Prévia do material em texto
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Disciplina Vigilância em Saúde Tema Políticas Públicas de Saúde no Brasil Professora Joy Ganem Longhi Introdução Neste tema, vamos compreender o que são políticas públicas, qual a evoluções dessas ações voltadas para a saúde no Brasil e quais as expectativas e previsões de avanço para o atual sistema utilizado. Bons estudos! Antes de prosseguir, assista ao vídeo da professora Joy, ela vai falar sobre o que vamos estudar neste tema. Princípios Doutrinários e Organizativos do SUS As estratégias de saúde propostas pelo governo, tal qual mostra a história, nem sempre visavam o bem-estar da população. As políticas de saúde no Brasil refletiam o momento vivido, a economia vigente e as classes dominadoras (LUZ, 1982). As políticas públicas de proteção social surgem como forma de minimizar as distorções existentes na sociedade, assim como em decorrência das reivindicações por melhores condições de trabalho, feitas pelo movimento operário. Atualmente, além das demandas trabalhistas, as políticas públicas estão voltadas para educação, saúde, segurança, habitacional, transporte, transferência de renda, segurança alimentar, entre outros. Entende-se por política pública o conjunto de ações realizadas pelo Estado e seus agentes, com a participação ou não da sociedade, visando garantir os direitos sociais previstos em lei (SOUSA; BATISTA, 2012). Atualmente, o SUS é um dos maiores programas de saúde pública do mundo e possui um dos maiores sistemas de atenção primária à saúde que é o Programa Saúde da Família (PSF), o qual propõe reorganizar a prática assistencial a partir de ações preventivas e curativas. O Brasil, através do SUS, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 possui o maior número de conjunto de procedimentos executados em hospitais pagos por um único financiador (SOUSA; BATISTA, 2012). Além disso, o sistema público possui o maior número de estabelecimentos de saúde, é responsável pela maior parte dos procedimentos e pela cobertura de três quartos da população. É no SUS que a população encontra cobertura para procedimentos de saúde coletiva, além do fornecimento de medicamentos na atenção ambulatorial (MENICUCCI, 2009). A Construção do SUS como Política Pública – Histórico de Políticas Públicas no Brasil No início do século XX, a saúde foi marcada por campanhas sanitárias e reformação de órgãos federais. As campanhas contra a varíola, com a lei da vacinação obrigatória em 1904, contra a febre amarela e a peste bubônica, marcaram suas primeiras décadas. O Código Sanitário de 1918 inicia campanhas de educação em saúde, voltadas para a questão do saneamento e controle de endemias, no entanto, essas ações são pontuais e fragmentadas (SARRETA, 2009). Em 1921 houve um movimento pela mudança na organização sanitária que resultou na criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), o qual atuava nas áreas do saneamento urbano e rural da higiene industrial e dos serviços de higiene materno-infantil (SOUSA; BATISTA, 2012). Em 1923, a Lei Eloy Chaves instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP). A lei conferiu um estatuto legal às iniciativas já existentes de trabalhadores por fábricas, visando garantir a pensão em caso de algum acidente ou afastamento do trabalho por doença e também uma futura aposentadoria (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). Institui a obrigatoriedade do seguro social e do financiamento vinculado à contribuição do empregado e do empregador (SARRETA, 2009). A Lei Eloy Chaves, além da seguridade social, concedia serviços médicos-assistenciais e medicamentos aos “segurados”. Antes dessa lei, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 muitas fábricas forneciam serviços médicos aos seus trabalhadores, muito embora parte do custo fosse pago pelos próprios trabalhadores através de descontos em seus salários (SOUSA; BATISTA, 2012). O Estado não participava propriamente do custeio das Caixas que, de acordo com o determinado pelo artigo 3º da Lei Eloy Chaves, eram mantidas por: empregados das empresas (3% dos respectivos vencimentos), empresas (1% da renda bruta) e consumidores dos serviços das mesmas. Desse modo, as próprias empresas deveriam recolher mensalmente o conjunto da contribuição das três fontes de receita e depositar diretamente na conta bancária da sua CAP (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1985). Além da aposentadoria e pensões, os fundos proviam os serviços, funerários e médicos e obrigavam as CAPs a arcar com assistência os acidentados no trabalho (POLIGNANO, 2015). Saiba Mais: quer saber mais sobre as Políticas Públicas de Saúde e História do SUS? Então, clique no link a seguir e assista ao vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=wsT9xCNBeX8 Em 1932 houve a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) as quais cobrem categorias estratégicas de trabalhadores pela lógica contributiva do seguro, ou seja, dos trabalhadores, dos empresários e do Estado (SARRETA, 2009). Acentua-se o componente da assistência médica. Em parte, por meio de serviços próprios, mas principalmente por meio da compra de serviços do setor privado (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). Com sua criação, paulatinamente, as CAPS são extintas. A intervenção do Estado na saúde inicia em 1930, quando foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) e organizada uma política nacional de saúde a partir de dois eixos: da saúde pública e da medicina previdenciária ligada aos IAPS e suas categorias correspondentes. A saúde pública foi desenvolvida por meio de campanhas sanitárias, coordenadas pelo Departamento Nacional de Saúde, criado em 1937. Nesse período, a https://www.youtube.com/watch?v=wsT9xCNBeX8 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 assistência médica para a população empobrecida, que não dispunha de recursos como CAPs ou IAPs, era prestada pelo atendimento de caridade e filantrópico, mantido pela igreja (SARRETA, 2009). Nesses institutos, os trabalhadores eram organizados por categoria profissional (marítimos, comerciários, bancários) e não por empresa (POLIGNANO, 2015). Na década de 40, foram tomadas medidas de reestruturação e ampliação dos órgãos de saúde dos Estados. As ações passaram a ser coordenadas e centralizadas pelo Governo Federal. Durante esse período, houve a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), o qual, na década de 50, teria importante atuação no combate à malária, em pesquisas de doenças tropicais e na educação sanitária (SOUSA; BATISTA, 2012 e SARRETA, 2009). Em 1953, ocorreu a divisão da saúde e da educação através da criação do Ministério da Saúde. Em 1965 houve a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), resultante da unificação dos IAPs e consolida o componente assistencial (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO. 2010). Nessa época, o sistema de saúde brasileiro passava por uma crise, por ser insuficiente, mal distribuído, descoordenado, inadequado, ineficiente e ineficaz. Para mudar essa realidade, foi organizado um movimento formado pela sociedade, por pesquisadores, estudantes e profissionais da saúde que propôs a resolução desses problemas e a democratização da saúde no país. Esse movimento foi chamado de Reforma Sanitária Brasileira e é a base para a proposta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) (SOUSA; BATISTA, 2012). Durante os anos 70, foi construída uma sólida estrutura privada de atenção médica, privilegiando a medicina curativa. A rede privada chegou a ser financiada em mais de 80% pelo estado e os recursos para a saúde eram mínimos (LUZ, 1991). O sistema previdenciário sofreu mudanças institucionais, separando o componente benefício da assistência médica. Em 1977 houve a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Criação do Sistema Nacionalde Assistência e Previdência Social (SINPAS) e do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS): o INAMPS estava inserido no SINPAS e é o grande órgão governamental prestador de assistência médica (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). Para os usuários, as transformações da organização do sistema de saúde indicavam duas situações igualmente difíceis de serem enfrentadas: a ineficácia do sistema previdenciário e a baixa eficiência dos serviços públicos de saúde (CORDEIRO, 1991). No âmbito internacional, em setembro de 1978, aconteceu em Alma-Ata, a Conferência sobre Cuidados Primários de Saúde, com a proposta de atenção primária em saúde como estratégia para ampliar o acesso de forma a atender, com igualdade de condições, todos os membros ou segmentos da sociedade até o ano 2000 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O período de 1980 a 1983 é conhecido como o período da crise da previdência social. Na tentativa de elaborar um programa nacional de serviços básicos de saúde, criou-se o Prev-Saúde, inspirado na Conferência sobre Cuidados Primários à Saúde, o qual não chegou a ser colocado em prática. Nessa conferência, promovida pela Organização Mundial da Saúde/UNICEF, se declara que saúde não é apenas ausência de doença e sim um completo bem-estar físico, mental e social (ROSA; LABATE, 2005). A criação do Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), em 1981, propõe reorganizar a assistência médica, sugerir critérios para a alocação de recursos no sistema de saúde, estabelecer mecanismos de controle de custos e