Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arte Brasileira II Movimento Antropofágico e Posteriores Lígia Luciene Rodrigues APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro aluno Apresento a você a disciplina Arte Brasileira Contemporânea. Nossa proposta é tanto conhecer, como ampliar as referências sobre arte e desenvolver um pensamento e uma discussão sobre o que é produzido desde a metade do século XX, até os dias de hoje, portanto, algo que nos interessa muito, que diz muito de nós e para nós, pois é a arte de nosso tempo. Na arte contemporânea, deparamo-nos com uma enorme variedade de estilos, formas, conceitos, práticas e materiais. Ficamos perdidos, quando olhamos algo do ponto de vista da arte tradicional, pois a arte recente tem utilizado não apenas os meios, como lápis, tinta, metal, pedra, papel, mas também ar, luz, som, palavras, pessoas, animais, comida, plantas, água e muitos outros meios e materiais. Ao nos aproximarmos de uma obra de arte, devemos, primeiramente, deixar de lado preconceitos; depois, tentar localizar esse trabalho no tempo e no espaço, o que é pertinente para leitura de obras de diferentes períodos. Muitas vezes, conhecer o autor da obra ajuda a contextualizar o trabalho, Nietzsche diz: “É preciso adivinhar o pintor para compreender a imagem”, na arte contemporânea, essa afirmação do filósofo alemão é praticamente uma verdade, tanto que, nas exposições atuais, é frequente a presença de textos explicativos longos, logo ao lado das obras e o expectador, muitas vezes passa mais tempo a ler do que a apreciar o trabalho artístico. Você é livre para pesquisar por conta própria. Espero que o trabalho iniciado aqui seja ampliado, com pesquisas e aprofundamentos, já que o programa de arte contemporânea é extenso e continua sendo realizado. PROGRAMA DA DISCIPLINA EMENTA: Estudo do desenvolvimento da arte no Brasil a partir da expansão do Modernismo: suas fases, manifestos e vanguardas. Discussão sobre panorama contemporâneo, em consonância com os aspectos políticos, sociais e culturais. OBJETIVOS: Conhecer as ideias e características que deram vida aos principais movimentos artísticos no Brasil, do período moderno ao contemporâneo, sempre relacionando com o que acontece globalmente, na complexa rede em que se emaranha o mundo atual. Compreender os movimentos artísticos como fruto da cultura de suas épocas. CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS Unidade 1- Modernismo no Brasil Unidade 2 – Anos 50: O Pós-Modernismo e a Bienal Unidade 3 - Anos 60: A Nova Figuração e A arte conceitual. Unidade 4 – Anos 70: Os desdobramentos conceituais e os muitos nomes da arte pós-moderna. Unidade 5 – Anos 80: A volta à pintura Unidade 6 – Anos 90 e início século XXI: Globalização e novos meios METODOLOGIA Dado o fato de a disciplina ser oferecida na modalidade a distância (EAD), por meio de embasamentos teóricos, estudamos os principais representantes da arte brasileira contemporânea, ilustrando, pro meio de suas obras, as características predominantes em cada artista. O aluno encontra em cada unidade sites para aprofundar seus conhecimentos. AVALIAÇÃO No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 2) Provas bimestrais realizadas presencialmente; 3) Trabalhos de pesquisa bibliográfica. As estratégias de recuperação incluirão: 1) retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; 2) elaboração de trabalhos com o objetivo de auxiliar a vivência dos conteúdos. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. CANTON, Kátia. Temas da Arte Contemporânea. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. CHIARELLI, Tadeu. Arte Internacional Brasileira. São Paulo: Lemos-Editorial, 2002 (2ª Edição). FIGUEIREDO, Luciano (Organização). Helio Oiticica: A pintura depois do quadro. Rio de Janeiro: Silvia Roesler Edições de Arte, 2008. GROSENICK, Uta (Editora). Mulheres Artistas nos Séculos XX e XXI. Lisboa: Taschen, 2003. KAZ, Leonel e LODDI, Nigge (Organizadores). Arte e Ousadia – O Brasil na Coleção Sattamini. Rio de Janeiro: Aprazível Edições, 2008 / 2009. KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. Ed. Martins Fontes: São Paulo, . NAVES, Rodrigo. A forma difícil – ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Editora Ática, 2001. OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PEDROSA, Adriano e MOURA, Rodrigo (Organizadores). Através: Inhotim. Brumadinho, MG: Instituto Cultural Inhotim, 2008. PEDROSA, Mario. A modernidade cá e lá. Otília Arantes (org.). São Paulo: Edusp, 2000. REZENDE, N. A semana de arte moderna. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2006. TASSINARI, Alberto. O espaço moderno. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001. TELES, G. M. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. 8ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1976. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR REVISTA TEMPO BRASILEIRO. Modernidade e pós-modernidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, nº 84, jan.-mar. 1986. ANDRADE, M. de. Aspectos das artes plásticas no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Martins, Brasilia: INL, 1975. COUTO, Maria de Fátima Morethy. Por uma vanguarda nacional. A crítica brasileira em busca de uma identidade artística (1940 – 1960). Campinas: Editora de Unicamp, 2004. FREYRE, G. Ordem e progresso. 3a ed. Rio de Janeiro: J.Olympio, Brasilia: INL, 1974, 2 tomos. MESQUITA, Ivo. Daniel Senise: ela que não está. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1998. MICHAUD, Yves. L`Art à L` État Gazeux - Essai sur le triomphe de l`esthétique. Paris, Ed. Stock, 2003. MORAES, Angélica de. Regina Silveira: Cartografias da Sombra. São Paulo: Edusp, 1998. SMITH, Keri. The Guerilla Art Kit. New York: Princeton Architectural Press, 2007. UNIDADE 1 - MODERNISMO NO BRASIL “O que em mim sente está pensando” Fernando Pessoa CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Contextualizar e refletir sobre o momento da arte moderna, seus desdobramentos no Brasil e no exterior, e estudar os principais representantes do modernismo nacional. Prezado aluno, para entender os múltiplos conceitos presentes na arte contemporânea, seja no Brasil ou no exterior, precisamos primeiramente relembrar o contexto em que surgem os movimentos da arte moderna e as vanguardas artísticas. A sociedade europeia, a partir da metade do século XIX, principalmente a burguesia - nova classe social, que surgiu com a industrialização - busca sempre o novo e, na cultura, algo que a represente, como tentativa de legitimação de sua existência. Na arte, essa busca pelo novo é também a superação de tudo o que vem anteriormente, como também a criação de uma linguagem autônoma para a obra de arte, por exemplo, a pintura não necessita mais representar a realidade, já que a fotografia realiza essa função. Portanto, o artista passa a ser livre para desenvolver novas pesquisas, para experimentar, inovar e ousar com a sua arte. É esse o espírito que caracteríza a arte moderna. O Brasil do início do século XX sofre grandes transformações sociais. O estado de São Paulo e, principalmente, a sua capital, é o local de partida desse período de mudanças e progressos, resultantes da criação de novas fábricas surgidas com a aplicação, em sua maioria,do dinheiro obtido através da produção cafeeira e com aumento da população, oriundas das grandes ondas de imigrações que o país sofreu na virada de século. Esses novos tempos pedem transformações também na área cultural e artística, para fazer oposição a arte acadêmica, herança da corte portuguesa, do século XIX. ESTUDANDO E REFLETINDO O modernismo brasileiro foi consideravelmente influenciado pelos movimentos artísticos europeus, trazidos para cá pelos artistas brasileiros que estudavam no exterior ou artistas estrangeiros que migraram para o país. Lasar Segall (1891 - 1957), nascido na Lituânia, estudou na Alemanha, onde entrou em contato com os artistas dos movimentos expressionistas. Antes de migrar definitivamente para Brasil em 1923, expõe, pela primeira vez em São Paulo e Campinas, no ano de 1913, numa mostra que é marco da arte moderna no país, assim como a exposição da brasileira Anita Malfatti em 1917. A exposição de Segall criou menos polêmica que a da artista brasileira por ele ser considerado estrangeiro. Lasar Segall, Retrato de Margarete, 1913. Óleo sobre tela, 70 x 50 cm - Coleção Particular Anita Malfatti (1889 – 1964), nascida em São Paulo, foi para Berlim em 1910, onde entrou em contato com a arte expressionista alemã. Lá, frequentou a Academia Real de Belas Artes e o Museu de Dresden. Voltou para o Brasil em 1913 e, dois anos depois, foi para os Estados Unidos, onde estudou na Escola Independente de Arte, berço dos primeiros trabalhos cubistas da américa. Em dezembro de 1917, abre a “Primeira Exposição de Arte Moderna do Brasil, 1917 – 1918” com trabalhos dela e de outros três artistas internacionais. O aspecto expressionista das pinturas de Anita Malfatti, suas cores e traços fortes com pinceladas livres e marcadas, a relação dinâmica e tensa entre figura e fundo, a liberdade compositiva são procedimentos básicos que caracterizam a arte moderna e que foram incorporados pela artista. Anita Malfatti, A Boba, 1915-1916. Óleo sobre tela, 61 x 50,6 cm. Coleção Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, SP. A exposição provocou uma grande polêmica com os adeptos da arte acadêmica. Monteiro Lobato, ligado aos princípios estéticos conservadores, publica um artigo, explicitando a reação mais contundente e atacando a obra de Malfatti e os novos movimentos artísticos. Em posição totalmente contrária à de Monteiro Lobato estaria, anos mais tarde, Mário de Andrade. Suas ideias estéticas estão expostas no “Prefácio Interessantíssimo” de sua obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922. Mário de Andrade afirma: A obra de Anita é considerada precursora pelos próprios jovens artistas modernistas, críticos e organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e o pintor Di Cavalcanti. A divisão entre os defensores de uma estética conservadora e os de uma renovadora, prevaleceu por muito tempo e atingiu seu clímax na Semana. “Belo da arte: arbitrário convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora conscientes (Rafael das Madonas, Rodin de Balzac. Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Braz Cubas) ora inconscientes ( a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa”. (Mário de Andrade, Poesias Completas) Anita Malfatti, Torso - ritmo, 1915-1916. Carvão e pastel sobre papel, 61 x 46,6 cm. Coleção Museu de Arte Contemporânea da USP A Semana de Arte Moderna de 1922 Aconteceu na cidade de São Paulo entre os dias 13 e 18 de fevereiro, no Teatro Municipal. No interior do teatro, foram apresentados concertos e leituras de poesia à noite, enquanto, no saguão, foram montadas exposições de artistas plásticos, como os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vítor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João Fernando de Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira, Vicente do Rego Monteiro, contabilizando quase 100 obras. Di Cavalcanti, Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte Moderna, 1922. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP - Arquivo Anita Malfatti. A Semana representou um marco, um verdadeiro ponto de mudança no modo de ver e de escrever no Brasil. Do ponto de vista artístico, seu objetivo foi acertar os ponteiros da nossa arte com a modernidade contemporânea. Para isso, era necessário entrar em contacto com as visões de mundo do cubismo, do futurismo, do dadaísmo, do expressionismo e do surrealismo, que formavam, na mesma época, a vanguarda europeia. Di Cavalcanti (1897–1976), artista carioca, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, no mesmo ano, foi para Paris onde viveu até 1925 e conviveu com artistas como Fernand Léger, Henri Matisse e Pablo Picasso, que o influenciaram consideravelmente, basta comparar as formas e as cores nas obras desses artistas. Emiliano Di Cavalcanti ficou conhecido como o pintor das mulatas, pois em suas pinturas retratava a sensualidade brasileira por meio da figura feminina. Di Cavalcanti, Samba, 1925. Óleo sobre tela, 177 x 154 cm Coleção Geneviève e Jean Boghici O escultor Victor Brecheret (1894–1955) inicia formação artística em 1912, estudando desenho, modelagem e entalhe em madeira no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. De 1913 a 1919, realiza viagem de estudo para Roma, onde surge seu primeiro contato com o modernismo europeu. Em 1921, com o patrocínio do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, viaja para Paris. Entra em contato com escultores europeus, entre eles Henry Moore (1898-1986), Emile Antoine Bourdelle (1861-1929) e Constantin Brancusi (1876-1957) e permanece lá até 1935. Embora ausente, expõe 12 esculturas na Semana de Arte Moderna de 1922. Em Paris, Brecheret foi muito sensível a três fontes que buscou fundir de maneira pessoal: a ênfase ao volume geométrico da escultura cubista, o tratamento sintético da forma dado pelo escultor romeno Constantin Brancusi e a estilização elegante do estilo do art deco. A convergência dessas matrizes pode ser percebida em “Tocadora de Guitarra” de1923. Victor Brecheret, Tocadora de guitarra, 1923 Escultura em bronze. Acervo Pinacoteca, São Paulo Tarsila do Amaral (1886–1973) é considerada uma das principais artistas modernistas brasileira. Nascida em Capivari, interior de São Paulo, filha de fazendeiros, em 1920 viaja para Paris para estudar pintura. Lá, cursou a Academia Julian, tomou contato com as vanguardas europeias e frequentou os ateliês dos cubistas André Lhote, Fernand Léger e Albert Gleizes. Tarsila não estava no país no acontecimento da Semana de Arte Moderna, mas retorna ao Brasil naquele ano, quando conhece Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, com os quais formou o chamado "Grupo dos Cinco", grupo responsável pela consolidação do modernismo no país. No ano seguinte, casou-se com Oswald de Andrade. Ainda em 1923, pintou o quadro "A Negra", que se aproximava do cubismo e era considerada a primeira manifestação do que viria a ser o movimento chamado Pau-Brasil. Voltou a Paris e freqüentou, com Oswald o circuito artístico local. Tarsila do Amaral, A negra, 1923. Óleo sobre tela, 100 x 80 cm. Coleção Museu de Arte Contemporânea da USP. Tarsila do Amaral, São Paulo, 1924 Óleo sobre tela, 57 x 90 cm Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1928, Tarsila pintou aquelaque se tornaria sua mais conhecida obra, "Abaporu". A tela, um presente para o seu então marido, foi entregue na data de aniversário de Oswald, 11 de janeiro, ainda sem nome. Extasiado com a beleza da tela, Oswald chamou seu amigo modernista Raul Bopp e, folheando um dicionário de Tupi de Tarsila, encontraram o nome que batizou a tela e que significa "o homem que come carne humana", e inspirou Oswald a escrever um novo documento, o “Manifesto antropófago”, que possui a conhecida passagem: Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928. Óleo sobre tela, 85 x 73 cm. Colección Costantini, Buenos Aires, Argentina. Candido Portinari (Brodósqui SP 1903 - Rio de Janeiro RJ 1962). Pintor, gravador e ilustrador. Inicia-se na pintura em meados da década de 1910, auxiliando na decoração da Igreja Matriz de Brodósqui. Em 1918 muda-se para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes, Enba, na qual cursa desenho figurativo e pintura. “Só a Antropofagia nos une. Socialmente Economicamente. Filosoficamente. Tupi, or not tupi that is the question. (…)” Em 1928, viaja para a Europa com o prêmio de viagem ao estrangeiro, e percorre vários países durante dois anos. Portinari produziu suas obras, experimentando procedimentos pictóricos de artistas antigos e contemporâneos, sempre acrescentando a cada um desses 'experimentos' soluções de forte cunho pessoal. De volta ao Brasil, já sem os traços acadêmicos, mas também sem o radicalismo dos artistas vanguardistas, Portinari acabou sendo eleito pelos protagonistas do movimento modernista local (Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros) como principal motor para a constituição de uma arte moderna no Brasil: uma arte que tentava distanciar-se das convenções da Academia, mas atenta para não se 'perder' na abstração ou em outros 'excessos' vanguardistas. Candido Portinari, O lavrador de café, 1934. Óleo sobre tela, 100 x 81 cm. Acervo MASP. BUSCANDO O CONHECIMENTO Dentre os artistas modernistas vamos destacar a trajetória de vida e obra de Alfredo Volpi (Lucca, Itália 1896 - São Paulo SP 1988), por ele ser um caso singular na articulação entre o modernismo dos anos 1940 com o concretismo da década seguinte. Volpi muda-se com os pais de sua cidade natal para São Paulo em 1897. Trabalha como marceneiro-entalhador e encadernador e torna-se pintor- decorador em 1912. Realiza decoração mural, em 1918, do Hospital Militar do Ipiranga, com o pintor Alfredo Tarquínio. Em 1935, participa da formação do Grupo Santa Helena com Fulvio Pennacchi (1905-1992), Mario Zanini (1907-1971), Manoel Martins (1911-1979), Humberto Rosa (1908-1948), Clóvis Graciano (1907- 1988), Francisco Rebolo (1903-1980), Rizzotti (1909-1972), Ernesto de Fiori (1884- 1945), Vittorio Gobbis (1894-1968), Rossi Osir (1890-1959) e Bonadei (1906-1974). Sua produção inicial é figurativa, destacando-se as marinhas executadas na cidade de Itanhaém, litoral de São Paulo. Alfredo Volpi, Vista de Itanhaém, marinha de Itanhaém, década de 1940 Têmpera sobre tela, 45 x 76 cm Coleção particular Autodidata, Volpi jamais admitiu a influência de pintores ou movimentos sobre sua arte, mas alguns críticos apontam referências do pintor italiano, radicado no Brasil, Ernesto De Fiori em obras do fim da década de 30 e início da década de 40. Alfredo Volpi, Casas, déc. 1950 Têmpera sobre tela, 115,5 x 73 cm Coleção MAC USP. As fachadas foram durante um bom período, objeto de estudo do artista. Podemos perceber nessas composições o número de elementos plásticos em jogo. Volpi pensava essencialmente, como ele mesmo dizia, em “problemas de forma, linha e cor”, e isso, sem dúvida, levou ele gradativamente a abstração. Sua pincelada tem uma forte vibração, resultado da escolha de usar a têmpera a ovo caseira como técnica, em suas telas percebemos a experiência artesanal, sutil e intimista. Volpi chega a uma síntese incrível nos portais e nas festas de São João. Ao observarmos sua obra, surge diante de nossos olhos uma simplicidade, na fatura e na forma, e ao mesmo tempo, uma incorporação física e espiritual do gesto, na pincelada. Alfredo Volpi, Fachada das bandeiras brancas, déc. 1950 Óleo sobre tela, 155 x 102 cm Coleção particular Alfredo Volpi, Bandeirinhas, déc 1969 Têmpera sobre tela, 72 x 108 cm Coleção particular No final de sua vida, ao pintar aquelas superfícies que parecem bandeiras, mas que já são enormes abstrações, com cores extremamente vibrantes e mudando a direção do pincel para conseguir uma certa vibração, parece que ali, a cor está viva. O fantástico é que, apesar da