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APOSTILA - Saúde Coletiva e Promoção da Saúde (UniFatecie)

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Saúde Coletiva e
Promoção da Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque
Reitor 
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini
Diretor Administrativo
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Coord. de Ensino, Pesquisa e
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman 
de Araújo
Coordenação Adjunta de Pesquisa
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme
Coordenação Adjunta de Extensão
Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação à Distância
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design e
Diagramação
André Dudatt
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade 
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem 
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
 
L616s Leque, Andressa Lorena 
 Saúde coletiva e promoção da saúde / Andressa Lorena 
 Leque. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 
 127 p. : il. Color. 
 
 
 
1. Saúde pública - Brasil. 2. Sistema Único de Saúde. 3. 
 Promoção da saúde. I. Centro Universitário UniFatecie. 
 II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. 
 
 CDD : 23 ed. 614.0981 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
 
 
UNIFATECIE Unidade 1 
Rua Getúlio Vargas, 333
Centro, Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 2 
Rua Cândido Bertier 
Fortes, 2178, Centro, 
Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 3 
Rodovia BR - 376, KM 
102, nº 1000 - Chácara 
Jaraguá , Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
www.unifatecie.edu.br/site
As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir 
do site Shutterstock.
AUTORA
Professora Me. Andressa Lorena Ieque 
 
● Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Estadual de Maringá);
● Doutorado em andamento (Universidade Estadual de Maringá); 
● Bacharel em Biomedicina (UEM); 
● Professor de pós-graduação na Faculdade Eficaz; 
● Docente de cursos de graduação Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia
 e Nutrição na UniFatecie. 
CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4780393744371602
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo(a)! 
 
Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar agora uma jornada de conhecimento na disciplina 
de Saúde coletiva e Promoção da saúde. Juntos, iremos compreender o modo geral o funcio-
namento da saúde pública de nosso país, algumas particularidades do sistema de saúde e 
processo de construção de como os serviços de assistência à saúde chegam até a população.
Na unidade I, definiremos alguns conceitos importantes relacionados à saúde e a 
história natural das doenças. Nesse contexto, será feita uma contextualização de como a 
epidemiologia está intimamente interligada com a promoção da saúde. Além disso, conhe-
ceremos também um pouco da história da saúde no mundo e no Brasil, para entender o 
processo de evolução sanitária até os dias atuais. 
Na unidade II começaremos o estudo sobre o modo de funcionamento do nosso 
sistema de saúde público, o Sistema Único de Saúde (SUS), desde a sua implantação. 
Alguns movimentos históricos serão ressaltados, pois eles explicam os motivos pelos quais 
o SUS atua sob alguns princípios e diretrizes. Ainda nessa unidade, serão apresentadas 
algumas classificações de atenção à saúde, e como elas são organizadas na distribuição 
de serviços de acordo com os princípios e diretrizes do SUS. 
Na unidade III continuaremos caracterizando o serviço público de saúde, dando 
destaque para uma de suas principais estratégias de assistência à saúde: a estratégia 
saúde da família. Nesse sentido, vamos definir quais profissionais fazem parte dessa estra-
tégia, como eles atuam, em quais locais, suas principais fontes e formas de financiamentos 
e também seus principais desafios.
Na unidade IV, complementaremos o nosso aprendizado sobre saúde coletiva atra-
vés de noções de epidemiologia. Vamos conhecer também sobre os sistemas de informação 
e como eles contribuem para o funcionamento do SUS, permitem o estudo de doenças e 
implantação de estratégias de saúde pública que proporcionam melhorias coletivas.
Espero contribuir para a sua formação profissional, além de proporcionar o desenvol-
vimento de uma visão crítica e reflexiva sobre o funcionamento dos serviços de saúde pública.
 
Muito obrigado e bom estudo! 
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 3
Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde
UNIDADE II ................................................................................................... 31
O Sistema Único de Saúde
UNIDADE III .................................................................................................. 53
A Equipe Saúde da Família e seus Núcleos de Apoio
UNIDADE IV .................................................................................................. 84
Noções de Epidemiologia
3
Plano de Estudo:
● Conceitos importantes de saúde e história natural da doença; 
● Contextualização da epidemiologia e promoção da saúde;
● Cronologia histórica da saúde coletiva no mundo e no Brasil.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a saúde coletiva ao que diz respeito à 
aplicação da promoção da saúde e da epidemiologia;
● Compreender os diferentes conceitos de saúde e a abordagem
 de um modelo de história natural da doença;
● Estabelecer a importância de fatores sociais, políticos, econômicos e 
culturais para o estado de saúde individual e coletivo;
● Conhecer os aspectos históricos da evolução da saúde coletiva no 
contexto de surgimento da Reforma sanitária.
UNIDADE I
Introdução à Saúde Coletiva
e Promoção da Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque
4UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
INTRODUÇÃO
Olá caro (a) aluno (a)! A partir de agora daremos início à disciplina Saúde coletiva 
e promoção à saúde. Nesta primeira unidade, faremos uma breve introdução sobre nosso 
campo de estudo através da abordagem de uma diversidade de conhecimentos que integram 
a saúde coletiva. Nesse sentido, iremos destacar os principais fatores que podem influenciar 
diretamente ou indiretamente o estado de saúde de um indivíduo ou de toda uma sociedade. 
Para compreendermos tudo isso de forma integral, o primeiro tópico buscará de-
finir alguns conceitos e ideias importantes aplicados na área da saúde. Dessa forma será 
fornecida uma base de conhecimento teórico para posterior aplicação na compreensão de 
conhecimentos mais específicos e práticos de saúde pública. 
Nos próximos tópicos, vamos apontar alguns acontecimentos históricos que de 
alguma forma contribuíram para o progresso do campo de estudo da saúde coletiva, e 
como, principalmente ideias de promoção da saúde, nortearam a implementação de novas 
políticas de saúde no mundo e no Brasil.
5UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
1. CONCEITOS DE SAÚDE E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 
 
A saúde coletiva é um campo de estudo muito complexo, que envolve conhecimen-
tos diversos relacionados à saúde individual e da coletividade. Para compreendê-la, será 
necessário levar em consideração muitos fatores que se interconectam parao estabeleci-
mento de um estado de saúde. Esses fatores comumente são chamados de “determinantes 
sociais, políticos, econômicos e culturais e estão associados ao meio em que os indivíduos 
se encontram na convivência como sociedade, influenciando diretamente ou indiretamente 
na saúde de forma geral (PAIM e FILHO, 2014; MOTA e SCHRAIBER, 2015). 
Quando falamos em saúde individual, estamos nos referindo à saúde de uma 
pessoa considerando esta como um ser único e independente. Já no que diz respeito à 
saúde coletiva, consideramos a saúde de todas as pessoas que estão compartilhando o 
mesmo ambiente para viver em sociedade. As duas abordagens são muito importantes, de 
forma que ao considerar o individual estamos valorizando as particularidades de cada um, 
geralmente relacionadas a fatores biológicos, enquanto o coletivo estudará a interação de 
todos outros fatores que podem implicar na saúde de um grupo de pessoas.
Neste contexto, a saúde coletiva busca assimilar todo esse conjunto de informa-
ções para estabelecer e aplicar políticas e práticas de saúde que culminem na promoção 
da saúde e prevenção de doença e outros agravos. A figura abaixo representa de forma 
resumida os principais componentes da saúde coletiva:
6UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
FIGURA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DA SAÚDE COLETIVA
Fonte: O autor (2021).
Ao refletirmos sobre a diversidade de fatores envolvidos na definição de saúde co-
letiva, poderíamos classificá-la então como um campo de estudo muito variável e mutável. 
Podemos imaginar, então, a diversidade de ambientes que existem no mundo e como cada 
fator contribuirá de forma singular para estabelecer um estado final de saúde. Toda essa 
reflexão é muito heterogênea e, por isso, precisamos assimilar cada um desses pontos 
e como eles interagem para compreender de fato a saúde coletiva. Nesse sentido, res-
saltamos a importância de iniciar o nosso conteúdo introduzindo alguns desses conceitos 
importantes que servirão como suporte para aplicação de conhecimentos práticos no futuro. 
Seguindo a figura como base para definição dos conceitos mais importantes, va-
mos definir agora o que é promoção e prevenção. A promoção pode ser definida em um 
conceito mais amplo ou mais restrito, no conceito mais amplo, a promoção da saúde é 
um processo que tem como objetivo alcançar e manter um estado de bem-estar na vida 
das pessoas e da comunidade. Já no conceito mais restrito, a promoção da saúde está 
ligada à compreensão e prática de ações preventivas para evitar o surgimento de doenças 
específicas (ANDRADE et al., 2017). 
A prevenção representa um conjunto de medidas aplicadas de forma precoce com 
fim de evitar que algo aconteça. Ao observamos o conceito mais restrito, a prevenção está 
interligada à promoção da saúde, de forma que através dessas ações de prevenção pode-
mos evitar que doenças atrapalhassem esse estado de bem-estar social (ANDRADE et al., 
2017; PREVENÇÃO, 2021).
7UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
A maioria dos componentes da saúde coletiva (Figura 1) já foram definidas, mas 
ainda falta pensarmos sobre a definição da palavra “saúde”. Apesar de aparecer no topo da 
figura, deixamos essa definição para o final e isso não foi por acaso, mas sim por motivo de 
exigir uma atenção ainda maior. Então, afinal, o que é saúde? Seria fácil ou difícil para você 
defini-la? O conceito de saúde é concreto ou depende do ponto de vista? 
A definição de saúde faz parte de um processo maior que representa o progresso na 
área da saúde coletiva, e que foi construído com o passar dos anos principalmente através 
da observação de práticas direcionadas ao combate de doenças. Esse processo contou 
com a participação de muitos pesquisadores e filósofos, que contribuíram para estabelecer 
com maior clareza alguns conceitos e ideias importantes no âmbito da promoção à saúde. 
Nesse contexto, temos duas vertentes conceituais para definir o que é saúde, a vertente 
filosófica e a de fenômeno natural, que veremos a seguir. 
 