reavaliar o financiamento de assistência médico-hospitalar (CORDEIRO, 1991). Em 1982 ocorreu a implantação do Programa de Ações Integradas de Saúde (PAIS): programa que dava particular ênfase na atenção primária, sendo a rede ambulatorial a porta de entrada dos sistemas. Visava integração das instituições públicas da saúde mantidas pelas diferentes esferas de governo, em rede regionalizada e hierarquizada. Propunha a criação de sistemas de referência e contrarreferência e a atribuição de prioridade para a rede pública CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 de serviços de saúde, com complementação pela rede privada, após sua plena utilização; previa a descentralização da administração dos recursos; simplificação dos mecanismos de pagamento dos serviços prestados por terceiros e seu efetivo controle; racionalização do uso de procedimentos de custo elevado; e estabelecimento de critérios racionais para todos os procedimentos. Viabilizou a realização de convênios trilaterais entre o Ministério da Saúde, Ministério da Previdência e Assistência Social e Secretarias de Estado de Saúde, com o objetivo de racionalizar recursos utilizando capacidade pública ociosa (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). Em 1985, a PAIS passou a Ações Integradas de Saúde (AIS). Em 1984, a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) e o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES) promoveram uma reunião para a avaliação das AIS. O encontro reforçou a posição do movimento sanitário no sentido de se promover a unificação do sistema de saúde (CORDEIRO, 1991), mas foi em 1986 que aconteceu um marco histórico para a saúde, a VIII Conferência Nacional de Saúde, a qual consagrou uma concepção ampliada de saúde e o princípio da saúde como direito universal e como dever do Estado; princípios estes que seriam plenamente incorporados na Constituição de 1988 (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). A Criação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde (SUDS) em 1987 propunha como principais diretrizes: a universalização e equidade nos acessos aos serviços de saúde; integralidade nos cuidados assistenciais; descentralização das ações de saúde e implementação de distritos sanitários. Pela primeira vez, o Governo Federal começou a repassar recursos para os estados e municípios ampliarem suas redes de serviços (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2010). Em 1988, a Constituição Cidadã estabelece a saúde como “Direito de todos e dever do Estado”. Podemos, então, sintetizar essa última década do seguinte modo: em 1979, a primeira proposta do SUS foi apresentada pelo Centro Brasileiro de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Estudos em Saúde (CEBES) no I Simpósio Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados, no entanto, apenas nove anos depois foi promulgada a Constituição Federal, a qual contemplava os princípios e diretrizes elaboradas pelo CEBES. A partir da constituição de 1988, a saúde passa a ser direito de todos e dever do Estado (SOUSA; BATISTA, 2012). A criação do SUS se deu através da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 – Lei Orgânica da Saúde, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. A partir desse período, várias iniciativas institucionais legais e comunitárias foram criando condições de viabilização do direito à saúde. Segundo essa Lei, a saúde não é só ausência de doenças e é determinada por uma série de fatores presentes no dia a dia, tais como: alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, educação, lazer etc. (CORDEIRO, 1996). Outra Lei, a 8.142/90, regulamenta a participação da comunidade na gerência do SUS através de Conferências e dos Conselhos de Saúde. Foram criadas também as Normas Operacionais Básicas (NOB) que é um instrumento jurídico-institucional, editado periodicamente pelo Ministério da Saúde para aprofundar e reorientar a implementação do SUS; definir novos objetivos estratégicos, prioridades, diretrizes e movimento tático-operacional; regular as ações entre seus gestores e normatizar o SUS (CORDEIRO, 1996). Saiba Mais: vamos aprender mais sobre as políticas públicas de saúde no Brasil? Então, acesse o site a seguir e conheça. http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Uni dade_4.pdf O SUS e suas Atribuições O SUS transformou-se no maior projeto público de inclusão social em menos de duas décadas: 110 milhões de pessoas atendidas por agentes comunitários de saúde em 95% dos municípios e 87 milhões atendidos por 27 http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 mil equipes de saúde de família. Em 2007: 2,7 bilhões de procedimentos ambulatoriais, 610 milhões de consultas, 10,8 milhões de internações, 212 milhões de atendimentos odontológicos, 403 milhões de exames laboratoriais, 2,1 milhões de partos, 13,4 milhões de ultrassons, tomografias e ressonâncias, 55 milhões de seções de fisioterapia, 23 milhões de ações de vigilância sanitária, 150 milhões de vacinas, 12 mil transplantes, 3,1 milhões de cirurgias, 215 mil cirurgias cardíacas, 9 milhões de seções de radioquimioterapia, 9,7 milhões de seções de hemodiálise e o controle mais avançado da AIDS no terceiro mundo. São números impressionantes para a população atual, em marcante contraste com, aproximadamente, metade da população excluída antes dos anos oitenta, a não ser pequena fração atendida eventualmente pela caridade das Santas Casas (SANTOS, 2007). No tocante ao funcionamento, é importante ressaltar que o SUS não possui um caráter institucional, ele é um complexo sistema formado por centros de saúde, ambulatórios, laboratórios, hospitais de iniciativa privada e do poder público, bem como por outros órgãos da União, Estados e Municípios, tendo como gestor central o Ministério da Saúde. Desse modo, pode-se definir o SUS como um conjunto de ações e serviços públicos de saúde, compondo uma rede regionalizada e hierarquizada, organizada a partir das diretrizes da descentralização, integridade e participaçãoda comunidade (PAIM, 2009a). A implantação de programas de saúde que possuem uma hierarquização desde o nível federal ao municipal tem permitido tanto a elaboração de projetos que promovam o desenvolvimento local, quanto a utilização de conceitos e ferramentas inerentes à geografia no sentido de planejar a territorialidade de políticas públicas, de equipamentos e ações (PEREIRA; BARCELLOS, 2006). Segundo a Lei Orgânica da Saúde (lei 8.080/90), são objetivos e atribuições do SUS: a assistência às pessoas, a vigilância epidemiológica, a vigilância sanitária, a saúde do trabalhador e a assistência farmacêutica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Entende-se por assistência às pessoas a atenção à saúde em tudo que envolve o ser humano, como ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação (SOUSA; BATISTA, 2012). Assista agora ao vídeo da professora Joy em que ela explica melhor sobre os princípios doutrinários e organizativos do SUS. Resultados e Perspectivas da Saúde Pública no Brasil Desde seu surgimento, o SUS se tornou um dos sistemas de saúde públicos de maior cobertura do mundo. Sua efetivação implicou a organização de uma ampla rede de serviços e ações de saúde, abrangendo todos os níveis de complexidade (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). Antes do SUS, a saúde era uma mistura de inúmeros componentes: medicina liberal com médicos e dentistas em consultórios particulares; medicina previdenciária com hospitais públicos e postos de assistência médica do INPS e após 1977 do INAMPS, delegacias regionais do trabalho, delegacias federais de saúde, programas especiais do Ministério da Saúde, centros e postos de saúde estaduais e municipais, além das vigilâncias epidemiológica e sanitária, entre outros. Paralelamente, havia estruturas ligadas à medicina de grupo, cooperativas médicas, seguro-saúde, laboratórios clínicas e hospitais privados, universitários, beneficentes e filantrópicos. A produção de vacinas e medicamentos era bastante restrita, concentradas em poucas empresas estatais e com dependência externa das multinacionais (PAIM, 2009b). O SUS ampliou o acesso da população aos serviços de saúde, tanto na atenção básica quanto na de maior complexidade, entretanto, a implementação do SUS, como seria esperado em processos sociais complexos, desencadeou novos problemas financeiros, organizacionais e gerenciais que desafiam e retardam a concretização de algumas das premissas constitucionais do sistema e exigem reflexão e estratégias de enfrentamento por parte dos gestores e de todos que entendem a saúde como condição imprescindível da cidadania (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 A falta de identificação dos segmentos organizados da população com uma assistência pública e igualitária contribuiu para o enfraquecimento da proposta de caráter publicista e universalista e para o fortalecimento da segmentação, reforçando a perspectiva de que ao SUS cabe a cobertura da população mais pobre e em condições desfavoráveis de inserção no mercado de trabalho (MENICUCCI, 2009). Além da ampliação da cobertura, o aumento de gastos do SUS resulta do encarecimento progressivo da assistência à saúde, que está sendo observado nos sistemas de saúde de todo o mundo, relacionado não só à incorporação de novas tecnologias, mas também às mudanças do perfil epidemiológico da população, com seu envelhecimento relativo e consequente aumento proporcional de