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Montes Claros/MG - 2014
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Dayse Lúcide Silva Santos
2ª edição atualizada por 
Dayse Lúcide Silva Santos
História do Brasil 
Colônia i
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Humberto Velloso Reis
EDITORA UNIMONTES
Conselho Editorial
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.
Profª Maria Geralda Almeida. UFG.
Prof. Luis Jobim – UERJ.
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes.
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
CONSELHO EDITORIAL
Ana Cristina Santos Peixoto
Ângela Cristina Borges
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Sandra Ramos de Oliveira
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de Melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Ângela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Antônio Maurílio Alencar Feitosa
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
Jânio Marques Dias
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Maria da Luz Alves Ferreira
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e Doutorando em História 
Social pela Universidade de São Paulo - USP. Atualmente é professor efetivo do Departamento de 
História da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes e professor das Faculdades Santo 
Agostinho.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8343318896504129 
Dayse Lúcide Silva Santos
Mestre e Doutoranda em História Social Cultura – Universidade Federal de Minas Gerais/ UFMG. 
Atualmente é professora de História e Sociologia do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais/
IFNMG-Campus Pirapora.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2165446647770584 
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A América antes dos Portugueses: cultura nativa e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Os vestígios dos povos da América Portuguesa e sua dispersão geográfica . . . . . . .11
1.3 Distribuição primitiva dos indígenas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 Dispersão espacial dos povos brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.5 Técnicas, estrutura social e organização política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
1.6 Crenças, ritos e antropofagia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.7 Visões: o contato com o branco  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
A colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na era dos descobrimentos 29
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.2 Antecedentes: Europa e Portugal nos séculos XIII e XIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.3 Tempos de expansão ultramarina portuguesa entre os séculos XIV a XVI. . . . . . . . . .33
2.4 A sociedade portuguesa: dilemas do “novo” e do “velho”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
2.5 As condições técnicas para as grandes navegações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
2.6 Descobrimento? achamento? esta é a América Portuguesa! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.7 Relações coloniais entre Portugal e América Portuguesa no início da conquista . . 40
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
O início da colonização: a distribuição das terras, economia e administração . . . . . . . . .43
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
3.2 Brasil: preparando para colonizar . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
3.3 Organização administrativa da colônia e a efetiva colonização do Brasil. . . . . . . . . . 46
3.4 Organização judiciária brasileira colonial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.5 Trabalho: índios e portugueses nas relações com o pau-brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.6 A exploração econômica do açúcar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Organização social e econômica da colônia: trabalho escravo, produção colonial e 
cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.2 A escravidão negra no Brasil: teoria e prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Gilberto Freyre: cultura escrava, cultura africana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
4.4 Cotidiano escravista na colônia: o mundo rural, o mundo urbano e as atividades 
econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
4.5 Cotidiano escravista: escravos, ex-escravos e a liberdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
Modelos explicativos do sistema colonial: teoria e historiografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
5.2 O Sistema Colonial: concepções teóricas e cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
5.3 A lógica de funcionamento do sistema colonial: autores e abordagens clássicas. . .71
5.4 Cultura e sociedade colonial: autores e abordagens clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
5.5 A colônia em movimento: revisionistas e perspectivas atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Unidade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
Portugal, Brasil e a União Ibérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.2 A União Ibérica: motivações e consequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78
6.3 Os holandeses na colônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.4 Do fim da União Ibérica a remontagem do poder português no nordeste colonial 81
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
Referências básicas, complementares e sumplementares. . .85
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89
9
História - História do Brasil Colônia I
Apresentação
A disciplina História do Brasil Colônia I é um dos conteúdos temáticos de enorme impor-
tância para a formação do pesquisador e professor de História. A disciplina História tem as suas 
particularidades e suas subdivisões. É a partir destas que você poderá compreender a discipli-
na em sua totalidade, pois a separação da história em diversas etapas permite compreender os 
processos sociais, políticos, econômicos e culturais que caracterizam a História em seus diversos 
tempos. Todavia, deve compreender que aqui apresentaremos o conteúdo organizado didatica-
mente e que o mesmo deve compreendido de modo a relacionar-se com os demais estudados 
ao longo do curso.
Você, enquanto historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil Colônia 
I será de suma importância para a compreensão não apenas da História do Brasil, como também 
da formação de toda a era moderna. Em período posterior você terá a oportunidade de estudar a 
sequência da disciplina, analisando os séculos XVII e XVIII no sistema colonial. 
Além disso, o estudo do período colonial brasileiro é uma oportunidade temática de repen-
sar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, neste caso, do passado colonial. 
Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente enquanto his-
toriador e professor de História, já que ela norteia a teoria e a prática da sua formação acadêmica, 
conforme você observou desde o início do seu curso.
Os objetivos dessa disciplina são muito claros, e podem ser pensados a partir dos seguintes 
aspectos: 
◄ Figura 1: Clio – Deusa 
da História
Fonte: Disponível em 
http://www.imagick.org.
br/zbolemail/Bol05x05/
BE05x12.html. Acesso em 
14/10/2013.
10
UAB/Unimontes - 2º Período
•	 analisar a estrutura política, social e cultural da América antes dos portugueses, em especial 
as sociedades indígenas;
•	 compreender as formas de colonização portuguesa na América e as relações metrópole e 
colônia;
•	 estabelecer uma relação entre o início da colonização portuguesa e as práticas políticas e 
econômicas de Portugal para com o Brasil;
•	 avaliar as relações escravistas e cotidianas na dinâmica do sistema colonial;
•	 compreender os modelos explicativos do sistema colonial a partir de uma análise historio-
gráfica;
•	 analisar as relações Brasil-Portugal no contexto da União Ibérica.
Tendo isso em mente, esse material foi produzido e divido em seis grandes unidades, a 
saber:
A Primeira Unidade, intitulada “A América antes dos Portugueses: cultura nativa e socieda-
de”, procura analisar a cultura e a organização das sociedades indígenas na região, a partir do 
estudo de seus ritos, crenças e organizações. 
Na Unidade 2, “A Colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na Era dos Desco-
brimentos”, o objetivo é compreender a história de Portugal, bem como o processo de expansão 
marítima que culminou com a chegada ao Novo Mundo. Assim, as conquistas e o “descobrimen-
to” são as principais questões abordadas nessa parte.
Na Unidade 3, “O Início da Colonização: a Distribuição das Terras, Economia e Administra-
ção”, pretende-se estudar o início da colonização, bem como da organização das terras e da eco-
nomia portuguesa, no primeiro século das relações coloniais entre Brasil e Portugal.
A Unidade 4, “Organização Social e Econômica da Colônia”, tem como objetivo avaliar como 
se deu a escravidão negra ao longo do período, evidenciando as relações cotidianas, culturais e 
de trabalho na América Portuguesa.
Na Unidade 5, “Modelos Explicativos do Sistema Colonial”, a abordagem adquire um tom 
mais teórico e metodológico, pois se pretende analisar alguns dos autores que tiveramo sistema 
colonial como objeto de estudo, sobretudo aqueles que pensaram sobre o sistema colonial por-
tuguês na América.
Por fim, a última Unidade, “Portugal, Brasil e a União Ibérica”, objetiva compreender as rela-
ções coloniais em um momento específico, isto é, no momento de união das coroas de Portugal 
e Espanha, período normalmente conhecido como União Ibérica. Aqui, procuramos, também, 
analisar as relações da Holanda junto à exploração colonial no Brasil.
Você perceberá, portanto, que essa disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nas 
demais disciplinas de História do Brasil, é imprescindível que você identifique criteriosamente 
como se deu o nosso passado colonial, bem como as metodologias para o ensino da História do 
Brasil Colônia.
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-
verá perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes, e acompanham 
o texto, bem como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para 
acessar bibliotecas virtuais na web, etc. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, 
aparecendo com os respectivos ícones. A leitura dos textos complementares indicados também 
é importante, pois indicam os possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discus-
são. São recursos que podem ser explorados de maneira eficaz, por você, pois buscam promover 
atividades de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da 
análise sociológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.
Ao planejar esta disciplina consideramos que essas questões e sugestões seriam fundamen-
tais, de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos próprios 
da disciplina.
Agora é com você! Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o ques-
tionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras complementares.
Bom estudo!
Prof. Alysson Luiz Freitas de Jesus
Profa. Dayse Lúcide Silva Santos
11
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 1
A América antes dos Portugueses: 
cultura nativa e sociedade
Dayse Lúcide Silva Santos
1.1 Introdução
Esta primeira unidade visa apresentar-lhe o universo cultural brasileiro antes da chegada 
dos portugueses na “terra brasilis”. Para tanto discutiremos subtemas pertinentes a essa unidade, 
tais como: os vestígios dos povos que ocuparam a América Portuguesa, a maneira pela qual hou-
ve a sua dispersão geográfica e distribuição/localização no território que mais tarde chamaremos 
de Brasil. 
Ainda, seremos apresentados aos instrumentos técnicos utilizados pelos indígenas, bem 
como a maneira pela qual eles estabeleceram uma estrutura social e organização política pró-
prias de suas relações socioculturais e com o meio físico no qual sobreviveram. 
Tudo isso não será estudado sem antes compreendermos as crenças, os rituais e as transfor-
mações advindas do contato com o homem branco português. Optamos, sobretudo, por eviden-
ciar um olhar sobre o indígena brasileiro que o colocou no centro de nossas preocupações, o que 
nos levou a evitar o olhar etnocêntrico, privilegiando a diferença e a compreensão do outro em 
seu fazer cotidiano.