1.1 Vertente filosófica
O processo de definição de saúde iniciou na antiguidade e contou com diversos 
pensamentos filosóficos como o citado acima. Vamos conhecer alguns desses pensamen-
tos e como eles contribuíram para o processo de definição do conceito de saúde. 
Iniciando com o filósofo Platão, este defendia que a definição de saúde era uma 
oposição entre virtude e vício. A virtude relacionava-se com a saúde, a beleza e uma boa dis-
posição de ânimo, enquanto o vício referia-se à doença, feiura ou fraqueza. O filósofo René 
Descartes defendia que a saúde era resultado da união e confusão entre mente e corpo, em 
que sensações de dor, sofrimento, sede, fome e felicidade eram tão importantes quanto o 
funcionamento do corpo, considerando seus órgãos e sistemas (PAIM e FILHO, 2014). 
Immanuel Kant contribuiu com duas perspectivas diferentes, a perspectiva tera-
pêutica e a dietética. A terapêutica referia-se à clínica associada à doença, de forma que 
a supressão ou eliminação da doença era o ponto principal a ser levado em consideração. 
Já na dietética, Kant ressalta a prevenção associada à saúde, defendendo a aplicação da 
racionalidade científica para evitar a ocorrência da doença (PAIM e FILHO, 2014).
Georges Canguilhem discorreu sobre a doença estar relacionada ao patológico, 
que significava o contrário de sadio. Para ele, a saúde era individual, privada e subjetiva, 
sendo que sua validação deveria ser realizada através do contato entre o doente e o seu 
médico. Sua linha de defesa dificultava a valorização da saúde como ciência, pois não seria 
possível determinar a saúde pela aplicação de instrumentos e protocolos padronizados 
(PAIM e FILHO, 2014). 
8UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
O filósofo Hans-Georg Gadamer desenvolveu pensamentos similares aos de Can-
guilhem, ressaltando que a saúde tinha caráter privado, pessoal e radicalmente subjetivo, 
e não poderia ser reduzida a um objeto da ciência. Em contrapartida, sua proposição de 
que “A saúde é inapelavelmente totalizante porque seu conceito indica diretamente integra-
lidade ou totalidade”, contribuiu para um avanço na formulação alternativa de saúde como 
ciência (PAIM e FILHO, 2014).
Apesar de considerar a saúde como subjetiva, Canguilhem também defendia que 
a saúde tinha relação com a genética, história de vida e relação do indivíduo com o meio. 
Neste sentido, a definição de saúde como subjetiva não impedia seu estudo como objeto 
científico e daí surgiu uma visão de saúde pública (científica), como complemento da saúde 
individual (subjetiva). Mais tarde, teríamos esse conceito aplicado ao que hoje chamamos 
de saúde coletiva (PAIM e FILHO, 2014).
1.2 Vertente de fenômeno natural
Essas concepções filosóficas direcionaram o olhar para a saúde como fenômeno 
natural que pode ocorrer em diferentes níveis, o coletivo e o individual. O coletivo refere-se 
à saúde populacional e social, e o individual considera a subjetividade e a clínica do pa-
ciente. A aplicação da ciência nesse contexto coletivo depende de outro campo de estudo 
denominado epidemiologia. 
No próximo tópico desta unidade, veremos como a epidemiologia considera a inte-
ração de diversos fatores para determinar a instalação de saúde ou de doença, através da 
aplicação de análises matemáticas.
A partir do século XIX, com a evolução científica e tecnológica, cada vez mais era 
possível o estudo da saúde através da utilização de métodos de pesquisa experimentais 
e também do desenvolvimento de disciplinas específicas, como por exemplo, a fisiologia e 
a imunologia. Desde tempos anteriores a esse período, existia uma linha de pensamento 
criada por Hipócrates, de que a saúde estava associada a um estado de equilíbrio enquanto 
a doença, a um estado de descompensação. 
Essa linha de pensamento foi confirmada por Claude Bernard, através de medicinaexperimental na área de fisiologia sistêmica. Através do estudo das bases moleculares, 
Bernard relacionou esse equilíbrio com a homeostase, um mecanismo de estabilidade 
utilizado pelo corpo humano para o desenvolvimento de funções fisiológicas.
9UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
Outra perspectiva interessante na contribuição do conceito de saúde foi a de Darwin, 
que considerou o contexto da evolução para compreender doenças infecciosas. Para Darwin, 
a infecção era um acidente na competição entre duas espécies, na qual o início seria marca-
do por uma enfermidade grave e até mesmo mortal, porém, evoluiria para um estado mais 
ameno devido à adaptação natural entre dois organismos após um período longo de tempo. 
Esse conceito explica algumas relações de parasitismo, oportunismo e comensalismo que 
são aplicados na compreensão de saúde na medicina moderna (PAIM e FILHO, 2014).
Paim e Filho (2014) classificam as definições de saúde sob o contexto de fenômeno 
natural em quatro classes: a doença como excesso ou falta, a saúde como funcionalidade, 
a saúde como ausência de doença e a saúde como processo. 
Na doença como excesso ou falta, para estabelecer um estado de “não saúde”, 
devemos nos basear na exacerbação ou redução das funções normais. Um exemplo que 
ilustraria muito bem esse caso seria a doença diabete, no qual o seu diagnóstico e te-
rapêutica baseia-se no aumento ou diminuição da concentração de glicose no sangue. 
Sob condições normais, um indivíduo deveria manter uma quantidade ideal de glicose no 
sangue, através de funções fisiológicas, para garantir o funcionamento de todos os outros 
sistemas interligados.
Entretanto, na doença diabetes o indivíduo desenvolve alterações que impossibilita 
o controle dessa concentração, de forma que a glicose ocorrerá em excesso (hiperglicemia) 
ou falta (hipoglicemia) caracterizando um estado de desequilíbrio. Nesse caso, a cura da 
doença para estabelecer um estado de saúde é dependente do reequilíbrio dos processos 
metabólitos e sistêmicos, buscando a concentração ideal de glicose plasmática.
Na saúde como funcionalidade, temos o termo saúde associado à normalidade e o 
termo doença à patologia. O termo funcionalidade relaciona-se ao funcionamento normal 
do organismo de forma eficiente para culminar em um estado normal, e consequentemente, 
saudável, em contrapartida, a patologia está associada à ineficiência da função normal.
No caso da saúde como ausência de doença, a saúde individual é definida como 
uma capacidade ótima de desempenhar funções sociais devido à ausência de doença. 
No entanto, o conceito coletivo de saúde não é valorizado, visto que a definição enfatiza 
apenas os níveis individuais de saúde.
Por fim, a saúde como processo baseia-se em modelos que tentam esquematizar 
as inter-relações dinâmicas entre determinantes sociais e características intrínsecas do 
indivíduo. Esse tipo de abordagem da saúde é o que representa de forma mais completa 
a realidade da saúde coletiva. Existem vários modelos diferentes, todos com relevante 
complexidade intrínseca, e por isso, vamos selecionar apenas um destes para entender o 
processo de saúde-doença: o modelo de História Natural da Doença (HND).
10UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
1.3 O modelo de História Natural da Doença
 O modelo de história natural da doença ilustra a evolução dos processos patológi-
cos em dois períodos, o período de pré-patogênese e o de patogênese. O período pré-pa-
togênese ocorre anteriormente ao período de patogênese, sendo que ambos se relacionam 
e se complementam. Na pré-patogênese, o sujeito está exposto a vários elementos que 
são determinantes para a instalação de doença. Esses elementos (agente, suscetibilidade 
e ambiente) interagem entre si para promover um estímulo ao indivíduo, que culminará na 
doença no período de patogênese (Figura 2).
FIGURA 2 - DIAGRAMA DO MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
 