economia, ele chega à alma da expressão, à essência da qualidade. Volpi era muito admirado pela geração seguinte, a dos artistas concretistas, tanto que, em 1956 e 1957, é convidado a participar das Exposições Nacionais de Arte Concreta e mantém contato com artistas e poetas do grupo concreto, continuando sem se encaixar em nenhuma corrente. Alfredo Volpi, Bandeirinhas, déc 1969 Têmpera sobre tela, 72 x 108 cm Coleção particular. INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO A partir do que sabemos sobre a “Primeira Exposição de Arte Moderna do Brasil, 1917 – 1918” de Anita Malfatti que aconteceu em 1917, procure pesquisar mais sobre esse marco da arte moderna brasileira. Leia a crítica que Monteiro Lobato fez ao trabalho de Anita no conhecido texto chamado “Paranóia ou Mistificação? A propósito da Exposição Malfatti”, publicado em 20 de dezembro de 1917 no jornal O Estado de São Paulo. Com uma busca na internet, você fácilmente achará o artigo completo. Perceba os conceitos presentes na crítica de Lobato. Agora procure as imagens dessa exposição, além das duas reproduzidas aqui, “A Boba” e “Torso – ritmo” participaram dessa mostra 53 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas como, ”Tropical”, “O Homem Amarelo”, “A Estudante Russa”, “O Japonês”. Imaginando que você é um crítico de arte, coloque-se na posição de defender o modernismo e a arte de Anita Malfatti, escreva um artigo resposta ao artigo de Monteiro Lobato. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO - Visita ao Museu Lasar Segall: o local era a residência do artista. Situado na Vila Mariana em São Paulo, foi transformada em Museu em 1967, dez anos após sua morte. - Assista a minisérie produzida pela Globo “Um só coração” (2004), disponível em DVD. Misturando ficção e realidade, o programa retratou parte da história e do desenvolvimento de São Paulo, entre 1922 e 1954: a Semana de Arte Moderna e os personagens que realizaram o movimento modernista brasileiro, a Revolução de 1924, a crise de 1929, a Revolução Constitucionalista de 1932, a era Vargas, os ecos do nazismo e do fascismo, os refugiados da guerra, a influência americana, até a consolidação do modelo democrático no país. A minisérie foi uma homenagem aos 450 anos da cidade de São Paulo, comemorado naquele ano de 2004. UNIDADE 2 - ANOS 50: O PÓS-MODERNISMO E A BIENAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar o momento do pós-modernismo como antecedente ao que chamamos hoje de arte contemporânea, as correntes concretas, neoconcretas e informais da arte abstrata e a importância da criação da Bienal para a arte brasileira. Os anos 1950 foram um período de grande agitação. O mundo já havia se recuperado da Segunda Grande Guerra, finalizada em 1945 e agora se encaminhava para uma polarização entre países socialistas encabeçados pela União Soviética, e países capitalistas liderados pelos Estados Unidos. Apesar dessas novas disputas que surgiram, com a guerra não declarada entre essas duas potências, a chamada Guerra Fria, que duraria décadas, o momento era de euforia e reconstrução proporcionadas pelo retorno da paz. ESTUDANDO E REFLETINDONa metade do século XX, os Estados Unidos tornou-se o centro mundial da arte, muitos artistas migraram para lá durante a ascensão do nazismo na Europa, portanto o eixo cultural muda de Paris, cidade das vanguardas européias no início do século, para Nova York, cidade americana centro do expressionismo abstrato, sendo Jackson Pollock (1912 – 1956) e sua Action Painting (a Pintura de Ação), o seu representante mais conhecido. O expressionismo abstrato é considerado a arte moderna americana por excelência. Hoje, sabemos que a rápida aceitação que esse estilo de pintura teve na sociedade americana foi consequência do apoio do governo, que utilizou a arte abstrata para mostrar como seu regime apoiava a liberdade de expressão em oposição aos governos comunistas e suas revoluções culturais repressoras. No Brasil, esse é um período de promessas de grandes desenvolvimentos, com o crescimento da agricultura, da indústria siderúrgica e da Petrobrás. Nas Artes Visuais, um grande acontecimento marca a inauguração de um novo tempo. Em 1951, é criada a Primeira Bienal de Arte de São Paulo, promovida pelo casal Iolanda Penteado e Francisco Matarazzo Sobrinho – conhecido como Ciccillo Matarazzo, com assessoria dos críticos de arte Lourival Gomes Machado e Sérgio Millet. Foi realizada em 20 de outubro na esplanada do Trianon, local hoje ocupado pelo Masp. Na mostra, foram exibidas, pela primeira vez no Brasil, obras dos artistas mais importantes do século XX, como Picasso, Morandi, Calder, Giacometti, Magritte e representantes da arte brasileira como Lasar Segall, Di Cavalcanti, Portinari, Brecheret, Oswald Goeldi entre outros. Mas a presença mais impactante foi a do artista suiço Max Bill (1908 - 1994) e sua escultura “Unidade Tripartida”, com tendências construtivistas, a obra abstrata passa a ser uma influência para os artistas brasileiros, que encontram no abstracionismo uma nova forma de expressão. Max Bill, Unidade Tripartida, 1948-49 Aço inoxidável (115,0 x 88,3 x 98,2 cm ) Acervo MAC – USP, São Paulo O impacto das representações estrangeiras abre as portas do país para as novas linguagens plásticas, que passam a ser amplamente exploradas, primeiramente pelas correntes abstracionistas ligadas ao construtivismo, que resultam no Concretismo em São Paulo e no Neoconcretismo no Rio de Janeiro, e, no fim da década de 50, na Arte Informal. Essas transformações se relacionam de perto com as modificações verificadas no meio social e cultural brasileiro. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro iniciam seus processos de formação da metrópole, alimentados pelo surto industrial e pela ordem desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana. Do ângulo das artes visuais, a criação dos museus e galerias de arte criam condições para essas experimentações concretas, com o anúncio das novas tendências não- figurativas. BUSCANDO O CONHECIMENTO O concretismo buscava o novo, a socialização da arte, buscava uma arte democrática, acessível a todos, com uma linguagem universal, a pintura construída exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ela própria. Os artistas concretos procuravam uma arte que substituísse a expressão emocional pelo pensamento, de construção mental. Os artistas paulistas mostravam-se decididos a criar uma arte de acordo com a cidade moderna, urbana e industrial que era São Paulo. A ideia de série e de variações óticas, de ritmo e de movimento, assim como a articulação espaço- tempo, estavam no centro de suas preocupações. Com esse pensamento, os artistas paulistas fundam, em 1952, o Grupo Ruptura, centrado em torno do artista e teórico Waldemar Cordeiro (1925 – 1973), que promovia encontros para discutir os ensinamentos de mestres europeus como Kandinsky e Mondrian. No grupo, também estavam Lothar Charoux, Geraldo de Barros, Fejér, Leopoldo Haar e Luiz Sacilotto. Em seu manifesto, Cordeiro propõe o rompimento com a figuração e o naturalismo. Waldemar Cordeiro, Movimento, 1951. Têmpera sobre tela. 90,2 x 95 cm Coleção MAC USP, São Paulo. Lothar Charoux (1912 – 1987) nasceu na Austria e migrou para o Brasil, em 1928. A partir de 1948, Charoux volta-se às questões construtivas, podemos perceber em sua obra, preocupações com as questões da linha, do movimento e do equilíbrio, assim como as vibrações óticas. Lothar Charoux, Desenho, 1956. Guache sobre papel sobre madeira, 61 x 61 cm. Acervo MAC - USP. O brasileiro Geraldo de Barros (1923-1998) foi fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer de móveis e desenhista. Além de importante colaborador do movimento concreto e integrante do Grupo Ruptura, foi grande explorador de experimentos com a fotografia, nas quais podem-se identificar as preocupações construtivistas. Geraldo de Barros, Função diagonal, 1952. Esmante sobre kelmite. 60 x 60 cm Coleção do artista. O paulista Luiz Sacilotto (1924 - 2003) foi pintor, escultor e desenhista. O convívio com o Grupo Ruptura foi importante para seu aprimoramento teórico e o desenvolvimento de seu trabalho no ateliê, que desde meados de 1948, já esboça uma consciência abstrato-construtiva. Sacilotto pode ser considerado um dos importantes artistas da arte concreta no Brasil e, com uma pintura que explora fenômenos ópticos, um dos precursores da op art no país. Luiz Sacilotto, Concreção 5624, 1956. Relevo de aluminio pintado, 36 x 60 x 0,4 cm. Coleção particular. Contraponto com os paulistas do Grupo Ruptura e o seu concretismo está o carioca Grupo Frente e o seu neoconcretismo. Fundado em 1954, por Lygia Clark, Lygia Pape e Ivan Serpa, entre outros, o grupo criticava o excesso de racionalismo teórico dos paulistas e considerava que a abstração geométrica podia ter alma e corpo. Ivan Serpa (1923 - 1973) além de artista teve importante trabalho como professor. Ministrou suas primeiras aulas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde, a partir de 1952, exerceu sistemática atividade didática no ensino de arte para crianças. Então, em 54, ao lado de Ferreira Gullar, cria o Grupo Frente e permaneceu na liderança até a sua dissolução, em 1956. Curioso perceber que, apesar da orientação concretista, a obra de Serpa oscila entre o figurativo e o abstrato geométrico. Ivan Serpa, Formas, 1951. Óleo sobre tela. Prêmio melhor jovem pintor na Primeira Bienal de São Paulo em 1951. Acervo MAC USP, São Paulo. O grupo carioca teve como mentor o crítico Ferreira Gullar (1930), que buscava criar