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Montes Claros/MG - Abril/2015 César Henrique de Queiroz Porto 2ª edição atualizada por César Henrique de Queiroz Porto História Moderna i 2ª EDIÇÃO 2015 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: ISBN - 978-85-7739-658-0 Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Antônio Alvimar Souza DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Jânio Marques Dias EDITORA UNIMONTES Conselho Consultivo Adelica Aparecida Xavier Alfredo Maurício Batista de Paula Antônio Dimas Cardoso Carlos Renato Theóphilo, Casimiro Marques Balsa Elton Dias Xavier José Geraldo de Freitas Drumond Laurindo Mékie Pereira Otávio Soares Dulci Marcos Esdras Leite Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo Regina de Cássia Ferreira Ribeiro CONSELHO EDITORIAL Ângela Cristina Borges Arlete Ribeiro Nepomuceno Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Káthia Silva Gomes Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Sanzio Mendonça Henriques Wendell Brito Mineiro CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Camila Pereira Guimarães Joeli Teixeira Antunes Magda Lima de Oliveira Zilmar Santos Cardoso diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado diretora do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Mariléia de Souza diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Maria Generosa Ferreira Souto Chefe do departamento de educação/Unimontes Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do departamento de educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves Chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes Alex Fabiano Correia Jardim Chefe do departamento de Geociências/Unimontes Anete Marília Pereira Chefe do departamento de História/Unimontes Claudia de Jesus Maia Chefe do departamento de estágios e Práticas escolares Cléa Márcia Pereira Câmara Chefe do departamento de Métodos e Técnicas educacionais Káthia Silva Gomes Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Carlos Caixeta de Queiroz Ministro da educação Renato Janine Ribeiro Presidente Geral da CAPeS Jorge Almeida Guimarães diretor de educação a distância da CAPeS Jean Marc Georges Mutzig Governador do estado de Minas Gerais Fernando Damata Pimentel Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior Vicente Gamarano Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes Antônio Alvimar Souza Pró-Reitor de ensino/Unimontes João Felício Rodrigues Neto diretor do Centro de educação a distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autor César Henrique de Queiroz Porto Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo - USP. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 A Formação das Monarquias Modernas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Teoria Geral do Absolutismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 Novas Abordagens do Absolutismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 As Monarquias Modernas na Europa Ocidental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.2 Absolutismo na Espanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.3 Absolutismo na França . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 2.4 Absolutismo na Inglaterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 2.5 Absolutismo em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 A Economia, Cultura e Religião na Época Moderna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 3.2 Mercantilismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 3.3 O Renascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 3.4 O Humanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.5 Reformas Religiosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 9 História - História Moderna I Apresentação Caros Acadêmicos e Acadêmicas, Daremos início a um novo conteúdo. Trata-se do período que ficou conhecido como ÉpocaModerna, em que se assistiu à formação das Monarquias Absolutistas. É claro que essas designa- ções como “Época Moderna”, “Monarquia Absoluta”, são dadas a posteriori. Assim como foi visto no conteúdo de História Medieval, a designação de “Idade das Trevas” e mesmo de “Idade Média” foi feita pelos renascentistas que procuravam se afastar de tudo que se referia àquele período dominado pela Igreja. A noção de uma “Idade Moderna” também foi cons- truída para marcar a diferença do período anterior. Os homens que viveram nos séculos XVI a XVIII consideravam que viviam na melhor época possível e, com essa convicção, acreditavam que a época passada era algo retrogrado e ultrapas- sado e que viviam, portanto, em uma Idade Moderna. Contudo, essa é uma época em que se assiste a muitas rupturas, mas também muitas con- tinuidades com os valores do mundo medieval. Trata-se de um período de muitas tensões políti- cas e religiosas. Aliás, nesse período, política e religião estavam intrinsecamente unidas. Transformações de ordem política, econômica, social, cultural e religiosa, podem ser assisti- das com imenso vigor nesses séculos. O Estado Moderno se centralizava e ao mesmo tempo partilhava o poder, criando institui- ções, muitas delas ainda atuais. Esse Estado que se fortalecia também procurava ajustar sua eco- nomia aos desígnios da política. Foi nesse período que floresceu a cultura do renascimento como um importante canal para expressão dos valores da burguesia. As reformas religiosas quebraram o monopólio da Igreja Ca- tólica sobre a religião, surgindo a partir de então novas concepções religiosas. Trata-se de uma época de grandes transformações em todas as esferas da vida social. De- pois da Idade Moderna, o mundo ocidental nunca mais foi o mesmo. O principal objetivo da disciplina consiste na análise dos processos de transformações polí- ticas, sociais, econômicas e culturais nas modernas sociedades ocidentais. Outro objetivo impor- tante é a identificação das relações que perpassam os vários processos históricos da modernida- de e como eles se constituíam. Vale à pena destacar que a disciplina de História Moderna compreende duas subdivisões, a saber, História Moderna I e História Moderna II. Tal divisão facilita o entendimento da dinâmica que levou ao advento e a consolidação do período moderno. Este Caderno aborda os primeiros séculos do período em questão (séculos XVI e XVII), cujos marcos assinalaram os fundamentos da História Moderna. Para tanto, organizamos os conteúdos em três unidades. Na unidade I, discutiremos sobre a teorização geral do Absolutismo. Já na unidade II, estudaremos como se deu a formação do Estado absolutista nas principais monarquias da Europa ocidental, bem como o advento do pri- meiro Estado europeu que limitou o poder real e instaurou um modelo de parlamentarismo com participação política burguesa na condução dos negócios do governo. Por último, na unidade III, analisaremos a economia mercantil, assim como a ascensão do Renascimento e da Reforma Lute- rana no panorama do Ocidente europeu. Bom trabalho! O autor. 11 História - História Moderna I UnidAde 1 A Formação das Monarquias Modernas 1.1 Introdução Nesta primeira unidade, o tema abordado se constitui em um dos itens mais significativos do estudo da História Moderna. Trataremos aqui sobre a conceituação básica geral do absolutis- mo, além de suas principais características. Priorizaremos nessa análise a perspectiva teórica de Perry Anderson (1989), que considera o Estado absolutista uma espécie de aparelho reforçado de poder da aristocracia, tendo como função política e permanente a repressão das massas campo- nesas e plebeias na base da hierarquia social. Para estudar a formação das Monarquias Modernas, a obra do historiador inglês Perry An- derson, Linhagens do Estado Absolutista, fornece uma abordagem panorâmica, e, ao mesmo tempo, aprofundada sobre o assunto. Mesmo que essa primeira Unidade vá se apoiar principal- mente na obra desse importante historiador, outros trabalhos de interesse podem vir a ser utili- zados e serão devidamente mencionados. Uma das primeiras advertências que tem de ser feita para se ter uma melhor compreensão desse novo sistema político que emergiu na Europa é que o absolutismo não seguiu uma crono- logia única, mas teve durações diferentes nas várias nações que o adotaram. Na Espanha, por exemplo, o absolutismo sofreu um duro golpe em meados do século XVI com a revolta que resultou na independência dos Países Baixos – apesar de não ter aí se sucum- bido. Já na Inglaterra, as revoluções de meados do século XVII puseram fim aos últimos resquí- cios absolutistas que havia no país. Na França, a revolução de 1789 é que põe fim a esse sistema, o que os Estados Alemães e Italianos só irão conhecer em meados do século XIX (ANDERSON, 1989, p. 10, 51, 172). 