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CAPOEIRA NA ESCOLA ANÁLISE E REFLEXÕES ACERCA DE SUA-1

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU 
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPOEIRA NA ESCOLA: ANÁLISE E REFLEXÕES ACERCA DE SUA 
LEGITIMAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DAS ESCOLAS 
ESTADUAIS DA DIREC 13 – JEQUIÉ-BAHIA 
 
 
 
 
GIULIANO PABLO ALMEIDA MENDONÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2013
 
 
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU 
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física 
 
 
 
 
 
 
 
CAPOEIRA NA ESCOLA: ANÁLISE E REFLEXÕES ACERCA DE SUA 
LEGITIMAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DAS ESCOLAS 
ESTADUAIS DA DIREC 13 – JEQUIÉ-BAHIA 
 
 
 
 
GIULIANO PABLO ALMEIDA MENDONÇA 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do 
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu/ 
Mestrado em Educação Física da Universidade São 
Judas Tadeu, como exigência parcial para obtenção 
do título de Mestre em Educação Física, sob 
orientação da Profª Drª Eliana de Toledo. 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2013
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca 
da Universidade São Judas Tadeu 
Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464 
 
 
 
Mendonça, Giuliano Pablo Almeida 
M539c Capoeira na escola: análise e reflexões acerca de sua legitimação nas aulas de 
Educação Física das escolas estaduais da Direc 13- Jequié-Bahia / Giuliano Pablo 
Almeida Mendonça. - São Paulo, 2013. 
164 f. : il. ; 30 cm. 
 
Orientador: Eliana de Toledo Ishibashi. 
Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2013. 
 
1. Capoeira. 2. Educação física escolar. I. Ishibashi, Eliana de Toledo. II. 
Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em 
Educação Física. III. Título 
 
 
CDD 22 – 796 
 
 
GIULIANO PABLO ALMEIDA MENDONÇA 
 
CAPOEIRA NA ESCOLA: ANÁLISE E REFLEXÕES ACERCA DE SUA 
LEGITIMAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DAS ESCOLAS 
ESTADUAIS DA DIREC 13 – JEQUIÉ-BAHIA 
 
Dissertação de Mestrado apresentada a USJT – Universidade São Judas Tadeu, como 
requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação Física, sob a orientação da 
Professora Doutora Eliana de Toledo. 
 
 
Banca examinadora 
 
___________________________________________ 
Titular – Profª Drª Eliana de Toledo (orientadora) 
Universidade São Judas Tadeu – SP 
 
 
____________________________________________ 
Titular – Profª Drª Paula Cristina da Costa Silva 
Universidade Federal do Espírito Santo – ES 
 
 
_____________________________________________ 
Titular – Profª Drª Maria Luiza de Jesus Miranda 
Universidade São Judas Tadeu – SP 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2013
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 A Deus, por me dar força e me carregar nos braços nos momentos de fraqueza; 
 A meu bom São Judas, por, quando tudo parecia impossível, abrir algum 
caminho para resolução; 
 A meus pais, Mendonça e Neyde, por sempre me incentivarem a ir adiante, a me 
encorajarem para esse enorme desafio e sempre dizer “vai lá meu filho, tudo vai 
dar certo”; 
 A Mary, minha parceira, minha companheira, minha mais que amiga, que 
entendeu os momentos de stress e de ausência. Saiba que se não fosse por você, 
nada disso teria acontecido. 
 A meu irmão Giorgione, com nossos demorados telefonemas, dando força um ao 
outro quando estávamos longe de casa; 
 A minha querida orientadora, Profª Drª Eliana de Toledo, que sempre acreditou 
em mim e me auxiliou nos momentos de dúvidas. Obrigado por me (des) 
orientar, em me fazer pensar e, sobretudo, escrever o que pensava; 
 A Profª Drª Paula Cristina da Costa Silva, por sua disponibilidade e 
contribuições para a melhoria dessa pesquisa; 
 A Profª Drª Maria Luiza de Jesus Miranda, minha madrinha na São Judas, 
aquela que puxou pelo braço e disse, “vamos ,Baiano!”; 
 Aos Professores Graciele Massoli, Sheila Aparecida e Érico Caperuto, por tanto 
me ajudarem tanto nas aulas, quanto no bate-papos informais; 
 A Ray, uma das pessoas mais especiais que já conheci na minha vida, ela que é 
considerada com a segunda mãe de Mary, posso dizer Ray, que você ganhou 
também mais um filho, e sou muito agradecido por me considerar assim. 
 A minha “família” de São Paulo, Roque, Isabel, Anderson e Cristina, que me 
acolheram com especial cuidado. 
 Profissionalmente falando, tenho que agradecer a algumas pessoas, talvez elas 
não saibam, mas tem uma parcela de contribuição imensa na minha vida, Sonia 
da Guarda, Marcelo Lomanto, Samara Macedo, Valdemir Dias e José Alberto 
Pereira, hoje me considero um educador pelos exemplos e auxílios que me 
deram ao longo do tempo; 
 
 
 A meu amigo-irmão Hegel, pela parceria de longos anos; 
 Ao Mestre Alfredo, pelas nossas longas conversas, eu na minha ousadia 
querendo discutir Capoeira com uma pessoa que respira dia a dia essa 
manifestação; 
 Aos meus mais que colegas, com o passar do tempo, transformaram-se em 
verdadeiros amigos, Luciana Giannocoro, Osmar Júnior, Cossote e Daniel 
Bocchini, uma amizade que mesmo com a distância, nunca se apagará; 
 Aos demais colegas e funcionários da São Judas; 
 Aos meus amigos da Bahia; 
 A família Pio XII e Vicenzo Gasbarre; 
 Aos colegas professores que se dispuseram a responder o questionário e 
contribuir com a pesquisa; 
 
Enfim, a todos que, direta e indiretamente, participaram em algum momento da 
minha vida. 
A todos, meus mais sinceros agradecimentos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Nos últimos anos, a Capoeira tem tido uma ascensão no que se refere ao seu estudo e 
divulgação na sociedade como um todo. É crescente o movimento que busca valorizar 
essa manifestação cultural Afro-brasileira, especialmente no ambiente escolar, como 
evidenciam inúmeros estudos e documentos oficiais que sinalizam essa possibilidade. 
Mas, mesmo com esse processo de valorização dessa manifestação cultural, percebemos 
que o tema Capoeira ainda não é desenvolvido de forma maciça na escola. Sendo assim, 
o presente estudo tem como objetivo investigar se a Capoeira está sendo abordada nas 
aulas de Educação Física na região da DIREC 13, e caso não esteja (nossa hipótese 
mediante imersão nesta realidade), compreender e analisar os motivos pelos quais isso 
ocorre, a partir do discurso dos professores. Paralelo a esse objetivo principal, 
buscaremos também, por meio destes discursos, relacionar estes motivos às fases 
historicamente vividas pela Capoeira, apontando rupturas e permanências neste 
processo de legitimação da Capoeira no ambiente escolar. Neste contexto, a presente 
pesquisa se justifica por ser mais um estudo acadêmico que vem a abordar esta temática, 
somando-se a outras que temos em nível nacional, e que visam colaborar para a defesa 
do ensino da Capoeira nas aulas de Educação Física escolar. Outra justificativa que 
parece pertinente é fomentar o debate acerca de uma tensão existente nesta área no 
Estado da Bahia, pois embora esta manifestação da cultura corporal seja valorizada fora 
dos “muros escolares” nesta região, sendo tratada em academias, nas ruas, filmes, 
novelas, propagandas, livros, etc; seu espaço parece ainda não estar sendo valorizado no 
contexto escolar. O método utilizado para essa pesquisa foi o descritivo de cunho 
qualitativo, utilizando-se como instrumento a aplicação de questionários, contemplando 
uma amostra de 47 professores que lecionam a disciplina Educação Física nas escolas 
estaduais da região abrangidas pela (DIREC 13) Jequié-BA. Cerca de 53% desta 
amostra respondeu aos questionários, e a partir da análise de Bardin (1977), foi possível 
algumas interpretações. Concluímos que todos os professores participantes são 
licenciados em Educação Física e quase todos tiveram a disciplina Capoeira na 
graduação. A maioria também fez cursos de especialização e o curso promovido pela 
Secretaria de Educação do Estado sobre a Capoeira. Todos eles consideram importantedesenvolver o tema Capoeira em suas aulas (por motivos culturais, históricos e de 
desenvolvimento motor), apesar de 18, dos 25 professores de fato a desenvolverem em 
suas aulas. Outro dado a destacar é que 78% dos professores entendem a Capoeira como 
um tema multifacetado, o que se constitui como uma facilidade para aborda-la nas aulas 
de Educação Física. No que diz respeito às dificuldades encontradas para se desenvolver 
a Capoeira, o argumento da falta de material também apareceu, somado às mais diversas 
formas de preconceito, principalmente a religiosa, evidenciando que teremos que lidar 
com um novo tipo de preconceito para desenvolver este tema: a intolerância religiosa. 
 
