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03 - MITO E FILOSOFIA - PERÍODOS HISTÓRICOS DA FILOSOFIA

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1 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ 
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
CURSO: LETRAS∕PORTUGUÊS-EAD 
PROFESSORA: RAULIETTE DIANA LIMA E SILVA 
 
Mafalda, personagem dos quadrinhos do cartunista argentino Quino (1932), é uma menina bem informada e contestadora, que faz 
constantemente perguntas difíceis sobre ética, política e cultura para seus pais. 
 
MITO E FILOSOFIA 
INTRODUÇÃO 
Quando dizemos que o pensamento filosófico-científico surge na Grécia no séc. VI a.C, 
caracterizando-o como uma forma específica de o homem tentar entender o mundo que o 
cerca, isto não quer dizer que anteriormente não houvesse também outras formas de se 
entender essa realidade. 
Vamos examinar o mito, modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que 
nas civilizações da Antiguidade ainda exerceu significativa influência. 
Entre os povos indígenas habitantes das terras brasileiras, encontramos várias versões 
sobre a origem da noite. Um desses relatos é o dos Maué, nativos dos rios Tapajós e Madeira. 
Segundo eles, no início só havia o dia. Cansados da luz, foram ao encontro da Cobra-Grande, a 
dona da noite. Ela atendeu ao pedido com a condição de que os indígenas lhe dessem o veneno 
com que os pequenos animais como aranhas, cobras e escorpiões se protegiam. Em troca, 
receberam um cocô com a recomendação de só abri-lo ao chegarem à maloca. Ao ouvirem 
ruídos estranhos saindo dele, não resistiram à tentação e assim deixaram escapar 
antecipadamente a escuridão da noite. Atônitos e perdidos, pisaram nos pequenos bichos, cujas 
picadas venenosas mataram muitos deles. Desde então, os sobreviventes aprenderam os 
cuidados que deveriam tomar quando a noite viesse. 
De modo semelhante aos Maué, os gregos dos tempos homéricos narram o mito de 
Pandora, a primeira mulher. Em uma das muitas versões desse mito, Zeus enviou um presente 
aos humanos, mas com a intenção de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu, que 
o roubara dos Céus. Pandora levava consigo uma caixa, que abriu por curiosidade, deixando 
escapar todos os males que afligem a humanidade. Conseguiu, porém, fechá-la a tempo de 
reter a esperança, única maneira de suportarmos as dores e os sofrimentos da vida. 
Nos dois relatos, percebemos situações aparentemente diversas, mas que se assemelham, 
pois ambos tratam da origem de algo: entre os indígenas, como surgiu a noite; e entre os 
gregos, a origem dos males. E trazem como consequências dificuldades que as pessoas devem 
enfrentar. 
No entanto, o mito é mais complexo e muito mais expressivo e rico do que supomos 
quando apenas o tomamos como o relato frio de lendas desligadas do ambiente que as fez 
2 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
surgir. 
Não só os povos tribais ou as civilizações antigas elaboram mitos. A consciência mítica 
persiste em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de 
compreender e, sobretudo sentir a realidade. 
 
O QUE É O MITO? 
A leitura apressada do mito nos leva a compreendê-lo como uma maneira fantasiosa de 
explicar a realidade, quando esta ainda não foi justificada pela razão. Sob esse enfoque, os 
mitos seriam lendas, fábulas, crendices e, portanto, um tipo inferior de conhecimento, a ser 
superado por explicações mais racionais. 
O mito, porém, resulta de uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam 
na emoção e na afetividade. Nesse sentido, antes de interpretar o mundo de maneira 
argumentativa, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas 
coisas ou como delas nos afastamos. 
Não se trata, porém, de qualquer intuição. Para melhor circunscrever o conceito de mito, 
precisamos de outro componente - o mistério -, pois ele sempre é um enigma a ser decifrado e 
como tal representa nosso espanto diante do mundo. 
Segundo alguns intérpretes, o "falar sobre o mundo" simbolizado pelo mito está 
impregnado do desejo humano de afugentar a insegurança, os temores e a angústia diante do 
desconhecido, do perigo e da morte. Para tanto, os relatos míticos se sustentam na crença, na 
fé em forças superiores que protegem ou ameaçam, recompensam ou castigam. 
Entre as comunidades tribais, os mitos constituem um discurso de tal força que se estende 
por todas as esferas da realidade vivida. Desse modo, o sagrado (ou seja, a relação entre a 
pessoa e o divino) permeia todos os campos da atividade humana. Por isso, os modelos de 
construção mítica são de natureza sobrenatural, isto é, recorre-se aos deuses para essa 
compreensão do real. 
O mito nasce do desejo de dominação do mundo, para afugentar o medo e a insegurança. 
O homem, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar-lhes 
qualidades emocionais. As coisas não são mais matérias mortas, nem são independentes do 
sujeito que as percebe. Ao contrário tão sempre impregnadas de qualidades e são boas ou más, 
amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e 
repelentes. Assim, o homem se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa 
agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou grupo 
seja protegido, para que as crianças nasçam e mortos possam ir em paz. 
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos 
essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos 
processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-
se, sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que 
constitui. O próprio termo grego mythos significa um tipo bastante especial de discurso, o 
discurso fictício ou imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de "mentira". 
Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e 
teogonias. 
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer, 
nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
Gonia, portanto, quer dizer; geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. 
Cosmos, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o 
nascimento e a organização do mundo, a partir de forcas geradoras (pai e mãe) divinas. 
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theos, que, em grego, significa: as coisas divinas, 
os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de 
seus pais e antepassados. 
As narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição 
cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada, e sua forma de 
transmissão é basicamente oral. Mesmo poetas como Homero, com a Ilíada e a Odisseia (Séc. IX 
a.C.), e Hesíodo (Séc. VII a.C.), com a Teogonia, que são as principais fontes de nosso 
conhecimento dos mitos gregos, na verdade não são autores desses mitos, mas indivíduos - no 
caso de Homero cuja existência é talvez lendária - que registraram poeticamente lendas 
recolhidas das tradições dos diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia desde o 
período arcaico (c. 1500 a.C.). 
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura assim a própria visão de mundo 
dos indivíduos, a sua maneira mesmo de vivenciar esta realidade. Nesse sentido, o pensamento 
mítico pressupõe a adesão, a aceitação dos indivíduos, na medida em que constitui as formas de 
sua experiência do real. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao 
questionamento, à crítica ou à correção. Não há discussão do mito porque ele constitui a 
própria visão de mundo dos indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, tendo, 
portanto um caráter global que exclui outras perspectivas a partir das quais ele poderia ser 
discutido. Ou o indivíduo é parte dessa cultura e aceita o mito como visãode mundo, ou não 
pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não lhe diz nada. 
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade 
é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais, 
aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por uma realidade exterior ao mundo 
humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, 
são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente. São os deuses, os espíritos, o 
destino que governam a natureza, o homem, a própria sociedade. Os sacerdotes, os rituais 
religiosos, os oráculos servem como intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo 
divino. Os cultos e sacrifícios religiosos encontrados nessas sociedades são, assim, formas de se 
tentar alcançar os favores divinos, de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos 
deuses. 
O pensamento mítico está, então muito ligado à magia, ao desejo, querer que as coisas, 
aconteçam de determinado modo. E a partir disso que se desenvolvem os rituais como meios de 
propiciar os acontecimentos desejados. 
A primeira e fundamental forma de modelo explicativo da realidade é o mito. É um 
modelo originário de organização dos fatos e do universo em geral, expresso em linguagem 
simbólica e imaginativa. O mito é mágico não é lógico-conceitual, sua forma é narrativa, seu 
conteúdo é, simbólico concreto (não é conceitual-abstrato), e seu significado é inconsciente. 
Outra característica do mito é o fato de ser sempre dogmático, isto é, de apresentar-se 
como verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação, 
então, tem de ser através da fé e da crença. Não é uma aceitação racional, e não pode ser nem 
provado nem questionado. 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
Embora não reflexivo, o mito é uma expressão do desejo do homem de compreensão do 
mundo, relacionada a uma vontade de transformação da realidade, expresso em uma 
mentalidade mágica. 
O mito é muito confundido com o conceito de lenda, porém esta não tem compromisso 
nenhum com a realidade, são meras histórias sobrenaturais, como é o caso da mula sem cabeça 
e do saci Pererê. O mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações nascentes, 
mas existe em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana 
de compreender a realidade. 
 
