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Ética e Economia: Reflexões sobre a Atividade Econômica

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AULA 4 
ÉTICA E RELAÇÕES 
INTERPESSOAIS 
Prof. Roberto Luís Renner 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Este texto tem por objetivo apresentar diferentes aspectos que envolvem 
a ética e a economia. Para tanto, está organizado em cinco partes. 
Na primeira parte, serão abordados diferentes definições e aspectos 
históricos da economia. 
Na sequência, trabalharemos questões que envolvem a atividade 
econômica e a ética. Veremos que a atividade econômica de um indivíduo, de 
uma empresa ou de uma nação é algo complexo e que merece atenção especial 
no diz respeito ao princípio ético. No âmbito econômico, a ética envolve 
questões relacionadas às ações de um indivíduo, de uma empresa ou de um 
país, observando se essas ações ultrapassam qualquer princípio; em outras 
palavras, se o agente em questão se importa somente com o benefício próprio 
ou zela pela coletividade. 
A terceira parte abordará a vida e obra de Adam Smith. Esse pensador 
merece nossa atenção pela forma como desenvolveu seu pensamento no 
campo da economia e porque cumpre importante papel também nos dias atuais, 
uma vez que conduz a uma reflexão sobre as diferentes teorias econômicas. 
Na quarta parte do texto, falaremos sobre a vida e obra de Amartya 
Kumar Sen, importante escritor e economista indiano. Veremos que, para Sen, a 
liberdade do indivíduo é algo importante, visto que conduz ao crescimento do 
sujeito. 
Por último, desenvolveremos o tema da ética no mundo globalizado. 
Entende-se por globalização um processo de integração em âmbito global, seja 
na economia entre países, seja nas relações humanas, nos aspectos políticos e 
culturais. A ideia de globalização nos remente, assim, ao entendimento de um 
mundo único, sem fronteiras. 
CONTEXTUALIZANDO 
A economia sempre fez parte da vida do ser humano, seja no aspecto mais 
restrito ou mais abrangente. Tal constatação pode ser feita ao longo da história. 
Nos dias atuais, o assunto economia é abordado nos diferentes meios de 
comunicação em todo o planeta. No mundo globalizado, a economia de um país 
afeta a dos demais, de uma ou de outra forma. Em outras palavras, os 
trabalhadores de uma pequena fábrica de peças no interior de qualquer parte do 
 
 
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Brasil manterão seus empregos não apenas se a economia daquele município 
estiver estabilizada, mas se assim for no restante do país e do mundo. 
TEMA 1 – ECONOMIA: DEFINIÇÕES E ASPECTOS HISTÓRICOS 
 O vocábulo economia tem sua origem nos termos gregos oikos, que 
significa “casa”, e nomos, cujo significado remete a “costume”, “lei” ou, ainda, a 
“gerir, administrar”. A junção desses termos transmite a ideia de “regras da casa” 
ou “administração da casa”. Disso advém o sentido de uma ciência social, cujo 
objetivo é estudar a produção, a distribuição e também o consumo de bens e 
serviços. 
No que diz respeito à produção, o vocábulo abrange aquilo que o ser 
humano produz, ou seja, aquilo que resulta do seu trabalho. Em relação à 
análise da distribuição, o termo economia refere-se ao fato de, muitas vezes, o 
produto manufaturado não ser distribuído a todos; em outras palavras, ao fato de 
que nem todas as classes sociais têm condições financeiras de adquirir esse 
produto. E, por último, estuda a questão do consumo dos bens e dos serviços, 
ou seja, refere-se ao motivo de tal produto ou serviço ser consumido. 
O estudo da economia pode ser dividido em dois campos: a 
microeconomia e a macroeconomia. A microeconomia pode ser definida como 
a ciência econômica direcionada ao estudo do comportamento de consumo de 
indivíduos e famílias. Ela tem como objetivo esclarecer os diferentes aspectos da 
produção e de que maneira se fixa o preço. Já a macroeconomia é entendida 
como o ramo da economia cuja prioridade é a análise geral, ou global, por meio 
da estatística e da matemática, a fim de se analisarem os diferentes aspectos 
econômicos e sua distribuição em um setor da economia. Para tanto, a 
macroeconomia faz uso de elementos como taxa de juros, investimentos, 
emprego e desemprego, bens e serviços, aspectos ligados a inflação, poupança, 
consumo, investimentos de empresas de iniciativa privada ou não e ao 
comportamento do governo diante da economia. 
A economia sempre fez parte da vida do ser humano, em maior ou menor 
grau, seja no aspecto mais restrito seja no mais abrangente. Tal fato pode ser 
observado ao longo da história. 
No entendimento dos gregos, por exemplo, a riqueza, ou a obtenção dela, 
constituía um aspecto não primordial; era algo secundário. Assim, a economia 
abrangia apenas uma pequena parte da vida do indivíduo e da cidade. O que de 
 