 
Palavras-chave: Capoeira; Educação Física Escolar; História da Capoeira. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
In recent years, Capoeira has been a rise in relation to its study and dissemination in 
society as a whole. A growing movement that seeks to valorize this African-Brazilian 
cultural manifestation, especially in the school environment, as evidenced by numerous 
studies and official documents indicate that possibility. But even with this valuation 
process this cultural manifestation, realize that the issue is not yet developed Capoeira 
massively in school. Thus, this study aims to investigate whether Capoeira is being 
addressed in physical education classes in the region of DIREC 13, and if not (our 
hypothesis by immersion in this reality), understand and analyze the reasons why this 
occurs, from the teachers' discourse. Parallel to this main objective, also seek through 
these discourses, these reasons relate to the phases historically experienced by Capoeira, 
pointing ruptures and continuities in this process of legitimation of Capoeira in the 
school environment. In this context, this research is justified because it is more an 
academic study that comes to addressing this issue, adding to the other we have at the 
national level, and aimed to contribute to the defense of the teaching of Capoeira classes 
in Physical Education. Another justification is that it seems pertinent to stimulate debate 
about a tension in this area in the State of Bahia, for although this manifestation of body 
culture is valued outside of "school walls" in this region, being treated in gyms, on the 
streets, films, novels , advertisements, books, etc; your space seem even not being 
valued in the school context. The method used for this research was descriptive 
qualitative nature, using as instrument the questionnaires, covering a sample of 47 
teachers who teach Physical Education in state schools in the region covered by 
(DIREC 13) Jequie-BA. About 53% of this sample responded to the questionnaires, and 
the analysis of Bardin (1977), it was possible some interpretations. We conclude that all 
participating teachers are licensed in Physical Education and almost all had the 
discipline Capoeira graduation. Most also made specialized courses and course 
sponsored by the State Education about Capoeira. All they consider important to 
develop the theme Capoeira in their classes (for cultural, historical and motor 
development), although 18 of the 25 teachers actually develop in their classes. Another 
fact worth noting is that 78% of teachers believe Capoeira as a multifaceted issue, 
which is constituted as a facility to address her in physical education classes. With 
regard to the difficulties encountered in developing the Capoeira, the argument of lack 
of material also appeared, together with various forms of prejudice, especially religious, 
showing that we have to deal with a new kind of bias to develop this theme: religious 
intolerance. 
 
Keywords: Capoeira, Physical Education, History of Capoeira. 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01- Negros no porão 26 
Figura 02- Negros no tronco 27 
Figura 03- Gargalheiras. Máscaras e mordaças 28 
Figura 04- N’Golo ou dança das zebras 31 
Figura 05- Jogar Capoeira 32 
Figura 06- Mestre Bimba 50 
Figura 07- Mestre Pastinha 59 
Figura 08- Pastinha e seus discípulos 64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 01- Bloco de conteúdos 79 
Quadro 02- Unidades de contexto das respostas da questão 10 106 
Quadro 03- Unidades de registro das respostas da questão 10 108 
Quadro 04- Categorização das respostas da questão 10 110 
Quadro 05- Unidades de contexto das respostas da questão 11 112 
Quadro 06- Unidades de registro das respostas da questão 11 114 
Quadro 07- Categorização da das respostas da questão 11 116 
Quadro 08- Unidades de contexto das respostas da questão 13 118 
Quadro 09- Unidades de registro das respostas da questão 13 119 
Quadro 10- Categorização das respostas da questão 13 120 
Quadro 11- Unidades de contexto das respostas da questão 16 (Facilidades) 125 
Quadro 12- Unidades de registro das respostas da questão 16 (Facilidades) 126 
Quadro 13- Categorização das respostas da questão 16 (Facilidades) 127 
Quadro 14- Unidades de contexto das respostas da questão 16 (Dificuldades) 128 
Quadro 15- Unidades de registro das respostas da questão 16 (Dificuldades) 129 
Quadro 16- Categorização das respostas da questão 16 (Dificuldades) 130 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 01- Idade 95 
Gráfico 02- Instituição de formação 97 
Gráfico 03- Ano de conclusão do curso 98 
Gráfico 04- Disciplina com o tema Capoeira na graduação 99 
Gráfico 05- Curso de especialização 100 
Gráfico 06- Área de especialização 101 
Gráfico 07- Conclusão da especialização 101 
Gráfico 08- Participação em cursos, encontros e congressos 102 
Gráfico 09- Tempo de exercício na rede pública estadual 103 
Gráfico 10- Participação no curso Capoeira na escola 105 
Gráfico 11- Utilização do tema nas aulas 117 
Gráfico 12- Perfil/ perspectiva de abordagem 123 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO 1 
 Introdução 13 
 
CAPÍTULO 2 
 O caminhar da pesquisa 19 
 
CAPÍTULO 3 
 As fases da Capoeira no Brasil: nuances de um olhar histórico 24 
 3.1- Capoeira no Brasil – da herança Africana a uma forma de resistência 25 
 3.2- A Perseguição 33 
 3.2.1- Rio de Janeiro 34 
 3.3- A Criminalização 39 
 3.3.1- Bahia 41 
 3.4- Esportivização da Capoeira 46 
 3.4.1- Mestre Bimba 50 
 3.4.2- Mestre Pastinha 59 
 3.5- Expansão e valorização como patrimônio e fenômeno cultural 65 
 
CAPÍTULO 4 
 Capoeira na Escola: entre a valorização e a legitimação 70 
 4.1- Educação Física Escolar frente às LDB’s e aos PCN’s 71 
 4.2- A abordagem e o ensino da Capoeira nas aulas de Educação Física 76 
 4.2.1- Abordagens Conceituais 76 
 4.2.2- Formas de Ensino 85 
 
CAPÍTULO 5 
 Capoeira na escola na região da Direc 13- Jequié-BA 94 
 5.1. Parte I: Perfil dos sujeitos pesquisados 94
 5.2. Parte II- Participação no curso “Capoeira na Escola” 104 
 5.3. Parte III- Utilização do tema nas aulas de Educação Física 111 
 
 
 
CAPÍTULO 6 
 Considerações Finais 133 
 
Referências 136 
Apêndices 144 
Anexos 151 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
1- INTRODUÇÃO 
 