FUNÇÕES DO MITO 
Alguns teóricos explicam o mito pela função que desempenha no cotidiano da tribo, 
garantindo a tradição e a sobrevivência do grupo. Das análises feitas pelos estudiosos de nosso 
tempo segue-se que o mito exerceu, entre os povos antigos, três funções principais: religiosa, 
social e filosófica. 
Primeiramente, “o mito é o primeiro degrau no processo de compreensão dos 
sentimentos religiosos mais profundos do homem; é o protótipo da Teologia”. Mas, ao mesmo 
tempo, ele é também aquilo que assinala e garante o pertencer a um grupo social e não a outro; 
de fato, o pertencer a este ou aquele grupo depende dos mitos particulares que alguém segue e 
cultiva. O grupo, cuja sobrevivência deve ser assegurada, existe antes do indivíduo e é só 
através dele que os sujeitos individuais se reconhecem enquanto tal. Explicando melhor, o 
sujeito só tem consciência, só se conhece como parte do grupo. É através da existência dos 
outros e do reconhecimento dos outros que ele se afirma. Por isso, pode ser expulso 
simbolicamente: no momento em que falta o reconhecimento dos outros integrantes do grupo, 
ele não se reconhece, não se encontra mais. 
Dentro dessa perspectiva de coletivismo, a transgressão da norma, a não obediência da 
regra afeta o transgressor e toda sua família ou comunidade. Assim é criado o tabu - a 
proibição-, envolto em clima de temor e sobrenaturalidade, cuja desobediência é extre-
mamente grave. 
Finalmente, o mito exerce uma função semelhante à da filosofia, enquanto representa o 
modo de autocompreender-se dos povos primitivos, com o objetivo de fornecer e responder 
aos questionamentos existenciais, cósmicos e culturais. Fornecendo uma explicação para os 
acontecimentos da natureza e da existência humana: para a guerra e a paz, para a bonança e a 
tempestade, para a abundância e a carestia, para a saúde e a doença, para o nascimento e a 
morte. 
Este saber mitológico "explicava", para a época e para aquele momento histórico as 
principais questões da existência humana, da natureza e sociedade. Explicava a origem dos reis, 
a própria origem do homem, do povo grego, das guerras, dos amores, da doença e da morte, 
dos sentimentos; enfim, de toda riqueza da sua cultura. A síntese do mito e a consciência 
mitológica justificam as estruturas sociais e cimentam as relações de trabalho, parentesco e 
dependência política entre os gregos. 
Durante um longo período da história grega, a mitologia constituiu a fonte exclusiva de 
explicação para a existência do homem e de organização do mundo. As interpretações 
imaginárias criadas por ela foram adquirindo autoridade pelo fato de serem antigas. As 
divindades constituíam as personagens que, pelas divergências, intrigas, amizades e desejo de 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
justiça, explicavam tanto a natureza humana como os resultados das guerras e os valores 
culturais. Nesse sentido; a linguagem do mito esconde interesses de classes e pode ser 
manipulada por aqueles que detêm o poder. Ela impõe comportamentos morais à comunidade 
e uma hierarquia de punições para aqueles que não os seguem. 
O pensamento mítico tem uma característica até certo ponto paradoxal. Se, por um lado, 
pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro lado, recorre nessa explicação ao 
mistério e ao sobrenatural, ou seja, exatamente àquilo que não se pode explicar, que não se 
pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana. A explicação dada pelo 
pensamento mítico esbarra assim no inexplicável, na impossibilidade do conhecimento. 
O mito, portanto, é uma primeira fala sobre o mundo, uma primeira atribuição de sentido 
ao mundo, sobre a qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel, e cuja função 
principal não é explicar a realidade, mas acomodar o homem ao mundo. 
Além de acomodar e tranquilizar o homem em face de um mundo assustador, dando-lhe a 
confiança de que, através de suas ações mágicas, o que acontece no mundo natural depende, 
em parte, dos atos humanos, o mito também fixa modelos exemplares de todas as funções e 
atividades humanas. 
Historicamente, o mito tem uma importância muito grande, porque representa o primeiro 
esforço da humanidade para explicar as coisas e suas causas. Sob o véu da fantasia, há nessas 
respostas uma autêntica procura das “causas primeiras” do mundo. 
 
O MITO HOJE 
Mas, e quanto aos nossos dias, os mitos são diferentes? O pensamento crítico e reflexivo, 
que teve início com os primeiros filósofos, na Grécia do século VI a.C, e o desenvolvimento do 
pensamento científico a partir do século XIV, com o Renascimento, ocuparam todo o lugar do 
conhecimento e condenaram à morte o modo mítico de nos situarmos no mundo humano? 
De fato, existem outros modos de compreensão, como o senso comum, a filosofia, a arte, 
a religião, e nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz da inteligibilidade. A função 
fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, 
quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas - casa, lar, amor, pai, mãe, paz, 
liberdade, morte - cuja definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites 
da própria subjetividade. Essas palavras nos remetem a valores arquetípicos, modelos universais 
que existem na natureza inconsciente e primitiva de todos nós. 
O homem moderno, tanto quanto o antigo, não é só razão. Mas também afetividade e 
emoção. Se a ciência é importante e necessária à nossa construção de mundo, não oferece a 
única interpretaçãoválida do real. Ao contrário, a própria ciência pode virar um mito, quando 
somos levados a acreditar que ela é feita à margem da sociedade e de seus interesses, que 
mantém total objetividade e que é neutra. 
Negar o mito é negar uma das formas fundamentais da existência humana. O mito é a 
primeira forma de dar significado ao mundo: fundada no desejo de segurança, a imaginação cria 
histórias que nos tranquilizam, que são exemplares e nos guiam no dia-a-dia. 
Ao contrário, porém, do que muitos supõem, o mito não desapareceu com o tempo. Está 
presente até hoje, permeando nossas esperanças e temores. É bem verdade que o 
desenvolvimento do pensamento reflexivo não decreta a morte da consciência mítica, pois o 
mito, mesmo entre os ditos civilizados, ocupa um lugar de destaque como forma fundamental 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
de todo viver humano. Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos se situa 
inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial 
serve de base para todo trabalho posterior. 
 
