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Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Professora Me. Andressa Lorena Ieque Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP L616s Leque, Andressa Lorena Saúde coletiva e promoção da saúde / Andressa Lorena Leque. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 127 p. : il. Color. 1. Saúde pública - Brasil. 2. Sistema Único de Saúde. 3. Promoção da saúde. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 614.0981 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORA Professora Me. Andressa Lorena Ieque ● Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Estadual de Maringá); ● Doutorado em andamento (Universidade Estadual de Maringá); ● Bacharel em Biomedicina (UEM); ● Professor de pós-graduação na Faculdade Eficaz; ● Docente de cursos de graduação Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição na UniFatecie. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4780393744371602 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar agora uma jornada de conhecimento na disciplina de Saúde coletiva e Promoção da saúde. Juntos, iremos compreender o modo geral o funcio- namento da saúde pública de nosso país, algumas particularidades do sistema de saúde e processo de construção de como os serviços de assistência à saúde chegam até a população. Na unidade I, definiremos alguns conceitos importantes relacionados à saúde e a história natural das doenças. Nesse contexto, será feita uma contextualização de como a epidemiologia está intimamente interligada com a promoção da saúde. Além disso, conhe- ceremos também um pouco da história da saúde no mundo e no Brasil, para entender o processo de evolução sanitária até os dias atuais. Na unidade II começaremos o estudo sobre o modo de funcionamento do nosso sistema de saúde público, o Sistema Único de Saúde (SUS), desde a sua implantação. Alguns movimentos históricos serão ressaltados, pois eles explicam os motivos pelos quais o SUS atua sob alguns princípios e diretrizes. Ainda nessa unidade, serão apresentadas algumas classificações de atenção à saúde, e como elas são organizadas na distribuição de serviços de acordo com os princípios e diretrizes do SUS. Na unidade III continuaremos caracterizando o serviço público de saúde, dando destaque para uma de suas principais estratégias de assistência à saúde: a estratégia saúde da família. Nesse sentido, vamos definir quais profissionais fazem parte dessa estra- tégia, como eles atuam, em quais locais, suas principais fontes e formas de financiamentos e também seus principais desafios. Na unidade IV, complementaremos o nosso aprendizado sobre saúde coletiva atra- vés de noções de epidemiologia. Vamos conhecer também sobre os sistemas de informação e como eles contribuem para o funcionamento do SUS, permitem o estudo de doenças e implantação de estratégias de saúde pública que proporcionam melhorias coletivas. Espero contribuir para a sua formação profissional, além de proporcionar o desenvol- vimento de uma visão crítica e reflexiva sobre o funcionamento dos serviços de saúde pública. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde UNIDADE II ................................................................................................... 31 O Sistema Único de Saúde UNIDADE III .................................................................................................. 53 A Equipe Saúde da Família e seus Núcleos de Apoio UNIDADE IV .................................................................................................. 84 Noções de Epidemiologia 3 Plano de Estudo: ● Conceitos importantes de saúde e história natural da doença; ● Contextualização da epidemiologia e promoção da saúde; ● Cronologia histórica da saúde coletiva no mundo e no Brasil. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a saúde coletiva ao que diz respeito à aplicação da promoção da saúde e da epidemiologia; ● Compreender os diferentes conceitos de saúde e a abordagem de um modelo de história natural da doença; ● Estabelecer a importância de fatores sociais, políticos, econômicos e culturais para o estado de saúde individual e coletivo; ● Conhecer os aspectos históricos da evolução da saúde coletiva no contexto de surgimento da Reforma sanitária. UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Professora Me. Andressa Lorena Ieque 4UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde INTRODUÇÃO Olá caro (a) aluno (a)! A partir de agora daremos início à disciplina Saúde coletiva e promoção à saúde. Nesta primeira unidade, faremos uma breve introdução sobre nosso campo de estudo através da abordagem de uma diversidade de conhecimentos que integram a saúde coletiva. Nesse sentido, iremos destacar os principais fatores que podem influenciar diretamente ou indiretamente o estado de saúde de um indivíduo ou de toda uma sociedade. Para compreendermos tudo isso de forma integral, o primeiro tópico buscará de- finir alguns conceitos e ideias importantes aplicados na área da saúde. Dessa forma será fornecida uma base de conhecimento teórico para posterior aplicação na compreensão de conhecimentos mais específicos e práticos de saúde pública. Nos próximos tópicos, vamos apontar alguns acontecimentos históricos que de alguma forma contribuíram para o progresso do campo de estudo da saúde coletiva, e como, principalmente ideias de promoção da saúde, nortearam a implementação de novas políticas de saúde no mundo e no Brasil. 5UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 1. CONCEITOS DE SAÚDE E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA A saúde coletiva é um campo de estudo muito complexo, que envolve conhecimen- tos diversos relacionados à saúde individual e da coletividade. Para compreendê-la, será necessário levar em consideração muitos fatores que se interconectam parao estabeleci- mento de um estado de saúde. Esses fatores comumente são chamados de “determinantes sociais, políticos, econômicos e culturais e estão associados ao meio em que os indivíduos se encontram na convivência como sociedade, influenciando diretamente ou indiretamente na saúde de forma geral (PAIM e FILHO, 2014; MOTA e SCHRAIBER, 2015). Quando falamos em saúde individual, estamos nos referindo à saúde de uma pessoa considerando esta como um ser único e independente. Já no que diz respeito à saúde coletiva, consideramos a saúde de todas as pessoas que estão compartilhando o mesmo ambiente para viver em sociedade. As duas abordagens são muito importantes, de forma que ao considerar o individual estamos valorizando as particularidades de cada um, geralmente relacionadas a fatores biológicos, enquanto o coletivo estudará a interação de todos outros fatores que podem implicar na saúde de um grupo de pessoas. Neste contexto, a saúde coletiva busca assimilar todo esse conjunto de informa- ções para estabelecer e aplicar políticas e práticas de saúde que culminem na promoção da saúde e prevenção de doença e outros agravos. A figura abaixo representa de forma resumida os principais componentes da saúde coletiva: 6UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde FIGURA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DA SAÚDE COLETIVA Fonte: O autor (2021). Ao refletirmos sobre a diversidade de fatores envolvidos na definição de saúde co- letiva, poderíamos classificá-la então como um campo de estudo muito variável e mutável. Podemos imaginar, então, a diversidade de ambientes que existem no mundo e como cada fator contribuirá de forma singular para estabelecer um estado final de saúde. Toda essa reflexão é muito heterogênea e, por isso, precisamos assimilar cada um desses pontos e como eles interagem para compreender de fato a saúde coletiva. Nesse sentido, res- saltamos a importância de iniciar o nosso conteúdo introduzindo alguns desses conceitos importantes que servirão como suporte para aplicação de conhecimentos práticos no futuro. Seguindo a figura como base para definição dos conceitos mais importantes, va- mos definir agora o que é promoção e prevenção. A promoção pode ser definida em um conceito mais amplo ou mais restrito, no conceito mais amplo, a promoção da saúde é um processo que tem como objetivo alcançar e manter um estado de bem-estar na vida das pessoas e da comunidade. Já no conceito mais restrito, a promoção da saúde está ligada à compreensão e prática de ações preventivas para evitar o surgimento de doenças específicas (ANDRADE et al., 2017). A prevenção representa um conjunto de medidas aplicadas de forma precoce com fim de evitar que algo aconteça. Ao observamos o conceito mais restrito, a prevenção está interligada à promoção da saúde, de forma que através dessas ações de prevenção pode- mos evitar que doenças atrapalhassem esse estado de bem-estar social (ANDRADE et al., 2017; PREVENÇÃO, 2021). 7UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde A maioria dos componentes da saúde coletiva (Figura 1) já foram definidas, mas ainda falta pensarmos sobre a definição da palavra “saúde”. Apesar de aparecer no topo da figura, deixamos essa definição para o final e isso não foi por acaso, mas sim por motivo de exigir uma atenção ainda maior. Então, afinal, o que é saúde? Seria fácil ou difícil para você defini-la? O conceito de saúde é concreto ou depende do ponto de vista? A definição de saúde faz parte de um processo maior que representa o progresso na área da saúde coletiva, e que foi construído com o passar dos anos principalmente através da observação de práticas direcionadas ao combate de doenças. Esse processo contou com a participação de muitos pesquisadores e filósofos, que contribuíram para estabelecer com maior clareza alguns conceitos e ideias importantes no âmbito da promoção à saúde. Nesse contexto, temos duas vertentes conceituais para definir o que é saúde, a vertente filosófica e a de fenômeno natural, que veremos a seguir. 