 
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fato era considerado relevante na cultura grega eram a política e a filosofia, tidas 
como os reais e importantes valores para o ser humano. 
Na Idade Média − período entre os séculos V e XV −, a economia 
baseava-se principalmente na agricultura, ou seja, na produção de alimentos. 
Obviamente, havia a produção de certos equipamentos e de armas; entretanto, a 
base econômica girava em torno da agricultura. Nesse período, como nos 
demais da história, havia diferentes moedas que, todavia, eram pouco usadas, 
visto que a troca dos produtos era a prática vigente. Nesse período, o feudo1 era 
a base econômica; portanto, o proprietário da terra era que tinha o poder em 
mãos. Outro aspecto econômico relevante do período é o artesanato, atividade 
muito praticada, mas cuja produção era baixa, em virtude de o artesão ser o 
profissional que produzia em todas as fases de um produto. Na agricultura, a 
produção também era baixa, visto que as técnicas de trabalho eram 
rudimentares. 
Na Idade Moderna, que vai de 1453 a 1789, eclode a Revolução 
Francesa e ocorre a transição do feudalismo para o capitalismo. É nessa época 
que vive Adam Smith (1723-1790), célebre filósofo e economista britânico, 
nascido na Escócia, e que, no ano de 1776, publica A riqueza das nações – Uma 
investigação sobre a natureza e as causas das riquezas das nações, importante 
obra do meio econômico. 
Composta de cinco livros (ou partes), A riqueza das nações é definida, 
por muitos estudiosos, como o marco do enfoque científico dos fenômenos 
econômicos. O importante é observar que a teoria apresentada nessa obra se 
fundamenta na teoria do crescimento econômico. 
Não podemos deixar de mencionar Karl Marx, o autor das teorias 
econômicas socialistas mais importantes. Na Obra O capital, Marx aprofunda-se 
nos estudos da economia política tanto dos autores clássicos quanto de seus 
contemporâneos. Com base nesses estudos, entre os anos de 1861 e 1862 Karl 
Marx elabora imenso manuscrito que leva à elaboração da teoria da mais-valia, 
a qual remete à parte do valor da força de trabalho dispendida por determinado 
trabalhador na produção de algo, mas que não é remunerada pelo patrão. 
 
 
1 Terra ou fonte de renda concedida a alguém (vassalo) por um senhor de certos domínios 
(suserano) mediante a prestação de certos serviços. 
 
