o
que	acontecia	aos	escravos	tão	bem	quanto	ele.
–	Certo,	Vykk	–	respondeu	Muuurgh,	em	voz	igualmente	baixa	–,	me	conte	o
plano.
Han	pensou	por	um	momento.
–	Vou	precisar	da	sua	ajuda	para	algumas	partes.	Tenho	que	fazeralguns
preparativos	e	vou	tentar	deixar	tudo	que	eu	puder	armado	antes	que	eu	parta.
–	Partir?	Vykk	vai	partir?
–	Vou,	mas	não	estou	falando	da	nossa	fuga	final.	Daqui	uns	dois	dias	eu
tenho	que	entregar	uma	mensagem	e	um	presente	de	Zavval	a	um	Hutt	chamado
Jiliac	em	Nal	Hutta.	Vou	ter	que	ficar	lá	e	esperar	por	uma	resposta.	Nunca	estive
em	Nal	Hutta	e	não	conheço	as	manhas	por	lá,	mas	Jalus	Nebl	conhece.
Muuurgh	fez	que	sim	com	a	cabeça	para	mostrar	que	estava	prestando
atenção	e	começou	a	limpar	os	bigodes	brancos,	nervoso.
–	Então,	tudo	bem.	A	Sonho	é	pequena	demais	para	três.	Vou	comentar	isso
com	Teroenza	e	dizer	a	ele	que	Nebl	quer	voltar	a	voar	como	meu	copiloto.
Tenho	certeza	de	que	ele	vai	concordar	em	deixar	eu	e	Nebl	irmos	nessa	missão
juntos.	Vou	sugerir	que	você	fique	aqui,	porque	não	vai	ter	lugar	pra	você.
Han	se	levantou	e	começou	a	andar	de	um	lado	ao	outro.
–	Os	sacerdotes	sabem	que	você	gosta	de	caçar,	né?	Então,	quando	eu
receber	permissão	para	levar	Nebl	comigo,	você	deve	pedir	para	passar	uns	dois
dias	caçando.	Você	consegue	correr	bem	rápido	em	terreno	irregular,	né?
–	Muito	rápido	–	concordou	o	Togoriano.	–	Rápido	o	bastante	para	rastrear	e
matar	presas.
–	Você	acha	que	consegue	chegar	a	pé	em	Colônia	Dois?
–	Sim.	–	Muuurgh	parecia	ter	certeza.
–	Bem,	é	a	nossa	melhor	chance.	Se	Mrrov	ainda	estiver	aqui	em	Ylesia,	há
mais	de	50%	de	chance	de	que	esteja	em	Colônia	Dois.	Você	deveria	ir	lá	e	dar
uma	olhada,	descobrir	se	ela	está	lá	mesmo.
–	E	resgatar	ela!	–	Muuurgh	se	levantou	num	salto.
–	Não!	–	retrucou	Han.	–	Fique	sentado	.	Essa	seria	a	pior	coisa	que	você
poderia	fazer.	Eles	iniciariam	uma	busca	planetária	por	vocês	dois.	Usariam
sensores	sintonizados	em	sinais	togorianos	para	encontrar	vocês.	Então	vocês
seriam	capturados	e	provavelmente	mortos.	Ou	mandados	para	as	minas	de
Kessel,	o	que	dá	no	mesmo.
–	Você	quer	que	Muuurgh	veja	Mrrov	e	não	deixe	que	ela	veja	ele?
–	Exatamente.	É	só	você	encontrar	ela,	descobrir	onde	ela	dorme,	come,
essas	coisas.	Então,	quando	chegar	a	hora	da	nossa	fuga,	eu	e	você	damos	um
pulo	em	Colônia	Dois	e	tiramos	ela	de	lá.	Eu	andei	fazendo	reconhecimento
noturno	por	estas	bandas,	no	caso	de	você	não	ter	notado.
–	Muuurgh	notou	–	respondeu	o	Togoriano	secamente.	–	Todo	lugar	que
Vykk	ia,	Muuurgh	estava	atrás	dele,	vigiando.	Como	você	acha	que	eu	sabia	que
tinha	que	ouvir	quando	você	levou	Bria	de	volta	para	dormitório?
–	Bem,	de	qualquer	maneira,	eu	descobri	como	criar	uma	distração	que	vai
manter	os	guardas	ocupados	enquanto	a	gente	pega	as	melhores	coisas	da
coleção.	E	eu	sei	onde	o	centro	de	comunicações	fica.	Eu	vou	me	assegurar	de
que	a	conexão	entre	as	colônias	esteja	rompida	na	hora	da	gente	cair	fora.	Então
a	gente	dá	um	pulo	em	Colônia	Dois	e,	antes	que	eles	saibam	o	que	está
acontecendo,	a	gente	agarra	Mrrov	e	dá	no	pé	deste	planeta.	Aí	eu	levo	vocês
dois	de	volta	a	Togoria,	tudo	bem?
Muuurgh	olhou	para	Han,	estreitando	os	olhos	azuis	enquanto	os	bigodes
estremeciam	de	emoção.
–	Você	faria	isso	por	Muuurgh	e	Mrrov?
–	Sim.	Eu	juro.	Se	você	ajudar	Bria	e	eu	a	invadir	e	roubar	as	coisas	de
Teroenza,	eu	juro	para	você	que	não	vamos	sair	daqui	sem	Mrrov.
O	Togoriano	grandalhão	pensou	nisso	por	um	longo	tempo,	depois	olhou	nos
olhos	de	Han.
–	Eu	vou	ajudar.	Palavra	de	honra.
Han	assentiu	com	a	cabeça.
–	Negócio	fechado,	meu	chapa.
Naquela	mesma	noite,	Han	foi	até	a	sala	de	tesouro	de	Teroenza	se	encontrar
com	Bria.	Estava	se	perguntando	se	ela	iria	à	cerimônia	agora	que	sabia	que	era
falsa.	Parado	do	lado	de	fora,	Han	bateu	na	pesada	porta	revestida	de	metal.
–	Sou	eu	–	disse	ele	em	resposta	à	voz	dela	do	lado	de	dentro.
A	porta	se	abriu,	e	Bria	saiu.	Han	arregalou	os	olhos.
–	Ei!	Você	está	linda	!
Pela	primeira	vez	desde	que	Han	a	conhecera,	Bria	dispensou	os	robes	beges
e	o	chapéu.	Em	vez	deles,	ela	vestia	uma	túnica	azul-clara	simples	e	calças.
Mesmo	não	sendo	reveladoras,	as	roupas	evidenciavam	uma	silhueta	esguia,	mas
definitivamente	feminina.
–	O	Exaltado	Teroenza	me	disse	que	eu	poderia	dispensar	meus	robes	de
peregrina	quando	estivesse	trabalhando	com	a	coleção	–	explicou	ela.	Quando
notou	a	ternura	nos	olhos	do	piloto,	Bria	corou	um	pouco,	mas	sorriu.	–	Ele
temia	que	eu	esbarrasse	com	o	robe	em	algum	artefato	precioso	e	o	derrubasse
da	estante.
–	Bem,	eu	aprovo	–	comentou	Han.	–	Topa	tomar	uma	xícara	de	chá?
–	Claro.
Quando	os	dois	estavam	sentados	no	refeitório	administrativo,	com	xícaras
de	estim-chá	diante	de	si,	Bria	sorriu	timidamente	para	Han.
–	Então...	você	realmente	gosta	da	minha	aparência?
–	Pode	crer.	Você	é	a	garota	mais	bonita	deste	planeta,	sem	brincadeira.
Bria	sorriu,	só	que	o	sorriso	se	desfez	e	ela	pareceu	preocupada.
–	Parece	que	você	não	é	o	único	a	pensar	assim,	Vykk...
–	Como	assim?
–	Tive	a	experiência	mais	estranha	com	Ganar	Tos,	o	mordomo	de	Teroenza,
hoje	de	manhã.	Ele	aparentemente	nunca	tinha	visto	além	dos	robes	de
peregrina,	só	que,	quando	eu	vesti	estas	roupas,	ele	me	notou	pra	valer.	Ficou	me
seguindo	por	uma	hora	enquanto	eu	tentava	reorganizar	algumas	peças,	puxando
conversa,	ou	pelo	menos	tentando.	Aqueles	olhos	vermelhos-alaranjados	dele	me
dão	arrepios.	Ele	é	velho,	mas	é	óbvio	que	ainda	tem...	hum...	vida	de	sobra
dentro	de	si,	se	você	me	entende.	Vida	masculina.
Han	se	recostou.
–	Você	quer	dizer	que	o	velho	safado	estava	dando	em	cima	de	você?
Bria	teve	um	calafrio.
–	Temo	que	sim.	Ele	queria	saber	qual	era	a	minha	idade,	se	eu	já	fui	casada,
se	já	tive	filhos.	Perguntou	por	que	acabei	vindo	parar	em	Ylesia	para	ser
peregrina.	Perguntas	muito	pessoais!	Ele	foi	muito	intrometido.
Han	se	inclinou	para	a	frente.
–	Então,	por	que	você	veio	para	cá,	afinal?	Ou	você	acha	que	isso	é	pessoal
demais	para	me	contar,	também?
Ela	sorriu	languidamente.
–	Claro	que	não,	Vykk.	Por	que	eu	vim	parar	aqui?	Parece	que	foi	há	tanto
tempo	que	é	difícil	de	lembrar.	Eu	estava	passando	por	um	momento	ruim.	Tinha
acabado	o	ensino	médio	e	tinha	um	pouco	de	medo	de	ir	para	a	universidade.
Nunca	ficara	sozinha	antes.	Mamãe	sempre	me	manteve	em	rédea	curta	e	me
deixava	com	a	impressão	de	que	eu	não	era	capaz	de	fazer	nada	direito.	Que	eu
fosse	muito	estudiosa	e	muito	comportada	não	era	suficiente	para	ela.	–	Bria
sorriu	um	sorriso	nada	simpático.	–	Papai	me	encorajou	a	seguir	uma	carreira,
mas	mamãe	só	conseguia	pensar	em	me	arranjar	“um	marido	fantástico”.	Achou
que	seus	sonhos	se	realizaram	quando	comecei	a	namorar	Dael.
Han	sentiu	uma	pontada	de	ciúmes,	mas	lembrou	a	si	mesmo	que	houve
algumas	garotas	no	seu	passado.	Mais	do	que	algumas,	na	verdade...
–	Estávamos	prestes	a	noivar	quando	eu	o	peguei	no	flagra	com	outra	garota.
Então	terminei	tudo.	Mamãe	ficou	furiosa	comigo	por	acabar	com	Dael.	Ele	era
de	uma	das	famílias	mais	ricas	de	Corellia,	e	ela	já	tinha	começado	a	planejar	o
casamento.	–	Bria	suspirou.	–	Ela	me	mandou	procurar	Dael	e	pedir	desculpas,
fazer	ele	me	aceitar	de	volta.	Pela	primeira	vez	na	minha	vida,	eu	lhe	disse
“não”.
–	Sua	mãe	parece	uma	mulher	muito...	determinada	–	comentou	Han
cautelosamente.
–	Determinada	não	é	palavra.	Mamãe	tinha	me	empurrado	para	cima	de	Dael
desde	que	éramos	colegas	de	escola,	e	eu	nunca	tive	coragem	de	dizer	a	ela	que
eu	nem	gostava	muito	dele.	É	engraçado	–	seus	olhos	azuis	esverdeados	ficaram
úmidos	–,	eu	não	queria	muito	Dael,	mas	quando	eu	soube	que	ele	andava
ficando	com	outra	mulher	pelas	minhas	costas,	me	senti	traída	e	com	o	coração
partido.	As	pessoas	são	estranhas,	não	são?
Han	concordou	com	a	cabeça.
–	Continue	–	encorajou.
–	Bem,	foi	por	volta	dessa	época	que	eu	ouvi	que	um	missionário	Ylesiano
estava	promovendo	reuniões.	Eu	estava	me	sentindo	muito	mal	comigo	mesma,
porque	sabia	que	simplesmente	não	conseguia	fazer	nada	direito.	Isolada,	sabe?