Em 1998, quando ingressei no curso de Educação Física, não pensava que fosse 
atuar na área da Educação Física escolar, uma vez que associava, naquela época, a área 
relacionada ao ensino dos esportes, numa visão bastante limitada. Porém, aos poucos fui 
descobrindo que essa era uma vocação adormecida - o ser educador estava na minha 
alma- e hoje tenho buscado alimentar e aprofundar cada dia mais. 
Pensando como professor de Educação Física que sou hoje e lembrando como 
foram as minhas aulas na época de estudante do ensino fundamental e médio, considero-
me um privilegiado por ter tidoa oportunidade de vivenciar vários conteúdos e tipos de 
aulas e em locais diferentes. O que atualmente serviu como uma espécie de filtro para 
que eu pudesse avaliar a minha própria conduta como docente somada às experiências e 
conhecimentos que adquiri até hoje. 
Comecei tendo o que chamo de aulas com “herança militar”, pois na 5º e 6º 
séries minhas aulas eram basicamente exercícios físicos militares, sendo que no período 
da manhã, bem cedo, corríamos vários quilômetros como “aquecimento” e no retorno 
fazíamos mais alguns exercícios calistênicos na “parte principal”, e como “volta à 
calma”, alongávamos e íamos para casa. Em outros raros momentos, jogávamos futebol, 
e com essa rotina sofríamos nas primeiras semanas com dores musculares, o que não 
nos motivava para fazer a aula novamente. 
Esta vivência ocorreu quando morava no povoado do município de Brejões- 
Bahia, e, dois anos depois, entre 1993 e 1994, minha família foi morar em Maracás, 
também no Estado da Bahia. Coincidentemente nesse período houve uma mudança no 
formato das aulas de Educação Física na Rede Pública de ensino deste Estado, pois as 
14 
 
aulas passaram a ser no mesmo turno das demais disciplinas, e não mais no contraturno 
escolar. 
Essa mudança se caracterizou como um choque para mim, visto que só tinha 
presenciado até aquele momento uma Educação Física exclusivamente prática e sem 
uma aparente sistematização, não conseguindo associar essa disciplina a alguma coisa 
que não fosse correr ou jogar futebol, ou outra modalidade qualquer. 
Acredito que esse choque tenha sido também para os professores que me 
ensinavam naquela época, lembro-me bem que nenhum deles era formado, até porque, a 
Educação Física servia como uma espécie de complemento de carga horária para os 
professores de outras áreas, que iam “tapando buracos”, ou complementando suas 
cargas horárias lecionando esta disciplina. Isso parecia ocorrer, provavelmente, porque 
era quase uma unanimidade que qualquer um podia ser professor dessa disciplina, 
afinal, era só dar uma bola e pronto!... E também porque, reconheçamos, eram escassos 
os profissionais formados que se aventuravam no interior do Estado para lecionar, 
mesmo porque os cursos superiores existiam basicamente na capital Salvador, pois esse 
processo de abertura de cursos de Educação Física, numa maior quantidade no interior 
da Bahia, se intensificam a partir do ano de 1997, quando a Universidade Estadual do 
Sudoeste da Bahia e a Universidade Estadual de Feira de Santana iniciaram suas 
atividades (PIRES, 2008). 
Terminado o ensino fundamental, precisava fazer o ensino médio numa escola 
que me preparasse para o vestibular, fato que fez com minha família mudasse 
novamente para outra cidade no início de 1995. E nessa nova escola, agora particular, 
vivenciei outro tipo de Educação Física, a exclusivamente esportivizada. Nesses três 
anos vivenciei uma gama maior de esportes, aprendendo a jogar basquete, handebol, 
vôlei, atletismo. 
15 
 
Apesar de não ter sido um “exemplo” de estudante, consegui a aprovação no 
vestibular na primeira tentativa, e como todo “leigo”, acreditava que iria jogar “muita 
bola” na faculdade. Ledo engano... Ingressei no curso no mesmo ano que foi 
regulamentada a profissão de Educação Física e para minha surpresa, o curso tinha um 
cunho muito mais pedagógico do que para o treinamento físico ou para o esporte de 
rendimento. 
Quando iniciei o terceiro semestre, consegui um estágio na Escola que leciono 
até hoje, que me deu elementos para vivenciar o que estudávamos na Universidade, 
analisando no “chão da escola” o que poderíamos fazer para romper com o 
exclusivismo dos esportes clássicos (dentro de uma visão da performance esportiva), 
enraizado nos nossos alunos quando até hoje escutamos a célebre frase “Professor, é 
bola hoje?”, ou trazendo para a gíria da Bahia “Professor, hoje é o baba?”. 
Na tentativa de oportunizar aos meus educandos uma maior gama de conteúdos 
e conhecimentos nas aulas de Educação Física e tornar esta disciplina mais significativa 
para a vida dos alunos, já citava a Capoeira no meu planejamento por entender, de 
forma simplória, que esta deveria ser tratada quando abordasse os aspectos históricos da 
Educação Física no Brasil. Porém, o fazia de uma maneira mais tímida, afinal, “não 
tinha a experiência do praticante de Capoeira”. Este fato começou a mudar efetivamente 
após participar do curso de extensão em Capoeira na Escola, em 2010, ofertado pela 
Secretaria de Educação do Estado da Bahia, o qual me deu elementos e curiosidade em 
pesquisar esse tema. 
Nas conversas que tínhamos no referido curso, seja com os colegas, seja com 
mestres de Capoeira, percebi que havia uma certa lacuna no que diz respeito ao trato 
desse conteúdo no ambiente escolar. Alguns colegas a utilizavam, boa parte não a 
abordava em suas aulas, e outros ainda utilizavam-na de forma esporádica (por uma 
16 
 
série de motivos). Este último fato me causava certa estranheza, afinal, a Bahia figura 
como um dos Estados que tem a Capoeira como uma manifestação cultural muito 
sólida, sendo considerada na atualidade como um berço da mesma. 
Essa não utilização efetiva nos leva a refletir no que Penha (2009) afirma quando 
toca no assunto de que a escola estabelece critérios de acordo as suas necessidades, 
juntamente com as necessidades da sociedade, quando diz respeito às manifestações 
culturais, sendo assim, um processo de escolha no qual a escola prioriza alguns temas 
em detrimento de outros. 
A partir desta realidade vivida, comecei a me indagar acerca da não inserção da 
Capoeira como conteúdo das aulas de Educação Física, procurando entender quais 
poderiam ser os motivos dessa escolha. Problemática que foi amadurecida no projeto de 
pesquisa que apresentei por ocasião do processo seletivo do Mestrado em Educação 
Física, da Universidade São Judas Tadeu, em 2010, o qual fui aprovado para a turma 
que se iniciaria em 2011. 
Assim, a presente pesquisa objetiva investigar se a Capoeira está sendo abordada 
nas aulas de Educação Física na região da Diretoria Regional de Ensino- Direc 13, 
situada na cidade de Jequié- Bahia, e caso não esteja (nossa hipótese mediante imersão 
nesta realidade), compreender e analisar os motivos pelos quais isso ocorre, a partir das 
respostas dos professores. Paralelo a esse objetivo principal, buscaremos também, por 
meio destes discursos, relacionar estes motivos às fases historicamente vividas pela 
Capoeira, apontando rupturas e permanências neste processo de legitimação da 
Capoeira no ambiente escolar, também vivido de forma mais ampliada na sociedade. 
É válido destacar que essa Diretoria Regional de Educação tem como papel 
representar a Secretaria de Educação na administração regional, abrangendo em sua 
jurisdição 25 municípios, e atualmente está sob a direção de Alvanil Cunha. 
17 
 
A escolha por essa região se deve ao fato do pesquisador trabalhar em uma 
escola pertencente a essa Direc, além de participar constantemente de encontros com os 
professores das demais localidades abrangidas por essa diretoria, fato que facilitaria o 
contato com os sujeitos da pesquisa, bem como uma preocupação particular no 
desenvolvimento da Educação Física nessa região. 
Neste contexto, a presente pesquisa se justifica por ser mais um estudo 
acadêmico que vem a abordar esta temática, somando-se a outros em nível nacional e 
que visam colaborar para a defesa do ensino da Capoeira nas aulas de Educação Física 
escolar. Outra justificativa que parece pertinente é fomentar o debate acerca de uma 
tensão existente nesta área, especialmente no Estado da Bahia, pois embora ela seja 
valorizada fora dos “muros escolares”, sendo tratadas em academias, nas ruas, filmes, 
novelas, propagandas, livros, etc; seu espaço parece ainda não estar sendo valorizado e 
até mesmo legitimado no contexto escolar. 
Num aspecto mais amplo,poderá colaborar para uma reflexão e efetivação da 
Capoeira na escola, contribuindo com a formação continuada de professores, assim 
como, para a constituição de uma Proposta Curricular para o Estado da Bahia, que está 
em fase de elaboração. 
Para garantir esses objetivos, organizamos essa dissertação da seguinte forma: 
No segundo capítulo, apresentaremos a opção metodológica da pesquisa que foi 
a descritiva, de cunho qualitativo, assim como o campo de estudo, os sujeitos da 
amostra e os instrumentos de coleta de dados. 
No capítulo terceiro buscamos trazer uma abordagem histórica para a Capoeira, 
buscando expor as características que ela traz desde a suas origens, bem como seu 
aparecimento no Rio de Janeiro, com a intensa perseguição e consequente 
criminalização, chegando ao ponto de quase desaparecer nos registros históricos, até 
18 
 