A PERMANÊNCIA DO MITO 
O mito ainda é uma expressão fundamental do viver humano, o ponto de partida para a 
compreensão do ser. Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos se situa 
inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial 
serve de base para todo trabalho posterior da razão. Continuamos a fazer isso pela vida afora, 
independente de nosso desenvolvimento intelectual. Essa função de criar fábulas subsiste na 
arte popular e permeia a nossa vida diária. 
Hoje em dia, os meios de comunicação de massa trabalham em cima dos desejos e 
anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. Personalidades como artistas, 
políticos e esportistas, que os meios de comunicação se incumbem de transformar em imagens 
exemplares, passam a representar todo tipo de anseios: sucesso, poder, liderança, são fortes, 
saudáveis, bem-alimentados, têm sucesso na profissão e atração sexual etc. - que é traduzido 
em reconhecimento social e poder econômico -, são excelentes pais, filhos e maridos, vivem 
cercados de pessoas bonitas, interessantes e ricas. Como não mitificá-los? Por esses motivos, 
figuras míticas como as do guerrilheiro Che Guevara, da princesa Lady Diana, da superstar 
Madonna, do tricampeão de automobilismo Ayrton Senna exaltam o imaginário das pessoas. 
Hoje em dia, com a rapidez da mídia, essas influências tornaram-se múltiplas e também mais 
fugazes. 
Até a novela, ao trabalhar a luta entre o Bem e o Mal, está lidando com valores míticos, 
pré-reflexivos, que se encontram dentro de todos nós. Aliás, nas novelas, o casamento também 
é transformado em mito: é o grande anseio dos jovens enamorados, é a solução de todos os 
problemas, o apaziguamento de todas as paixões e conflitos. Por isso quase todas terminam 
com um verdadeiro festival de casamentos. 
Só que os astros transformados em mito são heróis sem poder real: têm somente poder 
simbólico no imaginário da população. 
Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo exprime o arquétipo da luta entre o bem e o 
mal, enquanto a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo da pessoa 
comum de superar a própria inexpressividade e impotência, tornando-se excepcional e 
poderosa. Também os contos de fada retomam os mitos universais do herói em luta contra as 
forças do mal, apaziguando os temores infantis. Os super-heróis dos desenhos animados e dos 
quadrinhos, bem como os personagens de filmes como Rambo, Os justiceiros e outros, passam 
a encarnar o Bem e a Justiça e assumem a nossa proteção imaginária, exatamente porque o 
mundo moderno, com inflação, sequestros, violência e instabilidade no emprego, 
especialmente nos grandes centros urbanos, revela-se cada vez mais um lugar extremamente 
inseguro. 
No campo político, certas figuras são transformadas em heróis, pregando um modelo de 
comportamento que promete combater, além da inflação, a corrupção, os privilégios e demais 
mordomias. Prometem, ainda, levar o país ao desenvolvimento, colocando-o no Primeiro 
Mundo. Prometem riqueza para todos. Têm de ganhar a eleição, não é? 
O nosso comportamento também é permeado de rituais, mesmo que secularizados, isto é, 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
não religiosos: as comemorações de nascimentos, casamentos e aniversários, a entrada do ano-
novo, as festas de formatura e de debutantes, os trotes de calouros nos fazem lembrar ritos de 
passagem. Examinando as manifestações coletivas no cotidiano da vida urbana do brasileiro, 
descobrimos componentes míticos no carnaval e no futebol, ambos como manifestações do 
imaginário nacional e da expansão de forças inconscientes. 
 
OS ASPECTOS SOMBRIOS DO MITO 
O mito se expressa ainda sob formas negativas, por exemplo quando as idéias de Hitler 
encontraram eco naqueles que acreditavam na idéia da raça ariana como raça pura, 
desencadeando movimentos apaixonados de perseguição que culminaram no genocídio de 
judeus, ciganos e homossexuais. 
 
Para finalizar ... 
O mito não se reduz a simples mentira, mas faz parte da vida humana desde seus 
primórdios e ainda persiste no nosso cotidiano como uma das experiências possíveis do existir 
humano, expressas por meio das crenças, dos temores e desejos que nos mobilizam. 
Assim, vemos que mito e razão se complementam nas nossas vidas. Só que o mito de 
hoje, se ainda tem força para inflamar paixões, como no caso dos astros, dos políticos ou 
mesmo de causas políticas ou religiosas, não se apresenta mais com o caráter existencial que 
tinha o mito primitivo. Ou seja, os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real. 
Podemos escolher um mito da sexualidade (Madonna, talvez?), outro da maternidade, outro do 
profissionalismo, sem que tenham de ser coerentes entre si. Sem que causem uma revolução 
em toda nossa vida. Assim como houve uma especialização do trabalho, parece que houve uma 
especialização dos mitos. 
De qualquer forma, como mito e razão habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo 
pode rejeitar alguns mitos, principalmente os que veiculam valores destrutivos ou que levam à 
desumanização da sociedade. Cabe a cada um de nós escolhermos quais serão nossos modelos 
de vida. 
 
 UMA NOVA ORDEM HUMANA 
Costuma-se dizer que os primeiros filósofos foram gregos e surgiram no período arcaico, 
nas colônias gregas. Embora reconheçamos a importância de sábios que viveram na mesma 
época em outros lugares, suas doutrinas ainda estavam mais vinculadas à religião do que 
propriamente à reflexão filosófica. 
Alguns autores chamaram de "milagre grego" a passagem da mentalidade mítica para o 
pensamento crítico racional e filosófico, destacando o caráter repentino e único desse processo. 
Outros estudiosos, no entanto, criticam essa visão simplista e afirmam que a filosofia na Grécia 
não é fruto de um salto, do "milagre" realizado por um povo privilegiado, mas é a culminação do 
processo gestado ao longo dos tempos. 
 