Fonte: Adaptado de Leavel e Clark, 1976; Paim e Filho, 2014.
Portanto, podemos definir o primeiro período como um estágio de preparação para 
a doença, em que o indivíduo se encontra não sintomático e não doente. Vale ressaltar que 
dentro de cada um desses elementos existem variáveis que devem ser levadas em conside-
ração para determinar o estímulo. Por exemplo, o agente pode ser um animal, um parasita, 
uma bactéria ou uma toxina produzida por esta, entre outros que diferem muito entre si. 
11UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
A suscetibilidade é intrínseca do indivíduo, além de em alguns casos depender 
do agente envolvido. Por exemplo, uma pessoa idosa naturalmente apresenta problemas 
de imunidade e consequentemente estará mais suscetível a desenvolver uma gripe grave 
após contato com um vírus (agente) que pode ser inofensivo para outras pessoas. 
O meio pode envolver fatores relacionados ao território geográfico e ainda fatores 
sociais, políticos, culturais e econômicos que podem afetar diretamente ou indiretamente 
na suscetibilidade individual. Por exemplo, um bairro pobre, condições precárias de higiene, 
de moradia e/ou alimentação, podem determinar um maior risco para desenvolvimento de 
doenças de cunho social. 
Casos de parasitoses intestinais podem acontecer com maior frequência em am-
bientes que não apresentem condições básicas de higiene, como tratamento de água e 
rede de esgoto. Porém, não bastam as condições ambientais, sendo necessária a presença 
de um parasita para causar a doença. Nós poderíamos pensar em diversas situações di-
ferentes ao mudar qualquer um dos fatores dos três elementos (agente, suscetibilidade e 
meio), mas não podemos nos esquecer de que um está interligado ao outro e a interação 
deles pode determinar estímulos diferentes.
Todos esses fatores quando interagem criam um espaço heterogêneo e carac-
terístico de cada região ou período. O diagrama facilita a organização de ideias, mas 
precisamos compreender onde cada elemento se encaixa. Após a integração de todos os 
elementos e o estimulo ter sido desencadeado, podemos partir para o período de pato-
gênese, no qual observamos o início das alterações nos tecidos e sintomas da doença, 
determinando o horizonte clínico.
Repare que o desfecho da doença pode ser recuperação ou cura, defeito ou invalidez 
(sequela) e morte. Poderíamos adicionar ainda, os casos de doenças que evoluem para a 
cronicidade. Até aqui, conseguimos visualizar a parte superior do diagrama, mas observe que 
abaixo desses dois períodos ainda temos os níveis de aplicação das medidas preventivas. 
A atenção primária preocupa-se com a promoção da saúde de forma a evitar o 
desenvolvimento de doenças, e por esse motivo, encontra-se logo no início pareado ao 
estado de pré-patogênese, no qual o indivíduo ainda não adoeceu.
Neste ponto, podemos aplicar práticas de saúde que ajudem na prevenção de 
doenças. A prevenção primária nesse diagrama está dividida em promoção da saúde e 
proteção específica, de forma que o primeiro termo se refere ao desenvolvimento de práti-
cas que incentivem a saúde de forma geral, como através do incentivo de uma alimentação 
saudável e a prática de exercícios físicos. 
12UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
Já o segundo termo, a proteção específica, refere-se a medidas direcionadas a um 
problema em particular. Para ilustrar essa medida preventiva específica, podemos utilizar o 
exemplo da pessoa idosa que ao ter sido exposta a um vírus poderia desenvolver um caso 
sério de gripe. Uma forma de evitar essa situação seria através de incentivar os idosos a 
utilizarem máscara quando fossem ficar expostos à ambientes com aglomeração de pes-
soas, ou ainda, no caso da gripe temos a vacinação disponível no serviço público de saúde. 
Depois que o período de patogênese se inicia, observamos que a prevenção muda 
para a secundária. Isto acontece porque o indivíduo já contraiua doença e, portanto, de-
vemos aplicar técnicas de diagnóstico e de tratamento imediato. Além disso, nos casos 
em que a doença determina algum tipo de sequela ou invalidez, precisamos desenvolver 
medidas que limitem essa incapacidade social.
Por fim, temos a reabilitação do paciente buscando estabelecer todas as suas 
capacidades de forma mais completa possível para que ele consiga ter qualidade de vida. 
Veremos nas próximas unidades que essas medidas de prevenção, diagnóstico, tratamento 
e reabilitação envolvem várias características específicas, e em alguns casos, são classifi-
cadas de forma diferente. 
A compreensão desse diagrama traz uma ideia de como a saúde coletiva é aplicada 
de forma ampla em nosso cotidiano. Durante os próximos tópicos vamos tentar reunir todas 
essas informações no contexto da área profissional da saúde. Vale ressaltar também que 
desde já conseguimos perceber a importância da comunicação multiprofissional, visto que 
cada elemento pode tornar-se muito complexo e lidar com eles de forma conjunta pode facili-
tar a compreensão, além de contribuir para instalação de medidas de saúde mais completas.
13UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE
 
Neste tópico vamos conhecer um pouco sobre a história da saúde, explorando 
quais foram os principais fatores envolvidos no processo de evolução da saúde coletiva 
e como a epidemiologia e a promoção da saúde surgiram nesse contexto. Essa evolução 
ocorreu de forma natural e gradual com o passar do tempo, perante diferentes momentos 
políticos, sociais, econômicos e culturais que contribuíram na mudança no modo de pensar 
e nas ações de saúde. 
Por muito tempo, as antigas civilizações associaram o surgimento de doenças a 
causas naturais e divinas enviadas por Deuses como forma de punir o ser humano. Esse 
pensamento começou a mudar com os gregos, que desenvolveram um olhar mais racional 
e científico, e passaram a associar as causas das doenças ao clima e ao ambiente físico. 
Foi nessa época que surgiu o pensamento de que a doença era resultante do desequilíbrio 
entre algumas funções corporais e a natureza (ROSEN, 1994).
Os médicos desse período trabalhavam com um olhar sanitarista e acreditavam que 
a saúde residia na harmonia entre o homem e o ambiente. Para eles, os fatores físicos do am-
biente tinham forte influência sobre o corpo humana, além disso, também defendiam a prática 
da higiene e de uma nutrição equilibrada para manter uma vida saudável (ROSEN, 1994).
Complementando esse modo de pensar, os romanos foram os principais respon-
sáveis pelo aprimoramento de condições sanitárias através do desenvolvimento de um 
sistema de suprimento de água por aquedutos, que permitia o transporte e utilização de 
14UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
água à distância. Esse sistema de suprimento permitiu a distribuição de água para fontes, 
banheiros e outras estruturas públicas, contribuindo para as necessidades básicas da vida 
civil (ROSEN, 1994).
Graças às instalações públicas acessíveis, os romanos adquiriram o costume de 
tomar banho regularmente, sendo comum encontrar ambientes com salas para banhos. In-
clusive, alguns autores defendem que algumas epidemias da época ocorreram com menor 
frequência e duração devido ao sistema de suprimento de água, ao cuidado com o destino 
de água de esgoto e também à prática de tomar banho (ROSEN, 1994).
O período seguinte, conhecido como Idade Média, foi marcado por um pensa-
mento baseado na cultura cristã e a pessoas buscavam combater as doenças através da 
religião. Além disso, os povos enfrentaram muitas epidemias graves que tiveram grande 
impacto na saúde pública, como a peste bubônica, a lepra, a varíola, a tuberculose e 
muitas outras (ROSEN, 1994). 
Apesar da forte crença de que as doenças estavam associadas ao pecado, outras 
ideias que surgiram também contribuíram para o avanço na área sanitária. A preocupa-
ção da população em viver mais veio acompanhada de regulamentações como medidas 
preventivas acerca da higiene, nutrição, inspeção de alimentos, cuidados pessoais com 
habitação, limpeza e sono. Na área da nutrição, começaram a associar doenças com o 
consumo de alimentos estragados e instituíram como medida preventiva a inspeção de 
alimentos (ROSEN, 1994).
Nessa época, a assistência médica evoluiu com a divisão da classe médica em 
clínicos, cirurgiões e itinerantes. Além disso, também surgiram construções de hospi-
tais e instituições beneficentes para atender grupos especiais como idosos, homens, 
mulheres e crianças, marcando o início do que se concretizou mais tarde como grupos 
de atenção (ROSEN, 1994).
O século XIX, também conhecido como Renascimento, é o período de maior 
crescimento para a área da saúde. O contexto da revolução tecnológica e industrial impul-
sionou o estudo sobre o corpo humano e doenças e ficou marcado por teorias científicas 
importantes (ROSEN, 1994). 
A fisiologia e anatomia humana desenvolveram-se a partir de técnicas de disse-
cação, e juntamente com a epidemiologia, ofereceu suporte para a descrição de doenças. 
E a partir daí, o caminho para implementação de medidas de controle de saúde pública 
específicas foi aberto e cada vez mais explorado (ROSEN, 1994).
15UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
O Estado começou a considerar que o bem-estar da sociedade era equivalente ao 
bem-estar do Estado, uma vez que uma população saudável representava maior produtivi-
dade, contribuindo para o crescimento da indústria e consequentemente, do país como um 
todo. Nesse sentido, o Estado passou a buscar a aplicação de métodos estatísticos para 
análise dos problemas de saúde. O principal ponto de investigação correlacionava taxa 
de nascimentos e de mortes segundo as estações do ano e locais de moradia. Assim, a 
epidemiologia começou a ganhar mais força fundamentada no grande interesse econômico 
do Estado (ROSEN, 1994).
O avanço de técnicas de isolamento e manuseio de organismos microscópicos 
permitiu o estudo de vários agentes e descobertas sobre mecanismos de transmissão de 
doenças infecciosas. Vários pesquisadores marcaram a história com contribuições relevan-
tes, como Jacob Henle, Louis Pasteur, Antonie Villemin, Robert Koch, Joseph Lister, entre 
outros. Robert Koch foi o primeiro a elucidar a história natural de uma doença, provando 
todo o ciclo da tuberculose desde a sua origem microbiana e marcando o nascimento da 
bacteriologia (ROSEN, 1994). 
Louis Pasteur descobriu que era possível alterar a virulência dos micróbios e, 
baseado nos princípios da vacinação da varíola por Edward Jenner, passou a defender a 
prevenção de doenças através da produção de vacinas com cepas atenuadas de microrga-
nismos. Nesse contexto, a imunologia ganhou força com a elucidação e desenvolvimento 
de testes diagnósticos e da imunização ativa e passiva, impulsionando vários estudos 
experimentais de vacinação (ROSEN, 1994).
Baseado em estudos de Pasteur, Devaine e Koch, Joseph Lister associou organis-
mos vivos a causas de infecções e mortes cirúrgicas. A partir disso, os desinfetantes quími-
cos começaram a ser utilizados para assegurar um campo operatório estéril nas cirurgias, 
evoluindo para o princípio da assepsia que ajudou a saúde pública no controle de doenças 
transmissíveis (ROSEN, 1994). 
Os conceitos de portador humano e de vetor animal preencheram uma das últi-
mas lacunas no esclarecimento de transmissão de doenças. Assim, foi descoberto que 
pessoas não doentes poderiam contribuir para o contágio de doenças e que esse contágio 
poderia ocorrer através de insetos e outros animais. Os ciclos de doenças passaram a ser 
elucidados de forma detalhada, permitindo a atenção em focos específicos para impedir a 
evolução das doenças. Essas observações permitiram desenvolver ações de promoção à 
saúde e de vigilância, unificandovários pontos da saúde coletiva (ROSEN, 1994).
16UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
Agora que já contextualizamos como a epidemiologia e a promoção da saúde de-
senvolveram-se no decorrer do processo evolutivo e histórico, vamos conhecer quais fatores 
influenciaram na transformação dos serviços de assistência à saúde e na criação de políticas 
públicas. Apesar do enredo dessa transformação, seguir o mesmo padrão em diferentes 
partes do mundo existem particularidades relevantes específicas do nosso país. Portanto, 
iremos dividir o nosso estudo cronológico da história da saúde no mundo e no Brasil.
17UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
3. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO MUNDO 
 