ganhar visibilidade em Salvador, quando do aparecimento de Mestre Bimba e do Mestre 
Pastinha, dois dos principais ícones da Capoeira no Brasil até a atualidade. 
Concomitante a Bimba e Pastinha, abordaremos o processo de esportivização da 
Capoeira, e a sua expansão e valorização como patrimônio e fenômeno cultural, 
conseguido por meio do seu tombamento no Ministério da Cultura, no ano de 2008. 
No quarto capítulo, abordaremos a Capoeira na escola, especialmente nas aulas 
de Educação Física, perpassando pelas duas últimas LDB’s publicadas, e também pelos 
Parâmetros Curriculares Nacionais, até chegarmos à Lei 10.639/03, que inclui o estudo 
obrigatório na rede oficial de ensino, da temática história e cultura afro-brasileira, o que 
na nossa visão, consolidaria a inserção do tema na escola e nas aulas de Educação 
Física. Ainda nesse capítulo, traremos alguns estudos que inserem a Capoeira em suas 
propostas pedagógicas, bem como algumas publicações propõem a forma de 
sistematiza-la nas aulas de Educação Física escolar, mostrando as mais diversas 
possibilidades de trabalha-la. 
No quinto capítulo, traremos a análise dos dados da pesquisa, fundamentados na 
Análise de Conteúdo de Bardin (1970). 
Enfim, no sexto capítulo, apresentaremos as considerações finais em que serão 
apontadas algumas conclusões acerca da temática estudada, comungando os referenciais 
teóricos utilizados e os dados obtidos na pesquisa de campo. 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
2- O CAMINHAR DA PESQUISA 
 
O presente estudo se caracteriza por uma pesquisa descritiva, de cunho 
qualitativo, abordando uma amostra não probabilística atípica, escolhida pelo autor a 
partir do problema de pesquisa, e levando em consideração condições temporais, 
técnicas e de acesso às instituições educacionais. (THOMAS e NELSON, 2002; 
LAVILLE e DIONNE, 1999). 
Segundo Minayo et al. (1999, p.21), a “pesquisa qualitativa [...] trabalha com o 
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que 
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos 
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. 
Gil (1999, p.44) complementa que essas pesquisas “[...] têm como objetivo 
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o 
estabelecimento de relações entre variáveis”. 
A partir dos autores supracitados, esta pesquisa atende aos preceitos da pesquisa 
qualitativa, uma vez que busca descrever e interpretar os dados coletados dos 
professores acerca da apropriação e desenvolvimento do tema Capoeira em suas aulas. 
A pesquisa inicia-se com um levantamento bibliográfico acerca do contexto 
histórico da Capoeira, de como essa manifestação apareceu e foi se constituindo ao 
longo dos tempos em nosso país. Num segundo momento, buscamos identificar alguns 
referenciais que versavam sobre a Capoeira e sua inclusão nas aulas de Educação Física 
escolar. 
Encerrado esse processo, se iniciou outro tipo de pesquisa com caráter 
exploratório (o de campo), para contemplar o objetivo da pesquisa. O primeiro passo foi 
contatar a Diretoria de Ensino 13, no nome da diretora Avanil Cunha, para uma 
20 
 
apresentação da pesquisa. Após este contato informal, foi estabelecido outro mais 
formal, encaminhando-se à Direc 13 um pedido de autorização (Apêndice A) para 
contatar de forma oficial os professores sujeitos da pesquisa (todos eles atuantes em 
escolas públicas pertencentes a esta Diretoria). 
Concomitante a este processo, iniciou-se a elaboração do instrumento de 
pesquisa, o questionário. Fizemos a opção por este instrumento devido à grande 
quantidade de sujeitos que pretendíamos investigar, pois, como afirmam Laville e 
Dionne (1999, p.184) o questionário “permite alcançar rápida e simultaneamente um 
grande número de pessoas, uma vez que elas respondem sem que seja necessário enviar-
lhes um entrevistador”. 
O questionário foi dividido em três partes, assim organizado: Parte I- Dados 
Pessoais/ Formação; Parte II- Participação no curso específico de Capoeira; Parte III- 
Utilização da Capoeira nas aulas. 
Na parte I, buscamos levantar o perfil dos sujeitos, obtendo dados sobre a 
formação e a atualização profissional, o tempo de exercício na rede pública de ensino do 
Estado da Bahia, dentre outros. Para essa primeira parte do questionário, nos 
permitimos fazer uma análise quantitativa, visto que ela apresenta dados muito 
objetivos. 
Na parte II, levantamos dados acerca da participação dos professores no curso de 
capacitação em Capoeira na Escola, curso esse que foi ofertado de forma opcional para 
professores da Rede Estadual, no ano de 2010, com carga horária de 130 horas, em que 
visava dar elementos para que o professor trabalhasse com o tema na Escola, buscando 
com o curso efetivar o cumprimento da lei 10.639/03 que versa acerca da inclusão da 
obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira, característica na qual a 
Capoeira se vincula. 
21 
 
Por fim, a parte III, buscamos levantar dados a respeito da importância da 
utilização do tema por parte do professor, porque (utiliza ou não) e caso a aborde, de 
que forma o faz em suas aulas. 
A opção pelo questionário veio ao encontro da necessidade do autor, uma vez 
que a região proposta a ser pesquisada compreendia um grande número de escolas, e, 
consequentemente, de professores, sendo inviável a visita de forma pessoal por parte do 
pesquisador. 
Com a devida autorização por parte da Direc 13, encaminhamos o projeto para a 
apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu (CEP-
USJT), por meio da Plataforma Brasil. Depois de receber o parecer autorizando a 
pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu (Anexo 
A), contatamos os professores para que a eles fosse encaminhado o Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B) e o questionário (Apêndice 
C). Ressalta-se que, seguindo as orientações do CEP, os professores receberam o TCLE, 
que continha informações sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, e um 
campo para a assinatura de autorização para utilização dos dados contidos no 
questionário. O universo da pesquisa constitui-se, portanto, de 47 professores de 
Educação Física, docentes de escolas estaduais pertencentes à DIREC 13. 
Alguns professores foram consultados presencialmente, mas outros, devido à 
distância das escolas ou por problemas de incompatibilidade com os horários do 
pesquisador, foram consultados via email. Um total de 47 professores receberam os 
questionários, seja pessoalmente ou via email, no período de fevereiro de 2013 a abril 
de 2013. 
Obtivemos uma amostra final que totalizou 25 respostas, sendo que não 
obtivemos respostas dos demais, pois alguns professores não estavam atuando em sala 
22 
 
de aula, outros não quiseram responder o questionário e alguns não o devolveram a 
tempo da análise dos dados por parte do pesquisador, totalizando assim 53% de 
questionários válidos. 
A análise dos dados foi fundamentadaem Bardin (1977, p.38), que propõe a 
análise de conteúdo “como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que 
utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das 
mensagens”. Para essa autora (op.cit.), a análise de conteúdos compreende três fases 
diferenciadas: 
- a pré-análise; 
- a exploração do material e o tratamento dos resultados; 
- A inferência e a interpretação. 
A pré-analise configura-se como a fase de organização propriamente dita, em 
que o objetivo é sistematizar as ideias iniciais para que se possa estruturar um esquema 
preciso de desenvolvimento das operações seguintes num plano de análise. 
A exploração do material consiste na administração sistemática das decisões 
previamente tomadas após os procedimentos da pré-análise. 
Para o tratamento dos resultados utiliza-se a codificação que é o momento em 
que permite transformar os dados brutos em unidades de maneira sistemática. Essa 
codificação ocorre mediante a identificação de dois elementos: 
 Unidades de registro, que Minayo (1999, p. 75) explica que “essas unidades se referem 
aos elementos obtidos através da decomposição do conjunto da mensagem”. Entre as 
unidades de registro mais usadas, podemos exemplificar a palavra, a frase ou a oração. 
 Unidades de contexto, maior que a unidade de registro, situado como uma referência 
mais ampla, tendo como função primordial facilitar a compreensão no processo de 
23 
 
codificação da primeira. Podemos citar como unidades de contexto a frase para a 
palavra e o parágrafo para o tema. 
Neste trabalho foi considerada unidade de contexto a resposta completa por parte 
dos professores em cada uma das questões abertas, e como unidades de registro, o 
destacamento de expressões que julgamos terem sido mais significativos para a 
construção das respostas. 
Identificadas às unidades de contexto e as respectivas unidades de registro, 
buscamos estabelecer as categorias, a partir de agrupamento de unidades de registro que 
tinham similaridade entre eles, com temas centrais comuns, que por sua vez, nomearam 
estas categorias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3- AS FASES DA CAPOEIRA NO BRASIL: NUANCES DE UM OLHAR 
HISTÓRICO 
 