Assinalamos para você alguns conceitos chaves visando a compreensão dessa história que, 
podemos dizer, é produzida na fronteira com outras disciplinas-irmãs da História: a Antropologia, 
a Geografia e a Arqueologia.
Por fim, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos ao longo desse 
material. Sugerimos alguns filmes e sites para que você, juntamente com seus colegas, possa 
aprofundar os temas apresentados aqui e refletir sobre as questões suscitadas. 
Não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores. 
Certamente, todos nós desejamos contribuir e ver o seu crescimento.
Desejamos boa aula!
1.2 Os vestígios dos povos 
da América Portuguesa e sua 
dispersão geográfica 
Você já se perguntou sobre quem eram os habitantes da terra que hoje ocupamos? Já se 
perguntou o porquê de chamá-los de índios ou mesmo o motivo de comemorarmos o descobri-
mento da América Portuguesa? Essas questões são fundamentais para pensarmos a história do 
nosso continente e especialmente a história brasileira antes do contato com os portugueses. 
Então vamos lá, esse é um convite para aprofundarmos um pouco mais em nossa história!
O continente americano abrigou grande quantidade de povos. Nesse item vamos observar 
a localização dos povos da América, enfatizando os indígenas brasileiros.
O povoamento da América é de difícil datação, entretanto, existem vestígios do desenvolvi-
mento de culturas americanas desde o período neolítico. Também, é preciso compreender que 
12
UAB/Unimontes - 2º Período
o desenvolvimento cultural dos povos americanos ocorreu num processo que durou séculos e 
quase sempre envolveu grupos diversos. Assim, diversas culturas se desenvolveram nessas terras, 
a saber: os Esquimós, os Sioux, os Apaches, os Astecas, os Maias, os Aruaques, os Caribes, os Gua-
ranis, os Tupis, os Jês, entre outros. 
Em momentos diferentes da nossa história, cada um desses povos construiu, à sua maneira, 
forma própria de expressão cultural, a qual sofreu diversas mudanças ao longo do tempo, esta-
belecendo diferentes maneiras de apropriação e relacionamento com a natureza. 
Para visualizar melhor a distribuição espacial dos povos americanos. Vejamos a figura 2. 
Do ponto de vista do europeu, a História brasileira foi contada e registrada a partir da che-
gada de Pedro Álvares Cabral (1467/68–1520/26) em nossas terras. Para se ter uma idéia, come-
moramos os 500 anos do descobrimento do Brasil, pois consideramos que a nossa história te-
ria iniciado após a chegada dos europeus. Podemos afirmar que essa visão é eurocêntrica. Da 
mesma maneira, se tomarmos o conceito de índio perceberemos que ele também obedece a um 
construto social. Senão, vejamos:
•	 Quando Cristóvão Colombo (1437/48–1506) “descobriu” a América ele chamou os habitan-
tes do território de “índios”, pois pensou ter chegado às Índias; 
•	 Outros termos são utilizados para designar o habitante da América pré-colombiana, qual 
seja: aborígine, ameríndio, autóctone, brasilíndio, gentio, negro da terra, bugre, silvícola, ín-
cola, entre outros. Enfim, o termo “índio” foi utilizado e pode ser compreendido à luz da afir-
mação do sociólogo Darcy Ribeiro, o qual se baseou na autoidentificação étnica das comu-
nidades, considerando que o índio é todo o indivíduo reconhecido como membro de uma 
comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é conside-
rada indígena pela população brasileira com que está em contato. (RIBEIRO, 1986).
DiCA
Teoria de Bering: 
Esta teoria procura ex-
plicar que a ocupação 
da América foi feita em 
etapas e a chegada dos 
primeiros grupos deu-
-se através do Estreito 
de Bering, daí o nome 
da teoria. Durante uma 
das glaciações, época 
em que o nível do mar 
baixava cerca de 50 
metros, nesse local se 
estabeleceu uma espé-
cie de ponte ligando 
a Sibéria Asiática e o 
Alasca americano, por 
uma faixa estreita de 
terra à vista, por onde 
teriam passado os 
grupos humanos para a 
América. 
Essa “ponte” parece 
ter existido, segundo 
a teoria, entre 50 e 40 
mil anos atrás e deu 
passagem aos mamífe-
ros; reapareceu entre 
28 e 12 mil anos atrás, 
dando passagem pos-
sivelmente aos grupos 
humanos. Essa teoria 
afirma ainda que o po-
voamento da América 
do Sul se deu após um 
período de degelo de 
grandes geleiras que 
recobriam a Baía de 
Hudson, na América 
do Norte. Esse degelo 
ocorreu aproximada-
mente entre 27 e 13 
anos atrás. 
Existem outras teorias 
que procuram expli-
caro povoamento da 
América, especialmente 
a América do Sul. 
Sugestão: pesquise 
sobre essas teorias e 
procure entender os 
motivos de hoje dizer-
mos que há questio-
namentos à teoria de 
Bering. Discuta com o 
seu professor formador. 
Figura 2: Mapa da 
América. 
Fonte: HUMBERG, 1996, 
p. 19. 
►
13
História - História do Brasil Colônia I
Esses povos ocuparam o território há muito tempo. Na busca de alimentos e melhores cli-
mas, o homem foi se espalhando por todos os continentes, até chegar ao que se convencionou 
chamar de América. Não há consenso entre os pesquisadores antropólogos e arqueólogos quan-
to a data inicial do povoamento, entretanto, vale ressaltar esse dissenso da seguinte forma: 
•	 A partir de pesquisas arqueológicas houve a fixação aproximada do homem na América do 
Sul, mais especificamente no Piauí – sítio arqueológico de Raimundo Nonato – há cerca de 
40.000 anos. Nem todos os especialistas concordam com uma data tão recuada e criticam a 
pesquisa da professora em questão.
•	 Outros pesquisadores fixam datas mais recentes para o povoamento de nosso território, cer-
ca de 12 a 15 mil anos antes de cristo, baseando-se nas datações de restos humanos encon-
trados em diversos sítios arqueológicos existentes no Brasil, como é o caso de Lagoa Santa/
MG (16.000 anos) e de Ibicuí no Rio Grande do Sul, com cerca de 12.700 anos.
É relevante ressaltar que a trajetória das nações indígenas no atual Brasil não pode ser com-
preendida de maneira homogênea, pois estes possuíam diferenças marcantes, quer sejam dife-
renças linguísticas, quer seja na sua cor de pele, altura, corpulência, etc. 
É preciso compreender que à época em que os Portugueses chegaram ao Brasil encontra-
ram diversas nações indígenas ou nativas, povos dos quais falaremos no item seguinte. 
◄ Figura 3: Índios 
Krahôs da aldeia Rio 
Vermelho, em 2004. 
Parque Nacional da 
Serra do Capivari.
Fonte: Editado em Revista 
Nossa História. Ano 2, nº 
22. Agosto/2005.
PARA SABeR MAiS
Outra teoria, defendida 
por cientistas do Museu 
do Homem em Paris e 
já recriada por arque-
ólogos, afirma que o 
homem teria migrado 
a partir da Oceania, na-
vegando em embarca-
ções primitivas, indo de 
ilha em ilha até chegar 
a América, um processo 
que teria demorado 6 
mil anos. Atualmente, 
as duas teorias são 
aceitas, sendo provável 
que os dois processos 
ocorreram simultanea-
mente, ao passo que o 
povoamento da Amé-
rica teria se dado tanto 
pelo norte como sul do 
continente. Confira no 
mapa da figura 4
◄ Figura 4: Mapa-mundi.
Fonte: Disponível em 
http://fabiopestana-
ramos.blogspot.com.
br/2011/08/o-surgimento-
-do-homem-os-primeiros.
html Acesso em 
19/08/2013.
14
UAB/Unimontes - 2º Período
1.3 Distribuição primitiva dos 
indígenas no Brasil
Podemos criar diversas maneiras de classificar os povos da América visando o seu estudo 
científico. Consideramos mais apropriado o estudo da antropóloga Betty Meggers que classifica 
os povos da América de acordo com a apropriação/alteração da natureza/espaço em que vive-
ram ao longo do tempo. Nesse caso, procurando identificar traços culturais apresentados por es-
ses povos que nos permitam aproximá-los. Assim, os dividimos em:
a) Povos caçadores e coletores (ex: Sioux, Esquimós, Tehuelches, Apaches e etc)
b) Povos agricultores de florestas tropicais (ex: Guaranis, Tupis, Jês, Aruaques e etc)
c) Civilizações agrícolas (ex: Incas, Maias e Astecas).
Essa classificação será a adotada nesse manual exclusivamente para facilitar a nossa com-
preensão geral do processo histórico vivenciado pelos indígenas na América, notadamente para 
compreender o estudo da História brasileira, pois teremos em nosso território os povos classifi-
cados como caçadores e coletores, bem como os agricultores de florestas tropicais. Ressaltamos 
que as ditas grandes civilizações agrícolas serão estudadas em momento próprio deste curso. 
Existem questionamentos quanto a essas terminologias, pois que as mesmas hierarquizam os in-
dígenas em sua experiência histórica, não sendo essa a nossa intenção.
É preciso destacar que os indígenas brasileiros não estavam na estaca zero da sua experi-
ência cultural e material, haja vista que os tupis do litoral brasileiro desenvolviam a agricultura. 