 
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TEMA 2 – ATIVIDADE ECONÔMICA E ÉTICA 
O ser humano, em suas atividades, busca satisfazer suas necessidades 
e, com isso, desenvolver-se como indivíduo. A atividade econômica de um 
indivíduo, de uma empresa ou de uma nação é algo complexo e que merece 
atenção no diz respeito ao princípio ético. As ações tomadas por um indivíduo, 
uma empresa ou país devem observar os princípios éticos estabelecidos sem 
ultrapassá-los. Em outras palavras, suas ações não podem contemplar apenas o 
próprio benefício sem visar ao bem dos demais que fazem parte do mesmo 
meio. 
Tal questão merece atenção especial, visto que qualquer atividade 
econômica sempre está ligada, de certa maneira, a outro indivíduo ou a um 
coletivo menor ou maior. Nesse sentido, toda e qualquer atividade econômica 
deve observar alguns princípios éticos. 
Todo ser humano faz parte de um grupo social. Sendo assim, ele podedesenvolver uma atividade econômica que venha resultar em bens e serviços 
que poderão satisfazer as próprias necessidades, bem como as do coletivo em 
que está inserido. Essa atividade econômica está imbuída de uma conduta ou de 
uma postura que envolverá diferentes decisões, as quais irão interferir sobre 
diferentes formas de agir do sujeito e também do coletivo. Toda atividade 
sempre tem um objetivo a ser atingido, mesmo que muitas vezes esse objetivo 
não esteja explícito a todos que fazem parte do processo. 
O objetivo de cada atividade econômica é produzir um bem de consumo 
ou de prestar um serviço; para isso, deve observar princípios importantes, 
ligados à ética, ao ser humano e ao social. 
O primeiro princípio diz respeito ao fato de toda a ação econômica dever 
ser embasada em um princípio ético. Muitas vezes, entretanto, é difícil 
estabelecer se tal princípio está sendo ou não observado e se a interpretação 
dada é a correta. Isso se deve ao fato de cada indivíduo envolvido nesse 
processo econômico ter seu entendimento sobre o que seja correto ou não. 
Vejamos, por exemplo, o caso do estabelecimento de preço para um bem de 
consumo ou para um serviço dentro do princípio ético. É comum encontrarmos 
produtos que variam de preço de um mercado para outro de forma exorbitante. 
Nesse caso, a questão a ser feita é: É moralmente correto um comerciante 
estabelecer o valor de forma subjetiva? Outro exemplo relaciona-se ao 
estabelecimento do preço de um produto quando este começa a ser escasso no 
 
 
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mercado em razão de fatores externos, como clima, período de produção, entre 
outros. Tomemos como exemplo um produtor de leite. É eticamente correto ou 
moral ele aumentar o valor do litro de leite em um período em que o produto está 
mais escasso no mercado, ainda que tal produto não tenha sofrido nenhuma 
variação nos valores de sua produção? Tal prática é muito comum no Brasil e 
em muitas partes do mundo e merece nossa atenção, visto que a base de 
produção geralmente não sofre nenhuma variação. Por que, então, deveria 
sofrer uma variação no valor final do produto, apenas por ele estar mais escasso 
no mercado? 
Essa questão do princípio ético deve ser observada também em relação à 
qualidade de um produto, ou seja, no que se refere ao que será comercializado 
ao consumidor final. Geralmente, tal ação envolve uma publicidade enganosa, 
com o objetivo, muitas vezes, de obter maior lucro. Nesse caso, é importante 
questionarmos: será eticamente correto anunciar ao consumidor um produto 
como bom e confiável sem que este, de fato, corresponda ao anunciado? 
O segundo princípio relaciona-se ao fato de que toda ação econômica 
deve ser humana, uma vez que toda atividade se trata de uma relação com 
pessoas, com seres humanos. Nessa perspectiva, deve atender às 
necessidades concretas dele, levando-se em conta sua dignidade. De acordo 
com esse princípio, a atividade econômica não deve perder de vista a 
solidariedade nem a fraternidade, isto é, tal ação não deve ter como foco o bem-
estar de um em detrimento dos demais. Em outras palavras, o foco da ação 
econômica deve visar primeiramente ao ser humano e não ao lucro. Um 
exemplo de conduta humana e ética é quando um patrão busca não só cumprir 
com o combinado com seus funcionários, pagando em dia o salário, mas 
quando, além disso, lhe oferece benefícios extras tendo em vista o seu bem-
estar. Caso, por exemplo, da oferta de almoço no trabalho, quando oferece ao 
funcionário não apenas um prato de comida, mas sim uma comida de qualidade, 
bem como um ambiente agradável. 
Um exemplo negativo dentro desse princípio relaciona-se à qualidade do 
produto oferecido no mercado. É comum a mídia mostrar algumas ações de 
comerciantes inescrupulosos que adulteram produtos de forma criminosa. Tal 
ação aumenta os lucros desse comerciante, prejudicando aquele que consome o 
produto adulterado. Essa ação econômica não prioriza, portanto, o ser humano, 
mas sim a obtenção do lucro, fugindo, portanto, do princípio de que toda ação 
econômica deva ser humana. 
 