A importância da análise histórica para o trato do conhecimento na atualidade 
vem sendo cada vez mais fortalecida em diferentes áreas e trabalhos acadêmicos, e não 
somente na área da História, como em diversas outras áreas, incluindo a Educação 
Física. No entanto, parece que ainda muitos trabalhos não têm dado o devido trato e 
importância a esta relação, fazendo dos primeiros capítulos destes trabalhos acadêmicos, 
textos desconexos com o tema do trabalho, onde se tratam de maneira superficial esses 
aspectos históricos, diminuindo e subestimando sua importância. 
Diferentemente destes trabalhos, o objetivo da abordagem histórica da Capoeira 
nesta dissertação é de poder analisar a trajetória histórica desta manifestação de nossa 
cultura, justamente para melhor compreender seu presente como parte deste processo, e, 
portanto, a ele relacionado. E esta abordagem que segue poderá fornecer subsídios para 
traçarmos paralelos acerca do processo de sua legitimação no espaço escolar ao 
analisarmos os dados obtidos na pesquisa de campo. 
Neste contexto, ao tomar contato com a literatura que aborda os aspectos 
históricos sobre a Capoeira no Brasil, é possível concluir que ela passou por diversas 
etapas. 
Estas etapas serão tratadas com maior densidade nos sub-capítulos a seguir. 
 
 
 
25 
 
3.1- CAPOEIRA NO BRASIL – DA HERANÇA AFRICANA A UMA FORMA DE 
RESISTÊNCIA 
 
 
O Navio Negreiro 
Abadá Capoeira 
Que navio é esse 
que chegou agora 
é o navio negreiro 
com os escravos de Angola 
vem gente de Cambinda 
Benguela e Luanda 
eles vinham acorrentados 
pra trabalhar nessas bandas 
aqui chegando não perderam a sua fé 
criaram o samba 
a capoeira e o candomblé 
Que navio é esse 
que chegou agora 
é o navio negreiro 
com os escravos de Angola 
acorrentados no porão do navio 
muitos morreram de banzo e de frio 
 
São nesses navios negreiros, como trata a canção, que os escravos trouxeram sua 
bagagem cultural constituída pelos seus costumes, religiões, danças, músicas, modos de 
cozinhar, se vestir, enfim, todo um arcabouço que foi forjado em diferentes etnias e que, 
chegando ao Brasil juntamente com outros elementos culturais, dos povos que aqui 
moravam, constituíram a criação de uma manifestação cultural que se transformou num 
dos maiores legados da cultura negra no nosso país: a Capoeira. 
Rego (1968 p.15) relata que vieram de Angola os primeiros escravos, bem como 
a maior quantidade de negros importados: “Angola era o centro mais importante da 
época e atrás dela, querendo tirar-lhe a hegemonia, estava Benguela. Angola foi para o 
Brasil o que o oxigênio é para os seres vivos”. 
Essa predileção pelos negros de Angola era devido à boa qualidade dos escravos, 
entendo-se boa qualidade como sinônima de maior robustez e fácil disciplinamento 
(“eram mais submissos”), associados à concepção de uma boa mercadoria. Porém, os 
http://letras.mus.br/abada-capoeira/
26 
 
angolanos não eram os únicos, negros de outros países do continente africano eram 
escravizados e trazidos para o Brasil de forma desumana e violenta. Forma essa de 
tratamento que ia desde o seu aprisionamento na África, retirando-os do convívio dos 
seus familiares, de seus costumes e de sua terra, passando pelo seu transporte, realizado 
nos porões fétidos dos navios negreiros superlotados, com pouco alimento, conforto, 
culminando com sua chegada ao Brasil onde eram vendidos nos mercados públicos 
como se fossem objetos ou mercadorias (SILVA, 2007). (figura 01) 
 
 
Figura 01 - João Maurício Rugendas - Negros no porão do navio, Litografia. 1835. 
 
 
Diante da formação heterogênea desses grupos, a ideia dos senhores era que 
esses escravos, pertencendo a grupos distintos, não conseguissem se articular para uma 
organização na luta pela liberdade. 
Mas, mesmo pertencendo a grupos com língua (idioma ou dialeto), costumes e 
tradições diferentes, não foram estes os fatores limitadores de uma mobilização coletiva. 
Ou seja, no momento em que eram obrigados a trabalhar juntos, observados sob uma 
severa vigilância, e a conviver juntos em senzalas, acabavam por mesclar estas culturas 
27 
 
e a encontrar mecanismos coletivos de sobrevivência (que colaboravam para a 
superação destas diferenças). 
Freitas (2006 p.28) afirma que 
 
A constante vigilância e severa violência empregada contra os negros foram à 
marca dos cativeiros brasileiros que preservaram a cultura de quanto mais o 
outro for subjugado, humilhado, castigado, amedrontado, mais controle se 
tem sobre ele. De certa forma, esta também pode ter sido a mola propulsora 
para que acontecessem as rebeliões nas senzalas. Aos descontentes com este 
tratamento restava o tronco. Tronco no sentido literal, onde o escravo rebelde 
era amarrado e, exposto em público, era chicoteado quantas vezes fossem 
necessárias para esquecer ideias contrárias às de submissão e servidão. 
 
 
 
Figura 02. Jean Baptiste Debret. Negros no Tronco, Pintura. 1835 
 
A violência a qual os negros escravizados estavam submetidos obedecia a uma 
rotina, que era a de sofrer chicotadas diárias. Além delas, havia também o castigo 
preventivo, realizado semanalmente para não pensar em fuga, e, quando chamavam 
atenção, sofriam um castigo exemplar, como mutilações de dedos, furo nos seios, 
queimaduras com ferro em brasa, ou dos açoites no pelourinho, sob trezentas chicotadas 
de uma vez, para matar (RIBEIRO, 1995). 
28 
 
Ansiando por liberdade devido aos maus tratos sofridos, alguns negros fugiam e, 
se capturados eram castigados mais severamente, “[...] sendo marcado(s) com ferro em 
brasa, tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo,em dias de agonia, na boca da fornalha ou, de uma vez só, jogado nela para arder como 
um graveto oleoso” (ibidem, p.120). 
Para aliviar os sofrimentos do cativeiro, os escravos usavam a cachaça e a 
maconha, na época chamada “fumo de Angola”, que era trazida clandestinamente nos 
navios negreiros (DEL PRIORE e VENANCIO, 2010). 
Outra forma de revolta a este meio de vida era o suicídio. Muitos escravos se 
suicidavam comendo terra, enforcando-se, envenenando-se com ervas e potagens dos 
mandingueiros (FREYRE, 2003). Na tentativa de minimizar esse tipo de atitude, os 
senhores colocavam uma máscara de ferro na boca do escravo que fosse suspeito de 
querer cometer suicídio (FREITAS, 2006), como nos mostra a figura 03. 
 