1.2 Teoria Geral do Absolutismo Em sua obra já referida, Linhagens do Estado absolutista, Perry Anderson procura fornecer uma teoria geral do absolutismo, a partir de análise da centralização do poder nas várias monar- quias europeias, com o objetivo de traçar as características mais essenciais desse sistema de go- verno, e também de evidenciar os aspectos que cada um dos reinos europeus possui de peculiar. Com uma orientação marxista e ao mesmo tempo crítica a ela, Anderson contrapõe a tese de Marx e Engels na qual o Estado absolutista era caracterizado como um equilíbrio entre classes – a nobreza e a burguesia –, com uma tendência para o predomínio da burguesia. De acordo com a interpretação do historiador, a nobreza, como classe dominante, permane- ceu a mesma do período medieval. Anderson reconhece que esse aspecto foi salientado pionei- ramente por Christopher Hill. Conforme esse entendimento, o absolutismo constituía uma nova forma de dominação política necessária à exploração e à dominação dos resquícios feudais. Essa nova forma de dominação política foi o resultado do temor da aristocracia diante do risco de per- der o seu domínio com a dissolução da servidão. Essa reação da aristocracia produziu um “deslo- camento da coerção político-legal no sentido ascendente, em direção a uma cúpula centralizada e militarizada”, ou seja, o próprio Estado absolutista do Ocidente (ANDERSON, 1989, p. 19). Em essência, o absolutismo pode ser definido como “um aparelho de dominação feudal re- colocado, destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição tradicional...” (ANDERSON, 12 UAB/Unimontes - 5º Período 1989, p. 18). Além disso, o Estado absolutista é secundariamente determinado pela ascensão da burguesia urbana. Todavia, esse Estado reforçado de poder significou muito mais que a sujeição das massas e a centralização do poder. As monarquias Abso- lutas Modernas foram responsáveis ainda pela criação de vários órgãos e instituições, muitos deles presentes na atualidade. Entre as inova- ções e criações desse período, pode-se citar a codificação do direito, antes consuetudinário, ou seja, baseado nos costumes; a constituição de um mercado unificado, a consolidação da diplomacia, o estabelecimento de exércitos permanentes e regulares, além da fixação de um sistema fiscal e tributário. A constituição de todas essas instituições visava, antes de tudo, a assegurar e afirmar a dominação da nobreza. Deve ser salientado, naturalmente, que alguns desses órgãos já existiam em época anterior, porém, muitas ve- zes, de maneira temporária e esporádica, sen- do que, no período em questão, passaram a constituir instâncias permanentes e a integrar o Estado. Na sequência, será visto com mais deta- lhes como cada um desses órgãos se formaram e de que maneira eles passaram a integrar a Monarquia e, ao mesmo tempo, dar sustenta- ção a ela. 1.2.1 Burocracia e Diplomacia A época Moderna foi um período marcado por muitos conflitos e guerras,como mais adian- te haverá oportunidade de se mostrar. Nesses momentos de grande instabilidade política, torna- va-se sempre necessário a negociação de tratados de paz, o que passou a exigir pessoas espe- cialmente voltadas para essa função. A Diplomacia surgiu, então, da necessidade dos Estados de representar seus interesses internos, e externos junto às nações estrangeiras. A consolidação da Diplomacia serviu como uma importante via de acesso da nobreza ao Es- tado. Mas, nesse período, talvez o principal meio com que os nobres procuraram se ingressar nos Figura 1: Capa do Livro O Leviatã, de Thomas Hobbes Fonte: Disponível em <http://andraderodnitzky. blogspot.com>. Acesso em 26 out. 2010. ► diCA Conforme Anderson destacou, o Direito Romano correspon- deu ao incremento da autoridade pública corporificada na pessoa do rei. As monarquias vão contar com uma camada de juristas. Outro efeito dessa “mo- dernização jurídica” foi reforçar a dominação da classe feudal tradicional (ANDERSON, 1989, p. 24-27). Figura 2: Ratificação do Tratado de Münster Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Direito_internacio- nal>. Acesso em 26 out. 2010. ► 13 História - História Moderna I cargos administrativos da Monarquia foi através da compra de cargos. Isso mesmo! Naquela épo- ca, quem desejasse ocupar uma função no Estado bastava apenas dispor de uma boa quantia em dinheiro. Esse tipo de prática era designada de venalidade de ofícios régios e, além de constituir uma maneira de satisfazer os interesses da nobreza, também era uma forma de atender aos in- teresses da Coroa, já que a venda de cargos também era uma importante fonte de renda. É claro que esse tipo de prática trazia sérias implicações. Uma delas era que a partir do momento em que o nobre comprava um cargo, tratava aquela função como de sua propriedade, passando a atender muito mais aos seus interesses que aos interesses do Estado. É justamente nesse tipo de prática que deve ser buscada um dos maiores males da administração publica atual que é a cor- rupção. Não se pode deixar de observar que a ocupação de alguns cargos exigia conhecimentos específicos, de modo que, com isso, teve no princípio certa especialização para o cumprimento de determinadas funções. Um dos órgãos da administração que exigia conhecimentos técnicos apurados era a tributa- ção, que será vista na sequência. 1.2.2 Tributação Os grandes conflitos que se travaram na Europa ocidental nos séculos XVI a XVIII passaram a exigir um número cada vez maior de homens para fazerem parte dos Exércitos, e de dinheiro para manutenção das tropas e financiamento das guerras. Foi a partir dessa dupla necessidade que surgiu uma tributação eficiente, e de exércitos permanentes. Nunca é demais lembrar que a cobrança de impostos e os exércitos, obviamente, não eram uma invenção desse período, mas a partir desse momento passaram a existir de forma mais eficiente e permanente, como foi observado. De uma maneira geral, os nobres não pagavam impostos, diferentemente dos camponeses. Pagar impostos para os nobres era até mesmo aviltante e, segundo defendiam, era uma prática que não condizia com a sua condição e status social. Assim, toda a carga tributária recaía sobre os camponeses, que contra isso promoveram diversos levantes e protestos, sendo duramente re- primidos. A carga tributária excessiva era um importante meio de extração de rendas para a Co- roa, para os nobres e, como já foi salientado, para cumprir uma função bélica, ou seja, para finan- ciar as guerras e sustentar os exércitos. Infortunadamente, o mesmo imposto que os camponeses pagavam, muitas vezes, era usado para custear as tropas que os reprimiam. Além de servirem para sufocar os inimigos internos, os Exércitos tinham a função de combater os inimigos exter- nos que ameaçavam os Estados. 1.2.3 Exército Antes da constituição dos modernos Estados absolutistas, os exércitos eram, em geral, compostos a partir do sistema de ban, que obrigava os vassalos a fornecerem tropas aos seus suseranos. Com o advento das monarquias nacionais modernas, os estados passaram a se uti- lizar de tropas compostas por mercenários, ou seja, soldados da infantaria que recebiam para lutar e só eram convocados em situações de guerra. A utilização de exércitos mercenários tinha, principalmente, dois fatores negativos. O primeiro deles consistia no fato de serem solicitados somente diante de uma guerra iminente; assim sendo, era mais demorada a convocação dos soldados, principalmente nessas situações em que se exigiam ações rápidas, já que os recruta- mentos eram, em geral, muito lentos. Outro ponto desfavorável da utilização de exércitos mer- cenários era o fato de lutarem somente mediante o pagamento de dinheiro e tinham, portanto, uma fidelidade duvidosa, já que poderiam passar para outro lado, desde que lhes fosse ofereci- do mais dinheiro. Entretanto, a partir de uma maior estruturação das monarquias, após o século XVII, o apare- lho militar foi sendo aos poucos racionalizado e reorganizado, o que levou a ampliação dos efeti- vos armados que passaram a incluir um grande número de soldados “nacionais”. diCA Leia sobre a venalidade de cargos na França que possibilitava a entrada de burgueses no apare- lho burocrático. 14 UAB/Unimontes - 5º Período Uma importante contribuição no entendimento da formação dos Exércitos e do sistema tri- butário é dada por Norbert Elias. De acordo com o sociólogo alemão, o monopólio dos aparelhos fiscal e militar era precondição necessária para a centralização do poder e, consequentemente, a pacificação interna dos países que se formavam. Conforme a sua argumentação, eram monopó- lios decisivos e que se constituíam ao mesmo tempo, podendo ser considerados como uma via de mão dupla. Em suas palavras, os meios financeiros arrecadados pela autoridade sustentam-lhe o monopólio da força militar, o que, por seu lado, mantém o monopólio da tributação. Ne- nhum dos dois tem, em qualquer sentido, precedência sobre o outro, pois são os dois lados do mesmo monopólio (ELLIAS, 1993, p. 198). 