Entretanto, isso não quer dizer que eles possuíam nível cultural superior a quaisquer outros po-
vos no Brasil. Ora, o conhecimento antropológico nos sensibiliza para a seguinte questão: não 
existem culturas superiores ou inferiores, mas sim culturas diferentes entre si. 
Os estudos mais recentes ressaltam que em função do aumento populacional, a busca de 
melhores locais para adquirir alimentos, as guerras entre as tribos e as migrações constantes con-
duziram tais nativos a diferentes conformações linguísticas e culturais. 
Sendo assim, podemos agrupar as línguas indígenas faladas no Brasil em troncos linguísti-
cos e famílias. Essa classificação obedece a critérios de semelhança e de origem comum, e con-
sidera a diversificação que ocorreu ao longo do tempo, mas que manteve estrutura semelhante 
que nos permitiu aproximá-las. 
Destacamos pelo menos duas classificações: a primeira delas foi proposta pelo Prof. Aryon 
Dall’Igna Rodrigues (1986), publicada em Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas 
indígenas, e propõe a divisão dos troncos linguísticos brasileiros como mostra o quadro 1. 
QUADRO 1 
Classificação das línguas indígenas no Brasil
TROnCO 
LinGUÍSTiCO FAMÍLiA
eXeMPLO De ALGUMAS 
LÍnGUAS
Tronco
tupi
TUPI-GUARANI, ARIKÉM, AWETÍ, JURUNA, 
MAWÉ, MONDÉ, PUROBORÁ, MUNDURUKÚ, 
RAMARAMA, TUPARÍ
Família: Tupi-Guarani Línguas: 
Asuriní do Xingu, Asurini do 
Tocantins; Akwáwa; Amanayé; 
Apiaká; Anambé; Araweté
Tronco
Macro-Jê
BORÓRO, JÊ, KRENÁK, GUATÓ, MAXAKALÍ, 
OFAYÉ, KARAJÁ, IKBAKTSÁ, YATÊ.
Família: Jê 
Línguas: Akwén; Apinayé; 
Kaingáng; Kayapó; Panará 
(Kren-akore, Kren-akarore); 
Suyá; Timbira; Xokléng 
Outras não 
afiliadas 
aos troncos 
linguísticos 
acima citados
AIKANÁ, ARAWÁ, ARÚAK (Arawak, Maipure), 
GUAIKURU, IRANXE, JABUTÍ, KANOÊ, KARIB, 
KATUKíNA, KOAZÁ (KWAZÁ), MÁKU, MURA, 
NAMBIKWÁRA, PANO, TRUMÁI TIKÚNA, 
TUKANO, YANOMAMI, TXAPAKÚRA
Família: Yanomami. 
Línguas: Ninam; Sanumá; 
Yanomám; Yanomami 
Fonte: Classificação de Aryon Dall’Igna Rodrigues, divulgada na obra Línguas brasileiras : para o conhecimento das línguas 
indígenas, São Paulo: Loyola, (1986), atualizada em 1997 para o site do Instituto Socioambiental (ISA). Adaptado do site: 
http://br.geocities.com/indiosbr_nicolai/classif.htm Acesso em dez/2008. Acesso em 19/08/2013.
DiCA
Maurício Martins Alves 
escreveu uma tese de 
doutorado extrema-
mente interessante que 
vale a pena você ler. 
Título: Formas de Viver: 
formação de laços pa-
rentais entre cativos em 
Taubaté, 1680-1848 
Sob a orientação do 
professor Manolo Flo-
rentino, esse trabalho 
foi cuidadosamente 
documentado a partir 
de inventários, listas 
de habitantes e outros 
documentos inéditos, 
onde o autor esmiuçou 
a composição da popu-
lação escrava (incluin-
do índios no primeiro 
período) de Taubaté, 
cobrindo quase dois sé-
culos. Trata-se de uma 
contribuição original 
e importante para a 
história econômica co-
lonial e para a história 
dos índios, revelando a 
presença e persistência 
do trabalho indígena 
até meados do século 
XVIII. As estatísticas ar-
roladas e apresentadas 
em forma de tabelas e 
gráficos proporcionam 
uma base quantita-
tiva importante no 
dimensionamento dos 
movimentos da popu-
lação indígena. Onde 
encontrar?
Baixe do site abaixo e... 
boa leitura!
http://www.dominio-
publico.gov.br
ALVES, Maurício Mar-
tins. Formas de Viver: 
formação de laços 
parentais entre cativos 
em Taubaté, 1680-1848. 
Tese de Doutoradoem 
História, UFRJ, 2001 
(orientador Manolo 
Florentino), 416p.
15
História - História do Brasil Colônia I
A segunda proposição advém de diversos estudiosos que defendem a existência de quatro 
grandes troncos linguísticos, a saber: Tupi, Macro-Jê, Aruaque e Caraíba. Tanto na primeira clas-
sificação, quanto nesta segunda, há a identificação de diversas línguas isoladas, sem filiação a 
nenhum dos troncos ditos acima. Veja a distribuição espacial no mapa da figura 5.
1.4 Dispersão espacial dos povos 
brasileiros
Você já se perguntou quem eram e de onde vieram os homens e mulheres com quem os por-
tugueses se depararam e que posteriormente viriam a ser designados índios?
Ao longo do tempo, durante o processo de povoamento do Brasil, observamos que houve 
uma diferenciação dos povos que ocupavam a nossa terra. Há cerca de 5 mil anos se tem notícia da 
movimentação do povo do tronco macrotupi, na região do baixo Amazonas. Greg Urban, em Histó-
ria das Culturas Brasileiras segundo as línguas nativas, identifica que:
Há cerca de 2 a 3 000 anos atrás, ter-se-á verificado a primeira grande movi-
mentação expansionista da família Tupi-Guarani, que provocou a migração 
dos Cocama e dos Omágua para norte, rumo à região amazônica, dos Guaiaqui 
para sul, em direcção ao Paraguai e dos Xirionó para sudoeste, onde penetra-
ram em território actualmente pertencente à Bolívia. Seguidamente eclodiu a 
fase de separação do núcleo central, que levou os Pauserna e os Cauaib para 
oeste, os Oiampi para as Guianas, os Caiabi e os Camaiurá para o curso do Xin-
gu, os Tapirapé e os Teneteára para as imediações da foz do Amazonas e os 
Xetá para o extremo sul do Brasil. (URBAN, 1992, p. 92)
Segundo Cougo (2000), em artigo publicado na revista Camões, cujo título é A gente da ter-
ra, afirma que essa última cisão no grupo TUPI-GUARANI deveu-se ao crescimento da população 
e aos terríveis efeitos de um processo prolongado de seca que obrigou, provavelmente, os tupi-
-guaranis a buscarem lugares outros que proporcionassem condições de subsistência adequada 
a esses “horticultores da floresta tropical” e à produção de cerâmica. Dessa maneira, buscavam:
•	 zonas de mata situadas na proximidade de cursos de água navegáveis; 
•	 áreas pouco acidentadas, úmidas, pluviosas e quentes ou, no mínimo, temperadas. 
É neste sentido que as populações do Brasil vão se situar em locais próximos aos rios e seus 
vales férteis, há cerca de 1 800 anos, a saber: Paraguai, Paraná, Uruguai e Jacuí, bem como os seus 
afluentes. A partir dessa área, irradiaram, posteriormente, para leste, ocupando paulatinamente a 
orla marítima compreendida entre o Rio Grande do Sul e o Ceará. Por volta do século VIII, observa-
mos que esses povos foram se separando e constituindo dois grupos distintos, a saber:
◄ Figura 5: Brasil, 
distribuição primitiva 
dos povos indígenas
Fonte: Heber Lisboa 
citado por MICELLIN, 
2004, p.218
DiCA
Figura 6: Pinturas de 
Eckhout - Albert van 
der Eckhout (Holandês, 
1610 - 1666)
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br. Acesso em 
19/08/2013.
Visite o site Clio história 
e conheça um pouco 
mais sobre as 08 ima-
gens sobre a produção 
de Eckhout.
Discuta com seus 
colegas a maneira pela 
qual a mulher indígena 
foi representada. A 
que conclusões vocês 
poderão chegar? 
16
UAB/Unimontes - 2º Período
•	 o tupi, que quer dizer “pai supremo, tronco da geração”. Abrange as populações litorâneas 
do Brasil. Dedicavam-se à cultura da mandioca amarga; e
•	 o guarani, que quer dizer “guerra”. Abrange áreas subtropicais, como o Mato Grosso do Sul, 
região meridional do Brasil, Paraguai, Uruguai e nordeste da Argentina. Dedicavam-se espe-
cialmente à cultura do milho.
Cabral, ao desembarcar na Terra de Santa Cruz, “encontrou” os indígenas brasileiros, ou me-
lhor, os Tupis e os Guaranis, se esforçando ao máximo para completar o domínio sobre o litoral 
que naquele momento dispunha de alimentos fartos capazes de lhes assegurar a sobrevivência. 
Tal é o caso do peixe, tartarugas, moluscos, crustáceos e sal, imprescindíveis para a alimentação e 
para sustentar os guerreiros no processo de dominação do espaço e de outras tribos. Soma-se a 
essa boa alimentação a sua capacidade de organização técnica e numérica para vencer as guer-
ras intertribais. 
Segundo Cougo (2000), grosso modo, podem ser assim distribuídos espacialmente as na-
ções indígenas (tomando os devidos cuidados relacionados às fontes disponíveis):
•	 Os aruaques: habitavam o norte desde a foz do Oiapoque (Amapá) até à costa paraense, 
incluindo o delta amazônico e as respectivas ilhas, designadamente a de Marajó (território 
do grupo aruã, “pacífico”).