Separada	de	todo	mundo.	Então	eu	fui	à	reunião.	O	sacerdote	Ylesiano	encerrou
o	serviço	com	alguns	poucos	segundos	de	Exultação...	e	aquilo	me	fez	me	sentir
tão	bem	.	Como	se	o	meu	lugar	fosse	com	aquelas	pessoas.	Então	eu	vendi
minhas	joias,	fugi	de	casa	e	peguei	apróxima	nave	para	Ylesia.
Ela	sorriu	melancólica.
–	Então	essa	é	minha	história.	Voltando	ao	assunto	em	questão,	o	que	você
acha	que	eu	deveria	fazer	para	manter	o	pobre	e	velho	Ganar	Tos	à	distância?
–	Bem,	se	ele	te	incomodar	muito,	fale	com	Teroenza.	Tenho	certeza	que	ele
não	quer	que	nada	interfira	com	o	seu	trabalho	e,	se	Ganar	Tos	estiver
atrapalhando,	então	ele	vai	acabar	com	isso.
–	Certo	–	concordou	Bria,	se	animando.	–	É	uma	boa	ideia.
–	Você	vai	à	cerimônia?	–	perguntou	Han,	olhando	Bria	com	seriedade.
Ela	balançou	a	cabeça.
–	Não.	Não	quero	ir.
–	Eles	não	vão	notar	que	você	não	foi?
–	Eu	sempre	posso	dizer	que	fiquei	com	dor	de	cabeça	ou	que	fiquei
trabalhando	até	tarde.	A	maioria	dos	peregrinos	mal	pode	esperar	para	ir,	então
eles	não	controlam	quem	vai.
–	Verdade.	Que	tal	uma	caminhada,	então?
–	Vamos.
Uma	vez	do	lado	de	fora,	Han	esperou	até	chegar	às	Planícies	Floridas	para
tocar	no	assunto	que	tinha	em	mente.	Resumiu	rapidamente	a	interação	daquela
manhã	com	Muuurgh.	Bria	ficou	alarmada	ao	descobrir	que	o	Togoriano	tinha
escutado	a	conversa	da	noite	anterior	e	comentou	isso	com	Han.
–	É,	eu	também	fiquei	preocupado	–	respondeu	Han.	–	O	grandalhão	sabe	ser
silencioso	de	verdade	quando	quer.	Não	é	de	se	espantar	que	ele	diga	que	é	o
melhor	caçador	do	planeta.	Aparentemente,	me	seguiu	todas	as	vezes	que	eu	saí
para	fazer	reconhecimento	do	terreno	e	descobrir	a	melhor	maneira	de	escapar
daqui.
–	É	melhor	nós	tomarmos	cuidado	com	a	nossa	localização	quando
discutirmos	os	planos	de	fuga	–	comentou	ela,	olhando	em	volta	nervosamente.
–	Por	que	você	acha	que	eu	trouxe	a	gente	até	aqui	antes	mesmo	de	tocar	no
assunto?	As	árvores	aqui	têm	ouvidos.	A	gente	tem	que	ser	muito	cuidadoso.
Noite	passada	foi	só	Muuurgh,	então	está	tudo	bem,	mas	podia	ter	sido	qualquer
um	dos	camaleões	que	eles	usam	de	guarda	lá	na	fábrica	de	brilhestim.
Bria	estremeceu	com	a	ideia.
–	Então,	o	que	você	tinha	para	me	contar?
–	Muuurgh	vai	pedir	para	sair	numa	viagem	de	caça	enquanto	Jalus	Nebl	e
eu	vamos	na	missão	para	Nal	Hutta.	Estamos	com	tudo	armado.	Teroenza
aprovou	meu	pedido	para	levar	Nebl	comigo	hoje.	Nal	Hutta	fica	a	dois	sistemas
de	distância,	e	vamos	levar	quatro,	talvez	cinco	dias.	Prometi	a	Muuurgh	que	ele
teria	esse	tempo	para	descobrir	se	Mrrov	ainda	está	aqui	e	que,	se	ela	estiver,	a
gente	vai	levar	ela	junto.
–	Isso	seria	bom	–	concordou	Bria.	–	Odiei	a	ideia	de	deixar	Muuurgh	para
trás.	Se	Teroenza	ficar	furioso	o	bastante,	ele	provavelmente	o	mataria	por	nos
deixar	escapar,	quer	fosse	culpa	dele	ou	não.
–	Verdade.	–	Han	suspirou.	–	Eu	só	queria	descobrir	um	jeito	de	invadir	os
aposentos	de	Teroenza	e	vasculhar	o	lugar	até	achar	onde	ele	guarda	os	códigos
de	acesso	das	naves	e	os	códigos	de	segurança	da	coleção.	Até	agora,	estou
empacado.	Sei	como	manter	os	guardas	ocupados,	só	que,	se	eu	não	conseguir	os
códigos,	talvez	tenha	que	mudar	os	planos.	Quem	sabe	tacar	fogo	no	Centro	de
Hospitalidade	ou	coisa	assim.
–	Códigos	de	segurança?	–	Bria	franziu	o	cenho	e	fechou	os	olhos.	–	Códigos
de	segurança...	–	Ela	respirou	fundo	e	começou	a	recitar	uma	sequência	de
números,	símbolos	e	letras.
–	Parece	que	é	isso	mesmo!	–	Han	segurou	o	braço	de	Bria,	empolgado.	–	E
como	você	descobriu?
Bria	abriu	um	sorriso	trêmulo.
–	Estavam	na	mente	de	Teroenza.	Temo	que	estejam	gravados	na	minha,
junto	com	tudo	mais.	Eu	queria	poder	esquecer	os	códigos	e	todas	as	outras
coisas,	só	que	não	consigo.
Han	segurou	os	ombros	dela	e	lhe	deu	uma	chacoalhada	animada.
–	Bem,	não	deseje	isso	até	que	a	gente	esteja	fora	deste	buraco	imundo.	Bria,
querida,	isto	é	ótimo!	Você	me	poupou	um	trabalhão.
Ela	deu	outro	sorriso	incerto.
–	Paguei	um	preço	horrível	por	isso	mas,	se	nos	ajudar...	acho	que	valeu	a
pena.
–	Vai	valer	–	prometeu	Han.	–	Confie	em	mim.	Eu	juro	que	vai	valer.
Ela	assentiu	com	a	cabeça.
–	Então	a	gente	só	precisa	evitar	criar	suspeitas	até	que	estejamos	prontos
para	dar	no	pé.	Vai	ser	fácil	para	mim;	Nebl	e	eu	estaremos	em	Nal	Hutta.	Você
acha	que	consegue	manter	tudo	na	normalidade	por	aqui	até	eu	voltar?
–	Acho	que	sim.	Mas...	não	demore!
–	Não	vou	demorar,	querida.
Bria	lhe	lançou	um	olhar	suplicante.
–	Depois	que	nós	estivermos	livres,	poderíamos	ir	a	Corellia,	Vykk?	Quero
ver	minha	família	de	novo.	Quero	que	eles	saibam	que	eu	estou	bem.
Han	lhe	deu	um	sorriso	tranquilizador.
–	Claro,	meu	bem.	Eu	tenho	alguns	assuntos	a	resolver	em	Corellia,	então
essa	vai	ser	uma	das	nossas	primeiras	paradas,	tudo	bem?
Bria	abriu	um	sorriso	radiante	em	resposta.
–	Tudo	bem.
Quando	Vykk	a	deixou	à	entrada	do	dormitório,	Bria	disse	a	si	mesma	que	só
ia	dar	um	pulo	no	andar	de	cima	e	tirar	um	cochilo	até	que	fosse	hora	do	jantar.
Se	alguém	perguntasse,	ela	alegaria	uma	dor	de	cabeça	como	desculpa	para
perder	a	cerimônia.
Porém,	quando	chegou	ao	quarto,	Bria	pegou	o	robe	e	o	chapéu	e	ficou
parada,	segurando-os.	Amanhã,	pensou	ela.	Vou	começar	amanhã.	Afinal,	tive
dois	dias	difíceis.	Ninguém	poderia	esperar	que	eu	perdesse	a	Exultação	assim.
Vou	precisar	de	um	dia	para	me	preparar...
E,	antes	que	soubesse	o	que	estava	fazendo,	Bria	se	pegou	de	volta	nos	trajes
de	peregrina,	avançando	apressada	pela	Trilha	da	Imortalidade,	em	direção	ao
Altar	das	Promessas...
Dois	dias	depois,	um	Han	nervoso	e	um	Jalus	Nebl	plácido	esperavam	do
lado	de	fora	do	salão	de	audiências	de	Jiliac,	o	Hutt,	no	seu	Palácio	de	Inverno.
Um	pequeno	dispositivo	de	hologravação	jazia	aos	pés	de	Han;	tinha	sido	criado
para	projetar	um	simulacro	audiovisual	do	remetente.	Nebl	endireitava	uma
grande	e	elaborada	caixa	sobre	um	suporte	antigrav.	A	caixa	continha	o	presente
que	Zavval,	o	Hutt,	tinha	mandado	para	seu	parceiro	de	negócios,	e
ocasionalmente	rival,	Jiliac.
–	Quanto	tempo	será	que	a	gente	vai	ter	que	esperar?	–	resmungou	Han,
nervoso,	dando	alguns	passos.	–	Já	faz	quase	uma	hora.
–	Para	uma	audiência	com	um	líder	de	clã,	isso	não	é	nada	–	respondeu	Jalus
Nebl.	–	Uma	vez	eu	esperei	dois	dias	só	para	alcançar	a	antecâmara.	E,	não	se
esqueça,	nós	temos	que	aguardar	uma	resposta.	Uma	vez	eu	esperei	uma	semana.
–	Não	me	fala	uma	coisa	dessas	–	reclamou	Han.	–	Não	quero	escutar	sobre
tudo	o	que	pode	dar	errado.	Ainda	acho	difícil	de	acreditar	que	a	gente	vai	sair
vivo	deste	lugar.	Hutts	são	famosos	pelo	mau	humor,	sabe.
–	Eu	já	disse,	estamos	perfeitamente	seguros	–	insistiu	o	Sullustano.
–	Perdoe-me	pela	minha	burrice,	mas	como	você	pode	ter	tanta	certeza
disso?	–	retrucou	Han.
–	Há	muito	tempo,	nos	primeiros	dias	após	a	chegada	deles	a	Nal	Hutta,	os
Hutts	perderam	tantos	mensageiros	que	a	comunicação	entre	os	clãs	foi
completamente	rompida,	e	todo	mundo	perdeu	lucros	com	isso	–	explicou	Nebl.
–	Então	todos	os	clãs	fizeram	um	pacto:	um	mensageiro	de	um	Hutt	a	outro	é
sacrossanto.	Enquanto	estivermos	entregando	a	mensagem	de	Zavval	e	levando
sua	resposta,	não	podem	nos	tocar	ou	atrapalhar	de	forma	alguma.
–	É,	espero	que	você	esteja	certo	–	resmungou	Han.	Deu	uma	olhada	na
grande	caixa.	–	Então	por	que	ele	está	mandando	um	presente?
Nebl	balançou	a	cabeça.
–	Presentes	são	tradicionais.	Para	ganhar	a	atenção	de	um	Hutt,	você	precisa
apresentar-lhe	um	presente	ou	uma	ameaça.	Às	vezes,	os	Hutts	fazem	as	duas
coisas	ao	mesmo	tempo.
Han	fez	uma	careta.
–	Esquisito.	Você	não	faz	ideia	mesmo	do	que	tem	aí	dentro?	Essa	caixa	é
grande	o	bastante	para	conter	praticamente	qualquer	coisa.	Até	um	cadáver,	se
você	dobrasse	todo.	Eu	me	sentiria	melhor	se	eu	soubesse.
–	A	caixa	está	selada	–	observou	Nebl.	–	Se	nós	a	abríssemos,	sua	excelência
Jiliac	saberia.	Não	queremos	criar	problemas.
–	É...	eu	sei.	–	Han	fez	outra	careta	e,	para	se	distrair	das	preocupações,	deu
uma	olhada	em	volta.
