Grátis
172 pág.

Denunciar
5 de 5 estrelas









4 avaliações
Enviado por
Cristiane Marchesan
5 de 5 estrelas









4 avaliações
Enviado por
Cristiane Marchesan
Pré-visualização | Página 11 de 42
da estrutura de representação de Moscovici. Tanto Durkheim quanto Piaget demonstraram que o estatuto da representação é, ao mesmo tempo, epistêmico, social e pessoal e é a consideração destas três dimensões que pode explicar por que as representações não são uma cópia do mundo externo, mas uma construção simbólica deste mundo (OSTI; SILVEIRA; BRENELLI, 2013). A inserção da criança no ambiente escolar objetiva aumentar a carga de estímulos para a aprendizagem. Os indivíduos jovens, no contexto humano, possuem sensores muito ativos nas fases iniciais da vida. Isso possibilita a apreensão das informações no cérebro. Portanto, a formação psicofísica dos seres humanos deve ocorrer de modo apropriado e cercado de cautela. O contato com novas pessoas na gênese de sua inserção escolar pode incorrer em danos futuros inerentes ao caráter do indivíduo. Em fase de crescimento, a criança tem uma gama de necessidades. Além da necessidade de manutenção da vida, existem demandas por independência, aperfeiçoamento, segurança, autoestima, aprovação. São definidos os valores existenciais estéticos, intelectuais e morais (NOGUEIRA, 2016). Caros acadêmicos, não nos esqueçamos de que as crianças, no Brasil, têm o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu capítulo IV. Para que as crianças se tornem cidadãos, os adultos formadores têm um papel fundamental. Esse novo conjunto formado por crianças (classe escolar) é composto por uma infinidade de diferenças. Esses indivíduos estão apenas iniciando seu ciclo social, porém já chegam nessa fase com uma bagagem bastante volumosa advinda dos valores familiares aos quais foram expostos até então. Além disso, existem as diferenças físicas (gordo, magro, alto, baixo, branco, negro etc.) e também diferenças na capacidade de aprendizagem (NOGUEIRA, 2016). A atividade sensório-motora precede a representação, e a aquisição da lingua- UNIDADE 1 TÓPICO 3 39 P S I C O L O G I A D A C O M U N I C A Ç Ã O gem também está subordinada ao exercício da função simbólica. A represen- tação deriva, em parte, da própria imitação, portanto, a imitação constitui uma das fontes da representação, que fornece essencialmente seus significantes imaginados. Pela imitação da ação, os repertórios dos comportamentos infantis são ampliados e gradualmente interiorizados. Por outro lado, o jogo (ou ativi- dade lúdica) conduz igualmente da ação à representação, na medida em que evolui de sua forma inicial do exercício sensório-motor para a segunda forma de jogo simbólico ou de imaginação (OSTI; SILVEIRA; BRENELLI, 2013, p. 40). As crianças iniciam a construção de suas representações partindo de suas vivências (das trocas de experiências) e de sua qualidade. No momento em que vem ao mundo a criança não dispõe de instrumentos intelectuais completos, nem da representação do que a rodeia, embora esteja inserida num mundo social. Assim, Piaget foi um dos primeiros autores a refletir que a criança, no momento da elaboração de suas representações, baseia-se nas transmissões (diretas/indiretas), bem como nas suas próprias experiências, onde o nível intelectual é fator preponderante para a compreensão da realidade. De forma sucinta, Moscovici (2004) atribui duas funções às RS. QUADRO 4 - FUNÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SEGUNDO MOSCOVICI 1- Convencionam os objetos, pessoas ou acontecimentos Elas lhes dão uma forma definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente as põem como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. Todos os novos elementos se juntam a esse modelo e se sintetizam nele. Mesmo quando um indivíduo ou objeto não se adequa exatamente ao modelo, nós o forçamos a assumir determinada forma, entrar em determinada categoria, na realidade, a se tornar idêntico aos outros, sob pena de não ser nem compreendido, nem decodificado. Nós pensamos através de uma linguagem; nós organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por nossas representações, como por nossa cultura. 2- São prescritivas Elas se impõem sobre nós com uma força irresistível. Essa força é a combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser pensado. FONTE: Adaptado de Reis e Belini (2011, p. 152) Por outro lado, as RS têm papel fundamental na dinâmica das relações e nas práticas sociais e respondem a quatro funções que as sustentam: QUADRO 5 - FUNÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 1- Função de saber As RS permitem compreender e explicar a realidade. Elas permitem que os atores sociais adquiram os saberes práticos do senso comum em um quadro assimilável e compreensível, coerente com seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais eles aderem. 2- Função identitária As RS definem a identidade e permitem a proteção da especificidade dos grupos. As representações têm por função situar os indivíduos e os grupos no campo social, permitindo a elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante, compatível com o sistema de normas e de valores socialmente e historicamente determinados. UNIDADE 1TÓPICO 340 P S I C O L O G I A D A C O M U N I C A Ç Ã O 3- Função de orientação As RS guiam os comportamentos e as práticas. A representação é prescritiva de comportamentos ou de práticas obrigatórias. Ela define o que é lícito, tolerável ou inaceitável em um dado contexto social. 4- Função justificadora Por essa função as representações permitem, a posteriori, a justificativa das tomadas de posição e dos comportamentos. As representações têm por função preservar e justificar a diferenciação social, e elas podem estereotipar as relações entre os grupos, contribuir para a discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles. FONTE: Adaptado de Reis e Belini (2011, p. 152) Considerando o progresso do desenvolvimento humano dentro de uma sequência universal, podemos dizer que o indivíduo evolui em sua compreensão do mundo em uma sequência ordenada, portanto, sua forma de compreender e organizar a realidade depende do desenvolvimento alcançado por suas estruturas intelectuais. O conhecimento social refere-se às representações elaboradas pelo homem a partir de suas inúmeras atividades. Trata-se da compreensão das ideias sobre si mesmo e a respeito dos outros (OSTI; SILVEIRA; BRENELLI, 2013). Por fim, entendemos que as RS compreendem as concepções individuais que um sujeito, ou grupo social, têm a respeito de determinada temática abordada. Fazendo-se, dessa forma, presente nas relações sociais, bem como no conjunto de opiniões e comportamentos dos indivíduos, os quais refletem seus valores e condutas. Assim, as representações sociais traduzem a forma como o indivíduo pensa, interpreta e acredita em determinada realidade. 3 RELAÇÕES ENTRE O INDIVIDUAL, O COLETIVO E A COMUNICAÇÃO Os fenômenos individual e coletivo são alvos de investigação científica desde o século XX. O objetivo dos pesquisadores é evidenciar a interdependência entre os dois, ou seja, para explicar o nível coletivo se faz necessário um aporte teórico semelhante aos que são usados para a explicação do nível individual. Conforme visto anteriormente, a teoria das Representações Sociais (RS) de Moscovici reforça a ideia de que a identidade específica da Psicologia Social evidencia a exploração e a resolução de um problema histórico: As inter-relações entre os mundos individual e coletivo. A Psicologia Social, desta forma, se apresenta como uma disciplina híbrida, preocupada em estabelecer as relações que se processam nos campos de estudo tanto da psicologia, como da sociologia. A crítica de Moscovici torna-se evidentemente mais incisiva quando o mesmo expõe sua preocupação quanto às intenções de muitos teóricos da Psicologia Social contemporânea, em es- pecial os de origem norte-americana, em apenas acrescentar uma dimensão social aos