uma noção de arte brasileira completamente autonoma, livre das influências europeias, uma arte estética e eticamente nacional. Gullar foi autor do “Manifesto Neoconcreto” e o principal teórico do novo movimento. Ele defendia que a arte neoconcreta era uma arte original, com experiências que aconteciam no espaço real, sem os apoios convencionais de moldura, para a pintura, e de base / pedestral, para a escultura. A obra de Lygia Clark (1920 – 1988) tem um lugar seminal na história da arte contemporânea brasileira. Poucos artistas tiveram um papel tão liberador no que diz respeito à abertura de canais expressivos e no uso poético de novos materiais. Primeiramente, como aluna de Roberto Burle-Marx (1909 – 1994), ela logo teve contato com a dimensão orgânica do abstracionismo. Com a aproximação dos artistas neoconcretos, foi assimilando a geometria, mas sempre experimentando a dimensão espacial e explorando a projeção espacial na arquitetura, ou seja, seus trabalhos bidimensionais extrapolam esse limite e possuem uma projeção tridimensional, mesmo que, no início, pequena. A evolução de sua obra vai da série dos “Casulos”, para a dos “Bichos” e depois os “Trepantes”. Aos poucos, em sua obra, a participação do espectador é requisitada. Lygia Clark, Planos em SuperfícieModulada número 5, 1957. Tinta industrial sobre madeira, 80 x 70 cm. MAM, São Paulo. Lygia Clark, Casulo, 1959. Nitrocelulosa sobre lata, 42,5 x 42,5 x 26 cm. Lygia Clark, Bicho caranguejo duplo, 1961. Alumínio, 53 x 59 x 53 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Pouco tempo depois, outros artistas passaram a participar do grupo, entre eles, Hélio Oiticica, Abraham Palatnik e Franz Weissmann. O trabalho de Hélio Oiticica (1937 – 1980) tem a marca de um momento particular na cultura brasileira. No percurso de amadurecimento da poética neoconcreta, interessa-se pelo caminho da espacialização da cor. Aos poucos, o trabalho de Oiticica vai se efetivando a integração obra/espaço/espectador, que leva enfim, à superação da tradicional relação sujeito / objeto. É aí que surgem as diretrizes básicas para as futuras experimentações de sua produção, que veremos nos anos 60. Helio Oiticica, Metaesquema, 1957. Guache sobre cartão, 56 x 68 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Abraham Palatnik (1928) foi um dos pioneiros, ao aliar arte e tecnologia. Desde a sua participação na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, ele inovou com a criação de seu “aparelho cinecromático”, uma máquina de pintura, um aparelho lúdico de luz e cor. De lá para cá, Palatnik seguiu um caminho original, realizando, não apenas seus aparelhos cinéticos, mas também pinturas e relevos, nos quais formas e cores criam impressionantes vibrações. O artista é conhecido internacionalmente entre um dos principais artistas da Arte Cinética, ao lado do argentino Julio Le Parc. Abraham Palatnik, Aparelho Cinecromático, 1958. Objeto cinético, 112 x 74 x 20 cm. MAC - USP, São Paulo. Já a arte informal está ligada à estética não-figurativa e não-geométrica. Esse abstracionismo manifestou-se no Brasil, sobretudo, nos trabalhos de alguns artistas japoneses que se radicaram no país entre as décadas de 30 e 60. Os mais conhecidos deste grupo são Manabu Mabe e Tomie Ohtake, mas há ainda Flávio- Shiró e Takashi Fukushima. Também sob a influência da Action Painting norte- americana e do Tachisme francês, eles se interessavam pela exploração da superfície pictórica, pelas cores, texturas e formas gestuais. Muitos outros pintores ligaram-se ao Informalismo. Dentre os nascidos no Brasil, podemos mencionar Iberê Camargo. Já entre os artistas que vieram do exterior e aqui se radicaram estão, Yolanda Mohalyi, Danilo Di Prete e Frans Krajcberg. Apesar de Tomie Ohtake (1913) ser uma artista brasileira, a influência da arte oriental é evidente em seu trabalho. Podemos observar em suas pinturas, uma economia de meios e na incessante busca pela síntese. Trabalhando com a paleta reduzida, ou seja, empregando duas ou três cores, a arte de Tomie é uma tentativa de conseguir o máximo de expressão com o mínimo de recursos. Tomie Ohtake, Pintura, 1969. Óleo sobre tela, 135 x 135 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo Iberê Camargo (1914 0 1984), artista do Rio Grande do Sul, foi pintor, gravador, desenhista, escritor e professor. Sua obra pode ser considerada herdeira do expressionismo e transita entre o figurativo e o abstrato. Suas pinturas, em especial, são construídas com espessas camadas de tinta, compostas de pinceladas gestuais e precisas. Iberê Camargo, Estrutura, 1961. Óleo sobre tela, 90 x 128 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Franz Weissmann (1911– 2005), escultor nascido na Austria, Weissmann traz à corrente neoconcreta leveza e lirismo. Sua obra é caracterizada por períodos, onde o rigor minimalista predomina, ou seja, as formas geométricas ficam mais rígidas e serializadas, com períodos nos quais a cor reforça o geométrico livre e expansivo de seu trabalho. Franz Weissmann, Torre, 1958. Ferro, 140 x 55 x 55 cm. Museu nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica se destacam nos seguintes anos 60, ao substituir a preocupação com os limites da arte neoconcreta pelas questões da arte e do corpo como algo vivo, integrado às experiências dos sentidos. A procura de um deslocamento formal que superasse o contraste entre figura e fundo levou Helio Oiticica e Lygia Clark a trazer seus trabalhos para o espaço, colocando-os numa situação de maior liberdade em relação aos limites impostos pelo plano pictórico. (NAVES, 2001, p. 243) INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO Aluno, agora é com você! Procure saber mais sobre o trabalho fotográfico de Geraldo de Barros, desse período dos anos 50. Geraldo de Barros, Fotoforma, 1949. Matriz-negativo. Geraldo de Barros, Fotoformas, 1950. Montagem fotográfica. 40 x 30. MAM, Rio de Janeiro. Geraldo de Barros, sem título, 1951. Matriz-negativo. Coleção do artista. Perceba as preocupações compositivas nas imagens acima. Para você ampliar suas referências lembre-se de que os artistas concretos brasileiros também possuiam influências dos construtivistas russos. Ao observarmos imagens do artista e fotógrafo russo, Alexander Rodchenko (1891–1956), percebemos essas preocupações formais, com pontos de vista de cima para baixo, de baixo para cima ou em diagonal. Agora produza uma fotografia pensando nas mesmas questões compositivas e estéticas dos artistas desse período. Lembre-se, uma fotografia será sempre uma cópia de algo real, mas desse algo real você poderá fazer aparecer algo abstrato a partir de sua escolha de composição. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO - Um acontecimento que mudou e muito a vida em nosso país foi a crição da nova capital, Brasilia, inaugurada em 1960. Reflexo de todas as mudanças ocorridas, nos anos 50, é considerada a tradução mais completa do pensamento moderno desse período. Movido pela necessidade de construir um novo Brasil, o projeto foi realizado pelo então presidente Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), a partir de 1956, no tempo recorde de menos de cinco anos. O presidente convidou o arquiteto Oscar Niemeyer (1907) para planejar os prédios governamentais e dirigir o Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital. Niemeyer sugere abrir um concurso nacional para elaboração do plano piloto da cidade. Em março de 1957 é declarado vencedor do concurso o projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902 - 1998). Surge então a parceria entre Niemeyer e Costa na construção de uma cidade planejada, que é reconhecida mundialmente pelo seu projeto inovador. Procure mais informações sobre o concurso e a construção da cidade de Brasília e seu projeto piloto. Busque quais foram os ideais estéticos aplicados pelos seu dois arquitetos / urbanistas, e pesquise também sobre a interessante parceria de Niemeyer com o pintor, escultor e arquiteto Athos Bulcão (1918 – 2008), que realizava murais em suas obras arquitetonicas, numa colaboração essencial que integra arte e arquitetura. Isso pode ser comprovado no Teatro Nacional de Brasilia, no Palácio de Itamaraty, no Memorial JK, entre outros. - Assista ao documentário “Oscar Niemeyer - A vida é um sopro” de 2007, com direção de Fabiano Maciel, o filme mostra como Niemeyer revolucionou a Arquitetura Moderna com a introdução da linha curva e a exploração de novas possibilidades de uso do concreto armado, além de seus pensamentos sobre a vida e o ideal de uma sociedade mais justa. - A Poesia Concreta é outro expoente artístico desse período que vale a pena uma pesquisa. Procure pelo principal texto da poesia concreta, publicado em 1958, Plano Piloto para Poesia Concreta, assinado pelos poetas Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Décio Pignatari (1927), em citação direta e assumida à construção de Brasília. UNIDADE 3 - ANOS 60: A NOVA FIGURAÇÃO E A ARTE CONCEITUAL “Hoje aceitamos sem discussão que,em arte, nada pode ser entendido sem discutir e, muito menos, sem pensar.” Theodor Adorno, filósofo em 1961. “Arte é o exercício experimental da liberdade” Mario Pedrosa, critico brasileiro, anos 1960. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 60 no Brasil, com a influência da Arte Pop nasce a Nova Figuração brasileira e com a Arte Conceitual, as diversas experimentações do período. Os anos 1960 foram embalados por ventos de mudança. Neles brotaram os primeiros grandes movimentos libertários, depois dos quais o mundo nunca mais seria o mesmo. Nesses anos surgiram o amor livre e a emancipação da mulher, o black power e o orgulho gay, a minissaia e a pípula anticoncepcional. Foi a década, na qual o homem pisou na lua e o pacifismo tentou responder à estupidez das mortes da guerra do Vietnã. No Brasil, a democracia se revelaria frágil e não sobreviveria ao golpe militar de 1964, inaugurando um período de crescente repressão das liberdades, que atravessaria as duas décadas seguintes. Longe de se render, o país resistiu, menos pelas armas dos grupos guerrilheiros do que pela força criadora de seus artistas, em particular os músicos, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nas artes visuais, a crítica à política também era vigorosa nas telas, esculturas e instalações, que passam a surgir na experimentação dos artistas brasileiros nesse período. O trabalho artístico visa romper definitivamente as fronteiras entre arte e vida cotidiana. ESTUDANDO E REFLETINDO Os anos 60 foram uma época de intensas mudanças no cenário das artes visuais, decorrentes das insatisfações dos artistas com o que tinha acontecido até então. Um dos principais questionamentos do período foi justamente “o que é arte?”. Os artistas conceituais foram os que mais deram respostas a essa questão, respondendo que arte era a ação do artista, era aquilo que o artista tinha a intenção de apresentar como arte. Por exemplo, o artista italiano Piero Manzoni (1933 – 1963), chegou ao limite em 1961, ao enlatar suas fezes e vender o produto como arte pelo preço de seu peso em ouro. Com isso, a mistura de linguagens se tornou regra, assim como a quebra de hierarquias entre alta cultura e cultura de massas. A utilização de imagens do mundo pop não significou necessariamente a facilitação da experiência artística, mas a busca de novos horizontes de experimentação e a tentativa de dinamizar o circuito da arte. Com o chamado novo realismo, nova objetividade ou nova figuração, a arte brasileira segue as tendências internacionais da Arte pop e da arte conceitual. No ano de 1965, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou a exposiçao Opinião 65, que revelou a Nova Figuração, influenciada pela Arte Pop americana, com artistas como Antonio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gershman. Helio Oiticica foi destaque, ao contestar o formalismo dos concretos com a chamada “antiarte” – menos contemplativa e mais participativa. Incorporam esse conceito os Parangolés, estandartes e capas que o público podia manusear e vestir. Oiticica, hoje amplamente reconhecido como um precursor da chamada arte internacional, realiza, a partir dos anos 60, experimentos e vai se aproximando do que ele mesmo denomina de Arte Ambiental, ligada ao lugar e as experiências sensoriais, corpóreas. Segundo o crítico Mario Pedrosa, no artigo publicado no jornal Correio da Manhã, em 1966, intitulado “Arte ambiental, arte pós-moderna, Hélio Oiticica”, “Foi durante a iniciação do samba, que o artista passou da experiência visual, em sua pureza, para uma experiência de tato, do movimento, da fruição sensual dos materiais, em que o corpo inteiro, antes presumido na aristocracia distante do visual, entra como fonte total de sensorialidade”. (FIGUEIREDO, 2008, p. 58). Hélio Oiticica, Nildo da Mangueira veste P15 Parangolé Capa 11 “Incorporo a Revolta”, Morro da Mangueira, 1967. Dentre os artistas da Nova Figuração está Antonio Dias (1944) e sua obra com forte entonação política. Seu trabalho é uma mistura de pintura com objetos que o artista aplica sobre a superfície da tela, o que podemos chamar de assemblagens, que são a apropriação e a acumulação de qualquer tipo de material incorporado à obra de arte, muito usual pelos artistas desse período, influenciados pelo conceito de ready-made de Marcel Duchamp e o dadaísmo da obra “Merz” (1919) de Kurt Schwitters (1887-1948). Contemporâneos à Dias, os artistas americanos como Robert Rauschenberg (1925 – 2008) e Jasper Johns (1930) nos anos 60 desenvolveram também trabalhos com assemblagens, que chamaram de combine paintings. Antonio Dias, Um pouco de prata para você, 1965 Tinta acrílica e industrial, plástico, tachas metálicas e tecido acolchoado sobre madeira e durates, 124 x 122 x 7 cm Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, Rio de Janeiro. Duas exposições, realizadas no ano de 1967, trazem ao público brasileiro maior contato com a pop art: a exposição Nova Objetividade Brasileira organizada por Frederico Morais, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com artistas nacionais e a 9ª Bienal de São Paulo, com a participação de importantes artistas estrangeiros, segundo Mario Pedrosa, metade da mostra era composta por artistas norte americanos. (PEDROSA, 2000, p. 269.) Antonio Manuel (1947), nascido em Portugal, o artista chega ao Brasil em 1953 e é na década de 60 que seu trabalho surge, ao utilizar o jornal e sua matriz como suporte (o chamado Flan). Sempre com abordagem política em suas notícias inventadas, também trabalha com outros meios além do suporte bidimensional, como instalações, vídeos e performances. Em 1970, Antonio Manuel realizará uma performance denominada “O corpo é a obra”, que a princípio foi recusada pelo júri do Salão de Arte Moderna do MAM do Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, o artista, na noite de abertura da mostra, exibe seu próprio corpo nu ao público. A ideia principal proposta por Manuel é criticar os critérios de seleção e julgamento da obra de arte. A partir desse acontecimento, o interesse principal da experimentação de Antonio Manuel passa a ser o estudo do corpo e seus sentidos. Antonio Manuel, Flan, 1968. 55 x 37 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, Rio de Janeiro. Rubens Gerchman (1942 – 2008) surge nos anos 60 com uma apropriação de imagens cotidianas, realizando uma crônica visual da vida brasileira, unindo, muitas vezes, imagem e palavra. Em sua trajetória, vemos uma forte crítica política ao regime ditatorial vigente, uma dedicação ao grafismo de imagens tiradas dos meios de comunicação e inspiradas em fotonovelas e história em quadrinhos. Rubens Gerchman, Bela Lindonéia, 1961 Litografia em cores, 80 x 80 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Rubens Gerchman, Os desaparecidos, 1968. Acrilica sobre tela, 120 x 102 cm. Coleção Jean Boghici. BUSCANDO O CONHECIMENTO O termo arte conceitual é relativo a diversas formas de arte nas quais a ideia da obra é considerada mais importante que o produto acabado, que por vezes nem chega a ser realizado. Para entendermos melhor a arte conceitual precisamos voltar um pouco no tempo e estudar sobre o artista francês Marcel Duchamp (1887 – 1968), importante nome da arte mundial, que mudou o rumo da produção artística e influencia artistas até hoje. Os ready-mades, de Duchamp, remontam a ação de 1917, quando o artista manda para uma exposição de arte um mictório, assinado por R. Mutt, constestando tanto objeto artístico, quanto instituição de arte. Nelson Leirner (1932) é um dos artistas que tem a obra de Marcel Duchamp como forte influência. O trabalho de Leirner mistura provocação com ironia e irreverência, trazendo para o museu a impureza kitsch, misturando lixo e luxo, realidade e ficção. O espectador muitas vezes é surpreendidocom as obras de Leirner, sem saber se há crítica ou humor ali. Na verdade existe em seu trabalho a soma dessas duas características, é isso que marca a ambiguidade de seu estilo pop e singular. Nelson Leirner, O Porco, 1967. Engradado de madeira e porco empalhado, 83 x 159 x 62 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Nelson Leirner, junto com Carlos Fajardo, Frederico Nasser, Geraldo de Barros, José Resende e Wesley Duke Lee fundam o Grupo Rex em 1966 em São Paulo. O grupo inaugura uma galeria chamada “Rex Gallery and Sons”, onde aconteciam suas exposições a medida que suas artes experimentais eram produzidas. Também publicaram um boletim denominado “Rex Time”, que contou com cinco números. A característica principal do grupo, além da arte figurativa, era o humor e a irreverência. Geraldo de Barros, They are playing (Pocker's Face), 1964. Técnica mista sobre cartão duplex. 75 x 110 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Wesley Duke Lee (1931–2010) foi um artista essencialmente figurativo. Seu estúdio era centro de encontro dos jovens artistas da época. Duke Lee inspirou as gerações com a mistura de materiais e técnicas. E foi o autor do que é considerado o primeiro Happening da arte brasileira, em 1963, na cidade de São Paulo, numa exposição sua em um local chamado João Sebastião Bar, o público era convidado a observar com a luz de lanternas as suas obras que estavam na penumbra. Wesley Duke Lee, O Guardião, As circunstâncias (Tríptico), 1966. Técnica mista, 197 x 107 cm, 150 x 56 cm e 136 x 60 cm. Coleção Particular. José Roberto Aguilar (1941) é outro artista que surge nesse período. Paulistano, possui um trabalho essencialmente urbano. A agitação da cidade grande era registrada em suas pinturas pela vibração das cores e as figuras um pouco disformes e indefinidas, como se estivessem em movimento. José Roberto Aguilar, Série do Futebol número 1, 1966 Tinta Spray sobre tela, 114 x 146,5 cm Acervo MAC – USP, São Paulo. INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO Aluno, agora é com você! Com o material que tiver disponível na sua casa, como tinta, lápis, cola, tesoura, realize uma colagem, utilizando imagens de jornal e revista, que tenha uma conotação social e política como a dos artistas da década de 60, mas com a situação política e social atual, tanto nacional, como internacional. Outra possibilidade de realização desse trabalho poderá ser, se você preferir, utilizando programas de computador que editam imagens, criando assim uma colagem digital. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO - Apesar da ação de Wesley Duke Lee na ocasião de sua exposição “Ligas” em 1963 no João Sebastião Bar em São Paulo, ser considerada o primeiro Happening do país, ou seja, um acontecimento no qual o público é convidado a participar da cena ou acontecimento proposto pelo artista. O artista Flávio de Carvalho (1899- 1973) realiza anos antes, em 1956, o que intitula de “Experiência número 3”, no qual o artista veste um traje que chama de “New Look: Verão ou Traje Tropical”, composto por uma saia e uma blusa com mangas soltas. Essa ação pode ser considerada a primeira performance provocativa realizada por Carvalho. O artista também se destaca por sua atuação no teatro e suas performances, que abrem caminho para os novos procedimentos artísticos que têm desenvolvimento, no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970. Flávio de Carvalho, Experiência Número 3, 1956. Traje de verão masculino. Performance realizada na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo. - No cinema brasileiro, é dessa época o movimento chamado Cinema Novo, que sofreu influências diretas da Nouvelle Vague francesa de cineastas como François Truffaut, Alain Resnais e Jean-Luc Godard, e do Novo-realismo italiano com os autores Federico Fellini, Luchino Visconti, Roberto Rosselini, Vittorio De Sica, Michelangelo Antonioni e Pier Paolo Pasolini. Um dos principais representantes desse movimento cinematográfico brasileiro foi Glauber Rocha (1939 – 1981), com filmes como: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963) e “Terra em Transe” (1967). Os cineastas lutavam por um cinema mais realista, com mais conteúdo e menor custo. Os filmes de Glauber possuiam uma crítica social feroz e uma maneira de filmar que pretendia ir contra o estilo de filmar da industria americana de cinema. Sua frase “Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão”, tornou-se lema do Cinema Novo. UNIDADE 4 - ANOS 70: OS DESDOBRAMENTOS CONCEITUAIS E OS MUITOS NOMES DA ARTE PÓS-MODERNA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 70 no Brasil, com a influência da Arte Conceitual dos anos 60 e as diversas experimentações do período. Os anos 70 foram conturbados. Milhares de pessoas morriam na Guerra do Vietnã. Na América Latina, centenas de pessoas eram torturadas e desapareciam por causa das ditaduras desses países. Em nosso país, a ditadura militar foi simônimo de censura, perseguição, torturas e mortes. Jornalistas, artistas, professores, intelectuais e estudantes ou eram presos ou precisavam se exilar. O caminho para a restauração da democracia se revelaria lento e tortuoso. A segunda metade da década de 70 é marcada pela reorganização de grupos civis, que ganham as ruas para reclamar liberdade. Apenas em 1979 que o governo militar cria a Lei da Anistia, que liberta os presos políticos, mas também absolve os crimes cometidos por militares em nome da ditadura. ESTUDANDO E REFLETINDO Nos anos 70, os sentidos de pintura, escultura e desenho expandem-se. Happenings, mail-art, body-art, instalações, videoarte são estratégias utilizadas pelos artistas na realização de obras e termos cada vez mais comuns no mundo artístico. A ideia continua prevalescendo sobre o objeto e uma postura crítica frente às instituições de arte, como museus e galerias de arte, que são questionados sobre sua hegemonia, levando os artistas a outros canais de circulação de seus trabalhos, como o correio, por exemplo, no caso da mail-art ou arte-postal. A fotografia passa a ter lugar de destaque nesse período, além de expressão artística em sim mesma, é utilizada para documentar ações e performances. Assim como a fotografia, os outros meios de reprodução como fotocópias e as técnicas de serigrafia e offset são muito utilizadas. Tanto que é dessa época que se populariza o ensaio de Walter Benjamin, datado de 1936, “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. A arte torna-se mais do que um objeto ritual a ser cultuado, um elemento de práxis política. BUSCANDO O CONHECIMENTO Muitos artistas que despontaram no cenário nacional e internacional, nos anos 70, são artistas em intensa e importante produção artísticas nos dias de hoje. Entre eles podemos citar Cildo Meireles, Regina Silveira e Artur Barrio. O começo da obra do carioca Cildo Meireles (1948) dá-se no auge da ditadura. Por isso, entre 1968 e 1975, ele assume uma postura anti-institucional. Podemos entender isso em “Inserções em Circuitos Ideológicos”, nas quais mensagens políticas eram colocadas nas garrafas de Coca-cola e em notas de dinheiro, que voltavam à circulação. Esses trabalhos, além da evidente atuatuação política, indicam sua vontade de buscar novos meios de circulação para a arte. Boa parte dos trabalhos do artista insiste na experiência sensorial do público com a obra de arte. Além da visão, o olfato, o tato, a audição e porque não, as ideias também nos conduzem no mundo, portanto cabe à arte estimular todos os sentidos. E é nesse estímulo que, muitas vezes, nasce o estranhamento, característica tão presente na arte contemporânea. Esse conflito de sensações e ideias é recorrente na obra de Meireles. E ao mesmo tempo a participação do público é requisitada e recusada. Esse elemento participativo ganha na obra do artista umacomplexidade interessante com suas instalações. Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos, 2 - projeto Coca- cola, 1971. Inscrições em garrafas de vidro, como por exemplo, a receita de como fazer um “cocktail molotov”, 24,5 x 6,1 cada garrafa. Coleção do artista Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos, 2 - projeto cédula, 1970. Inscrições em cédulas de dinheiro, que voltavam à circulação. Coleção do artista. Julio Plaza (1938 – 2003), artista espanhol migrado para o Brasil, foi também escritor e professor da USP e da FAAP, ambas instituições de ensino de arte na cidade de São Paulo, junto com a então sua esposa, a artista Regina Silveira, com quem também realizou alguns trabalhos. Plaza é considerado artista multimídia por ter se aventurado por diversos meios e foi na produção conceitual na qual ele mais se destacou, utilizando fotografias, colagens, fotocópias, poesias, vídeos etc. Julio Plaza, In.for.ma.tion, 1972. Serigrafia sobre papel, 111,7 x 66 cm MAC USP, São Paulo. Julio Plaza & Regina Silveira, Técnica do Pincel, 1974. Serigrafia sobre papel, 94,7 x 66,4 cm Acervo MAC – USP, São Paulo. Regina Silveira (1939), gaúcha, é uma artista com formação acadêmica, primeiro em cursos de graduação, ainda em Porto Alegre no final da década de 50 e início dos 60 e depois, a partir do final dos anos 70, realiza já em São Paulo, mestrado (1980) e doutorado (1984) na USP. Silveira possui uma carreira expressiva como artista, conciliada durante muitos anos com o trabalho de professora, que iniciou na Universidade de Porto Rico, de 1969 até 1972, junto com o artista espanhol e então seu marido, Julio Plaza. É nesse período que, em viagens a Nova York, entra em contato com a arte conceitual, principalmente, a americana que conhece através de exposições, como a coletiva de arte conceitual Information que aconteceu no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, em 1970. Essa mostra apresentou, entre outros, as obras de dois artistas brasileiros, Cildo Meireles (Inserções em Círculos Ideológicos: Projeto Coca-Cola) e Helio Oiticica (Babylonests). É por meio desses e outros artistas que Regina Silveira percebe a presença da obra de Marcel Duchamp, no meio artístico americano, com a pop art e a arte conceitual. A partir de 1973, quando retorna ao Brasil e se instala na cidade de São Paulo, Regina Silveira passa a ter, cada vez mais, uma representação dentro da produção nacional. Regina Silveira, Rebús para Duchamp (da série Jogos da Arte), 1977. Offset, 50 x 70 cm Coleção da artista. Carlos Zílio (1944) iniciou sua obra, realizando objetos e esculturas, instalações de caráter conceitual, com uma vontade deliberada de enfrentamento político. A recusa por procedimentos tradicionais implicava o uso de objetos e meios que aproximavam a vida social ao campo da arte. O envolvimento político de Zílio foi tão intenso que foi preso político durante dois anos de 1970 – 1972 e foi para a França em exílio em 1976, onde realizou doutorado em artes. Carlos Zílio, Para um jovem de brilhante futuro, 1973. Valise com pregos de aço e fotocópia sobre papel. Acervo MAC USP, São Paulo. Carlos Zílio, Identidade Ignorada, 1974. Fotografia p&b, 18 x 24 cm. Coleção do artista. Artur Barrio (1945), português radicado no Rio de Janeiro, é artista multimídia e desenhista. A partir de 1967, frequenta a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Nesse período, realiza os "cadernos livres", com registros e anotações que se afastam das linguagens tradicionais. Em 1969, começa a criar as “Situações” trabalhos de grande impacto, com experimentações realizadas com materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne putrefata (como as Trouxas Ensangüentadas), com os quais realiza intervenções no espaço urbano. No mesmo ano, escreve um manifesto no qual contesta as categorias tradicionais da arte e sua relação com o mercado, e a situação social e política na América Latina. Em 1970, na mostra Do Corpo à Terra, espalha as Trouxas Ensangüentadas em um rio em Belo Horizonte. Barrio