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SUMÁRIO
Capa
Créditos
O	que	é	a	Fé	Reformada?
Definindo	a	Questão
Existem	Fontes	de	Autoridade?
Diferenças	de	Opiniões	sobre	as	Definições
É	possível	Identificar	Características	da	Fé	Reformada?
Os	Temas	Dominantes	da	Fé	Reformada
Por	que	a	Fé	Reformada?
Introdução
A	Grandeza	de	Deus	e	de	Sua	Glória
A	Pequenez	e	a	Depravação	do	Homem
A	Graça	da	Obra	Redentora	de	Cristo
Uma	Visão	Otimista	do	Futuro
A	Mensagem	da	Reforma	para	os	Dias	de	Hoje
Porque	Lembrar	a	Reforma
Distorções	verificadas	na	Lembrança	da	Reforma
Esquecimento	doutrinário	dos	princípios	da	Reforma
Considerações	Práticas	sobre	a	Reforma	e	os	Reformadores
A	Mensagem	da	Reforma	para	os	dias	de	hoje
Conclusão
Nossos	livros
Mídias
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O	QUE	É	A	FÉ	REFORMADA?
Autores:	John	Richard	De	Witt;	Terry	L.	Johnson;	F.	Solano	Portela
Segunda	Edição	digital	–	Agosto	de	2017
É	proibida	a	reprodução	total	ou	parcial	desta	publicação,	sem	autorização	por	escrito	dos	editores,
exceto	citações	em	resenhas.
Editor:	Manoel	Canuto
Tradutora:	Luciana	Heyse	(Cap.	1	e	2)
Revisor:	F.	Solano	Portela
Designer:	Heraldo	Almeida
©	Can	Stock	Photo	/	csp26774497
O	QUE 	É 	A 	FÉ 	REFORMADA?
John	Richard	De	Witt
U
Definindo	a	Questão
ma	das	grandes	questões	que	nós	temos	que	encarar	constantemente,	como
cristãos	evangélicos	de	convicções	reformadas,	é	a	questão	da	identidade.
O	 Assunto	 apresentado	 através	 daquela	 pergunta	 reiterada	 com	 frequência:	 O
que	é	que	significa	ser	reformado?	E	ainda	mais	precisamente:	O	que	significa
ser	reformado	não	apenas	no	sentido	histórico	da	palavra,	mas	no	contexto	atual,
na	situação	em	que	nos	encontramos	na	igreja,	na	nação	e	no	mundo?
Temos	 a	 intenção,	 é	 claro,	 de	 sermos	 fiéis	 à	 nossa	 herança,	 à	 grande
tradição	 na	 qual	 nós	 nos	 encontramos	 e	 que	 deu	 expressão	 tão	 brilhante	 e
convincente	às	verdades	da	Palavra	de	Deus,	afirmadas	pela	igreja	Cristã	antiga
e,	num	certo	sentido,	 redescobertas	na	época	da	Reforma	protestante.	Mas	esta
nossa	intenção,	de	nos	atermos	ao	que	é	bom,	requer	mais	do	que	uma	afirmação
de	 determinação.	Ela	 também	demanda	 definição	 contemporânea	 e	 claramente
clama	 por	 um	 delineamento	 que	 fará,	 para	 nosso	 próprio	 tempo,	 o	 que	 outros
fizeram	em	gerações	anteriores.	Sempre	temos	de	nos	relembrar,	a	nós	mesmos,
que	 não	 fazemos	 teologia	 num	vácuo;	 que	 a	 ciência	 da	 teologia	 não	 começou
com	a	nossa	entrada	no	mundo.	Às	vezes	tem-se	a	impressão,	pela	forma	como
alguns	 pregam	 e	 escrevem,	 que	 toda	 a	 cristandade	 esperava	 pelo	 advento	 dos
seus	ministérios,	e	que	é	somente	por	meio	deles,	e	pelo	que	têm	a	dizer,	que	a	fé
cristã	começou	a	 fazer	sentido	e	a	ser	entendida	em	todas	as	suas	 implicações.
Mas	 tal	 abordagem	 é	 totalmente	 inaceitável;	 aqueles	 que	 falam	 dessa	maneira
introduzem,	 ao	mesmo	 tempo,	 seus	 próprios	 absurdos	 como	 se	 eles	 fossem	 o
próprio	evangelho	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo.	Devem,	assim,	ser	repreendidos
e	seu	ensino	deve	ser	repudiado.
Deveríamos	 dizer	 de	 uma	 vez	 por	 todas	 que,	 mesmo	 a	 partir	 de	 uma
perspectiva	histórica,	não	é	fácil	chegar	a	uma	definição	breve	e	satisfatória	do
que	significa	ser	Reformado.	Essa	é	sem	dúvida	a	questão;	isso	por	uma	série	de
razões.
Existem	Fontes	de	Autoridade?
Em	primeiro	lugar	porque	não	existe	uma	única	fonte	à	qual	poderíamos	recorrer
em	 busca	 de	 uma	 expressão	 que	 defina	 com	 autoridade	 a	 fé	 Reformada.
Certamente	devemos	muito	a	João	Calvino.	Mas	também	devemos	grandemente
a	muitos	outros:	a	Agostinho	por	exemplo,	bem	como	a	Anselmo,	e	a	Martinho
Lutero.	Além	do	mais,	esses	homens,	não	importa	quão	grandes	possam	ter	sido,
eles	não	tinham	a	pretensão	de	estar	falando	com	uma	autoridade	equivalente	à
autoridade	 da	 revelação	 divina,	 ou	 de	 forma	 tal	 que	 toda	 a	 igreja	 fosse
constrangida	 a	 lhes	 obedecer.	No	Cristianismo	evangélico	não	 existe	 papa	que
pode	 falar	 ex	 catedra,	 e	 assim	 impor	 pronunciamentos	 infalíveis	 aos	 fiéis.
Frequentemente	digo	aos	meus	alunos	que,	se	é	para	aprender	qual	foi	a	posição
Reformada	 nesse	 ou	 naquele	 ponto	 de	 doutrina	 —	 se	 for	 para	 adquirirmos
qualquer	 coisa	 como	 um	 entendimento	 oficial	 da	 fé	 Reformada	—	 temos	 que
olhar	não	para	os	escritos	dos	teólogos,	mas	sim	para	as	confissões	das	igrejas:	a
confissão	Belga,	o	catecismo	de	Heidelberg,	a	Segunda	Confissão	Helvética,	os
Cânones	 de	 Dort,	 a	 Confissão	 de	 Fé	 de	 Westminster	 e	 seus	 respectivos
catecismos.	 Assim	 chegamos	 mais	 próximo	 de	 um	 consensus	 ecclesiae,	 um
consenso	 da	 igreja,	 nesses	 momentos	 específicos	 da	 história,	 com	 relação	 ao
ensino	da	palavra	de	Deus.
Diferenças	de	Opiniões	sobre	as	Definições
Também	é	verdade	que	ser	Reformado	quer	dizer	coisas	diferentes	para	pessoas
diferentes.	Alguns	tendem	a	identificar	a	fé	Reformada	com	os	cinco	pontos	do
calvinismo,	esquecendo	que	aqueles	cinco	pontos	são	apenas	uma	expressão	da
fé	 —	 constituindo-se	 uma	 expressão	 importante	 —	 contra	 um	 erro	 que	 se
infiltrou	no	começo	do	século	dezessete.	Os	Cânones	de	Dort	continuam	sendo
de	extremo	valor;	 e	 eu	particularmente	acho	 inconcebível	que	qualquer	pessoa
possa	 afirmar	 ser	 reformado	 se	 os	 repudiar.	 Acima	 de	 qualquer	 disputa	 no
entanto,	a	Fé	Reformada	é	muito	mais	abrangente	e	de	alcance	muito	mais	amplo
do	que	aqueles	cinco	pontos.É	muito	injusto	àquela	fé	quando	alguém	restringe
seu	conteúdo	a	uma	única	área	de	doutrina,	por	mais	essencial	que	seja.
É	possível	Identificar	Características	da	Fé
Reformada?
Isso	 nos	 leva	 a	 considerar,	 até	 que	 ponto	 pode	 ser	 possível	 isolar	 e	 identificar
certos	temas	característicos	da	fé	Reformada?	Como	poderemos	tentar	descrever
a	 genialidade	 desta	 fé?	 O	 que	 pode	 ser	 identificado	 no	 Calvinismo	 que	 seja
distinto	 e	 qual	 a	 melhor	 definição	 que	 pode	 aproximar-se	 do	 seu	 conceito
completo?
Muitas	respostas	a	essas	perguntas	foram	dadas,	nenhuma	delas	totalmente
satisfatória.	No	 entanto	 não	 devemos	 perder	 a	 esperança.	 Sugiro	 que	 nós	 aqui
não	devemos	pensar	meramente	num	único	tema	dominante,	mas	sim	numa	série
de	temas	que	se	relacionam	uns	com	os	outros	e	que	contribuem,	cada	um	na	sua
própria	 forma,	 para	 uma	 compreensão	 maravilhosamente	 harmônica	 e
eminentemente	bíblica	da	fé	Cristã.	Esses	temas	não	são	isolados	uns	dos	outros;
mas	se	encaixam	uns	nos	outros;	eles	são	os	fios	verticais	e	horizontais	que	se
entrelaçam	formando	o	 tecido	da	nossa	posição	 teológica	e	espiritual.	Eles	não
devem	ser	entendidos	de	maneira	desconexa,	sem	relação,	mas	devem	antes	ser
tomados	como	um	conjunto.	Mencionarei	vários	deles	agora;	admito	porem	que
os	 temas	 que	 incluo	 não	 excluem	 outros	 e	 que	 a	 minha	 tentativa	 de	 discutir
aquilo	que	constitui	a	genialidade	da	fé	Reformada	é	uma	discussão	preliminar	e
provisória.
Os	Temas	Dominantes	da	Fé	Reformada
1)	A	Doutrina	das	Escrituras:	Em	primeiro	lugar,	extremamente	básica	para	a	fé
Reformada	é	a	sua	doutrina	das	Escrituras.	De	fato,	num	ensaio	recente	em	que
procura	 definir	 o	 tema	 em	 que	 a	 fé	 Reformada	 encontra	 sua	 singularidade,	 o
Professor	Fred	H.	Klooster	sugere	que	pode	se	dizer	ser	a	doutrina	da	Escritura
‘‘toda	e	por	inteiro’’	(sola	e	tota	Scriptura).	1	Num	certo	sentido	Doutor	Klooster
está	certo	segundo	qualquer	padrão.	A	Reforma	redescobriu	e	acentuou	de	novo
e	 autoridade	 da	 Bíblia.	 Ela	 derrubou	 a	 tirania	 de	 uma	 hierarquia	 eclesiástica
corrupta	que	se	tinha	colocado	acima	da	Palavra	de	Deus.	A	Reforma	e	repudiou
a	autoridade	da	tradição	eclesiástica	coordenada	com	aquela	palavra,	insistindo,
com	 um	 vigor	 proveniente	 de	 uma	 recém	 descoberta	 verdade,	 de	 que	 Jesus	 é
Mestre	em	Sua	própria	casa;	que	Ele	fala	ao	Seu	povo	através	da	Sua	Palavra;	e
que	esta	“palavra	é	o	meio	pelo	qual	Ele	chama	pecadores	para	Si,	 reinando	e
subordinando-os	ao	Seu	senhorio”.
Atualmente	 um	 amplo	 debate	 está	 se	 alastrando	 sobrea	 questão	 da
inspiração	e	sobre	um	assunto	correlato:	a	inerrância	das	Escrituras.	Verifica-se
um	endurecimento	notável	das	 linhas	em	todas	as	 frentes:	alguns	considerando
heréticos	 aqueles	 que	 não	 concordam	 com	 sua	 própria	 abordagem	da	 posição,
apesar	deles	poderem	ser	Cristãos	evangélicos	e	de	viverem	em	harmonia	com	as
principais	 doutrinas	 da	 fé;	 outros,	 declarando	 que	 são	 obscurantistas	 e	 anti-
intelectuais	aqueles	que	querem	insistir	no	caráter	divino	da	palavra	deDeus.	2
Não	 sabemos,	 com	 detalhe,	 como	 foi	 que	 Deus	 deu	 a	 Sua	 Palavra.	 Na
verdade,	 sabemos	que	Ele	 deu	 partes	 da	Bíblia	 de	maneira	 diferente	 de	 outras
partes:	os	dez	mandamentos	por	exemplo,	 foram	escritos	pelo	dedo	do	próprio
Deus,	 enquanto	 que	 os	 Evangelhos	 foram	 escritos	 por	 meio	 de	 lembranças
inspiradas,	 o	 uso	 de	 testemunhas,	 e	 —	 no	 caso	 de	 Lucas	 nos	 é	 dito
especificamente	 —	 investigação	 histórica,	 e	 tudo	 isso,	 além	 de	 sua	 forma
peculiar,	 com	 um	 propósito	 teológico	 muito	 definido	 em	 mente.	 Também	 é
perfeitamente	aparente	que	a	humanidade	e	a	individualidade	dos	escritores	das
Escrituras	 foram	 totalmente	 reconhecidas	 e	 levadas	 em	 consideração	 pelo
Espírito	 Santo	 no	 processo	 de	 inspiração.	 Como	 resultado	 disso,	 vemos	 que
Amós	e	Isaías	escreveram	livros	muito	diferentes,	com	estilos	muito	diferentes,
mostrando	 origens	 muito	 diferentes;	 Paulo	 e	 João,	 semelhantemente,
demonstram	 qualidades	 marcantes	 de	 suas	 próprias	 mentes	 e	 corações,	 dando
expressão	a	diferentes	aspectos	da	verdade,	escrevendo	em	estilos	incrivelmente
diferentes,	 demonstrando	 igualmente	 experiências	 e	 intelectos	 afiados	 e
exaltados,	 no	 entanto	 totalmente	 distintos.	 Tudo	 isso	 não	 deveria	 causar
inquietação	 alguma.	 Pelo	 contrário,	 deveria	 causar	maior	 adoração	 e	 louvor	 a
Deus,	de	nossa	parte;	a	Deus	que,	por	meio	da	superintendência	soberana	do	Seu
Espírito,	nos	deu	a	Sua	Palavra	de	 tal	 forma	que	 Isaías	continuou	sendo	 Isaías
em	tudo	que	escreveu,	e	Paulo	continuou	sendo	Paulo,	enquanto	que	o	resultado
é	a	santa	e	infalível	Palavra	de	Deus.
Na	tradição	Reformada	no	entanto,	em	sua	melhor	e	mais	elevada	forma,	a
ênfase	 não	 caiu	 na	 maneira	 de	 inspiração,	 ou	 numa	 definição	 técnica	 do
significado	 dos	 vários	 atributos	 da	 Escritura	 tomados	 por	 eles	 mesmos	 (sua
perfeição,	clareza,	suficiência	e	necessidade),	mas	na	sua	autoridade.	É	quando
abordamos	 as	 Escrituras	 desta	 perspectiva,	 eu	 creio,	 que	 somos	 capazes	 de
compreender	 o	 significado	 dos	 vários	 adjetivos	 que	 usamos	 para	 descrever	 a
Bíblia.	A	Bíblia	é	autoritativa:	e	muito	mais	do	que	isso,	ela	é	absolutamente,	e
em	última	instância,	autoritativa.	Ela	não	erra	e	não	pode	errar,	e	nunca	jamais
nos	 desviará.	 Podemos	 repousar	 no	 seu	 ensino,	 confiar	 nela	 completamente,
depender	 dela	 para	 tudo	que	precisamos	 saber	 para	 viver	 e	morrer	 de	maneira
feliz.	3	“Todo	o	conselho	de	Deus	concernente	a	todas	as	coisas	necessárias	para
a	glória	dele	e	para	a	salvação,	fé	e	vida	do	homem”,	afirma	a	Confissão	de	Fé
de	Westminster,	“ou	é	expressamente	declarado	na	Escritura	ou	pode	ser	lógica	e
claramente	 deduzido	 dela.	 À	 Escritura	 nada	 se	 acrescentará	 em	 tempo	 algum,
nem	por	novas	revelações	do	Espírito,	nem	por	tradições	dos	homens”.	4	Quando
as	Escrituras	 falam,	então,	nós	obedecemos.	Quando	ela	afirma	a	verdade,	nós
submetemos	nossos	corações	e	nossas	mentes	a	ela	com	alegria	e	com	regozijo.
Mas	com	base	em	quê?	Qual	é	a	base	para	a	nossa	aceitação	da	autoridade
das	 Escrituras?	 Como	 é	 que	 sabemos	 o	 que	 afirmamos	 ser	 verdade?	 Estas
questões	não	são	novas,	e	continuamos	a	lutar	com	elas.	Estamos	persuadidos	da
autoridade	 das	 Escrituras	 porque	 podemos	 desvendar	 todos	 os	 seus	 segredos,
resolver	toda	dificuldade,	e	harmonizar	cada	aparente	discrepância?	Porque	com
nossas	próprias	mentes	somos	capazes	de	desvendar	e	penetrar	 seus	mistérios?
Aqui,	Calvino	—	o	teólogo	do	Espírito	Santo	—	é	de	ajuda	inestimável	para	nós,
e	 dando	 sequência	 a	 Calvino	 temos	 a	 Confissão	 de	 Fé	 de	 Westminster.	 Nós
sustentamos	que	a	Bíblia	é	um	livro	singular:	vemos	a	sua	singularidade	e	somos
por	ela	afetados.	Sua	unidade	extraordinária,	apesar	de	ter	sido	escrita	ao	longo
de	vários	séculos,	seu	estilo	majestoso,	seu	conteúdo	glorioso,	sua	consistência
maravilhosa,	seu	registro	marcante	de	profecia	e	do	seu	cumprimento	—	todas
estas	 coisas	 nos	 movem	 a	 uma	 piedosa	 exclamação.	 Mas	 não	 se	 trata	 de
nenhuma	dessas	coisas,	nem	 todas	elas	 tomadas	 juntas,	 sendo	citadas,	que	nos
convencem,	 nos	 persuadem	 e	 nos	 movem	 a	 obedecê-la.	 Antes,	 a	 base	 de
autoridade	indispensável,	bíblica	e	singularmente	convincente,	é,	como	Calvino
jamais	 se	 cansou	 em	 insistir,	 o	 testemunho	 do	 Espírito	 Santo.	 Nós	 cremos	 na
Bíblia	porque	ela	é	a	Palavra	de	Deus:	mas	nós	sabemos	que	é	a	Palavra	de	Deus
por	causa	do	testemunho	do	Espírito	Santo.	Quando	falhamos	em	compreender
isso,	 quando	 nós	 separamos	 a	 autoridade	 das	 Escrituras	 do	 testemunho	 do
Espírito	 —	 estamos	 ao	 mesmo	 tempo	 em	 perigo	 de	 esfriamento	 espiritual	 e
somos	 presas	 fáceis	 de	 debates	 estéreis	 que	 são	 improdutivos	 e,	 no	 final,
insensatos.