 
Figura 03- Jacques Etienne Arago - Gargalheiras,Máscara e Mordaças. Litografia. 1839.
1
 
 
1 Há um fato curioso nesta imagem, pois ao contemplar em seu título a palavra “gargalheiras”, causou-nos 
a reflexão, seguida de uma curiosidade histórico-acadêmica, acerca inclusive da proibição do riso e da 
gargalhada (e portanto, à diversão, conversa e felicidade) pelos escravos. Neste sentido, esta máscara não 
29 
 
Inconformados com a situação de maus tratos e principalmente de clausura, os 
negros escravos acabaram por perceber que sua única arma contra toda opressão que 
sofriam seria o seu próprio corpo, conforme podemos observar no comentário de 
(Santos, 1990, apud Freitas, 2006, p.28)
2
. 
 
Para poderem adestrar seus corpos à vista dos seus senhores, disfarçavam os 
movimentos da luta numa forma de dança, passando assim uma imagem de 
simples divertimento, e quando fugiam das senzalas e eram encontrados, 
procuravam se defender com seus coices, cabeçadas e rasteiras para não 
serem reconduzidos ao cativeiro. 
 
Percebendo que a agilidade e destreza corporal poderiam ser eficazes para 
empreender fugas, os negros de fato investiram em fazer dos seus próprios corpos, uma 
arma para se defenderem e para enfrentarem seus opressores em emboscadas e a 
refugiar-se em bandos, criando assim os chamados quilombos (DIAS, 1997). 
Del Priore e Venancio (2010, p.59) relatam que os quilombos eram 
“comunidades originalmente constituídas por negros fugidos, instaladas, hoje, nas áreas 
onde houve luta e resistência contra a escravidão. Palmares foi o maior quilombo 
colonial, nascido no bojo das guerras do açúcar”. 
 
No Nordeste, desde os fins do século XVI, foram registradas fugas de 
escravos. Sabia-se, então, que os fugitivos se concentravam na área que se 
estendia entre o norte do curso inferior do rio São Francisco, em Alagoas, às 
vizinhanças do cabo São Agostinho, em Pernambuco. Tratava-se de uma 
região acidentada, coberta de mata tropical onde abundava a palmeira 
pindoba, daí o nome: Palmares (Ibidem, p.60). 
 
Essa forma de se defender praticada pelos negros nos quilombos figura como 
uma hipótese para o surgimento da Capoeira, porém, não é a única, existem autores que 
 
só era utilizada para inibir o suicídio, mas também para coibir este divertimento. No entanto, esta reflexão 
não encontrou eco em algumas literaturas como: Ribeiro, 1995; Freyre, 2003; Caldeira, 2008; Narloch, 
2009). 
 
2
 SANTOS, A.O. Capoeira: Arte-Luta Brasileira. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado, 1983. 
30 
 
colocam que a Capoeira, apesar de ter se materializado efetivamente no Brasil, traz 
elementos de manifestações da África, como Falcão (2004, p. 17) afirma 
 
Os registros históricos evidenciam que, quando a capoeira ensaiou os seus 
“primeiros passos”, no Brasil, o fez através dos corpos de africanos de várias 
etnias e reinos, trazidos pelos portugueses para a, então denominada, Terra de 
Santa Cruz. É possível afirmar, portanto, que, embora ela tenha sido 
“engravidada” na África, ela já “nasce” no Brasil pluriétnica. 
Metaforicamente, poderíamos dizer que seu “berço” é africano, mas sua 
“cama” é brasileira, embora nela povos de outros cantos tenham tirado alguns 
“cochilos”. Ou seja, ela foi “batizada” no Brasil, como “filha” de uma 
condição de exploração a que foram submetidos seres humanos procedentes 
de diversas etnias africanas em terras recém invadidas pelos portugueses. 
 
Para complementar essa informação, poderíamos dizer que, há outras hipóteses 
acerca dos “berços” da Capoeira, ao qual se referiu Falcão (2004), como a proposta a 
seguir, considerando-a que a mesma adveio de algumas características do N’golo ou 
Dança das zebras (Figura 04). 
O n’golo é dançado por rapazes nos territórios do sul de Angola, durante o 
ritual da puberdade das meninas. Chamado de mufico, efico ou efundula, esse 
ritual marca a passagem da moça para a condição de mulher, apta a namorar, 
casar e ter filhos. É uma grande festa em que se consome muito Macau, 
bebida feita de um cereal chamado massambala. O objetivo do n’golo é 
vencer o adversário atingindo seu rosto com o pé. A dança é marcada pelas 
palmas, e, como na roda de capoeira, não se pode pisar fora de uma área 
demarcada. N’golo significa “zebra” e, de fato, alguns movimentos, em 
particular o golpe dado pelo pé, de costas e com as duas mãos no chão, 
parecem mesmo com o coice de uma zebra. (ASSUNÇÃO e MANSA, 2008, 
p.01)
3
 
 
 
3
 Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/elo-perdido 
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/elo-perdido
31 
 
 
Figura 04- N’Golo ou Dança das Zebras. In: PIRES, Antônio Liberac Cardoso 
Simões. A capoeira na jogo das cores: criminalidade, cultura e racismo na cidade do Rio de 
Janeiro (1890-1937). 1996. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e 
Ciências Sociais (IFCH), Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 
 
Mas, essa manifestação não surgiu com este nome, e percebemos que até hoje 
discussões são travadas na tentativa de explicar a origem desse vocábulo. Rêgo (1968) 
faz um levantamento acerca das versões etimológicas do termo, dentre os quais 
podemos destacar: 
- Capoeira vem do tupi-guarani caá-puêra, mato que deixou de existir ou 
mato ralo; 
- Capoeira era também um nome de uma ave encontrada em várias 
regiões do país, principalmente, espalhada no sul da Bahia, Rio de 
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, dentre outros Estados, 
principalmente no sul do Brasil. Fazendo uma acepção com a capoeira, 
este mesmo autor destaca que o macho desta espécie era muito 
ciumento e por conta disso travava lutas com o rival, que entrasse em 
32 
 
seus domínios, com movimentos naturais que se assemelhavam aos 
movimentos executados pelos capoeiristas; 
- Capoeira era também o nome dado a um cesto de palha ou vime, que 
servia para carregar capões, galinhas e outras aves para serem vendidas 
no mercado e que, em alguns momentos ociosos, nesses locais, os 
escravos praticavam essa manifestação a que podemos chamar de 
capoeira. 
 
 
Figura 05- Rugendas- 1835- Jogar capoeira 
 
A figura anterior leva-nos a refletir alguns pontos que consideramos importantes 
acerca da Capoeira: percebemos apenas negros reunidos observando dois em 
movimento, que supostamente estariam lutando: além disso, conseguimos verificar 
outro negro tocando uma espécie de tambor e no fundo na imagem, na mão do negro, 
nos pareceu uma cabaça, o que pode sinalizar outro instrumento: e por fim, essa prática 
se dá num local aparentemente sem “mato”, o que pode vir a corroborar com a 
associação do nome com o vocábulo em tupi-guarani exemplificado anteriormente. 
33 
 
Estas informações nos remetem a uma reflexão acerca da existência de um local 
específico para o surgimento da Capoeira, como aborda Abib (2004, p.96), 
 
Não existiu uma matriz, ou um centro irradiadorúnico que pudesse ser 
considerado como o local de surgimento da capoeira. Ela brotou 
espontaneamente e com formas diferenciadas em diferentes locais pelo país, 
materializando, porém, uma memória e um saber coletivos que 
caracterizavam a ancestralidade de milhões de homens e mulheres que, 
vindos da África, traziam e cultivavam um pedaço dela no Brasil. 
 
Não existem ainda pesquisas que afirmem categoricamente sobre o aparecimento 
da Capoeira, que foi compreendida como um misto de dança, herança africana e usada 
para disfarçar o treinamento de golpes dos senhores, e de luta, para se proteger dos 
castigos. E essa Capoeira foi sistematicamente perseguida e repreendida a partir dos fins 
do século XVIII e início do século XIX no Rio de Janeiro por parte das autoridades 
locais por estar ligada principalmente a registros policiais envolvendo escravos em 
desordem pelas ruas da cidade (ABIB, 2004). 
 