 
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O terceiro princípio leva em conta a questão social, ou seja, o grupo no 
qual a ação econômica é executada, objetivando uma justiça social. Nesse 
sentido, um empresário que apenas pensa em obter vantagens com suas ações 
− ignorando que sua empresa precisa dos trabalhadores, dos consumidores e de 
todos que estejam envolvidos direta ou indiretamente no processo − está 
desconsiderando o social. Ele aumenta seus lucros pela não realização da oferta 
de um serviço ou de um produto que havia combinado entregar e não entrega e 
pelo abuso do aumento dos preços. Ao adotar tal postura, ele tem uma prática 
condenável eticamente, visto que não enfatiza o social. 
A atividade econômica que um indivíduo ou uma grande empresa 
desempenha é uma fração de um todo maior, que é a atividade social. Essa 
atividade social deve ser o foco primário daquele que tem uma atividade 
econômica, e não o lucro. 
Para muitos, obter lucro em uma atividade econômica só é possível por 
meio de ações que levam à exploração do semelhante. Tal postura, entretanto, 
está totalmente equivocada, uma vez que toda ação econômica é uma ação 
social e, portanto, deve contemplar ações voltadas ao bem de todos os 
envolvidos. 
TEMA 3 – ADAM SMITH 
Quando o assunto é atividade econômica e ética, um personagem que 
precisa ser destacado, seja pela forma como desenvolveu seu pensamento no 
campo econômico seja por suas contribuições no que refere ao tema economia, 
é Adam Smith (1723-1790). 
No campo da ciência econômica, as contribuições de Smith exercem 
importante papel ainda nos dias atuais, visto que nos conduzem a uma reflexão 
sobre as diferentes teorias econômicas. 
Adam Smith nasceu na cidade de Kirkcaldy, na Escócia. Filósofo e 
economista, estudou na Universidade de Glascow entre os anos de 1937 e 
1940. Posteriormente, fez seus estudos também na universidade de Oxford e, 
mais tarde, foi professor na cidade de Edimburgo, lecionando filosofia moral, 
ética, economia política, entre outras disciplinas. 
Smith é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico − 
ideologia baseada na organização da economia individual, ou seja, as decisões 
econômicas são tomadas por indivíduos e não por instituições ou organizações 
 
 
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coletivas. Uma de suas obras mais famosas é A riqueza das nações − Uma 
investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações, na qual ele 
expõe aspectos falhos do sistema capitalista. 
Outra obra de destaque de Smith é Teoria dos sentimentos morais, 
publicada em 1759, a qual busca explicar a questão da aprovação ou 
desaprovação moral. A base dessa obra é o julgamento moral do ser humano, 
apresentando uma complexidade na análise dos sujeitos sociais. Essa teoria 
toma como ponto de partida o sujeito como ele se apresenta em sua íntegra, ou 
seja, com todas suas paixões e sentimentos. Para Smith, o sentimento moral do 
ser humano segue uma organização que está em plena conformidade com sua 
própria natureza, isto é, segundo sua natureza interior. 
Para Smith, o ser humano, em sua natureza interior, deseja manter com o 
próximo relações de solidariedade, de ajuda mútua, objetivando a promoção da 
felicidade de todos, e não de interesse egoísta. Desse modo, fica evidente que, 
para Smith, o sentimento moral do ser humano não tem como base o interesse 
único do indivíduo. Segundo ele, os juízos morais do ser humano têm uma vasta 
gama de fatores que podem promover diferentes ações, buscando sempre o 
sentido moral. 
Um aspecto importante em sua teoria com relação à questão da moral é 
encontrado no volume 7 da Teoria dos sentimentos morais III, quando ele diz 
A felicidade da humanidade, bem como de todas as outras criaturas 
racionais, parece ter sido o propósito original projetado pelo Autor da 
natureza, quando ele as trouxe à existência.[...] E essa opinião [...] é 
ainda mais confirmada pelo exame dos trabalhos da natureza, que 
parecem todos projetados para promover a felicidade e proteger contra 
a miséria. Mas, agindo de acordo com os ditames de nossas 
faculdades morais, perseguimos necessariamente os meios mais 
eficazes para promover a felicidade da humanidade e pode-se dizer, 
portanto, que, em certo sentido, cooperamos com a Divindade e 
promovemos, tanto quanto está em nosso poder, o plano da 
Providência (Smith citado por Cerqueira, 2006, p. 11). 
 Esse trecho da obra nos revela que o posicionamento de Smith era 
baseado no providencialismo – teoria que entende Deus como o verdadeiro 
personagem da história e a Quem tudo deve ser atribuído, ou seja, tudo tem sua 
origem na providência divina. Muitos intérpretes da obra de Smith afirmam que o 
ponto de partida de Smith é o entendimento numa divindade que apresenta uma 
natureza benevolente e sábia. Benevolente, na medida em que tem por princípio 
básico de suas ações a felicidade do ser humano, e sábia, porque tem o pleno 
entendimento do todo. 
 