documenta essas situações com o uso de fotografia, cadernos de artista e filmes Super-8. Cria também instalações e esculturas, nas quais emprega objetos do cotidiano. Artur Barrio, Livro de carne, 1978 - 79. Trabalho realizado com carne crua. Documentado em fotografia. Coleção do artista. A tendência desse período de os artistas empregarem as teorias de apropriação e acumulação de objetos, com claro predomínio do agir sobre o fazer, que é extravasada para a terra e o território. A Land Art (arte do território) é uma manifestação que representa a dominação do homem e sua apropriação do mundo, da natureza. Christo Javacheff (1935), artista nascido na Bulgária e naturalizado norte- americano, a partir da década de 60, inicia seu trabalho com o que chama de empacotamento de objetos, primeiramente utilitários, e na década de 70 passa ao empacotamento de objetos monumentais. Christo, Valley Curtain, 1971 Projeto para o empacotamento do vale de great Hogback em Rifle, Colorado, EUA. Colagem, 71 x 56 cm. Christo e Jeanne-Claude, Valley Curtain, Rifle, Colorado, EUA. Land Art realizada em 1971 – 72. Fotografia que documentou a Land Art. INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO Pelo link: http://maps.google.com.br/maps?q=spiral+jet,&hl=pt- BR&ll=41.438399,-112.668164&spn=0.008172,0.013797&sll=41.439445,- 112.667799&sspn=0.008172,0.013797&num=10&filter=0&t=h&radius=0.43&z=16 você poderá observar a obra realizada, em 1970, pelo norte-americano Robert Smithson (1938 – 1973), no Grande Lago Salgado em Utah, Estados Unidos. Até hoje, dependendo das condições de nível da água e salinidade do lago, é possível visualizar a obra. Pensando nos projetos realizados pelos artistas para a realização de Land Art, como Christo e Smithson, proponha uma obra de arte para uma área da natureza próxima à sua cidade. Lembre-se que hoje, através de ferramentas como o Google Earth na internet, você tem imagens via-satélite de todo o planeta. Você poderá ser bem ouzado na sua ideia já que a proposta aqui é a realização de um projeto, e não a execução do trabalho. SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO - Para mais informações sobre a obra de Christo Javacheff visite o site do artista em conjunto com sua esposa e parceira em seus projetos Jeanne Claude Javacheff (1935 – 2009), em http://www.christojeanneclaude.net/ . - Para saber mais sobre a produção da artista contemporânea Regina Silveira, acesse o site da artista: http://reginasilveira.uol.com.br/ . Lá você conhece os trabalhos em instalação da artista plástica e os site specific art desenvolvidos por ela atualmente. No link: http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2844&id=001431&titulo=Regi na%20Silveira&auto=undefined você pode ver um vídeo na qual Regina Silveira fala de seu processo artístico. - O processo de trabalho do artista Artur Barrio pode ser acompanhado pelo seu blog: http://arturbarrio-trabalhos.blogspot.com/ . São vídeos e fotos de suas obras documentadas e seus cadernos de projetos. UNIDADE 5 - ANOS 80: A VOLTA À PINTURA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 80 no Brasil, com a volta da pintura e alguns dos artistas do período. A década de 80 foi um tempo de expansão, a Guerra Fria perdeu força com o fim de muitas ditaduras do Leste Europeu e da América Latina, a queda do muro de Berlim em 1989 e, consequentemente, dois anos depois, o desmanchar da União Soviética. No Brasil, celebramos a volta da democracia, as eleições diretas para governadores, prefeitos e presidente da república. O cinema, o teatro e a literatura comemoraram o fim da censura e uma nova geração de artistas devolveu à pinturaum lugar de honra na arte contemporânea brasileira. Desde o final dos anos 70, os meios de comunicação de massa, como a televisão, as revistas, os jornais e o cinema, divulgam uma profusão de imagens das mais diversas épocas. Esse fato fez com que os artistas ampliassem suas referências, que só aumentaram com o passar dos anos e o surgimento das novas mídias. A apropriação, que antes, nos anos 60 e 70, era feita com o próprio objeto, nos anos 80 é feita da imagem, a partir do repertório da história da arte e da indústria cultural. Com isso, nos anos 80, os artistas voltaram a produzir pintura, das mais diferentes maneiras, o que agitou o ambiente artístico internacional, fazendo a pintura se consolidar e atrair a atenção da crítica, das instituições e do mercardo de arte. ESTUDANDO E REFLETINDO É com a redemocratização e a volta da liberdade de expressão que os artistas nacionais não se sentem mais obrigados a realizar crítica social e política em seus trabalhos, como acontecia na arte mais cerebral dos artistas conceituais dos anos 60 e 70. Portanto, os artistas voltam a fazer experimentações, no plano pictórico, das mais diferentes maneiras, explorando essa linguagem artística, com diferentes temas e repertórios, com novas formas de subjetividade e comunicação, não como uma simples volta da tradição, mas como a construção de novos significados para a pintura. Em 1984, é realizada a exposição "Como vai você, Geração 80?", que aconteceu na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Lá foram reunidos mais de 120 artistas brasileiros, de formações distintas e de vários cantos do país, em sua maioria jovens, muitos expondo pela primeira vez. O revival da pintura naqueles anos foi, de imediato, interpretado como o retorno ao modo direto e sensual do brasileiro se relacionar com as linguagens plásticas, como uma reação ao cerebralismo e ao excesso de metáforas da arte produzida pelas gerações anteriores. (MESQUITA, 1998, p. 11) A Geração 80, enquanto grupo de artístas, não possuia um projeto, ou a vontade de determinar um modelo único, era a reunião de um conjunto de tendências que se manifestaram naquele determinado momento, e artistas que, de ponto comum, tinham a pintura. Dentre os artistas que participaram dessa mostra e que ainda hoje tem importância no meio artístico nacional, podemos destacar: Ana Maria Tavares, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Jorge Guinle, Leda Catunda, Leonilson, Mônica Nador, Sérgio Romagnolo e Nelson Felix são alguns dos participantes. Além da utilização da pintura, outras características estão presentes na produção desses artistas, como: as grandes dimensões dos trabalhos, muitas vezes livres dos chassis; objetos diferentes como suporte para a pintura; o destaque para o gesto pictórico; a pincelada grossa; a explosão de cores; a pesquisa de novos materiais; grandes quantidades de tinta sobre a tela; o empasto e o acabamento bruto. Alguns artistas exploram mais o abstrato e outros a figuração. Outras duas mostras ajudaram a firmar essa geração de jovens artístas, foram elas: “Pintura como meio”, que aconteceu no MAC – USP em 1983 e a XVIII Bienal de São Paulo em 1985. Outro aspecto importante que fez consolidar esse grupo de artistas foram as grandes transformações do cenário artístico brasileiro no que diz respeito a profissionalização do circuito de arte e a redemocratização do país. BUSCANDO O CONHECIMENTO A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre esses artístas que iniciaram sua produção nos anos 80 e que ainda hoje participam do cenário da arte contemporânea nacional e internacional. O trabalho de Daniel Senise (1955) está diretamente envolvido com o registro de lugares, paisagens, objetos e formas volumosas que ocupam todo a superfície pictórica de suas telas. Sua relação com a Geração 80 é bastante singular. O pensamento pictórico na obra de Senise é denso, trabalhando com fragmentos de imagens de corpos, paisagens, arquiteturas, suas pinturas possuem uma reflexão sobre o sentido da representação. Daniel Senise, Sem título, 1984. Acrílica sobre tela, 220 x 190 cm. Acervo MAC - USP, São Paulo. Anos depois, a apropriação da imagem, já existente na fase anterior, passa para uma elaboração mais cuidadosa da materialidade da superfície, com decalques de resíduos de materiais transferindo para a tela, dando uma autonomia referencial para a pintura, a imagem se mostra como impregnação de algo que não está mais presente, libertando-a apenas da função de comunicabilidade. As cores passam a ser mais variadas e intensas e as formas mais definidas e isoladas. Daniel Senise, Composição, 1987. Óleo sobre tela, 180 x 235 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. Na produção mais atual de Senise, podemos observar uma investigação da representação arquitetônica e da perspectiva, em uma poética do espaço desabitado e silencioso. As obras da carioca Beatriz Milhazes (1960) chamam atenção pelo apreço à ornamentação e elementos decorativos, que também podemos observar nas pinturas da paulista Mônica Nador (1955). Beatriz Milhazes, Te quiero, 1992. Acrílica sobre tela, 180 x 180 cm. Coleção particular. Mônica Nador, sem título, 1985. Acrílica sobre tela. 109 x 435 cm. MAC USP, São Paulo. José Leonilson (1957-1993) explorava a figuração, desde os desenhos de traço simples e pinturas da primeira fase de sua obra, uma combinação entre ingenuidade, ternura e humor, mas também a crítica social e o interesse pelo poder narrativo das imagens são marcas fortes de seu trabalho. A ideia de artesanato, por meio da costura e da tecelagem, dá aos fatos cotidianos uma visão, ao mesmo tempo poética e mordaz, como também biográfica e impessoal, fazendo da obra de Leonilson uma espécie de crônica visual do mundo contemporâneo, infelizmente interrompida pela morte do artista. Leonilson, São tantas as verdades, 1988. Acrílica, pedras semi preciosas bordadas e fio de cobre sobre lona, 213 x 106 cm. Coleção particular. Leonilson, Todos os rios, 1989. Acrílica sobre lona, 210 x 100 cm. Acervo MAM, São Paulo. A crônica visual também se faz presente, de outro modo, nas telas de Leda Catunda (1961). Chama atenção a multiplicidade de materiais empregados como suporte para as suas pinturas - toalhas, couros, plásticos, peças de vestuário, pelúcia etc. Sendo ... uma das artistas dessa geração que mais preserva o procedimento dos artistas conceituais, elabora sua produção a partir de uma visão crítica dos códigos tradicionais da visualidade. Privilegiando materiais e imagens tanto da cultura ”alta” quanto da “baixa”, Leda realiza uma das trajetórias mais criativas entre os artistas de sua época. CHIARELLI, 2002, p.109. Leda Catunda, Onça pintada número 1, 1984. Acrílica sobre cobertor, 192,5 x 157,5 cm. Coleção MAC - USP, São Paulo. Leda Catunda, Sozinha no quarto, 1986 Acrílica sobre tecido de guarda-chuva. Coleção particular. Sérgio Romagnolo (1957), primeiramente, transita entre a pintura e a escultura para depois se fixar nessa segunda. O artista dá preferência aos materiais industrializados para compor suas esculturas, principalmente, o plástico, que tem referência na história da arte, desde a tradição barroca e a arte pop. Sérgio Romagnolo, sem título, 1986. Plástico moldado e colorido. 