Na	tradição	Reformada,	portanto,	nossa	doutrina,	e	 também	nosso	sistema
organizacional,	 nosso	 louvor,	 nossa	vida	pública	 e	privada	 como	cristãos,	 bem
como	aqueles	que	fazem	parte	da	igreja,	estão	sob	a	autoridade	suprema	da	voz
do	 Deus	 vivo	 falando	 a	 nós	 nas	 Escrituras.	 Pois	 para	 nós	 a	 Bíblia	 não	 é
simplesmente	 um	 livro,	 mas	 trata-se	 do	 livro	 de	 Deus:	 não	 é	 apenas	 uma
coletânea	 de	 proposições,	 mas	 tratam-se	 das	 palavras	 do	 Senhor	 Vivente.
“Credibilidade	de	Doutrina”,	disse	Calvino,	“não	é	estabelecida	até	que	sejamos
persuadidos,	 acima	 de	 qualquer	 dúvida,	 de	 que	 Deus	 é	 Seu	 Autor.	 Assim,	 a
maior	prova	das	Escrituras	é	derivada	em	geral	do	 fato	que	Deus	em	pessoa	é
quem	nela	fala”.	5
2)	 A	 Soberania	 de	 Deus:	 A	 Fé	 Reformada	 também	 é	 caracterizada	 pela
insistência	de	que	Deus	deve	ser	conhecido	e	adorado	como	o	Deus	Soberano.
Alguns	fariam	desta	soberania	a	sua	característica	maior.	Num	certo	sentido	essa
ideia	 estaria	 correta,	 especialmente	 quando	 a	 fé	 Reformada	 é	 comparada	 com
outras	 tradições	 teológicas,	 onde	 a	 grandeza	 e	 a	 majestade	 de	 Deus	 são
insuficientemente	apreciadas	ou	mesmo	perdidas	de	vista.	Deus	é	Rei,	e	não	o
homem!	Num	mundo	em	queexiste	uma	crise	na	doutrina	da	providência	divina,
como	 aponta	 o	 professor	 G.C.	 Berkouwer	 no	 seu	 brilhante	 volume	 sobre	 a
providência	de	Deus,	o	Calvinista	insiste	que	Deus	é	Senhor,	e	que	Ele	reina	na
História	e	sobre	todo	universo;	que	Ele	é	livre,	independente	de	qualquer	força
ou	ser	fora	dEle;	que	Ele	conhece	o	fim	desde	o	começo;	que	Ele	cria,	sustém,
governa	e	direciona;	que	no	dia	do	Senhor,	o	maravilhoso	desígnio	que	Ele	teve
desde	o	começo	será	completamente	manifestado	—	completo,	e	perfeito,	afinal.
6	 Nada	 pode	 parar	 ou	 retardar	 o	 progresso	 da	 chamada	 dos	 seus	 eleitos,	 da
edificação	da	sua	igreja,	da	vinda	do	seu	reino,	no	espaço	—	até	o	mais	alto	grau
de	extensão	da	vasta	criação	de	Deus,	ou	no	tempo	—	até	o	fim	dos	tempos.
Não	temos	a	intenção	de	entender	o	mistério	das	transações	de	Deus	com	o
mundo.	Sempre,	de	novo,	deixamos	de	encontrar	uma	explicação	para	o	horror,	o
sofrimento	 e	 a	 morte	 que	 vemos	 ao	 nosso	 redor.	 Algumas	 coisas	 podem	 ser
compreendidas	como	parte	de	um	todo	coerente.	Mas	existe	muito	que	nós	não
sabemos	e	jamais	poderemos	vir	a	saber	nesta	vida	e	neste	mundo.	Os	Cristão	às
vezes	têm	sido	tentados	até	mesmo	a	duvidar,	não	só	da	Onipotência	e	Bondade
de	Deus,	mas	 até	 da	própria	 existência	do	Deus	mesmo.	 James	Walker	 na	 sua
Teologia	e	Teólogos	da	Escócia	 tem	um	parágrafo	 fascinante	 sobre	 as	dúvidas
religiosas	de	alguns	dos	grandes	personagens	da	história	da	igreja	Escocesa.	Diz-se	 que	 Robert	 Bruce	 “uma	 das	 figuras	 mais	 dominantes	 na	 nossa	 história
religiosa,	 sobre	 cujas	 palavras	 havia	 um	 certo	 poder	 de	 soberano	 que	 elas
pareciam	 que	 vinham	 como	 se	 fossem	 diretamente	 do	 santuário”,	 costumava
dizer,	 “É	 uma	 grande	 coisa	 crer	 em	Deus”.	E	Samuel	Rutherford,	 falando	 das
dúvidas	 ateístas	 pelas	 quais	 bons	 homens	 são	 de	 vez	 em	 quando	 assaltados,
comenta	 num	 parêntese	 condescendente,	 Expertus	 Loquor	 (ele	 fala	 de
experiência	 própria).	 James	 Renwick,	 o	 último	 dos	 Covenanters	 (homens	 do
Pacto)	a	ser	condenado	a	morrer	publicamente	pela	causa	do	Pacto,	 falando	de
suas	 lutas	 juvenis	 para	 chegar	 a	 uma	 fé	 firme	 e	 sem	 hesitação	 “descreve	 sua
agonia	imensurável	naquela	tempestade	de	alma	que	ameaçava	engolir	todas	as
suas	convicções	e	esperanças	mais	doces.	Estando	nos	campos	e	olhando	para	as
montanhas,	 ele	 disse,	 ‘Se	 todas	 estas	 fossem	 fornalhas	 devoradoras	 de	 pedras
ardentes,	eu	estaria	contente	de	passar	por	elas,	se	por	esse	meio	eu	pudesse	ter	a
certeza	de	que	existe	um	Deus’”.
Procuramos	 nos	 relembrar,	 no	 entanto,	 das	 palavras	 sábias	 do	 grande
teólogo	Herman	Bavinck	que	certa	vez	escreveu:	“Mistério	é	o	elemento	vital	da
Teologia...	A	verdade	que	Deus	revelou	concernente	a	Ele	mesmo	na	natureza	e
nas	Escrituras	vai	muito	além	do	que	o	homem	pode	conceber	e	da	compreensão
humana.	Nesse	sentido	a	Teologia	se	ocupa	especificamente	com	mistério,	pois
não	 trata	de	 criaturas	 finitas,	mas	do	 início	 ao	 fim	 se	 eleva	acima	de	qualquer
criatura	ao	próprio	Ser	Eterno	e	Infinito”.	7	Apesar	de	não	entendermos	muitas
coisas	 completamente,	 a	 despeito	 disso,	 louvamos	 e	 adoramos	 a	 Ele;	 nos
ajoelhamos	perante	o	Seu	trono,	de	quem	e	por	quem	e	para	quem	são	todas	as
coisas.	A	Ele	somente	seja	a	glória	para	sempre	[Rm	11:36]!
3)	 A	 Primazia	 da	 Graça	 de	 Deus:	 Outro	 distintivo	 principal	 da	 Fé
Reformada	é	sua	constante	insistência	sobre	a	invencibilidade	da	graça	de	Deus.
Falamos	muito	 das	 doutrinas	 da	 graça;	 e	 o	 fazemos	 com	 razão.	 Enquanto	 que
existe	no	ensino	das	Escrituras	bem	mais	do	que	os	cinco	pontos	do	Calvinismo
—	as	doutrinas	da	eleição,	 redenção	particular	 (expiação	 limitada),	depravação
total,	graça	irresistível,	e	a	perseverança	dos	santos	—	ainda	assim	estas	grandes
verdades	 estão	 no	 cerne	 da	 nossa	 proclamação;	 e	 temos	 de	 anunciá-las	 sem
vergonha	 e	 com	 grande	 entusiasmo.	 Com	 certeza,	 não	 pregamos	 sempre	 a
eleição	 divina:	 fazê-lo	 seria	 pregar	 sem	 a	 perspectiva	 bíblica.	 O	 próprio	 João
Calvino	 é	 muito	 mais	 cuidadoso	 do	 que	 muitos	 Calvinistas,	 neste	 sentido.
Embora	exalte	 a	 soberania	de	Deus	em	 todos	os	 sentidos,	 e	 a	 exalta,	portanto,
também	com	relação	à	salvação,	somente	quando	ele	começa	a	falar	de	salvação
—	da	soteriologia	—	é	que	ele,	nas	suas	Institutas,	faz	uma	discussão	plena	da
doutrina	da	eleição.	8	Este	fato	é	de	grande	significância.	A	eleição	sempre	deve
ser	colocada	no	contexto	bíblico;	e	isso	é	geralmente	porém	não	exclusivamente,
o	contexto	do	desígnio	redentor	de	Deus.
Certamente	 é	 também	 dentro	 deste	 contexto	 que	 nós	 devemos	 colocar	 a
enorme	 importância	 da	 redenção	 particular,	 da	 expiação	 particular.	 Alguns
fizeram	comentários	sem	compreensão	sobre	esta	doutrina	e	supõem	ser	este	o
tendão	de	Aquiles	do	Calvinismo.	9	Mas	esse	não	é	o	caso	completo	e	fazer	tal
asserção	 se	 trata	 de	 ser	 passível	 de	 culpa	 de	 presunção	 e	 de	 elevada
impertinência.	A	nossa	doutrina	da	 eficácia	da	obra	 expiatória	de	Cristo,	 é	 em
primeiro	 lugar,	uma	das	glórias	e	 forças	da	Fé	Reformada.	Por	que	falamos	da
morte	de	Cristo	do	 jeito	que	falamos?	Por	que	é	 tão	essencial	que,	com	toda	a
vastidão	 das	 implicações	 da	 cruz,	 nós	 continuamente	 enfatizamos	 a	 sua
particularidade?	Por	que	insistimos	que	aqueles	por	quem	nosso	Senhor	sofreu	e
morreu,	 são	 também	 aqueles	 que	 serão	 levantados	 e	 exaltados	 com	 Ele	 e	 se
assentarão	 nos	 lugares	 celestiais,	 com	Ele?	Certamente	 a	 resposta	 só	 pode	 ser
que	o	que	está	em	jogo	aqui	é	a	 invencibilidade	da	graça	de	Deus.	O	nome	do
nosso	Senhor	é	Jesus,	porque	Ele	salva	o	seu	povo	dos	Seus	pecados.
4)	 A	 Integração	 de	 Doutrina	 com	 a	 Vida	 Cristã:	 A	 Fé	 Reformada,
igualmente,	 acentua	 a	 doutrina	 bíblica	 da	 vida	 cristã.	 Quantas	 têm	 sido	 as
aberrações	nesta	área!	Em	alguns	pontos	da	história	a	vida	cristão	foi	entendida
em	termos	de	ascetismo	e	do	abandono	da	vida	neste	mundo	presente.	Os	cristão
até	mesmo	foram	divididos	em	duas	categorias:	de	um	lado,	aqueles	chamados
ao	plano	mais	alto	de	isolamento	monástico	e	auto-negação,	expressando	isso	em
votos	de	pobreza,	castidade	e	obediência;	do	outro	 lado,	aqueles	que	não	eram
capazes	 de	 atingir	 este	 padrão	 mas	 viviam	 no	 nível	 inferior	 e	 ordinário	 da
experiência	humana.	Quase	que	o	mesmo	tipo	de	concepção	também	prevaleceu
em	 certos	 meios	 mais	 evangélicos:	 por	 exemplo,	 onde	 crentes	 têm	 sido
agrupados	 em	duas	 categorias,	 aqueles	 da	vida	de	 fé	 vitoriosa,	 e	 aquele	 grupo
dos	não-vitoriosos,	da	vida	carnal,	que,	apesar	de	cristãos,	não	eram	da	mesma
qualidade	 ou	 caráter	 dos	 outros.	 Numa	 outra	 nuança	 deste	 mesmo	 esquema,
existem	 cristãos	 que	 conhecem	 ao	 Senhor	 somente	 como	 Salvador;	 e	 existem
cristãos	 que	 O	 conhecem	 tanto	 como	 salvador	 como	 Senhor.	 Às	 vezes	 tem
havido	também	uma	insistência	sobre	o	caráter	privado	da	verdadeira	vida	cristã.
Toda	a	ênfase	recaiu	então	sobre	a	vida	da	alma	na	presença	de	Deus,	num	tipo
de	experiência	cristã	mística	que	tinha	a	tendência	de	ignorar	as	outras	relações
da	 vida	 e	 tinha	 pouco	 a	 ver	 com	 a	 vida	 corporativa	 do	Cristianismo.	Alguém
também	pode	levantar	uma	tendência	marcante,	aqui	e	ali,	de	se	retrair	da	vida,
como	se	o	Cristão	não	pudesse	viver	no	mundo,	como	se	a	vida	no	mundo	fosse
algo	que	o	crente	devesse	evitar	o	mais	que	pudesse.	Eu	me	refiro	aqui,	é	claro,	à
mentalidade	de	gueto	que	 tem	caracterizado,	com	muita	 frequência,	as	pessoas
que	se	descrevem	como	cristãos	bíblicos.
A	 Fé	 Reformada,	 com	 sua	 compreensão	 firme	 da	 doutrina	 do	 pacto	 da
graça,	tem	insistido	numa	vida	Cristã	de	grande	amplitude	e	de	órbita	completa:
uma	vida	vivida	no	mundo,	mas	ao	mesmo	tempo	uma	vida	que	não	é	orientada
para	 o	 mundo	 e	 seus	 padrões;	 uma	 vida	 que	 enfatiza	 a	 “Cristianização”	 dos
relacionamentos	—	por	exemplo,	o	lar	e	a	família.	Onde	é	que	alguém	encontra	a
prática	do	culto	doméstico?	Onde	é	que	alguém	procura	pelo	conceito	da	igreja
como	 uma	 coleção	 de	 famílias,	 ou	 como	 ela	 própria	 sendo	 a	 família?	 Além
disso,	 a	 ideia	 Reformada	 da	 vida	 Cristã	 é	 a	 de	 uma	 vida	 vivida	 no	 mundo,
cumprindo	 com	 as	 obrigações	 e	 as	 responsabilidades	 de	 tal	 vida,	 dando
testemunho	da	fé	que	está	em	Jesus	Cristo,	no	sentido	de	ser	sempre	coram	Deo,
na	presença	de	Deus.	10
5)	 A	 Relação	 entre	 Lei	 e	 Evangelho:	 A	 Fé	 Reformada	 também	 tem	 sido
caracterizada	 por	 um	entendimento	 claro	 da	 distinção	 e	 da	 relação	 entre	Lei	 e
Evangelho.	 Uma	 das	 diferenças	 que	 mais	 impressionam	 no	 Protestantismo
histórico	 é	 encontrado	 neste	 ponto.	 Os	 Luteranos	 sempre	 acusaram	 os
Calvinistas	 de	 confusos	 a	 esse	 respeito.	 Apesar	 de	 Lutero	 e	 Calvino,
formalmente,	terem	um	só	pensamento	no	seu	entendimento	do	uso	triplo	da	Lei,
ainda	assim	a	ênfase	de	Lutero	era	no	primeiro	uso	da	Lei,	enquanto	que	Calvino
enfatizava	o	terceiro,	o	chamado	“uso	prático”	(usus	practicus).	11	A	Lei	é	nossa
pedagoga	de	Cristo	 como	o	Novo	Testamento	 claramente	nos	 ensina;	 porém	é
mais	 do	 que	 isso;	 ela	 é	 também	 o	 nosso	 amado	 e	 santo	 guia	 para	 a	 vida	 de
obediência	e	fé.	Aqui	a	instrução	do	apóstolo	Paulo	é	paradigmática	para	o	Novo
Testamento	como	um	todo	[Rm	8:	3,4].	A	Lei	não	é	o	Evangelho:	não	é	um	meio
de	vida	ou	um	meio	para	se	viver.	Mas	nós	também	prosseguimos	e	declaramos
que	o	Evangelho	não	o	é	sem	a	lei;ele	é	um	meio	de	vida,	o	meio	de	vida	para	o
povo	 de	 Deus.	 Se	 a	 santa	 Lei	 de	 Deus	 é	 de	 fato	 um	 reflexo	 da	 santidade	 do
próprio	Deus,	então	também	o	crente	apesar	de	estar	livre	da	Lei	como	um	meio
de	 vida,	 continua	 numa	 relação	 de	 alegre	 obediência	 à	Lei	 que	Deus,	 em	Sua
livre	misericórdia,	lhe	deu.	Além	disso,	faz	parte	do	que	nós	entendemos	que	as
escrituras	ensinam,	que	a	lei	de	Deus	tem	as	suas	implicações	para	a	sociedade
em	geral,	o	usus	politicus.
Aqui	 novamente	 está	 um	 aspecto	 da	 verdade	 que	 precisa	 ser	 diariamente
pregado	 e	 a	 cada	 hora,	 em	 nossa	 presente	 situação	 social.	 Num	 tempo	 de
impiedade	disseminada,	quando	parece	não	existir	mais	nenhuma	noção	clara	de
princípios	morais	absolutos	e	normativos;	quando	o	dia	do	Senhor	é	pisado	e	a
vida	humana	é	barata,	facilmente	abortada,	e	a	razão	de	ser	disso,	justificada	até
mesmo	 pela	 suprema	 corte	 do	 país;	 quando	Deus	 é	 zombado	 e	 seus	 preceitos
desafiados,	 e	 existe	 perigo	 exatamente	 e	 precisamente	 nesta	 narrativa	 e	 neste
registro	de	eventos	de	um	abandono	divino	de	toda	a	nossa	ordem	social,	como
consequência	 de	 nossa	 mesquinharia,	 desejos	 e	 impureza	 (Rm	 1:18ss.);	 nesta
situação,	com	certeza	a	igreja	de	Cristo	precisa	declarar	com	convicção	óbvia	e
com	vigor	que,	de	Deus	não	se	zomba	e	que	Sua	santa	Lei	não	pode	ser	deixada
de	lado	sem	que	haja	punição.
6)	 O	 Relacionamento	 entre	 o	 Reino	 de	 Deus	 e	 o	 Mundo:	 Outra
característica	principal	da	Fé	Reformada	tem	sido	sua	visão	positiva	e	afirmativa
daquilo	que	talvez	eu	possa	chamar	de	relacionamento	entre	o	reino	de	Deus	e	o
mundo.	 Neste	 ponto	 as	 opiniões	 não	 têm	 sido	 uniformes,	 e	 nem	 todos	 os
teólogos	Reformados	têm	estado	preparados	para	falar	livre	e	facilmente	da	ideia
do	 “mandato	 cultural”,	 como	 alguns	 outros	 o	 fazem.	 Não	 obstante,	 no	 seu
melhor	 e	 mais	 alto	 ponto	 a	 tradição	 teológica	 reformada	 tem	 expressado	 um
grande	 interesse	 na	 forma	 e	 cultura	 do	mundo:	 não	 no	 sentido,	 é	 claro,	 de	 se
conformar	com	o	mundo,	mas	no	sentido	de	transformação	do	mundo.	Pode-se
ver	isso	fortemente	no	próprio	Calvino,	cujos	interesses	eram	bem	mais	amplos
do	 que	 a	 proclamação	 do	Evangelho	 em	Genebra.	 12	 Esta	 proclamação	 era	 de
primeira	 importância,	 com	 certeza;	 mas	 tinha	 suas	 implicações	 ao	 longo	 do
caminho,	por	toda	a	vida	da	comunidade	e	do	estado.