1.3 Novas Abordagens do Absolutismo Mais recentemente, algumas abordagens sobre a concepção de Estado absolutista têm pro- curado salientar o caráter descentralizado e fragmentário da Monarquia e, desse modo, questio- nado o poder do rei como absoluto. Perry Anderson chega a reconhecer a impropriedade do termo Absolutismo, no sentido do exercício do poder do monarca sobre seus súditos de maneira ilimitada. Segundo o historiador, as monarquias europeias ocidentais eram limitadas por noções de direito costumeiro, que era particularmente forte no século XV. Apesar de argutas, as análises de Anderson deixam entrever que o rei aparece como deten- tor de grandes poderes que, de posse dos aparelhos fiscal e militar, impõe sua vontade aos de- mais grupos sociais. A realização de estudos mais localizados veio demonstrar que o monarca não exercia o po- der de maneira ilimitada. A formação do “Estado absolutista” em Portugal, investigada por Anto- nio Manuel Hespanha (2001), e para o caso francês, por Emmanuel Le Roy Ladurie, dão mostras de que, para o pleno exercício do poder real, dependia o monarca, em grande medida, dos pode- res situados na periferia do Estado (LADURIE, 1994). Analisando a formação do Estado monárquico na França, Ladurie (1994) considera que, no reinado de Luís XIV, trata-se de um momento em que o “Rei Sol” chama a si a nobreza, tornando -a mais próxima da Corte, presa a benesses concedidas pelo monarca e pela residência na sede governamental. Apesar disso, os senhores não se tornavam completamente submissos ao sobe- diCA No reinado de Luís XIV foi gestado o que Nor- bert Elias definiu como “Sociedade de Corte”, ou seja, um meio onde eram tecidas as aliançaspolíticas entre os diver- sos grupos e facções. A respeito da formação da sociedade de corte na França, durante o rei- nado de Luís XIV, ver a importante obra: ELIAS, Norbert. A Sociedade de Corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Tradução Pe- dro Süssekind; prefácio Roger Chartier. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Figura 3: Os Exércitos só passaram a constituir Tropas permanentes com a centralização das Monarquias Absolutas. Na imagem atuação do exército em episódio da Revolução Francesa de 1789. Fonte: Disponível em <http://histo- riadornet.blogspot. com/2010_04_01_archive. html>. Acesso em 8 fev. 2011. ► 15 História - História Moderna I rano, no máximo se deixam manipular. A seu ver, na monarquia clássica, quando analisada fora da Corte, o sistema de administração que lhe distinguia é apenas em parte, por vezes, fracamen- te centralizado. A descentralização administrativa, quando analisada no contexto português, fica ainda mais patente, diante das constantes limitações que o monarca sofria no exercício de sua soberania, conforme analisada por Antonio Manuel Hespanha. Em estudo sobre as instituições, a fim de compreender as bases sobre as quais se erigiu o Estado monárquico em Portugal no século XVII, o historiador português procurou demonstrar como alguns órgãos impunham limites ao pleno exercício do poder real. Instituições, como tribunais de justiça, a Igreja, Câmaras municipais ga- nhavam, em algumas ocasiões, certo espaço de autonomia. Hespanha salientou que uma cen- tralização política não podia ser efetiva sem uma hierarquização estrita de oficiais, por meio dos quais o poder pudesse chegar à periferia. A eficiência da centralização política dependia, consi- deravelmente, da existência de laços de hierarquização de “funcionários” entre os vários níveis do aparelho administrativo. Assim, nesse quadro de autonomia na hierarquia imperial, governadores de Capitanias e Províncias desfrutavam de um amplo poder extraordinário, traduzido em uma grande autono- mia administrativa. Muitos deles, em nome da mais perfeita realização de suas diligências, po- diam, inclusive, derrogar a vontade do próprio rei, sempre que assim o justificasse. Ainda em um plano mais elevado na hierarquia de autonomia dos poderes, aos vice-reis eram permitidos al- guns atributos que os situavam até mesmo acima da justiça, a exemplo do exercício da graça, ou seja, o ato de conceder honras, privilégios e mercês. Em níveis diferentes de autonomia, oficiais régios do alto escalão do governo, como juízes ordinários, também possuíam uma larga autono- mia de decisão. Importante destacar é que percebido esse quadro de “autonomias” no seio das monarquias, agora ditas absolutas, a imagem de um Estado centralizado fica ainda mais comprometida quan- do projetada ao contexto do império ultramarino português, conforme, mais uma vez, investiga- do por Antonio Manuel Hespanha, o que incluiria nesse caso, o Brasil, mas escapa aos objetivos propostos neste Caderno (HESPANHA, 1998, p.167). As diferentes abordagens sobre os Estados modernos têm passado por inovações, mas tam- bém por valorizações de aspectos antes relegados a segundo plano. Isso pode ser constado, por exemplo, na importância que adquiriu mais recentemente a obra de Norbert Elias, O Processo Civilizador, cuja primeira edição data de 1939. O sociólogo alemão, radicado na Holanda, Norbert Elias, estudou a função do rei no pro- cesso de formação das Monarquias nacionais. O autor destaca que, embora internamente mui- tas nações se mantivessem pacificadas, externamente eram extremamente beligerantes. Mes- mo com relativa paz interna, isso não significava dizer que não houvesse um estado de tensão entre nobreza e burguesia, que ganhava poder social com a evolução da economia monetária, enquanto diminuía o poder da nobreza. Contudo, nenhum desses dois grupos tinha poder sufi- cientemente forte para se manter no domínio por um período prolongado de tempo. O monarca precisava alimentar as tensões entre esses dois grupos. Segundo Elias (1993), a força do governante dependia, por um lado, da preservação de um equilíbrio entre os diferentes interesses da sociedade, mas também, por outro lado, da persistên- cia entre eles de tensões e conflitos de interesses. De acordo com essa interpretação, a domina- ção do monarca diminuía quando um grupo ou classe da sociedade prevalecia sobre os demais, e precisava manipular as tensões fazendo prevalecer um “equilíbrio instável”. Ainda conforme essa interpretação, o rei em si é socialmente fraco, uma vez que, se toda a sociedade voltar-se contra ele, nada poderá fazer. Mesmo os grupos privilegiados, nobreza e burguesia, não estavam interessados em ir longe demais com as disputas entre eles, diante do risco de que uma profun- da sublevação social levasse a uma mudança na estrutura social de poder como um todo. Desse modo, Elias (1993) destacou a função do rei e o seu papel enquanto árbitro entre as demais or- dens, manipulando as tensões entre elas. Referências ANDERSON, Perry. Linhagens do estado Absolutista. 2. ed. Tradução de Beatriz Sideau. São Paulo: Brasiliense, 1989. 16 UAB/Unimontes - 5º Período ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Formação do Estado e Civilização. v. 2. Tradução Ruy Jungmamn. Revisão, apresentação e notas de Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. HESPANHA, António Manuel. “A fazenda”. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal, v. 4 (O Antigo regime). Lisboa: Estampa, 1998. HESPANHA, António Manuel. A constituição do Império português. Revisão de alguns enviesa- mentos correntes. In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro, BICALHO, Maria Fernanda Baptista & GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. (orgs.) O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto. A teoria corporativa do poder e da so- ciedade. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal, v. 4 (O Antigo regime). Lisboa: Estampa, 1998. LE ROY LADURIE, Emmanuel. O estado monárquico: França 1460-1610. Tradução: Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 17 História - História Moderna I UnidAde 2 As Monarquias Modernas na Europa Ocidental 2.1 Introdução Nesta unidade veremos as diferenças que as monarquias europeias apresentaram no perío- do denominado de Antigo Regime, tempo histórico caracterizado pela forma política absolutista, com o poder concentrado nas mãos do monarca e pela política econômica denominada de mer- cantilismo. 2.2 Absolutismo na Espanha A Espanha ocupa uma posição diferenciada no processo mais amplo de formação dos Esta- dos absolutistas da Europa Ocidental. De uma maneira geral, o Absolutismo espanhol, quando comparado com outras partes da Europa em meados do século XVI, é considerado bem mais forte. Em grande parte, a Monarquia Espanhola devia sua supremacia a uma combinação de dois fatores: a política de casamentos e a conquista do Novo Mundo. Os casamentos realizados pela linhagem dos Habsburgos conseguiram fazer com que não apenas obtivessem a anexação de uma série de territórios como conseguissem firmar importan- tes alianças políticas. Por outro lado, a conquista da América permitiu que a Coroa Espanhola se suprisse de metais preciosos a uma quantidade tal que nenhuma outra Monarquia do período jamais teria sonhado acumular. O afluxo de metais preciosos permitiu que a Espanha realizasse uma acumulação primitiva de capitais sem paralelo na história. Certamente, como nenhuma outra Monarquia da Europa, a Corte Espanhola tinha um ca- ráter demasiadamente aristocrático e, portanto, bastante refratária ao desenvolvimento da bur- guesia. A consequência mais imediatadisso foi que as grandes quantias de prata trazidas da América não foram revertidas em investimentos para desenvolver as manufaturas e a indústria. A imensa quantidade de recursos acumulada pela Espanha foi canalizada para o fortaleci- mento dos seus exércitos e levou a monarquia dos Habsburgos a desenvolver uma agressiva po- lítica externa. Nesse período, várias nações europeias se viram invadidas por tropas espanholas. A Holanda sofreu uma grande destruição frente às tropas castelhanas e, de igual maneira, a região sul da Itália se viu dominada. Foram travadas batalhas com a França e a Inglaterra. Portu- gal, por problemas na sucessão do trono, acabou passando ao domínio espanhol; o território da atual Alemanha terminou servindo de palco para um verdadeiro teatro de operações militares vindas da península ibérica. As constantes invasões e ameaças fizeram com que essas nações acabassem se armando e se fortalecendo, preparando-se para se defenderem. Apesar dessa agressiva política externa, em relação à política interna, o Absolutismo espanhol era modesto e limitado em seu desenvolvi- mento. O Absolutismo espanhol é inaugurado com a união de Castela e Aragão, formalizada pelo casamento de Isabel I e Fernando II. Essa união fez da Espanha a principal potência europeia de todo o século XVI. diCA A política de casa- mentos era um dos principais objetivos da Diplomacia dos Estados absolutistas. 