doenças e condições crônicas (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). Além disso, a atual crise econômica enfrentada no Brasil faz com que a população aumente a busca pelos serviços do SUS, dado o desemprego e a impossibilidade de manter os planos e seguros suplementares de atenção à saúde. Desse modo, é improvável imaginar que haverá diminuição de gastos no SUS como aumento de eficiência no sistema, redução de seus desperdícios ou mudança do modelo assistencial atual. Outro aspecto que compõe o cenário do SUS é o sucesso na implementação da descentralização e municipalização. Porém, a descentralização trouxe novos desafios que devem ser levados em conta, para que o desenvolvimento do sistema permita o acesso integral e equitativo à população, às ações e aos serviços de saúde (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). Além do processo de municipalização, em diversas regiões do Brasil, no qual os municípios expandem a atenção médica sem nenhuma articulação regional, com desperdício de recursos públicos, gerados pela ineficiência na prestação da assistência, com hospitais atendendo com baixa taxa de ocupação e aparelhos de apoio diagnóstico trabalhando com ociosidade, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 dentre outros problemas (MENDES, 2001). Outra dificuldade ainda encontrada pela população é a estruturação de serviços de média e alta complexidade que deem cobertura suficiente e adequada para todos. De modo geral, são comuns longas peregrinações, inclusive a outros estados em busca de tratamento, na maioria das vezes, enfrentando filas e exagerado tempo de espera para obtê-lo (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). O desequilíbrio financeiro de algumas entidades decorre dos valores dos procedimentos do SUS, fixados pelo Ministério da Saúde, os quais não cobrem todos os gastos realizados pelos hospitais com os atendimentos prestados. Mas além do aumento do aporte de recursos, são necessárias outras medidas relativas à modernização gerencial e administrativa desses serviços, como a adoção de contratos de gestão com metas prefixadas, na busca da qualidade e eficiência dos serviços prestados e negociação com os prestadores de serviço (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). Além da ampliação de cobertura do SUS e da garantia de integralidade, há a necessidade de aprimorar a humanização do atendimento no sistema. A humanização não é uma questão específica da saúde, mas um conceito e uma prática que deve se incorporar a atenção às pessoas em qualquer atividade que envolva usuários e profissionais da área social. A importância da humanização na saúde é ainda maior, tendo em vista a fragilidade da condição do ser humano doente, que o torna muito mais inseguro e angustiado, frente aos serviços médicos. A busca do atendimento de boa qualidade nas unidades de saúde, num ambiente humano, que procure entender e priorizar verdadeiramente a resolução dos problemas dos pacientes é fator imprescindível para que o SUS atinja seus verdadeiros objetivos na redução do sofrimento dos pacientes (BARATA; TANAKA e MENDES, 2003). De modo geral, pode-se afirmar que muito já se conseguiu após a criação do SUS, apesar das dificuldades e obstáculos encontrados na gestão do sistema. Nada se faz sem a vontade política e aperfeiçoamento gerencial, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 porém o avanço do SUS também depende de recursos financeiros regulares e crescentes. Programa Saúde da Família O Programa Saúde da Família (PFS) tem se configurado como um dos mais importantes referenciais da organização de Atenção Básica no Brasil. Foi proposto em 1994 como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, baseada no trabalho de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Essas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de uma população localizada em uma área delimitada, através de ações de promoção de saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes (PEREIRA; BARCELLOS, 2006). O PSF teve início quando o Ministério da Saúde formulou, em 1991, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) com a finalidade de contribuir para a redução das mortalidades infantil e materna, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, através da extensão de cobertura dos serviços de saúde para as áreas mais pobrese desvalidas. Desse modo, o Ministério da Saúde percebe a importância dos agentes nos serviços básicos de saúde no município e começa a enfocar a família como unidade de ação programática da saúde (VIANA; DAL POZ, 1998). O PSF apresenta uma nova maneira de trabalhar a saúde, tendo a família como o centro de atenção e não somente o indivíduo doente, introduzindo nova visão no processo de intervenção em saúde, uma vez que não espera a população chegar para ser atendida, pois age preventivamente sobre ela a partir de um novo modelo de atenção (ROSA; LABATE, 2005). Muda a antiga concepção de atuação dos profissionais da saúde, saindo da medicina curativa e passando a atuar na integralidade da assistência, tratando o indivíduo como sujeito dentro de sua comunidade socioeconômica e cultural (LEVCOVITZ; GARRIDO, 1996). Saiba Mais: Para você saber mais sobre as políticas de saúde do Brasil, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 acesse o site a seguir e leia as publicações sobre Políticas de Saúde Brasileiras produzidas pelo Ministério da Saúde do Brasil e instituições parceiras. http://brasil.bvs.br/vhl/diretorios-portais-e-servicos/politicas-de-saude-do- brasil-2/ Vamos assistir agora a mais um vídeo em que a professora Joy fala mais sobre os projetos e programas do SUS que merecem destaque. Para isso, acesse seu material on-line e confira! http://brasil.bvs.br/vhl/diretorios-portais-e-servicos/politicas-de-saude-do-brasil-2/ http://brasil.bvs.br/vhl/diretorios-portais-e-servicos/politicas-de-saude-do-brasil-2/ CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Síntese Neste tema, pudemos verificar a evolução dos Programas de Saúde Pública no Brasil, a importância da Constituição de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde, sancionada em 1990, a qual define a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Após esses 25 anos, pode-se perceber o avanço que o SUS representou na saúde da população brasileira e a evolução de seus programas e coberturas, mas ainda é possível verificar a possibilidade de desenvolvimento e crescimento das ações já implantadas, assim como a implantação de novas áreas, com o intuito de melhorar a saúde da população em seus diversos campos, como a prevenção, a epidemiologia, os tratamentos, a saúde do trabalhador e a vigilância ambiental. Assista ao vídeo da professora Joy em que ela faz uma síntese do que estudamos aqui. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Referências BARATA, L. R. B.; TANAKA, O. Y.; MENDES, J. D. V. 15 anos do SUS: desafios e perspectivas. Disponível em: <http://143.107.240.24/departamentos/social/saude_coletiva/O15anosdoSUS.p df>. Acesso em: 17 de jun. de 2015. CORDEIRO, H. Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: Ayuri/ABRASCO; 1991. CORDEIRO, H. O PSF como estratégia de mudança do modelo assistencial do SUS. Caderno Saúde Família. 1, 10-15; jan-jun, 1996. LEVCOVITZ, E; GARRIDO, N. G. Saúde da Família: A procura de um modelo anunciado. Caderno Saúde Família. 1, 3-8; jan-jun, 1996. LUZ, M. Medicina e ordem política brasileira. Rio de Janeiro: Graal, 1982. LUZ, M. Notas sobre as políticas de saúde no Brasil de “Transição Democrática”. Anos 80. Saúde em debate, 32 (3): 27-30; 1991. MENICUCCI, T. M. G. O Sistema Único de Saúde, 20 anos: balanços e perspectivas. Caderno de saúde pública, Rio de Janeiro, 25 (7): 1620-1625, jul, 2009. MENDES, E.V. Os grandes dilemas do SUS. ed.1. Casa da Qualidade, Bahia, 2001. MINISTÉRIO DA SAÚDE: Declaração de Alma-Ata – Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde; 6-12 setembro de 1978; Conferência de Alma Ata; URSS. In: Ministério da Saúde (BR). Secretarias de Política de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. Declaração de Alma Ata; Carta Ottawa; Declaração de Adelaide; Declaração de Sandsvall; Declaração de Santafé de Bogotá; Declaração de Jocarta; Rede de Megapaíses; Declaração do Mèxico. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2001, p. 15. OLIVEIRA, A. A; TEIXEIRA, S. M. F. (Im)previdência social: 60 anos de história da Previdência no Brasil. Petropólis: Vozes,1985, 360 p. PAIM, J. S. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009a. PAIM, J. S. Uma análise sobre o processo da Reforma Sanitária Brasileira. Saúde em Debate. 81 (33), p. 27-37, Rio de Janeiro, jan./abr., 2009b. PEREIRA, M. P. B; BARCELLOS, C. O território no Programa Saúde da http://143.107.240.24/departamentos/social/saude_coletiva/O15anosdoSUS.pdf http://143.107.240.24/departamentos/social/saude_coletiva/O15anosdoSUS.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Família. Hygeia- Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde. 2 (2): 47- 55, jun 2006. POLIGNANO, Vinícius Marcus. Histórias das Políticas de Saúde no Brasil: Uma pequena revisão. Disponível em: <www.saude.mt.gov.br/arquivo/2226>. Acesso em: em 16 de mar. de 2015. REIS, O. D; ARAÚJO, E. C; CECÍLIO, L. C. O. Políticas públicas de saúde no Brasil: SUS e pactos pela saúde. Disponível em: <http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/U nidade_4.pdf>. Acesso em: 20 de jan. de 2015. ROSA, W. A. G; LABATE, R. C. Programa Saúde da Família: A construção de um novo modelo de assistência. Revista Latino americana de enfermagem. 