A	sociedade	é	importante?	Existe	essa	coisa	de	um	“mandato	cultural”?	 13
Temos	 de	 nos	 importar	 com	 as	 condições	 sob	 as	 quais	 as	 pessoas	 vivem?	Os
famintos	devem	ser	alimentados,	os	sedentos	devem	ser	saciados,	os	perseguidos
defendidos,	 e	 os	 necessitados	 satisfeitos?	 Só	 pode	 existir	 uma	 resposta	 da
perspectiva	 Reformada.	 Com	 muita	 frequência	 o	 pensamento	 nesta	 área	 foi
insuficientemente	 ligado	ao	Evangelho;	 e	muitas	vezes	 ideias	vindas	de	outras
fontes	que	não	o	Evangelho	têm	permeado	o	que	bons	homens	pensaram	sobre	a
vida	 do	 crente	 aqui	 neste	 mundo.	 14	 Mas	 cristãos	 reformados	 creem
enfaticamente	que	a	“Ao	Senhor	pertence	a	terra	e	tudo	o	que	nela	se	contém,	o
mundo	e	os	que	nele	habitam”	(Salmo	24:1),	e	que	Ele	não	abandonou	nem	por
um	 momento	 os	 poderes	 fora	 dEle	 mesmo.	 É	 por	 isso	 que	 não	 podemos	 ser
indiferentes	aos	males	sociais,	e	à	violações	da	lei	de	Deus	na	sociedade	como
um	todo;	é	por	isso	que	devemos	nos	opor	ao	terrível	mal	do	aborto,	à	horrível
aliciação	da	corrupção	moral	perceptível	em	todo	canto,	e	também	ao	massacre
opressor	 dos	 pobres	 e	 destituídos	 que	 estão	 sob	 os	 poderosos,	 à	 opressão	 dos
fracos	e	desamparados	qualquer	que	seja	a	forma	como	se	manifeste.	Certamente
a	 transformação	 social	 não	 pode,	 em	 nenhum	 sentido,	 estar	 divorciada	 da
pregação	do	Evangelho	e	da	regeneração	de	indivíduos.	Mas	ao	mesmo	tempo	é
muito	errado	supormos	que	não	deveríamos	fazer	nada,	não	dar	testemunho,	não
exercer	 nenhuma	 influência,	 não	 ter	 visão,	 ver	 a	 nós	 mesmos	 como	 se	 não
tivéssemos	um	chamado	para	 trabalhar	para	que	a	vontade	preceptiva	de	Deus
seja	feita,	mesmo	que	um	reavivamento	e	reforma	mais	abrangentes	tardem	a	vir.
Trata-se	 de	 uma	 prostituição	 do	 conceito	 bíblico	 da	 vida	 da	 fé,	 de
considerar	 o	 Cristão	 como	 uma	 pessoa	 isolada,	 vivendo	 para	 ele	 próprio
somente,	 como	 se	 ele	 pudesse	 cumprir	 sua	 obrigação	 para	 com	Deus	 sem	 ver
todas	 as	 coisas	 como	estando	 sujeitas	 ao	Senhorio	de	 Jesus	Cristo.	Não	 temos
que	ter	medo	de	enfrentar	o	mundo,	apesar	do	seu	caráter	ser	mau	e	de	jazer	na
impiedade	(I	João	5:19).	Cristãos	Reformados	têm	desafiado	tiranos	e	destituído
esses:	 podemos	 lembrar	 de	Gaspar	 de	Coligny,	William	de	Nassau,	 o	Príncipe
d’Orange,	 John	 Knox,	 John	 Rym,	 Oliver	 Cromwell,	 Richard	 Cameron	 e	 os
Covenanters	Escoceses	 (homens	do	pacto),	John	Witherspoon	e	outros	homens
piedosos,	santos,	que	tinham	como	meta	glorificar	a	Deus	sobre	a	terra.	Esta	é	a
nossa	 herança,	 nosso	 entendimento	 do	 que	 significa	 viver	 como	Cristão	 neste
mundo,	viver	a	vida	da	 fé.	Não	há	 razão	para	 temer	a	escuridão,	 e	a	 fúria	dos
déspotas	 não	 deve	 nos	 aterrorizar.	 E	 por	 que	 deveria,	 se	 Aquele	 a	 quem
pertencemos	 nos	 disse:	 “Tende	 bom	 ânimo;	 Eu	 venci	 o	mundo”	 (João	 16:33).
Assim,	 como	 Cristãos	 nós	 trabalhamos	 rumo	 ao	 dia	 em	 que	 os	 reinos	 deste
mundo	se	tornarão	o	reino	do	nosso	Senhor	e	do	Seu	Cristo	(Ap11:15).
7)	A	 Importância	 da	 Pregação:	 Por	 fim,	 a	 teologia	Reformada	 é	marcada
também	por	uma	visão	muito	clara	de	pregação.	Talvez	eu	deveria	ter	dito:	por
uma	visão	definida	 e	 clara	 do	ministério	 e	 da	 vida	 na	 igreja	 em	 relação	 a	 ele.
Aqui,	existe	muito	em	comum	entre	 todos	os	evangélicos,	de	qualquer	período
da	história.	Isso	é	claro,	também	é	verdadeiro	das	outras	áreas	que	eu	mencionei.
Por	 exemplo,	 João	 Calvino	 não	 inventou	 a	 doutrina	 da	 predestinação.	 Assim
também	com	relação	à	pregação,	na	medida	em	que	eles	e	nós	somos	bíblicos,
evangélicos	 e	 calvinistas	 ocupam	 o	 mesmo	 campo	 e	 se	 regozijam	 na	 nossa
comunhão.	Continua	sendo	verdade,	no	entanto,	que	alguém	pode	falar	de	uma
visão	distintamente	Reformada	de	pregação.	Mas	no	que	consiste	isso?
Certamente	aqueles	que	se	apegam	à	fé	Reformada	têm	uma	visão	elevada
do	ministério	(veja	Rm	10:15).	15	Já	podemos	sugerir	e	pressupor	isso,	apesar	de
não	 termos	 dúvidas	 que	 muitos	 nas	 chamadas	 igrejas	 Reformadas	 e
Presbiterianas	 esqueceram	 sua	 própria	 herança	 a	 este	 respeito.	 A	 doutrina	 do
ministério	 que	prevalece	 em	muitas	 frentes	 é	 uma	visão	muito	 inferior	 do	que
aquela	 ensinada	 nas	 Escrituras:	 testemunhe	 a	 facilidade	 com	 que	 as
congregações	 se	 livram	 de	 pastores	 que	 possam	 tê-los	 incomodado	 de	 alguma
forma	ou	desagradado	pela	objetividade	da	sua	pregação.
Se	 temos	 uma	 visão	 elevada	 do	 ministério,	 isso	 quer	 dizer	 que	 temos
também	um	visão	elevada	da	própria	pregação	do	evangelho	em	si	 (I	Co	1:21;
Rm	10:	13-15).	É	pela	pregação	que	Deus	confronta	as	pessoas	e	as	traz	para	si,
conformando-as	 ao	 padrão	 do	 Seu	 Filho;	 de	 fato,	 é	 pela	 pregação	 que	 Jesus
Cristo	se	apresenta	aos	corações	e	às	consciências	dos	homens	(Rm	10:14).
Mas	 nós	 prosseguimos	 e	 fazemos	 a	 pergunta	 básica:	 O	 que	 caracteriza	 a
pregação	no	sentido	neo-testamentário	da	palavra?
a)	 Exposição:	 Certamente	 pregação	 é	 a	 exposição	 da	 Palavra	 de	 Deus.
Quando	estamos	lidando	com	as	Escrituras,	procurando	expô-las	temos	de	lutar
com	a	passagem	que	temos	à	nossa	frente;	 temos	de	abordá-la	exegeticamente;
temos	que	procurar	 entender	 seu	 significado;	 temos	que	procurar	 entender	 seu
significado	específico.	Outras	áreas	de	estudo	são	de	uma	enorme	valia	aqui	—	a
teologia	 sistemática,	 por	 exemplo;	 a	 história	 da	 igreja	 e	 teologia	 bíblica;	 um
conhecimento	integral	da	sua	própria	época	e	cultura	dentre	outros;	porém	nada
deve	interferir	com	o	pregador	e	o	seu	texto.
b)	 Aplicação:	 Pregaçãoé	 inevitavelmente,	 e	 na	 natureza	 do	 caso,	 a
aplicação	 da	 palavra	 de	 Deus.	 Alguns	 têm	 negado	 isso,	 ou	 pelo	 menos	 têm
seriamente	 modificado	 esta	 visão.	 Até	 mesmo	 aqueles	 que	 se	 chamam
Reformados	 têm,	ocasionalmente	 sentido	um	certo	desconforto	com	a	conexão
entre	“exposição”	e	“aplicação”,	já	que	a	aplicação	parece	exigir	que	o	pregador
seja	muito	direto	na	abordagem	do	seu	povo	a	ponto	de	esperar	que	o	povo	faça
algo	 com	 a	 verdade	 que	 os	 confronta.	 Deve	 ser	 enfatizado	 que	 o	 decisivo
resultado	 da	 pregação	 não	 é	 o	 resultado	 de	 nossa	 habilidade	 ou	 criatividade,
paixão	ou	zelo,	mas	sim	da	obra	de	Deus	por	meio	do	Seu	Espírito	nos	corações
daqueles	que	ouvem.	Ao	mesmo	 tempo	está	perfeitamente	claro	nas	Escrituras
“que	 a	 verdade	 é	 para	 o	 bem;	 e	 a	 grande	 pedra	 angular	 da	 verdade	 é	 a	 sua
tendência	a	produzir	santidade”;	16	e	esta	pregação	é	de	longe	muito	mais	do	que
anunciar:	ela	é	exposição	e	aplicação;	é	a	verdade	levada	à	vida;	é	verdade	com
uma	dimensão	moral	e	cognitiva	(2	Tm	4:1,2).
Aplicar	 a	 verdade	 na	 pregação	 não	 é	 tarefa	 fácil;	 no	 entanto	 nós	 não
teremos	pregado	enquanto	assim	não	tivermos	feito.	Os	teólogos	de	Westminster,
no	seu	pequeno	e	maravilhoso	tratado	sobre	o	assunto,	insistiam	que	o	pregador
“não	deve	ficar	só	em	doutrina	geral,	apesar	de	confirmar	e	esclarecer,	mas	deve
levá-la	à	vida	e	ao	uso	especial	dos	seus	ouvintes	por	meio	da	aplicação:	o	que,
no	 entanto,	 se	mostra	 um	 trabalho	 de	 grande	 dificuldade	 para	 a	 pessoa,	 e	 que
requer	 muita	 prudência,	 zelo	 e	 meditação,	 e	 será	 muito	 desagradável	 para	 o
homem	natural	e	corrupto;	no	entanto	ele	deve	tentar	apresentá-la	de	tal	forma,
que	os	seus	ouvintes	sintam	a	palavra	de	Deus	rápida	e	poderosamente,	e	como
um	 discernidor	 dos	 pensamentos	 e	 propósitos	 do	 coração;	 e	 que,	 se	 qualquer
pessoa	ignorante	ou	descrente	estiver	presente	ele	possa	ter	os	segredos	do	seu
coração	manifestos	e	dar	glória	a	Deus”.	17
c)	 Proclamação:	 Mas	 não	 podemos	 parar	 por	 aí.	 Pois	 a	 pregação	 é	 a
exposição	e	a	aplicação	da	Palavra	der	Deus;	mas,	além	disso	ela	é	proclamação.
A	 própria	 palavra	 “pregar”	 no	 Novo	 Testamento	 significa	 isso.	 Nós	 somos
expositores	e	aplicadores;	porém	somos	expositores	e	aplicadores	da	Verdade	de
tal	 forma	 que	 o	 que	 nós	 fazemos	 vem	 a	 ser	 proclamação.	Nós	 somos	 arautos,
com	uma	mensagem,	que	nos	foi	 legada	para	ser	entregue	às	pessoas.	 Isso	nos
tira	para	fora	de	nós	mesmos,	nos	eleva,	 tirando-nos	da	esfera	da	comunicação
ordinária.	Nós	estamos	 lidando	com	os	assuntos	supremos	de	vida	e	morte,	do
céu	e	do	inferno.	Não	somos	de	nós	mesmos;	a	mensagem	que	trazemos	não	é	de
nossa	própria	imaginação;	o	peso	que	é	colocado	sobre	nós	não	está	confinado	às
preocupações	 do	 tempo	 e	 do	 espaço.	 O	 pregador	 é	 o	 homem	 de	Deus	 com	 a
mensagem	 de	 Deus.	 E	 essa	 mensagem	 é	 da	 mais	 desesperada	 urgência	 e
consequência.	Somos	enviados	a	pessoas	que	vivem	no	mundo	das	sombras	da
morte	 e	 temos	 as	 palavras	 de	 vida	 e	 luz	 nos	 lábios.	 Quando	 um	 ministro
reformado	prega,	ele	o	faz	com	a	consciência	do	que	consiste	a	sua	tarefa	e	qual
a	 sua	 função.	 Ele	 deve	 se	 levantar	 e	 proclamar	 sua	mensagem	 com	o	 coração
cheio	 de	 amor	 a	 Cristo	 e	 pelas	 almas	 dos	 homens.	 Ele	 deve	 pregar	 clara	 e
simplesmente,	 destemidamente,	 pastoralmente	 e	 amorosamente;	 e	 ele	 deve
pregar	na	certeza	e	consciência	da	seriedade	e	majestade	e	da	glória	do	que	Deus
está	fazendo	por	meio	dele.	Ele	sabe	que	o	Senhor	está	consagrando	a	Si	a	boca
e	a	língua	de	um	mero	homem	a	fim	de	ressoar	por	meio	da	própria	pregação	a
voz	do	próprio	Salvador.18	O	que	nossa	geração	precisa	não	é	de	um	grupo	de
comunicadores,	ou	de	oradores	muito	espertos,	oradores	eficazes,	ou	professores
interessantes,	 mas	 sim	 de	 um	 grupo	 de	 proclamadores	 do	 Evangelho	 que
permanece	para	sempre	em	toda	sua	riqueza	e	compreensibilidade.
d)	Liberdade:	Porém,	uma	qualidade	a	mais	da	pregação	no	entendimento
Reformado	 da	 palavra	 deve	 ser	 mencionado:	 a	 sua	 liberdade.	 “Eu,	 irmãos,
quando	fui	Ter	convosco,	anunciando-vos	o	testemunho	de	Deus,	não	o	fiz	com
ostentação	de	linguagem,	ou	de	sabedoria.	Porque	decidi	nada	saber	entre	vós,
senão	 a	 Jesus	 Cristo,	 e	 este	 crucificado.	 E	 foi	 em	 fraqueza,	 temor	 e	 grande
tremor	 que	 eu	 estive	 entre	 vós.	 A	 minha	 palavra	 e	 a	 minha	 pregação	 não
consistiram	 em	 linguagem	persuasiva	 de	 sabedoria,	mas	 em	demonstração	 do
Espírito	e	de	poder”,	(I	Co	2:1-4).	E	de	novo:	“Portanto	eu	vos	protesto,	no	dia
de	 hoje,	 que	 estou	 limpo	 do	 sangue	 de	 todos;	 porque	 jamais	 deixei	 de	 vos
anunciar	todo	o	desígnio	de	Deus”	(Atos	20:	26,27;	e	também	2	Co	5:10,11;	2
Tm	 2:9).	 Dos	 primeiros	 pregadores	 do	 Evangelho,	 os	 apóstolos,	 nos	 é	 dito:
“Tendo	eles	orado,	tremeu	o	lugar	onde	estavam	reunidos;	todos	ficaram	cheios
do	 Espírito	 Santo,	 e,	 com	 intrepidez,	 anunciavam	 a	 palavra	 de	 Deus”	 (Atos
4:31).
Calvino	tem	uma	ótima	palavra	para	usarmos	aqui:
“De	acordo,	Pedro,	que	era	bem	instruído	pelo	Mestre	em	relação	a	quanto	deveria	fazer,	não	reserva
nada	para	si	mesmo	ou	para	outros	a	não	ser	compartilhar	a	doutrina	como	ela	foi	lhe	foi	entregue	por
Deus.	‘Se	alguém	fala,	fale	de	acordo	com	os	oráculos	de	Deus’	(I	Pedro	4:11);	isto	é,	não	hesitando
ou	tremendo	como	as	consciências	más	estão	acostumadas	a	fazer,	mas	sim	com	a	mais	alta	confiança
que	é	apropriada	ao	servo	de	Deus	equipado	com	as	suas	ordens	certas.	O	que	seria	isso	senão	rejeitar
todas	as	invenções	da	mente	humana	(de	qualquer	que	seja	a	mente	que	tenham	vindo)	a	fim	de	que	a
pura	Palavra	de	Deus	seja	ensinada	e	apreendida	na	igreja	do	crente?	O	que	é	isso	senão	remover	as
ordenanças,	ou	antes	as	invenções	de	todos	os	homens	(qualquer	que	seja	a	sua	posição),	a	fim	de	que
somente	os	decretos	de	Deus	permaneçam	fortes?	Estas	são	aquelas	‘armas	espirituais...	poderosas	em
Deus	para	destruir	 fortalezas’;	por	meio	delas	os	fiéis	soldados	de	Deus	‘anulando	sofismas	e	 toda
altivez	que	se	levante	contra	o	conhecimento	de	Deus,	levando	cativo	todo	pensamento	`a	obediência
de	 Cristo’	 (2Cor	 10:	 4-5).	 Aqui,	 então,	 está	 o	 poder	 soberano	 com	 o	 qual	 os	 pastores	 da	 igreja,
qualquer	que	seja	o	nome	que	forem	chamados,	deveriam	ser	equipados.	Isto	é,	que	eles	se	atrevam,	a
ousadamente	fazer	todas	as	coisas	pela	Palavra	de	Deus;	que	eles	possam,	com	força,	fazer	com	que
todo	 poder,	 glória,	 sabedoria	 e	 exaltação	 do	mundo	 se	 renda	 e	 obedeça	 à	 sua	majestade.;	 que	 eles
sustentados	pelo	seu	poder	possam	comandar	do	maior	até	o	menor;	possam	edificar	a	casa	de	Cristo	e
aniquilar	a	de	Satanás;	possam	alimentar	as	ovelhas	e	espantar	os	lobos;	possam	instruir	e	ensinar	aos
que	se	deixam	ensinar;	possam	acusar	e	repreender	e	subjugar	os	rebeldes	e	teimosos;	possam	ligar	e
desligar;	 e	 finalmente,	 se	 necessário	 for,	 possam	 lançar	 raios	 e	 trovões;	 no	 entanto,	 fazer	 tudo	pela
palavra	de	Deus”.	19
É	 óbvio	 que	 deve	 haver	 alguma	 restrição	 na	 liberdade	 ministerial	 na
pregação	da	Palavra	de	Deus.	Um	ministro	deve	ser	um	pregador	responsável;	e
ele	 é	 livre	 para	 pregar	 apenas	 aquilo	 que	 está	 nas	 Escrituras.	Como	 o	 próprio
Calvino	 aponta,	 a	 diferença	 entre	 os	 apóstolos	 e	 os	 seus	 sucessores	 é	 que	 “os
primeiros	eram	certamente	escribas	genuínos	do	Espírito	Santo,	e	seus	escritos
devem	 portanto	 ser	 considerados	 oráculos	 de	 Deus;	 mas	 o	 único	 ofício	 dos
outros	 (dos	 sucessores)	 é	 de	 ensinar	 o	 que	 foi	 providenciado	 e	 selado	 nas
sagradas	Escrituras.’	 20	 Além	 disso,	 um	ministro	 é	 um	 dentre	muitos;	 ele	 está
sujeito	 aos	 seus	 irmãos	 no	 Senhor,	 como	 um	 servo	 da	 Palavra	 de	 Deus	 na
comunhão	da	igreja.