1.1 Vertente filosófica O processo de definição de saúde iniciou na antiguidade e contou com diversos pensamentos filosóficos como o citado acima. Vamos conhecer alguns desses pensamen- tos e como eles contribuíram para o processo de definição do conceito de saúde. Iniciando com o filósofo Platão, este defendia que a definição de saúde era uma oposição entre virtude e vício. A virtude relacionava-se com a saúde, a beleza e uma boa dis- posição de ânimo, enquanto o vício referia-se à doença, feiura ou fraqueza. O filósofo René Descartes defendia que a saúde era resultado da união e confusão entre mente e corpo, em que sensações de dor, sofrimento, sede, fome e felicidade eram tão importantes quanto o funcionamento do corpo, considerando seus órgãos e sistemas (PAIM e FILHO, 2014). Immanuel Kant contribuiu com duas perspectivas diferentes, a perspectiva tera- pêutica e a dietética. A terapêutica referia-se à clínica associada à doença, de forma que a supressão ou eliminação da doença era o ponto principal a ser levado em consideração. Já na dietética, Kant ressalta a prevenção associada à saúde, defendendo a aplicação da racionalidade científica para evitar a ocorrência da doença (PAIM e FILHO, 2014). Georges Canguilhem discorreu sobre a doença estar relacionada ao patológico, que significava o contrário de sadio. Para ele, a saúde era individual, privada e subjetiva, sendo que sua validação deveria ser realizada através do contato entre o doente e o seu médico. Sua linha de defesa dificultava a valorização da saúde como ciência, pois não seria possível determinar a saúde pela aplicação de instrumentos e protocolos padronizados (PAIM e FILHO, 2014). 8UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde O filósofo Hans-Georg Gadamer desenvolveu pensamentos similares aos de Can- guilhem, ressaltando que a saúde tinha caráter privado, pessoal e radicalmente subjetivo, e não poderia ser reduzida a um objeto da ciência. Em contrapartida, sua proposição de que “A saúde é inapelavelmente totalizante porque seu conceito indica diretamente integra- lidade ou totalidade”, contribuiu para um avanço na formulação alternativa de saúde como ciência (PAIM e FILHO, 2014). Apesar de considerar a saúde como subjetiva, Canguilhem também defendia que a saúde tinha relação com a genética, história de vida e relação do indivíduo com o meio. Neste sentido, a definição de saúde como subjetiva não impedia seu estudo como objeto científico e daí surgiu uma visão de saúde pública (científica), como complemento da saúde individual (subjetiva). Mais tarde, teríamos esse conceito aplicado ao que hoje chamamos de saúde coletiva (PAIM e FILHO, 2014). 1.2 Vertente de fenômeno natural Essas concepções filosóficas direcionaram o olhar para a saúde como fenômeno natural que pode ocorrer em diferentes níveis, o coletivo e o individual. O coletivo refere-se à saúde populacional e social, e o individual considera a subjetividade e a clínica do pa- ciente. A aplicação da ciência nesse contexto coletivo depende de outro campo de estudo denominado epidemiologia. No próximo tópico desta unidade, veremos como a epidemiologia considera a inte- ração de diversos fatores para determinar a instalação de saúde ou de doença, através da aplicação de análises matemáticas. A partir do século XIX, com a evolução científica e tecnológica, cada vez mais era possível o estudo da saúde através da utilização de métodos de pesquisa experimentais e também do desenvolvimento de disciplinas específicas, como por exemplo, a fisiologia e a imunologia. Desde tempos anteriores a esse período, existia uma linha de pensamento criada por Hipócrates, de que a saúde estava associada a um estado de equilíbrio enquanto a doença, a um estado de descompensação. Essa linha de pensamento foi confirmada por Claude Bernard, através de medicinaexperimental na área de fisiologia sistêmica. Através do estudo das bases moleculares, Bernard relacionou esse equilíbrio com a homeostase, um mecanismo de estabilidade utilizado pelo corpo humano para o desenvolvimento de funções fisiológicas. 9UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Outra perspectiva interessante na contribuição do conceito de saúde foi a de Darwin, que considerou o contexto da evolução para compreender doenças infecciosas. Para Darwin, a infecção era um acidente na competição entre duas espécies, na qual o início seria marca- do por uma enfermidade grave e até mesmo mortal, porém, evoluiria para um estado mais ameno devido à adaptação natural entre dois organismos após um período longo de tempo. Esse conceito explica algumas relações de parasitismo, oportunismo e comensalismo que são aplicados na compreensão de saúde na medicina moderna (PAIM e FILHO, 2014). Paim e Filho (2014) classificam as definições de saúde sob o contexto de fenômeno natural em quatro classes: a doença como excesso ou falta, a saúde como funcionalidade, a saúde como ausência de doença e a saúde como processo. Na doença como excesso ou falta, para estabelecer um estado de “não saúde”, devemos nos basear na exacerbação ou redução das funções normais. Um exemplo que ilustraria muito bem esse caso seria a doença diabete, no qual o seu diagnóstico e te- rapêutica baseia-se no aumento ou diminuição da concentração de glicose no sangue. Sob condições normais, um indivíduo deveria manter uma quantidade ideal de glicose no sangue, através de funções fisiológicas, para garantir o funcionamento de todos os outros sistemas interligados. Entretanto, na doença diabetes o indivíduo desenvolve alterações que impossibilita o controle dessa concentração, de forma que a glicose ocorrerá em excesso (hiperglicemia) ou falta (hipoglicemia) caracterizando um estado de desequilíbrio. Nesse caso, a cura da doença para estabelecer um estado de saúde é dependente do reequilíbrio dos processos metabólitos e sistêmicos, buscando a concentração ideal de glicose plasmática. Na saúde como funcionalidade, temos o termo saúde associado à normalidade e o termo doença à patologia. O termo funcionalidade relaciona-se ao funcionamento normal do organismo de forma eficiente para culminar em um estado normal, e consequentemente, saudável, em contrapartida, a patologia está associada à ineficiência da função normal. No caso da saúde como ausência de doença, a saúde individual é definida como uma capacidade ótima de desempenhar funções sociais devido à ausência de doença. No entanto, o conceito coletivo de saúde não é valorizado, visto que a definição enfatiza apenas os níveis individuais de saúde. Por fim, a saúde como processo baseia-se em modelos que tentam esquematizar as inter-relações dinâmicas entre determinantes sociais e características intrínsecas do indivíduo. Esse tipo de abordagem da saúde é o que representa de forma mais completa a realidade da saúde coletiva. Existem vários modelos diferentes, todos com relevante complexidade intrínseca, e por isso, vamos selecionar apenas um destes para entender o processo de saúde-doença: o modelo de História Natural da Doença (HND). 10UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 1.3 O modelo de História Natural da Doença O modelo de história natural da doença ilustra a evolução dos processos patológi- cos em dois períodos, o período de pré-patogênese e o de patogênese. O período pré-pa- togênese ocorre anteriormente ao período de patogênese, sendo que ambos se relacionam e se complementam. Na pré-patogênese, o sujeito está exposto a vários elementos que são determinantes para a instalação de doença. Esses elementos (agente, suscetibilidade e ambiente) interagem entre si para promover um estímulo ao indivíduo, que culminará na doença no período de patogênese (Figura 2). FIGURA 2 - DIAGRAMA DO MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Fonte: Adaptado de Leavel e Clark, 1976; Paim e Filho, 2014. Portanto, podemos definir o primeiro período como um estágio de preparação para a doença, em que o indivíduo se encontra não sintomático e não doente. Vale ressaltar que dentro de cada um desses elementos existem variáveis que devem ser levadas em conside- ração para determinar o estímulo. Por exemplo, o agente pode ser um animal, um parasita, uma bactéria ou uma toxina produzida por esta, entre outros que diferem muito entre si. 11UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde A suscetibilidade é intrínseca do indivíduo, além de em alguns casos depender do agente envolvido. Por exemplo, uma pessoa idosa naturalmente apresenta problemas de imunidade e consequentemente estará mais suscetível a desenvolver uma gripe grave após contato com um vírus (agente) que pode ser inofensivo para outras pessoas. O meio pode envolver fatores relacionados ao território geográfico e ainda fatores sociais, políticos, culturais e econômicos que podem afetar diretamente ou indiretamente na suscetibilidade individual. Por exemplo, um bairro pobre, condições precárias de higiene, de moradia e/ou alimentação, podem determinar um maior risco para desenvolvimento de doenças de cunho social. Casos de parasitoses intestinais podem