PASSAGEM DO MITO A RAZÃO 
Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce por meio de longo processo 
histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, 
entretanto, romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado. Durante muito 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
tempo, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto 
desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Essa passagem do mito à 
razão “significa precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, 
na realidade filosófica ainda está incluído o poder do lendário”. 
Embora existam esses aspectos de continuidade, a filosofia surge como algo muito 
diferente, pois resulta de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido. Enquanto o 
mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematizada e, portanto, 
convida à discussão. Enquanto nomito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A 
filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. 
Ainda mais: a filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, o debate e 
a discussão e surge, portanto, como pensamento abstrato. 
O mito é denso de significado, tanto religioso, como filosófico, tanto social, como pessoal. 
Mas não concordamos com uma valorização que o equipare à filosofia. Embora tendo 
fundamentalmente o mesmo objetivo que o mito, a saber, o de fornecer uma explicação 
exaustiva das coisas, a filosofia procura atingir este seu objetivo de modo completamente 
diferente. De fato, o mito procede mediante a representação fantástica, a imaginação poética, a 
intuição de analogias, sugeridas pela experiência sensível; permanece, pois aquém do logos, ou 
seja, aquém da explicação racional. A filosofia, ao contrário, trabalha só com a razão, com rigor 
lógico, com espírito crítico, com motivações racionais, com argumentações rigorosas, baseadas 
em princípios cujos valores foram prévia e firmemente estabelecidos de forma explícita. 
É claro que essa mudança de papel do pensamento mítico, bem como a perda de seu 
poder explicativo resultam de um longo período de transição e de transformação da própria 
sociedade grega, que tornam possível o surgimento do pensamento filosófico-científico no séc. 
VI a.C. Basicamente isso corresponde ao período de decadência da civilização micênico-cretense 
na Grécia, por volta do séc. XII a.C, e de sua estrutura baseada em uma monarquia divina em 
que a classe sacerdotal tinha grande influência e o poder político era hereditário, e em uma 
aristocracia militar e em uma economia agrária. A partir da invasão da Grécia pelas tribos 
dóricas vindas provavelmente da Ásia central em torno de 900 a 750 a.C, começam a surgir as 
cidades-Estado, nas quais haverá uma participação política mais ativa dos cidadãos, e uma 
progressiva secularização da sociedade. A religião vai tendo seu papel reduzido, paralelamente 
ao surgimento de uma nova ordem econômica baseada agora em atividades comerciais e 
mercantis. O pensamento mítico, com seu apelo ao sobrenatural e aos mistérios, vai assim 
deixando de satisfazer às necessidades da nova organização social, mais preocupada com a 
realidade concreta, com a atividade política mais intensa e com as trocas comerciais. É nesse 
contexto que o pensamento filosófico-científico encontrará as condições favoráveis para o seu 
nascimento. 
Em virtude do desenvolvimento e dos contatos culturais com outros povos, decorrentes 
do comércio e da navegação, os gregos cultos sentiram necessidade de encontrar uma 
linguagem mais universal e rigorosa para justificar o universo e as próprias instituições. O mito 
parecia-lhes, cada vez mais, uma forma de expressão regional, particular, uma cristalização de 
interesses locais. Em síntese, o mito já não satisfazia às necessidades culturais da época. 
Surge, então, a linguagem filosófica, trazendo novos conceitos culturais, baseados na 
razão, que irão tentar substituir as criações míticas. A tensão estava estabelecida. De um lado, 
os conservadores queriam manter o sistema explicativo do mito, muito mais popular e eficaz 
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Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
para preservar os seus privilégios. De outro, os filósofos, desejosos de mudança, rejeitavam as 
explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações dos membros das classes emergentes 
(os artesãos e os comerciantes), democratizando assim o sistema político. 
 
CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA 
Resolvido o problema da relação entre Filosofia e mito, temos ainda um último a 
solucionar: O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e no 
início do século VI a.C? Quais as condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e 
históricas que permitiram o surgimento da Filosofia? 
Podemos apontar como principais condições históricas que ajudaram a alterar a visão 
mítica predominante e contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia: 
 A invenção da escrita e da moeda e do calendário; 
 A lei escrita e o surgimento da vida urbana; 
 A fundação da pólis (cidade-estado) e a Invenção da Política; 
 Consolidação da Democracia. 
 
 Invenção da Escrita: A consciência mítica predomina em culturas de tradição oral, 
quando ainda não há escrita. Mesmo após seu surgimento, a escrita reserva-se aos 
privilegiados, aos sacerdotes e aos reis, e geralmente mantém o caráter mágico: entre os 
antigos egípcios, por exemplo, a palavra hieróglifo significa literalmente "sinal divino”. 
Na Grécia, já existira uma escrita no período micênico, mas restrita aos escribas que 
exerciam unções administrativas de interesse da aristocracia palaciana. Com a violenta invasão 
dórica, no século XII a.C, a escrita desapareceu junto com a civilização micênica, para ressurgir 
apenas no final do século IX ou VIII a.C, por influência dos fenícios. 
Em seu ressurgimento, a escrita assumiu função diferente. Suficientemente desligada da 
influência religiosa, passou a ser utilizada para formas mais democráticas de exercício do poder. 
Enquanto os rituais religiosos eram cheios de fórmulas mágicas, termos fixos e 
inquestionados, os escritos passaram a ser divulgados em praça pública, sujeitos à discussão e à 
crítica. Isso não significa que a escrita se tornasse acessível a todos, muito pelo contrário, já que 
a maioria da população era constituída de analfabetos. O que está em destaque é a 
dessacralização da escrita, ou seja, seu desligamento do sagrado. 
A escrita gera nova idade mental porque a postura de quem escreve é diferente daquela 
de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra para além de quem a proferiu, exige maior 
rigor e clareza, o que estimula o espírito crítico. Além disso, a retomada posterior do que foi 
escrito - não só por contemporâneos, mas por outras gerações - abre os horizontes do 
pensamento e proporciona o distanciamento do vivido e o confronto das idéias. 
Portanto, a escrita surge como possibilidade maior de abstração, de uma reflexão 
aprimorada que tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento. 
Na época da aristocracia rural, de riqueza baseada em terras e rebanhos, a economia era 
pré-monetária. Os objetos usados para troca vinham carregados de simbologia afetiva e 
sagrada. As relações sociais, impregnadas de caráter sobrenatural, eram fortemente marcadas 
pela posição social de pessoas consideradas superiores, devido à origem divina de seus 
ancestrais. 
Entre os séculos VIII e VI a.C., deu-se o desenvolvimento do comércio marítimo, 
10 
 