18 UAB/Unimontes - 5º Período Tanto Aragão quanto Castela possuíam estruturas muito diferentes e, mesmo unidas, con- servaram suas estruturas políticas e econômicas. Conforme Perry Anderson, “Nunca se desenvol- vera aí uma institucionalização sólida e fixa dos sistemas de Estados” (ANDERSON, 1989, p. 61). Mesmo com a união dos dois reinos de Aragão e Castela, a aristocracia espanhola ainda do- minava vastas extensões de terras. O Reino de Aragão era composto dos principados de Aragão, Catalunha e Valência. Nesse período, o principado de Aragão atravessava uma fase de prosperidade econômica, ao passo que a Catalunha passava por uma aguda crise. O principado de Valência encontrava-se em uma posi- ção intermediária. Politicamente, em Aragão a nobreza possuía um tradicional sistema de corte que era um obstáculo a qualquer política centralizadora. Essa aristocracia, a despeito da fusão dos dois rei- nos, manteve todo seu sistema de privilégios e imunidades. Já Castela era muito maior e mais rica que o seu vizinho. Seu território era muito mais urba- nizado e sua economia era marcada por uma expressiva criação ovina destinada ao abastecimen- to da produção lanífera da região de Flandres. Sua nobreza, apesar de muito mais rica e poderosa que a de Aragão, não tinha instituído um sistema de corte equivalente ao Aragonês. Ao contrário da nobreza aragoneza, que conseguia limitar a autoridade do monarca, a castelhana não exercia influência sobre seu rei, no sentido de limitação de seu poder. Havia, portanto, uma disparidade econômica muito grande entre os principais reinos de Aragão e Castela, quando da época da união. Apenas para uma breve comparação, enquanto Aragão (reunindo os três principados de Aragão, Catalunha e Valência) possuía um total de 1 mi- lhão de habitantes, Castela possuía cerca de 5 a 7 milhões de habitantes. Com a manutenção da diversidade dos Estados de Aragão e Castela, o que unia os diferen- tes lugares do Império era tão somente a figura do Monarca. Em Castela, tanto a composição quanto a convocação das Cortes ficavam a cargo do Monar- ca. As decisões aí tomadas também dependiam do Rei. O resultado disso era que as Cortes não possuíam poder legislativo que pudesse limitar o poder real. Além disso, a nobreza desfrutava de imunidade fiscal; com isso, a cobrança de impostos recaía sobre as cidades e sobre as massas em- pobrecidas. As cortes permaneciam como uma instituição frágil e isolada. Já em Aragão havia, portanto, um complexo de liberdades e autonomias que foi preservada quando da época da união. Após isso, criava dificuldades para construção de um absolutismo centralizado. Mesmo com essas forças que tendiam à dispersão, Fernando e Isabel tentaram to- mar medidas centralizadoras. Uma das medidas centralizadoras foi concentrar a administração em Castela. Além disso, cortaram o poder das ordens militares; tomaram medidas que limitavam o poder da Igreja; assu- miram um maior controle sobre o aparelho eclesiástico. Com essas medidas, a máquina Castelhana foi racionalizada e modernizada. Apesar dessas medidas centralizadoras, a Monarquia nunca conseguiu vergar a classe aristocrática. Em Aragão, por exemplo, nunca houve centralização efetiva. Figura 4: Fernando de Aragão e Isabel de Castela Fonte: Disponível em <http://www.brasilescola. com/historiag/formacao- monarquia-nacional-es- panhola.htm>. Acesso em 26 out. 2010. ► 19 História - História Moderna I Em razão da diversidade econômica e política que se verificava nos principados espanhóis, nunca houve efetivamente uma centralização administrativa entre Aragão e Castela. Nunca foi cogitado, por exemplo, a possibilidade de se realizar uma fusão administrativa entre Aragão e Castela. Assim, é possível afirmar que não criaram um reino unificado. Fernando II confirmou to- dos os privilégios da nobreza. Outro exemplo que ilustra esse aspecto reside no fato de nunca terem conseguido impor uma moeda única. Nesse quadro de autonomias e liberdades, a Inquisição era o único órgão, a única instituição unitária. A ascensão de Carlos V ao trono espanhol iria complicar ainda mais o quadro político da Espanha. O Monar- ca resolveu formar uma Corte com- posta somente de pessoas exiladas, com pessoas das mais diversas ori- gens: flamengos, borgonheses e italia- nos. Como se não bastasse a Corte ser integrada por pessoas de origem estrangeira, as verdadeiras extorsões financeiras que promoveram, com cobranças cada vez mais elevadas de impostos, serviram para acirrar ainda mais os ânimos da população e flo- rescer um sentimento de aversão por parte dos grupos populares em rela- ção a estrangeiros no país. A situação se agravou ainda mais quando o rei Carlos V, da dinastia Habsburgo, resolveu partir em dire- ção ao norte da Europa. Isso fez com que estourasse uma rebelião, cha- mada de revolta dos Comuneros, de 1520 a 1521. Promovida basicamente por grupos populares, a revolta ainda conseguiu a adesão de setores urbanos como da burguesia, que exercia o papel de liderança. A rebelião caracterizou-se nitidamente como uma revolta do Terceiro Estado, ou seja, envolveu ba- sicamente pessoas menos privilegiadas. A revolta acabou sendo completamente esmagada. Po- rém, essa rebelião caracterizou-se como algo diferente naquela conjuntura, já que normalmente as revoltas do período eram, em geral, de caráter aristocrático, e não burguesas. As realizações mais significativas do reinado de Carlos V foram, com efeito, a considerável expansão de seu império. Apenas na Europa, foram conquistados os Países-baixos, o Franché- comté e Milão. A Alemanha serviu como um palco de operações militares, como já foi salientado. No Novo Mundo, a conquista da América rendia o México e o Peru e suas enormes reservas mi- nerais. A rápida ascensão de Carlos V ao trono acentuou ainda mais o caráter de delegação de po- deres, por meio da criação de Conselhos através dos quais era concedida grande autonomia ad- ministrativa. Mesmo com essa política de partilha do poder, o reino espanhol tinha um grande bloqueio para a unificação do Império. Nunca é demais lembrar que a Espanha encontrava-se di- vidida em dois reinos: Aragão e Castela. Enquanto Castela era responsável pelo governo da Amé- rica, Aragão tomava conta do sul da Itália. Com a dispersão do Império dos Habsburgo, dificultou ainda mais a sua capacidade de inte- gração e ajudou a contero processo de centralização dentro da própria Espanha. Com a série de guerras inaugurada por Carlos V, a tendência à dispersão só fez se acentuar. Com isso, os gastos militares cresceram enormemente e, com eles, as pressões fiscais. Disso de- correu que as receitas aumentaram significativamente, todavia, revelaram-se insuficientes para os enormes gastos com as guerras, que se avolumavam. Ademais, Castela tinha que sustentar praticamente sozinha os encargos fiscais das campanhas militares no exterior. A maior parte das rendas vinha de Castela, dos impostos arrecadados e da cobrança de juros. O resultado de todo esse conjunto de fatores foi que o Estado de Carlos V teve de decretar falência a seu sucessor. ◄ Figura 5: Carlos V, rei de Espanha Fonte: Disponível em <http://fabiopesta- naramos.blogspot. com/2010/08/as-relacoes -internacionais-nos-secu- los.html>. Acesso em 26 out. 2010. 