A	antecâmara	tinha	teto	alto,	com	claraboias.	Era	construída	com	pedra	de
cor	clara,	e	as	paredes	pálidas	estavam	revestidas	com	tapeçarias	que	tinham
sido	tecidas	(pelo	que	se	dizia)	pelos	inimigos	de	Jiliac	enquanto	eles
definhavam	na	masmorra	dele,	esperando	pela	misericórdia	da	execução.	Uma
delas	ilustrava	o	planeta	natal	original	dos	Hutts,o	desolado	e	infértil	mundo	de
Varl.	Outra	mostrava	o	grande	cataclismo	que	o	destruíra	há	muito,	muito	tempo.
Ainda	outra	tapeçaria	exibia	a	grande	diáspora	dos	Hutts	para	Nal	Hutta,	no
sistema	Y’Toub.	Han	sabia	que	Nal	Hutta	significava	“joia	gloriosa”	em	huttês.
A	última	tapeçaria	era	um	retrato	em	tamanho	real	do	próprio	Jiliac,
reclinando-se	em	seu	pódio	extravagante,	mas	de	bom	gosto.
Han	não	tinha	visto	muita	coisa	de	Nal	Hutta,	já	que	ele	e	Nebl	tinham	sido
enfiados	num	landspeeder	com	droide	chofer	e	levados	para	o	sul,	para	o	remoto
Palácio	de	Inverno	de	Jiliac.	O	retiro	do	poderoso	Hutt	ficava	numa	pequena	ilha
próxima	ao	equador.	Jalus	Nebl	informou	Han	que	ele	era	sortudo	–	que	essa	ilha
era,	em	comparação	ao	resto	de	Nal	Hutta,	um	verdadeiro	“jardim”	naquele
mundo	úmido	e	nauseante.
A	ilha	o	lembrava	de	Ylesia	–	quente,	úmida	e	cheia	de	árvores	gigantes
coalhadas	de	cipós	imensos.
A	atenção	de	Han	se	voltou	ao	aqui	e	agora	quando	percebeu	que	Dorzo,	o
mordomo	Rodiano	de	Jiliac,	os	estava	chamando.
–	Sua	suprema	excelência	Jiliac,	líder	de	clã	e	protetor	dos	justos,	os	verá
agora.
Han	catou	o	gravador	apressadamente,	e	em	seguida	ele	e	Nebl	entraram	na
câmara	de	audiências.
Era	imensa.	Han	caminhou	pela	nave	central	em	direção	ao	pódio,	sentindo	a
textura	luxuriante	de	um	carpete	caríssimo	sob	suas	botas.	A	câmara	estava
lotada	de	puxa-sacos	obsequiosos	de	todas	as	espécies,	dançarinas	e	dançarinos
trajados	com	muito	bom	gosto	e	uma	orquestra	num	canto.	Uma	enorme	mesa	de
bufê	coberta	com	a	comida	de	uma	dúzia	de	mundos	fez	as	narinas	de	Han	se
agitarem	quando	ele	se	lembrou	subitamente	de	que	não	tinha	almoçado.
Jiliac	se	reclinava	num	pódio	de	audiências,	fumando	alguma	coisa	que	Han
não	conseguia	identificar	e	que	jamais	gostaria	de	provar.	Até	mesmo	o	leve
sopro	de	fumaça	que	ele	recebeu	fez	sua	cabeça	girar.
Jalus	Nebl	deu	uma	cutucada	em	Han,	que	deu	um	passo	à	frente,	nervoso.
–	Todo	poderoso	Jiliac	–	disse	ele	em	huttês,	relembrando	o	discurso	que
Zavval	tinha	ensaiado	com	ele.	–	Viemos	em	nome	de	nosso	mestre	Ylesiano,
Zavval,	o	Hutt,	para	lhe	trazer	uma	mensagem	e	um	presente.	Primeiro,	o
presente...	–	Fez	um	gesto	para	Nebl,	e	o	Sullustano	se	adiantou,	conforme
combinado.
Jiliac	contemplou	os	dois,	depois	ordenou,	em	huttês:
–	Abra.	Quero	ver	o	que	Zavval	considera	digno	de	mim.
–	Sim,	Vossa	Excelência	–	guinchou	o	Sullustano,	que	tratou	de	cortar	todos
os	selos	e	desfazer	todas	as	travas.
Han	observou	fascinado	enquanto	o	Sullustano	erguia	a	tampa	e	puxava	dois
globos	cristalinos	com	suportes	de	bronze,	que	ele	equilibrou	um	sobre	o	outro,	e
depois	colocou	a	geringonça	toda	sobre	uma	sólida	base	curva	de	bronze.
Todo	o	metal	era	entalhado	com	desenhos	em	ouro	e	prata.	Havia	um
pequeno	compartimento	na	parte	inferior	do	globo	traseiro	que	continha	algum
tipo	de	bateria,	pensou	Han.	O	corelliano	fitou	a	coisa,	perplexo.	Não	fazia	ideia
do	que	era.
Jiliac,	por	outro	lado,	fazia.
–	Um	combo	de	narguilé	com	lancheiraquário!	–	ribombou,	falando,
obviamente,	em	huttês,	que,	àquela	altura,	Han	entendia	muito	bem.	–	E	quase	à
altura	da	nossa	grandeza!	Era	bem	o	que	eu	queria!	Como	é	que	ele	soube?	–
Voltou	sua	atenção	aos	mensageiros	de	novo	e	continuou,	mais	formalmente.	–
Mensageiros,	o	presente	de	Zavval	me	agrada.	Vamos	torcer	para	que	a
mensagem	também	o	faça.	Ative-a,	humano.
Han	se	curvou	profundamente,	pôs	o	gravador	numa	mesa	baixa	e	o	ligou.
No	instante	seguinte,	um	holossimulacro	de	Zavval	surgiu,	ocupando	o	espaço
diante	da	plataforma	de	Jiliac.
–	Meu	caro	Jiliac	–	dizia	Zavval,	estendendo	uma	das	mãos	para	Jiliac,	como
se	ele	realmente	pudesse	ver	o	outro	e	estivesse	presente	de	verdade.	–	Ao	longo
do	último	ano,	algumas	ocorrências	infelizes	assolaram	nossas	operações	de
transporte	de	cargas	ylesianas.	Naves	desapareceram,	e	uma	delas	foi	atacada.
Como	um	dos	líderes	do	nosso	Kajidier,	era	meu	dever	investigar	essas	incursões
tão	desprezíveis.
A	expressão	de	satisfação	de	Jiliac	tinha	desaparecido.	Han	lançou	um	olhar
nervoso	ao	Sullustano.	Eu	realmente	espero	que	ele	tenha	razão	quanto	à	nossa
segurança!
–	Nós	rastreamos	esses	supostos	“piratas”	a	Nar	Shaddaa,	e	recentemente	os
meus	agentes	capturaram	e	interrogaram	um	dos	capitães	dessas	naves.	O	infeliz
indivíduo	revelou,	antes	de	sucumbir	a	um	coração	fraco,	que	foi	recrutado	e
enviado	nessas	missões	ignóbeis	por	você	e	seu	sobrinho-neto,	Jabba.	Sua
inimizade	nos	magoa	profundamente	e,	acima	de	tudo,	reduz	nossa	margem	de
lucro.	Esteja	advertido,	Jiliac.	Deixe	nossas	remessas	em	paz.	Quaisquer	outros
ataques	produzirão	represálias	velozes	contra	você	e	seu	clã.	Reunimos	uma
grande	frota,	que	certamente	aniquilará	suas	míseras	forças.
Reunimos?	pensou	Han	angustiado.	Somos	só	eu	e	Nebl!	Zavval	está
blefando.	Ou	será	que	ele	contratou	mais	pilotos	recentemente?
A	mensagem	de	Zavval	continuou,	inexorável.
–	Aceite	nosso	presente	como	uma	oferenda	de	paz	ou	aguarde	as
consequências	severas,	dentre	as	quais	sua	morte	será	uma	das	mais	leves.	Jiliac,
apelo	a	você,	em	nome	da	irmandade	Hutt,	que	pare	de	sequestrar	e	aterrorizar
nossas	naves.	Podemos	lucrar	muito	mais	se	trabalharmos	juntos	em	vez	de
enfrentarmos	uns	aos	outros.
A	essa	altura,	Han	e	o	Sullustano	recuavam	aterrorizados,	pois	Jiliac	inchava
como	uma	ferida	envenenada.
–	Atenda	à	minha	advertência,	Jiliac.	Cesse	seus...
–	AiiiiiieeeeeeaaaaaaarrrrrrrRRGGGGGGGGGGHHHHHHHHHHHHH!!!
O	grito	de	fúria	de	Jiliac	fez	Han	e	Nebl	saltarem	para	trás	da	mesa	de	bufê.
A	cauda	do	lorde	Hutt	chicoteou	num	largo	arco	para	atingir	o	dispositivo	de
gravação,	que	foi	atirado	longe.	A	imagem	de	Zavval	desapareceu.
Jiliac	deslizou	adiante.	Han	assistiu	em	fascinação	horrorizada.	Era	a
primeira	vez	que	via	um	lorde	Hutt	se	mover	por	conta	própria.
–	Mensageiros!	–	gritou	Jiliac.	–	Adiantem-se!
Devagar	e	com	relutância,	Han	e	Nebl	contornaram	a	mesa	engatinhando	e
se	levantaram	tremulamente.
–	Pois	não,	todo-poderoso	Jiliac?	–	indagou	Nebl.	Han	não	conseguia	falar.
–	Mando	vocês	de	volta	àquela	infestação	parasítica	de	vermes	que	se	chama
de	Zavval	–	bradou	Jiliac,	com	a	cauda	chicoteando	enquanto	ele	andava	de	um
lado	ao	outro.	–	Digam-lhe	que	caluniou	a	mim	e	meu	sobrinho,	Jabba.	Digam-
lhe	que	sua	tentativa	apalermada	de	me	provocar	a	um	ataque	precipitado
fracassou	completamente.	Eu	vou	aguardar	o	momento	propício.	Ele	é	um	Hutt
morto,	mas,	por	enquanto,	concederei	a	graça	de	permitir	que	finja	estar	dentre
os	vivos.	Somente	eu	decidirei	quando	ele	morrerá,	e	será	de	acordo	com	a
minha	conveniência.	Vocês	entendem,	mensageiros?
–	Entendemos,	ó	todo-poderoso!	–	declarou	Han,	depois	de	recuperar	a	voz.
Era	óbvio	que	Jiliac	os	estava	dispensando,	e	Han	não	queria	nada	mais	que	sair
daquele	planeta.	Curvou-se,	e	curvou-se	de	novo.	–	Eu	direi	a	ele	exatamente	o
que	o	senhor	disse!
–	Ótimo!	Vocês	podem	ir.	Levem	minha	mensagem	a	Zavval,
imediatamente!
Curvando-se,	Han	e	Nebl	saíram	do	salão	de	audiências	de	costas.	Uma	vez
do	lado	de	fora,	saltaram	apressadamente	no	transporte	e	mandaram	o	droide-
motorista	voltar	ao	espaçoporto	o	mais	rápido	possível.
Han	nunca	ficara	tão	feliz	em	ver	a	Sonho	Ylesiano	esperando	por	ele.	O
corelliano	e	Jalus	Nebl	correram	pelo	campo	de	pouso,	subiram	pela	rampa	e	se
jogaram	na	cabine	de	controle.
Foi	só	quando	eles	estavam	no	espaço	e	Han	puxou	a	alavanca	que	os	lançou
ao	hiperespaço	que	conseguiu	recuperar	o	senso	de	humor	em	quantidade
suficiente	para	abrir	um	sorriso	para	o	Sullustano.
–	Bem,	Nebl,	não	podia	ter	ido	melhor,	hein?
O	Sullustano	revirou	os	imensos	olhos	úmidos.