•	 Os Tremembés (“alagadiço”): pertencentes à família Cariri e ao tronco Macro-Jê, por seu 
lado, estavam sobretudo fixados no Meio-Norte (Maranhão-Piauí), estendendo-se a sua área 
de influência das desembocaduras dos rios Gurupi (no limite sul do Pará) ao Camocim ou ao 
Mucuripe (Ceará).
•	 Os tupis: os potiguaras (“comedor de camarão”) dominavam a zona costeira localizada en-
tre aquele rio e o Paraíba; os tabajaras (“senhor da aldeia”) viviam no litoral situado entre o 
estuário deste curso de água e Itamaracá e os caetés (“mata verdadeira”); predominavam no 
trecho de costa compreendido entre este marco geográfico e a margem norte do rio de São 
Francisco (Alagoas). 
•	 Nos sertões nordestinos (Serras da Borborema, dos Cariris Velhos e dos Cariris Novos e vales 
do Acarajú, do Jaguaribe, do Açú, do Apodi e do baixo São Francisco) refugiaram-se os cari-
ris (“silencioso”), pertencentes ao tronco Macro-Jê, após terem sido expulsos do litoral pelos 
tupis. Numa parcela do interior cearense (sobretudo na serra de Ibiapaba), do Rio Grande do 
Norte e da Paraíba imperavam os tabajaras.
•	 Os tupinambás (“descendentes dos tupis”) ocupavam a costa desde a margem direita do 
São Francisco até à zona norte de Ilhéus, depois de terem vencido os seus habitantes ante-
riores; no entanto, a sua divisão em dois grupos rivais - o primeiro abarcando a área enqua-
drada pelos rios de São Francisco e Real (Sergipe), e o segundo senhoreando o litoral desde 
aí até ao Camamu - deu origem a um estado de guerra permanente. Por outro lado, os mo-
radores da região onde veio a ser edificada a vila do Pereira e, posteriormente, a cidade do 
Salvador eram inimigos dos habitantes das ilhas de Itaparica e Tinharé e da costa norte de 
Ilhéus, situação que provocava acesos combates entre aqueles bandos.
•	 Nos sertões baianos fixaram-se os tapuia, os tupina e os amoipira (“os da outra banda do 
rio”), um ramo segregado dos tupinambás, após terem sido derrotados em sucessivas guer-
ras, quer entre si, quer com os tupinambás. Aí viviam, também, os ibirajara (“senhor do 
pau”), pertencentes ao grupo Caiapó da família Jê.
•	 Do estuário do Camamu (a norte de Ilhéus) até ao do Cricaré ou São Mateus (Espírito San-
to), as zonas litorâneas pertenciam aos tupiniquins (“colaterais dos tupis”) que, contudo, se 
debatiam com as duras investidas dos aimorés (vocábulo tupi que designa uma espécie de 
macacos), pertencentes à família Botocuda (Macro-Jê), que lhes disputavam o território. Nos 
sertões de Porto Seguro e do Espírito Santo viviam os papanás, que foram forçados a aban-
donar o litoral devido aos ataques dos tupiniquins e dos aimorés. Os goitacás (“nómadas”) 
provinham do tronco Macro-Jê e viviam no trecho de costa compreendido entre o rio Crica-
ré e o cabo de São Tomé, ocupando também o interior dessa região.
•	 A área costeira fluminense delimitada pelo cabo de São Tomé e Angra dos Reis era controla-
da pelos tamoios (“avô”) - outro ramo dos tupinambás - que dispunham, ainda, de algumas 
povoações mais ao sul: Ariró, Mambucaba, Taquaraçu-Tiba, Ticoaripe e Ubatuba. Todavia, 
ainda restavam nessa área alguns núcleos de temiminós (“netos do homem”),designada-
mente na ilha de Paranapuã ou dos Maracajás (atual ilha do Governador, na baía da Guana-
bara), que resistiam às constantes investidas dos seus implacáveis inimigos.
•	 O domínio do litoral paulista localizado entre Caraguatatuba e Iguape - ilha Comprida per-
tencia aos tupiniquins, que também viviam numa parcela do sertão. 
PARA SABeR MAiS
A principal herança que 
deles recebemos (dos 
índios) foi a parte que 
nos coube desta sabe-
doria ecológica. Princi-
palmente seu sistema 
de roças itinerantes de 
coivara, tão admira-
velmente adaptado 
à natureza tropical. 
Roças em que deles 
cultivavam dezenas de 
plantas, domesticadas 
diretamente da riquís-
sima flora brasileira, 
cujas qualidades eles 
descobriram e, ao 
longo dos milênios, 
desenvolveram. Nas 
roças e ao redor delas, 
nas capoeiras, os índios 
cultivavam dezenas 
de variedades de 
mandioca e batatas, 
carás e muitas espécies 
de milho, feijão, de 
amendoim, de abacaxi, 
de bananas, goiabas, 
graviolas, de sapotis, 
de utis, de pupunhas, 
de mamão, de caju, de 
maracujá, de cacau... 
ainda, a erva mate, o 
guaraná, as taquaras 
para fazer flechas, cipós 
para tangas, cestos 
e dezenas de outras 
plantas. Essas heranças, 
basicamente tupis, é 
que constituem a base 
de nossa adaptação à 
floresta tropical. 
Fonte: RIBEIRO & MO-
REIRA. A Fundação do 
Brasil. Rio de Janeiro: 
Vozes, 1992, p. 33.
DiCA
Pesquise em um mapa 
do Brasil a localização 
dos pontos geográfi-
cos contidos no texto, 
objetivando construir 
“setas” que apontarão 
as direções tomadas 
pelos povos indígenas 
brasileiros.
Divulgue no e-mail dos 
seus colegas de turma!
17
História - História do Brasil Colônia I
•	 Os guaianás (“gente aparentada”) predominavam na zona de matas de pinheiro, a 300 me-
tros de altitude, e na área de planalto correspondente à faixa que se estende de Angra dos 
Reis à Cananeia. Pertenciam à família Jê, devendo ser considerados antepassados dos atuais 
Caingangues.
•	 A partir da Cananeia entrava-se no espaço dos guaranis e dos autóctones por eles assimila-
dos ou “guaranizados” - conhecidos por diversas designações locais, nomeadamente carijós, 
tapes, patos e arachãs - que se estendia até à lagoa dos Patos, numa extensão de cerca de 
80 léguas de costa. Estes tinham como vizinhos e adversários populações pertencentes aos 
grupos pampianos: os charruas, no sudoeste, fixados em ambas as margens do rio Uruguai 
e respectivos afluentes, e os minuanos, no sudeste, que detinham a posse do trecho de cos-
ta que se iniciava na lagoa dos Patos e alcançava o estuário platino (nas imediações do local 
onde, no século XVIII, viria a ser edificada a cidade de Montevidéu).
Os povos tupi-guaranis se encontravam melhor organizados e bem armados, considerando 
que dispunham de técnicas que sobrevivem ainda nos dias de hoje, este é o caso da técnica uti-
lizada na agricultura denominada coivara. Conheciam também a técnica do manuseio da cerâ-
mica, de estruturas defensivas, da construção de habitações e de canoas. Os tupis denominavam 
seus inimigos de tapuias, que quer dizer o outro, ou seja, os não pertencentes à tribo tupi-guara-
ni, especialmente os indígenas do tronco Jê. Observe a figura 8 e confira a distribuição espacial 
da qual vimos falando.
◄
Figura 7: Os índios da 
Bacia Amazônica e do 
Brasil em 1500.
Fonte: HEMMINIG, citado 
por BETHELL, 1997, p.103.
PARA SABeR MAiS
Johann Moritz Rugendas 
(Augsburg, Alemanha 
1802 - Weilheim, Alema-
nha 1858) vem para o 
Brasil em 1821, integrando 
a Expedição Langsdorff 
como desenhista docu-
mentarista. 
Em 1824, viaja para Minas 
Gerais e registra paisa-
gens, cenas de costumes e 
o trabalho escravo. Na vol-
ta, abandona a expedição, 
sendo substituído pelo 
desenhista Adrien-Aimé 
Taunay. 
Passa por Mato Grosso, 
Bahia e Espírito Santo, 
retorna ao Rio de Janeiro e 
segue para a Europa, onde 
publica, em 1834, o livro 
Voyage Pittoresque dans 
le Brésil. 
De 1831 a 1833 vive no 
México, envolvendo-se po-
liticamente. Muda-se para 
o Chile, onde permanece 
por doze anos, período em 
que viaja para Argentina, 
Peru e Bolívia. Registra 
cenas da vida campesina e 
indígena. 
Em 1845, retorna ao Rio de 
Janeiro e realiza retratos 
de D. Pedro II, da Impe-
ratriz Tereza Cristina e do 
Príncipe D. Afonso. No ano 
seguinte parte definitiva-
mente para a Europa. Por 
motivos financeiros cede 
sua coleção de desenhos 
e aquarelas ao Rei Ludwig 
I, da Baviera, em troca de 
uma pensão anual.
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br . Acesso em 
14/10/2013
Nesse site você encontrará 
diversas imagens. Pesqui-
se sobre outras imagens 
que Rugendas fez sobre 
o Brasil.