20 UAB/Unimontes - 5º Período O império continental na Europa começou a revelar-se insustentável economicamente em meados do século XVI. Todavia, o Novo Mundo é que iria salvar o Estado Espanhol do colapso imediato. Com a descoberta das minas de Prata de Potosi, aumentou significativamente o fluxo do tesouro nacional. Mas a prata vinda do Novo Mundo correspondia a apenas 20 a 25 % de suas receitas. Durante muito tempo foi o metal americano que permitiu sustentar a agressiva política ex- terna do império espanhol. As operações militares bancadas por Felipe II só foram possíveis graças à flexibilidade finan- ceira propiciada pela prata americana. O comércio, praticado em regime de exclusividade, por meio de monopólios, com as colô- nias americanas, permitiu auferir lucros significativamente consideráveis. Mercadores espanhóis podiam vender produtos, como tecidos, vinhos e azeites a preços elevados. A expectativa de altos lucros fez com que as terras antes destinadas à produção de cereais fossem voltadas agora para a produção de gêneros destinados ao mercado externo, como o cul- tivo de uva e oliveira. Isso fez com que houvesse uma contração na produção de trigo em bene- fício da criação de ovelhas para aproveitamento da lã e confecção de tecidos. Dentro de pouco tempo a Espanha passou de produtora a importadora de cereais. Além disso, a grande quanti- dade de prata que chegava ao país levou a inflação, o que paralisou o setor manufatureiro espa- nhol, em função da elevação dos custos de produção. Com isso, a Espanha não conseguiu se modernizar e desenvolver a indústria. Toda a sua ri- queza e o seu potencial produtivo foram consumidos em guerras. Uma medida de centralização e de tentativa de modernização da máquina de estado espa- nhola foi a transferência da capital para Madri, mas uma medida tardia. A ocorrência de pestes acabou agravando ainda mais a situação. Felipe III levou ao armistício com a Holanda e selou um período de paz. Porém, adotou me- didas que arruinaram as finanças e causou inflação. Nesse período, as colônias também começaram a se tornar autossuficientes. Desde a segun- da metade do século XVII, as minas de prata entraram em crise. Além disso, os constantes assé- dios de piratas ingleses e holandeses cresciam às suas custas. Felipe IV conferiu plenos poderes ao Conde Duque de Olivares. Suas medidas autoritárias geraram uma das mais fortes resistências, tendo que enfrentar a revolta da Catalunha. Com a resistência Catalã em se integrar ao império, perdendo sua autonomia e a ofensiva francesa ao território espanhol, os Catalães terminaram por render soberania aos franceses, permanecendo sob seu domínio por cerca de uma década. O Absolutismo Espanhol passava a ficar em apuros dentro de seu próprio território. Todos os conflitos europeus terminaram por esgotar suas finanças e desintegraram sua or- ganização compósita. A separação de Portugal, em 1640, a revolta da Catalunha e de Nápoles foram atestados da fraqueza interna do Absolutismo Espanhol. Assim, se no auge da mineração os embarques de prata ajudaram a financiar o expansionis- mo Habsburgo pela Europa, impedia ao mesmo tempo uma centralização tributária na própria Espanha, com Aragão continuando fora do aparelho fiscal. O resultado foi o esgotamento de Cas- tela em meio a crise no século XVII, levando ao colapso o imperialismo Habsburgo. 2.3 Absolutismo na França A história da construção do Absolutismo na França em direção a um Estado Monárquico centralizado foi marcada por avanços e recuos. Aconteceu por meio de um processo caracteriza- do por interrupções e sucedido por momentos de concentração do poder, até que se conseguis- se chegar, enfim, a uma estrutura sólida e estável. Os três momentos de ruptura que travaram, e ao mesmo tempo aceleraram, o processo de centralização política e administrativa do Estado Monárquico Francês foram a Guerra dos Cem Anos no século XV, as Guerras Religiosas no século XVI e a Fronda no século XVII. Com a extinção da dinastia capetíngea, tem início a Guerra dos Cem Anos, conflito que opu- seram ingleses e franceses e que dividiu a nobreza francesa, ainda no século XIV. Analisando, então, esse primeiro momento de ruptura, o maior legado que a Guerra dos Cem Anos deixou à França foi a sua emancipação fiscal e militar. Depois do conflito, a Monar- quia passou a contar com a existência de um Exército permanente pago regularmente, graças diCA Na Holanda, onde já ressoava o descon- tentamento desde as perseguições religiosas de Carlos V, explodiu aquilo que viria a ser a Primeira Revolução Bur- guesa da história sob a pressão do centralismo de Felipe II. 21 História - História Moderna I à cobrança do primeiro imposto que incidia em todo o território na- cional, que foi a taille. A nobreza, o clero e, no caso da França, também algumas cidades, estavam isentas dessa cobrança. A Guerra só foi vencida em razão do abandono do sistema de ban, uma forma de recrutamento que consistia na convocação do vassalo pelo rei, para o serviço mi- litar, e que, naquele momento, em épocas de guerras rápidas, revela- va-se lento e ineficaz. O fato é que, no final do sécu- lo XV, com o término do conflito, a Monarquia Francesa saiu fortaleci- da e centralizada. Na realidade, a França foi dividida em 12 governos que foram distribuídos a príncipes e nobres que mantinham grandes privilégios e direitos em suas áreas de jurisdição. Os governantes des- ses territórios conseguiram conser- var grande autonomia até o século XVI. Carlos VII e Luís XII deram con- tinuidade à política de expansão territorial iniciada por Luís XI, anexando a região da Bretanha, por meio de uma política de casamentos. No governo do Carlos VII e Luís XII, também foram es- timuladas as Assembleias, que consistiam em Cortes Provinciais, conhecidas como parlaments, criadas pela própria Monarquia, e que tinham grande poder de justiça em várias regiões de todo o território francês. Várias cidades também mantiveram sua autonomia e liberdade preservadas. A centralização administrativa era dificultada também pela ausência de um mercado unifi- cado, e apesar dos enormes avanços alcançados, a França ainda não tinha construído uma estru- tura econômica e política que pudesse unificar seu território, submetendo os poderes locais. Por outro lado, praticamente inexistia uma assembleia unificada, pois, em geral, a convoca- ção do Parlamento único, as Cortes Gerais, era motivada pela necessidade financeira de se lançar impostos. Porém, isso não acontecia na França, já que nos parlaments, as assembleias regionais frustravam qualquer iniciativa nesse sentido. Isso se dava em razão das inúmeras concessões que foram feitas aos poderes locais situados na periferia do Estado. A nobreza estava isenta de pagar impostos e isso evitava que as Cortes fossem convocadas exclusivamente para essa finalidade (ANDERSON, 1989, p.89). LuísXI, que governou de 1461 a 1483, tomou medidas centralizadoras que serviram para aumentar o poder e as finanças na França. Eliminou a última e a mais forte ameaça ao seu po- der, que era a Dinastia de Borgonha. Com a aniquilação do Estado Borgonhês, seu território aca- bou sendo anexado. O reino da França passou a reunir todas as Províncias que eram vassalas na época medieval, e extinguiu todas as grandes Casas da Idade Média. Mesmo com esses notáveis progressos, a Monarquia Francesa ainda estava longe de constituir uma Monarquia forte e cen- tralizada. O reino passava por uma fase de crescimento e prosperidade. Diminuía a atividade re- presentativa das Assembleias, os Estados Gerais entravam em decadência, as cidades deixavam de ser consultadas em decisões políticas importantes e a política externa passou a ser tratada cada vez mais como uma matéria de prerrogativa régia. Passou a haver um controle maior sobre as nomeações na hierarquia eclesiástica, mas ne- nhum Monarca, seja Carlos VII, ou Luis XII, passou a ter grandes poderes, pois ambos consulta- vam com frequência as Assembleias provinciais e mantinham os privilégios tradicionais da no- breza. A manutenção do prestígio interno da Monarquia Francesa era sustentada externamente com as guerras que foram travadas na Itália. Esses conflitos também eram motivados pelas pre- tensões francesas ao trono italiano, servindo para canalizar a pequena nobreza ávida por guerras. ATividAde Diante das novas abordagens sobre o Absolutismo, avalie a frase atribuída a Luís XIV, na qual se procura resumir a expressão do Estado centralizado: “O Estado Sou Eu”. Depois, compartilhe no fórum a sua opinião. ◄ Figura 6: Luis XIV, rei da França Fonte: Disponível em <http://leisdemerf. blogspot.com/2010/09/ qual-origem-do-pente. html>. Acesso em 26 out. 2010. 22 UAB/Unimontes - 5º Período Com a morte de Henrique II, a França se viu consumida em 40 anos de luta. Isso resultou num vazio de poder na Monarquia, mesmo durante a regência de Catarina de Médicis. A partir daí, deu-se o segundo momento na França, que contribuiu e ao mesmo tempo retardou a Mo- narquia centralizada. As guerras civis que dividiram a França foram resultantes dos conflitos religiosos oriundos da Reforma. As lutas eram travadas entre Huguenotes e a Santa Liga, pelo controle da Monarquia. A disputa entre as grandes famílias feudais foi intensificada com o empobrecimento da no- breza. Nessa altura, o conflito entre Huguenotes e a Santa Liga ameaçou romper a tênue unidade da França. Revoltas urbanas e rurais estouraram em todo o país. Os protestos se espalharam pelo cam- po e pela cidade, sendo que muitas delas contavam com o apoio das massas plebeias. Foi a dupla radicalização do conflito na cidade e no campo que reagrupou a classe domi- nante. A nobreza ficou temerosa de que uma sublevação geral vinda de baixo para cima pudesse colocar em risco o seu próprio domínio. Henrique IV aceitou o Catolicismo, mas sua opção foi muito mais por conveniência que por convicção, e obedeceu a critérios meramente estratégicos. Com isso, cessaram as guerras religio- sas, fortalecendo o Estado Monárquico. Henrique IV foi o fundador da nova Dinastia Bourbon, que sucedeu a antiga dinastia Valois. Ele estabeleceu o governo permanentemente em Paris, transformando a cidade em capital. A França estava pacificada, o Rei desfrutava de grande popularidade. Com o Edito de Nantes, o pro- blema do protestantismo foi resolvido, concedendo-lhe uma autonomia regional limitada. Na- quele momento, a