É	uma	das	glórias	da	forma	bíblica	de	governo	de	igreja,	no	entanto,	que	na
tradição	 Reformada	 os	 ministros	 devem	 ser	 preservados	 do	 falso	 ensino	 e
doutrina	herética	assim	como	do	discurso	precipitadono	exercício	do	seu	ofício,
na	sua	relação	com	o	presbitério	e	a	sua	supervisão	dos	mesmos,	mas	ao	mesmo
tempo	 protegidos	 de	 qualquer	 desprazer	 malicioso	 nas	 suas	 congregações
quando	o	ressentimento	pode	brotar	pela	sua	proclamação	fiel	do	Evangelho.	O
ministro	na	tradição	Reformada	é	separado	até	certo	grau	da	sua	congregação	no
que	 ele	 não	 pode	 ser	 dispensado	 pelo	 caráter	 profético	 da	 sua	 pregação.	 De
forma	 ordinária	 é	 claro	 que	 os	 pastores	 e	 o	 povo	 devem	 ser	 um	 só,	 e	 ambos
deveriam	 se	 regozijar	 na	 amizade	 que	 compartilham	 e	 no	 apreço	 que	 têm	 um
para	 com	 o	 outro.	 O	 pastor	 deveria	 estar	 preocupado	 em	 edificar;	 não	 em
arruinar.	 Mas	 cada	 ministro	 digno	 do	 seu	 sal,	 teve	 a	 experiência	 de	 ter	 sido
constrangido	pela	obediência	à	Palavra	de	Deus,	a	repreender	e	reprovar	quando
há	pecado,	erro,	visão	curta	na	congregação;	ele	o	faz	sem	medo	e	sem	favor;	ele
não	é	bajulador	de	homens.	E	ele	o	faz	com	um	grande	e	potencial	custo	próprio.
Ao	mesmo	tempo,	igrejas	e	instituições	que	clamam	para	si	o	nome	de	cristãs,	e
existem	para	exaltar	o	nome	de	Cristo	e	levar	avante	a	sua	causa	na	terra,	devem
fazer	 todo	 esforço	 possível	 para	 que	 a	 função	 profética	 do	 ministério	 esteja
sendo	exercida	com	toda	ousadia	e	liberdade.	E	deveriam	agradecer	a	Deus	por
tal	coisa.
Não	 precisamos	 de	 palavras	 açucaradas,	 pensamentos	 anuviados,
pregadores	que	fazem	concessões,	cujo	primeiro	pensamento	é	se	o	que	eles	vão
dizer	vai	ou	não	ofender	aos	ouvintes	ou	a	comunidade	como	um	todo;	mas	antes
precisamos	 de	 pregadores	 cujo	 compromisso	 primordial	 e	 portanto	 o	 primeiro
impulso,	seja	a	obediência	ao	senhor	Jesus	em	cujo	serviço	eles	foram	alistados,
a	quem	eles	pertencem,	e	a	quem	eles	devem	prestar	contas.
Na	 sua	 luta	 com	 o	 Arcebispo	 John	 Whitgift,	 o	 primeiro	 no	 ranking
Elizabetano	 que	 frequentemente	 parecia	 estar	 mais	 interessado	 em	 agradar	 a
rainha	do	que	ao	Senhor,	e	que	resistiu	até	mesmo	a	perseguir	aqueles	na	igreja
que	insistiam	na	aplicação	livre	da	palavra	de	Deus,	o	grande	teólogo	Puritano	e
pregador	Thomas	Cartwright	escreveu	estas	nobres	palavras:
“É	 verdade	 que	 deveríamos	 ser	 obedientes	 aos	 magistrados	 civis	 que	 governam	 a	 igreja	 de	 Deus
naquele	 ofício	 que	 a	 ele	 é	 confiado,	 e	 de	 acordo	 com	 aquele	 chamado.	Mas	 deve-se	 lembrar	 que
magistrados	 civis	 devem	 governá-la	 de	 acordo	 com	 as	 regras	 de	Deus	 prescritas	 na	 sua	 Palavra,	 e
naquilo	 que	 são	 cuidadores	 assim	 também	 sejam	 servos	 para	 a	 igreja,	 e	 no	 governo	 da	 igreja	 eles
lembrem-se	de	 se	 submeterem	a	 igreja,	 submeter	 seus	cetros,	 lançar	 ao	chão	 suas	coroas,	perante	a
igreja,	sim,	como	diz	o	profeta,	lamber	o	pó	dos	pés	da	igreja.	De	maneira	que	não	quero	dizer	que	a
igreja	 ou	 extraia	 à	 força	 os	 cetros	 das	mãos	 dos	 príncipes,	 ou	 tire	 suas	 coroas	 das	 cabeças,	 ou	 que
requeira	que	os	príncipes	lambam	o	pó	dos	pés	dela	(como	o	fez	o	Papa	sob	esta	pretensão),	mas	quero
dizer,	como	o	quer	dizer	o	profeta,	que	qualquer	que	seja	a	sua	magnificência	ou	excelência	ou	pompa
deles	ou	das	suas	propriedades	e	posses,	que	não	fecha	com	a	simplicidade	(no	entender	do	mundo)	e
pobreza	e	estado	desprezível	da	igreja,	que	eles	estarão	contentes	em	abrir	mão”.	21
Cartwright	pagou	um	alto	preço	nos	 seus	dias	pela	 sua	obediência	ao	Rei
dos	reis:	ele	foi	silenciado,	aprisionado	e	exilado	para	sua	liberdade	no	exercício
do	seu	ministério,	enquanto	que	os	bispos	bajuladores	prosperaram	e	afloraram
com	 suas	 consciências	 mortas	 e	 sua	 preocupação	 em	 agradar	 sua	 Majestade.
Talvez	tenha	de	ser	sempre	assim.	Mas	seja	assim	ou	não	—	se	a	nós	for	dada	a
liberdade	 dentro	 da	 igreja,	 de	 ser	 fiel	 à	 palavra	 de	 Deus	 ou	 ter	 de	 batalhar
continuamente	por	ela	—	não	pode	haver	dúvida	de	onde	está	nosso	dever.	E	o
fato	é	que	a	luta	jamais	acaba,	enquanto	a	natureza	humana	permanecer	do	jeito
que	ela	é,	mesmo	que	em	princípio	esteja	convertida	e	humilhada	aos	pés	da	cruz
de	Cristo.	Um	ministro	 na	 igreja	 de	 Jesus	Cristo,	 reformada	 de	 acordo	 com	 a
Palavra	de	Deus,	 jamais	 pode	passivamente	 aceitar	 uma	 imposição	de	 silêncio
que	venha	 a	 ser	 ilegalmente	 colocada	 sobre	 ele,	mas	 ele	dirá	perante	qualquer
sinédrio	 que	 seja	 chamado	 a	 comparecer:	 “Julgai	 se	 é	 justo	 diante	 de	 Deus
ouvir-vos	 antes	 a	 vós	 outros	 do	 que	 a	Deus;	 pois	 nós	 não	podemos	 deixar	 de
falar	 das	 coisas	 que	 vimos	 e	 ouvimos”	 (Atos	 4:19,20).	 E	 numa	 palavra	 dos
apóstolos	que	diz	tudo	que	precisa	ser	dito:	“Antes	importa	obedecer	a	Deus	do
que	aos	homens”	(Atos	5:29).
1	 Fred	 H.	 Klooster,	 A	 Singularidade	 da	 Teologia	 Reformada:	 Uma	 Tentativa	 Preliminar	 de	 Descrição
(Grand	Rapids:	O	Sínodo	Reformado	Ecumênico,	1979).	A	brochura	inclui	respostas	de	Raden	Soedarmo,
Sr.	Eugene	Osterhaven,	W.	van’t	Spijker,	e	John	H.	Leith.
2	A	 literatura	é	vasta	e	está	crescendo.	Veja	por	exemplo,	Harold	Lindsell,	A	Batalha	pela	Bíblia	 (Grand
Rapids:	 Zondervan	 Publishing	 House,	 1976);	 e	 A	 Bíblia	 e	 o	 Equilíbrio	 (Zondervan,	 1979);	 também	 as
publicações	do	Conselho	In	ternacional	de	Inerrância	Bbíblica	(Oakland,	Califórnia).	Por	outro	lado,	Jack
B.	Rogers,	ed.,	Davis,	O	Debate	Sobre	a	Bíblia	(Philadelphia:	Westminster	Press,	1977);	 também	Jack	B.
Rogers	 e	Donald	K.	McKim,	A	Autoridade	 e	 a	 Interpretação	da	Bíblia:	Uma	Abordagem	Histórica	 (San
Francisco:	Harper	e	Row,	1979).
3	A	discussão	de	João	Calvino	sobre	a	autoridade	bíblica	é	de	extrema	 importância	e	é	 tão	valiosa	agora
como	foi	no	século	16;	veja	as	suas	Institutas	da	Religião	Cristã,	I/	7,8,9.
4	A	Confissão	de	Fé	de	Westminster,	I/6.
5	Institutas,	I/7/4;	sobre	o	testemunho	do	Espírito	Santo	veja	também	I/7/I;	I/7/5;I/8/13.
6	G.C.	Berkouwer,	A	Providência	de	Deus	(	Grand	Rapids:Wm.	B.	Eerdmans	Pub	Co.,	1952),	pp.	7ff.
7	Herman	Bavinck,	A	Doutrina	de	Deus	(	Banner	of	Truth	Trust,	1977),	p.	13.
8	Institutas,	III/21-24.
9	 Veja	 por	 exemplo	 Clark	 H.	 Pinnok,	 ed.,	 Grace	 Unlimited	 (Graça	 Ilimitada)	 (Minneapolis:Bethany
Fellowship,	Inc.,	1975):	“Apesar	de	os	ensaios	não	terem	sido	escritos	de	maneira	polêmica,	sua	tese	dá	ao
livro	um	caráter	controverso,	no	que	nós	estaríamos	opondo	um	esforço	tremendo	na	ortodoxia	Protestante
limitando	 o	 evangelho	 e	 jogando	 uma	 sombra	 sobre	 a	 sua	 disponibilidade	 e	 intenção	 universais,
manifestando-se	mais	 abertamente	 no	Calvinismo	 clássico.	Esta	 teologia	 que,	 na	 sua	 doutrina	 terrível	 de
dupla	 predestinação,	 questiona	 a	 intenção	 de	Deus	 de	 salvar	 a	 todos	 os	 pecadores	 e	 como	 consequência
lógica	 nega	 que	 Cristo	 morreu	 para	 salvar	 o	 mundo	 como	 um	 todo,	 é	 simplesmente	 inaceitável
exegeticamente,	 teologicamente	 e	 moralmente,	 e	 devemos	 dizer	 a	 ela	 um	 ‘Não!’	 enfático”.	 (p.	 12;	 as
palavras	são	de	Pinnock).
10	Veja	o	excelente	livro	de	M.	Eugene	Osterhaven	O	Espírito	da	Tradição	Reformada	-The	Spirit	of	The
Reformed	Tradition	-	(Grand	Rapids:	Wm.B.	Eerdmans	Pub.	Co.,	1971),	especialmente	o	capítulo	4,	“Na
Presença	de	Deus”,	pp.88ff.
11	Otto	W.	Heick,	A	History	of	Christian	Thought,	Vol.	I	(	Philadelfia:	Fortress	Press,	1965),	p.	450.
12	Um	estudo	de	grande	ajuda	 sobre	os	 aspectos	mais	 amplos	do	ministério	de	Calvino	nesse	 respeito	 é
W.Fred	Graham,	The	Constructive	Revolutionary:	John	Calvin	&	His	Socio-Economic	Impact	(Richmond:
John	Knox	Press,	1971).
13	Em	qualquer	discussão	sobre	o	“mandato	cultural”,	a	passagem	fundamental	a	que	 invariavelmente	se
faz	referência	é	Gênesis	1:28,	“E	Deus	os	abençoou	e	lhes	disse:	Sede	fecundos,	multiplicai-vos,	enchei	a
terra	e	sujeitai-a;	dominai	sobre	os	peixes	do	mar,	sobre	as	aves	dos	céus,	e	sobre	todo	animal	que	rasteja
pela	terra”.	Está	em	vista	a	responsabilidade	de	sujeitar	todas	as	áreas	da	vida,	cada	aspecto	da	experiência
ao	senhorio	de	Deus	e	de	considerar	cada	uma	dessas	áreas	para	o	Seu	serviço.
14	Temos	de	reconhecer	que	na	natureza	do	caso	até	mesmo	o	melhore	mais	puro	dos	cristãos	é	imperfeito;
e	apesar	de	todos	os	nossos	esforços	de	nos	livrarmos	daquelas	coisas	que	não	têm	origem	na	Palavra	de
Deus,	 aquelas	 ideias	 e	 tradições	 que	 são	 parte	 da	 bagagem	 que	 trazemos	 conosco	 de	 outra	 esfera,	 resta
aquilo	que	é	 inconsistente	com	o	Evangelho.	Assim,	os	próprios	Reformadores	por	exemplo,	aceitaram	o
sacramentalismo	 e	 o	 territorialismo	 do	 seu	 tempo	 de	maneira	 inquestionável,	 apesar	 de	 estes	 terem	 sua
gênese	nos	reinados	dos	imperadores	Romanos	do	quarto	século,	e	não	no	Novo	testamento.	Muitos	líderes
cristãos	no	século	dezesseis	tendiam	a	pensar	nos	limites	da	igreja	e	do	estado	como	quase	co-extensivas.	O
fato	de	eles	estarem	enganados	neste	ponto	não	anula	o	que	eles	procuraram	fazer	em	termos	de	reino	de
Deus.
15	Veja,	por	exemplo	João	Calvino,	Institutas,	IV/	3/3;	e	IV/3/I,2.
16	Citação	da	“Introdução”	a	A	Forma	de	Governo,	da	forma	ratificada	e	adotada	pela	Igreja	Presbiteriana
nos	Estados	Unidos	da	América,	1788.
17	O	Diretório	 do	Culto	Público,	 “Da	Pregação	da	Palavra”,	 encontrado	na	Confissão	 de	Fé,	Catecismo
Maior	e	Menor,	etc.,	editado	pelo	Comitê	de	Publicações	da	Igreja	Presbiteriana	Livre	da	Escócia	(1967),p.
380.	E	Pela	Editora	Os	Puritanos/2000
18	Romanos	10:14	é	de	primeira	importância	aqui.	Paulo	declara:	“Como	porém	invocarão	aquele	em	que
não	creram?	E	como	crerão	naquele	de	quem	nada	ouviram?	E	como	ouvirão,	se	não	há	quem	pregue?”.	O
apóstolo	está	declarando	aqui	que	na	pregação	não	é	simplesmente	a	voz	do	pregador	que	é	ouvida,	mas	sim
a	própria	voz	do	Senhor	Jesus	Cristo.	Nas	suas	discussões	de	pregação,	esta	ideia	é	muito	proeminente	na
mente	de	Calvino.
19	Institutas,	IV/8/9.
20	Ibid.
21	As	Obras	 de	 John	Whitgift,	 editado	 para	 a	 Parker	 Society	 por	 John	Ayre,	 Vol	 III	 (	 Cambridge:	 The
University	 Press,	 1853),	 p.	 189.	 As	 palavras	 de	 Cartwright	 estão	 impressas	 ao	 longo	 das	 respostas	 de
Whitgift.
POR 	QUE 	A 	FÉ 	REFORMADA?
Terry	L.	Johnson
G
Introdução
ostaria	 que	 considerássemos	 a	 razão	 por	 que	 alguém	 deveria	 aderir	 à	 fé
reformada.	 O	 que	 quero	 dizer	 com	 “reformada”,	 é	 aquela	 tradição
teológica	cujas	raízes	remontam	a	Calvino	—	e,	talvez,	alguém	poderia	contestar
e	 dizer:	 vão	 até	 Agostinho,	 antes	 de	 Calvino.	 Mas	 nós	 nos	 referimos
primeiramente	 às	 reformas	 do	 século	 16,	 reformas	 das	 corrupções	 do	 final	 do
período	 da	 Igreja	 Medieval	 e	 Renascentista,	 e	 o	 movimento	 que	 estas
produziram.	 Referimo-nos	 à	 herança	 calvinista	 emanante	 de	 Genebra,	 que
resultou	nas	Igrejas	Reformadas	Suíças,	Holandesas	e	Alemãs;	no	mundo	anglo-
saxônico,	 resultou	 na	 Igreja	 Reformada	 Escocesa,	 que	 ficou	 conhecida	 como
Presbiteriana;	resultou,	também,	no	Puritanismo	Inglês,	no	Puritanismo	da	Nova
Inglaterra	e	também	na	antiga	escola	de	Princeton.
Não	 quero,	 porém,	 que	 este	material	 seja	 uma	 aula	 de	História.	 Por	mais
que	eu	aprecie	a	oportunidade	de	examinar	os	eventos	históricos	fascinantes	em
torno	da	Reforma:	Lutero	sendo	atingido	por	um	raio;	Lutero	perante	a	dieta	de
Worms	bradando:	 “Aqui	 estou	 firme”;	Knox	protegendo	o	 inflamado	pregador
escocês	George	Wishart,	com	uma	espada	de	dois	gumes;	Knox	servindo	como
um	escravo	nas	galés	de	um	navio	francês	de	guerra;	Hooper,	Cranmer,	Ridley,
Latimer,	 todos	 sendo	 condenados	 à	 morte	 em	 fogueiras;	 Latimer	 voltando-se
para	seu	amigo	e	dizendo:	“Tende	bom	ânimo,	Mestre	Ridley,	e	seja	homem	de
verdade;	 nós	 haveremos,	 pela	 graça	 de	 Deus,	 de	 acender	 uma	 chama	 na
Inglaterra,	 hoje,	 que	 jamais	 se	 apagará”.	Havia	 gigantes	 na	 terra,	 naqueles
dias!