13(6): 1027-1034, nov./dez., 2005. SANTOS, N. Desenvolvimento do SUS, rumos estratégicos e estratégias para visualização dos rumos. Ciências saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 429-435, abr. 2007. SARRETA, F. O. Educação permanente em saúde para os trabalhadores do SUS [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 248 p. ISBN 978-85-7983-009-9. SOUZA, R. C; BATISA, F. E. B. Política Pública de saúde no Brasil: A História e perspectiva do Sistema Único de Saúde - SUS. VII Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. ISBN: 978-85-62830-10-5. Palmas, Tocantins; 2012. VIANA, A. L. A; DAL POZ, M. R. Estudo sobre o processo de reforma em saúde no Brasil. Rio de Janeiro, abril, 1998. http://www.saude.mt.gov.br/arquivo/2226 http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Atividades 1. Pode ser constatado que as Políticas Públicas de Saúde no Brasil foram realizadas ao longo dos anos, na sua maioria, de forma imediatista e não planejada. O que se pode notar na realidade é que as mesmas, até a Constituição Federal de 1988, nunca tiveram como objetivo proporcionar ao cidadão um bem-estar amplo e irrestrito. As políticas adotadas até então, sempre tiveram o intuito de dar uma resposta às reinvindicações populares, no sentido de cessar os protestos e greves. Diante dessa afirmação, podemos dizer que: a. A saúde pública no Brasil sofreu uma revolução significativa com a Constituição de 1988, em que a lei orgânica da saúde foi assinada. No entanto, desde então, não pôde-se observar significativo avanço nas políticas de saúde. b. Até 1988, nenhum cidadão tinha acesso à saúde, sendo o tratamento público bastante escasso e atendendo apenas a parcela da população que trabalhava em indústrias e portos. c. A Constituição de 1988 teve fundamental importância ao afirmar que “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. A partir de 1990, várias iniciativas institucionais legais e comunitárias foram criando condições de viabilização do direito à saúde pela Lei nº 8.080. d. Até 1988, a saúde pública se resumia a campanhas de vacinação. No entanto, desde então, a evolução foi notória, em especial no campo de saúde do trabalhador e assistência à saúde da mulher. 2. Quanto ao SUS, podemos afirmar que: a. É um dos maiores programas de saúde pública do mundo e realiza desde simplesatendimentos ambulatoriais até procedimentos de alta complexidade como transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. b. É o maior programa de saúde pública do mundo e, por isso, atende CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 populações de países vizinhos e que se encontram em estado de extrema pobreza, auxiliando os “países-irmãos” do Mercosul. c. Encontra-se em reavaliação pelo Ministério da Saúde, o qual tem a intenção de reformulá-lo para SABR (Saúde dos Brasileiros de Baixa Renda) até 2020, a fim de reduzir os gastos com a saúde pública e atendendo apenas pessoas cuja renda mensal não seja superior a 3 salários mínimos. d. É financiado pelo setor privado, em especial pelas grandes empresas, compostas por mais de 500 funcionários, uma vez que estas têm interesse no atendimento gratuito. 3. Em 1923, a Lei Eloy Chaves instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP). Esta lei previa: a. Vacinação aos recém-nascidos e as epidemias que na época eram recorrentes no Brasil. b. Estatuto legal às iniciativas já existentes de trabalhadores por fábricas, visando garantir a pensão em caso de algum acidente ou afastamento do trabalho por doença e também uma futura aposentadoria; institui a obrigatoriedade do seguro social e do financiamento vinculado à contribuição do empregado e do empregador e concedia serviços médico- assistenciais e medicamentos aos “segurados”. c. Aposentadoria por invalidez, Programa Saúde da Família e, em especial, Programa Saúde da Mulher, uma vez que nessa época, o êxodo rural, aumentou a incidência de doenças comunitárias, especialmente em cidades grandes, e o índice de natalidade triplicou. d. Atendimento de saúde integral ao produtor rural e sua família, uma vez que estes viviam isolados, em grande parte estavam na linha de extrema pobreza, contribuindo para o êxodo rural. Esta foi uma tentativa de manter o homem no campo, uma vez que as cidades se tornavam cada vez mais inchadas e os problemas de saúde cresciam em velocidade alarmante. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 4. Quanto ao Programa Saúde da Família, ele tem a família como o centro de atenção e não somente o indivíduo doente, introduzindo nova visão no processo de intervenção em saúde. Esse programa: a. Atende somente as famílias de baixa renda e ribeirinhas, presentes nos estados da região Norte e Nordeste. b. Atende somente famílias socialmente vulneráveis, em especial nas comunidades e favelas do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte. c. Foi criado para atender as famílias que viviam no campo, uma vez que, para estas pessoas, o acesso à saúde é muito difícil. d. Foi criado com foco na redução das mortalidades infantil e materna, em especial nas regiões Norte e Nordeste. 5. São princípios doutrinários do SUS, exceto: a. A universalidade, que garante a atenção à saúde por parte do sistema a qualquer cidadão. b. A equidade, que assegura as ações e serviços de acordo com a complexidade que cada caso requeira. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades, até o limite do que o Sistema pode oferecer. c. A integralidade busca compreender o conjunto de necessidades de ações e serviços de saúde que um paciente apresenta. d. A participação popular através da sociedade civil organizada. Para consultar o gabarito das questões, acesse o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Disciplina Vigilância em Saúde Tema Processo Saúde-Doença Professor Joy Ganem Longhi Introdução Neste tema, serão abordados diversos conceitos, entre eles, as definições para “doença”, “saúde” e “processo saúde-doença”, palavras essas bastante familiares, no entanto, com significados bastante amplos. Avaliaremos também o perfil da população brasileira em relação às doenças mais comuns e como elas vêm se apresentando ao longo dos últimos anos. Finalmente, poderemos analisar a perspectiva de saúde de nossa população. Bons estudos! Assista no seu material virtual ao vídeo de introdução que a professora Joy fez deste tema. Problematização Severino fugiu da seca no Nordeste junto com seus pais e foi para São Paulo em 1985. Como grande parte dos casos, sua família nunca conseguiu dinheiro suficiente para a manutenção de uma casa confortável, pagamento de suas contas e alimentação adequada. Severino cresceu morando em uma favela e a única casa que possui, composta por 2 cômodos (banheiro e sala/quarto/cozinha), acomoda atualmente sua mãe, com 70 anos, a qual sofre com diversas doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doença de Chagas; sua esposa, grávida do quinto filho; e os outros quatro filhos, e dois sofrem rotineiramente com problemas respiratórios devido à falta de estrutura de sua casa, umidade constante e poluição. Severino, atualmente, é servente de pedreiro e recebe R$ 1.200,00 para a manutenção da casa e de sustento de seus 7 habitantes. Sua esposa está CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 desempregada e não consegue emprego por estar grávida. É comum Severino passar noites em claro, preocupado com suas contas e com o dia de amanhã. Nesse caso, qual o melhor cenário se adequa à realidade dessa família? Não responda ainda, vamos estudar nosso material e a final você poderá escolher a opção que melhor se encaixa neste caso. Saúde, Doença e Processo Saúde-doença Uma concepção difundida de saúde é a de um estado de harmonia e equilíbrio funcional do corpo. Tudo o que faz o ser humano sofrer, que o limita e impede de exercer suas atividades normais, dá ao homem a consciência de um corpo que deixou de "funcionar em silêncio" e que, portanto, dá mostras de alterações que podem significar um estado de doença. No entanto, "não sentir nada", nem sempre significa ausência de doenças, pois vários processos e lesões podem permanecer "calados" por muito tempo sem serem percebidos por seus portadores. A relação existente entre saúde e doença não é apenas uma relação de bom ou mau funcionamento do corpo, mas uma interação muito mais ampla do homem com os ambientes (físicos e sociais) que o cercam, da sua maneira de relacionar-se com outros homens, da sua condição de trabalho (tipo e características, condições físicas para exercê-lo e a relação pessoal com o trabalho - gostar de realizá-lo); da forma como é organizada a produção de riquezas e de como essas riquezas são repartidas e compartilhadas por todos, das possibilidades que ele possui para se expressar, para desenvolver seu potencial criativo e desenvolver-se como pessoa. A busca de uma concepção de saúde é também a procura da compreensão do processo de vida dos homens ao longo da história (SILVA MARQUES, 2015). Segundo Brêtas e Gamba (2006), por mais que se pense a saúde na dimensão do coletivo, é o ser humano que adoece e como tal requer cuidados. A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, conhecidas de maneira intuitiva, dificilmente descritas ou quantificáveis. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 A preocupação com a conservação da saúde acompanha os homens desde os primórdios. A rejeição a substâncias amargas; a procura de abrigos para o frio, o calor e a chuva; a necessidade de repousar, de comer e beber são comportamentos que fazem parte do instinto humano de conservação (SCILAR, 2002). A estratégia da vigilância à saúde apoia-se na Teoria da Determinação Social do Processo Saúde-Doença, segundo a qual o processo saúde-doença manifesta-se em indicadores sociais e nos modos específicos de adoecer e morrer (perfis epidemiológicos) dos diferentes grupos sociais. O processo saúde-doença é socialmente determinado, ou seja, articula-se às condiçõesmateriais de existência, de tal modo que os eventos biológicos por si só não são capazes de explicá-lo. A história social condiciona os modos de adoecer e morrer dos grupos sociais, pois o biológico e o social são momentos de um mesmo processo (LAURELL, 1983). O processo saúde-doença deve ser, portanto, categorizado e analisado em seus determinantes e condicionantes históricos, genéticos e estruturais (bio-psíquicos, sociais e ecológicos/ambientais). A interação desses elementos é que determina sua particularização, isto é, a ocorrência do dano ou da doença no indivíduo ou na coletividade (LIEBER, 1998). Saúde Criado em 7 de Abril de 1948, desde o Dia Mundial da Saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu o conceito de saúde, que diz: Saúde: estado completo de bem-estar físico, mental e social e não simplesmente ausência de doença ou enfermidade. É um direito fundamental e a consecução do mais alto nível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor de saúde. No Brasil, em 1986, foi desenvolvida a VII Conferência Nacional de Saúde, na qual foi adotado o seguinte conceito sobre saúde: [...] em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio- ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, os resultados das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (BRASIL, 1986). O considerado normal em um indivíduo pode não ser em outro; não há rigidez no processo. Dessa maneira, pode-se concluir que o ser humano precisa se conhecer e saber avaliar as transformações sofridas pelo seu corpo (VIANNA, 2015). Doença A doença sempre esteve presente no desenvolvimento da humanidade. Estudos de paleoepidemiologia relatam a ocorrência há mais de três mil anos, de diversas doenças que até hoje afligem a humanidade. No entanto, os problemas de saúde se acentuaram significativamente com o desenvolvimento da vida comunitária. O homem passou de nômade a agricultor e pastor a domesticação de animais para auxílio no plantio ou como fonte de proteína, foi elemento crucial no aparecimento de novas doenças (FIOCRUZ, 2008). Originalmente, presente em animais, diversos microrganismos são pouco a pouco, adaptados e disseminados entre as populações humanas. Doenças como a varíola e a tuberculose migram do gado para os seres humanos (FIOCRUZ, 2008); porcos e aves transmitem a gripe e o cavalo, o resfriado comum (PALMEIRA et al., 2004). A armazenagem de alimentos e a concentração dos dejetos nas aldeias aproximam os vetores do convívio humano (FIOCRUZ, 2008). A doença não pode ser compreendida apenas por medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado de doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece (BRETAS; GAMBA, 2006). Quadros clínicos semelhantes, ou seja, com os mesmos padrões biológicos, prognósticos e implicações para o tratamento, podem afetar pessoas diferentes de forma distinta, resultando em diferentes manifestações CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 de sintoma de desconforto, com comprometimento diferenciado de suas habilidades de atuar em sociedade (OLIVEIRA; EGRY, 2000). Processo Saúde-Doença Histórico Na antiguidade, as religiões politeístas acreditavam que a saúde era dádiva e a doença castigo dos deuses, com o decorrer dos séculos e o advento das religiões monoteístas, a dádiva e o castigo passaram a pertencer a um único Deus. No entanto, 400 anos a.C., Hipócrates desenvolve o tratado “Os Ares e Lugares”, onde relaciona os lugares de moradia, a água para beber, os ventos com a saúde e a doença (BUCK et al., 1988), a relação com o ambiente é um traço característico da compreensão hipocrático do fenômeno saúde- doença. Partindo da observação das funções do organismo e suas relações com o meio natural e social, Hipócrates desenvolveu uma teoria que entende a saúde como homeostase, isto é, o resultado do equilíbrio entre o homem e seu meio (FIOCRUZ, 2008). Séculos mais tarde, as populações passam a viver em comunidades e a teoria miasmática, a qual consiste na crença de que a doença é transmitida pela inspiração de “gases” de animais e dejetos em decomposição, toma lugar (BUCK et al., 1988). O avanço significativo no pensamento médico ocorre quando se dá um desvio do foco de interesse das forças sobrenaturais para o portador da doença, passando a mesma, gradativamente, ser vista como um fenômeno natural, passível de ser compreendido e liberado da intromissão de forças divinas ou malévolas (BARROS, 2002). Para Galeno (122-199 d.C.), um dos médicos que exerceram maior influência na história da medicina ocidental, a ideia central da fisiologia repousa no fluxo permanente dos humores, o que estaria na dependência das influências ambientais, do calor inato e na ingestão alimentar e sua justa proporção. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 As causas mórbidas podiam ser internas (ligadas à constituição ou predisposição individual), externas (excessos alimentares, sexuais ou de exercícios físicos) ou conjuntas. O diagnóstico deve ter por fundamentos o cuidadoso exame do doente, o conhecimento de seu estado enquanto sadio, seu temperamento, regime de vida, alimentação, além das condições ambientais e a época do ano (BARROS, 2002). Para Celso (1493-1541), representa um modelo de transição entre a escola galênica e o modelo biomédico. Na determinação da doença, identificava influências cósmicas e telúricas, além de substâncias tóxicas e venenosas, bem como a predisposição do próprio organismo e das motivações psíquicas (BARROS, 2002). A Era Bacteriológica iniciou-se no século XIX, quando foi aceita a teoria de que um microrganismo específico, no caso um bacilo, seria responsável por determinada doença. Robert Koch, em 1876, demonstrou durante três dias, na presença de outros cientistas, a transmissão do antraz, usando camundongos como modelos experimentais. Anteriormente, diversos outros já haviam observado e apresentado suas teorias como, por exemplo, Bonomo, em 1687 apresentou a escabiose devida ao ácaro da sarna, mas não causou impacto, sendo insuficiente como contraposição à teoria miasmática. Em 1841, Jacob Henle, formulou uma teoria em que comprovava seres organismos vivos, causadores das doenças infecciosas (FIOCRUZ, 2008). Ao final do século XIX, boa parte das questões relativas às doenças infecciosas havia sido respondida, especialmente em relação às doenças contagiosas. Porém, persistiam algumas interrogações sobre a origem de doenças em que novos casos surgiam sem qualquer contato direto com os indivíduos enfermos. Do mesmo modo, intrigava o não adoecimento de pessoas expostas aos doentes. Nos primeiros anos do século XX, foram desvendadas a participação de vetores ou hospedeiros intermediários na transmissão de doenças e o papel dos portadores sadios na manutenção da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 cadeia epidemiológica (FIOCRUZ, 2008). A era bacteriológica resultou em um modelo unicausal de compreensão da doença, no qual se baseava na existência de apenas uma causa, o agente. Para um agravo ou doença, no entanto, o vigor para as explicações unicausais começa a enfraquecer após a Segunda Guerra quando os países industrializados começam a vivenciar uma “transição epidemiológica”, caracterizada pela diminuição da importância das doenças infecto-parasitárias como causa de adoecimento e morte em detrimento do incremento das doenças crônico-degenerativas(FIOCRUZ, 2008). O modelo multicausal avançou no conhecimento dos fatores condicionantes da saúde e da doença. A crítica que se faz a ele reside no fato de tratar todos os elementos da mesma forma, ou seja, naturalizar as relações entre o ambiente, o hospedeiro e o agente, esquecendo que o ser humano produz socialmente sua vida em um tempo histórico e que, por isso, em certos períodos, podem ocorrer doenças diferentes com intensidades e manifestações também diferentes (PALMEIRA et al., 2004). O modelo biomédico ou mecanicista teve início no século XVI e baseia o papel do médico exclusivamente na eliminação de doenças e lhe confere grande autoridade e poder, que se manifestam na relação estabelecida entre ele e o paciente. O encontro que ocorre durante a consulta médica é centrado no médico ou na doença, e a perspectiva do paciente é considerada pouco relevante (SANDMAN; MUNTHE, 2010). Em 1978, a Declaração de Alma-Ata para os Cuidados Primários em Saúde, produto da I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários à Saúde, realizada em Alma-Ata, na Rússia, realçou o novo pensamento de caracterização do processo saúde-doença, incorporando as dimensões sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas como indispensáveis às ações e aos serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Nas últimas décadas, observa-se a necessidade de mudança na forma de atendimento à população nos serviços de saúde. Isso se deve a um http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/index.php?s_livro_id=6&area_id=2&autor_id=&capitulo_id=24&sub_capitulo_id=80&arquivo=ver_conteudo_2 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 conjunto de fatores, tais como insatisfação dos clientes, modificação no perfil epidemiológico, reconhecimento de fatores de risco, surgimento de novas doenças e crescente desenvolvimento de tecnologias sofisticadas e de alto custo (STEWART et al., 1995). Não existe um limite preciso entre saúde e doença, mas uma relação de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os mesmos fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e sociais) podem causar doenças. Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Tal constatação nos remete à reflexão de que o processo saúde-doença-adoecimento ocorre de maneira desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam na sociedade (BRÊTAS; GAMBA, 2006). Em síntese, pode-se dizer, em termos de sua determinação causal, que o processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde e doença de uma população, que variam em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade (VIANNA, 2015). O processo saúde-doença é um dos pontos centrais para profissionais da saúde que buscam promovê-la, cuidando para que as pessoas possam ter, tanto quanto possível, uma boa qualidade de vida, mesmo quando as limitações se estabelecem (VIANNA, 2015). Prevenção Diariamente, levamos em conta nossos riscos. Proteger-se da morte, da doença, da tempestade, dos maus êxitos nos negócios, não é uma criação recente. A base do conceito de medicina preventiva foi sistematizada no livro “Medicina Preventiva” de Leavell e Clark, cuja primeira edição foi publicada em CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 1958. A prevenção apresenta-se em três fases: Prevenção Primária: Realizada no período pré-patogênese. O conceito de promoção à saúde aparece como um dos níveis de promoção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima”. E um segundo nível de prevenção primária seria a prevenção específica: contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”. Prevenção Secundária: Também apresenta dois níveis: o primeiro, o diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, a limitação por invalidez. Prevenção Terciária: São as ações de reabilitação. Os Principais Problemas de Saúde da População Brasileira Características da População Brasileira Até os anos 60, a população brasileira era extremamente jovem, com cerca de 52% de indivíduos abaixo dos 20 anos e menos de 3% acima dos 65 anos. Nesse período, houve significativo declínio da mortalidade e uma discreta redução da fecundidade. A partir dos anos 70, começa a se observar um estreitamento continuado na base da pirâmide etária e, consequentemente, o envelhecimento da população (FIOCRUZ, 2008). Essa tendência vem se firmando, conforme demonstrado no gráfico a seguir, com os dados etários da população brasileira, de acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE) em 2010. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Fonte: IBGE, 2010. Com essa mudança de perfil da população, o impacto na organização do Sistema Único de Saúde incidirá na necessária reconfiguração da oferta de serviços, procurando qualificar o atendimento das necessidades de saúde, das faixas mais avançadas. A atenção à saúde do idoso passa a demandar não só o direcionamento na contratação de especialistas (geriatras, ortopedistas, cardiologistas, angiologistas etc.), a inclusão de um calendário específico de imunizações, a implantação e ampliação do atendimento domiciliar, a expansão do acesso e adequação da oferta de medicamentos na farmácia básica, como também, o desenvolvimento de ações de promoção à saúde, com orientações nutricionais, educação física, lazer e cultura (FIOCRUZ, 2008). Saiba Mais: clique no link a seguir e leia um artigo sobre a morbidade hospitalar em idosos nas internações do Sistema Único de Saúde do Brasil. http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n6/a23v15n6.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n6/a23v15n6.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 O Quadro de Morbimortalidade Brasileiro As transformações históricas e sociais que a sociedade brasileira vem atravessando têm repercutido na produção e distribuição dos problemas de saúde. Nas últimas décadas, o Brasil vem apresentando um novo perfil epidemiológico. Ainda que tenha sido observada queda na mortalidade por doenças infecciosas, para muitas destas, o quadro de morbidade manteve-se estável ou se acentuou. As doenças cardíacas, as neoplasias e as mortes violentas passaram a ser responsáveis por cerca de 60% dos óbitos (FIOCRUZ, 2008). Veja no gráfico a seguir a mortalidade proporcional por grupos de causas definidas entre 1930 e 2004 no Brasil. Fonte: FIOCRUZ, 2008. De acordo com o Ministério da Saúde (2004), a mudança do perfil epidemiológico do Brasil, nos últimos vinte anos, pode ser expressa pela permanência das doenças do aparelho circulatório como principal causa de morte, pela diminuição da importância das doenças infecciosas e parasitárias e, principalmente, pelo crescimento das neoplasias e das causas externas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Foram observadas melhoras marcantes em alguns indicadores da saúde, como a redução da mortalidade infantil e de doenças infecciosas e parasitárias, a tendência de redução do risco de morte pela doença isquêmica do coração e cerebrovascular, a tendência de redução de mortalidade por câncer do pulmão em homens com até 64 anos, além de, em algumas regiões, ter ocorrido a estabilização do risco de mortalidade por câncer do colo de útero e redução do risco de mortalidade por acidentes de transporte terrestre. Por outro lado, o risco de morte por câncer de mama apresentou tendência crescente. A mortalidade materna, apesar da redução aparente, continua alta e subnotificada. A gravidez na adolescênciavem crescendo, especialmente em regiões menos desenvolvidas; as consultas de pré-natal aumentaram e o número de partos por cesarianas é alto. As taxas de mortalidade infantil vêm diminuindo no Brasil desde o início do século XX. Esse indicador reflete as condições de vida de uma população, dado que uma criança com menos de um ano é extremamente sensível às condições socioeconômicas e ambientais. Um dos motivos que contribui para esse declínio é a expansão do Programa Saúde da Família (PSF), que vem acumulando resultados positivos na prevalência do aleitamento materno e na redução da desnutrição infantil (FIOCRUZ, 2008). Saiba Mais: neste outro artigo você pode ler mais sobre as causas de hospitalização no SUS de crianças de zero a quatro anos no Brasil. Clique no link e aproveite. http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v13n2/09.pdf Quando analisado os principais motivos de mortalidade infantil, as afecções originárias do período perinatal representam o principal contingente das mortes no primeiro ano de vida. Seus fatores causais estão intimamente ligados às condições de saúde e nutrição, nível de escolaridade e de vida das mulheres, assim como à qualidade da atenção prestada durante o pré-natal, parto e assistência ao nascimento (BRASIL, 2005). http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v13n2/09.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Vamos assistir agora ao vídeo da professora Joy em que ela explica detalhadamente sobre a mortalidade infantil. Acesse-o no seu material on-line e acompanhe! Doenças Prevalentes Doenças não infecciosas Sabe-se que a hipertensão, o colesterol alto, o excesso de peso, a inatividade física, o tabagismo e o alcoolismo estão entre os fatores de risco para a maior parte dessas doenças. O principal grupo de causas de morte no Brasil em todas as regiões e para ambos sexos, são as doenças do aparelho circulatório, representadas por: doenças hipertensivas, doenças cerebrovasculares, doenças isquêmicas do coração, infarto agudo do miocárdio, doenças reumáticas e demais doenças circulatórias (FIOCRUZ, 2008). Saiba Mais: no link a seguir, você poderá encontrar um artigo sobre o controle da hipertensão arterial em publicações brasileiras. Boa leitura! http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066- 782X2013002900020&script=sci_arttext Sobre esse assunto, acesse seu material virtual e assista ao vídeo da professora Joy em que ela fala sobre hipertensão e suas complicações na população brasileira. Neoplasias O impacto da globalização econômica sobre as sociedades contemporâneas, redefinindo padrões de trabalho, nutrição e consumo, assim como o envelhecimento populacional, tem sido indicado como responsável pelo aumento da incidência das doenças crônico-degenerativas, como as cardiovasculares e o câncer, no entanto, no Brasil, o aumento da prevalência de cânceres associados ao melhor nível econômico – mama, próstata e http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2013002900020&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2013002900020&script=sci_arttext CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 cólon/reto – é observado simultaneamente à elevação das taxas de incidência de tumores geralmente associados à pobreza – colo do útero, pênis, estômago e cavidade oral. Segundo o estudo, ainda não existem dados que permitam compreender a vulnerabilidade de determinados grupos à doença, sendo que seu aparecimento está vinculado tanto a condições genéticas quanto