18
UAB/Unimontes - 2º Período
1.5 Técnicas, estrutura social e 
organização política
Os diferentes povos indígenas do Brasil (Pindorama ou Piratininga), a exemplo dos demais 
índios da América, tinham maneiras próprias de organizar-se: diferentes modos de vida, línguas 
e culturas. Vamos compreender isso melhor? Iniciemos observando a figura feita pelo viajante 
Johann Moritz Rugendas, realizada no século XIX, e que se refere a representações de situações 
possíveis da vivência dos indígenas brasileiros. 
Figura 8: Mapa de 
distribuição espacial 
dos indígenas 
brasileiros. 
Fonte: Disponível em 
http://www.culturabrasil.
pro.br/pindorama.htm 
Acesso em 14/10/2013
►
PARA SABeR MAiS
O alemão Hans Staden 
esteve duas vezes no Brasil 
na primeira metade do 
século XVI. Na segunda, foi 
aprisionado em Bertioga 
por índios antropófagos, 
com os quais conviveu 
durante meses até ser 
resgatado por um navio 
francês. Ao retornar à sua 
terra, escreveu um livro 
contando suas experiên-
cias, publicado em 1557, 
que é um dos documentos 
mais preciosos sobre os 
anos iniciais do Brasil 
colonial.
(ver site: Clio história. 
Textos e Documentos.)
Existe lá, naquela terra, 
uma espécie de árvore, 
que chamam igá-ibira. 
Tiram-lhe a casca, de alto 
abaixo, numa só peça e 
para isso levantam em vol-
ta da árvore uma estrutura 
especial, a fim de sacá-la 
inteira. Depois trazem 
essa casca das montanhas 
ao mar. Aquecem-na 
ao fogo e recurvam-na 
para cima, diante e atrás, 
amarrando-lhe antes, ao 
meio, transversalmente, 
madeira, para que não se 
distenda. Assim fabricam 
botes nos quais podem 
ir trinta dos seus para a 
guerra. As cascas têm a 
grossura dum polegar, 
mais ou menos quatro pés 
de largura e quarenta de 
comprimento, algumas 
mais longas, outras me-
nos. Remam rápido com 
estes barcos e neles viajam 
tão distante quanto lhes 
apraz. Quando o mar está 
tormentoso, puxam as 
embarcações para a praia, 
até que se torne manso 
de novo. Não remam mais 
que duas milhas mar afora, 
mas ao longo da costa 
viajam longe.
Fonte: Extraído de Hans 
Staden, Duas viagens ao 
Brasil, trad. de Guiomar de 
Carvalho Franco, Belo Ho-
rizonte/São Paulo, Itatiaia/
Edusp, 1988. (1a ed., 1557)
Figura 9: Índios 
brasileiros – Rugendas.
 Fonte: Disponível em 
www.dominiopúblico.
gov.br Acesso em 
14/10/2013.
►
19
História - História do Brasil Colônia I
Os graus de diferenciação social nas sociedades indígenas brasileiras não são muito gran-
des, predominando uma tendência à organização comunitária e ao desenvolvimento de fortes 
laços de solidariedade. Sendo assim, vamos compreender a maneira pela qual se estruturava a 
sociedade indígena brasileira, considerando, de modo geral, como essas sociedades se caracteri-
zavam, como afirma John Hemminig:
A maioria dos índios brasileiros vivia em aldeias de curta duração. A principal 
razão disso era a ausência, nas terras baixas da América do Sul, de animais que 
pudessem ser domesticados – ao contráriodas Ilhamas e das cobaias que for-
neciam proteínas às grandes civilizações andinas. Não havia, assim, criadores 
de gado na Amazônia. Para aumentar suas safras agrícolas, suas populações 
estavam condenadas a caçar, pescar ou a coletar (...). O resultado foi o desen-
volvimento de uma sociedade em comunidades que moravam em aldeias, po-
pulações de alta mobilidade, que podiam transportar suas poucas posses ra-
pidamente para áreas mais ricas de caça ou pesca. (HEMMINING, 1997, p. 104)
a) As técnicas
Chamamos a sua atenção para a técnica utilizada no cultivo de produtos alimentícios. A 
simples tarefa de preparação da mata para ser cultivada exigia um esforço conjunto: limpavam 
a mata utilizando machados de pedra, principalmente para cortar arbustos. Na sequência, da-
vam início ao processo de queima da lenha que havia secado, construindo fogueiras em torno 
de grandes árvores, para que então fosse “furado o chão” para abrigar mudas que logo seriam 
recobertas pela terra. O cultivo assim se repetia de 03 a 04 anos, mas logo era abandonado pela 
comunidade nuclear que fixava em outros locais da floresta repetindo a mesma ação. 
Em geral, era comum o cultivo de: mandioca (os Tupis), milho (os Guaranis) e amendoim (os 
Jês). Além destes alimentos básicos, os indígenas plantavam feijão, batata-doce, cará (inhame), 
jerimum (abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares destacavam-se a purun-
ga (cabaça), o jenipapo e o urucu (corantes), o algodão e o tabaco.
As técnicas de caça para se alimentarem e vestirem eram: 
•	 o mutá: era um posto de observação construído em árvores altas (cerca de 15 metros de altu-
ra), onde os caçadores se situavam para observar a passagem de animais e assim capturá-los. 
•	 o mundéu: era uma armadilha que possuía covas escavadas recobertas de ramos e folhas ou 
numa estacada de pau a pique, com uma só entrada dotada de um dispositivo que se fecha-
va quando a presa lá entrava. 
Caçavam os seguintes animais: antas, pacas, capivaras, cutias, caititus, queixadas, veados, 
preguiças, tamanduás, tatus, além de onças, macacos, aves e répteis. Em especial, os guerreiros 
tupis dedicavam-se à ingestão de animais velozes, pois acreditavam que assim procedendo ab-
sorveriam a agilidade de tais animais. Essa é uma concepção extremamente interessante entre os 
tupis, é também a expressão de sua cosmovisão, da qual trataremos mais adiante.
As técnicas destinadas à pesca também devem ser ressaltadas, considerando que as mes-
mas tinham forte apelo coletivo: 
•	 o timbó, que era a prática de utilizar venenos vegetais para atordoar e asfixiar os peixes;
•	 as armadilhas nos perequês, que era a prática de prender os peixes na época da piracema 
no estuário dos rios, conseguindo assim pescar quantidades enormes de peixes;
•	 uso do arco e flecha e a pindaíba (vara de pescar).
ATiViDADe
Analise atentamente a 
figura 9, pesquise na in-
ternet sobre os “Indios 
Brasileiros” de Rugen-
das e discuta com os 
seus colegas no sistema 
UAB/Unimontes:
Quais as condições de 
produção dessa figura? 
Qual a intencionalidade 
do pintor ao retratar 
tais representações 
nessa imagem?
PARA SABeR MAiS
Veja figura do Parque 
Indígena do Xingu. 
Observe a organização 
atual dos indígenas do 
Brasil.
Figura 10: Vista aérea 
da aldeia Ngojwêrê 
do povo Kisêdjê. Foto 
André Villas Bôas ISA
Fonte: Disponível em http://
www.yikatuxingu.org.br/
wp-content/uploads/2011/05/
Vista-a%C3%A9rea-da-
-aldeia-Ngoiw%C3%AAr% 
C3%AA-do-povo-
-Kis%C3%AAdj%C3%A
A.-Foto-Andr%C3%A9-
Villas-B%C3%B4as-ISA2.jpg. 
Acesso 14/10/2013.
16 etnias indígenas: 
Kuikuro, Kalapalo, Matipu, 
Nahukuá, Mehinako, 
Waurá (Waujá), Aweti, Ka-
maiurá, Trumai, Yawalapiti, 
Kisêdjê (Suya), Kawaiwetê 
(Kaiabi), Ikpeng (Txicão), 
Yudja (Juruna), Naruvotu e 
Tapayuna.
14 línguas: Kamaiurá e 
Kaiabi (família Tupi-Gua-
rani, tronco Tupí); Juruna 
(família Juruna, tronco 
Tupí); Aweti (família Aweti, 
tronco Tupi); Mehinako, 
Wauja e Yawalapiti (família 
Aruák); Kalapalo, Ikpeng, 
Kuikuro, Matipu, Nahukwá 
e Naruvotu (família Karíb); 
Suyá e Tapayuna (família 
Jê, tronco Macro-Jê); Tru-
mai (língua isolada).
População: 6.152 indiví-
duos (Funasa, 2009)
Área: 2,6 milhões de 
hectares
◄ Figura 11: 
Representação de 
uma moradia indígena 
Destaque para a rede-
de-dormir. Cidade de 
Porto Seguro/BA. 
Fonte: Acervo pessoal
20
UAB/Unimontes - 2º Período
Observe a figura 11 que representa diversas matérias-primas vegetais utilizadas. Destaca-
mos o algodão para a confecção da rede-de-dormir, largamente difundido o seu uso em todas as 
regiões por onde se expandiram os povos tupi. Os utensílios resultantes do trabalho de transfor-
mação da natureza geraram produtos como: confecção de cordões, cordas, fios, espremedores 
de polpa de mandioca (tipiti), peneiras, abanadores de fogo, esteiras, diversos tipos de cestos, 
gaiolas e armadilhas de pesca. 
Os produtos advindos da manufatura da cerâmica facilitavam a vida dos indígenas, como é 
o caso da cerâmica tupi-guarani que se caracterizava pela técnica do alisado simples e pela pin-
tura policroma com linhas vermelhas e pretas sobre fundo branco, assim faziam grandes potes 
ou igaçabas. Com madeiras mais leves confeccionavam suas jangadas e canoas que eram molda-
das nos troncos das árvores. 