O	que	eu	gostaria,	no	entanto,	de	examinar,	é	a	própria	Fé	Reformada;	suas
ideias,	 seus	princípios	 fundamentais.	Por	muitas	gerações	a	Fé	Reformada	 tem
capturado	os	corações	dos	homens	e	os	têm	inspirado,	enviando-os,	de	maneira
irônica,	 ao	 campo	 de	 batalha	 como	 sendo	 o	 campo	 missionário.	 Tendo	 sido
criado	 numa	 outra	 tradição,	 foram	 as	 ideias	 e	 ideais	 da	 Fé	 Reformada	 que
instigaram	minha	 imaginação	quando	 jovem	estudante	no	 seminário.	Eu	 fiquei
empolgado	 com	 o	 que	 vi	 como	 sendo	 um	 entendimento	 mais	 puro	 da	 visão
bíblica	de	Deus	e	das	coisas	criadas,	com	cada	uma	delas	no	seu	devido	 lugar.
“Religião	Bíblica	em	Sua	Pureza”,	é	o	que	tem	sido	chamada.	No	entanto,	hoje
em	dia	há	tão	poucos	que	sequer	ouviram	falar	da	“Fé	Reformada”.	Na	época	da
Revolução	 Americana,	 85%	 da	 nossa	 população	 nacional	 era	 de	 tradição
reformada.	 Como	 caíram	 os	 poderosos!	 E	 como	 o	 fim	 da	 sua	 existência
enfraqueceu	e	prejudicou	a	igreja	americana!	Tenho	que	admitir,	eu	não	gosto	do
evangelho	da	forma	que	o	ouço	hoje	em	dia.	O	antigo	evangelho	está	morto.	Os
liberais	o	substituíram	por	uma	versão	mundanizada	e	politizada.	Estas	não	são
novidades	 recentes.	 Estão	 fazendo	 isso	 por	 muitas	 décadas.	 A	 coisa
surpreendente	é	como	podem,	até	mesmo	os	evangélicos	conservadores,	trocar	o
Evangelho	 real	 por	 uma	mensagem	 de	 auto-ajuda	 e	 auto-realização.	Os	 temas
como	 pecado	 e	 salvação	 foram	 substituídos	 por	 assuntos	 mais	 em	 voga	 e	 na
moda,	emprestados	da	psicologia	moderna.	Existem	mil	e	uma	lições	sobre	auto-
melhoramento	(e.g.	casamento,	trabalho,	família,	contentamento,	etc.)	para	cada
obra	 sobre	 a	 expiação.	Perdemos	o	 rumo	do	 caminho,	 em	nossos	dias,	 e	 creio
que	são	os	distintivos	da	Fé	Reformada	que	apontarão	o	caminho	de	volta	para	a
igreja.	Quais	são	as	suas	ideias	fundamentais?
A	Grandeza	de	Deus	e	de	Sua	Glória
É	aí	que	tudo	começa.	O	Deus	da	Igreja	Reformada	é,	de	fato,	um	Deus	Grande.
B.B.	Warfield,	o	maior	dos	teólogos	da	escola	de	Princeton,	disse:	“É	a	visão	de
Deus	e	da	Sua	majestade...	que	jaz	no	fundamento	da	plenitude	do	pensamento
calvinista”	 (Calvino	 e	 Agostinho,	 491).	 Se	 fosse	 para	 alguém	 isolar	 uma
característica	distintiva	da	Fé	Reformada,	todo	mundo	haveria	de	concordar	que
esta	seria	a	grandeza	soberana	de	Deus.
O	 que	 se	 encontra	 no	 pensamento	 reformado	 é	 um	 desejo	 e	 vontade	 de
deixar	que	Deus	seja	Deus.	Enquanto	outros	tentam	aplicar	a	lógica	às	questões
dos	 decretos	 divinos	 e	 da	 responsabilidade	 humana,	 nós	meramente	 curvamos
nossas	 cabeças	 em	 silenciosa	 reverência.	 Enquanto	 outros	 mergulham	 no
fatalismo	por	um	 lado,	 ou	virtualmente	derrubam	a	Deus	do	Seu	 trono,	 nós	O
louvamos	nas	palavras	do	apóstolo	Paulo:
“Ó	profundidade	da	riqueza,	tanto	da	sabedoria,	como	do	conhecimento	de	Deus!	Quão	insondáveis
são	os	seus	juízos	e	quão	inescrutáveis	os	seus	caminhos!”	(Romanos	11:33).
Entre	os	reformados	se	encontra	uma	disposição	de	fechar	a	boca	e	deixar
que	Deus	fale	por	Ele	mesmo	na	Sua	Palavra	e	crer	no	que	Ele	diz,	não	importa
quão	difícil	seja	de	entender,	ou,	quando	entendido,	quão	desconfortável	faz	com
que	eles	se	sintam.	Ao	assim	fazê-lo,	temos	encontrado	um	Deus	que	é	maior	do
que	as	simples	categorias	em	que	alguém	talvez	queira	encaixá-lo.	Alguém	pode
tentar	o	quanto	quiser	colocar	Deus	numa	caixinha	manejável	de	compreensão,
mas	 Ele	 não	 se	 encaixa.	 Deus	 vai	 emergir	 sempre	 de	 novo	 de	 forma	maior	 e
maior,	 mais	 glorioso,	 mais	 dominador,	 mais	 incrível,	 mais	 aterrador,	 e	 mais
confortador.	 “Considerai,	 pois,	 a	 bondade	 e	 a	 severidade	 de	 Deus,”	 diz	 o
apóstolo	(Romanos	11:22).	“Quem	és	tu,	ó	homem,	para	discutires	com	Deus?”
(Romanos	 9:20).	 Este	 é	 o	Deus	 que	 fez	 todas	 as	 coisas,	 que	 planeja	 todas	 as
coisas,	até	“o	que	quer	que	venha	a	acontecer”,	como	ensina	a	nossa	Confissão
de	Fé,	quem	governa,	sustenta	e	preserva	todas	as	coisas.	Ele	é	um	Deus	grande.
É	o	único	Deus	que	pode	manter-me	leal!
Talvez	você	se	identifique	com	a	seguinte	experiência.	Num	certo	ponto	dos
meus	 anos	 de	 estudante	 universitário,	 eu	 me	 vi	 perdendo	 as	 energias	 para
praticar	o	discipulado.	Deus,	da	maneira	que	eu	O	conhecia	então,	 era	grande,
mas	somente	no	sentido	de	ser	um	Ser	maior	do	que	nós	homens.	Eu	não	estava
aqui	para	Ele,	Ele	é	queestava	lá	para	mim.	Eu	não	era	Seu	servo,	Ele	era	meu
servo.	A	vida	cristã	estava	precisamente	invertida	para	mim	naquele	tempo.	Foi
somente	quando	eu	cresci	para	esta	visão	bíblica	e	reformada	de	Deus	que	uma
revolução	“Copérnica”	(de	Copérnico)	aconteceu,	e	eu	fui	forçosamente	retirado
do	 centro	 das	 coisas,	 e	 compreendi	 que	 Deus	 é	 que	 estava	 no	 Seu	 trono.	 Eu
compreendia	 Deus	 como	 sendo	 um	 amigo.	 Eu	 não	 tinha	 compreendido	 Deus
como	Rei.
Este	 é	 o	 princípio	 fundamental	 da	Fé	Reformada.	Ele	 dá	 vida	 a	 tudo	que
fazemos.	 Nós	 nos	 reunimos	 para	 adorar	 não	 para	 agradar	 a	 nós	 mesmos,	 ou
como	é	muito	frequente,	para	nos	entreter	ou	para	“tirarmos	algum	proveito	da
coisa”,	como	frequentemente	se	ouve	dizer;	mas,	sim,	para	glorificar	e	exultar	no
Senhor	 nosso	Deus.	No	 culto	 não	vamos	para	 ouvir	 uma	boa	palavra,	 ou	para
ouvir	uma	palestra	sobre	um	assunto	interessante,	mas,	sim,	para	nos	humilhar,
humilhar	nosso	pensamento,	nosso	estilo	de	vida,	nossas	práticas	sob	a	Palavra
de	 Deus,	 e	 obedecer	 à	 Sua	 Palavra	 como	 nossa	 lei.	 É	 com	 esta	 atitude	 que
vivemos	 toda	 nossa	 vida.	 Ele	 não	 é	 apenas	 o	 Rei	 da	 Igreja,	 ou	 do	 nosso
compartimento	 de	 oração;	 mas,	 sim,	 do	 mundo	 todo	 e	 de	 todo	 aspecto	 a	 Ele
relacionado.	A	 vida	 é	 um	 render-se	 contínuo	 de	 nós	mesmos	 como	 sacrifícios
vivos,	para	o	louvor	do	grande	e	glorioso	Deus	a	quem	servimos	(Romanos	12:
1,2).
A	Pequenez	e	a	Depravação	do	Homem
A	 quê	 nos	 leva	 esta	 visão	 da	 grandeza	 e	 da	 glória	 de	 Deus?	 Ela	 leva	 a	 um
entendimento	profundo	da	pequenez	do	homem.	“Que	é	o	homem,	que	dele	 te
lembres?”,	 pergunta	 o	 salmista	 (Salmo	 8).	Quando	 alguém	 vê	 a	Deus	 em	Sua
glória,	o	sujeito	fica	consciente	da	sua	própria	 insignificância	–	apenas	“somos
pó”	(Salmo	103:14).	Quando	foi	dada	a	Moisés	a	visão	gloriosa,	não	da	face	de
Deus,	mas	apenas	de	suas	“costas”,	lemos	da	sua	reação:
“E,	imediatamente,	curvando-se	Moisés	para	a	terra,	O	adorou”	(Êxodo	34:8).
Esta	é	a	revolução	Copérnica	à	qual	me	referi	acima.	Nos	apercebemos	que
não	 somos	 o	 centro	 do	 universo,	 mas	 Deus	 O	 é;	 e,	 em	 relação	 a	 Ele,	 somos
apenas	 grãos	 de	 pó	 na	 balança	 (Isaías	 40:15).	 Isso	 é	 difícil	 para	 o	 orgulho
humano	 engolir.	 Nós	 gostamos	 de	 ter	 a	 nós	 mesmos	 em	 alta	 conta.	 Quão
importante	eu	sou!	Nós	nos	levamos	tão	a	sério;	vestimo-nos	bem;	damos	títulos
a	nós	mesmos.	Somos	mais	honráveis	e	excelentes:	o	Reverendo,	o	executivo,	o
diretor	e	o	presidente.	Mas	Deus	nos	diz:	“Porque	 tu	és	pó,	e	ao	pó	 tornarás”
(Gênesis	 3:	 19).	 Na	 nossa	 força	 coletiva,	 considerando-nos	 como	 nações,	 Ele
diz:
“Todas	as	nações	são	perante	ele	como	cousa	que	não	é	nada;	Ele	as	considera	menos	do	que	nada,
como	um	vácuo”	(Isaías	40:17).
A	Fé	Reformada	 coloca	 as	 pretensões	 humanas	 no	 seu	devido	 lugar.	Elas
são	 todas	 vaidade.Mas,	 além	 disso,	 a	 Fé	 Reformada,	 como	 nenhuma	 outra,
entende	 a	 pecaminosidade	 do	Homem.	 Se	 alguém	 perguntar	 qual	 será	 a	 outra
crença	tipicamente	citada	dos	calvinistas,	a	resposta	geralmente	é:	“a	depravação
do	 homem”.	 Nós	 somos	 a	 última	 palavra	 em	 pessimismo	 quanto	 à	 natureza
humana	desassistida.	Como	foi	que	o	pecado	nos	afetou?	Quando	outros	falam
do	 pecado	 como	 uma	 influência,	 nós	 falamos	 dele	 como	 escravidão.	 Quando
outros	dizem	que	o	pecado	distorce	a	perspectiva	do	homem,	nós	dizemos	que
ele	cega	os	olhos	e	fecha	os	ouvidos.	O	homem	não	está	simplesmente	doente:
ele	 está	 morto	 em	 delitos	 e	 pecados	 (Efésios	 2:1).	 “Em	mim	 não	 habita	 bem
nenhum”,	diz	o	apóstolo	Paulo	(Romanos	7;18).	Quão	profundamente	negativa	é
nossa	 visão	 da	 natureza	 humana!	 Que	 outra	 compreensão,	 além	 da	 Fé
Reformada,	diria	que	o	homem	é,
“totalmente	vil	em	todas	as	suas	faculdades	e	em	todas	as	partes	da	alma	e	do	corpo...	e	 totalmente
indisposto,	sem	condições,	e	oposto	a	todo	bem,	e	inclina-se	totalmente	ao	mal”	(Confissão	de	Fé	de
Westminster,	VI.2,4)?
Por	 que	 dizemos	 que	 o	 homem	 é	 tão	 mau?	 Porque	 compreendemos	 que
Deus	é	 tão	santo	e	 tão	puro,	e	uma	vez	 tendo	alcançado	essa	visão,	não	 temos
outra	alternativa	senão	nos	vermos	como	totalmente	vis	em	pensamento,	palavra
e	ação.	Como	Isaías,	nós	vemos	a	Deus	em	Sua	glória,	nós	ouvimos	os	serafins
clamando:	“Santo,	Santo,	Santo”,	e	não	podemos	senão	concluir	com	ele:	“Ai	de
mim,	porque	sou	homem	de	lábios	impuros”	(Isaías	6:5).	O	homem	não	é	apenas
pequeno,	 como	 criatura,	 ele	 é	 degradado	 por	 causa	 do	 pecado.	 O	 pecado	 nos
deixou	 numa	 condição	 desesperançada	 e	 irremediável,	 cegos,	 escravizados	 e
mortos.	 Nenhuma	 outra	 escola	 de	 pensamento	 vem	 com	 tanta	 fúria	 contra	 o
orgulho	humano	–	especialmente	contra	as	ideias	do	pós-iluminismo	e	das	visões
modernas	 da	 grandeza	 humana	 –	 e	 assevera	 de	 maneira	 não	 ambígua	 a
depravação	e	a	degradação	total	humana.
A	Graça	da	Obra	Redentora	de	Cristo
É	 óbvio	 que	 o	 homem,	 numa	 condição	 tal	 como	 a	 descrita	 acima,	 está
desesperadamente	 necessitado	 de	 um	Libertador,	 um	Salvador	 para	 o	 resgatar.
Enquanto	que	alguns	atribuem	uma	parte	 ao	homem	e	uma	parte	 a	Deus,	para
conquistar	a	salvação,	a	Fé	Reformada	se	posiciona	sozinha	e	afirma,	junto	com
Jonas,	 as	 totais	 implicações	 da	 palavra:	 “a	 salvação	 pertence	 ao	 Senhor”.
Nenhuma	outra	visão	exalta	tanto	a	obra	de	Cristo	na	cruz.	O	que	foi	que	Ele	fez
para	 assegurar	 a	 nossa	 salvação?	 Tudo.	 Ele	 morreu	 pelos	 nossos	 pecados.
Enquanto	 que	 outros	 param	 por	 aí,	 nós	 vamos	 além	 e	 dizemos	 que	 Ele	 nos
trouxe	para	a	vida,	 fez	com	que	“nascêssemos	de	novo”.	Ele	nos	“regenerou”,
como	dizem	os	teólogos,	e	em	nós	operou	a	fé,	que	nos	deu	como	dom	(Efésios
2:8,9).	Por	meio	dessa	fé	somos	justificados,	adotados,	santificados,	preservados
e	seremos	glorificados.	Se	somos	salvos,	não	podemos	ter	mérito	em	nada.	Não
podemos	nos	gloriar	de	nada,	Paulo	diz:
“Mas	vós	sois	dele,	em	Cristo	Jesus,	o	qual	se	nos	 tornou	da	parte	de	Deus	sabedoria,	e	 justiça,	e
santificação,	e	redenção,	para	que,	como	está	escrito:	Aquele	que	se	gloria,	glorie-se	no	Senhor”	(I
Co	1:30,31).
Isso	 expressa	 o	 ponto.	 Foi	 por	 “Sua	 operação”.	 Então,	 como	 é	 que	 você
poderia	 se	 gloriar?	A	 Salvação	 é	 um	Dom	 que	Cristo	 conquistou.	 Ele	mesmo
conquistou	e	nos	deu	por	Sua	livre	e	espontânea	vontade	e	não	por	alguma	coisa
que	porventura	existisse	em	nós.
O	 teólogo	R.C.Sproul	 certa	 vez	 debateu	 com	um	homem	que	 dizia	 que	 a
salvação	 é	 como	 a	 experiência	 de	 um	 homem	 que	 estava	 se	 afogando	 e	 para
quem	Cristo	lança	uma	corda.	O	que	o	homem	tem	de	fazer	é	agarrar-se	à	corda.
A	parte	de	Deus	é	providenciar	a	corda.	A	parte	do	homem	é	agarrá-la	e	segurá-
la.	 Sproul	 retrucou	 que	 a	 salvação	 não	 se	 compara	 a	 um	 homem	 que	 está	 se
afogando,	mas	a	um	homem	que	já	está	afogado,	e	está	inconsciente	no	fundo	do
lago.	A	parte	de	Cristo	é	de	mergulhar,	retirar	o	homem	e	trazê-lo	até	a	margem,
fazer	respiração	boca	a	boca,	e	trazer	o	homem	de	volta	à	vida.	Qual	é	a	parte	do
homem?	Apenas	voltar	a	viver.	E	isso	não	é	parte	coisa	nenhuma.	Você	diria	que
tal	pessoa	contribuiu	para	o	 seu	próprio	 resgate?	É	claro	que	não.	O	mesmo	é
verdadeiro	para	salvação.	É	Cristo	sozinho	quem	nos	salva.
Damos	 toda	 glória	 a	 Cristo,	 e	 nenhuma	 glória	 ao	 homem.	 Enquanto	 que
outros	 gostam	 daquela	 imagem	 de	 Cristo	 passivamente	 batendo	 à	 porta	 do
coração	dos	pecadores,	esperando	para	ser	deixado	entrar,	nossa	imagem	é	a	de
Cristo	 arrombando	 a	 porta	 e	 entrando	 com	 veemência	 pelos	 portões	 do	 nosso
coração,	bem	como	nos	 arrancando	dos	portões	do	 inferno.	Ele	 é	um	salvador
grandioso,	que	não	só	faz	possível	a	salvação,	mas	de	fato	salva!
Uma	Visão	Otimista	do	Futuro
Em	Cristo	o	homem	é	restaurado	ao	seu	papel	exaltado	original	na	criação.	Em
Cristo	somos	refeitos	 (Hebreus	2:7,8;	cf	Salmo	8).	Feitos	à	 imagem	de	Deus	e
restaurados	 a	 Deus	 em	 Cristo,	 temos	 dignidadee	 possibilidades	 que	 jamais
seriam	 alcançáveis	 sob	 a	 tirania	 do	 pecado.	 Jesus	 Cristo	 derrotou	 o	 diabo,	 e
triunfou	sobre	os	principados	e	potestades	(Cl	2:15).	Ele	está	assentado	no	Seu
trono	nos	céus	como	possuidor	“de	todos	os	poderes	nos	céus	e	na	terra”,	e	Ele
nos	 envia	 como	 “mais	 que	 vencedores”,	 e	 por	 isso	 “nosso	 trabalho	 no	Senhor
não	é	vão”	(I	Co	15:58).