60 x 60 cm. Coleção particular. Sérgio Romagnolo, sem título, 1986. Fibra de vidro, 180 cm. Galeria Luisa Strina, São Paulo. A mineira Ana Maria Tavares (1958), dentro dessa geração de artistas, está exclusivamente no campo tridimensional. Ela cria objetos e peças que são uma junção entre escultura e design, pois são, primeiramente, escultura no sentido tradicional, mas possuem a aparencia de um objeto utilitário. Ana Maria Tavares, sem título, 1988.Aço carbono e alumínio. 165 x 146 x 40 cm. Coleção particular. Nuno Ramos (1960) começa a trabalhar com tintas expessas, como o esmalte sintérico, em sua pintura, deixando à mostra um forte gestual, mesmo nas imagens figurativas. Com o tempo, foi explorando, cada vez mais, a superfície da pintura, criando volumes com materiais como parafina, madeira, tecido, metais, juntando esses objetos e formando uma massa grossa, colorida, criando relevos abstratos de grandes dimensões. A partir dos anos 90, Nuno Ramos passa a explorar também as instalações, sempre reunindo materiais de naturezas distintas. Nuno Ramos, sem título, 1988. Vaselina, parafina, tecidos e outros materiais sobre madeira, 250 x 220 cm. Acervo MAC - USP, São Paulo. Nuno Ramos, sem título, 1989. Materiais diversos em tela metalica sobre madeira, 260 x 402 x 40 cm. Acervo Pinacoteca, São Paulo. INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO A obra de Jorge Guinle (1947–1987) é ao mesmo tempo breve, concentrada e definitiva. O artista viveu o ofício de pintor. Sua produção é exclusivamente em pintura e na década de 80, foi importante incentivador da revalorização da pintura, participando da exposição “Como vai você, Geração 80?”. Sua pintura é forte, seu gesto violento que ataca a tela com cores pulsantes, construindo grandes pinturas com muita espontaneidade. Jorge Guinle, Dez anos de solidão, 1983. Óleo sobre tela, 160 x 180 cm. Coleção João Sattamini. Jorge Guinle, Il Grido Giallo, 1986 Acrilica e colagem sobre tela, 200, 9 x 300,5 cm. Centro cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro. Jorge Guinle, Subida ao céu, 1986. Óleo sobre tela, 190 x 190,5 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, Rio de Janeiro. A partir da apreciação dessa e outras obras de Guinle e de outros artistas desse período, responda às seguintes questões: Como você vê o que você vê? Beleza é fundamental? O artista pode nos ajudar a ver o mundo de outra forma? Uma obra de arte pode criar outras realidades? A arte pode nos ajudar a sobreviver neste mundo? Antigamente a arte era mais bonita? SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO - A produção cinematográfica dos anos 80 passa por uma grande transformação, no que diz respeito a indústria do cinema norte-americano, com a era dos chamados Blockbusters, termo usado para designar os filmes que se tornaram grandes sucessos no faturamento de bilheteria, com o público formando enormes filas para assiti-los. São desse período as trilogias dos filmes, “Guerra nas Estrelas”, “Indiana Jones” e “De Volta para o futuro”. No Brasil, o cineasta Arnaldo Jabor lança “Eu sei que vou te amar”, com Fernanda Torres, que foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes de 1986, por seu papel nesse filme. Mas nas bilheterias, entre os filmes nacionais, grande sucesso tinham apenas os filmes dos Trapalhões e da Xuxa. No fim da década, o cinema espanhol ganha um de seus mais geniais cineastas, Pedro Almodóvar, que estréia em 1988 seu sucesso “Mulheres à beira de um ataque de nervos”. Procure saber mais sobre os filmes desse diretor, que encanta sempre com diálogos inteligentes e temáticas pesadas, mas com um humor e visual únicos. - No site do artista carioca Daniel Senise, você pode acompanhar grande parte de sua produção, desde os anos 80 até os dias de hoje: http://www.danielsenise.com/daniel-senise/home/ - O artista alemão Anselm Kiefer (1945) é contemporâneo e grande influenciador dessa geração. Procure saber mais sobre esse artista. UNIDADE 6 - ANOS 90 E INÍCIO SÉCULO XXI: GLOBALIZAÇÃO E NOVOS MEIOS “A arte é feita cada vez menos de obras e cada vez mais de eventos.” Yves Michaud, filósofo francês CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar o período da década de 90 e da primeira década do século XXI. O estudo desse período permite-nos perceber que o artista contemporâneo busca um sentido, um significado, uma mensagem, que compreende desde as preocupações formais dos modernistas até a relação com a realidade da vida e suas questões cotidianas, como a política, a economia, a cultura, a educação, a ecologia etc. ESTUDANDO E REFLETINDO O período do final dos anos 80 e início dos anos 90 é de grandes transformações mundiais. Os sistemas de comunicações transformam o mundo em um lugar sem fronteiras, é desse período a expressão “aldeia global”. Em 1991 é criada a internet, que rapidamente se transformou na mais poderosa ferramenta de comunicação do planeta, promovendo uma experiência virtual de ser e estar. A Guerra Fria e a União Soviética chegaram ao fim, mas outras questões passaram a abalar o mundo, como as guerras ocasionadas pelo domínio da produção de petróleo mundial, as ameaças e os atentados terroristas, a poluição, o desmatamento e outros desastres ambientais, a pobreza, a violência, o narcotráfico, entre outros. Nas Artes Visuais, os artistas contemporâneos buscam um sentido nas diferentes áreas do conhecimento, buscam questões tiradas do cotidiano, muitas vezes, refletindo sobre atitudes diretamente relacionadas com a realidade. E para isso usam os mais diferentes meios, desde a pintura, a escultura e a fotografia, até instalações, objetos, textos, som, internet e muitos outros. A historiadora de arte norte americana, Rosalind Krauss, escreveu sobre como a escultura, a partir dos anos 60, teve sua definição ampliada, o que a historiadora chama de campo expandido da escultura. Tunga (1952) é um artista com um repertório singular na arte contemporânea brasileira. Através dos diversos tipos de materiais nos mais diferentes meios, mas, sobretudo, trabalhando com objetos e instalações, Tunga criou um universo com forte imaginário e mitologia particular. É muito comum em sua produção a utilização de diferentes tipos de metais, como ferro, cobre e ouro. Tunga, True Rouge, 1997 Instalação com redes, madeira, vidro soprado, pérolas de vidro, tinta vermelha, esponjas do mar, bolas de sinuca, escovas limpa-garrafa, feltro, bolas de cristal, 1315 x 750 x 450 cm. Inhotim, Brumadinho, MG. Tunga, Deleite, 1999. Ferro e Couro, 495 x 520 x 310 cm. Inhotim, Brumadinho, MG. BUSCANDO O CONHECIMENTO Aluno, apresento a você o conceito de Guerilla Art ou Arte de Guerrilha. Esse tipo de expressão artística, muito comum nos dias atuais, pode ser qualquer trabalho anônimo (incluindo, mas não limitado ao grafite, à performance e às intervenções) instalado, executado ou ligado a espaços públicos ou privados, com a finalidade distinta de que afetem o mundo de uma forma criativa ou instigante, provocativa. Por exemplo, uma ação que pode ser considerada arte de guerrilha, que ficou mundialmente conhecida é a Free Hugs Campaign criada por um australiano em 2004 conhecido por Juan Mann. O vídeo dele em ação, feito em 2006, já foi visto mais de 60 milhões de vezes no Youtube. Veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4 Outra ação recente que podemos considerar também dentro do conceito de Arte de Guerrilha é o chamado Flash Mob (também chamado de “Spontaneous gatherings”, algo como "encontros espontâneos") - um grupo organizado de pessoas que se reúnem em um local público com a finalidade de participar de uma atividade em grupo por um curto período de tempo e então dispersar. Estas reuniões são planejadas e organizadas usando a internet ou redes sociais de comunicação digital. Um exemplo de flash mob são as lutas de travesseiro em grande escala que aconteceram em San Francisco, Londres e Toronto, a partir de 2006. O projeto realizado na internet Learning To Love You More aconteceu de 2002 a 2009, pode ser considerado um trabalho artístico online. Ele contava com a participação de qualquer pessoa que estivesse online e realizasse uma ou várias das séries de propostas e atribuições do projeto.
Compartilhar