França não cultivava hostilidade alguma com nenhuma potência estrangeira, o que contribuiu para o equilíbrio das contas internas. O Estado cortava despesas e passava a arrecadar mais com a cobrança indireta de impostos. A grande inovação institucional foi a introdução da paulette, em 1604, que era a venda de cargos na administração do Estado. Isto significava que àqueles que estivessem interessados em adquirir um cargo na administração bastava apenas pagar por ele. Na verdade, tratava-se de algo há muito recorrente, e a paulette apenas formalizava aquelas práticas, tornando-as hereditárias. A nova medida tinha o objetivo de aumentar os rendimentos do Estado e preservar a burocracia da influência da alta nobreza. Sob o comando do Cardeal Richelieu, já sob o reinado de Luiz XIII, teve início a construção de uma máquina administrativa racionalizada, capaz de controlar e intervir nos poderes locais em todo o território francês. Richelieu acabou com as últimas resistências dos Huguenotes, es- magou conspirações aristocráticas, acabou com os privilégios militares medievais, derrubou cas- telos e proibiu duelos. Richelieu criou ainda o sistema de Intendentes. Com esse sistema havia os Intendentes de Justiça, de Polícia e de Finanças. Eram funcionários investidos de plenos poderes, deslocados em missões temporárias para as províncias distantes e que, posteriormente, seriam incorporados permanentemente ao governo central da França. Os Intendentes eram nomeados diretamente Figura 7: Palácio de Versalhes no século XVII Fonte: Disponível em <http://www.jornaljovem. com.br/edicao6/exposi- cao30.php>. Acesso em 26 out. 2010. ► 23 História - História Moderna I pelo Estado, não eram hereditários, nem seus cargos estavam sujeitos à venda; eram recruta- dos entre a média nobreza do reino e represen- tavam os novos interesses do Estado nos luga- res mais afastados. A expectativa de aquisição de um cargo e de todos os privilégios que ele trazia, princi- palmente a isenção fiscal, era um dos grandes objetivos da burguesia. Muitos burgueses com- pravam cargos e se aristocratizavam. O Estado teve então que realizar inves- timentos em manufaturas e companhias de comércio. Isso desviou a evolução política da burguesia por 150 anos. A par de tudo isso, o Estado passava a arrecadar cada vez mais im- postos. O Cardeal Richelieu envolveu-se na Guerra dos 30 anos (1618-1648), e o Estado quadrupli- cou a coleta de impostos; o povo, é claro, é aquele que mais contribui, ou na feliz expressão, “o povo paga o pato!”. Como resultado, a França traça o destino da Alemanha e destrói a suprema- cia Espanhola. O tratado da Vestfália ampliou as fronteiras do reino. O custo da guerra foi sentido, sobretudo pelos pobres. Nesse momento, revoltas camponesas, as Jacqueries, estouram em vá- rias regiões contra os coletores de impostos. Em suma, na política externa, o cardeal assegura a hegemonia e a grandeza da França; e, na política interna, restaura a autoridade absoluta ao nível da monarquia, inspirada pela Providência Divina que, na concepção do Cardeal, o rei era um lugar tenente de Deus e estava a serviço Dele (DEUS). Sob o reinado de Luis XIV, durante a sua minoridade, O Cardeal Mazarino sucede o odiado Richelieu em 1642 e conduz com habilidade a política externa francesa até a aquisição da Alsá- cia. Porém, vai enfrentar uma gigantesca revolta, a Fronda, uma insurreição urbana radical que vai coincidir com o descontentamento de uma área rural (o extremo sudoeste). Essa rebelião foi apenas na base da pirâmide. Não contou com apoio da elite feudal, por isso foi menos perigosa que as guerras religiosas. A Fronda teve como causas a extorsão fiscal, más colheitas, fome e fúria popular, revolta de uns poucos privilegiados liderados pelo Parlament de Paris contra o sistema de Intendentes. O cardeal Mazarino, que era italiano, sufoca a revolta. As consequências desse agudo conflito foi ter conferido um temperamento ao absolutismo Bourbon e ao mesmo tempo ter assegurado uma solidariedade maior da nobreza contra as massas. Em 1661, o rei assume pessoalmente o comando de todo o aparelho de Estado e reúne todo o governo da França sob sua autoridade. Ele silencia os Parlamentos. As Cortes e os Estados pro- vinciais não mais discutemos impostos. A nobreza, mais precisamente a alta nobreza, é obrigada a residir em Versalhes a partir de 1682, e é separada do seu senhorio (domínio territorial). Porém, o Absolutismo francês garante a apropriação econômica pela nobreza de 30% de todos os ren- dimentos da nação. O país passa a ser dividido em 32 áreas, cada uma com Intendente real que tinha autoridade suprema sobre toda a região, como a coleta da taille. O Exército praticamen- te quintuplica para desarmar a nobreza e esmagar as revoltas camponesas com eficácia. Estava consumado o Estado absolutista Francês cuja destinação, na concepção do rei Sol, era servir ao objetivo supremo da expansão militar. Colbert, o Ministro das Finanças, incentiva o comércio, es- tabiliza o fisco e controla a arrecadação. O Ministro lança um ambicioso programa mercantilista estritamente expansionista e protecionista. Porém, a guerra domina praticamente todos os as- pectos do reino. Os camponeses se revoltam em vários recantos do país, mas são facilmente es- magados, pois a nobreza foi aliviada dos encargos financeiros que Richelieu e Mazzarino tinham tentado lhe impor, mantendo lealdade ao rei. Contribuiu para o êxito administrativo iniciado pelo rei Sol o fato de muitos funcionários da época dos Cardeais serem mantidos em seus cargos. Porém, a França acaba mergulhada em uma série de guerras, em que o resultado desses conflitos quase sempre é desfavorável para ela. Exemplo disso é a guerra pela sucessão espanhola, em que a determinação Bourbon de monopolizar a totalidade do Império Hispânico vai acabar unin- do a Áustria, a Inglaterra, a Holanda e parte dos Estados Alemães contra ela. Na verdade, no paradoxo do Absolutismo francês, o ápice de seu florescimento interno não coincidiu com o ápice de sua supremacia internacional, ao contrário, foi a estrutura política ainda defeituosa e incompleta de Richelieu e Mazzarino, marcada por anomalias institucionais e dila- cerada por sublevações internas, que consumou espetaculares êxitos externos, ao passo que a ◄ Figura 8: O Cardeal Richelieu Fonte: Disponível em <http://meubixano. blogspot.com/2009/01/o- cardeal-richelieu-e-seus- 14-bixanos.html>. Acesso em 26 out. 2010. 24 UAB/Unimontes - 5º Período monarquia consolidada e estável de Luis XIV, com sua autoridade e sua força militar enormemen- te aumentada, fracassou solenemente em impor-se à Europa ou realizar conquistas territoriais notáveis. 2.4 Absolutismo na Inglaterra A partir de agora se passa a analisar o Absolutismo que teve lugar na Inglaterra. É curioso notar como aquela que foi considerada a mais forte Monarquia Medieval de toda a Europa Oci- dental produziu um Absolutismo fraco e de curta duração. Isso se deveu, significativamente, às peculiaridades do Feudalismo Normando, que foi caracterizado por uma Monarquia centralizada. A existência de um Parlamento unificado, na Inglaterra, desde o século XIII, conferiu uma singu- laridade ao Absolutismo que se desenvolveu ali. A composição do Parlamento, dividido entre a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, acabou resultando em uma assembleia unificada. Assim, uma monarquia centralizada tinha também uma assembleia unificada. Esse Parlamento unitário, que se reuniu em Londres, conseguiu assegurar uma tradicional limitação ao poder legislativo do rei. Para ilustrar isso basta dizer que depois dos séculos XIII-XIV nenhum monarca poderia decretar qualquer lei sem o consentimento do Parlamento. Isso ates- tava o grande poder da nobreza. O motivo dessa limitação do poder real se explica, também, em razão da exiguidade ter- ritorial do país, que fez com que ali não surgissem grandes potentados proprietários de vastas extensões de terras. Outro aspecto é o fato de que as cidades sempre fizeram parte dos domínios do rei e, em função disso, gozavam de certos privilégios comerciais sem, contudo, desfrutarem de grande au- tonomia política. Além disso, os aglomerados urbanos nunca foram bastante numerosos e fortes o suficiente para contestarem a sua condição de subordinação. A nobreza na Inglaterra ainda se caracterizava por sua forte militarização, como qualquer outra de sua época, porém estava constantemente no campo de batalha e tinha um raio de atua- ção bastante amplo. Na Alta Idade Média, se viu envolvida, em várias guerras, além da Guerra dos Cem Anos. Essa aristocracia também tomou parte em conflitos na Escócia e em Flandres, na Renânia e em Navarra, em Portugal e Castela. O envolvimento em todos esses conflitos e, principalmente na Guerra dos Cem Anos, serviu para lhe investir de plenos poderes. A supremacia inglesa durante a maior parte da Guerra dos Cem Anos que, diga-se de pas- sagem, não foi pela supremacia marítima, se deu, em boa parte, pelo resultado da integração e da solidez política muito maior da monarquia feudal inglesa que da monarquia feudal francesa. Além do mais, as vitoriosas campanhas inglesas travadas externamente serviram para fortalecer de vez a lealdade da aristocracia