Portanto,	não	podemos	deixar	de	ser	otimistas.	Cristo	vem	marchando	nesse
mundo	 de	maldade	miserável.	 Ele	 vem	 “conquistando	 e	 para	 conquistar”.	 Ele
está	 vencendo.	 Ele	 está	 levedando	 a	 massa	 toda.	 O	 grão	 de	 mostarda	 está
crescendo	e	dominando	o	jardim.	Podemos	servi-Lo	na	confiança	do	sucesso	do
evangelho	(Ap	6:2;	I	Co	15:57;	Mt	13:31-35).
Esta	 é	 a	 nossa	 herança.	 Pense	 no	 otimismo	 de	William	 Carey,	 o	 pai	 das
missões	modernas.	Depois	de	cinco	anos	e	meio	de	trabalho	missionário	pioneiro
na	Índia	sem	um	convertido	sequer,	ele	escreveu	ao	seu	amigo	Samuel	Pearce:
“O	trabalho	sobre	o	qual	Deus	colocou	Suas	mãos,	vai	prosperar	de	maneira	infalível.	Cristo	começou
a	conquistar	esta	fortaleza	forte	e	antiga,	e	certamente	o	fará	até	o	fim”.
E	quando,	finalmente,	Krishna	Pal	se	converteu	a	Cristo,	naquele	tempo	seu
primeiro	e	único	convertido,	ele	escreveu:
“Ele	 foi	 apenas	 um,	 porém	 um	 continente	 está	 vindo	 após	 ele.	 A	 graça	 divina	 que	 transformou	 o
coração	de	um	indiano	poderia	obviamente	transformar	cem	mil.”
De	modo	semelhante,	um	grande	missionário	pioneiro	no	interior	da	África,
que	apesar	de	ter	visto	pouco	em	termos	de	conversão	no	seu	tempo,	escreveu:
“A	 grande	 ideia	 de	 converter	 o	 mundo	 a	 Cristo	 não	 é	 uma	 utopia:	 é	 uma	 motivação	 Divina.	 O
cristianismo	há	de	triunfar.	Isto	também	se	aplica	a	cada	um	dos	passos	da	pregação	do	Evangelho”.
Quando	 vemos	 as	 grandes	 ondas	 de	marés	 de	 impiedade	 em	nossos	 dias,
somos	 tentados	 a	 nos	 desesperar.	O	mal	 corre	 solto,	 de	 alto	 a	 baixo	 no	 nosso
país,	 sem	 ser	 controlado,	 e	 sem	 ser	 aparentemente	 impedido.	 Existe	 alguma
esperança?	Essa	massa	de	gente	indiferente	poderá	um	dia	ser	trazida	a	uma	fé
salvadora	em	Jesus	Cristo?	Existe	uma	maneira	de	parar	o	diabo?	A	situação	não
pode	ser	revertida?	Outros	podem	até	desistir.	Nós	não	podemos.	Nós	sabemos
que	Deus	pode	 transformar	corações	humanos.	Ele	pode	 tomar	o	homem	mais
indiferente	e	apático,	que	se	senta	em	frente	a	sua	TV	noite	após	noite,	tomando
cerveja	e	assistindo	aos	jogos	de	futebol,	e	fazer	dele	uma	pessoa	cheia	de	zelo
por	Jesus	Cristo.	E	o	que	Deus	pode	fazer	por	um,	Ele	pode	fazer	por	uma	nação
inteira.	 “Jesus	 reinará,	 por	 onde	 quer	 que	 passe	 o	 sol”,	 escreveu	 Isaac	Watts.
Com	 certeza,	 “todo	 joelho	 se	 dobrará,	 e	 toda	 língua	 confessará,	 que	 Jesus
Cristo	é	o	Senhor”	(Fp	2:10,11).
Roland	 Baiton,	 o	 eminente	 historiador	 da	 igreja	 em	 Yale,	 disse	 que	 o
calvinismo	“deu	à	luz	uma	geração	de	heróis”.	Nosso	sonho	é	que	Ele	o	faça	de
novo.	Nossa	oração	é	de	que	a	visão	reformada	da	majestade	de	Deus	possa	vir	a
ser	a	sua,	e	inspirá-lo	e	inspirar	a	toda	a	cristandade	novamente,	a	que	venha	a
acreditar	 em	Deus	 para	 as	 grandes	 coisas,	 e	 empreender	 grandes	 coisas.	Certa
vez	eu	li	um	artigo	com	o	título,	“Presbiteriano	Tenta	Inflar	a	Igreja	Através	do
Evangelismo”,	 no	 qual	 líderes	 de	 igreja	 estavam	 lamentando	 “nossos	 jovens
estão	 deixando	 nossas	 igrejas	 a	 rodo”.	 O	 que	 pode	 parar	 isso?	 Quando
começamos	 a	 pregar	 o	 evangelho	 –	 não	 o	 patético	 evangelho	 da	 televisão,	 da
saúde	e	da	prosperidade;	nem	o	evangelho	liberal	falido,	da	salvação	política	e
social;	nem	o	evangelho	superficial	da	auto-realização	dos	outros,	mas,	sim,	“o
evangelho	da	glória	do	Deus	bendito”;	o	 evangelho	da	 sua	grandeza,	da	nossa
depravação,	e	da	graça	do	Salvador	(I	Tm	1:11).
Quando	 pregarmos	 essa	 mensagem	 e	 crermos	 que	 Deus	 a	 usará	 para
transformar	corações,	então	veremos	reavivamento	na	minha	cidade	e	no	nosso
país.	Nós,	como	herdeiros	da	tradição	Reformada,	temos	ir	para	a	linha	de	frente
e	 anunciar	 estes	 símbolos,	 dos	 quais	 as	 nossas	 igrejas	 e	 a	 nossa	 nação	 tanto
necessitam	nos	dias	de	hoje.1
1	 Mensagem	 proferida	 pela	 primeira	 vez	 pelo	 Rev.	 Terry	 Johnson,	 na	 Primeira	 Igreja	 Presbiteriana
Independente	de	Savannah,	Georgia	(PCA),	USA,	no	dia	29	de	outubro	de	1989.
A	MENSAGEM 	DA 	REFORMA 	PARA 	OS 	DIAS
DE 	HOJE
F.	Solano	Portela
E
Porque	Lembrar	a	Reforma
m	31	de	outubro	de	1517	Martinho	Lutero	pregou	as	suas	hoje	famosas	95
Teses	 na	 porta	 da	 catedral	 de	 Wittenberg.	 Periodicamente	 as	 igrejas
evangélicas	 relembram	aqueles	eventos	que,	na	 soberana	providência	de	Deus,
preservaram	 viva	 a	 Sua	 Igreja.	 Muitos,	 entretanto,	 questionam	 estas
comemorações	 e	 alguns	 chegam	 até	 a	 contestar	 a	 lembrança	 da	 Reforma.
“Porque	considerar	o	que	aconteceu	há	quase	500	anos?”
Seguramente	muitos	 não	 estudam	 a	 Reforma	 por	mero	 desconhecimento,
por	falta	de	informação,	por	não	se	aperceberem	da	sua	importância	na	vida	da
Igreja	 e	 da	 humanidade.	 Entretanto,	 muitos	 procuram	 um	 voluntário
esquecimento	daqueles	eventos	do	século	XVI.	Martin	Lloyd-Jones1	nos	fala	que
entre	aqueles	que	rejeitam	a	memória	da	Reforma	temos,	basicamente,	dois	tipos
de	argumentação:
1.	“O	passado	não	tem	nada	a	nos	ensinar”.	Segundo	este	ponto	de	vista,	o
progresso	científico	e	o	futuro	é	o	que	interessa.	Firmado	em	uma	mentalidade
evolucionista,	 estas	 pessoas	 partem	 para	 uma	 abordagem	 histórica	 de	 que	 “o
presente	é	sempre	melhor	do	que	o	passado”	e	assim	nada	enxergam	na	história
que	possa	nos	servir	de	lição,	apoio,	ou	alerta.
2.	A	segunda	forma	de	rejeição	parte	daqueles	que	veem	a	Reforma	como
uma	tragédia	na	história	religiosa	da	humanidade.	Estes	afirmam	que	deveríamos
estar	 estudando	 a	 unidade	 em	vez	de	um	movimento	que	 trouxe	 a	 divisão	 e	 o
cisma	 ao	 cristianismo.	 Dentro	 desta	 visão,	 perdemos	 tempo	 quando	 nos
ocupamos	de	algo	tão	negativo.
Podemos	 dar	 graças,	 entretanto,	 que	 um	 segmento	 da	 igreja	 ainda	 acha
importante	 estar	 relembrando	 e	 aplicando	 as	 questões	 levantadas	 pelos
reformadores.	Mas	é	o	mesmo	Martin	Lloyd-Jones	que	alerta	para	um	perigo	que
existe	 ainda	 dentro	 do	 interesse	 pelos	 acontecimentos	 que	marcaram	 o	 século
XVI.	Na	realidade,	ele	nos	confronta	com	uma	forma	errada	e	uma	forma	certa
de	relembrar	o	passado,	do	ponto	de	vista	religioso.
A	forma	errada,	seria	estudar	o	passado	por	motivos	meramente	históricos.
Esse	 estudo	 seria	 semelhante	 à	 abordagem	 que	 um	 antiquário	 dedica	 a	 um
objeto.	Por	exemplo,	quando	ele	examina	uma	cadeira,	ele	não	está	interessado
se	ela	é	confortável,	se	dá	para	se	sentar	bem	nela,	se	ela	cumpre	adequadamente
a	função	de	cadeira.	Basicamente	a	preocupação	se	resume	à	sua	idade,	ao	seu
estado	de	conservação	e,	principalmente,	a	quem	pertenceu.	 Isto	determinará	o
valor	daquele	objeto	para	ele	e,	consequentemente,	o	seu	estudo	é	motivado	por
esta	visão.
Em	 Mateus	 23:29-35	 teríamos	 um	 exemplo	 dessa	 abordagem	 errada	 do
passado.	O	trecho	diz:
Ai	 de	 vós,	 escribas	 e	 fariseus,	 hipócritas!	 porque	 edificais	 os	 sepulcros	 dos	 profetas	 e	 adornais	 os
monumentos	 dos	 justos,	 e	 dizeis:	 Se	 tivéssemos	 vivido	 nos	 dias	 de	 nossos	 pais,	 não	 teríamos	 sido
cúmplices	no	derramar	o	sangue	dos	profetas.	Assim,	vós	testemunhais	contra	vós	mesmos	que	sois
filhos	daqueles	que	mataram	os	profetas.	Enchei	vós,	pois,	a	medida	de	vossos	pais.
Serpentes,	raça	de	víboras!	como	escapareis	da	condenação	do	inferno?	Portanto,	eis	que	eu	vos	envio
profetas,	sábios	e	escribas:	e	a	uns	deles	matareis	e	crucificareis;	e	a	outros	os	perseguireis	de	cidade
em	 cidade;	 para	 que	 sobre	 vós	 caia	 todo	 o	 sangue	 justo,	 que	 foi	 derramado	 sobre	 a	 terra,	 desde	 o
sangue	de	Abel,	o	justo,	até	o	sangue	de	Zacarias,	filho	de	Baraquias,	que	mataste	entre	o	santuário	e	o
altar.
Jesus	 diz	 que	 aquelas	 pessoas	 pagavam	 tributo	 àmemória	 dos	 profetas	 e
líderes	 religiosos	 do	 passado.	 Eles	 prezavam	 tanto	 a	 história,	 que	 cuidavam	 e
enfeitavam	 os	 sepulcros.	 Proclamavam	 a	 todos	 que	 os	 profetas	 eram	 homens
bons	 e	 nobres	 e	 atacavam	 quem	 havia	 rejeitado	 os	 profetas.	 Diziam	 eles:	 “se
estivéssemos	 lá,	 se	 vivêssemos	 naquela	 época,	 não	 teríamos	 feito	 isso!”	 Mas
Jesus	não	se	impressiona	e	os	chama	de	hipócritas!	A	argumentação	de	Jesus	é	a
seguinte:	Se	vocês	se	dizem	admiradores	dos	profetas,	como	é	que	estão	contra
aqueles	que	representam	os	profetas	e	proclamam	a	mesma	mensagem	que	eles
proclamaram?	 Ele	 testa	 a	 sinceridade	 deles	 pondo	 a	 descoberto	 a	 atitude	 no
presente	para	com	aqueles	que	hoje	pregam	a	mensagem	de	Deus	e	mostra	que
eles	próprios	seriam	perseguidores	e	assassinos	dos	proclamadores	da	mensagem
dos	profetas.
Esse	é	também	o	nosso	teste:	uma	coisa	é	olhar	para	trás	e	louvar	homens
famosos,	 mas	 isso	 pode	 ser	 pura	 hipocrisia	 se	 não	 aceitamos,	 no	 presente,
aqueles	 que	 pregam	 a	 mensagem	 de	 Lutero	 e	 de	 Calvino.	 Somos	 mesmo
admiradores	da	Reforma,	daqueles	grandes	profetas	de	Deus?
Mas	existe	uma	forma	correta	de	relembrar	o	passado.	Deduzimos	esta	não
apenas	por	exclusão	e	inferência	do	texto	anterior	mas	por	que	temos	um	trecho
na	Palavra	de	Deus	—	Hebreus	13:7-8,	que	diz:	“Lembrai-vos	dos	vossos	guias,
os	 quais	 vos	 falaram	 a	 palavra	 de	 Deus,	 e,	 atentando	 para	 o	 êxito	 da	 sua
carreira,	imitai-lhes	a	fé.	Jesus	Cristo	é	o	mesmo,	ontem,	e	hoje,	e	eternamente.”
A	 maneira	 correta	 de	 relembrar	 a	 Reforma	 é,	 portanto,	 verificando	 a
mensagem,	 a	 palavra	 de	 Deus,	 como	 foi	 falada,	 e	 isso	 não	 apenas	 por	 um
interesse	 histórico	 de	 “antiquário”	 mas	 para	 que	 possamos	 imitar	 aquela	 fé
demonstrada.	 Devemos	 observar	 aqueles	 eventos	 e	 aqueles	 homens,	 para	 que
possamos	aprender	deles	e	seguir	os	seus	exemplos	discernindo	a	sua	mensagem
e	aplicando-a	aos	nossos	dias.
Distorções	verificadas	na	Lembrança	da	Reforma
Muitos	de	nós	que	crescemos	neste	país	de	maioria	católica	podem	se	recordar
de,	 numa	 ou	 outra	 ocasião,	 terem	 ouvido	 alguma	 posição	 distorcida	 sobre	 os
fatos	da	Reforma	do	Século	XVI,	ou	 sobre	os	 reformadores.	Uma	das	versões
comuns,	na	visão	da	Igreja	Católica,	era	apresentar	Lutero	como	um	monge	que
queria	casar	e	que	por	isso	teria	brigado	com	o	Papa.	Outros	diziam	que	Lutero
foi	alguém	que	ambicionava	o	poder	político.	Ainda	outros	falam	que	Lutero	era
apenas	 um	 místico	 rebelde,	 sem	 convicções	 reais	 e	 profundas.	 Até	 mesmo	 a
descrição	 dele	 como	 doente	 de	 alma,	 psicopata,	 enganador	 e	 falso	 profeta
permanece	em	vários	escritos	de	historiadores	famosos	do	período.2	Um	famoso
autor	e	historiador	católico	brasileiro	chegou	a	escrever	que	“excomungado	em
Worms,	em	1521,	Lutero	entregou-se	ao	ócio	e	à	moleza.”3
Em	 anos	 mais	 recentes,	 um	 novo	 de	 tipo	 de	 abordagem	 à	 Reforma	 tem
surgido	nos	círculos	católicos,	mas	que	igualmente	representa	alguma	forma	de
distorção.	Por	 exemplo,	 nos	500	 anos	do	nascimento	de	Lutero	 (1983)	 o	Papa
participou	 de	 algumas	 cerimônias	 comemorativas	 do	 evento,	 na	 Alemanha.4
Certamente	não	foi	por	convencimento	das	verdades	ensinadas	por	Lutero,	pois	a
igreja	que	 representa	nada	mudou	doutrinariamente	 após	 a	 sua	participação.	A
ida	do	Papa	evidencia,	entretanto,	uma	comprovação	de	que	a	imagem	de	Lutero
e	 os	 princípios	 que	 pregava	 estão	 sendo	 alvo	 de	 revisionismo	 histórico	 e
distorções.	 Diluindo-se	 a	 força	 das	 doutrinas	 que	 pregava,	 possibilita-se	 uma
aproximação	com	os	fatos	históricos	descontextualizados.
Em	1967,	nos	450	anos	da	Reforma,	a	 revista	TIME	escreveu	o	seguinte:
“O	domingo	da	Reforma	está	se	tornando	um	evento	ecumênico,	que	olha	para
o	futuro,	em	vez	de	para	o	passado”.5	Na	mesma	ocasião,	um	semanário	Jesuíta,
fez	esta	afirmação:	“Lutero	foi	um	profundo	pensador	espiritual	que	foi	levado	à
revolta	 por	 Papas	 mundanos	 incompetentes”.6	 Podemos	 ver	 como	 essa
colocação	faz	da	Reforma	uma	revolta	contra	pessoas	temporais	e	não	contra	um
sistema	de	doutrinas	de	uma	igreja	apóstata,	que	persiste	até	hoje.
Refletindo	o	sentimento	ecumênico	que	tem	permeado	a	segunda	metade	do
século	XX,	Bispos	das	Igrejas	Católica	e	Luterana,	dos	Estados	Unidos,	fizeram
uma	 declaração	 solidária,	 no	 aniversário	 da	Reforma,	 dizendo	 o	 seguinte:	 “…
recomendamos	um	programa	conjunto,	entre	os	membros	de	nossas	 igrejas,	de
estudos,	reflexão	e	oração.”7Podemos	imaginar	discípulos	jesuítas	consciente	e
sinceramente	fazendo	estudos,	reflexão	e	oração	em	comemoração	à	Reforma	do
Século	XVI?	Certamente	 só	 se	 ignorarem	 os	 pontos	 fundamentais	 de	 doutrina
levantados	pelos	reformadores.