A aldeia era geralmente chamada de taba e abrigava de 30 a 60 famílias em média sobrevi-
vendo em 4 a 8 ocas (morada), o que totalizava cerca de 600 a 700 indivíduos. A morada era como 
uma grande casa comunitária, entretanto, a maneira de construir a habitação variava de tribo para 
tribo. Por exemplo, os Tupinambás viviam em aldeias circulares quase sempre protegidas por cer-
cas resistentes. Já os Xavantes e Xerentes construíram as aldeias em forma de ferradura. 
O corpo do indígena era lugar de especial atenção. As diversas pinturas tinham significados, 
entretanto, não eram apenas enfeites, antes pelo contrário, protegiam de raios solares, de picada 
de insetos e, sobretudo, demonstravam uma linguagem simbólica e de distinção na vida em so-
ciedade. Era como uma segunda pele que passava a fazer parte da vida do indivíduo. 
b) estrutura Social e Organização Política
A sociedade brasileira indígena realizava uma divisão de trabalho baseada na diferenciação 
sexual. A cargo das mulheres estava o trabalho agrícola, o preparo do alimento e os cuidados 
com as crianças. Já aos homens eram destinadas as tarefas de derrubada da mata, do preparo da 
terra, da pesca, da caça, do fabrico de canoas e de atividades guerreiras. A propriedade dos bens 
era coletiva e a organização das comunidades se assentava num padrão de família extensa, que 
tinha como base famílias nucleares ligadas entre si por laços de parentesco.
Praticamente todas as tribos brasileiras ignoravam o trabalho escravo, à exceção de algumas 
poucas sociedades do passado fixadas em território brasileiro, a saber os índios Kadiwéus (viviam 
do tributo e do saque sobre outros grupos indígenas) e os Terena, de acordo com Melatti (1994), 
em Índios do Brasil. 
GLOSSÁRiO
Monogamia: 
a monogamia é termo 
utilizado para desig-
nar a relação que um 
indivíduo estabelece 
somente com um 
parceiro. 
Poligamia: 
é termo usado para 
designar a relação 
estabelecida por um 
indivíduo com mais 
de um parceiro. Em 
geral, esses termos são 
utilizados quando nos 
referimos a uma dada 
sociedade. 
Poliandria: 
é a união em que uma 
só mulher é ligada a 
dois ou mais maridos 
ao mesmo tempo. É o 
contrário direto da poli-
ginia, que é uma forma 
de poligamia em que o 
homem possui duas ou 
mais esposas.
Figura 12: Na família 
indígena, os pais 
davam bastante 
atenção aos filhos. 
“Maloca dos apiacá 
no rio Jurema”, de 
Hércules Florence – 
Expedição Langsdorff. 
Fonte: PRIORE, 1999, p.11. 
►
21
História- História do Brasil Colônia I
O casamento entre os indígenas representava regras e costumes que variavam de tribo para 
tribo. Os antigos tupinambás admitiam a poligamia, apesar de apenas alguns poucos indivídu-
os (chefes, feiticeiros e grandes guerreiros) possuírem várias mulheres. Já as tribos timbiras eram 
monogâmicas, e uma variação importante a ser entendida é o que ocorria entre os xoclengues, 
mais conhecida como a poliandria e o casamento grupal. 
A estrutura social dessas sociedades foi desenvolvida com um reduzido grau de diferencia-
ção, todavia, gerou alguns tipos de hierarquias. Destacamos a existência de acentuadas tendên-
cias comunitárias e de fortes laços de solidariedade. Os Tupi-guaranis adotaram como forma de 
organização dominante o grupo local (correspondente a uma taba), que se situava numa posi-
ção intermédia entre a menor unidade (a oca) e o agrupamento territorial mais abrangente (o 
grupo tribal).
Os líderes ou chefes (morubixabas) dos tupis não conheceram poder centralizado ou coer-
citivo. Eles buscavam sempre convencer por meio da persuasão. Tinha que demonstrar valentia, 
oratória e grande aceitação entre os demais componentes da comunidade. Geralmente esse che-
fe tinha sua autoridade posta em “funcionamento” em momentos de guerra. Politicamente, sua 
instituição básica era o “conselho dos chefes”, formado pelo morubixaba, pajé, chefes das ocas e 
guerreiros prestigiados. Este órgão, frequentemente designado por “roda de fumadores”, segun-
do Cougo (2000), tomava as decisões mais importantes referentes à taba, tais como: mudança 
de local de residência, organização de expedições guerreiras, definição da rede de alianças e fixa-
ção da data para a execução ritual dos prisioneiros.
Com relação à antropofagia, o imaginário europeu foi sagaz: na figura 13, o indígena é re-
presentado como um quase monstro, um selvagem sedento de carne humana. Repare que no 
pano de fundo veremos um português sendo ameaçado por um índio com arco e flecha, e o 
panorama geral da figura retrata a morte e/ou aspectos que a lembram. Por exemplo, analise a 
mulher caída, os ossos e a caveira; obviamente que a cena principal da figura tem o seu “toque 
mortífero”.
A guerra era a instituição mais importante entre os tupi-guaranis, por exemplo. Nesse con-
texto precisamos entender bem como se deu a relação complexa da GUERRA, das CRENÇAS e 
RITUAIS e da ANTROPOFAGIA. 
PARA SABeR MAiS
Antropofagia: os 
índios acreditavam que 
comendo o prisioneiro 
de guerra adquiriam as 
qualidades do morto. 
O ritual antropofágico 
durava vários dias.
“Ao alvorecer do dia 
escolhido, o prisioneiro 
era lavado, enfeitado e 
amarrado pela cintura 
com a mussurana (cor-
da grossa de algodão), 
sendo seguidamente 
conduzido ao centro 
do terreiro, onde se 
encontravam reunidos 
os convivas. 
Chegado o executor, 
profusamente enfeita-
do, recebia cerimonial-
mente o ibirapema (ta-
cape cerimonial) com 
o qual iniciava uma 
dança junto do cativo, 
imitando as evoluções 
de uma ave de rapina. 
Terminada a gesticula-
ção, o algoz e a vítima 
travavam um curto 
diálogo, findo o qual o 
executor esmagava o 
crânio do inimigo.
Abatido o prisioneiro, 
escaldavam-no para lhe 
retirar a pele e esquar-
tejavam-no. Algumas 
partes do corpo (braços 
e pernas) eram moque-
adas, sendo as vísceras 
aproveitadas para fazer 
um cozinhado. Existiam 
regras para a distribui-
ção do corpo da vítima, 
que era integralmente 
aproveitado.
Fonte: COUGO, Jorge. A 
gente da terra. Revista 
Camões, nº8, jan/mar 
2000.
◄ Figura 13: 
Visão européia: 
antropófagos do 
Brasil devorando 
portugueses. John 
Mawe. 
Fonte: BOTELHO & REIS, 
2001, p.17.
22
UAB/Unimontes - 2º Período
1.6 Crenças, ritos e antropofagia
As crenças e os ritos fazem parte de toda e qualquer sociedade humana. Entre os indígenas 
brasileiros não seria diferente, como observamos nos destaques feitos sobre o canibalismo. As 
práticas dos nossos indígenas exprimem o seu modo de ver o mundo, de fabricar instrumentos e 
de cultivar a terra. 
Em geral, os indígenas acreditavam que os seres humanos possuíam algo semelhante à con-
cepção de alma para os cristãos, que também pode ser chamado de espírito. Os antigos acredi-
tavam que após a morte, esse espírito ia em direção ao chamado guajupiá (paraíso de grande 
beleza) onde se reuniam todos os ancestrais mortos, os quais viviam em abundância e alegria. 
Raramente esses índios creram num ser supremo que teria criado o universo. Essa crença, ao que 
parece, esteve presente entre os apapocuvas.
As atividades criadoras quase sempre estiveram ligadas a mitos, os quais podiam ter pes-
soas que eram transmissoras de técnicas, ritos e regras sociais que permitiam aos homens mo-
dificar sua existência num dado momento. Entre estes destacamos o mito do Sumé, a quem era 
atribuída a instituição da agricultura de coivara e da organização social. Outra personagem mi-
tológica importante era Tupã, associado ao raio e ao trovão. Para o caso do mito do civilizador 
Sumé, ou São Tomé, segundo descrição de Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso, este 
seria mais um mito trazido pelos europeus ao fazer menção ao apóstolo de Jesus (São Tomé), 
visando facilitar o processo civilizatório e, obviamente, facilitar também o contato com os indíge-
nas, pois esses já conheciam mitos de criação de suas sociedades que faziam menção ao retorno 
de um ser, comumente associado aos deuses.
Cabe pensar mais sobre um ritual que se tem notícia entre os índios brasileiros, que é a An-
tropofagia. Essa parece ter sido uma prática entre os Tupi-Guaranis, entretanto, sabe-se que o ca-
nibalismo não foi apenas simbólico. Ou se devoram os inimigos, como faziam os tupis do litoral 
brasileiro no século XVI, em impressionantes cerimônias coletivas, ou se praticava antropofagia 
funerária e religiosa. Daí se explica a ingestão das cinzas dos mortos em homenagem no sentido 
de ajuda à alma/espírito daquele que morreu (esse ritual faz parte, ainda hoje, dos costumes dos 
yanomami). 