–	Você	ainda	não	entendeu,	Vykk.	Quando	se	está	lidando	com	Hutts,	há
engrenagens	dentro	de	engrenagens	dentro	de	engrenagens.	É	completamente
possível	que	Zavval	tenha	mandado	a	mensagem	porque	nós	estamos
vulneráveis,	para	evitar	que	Jiliac	ataque	mais	abertamente.	Nós	somos	meros
lacaios.	Vemos	só	uma	parte	do	quadro	geral.	Podemos	apenas	rezar	para	nossos
deuses	para	jamais	enfurecer	um	Hutt.	Seria	melhor	estar	morto,	e	issonão	é	um
eufemismo.
Han	concordou	com	a	cabeça.
–	Eu	acredito.	Ainda	assim,	se	eu	fosse	Zavval,	não	dormiria	muito	bem	à
noite.	Ele	pode	não	ter	muito	tempo	de	vida.
Muuurgh	deslizou	pela	selva	na	penumbra	do	curto	crepúsculo	ylesiano.
Tinha	levado	um	dia	e	meio	para	percorrer	os	147	quilômetros	até	Colônia	Dois.
Parte	da	lentidão	tinha	sido	causada	pela	perigosa	travessia	do	rio	Gachoogai.
Ficou	tão	cansado	depois	de	lutar	contra	a	poderosa	correnteza	que	teve	que	tirar
duas	horas	da	jornada	para	caçar,	e	mais	uma	para	dormir.	Ainda	estava	exausto
com	a	provação,	mas	finalmente	tinha	chegado.
Prestou	atenção	nos	sons	de	cânticos	enquanto	contornava	o	perímetro	do
complexo.	Até	onde	ele	sabia,	Colônia	Dois	seguia	a	mesma	programação	que
Colônia	Um,	então	os	peregrinos	deveriam	estar	na	cerimônia	vespertina.
Suas	narinas	se	abriram	no	que	ele	testava	o	vento,	farejando	constantemente
em	busca	de	rastros	togorianos.	Várias	vezes,	Muuurgh	ficou	de	quatro	e
avançou,	farejando,	aspirando	os	odores	deixados	pelos	peregrinos	que	tinham
passado	por	ali	recentemente.
Cinco	minutos	depois,	levou	um	baque	como	se	tivesse	sido	atingido	com
um	aguilhão	atordoante.	Mrrov!	Mrrov	passou	por	aqui,	não	mais	que	um	dia
atrás!	Movendo-se	cautelosamente	ao	redor	dos	prédios,	ele	primeiro	localizou	o
dormitório	onde	ela	dormia,	depois	a	fábrica	onde	ela	trabalhava.
Por	fim,	seguiu	a	trilha	de	cheiro	mais	recente	por	um	caminho	que
certamente	levaria	ao	Altar	das	Promessas.	Pelo	jeito,	Colônia	Dois	era
organizada	com	uma	planta	idêntica	a	Colônia	Um.
Sem	verificar	mais	adiante,	o	Togoriano	desapareceu	de	volta	na	selva	e	foi	o
mais	rápido	possível	até	o	local	de	cerimônias.	Por	um	momento,	perguntou-se
se	Mrrov	farejaria	o	rastro	dele	,	mas	era	pouco	provável.	Ele	tinha	se
encharcado	por	completo	naquele	rio	e	tinha	evitado	instintivamente	esbarrar	em
qualquer	coisa	e	deixar	marcas	de	cheiro.	Não	queria	que	Mrrov	tentasse	segui-
lo	de	volta	a	Colônia	Um	e	se	perdesse	na	mata	quando	a	trilha	fosse
interrompida	pelo	rio.
O	Togoriano	chegou	bem	a	tempo	de	resistir	às	ondas	mentais	e	físicas	da
Exultação.	Muuurgh	estreitou	os	olhos	e	esquadrinhou	os	vultos	que	se	retorciam
à	sua	frente...
...e	encontrou	Mrrov.	Ela	se	contraía,	mas	não	chegava	a	se	retorcer...	e	havia
algo	de	falso	na	forma	como	ela	se	movia	que	permitia	que	ele	a	localizasse
facilmente.
Ela	está	fingindo,	pensou	Muuurgh.	Eu	sabia	que	Mrrov	era	forte	demais
para	ser	enganada	por	esses	mentirosos	por	muito	tempo!
O	Togoriano	forçou	os	olhos	para	divisar	cada	linha	dela	sob	o	robe	de
peregrina.	Porém,	ele	só	conseguia	ver	claramente	a	cabeça,	listras	alaranjadas
contrastando	vividamente	com	o	branco.	Ele	desejava	ver	os	lindos	olhos
amarelos,	mas	estava	atrás	dela,	para	a	direita.	Mrrov	não	conseguiria	vê-lo.
Por	um	segundo,	Muuurgh	quase	jogou	a	cautela	e	seu	juramento	a	Vykk
para	o	alto	–	teve	que	fazer	um	enorme	esforço	para	não	sair	correndo	pela
massa	de	peregrinos,	agarrar	sua	prometida	e	carregá-la	para	a	selva.
Só	que	Muuurgh	tinha	dado	sua	palavra	de	honra	a	Vykk.	Mrrov	não	poderia
saber	que	ele	estava	ali.
Quando	os	peregrinos	se	levantaram	cambaleantes,	com	o	fim	da	Exultação,
os	olhos	de	Muuurgh	se	arregalaram	ao	ver	que	Mrrov	vestia	uma	faixa	azul	–
assim	como	mais	uns	cinquenta	dos	cem	peregrinos	na	cerimônia.
Aquela	faixa!	Aquela	é	a	faixa	dos	Escolhidos!	Ah,	não!	Muuurgh	quase
sibilou	bem	alto	sua	frustração	e	medo.	Já	estava	em	Ylesia	há	muitos	meses.	Já
vira	aquelas	faixas	antes.
De	fato,	conforme	os	peregrinos	começaram	a	se	dispersar	na	noite,	o	sumo
sacerdote	se	adiantou	para	chamá-los	com	sua	voz	ribombante.
–	Todos	os	peregrinos	que	receberam	faixas	azuis	hoje,	por	favor	fiquem
para	trás!	Seu	sumo	sacerdote	tem	um	anúncio	a	fazer.
Obedientes,	os	peregrinos	com	faixas	azuis	interromperam	a	caminhada	em
direção	à	trilha	e	seguiram	ao	altar.	Mrrov	aparentava	estar	pensando	em
arrancar	a	faixa	e	correr	dali,	mas	não	fez	nada.	Muuurgh	uivou	por	dentro.	Será
que	ela	sabe	o	que	as	faixas	significam?
–	Aqueles	de	vocês	que	receberam	as	faixas	azuis	estão	sendo	honrados
como	Escolhidos.	Sua	fé	e	devoção	ao	Um	e	ao	Todo	nos	fizeram	selecioná-los
para	esta	honra	singular.	Amanhã	à	noite	vocês	receberão	sua	última	Exultação
aqui	neste	Altar.	Ao	amanhecer	da	manhã	seguinte,	vocês	serão	levados	numa
espaçonave	para	se	encontrar	com	nossos	missionários,	e	cada	um	será
selecionado	por	um	deles	para	acompanhá-lo	e	espalhar	a	palavra	do	Um	e	do
Todo.
Muuurgh	ouviu	os	murmúrios	excitados	e	gananciosos	da	multidão	e	sabia
que	os	verdadeiros	peregrinos	estavam	extasiados	com	a	implicação	de	que
poderiam	receber	Exultações	sem	compartilhá-las	com	centenas	de	outros
peregrinos.
Idiotas...	foi	o	primeiro	pensamento	do	Togoriano.	Eles	não	passam	de
meros	bists	ou	etelos,	dignos	apenas	de	serem	caçados	e	devorados.	Essas
espaçonaves	vão	levá-los	apenas	às	minas	de	Kessel	ou	às	casas	de	prazer	dos
soldados	imperiais.	Nunca	mais	receberão	nenhuma	Exultação,	viverão	a
degradação	e	a	miséria,	e	a	maioria	morrerá	dentro	de	um	ano...
O	segundo	pensamento	eriçou	o	pelo	de	sua	nuca	e	espinha.	Só	um	dia	e
meio	até	que	ela	seja	despachada	daqui!	E,	como	os	soldados	imperiais	só
querem	humanoides	nas	casas	de	prazer	deles,	isso	quer	dizer	que	Mrrov	está
destinada	às	minas	de	Kessel.	Eles	devem	pensar	que,	como	ela	é	Togoriana	e
forte,	vai	durar	um	tempão	nas	minas...
Muuurgh	socou	o	tronco	de	uma	árvore.	Malditos	sejam,	o	tempo	é	muito
curto!	Os	senhores	Ylesianos	certamente	vão	chamar	Vykk	ou	o	Sullustano	para
transladar	esses	peregrinos	à	estação	espacial	para	aguardar	o	cargueiro	que
virá	de	Kessel.	Tenho	que	voltar	a	Colônia	Um	para	ajudar	Vykk,	de	modo	que
todos	possamos	escapar	juntos!
Muuurgh	se	levantou	num	salto	e	cavalgou	pela	selva,	sentindo	o	medo
afastar	o	cansaço	de	seu	corpo.	Virou-se	para	sudeste,	rumo	a	Colônia	Um.	Não
havia	tempo	a	perder...	A	vida	de	Mrrov	estava	em	risco.
O	Togoriano	correu,	saltando	troncos	e	córregos,	abaixando-se	sob	arbustos.
O	fôlego	veio	com	facilidade,	mas	Muuurgh	sabia	que	não	ia	durar	muito.	Ele	já
estava	fatigado	–	mas	não	ia	permitir	que	isso	atrapalhasse.
Como	uma	sombra	negra	numa	noite	ainda	mais	escura,	o	Togoriano
correu...
A	cerimônia	tinha	acabado,	e	Bria	seguia	para	a	trilha	de	volta	ao	dormitório
quando	Ganar	Tos	surgiu	caminhando	ao	seu	lado.	Ela	se	enrijeceu,	manteve	a
cabeça	baixa	e	se	recusou	a	erguer	o	olhar.	Eu	queria	que	Vykk	já	tivesse
voltado!	Já	faz	três	dias	que	ele	partiu...	Ganar	Tos	não	estaria	me	seguindo
assim	se	Vykk	estivesse	aqui...
O	idoso	Zisiano	tentou	segurar	o	braço	dela,	mas	Bria	o	puxou.	O	mordomo
sorriu	e	se	posicionou	à	frente	da	peregrina,	barrando	seu	caminho.
–	O	Exaltado	Teroenza	deseja	falar	com	você,	Peregrina	921	–	disse	ele.
Ah,	não!	pensou	Bria,	sentindo	como	se	seu	coração	tivesse	parado	e	depois
recomeçado	a	bater	contra	o	seu	peito	tão	forte	que	ela	temeu	que	Ganar	Tos
pudesse	ouvir.	Teroenza	descobriu	que	fui	eu	quem	sondou	a	mente	dele
telepaticamente!
–	O	qu-que	ele	quer?	–	Ela	conseguiu	perguntar	com	lábios	rígidos,
considerando	se	deveria	simplesmente	sair	correndo.	Talvez	conseguisse	se
esconder	na	selva	por	um	dia	ou	dois	até	que	Vykk	voltasse...
–	Ele	tem	algo	a	conversar	com	você	–	respondeu	Tos,	sorrindo	para	ela.	Bria
estremeceu	com	aquele	sorriso,	mas	decidiu	que	correr	não	adiantaria	de	nada.
Os	guardas	simplesmente	a	rastreariam	e	a	matariam...
Então	ela	deu	meia-volta	e	seguiu	para	o	Altar	das	Promessas.
Quando	alcançou	Teroenza,	o	sumo	sacerdote	a	espiou	do	alto	enquanto	ela
prestava	os	respeitos.	O	coração	de	Bria	batia	muito	forte,	e	ela	estava	tão
assustada	que	se	sentia	tonta.
–	Peregrina	921	–	começou	Teroenza	em	sua	voz	retumbante.	–	Você	nos
serviu	fielmente,	e	eu	estou	satisfeito	com	você.	Também	estou	satisfeito	com
meu	fiel	servo,	Ganar	Tos.	Quero	recompensar	vocês	dois.