O século XIX representa o momento chave da revolução da saúde pública, sendo 
marcado por mudanças na administração da saúde pública e fundação do movimento sani-
tário. O contexto histórico era o da Revolução Industrial, que ocorreu com grande força na 
Inglaterra e causou muitos efeitos nocivos, desencadeando movimentos de saúde pública 
de forma mais precoce nessa região. Por esse motivo, daremos ênfase aos acontecimentos 
da Inglaterra para entender o início da reforma sanitária no mundo.
As fábricas e indústrias surgiram nas metrópoles e desencadearam a migração 
de muitos trabalhadores para essas cidades, em busca de trabalho. As condições de den-
tro de fábricas e o desenvolvimento de centros urbanos sem planejamento trouxe novos 
problemas de saúde. Os mais pobres viviam em cortiços pequenos, amontoados e mal 
ventilados, em condições precárias e miseráveis. A maioria das casas não possuía privada 
e as práticas de higiene tornaram-se um problema insalubre, além de o Estado demonstrar 
pouco interesse em tomar medidas sanitárias. 
As doenças que ameaçavam o período eram principalmente a peste, a febre 
amarela e a varíola, entre estas, a varíola merece atenção especial, pois foi a principal 
responsável por causar altas taxas de mortalidade infantil. Daí surgiu a necessidade de 
combatê-la através da prevenção, seguindo os princípios do pioneiro da vacinação, o 
médico inglês Edward Jenner.
18UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
Algumas outras doenças importantes eram a cólera, a disenteria e a febre tifoide, 
todas estas doenças intestinais transmitidas através de água e alimentos contaminados. A 
difteria, a escarlatina e o sarampo também tinham relação com as condições precárias de 
moradia e higiene, visto que aglomerados facilita a difusão e ocorrência de surtos.
A luta contra os problemas trazidos pela industrialização na maioria das vezes 
surgia de um padrão que partia do reconhecimento de um mal social por um pequeno 
grupo influente, que se organizavam pautados em uma iniciativa, estudos, experimentos ou 
melhorias, e levava essa agitação até os olhos do governo. Desse movimento, esperava-se 
que o governo agisse de alguma forma, do contrário, recorria-se à legislação.
Os primeiros movimentos surgiram da exigência de melhorias das condições de 
trabalho precárias e miseráveis nas minas e fábricas, além da proteção ao trabalho infantil. 
Várias associações e hospitais beneficentes foram criados com focos especiais de atendi-
mento, como por exemplo, o Hospital de Londres que atendia principalmente manufaturei-
ros, marinheiros e seus familiares, o Hospital de Middlesex para atendimento de pessoas 
com varíola e o Hospital de São Lucas, voltado para pacientes com doenças mentais. 
O Estado começou então a visualizar a necessidade de atenção à saúde da po-
pulação pobre, uma vez que estes não tinham condições de pagar por serviços médicos, 
e representavam a mão de obra das indústrias. Em 1834, a Inglaterra aprovou a Lei dos 
Pobres, na qual o governo era responsável por dar assistência aos pobres. 
Com o tempo, perceberam que essa além dos custos altíssimos, contribuía para a 
diminuição da oferta de trabalhadores para a indústria, já que os pobres desempregados 
estavam sendo sustentados por essa lei. Assim, uma Nova Lei dos Pobres foi formulada, 
e a assistência passou a ser limitada a pessoas que não tivessem capacidade física de 
exercer o trabalho e aos que vivessem em situações mais miseráveis. 
Dentro dessa renovação da Lei dos Pobres, Edwin Chadwick propôs o uso de 
informações estatísticas para relacionar a saúde às condições sociais e físicas da vida dos 
pobres, com o intuito de prevenir de doenças, e consequentemente, melhorar o aspecto 
econômico. Nesse cenário de desamparo, imundície, pobreza e doença, impulsionada em 
sua maior parte pelo interesse econômico do governo, iniciou-se a reforma sanitária, pois 
preservar o trabalhador era essencial o crescimento industrial. 
Como vimos no tópico anterior, os estudos epidemiológicos de doenças estavam 
em alta e, através deles, era possível relacionar as condições de saúde com dados geo-
gráficos sobre o clima e modo de vida dos habitantes. Com esse campo já relativamente 
desenvolvido, as doenças podiam ser estudadas de forma direcionada e, em seguida, 
campanhas de saúde poderiam ser aplicadas com foco específico. 
19UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
O ponto que marcou esse início da reforma sanitário foi justamente a aplicação 
de inquéritos populacionais, em que Chadwick especificou os achados e descreveu quais 
ações deveriam ser tomadas para resolver os problemas. As medidas propostas resultantes 
dessa análise foram as seguintes:
● O estabelecimento de corpos de saúde em comunidades urbanas;
● A nomeação de um inspetor nas cidades grandes, que fosse responsável 
por exigir o cumprimento das regras sanitárias;
● A aprovação de um ato de sistema de esgotos;
● A aprovação de um ato para regular as construções futuras;
● Atenção especial para o sistema de abastecimento de água, que deveria 
ser amplo e inspecionado (ROSEN, 1994, p. 174).
Após muitas investigações, foi apresentada a recomendação de uma nova legis-
lação, surgindo uma proposta de que o governo seria o responsável por regulamentar 
a situação sanitária de todas as comunidades urbanas. Apesar de todo o conhecimento 
adquirido sobre os problemas sanitários, a falta de instrumento administrativo impedia que 
esses problemas fossem solucionados. Havia a necessidade de um departamento central 
de saúde que organizasse o processo de mudança.
Assim, criaram o Conselho do Governo Local e aprovaram o Ato de Saúde Pública, 
que dividiu o país em distritos sanitários que deveriam ser supervisionados pelo Conselho 
do Governo Local. Esse sistema foi o primeiro a demonstrar capacidade suficiente para 
combater os problemas de saúde pública (ROSEN, 1994). Concomitantemente a essa 
organização da administração pública, surgiram as Associações de saúde das cidades, 
que eram constituídas por um grupo de médicos e leigos, que lutaram pela correção dos 
problemas da vida urbana através do apoio público. 
Por fim, o sistema administrativo estava organizado de uma forma eficaz e as asso-
ciações formadas por sanitaristas tinham grande influências sobre os órgãos governamen-
tais, contribuindo com conselhos para melhorias de saúde. Foi apenas nesse momento, que 
ações visando melhoria da saúde pública começaram a acontecer com maior força, pois nos 
momentos anteriores, apesar do conhecimento teórico, pouco era colocado em prática.
 Esse processo de reforma sanitária difundiu-se para outros lugares além da Ingla-
terra, alcançando a Europa e a América, a Alemanha, a França, Bélgica, Prússia e outros 
Estados continentais. De modo geral, o desenvolvimento da reforma sanitária, nesses ou-
tros países foi impulsionado pelos mesmos problemas encontrados na Inglaterra, como as 
condições insalubres das comunidades que estavam se formando nas cidades em busca 
de trabalho, que levavam à disseminação de doenças (ROSEN, 1994). 
20UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
A saúdemoderna organizou-se no âmbito mundial sobre o fato de que o Estado 
deve ser responsável pela saúde pública, contando com a participação da comunidade, 
seguindo duas regras principais. A primeira diz respeito organização do Estado em depar-
tamentos e conselhos nacionais de saúde pública, para garantir a eficiência na conciliação 
de recursos. E a segunda, suporta-se no planejamento de ações de saúde baseadas em 
estudos epidemiológicos.
Em 1948, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS) por iniciativa da Orga-
nização das Ações Unidas (ONU), com o objetivo de promover o acesso universal à saúde, 
considerando o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. As ações de saúde devem ser 
voltadas para melhorias no saneamento, na área familiar, de capacitação de profissionais 
da área da saúde, no fortalecimento dos serviços médicos e na luta contra doenças.
21UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
4. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 
 