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decorrente da expansão do mundo grego, com a colonização da Magna Grécia (atual sul da 
Itália e Sicília) e da Jônia (hoje litoral da Turquia). O enriquecimento dos comerciantes acelerou 
a substituição de valores aristocráticos por valores da nova classe em ascensão. 
A moeda, inventada na Lídia - região da atual Turquia -, apareceu na Grécia por volta do 
século VII a.C., vindo facilitar os negócios e impulsionar o comércio. Com o recurso da moeda, os 
produtos que antes se restringiam ao seu valor de troca passaram a ter valor de uso, isto é, 
transformaram-se em mercadoria. Emitida e garantida pela pólis, a moeda fazia reverter seus 
benefícios para a própria comunidade. 
Além desse efeito político de democratização de um valor, a moeda sobrepunha aos 
símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: a moeda representa uma 
convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores 
diferentes. Nesse sentido, a invenção da moeda desempenha papel revolucionário, por vincular-
se ao nascimento do pensamento racional crítico. 
A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do 
ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma 
capacidadede abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural e não como uma 
força divina incompreensível; 
 O surgimento da vida urbana e da lei escrita: Antes de tratarmos da transformação da 
pólis é preciso destacar a importância de legisladores como Drácon (séc. VII a.C.), Sólon e 
Clístenes (séc. VI a.C.), que sinalizaram uma nova era: a justiça, até então dependente da 
interpretação da vontade divina ou da arbitrariedade dos reis, tornou-se codificada numa 
legislação escrita. Regra comum a todos, norma racional, sujeita à discussão e à modificação, a 
lei escrita passou a encarnar uma dimensão propriamente humana. 
Com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de 
fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de 
terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe 
de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o 
velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez 
com que essa nova classe social procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às 
técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir; 
As reformas da legislação de Clístenes fundaram a pólis sobre nova base: a antiga 
organização tribal foi abolida e estabeleceram-se relações que não mais dependiam da 
consanguinidade, mas eram determinadas por uma organização administrativa. 
Os que compõem a cidade, por mais diferentes que sejam por sua origem, sua classe, sua 
função, aparecem de uma certa maneira “semelhantes uns aos outros". Se de início a igualdade 
existia apenas entre os guerreiros, “essa imagem do mundo humano encontrará no século VI 
sua expressão rigorosa num conceito, o de isonomia, igual participação de todos os cidadãos no 
exercício do poder”.' 
A pólis buscava garantir a isonomia, do mesmo modo que a isegoria, a igualdade do 
direito da palavra na assembleia. 
ETIMOLOGIA. Isonomia. Do grego isos, “igual", e nomos,"lei" (igualdade de direitos perante a lei 
no regime democrático). Isegoria. Do grego isos, "igual", e aquarelo, "discursar em público". 
 
 O cidadão da pólis e A Invenção da Política: o nascimento da pólis (por volta dos sécs. 
11 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
VIII e VII a.c.) é um acontecimento decisivo que “marca um começo, uma verdadeira invenção, 
por ter provocado grandes alterações na vida social e nas relações humanas”. 
A originalidade da pólis é que ela estava centralizada na ágora (praça pública), espaço 
onde se debatiam os problemas de interesse comum. Separavam-se na pólis o domínio público 
e o privado: isso significava que ao ideal de valor de sangue, restrito a grupos privilegiados em 
função do nascimento ou fortuna, se sobrepunha a justa distribuição dos direitos dos cidadãos 
como representantes dos interesses da cidade. 
Desse modo era elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tinha direito ao 
poder. A noção de justiça assumia caráter político, e não apenas moral, ou seja, não dizia 
respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da tradição familiar, mas à sua atuação na 
comunidade. 
A pólis se fez pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, palavra 
dada pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão, 
da argumentação. Expressar-se por meio do debate fez nascer a política, que permite ao 
indivíduo tecer seu destino na praça pública. Da instauração da ordem humana surgiu o cidadão 
da polis. figura inexistente no mundo da comunidade tribal e das aristocracias rurais. 
A invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da 
Filosofia: 
1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si 
mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O aspecto legislado e 
regulado da cidade — da polis — servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, 
regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. 
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de 
discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta-vidente, que recebia 
das deusas ligadas à memória uma iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, dizia 
aos homens quais eram as decisões dos deuses a que eles deveriam obedecer. 
 Agora, com a polis, isto é, a cidade política, surge à palavra como direito de cada cidadão 
de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão 
proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político, como palavra humana 
compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e 
exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. 
 A política, ao valorizar o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão 
racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou a 
palavra filosófica. 
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por 
seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser 
públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A idéia de um pensamento que 
todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental 
para a Filosofia. 
 
 A consolidação da democracia: Embora os regimes oligárquicos não tenham sido 
extirpados, em muitas pólis consolidaram-se os ideais democráticos. Entre elas, Atenas é um 
modelo clássico. O apogeu da democracia ateniense ocorreu no século V a.C., quando Péricles 
governava. 
12 
 
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Os cidadãos livres, ricos ou pobres, tinham acesso à assembleia. Tratava-se da democracia 
direta, em que não eram escolhidos representantes, mas cada cidadão participava ele mesmo 
das decisões de interesse comum. 
No entanto, quando falamos em democracia ateniense, é bom lembrar que a maior parte 
da população se achava excluída do processo político, tais como os escravos e os estrangeiros 
(metecos), mesmo que estes fossem prósperos comerciantes. 
Apesar disso, o que vale enfatizar é a mutação do ideal político e uma concepção 
inovadora de poder, a democracia. O hábito da discussão pública, na ágora, estimulava o 
pensamento racional, argumentativo, mais distanciado das tradições míticas. 
 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
A Filosofia surgiu precisamente como reação ao pensamento mitológico. Nas colônias 
gregas da Ásia Menor, na Jônia, um ciclo de grande prosperidade forma uma classe 
intermediária forte e interessada em romper com as estruturas mitológicas que justificavam o 
poderio da aristocracia rural. Nessas cidades conviviam diferentes culturas, e de forma 
harmoniosa, pois o interesse comercial fazia com que os povos que aí se encontravam, 
sobretudo os gregos fundadores das cidades, fossem bastante tolerantes. As colônias gregas do 
mar Jônico eram então cidades cosmopolitas onde reinava um certo pluralismo cultural, com a 
presença de diversas línguas, tradições, cultos e mitos. 
Em uma sociedade dedicada às práticas comerciais e aos interesses pragmáticos, as 
tradições míticas e religiosas vão perdendo progressivamente sua importância. 
Neste contexto origina-se a "Filosofia", como que tendo como característica primeira à 
questão da origem do universo. Os primeiros filósofos são chamados de "FÍSICOS" e este 
primeiro período chama-se "Cosmológico" por procurarem o princípio primordial constitutivo 
da natureza, que em grego é "PHYSIS". O objeto de pesquisa, isto é, o tema básico destes 
primeiros filósofos, que chegam a formar uma tradição e uma escola, é a origem da filosofia. Os 
físicos da Jônia são, portanto os primeiros filósofos da Grécia. 
Os historiadores de filosofia dizem que ela possui data elocal de nascimento: final do 
século VII e início do século VI a.C, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que 
formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de 
Mileto. 
 Além de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a filosofia 
também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é 
composta de duas outras: Cosmo, que significa mundo ordenado e Logia, que vem da palavra 
Logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento, estudo. Assim, a 
filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza, donde, 
cosmologia. Em outras palavras, a filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos (saber 
racional) em contraste com o mito (saber alegórico). 
Por diferentes respostas os físicos acabaram criando um novo método de pesquisa da 
realidade. A Filosofia nasceu, portanto, com um saber que busca a crítica da ideologia 
hegemônica e como proposta de uma pesquisa da origem material das coisas. 
A filosofia dos físicos é, portanto uma Filosofia materialista empírica, se bem que um 
tanto confusa ainda, sobre a origem e o princípio primeiro - "arquê" - das coisas e do universo. 
Mais do que as conclusões que chegaram, logo superadas, é importante ressaltar que a grande 
13 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
contribuição dos físicos, que inauguram a pesquisa filosófica na Grécia do século VI a.C, é a de 
procurar uma explicação material para a realidade da natureza, do mundo e da própria 
sociedade. Os físicos inauguram o método científico sob o nome de "FILOSOFIA". 
Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram com o tempo, e só nos restam 
alguns fragmentos ou referências de filósofos posteriores. Sabemos que geralmente escreviam 
em prosa, abandonando a forma poética característica das epopeias, dos relatos míticos. 
Com o surgimento da Filosofia como Ciências surgem novas formas de encarar a verdade, 
a natureza e a responsabilidade. 
 