 
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Com relação à benevolência divina para com o ser humano, Hasbach 
citado por Kleer (1995, p. 275) diz: “O Criador assemelha-se a um relojoeiro que, 
de maneira engenhosa, reuniu as engrenagens do mundo para produzir ordem, 
harmonia, beleza e felicidade, sem que as engrenagens soubessem ou 
desejassem este resultado”. Segundo essa alegoria, o relojoeiro é aquele que 
organiza as diferentes peças do relógio para que este venha cumprir a função 
primária de sua existência; as mãos do relojeiro orientam a direção das peças. 
Da mesma forma seria a interferência divina na humanidade. Entretanto, aqui 
cabe uma observação: as diferentes ações observadas ao longo da história da 
humanidade realmente estavam em conformidade com a vontade daquele 
posicionado por trás de toda essa engrenagem? 
Há diferentes interpretações da teoria de Smith; muitas delas, inclusive, 
vão ao extremo, afirmando que ele faz parte do grupo de pensadores que se 
posicionam na contramão das explicações teleológicas, ou seja, negam que em 
sua obra haja orientação de uma providência para ações da sociedade, sendo 
que ela agiria em conformidade com suas vontades. Outros estudiosos da teoria 
de Smith compartilham a ideia de que o sistema smithiano se fundamenta na 
existência de uma harmonia natural das coisas, sendo essa teoria baseada na fé 
pessoal de Smith em Deus, o qual visaria ao bem do ser humano, ou seja, Smith 
o concebia como um Deus benevolente. 
TEMA 4 – AMARTYA SEN: ECONOMIA E ÉTICA 
O economista e escritor indiano Amartya Kumar Sen (1933-) fez seus 
estudos de economia na Universidade de Cambridge, Inglaterra. De retorno à 
Índia, começou a dar palestras e iniciou a carreira como professor na Escola de 
Economia de Delhi. Posteriormente, lecionou na Escola de Economia e Ciência 
Política de Londres e na Universidade de Harvard. Na Universidade de 
Cambridge atuou como reitor. Foi também um dos fundadores do Instituto 
Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). 
Assombrado com a fome que continuava a assolar seu país, Sen 
aprofundou os estudos sobre a economia dos países em desenvolvimento, 
analisando as diferentes condições das pessoas mais pobres do planeta. Desse 
estudo resultaram várias obras influentes, as quais abordam a desigualdade 
econômica, a pobreza e fome, a ética e a economia. Seu livro mais conhecido, 
Pobres e famintos: um ensaio sobre direito e privação, escrito em 1981, faz uma 
 