A história da saúde no Brasil foi marcada por acontecimentos semelhantes aos 
abordados na cronologia histórica da saúde coletiva no mundo. Para compilar as informa-
ções, iremos ressaltar os acontecimentos similares e destacar alguns particulares do nosso 
país que são importantes para compreender o nosso modelo de assistência à saúde atual.
A proclamação da República despertou o espírito capitalista no Brasil, no qual as 
decisões políticas eram fortemente influenciadas por pessoas de classe alta envolvidas 
na economia. A medicina tinha um olhar sanitarista e a epidemiologia já era utilizada para 
examinar o ambiente físico e social da população urbana. No contexto de epidemias de 
varíola, febre amarela, peste bubônica, febre tifoide e cólera, o governo tentava promover 
medidas de higiene pública intermediadas por médicos sanitaristas.
Oswaldo Cruz foi um médico sanitarista, bacteriologista e epidemiologista que repre-
senta uma das figuras mais importantes desse período, colocando-se a frente do combate 
das principais epidemias que atingiam o Rio de Janeiro e contribuindo para erradicá-las. 
Pautado na preocupação da economia de cidades portuárias, o serviço sanitário recebia 
grande investimento. As doenças infectocontagiosas passaram a ser notificadas obrigato-
riamente e as ruas, casas, fábricas, hospitais e cemitérios passaram a ser fiscalizados.
Nesse contexto, os centros de pesquisa começar a surgir com maior força para 
dar suporte ao serviço sanitário, porém, esse progresso acontecia nos estados do Rio de 
Janeiro e São Paulo, enquanto o restante do país enfrentava os problemas com escassez 
22UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
de recursos e de atenção do governo. Além disso, o homem do campo também vivia sob 
condições precárias de atenção e essa realidade foi representada na obra de Monteiro 
Lobato pelo personagem Jeca Tatu, que transparecia a situação do homem rural brasileiro 
através de um homem fraco, desanimado e enfermo.
 A preocupação com a mão de obra iniciou com foco em projetos voltados à saúde, 
educação, alimentação, habitação e trabalho, chamados de políticas de saúde ou sociais. 
Os investimentos em água tratada e esgotos ocorriam de forma lenta e gradual nos centros 
urbanos, e mais adiante, refletiram na diminuição de doenças epidêmicas e óbitos.
Assim como na Inglaterra, o processo de Revolução Industrial foi determinante 
para o início da reforma sanitária no Brasil. Por volta de 1930, o investimento do Estado 
era focado na expansão da produção, principalmente nos grandes centros, São Paulo e 
Rio de Janeiro. Esses estados, portanto, foram os primeiros a sentirem o efeito nocivo da 
Revolução Industrial, e consequentemente, evoluir nas práticas de saúde.
A desigualdade social era muito evidente, de forma que os mais pobres viviam em 
condições precárias de moradia e de higiene. A chegada de imigrantes incentivados pelo 
trabalho agravou essas condições, surgindo cortiços e favelas marcados pelo aumento das 
doenças infecciosas. A história da saúde no Brasil foi fortemente marcada por decisões 
políticas dos governos desse período. 
No governo de Vargas, tendo em vista a reforma dos serviços sanitários que já 
ocorriam em outros lugares do mundo, surgiu o Ministério da Educação e da Saúde Pública 
(MESP). As ações do MESP eram voltadas à centralização político-administrativa, na qual 
os médicos foram quase que totalmente excluídos das decisões sanitárias, que ficaram nas 
mãos de políticos e burocratas.
Além disso, a preocupação com a classe trabalhadora surgiu baseada na necessi-
dade do governo em obter apoio social, culminando na criação dos Institutos de Aposenta-
dorias e Pensões (IAPs). Os IAPs forneciam serviços de assistência médica e seguridade 
social aos funcionários e a seus dependentes, em troca de contribuições mensais. A 
concepção de seguro social vigente nesse período assegurava os seguintes benefícios: 
aposentadoria, pensão e alguns outros serviços, como assistência médica e hospitalar e 
socorros farmacêuticos (FILHO, 2011). 
Em 1934, a nova Constituição passou a oferecer outros direitos aos trabalhadores, 
entre estes a assistência médica, a licença remunerada à gestante e a jornada de trabalho 
de 8 horas. Quase 10 anos depois, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 
que instituiu o salário mínimo, indenização aos acidentados, tratamento médico aos doen-
tes, férias remuneradas, entre outros benefícios à classe operária (FILHO, 2011).
23UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
As medidas de educação em saúde tornaram-se mais fortes a partir de 1938, atra-
vés de ações do MESP baseada na preocupação com os hábitos de higiene da população. 
Algumas campanhas de educação popular foram feitas através da divulgação de informa-
ções pelo rádio, panfletos, cartazes, e até mesmo enfermeiras sanitárias, que percorriam 
bairros ensinando sobre higiene (FILHO, 2011).
As principais doenças importantes nesse período foram: a doença de Chagas, a 
tuberculose, doenças gastrointestinais, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis. 
Essas doenças manifestavam-se na forma de endemias, pois as ações de saúde não eram 
direcionadas a elas. Apesar de o governo ter incentivado algumas medidas de educação 
popular para outras doenças, essas continuavam sem investimento e não recebiam atenção 
suficiente para combatê-las (FILHO, 2011).
O governo seguinte, de Eurico Gaspar Dutra, ficou responsável por lidar com as 
exigências por atendimento à saúde dos trabalhadores, que representavam grande parcela 
da população urbana assalariada. Essa classe exigia atendimento à saúde, forçando a 
Previdência a prestar serviços médicos e hospitalares aos segurados. (FILHO, 2011).
Com o aumento da demanda de atendimento médico, houve diminuição da qualida-
de do serviço de saúde e os hospitais não davam mais conta de acomodar toda a população, 
que muitas vezes ficava sem atendimento ou recebia atendimento de má qualidade. O setor 
privado passou a pressionar o governo para incentivar o desenvolvimento da assistência 
médica privada através do financiamento por empréstimos federais e assim, formaram-se 
redes de hospitais privados que atendiam os doentes que podiam pagar (ANDRADE et al., 
2017; FILHO, 2011).
Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde (MS), agora separado do Ministério da Edu-
cação. Devido à falta de verba e à situação política do período, o MS atuou de maneira pouco 
eficiente nos primeiros anos. Nesse período, os índices de mortalidade estavam altos comparados 
aos de outros países e a expectativa de vida dos brasileiros, baixíssima (FILHO, 2011). 
A alta taxa de mortalidade infantil exigiu atenção do MS em 1956, que voltou sua 
atenção à assistência às crianças. As medidas tomadas foram o aumento de serviços de hi-
giene e postos de puericultura, que tinham o objetivo de acompanhar e vacinar as crianças, 
além de oferecerassistência às mães (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Apesar das 
ações de saúde desenvolvidas, as crianças continuavam morrendo por doenças intestinais 
associadas ao consumo de água poluída, visto que ainda não existia de sistemas de trata-
mento e distribuição de água e coleta de esgoto nas regiões mais pobres.
24UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
O período a seguir foi marcado pelo regime militar, e o governo focou seus 
investimentos nos ministérios militares, de transportes, indústria e comércio, enquanto 
os ministérios da saúde, educação e agricultura recebiam pouca atenção. As principais 
doenças que acometiam a população eram a dengue, cólera, tuberculose, doença de 
chagas e meningite.
O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi fundado e realizou convênios 
com hospitais particulares para que estes passassem a atender a classe de trabalhadores. 
No entanto, esse tipo de convênio começou a mostrar problemas porque o governo pagava 
muito pouco pelos serviços médicos, além de atrasar a transferência de recursos. Nesse 
contexto, surgiram fraudes envolvendo serviços médicos, na tentativa de receber o paga-
mento do governo, e isso contribuiu para deterioração da assistência médica prestada aos 
trabalhadores (FILHO, 2011). 
A solução encontrada para melhorar a assistência médica foi utilizar a estratégia 
chamada medicina de grupo, que marcou o início das companhas de seguro-saúde. As 
próprias empresas incentivadas pelo desejo de diminuir o número de trabalhadores afas-
tados por motivo de doença firmaram com contratos com grupos médicos. Ao invés de 
pagar a cota previdenciária, comprometiam-se a prestar assistência médica diretamente 
aos funcionários, recebendo subsídios do governo (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
As ideias do movimento de Reforma Sanitária surgiram com maior força na década 
de 70. Algumas propostas de Medicina Comunitária e de Atenção Primária à Saúde (APS) 
ajudaram a estabelecer que o oferecimento de serviços de saúde devesse ser tratado de 
forma institucionalizada, e não como caridade (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Na década de 80, a criação do Plano CONASP (Plano de Reorientação da Assis-
tência à Saúde no âmbito da Previdência Social) e implantação dos AIS (Ações Integradas 
de Saúde), o sistema de assistência à saúde passou a destinar recursos financeiros às 
prefeituras municipais, facilitando a organização da assistência à saúde advinda do Estado 
(ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Apesar do fim da ditadura, a falta crônica de verba destinada à saúde causou con-
sequências duradouras. A volta da democracia permitiu a luta da população por direitos de 
melhores condições de vida. Esse período ficou marcado pelo aumento de faculdades de 
medicina e pela criação de Conselhos Populares de Saúde, que buscavam melhorias de 
saneamento básico e criação de centros de saúde nas comunidades mais carentes.
25UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
Em 1987, surgiu uma proposta de criar um sistema que integrasse a rede de 
serviços de saúde públicos e privados e que contribuísse na consolidação dos AIS. Esse 
sistema teria o nome de Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), porém, 
não chegou a ser colocado em práticas principalmente devido à resistência desenvolvida 
por empresas particulares que não aceitavam submeter-se a esse sistema.
 A Constituição de 1988 surgiu para consolidar todas essas mudanças e completar 
o movimento de Reforma Sanitária, determinando que a assistência à saúde fosse ofereci-
da pelo Estado de forma pública sem a participação de empresas particulares, através do 
Sistema Único de Saúde (SUS) (ANDRADE et al., 2017). Além disso, o Estado não deixa 
de ser o responsável pela saúde da população atendida pelo serviço de assistência seja 
prestado pelo setor privado.
SAIBA MAIS
O processo de evolução científica contou com a participação de personagens ilustres e 
muito importantes no processo de construção do serviço de assistência à saúde. O link 
a seguir traz informações sobre a biografia de figuras importantes da história da saúde 
coletiva: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html.
Fonte: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Centro Cultural de Saúde. Revista da Vacina: Personalida-
des. 2021. Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html.
 