inglesa. A nobreza que havia se mantido unida na Guerra dos Cem Anos se consumiu em disputas internas na Guerra das Duas Rosas. Esse conflito, que durou de 1455 a 1485, foi marcado pela dis- puta de grupos que se opunham irremediavelmente: os Lancaster (nobres ligados à antiga tra- dição feudal) e os York (nobres ligados a interesses mercantis). Ao término dos conflitos, os dois principais grupos em disputa se encontravam bastante enfraquecidos e isso contribuiu para que emergisse a Dinastia dos Tudor. Com a ascensão ao poder de Henrique VII, que governou de 1485 a 1509, depois de anos de Guerra Civil, o Monarca dá início a uma reorganização da Inglaterra. Com efeito, Henrique VII consolidou o poder dos Tudor e o centralizou em suas mãos, a ad- ministração local ficou subordinada ao controle monárquico, rebeliões e motins foram sufoca- dos, potentados foram sujeitados ao controle real, principalmente no norte e oeste da Inglaterra. Com todas essas realizações, os domínios reais foram ampliados com a retomada de terras, oca- sionando o aumento dos rendimentos à Coroa, principalmente dos tributos alfandegários. Com isso, Henrique VII promoveu um início promissor da construção de um Absolutismo na Inglaterra. O governo seguinte de Henrique VIII (de 1509-1547) não foi marcado por grandes alterações políticas. O novo monarca deu continuidade à política que vinha sendo realizada no reinado an- terior. O acontecimento de maior importância que se passou durante o governo de Henrique VIII foi mesmo a crise matrimonial que se abriu em virtude da separação do rei de sua esposa Catari- na de Aragão. 25 História - História Moderna I Em princípio, a crise política e religiosa que se abriu na Dinastia dos Tudor, e que teve como resultado mais imediato a criação de uma nova religião na Inglaterra, o Angli- canismo esteve intimamente relacionado a uma crise matrimonial. Henrique VIII, ao se casar com a espanhola Catarina de Aragão, não teve filho varão para lhe suceder no tro- no, solicitando então ao Papa Clemente VII a anulação de seu casamento. Como a Igreja Católica não admitia o divórcio, o pedido lhe foi negado, mas ainda assim o Monarca ter- minou por se casar novamente. O Papa aca- bou excomungando o Rei inglês. Henrique VIII, por sua vez, anunciou o rompimento com a Igreja: estava criado, pois, o Anglica- nismo, que fora consolidado com o Ato de Supremacia. Com o Anglicanismo, o Monarca, além de se tornar chefe da nação, era também o chefe supremo da Igreja. A nova religião estava estruturada praticamente sobre as mesmas bases do Catolicismo. Porém, seu conteúdo era de orientação calvinista, consistindo, portanto, numa doutrina mais adaptada à mentalidade da burguesia. Apesar dessa transformação que, a longo prazo, viria trazer benefícios para o pleno desen- volvimento do Capitalismo na Inglaterra, coma separação de Henrique VIII, o Monarca inglês passou a sofrer constante oposição do Papa Clemente VII, e do Imperador espanhol Carlos V. Para resistir à pressão externa que sofria, Henrique VIII convocou o Parlamento. Ao convocar o Parlamento em busca de apoio, isso “não significou um enfraquecimento do poder real, mas apenas um novo impulso no sentido de sua intensificação” (ANDERSON, 1989, p. 119). A Corte Inglesa, por seu turno, acabou por lhe conferir ainda mais poder. Basta apenas dizer que o Par- lamento colocou em suas mãos todo o controle eclesiástico e limitou ainda mais os poderes se- nhoriais. Houve ainda a expropriação de toda a riqueza fundiária dos Mosteiros, que tiveram suas terras confiscadas pelo Estado e lançadas ao mercado. Com isso, completou-se, assim, uma refor- ma política e religiosa. Outra medida centralizadora foi a anexação formal do País de Gales ao reino da Inglaterra. Todo poder conferido ao Parlamento, que caracterizara consideravelmente os governos an- teriores, sob Henrique VIII, ficava agora obscurecido. O Parlamento era uma força em declínio. Enquanto o Estado sob os Tudor afirmava-se e se consolidava internamente, a política ex- terna declinava; a França e a Espanha haviam se fortalecido bastante e superavam, significativa- mente, a Inglaterra. O poder conferido a Henrique VIII pelo Parlamento escondia, na verdade, uma limitação ou mesmo uma fragilidade, que era a inexistência de um forte aparelho militar. A Inglaterra não construiu um exército forte, devido à sua condição insular. A Ilha continua- va relativamente imune ao risco de uma invasão marítima. Por esse motivo, não foi possível nem necessário à Inglaterra construir um aparelho militar comparável ao Absolutismo Francês ou Es- panhol. Ainda que fortalecida internamente, na política externa, a posição da Inglaterra era de infe- rioridade. Suas tentativas de intervenção nas guerras, no norte da França, na primeira metade do século XVI, tiveram péssimos resultados, geraram altos custos e revelaram-se verdadeiramente inúteis. A intervenção no estrangeiro foi mal conduzida, consumiu enormes gastos, o Estado teve de fazer empréstimos, mas, para financiar a guerra, foi necessário abrir mão das imensas proprie- dades de terras expropriadas dos Mosteiros, colocando-as à venda a uma pequena nobreza enri- quecida. Estima-se que grande parte do reino tenha sido vendido. Isso fragilizou economicamen- te as finanças da Inglaterra e acabou fortalecendo a pequena nobreza, o que futuramente trouxe enormes consequências. A Inglaterra nunca pôde contar com um grande exército regular, pois, conforme já visto, o Parlamento impedia o rei de impor taxações. Isso fez com que ocorresse uma precoce desmili- tarização da classe nobre. Conforme Anderson, “verificava-se uma progressiva dissociação da nobreza com respeito à função militar... precocemente, mais que qualquer outro reino do conti- ◄ Figura 9: Henrique VIII Fonte: Disponível em <http://www.passado. com.br/ntc/default.asp?- Cod=110>. Acesso em 26 out. 2010. 26 UAB/Unimontes - 5º Período nente” (ANDERSON, 1989). Com o desenvolvimento do comércio marítimo, houve “uma conver- são gradual da aristocracia às atividades comerciais muito antes de qualquer outra classe rural europeia do mesmo gênero” (ANDERSON, 1989, p. 125). Na definição de Anderson, a nobreza na Inglaterra tinha uma propensão não militar e proto-comercial. Isso acontecia, principalmente, em função do desenvolvimento da lanicultura e da indústria de lã para a fabricação de tecidos. Esse tipo de investimento atraía principalmente a pequena nobreza. Essas características fizeram com que a Inglaterra do período fosse definida como “[...] um Estado com uma pequena burocracia, um fisco limitado e sem exército regular” (ANDERSON, 1989, p.126). Com as consequências desastrosas para a economia da Inglaterra, decorridas em grande parte do envolvimento de Henrique VIII nas guerras com a França, o governo sucessor da Casa dos Tudor sofreu oposições. Eduardo VI (1547-1553), que assumiu o trono de Henrique VIII, teve de enfrentar diversas rebeliões e levantes durante o período de sua minoridade. Todas as rebeliões que tiveram lugar na Inglaterra desse período foram esmagadas por exér- citos de mercenários, já que, como foi visto, a Inglaterra não tinha um exército forte, regular e permanente. Maria Tudor (1553-1558) restaurou o catolicismo, mas sem muitas implicações. No reinado de Elizabeth – de 1558-1603 –, no âmbito religioso, direcionou-se o reino a um protestantismo moderado, com o estabelecimento de uma Igreja Anglicana obediente. A autori- dade real foi reforçada, já que a rainha desfrutava de grande popularidade. Uma área do governo em que se verificaram avanços foi no campo institucional. O Parla- mento começava agora a revelar certa independência e esboçar críticas à Monarquia. O Parla- mento viu também aumentar o número de membros, crescendo mais significativamente a pre- sença de fidalgos rurais. Com os constantes ataques promovidos à Igreja e a sua perda de credibilidade perante os fiéis, surgiu também um puritanismo de oposição. Houve uma gradual difusão, principalmente entre os membros dos grupos que estavam ligados as atividades comerciais, que deram novo incremento ao Parlamento. O Parlamento dava seus primeiros sinais de rebeldia principalmente quando se tratava de lançar novos impostos. A fim de aliviar sua dependência financeira, a rainha abria mão de novos lotes de terra, vendendo-os ao mercado. A Inglaterra continuava a não possuir um exército permanente, mas as novas formas de recrutamento fizeram com que a rainha contasse com tropas regulares para honrar os poucos compromissos externos que assumiu. Sua política externa era limitada. O único grande aspecto positivo, se é que pode ser assim considerado, foi a vitória marítima obtida contra a Espanha em que derrotou a invencível armada. Esse foi o único êxito de sua política externa. Todavia, isso não significou a anexação de territórios, nem outro tipo de ganho material. As colaborações externas que se comprometeu a dar, como o envio de soldados, serviram para corroer ainda mais suas finanças. As tentativas, ao longo do século XVI, da Inglaterra de anexar-se à Irlanda não foram feitas sem resistência. No final do governo de Elizabeth I, a Irlanda estava militarmente anexada. Essa conquista territorial só foi conseguida em razão da proximidade