Bria	deu	uma	olhada	de	lado	no	Zisiano,	cujos	olhos	alaranjados
praticamente	brilhavam	de	felicidade.	Ah,	não.	Estou	com	um	mau
pressentimentoquanto	a	isto...
Teroenza	apontou	o	mordomo.
–	Ganar	Tos	me	pediu	sua	mão	em	casamento	e	fico	feliz	em	anunciar	que	eu
concedi	o	pedido.	Venha	aqui	na	minha	frente,	e	eu	pronunciarei	as	palavras	para
torná-la	a	esposa	dele.
Bria	arfou	e	tentou	decidir	se	deveria	se	deixar	desmaiar.	Tinha	a	sensação	de
que	conseguiria	–	pontos	pretos	flutuavam	diante	dos	seus	olhos,	e	tinha	um
zumbido	nos	ouvidos.	Então	Bria	sentiu	uma	onda	de	prazer	engolfá-la,	um
prazer	tão	delicioso	que	ela	quase	desmaiou	daquilo.	A	sensação	era	tão	intensa,
calorosa,	amorosa,	que	ela	quase	teria	concordado	com	qualquer	coisa,	só	para
que	não	acabasse.
Porém,	bem	quando	ela	estava	pronta	para	assentir	como	um	zumbi
obediente,	o	rosto	de	Vykk	surgiu	diante	dos	olhos	dela.	Bria	endireitou	as	costas
e	ergueu	o	queixo.	Não	ousou	desmaiar	–	se	o	fizesse,	provavelmente	acordaria
casada	com	Ganar	Tos,	sendo	carregada	para	o	leito	nupcial.	O	pensamento	lhe
deu	ânsia	de	vômito,	e	as	vibrações	de	prazer	do	sacerdote	perderam	seu	poder
sobre	ela.	Bria	experimentou	uma	imagem	súbita	e	vívida	dela	mesma
compartilhando	uma	cama	com	Ganar	Tos	e,	por	um	segundo	horrível,	ela	teve
medo	de	vomitar.
Controle-se!	comandou	ela.	Pense!
–	Mas,	Exaltado	–	ela	murmurou	com	timidez,	forçando-se	a	manter	os	olhos
modestamente	baixos.	–	Eu	fiz	votos	de	castidade.	Não	posso	me	casar	com
ninguém.
–	Sua	devoção	é	inspiradora,	peregrina	–	ribombou	Teroenza.	–	Mesmo
assim,	o	Um	e	Todo	abençoa	uniões	frutíferas,	tanto	quanto	abençoa	o	estado
celibatário.	Estou	lhe	concedendo	uma	dispensa	especial	para	que	possa	se	casar
com	Ganar	Tos	e	criar	seus	filhos	para	serem	fiéis	ao	Um	e	ao	Todo.
Monstro	espertalhão,	pensou	Bria,	odiando	Teroenza	como	nunca	tinha
odiado	ninguém	em	sua	vida.	Não	tem	como	eu	contornar	esse	argumento	sem
cometer	blasfêmia.
Bria	respirou	longa	e	profundamente	para	ganhar	tempo	para	pensar.
–	Muito	bem,	ó	Exaltado	–	respondeu	ela	com	humildade.	–	Se	você	diz	que
esta	é	a	vontade	do	Um	e	do	Todo,	então	eu	me	submeterei.	Serei	uma	boa
esposa	para	Ganar	Tos.	–	Trincando	os	dentes	por	dentro,	ela	se	obrigou	a	pousar
a	mão	no	braço	verde	verruguento	do	mordomo.
–	Ótimo,	Peregrina	–	declarou	Teroenza,	erguendo	os	braços	para	iniciar	a
cerimônia.
–	Só	que,	Exaltado	–	Bria	ergueu	um	pouco	a	voz	–,	eu	preciso	seguir	os
costumes	do	meu	povo	antes	que	possa	me	considerar	legalmente	casada.	–
Antes	que	o	sacerdote	pudesse	recusar,	ela	se	apressou	em	continuar.	–	São
simples	e	facilmente	cumpridos,	Exaltado.	Peço	apenas	um	dia	para	me	purificar
e	meditar	sobre	o	sagrado	estado	de	casamento.	Além	disso,	em	Corellia,	é
tradicional	que	a	mulher	traje	um	vestido	verde	no	casamento.	Posso	pedir	com
facilidade	ao	droide-alfaiate	que	prepare	um	para	mim	até	amanhã	à	noite.
Bria	segurou	a	respiração	enquanto	Teroenza	hesitava.	Por	fim,	o	sumo
sacerdote	deve	ter	decidido	que	ela	não	estava	pedindo	demais.
–	Muito	bem,	Peregrina	921	–	retumbou	ele.	O	rosto	de	Ganar	Tos	ilustrou
seu	desapontamento.	–	Amanhã	à	noite,	diante	de	todos	os	fiéis,	você	e	Ganar
Tos	serão	unidos.	Que	a	bênção	do	Um	e	do	Todo	esteja	com	você.
Teroenza	fez	um	sinal	rápido	no	ar,	deu	meia-volta	e	se	afastou.
Ganar	Tos	rumou	decidido	para	Bria.
–	Eu	a	levarei	de	volta	ao	seu	dormitório	–	anunciou.
–	Muito	bem	–	concordou	ela,	mas	se	afastou	quando	ele	tentou	passar	o
braço	ao	seu	redor.	–	O	noivo	não	pode	tocar	a	noiva	no	último	dia	antes	da
cerimônia	–	arrulhou	ela,	mentindo	descaradamente.	–	Mais	uma	tradição
corelliana.	Certamente	você	pode	esperar	um	diazinho,	meu	futuro	marido?
Ele	assentiu.
–	Muito	bem,	minha	futura	esposa.	Juro	para	você,	serei	um	bom	marido.	É
meu	desejo	profundo	que	sejamos	abençoados	com	muitos	filhos.
–	É	igualmente	o	meu	–	concordou	Bria	docemente.	Dentro	das	mangas
volumosas	dos	robes,	ela	cruzou	todos	os	dedos	das	duas	mãos.
Por	favor,	Vykk	¸	ela	pensou	desesperadamente,	volte	logo!	Por	favor!
A	viagem	de	volta	de	Han	e	Nebl	correu	muito	bem,	e	Han	guiou	a	Sonho
Ylesiano	na	descida	em	meio	às	nuvens	do	lado	noturno.	Viram	várias	células	de
tempestade	espetaculares	iluminadas	por	relâmpagos,	porém,	quando	pousaram
em	Colônia	Um	mais	ou	menos	uma	hora	depois	da	meia-noite,	milagrosamente
não	estava	chovendo.
–	Bela	aterrissagem.	Não	posso	dizer	que	já	fiz	melhor	–	comentou	Jalus
Nebl.
Han	sorriu	com	o	elogio	e	ainda	trazia	a	expressão	feliz	quando	os	dois
desceram	pela	rampa	até	o	campo	de	pouso.	Tanto	ele	como	o	Sullustano
tiveram	que	colocar	os	óculos	infravermelhos	apressadamente;	a	noite	estava
negra	como	piche,	e	não	havia	uma	única	estrela	visível.
–	Bem,	vou	tirar	algumas	horas	de	sono,	meu	rapaz	–	anunciou	o	Sullustano
enquanto	seguia	pelo	caminho	da	enfermaria,	onde	ele	ainda	estava	sendo
tratado,	mesmo	que	não	precisasse	mais	respirar	ar	filtrado.	–	Boa	noite.
–	Boa	noite,	Nebl	–	respondeu	Han,	tomando	a	trilha	para	o	centro
administrativo.	Minha	cama	vai	estar	deliciosa,	ele	pensou.	Acho	que	vou
dormir	até	mais	tarde	e...
Sem	aviso,	alguma	coisa	grande	o	agarrou	por	trás,	e	uma	mão-pata	peluda
cobriu	sua	boca	para	sufocar	o	grito	de	surpresa.	Han	arfou	ao	ser	erguido	da
trilha	e	carregado	alguns	passos	selva	adentro.	Por	fim,	uma	voz	familiar
sussurrou	no	ouvido	dele.
–	Muuurgh	lamenta	ter	feito	isso,	mas	Vykk	ia	gritar.	Temos	que	ser
silenciosos.
O	Togoriano	colocou	o	corelliano	no	chão	de	novo,	e	Han	respirou	fundo,
preparando-se	para	dar	uma	bela	bronca	no	alienígena	quanto	a	assustar	pessoas
em	noites	escuras.	Muuurgh	balançou	a	cabeça	peluda,	e	alguma	coisa	na
expressão	dele,	vista	pelos	óculos	infravermelhos,	fez	Han	desistir.	Em	vez
disso,	ele	indagou:
–	O	que	foi?
–	Encontrei	Mrrov	–	explicou	Muuurgh.	–	Piloto	será	acordado	ao	alvorecer
para	voar	até	Colônia	Dois	e	levar	Mrrov	mais	uma	carga	de	peregrinos	para
estação	espacial.	Lá	vão	esperar	outra	nave,	vem	de	Kessel,	só	pode	ser.	Então
não	tem	tempo	a	perder.	Tem	que	escapar.	Agora	.	Ou	Mrrov	será	perdida.
Han	balançou	a	cabeça.	Ele	estava	cansado.	Tinha	dormido	em	turnos	curtos
pelas	últimas	cinco	noites,	e	o	sacrifício	estava	cobrando	o	preço.
–	Escapar?	Esta	noite?
–	Ssssim!	–	A	ansiedade	de	Muuurgh	era	contagiante.	Han	sentia	a
adrenalina	começando	a	correr	pelo	corpo.	–	Tem	que	escapar!	Diz	a	Muuurgh	o
que	fazer!	Quase	duas	horas	até	o	sol	nascer.	Aí	Mrrov	estará	esperando	com
outros	no	Altar,	e	Vykk	e	Muuurgh	precisam	estar	prontos	com	nave!
–	Tudo	bem,	tudo	bem,	chapa.	Calma	aí.	–	Han	tentou	pensar	no	que
precisava	ser	feito	primeiro.	–	Você	me	pegou	de	surpresa	aqui,	eu	preciso	de	um
segundo	para	desembaralhar	meu	cérebro.	Uma	coisa	de	cada	vez.	Precisamos
de	algumas	armas	de	raios.	Cinco	ou	seis	delas.	Você	vivia	no	alojamento	dos
guardas.	Acha	que	consegue	entrar	lá	discretamente	e	pegar?
Muuurgh	assentiu	com	a	cabeça.
–	Ssssim...	Vou	pegar	cinco	ou	seis	armas.
–	Se	eu	fosse	você,	eu	surrupiava	dos	Gamorreanos.	Eles	são	burros	como
um	saco	de	pedras	e	dormem	como	portas.
Os	bigodes	de	Muuurgh	se	agitaram	no	que	ele	achou	graça.
–	Ssssim...
–	Tudo	bem,	então.	Me	encontre	em	frente	ao	centro	administrativo	em	meia
hora.
Com	um	último	aceno	de	cabeça,	Muuurgh	desapareceu	na	mata.
Han	seguiu	para	o	centro	administrativo.	O	primeiro	item	na	lista	era
desativar	o	sistema	de	comunicações	da	Colônia.	Ele	não	queria	que	ninguém
chamasse	reforços	das	outras	colônias	ou	as	avisasse	que	havia	problemas.
Quando	o	corelliano	alcançou	o	centro	de	comunicações,	enfiou	a	mão	no
bolso	para	encontrar	o	pedacinho	de	papel	que	Bria	lhe	dera	com	todos	os
códigos	de	segurança	que	tinha	obtido	em	sua	visita	à	mente	de	Teroenza.	Isso
incluía	o	código	do	iate	pessoal	do	sumo	sacerdote,	Talismã	,	que	era	a	nave	que
Han	pretendia	usar	na	fuga.	Também	trazia	o	código	da	sala	de	coleção	e	do
centro	de	operações	onde	ficavam	os	geradores	da	Colônia,	as	telas	de	segurança
da	base,	a	oficina	de	droides,	o	arsenal	e	a	unidade	de	comunicações.