Refletindo	uma	visão	político-sociológica	da	Reforma,	uma	outra	distorção
permeou	durante	muito	 tempo	o	pensamento	 revisionista	da	história.	Na	época
em	que	o	comunismo	ainda	imperava	na	Europa	oriental,	porta-vozes	do	partido
comunista,	 da	 Alemanha,	 relembraram	 Lutero	 como	 sendo:	 “um	 precursor	 da
revolução”.8
Esquecimento	doutrinário	dos	princípios	da	Reforma
Muitas	 das	 ações	 descritas	 acima,	 de	 comemoração	 conjunta	 da	Reforma,	 por
católicos	 e	 protestantes,	 só	 ocorrem	 porque	 não	 se	 fala	 nas	 doutrinas	 cardeais
levantadas	 pelo	movimento	 do	 século	XVI.	Tristemente,	 temos	 observado	 que
mesmo	no	campo	chamado	“evangélico”	a	situação	é	semelhante.	Raras	são	as
igrejas	evangélicas	e	denominações	que	ensinam	o	que	foi	a	Reforma	do	Século
XVI	e	muito	poucas	as	que	comemoram	o	evento	e	aproveitam	para	relembrar	e
reaplicar	os	princípios	nela	levantados.	Mais	recentemente,	temos	observado	que
a	 clara	 linha	que	 separa	o	 entendimento	da	 fé	 cristã	 e	da	 salvação,	 das	 igrejas
protestantes	e	católicas,	tem	sido	removida.	Esta	ação,	que	até	alguns	anos	atrás
era	 praticada	 somente	 pela	 teologia	 liberal,	 que	 já	 havia	 declaradamente
abandonado	os	princípios	norteadores	da	Palavra	de	Deus,	hoje	está	presente	no
campo	protestante	evangélico.
A	falta	de	discernimento	e	conhecimento	histórico,	prático	e	teológico	tem-
se	achado	mesmo	dentro	do	campo	ortodoxo	e	abrange	até	teólogos	reformados
e	 tradicionais.	 Referimo-nos	 ao	 documento	 “Evangélicos	 e	 Católicos,	 Juntos”
(“Evangelicals	and	Catholics	Together”),	emitido	em	1994,	nos	Estados	Unidos,
e	que	tem	sido	uma	fonte	de	controvérsia,	desde	a	sua	divulgação.
A	 base	 e	 intenção	 do	 documento	 foi	 a	 realização	 de	 ações	 conjuntas	 de
cunho	moral-político	por	católicos	e	protestantes,9	mas	ele	evidencia	uma	grande
falta	de	discernimento	e	sabedoria.	Por	exemplo,	o	documento	encoraja	a	que	as
pessoas	convertidas	seja	respeitadas	em	sua	decisão	de	se	filiar	quer	a	uma	igreja
católica	quer	a	uma	protestante.10	Estas	declarações	foram	emitidas	como	se	a	fé
fosse	a	mesma,	como	se	a	doutrina	fosse	igual,	como	se	a	base	dos	ensinamentos
fosse	 comum,	 como	 se	 as	 distinções	 inexistissem	 ou	 como	 se	 fossem
extremamente	secundárias.
A	premissa	básica	do	documento	“Evangélicos	e	Católicos,	Juntos”	é	que	a
evangelização	de	católicos	é	algo	indesejável	e	não	recomendável,	uma	vez	que
a	verdadeira	fé	e	prática	cristã	devem	já	estar	presente	na	Igreja	de	Roma.	Em
sua	essência,	este	documento	é	a	grande	evidência	do	esquecimento	da	Reforma
do	Século	XVI	e	do	que	ela	representou	e	representa	para	a	verdadeira	Igreja	de
Cristo.
Algum	evangélico	poderia	argumentar,	“mas	isso	é	coisa	de	americano,	não
atinge	o	nosso	país!”	Ledo	engano!	A	conhecida	e	prestigiada	Revista	Ultimato
trouxe	em	suas	páginas,	no	número	de	setembro	de	1996,	artigos	e	depoimentos,
advindo	 do	 campo	 evangélico	 conservador,	 refletindo	 basicamente	 a	 mesma
compreensão	 do	 documento	 “Evangélicos	 e	 Católicos,	 Juntos”,	 ou	 seja:	 as
distinções	com	a	Igreja	de	Roma	seriam	secundárias	e	não	essenciais.
Tal	situação	reflete	pelo	menos	uma	crassa	ignorância	da	doutrina	Católico
Romana.	Por	exemplo	os	canônes	9	e	10,	do	Concílio	de	Trento,	escritosno	auge
da	contra-reforma,	mas	nunca	ab-rogados	até	os	dias	de	hoje,	dizem	o	seguinte:
Cânon	9	—	Se	alguém	disser	que	o	pecador	é	justificado	somente	pela	fé,	querendo	dizer	que	nada
coopera	com	a	fé	para	a	obtenção	da	graça	da	justificação;	e	se	alguém	disser	que	as	pessoas	não	são
preparadas	e	predispostas	pela	ação	de	sua	própria	vontade	—	que	seja	maldito.
Cânon	11	—	Se	alguém	disser	que	os	homens	são	justificados	unicamente	pela	imputação	da	justiça
de	 Cristo	 ou	 unicamente	 pela	 remissão	 dos	 seus	 pecados,	 excluindo	 a	 graça	 e	 amor	 que	 são
derramados	em	seus	corações	pelo	Espírito	Santo,	e	que	permanece	neles;	ou	se	alguém	disser	que	a
graça	pela	qual	somos	justificados	reflete	somente	a	vontade	de	Deus	—	que	seja	maldito.11
Estas	 declarações,	 ou	 melhor,	 maldições,	 foram	 pronunciadas	 contra	 os
protestantes.	Elas	atingem	o	cerne	da	doutrina	da	 justificação	 somente	pela	 fé.
São	 afirmações	 contra	 a	 defesa	 inabalável	 da	 soberania	 de	 Deus	 na	 salvação,
proclamada	 pela	 Reforma	 do	 Século	 XVI	 e	 continuam	 fazendo	 parte	 dos
ensinamentos	da	Igreja	Católica.
A	visão	distorcida	do	evangelho	e	da	evangelização,	no	campo	Católico	Romano,	não	é	apenas	algo
que	data	da	era	medieval.	Vejam	esta	declaração	extraída	da	encíclica	papal	“O	Evangelho	da	Vida”
escrita	 e	 divulgada	 à	 Igreja	 em	 1995:	 “O	 Evangelho	 é	 a	 proclamação	 que	 Jesus	 possui	 um
relacionamento	singular	com	todas	as	pessoas.	Isso	faz	com	que	vejamos	em	cada	face	humana	a	face
de	Cristo.”12
Certamente	teríamos	que	chamar	esta	visão	do	evangelho	de	universalismo
e	declará-la	contrária	à	fé	cristã	histórica.
Perante	 este	 emaranhado	 de	 opiniões	 tão	 diferenciadas,	 perante	 o
testemunho	e	o	registro	implacável	da	história,	perante	a	crise	de	identidade,	de
doutrina	 e	 de	 prática	 litúrgica	 que	 nossas	 igrejas	 atravessam,	 qual	 deve	 ser	 a
nossa	compreensão	da	Reforma?
Considerações	Práticas	sobre	a	Reforma	e	os
Reformadores
Nosso	apreço	sobre	a	Reforma	e	suas	doutrinas	não	deve	nos	levar	a	uma	visão
utópica	 e	 idealista	 com	 relação	 aos	 seus	 personagens	 principais.	 Devemos
reconhecer	 os	 seus	 feitos	 mas	 também	 suas	 limitações.	 É	 na	 compreensão	 da
falibilidade	humana	que	detectamos	a	mão	soberana	de	Deus	empreendendo	os
Seus	 propósitos	 na	 história.	 Vejamos	 alguns	 pontos	 que	 valem	 a	 pena	 ser
recordados:
a)	Lutero	foi	um	homem	falível:
As	95	Teses	de	Lutero13	realmente	representaram	um	marco	e	um	ponto	de
partida	 para	 a	 recuperação	 das	 sãs	 doutrinas.	 Entre	 as	 teses	 encontramos
expressões	de	compreensão	dos	ensinamentos	da	Bíblia,	como	por	exemplo	na
tese	62	(“O	verdadeiro	tesouro	da	Igreja	é	o	sacrossanto	Evangelho	da	glória	e
da	graça	de	Deus”)	e	na	tese	94	(“Os	cristãos	devem	ser	exortados	a	seguir	a
Cristo,	a	 sua	cabeça,	com	diligência…”).	Entretanto,	devemos	 reconhecer	que
elas	estão	longe	de	serem,	em	sua	totalidade,	expressões	precisas	da	verdadeira
fé	 cristã.	 Elas	 registram,	 na	 realidade,	 o	 início	 do	 pensamento	 de	 Lutero,	 que
seria	 trabalhado	 e	 refinado	 por	 Deus	 ao	 longo	 de	 seus	 estudos	 e	 experiências
posteriores.	Vejamos	os	seguintes	exemplos:
Lutero	faz	referência	ao	Purgatório,	sem	qualquer	contestação	à	doutrina	em	si,	em	12	das	suas
teses	(teses	10,11,	15,	16,	17,	18,	19,	22,	25,	26,	29,	82)	-	ex.:	Tese	29:	“Quem	disse	que	todas
as	 almas	 no	Purgatório	 desejam	 ser	 redimidas?	 Temos	 exceções	 registradas	 nos	 casos	 de	 S.
Severino	e	São	Pascal,	de	acordo	com	uma	lenda	sobre	eles.”
Além	da	menção	aos	santos,	na	 tese	acima,	Lutero	faz	referência	à	Maria	como	mãe	de	Deus
(Tese	75),	aparentemente	não	no	sentido	histórico	do	termo	(o	termo	histórico,	grego	Theotokos
—	 tinha	 o	 propósito	 de	 reconhecer	 a	 divindade	 de	 Jesus14),	 mas	 no	 conceito	 católico	 da
expressão,	que	infere	a	existência	de	um	poder	especial	em	Maria:	Diz	a	Tese	75	—	“É	loucura
considerar	que	as	 indulgências	papais	 têm	 tão	grande	poder	que	elas	poderiam	absolver	um
homem	que	tivesse	feito	o	impossível	e	violado	a	própria	mãe	de	Deus.”
Quatro	teses	inferem	legitimidade	ao	papado	e	à	sucessão	apostólica	(77,	5,	6,	9).	Ex.	Tese	77:
“É	blasfêmia	contra	São	Pedro	e	contra	o	Papa	dizer	que	São	Pedro,	se	fosse	o	papa	atual,	não
poderia	conceder	graças	maiores	[do	que	as	atualmente	concedidas].”
Além	disso,	verificamos	que	resquícios	do	Romanismo	se	fizeram	presentes
na	formulação	da	Igreja	Luterana,	principalmente	na	sua	estruturação	hierárquica
e	 na	 compreensão	 quase	 católica	 dos	 elementos	 da	 Ceia	 do	 Senhor.
Possivelmente	 poderíamos	 também	 dizer	 que	 na	 Reforma	 encontramos
individualismo	em	excesso	e	falta	de	unidade	entre	irmãos	de	mesma	persuasão
teológica	 (principalmente	 nas	 interações	 dos	 Luteranos	 com	 Zwinglio	 e
Calvino).	 Mas,	 com	 todas	 essas	 limitações	 os	 reformadores	 foram
poderosamente	utilizados	por	Deus	na	preservação	das	Suas	verdades.
b)	A	revolta	de	Lutero	foi	eminentemente	espiritual.
Não	 podemos	 compreender	 a	Reforma	 se	 acharmos	 que	Lutero	 teve	 uma
revolta	 contra	 pessoas,	 contra	 padres	 corruptos,	 apenas.	 A	 ação	 de	 Lutero	 foi
uma	revolta	contra	uma	estrutura	errada	e	uma	doutrina	errada	de	uma	igreja	que
distorcia	 a	 Salvação.	 Não	 foi	 um	 movimento	 sociológico,	 ele	 não	 pretendia
ensinar	a	salvação	do	homem	pela	reforma	da	sociedade,	mas	compreendia	que	a
sociedade	 era	 reformada	 pelas	 ações	 do	 homem	 resgatado	 por	 Deus.	 Na
realidade,	 a	 Reforma	 do	 Século	 XVI	 foi	 um	 grande	 reavivamento	 espiritual,
operado	por	Deus,	que	começou	com	uma	experiência	pessoal	de	conversão.
c)	 Lutero	 não	 formulou	 novas	 doutrinas,	 ou	 novas	 verdades,	 mas
redescobriu	a	Bíblia	em	sua	pureza	e	singularidade.
As	 95	 Teses	 representam	 coragem,	 despreendimento	 e	 uma	 preocupação
legítima	 com	 o	 estado	 decadente	 da	 igreja	 e	 com	 a	 procura	 dos	 verdadeiros
ensinamentos	 da	 Palavra.	 Mas	 é	 um	 erro	 acharmos	 que	 a	 Reforma	 marca	 a
aparição	de	várias	doutrinas	nunca	dantes	formuladas.	A	Palavra	de	Deus,	cujas
doutrinas	estavam	soterradas	sob	o	entulho	da	tradição,	é	que	foi	resgatada.	Uma
das	características	comuns	das	seitas	é	a	apresentação	de	supostas	verdades	que
nunca	haviam	sido	compreendidas,	até	a	aparição	ou	 revelação	destas	a	algum
líder.	Estas	“verdades”	passam	a	ser	determinantes	da	interpretação	das	demais	e
ponto	 central	 dos	 ensinamentos	 empreendidos.	 A	 Reforma	 coloca-se	 em
completa	oposição	a	esta	característica.	Nenhum	dos	reformadores	declarou	ter
“descoberto”	 qualquer	 verdade	 oculta,	 mas	 tão	 somente	 apresentava	 em	 toda
singeleza	 os	 ensinamentos	 das	 Escrituras.	 Seus	 comentários	 e	 controvérsias
versaram	sempre	sobre	a	clara	exposição	da	Palavra	de	Deus.
Mais	 uma	 vez,	 Martin	 Lloyd-Jones	 nos	 indica	 “que	 a	 maior	 lição	 que	 a
Reforma	Protestante	tem	a	nos	ensinar	é	justamente	que	o	segredo	do	sucesso,	na
esfera	da	Igreja	e	das	coisas	do	Espírito	é	olhar	para	trás”	15	Lutero	e	Calvino,
diz	 ele,	 “foram	 descobrindo	 que	 estiveram	 redescobrindo	 o	 que	 Agostinho	 já
tinha	descoberto	e	que	eles	tinham	esquecido”.16
A	Mensagem	da	Reforma	para	os	dias	de	hoje
As	 mensagens	 proclamadas	 pela	 Reforma	 continuam	 sendo	 pertinentes	 aos
nossos	 dias.	 Da	 mesma	 forma	 como	 a	 Palavra	 de	 Deus	 sempre	 é	 atual	 e
representa	a	Sua	vontade	ao	homem,	em	todas	as	ocasiões,	a	Reforma,	com	suas
mensagens	extraídas	e	baseadas	nesta	Palavra,	transborda	em	atualidade	à	cena
contemporânea	 da	 igreja	 evangélica.	 Vejamos	 apenas	 alguns	 pontos	 pregados
pelos	Reformadores	e	a	sua	aplicação	presente:
a)	A	reforma	resgatou	o	conceito	do	pecado	—	Romanos	3:10-23.
A	 venda	 das	 indulgências	 mostra	 como	 o	 conceito	 do	 pecado	 estava
distorcido,	 na	 ocasião	 da	 Reforma	 do	 Século	 XVI.	 A	 igreja	 medieval	 e,
principalmente,	 as	 ações	 de	 Tetzel,	 fugiram	 totalmente	 à	 visão	 bíblica	 de	 que
pecado	é	uma	transgressão	da	Lei	de	Deus	e	qualquer	falta	de	conformidade	com
Seuspadrões	 de	 justiça	 e	 santidade.	 A	 essência	 do	 pecado	 foi	 banalizada	 ao
ponto	de	 se	acreditar	que	o	 seu	 resgate	podia	 se	efetivar	pelo	dinheiro.	É	 fácil
vermos	 as	 implicações	 que	 a	 falta	 de	 um	conceito	 bíblico	de	 pecado	 tem	com
outras	doutrinas	chaves	da	fé	cristã,	por	exemplo:	se	o	 resgate	é	em	função	da
soma	de	dinheiro	paga,	como	fica	a	expiação	de	Cristo,	qual	a	necessidade	dela?
Ao	se	insurgir	contra	as	indulgências	Lutero	estava,	na	realidade,	reapresentando
a	 mensagem	 da	 Palavra	 de	 Deus	 sobre	 o	 homem,	 seu	 estado,	 suas
responsabilidades	perante	o	Deus	Santo	Criador	e	sua	necessidade	de	redenção.
Hoje	 estes	 conceitos	 estão	 cada	 vez	 mais	 ausentes	 da	 doutrina	 da	 igreja
contemporânea.	A	mensagem	da	Reforma	continua	necessária	 aos	nossos	dias.
Estamos	nos	acostumando	a	ouvir	que	todas	as	ações	são	legítimas;	que	pecado	é
uma	conceito	relativo	e	ultrapassado;	que	o	que	importa	é	a	felicidade	pessoal	e
não	 a	 observância	 de	 princípios.	Mesmo	nos	meios	 evangélicos,	 existe	 grande
falta	de	discernimento	—	a	preocupação	é	muito	maior	em	cima	de	se	encontrar
justificativas,	 explicações	 e	 racionalizações	 do	 que	 na	 convicção	 e	 no
arrependimento.
b)	A	Reforma	pregou	a	doutrina	da	Justificação	somente	pela	Fé	-	Gl.	3:10-
14.
A	 Igreja	 Católica	 havia	 distorcido	 o	 conceito	 da	 salvação,	 pregando
abertamente	que	a	 justificação	se	processava	por	 intermédio	das	boas	obras	de
cada	 fiel.	 Lendo	 a	 Palavra,	 Lutero	 verificou	 quão	 distanciado	 esta	 pregação
estava	das	verdades	bíblicas	—	salvação	era	uma	graça	concedida	pela	fé.	Todo
o	 trabalho	 vem	de	Deus.	As	 boas	 obras	 não	 fornecem	 a	 base	 para	 a	 salvação,
mas	 são	 evidências	 e	 sub-produto	 de	 uma	 salvação	 que	 procede	 da	 infinita
misericórdia	 de	 Deus	 para	 com	 o	 homem	 pecador	 que	 Ele	 arranca	 da	 lama	 e
perdição	do	pecado.
Hoje	 estamos	 novamente	 perdendo	 esta	 compreensão–a	 mensagem	 da
Reforma	é	necessária.	A	justificação	pela	fé	continua	sendo	esquecida	e	procura-
se	 a	 justificação	pelas	obras.	Muitas	vezes	prega-se	 e	procura-se	 a	 justificação
perante	Deus	através	do	envolvimento	em	ações	de	cunho	social
A	 justificação	 pela	 fé	 está	 sendo,	 ultimamente,	 considerada	 até	 um	 ponto
secundário,	mesmo	 no	 campo	 evangélico,	 partindo-se	 para	 trabalhos	 de	 ampla
cooperação,	como	base	de	fé	e	de	unidade,	como	vimos	no	pensamento	expresso
pelo	documento	já	referido:	Evangélicos	e	Católicos	Juntos.
c)	A	Reforma	resgatou	o	conceito	da	autoridade	vital	da	Palavra	de	Deus	-	2
Pe	1:16-21.