 
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análise profunda sobre o direito e também a privação por que muitos cidadãos 
passam. Nela, Kumar Sen observou que a miserabilidade a que muitos são 
sujeitados não é gerada pela falta de comida, mas sim pela má organização (ou, 
em muitos casos, a falta dela) dos governos, os quais não fazem a devida 
distribuição dos alimentos, ocasionando a morte de centenas de milhares de 
pessoas. 
Em 1998, foi lhe conferido o Prêmio Nobel de Economia em virtude de 
seus trabalhos teóricos, que contribuem para uma nova compreensão dos 
conceitos referentes à pobreza, miséria, fome, e bem-estar social, fatores 
enfrentados por grande parte da população mundial. Para ele, o 
desenvolvimento de um país está intimamente ligado às oportunidades 
oferecidas à população, relacionadas à cidadania, ou seja, ao direito de fazer 
escolhas e de ter uma vida digna. Essa ideia engloba a garantia dos direitos 
sociais básicos, como saúde e educação, e avança para direitos como a 
segurança, liberdade e habitação. 
A perspectiva de Sen sobre a teoria ética é maximizar a justiça nas 
decisões concretas que ela determina. Nesse sentido, ele se volta à ideia do 
utilitarismo − teoria filosófica cujo objetivo é compreender os diferentes 
fundamentos da ética e da moral partindo das consequências das ações. Em 
outras palavras, uma ação só pode ser aceita como correta no aspecto moral se 
suas consequências produzirem o bem-estar coletivo; se isso não ocorrer, tal 
ação é condenável e errada. 
Para Sen, a economia tem sua raiz, basicamente, em duas vertentes 
diferentes: a primeira, vinculada à ética, e a segunda, à engenharia. No que 
tange à ética na economia, Sen faz uma retomada na história, afirmando que 
desde os pensadores gregos, como Aristóteles, a economia já estava vinculada 
à ética, na medida em que a riqueza deveria existir para promover o bem do ser 
humano e não para subjugá-lo. A economia “engenharia”, por sua vez, refere-se 
à capacidade de produzir soluções aos problemas apresentados pelo mercado, 
ou seja, a questões voltadas à produção de algo. 
Na compreensão de Sen, quando há proximidade da economia e da ética, 
ambas são beneficiadas. No entanto, segundo ele, a economia “engenharia” tem 
suas limitações, pois se inclina somente a questões técnicas e não a aspectos 
éticos. 
Para Sen, a liberdade do indivíduo é algo importante, visto que somente 
ela poderá conduzir o sujeito ao crescimento. Conforme suas palavras, “a 
 
 
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privação da liberdade econômica na forma de pobreza extrema, pode tornar a 
pessoa uma presa indefesa na violação de outros tipos de liberdade. A privação 
de liberdade econômica pode gerar a privação de liberdade social, assim como a 
privação de liberdade social ou política, da mesma forma gerar privação de 
liberdade econômica” (Sen, 2010, p.23). Em outras palavras, as privações da 
liberdade do sujeito alimentam a privação de outros direitos e, dessa maneira, o 
círculo vicioso dificilmente pode ser rompido pelo indivíduo envolvido. Sendo 
assim, resta àqueles que têm condições – ou seja, os que estão imbuídos de 
autoridade − romper esse círculo vicioso, e tal ação seria uma ação ética. 
TEMA 5 – ÉTICA NO MUNDO GLOBALIZADO 
O conceito de globalização é traduzido de diferentes maneiras, conforme 
as diversas áreas. Em termos gerais, globalização refere-se a um processo de 
integração, em escala global, entre as diferentes partes do planeta. Trata-se da 
ideia de um mundo único, sem fronteiras, envolvendo a integração tanto da 
economia como de outros aspectos, como a política, a tecnologia, a cultura e, 
para muitos, também a religião. 
O conceito de Aldeia Global está atrelado à criação de uma rede de 
conexões, que resulta em uma proximidade maior entre as pessoas e nações. 
Tal fator conduziria a maior facilidade entre as diferentes culturas e também 
entre as economias espalhadas ao redor do globo. 
 Para muitos historiadores e pesquisadores, esse processo teve seu início 
há séculos, aproximadamente entre os séculos XV e XVI, momento em que 
ocorreram as Grandes Navegações e descobertas marítimas. Nesse período, 
espanhóis e portugueses lançaram-se ao mar com a finalidade de abrir novas 
rotas marítimas e de descobrir novas terras. Dessa maneira, o europeu entrou 
em contato com outras culturas e foram estabelecidos diversos tipos de 
relações, como comerciais,religiosas e culturais. 
Para outros historiadores, a globalização efetivou-se depois da 
decadência do socialismo da União Soviética, quando houve o crescimento do 
neoliberalismo, que levou à chamada globalização econômica ao redor do 
mundo. Com a globalização, as grandes empresas começaram a buscar novos 
mercados, tendo como alvo os países que haviam abandonado o socialismo, 
visto que, neles, havia a demanda por diferentes produtos. 
 