Han	se	esgueirou	pelos	corredores	silenciosos,	perguntando-se	se	veria
Muuurgh	de	relance	na	tarefa	dele,	mas	não	teve	nem	vislumbrede	movimento.
Àquela	altura	ele	já	conhecia	o	bastante	sobre	o	layout	de	segurança	de	Colônia
Um	para	evitar	automaticamente	os	entediados	guardas	noturnos,	que	muito
provavelmente	estavam	dormindo	em	seus	postos,	pelo	que	ele	tinha	visto	em
suas	explorações	anteriores.
Pareceu	levar	uma	eternidade	até	chegar	ao	centro	de	operações,	mas	ele
finalmente	estava	lá,	digitando	o	código	de	Bria.	Com	um	leve	zumbido
eletrônico,	a	porta	se	abriu.
–	Essa	é	a	minha	menina	–	murmurou	Han	enquanto	entrava.
Havia	um	guarda	postado	ali,	como	Han	sabia.	Um	Twi’lek,	adormecido	na
cadeira,	pés	apoiados	no	console	de	comunicações,	os	lekkus	pendurados	atrás
dele	como	duas	cordas	de	carne	pálida.	Roncos	ressoantes	vibravam	no	ar
parado.
Han	sacou	a	pistola	de	raios,	configurou	para	ATORDOAR	e	puxou	o	gatilho.
Emitiu	um	raio	azul	circular,	que	envolveu	o	guarda.	O	Twi’lek	deu	um	tranco,
depois	desabou	molenga	na	cadeira,	exatamente	como	estivera,	exceto	pelos
roncos,	que	pararam.
–	Isso	foi	um	belo	bônus	–	murmurou	Han,	guardando	a	arma	no	coldre.
Foi	até	o	console	de	comunicação,	puxou	a	pequena	multiferramenta	que	a
maioria	dos	pilotos	sempre	trazia	nos	bolsos	e	começou	a	abrir	a	tampa	do
aparelho.	O	plano	era	desativar	a	unidade	de	comunicação	e	depois	colocar	a
tampa	de	volta,	de	modo	que	qualquer	pessoa	que	tentasse	usá-la	levaria	algum
tempo	para	perceber	que	tinha	sido	sabotado.
Um	momento	depois,	tirou	a	tampa	e	a	colocou	no	chão.	Arregalou	os	olhos
diante	da	miríade	de	fios,	circuitos,	transceptores,	cabos	e	fileiras	e	mais	fileiras
de	compartimentos	idênticos	e	não	marcados.	Han	grunhiu	em	voz	alta.
–	Como	é	que	eu	vou	saber	qual	desses	se	conecta	aos	geradores	de	força?
Escolheu	um	fio	aleatoriamente	e	o	cortou	com	o	pequeno	maçarico	laser	da
multiferramenta.	O	indicador	de	força	continuou	marcando	LIGADO	.	Han	cortou
outro	fio.	E	mais	outro.	Com	frustração	crescente,	segurou	um	punhado	dos
circuitos	e	os	arrancou.
Nada	de	resultado	visível.
Praguejando	em	voz	baixa,	rasgou	e	arrancou	e	cortou	implacavelmente,	até
que	ofegava	com	o	esforço	–	e	o	aparelho	ainda	estava	ligado!
Mais	de	cinco	minutos	tinham	se	passado.
–	Painel	idiota...	–	rosnou	Han,	que	em	seguida	sacou	a	arma	de	raios,
colocou-a	em	intensidade	máxima	e	atirou	bem	no	meio	das	entranhas	do
console	teimoso.	Chamas	irromperam,	o	cheiro	de	isolamento	atingiu	suas
narinas,	fagulhas	voaram...
...e	o	indicador	de	força	se	apagou.
–	Aí	sim	–	murmurou	Han	irritado.	Por	via	das	dúvidas,	atordoou	o	Twi’lek
de	novo,	deu	meia-volta	e	saiu.
Uma	vez	do	lado	de	fora	do	centro	administrativo,	Han	botou	os	óculos	e
seguiu	pela	trilha	da	selva	num	trote.	Seus	passos	foram	ficando	cada	vez	mais
rápidos,	até	que	começou	a	correr	quase	em	velocidade	máxima,	e	só	uma	queda
de	cara	numa	poça	de	lama	o	deteve.	Pingando	e	praguejando,	se	levantou	de
novo	e	saiu	correndo	outra	vez.
Os	outros	prédios	estavam	à	sua	frente	agora,	incluindo	o	dormitório	de	Bria.
Han	tinha	determinado	que,	ao	contrário	do	centro	administrativo	e	das	fábricas
de	especiarias,	os	dormitórios	não	eram	guardados	à	noite.	Afinal	de	contas,	os
T’landa	Til	não	davam	a	mínima	se	alguém	machucasse	seus	escravos;	eles	eram
facilmente	substituíveis.
A	pequena	cama	de	Bria	ficava	no	segundo	andar.	Uma	fraca	luz	noturna
brilhava	na	escadaria.	Han	subiu	pé	ante	pé,	com	a	arma	de	raios	em	ATORDOAR
na	mão,	mas	não	encontrou	ninguém.	Os	peregrinos	ficavam	tão	eufóricos
depois	da	Exultação	toda	noite	que	dormiam	como	mortos.
Han	não	sabia	direito	qual	cama	Bria	ocupava.	Espiou	pelos	óculos	e
avançou	rapidamente	até	centro,	olhando	os	rostos	adormecidos	nos	vários	tipos
de	sofás,	catres	e	camas	que	cada	espécie	preferia.
Uma	tábua	rangeu	sob	o	pé	dele,	e	Han	parou,	segurando	a	respiração.	Um
vulto	se	sentou	numa	cama	estilo	humano,	vestindo	uma	camisola	branca	sem
mangas.
–	Vykk?	–	sussurrou	ela.
Han	assentiu	com	a	cabeça	e	acenou	com	urgência.
–	Rápido!	–	sibilou	ele.
Para	sua	surpresa,	ela	já	estava	vestindo	calças.	Pegou	a	túnica	e	as	sandálias
e	veio	até	Han	na	ponta	dos	pés,	evitando	a	tábua	que	rangia.
Juntos,	em	silêncio,	eles	desceram	cuidadosamente	a	escadaria,	passaram
pelo	átrio	e	saíram	para	a	escuridão	da	noite.	Bria	pôs	os	óculos.
–	Vamos	lá	–	disse	Han	segurando	a	mão	de	Bria	antes	que	ela	tivesse	tempo
de	responder.	–	Temos	que	correr!
Ele	saiu	correndo,	e	Bria	o	acompanhou.	Logo,	porém,	os	passos	da
peregrina	se	encurtaram,	e	Han	percebeu	que	ela	estava	ficando	sem	fôlego.
Reduziu	o	passo	para	uma	caminhada	rápida	e	a	rebocou	pela	trilha	da	floresta.
Bria	ofegava	demais	para	falar,	mas	Han,	que	estava	em	melhor	forma,
recuperou	o	fôlego	em	instantes.
–	É	hoje	à	noite	–	informou	ele.	–	Preciso	que	você	e	Muuurgh	comecem	a
recolher	a	coleção	de	Teroenza	enquanto	eu	tiro	os	guardas	da	nossa	cola.	Você
acha	que	consegue?
Bria	assentiu	sem	conseguir	falar.
–	Ganar	Tos...	–	tentou	dizer.
–	Esquece	ele	–	retrucou	ríspido.	–	Você	nunca	mais	vai	ver	o	cara,	com
alguma	sorte.
–	Mas	ele...	e	Teroenza...	–	Ela	cedeu	ao	puxão	urgente	e	começou	a	correr
de	novo.	–	Vão	me	fazer...	casar...	com	ele...
Han	arregalou	os	olhos.
–	Ganar	Tos	queria	casar	com	você?	Pelos	Lacaios	de	Xendor!	Ainda	bem
que	a	gente	tá	dando	o	fora	daqui!
Incapaz	de	falar,	Bria	apenas	concordou	com	a	cabeça.
Quando	eles	alcançaram	o	centro	administrativo,	Bria	já	tinha	recuperado	o
fôlego.	Seguiu	Han	conforme	ele	caminhava	pelos	corredores	escuros	até	a	porta
da	sala	de	coleção	de	Teroenza.	Muuurgh	esperava	os	dois.	Aos	seus	pés	havia
uma	pilha	de	armas	de	raios.	Bria	arregalou	os	olhos.
–	Para	que	isso	tudo?
–	Distração	–	respondeu	Han.	–	Certo,	agora...	aqui	está	o	código	de
entrada...	–	Digitou	o	código	rapidamente	e,	como	antes,	a	porta	se	abriu.	Os	três
entraram	furtivamente	no	imenso	salão	mal	iluminado.	Han	pegou	uma	poderosa
eletrotocha	na	escrivaninha	de	Bria	e	iluminou	o	aposento	com	o	feixe	forte.	–
Acha	que	a	gente	pode	correr	o	risco	de	acender	as	luzes?
Bria	fez	que	sim	com	a	cabeça.
–	A	sala	é	bem	isolada.	Conferi	semana	passada.	Não	tem	como	se	ver	do
apartamento	de	Teroenza.
Han	ligou	as	luzes	do	teto,	e	o	salão	subitamente	se	iluminou	completamente.
Desde	que	Bria	assumira	a	manutenção	da	coleção,	tinha	arrumado	o	salão
inteiro.	Os	expositores	de	itens	reluziam,	as	estantes	estavam	bem	menos
entulhadas,	e	as	cores	das	tapeçarias	eram	vívidas,	livres	da	camada	de	poeira.
Os	três	pilares	centrais	de	sustentação	tinham	uma	camada	fresca	de	tinta.
–	Certo	–	sussurrou	Han.	–	Você	e	Muuurgh	comecem	a	recolher	os	itens	que
você	escolheu.	Eu	volto	em	uns	quinze	minutos,	tudo	bem?
Bria	concordou	com	um	aceno	de	cabeça.
–	Mas	onde	eu	vou	carregar	isso	tudo?
–	Semana	passada	eu	escondi	uma	mochila	na	parte	de	trás	das	duas	fadas
naquela	fonte	de	jade	branco	–	disse	Han,	apontando	o	imenso	objeto.	–	Vai	dar
para	começar.	Vou	tentar	trazer	algo	comigo	se	encontrar	qualquer	coisa	que
sirva.
–	Tudo	bem	–	sussurrou	ela.
Muuurgh	já	estava	mais	adiante,	examinando	uma	coleção	de	adagas
cravejadas.	Bria	hesitou,	com	expressão	angustiada.	Han	pôs	as	mãos	nos
ombros	dela.
–	O	que	foi,	querida?
–	Vykk...	eu	nunca	fiz	nada	assim	antes!	–	Ela	mordeu	o	lábio	e	apontou	as
armas	que	Muuurgh	tinha	trazido.	–	Armas	e	roubos!	Alguém	pode	se	machucar
,	e	até	morrer	!	Você	pode	ser	morto,	ou	eu!	–	Ela	tremia	de	cima	a	baixo.
Han	a	abraçou	e	a	puxou	para	perto.
–	Bria,	nós	temos	que	ir	esta	noite	–	afirmou,	ainda	que	fosse	um	esforço
manter	a	voz	gentil	e	esconder	a	impaciência.	–	Amanhã	eles	vão	despachar
Mrrov	para	as	minas	de	Kessel.	A	nave	provavelmente	vai	chegar	em	órbita	a
qualquer	momento	agora	para	levá-la.	É	agora	ou	nunca,	meu	bem.
–	E...	e...	–	Bria	agarrava	a	frente	do	macacão	de	Han	com	as	duas	mãos.	–
Eu	tenho	medo	do	que	vai	acontecer	comigo	quando	eu	sair	daqui.	Sem	a
Exultação...	Como	eu	vou	viver	assim?
–	Você	vai	ter	a	mim	–	relembrou	ele.	–	Vamos	ficar	juntos.	Eu	estarei	com
você...	cada	minuto.	Você	vai	ficar	bem...