geográfica, e a Inglaterra não conseguiria conquistar outros domínios no continente. A anexação da Irlanda serviu, de todo modo, para fornecer à nobreza uma alternativa à expansão continental, contudo, a maior guina- da que a Inglaterra deu nesse período foi a progressiva reorientação de sua política naval que co- meçava a modernizar e militarizar sua esquadra. Navios de guerra começaram a ser construídos. Pode-se considerar que foi Henrique VIII que iniciou a modernização e ampliação do poder naval inglês. Mesmo que avançando em relação ao período anterior, o poder naval inglês ainda era in- ferior em relação ao poder naval espanhol e português, que estavam na dianteira da expansão marítima. Com a modernização da frota naval inglesa, os navios passaram a constituir, assim, uma du- pla função, ao serem, ao mesmo tempo, um navio mercante e um navio de guerra, equipados que eram com vários canhões. A vitória inglesa sobre o grande poderio naval espanhol, chamada de “A invencível armada”, prova a eficiência dos navios ingleses. Ao término do governo de Elizabeth, a Inglaterra já pos- suía uma expressiva marinha de guerra e mercante. Elizabeth I transformou a Inglaterra em uma potência marítima. Isso teve efeito positivo, pois, a partir daí, grande parte da nobreza se voltou para as ativi- dades mercantis. A classe fundiária e os grandes proprietários aliaram-se às elites mercantis dos portos e condados.Tais grupos não desenvolveram antagonismos. 27 História - História Moderna I Com a subida ao trono de Jaime I (1603-1625), da dinastia Stuart, a Escócia passava a ficar sob a mesma Coroa da Inglaterra Jaime I perseguia os ideais absolutistas, tinha profundo desprezo pelo Parlamento e en- frentava resistência da pequena nobreza. Com a conquista da Irlanda e da Escócia, os dois reinos eram mais alinhados e não ofereciam grande resistência às pretensões absolutistas de Jaime I. A política externa do referido Monarca foi caracterizada pela aproximação com a Espanha, o que em muito desagradava à classe fundiária. Apesar do descontentamento com a política exter- na, a classe fundiária se viu imensamente beneficiada, já que foi um período caracterizado pela elevação das rendas, principalmente da pequena nobreza, a gentry. Houve um progressivo aumento do comércio no período. Com o desenvolvimento das ativi- dades comerciais, no final do século XVI, a Inglaterra já constituía um mercado unificado. Como não havia necessidade da manutenção de grandes exércitos, o nível fiscal manteve-se baixo. Assistiu-se a um período de paz social no campo, os pobres não pagavam tantos impostos e recebiam como caridade a ajuda das paróquias de fundos públicos. O campesinato estava sujeito a uma carga fiscal bem mais suave e também a um processo de diferenciação social bem mais acentuado. Assim, emergiu um bom número de trabalhadores rurais assalariados. Não havia temores de uma insurreição rural no campo. Com isso, ocorreu a dispensa de um exército permanente, que resultou na cobrança de menos impostos, aliviando a população rural no campo, dispensou também a criação de uma burocracia para administrar o sistema tributário. A intervenção inglesa de Carlos I na Guerra dos 30 anos (1618-1648) revelou-se desastrosa. O Parlamento impedia a criação de impostos. Diferentemente da Escócia e da Irlanda, o rei tentou se valer de vários expedientes para au- mentar a arrecadação, tais como aplicação de multas e aumento dos monopólios. A venda de cargos como fonte de renda tornou-se uma importante receita. Todos esses expedientes revelaram-se inadequados e acabaram servindo muito mais para aumentar o antagonismo da classe fundiária, tanto em relação à Coroa quanto à Igreja. As tenta- tivas de lançamento de impostos também eram tolhidas pelo Parlamento. Em meio a esses acontecimentos, uma revolta estourou na Escócia em virtude da tentativa de imposição de uma liturgia anglicana. A Escócia, que não havia sido desmilitarizada, armou um poderoso exército, e Carlos I não tinha condição de reunir forças para oferecer resistência. A rebelião da Escócia pôs fim ao poder pessoal de Carlos I. Com a convocação do Parlamen- to, todas as garantias que os Stuarts haviam conseguido foram revogadas. 2.4.1 Revolução Inglesa Christopher Hill, um dos mais importantes historiadores da Inglaterra, aventa pelo menos duas interpretações sobre Revolução Inglesa do século XVII, uma mais liberal, outra mais conser- vadora (HILL, s/d). Um dos aspectos destacados por Hill é o caráter progressista da Revolução, sendo caracteri- zada, sobretudo, por uma luta pela liberdade contra um rei que se tornou tirano. Outra interpretação, de sentido mais conservador, destaca o caráter burguês da Revolução, em que os interesses do rei se opuseram aos interesses do parlamento. Há pelo menos um ponto em comum entre essas duas grandes interpretações acerca da Re- volução Inglesa. O conflito tornava evidente que um dos seus objetivos era decidir qual das duas principais religiões deveria predominar na Inglaterra: o Puritanismo ou o Anglicanismo. Essa questão conduz à discussão a respeito do papel que a Igreja desempenhou na Revolução. 2.4.1.1 Papel da Igreja O questionamento em torno do papel desempenhado pela Igreja Anglicana no curso da Re- volução Inglesa é um dos principais pontos destacados por Hill. Nesse período a instituição exer- cia uma grande influência na vida da população. É possível considerar que a Igreja estava presen- te em praticamente todas as etapas da vida do ser humano. Era ela a responsável pelo batismo, a educação e o casamento. Importante destacar o papel desempenhado pela Igreja na educação das pessoas, numa época em que a maioria da população era iletrada. Era essa poderosa insti- GLOSSáRiO Parlamento inglês: dividido em duas Câmaras: a Câmara dos Nobres e a Câmara dos Comuns. Câmara dos Lordes: formada por membros do alto clero e pela nobreza. Câmara dos Comuns: formada por represen- tantes dos diversos Con- dados e Municípios. Tratado de vestfália: designa uma série de tratados que encerrou a Guerra dos Trintas Anos (1618-1648). Fronda: Rebelião ocor- rida na França durante o período em que o Cardeal Mazzarino go- vernava o país em nome do regente Luís XIV. Taille: primeiro imposto nacional criado por uma monarquia moderna na Europa Ocidental. Surgiu na França no contexto da guerra dos cem anos para financiar a luta. A partir de então, tornou-se a base da tributação do estado absolutista francês. diCA Para observar melhor o tópico, assista ao filme “A outra”. 28 UAB/Unimontes - 5º Período tuição eclesiástica a responsável por controlar o sentimento dos homens e orientar em que eles deveriam acreditar. A Igreja constituía ainda um importante espaço de sociabilidade numa época em que havia poucos espaços para entretenimento. Funcionava também como uma propaganda da política do Estado, num período em que essas instituições estavam intimamente ligadas. A Igreja consti- tuía, desse modo, uma unidade administrativa em que bispos e sacerdotes eram como que fun- cionários públicos. A Igreja era uma importante fonte de notícias em que o sermão do padre era uma das prin- cipais fontes de informação e era frequente o governo orientar os religiosos sobre o conteúdo da pregação, a exemplo, da condenação da rebelião. A Igreja era, por fim, defensora da ordem vigente, e aqueles que pretendiam derrubar o Es- tado tinham que obter o seu controle. Nisso reside o quanto era importante para o Estado exer- cer um controle sobre a Igreja. O controle da Igreja pelo Estado também era justificado porque, nesse período, as ideias religiosas também estavam permeadas de ideias políticas. Nas palavras de Christopher Hill, as ideias religiosas eram envolvidas por uma “atmosfera religiosa” e por trás dessas ideias também havia um forte conteúdo social (HILL, s/d, p.21). Existia, portanto, um conteúdo social por trás das ideias religiosas. Aquelas pessoas que ten- tavam impor uma orientação religiosa também o faziam conforme as suas necessidades e inte- resses, materiais inclusive, seja dos mais ricos, seja dos mais pobres. Uma questão que não podemos perder de vista é que não se tratava de uma postura pura e simplesmente contrária à Igreja, mas tratava-se, na verdade, de “por fim ao uso da Igreja como um instrumento exclusivo e opressor do poder político” (HILL, s/d, p.21). Nesses termos e, com base nessas ideias, é possível pensar a Revolução Puritana tanto como uma luta religiosa quanto política. Assim, é lícito pensar a revolução como uma luta pelo desen- volvimento futuro da sociedade inglesa. Em suas últimas consequências, isso não significou ex- clusivamente a vitória da burguesia, mas a luta pela propriedade privada. Pelo menos uma coisa era dada como certa: diante do progresso econômico e social que a Inglaterra havia alcançado nos séculos XVI e XVII, o sistema político em vigor tornava-se incom- patível. 2.4.2 Fundo Econômico A Inglaterra, em princípios do século XVII, era um país predominantemente rural, uma vez que a maioria da população residia no campo. Vivia-se basicamente do cultivo de gêneros de pri- meira necessidade, da criação de ovelhas para o aproveitamento da lã e da confecção de tecidos.
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