Na	 ocasião	 da	 Reforma,	 a	 tradição	 da	 igreja	 já	 havia	 se	 incorporado	 aos
padrões	determinantes	de	comportamento	e	doutrina	e,	na	 realidade,	 já	haviam
superado	as	prescrições	das	Escrituras.	A	Bíblia	era	conservada	longe	e	afastada
da	 compreensão	dos	devotos.	Era	 considerada	um	 livro	 só	para	os	 entendidos,
obscuro	 e	 até	 perigoso	 para	 a	 massa.	 Os	 reformadores	 redescobriram	 e
levantaram	bem	alto	o	único	padrão	de	fé	e	prática:	a	Palavra	de	Deus	e,	por	este
padrão,	aferiram	tanto	as	autoridades	como	as	práticas	religiosas	em	vigor.
Hoje	 o	mundo	 está	 sem	 padrão.	Mas	 não	 é	 somente	 o	mundo,	 a	 própria
Igreja	 evangélica	 está	voltando	a	 enterrar	o	 seu	padrão	em	meio	a	um	entulho
místico	pseudo-espiritual–a	mensagem	da	Reforma	continua	necessária.
Sabemos	 que	 nas	 pessoas	 sem	 Deus,	 imperam	 o	 subjetivismo	 e	 o
existencialismo.	 A	 única	 regra	 de	 prática	 existente	 parece	 ser:	 “comamos	 e
bebamos	porque	amanhã	morreremos”.	Verificamos	que	nas	seitas,	existem	uma
multiplicidade	de	padrões.	Livros	e	escritos	paralelos	são	apresentados	como	se
a	 sua	 autoridade	 estivesse	paralela	ou	 até	 acima	da	Bíblia.	A	cena	 comum	é	 a
apresentação	 de	 novas	 revelações,	 geralmente	 de	 caráter	 escatológico	 e	 de
características	fluidas,	contraditórias	e	totalmente	duvidosas.
No	 meio	 eclesiástico	 liberal,	 já	 nos	 acostumamos	 a	 identificar	 o	 ataque
constante	 à	 veracidade	 das	 Escrituras.	 Já	 vamos	 com	mais	 de	 dois	 séculos	 de
contestação	sistemática	à	Palavra	de	Deus,	como	se	a	fé	cristã	verdadeira	fosse
capaz	de	subsistir	sem	o	seu	alicerce	principal.
Mas	é	no	campo	evangélico	que	somos	perturbados	com	os	últimos	ataques
à	 Bíblia,	 como	 regra	 inerrante	 de	 fé	 e	 prática.	 Ultimamente	 muitos	 ditos
intelectuais	 têm	 questionado	 a	 doutrina	 que	 coloca	 a	 Bíblia	 como	 um	 livro
inspirado,	 livre	 de	 erro.	 Podemos	 tomar	 como	 exemplo	 o	 caso	 do	 Fuller
Theological	Seminary.	Esta	famosa	instituição	evangélica	foi	fundada	em	1947,
sobre	princípios	corretos.	Logo	após	o	 seu	 início,	 formulou-se	uma	declaração
de	fé	que	especificava:	“…os	livros	do	VT	e	NT…,	nos	originais	são	inspirados
plenariamente	e	livres	de	erro,	no	todo	e	em	suas	partes…”	Entretanto,	em	1968,
Daniel	Fuller,	filho	do	fundador,	e	que	havia	estudado	sob	Karl	Barth,	começou
a	questionar	a	inerrância	da	Bíblia,	fazendo	distinção	entre	trechos	“revelativos”
e	 trechos	 “não	 revelativos”	 das	 Escrituras.	 Foi	 seguido	 nesta	 posição	 pelo
presidente,	David	Hubbard,	e	por	vários	outros	professores,	todos	considerados
evangélicos.17	Logicamente	não	há	critério	coerente	ou	autoritário	para	execução
desta	distinção.	Subtrai-se	da	Igreja	o	seu	padrão,	derruba-se	um	dos	pilares	da
Reforma	 e	 a	 Igreja	 é	 retroagida	 à	 uma	 condição	medieval	 de	dependência	 dos
especialistas	que	nos	dirão	quais	as	partes	que	devemos	crer	realmente	e	quais	as
que	devemos	descartar	como	mera	invenção	humana.
No	 campo	 evangélico	neopentecostal	 a	 suficiência	 da	 Palavra	 de	Deus	 é
desconsiderada	e	ela	é	superada	pelas	supostas	“novas	revelações”	que	passam	a
ser	determinantes	das	doutrinas	e	práticas	do	Povo	de	Deus.
A	 Confissão	 de	 Fé	 de	 Westminster	 em	 seu	 Capítulo	 1º,	 apresenta	 a
mensagem	 inequívoca	 da	 Reforma	 do	 Século	 XVI,	 cada	 vez	 mais	 válida	 aos
nossos	dias.	Ali	a	Bíblia	é	descrita	como	sendo	a	“…	única	regra	infalível	de	fé	e
de	prática”.
d)	A	Reforma	redescobriu,	na	Palavra,	a	doutrina	do	sacerdócio	individual
do	crente–Hb	10:19-21.
O	 sacerdócio	 individual	 do	 crente	 foi	 uma	 outra	 doutrina	 resgatada.	 Ela
apresenta	 a	 pessoa	 de	 Cristo	 como	 único	 mediador	 entre	 Deus	 e	 os	 homens,
concedendo	a	cada	salvo	“acesso	direto	ao	trono”	por	intermédio	do	sacrifício	de
Cristo	 na	 cruz	 e	 pela	 operação	 do	 Espírito	 Santo	 no	 “homem	 interior”.18	 O
ensinamento	 bíblico,	 transmitido	 pela	 Reforma,	 eliminava	 os	 vários
intermediários	que	haviam	surgido	ao	longo	dos	séculos,	entre	o	Deus	que	salva
e	o	pecador	redimido.	Na	ocasião,	esse	era	um	ensinamento	totalmente	estranho
à	 Igreja	 de	 Roma,	 que	 sempre	 se	 apresentou	 como	 tendo	 a	 palavra	 final	 de
autoridade	e	interpretação	das	Escrituras.
Lutero	rebelou-se	contra	o	véu	de	obscuridade	que	a	Igreja	lançava	sobre	as
verdades	 espirituais	 e	 levou	 os	 fiéis	 de	 volta	 ao	 trono	 da	 graça.	 Isso
proporcionou	uma	abertura	providencial	de	conhecimento	teológico	e	religioso.
Lutero	 sabia	 disso,	 mas	 sabia	 também	 que	 o	 acesso	 a	 Deus	 deveria	 estar
fundamentado	nas	verdades	da	Bíblia,	tanto	que	um	de	seus	primeiros	esforços,
após	a	quebra	com	a	Igreja	Romana,	foi	a	tradução	da	Palavra	de	Deus	na	língua
falada	de	seu	país:	o	alemão.
O	ensinamento	do	sacerdócio	individual	do	crente	foi	o	grande	responsável
pelo	 estudo	 aprofundado	 das	 escrituras	 e	 pela	 disseminação	 da	 fé	 reformada.
Levados	 a	 proceder	 como	 os	 Bereanos,19	 os	 crentes	 verificaram	 que	 não
dependiam	 do	 clero	 para	 o	 entendimento	 e	 aplicação	 dos	 preceitos	 de	Deus	 e
passaram	a	penetrar	com	determinação	nas	doutrinas	cristãs.
A	 mensagem	 da	 Reforma	 continua	 sendo	 necessária	 hoje.	 A	 igreja
contemporânea	 está	 se	 multiplicando	 em	 quantidade	 de	 adeptos,	 mas	 é	 uma
multiplicação	 estranha	 porque	 segue	 em	 paralelo	 à	 uma	 preguiça	 mental	 ao
estudo.	 Parece	 que	 fomos	 todos	 tomados	 de	 anorexia	 espiritual,	 ondenos
contentamos	 com	 muito	 pouco,	 nos	 achamos	 mestres	 sem	 estudo,	 nos
concentramos	na	periferia	e	não	no	cerne	das	doutrinas	e	ficamos	felizes	com	o
recebimento	só	do	“leite”	e	não	da	“carne”.
A	 mensagem	 da	 Reforma	 é	 necessária	 para	 que	 não	 venhamos	 a
testemunhar	a	consolidação	de	toda	uma	geração	de	“analfabetos	cristãos”.	Em
vez	 de	 procurarmos	 “tudo	 enlatado”	 e	 de	 deixar	 que	 apenas	 formas	 de
entretenimento	 povoem	 nossas	 mentes	 e	 corações,	 devemos	 nos	 relembrar
constantemente	da	importância	de	“guardar	a	palavra	no	coração”.
Precisamos	nos	aperceber	que	a	objetividade	da	Palavra	de	Deus	é	verdade
proposicional	objetiva.	Mas	esta	objetividade	tem	que	ter	seguimento	por	nosso
estudo	 e	 na	 nossa	 capacidade	 de	 compreensão,	 sob	 a	 iluminação	 do	 Espírito
Santo	 de	 Deus,	 e	 na	 aplicação	 coerente	 dos	 ensinamentos	 desta	 Palavra	 em
nossas	vidas.
e)	 A	 Reforma	 apresentou,	 de	 forma	 clara	 e	 inequívoca,	 o	 conceito	 da
soberania	de	Deus.	Sl	24
Na	ocasião	da	Reforma,	 as	 expressões	de	 religiosidade	 tinham	se	 tornado
totalmente	 centralizadas	 no	 homem.	 Isso	 ocorreu	 principalmente	 pela	 grande
influência	 de	 Tomás	 de	 Aquino	 na	 sistematização	 do	 pensamento	 Católico
Romano.	 Abraçando	 as	 ideias	 de	 Pelágio,	 Aquino	 enfatizou	 completamente	 o
livre	arbítrio	do	homem,	desconsiderando	a	gravidade	da	escravidão	ao	pecado
que	o	torna	incapaz	de	escolher	o	bem,	a	não	ser	que	a	ele	seja	direcionado	por
Deus.	 Lutero	 reconheceu	 que	 a	 salvação	 se	 constituía	 em	 algo	mais	 que	 uma
mera	convicção	intelectual.	Era,	na	realidade,	um	milagre	da	parte	de	Deus	e	por
isso	 ele	 tanto	 pregou	 e	 escreveu	 sobre	 “a	 prisão	 do	 arbítrio”.	 Costumamos
atribuir	 a	 cristalização	 das	 doutrinas	 relacionadas	 com	 a	 soberania	 de	 Deus	 a
João	Calvino,	apenas,	mas	o	ensinamento	bíblico	de	Lutero	traz,	com	não	menor
veemência,	 uma	 teologia	 teocêntrica,	 na	 qual	 Deus	 reina	 soberanamente	 em
todos	os	sentidos.
Hoje,	 a	mensagem	continua	 a	 ser	 necessária,	 pois	 o	 homem,	 e	 não	Deus,
continua	sendo	o	centro	das	atenções.	Mesmo	dentro	dos	círculos	evangélicos,
nossa	 evangelização	 é	 efetivada	 tendo	 a	 felicidade	 do	 homem,	 como	 alvo
principal,	e	não	a	glória	de	Deus.	Até	a	nossa	liturgia	é	desenvolvida	em	torno	de
algo	que	nos	faça	“sentir	bem”,	e	não	no	objetivo	maior	da	glorificação	a	Deus.
Nesses	aspecto,	deveríamos	estar	atentos	à	mensagem	de	Amós,	que	nos	ensina
(Am	4:4-5)	que	Deus	não	se	impressiona	com	a	Liturgia	que	não	é	direcionada	a
Ele.20	Neste	trecho	vemos	que	a	adoração	realizada	em	Betel21	e	Gilgal22	 tinha
várias	características	dos	cultos	contemporâneos:
1.	Os	locais	eram	suntuosos	e	famosos	(Betel	possuía	belas	fontes	no	topo	da	montanha).
2.	A	periodicidade	dos	cultos	e	possivelmente	a	frequência	era	exemplar	(diariamente	se	reuniam).
3.	As	contribuições	eram	abundantes,	superando	até	os	padrões	de	Deus	(de	três	em	três	dias	traziam
as	ofertas).
4.	 O	 louvor	 era	 abundante	 (sacrifícios	 de	 louvor	 eram	 ofertados.	 Am	 5:23	 e	 6:5	 fala	 também	 do
estrépito	dos	cânticos	e	da	transbordante	música	instrumental).
5.	Havia	bastante	publicidade	(as	ofertas	eram	divulgadas	a	apregoadas).
6.	Havia	alegria	e	deleite	geral	nos	trabalhos	(“disso	gostais”,	diz	o	profeta).
O	resultado	de	toda	esta	adoração	centralizada	no	homem	era	a	mão	pesada
de	Deus	em	julgamento	sobre	aquela	sociedade	insensível	(com	aquele	culto	as
pessoas,	 dizia	 o	 profeta,	 “multiplicavam	 as	 suas	 transgressões”).	 Realmente,	 à
semelhança	da	Reforma,	precisamos	resgatar	a	pregação	da	Soberania	de	Deus	e
demonstrar	esta	doutrina	na	prática	de	nossas	vidas	e	na	das	nossas	igrejas.
Conclusão
Devemos	 reconhecer	 a	 Reforma	 como	 um	 movimento	 operado	 por	 homens
falíveis,	mas	poderosamente	utilizados	pelo	Espírito	Santo	de	Deus	para	resgatar
Suas	verdades	e	preservar	a	Sua	Igreja.	Não	devemos	endeusar	os	Reformadores
nem	a	Reforma,	mas	não	podemos	deixá-la	esquecida	e	nem	deixar	de	proclamar
a	sua	mensagem,	que	reflete	o	ensinamento	da	Palavra	de	Deus,	aos	dias	de	hoje.
A	 natureza	 humana	 continua	 a	mesma,	 submersa	 em	 pecado.	 Os	 problemas	 e
situações	tendem	a	se	repetir,	até	no	seio	da	igreja.	O	Deus	da	Reforma	fala	ao
mundo	hoje,	com	a	mesma	mensagem	eterna.	Devemos,	em	oração	e	temor,	ter	a
coragem	de	pregá-la	e	proclamá-la	à	nossa	igreja.
1	D.	M.	Lloyd-Jones,	Rememorando	a	Reforma	(S.	Paulo:	PES,	1994?)	pp.	2-5.
2	O	Rev.	Sabatini	Lalli,	em	seu	livro,	Lutero–Cinco	Séculos	Depois	(SP:	CEP,	1983)	pp.	4-5,	compila	várias
dessas	distorções.
3	Plínio	Corrêa	 de	Oliveira,	Folha	 de	 São	Paulo,	 10.01.1984,	 p.	 2.	O	 autor	 cita	 uma	 carta	 de	 Lutero	 a
Melanchton,	para	provar	o	seu	ponto,	na	qual	Lutero	reclama	da	sua	preguiça.	Provavelmente	as	colocações
expressam	o	profundo	sentimento	de	incapacidade	perante	as	grandes	tarefas	que	confrontam	os	verdadeiros
e	responsáveis	cristãos.	O	autor	parece	desconhecer	que	enquanto	Lutero	“se	entregava	ao	ócio	e	à	moleza”,
entre	outras	coisas,	traduziu	a	Bíblia	em	sua	totalidade.
4	Jornal	de	Brasília	—	Caderno	Internacional,	10.11.1983,	p.	11	e	Isto	É,	09.11.1983,	p.	37.
5	Time,	24.03.1967,	Citado	por	Dr.	Allen	A.	MacRae	em	Luther	and	the	Reformation	(N.	York:	American
Council	of	Christian	Churches,	1967)	p.	2.
6	Mac	Rae,	Ibid.
7	Ibid.
8	Time,	24.03.1967,	citado	em	The	Christian	News	(New	Haven:	Lutheran	News,	Inc.,	1983)	,	27.06.1983,
p.	18.
9	 lgumas	 dessas	 ações,	 reconhecemos,	 possuem	 validade	 moral;	 como,	 por	 exemplo,	 levantar	 a	 voz
conjunta	 da	 sociedade	 contra	 o	 crime	 do	 aborto,	 contra	 a	 promiscuidade	 defendida	 pelos	 meios	 de
comunicação,	etc.
10	 The	 Christian	 who	 “…has	 undergone	 conversion…”	 must	 have	 “…his	 decision	 about	 communal
allegiance	 and	 participation…	 assiduously	 respected.”	 Also,	 “…those	 converted…	 must	 be	 given	 full
freedom	and	 respect	 as	 they	 discern	 and	 decide	 the	 community	 in	which	 they	will	 live	 their	 new	 life	 in
Christ.”
11	Transcritos	no	WRS	Journal	(Tacoma:	Western	Reformed	Seminary,	Summer	1995)	Vol.	2,	Iss.	2,	p.	15.
12	Encíclica	Evangelium	Vitae,	pt.	81.
13	O	texto	completo	das	95	teses,	traduzidas	em	inglês,	pode	ser	obtido	pela	Internet,	no	seguinte	endereço:
http://www.bibleclass.com/lib/95.htm.
14	Termo	utilizado	na	igreja	desde	a	Escola	de	Alexandria,	por	Orígenes,	atacado	por	Nestorius,	no	quinto
século,	 mas	 aprovado	 e	 abrigado	 pelos	 Concílios	 de	 Éfeso	 (431	 DC)	 e	 de	 Calcedônia	 (451	 DC).
Posteriormente,	a	Igreja	Católica	veio	a	distorcer	o	significado	de	“Mãe	de	Deus”	—	em	vez	de	representar
uma	defesa	da	divindade	de	Cristo	o	termo	passou	a	expressar	uma	situação	privilegiada	de	poder	e	essência
à	Maria,	como	objeto	próprio	de	adoração	e	fonte	de	poder.
15	Lloyd-Jones,	Rememorando	a	Reforma,	p.8
16	Ibid.
17	Harold	Lindsell,	The	Battle	for	the	Bible	(G.	Rapids:	Zondervan,	1976)	pp.	106-121.Exemplo	de	outros
nomes	famosos	(chamados,	evangélicos)	que	questionam	inerrância:	Paul	King	Jewett	e	George	Ladd.
18	Ef	2:18	e	3:16
19	At	17:11
20	Várias	mensagens	expositivas	sobre	os	alertas	de	Amós,	e	a	sua	aplicabilidade	aos	nossos	dias,	têm	sido
proferidas	 pelo	 Rev.	Dr.	 Augustus	Nicodemus	 Lopes	 (1995/1996)	 das	 quais	 alguns	 destes	 pontos	 foram
extraídos.
21	Betel	(Casa	de	deus)	-	Cidade	em	Samaria,	lugar	de	adoração	dos	Cananeus	(El,	Baal).	Contrasta	com	o
Templo	dos	judeus,	chamado	de	Beth	Yaweh,	a	casa	de	Jeová.
22	Gilgal	-	Existem	várias	(pelo	menos	6)	na	Bíblia.	Esta	deve	ser	a	de	Js	4:19,	Jz	2:1	e	3:19,	que	ficava
perto	de	Jericó,	chegando	a	abrigar	a	Arca	do	concerto	(Js	18:1).	Outros	acham	que	seria	a	de	2	Rs	2:1-4.
Saul	utilizou	a	primeira	como	base	de	operações	contra	os	Amalequitas.	Os	12:11	indica	que	virou	local	de
sacrifícios.	Etimologicamente	pode	ter	o	significado	traçado	a	“um	círculo	de	pedras”.
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