REFLITA 
 
“A sensação de bem-estar não implica que a doença esteja efetivamente ausente. Já o 
sentir-se mal significaria sempre ausência de saúde”.
Fonte: (IMMANUEL KANT, 1993, In: PAIM e FILHO, 2014).
http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html
26UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
O pensamento acima do filósofo Immanuel Kant foi produzido sob o contexto de 
compreensão e esclarecimento sobre o que é saúde. Reflita sobre essa frase. Como esse 
pensamento pode ser interpretado utilizando termos mais técnicos e atuais? 
Observe que na verdade, o filósofo fez uma analogia entre saúde, doença sinto-
mática e assintomática. Ao dizer que a sensação de bem-estar não implica que a doença 
esteja efetivamente ausente, poderíamos interpretar que a ausência de sintomas implica 
em um quadro assintomático, e não necessariamente de saúde. Afinal, várias doenças, 
principalmente na fase inicial, não produzem sintomas evidentes. No período de pré-pa-
togênese do modelo de história natural da doença, temos essa fase inicial instalando-se. 
Apesar de classificarmos tudo para facilitar os estudos, esses processos ocorrem 
de forma contínua e em alguns casos simultânea. À medida que o indivíduo é exposto, as 
alterações bioquímicas vão estabelecendo-se inicialmente sem sintomas até evoluir para a 
doença sintomática. Isso explica a segunda parte da frase, na qual ele diz que o sentir-se 
mal sempre significaria ausência de saúde, ressaltando que a presença de sintomas estará 
sempre associada à doença.
27UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da nossa primeira unidade e nela conhecemos alguns pontos 
que esclarecem sobre a complexidade de estudo da saúde coletiva e promoção da saúde. 
Dificilmente conseguiríamos compreender como a saúde coletiva funciona observando 
apenas um ponto de cada vez, afinal, todos eles ocorrem de forma simultânea no processo 
saúde-doença. 
O modelo de história natural da doença ilustra muito bem como é importante pensar 
com a mente aberta e voltada para todas essas possíveis conexões. Os acontecimentos 
históricos pontuados aqui mostraram que a saúde coletiva foi estruturada de acordo com a 
necessidade de saúde de cada época, país, dos recursos disponíveis e do comprometimen-
to do Estado, à medida que alguns avanços científicos e tecnológicos foram alcançados, 
tornou-se possível esclarecimento de muitos pontos que poderiam ser melhorados. 
O trabalho conjunto de diferentes filósofos, cientistas, pesquisadores e ativistas 
contribuíram para explicar como as doenças estavam ligadas tanto à questão biológica 
como também à situação socioeconômica. E para compilar todas essas informações foi 
necessário o uso da epidemiologia, que passou a identificar os principais problemas e faci-
litar o direcionamento de soluções através da implantação de medidas de saúde. A maioria 
destas resumia-se em medidas de promoção de saúde, que buscavam passar informações 
essenciais à população para evitar que as doenças progredissem. 
Também podemos refletir que, apesar de todos os avanços as melhorias só se tor-
naram possíveis depois do envolvimento do Estado. Ao avaliar os aspectos históricos que 
abordamos, compreendemos que o envolvimento ocorreu de forma gradual e impulsionado 
pelo interesse econômico. E à medida que as coisas evoluíram, a população passou a exigir 
por seus direitos, forçando o Estado a desenvolver algumas políticas que proporcionavam 
bem-estar da classe trabalhadora. Com a ajuda dapopulação no direcionamento de interes-
ses e necessidades, o Estado precisou ser capaz de reunir e aplicar todo o conhecimento 
de forma acessível para todos. 
Essa linha de raciocínio ocorreu para diferentes lugares do mundo, canalizando o 
processo em um ponto comum: a reforma sanitária. Apesar da similaridade no processo 
histórico, cada região apresenta algumas particularidades que podem ser relevantes para 
explicar como a política de saúde pública se desenvolveu em cada país. Considerando que 
nosso principal foco de atenção é o Brasil, a partir de agora, vamos focar nossos estudos 
na construção e aperfeiçoamento do nosso sistema de saúde.
28UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
LEITURA COMPLEMENTAR 1
 
A lepra é uma doença que causou terror à humanidade, pois as medidas de saúde 
tomadas para contenção de suas epidemias eram trágicas e tirou a liberdade e a vida de 
muitas pessoas. A evolução da assistência à saúde contribuiu para mudar a abordagem de 
controle dessa doença para melhor. Hoje em dia, é chamada de Hanseníase e o tratamento 
é oferecido através da rede pública de saúde. 
Acesse os links a seguir e observe como mudou a abordagem de promoção à 
saúde dessa doença. 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml
https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hanseniase#
https://www.youtube.com/watch?v=OfCV8vLnq2o
 
 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml
https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hanseniase
https://www.youtube.com/watch?v=OfCV8vLnq2o
29UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
LEITURA COMPLEMENTAR 2
 
O artigo a seguir discute alguns aspectos históricos da educação em saúde e como 
isso ocorreu no mundo, inclusive no Brasil. Para acessar o artigo na íntegra, acesse o link: 
https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html.
https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html
30UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título: A Saúde Coletiva - Teoria e Prática (2014)
Autores: Paim, J. S.; Filho, N. D.
Editora: MedBook.
Sinopse: O foco do livro está centrado nas necessidades e proble-
mas de saúde das populações e nas respostas sociais organizadas 
para a atenção, intervenção e superação dessa problemática e 
seus desdobramentos. (AMAZON, 2020).
FILME / VÍDEO 
Título: A Peste Negra na Idade Média – Documentário History 
Channel Brasil
Ano: Desconhecido.
Sinopse: Considerada castigo divino, a peste negra (peste bubôni-
ca) foi uma das maiores epidemias que assolou a humanidade. No 
início de 1330 o primeiro foco da peste bubônica aconteceu na 
China. A peste afeta principalmente roedores, mas suas pulgas 
podem transmitir a doença para as pessoas. Uma vez infectada, 
o contagio a outras pessoas ocorre de maneira extremamente 
rápida. A peste causa febre e um inchaço doloroso das glândulas 
linfáticas chamadas de bulbos, daí o seu nome. A doença pode 
também causar manchas na pele que apresentam primeiramente 
uma cor avermelhada e então se torna negra. Como a China era 
uma das maiores nações comerciais, foi só uma questão de tempo 
até que a epidemia da peste se espalhasse pela Ásia oriental e 
pela Europa. Suas descobertas provocaram uma verdadeira revo-
lução do pensamento humano, com interpretações filosóficas das 
mais diversas tendências. (YOUTUBE, 2017).
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk.
https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk
31
Plano de Estudo:
● Histórico e implantação do SUS;
● Princípios, diretrizes e atribuições do SUS; 
● Níveis e redes de atenção à saúde.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os princípios e diretrizes do SUS;
● Conhecer os objetivos, atribuições e o campo de atuação do sistema de saúde;
● Compreender o modo de funcionamento e os serviços do SUS;
● Estabelecer a importância da aplicação dos princípios no modelo de redes de atenção.
UNIDADE II
O Sistema Único de Saúde
Professora Me. Andressa Lorena Ieque
32UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 32UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
INTRODUÇÃO
Olá caro (a) aluno(a)! Agora que já conceituamos saúde e compreendemos o 
contexto da sua aplicação para o bem da sociedade, podemos progredir para a segunda 
unidade da disciplina, na qual iremos compreender toda a estrutura e funcionamento do 
nosso sistema de saúde pública, o Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesta unidade, continuaremos a linha de raciocínio da unidade anterior e veremos 
a criação do SUS após todo caminho percorrido no contexto de evolução da saúde. Nesse 
sentido, conheceremos os principais aspectos históricos envolvidos na criação e a estrutu-
ração desse sistema, além de todo o seu processo de implantação. 
A seguir, vamos descrever as características do SUS, através da apresentação de 
suas diretrizes e princípios. Também analisaremos o seu campo de atuação, ressaltando 
suas atribuições, serviços oferecidos e seus principais objetivos, de acordo com os docu-
mentos de regem o modo de funcionamento desse sistema.
Por fim, estudaremos como esse sistema é colocado em prática através de uma organi-
zação que classifica o atendimento em níveis de atenção e oferece os diversos serviços através 
das redes de atenção. Assim, poderemos compreender como essa ferramenta possibilita a 
aplicação das diretrizes e princípios desse sistema no âmbito da assistência à saúde.
33UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 33UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
1. HISTÓRICO E IMPLANTAÇÃO DO SUS
 