Segundo Raminelli (2009), há diferença substancial entre antropófagos e canibais, pois afir-
ma que a antropofagia seria ritual, enquanto o canibalismo ocorreria motivado pela necessidade, 
pela fome. Essa diferença destaca que o consumo da carne humana como mantimento era mais 
degradante do que a ingestão segundo regras sociais. Os antropólogos discordam da variação, 
pois não há notícias de sociedade que consumiu carne humana como alimento. 
No período colonial, foram descritos dois tipos de canibalismo ou antropofagia: exocaniba-
lismo, comum entre os tupis, e endocanibalismo, praticado, segundo cronistas coloniais, pelos 
tapuias do nordeste. Como explica Raminelli (2009), entre os tupis o ritual canibal faz parte da 
guerra. Sendo assim, 
DiCA
Filmes!!!
O cinema tem produzi-
do vários filmes sobre 
a conquista da América 
pelos Portugueses. 
Sugerimos:
1492 – A conquista do 
Paraíso (Dirigido por 
Riddley Scott, cujo 
tema são as viagens de 
Colombo e o primeiro 
contato com os povos 
Ameríndios).
A Missão (filme de Ro-
land Joffé, temática as 
missões jesuíticas e os 
colonizadores ibéricos 
no Paraguai.
Divirta-se ao apren-
der!!! Não deixe de re-
lacionar o conteúdo do 
filme com as unidades I 
e II. O professor poderá 
orientar-lhe quanto às 
críticas que podemos 
fazer a tais filmes, bem 
como sobre a relação 
cinema e história.
Figura 14: Canibalismo
Fonte: Disponível em 
http://jbonline.terra.com.
br/destaques/500anos/
id2ma7.html. Acesso em 
14/10/2013
►
GLOSSARiO
escambo: Troca comer-
cial que não envolve 
diretamente paga-
mento em dinheiro ou 
meio circulante. Troca 
de uma mercadoria por 
outra, ou pagamento 
de uma prestação de 
serviço por algum 
objeto, sem utilização 
de dinheiro ou moeda. 
O escambo foi utilizadopelos portugueses, en-
tre outros negócios, na 
exploração do pau-bra-
sil, quando trocavam o 
trabalho indígena de 
extrair e transportar a 
madeira por objetos de 
metal, espelhos, contas, 
tecidos e miçangas, e 
também na África onde 
se trocava o tabaco 
e a aguardente pelo 
escravo. O escambo foi 
utilizado pelos France-
ses, em suas relações 
com os índios que lhes 
forneciam o pau-de-
-tinta.
Fonte: BOTELHO, Ânge-
la Vianna & REIS, Liana 
Maria Reis. Dicionário 
Histórico Brasil . Belo 
Horizonte: o autor, 
2001, p.66.
23
História - História do Brasil Colônia I
BOX 1 
O prisioneiro era conduzido à aldeia, onde, mais tarde, encontraria a morte em ritual mar-
cado pela vingança e coragem. Logo após a chegada, o chefe designava uma mulher para 
casar com ele, mas ela não podia afeiçoar-se ao esposo. O dia da execução era uma grande 
festa. No centro da aldeia, os índios, sobretudo as índias, se alvoroçavam. Os vizinhos também 
estavam convidados, todos provariam da carne do oponente. No ritual, homens, mulheres e 
crianças lembravam e vingavam-se dos parentes mortos. Imobilizada, a vítima não esquecia 
do ímpeto guerreiro: enfrentava com bravura os inimigos e perpetuava o sentimento de vin-
gança. Seus parentes logo o reparariam a sua morte. Essa morte era honrosa, criava elos en-
tre amigos e entre inimigos e identidade entre grupos. Depois de morto, a carne era dividida 
entre músculos e entranhas. As partes duras eram moqueadas e consumidas pelos homens; 
mulheres e crianças ingeriam as partes internas cozidas em forma de mingau. O matador, no 
entanto, não participava do banquete, entrava em resguardo e trocava de nome. Com a colo-
nização, esse rito foi paulatinamente abandonado, provocando, segundo Eduardo Viveiro de 
Castro, a perda de uma dimensão essencial da sociedade tupinambá: a identidade. O antropó-
logo ainda comenta que a repressão ao canibalismo não foi o único motivo para o abandono. 
Os europeus passaram a ocupar o lugar e as funções dos inimigos, alterando a lógica do ritual.
Fonte: Raminelli (2009). Disponível em http://radialistaediziolimaedizio.blogspot.com.br/2012/04/criminosos-canibais-
que-chocaram-o.html. Acesso em 14/10/2013
O mesmo autor explica ainda que o endocanibalismo não se pautava na vingança, “mas 
na ingestão da carne de amigos ou parentes já mortos”. Entre os tapuias, acreditava-se que o 
melhor túmulo eram as “entranhas dos companheiros”. Nesse sentido, é certo supor que este era 
um ato de amor. Logo, após a morte de um ente querido, este era retalhado, cozido e servido 
num banquete. Havia a incineração dos ossos e logo se ingeria o pó com água. Por fim, para 
encerrar o banquete, os indígenas se punham a gritar e a chorar. A figura representa cenas de 
canibalismo dos índios. Esse ritual se reveste de especial atenção para todos nós estudantes de 
história. Vejamos:
Hans Staden, viajante alemão a serviço dos portugueses deixou relato impressionante sobre 
os ritos antropofágicos dos tupinambás, potiguaras, caetés e tamoios, enfaticamente ilustrada 
por Jean de Lery em Viagem à terra do Brasil. 
O ritual antropofágico dos tupinambás, como lembrou Quintas (2008), fazia parte de um 
processo social determinado por um código de honra e de vingança ritual, praticado contra seus 
inimigos. O repertório iconográfico demonstra as várias vertentes de significações da antropofa-
gia, algumas mais fantasiosas e elaboradas, outras mais simplórias. O importante é observarmos 
PARA SABeR MAiS
Descrição do caniba-
lismo, por Staden:
[...] aquele que deve 
matar o prisioneiro 
pega na clava e diz: 
“Sim, aqui estou, quero 
te matar, porque os 
teus também mataram 
muitos dos meus ami-
gos e os devoraram”. 
Responde-lhe o outro: 
“Depois de morto, 
tenho ainda muitos 
amigos que decerto me 
hão de vingar.” Então 
desfecha-lhe o matador 
um golpe na nuca, os 
miolos saltam e logo 
as mulheres tomam o 
corpo, puxando-o para 
o fogo; esfolam-no até 
ficar bem alvo e lhe en-
fiam um pauzinho por 
de traz, para que nada 
lhes escape.
Uma vez esfolado, um 
homem o toma e lhe 
corta as pernas, acima 
dos joelhos, e também 
os braços. Vêm então 
as mulheres; pegam 
nos quatro pedaços e 
correm ao redor das 
cabanas, fazendo um 
grande vozerio.
Depois abrem-lhe as 
costas, que separam 
do lado da frente, e re-
partem entre si; mas as 
mulheres guardam os 
intestinos, fervem-nos, 
e do caldo fazem uma 
sopa que se chama 
Mingau, que elas e as 
crianças bebem. 
Comem os intestinos 
e também a carne da 
cabeça; os miolos, a 
língua e o mais que 
houver são para as 
crianças. Tudo acabado, 
volta cada qual para 
sua casa levando o seu 
quinhão.
Extraído de STADEN, 
Hans. Viagem ao Brasil. 
Rio de Janeiro: Acade-
mia Brasileira de Letras, 
1930. (Equipe Revista 
de História)
Fonte: Disponivel 
em http://www.
revistadehistoria.com.
br/secao/conteudo-
-complementar/o-
-banquete-segundo-
-hans-staden Acesso 
em: 14/10/2013.
◄ Figura 15: Antropofagia 
no Brasil em 1557, 
segundo a descrição 
de Hans Staden e 
ilustração de Jean de 
Lery. 
Fonte: DEL PRIORE, 1997.
24
UAB/Unimontes - 2º Período
o elo entre as imagens, através da estilização do ato imoral de comer seus semelhantes e dos 
procedimentos de pesquisa fornecidos pela antropologia. 
Na figura, sabemos que há uma representação desse rito. Como representação histórica, 
não é a verdade e/ou a realidade em si que estão ali demonstrados, mas é algo que opera no 
caminho da verossimilhança, passível de muitos questionamentos, assim como qualquer outro 
documento histórico.
Um dos questionamentos que podemos fazer a essa imagem é: teria o índio brasileiro esse 
perfil físico? Essa figura pode ainda suscitar outras dúvidas, como por exemplo, a maneira pela 
qual se ensinava história no Brasil! O que aprendemos sobre os indígenas e sobre esse ritual? 
Que visão está sendo veiculada nessa representação? 
Foi em meio a esse universo que os europeus estabeleceram seus primeiros contatos com 
os indígenas do Brasil, encontro esse marcado pelo escambo. Vamos entender melhor esse 
contato?
1.7 Visões: o contato com o branco 
O mapa é uma das representações que possuímos sobre o imaginário europeu no século 
XVI. Na figura 16, chamamos a atenção para os detalhes que povoam este mapa, cedendo espa-
ço para a imaginação e para alguns aspectos conhecidos no início da época moderna. Vejamos:
▲ ▲
Figura 16: O imaginário europeu à época da expansão marítima 
Fonte: BOTELHO & REIS, 2001, p.73.
Figura 17: Réplica da Vela portuguesa. Ênfase à cruz 
representativa da Ordem de Cristo. 
Fonte: Em exposição em Porto Seguro / Arquivo pessoal.