O novo conceito de verdade 
Na época do surgimento da filosofia, aceitava-se como verdade o que a tradição, as 
autoridades e os deuses determinavam. 
Ora, os primeiros filósofos buscaram um novo conceito de verdade - uma verdade tão 
bem fundamentada que ninguém pudesse refutá-la. Ela deveria libertar o povo da autoridade 
arbitrária dos deuses, reis, oligarcas e tiranos, assim como das profecias enigmáticas dos 
sacerdotes. 
Ora, a filosofia, naquele momento, veio libertar o homem da insegurança e do temor: 
quem descobre a ordem universal não tem medo de nada, pois tudo está previsto. Nem os 
deuses podem contrariar a verdade total. 
Pela primeira vez em toda a história da humanidade, o ser humano formula 
interpretações da realidade cuja fundamentação não está na tradição ou na conformidade com 
os dizeres míticos dos deuses, mas na verdade argumentada da razão. É a filosofia. 
Até então, em todas as culturas, o homem submetia o seu pensar aos mitos religiosos. O 
filósofo grego, ao contrário, acreditava que tinha a capacidade para formular interpretações 
próprias da realidade. Estariam erradas as religiões tradicionais que as negassem. 
A filosofia nasce, assim, com a convicção de que existem verdades humanas e universais 
que estão acima das críticas sacerdotais. A busca da verdade filosófica significa, portanto, 
libertar-se do despotismo da classe religiosa. 
 
O novo conceito de natureza 
Os primeiros filósofos gregos criaram um novo conceito de natureza. A natureza é o 
conjunto de tudo o que existe. A existência das coisas faz com que elas sejam cognoscíveis. A 
natureza como um todo também é cognoscível por si mesma. Não precisamos de intermediários 
para contemplar a sua existência. Ela se manifesta com uma evidência incontestável. É fonte de 
conhecimento irrefutável. Qualquer pessoa que se disponha a isso pode conhecê-la e 
interpretá-la. 
Filosofar é, basicamente, admirar a realidade tal qual ela existe; é saber contemplá-la sem 
projetar nela temores míticos e crenças fantasiosas. 
Enfim, filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural e não como vingança ou 
ameaça divina; é saber ver o mar simplesmente como mar, a montanha como montanha, as 
estrelas como estrelas, a seca como seca, os fatos sociais e políticos como resultado das 
relações humanas. Com a filosofia, a natureza é despida de interpretações culturais, podendo 
manifestar-se com autonomia e por suas próprias leis. Essa nova maneira de lidar com á 
realidade foi o inicio da filosofia, que até hoje, 26 séculos depois. Procura libertar o homem das 
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crenças e temores desumanizantes. 
 
O novo conceito de responsabilidade 
Graças à filosofia, os valores fundados na razão passam a orientar a vida das pessoas, 
individualmente e em comunidade. 
Nos séculos VI e V a.C, os pensadores gregos começam a tomar consciência de que os 
bons e maus resultados da organização da cidade dependem das relações sociais. A política, a 
economia e a moral são construções humanas. 
Enfim, o filosofar desestabiliza, mexe com as estruturas sociais e políticas vigentes e 
convida o cidadão a construir uma nova sociedade. 
A nova sociedade só poderia vingar com a democratização da verdade. A verdade 
filosófica deveria ser socialmente cultivada. Assim, a praça torna-se o lugar público das 
discussões, onde os mestres se defrontam e os cidadãos participam, onde todos procuram 
aprimorar a contemplação do universo. Para divulgar a verdade, surgem os primeiros livros 
colocados à venda na praça da cidade. 
A verdade implica ter de orientar a própria vida e a da cidade não mais pelo mito, que é 
algo de regional e limitado, mas pela verdade universal. Logo, ao filósofo urge modificar as leis 
míticas, conformando-as à verdade. O filósofo é o cidadão mais ativo na promoção das 
mudanças sociais e políticas. 
Qual foi o fundamento de todas as conquistas sociais no Ocidente senão essa verdade 
responsável? 
A civilização ocidental não pode ser compreendida sem a filosofia. Com efeito, foi com a 
filosofia que a cultura grega influenciou nossa forma de pensar e de questionar tanto a natureza 
quanto o ser humano e as divindades. Junto com a filosofia, surgiu a noção de cidadania, de 
Estado, de ciência. Quem quiser conhecer a cultura ocidental não pode furtar-se ao estudo da 
filosofia. 
O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: nunca se conformar com as 
estruturas existentes como se fossem as únicas possíveis. Quem quer ser criativo no seu 
momento histórico deve refletir atenta e criticamente: é preciso filosofar. 
De fato, não houve época em que não tivéssemos filósofos buscando a verdade e 
combatendo a ignorância, o obscurantismo, a dominação do homem pelo homem, as guerras e 
outros atos irracionais que infelicitam a humanidade. 
Filosofar é preciso para participar criativamente da luta pela humanização 
 
PERÍODOS HISTÓRICOS DA FILOSOFIA 
ANTIGUIDADE 
FILOSOFIA GREGA-COSMOCÊNTRICA 
SÉCULO FILOSOFIA CONTEXTO HISTÓRICO 
 
VII a.C. 
 a 
 V a.C. 
Período Pré-Socrático: Problemas Cosmológicos ou Físicos – Formação 
da Filosofia. 
Escola jônica: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito. 
Escola itálica: Pitágoras 
Escola eleática: Xenófanes, Parmênides, Zenão. 
Escola atomista: Leucipo, Demócrito, Anaxágoras. 
Empédocles. 
Registro escrito da Ilíada e 
Odisséia (Homero)/Reformas 
de Sólon/ Reformas de 
Clístenes/ Período arcaico da 
arte grega./ Guerras médicas/ 
Péricles/ Heródoto (história)/ 
Hipócrates (medicina)/ 
15 
 
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Tragédias e comédias. 
 
V a.C. 
Período Clássico (Socrático): Problemas Antropológicos e Problemas 
Metafísicos –Apogeu da Filosofia 
Sofística: Górgias, Protágoras, Hípias. 
Escola Socrática: Sócrates, Platão, Aristóteles. 
Guerra do Peloponeso /Tirania 
dos Trinta/Período Clássico da 
arte grega /Eudoxo (sistema 
geocêntrico) /Crise política em 
Atenas/Filipe da Macedônia e 
Alexandre Magno (Helenismo) 
/Período helenístico da arte 
grega. 
 