A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) representou um grande avanço 
para a modernização do serviço de saúde no Brasil. O novo cenário foi instituído em 1990, 
mas nasceu de uma sequência de acontecimentos históricos anteriores que incentivaram 
a criação de um sistema capaz de oferecer assistência à saúde para a população. Vamos 
pontuar alguns desses acontecimentos para entender como eles estão relacionados com 
os princípios, diretrizes e modo de funcionamento do SUS.
A evolução do sistema de saúde no mundo, inclusive no Brasil, compartilha de um 
momento histórico em comum que impulsionou o conhecimento tecnológico, científico e 
produziu mudanças mais marcantes na administração da saúde pública. Esse momento 
ocorreu a partir do início do século XIX, no contexto de ascensão do capitalismo e da 
revolução industrial. Ambos incentivaram a criação de fábricas e indústrias visando o cres-
cimento econômico de cada país.
Por um lado, a industrialização trouxe muitos problemas associados à saúde, 
mas por outro fez render bons frutos, pois forçou a população se organizar para lutar por 
direitos e fazer exigências de assistência à saúde. De modo geral, o padrão desses pro-
blemas surgiu de um crescimento desordenado das cidades pela migração de pessoas 
em busca de trabalho. Nesse contexto, foram surgindo problemas sanitários associados 
às condições de moradia e higiene que impactaram a saúde de trabalhadores e também 
o seu rendimento no trabalho.
Ao desviarmos nosso olhar para o Brasil, observamos esse padrão principalmente 
em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que representavam os principais centros de 
produtividade. 
34UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 34UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
FIGURA 1 - CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE MORADIA
Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).
Em seu trabalho fotográfico, Souza (1925) evidencia as condições precárias de mo-
radia, sem ventilação e iluminação (Figura 1). Além disso, ressalta no texto a seguir sobre 
as deficiências no abastecimento de água e na rede de esgotos nos cortiços em São Paulo. 
Nesta capital a rede de esgotos, embora ridícula, em relação à área edifica-
da, já é por demais extensa para a quantidade de água de que dispomos, 
sobretudo nas estações calmosas e, assim, se explicaobservarem-se em 
vários pontos da cidade latrinas completamente cheias de resíduos fecais, 
verdadeiras fossas abertas, nauseantes e imundas, que tanto favorecem a 
veiculação de moléstias. (SOUZA, 1925, p. 109)
Observe as fotos a seguir de cortiços que surgiram na cidade de São Paulo que 
demonstra o espaço e forma de viver dos seus habitantes (Figura 2). 
FIGURA 2 - CORTIÇO EM SÃO PAULO 
 
Fonte: REZENDE et al., 2006.
35UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 35UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
A Figura 2 realça as roupas estendidas, paredes desgastadas e um espaço peque-
no compartilhado por numerosas famílias, evidenciado pela quantidade de portas, janelas 
e crianças descalças expostas às ruas e ao risco de contaminação por doenças pela falta 
de higiene e problemas sanitários desses locais (REZENDE et al., 2006).
A situação de aglomerados em que as comunidades eram formadas facilitava 
a disseminação de doenças infecciosas, associadas também à escassez de higiene e 
de sistema de esgoto. Como nessa época o Estado não oferecia um serviço de saúde 
público e essas pessoas não tinham condições para pagar elas acabavam não recebendo 
atendimento médico, e isso culminava no aumento da morbidade e a mortalidade, princi-
palmente da população pobre. 
Essas doenças impediam a população de trabalhar e prejudicava a ascensão das 
fábricas e indústrias, e consequentemente, do país. A preocupação com a mão de obra fez 
com que o governo começasse a dar maior atenção a esses problemas e tentasse criar 
planos de combate contra as enfermidades que prejudicavam a vida produtiva. Na tentativa 
de melhorar essa situação, o governo fortaleceu práticas sanitárias que visavam combater 
problemas coletivos que favoreciam o desenvolvimento de doenças. 
Com o crescimento da classe operária, foi necessário oferecer benefícios aos traba-
lhadores, inclusive no que dizia respeito à assistência médica. Para garantir serviços médicos 
e hospitalares, os órgãos previdenciários precisaram firmar contratos com o setor privado 
porque a demanda era muito alta. O atraso de recursos e fraudes atrapalhou esses convênios 
e marcou o início da medicina de grupo, mais conhecidos hoje como planos de saúde.
O Ministério da Saúde desenvolveu algumas ações voltadas para crianças, mães 
e puérperas visando combater a mortalidade infantil que apresentava números altos. A 
intenção era oferecer serviços de higiene e realizar a vacinação de crianças, além de dar 
atendimento às gestantes (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
FIGURA 3 - FOTO DE UMA EDUCADORA SANITÁRIA PASSANDO INFORMAÇÕES 
SOBRE A EDUCAÇÃO DOMÉSTICA DOS FILHOS E FISCALIZANDO A PREPARAÇÃO DE 
ALIMENTOS NAS ESCOLAS 
Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).
 
36UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 36UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
As escolas também eram foco de ações de atenção primária em saúde, na qual 
foram desenvolvidas atividades que incentivavam a higiene e cuidados com a preparação 
de alimentos. Uma vez que as doenças infecciosas de cunho sanitário muitas vezes são 
transmitidas pela água ou alimentos não tratados, o cuidado com os alimentos mostrava ser 
um ponto importante a ser melhorado (Figura 3 e 4). 
FIGURA 4 - CRIANÇAS ENFILEIRADAS ENQUANTO UMA EDUCADORA ENSINA A 
CUIDAREM DA HIGIENE PESSOAL COM FOCO NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS 
Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006).
 
A volta da democracia após o período de censura da ditadura incentivou a população 
a organizar-se para lutar por melhorias. O crescimento da classe médica, e a formação de 
grupos compostos por profissionais da saúde, sanitaristas e outros unificou os interesses 
em relação à saúde. Os Conselhos Populares de Saúde foram criados com a intenção de 
desenvolver ações voltadas principalmente para melhorias relacionadas ao saneamento 
básico e assistência médica em comunidades carentes.
Esse olhar voltado para comunidades que exigiam maior atenção ficou conhecido 
como medicina comunitária, na qual era colocada em prática através de ações de atenção 
primária. Essa atenção era focada principalmente em ações preventivas, como vinha sendo 
desenvolvido também pelo Ministério da Saúde anteriormente com foco em mães e crianças. 
37UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 37UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
A reforma sanitária foi firmada em um processo de redemocratização e de movimen-
tos sociais que buscavam construir os ideais de assistência à saúde, que se relacionavam 
com algumas concepções da medicina comunitária. Esse compartilhamento idealizações 
fez com que ambos os movimentos contribuíssem para o fortalecimento um do outro (PAIVA 
e TEIXEIRA, 2014). 
A partir da aplicação desses dois princípios (medicina comunitária e reforma sanitá-
ria), o oferecimento de serviços de saúde passou a ser tratado de forma institucionalizada, 
e não mais com sentido de caridade humanitária (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011).
Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde que reuniu diferentes setores 
da sociedade e incluiu os seguintes temas de discussão:
● Dever do Estado e direito do cidadão no tocante à saúde; a reformulação 
do sistema nacional de saúde; e o financiamento do setor.
● Temas específicos, como a hierarquização dos cuidados médicos segun-
do sua complexidade e especialização, e a participação popular nos ser-
viços de saúde.
● Principais demandas do movimento sanitarista: fortalecer o setor público 
de saúde, expandir a cobertura a todos os cidadãos e integrar a medici-
na previdenciária à saúde pública, constituindo assim um sistema único 
(PAIM, 2008; PAIVA e TEIXEIRA, 2014).
Essas discussões culminaram na criação de um projeto de reforma sanitária, que 
foi encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Junto com esse projeto, foi encami-
nhado a proposta de criação de um sistema de saúde que visava integrar os serviços de 
saúde públicos e privados. Esse sistema seria o Sistema Único Descentralizado de Saúde 
(SUDS), porém, o seu projeto de criação recebeu forte resistência de empresas particulares. 
O projeto de reforma sanitária direcionou para a criação de uma nova constituição 
e de um sistema de saúde que não envolvia a participação do setor privado e, por isso, 
o SUDS nunca foi colocado em prática. A constituição de 1988 implementou mudanças 
significativas no papel do Estado, instituindo que a partir de então a saúde deveria ser 
tratada como um direito de todos e um dever do Estado.
Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante 
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para 
sua promoção, proteção e recuperação”. (BRASIL, 1988, online)
Além disso, a constituição também estabelece a criação do Sistema Único de Saú-
de (SUS) através do exposto no artigo 198:
 
38UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 38UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as 
seguintes diretrizes:
 I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
 II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, 
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
 III - participação da comunidade.
 Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do 
art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Es-
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (BRASIL, 
1988, online)
A criação do SUS teve seu desfecho em 1990, com a criação das leis número 
8.080 e 8.142. A lei 8.080 especifica o modo de funcionamento do SUS ao dispor sobre a 
direção, gestão, objetivos e atribuições, princípios e diretrizes, financiamento, planejamento 
e orçamento, além de discorrer sobre os serviçosprivados. Já a lei 8.142 dispõe sobre 
participação da comunidade na gestão do sistema e também sobre as transferências de 
recursos financeiros na área da saúde, surgindo como um complemento da lei 8.080. (BRA-
SIL, 1990a; BRASIL, 1990b).
A lei 8.142 estabelece instâncias colegiadas envolvidas no controle social, que são 
a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde, que como vimos anteriormente tiveram 
papel fundamental no processo de construção do movimento de reforma sanitária e mais 
tarde foram eternizadas como constituintes do SUS (BRASIL, 1990b).
No próximo tópico desta unidade, conheceremos de modo detalhado sobre todas 
as características do SUS expostos nessas leis citadas anteriormente, vale destacar aqui, 
que mesmo as empresas particulares não foram integradas na atuação do SUS, o estado 
ficou como responsável por regulamentar e fiscalizar os serviços de saúde oferecido pela 
iniciativa privada.
 
39UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 39UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
2. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E ATRIBUIÇÕES DO SUS
 
À medida que conhecemos todos os pontos em que o SUS está relacionado com 
a área da saúde, podemos afirmar que toda pessoa provavelmente faz uso desse sistema. 
Nas situações em que não utilizamos o SUS para obter assistência médica ou hospitalar, 
ainda assim estamos em contato com a assistência epidemiológica, sanitária ou ambiental. 
Portanto, o simples fato de alguém beber uma água tratada já classificaria este alguém 
como um usuário do SUS.
Neste tópico, iremos conhecer as diretrizes, os princípios, o campo de atuação e 
os objetivos desse sistema, e a partir disso, ficará ainda mais fácil pontuar e compreender 
como os serviços que utilizamos estão interligados ao SUS. 
 
2.1 Objetivos, campo de atuação e atribuições
A lei 8.080 de 19 de novembro de 1990 estabelece que o SUS deve atender aos 
seguintes objetivos:
I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes 
da saúde;
II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos 
econômico e social;
III - A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção 
e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais 
e das atividades preventivas. (BRASIL, 1990a, online).
40UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 40UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
Esses objetivos devem ser cumpridos dentro do campo de atuação do SUS, co-
locando em prática ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalho 
e de assistência terapêutica integral, incluindo a farmacêutica. Os fatores condicionantes 
e determinantes de saúde estão diretamente associados com estudos epidemiológicos e 
serão abordados com maior detalhamento na última unidade.
Além disso, também cabe ao SUS a participação em políticas de saneamento 
básico, o incremento do desenvolvimento científico e tecnológico, a formação de recursos 
humanos na área da saúde na fiscalização e controle de serviços, produtos e outras subs-
tâncias relacionadas à saúde (BRASIL, 1990a). 
Considerando o interesse do SUS em promover serviços de vigilância sanitária, 
epidemiológica, saúde do trabalhador e do ambiente, vamos compreender como cada um 
desses atuam dentro de um serviço maior de vigilância em saúde (Quadro 1). A vigilância 
sanitária é definida como um conjunto de ações que buscam diminuir os riscos à saúde 
causados por problemas associados ao meio ambiente, produção e circulação de bens ou 
prestação de serviços de interesse da saúde (BRASIL, 2019).
No Brasil, é representada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 
que é responsável por inspecionar alimentos, bebidas de consumo humano, medicamen-
tos, cosméticos, saneantes e produtos, estabelecimentos e serviços de saúde que podem 
comprometer a segurança do paciente (BRASIL, 2019).
A vigilância epidemiológica preocupa-se em realizar ações que visa a adoção de 
medidas para prevenção e controle de doenças ou agravos através da observação do 
perfil epidemiológico da população. As suas ações incluem: investigação das principais 
causas de mortes por grupos específicos, coordenação, execução e incentivo de ações de 
alimentação e nutrição, monitoramento e análise dos casos de doenças transmissíveis ou 
crônicas, acidentes, violências ou agravos em geral, inclusive no âmbito hospitalar, além de 
promover ações de saúde e criar planos de contingência (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021).
A vigilância ambiental é definida como um conjunto de ações que monitoram fatores 
do meio ambiente que podem interferir na saúde, buscando implementar medidas que dimi-
nuam esses riscos e previnam de doenças ou agravos. Esta vigilância preocupa-se com a 
qualidade da água, do ar, do solo, desastres naturais e acidentes com produtos perigosos, 
além do controle de vetores de doenças (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021). 
A vigilância em saúde do trabalhador ou ocupacional busca diminuir os riscos 
que os trabalhadores estão expostos, e os casos de morbidade e mortalidade associa-
dos a esses riscos. A saúde ocupacional abrange os acidentes de trabalho ou doenças 
profissionais, estudos de controle de riscos, fiscalização e controle das condições de 
trabalho e informação e garantia de o sindicato intervir sob uma situação de risco (BRA-
SIL, 2019; BRASIL, 2021).
41UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 41UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
Alguns riscos que podemos pontuar relacionados ao trabalho são as exposições à 
produtos químicos tóxicos, corrosivos ou cancerígenos, o desenvolvimento de ações repe-
titivas ou posturas que podem ocasionar problemas a longo prazo, ou ainda, os acidentes 
por manusear equipamentos perigosos e exposição à ambientes com risco de queda ou 
outros tipos de acidentes.
O quadro a seguir resume as ações de cada um dos tipos de vigilância compreen-
didos pela vigilância em saúde:
 
QUADRO 1 - PRINCIPAIS TIPOS DE VIGILÂNCIA E SUAS AÇÕES 
NO ÂMBITO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Vigilância em saúde Ação
Vigilância sanitária Inspeção de produtos e serviços de saúde, incluin-
do alimentos, bebidas, medicamentos, cosméti-
cos, saneantes e produtos e estabelecimentos de 
saúde.
Vigilância epidemiológica Investigação de causas de mortes;
Coordenação, execução e incentivo de ações de 
alimentação e nutrição;
Monitoramento e análise dos casos de doenças, 
acidentes, violências ou agravos;
Ações de promoção da saúde;
Criação de planos de contingência.
Vigilância ambiental Qualidade da água, solo e ar;
Controle de desastres naturais, acidentes e de ve-
tores de doenças.
Vigilância em saúde do 
trabalhador
Diminuição de riscos e dos casos de morbimortali-
dade associados ao trabalho. 
Fonte: A autora (2021).
Esses serviços de vigilância já ilustram muito bem como as pessoas utilizam o SUS 
independente da busca ao atendimento médico ou hospitalar. Ao observamos cada tipo de 
vigilância que é incluída no campo de atuação do SUS, podemos perceber que o conjunto 
contribui para alcançar uma atenção à saúde que seja o mais completa possível.
Além disso, também, podemos usá-las de exemplo para exemplificar o cumprimen-
to de objetivos previstos na lei 8.080. Todas as vigilâncias são baseadas na investigação 
dos fatores condicionantes e determinantes de saúde abordados no inciso I do artigo 5, e 
contribuem diretamente para a formulação de políticas de saúde do inciso II. E por fim, o 
inciso III discorre justamente sobre a atenção completa ressaltando as ações de promoção, 
proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990a).
42UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 42UNIDADE II O Sistema Único de Saúde
No caso das vigilâncias, as ações de promoção e proteção são desenvolvidas em 
maior proporção do que as ações assistenciais e de recuperação de saúde, pois estas são 
oferecidas por outros tipos de serviços que envolvem o atendimento médico, de diagnóstico 
ou de tratamento, ou ainda, de serviços

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