Em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, o Brasil foi batizado com a fixação, em 
terra, da primeira cruz, seguida da reza da primeira missa, proferida na ocasião pelo frei Henri-
que de Coimbra, um franciscano. Um dos principais interesses da coroa portuguesa em “buscar” 
novas terras, era o de conseguir estabelecer novas rotas comerciais. O atual Brasil, outrora conhe-
cido como Terra de Santa Cruz, Terra de Vera Cruz, carregava estes nomes no sentido de repre-
sentar as intenções portuguesas e sua representação cristã, firmada na imagem da haste de suas 
naus, como podemos bem observar na figura 17.
Uma dessas intenções era a expressão da religiosidade que esteve presente no processo de 
colonização dos portugueses na América, os quais pensaram - de imediato - que os gentios não 
possuíam “vida religiosa”. Nesse caso, podemos nos remeter ao início dessa unidade quando fa-
lamos de eurocentrismo. Podemos agora falar também de etnocentrismo. Você sabe o que isso 
significa? (Confira no glossário).
Ora, para o branco europeu do século XVI, já conhecedor de técnicas como a pólvora e a 
imprensa, encontrar um povo nas condições que dissemos, só poderia ter geradoimpressões 
incompreensíveis no que diz respeito ao universo cultural indígena. Esses portugueses de for-
mação católica consideravam o universo do gentio como sendo um retrocesso à civilização, era 
como um tanto de selvagem à solta num território, o qual deveria ser domesticado. Isso significa 
dizer que o desejo era que os indígenas fossem convertidos à fé cristã e, assim, abandonassem as 
seguintes práticas culturais: a poligamia, a antropofagia, o andar sem roupas, dentre outros. 
PARA SABeR MAiS
Elisa Fruhauf Garcia pu-
blicou na Revista Nossa 
História o texto sobre 
a escravidão indígena 
que começou logo no 
início da colonização e 
manteve-se até meados 
do século XVIII, apesar 
de ser ilegal. 
Socialize sua opinião 
com os demais colegas 
nos fóruns dessa disci-
plina.
Fonte: Disponivel em 
http://www.revista-
dehistoria.com.br/
secao/capa/solucao-
-caseira Acesso em 
14/10/2013
25
História - História do Brasil Colônia I
Na concepção do Padre Manoel da Nóbrega, os indígenas eram como um papel em branco, 
onde se poderia escrever à vontade. Mudando de idéia, à medida que o contato com os indíge-
nas ia se estreitando, os missionários perceberam que, ao contrário do que imaginavam, os indí-
genas só poderiam ser governados pelo demônio. Da visão de que haviam chegado ao paraíso, 
foi sendo criada a concepção de que esse paraíso era algo torto. 
Os índios estavam entre os que aprisionavam os seus e os padres, mas também encontra-
vam outro caminho possível: a guerra. Durante o contato entre esses povos, a guerra, a miscige-
nação e as doenças conduziram a uma diminuição e/ou transformação da população. Doenças 
que os indígenas não conheciam e eram acometidos, tais como: varíola, gripe, sarampo, tifo, tu-
berculose e malária, todas essas trazidas pelos brancos europeus.
Com relação ao trabalho indígena, vale ressaltar que, durante o contato com os brancos, os 
indígenas trabalhavam no corte e carregamento do pau-brasil e, em troca, recebiam quinquilha-
rias (esta troca chamada de escambo). Podemos, então, começar a falar não mais de encontro 
ou contato de populações, mas levantar a hipótese de choque de culturas, onde perceberemos, 
haverá uma superioridade tecnológica dos europeus (entre outros fatores) que designará o cami-
nhar das populações indígenas do Brasil para um processo de drástica diminuição. 
Segundo Garcia (2013), a escravidão indígena que começou logo no início da colonização e 
manteve-se até meados do século XVIII, apesar de ser ilegal. Optamos em destacar longo trecho 
dessa autora dada a riqueza de suas palavras para exprimir situação dos indígenas nos primeiros 
séculos de colonização brasileira. Vejamos: 
Transformá-los [os indígenas] em escravos era uma tarefa difícil e arriscada. A 
presença portuguesa no Brasil e a ocupação das novas terras dependiam do 
apoio da população nativa. Para defender tão vasto território, a Coroa precisa-
va dos índios como aliados militares contra os concorrentes europeus (no sé-
culo XVI, especialmente os franceses). Eles também eram úteis para combater 
grupos indígenas rivais que atacavam os incipientes núcleos coloniais, além de 
fornecerem informações e alimentos indispensáveis à sobrevivência em uma 
terra ainda mal conhecida.
Se a princípio chegou a existir um frágil equilíbrio entre índios e portugueses, 
ele logo se rompeu. Os nativos acharam bom negócio vender aos recém-che-
gados seus prisioneiros de guerra, antes utilizados em atividades rituais e so-
ciais (como a antropofagia). Quando, porém, o apresamento de escravos tor-
nou-se um negócio concorrido, a ânsia de obter mais cativos desfez as alianças 
iniciais. (GARCIA, 2013, p.1).
A definição de uma boa estratégia para ataque, defesa e manutenção de um tipo de vida na 
América Portuguesa era fundamental para os colonizadores. A esse respeito, vejamos:
Não agiam [os portugueses] movidos por fins humanitários, mas sim a partir de 
cálculos estratégicos: se as coisas continuassem como estavam, temiam que os 
portugueses fossem expulsos do Brasil. Para piorar, os franceses se aproximavam 
cada vez mais dos índios e entravam na disputa pelo território. A Coroa se viu en-
tão diante de um dilema: como escravizá-los e, ao mesmo tempo, manter a sua 
“amizade”? A solução encontrada foi separar os índios aliados dos índios inimi-
GLOSSÁRiO
etnocentrismo: é um 
conceito antropológico, 
segundo o qual a visão 
ou avaliação que um 
indivíduo ou grupo de 
indivíduos faz de um 
grupo social diferen-
te do seu é apenas 
baseada nos valores, 
referências e padrões 
adotados pelo grupo 
social ao qual o próprio 
indivíduo ou grupo 
fazem parte. 
É uma visão do mundo 
onde o “nosso grupo” 
é tomado como centro 
de tudo e todos os 
outros são pensados 
e sentidos através dos 
nossos próprios valores 
e nossas definições do 
que é existência. No 
plano intelectual, pode 
ser visto como a difi-
culdade de pensarmos 
a diferença; no plano 
afetivo, como senti-
mentos de estranheza, 
medo, hostilidade, etc. 
Temos então um grupo 
do “eu”, o “nosso” grupo, 
que come igual, veste 
igual, gosta de coisas 
parecidas, ou seja, um 
reflexo de nós. Depois, 
então, nos deparamos 
com um grupo diferen-
te, o grupo do “outro”, 
que às vezes, nem 
sequer faz coisas como 
as nossas ou quando 
as faz é de forma tal 
que não reconhecemos 
como possíveis.
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Figura 18: Base para a 
formação da economia 
colonial, a captura e a 
escravização indígena 
na litogravura de Jean 
Bastiste Debret do 
século XIX. 
Fonte: Disponível em 
http://www.revistadehis-
toria.com.br/secao/capa/
solucao-caseira acesso 
em 14/10/2013.
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UAB/Unimontes - 2º Período
gos. (...) Coube ao primeiro governador, Tomé de Souza, regulamentar a relação 
com os índios. Para isso, contava com dois importantes recursos: um regimento 
elaborado pelo rei oferecendo garantias aos aliados e a presença dos jesuítas, 
que chegaram na mesma época e passaram a ter voz ativa nas questões indíge-
nas.
O estatuto dos índios na sociedade colonial reafirmava a liberdade dos aliados. É 
bem verdade que eles eram obrigados a trabalhar para a Coroa e para os colonos, 
mas deveriam ser remunerados e tinham uma série de outras garantias, como a 
propriedade coletiva das terras dos seus aldeamentos. (GARCIA, 2013, p.2).
Falamos anteriormente sobre a escravização dos indígenas, mas cumpre-nos aqui enfatizar 
as duas formas pelas quais ela ocorria: o resgate e a guerra justa. O resgate “fazia referência aos 
prisioneiros feitos pelos próprios índios, destinados à antropofagia (...) algum colono poderia 
resgatar o prisioneiro que, em retribuição, trabalharia algum tempo como escravo”. Já a guerra 
justa “era um recurso empregado quando os índios atacavam os portugueses, que então tinham 
o direito de defender-se e de escravizar os prisioneiros.” (GARCIA, 2013). Não foram poucos, no 
entanto, as guerras justas e os resgates que não passaram de um pretexto para a obtenção de 
escravos. 
Além disso, a medida que a economia colonial se desenvolvia a partir de um 
produto destinado ao mercado internacional (o açúcar nordestino), os colonos 
passam a importar escravos africanos. No entanto, em regiões menos prósperas, 
os índios ainda eram parte importante da mão de obra, por vezes a principal. 
Sem outra alternativa de enriquecimento, os colonos lutavam pela manuten-
ção dos “seus índios”, como então se dizia. Os paulistas alegavam que os índios 
eram “um remédio para a sua pobreza”. Uma forma de mantê-los cativos era a 
administração particular. Teoricamente, tratava-se de uma relação de troca: os 
índios eram livres, mas prestavam serviços ao seu “administrador” que, como 
pagamento, os instruía na fé católica. Na prática, muitas vezes adquiria ares de 
escravidão, como quando os índios eram deixados em testamento junto com 
as demais propriedades.

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