III a.C 
a 
IV d.C. 
 
Período pós-socrático – Problemas Morais – forte preocupação com a 
salvação e a felicidade – Decadência da Filosofia Grega. 
Estoicismo: Zenão de Cítio 
Epicurismo: Epicuro 
Ceticismo: Pirro. 
Euclides 
(geometria)/Arquimedes 
(mecânica)/ Guerras Púnicas 
(Roma-Cartago). 
FILOSOFIA ROMANA 
SÉCULO FILOSOFIA CONTEXTO HISTÓRICO 
I a.C. 
a 
III d.C. 
Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio, Plotino. Fundação do Império Romano/ 
Cristianismo/ Ptolomeu 
(sistema geocêntrico)/ Apogeu 
do Império Romano/ Galeno 
(anatomia). 
 
III d.C. 
Filosofia Patrística: Encontro da Filosofia Grega com o Cristianismo. 
Primeira elaboração filosófica dos conteúdos do cristianismo pelos padres 
da Igreja. 
Crise do Império Romano. 
IDADE MÉDIA 
FILOSOFIA MEDIEVAL – TEOCÊNTRICA 
SÉCULO FILOSOFIA CONTEXTO HISTÓRICO 
 
 
 
IV a VIII 
Filosofia Patrística: A fé a procura da razão – A Filosofia mantém relações 
com a Filosofia. A Filosofia é um instrumento a serviço da Teologia. O tema 
central é a tentativa de conciliar razão e fé. 
Santo Agostinho, Boécio, Alcuíno. 
Começo da Alquimia/ Vulgatta 
(tradução da Bíblia para o 
latim)/ Divisão do Império 
Romano (do ocidente e 
Oriente)./Cristianismo (religião 
oficial)/ Queda do Império do 
Ocidente/ Justiniano (Império 
Bizantino): (Corpus Júris 
Civilis)/Mosteiros Beneditinos/ 
Surgimento do Islamismo. 
Fundação do Império do 
Ocidente: Carlos Magno/ 
Alcuíno (Inglês) organiza o 
ensino no reino franco. 
 
 
IX a XIII 
Filosofia Árabe: Difusão da cultura Grega no Ocidente. Influência Árabe 
na formação da tradição ocidental. Introdução ao pensamento de 
Aristóteles. 
Scotus Erígena, Al Kindi, Avicena. 
Querela dos Universais: Guilherme de Champeaux, Roscelino. 
Abelardo e Averróis. Tradução de Aristóteles para o Latim. 
Tratado de Verdun/ Apogeu da 
Cultura Islâmica/ Cisma do 
Oriente/ Arte romântica/ 
Cruzadas/ Universidades/ 
Números decimais na Europa./ 
Cruzadas. 
16 
 
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XIII 
a 
XIV 
Escolástica: A Razão a Procura da Fé. O termo designa a filosofia 
ministrada nas escolas cristãs (de catedrais e conventos) e posteriormente 
nas universidades. A Escolástica retoma a filosofia aristotélica. Santo 
Tomás de Aquino elabora a síntese magistral do cristianismo como o 
aristotelismo. Tentativa de Compatibilizar a fé e razão continua a ser o 
problema central da filosofia escolástica. 
Santo Alberto, Santo Tomás de Aquino. 
Escola de Oxford: Duns Scotus, Roger bacon, Guilherme de Ockham. 
Ibn khaldun, Dante Alighieri, Marsílio de Pádua. 
Ordem dos Dominicanos e 
Ordem de São Francisco/ 
Alquimia/ Início da Guerra dos 
Cem anos/ Estados Gerais/ 
Cisma do Ocidente/ Bússola/ 
Pré-Renascimento/ Decadência 
da idade Média: Tomada de 
Constantinopla. 
IDADE MODERNA 
FILOSOFIA MODERNA – ANTROPOCÊNTRICA 
SÉCULO FILOSOFIA CONTEXTO HISTÓRICO 
 
 
XV 
a 
XVI 
Renascimento: A Filosofia Moderna é profana, crítica, leiga e encontram 
na razão e na ciência seus pressupostos fundamentais. Marcado por uma 
profunda revolução Antropocêntrica, a natureza física e o homem tornam-
se o tema central. Revalorização da Antiguidade Clássica. Propõe-se um 
novo modelo de homem e um novo modelo de Estado. Grande interesse 
pela Epistemologia. O Método experimental assenta as bases da ciência 
moderna. 
Joana d’Arc/ Grandes 
navegações: descoberta da 
América/ Renascimento 
artístico italiano/ Gutenberg 
(imprensa)/. “Descobrimento” 
do Brasil/ Formação das 
monarquias nacionais/ 
Reforma protestante/ Concílio 
de Trento/ Copérnico 
(Heliocentricismo). 
 
 
XVII 
Racionalismo e Empirismo: o racionalismo privilegia as verdades da razão, 
e o empirismo que destaca a validade do conhecimento sensível como 
ponto de partida do conhecimento. 
Campanella 
Empirismo: Francis Bacon, Hobbes, Locke. 
Racionalismo: Descartes, Pascal, Malebranche, Spinoza, Leibniz. 
Renascimento científico: 
Galileu, Kepler, Newton/ 
Mercantilismo e absolutismo/ 
Guerra dos Trinta Anos/ 
Cromwell/ Revolução 
Gloriosa. 
 
 
XVIII 
Iluminismo: visa combater o absolutismo, a influência da Igreja e da 
tradição, considerando a razão como o único meio de atingir a completa 
sabedoria. Confiança na razão é acompanhada por um espírito crítico 
(racionalismo exacerbado). Sonha-se com um homem universal e ideal que 
concilie natureza e razão, defensor dos direitos humanos e difusor da 
cultura. 
Liberalismo/ Revolução 
Industrial/ Despotismo 
Esclarecido/ Inconfidência 
Mineira/ Independência dos 
EUA/ Revolução Francesa. 
IDADE CONTEMPORÂNEA 
SÉCULO FILOSOFIA CONTEXTO HISTÓRICO 
 
 
 
XIX 
Filosofia Contemporânea: Valorização da ciência e extensão do método 
científico a outras disciplinas. Confiança no progresso indefinido – material 
e moral – da humanidade. 
Idealismo: Fichte, Schelling, Hegel, Schopenhauer. 
Positivismo: Comte, Taine, Stuart Mill, Spence. 
Socialismo: Saint-Simon, Fourier, Owen, Proudhon, Feurbach, Marx e 
Engels. 
Psicanálise: Freud. 
Lingüística: Saussure, Jakobson, Hjelmslev, Chomsky. 
Filósofos independentes: Kierkegaard, Nietzsche. 
Napoleão, Colonialismo, 
Revoluções Liberais, / Comuna de 
Paris/ Independência do Brasil/ 
Unificação alemã e italiana/ 
República brasileira/ 
Independência das colônias 
americanas. 
SÉCULO XX 
É difícil proceder à classificação das correntes filosóficas do século XX: em primeiro lugar, trata-se de um período que ainda 
17 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
estamos vivendo, por isso não temos suficiente distanciamento para fazer análises mais objetivas; em segundo lugar, as 
vezes a classificação se torna uma “camisa de força”, pois “encaixamos” pensadores em correntes que podem ter exercido 
influências sobre eles, mas com as quais não podem ser plenamente identificados. Outros, ainda vivos, tem o seu 
pensamento em processo, sendo prematuramente qualquer “rotulação”.Esse período, por ser o mais próximo de nós, 
parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos 
parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós. Pluralidade de correntes filosóficas. 
 