Bria	engoliu	seco	e	fez	que	sim	com	a	cabeça,	mas	duaslágrimas	lhe	corriam
pelo	rosto.	Han	lançou	um	sorriso	encorajador.
–	Ei...	Eu	sou	melhor	que	Ganar	Tos,	né?
Bria	conseguiu	soltar	uma	risada	engasgada,	depois	abriu	um	sorriso	aguado.
Han	pegou	as	armas	e	saiu	pela	porta,	tomando	o	cuidado	de	verificar	que
estava	fechada	depois	de	passar.
Descobriu	que	carregar	seis	armas	sozinho	não	era	fácil.	Por	fim,	acabou
metendo-as	na	frente	do	macacão	e	no	cinto.	Isso	atrapalhava	um	pouco	os
movimentos,	mas	era	melhor	que	fazer	malabarismo	com	as	armas	e	ficar	com
medo	que	uma	ou	mais	caíssem	com	um	estardalhaço.
A	noite	estava	escura	como	sempre,	mas	Han	sabia	que	não	devia	faltar	mais
de	uma	hora	para	a	alvorada.	Conseguiu	engrenar	uma	corridinha	desengonçada
pela	trilha	enlameada,	com	as	armas	batendo	nas	pernas	e	no	peito.
Levou	quase	sete	minutos	para	chegar	à	primeira	fábrica	de	brilhestim,	e
mais	dois	para	se	esgueirar	até	perto	o	bastante	do	guarda,	um	enorme
Gamorreano,	para	então	poder	atordoá-lo	à	queima-roupa.	Ao	ver	o	vulto
gigante	e	porcino	da	criatura,	Han	lhe	deu	um	tiro	adicional	para	garantir	que
ficaria	quieto	pelo	tempo	que	fosse	necessário.
O	rapaz	então	se	virou	e	entrou	na	fábrica,	indo	direto	até	o	turboelevador,
quase	levando	um	tombo	por	causa	das	armas	quando	se	espremeu	pela	grade	da
porta.	Despachou	o	turboelevador	para	o	andar	mais	baixo	e	aguentou	a	jornada
de	descida	para	as	trevas	gélidas	e	mais	escuras	que	a	escuridão.
Quando	Han	alcançou	o	fundo,	o	nível	onde	Bria	costumava	trabalhar,	partiu
direto	para	onde	tinha	espiado	os	recipientes	de	brilhestim	bruto	que	esperavam
para	ser	distribuídos	pelos	trabalhadores.
Han	puxou	cinco	armas	de	raios	do	cinto	(ficou	com	a	sexta	de	reserva,	já
que	não	tivera	como	saber	que	deveria	ter	mantido	a	própria	totalmente
carregada	para	a	fuga)	e	as	arrumou	em	cima	do	brilhestim	num	belo	desenho	de
“sol	raiado”.	Depois	abriu	cada	uma	das	poderosas	armas	e,	usando	os	óculos
para	ver,	configurou-as	para	SOBRECARGA	.	Um	apito	agudo	soou,	ficando	mais
alto,	ecoando	no	espaço	cavernoso	conforme	mais	apitos	se	juntaram	ao	primeiro
nas	profundezas	úmidas	da	fábrica.
–	Isso	deve	resolver	–	sussurrou	Han	para	si	mesmo.	Sabendo	que	só	tinha
minutos	para	escapar	dali	antes	que	o	lugar	inteiro	explodisse,	saiu	correndo	para
o	turboelevador.
Foi	gostoso	sentir	o	sopro	do	vento	batendo	contra	seu	rosto	suado.	Han
saltou	para	fora,	correu	pelo	andar	térreo	da	fábrica,	saltou	sobre	o	Gamorreano
derrubado	–	que	começava	a	fungar	e	se	mexer	–	e	saiu	correndo	noite	adentro.
Han	estava	a	meio	caminho	do	centro	administrativo	quando	sentiu	o	chão
tremer	e	virou-se	para	ver	uma	labareda	de	chamas	amarelas	subindo	ao	céu.
Momentos	depois,	as	faíscas	azuis	de	brilhestim	voaram	como	fogos	de	artifício,
lançando	fitas	reluzentes	bem	alto.
Han	mal	conseguia	estimar	quantos	créditos	ele	via	virar	fumaça.	Era	de
fazer	pensar.
Adiante,	ouviu	uma	comoção	vinda	do	centro	administrativo	e,	momentos
depois,	teve	que	saltar	da	trilha	e	continuar	correndo	pela	selva	quando	uma
turba	de	guardas	que	gritavam	quase	o	atropelou.
Derrapando	no	lodo	do	piso	florestal,	Han	conseguiu	manter	um	bom	ritmo
ao	correr	pelo	resto	do	caminho.	As	botas	deixaram	pegadas	enlameadas	nos
degraus	do	centro	administrativo	quando	Han	os	subiu	velozmente	e	depois
seguiu	pelos	corredores	até	a	sala	de	tesouros	de	Teroenza.
Havia	guardas	por	todos	os	lados	agora,	gritando	e	berrando	perguntas,	mas
nenhum	deles	deteve	ou	interrogou	Han.	O	piloto	chegou	à	porta	do	salão	de
exposição,	olhou	para	os	dois	lados	e	por	fim	entrou	furtivamente.
Bria	e	Muuurgh	ergueram	o	olhar,	viram	que	era	Han	e	então	relaxaram
perceptivelmente.
–	Como	vocês	estão	indo?	–	sussurrou	Han.
–	Tudo	bem	–	respondeu	Bria	em	voz	baixa.	–	Quase	terminamos	a	lista	A.
–	Ótimo.
–	O	que	foi	que	Vykk	fez?	–	indagou	Muuurgh.
–	Vykk	explodiu	a	fábrica	de	brilhestim	–	respondeu	Han,	satisfeito.	–	Um
monte	de	peregrinos	ficou	desempregado.
–	Ah,	Vykk!	Se	nós	formos	pegos...	–	O	rosto	de	Bria	ficou	branco	como	giz.
–	Não	seremos	–	retrucou	Han.	–	Estou	com	tudo	sob	controle.
Estendeu	a	mão	para	puxar	uma	pequena	escultura	de	um	torsk	de	Alzoc	III,
entalhada	em	lápis-lazúli,	que	demonstrou	ser	mais	pesada	do	que	ele	esperava,	e
deu	um	puxão	forte.
A	escultura	se	inclinou	para	cima	e	revelou	um	emaranhado	de	fios	e
transponderes.	Em	algum	lugar	ali	perto,	nos	aposentos	pessoais	de	Teroenza,
um	alarme	começou	a	trinar	estridente.
Han	olhou	a	escultura,	depois	os	colegas	ladrões.
–	Oh-oh...
Bria	encarou	Han,	aterrorizada	e	furiosa.
–	Ah,	ótimo!	Agora	o	que	nós	vamos	fazer?
Han	pensou	rápido.
–	Vamos	dar	o	fora	daqui.	A	lista	A	já	é	boa	o	bastante.	Bria,	você	leva	a
mochila,	está	bem?	E	aqui,	pegue	isto.	–	Tirou	a	arma	de	raios	extra	do	cinto	e
entregou	a	Bria.	Mostrou	como	mirar	e	onde	ficava	o	gatilho.	–	Talvez	a	gente
tenha	que	lutar	para	sair	daqui.
–	Maravilhoso	–	retrucou	ela	amargamente.	–	Tudo	sob	controle,	não	é,
Vykk?	Nada	com	que	se	preocupar!
Han	só	podia	dar	de	ombros.	Desta	vez,	era	definitivamente	culpa	dele	.
–	Para	que	lado?	–	indagou	Muuurgh,	o	mais	prático	do	grupo.	–	Por	porta	de
sacerdote	ou	porta	principal?
Han	considerou	por	um	segundo,	mas	foi	salvo	de	ter	que	tomar	uma	decisão
–	as	duas	portas	foram	abertas	ao	mesmo	tempo.
Teroenza	surgiu	emoldurado	pela	porta	de	seus	aposentos,	fungando	de	raiva.
Zavval	e	um	esquadrão	de	guardas	preenchiam	as	grandes	portas	duplas.
Han	agarrou	Bria	e	mergulhou	detrás	da	imensa	fonte	de	jade	branco,
enquanto	Muuurgh	se	protegia	atrás	do	pilar	central	de	suporte	do	aposento.
–	Peguem	eles!	–	vociferou	Zavval,	avançando	no	trenó	repulsor.	Teroenza
investiu	como	uma	fera	enlouquecida,	a	cabeça	baixa	e	o	chifre	em	riste.
Han	deu	um	tiro,	viu	o	raio	azul	de	atordoamento	e	praguejou	enquanto
ajustava	a	intensidade	da	arma	para	TOTAL	.	O	raio	atordoante	nem	desacelerou
Teroenza.	Muuurgh	mirou,	disparou	e	derrubou	um	guarda	Sullustano.
Han	puxou	o	gatilho	de	novo,	mas	o	raio	da	arma	ricocheteou	no	trenó	de
Zavval	e	atingiu	o	pilar	de	sustentação	mais	próximo	da	porta,	queimando-o	pela
metade.	O	pilar	cedeu,	mas	não	desabou.
Teroenza	investiu	contra	Muuurgh,	e	o	grande	Togoriano	saltou	e	agarrou	o
sumo	sacerdote,	segurando-o	pelo	pescoço	e	o	chifre.	Muuurgh	cravou	os	pés	no
carpete	e	tentou	conter	o	ex-chefe.	O	impulso	do	T’landa	Til,	detido	pela	força
do	Togoriano,	fez	com	que	seus	quartos	traseiros	se	dobrassem	para	cima,
atingindo	o	pilar	central	com	um	baque.
O	chão	tremeu	e	poeira	choveu	do	teto.	Os	pés	posteriores	de	Teroenza
derraparam,	e	o	sumo	sacerdote	desabou.	O	chão	tremeu	de	novo.
Han	mirou	e	atirou,	e	um	Gamorreano	caiu	de	volta	no	corredor,	com	um
grito.	Bria	contornou	o	chafariz	com	a	pistola	em	riste,	mas,	antes	que	pudesse
atirar,	um	dos	guardas	disparou.	Ela	gritou	e	se	abaixou	no	que	um	raio	estourou
um	pedaço	do	chafariz,	lançando	fragmentos	de	jade	no	ar.	Teroenza,	que	tentava
se	levantar,	soltou	um	uivo	angustiado	de	protesto.
Outro	raio	zuniu	perto	de	Han,	tão	perto	que	o	corelliano	sentiu	o	cabelo
sendo	queimado.	Jogou-se	no	chão,	rolou	e	deu	mais	dois	tiros	no	ventre	do
trenó	de	Zavval.	Como	ele	tinha	planejado,	os	raios	atingiram	a	unidade	de
repulsão.	Porém,	em	vez	de	afundar	para	o	chão,	o	trenó	sofreu	danos	nos
controles	de	velocidade	e	direção.
Zavval	tentou	em	vão	controlá-lo,	mas	o	trenó	disparou	à	frente	em
velocidade	máxima.	Segundos	depois,	ricocheteou	na	parede	oposta.
Atropelando	tudo	em	seu	caminho,	o	trenó	quicou	pelo	salão	de	exposição,
levando	Zavval	como	um	passageiro	indefeso.
Um	guarda	Rodiano,	concentrado	em	tentar	acertar	Han,	não	viu	o	veículo
desgovernado	e	foi	esmagado	numa	chuva	de	sangue.	O	trenó	destroçou	uma
mesa	expositora,	e	Teroenza	gritou	ao	ver	sua	preciosa	coleção	de	vasos	antigos
virar	poeira.
O	Hutt	bateu	na	parede	oposta,	e	o	salão	inteiro	tremeu.	Poeira	e	destroços
caíram	do	teto.	Han	e	Bria	se	deitaram	no	chão	quando	o	trenó	desgovernado
bateu	numa	das	ninfas	de	jade	e	a	destroçou.
Zavval	gritava,	e	a	maioria	dos	guardas	tinha	sabiamentefugido.