a condições determinadas pelo modo de vida e o ambiente. Dentre os principais fatores de risco reconhecidos pelos pesquisadores, figuram o tabagismo e o álcool, a obesidade e o sedentarismo, infecções sexualmente transmissíveis, riscos ambientais (poluição do ar, exposição profissional a agentes cancerígenos, radiação solar) e contaminação venosa pelo vírus de hepatite B e C (RADIS, 2006). Ainda que se tenha obtido grandes êxitos na prevenção (combate ao tabagismo, programas de saúde da mulher) e na assistência (diagnóstico precoce, avanços terapêuticos), o grande desafio para o SUS, diante de um cenário de crescimento dos casos, consiste na constituição de uma rede capaz de prover o acesso universal ao cuidado em todos os níveis, bem como de serviços adequados para o tratamento dos pacientes com câncer em todas as regiões, ou seja, a efetiva implantação da Política Nacional de Atenção Oncológica, criada pela Portaria 2.349, de dezembro de 2005. Agora, a professora Joy vai falar sobre o câncer no Brasil, assista ao vídeo no seu material on-line. Causas Externas Violência e Acidentes de Trânsito, de modo geral, o sexo masculino é mais afetado por essas causas, sendo em média, maior que 80% do número de vítimas. Na faixa etária de 10 a 29 anos, as causas externas representam a segunda maior causa de morbidade hospitalar. São principalmente os homicídios e os acidentes terrestres os responsáveis pelas altas taxas de morbimortalidade. Quanto às principais causas para esse tipo de óbito, pode-se http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/nav.php?s_livro_id=6&capitulo_id=22&autor_id=&sub_capitulo_id=695&arquivo=ver_pop_up CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 citar: homicídios, acidentes de transporte terrestre e suicídios (FIOCRUZ, 2008). Saiba Mais: para você conhecer mais sobre isso, leia o artigo “Determinação sociocultural dos Acidentes de Transporte Terrestre (ATT)” disponível no site a seguir. http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n9/a05v17n9.pdf Doenças Infecciosas Em 1930, estas eram as principais causas de morte no país. Esse quadro se alterou significativamente mediante as melhorias sanitárias, o desenvolvimento de novas tecnologias – vacinas, antibióticos, recursos diagnósticos –, a ampliação do acesso aos serviços de saúde e a adoção de medidas de controle específicas (BRASIL, 2004) que se observa uma expressiva redução na mortalidade (46% no período de 1980-2001). As doenças infecciosas e parasitárias continuam a produzir um impacto importante no quadro de adoecimento no país, constituindo-se na terceira maior causa de morte em crianças de 0 a 4 anos de idade (FIOCRUZ, 2008). Saiba Mais: neste artigo, você poderá saber mais sobre a política de saúde do homem, clique no link a seguir e leia. http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v46s1/co4221.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n9/a05v17n9.pdf http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v46s1/co4221.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Revendo a problematização E aí, já pensou no caso de Severino apresentado no início deste tema? Qual seria o cenário que se adequa à realidade da família? Escolha uma das opções a seguir que melhor se adeque ao que foi descrito. a. Todos os membros da família poderiam estar saudáveis caso, no passado, a família de Severino não tivesse se mudado para São Paulo. b. Atualmente, na casa de Severino existem 3 membros doentes: sua mãe e os dois filhos. c. Pode-se considerar que todos os membros da família estão com sua saúde comprometida. Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Síntese Neste tema, pudemos compreender a complexidade da definição de saúde, verificamos a evolução da compreensão do processo saúde-doença e conhecemos o perfil da população brasileira em relação às doenças prevalentes e aos índices e motivos de morbimortalidade. Verificamos que a população vem envelhecendo e que, por esse motivo, o atendimento à saúde deverá se preparar para as mudanças nos cenários da faixa-etária atendida, aumento dos índices de doenças crônicas e degenerativas e, felizmente, a redução da mortalidade infantil. Assista ao vídeo de síntese que a professora Joy fez deste tema. CCDD – Centro deCriação e Desenvolvimento Dialógico 18 Referências BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto de Promoção da Saúde. Distritos sanitários: concepção e organização do conceito de saúde e do processo saúde-doença. Brasília, Ministério da Saúde, 1986. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Saúde Brasil 2004 – uma análise da situação de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação em Saúde. Saúde Brasil 2005: uma análise da situação de saúde no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2005 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Subsídios para a construção da Política nacional de Saúde Ambiental; Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BRÊTAS, A.C.P; GAMBA, M.A. Enfermagem e saúde do adulto. Barueri: Manole, 2006. BUCK, C.; LLOPIS, A.; NAJERA, E.; TERRIS, M., eds. El desafío de la epidemiología. Washington DC: Organización Panamericana de la Salud, 1988. FIOCRUZ. O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro, 2008. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Distribuição da população por sexo segundo os grupos de idade. Disponível em: <http://vamoscontar.ibge.gov.br/atividades/ensino-fundamental-6-ao-9/49- piramide-etaria>. Acesso em: 28 de mar. de 2015. LAURELL, A.C. A saúde-doença como processo social. In: NUNES, E.D, organizador. Medicina social: aspectos históricos e teóricos, p. 133-158. São Paulo: Global, 1983. LIEBER, R. R. Teoria e metateoria na investigação da causalidade – Tese de doutorado. São Paulo: USP, 1998. OLIVEIRA, M. A. C; EGRY, E. Y. A historicidade das teorias interpretativas do processo saúde-doença, Revista da Escola de Enfermagem da USP, 34(1), São Paulo,2001. PALMEIRA, G. et al. Processo saúde doença e a produção social da saúde. In: EPSJV. (Org.) Informação e Diagnóstico de Situação. Rio de Janeiro: http://vamoscontar.ibge.gov.br/atividades/ensino-fundamental-6-ao-9/49-piramide-etaria http://vamoscontar.ibge.gov.br/atividades/ensino-fundamental-6-ao-9/49-piramide-etaria CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Fiocruz, EPSJV, 2004. RADIS. Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde. Situação do câncer no Brasil. Radis, 52. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006 SANDMAN, L; MUNTHE, C. Sharing decision making, paternalism and patient choice, Health Care Anal., 18. p. 60-84; 2010. SCILAR, M. Do mágico ao social: trajetória de saúde pública. São Paulo: Senac, 2002. SILVA MARQUES, C. M. Processo saúde-doença. Disponível em: <http://www.escolaseac.com/s- educ/arquivos/download/pbnprocesso_saude_doenca_- _claudia_marques.pdf>. Acesso em: 23 de mar. de 2015. STEWART, M; BROWN, J. B; WETSON, W. W; Mc WHINNEY, C. L; FREEMAN, T.R. Patient-centered medicine: transforming de clinical methods. Sage publications, 1995. VIANNA, L. A. C. Processo Saúde-Doença. Módulo Político Gestor. Disponível em: http://www.escolaseac.com/s- educ/arquivos/download/wvpreferencia_1.pdf. Consultado em: 22 de mar. de 2015. http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/ http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/ http://www.escolaseac.com/s-educ/arquivos/download/pbnprocesso_saude_doenca_-_claudia_marques.pdf http://www.escolaseac.com/s-educ/arquivos/download/pbnprocesso_saude_doenca_-_claudia_marques.pdf http://www.escolaseac.com/s-educ/arquivos/download/pbnprocesso_saude_doenca_-_claudia_marques.pdf http://www.escolaseac.com/s-educ/arquivos/download/wvpreferencia_1.pdf http://www.escolaseac.com/s-educ/arquivos/download/wvpreferencia_1.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Atividades Em relação às definições dos termos saúde e doença, podemos afirmar: a. Ao contrário da saúde, a doença pode ser avaliada unicamente pelos processos fisiopatológicos. b. A saúde pode ser definida como ausência de qualquer doença de manifestação fisiopatológica. c. Uma mesma doença, por causar mesmos sintomas e resultados em diferentes pessoas, pode ser avaliada e tratada de modo igual. d. Uma mesma doença pode atingir pessoas que apresentem desfechos totalmente diferentes e por isso, esses indivíduos devem ser avaliados e tratados de acordo com sua necessidade específica. No último século, o Brasil vem apresentando significante mudança no perfil de morbimortalidade. Isso se deve: a. Ao crescente aumento da natalidade, havendo atualmente a prevalência de doenças como: hiperatividade, sarampo e meningite. b. À utilização indiscriminada de antibióticos, propiciando a dizimação das bactérias e consequentemente redução das doenças infectocontagiosas. c. Ao envelhecimento da população, fazendo com que doenças degenerativas e crônicas fiquem cada vez mais em evidência. d. Ao saneamento básico atualmente disponível para 70% da população, reduzindo assim o número de parasitoses e doenças: Malária, Esquistossomose e Doença de Chagas. Em relação à hipertensão, pode-se afirmar: a. Por ser uma doença silenciosa, não há maiores preocupações, a não ser que o paciente tenha mais do que 60 anos de idade. b. Resulta em doenças e quadros mais graves como: insuficiência renal, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, o que pode deixar o indivíduo potencialmente ativo, com graves sequelas e