3.2- A PERSEGUIÇÃO 
 
Como não houve um centro irradiador da Capoeira
4
 conforme citado 
anteriormente, as obras recém-publicadas nos levaram à cidade do Rio de Janeiro, 
capital do Brasil no começo do século XIX, mais especificamente abrigo da família 
Real, que no ano de 1808 desembarcou “fugida de Portugal”. Devido a esta presença da 
corte, a cidade tornou-se o centro das atenções e maior centro financeiro do país, e 
também por isso, palco de conflitos sociais, onde temos as primeiras notícias 
relacionadas à perseguição dos Capoeiras. 
 
 
4
 Para esta pesquisa, utilizaremos o termo Capoeira precedido do artigo no feminino quando se tratar da 
manifestação e o termo Capoeira precedido do artigo no masculino quando tratarmos do praticante de 
Capoeira. 
34 
 
3.2.1-RIO DE JANEIRO 
 
 
Foi no Rio de Janeiro 
Autor desconhecido 
 
Foi no Rio de janeiro 
Chegaram os ex escravos colega veio 
A grande periferia 
Vagando pela cidade 
Sem ninguém pra lhe ajudar 
Negro ia vadiar 
Na capoeira meu irmão 
E o jogo começava 
Rabo de arraia 
A cabeçada e a rasteira 
Mas o passado escravo 
Oh! Fez o negro inferior 
Sem condições de viver colega veio 
Marginal ele virou 
Assaltando casas nobres 
Foi mercenário sim sinhô 
manhosos e traiçoeiros 
eram Guiamuns eram Nagôs 
rodas no Rio de Janeiro 
foi verdadeiro terror 
e nem mesmo a polícia 
podia nada fazer 
 
Essa canção retrata a situação marginal do negro quando chegou ao Rio de 
Janeiro. E foi esse local, capital Federal desde 1763, que recebeu um contingente maior 
de escravos e ex-escravos, e, devido às precárias condições de vida, em sua grande 
maioria, que alguns deles passaram a perturbar a ordem pública, segundo as autoridades 
da época. 
Na pesquisa de Soares (2001, p. 21) há uma passagem de um jornal da época 
citando que “[...] um dos maiores problemas da ordem social da capital do país e quiçá 
do império no meio século anterior: os Capoeiras”. 
A partir dessa passagem, seria “natural” que pensássemos quem eram os 
Capoeiras os grandes protagonistas das desordens naquela época. Na sequência desta 
narrativa, Soares (op cit, p.23) ainda menciona que a reportagem traz uma definição 
corrente daquele tempo, em que os Capoeiras eram indivíduos sem ocupação legítima. 
35 
 
Isto é, começa-se a perceber que a prática da Capoeira não era mais manifestação 
exclusiva de escravos, e sim, de pessoas desocupadas em geral (dentre eles escravos). 
É nesse período também que jornais de época começam a alertar não só os 
senhores de engenho, mas também a força policial acerca dessa manifestação de 
capoeiragem local. 
 
A impunidade por uma parte, a frouxidão da polícia e o desleixo de muitos 
senhores por outra, são as causas destas tristes ocorrências. Se não fora a 
muita moralidade que felizmente se observa entre nós, e o espírito manso e 
pacífico dos habitantes desta cidade, muitos mais desacatos se veriam 
praticar. Ainda assim estes arrombamentos de portas e mesmo roubos que 
recentemente têm havido manifestam bem que não há bastante receio dos que 
velam pela pública tranquilidade. E quem se não os tais capoeiras e peraltas 
tem ousado violar o asilo do cidadão. (SOARES, op.cit, p. 23). 
 
Pelo descrito nesta matéria, a imprensa da época parecia culpabilizar os 
Capoeiras pelo aumento da criminalidade na cidade, e isso provavelmente se deveu ao 
fato da habilidade desses indivíduos terem utilizados os gestos da Capoeira para se 
proteger, bem como para fugir. Porém, há de se lembrar que a segurança pública da 
cidade também estava ameaçada por outros tipos de elementos que perturbavam a 
ordem pública, como arrombadores, assaltantes, ladrões, etc. 
Como estratégia de proteção, os negros começam a se articular em grupos 
procurando se defender da perseguição e consequentemente da truculência da polícia e 
também dos seus senhores (KARASH apud SOARES, 2001)
5
. 
Essa articulação, espontânea ou planejada, foi denominada como as maltas de 
capoeira. 
 
A malta era a unidade fundamental de atuação dos capoeiras. Elas vão 
significar toda uma refinada organização social que reunia escravos cativos, 
libertos ou forros em solidariedade com toda uma parcela marginalizada da 
população de brancos e mulatos, constituída desde trabalhadores pobres, até 
desocupados, arruaceiros, bêbados, delinquentes, vigaristas, biscateiros, 
 
5
 KARASH, M.C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: Companhia das 
Letras, 2000. 
36 
 
punguistas, desordeiros, valentões, contando com uma parcela importante de 
portugueses, franceses, espanhóis e ingleses entre outros imigrantes, não 
menos marginalizados, que portando paus, porretes, facas e navalhas, 
promoviam “correrias” pelas ruas da Corte, em espetáculos bizarros de 
pancadaria e demonstração de destreza e valentia; seja em ocasiões de 
grandes concentrações populares como festas, desfiles cívicos, comícios 
políticos, etc., seja inesperadamente, à luz do dia ou à noite, para desespero 
da população e perplexidade da polícia, que atônita, muitas vezes não tinha 
muito a fazer nessas ocasiões (ABIB, 2004, p.100). 
 
É válido lembrar que esses grupos (maltas) não surgiam exclusivamente para a 
luta contra as repressões policiais, mas sim, para demarcar seus espaços e consolidar sua 
identidade (SOARES, 2001). 
Os piores embates eram travados entre os próprios negros que, aglutinados em 
suas respectivas maltas, defendiam os limites de seus territórios, utilizando golpes de 
Capoeira, navalhas e porretes no meio das ruas (ALMEIDA, 2008). 
Esses indivíduos eram identificados pelos seus meios peculiares de vida, com 
suas próprias linguagens, roupas e adornos, além do uso de facas e navalhas
6
, o que se 
transformou em formas de identificação por parte da força policial. 
 
Os registros policiais revelam que era muito comum se prender capoeiras por 
usarem chapéus com fitas amarelas e vermelhas, ou uma combinação das 
duas, como uma marca de identificação. Em 1818, José Rebolo, escravo de 
Alexandre Pinheiro, foi preso por carregar uma navalha e usar “um chapéu 
branco com uma grande fita vermelha e amarela em torno da parte superior 
com o resto ficando livre” – o inconfundível sinal dos capoeiras. Outros eram 
presos por assobiarem sons associados com os grupos, que eram a forma de 
senha para contatar seus companheiros. (SOARES apud SOARES, 2001, 
p.64)
7
 
 
Assim, Soares (2001) nos mostra que a Capoeira era um dos principais motivos 
das prisões no início do século XIX, onde os castigos físicos visavam intimidar seus 
praticantes, criando um clima de violência constante na cidade, pois afinal, os Capoeiras 
voltavam a encontrar seus algozes nas ruas. 
 
6
 Soares (1997) ressalta que um dos sinais da influência e da presença dos portugueses na Capoeira seja a 
utilização da navalha,visto que essa “arma” também era um objeto utilizado pelos fadistas em Portugal. 
7
 SOARES, L.C. Urban slavery in nineteenth century. Rio de Janeiro, Londres, University College, 
tese de P.H.D., 1988 
37 
 
Os castigos sofridos pelos Capoeiras consistiam de centenas de chibatadas em 
plena praça pública, quando não eram mandados para o “Calabouço”, um presídio 
localizado no Morro do Castelo, onde, além das chibatadas, os presos sofriam com as 
condições desumanas do cárcere, como a falta de água e a comida estragada (ABIB, 
2004). 
Esses dados estão registrados nos chamados Códices, que eram os volumes em 
que se registravam os ofícios e as ocorrências policiais da primeira metade do século 
XIX. Soares (2001) menciona o códice 403 como o primeiro registro de prisões do 
século XIX, e que se constitui como a maior fonte de dados sobre os Capoeiras desse 
período. Também por meio destes registros da época é que começamos a perceber as 
diversas nuances da capoeira, ora considerada luta, ora vista como jogo, dança, 
folguedo, etc. 
 