Então	o	trenó,	com	o	imenso	peso	de	Zavval	em	cima,	se	esborrachou	direto
na	coluna	central	do	aposento.	O	suporte	cedeu	e	gemeu,	depois	se	dobrou	em
dois	e	se	partiu	–	seguido	por	aquele	que	Han	tinha	parcialmente	vaporizado.
Com	um	último	suspiro	agonizante,	o	trenó	repulsor	se	assentou	no	chão	e
morreu.
Han	contemplou	em	horror	paralisado	quando,	aparentemente	em	câmera
lenta,	metade	do	teto	estrondou,	cedeu,	rachou	e	por	fim	desabou	em	imensos
pedaços.	O	piloto	se	recuperou	bem	a	tempo	de	agarrar	Bria	e	arrancá-la	do
caminho	de	um	enorme	pedaço	do	piso	de	pedra	do	andar	de	cima	que	caiu	na
direção	deles.	Jogou-a	no	chão,	debaixo	da	bacia	do	chafariz,	e	caiu	em	cima	da
peregrina,	protegendo-a.
Zavval	gritou	esganiçado	enquanto	enormes	escombros	caíam	nele,
soterrando-o	sobre	os	restos	destruídos	do	trenó.	A	poeira	subiu	numa	nuvem
sufocante.	Tossindo	e	engasgando,	Han	rastejou	de	cima	de	Bria	assim	que
percebeu	que	o	teto	tinha	acabado	de	desabar.	Olhou	para	o	lugar	onde	Zavval
tinha	ficado,	mas	daquele	senhor	do	crime	Hutt	ele	só	viu	a	cauda	que	se
contorcia	em	espasmos.
Teroenza	tinha	se	enfiado	sob	a	proteção	de	uma	imensa	mesa	antiga	e
acabara	relativamente	ileso.	Quando	os	escombros	terminaram	de	cair,	ele	saiu
engatinhando	de	sob	a	poeira	e	os	destroços	da	mesa	agora	rachada.	O	T’landa
Til	cambaleou	em	direção	a	Han,	Bria	e	Muuurgh	–	o	Togoriano	tinha	se
abrigado	sob	o	batente	da	porta	do	apartamento	do	sacerdote	–	e	uivou,
espumando	de	raiva.	Obviamente	ainda	determinado	a	se	vingar,	Teroenza
baixou	a	cabeça,	de	chifre	em	riste,	e	investiu.
Han	mirou	e	disparou	um	tiro	no	flanco	direito,	derrubando-o	no	chão	com
um	grito.	Um	cheiro	nauseante	de	carne	queimada	inundou	o	ar.	Um	tiro	de	um
dos	guardas	acertou	o	chafariz	de	novo,	e	pequenos	estilhaços	de	pedra
incandescente	passaram	bem	diante	do	rosto	de	Han.	Um	deles	se	cravou	no	seu
pescoço,	e	os	dedos	do	piloto	ficaram	sujos	de	sangue	ao	arrancá-lo.
Han	fez	pontaria	ao	longo	do	cano	da	pistola,	disparou,	e	o	último	guarda
caiu,	fora	de	combate.
–	Vamos!	–	gritou	Han,	agarrando	Bria	e	a	mochila,	enquanto	fazia	um	gesto
para	Muuurgh.	–	Vamos	cair	fora	daqui!
Escorregando	em	escombros	e	tropeçando	em	corpos,	os	três	ladrões
seguiram	para	as	portas	duplas.	Quando	chegaram	lá,	Han	fez	um	gesto	para	que
os	colegas	esperassem	enquanto	ele	metia	a	cabeça	cuidadosamente	para	fora,	só
para	ser	recompensado	por	um	tiro	que	quase	lhe	arrancou	a	orelha.
–	Muuurgh,	leve	Bria	pelo	outro	lado!	–	ordenou.	–	Vá	pela	porta	de
Teroenza,	e	a	gente	pega	eles	no	fogo	cruzado.	Na	contagem	de	cinquenta!
O	Togoriano	assentiu	com	a	cabeça	e	saiu	com	Bria,	deslizando	e
escorregando	de	volta	pelas	ruínas	da	sala	de	tesouro;	passou	por	Teroenza,	que
gemia,	e	atravessou	a	porta	que	levava	ao	apartamento	do	sacerdote.
Han	contou	em	silêncio.	No	quinze,	enfiou	a	mão	pelo	batente	da	porta	e
metralhou	quatro	tiros	rápidos,	sendo	recompensado	com	um	grito	de	agonia.
Menos	um	guarda...
O	piloto	esperou,	ofegando,	tentando	não	tossir	com	a	poeira	que	ainda
enchia	o	ar.
Quarenta	e	cinco,	quarenta	e	seis,	quarenta	e	sete,	quarenta	e	oito,	quarenta
e	nove...	cinquenta!
Han	mergulhou	porta	afora,	fez	um	rolamento	no	corredor	e	atirou.	Raios
vermelhos	quase	lhe	acertaram	as	pernas	e	a	cabeça,	mas	ele	derrubou	outro
guarda,	um	Whiphid.	Conforme	planejado,	Muuurgh	e	Bria	disparavam	de	trás
dos	guardas,	e	mais	dois	caíram.
Os	dois	últimos	guardas,	um	Devaroniano	e	um	Gamorreano,	deram	no	pé	e
saíram	correndo	para	longe	da	corelliana	e	do	Togoriano,	pulando	por	sobre	Han,
que	ainda	estava	caído	no	chão.
O	piloto	se	levantou	cambaleante,	bem	a	tempo	de	ouvir	Muuurgh	soltar	um
poderoso	urro	de	batalha	e	começar	a	lutar	com...	quem?	Han	não	conseguia	ver
ninguém!
Será	que	ele	ficou	maluco?	perguntou-se	Han,	mas	então	teve	um	vislumbre
de	um	olho	vermelho-alaranjado,	uma	boca	cheia	de	dentes,	e	ouviu	um	sibilo
alto.	Viu	uma	arma	de	raios	sendo	chacoalhada,	aparentemente	no	ar,	e	por	fim
distinguiu	o	ser	pálido,	verruguento	e	escamoso.	Um	camaleão!
Muuurgh	grunhiu	e	rosnou	enquanto	atacava	o	Aar’aa.	O	Togoriano	era	tão
mais	alto	que	o	oponente	que	quase	se	dobrava	ao	meio.	Han	estremeceu	quando
Muuurgh	caiu	de	joelhos,	agarrando	o	adversário.	A	criatura	reptiliana	era	da	cor
exata	das	paredes	e	do	piso	neutros	no	corredor	mal	iluminado.	Com	um
movimento	como	o	bote	de	uma	víbora-graal,	o	Togoriano	cravou	as	presas	na
garganta	do	ser	e	arrancou.	Sangue	vermelho	alaranjado	espirrou	no	ar.
Muuurgh	saltou	para	trás,	e	Han	assistiu,	fascinado,	enquanto	o	Aar’aa
vacilou,	depois	caiu,	com	lentidão	pesada,	para	o	chão.	Ali	esparramado	no
chão,	a	criatura	reverteu	à	sua	pálida	cor	natural,	um	bege	acinzentado.	Han	não
precisou	olhar	duas	vezes	para	saber	que	estava	morta.
Bria	encarava	horrorizada	o	ponto	onde	o	Aar’aa	morto	jazia.
–	Ele	quase	me	pegou	–	sussurrou	ela.	–	Se	não	fosse	por	Muuurgh...
–	Como	foi	que	você	viu	ele,	chapa?	–	indagou	Han,	guardando	a	pistola	no
coldre.	–	Eu	não	consegui	ver	nada!
–	Eu	não	o	vi	,	eu	o	farejei	–	declarou	Muuurgh,	categórico.	–	Togorianos
caçam	com	a	visão	e	o	faro.	Muuurgh	é	um	caçador	,	lembra?
–	Obrigado,	chapa	–	disse	Han	e	passou	o	braço	pelos	ombros	de	Bria.	–	Eu
te	devo	uma.	Agora	é	melhor	a	gente...
–	Cuidado!	–	gritou	Bria,	e	Han	se	abaixou	por	instinto.	Bria	disparou	a	arma
em	modo	atordoante	logo	acima	da	cabeça	dele,	fazendo	seus	ouvidos	zumbir.
Endireitou-se	a	tempo	de	ver	Ganar	Tos	desabando	lentamente	para	o	chão
enquanto	uma	pistola	escorregava	de	seus	dedos	verdes.
Han	foi	até	o	velho	mordomo,	pegou	a	pistola	e	a	meteu	no	cinto.	Bria	parou
ao	seu	lado.
–	Eu	só	consigo	pensar	que,	se	você	não	tivesse	voltado	hoje,	esta	noite	eu
me	tornaria	a	mulher	dele	–	murmurou	Bria,	estremecendo	tão	forte	que	Han	lhe
deu	um	abraço	tranquilizante.
–	Ainda	bem	que	você	só	atordoou	ele	–	comentou	Han.	–	Ele	pode	até	ser
um	velho	tarado	nojento,	mas	como	eu	poderia	culpar	ele	por	ter	se	sentido
atraído	por	você?	–	Han	sorriu	para	Bria,	com	um	olhar	intenso.
Bria	olhou	para	baixo	e	ficou	corada.
–	Eu	não	queria	me	casar	com	ele,	mas	fico	feliz	que	não	esteja	morto.
–	Bem,	eu	te	devo	uma,	meu	bem.
–	Não,	não	deve.	Estamos	quites.	Se	não	fosse	você,	eu	estaria	soterrada	por
aquele	teto	lá	atrás,	que	nem	o	Hutt.
–	É,	temo	que	o	velho	Zavval	não	esteja	mais	conosco	–	afirmou	Han.	–	E	eu
acho	que	os	Hutts	vão	me	culpar	por	isso.
Por	um	momento,	Han	se	lembrou	de	Teroenza,	que	ainda	estava	vivo,	só
ferido.	Será	que	ele	deveria	voltar	para	acabar	com	o	T’landa	Til?	A	ideia	de
andar	até	um	senciente	indefeso	e	atirar	na	criatura	a	sangue-frio	não	o	agradava.
–	Vamos	dar	o	fora	daqui	–	decidiu,	chamando	Muuurgh,	que	limpava	com
lambidas	o	sangue	Aar’aa	das	patas	com	nojo	fastidioso.
–	Anda	logo,	Muuurgh,	você	pode	cuidar	dos	bigodes	mais	tarde.	Não	se
esqueça	que	Mrrov	está	esperando.
Os	três	saíram	correndo	do	centro	administrativo	e	viram	que	a	fábrica	de
brilhestim	ainda	lançava	faíscas	azuis	no	ar	–	mas	o	céu	não	estava	mais	negro,	e
sim	mais	claro,	quase	azul.
–	A	aurora	não	está	longe!	–	exclamou	Han.	–	Vamos	lá!
O	trio	disparou	a	correr	pela	trilha	da	selva.	Quando	chegaram	perto	do	fim,
Han	acenou	para	que	esperassem	enquanto	ele	esquadrinhava	o	campo	de	pouso
com	cuidado.	Não	viu	nenhum	guarda...	aparentemente	todos	eles	ainda
enfrentavam	o	incêndio	ou	estavam	no	centro	administrativo.
Mesmo	assim,	eles	avançaram	cuidadosamente,	com	armas	de	raios	em	riste,
todos	os	sentidos	atentos	a	movimentos	ou	sons.
Quando	Han	alcançou	a	Talismã	,	digitou	com	rapidez	na	tranca	o	código	de
acesso	que	Bria	lhe	dera,	e	os	três	subiram	a	rampa.
A	Talismã	era	um	pouco	maior	que	a	Sonho	Ylesiano	,	em	forma	de	lágrima,
com	uma	quilha	protuberante.	Porém,	em	vez	de	um	porão	de	carga,	a	maior
parte	do	interior	era	dedicada	a	luxuosos	aposentos	de	passageiros	e	amenidades.
Era	dividida	e	desenhada	para	os	T’landa	Til,	então	apenas	a	cabine	de	pilotagem
tinha	assentos	no	estilo	humanoide.	Havia	uma	pequena	cama	de	tamanho

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