 
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Outro fator característico da globalização é o barateamento do processo 
produtivo das mercadorias. Isso porque as multinacionais buscam países cuja 
mão de obra é mais barata, ali se instalando, para obter maior lucratividade. Tal 
produto é, depois, vendido a países espalhados pelo globo terrestre. 
As grandes mudanças que estão ocorrendo no mundo atual requerem 
dessa sociedade ações práticas e equilibradas. Um exemplo é com relação à 
natureza. O uso desenfreado de muitos recursos naturais em várias partes do 
planeta já está acarretando consequências negativas a todos os seres vivos. 
Desse modo, tanto o indivíduo como toda a sociedade precisam buscar soluções 
para o uso dos diferentes recursos, a fim de se obter novamente um equilíbrio. 
Em outras palavras, é necessário que todos se comprometam com ações éticas. 
Uma reflexão que precisa ser retomada é que a ética individual, ou seja 
do indivíduo, deve dar lugar à ética da coletividade. Quando a decisão de um 
sujeito ou de um pequeno grupo toma proporções que venham a prejudicar o 
coletivo, isso merece reflexão. 
Para Bittar (2002), um aspecto importante é que a sociedade nos dias 
atuais fez grandes substituições, o que, de certo modo, acabou por influenciar a 
busca por uma ética coletiva, uma ética que gere o equilíbrio na sociedade. Em 
suas palavras, “no lugar da transcendência, a racionalidade, no lugar do Manual, 
o técnico, no lugar da virtude, o lucro, no lugar da unidade, a multiplicidade, no 
lugar da integração, a fragmentação” (Bittar, 2002, p. 54). Conforme o autor, 
algumas dessas mudanças, por um lado, trouxeram grandes avanços, sendo 
estes benéficos para a sociedade. Por outro lado, entretanto, essas mudanças 
afetaram o modo de vida no que diz respeito às relações na sociedade e, com 
isso, o crescimento econômico de alguns em detrimento de muitos. 
Ao dizer “no lugar da virtude, o lucro”, Bittar expressa que, para muitos, o 
lucro está em primeiro lugar, independentemente das ações que precisam ser 
tomadas. Isso significa que, se for necessário subjugar alguns para a obtenção 
de lucro, isso será feito. Essa postura é encontrada, por exemplo, em alguns 
líderes políticos, que tomam certas decisões ainda que se prejudique uma 
maioria. 
Cabe aqui uma reflexão ética por parte de toda a sociedade sobre suas 
diferentes ações, a fim de que muitos não sejam prejudicados com decisões 
pautadas em necessidades subjetivas por parte de poucos ao redor do planeta. 
 
 
 
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FINALIZANDO 
Neste texto, foram trabalhados diferentes tópicos que envolvem a ética e a 
economia. Analisamos as relações entre a atividade econômica e a ética. Vimos 
como a atividade econômica de um indivíduo, de uma empresa ou de uma nação 
é algo complexo e que merece atenção no diz respeito ao princípio ético. 
Vimos, ainda, que, no campo da ciência econômica, as contribuições de 
Smith exercem papel preponderante ainda nos dias atuais, na medida em que nos 
conduzem a uma reflexão sobre as diferentes teorias econômicas. 
A quarta parte do texto apresenta a vida e obra de Amartya Kumar Sen, 
economista e escritor indiano. Para esse estudioso, a liberdade do indivíduo é 
algo muito importante, uma vez que conduz ao crescimento do sujeito. 
Por último, trabalhamos o tema ética no mundo globalizado. O conceito 
de globalização remente ao entendimento de um mundo único, sem fronteiras, 
em que há uma integração tanto da economia como de outros aspectos, como 
político, cultural e religioso. 
 
 
 
 
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