acontecer com maior frequência em am- bientes que não apresentem condições básicas de higiene, como tratamento de água e rede de esgoto. Porém, não bastam as condições ambientais, sendo necessária a presença de um parasita para causar a doença. Nós poderíamos pensar em diversas situações di- ferentes ao mudar qualquer um dos fatores dos três elementos (agente, suscetibilidade e meio), mas não podemos nos esquecer de que um está interligado ao outro e a interação deles pode determinar estímulos diferentes. Todos esses fatores quando interagem criam um espaço heterogêneo e carac- terístico de cada região ou período. O diagrama facilita a organização de ideias, mas precisamos compreender onde cada elemento se encaixa. Após a integração de todos os elementos e o estimulo ter sido desencadeado, podemos partir para o período de pato- gênese, no qual observamos o início das alterações nos tecidos e sintomas da doença, determinando o horizonte clínico. Repare que o desfecho da doença pode ser recuperação ou cura, defeito ou invalidez (sequela) e morte. Poderíamos adicionar ainda, os casos de doenças que evoluem para a cronicidade. Até aqui, conseguimos visualizar a parte superior do diagrama, mas observe que abaixo desses dois períodos ainda temos os níveis de aplicação das medidas preventivas. A atenção primária preocupa-se com a promoção da saúde de forma a evitar o desenvolvimento de doenças, e por esse motivo, encontra-se logo no início pareado ao estado de pré-patogênese, no qual o indivíduo ainda não adoeceu. Neste ponto, podemos aplicar práticas de saúde que ajudem na prevenção de doenças. A prevenção primária nesse diagrama está dividida em promoção da saúde e proteção específica, de forma que o primeiro termo se refere ao desenvolvimento de práti- cas que incentivem a saúde de forma geral, como através do incentivo de uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos. 12UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Já o segundo termo, a proteção específica, refere-se a medidas direcionadas a um problema em particular. Para ilustrar essa medida preventiva específica, podemos utilizar o exemplo da pessoa idosa que ao ter sido exposta a um vírus poderia desenvolver um caso sério de gripe. Uma forma de evitar essa situação seria através de incentivar os idosos a utilizarem máscara quando fossem ficar expostos à ambientes com aglomeração de pes- soas, ou ainda, no caso da gripe temos a vacinação disponível no serviço público de saúde. Depois que o período de patogênese se inicia, observamos que a prevenção muda para a secundária. Isto acontece porque o indivíduo já contraiua doença e, portanto, de- vemos aplicar técnicas de diagnóstico e de tratamento imediato. Além disso, nos casos em que a doença determina algum tipo de sequela ou invalidez, precisamos desenvolver medidas que limitem essa incapacidade social. Por fim, temos a reabilitação do paciente buscando estabelecer todas as suas capacidades de forma mais completa possível para que ele consiga ter qualidade de vida. Veremos nas próximas unidades que essas medidas de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação envolvem várias características específicas, e em alguns casos, são classifi- cadas de forma diferente. A compreensão desse diagrama traz uma ideia de como a saúde coletiva é aplicada de forma ampla em nosso cotidiano. Durante os próximos tópicos vamos tentar reunir todas essas informações no contexto da área profissional da saúde. Vale ressaltar também que desde já conseguimos perceber a importância da comunicação multiprofissional, visto que cada elemento pode tornar-se muito complexo e lidar com eles de forma conjunta pode facili- tar a compreensão, além de contribuir para instalação de medidas de saúde mais completas. 13UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Neste tópico vamos conhecer um pouco sobre a história da saúde, explorando quais foram os principais fatores envolvidos no processo de evolução da saúde coletiva e como a epidemiologia e a promoção da saúde surgiram nesse contexto. Essa evolução ocorreu de forma natural e gradual com o passar do tempo, perante diferentes momentos políticos, sociais, econômicos e culturais que contribuíram na mudança no modo de pensar e nas ações de saúde. Por muito tempo, as antigas civilizações associaram o surgimento de doenças a causas naturais e divinas enviadas por Deuses como forma de punir o ser humano. Esse pensamento começou a mudar com os gregos, que desenvolveram um olhar mais racional e científico, e passaram a associar as causas das doenças ao clima e ao ambiente físico. Foi nessa época que surgiu o pensamento de que a doença era resultante do desequilíbrio entre algumas funções corporais e a natureza (ROSEN, 1994). Os médicos desse período trabalhavam com um olhar sanitarista e acreditavam que a saúde residia na harmonia entre o homem e o ambiente. Para eles, os fatores físicos do am- biente tinham forte influência sobre o corpo humana, além disso, também defendiam a prática da higiene e de uma nutrição equilibrada para manter uma vida saudável (ROSEN, 1994). Complementando esse modo de pensar, os romanos foram os principais respon- sáveis pelo aprimoramento de condições sanitárias através do desenvolvimento de um sistema de suprimento de água por aquedutos, que permitia o transporte e utilização de 14UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde água à distância. Esse sistema de suprimento permitiu a distribuição de água para fontes, banheiros e outras estruturas públicas, contribuindo para as necessidades básicas da vida civil (ROSEN, 1994). Graças às instalações públicas acessíveis, os romanos adquiriram o costume de tomar banho regularmente, sendo comum encontrar ambientes com salas para banhos. In- clusive, alguns autores defendem que algumas epidemias da época ocorreram com menor frequência e duração devido ao sistema de suprimento de água, ao cuidado com o destino de água de esgoto e também à prática de tomar banho (ROSEN, 1994). O período seguinte, conhecido como Idade Média, foi marcado por um pensa- mento baseado na cultura cristã e a pessoas buscavam combater as doenças através da religião. Além disso, os povos enfrentaram muitas epidemias graves que tiveram grande impacto na saúde pública, como a peste bubônica, a lepra, a varíola, a tuberculose e muitas outras (ROSEN, 1994). Apesar da forte crença de que as doenças estavam associadas ao pecado, outras ideias que surgiram também contribuíram para o avanço na área sanitária. A preocupa- ção da população em viver mais veio acompanhada de regulamentações como medidas preventivas acerca da higiene, nutrição, inspeção de alimentos, cuidados pessoais com habitação, limpeza e sono. Na área da nutrição, começaram a associar doenças com o consumo de alimentos estragados e instituíram como medida preventiva a inspeção de alimentos (ROSEN, 1994). Nessa época, a assistência médica evoluiu com a divisão da classe médica em clínicos, cirurgiões e itinerantes. Além disso, também surgiram construções de hospi- tais e instituições beneficentes para atender grupos especiais como idosos, homens, mulheres e crianças, marcando o início do que se concretizou mais tarde como grupos de atenção (ROSEN, 1994). O século XIX, também conhecido como Renascimento, é o período de maior crescimento para a área da saúde. O contexto da revolução tecnológica e industrial impul- sionou o estudo sobre o corpo humano e doenças e ficou marcado por teorias científicas importantes (ROSEN, 1994). A fisiologia e anatomia humana desenvolveram-se a partir de técnicas de disse- cação, e juntamente com a epidemiologia, ofereceu suporte para a descrição de doenças. E a partir daí, o caminho para implementação de medidas de controle de saúde pública específicas foi aberto e cada vez mais explorado (ROSEN, 1994). 15UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde O Estado começou a considerar que o bem-estar da sociedade era equivalente ao bem-estar do Estado, uma vez que uma população saudável representava maior produtivi- dade, contribuindo para o crescimento da indústria e consequentemente, do país como um todo. Nesse sentido, o Estado passou a buscar a aplicação de métodos estatísticos para análise dos problemas de saúde. O principal ponto de investigação correlacionava taxa de nascimentos e de mortes segundo as estações do ano e locais de moradia. Assim, a epidemiologia começou a ganhar mais força fundamentada no grande interesse econômico do Estado (ROSEN, 1994). O avanço de técnicas de isolamento e manuseio de organismos microscópicos permitiu o estudo de vários agentes e descobertas sobre mecanismos de transmissão de doenças infecciosas. Vários pesquisadores marcaram a história com contribuições relevan- tes, como Jacob Henle, Louis Pasteur, Antonie Villemin, Robert Koch, Joseph Lister, entre outros. Robert Koch foi o primeiro a elucidar a história natural de uma doença, provando todo o ciclo da tuberculose desde a sua origem microbiana e marcando o nascimento da bacteriologia (ROSEN, 1994). Louis Pasteur descobriu que era possível alterar a virulência dos micróbios e, baseado nos princípios da vacinação da varíola por Edward Jenner, passou a defender a prevenção de doenças através da produção de vacinas com cepas atenuadas de microrga- nismos. Nesse contexto, a imunologia ganhou força com a elucidação e desenvolvimento de testes diagnósticos e da imunização ativa e passiva, impulsionando vários estudos experimentais de vacinação (ROSEN, 1994). Baseado em estudos de Pasteur, Devaine e Koch, Joseph Lister associou organis- mos vivos a causas de infecções e mortes cirúrgicas. A partir disso, os desinfetantes quími- cos começaram a ser utilizados para assegurar um campo operatório estéril nas cirurgias, evoluindo para o princípio da assepsia que ajudou a saúde pública no controle de doenças transmissíveis (ROSEN, 1994). Os conceitos de portador humano e de vetor animal preencheram uma das últi- mas lacunas no esclarecimento de transmissão de doenças. Assim, foi descoberto que pessoas não doentes poderiam contribuir para o contágio de doenças e que esse contágio poderia ocorrer através de insetos e outros animais. Os ciclos de doenças passaram a ser elucidados de forma detalhada, permitindo a atenção em focos específicos para impedir a evolução das doenças. Essas observações permitiram desenvolver ações de promoção à saúde e de vigilância, unificandovários pontos da saúde coletiva (ROSEN, 1994). 16UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Agora que já contextualizamos como a epidemiologia e a promoção da saúde de- senvolveram-se no decorrer do processo evolutivo e histórico, vamos conhecer quais fatores influenciaram na transformação dos serviços de assistência à saúde e na criação de políticas públicas. Apesar do enredo dessa transformação, seguir o mesmo padrão em diferentes partes do mundo existem particularidades relevantes específicas do nosso país. Portanto, iremos dividir o nosso estudo cronológico da história da saúde no mundo e no Brasil. 17UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 3. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO MUNDO O século XIX representa o momento chave da revolução da saúde pública, sendo marcado por mudanças na administração da saúde pública e fundação do movimento sani- tário. O contexto histórico era o da Revolução Industrial, que ocorreu com grande força na Inglaterra e causou muitos efeitos nocivos, desencadeando movimentos de saúde pública de forma mais precoce nessa região. Por esse motivo, daremos ênfase aos acontecimentos da Inglaterra para entender o início da reforma sanitária no mundo. As fábricas e indústrias surgiram nas metrópoles e desencadearam a migração de muitos trabalhadores para essas cidades, em busca de trabalho. As condições de den- tro de fábricas e o desenvolvimento de centros urbanos sem planejamento trouxe novos problemas de saúde. Os mais pobres viviam em cortiços pequenos, amontoados e mal ventilados, em condições precárias e miseráveis. A maioria das casas não possuía privada e as práticas de higiene tornaram-se um problema insalubre, além de o Estado demonstrar pouco interesse em tomar medidas sanitárias. As doenças que ameaçavam o período eram principalmente a peste, a febre amarela e a varíola, entre estas, a varíola merece atenção especial, pois foi a principal responsável por causar altas taxas de mortalidade infantil. Daí surgiu a necessidade de combatê-la através da prevenção, seguindo os princípios do pioneiro da vacinação, o médico inglês Edward Jenner. 18UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Algumas outras doenças importantes eram a cólera, a disenteria e a febre tifoide, todas estas doenças intestinais transmitidas através de água e alimentos contaminados. A difteria, a escarlatina e o sarampo também tinham relação com as condições precárias de moradia e higiene, visto que aglomerados facilita a difusão e ocorrência de surtos. A luta contra os problemas trazidos pela industrialização na maioria das vezes surgia de um padrão que partia do reconhecimento de um mal social por um pequeno grupo influente, que se organizavam pautados em uma iniciativa, estudos, experimentos ou melhorias, e levava essa agitação até os olhos do governo. Desse movimento, esperava-se que o governo agisse de alguma forma, do contrário, recorria-se à legislação. Os primeiros movimentos surgiram da exigência de melhorias das condições de trabalho precárias e miseráveis nas minas e fábricas, além da proteção ao trabalho infantil. Várias associações e hospitais beneficentes foram criados com focos especiais de atendi- mento, como por exemplo, o Hospital de Londres que atendia principalmente manufaturei- ros, marinheiros e seus familiares, o Hospital de Middlesex para atendimento de pessoas com varíola e o Hospital de São Lucas, voltado para pacientes com doenças mentais. O Estado começou então a visualizar a necessidade de atenção à saúde da po- pulação pobre, uma vez que estes não tinham condições de pagar por serviços médicos, e representavam a mão de obra das indústrias. Em 1834, a Inglaterra aprovou a Lei dos Pobres, na qual o governo era responsável por dar assistência aos pobres. Com o tempo, perceberam que essa além dos custos altíssimos, contribuía para a diminuição da oferta de trabalhadores para a indústria, já que os pobres desempregados estavam sendo sustentados por essa lei. Assim, uma Nova Lei dos Pobres foi formulada, e a assistência passou a ser limitada a pessoas que não tivessem capacidade física de exercer o trabalho e aos que vivessem em situações mais miseráveis. Dentro dessa renovação da Lei dos Pobres, Edwin Chadwick propôs o uso de informações estatísticas para relacionar a saúde às condições sociais e físicas da vida dos pobres, com o intuito de prevenir de doenças, e consequentemente, melhorar o aspecto econômico. Nesse cenário de desamparo, imundície, pobreza e doença, impulsionada em sua maior parte pelo interesse econômico do governo, iniciou-se a reforma sanitária, pois preservar o trabalhador era essencial o crescimento industrial. Como vimos no tópico anterior, os estudos epidemiológicos de doenças estavam em alta e, através deles, era possível relacionar as condições de saúde com dados geo- gráficos sobre o clima e modo de vida dos habitantes. Com esse campo já relativamente desenvolvido, as doenças podiam ser estudadas de forma direcionada e, em seguida, campanhas de saúde poderiam ser aplicadas com foco específico. 19UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde O ponto que marcou esse início da reforma sanitário foi justamente a aplicação de inquéritos populacionais, em que Chadwick especificou os achados e descreveu quais ações deveriam ser tomadas para resolver os problemas. As medidas propostas resultantes dessa análise foram as seguintes: ● O estabelecimento de corpos de saúde em comunidades urbanas; ● A nomeação de um inspetor nas cidades grandes, que fosse responsável por exigir o cumprimento das regras sanitárias; ● A aprovação de um ato de sistema de esgotos; ● A aprovação de um ato para regular as construções futuras; ● Atenção especial para o sistema de abastecimento de água, que deveria ser amplo e inspecionado (ROSEN, 1994, p. 174). Após muitas investigações, foi apresentada a recomendação de uma nova legis- lação, surgindo uma proposta de que o governo seria o responsável por regulamentar a situação sanitária de todas as comunidades urbanas. Apesar de todo o conhecimento adquirido sobre os problemas sanitários, a falta de instrumento administrativo impedia que esses problemas fossem solucionados. Havia a necessidade de um departamento central de saúde que organizasse o processo de mudança. Assim, criaram o Conselho do Governo Local e aprovaram o Ato de Saúde Pública, que dividiu o país em distritos sanitários que deveriam ser supervisionados pelo Conselho do Governo Local. Esse sistema foi o primeiro a demonstrar capacidade suficiente para combater os problemas de saúde pública (ROSEN, 1994). Concomitantemente a essa organização da administração pública, surgiram as Associações de saúde das cidades, que eram constituídas por um grupo de médicos e leigos, que lutaram pela correção dos problemas da vida urbana através do apoio público. Por fim, o sistema administrativo estava organizado de uma forma eficaz e as asso- ciações formadas por sanitaristas tinham grande influências sobre os órgãos governamen- tais, contribuindo com conselhos para melhorias de saúde. Foi apenas nesse momento, que ações visando melhoria da saúde pública começaram a acontecer com maior força, pois nos momentos anteriores, apesar do conhecimento teórico, pouco era colocado em prática. Esse processo de reforma sanitária difundiu-se para outros lugares além da Ingla- terra, alcançando a Europa e a América, a Alemanha, a França, Bélgica, Prússia e outros Estados continentais. De modo geral, o desenvolvimento da reforma sanitária, nesses ou- tros países foi impulsionado pelos mesmos problemas encontrados na Inglaterra, como as condições insalubres das comunidades que estavam se formando nas cidades em busca de trabalho, que levavam à disseminação de doenças (ROSEN, 1994). 20UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde A saúdemoderna organizou-se no âmbito mundial sobre o fato de que o Estado deve ser responsável pela saúde pública, contando com a participação da comunidade, seguindo duas regras principais. A primeira diz respeito organização do Estado em depar- tamentos e conselhos nacionais de saúde pública, para garantir a eficiência na conciliação de recursos. E a segunda, suporta-se no planejamento de ações de saúde baseadas em estudos epidemiológicos. Em 1948, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS) por iniciativa da Orga- nização das Ações Unidas (ONU), com o objetivo de promover o acesso universal à saúde, considerando o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. As ações de saúde devem ser voltadas para melhorias no saneamento, na área familiar, de capacitação de profissionais da área da saúde, no fortalecimento dos serviços médicos e na luta contra doenças. 21UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 4. CRONOLOGIA HISTÓRICA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL A história da saúde no Brasil foi marcada por acontecimentos semelhantes aos abordados na cronologia histórica da saúde coletiva no mundo. Para compilar as informa- ções, iremos ressaltar os acontecimentos similares e destacar alguns particulares do nosso país que são importantes para compreender o nosso modelo de assistência à saúde atual. A proclamação da República despertou o espírito capitalista no Brasil, no qual as decisões políticas eram fortemente influenciadas por pessoas de classe alta envolvidas na economia. A medicina tinha um olhar sanitarista e a epidemiologia já era utilizada para examinar o ambiente físico e social da população urbana. No contexto de epidemias de varíola, febre amarela, peste bubônica, febre tifoide e cólera, o governo tentava promover medidas de higiene pública intermediadas por médicos sanitaristas. Oswaldo Cruz foi um médico sanitarista, bacteriologista e epidemiologista que repre- senta uma das figuras mais importantes desse período, colocando-se a frente do combate das principais epidemias que atingiam o Rio de Janeiro e contribuindo para erradicá-las. Pautado na preocupação da economia de cidades portuárias, o serviço sanitário recebia grande investimento. As doenças infectocontagiosas passaram a ser notificadas obrigato- riamente e as ruas, casas, fábricas, hospitais e cemitérios passaram a ser fiscalizados. Nesse contexto, os centros de pesquisa começar a surgir com maior força para dar suporte ao serviço sanitário, porém, esse progresso acontecia nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto o restante do país enfrentava os problemas com escassez 22UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde de recursos e de atenção do governo. Além disso, o homem do campo também vivia sob condições precárias de atenção e essa realidade foi representada na obra de Monteiro Lobato pelo personagem Jeca Tatu, que transparecia a situação do homem rural brasileiro através de um homem fraco, desanimado e enfermo. A preocupação com a mão de obra iniciou com foco em projetos voltados à saúde, educação, alimentação, habitação e trabalho, chamados de políticas de saúde ou sociais. Os investimentos em água tratada e esgotos ocorriam de forma lenta e gradual nos centros urbanos, e mais adiante, refletiram na diminuição de doenças epidêmicas e óbitos. Assim como na Inglaterra, o processo de Revolução Industrial foi determinante para o início da reforma sanitária no Brasil. Por volta de 1930, o investimento do Estado era focado na expansão da produção, principalmente nos grandes centros, São Paulo e Rio de Janeiro. Esses estados, portanto, foram os primeiros a sentirem o efeito nocivo da Revolução Industrial, e consequentemente, evoluir nas práticas de saúde. A desigualdade social era muito evidente, de forma que os mais pobres viviam em condições precárias de moradia e de higiene. A chegada de imigrantes incentivados pelo trabalho agravou essas condições, surgindo cortiços e favelas marcados pelo aumento das doenças infecciosas. A história da saúde no Brasil foi fortemente marcada por decisões políticas dos governos desse período. No governo de Vargas, tendo em vista a reforma dos serviços sanitários que já ocorriam em outros lugares do mundo, surgiu o Ministério da Educação e da Saúde Pública (MESP). As ações do MESP eram voltadas à centralização político-administrativa, na qual os médicos foram quase que totalmente excluídos das decisões sanitárias, que ficaram nas mãos de políticos e burocratas. Além disso, a preocupação com a classe trabalhadora surgiu baseada na necessi- dade do governo em obter apoio social, culminando na criação dos Institutos de Aposenta- dorias e Pensões (IAPs). Os IAPs forneciam serviços de assistência médica e seguridade social aos funcionários e a seus dependentes, em troca de contribuições mensais. A concepção de seguro social vigente nesse período assegurava os seguintes benefícios: aposentadoria, pensão e alguns outros serviços, como assistência médica e hospitalar e socorros farmacêuticos (FILHO, 2011). Em 1934, a nova Constituição passou a oferecer outros direitos aos trabalhadores, entre estes a assistência médica, a licença remunerada à gestante e a jornada de trabalho de 8 horas. Quase 10 anos depois, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que instituiu o salário mínimo, indenização aos acidentados, tratamento médico aos doen- tes, férias remuneradas, entre outros benefícios à classe operária (FILHO, 2011). 23UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde As medidas de educação em saúde tornaram-se mais fortes a partir de 1938, atra- vés de ações do MESP baseada na preocupação com os hábitos de higiene da população. Algumas campanhas de educação popular foram feitas através da divulgação de informa- ções pelo rádio, panfletos, cartazes, e até mesmo enfermeiras sanitárias, que percorriam bairros ensinando sobre higiene (FILHO, 2011). As principais doenças importantes nesse período foram: a doença de Chagas, a tuberculose, doenças gastrointestinais, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis. Essas doenças manifestavam-se na forma de endemias, pois as ações de saúde não eram direcionadas a elas. Apesar de o governo ter incentivado algumas medidas de educação popular para outras doenças, essas continuavam sem investimento e não recebiam atenção suficiente para combatê-las (FILHO, 2011). O governo seguinte, de Eurico Gaspar Dutra, ficou responsável por lidar com as exigências por atendimento à saúde dos trabalhadores, que representavam grande parcela da população urbana assalariada. Essa classe exigia atendimento à saúde, forçando a Previdência a prestar serviços médicos e hospitalares aos segurados. (FILHO, 2011). Com o aumento da demanda de atendimento médico, houve diminuição da qualida- de do serviço de saúde e os hospitais não davam mais conta de acomodar toda a população, que muitas vezes ficava sem atendimento ou recebia atendimento de má qualidade. O setor privado passou a pressionar o governo para incentivar o desenvolvimento da assistência médica privada através do financiamento por empréstimos federais e assim, formaram-se redes de hospitais privados que atendiam os doentes que podiam pagar (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde (MS), agora separado do Ministério da Edu- cação. Devido à falta de verba e à situação política do período, o MS atuou de maneira pouco eficiente nos primeiros anos. Nesse período, os índices de mortalidade estavam altos comparados aos de outros países e a expectativa de vida dos brasileiros, baixíssima (FILHO, 2011). A alta taxa de mortalidade infantil exigiu atenção do MS em 1956, que voltou sua atenção à assistência às crianças. As medidas tomadas foram o aumento de serviços de hi- giene e postos de puericultura, que tinham o objetivo de acompanhar e vacinar as crianças, além de oferecerassistência às mães (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Apesar das ações de saúde desenvolvidas, as crianças continuavam morrendo por doenças intestinais associadas ao consumo de água poluída, visto que ainda não existia de sistemas de trata- mento e distribuição de água e coleta de esgoto nas regiões mais pobres. 24UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde O período a seguir foi marcado pelo regime militar, e o governo focou seus investimentos nos ministérios militares, de transportes, indústria e comércio, enquanto os ministérios da saúde, educação e agricultura recebiam pouca atenção. As principais doenças que acometiam a população eram a dengue, cólera, tuberculose, doença de chagas e meningite. O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi fundado e realizou convênios com hospitais particulares para que estes passassem a atender a classe de trabalhadores. No entanto, esse tipo de convênio começou a mostrar problemas porque o governo pagava muito pouco pelos serviços médicos, além de atrasar a transferência de recursos. Nesse contexto, surgiram fraudes envolvendo serviços médicos, na tentativa de receber o paga- mento do governo, e isso contribuiu para deterioração da assistência médica prestada aos trabalhadores (FILHO, 2011). A solução encontrada para melhorar a assistência médica foi utilizar a estratégia chamada medicina de grupo, que marcou o início das companhas de seguro-saúde. As próprias empresas incentivadas pelo desejo de diminuir o número de trabalhadores afas- tados por motivo de doença firmaram com contratos com grupos médicos. Ao invés de pagar a cota previdenciária, comprometiam-se a prestar assistência médica diretamente aos funcionários, recebendo subsídios do governo (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). As ideias do movimento de Reforma Sanitária surgiram com maior força na década de 70. Algumas propostas de Medicina Comunitária e de Atenção Primária à Saúde (APS) ajudaram a estabelecer que o oferecimento de serviços de saúde devesse ser tratado de forma institucionalizada, e não como caridade (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Na década de 80, a criação do Plano CONASP (Plano de Reorientação da Assis- tência à Saúde no âmbito da Previdência Social) e implantação dos AIS (Ações Integradas de Saúde), o sistema de assistência à saúde passou a destinar recursos financeiros às prefeituras municipais, facilitando a organização da assistência à saúde advinda do Estado (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Apesar do fim da ditadura, a falta crônica de verba destinada à saúde causou con- sequências duradouras. A volta da democracia permitiu a luta da população por direitos de melhores condições de vida. Esse período ficou marcado pelo aumento de faculdades de medicina e pela criação de Conselhos Populares de Saúde, que buscavam melhorias de saneamento básico e criação de centros de saúde nas comunidades mais carentes. 25UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde Em 1987, surgiu uma proposta de criar um sistema que integrasse a rede de serviços de saúde públicos e privados e que contribuísse na consolidação dos AIS. Esse sistema teria o nome de Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), porém, não chegou a ser colocado em práticas principalmente devido à resistência desenvolvida por empresas particulares que não aceitavam submeter-se a esse sistema. A Constituição de 1988 surgiu para consolidar todas essas mudanças e completar o movimento de Reforma Sanitária, determinando que a assistência à saúde fosse ofereci- da pelo Estado de forma pública sem a participação de empresas particulares, através do Sistema Único de Saúde (SUS) (ANDRADE et al., 2017). Além disso, o Estado não deixa de ser o responsável pela saúde da população atendida pelo serviço de assistência seja prestado pelo setor privado. SAIBA MAIS O processo de evolução científica contou com a participação de personagens ilustres e muito importantes no processo de construção do serviço de assistência à saúde. O link a seguir traz informações sobre a biografia de figuras importantes da história da saúde coletiva: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html. Fonte: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Centro Cultural de Saúde. Revista da Vacina: Personalida- des. 2021. Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html. REFLITA “A sensação de bem-estar não implica que a doença esteja efetivamente ausente. Já o sentir-se mal significaria sempre ausência de saúde”. Fonte: (IMMANUEL KANT, 1993, In: PAIM e FILHO, 2014). http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/personalidades.html 26UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde O pensamento acima do filósofo Immanuel Kant foi produzido sob o contexto de compreensão e esclarecimento sobre o que é saúde. Reflita sobre essa frase. Como esse pensamento pode ser interpretado utilizando termos mais técnicos e atuais? Observe que na verdade, o filósofo fez uma analogia entre saúde, doença sinto- mática e assintomática. Ao dizer que a sensação de bem-estar não implica que a doença esteja efetivamente ausente, poderíamos interpretar que a ausência de sintomas implica em um quadro assintomático, e não necessariamente de saúde. Afinal, várias doenças, principalmente na fase inicial, não produzem sintomas evidentes. No período de pré-pa- togênese do modelo de história natural da doença, temos essa fase inicial instalando-se. Apesar de classificarmos tudo para facilitar os estudos, esses processos ocorrem de forma contínua e em alguns casos simultânea. À medida que o indivíduo é exposto, as alterações bioquímicas vão estabelecendo-se inicialmente sem sintomas até evoluir para a doença sintomática. Isso explica a segunda parte da frase, na qual ele diz que o sentir-se mal sempre significaria ausência de saúde, ressaltando que a presença de sintomas estará sempre associada à doença. 27UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa primeira unidade e nela conhecemos alguns pontos que esclarecem sobre a complexidade de estudo da saúde coletiva e promoção da saúde. Dificilmente conseguiríamos compreender como a saúde coletiva funciona observando apenas um ponto de cada vez, afinal, todos eles ocorrem de forma simultânea no processo saúde-doença. O modelo de história natural da doença ilustra muito bem como é importante pensar com a mente aberta e voltada para todas essas possíveis conexões. Os acontecimentos históricos pontuados aqui mostraram que a saúde coletiva foi estruturada de acordo com a necessidade de saúde de cada época, país, dos recursos disponíveis e do comprometimen- to do Estado, à medida que alguns avanços científicos e tecnológicos foram alcançados, tornou-se possível esclarecimento de muitos pontos que poderiam ser melhorados. O trabalho conjunto de diferentes filósofos, cientistas, pesquisadores e ativistas contribuíram para explicar como as doenças estavam ligadas tanto à questão biológica como também à situação socioeconômica. E para compilar todas essas informações foi necessário o uso da epidemiologia, que passou a identificar os principais problemas e faci- litar o direcionamento de soluções através da implantação de medidas de saúde. A maioria destas resumia-se em medidas de promoção de saúde, que buscavam passar informações essenciais à população para evitar que as doenças progredissem. Também podemos refletir que, apesar de todos os avanços as melhorias só se tor- naram possíveis depois do envolvimento do Estado. Ao avaliar os aspectos históricos que abordamos, compreendemos que o envolvimento ocorreu de forma gradual e impulsionado pelo interesse econômico. E à medida que as coisas evoluíram, a população passou a exigir por seus direitos, forçando o Estado a desenvolver algumas políticas que proporcionavam bem-estar da classe trabalhadora. Com a ajuda dapopulação no direcionamento de interes- ses e necessidades, o Estado precisou ser capaz de reunir e aplicar todo o conhecimento de forma acessível para todos. Essa linha de raciocínio ocorreu para diferentes lugares do mundo, canalizando o processo em um ponto comum: a reforma sanitária. Apesar da similaridade no processo histórico, cada região apresenta algumas particularidades que podem ser relevantes para explicar como a política de saúde pública se desenvolveu em cada país. Considerando que nosso principal foco de atenção é o Brasil, a partir de agora, vamos focar nossos estudos na construção e aperfeiçoamento do nosso sistema de saúde. 28UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde LEITURA COMPLEMENTAR 1 A lepra é uma doença que causou terror à humanidade, pois as medidas de saúde tomadas para contenção de suas epidemias eram trágicas e tirou a liberdade e a vida de muitas pessoas. A evolução da assistência à saúde contribuiu para mudar a abordagem de controle dessa doença para melhor. Hoje em dia, é chamada de Hanseníase e o tratamento é oferecido através da rede pública de saúde. Acesse os links a seguir e observe como mudou a abordagem de promoção à saúde dessa doença. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hanseniase# https://www.youtube.com/watch?v=OfCV8vLnq2o https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lepra-a-maldicao-divina.phtml https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hanseniase https://www.youtube.com/watch?v=OfCV8vLnq2o 29UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde LEITURA COMPLEMENTAR 2 O artigo a seguir discute alguns aspectos históricos da educação em saúde e como isso ocorreu no mundo, inclusive no Brasil. Para acessar o artigo na íntegra, acesse o link: https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html. https://docplayer.com.br/6180416-Educacao-em-saude-aspectos-historicos-no-brasil.html 30UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: A Saúde Coletiva - Teoria e Prática (2014) Autores: Paim, J. S.; Filho, N. D. Editora: MedBook. Sinopse: O foco do livro está centrado nas necessidades e proble- mas de saúde das populações e nas respostas sociais organizadas para a atenção, intervenção e superação dessa problemática e seus desdobramentos. (AMAZON, 2020). FILME / VÍDEO Título: A Peste Negra na Idade Média – Documentário History Channel Brasil Ano: Desconhecido. Sinopse: Considerada castigo divino, a peste negra (peste bubôni- ca) foi uma das maiores epidemias que assolou a humanidade. No início de 1330 o primeiro foco da peste bubônica aconteceu na China. A peste afeta principalmente roedores, mas suas pulgas podem transmitir a doença para as pessoas. Uma vez infectada, o contagio a outras pessoas ocorre de maneira extremamente rápida. A peste causa febre e um inchaço doloroso das glândulas linfáticas chamadas de bulbos, daí o seu nome. A doença pode também causar manchas na pele que apresentam primeiramente uma cor avermelhada e então se torna negra. Como a China era uma das maiores nações comerciais, foi só uma questão de tempo até que a epidemia da peste se espalhasse pela Ásia oriental e pela Europa. Suas descobertas provocaram uma verdadeira revo- lução do pensamento humano, com interpretações filosóficas das mais diversas tendências. (YOUTUBE, 2017). Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk. https://www.youtube.com/watch?v=L2-HoovP-Dk 31 Plano de Estudo: ● Histórico e implantação do SUS; ● Princípios, diretrizes e atribuições do SUS; ● Níveis e redes de atenção à saúde. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os princípios e diretrizes do SUS; ● Conhecer os objetivos, atribuições e o campo de atuação do sistema de saúde; ● Compreender o modo de funcionamento e os serviços do SUS; ● Estabelecer a importância da aplicação dos princípios no modelo de redes de atenção. UNIDADE II O Sistema Único de Saúde Professora Me. Andressa Lorena Ieque 32UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 32UNIDADE II O Sistema Único de Saúde INTRODUÇÃO Olá caro (a) aluno(a)! Agora que já conceituamos saúde e compreendemos o contexto da sua aplicação para o bem da sociedade, podemos progredir para a segunda unidade da disciplina, na qual iremos compreender toda a estrutura e funcionamento do nosso sistema de saúde pública, o Sistema Único de Saúde (SUS). Nesta unidade, continuaremos a linha de raciocínio da unidade anterior e veremos a criação do SUS após todo caminho percorrido no contexto de evolução da saúde. Nesse sentido, conheceremos os principais aspectos históricos envolvidos na criação e a estrutu- ração desse sistema, além de todo o seu processo de implantação. A seguir, vamos descrever as características do SUS, através da apresentação de suas diretrizes e princípios. Também analisaremos o seu campo de atuação, ressaltando suas atribuições, serviços oferecidos e seus principais objetivos, de acordo com os docu- mentos de regem o modo de funcionamento desse sistema. Por fim, estudaremos como esse sistema é colocado em prática através de uma organi- zação que classifica o atendimento em níveis de atenção e oferece os diversos serviços através das redes de atenção. Assim, poderemos compreender como essa ferramenta possibilita a aplicação das diretrizes e princípios desse sistema no âmbito da assistência à saúde. 33UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 33UNIDADE II O Sistema Único de Saúde 1. HISTÓRICO E IMPLANTAÇÃO DO SUS A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) representou um grande avanço para a modernização do serviço de saúde no Brasil. O novo cenário foi instituído em 1990, mas nasceu de uma sequência de acontecimentos históricos anteriores que incentivaram a criação de um sistema capaz de oferecer assistência à saúde para a população. Vamos pontuar alguns desses acontecimentos para entender como eles estão relacionados com os princípios, diretrizes e modo de funcionamento do SUS. A evolução do sistema de saúde no mundo, inclusive no Brasil, compartilha de um momento histórico em comum que impulsionou o conhecimento tecnológico, científico e produziu mudanças mais marcantes na administração da saúde pública. Esse momento ocorreu a partir do início do século XIX, no contexto de ascensão do capitalismo e da revolução industrial. Ambos incentivaram a criação de fábricas e indústrias visando o cres- cimento econômico de cada país. Por um lado, a industrialização trouxe muitos problemas associados à saúde, mas por outro fez render bons frutos, pois forçou a população se organizar para lutar por direitos e fazer exigências de assistência à saúde. De modo geral, o padrão desses pro- blemas surgiu de um crescimento desordenado das cidades pela migração de pessoas em busca de trabalho. Nesse contexto, foram surgindo problemas sanitários associados às condições de moradia e higiene que impactaram a saúde de trabalhadores e também o seu rendimento no trabalho. Ao desviarmos nosso olhar para o Brasil, observamos esse padrão principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que representavam os principais centros de produtividade. 34UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 34UNIDADE II O Sistema Único de Saúde FIGURA 1 - CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE MORADIA Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006). Em seu trabalho fotográfico, Souza (1925) evidencia as condições precárias de mo- radia, sem ventilação e iluminação (Figura 1). Além disso, ressalta no texto a seguir sobre as deficiências no abastecimento de água e na rede de esgotos nos cortiços em São Paulo. Nesta capital a rede de esgotos, embora ridícula, em relação à área edifica- da, já é por demais extensa para a quantidade de água de que dispomos, sobretudo nas estações calmosas e, assim, se explicaobservarem-se em vários pontos da cidade latrinas completamente cheias de resíduos fecais, verdadeiras fossas abertas, nauseantes e imundas, que tanto favorecem a veiculação de moléstias. (SOUZA, 1925, p. 109) Observe as fotos a seguir de cortiços que surgiram na cidade de São Paulo que demonstra o espaço e forma de viver dos seus habitantes (Figura 2). FIGURA 2 - CORTIÇO EM SÃO PAULO Fonte: REZENDE et al., 2006. 35UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 35UNIDADE II O Sistema Único de Saúde A Figura 2 realça as roupas estendidas, paredes desgastadas e um espaço peque- no compartilhado por numerosas famílias, evidenciado pela quantidade de portas, janelas e crianças descalças expostas às ruas e ao risco de contaminação por doenças pela falta de higiene e problemas sanitários desses locais (REZENDE et al., 2006). A situação de aglomerados em que as comunidades eram formadas facilitava a disseminação de doenças infecciosas, associadas também à escassez de higiene e de sistema de esgoto. Como nessa época o Estado não oferecia um serviço de saúde público e essas pessoas não tinham condições para pagar elas acabavam não recebendo atendimento médico, e isso culminava no aumento da morbidade e a mortalidade, princi- palmente da população pobre. Essas doenças impediam a população de trabalhar e prejudicava a ascensão das fábricas e indústrias, e consequentemente, do país. A preocupação com a mão de obra fez com que o governo começasse a dar maior atenção a esses problemas e tentasse criar planos de combate contra as enfermidades que prejudicavam a vida produtiva. Na tentativa de melhorar essa situação, o governo fortaleceu práticas sanitárias que visavam combater problemas coletivos que favoreciam o desenvolvimento de doenças. Com o crescimento da classe operária, foi necessário oferecer benefícios aos traba- lhadores, inclusive no que dizia respeito à assistência médica. Para garantir serviços médicos e hospitalares, os órgãos previdenciários precisaram firmar contratos com o setor privado porque a demanda era muito alta. O atraso de recursos e fraudes atrapalhou esses convênios e marcou o início da medicina de grupo, mais conhecidos hoje como planos de saúde. O Ministério da Saúde desenvolveu algumas ações voltadas para crianças, mães e puérperas visando combater a mortalidade infantil que apresentava números altos. A intenção era oferecer serviços de higiene e realizar a vacinação de crianças, além de dar atendimento às gestantes (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). FIGURA 3 - FOTO DE UMA EDUCADORA SANITÁRIA PASSANDO INFORMAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DOMÉSTICA DOS FILHOS E FISCALIZANDO A PREPARAÇÃO DE ALIMENTOS NAS ESCOLAS Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006). 36UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 36UNIDADE II O Sistema Único de Saúde As escolas também eram foco de ações de atenção primária em saúde, na qual foram desenvolvidas atividades que incentivavam a higiene e cuidados com a preparação de alimentos. Uma vez que as doenças infecciosas de cunho sanitário muitas vezes são transmitidas pela água ou alimentos não tratados, o cuidado com os alimentos mostrava ser um ponto importante a ser melhorado (Figura 3 e 4). FIGURA 4 - CRIANÇAS ENFILEIRADAS ENQUANTO UMA EDUCADORA ENSINA A CUIDAREM DA HIGIENE PESSOAL COM FOCO NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS Fonte: (VASCONCELLOS e RODRIGUES, 2006). A volta da democracia após o período de censura da ditadura incentivou a população a organizar-se para lutar por melhorias. O crescimento da classe médica, e a formação de grupos compostos por profissionais da saúde, sanitaristas e outros unificou os interesses em relação à saúde. Os Conselhos Populares de Saúde foram criados com a intenção de desenvolver ações voltadas principalmente para melhorias relacionadas ao saneamento básico e assistência médica em comunidades carentes. Esse olhar voltado para comunidades que exigiam maior atenção ficou conhecido como medicina comunitária, na qual era colocada em prática através de ações de atenção primária. Essa atenção era focada principalmente em ações preventivas, como vinha sendo desenvolvido também pelo Ministério da Saúde anteriormente com foco em mães e crianças. 37UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 37UNIDADE II O Sistema Único de Saúde A reforma sanitária foi firmada em um processo de redemocratização e de movimen- tos sociais que buscavam construir os ideais de assistência à saúde, que se relacionavam com algumas concepções da medicina comunitária. Esse compartilhamento idealizações fez com que ambos os movimentos contribuíssem para o fortalecimento um do outro (PAIVA e TEIXEIRA, 2014). A partir da aplicação desses dois princípios (medicina comunitária e reforma sanitá- ria), o oferecimento de serviços de saúde passou a ser tratado de forma institucionalizada, e não mais com sentido de caridade humanitária (ANDRADE et al., 2017; FILHO, 2011). Em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde que reuniu diferentes setores da sociedade e incluiu os seguintes temas de discussão: ● Dever do Estado e direito do cidadão no tocante à saúde; a reformulação do sistema nacional de saúde; e o financiamento do setor. ● Temas específicos, como a hierarquização dos cuidados médicos segun- do sua complexidade e especialização, e a participação popular nos ser- viços de saúde. ● Principais demandas do movimento sanitarista: fortalecer o setor público de saúde, expandir a cobertura a todos os cidadãos e integrar a medici- na previdenciária à saúde pública, constituindo assim um sistema único (PAIM, 2008; PAIVA e TEIXEIRA, 2014). Essas discussões culminaram na criação de um projeto de reforma sanitária, que foi encaminhado à Assembleia Nacional Constituinte. Junto com esse projeto, foi encami- nhado a proposta de criação de um sistema de saúde que visava integrar os serviços de saúde públicos e privados. Esse sistema seria o Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS), porém, o seu projeto de criação recebeu forte resistência de empresas particulares. O projeto de reforma sanitária direcionou para a criação de uma nova constituição e de um sistema de saúde que não envolvia a participação do setor privado e, por isso, o SUDS nunca foi colocado em prática. A constituição de 1988 implementou mudanças significativas no papel do Estado, instituindo que a partir de então a saúde deveria ser tratada como um direito de todos e um dever do Estado. Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. (BRASIL, 1988, online) Além disso, a constituição também estabelece a criação do Sistema Único de Saú- de (SUS) através do exposto no artigo 198: 38UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 38UNIDADE II O Sistema Único de Saúde As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Es- tados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (BRASIL, 1988, online) A criação do SUS teve seu desfecho em 1990, com a criação das leis número 8.080 e 8.142. A lei 8.080 especifica o modo de funcionamento do SUS ao dispor sobre a direção, gestão, objetivos e atribuições, princípios e diretrizes, financiamento, planejamento e orçamento, além de discorrer sobre os serviçosprivados. Já a lei 8.142 dispõe sobre participação da comunidade na gestão do sistema e também sobre as transferências de recursos financeiros na área da saúde, surgindo como um complemento da lei 8.080. (BRA- SIL, 1990a; BRASIL, 1990b). A lei 8.142 estabelece instâncias colegiadas envolvidas no controle social, que são a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde, que como vimos anteriormente tiveram papel fundamental no processo de construção do movimento de reforma sanitária e mais tarde foram eternizadas como constituintes do SUS (BRASIL, 1990b). No próximo tópico desta unidade, conheceremos de modo detalhado sobre todas as características do SUS expostos nessas leis citadas anteriormente, vale destacar aqui, que mesmo as empresas particulares não foram integradas na atuação do SUS, o estado ficou como responsável por regulamentar e fiscalizar os serviços de saúde oferecido pela iniciativa privada. 39UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 39UNIDADE II O Sistema Único de Saúde 2. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E ATRIBUIÇÕES DO SUS À medida que conhecemos todos os pontos em que o SUS está relacionado com a área da saúde, podemos afirmar que toda pessoa provavelmente faz uso desse sistema. Nas situações em que não utilizamos o SUS para obter assistência médica ou hospitalar, ainda assim estamos em contato com a assistência epidemiológica, sanitária ou ambiental. Portanto, o simples fato de alguém beber uma água tratada já classificaria este alguém como um usuário do SUS. Neste tópico, iremos conhecer as diretrizes, os princípios, o campo de atuação e os objetivos desse sistema, e a partir disso, ficará ainda mais fácil pontuar e compreender como os serviços que utilizamos estão interligados ao SUS. 2.1 Objetivos, campo de atuação e atribuições A lei 8.080 de 19 de novembro de 1990 estabelece que o SUS deve atender aos seguintes objetivos: I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social; III - A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. (BRASIL, 1990a, online). 40UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 40UNIDADE II O Sistema Único de Saúde Esses objetivos devem ser cumpridos dentro do campo de atuação do SUS, co- locando em prática ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalho e de assistência terapêutica integral, incluindo a farmacêutica. Os fatores condicionantes e determinantes de saúde estão diretamente associados com estudos epidemiológicos e serão abordados com maior detalhamento na última unidade. Além disso, também cabe ao SUS a participação em políticas de saneamento básico, o incremento do desenvolvimento científico e tecnológico, a formação de recursos humanos na área da saúde na fiscalização e controle de serviços, produtos e outras subs- tâncias relacionadas à saúde (BRASIL, 1990a). Considerando o interesse do SUS em promover serviços de vigilância sanitária, epidemiológica, saúde do trabalhador e do ambiente, vamos compreender como cada um desses atuam dentro de um serviço maior de vigilância em saúde (Quadro 1). A vigilância sanitária é definida como um conjunto de ações que buscam diminuir os riscos à saúde causados por problemas associados ao meio ambiente, produção e circulação de bens ou prestação de serviços de interesse da saúde (BRASIL, 2019). No Brasil, é representada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que é responsável por inspecionar alimentos, bebidas de consumo humano, medicamen- tos, cosméticos, saneantes e produtos, estabelecimentos e serviços de saúde que podem comprometer a segurança do paciente (BRASIL, 2019). A vigilância epidemiológica preocupa-se em realizar ações que visa a adoção de medidas para prevenção e controle de doenças ou agravos através da observação do perfil epidemiológico da população. As suas ações incluem: investigação das principais causas de mortes por grupos específicos, coordenação, execução e incentivo de ações de alimentação e nutrição, monitoramento e análise dos casos de doenças transmissíveis ou crônicas, acidentes, violências ou agravos em geral, inclusive no âmbito hospitalar, além de promover ações de saúde e criar planos de contingência (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021). A vigilância ambiental é definida como um conjunto de ações que monitoram fatores do meio ambiente que podem interferir na saúde, buscando implementar medidas que dimi- nuam esses riscos e previnam de doenças ou agravos. Esta vigilância preocupa-se com a qualidade da água, do ar, do solo, desastres naturais e acidentes com produtos perigosos, além do controle de vetores de doenças (BRASIL, 2019; BRASIL, 2021). A vigilância em saúde do trabalhador ou ocupacional busca diminuir os riscos que os trabalhadores estão expostos, e os casos de morbidade e mortalidade associa- dos a esses riscos. A saúde ocupacional abrange os acidentes de trabalho ou doenças profissionais, estudos de controle de riscos, fiscalização e controle das condições de trabalho e informação e garantia de o sindicato intervir sob uma situação de risco (BRA- SIL, 2019; BRASIL, 2021). 41UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 41UNIDADE II O Sistema Único de Saúde Alguns riscos que podemos pontuar relacionados ao trabalho são as exposições à produtos químicos tóxicos, corrosivos ou cancerígenos, o desenvolvimento de ações repe- titivas ou posturas que podem ocasionar problemas a longo prazo, ou ainda, os acidentes por manusear equipamentos perigosos e exposição à ambientes com risco de queda ou outros tipos de acidentes. O quadro a seguir resume as ações de cada um dos tipos de vigilância compreen- didos pela vigilância em saúde: QUADRO 1 - PRINCIPAIS TIPOS DE VIGILÂNCIA E SUAS AÇÕES NO ÂMBITO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Vigilância em saúde Ação Vigilância sanitária Inspeção de produtos e serviços de saúde, incluin- do alimentos, bebidas, medicamentos, cosméti- cos, saneantes e produtos e estabelecimentos de saúde. Vigilância epidemiológica Investigação de causas de mortes; Coordenação, execução e incentivo de ações de alimentação e nutrição; Monitoramento e análise dos casos de doenças, acidentes, violências ou agravos; Ações de promoção da saúde; Criação de planos de contingência. Vigilância ambiental Qualidade da água, solo e ar; Controle de desastres naturais, acidentes e de ve- tores de doenças. Vigilância em saúde do trabalhador Diminuição de riscos e dos casos de morbimortali- dade associados ao trabalho. Fonte: A autora (2021). Esses serviços de vigilância já ilustram muito bem como as pessoas utilizam o SUS independente da busca ao atendimento médico ou hospitalar. Ao observamos cada tipo de vigilância que é incluída no campo de atuação do SUS, podemos perceber que o conjunto contribui para alcançar uma atenção à saúde que seja o mais completa possível. Além disso, também, podemos usá-las de exemplo para exemplificar o cumprimen- to de objetivos previstos na lei 8.080. Todas as vigilâncias são baseadas na investigação dos fatores condicionantes e determinantes de saúde abordados no inciso I do artigo 5, e contribuem diretamente para a formulação de políticas de saúde do inciso II. E por fim, o inciso III discorre justamente sobre a atenção completa ressaltando as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990a). 42UNIDADE I Introdução à Saúde Coletiva e Promoção da Saúde 42UNIDADE II O Sistema Único de Saúde No caso das vigilâncias, as ações de promoção e proteção são desenvolvidas em maior proporção do que as ações assistenciais e de recuperação de saúde, pois estas são oferecidas por outros tipos de serviços que envolvem o atendimento médico, de diagnóstico ou de tratamento, ou ainda, de serviços
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