improdutivo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 c. Resulta em doenças graves como insuficiência renal, no entanto, essa condição atinge em especial idosos, não impactando na produtividade do indivíduo, no entanto, aumentando os custos do governo com medicamentos e exames de acompanhamento. d. Foi uma doença de grande importância para a população Brasileira, no entanto, os atuais surtos de dengue, malária e gripe A no Brasil, fazem com que a importância das doenças cardiovasculares seja reduzida. O conceito de Prevenção de Doenças refere-se à tentativa de evitar o mal, agindo sobre as causas das doenças, com o uso de medidas específicas contra a doença que se quer evitar. Sobre esse assunto, podemos dizer que: a. A vacinação é uma prevenção terciária. b. Alimentação adequada, exercícios físicos regulares e não fumar, podem ser considerados como prevenção primária para diversas doenças. c. O afastamento do serviço devido a lesões de esforço repetitivo, pode ser considerada uma prevenção terciária d. A fisioterapia e hidroterapia na reabilitação de um acidente de trabalho podem ser consideradas prevenção secundária. Quanto à mortalidade infantil, é incorreto afirmar: a. Trata-se de uma preocupação mundial, que atinge especialmente países pobres e sem saneamento básico adequado. Podemos citar o Afeganistão e os países africanos como os mais críticos nessa questão. b. O Brasil é referência mundial quando se aborda o tema “redução da mortalidade infantil”. c. O Nordeste brasileiro possui altíssimos índices de mortalidade infantil, sendo esses equiparáveis aos países africanos. d. Os índices atuais dos países asiáticos e africanos são comparáveis ao do Brasil no início do século passado. Para consultar o gabarito das questões, acesse o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Disciplina Vigilância em Saúde Tema Vigilância Epidemiológica Professor Joy Ganem Longhi Introdução Neste tema, vamos compreender o papel e a importância da vigilância epidemiológica e como estamos nela inseridos; aprenderemos diversos conceitos relacionados à área e que comumente são confundidos. Bons estudos! Assista no seu material virtual ao vídeo de introdução que a professora Joy fez deste tema. Problematização Ontem foi um dia de festa na casa da família Sanches. A filha mais nova se formou em Serviço Social e, por isso, fez uma confraternizaçãona churrascaria ao lado do teatro em que foi a colação de grau. Essa ideia não foi só da família Sanches e diversos outros alunos também jantaram com suas famílias e amigos nesse mesmo restaurante. Hoje, ao se conversarem sobre a festa, diversos alunos relataram que após o jantar eles e seus convidados apresentaram vômito e diarreia e estão juntando as evidências, pois acreditam que tenha sido devido à ingestão de maionese. Neste caso, estamos diante de que tipo de ocorrência? Não responda ainda, vamos estudar nosso material e ao final você poderá escolher a melhor opção. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Vigilância Epidemiológica Nas últimas décadas, a implementação de ações de vigilância epidemiológica (VE) esteve em consonância com as primeiras definições conceituais estabelecidas a partir das reflexões teóricas de Langmuir e Raska, esboçada na década de 1960. Em 1963, Langmuir definiu a VE como: Observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes e a regular disseminação dessas informações a todos que necessitam conhecê-las (LANGMUIR). Em 1966, Raska publicou um artigo no qual define vigilância como: O estudo epidemiológico de uma enfermidade, considerada como um processo dinâmico que abrange a ecologia dos agentes infecciosos, o hospedeiro, os reservatórios e vetores, assim como os complexos mecanismos que intervêm na propagação da infecção e a extensão com que essa disseminação ocorre (HAMMANN; LAGUANDIA, 2000). Atualmente, após cinco décadas das referidas definições, é inquestionável o papel da VE como um componente da monitorização do estado de saúde da população, na formulação, no desenvolvimento e na implementação de políticas de saúde pública e na promoção de ambientes seguros e saudáveis. Em face das mudanças nos padrões epidemiológicos de vários agravos, o surgimento de novos agentes patogênicos, os efeitos da globalização da economia e seu desdobramento nas relações humanas, assim como o impacto da ação dos seres humanos sobre o meio ambiente, faz-se necessária a revisão e ampliação de suas estratégias e práticas (HAMMANN; LAGUANDIA, 2000). Histórico As primeiras intervenções estatais no campo da prevenção e controle de doenças, desenvolvidas sob bases científicas modernas, datam do início do século XX e foram orientadas pelo avanço da era bacteriológica e pela descoberta dos ciclos epidemiológicos de algumas doenças infecciosas e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 parasitárias. Essas intervenções consistiram na organização de grandes campanhas sanitárias e visavam controlar doenças que comprometiam a atividade econômica como, por exemplo: a febre-amarela, a peste e a varíola (BRASIL, 2009). A expressão “Vigilância Epidemiológica” passou a ser aplicada ao controle das doenças transmissíveis na década de 1950 para designar uma série de atividades subsequentes à etapa de ataque da Campanha de Erradicação da Malária. Visava à vigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento ou de quarentena, aplicadas individualmente e não de forma coletiva (BRASIL, 2009). No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola - CEV (1966-1973) é reconhecida como marco da institucionalização das ações de vigilância no país. O modelo da CEV inspirou a Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP) a organizar, em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças selecionadas e disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de circulação quinzenal (BRASIL, 2009). Em 1968, a vigilância epidemiológica foi tema central da 21ª Assembleia Mundial de Saúde, ficando estabelecida a abrangência do conceito, que permitia a aplicação a diversos problemas de saúde pública, além das doenças transmissíveis, como: as malformações congênitas, envenenamento na infância, leucemia, aborto, acidentes, doenças profissionais, comportamentos de fatores de risco, riscos ambientais, utilização de aditivos, entre outros (BRASIL, 2009). Em 1975, o Ministério da Saúde instituiu, por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio da Lei nº 6.259/75 e Decreto nº 78.231/76. Assim, tornou-se obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas. Em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual da Vigilância Epidemiológica, reunindo e compatibilizando as normas técnicas que eram utilizadas para a vigilância de cada doença, no âmbito de programas de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 controle específicos (BRASIL, 2009). A partir da década de 80, com objetivo de superar as dificuldades encontradas para o bom desempenho da VE, foram implantadas, entre outras atividades, elaboração e/ou revisão de normas técnicas, treinamentos e supervisões. Em 1983, foi estruturado em programa de treinamento em VE, com base em materiais institucionais desenvolvidos pela Secretaria de Recursos Humanos do Ministério da Saúde (CARVALHO; MARZOCCHI, 1992). Definições, Propósitos e Funções O Sistema Único de Saúde define na Lei nº 8.080/90 a vigilância epidemiológica como: Conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos (BRASIL, 2009). A vigilância epidemiológica tem como propósito oferecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução das ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis informações atualizadas sobre essas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida (BRASIL, 2009). São funções da vigilância epidemiológica: Coleta de dados; Processamento dos dados coletados; Análise e interpretação dos dados processados; Recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; Promoção das ações de prevenção e controle indicadas; Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; Divulgação de informações pertinentes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Portanto, as funções da VE estão pautadas na tríade informação- decisão-ação. Assim, sua atuação deve ultrapassar o enfoque da doença, procurando identificar os fatores que determinam o processo saúde-doença e, assim, desenvolver práticas voltadas para a promoção da saúde (SANTOS; MELO, 2008). O Sistema de Vigilância Epidemiológica (SVE) organiza-se através de diversas esferas de competências para cada nível administrativo, competências essas definidas pela Constituição Federal e que preveem a descentralização das atividades de VE, em consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme visualizado no quadro abaixo: Esquema básico do Sistema de Controle de Doenças e Agravos Níveis Nacional Central Estadual Municipal Local Órgão responsável Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Secretaria Estadual de Saúde Conselho Estadual de Saúde Secretaria Municipal de Saúde Conselho Municipal de Saúde Centro de Saúde, Unidade mista, Posto de saúde, Hospital, Ambulatório, Consultório médico, Laboratório. Escola, Extensão rural, Agremiação, Igrejas. Localização Brasília-DF Capitais das UF Sedes Municipais Bairros, vilas e povoados CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Funções Coordenação nacional •Coleta de dados e informações •Análise de dados •Investigações especiais •Assessoria técnica