CORRENTES FILOSÓFICAS 
Crítica da Ciência: Ernst Mach, Pierre Duhen, Henri Poincaré. 
Neopositivismo: Alfred Ayer, Ludwig Wittgenstein, Russel. 
Filosofia da Matemática (logística): Gottlob Grege, Giusseppe Peano, George Cantor, Bertrand Russell, Alfred Whitehead. 
Circulo de Viena (Positivismo lógico): Rudolf Carnap, Moritz Schlick. 
Tendências Contemporâneas: Karl Popper, Thomas Kuhn, Imre Lakatos, Paul Feyeraben. 
Epistemologia Francesa: Gaston Bachelard, Maurice Merleau-Ponty, Michel Foucault. 
Pragmatismo: William James, Sanders Peirce, John Dewey. 
Neokantismo: Hermann Cohen, Ernst Cassirer, Paul Natorp, Charles Renouvier. 
Espiritualismo Cristão: Louis Lavelle, René Le Senne. 
Racionalismo Transpositivista: Alain (Émile-Auguste Chartier), León Brunschvicg, Piaget, Henri Poincaré, Koyré, 
Meyerson, Bachelard. 
Historicismo: Wilhelm Dilthey. 
Neo-Hegelianismo (espiritualismo): Giovanni Gentile, Benedetto Croce. 
Neo-Escolástica: Desiré Mercier, Jacques Maritain, Reginald Garrigou-Lagrange. 
Fenomenologia: Edmund Husserl, Marx Scheler, Franz Brentano, Maurice Merleau-Ponty.Martin Bubber. 
Existencialismo: Jean-Paul Sartre, Gabriel Marcel, Heidegger, Karl Jasper, Albert Camus. 
Hermenêutica: Paul Ricouer. 
Personalismo: Emmanuel Mounier. 
Filosofia da vida: Bérgson, Blondel, Dithey, Spengler. 
Estruturalismo: Claude Lévi-Strauss, Roland Barthes, Michel Foucault, Jacques Derrida, Louis Althusser. 
Marxismo: Lênin, Rosa Luxemburgo, Antônio Gramsci, George Lukács, Lucien Goldmman, Louis Althusser. 
Escola de Frankfurt (Teoria Crítica): Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walter Benjamim, Herbert Marcuse, Erich 
Fromm. 
Ética do Discurso: Jurgen Habermas, Karl-Otto Apel, Ernst Tugendhat, Otte Fried Hóffe. 
Arqueogenealogia:Michel Foucault, Gilles Deleuze, Feliz Guattari, Jean Baudrillard, Jean-François Lyotard. 
Filósofos Independentes: Henri Bérgson, Teilhard de Chardin, José Ortega y Gasset. 
 
Profª. Rauliette Diana Lima e Silva 
18 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A Filosofia é a mais antiga de todas as ciências. Falar de sua origem na história é falar da 
origem do pensamento humano. Em todos os momentos da história do homem a filosofia esteve 
presente. É justamente pelo filosofar que a história teve sua continuidade no tempo. Entretanto 
como sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano organizado, a 
Filosofia estudou tudo o que pôde, estimulando e produzindo os mais vastos campos do saber. No 
curso de sua evolução histórica, portanto, a filosofia forneceu ao homem um instrumento essencial 
no esforço de apreender a realidade com precisão cada vez maior e permitiu-lhe aceder mais 
completamente à compreensão de si mesmo e de seu lugar no universo. 
O que se pretende mostrar é o quanto é rica a história do pensamento filosófico. Toda história 
humana, em seus vários setores – social, político, econômico, religiosos, pedagógico, cientifico, 
artístico – está profundamente marcada pela Filosofia. 
A Filosofia existe há 26 séculos. Durante uma história tão longa e de tantos períodos 
diferentes, surgiram temas, disciplinas e campos de investigação filosóficos enquanto outros 
desapareceram. Desapareceu também a idéia de Aristóteles de que a filosofia era a totalidade dos 
conhecimentos teóricos e práticos da humanidade. 
Também desapareceu uma imagem, que durante muitos séculos, na qual a filosofia era 
representada como uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia, cujo 
tronco era a lógica, cujos ramos principais eram a filosofia da Natureza, a ética e a política, as artes e 
as invenções. A Filosofia vista como totalidade orgânica ou viva, era chamada de “rainha das 
ciências”. Isso desapareceu. 
Pouco a pouco, as várias ciências particulares foram definindo seus objetivos, seus métodos e 
seus resultados próprios, e ao se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de 
seu campo de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ela ligadas. As últimas ciências a aparecer e 
a se desligar da arvore da Filosofia foram às ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, 
história, linguística, geografia, etc.). Outros campos de conhecimento e de ação abriram-se para a 
Filosofia, mas a idéia de uma totalidade de saberes que conteria em si todos os conhecimentos 
nunca mais reapareceu. 
No século XIX, o otimismo positivista ou cientificista levou a filosofia a supor que, no futuro só 
haveria ciências, e que todos os conhecimentos e todas as explicações seriam dados por elas. Assim, 
a própria filosofia poderia desaparecer, não tendo motivo para existir. 
No entanto, no século XX, a filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios 
totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos 
e precários, e que, frequentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir quando está entrando 
no campo de investigação de uma outra. Os princípios, os métodos, os conceitos e os resultados de 
uma ciência podem estar totalmente equivocados ou desprovidos de fundamento. Com isso, a 
filosofia voltou a afirmar seu papel de compreensão e interpretação crítica das ciências, discutindo a 
validade de seus princípios, procedimentos de pesquisa, resultados, de suas formas de exposição dos 
dados e das conclusões, etc. 
Temos que admitir que a filosofia é, em grau muito considerável, vítima da moda e que aquilo 
considerado obviamente certo em um período pode parecer inteiramente errado mesmo pouco 
tempo depois. Hoje muitos filósofos achariam difícil, ou mesmo impossível, pensar como, digamos, 
Plotino ou Hegel. Mas os mesmos tipos de mudança, mesmo que não tão dramáticas, podem ocorrer 
no curso de uma única vida. Por todas essas razões, é impossível arriscar um palpite confiável sobre 
a maneira como a filosofia será encarada dentro de 50 anos. De uma coisa podemos estar certos, 
contudo – haverá filosofia. 
 
 
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