No início da década de 1810, era comum o escrivão relatar que o indivíduo 
estava “jogando” a capoeira, algo que demonstra a presença do lúdico, do 
exercício. Curiosamente, no decorrer dos anos, este detalhe passa a ser mais 
omitido e os negros são presos simplesmente por “capoeira” [...] Este uso 
pode ter influenciado na conformação do termo capoeira para identificar o 
indivíduo, o tipo social, e não, como antes, a prática, a dança (SOARES, op. 
cit, p.76). 
 
É esse Capoeira, perseguido, massacrado por uma ordem social vigente da 
primeira metade do século XIX, que deixa um legado para as gerações seguintes 
 
O legado deixado para as gerações seguintes de negros e homens pobres da 
cidade do Rio de Janeiro foi uma estratégia social, uma forma de lidar com os 
agressores, uma comunhão da solidariedade grupal – importante para muitos 
que deixaram parentes e amigos do outro lado do Atlântico -, como 
autodefesa frente aos inimigos, fossem eles da mesma extração social, ou 
envergassem os trajes de defensores da ordem (Ibidem, p.76) 
 
É a partir desse legado, que verificamos na segunda metade do século XIX, a 
continuação da perseguição aos Capoeiras, agora estavam muito mais organizados na 
forma de maltas. 
38 
 
Como não conseguiram extinguir essa prática e, por ocasião da Guerra do 
Paraguai nos fins de 1864, o governo se utilizou do mecanismo do recrutamento forçado 
dos negros, fossem eles livres ou escravos, pois o Brasil necessitava de um contingente 
maior de soldados no front de guerra. Este recrutamento também era uma estratégia 
utilizada pela monarquia para “livrar-se dos elementos considerados indesejáveis” 
(REIS, 1997, p. 56). 
A vitória do país na Guerra e o retorno dos soldados sobreviventes trouxeram 
algumas consequências à sociedade, e uma delas foi à boa imagem por parte da 
população sobre esses soldados, que em grande parte eram negros ou pertencentes às 
camadas mais populares. 
 
A presença em massa de elementos das camadas populares na Guerra do 
Paraguai, participando ativamente, decidindo combates, demonstrando 
bravura, modificou o imaginário por parte da elite sobre o negro, o mestiço, o 
homem das cidades e do campo. O mestiço, o caboclo, o ex-escravo, visto 
com desdém antes de 1865 passou a ser observado por parcela da classe 
dirigente como símbolo da nacionalidade, herói da pátria, defensor do 
império (SOARES, 1993, p.270) 
 
Porém, com a prerrogativa da condição de militar, o consequente não 
cumprimento de promessas feitas, dentre as quais podemos destacar a de alforria dos 
escravos que se engajaram na guerra, fazem com que reapareçam a figura dos Capoeiras 
do pré-guerra, com o agravante do status alcançado, além da politização conseguida 
após aquela ocasião (ibidem). 
Com o agravamento desse quadro, escutam-se as primeiras vozes pedindo a 
criminalização da Capoeira, que até aquele momento ainda não era considerada crime 
segundo o código penal, apesar das perseguições e consequentes punições por parte das 
autoridades. Convém lembrar que nessa época o discurso do higienismo estava presente 
na sociedade e que, por meio desse discurso, que se pautava numa abordagem 
biologicista, considerava-se a raça negra como inferior à branca e como tal, seus 
39 
 
pertencentes não conseguiriam transcender a esse estado de arruaceiros, não 
conseguindo, portanto, viver de forma harmoniosa com a sociedade (REIS, 1997). 
Esse discurso da criminalização da Capoeira fora reforçado também por 
questões políticas, pois os negros apoiavam os monarquistas, inimigos políticos dos 
republicanos, que chegaram ao poder em 1889 através de um golpe militar, reforçando a 
perseguição frente aos Capoeiras. 
Reis (op cit, p.63) amplia esta reflexão: 
 
De que modo os capoeiras constituíram um obstáculo para a efetivação desse 
projeto político? A imbricação de capoeiras na ordem política anterior e a 
oposição aberta que alguns deles fizeram aos republicanos será o pretexto 
imediato para que os novos donos do poder os caracterizem como inimigos 
políticos ou, na ótica jacobinista, “inimigos do povo virtuoso”. 
 
Pires (1996) ainda menciona que os presos, por praticarem a Capoeira, eram 
enviados para o presídio da ilha de Fernando de Noronha, e que essa política de 
repressão aos Capoeiras era capitaneada por Sampaio Ferraz, então chefe da polícia na 
capital federal daquele período. 
Sampaio Ferraz era auxiliado por um grupo de informantes, dentre os quais, 
Capoeiras e velhos conhecidos da polícia, que ajudaram a organizar uma lista de nomes 
e endereços. De posse dessas informações, iam buscar os Capoeiras “em casa” 
(SOARES, 1999). A estratégia de Sampaio Ferraz era de deportar os presos logo para a 
ilha de Fernando de Noronha de forma arbitrária, sem qualquer medida judicial, para 
não dar tempo dos advogados liberá-los (PIRES, 1996). 
 
3.3- A CRIMINALIZAÇÃO 
 
Essa intensa perseguição aos Capoeiras culmina na oficialização dessa prática 
como crime, fato que se oficializa a partir do dia 11 de outubro de 1890, quando esta 
40 
 
passa a constar no código penal Brasileiro, em seu artigo 402, que tratava “Dos vadios e 
capoeiras” 
 
Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal 
conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas 
ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto 
ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de 
algum mal. 
Pena – prisão celular de dois a seis meses. 
Parágrafo único: é considerada circunstância agravante pertencer a algum 
bando ou malta. Aos chefes e cabeças se imporá a pena em dobro. 
(REGO, 1968, p. 292) 
 
Nota-se neste artigo uma aproximação generalizada entre vadios e capoeiras, e, 
além disso, podemos pensar que, qualquer exercício de agilidade e destreza poderia ser 
considerado como Capoeira. Assim, qualquer manifestação corporal expressa ao ar livre 
(especialmente em grupo), mesmo que não viesse a colocar em risco outras pessoas, 
poderiam ser passíveis de prisão. 
Outra observação que fazemos é uma tentativa, muito mais acentuada, em acabar 
com a ação das maltas, uma vez que a pena imposta era agravada caso um indivíduo 
fizesse parte de um grupo desses. 
Complementando ainda esse Código Penal, encontramos o artigo 403 e o artigo 
404 que estabeleciam: 
 
No caso de reincidência será aplicado ao capoeira, no grau máximo a pena do 
art. 400. (Pena de um a três anos em colônias penais que se fundarem em 
ilhas marítimas, ou nas fronteiras do território nacional, podendo para esse 
fim serem aproveitados os presídios militares existentes). 
Parágrafo único- Se for estrangeiro será deportado depois de cumprir a pena 
Art. 404- Se nesses exercícios de capoeiragem perpretar homicídios, praticar 
lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, e perturbar a ordem,a 
tranquilidade e a segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá 
cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes. 
(SOARES, 1999, p.434) 
 
E foi baseado nesse artigo, não sabemos se o cumprindo à risca, que os 
Capoeiras eram mandados para as prisões marítimas, naquele momento de uma forma 
41 
 
oficial, já que os Capoeiras já eram enviados para as prisões marítimas antes da inserção 
desse artigo no código penal. 
Pires (1996) afirma que a repressão policial comandada por Sampaio Ferraz deu 
um duro golpe na organização dos Capoeiras, mas, apesar disso, ainda houve registros 
das atuações das maltas dos Capoeiras pelo menos até as duas primeiras décadas do 
século XX no Rio de Janeiro. 
Se Sampaio Ferraz não conseguiu acabar totalmente com a prática da Capoeira, 
pelo menos conseguiu minar a atuação política e autonomia social das maltas, força essa 
obtida especialmente no pós-guerra do Paraguai, desfocando assim a relevância que essa 
manifestação ganhou ao longo do século e com isso, desviando a atenção para com os 
Capoeiras, não aparecendo tanto nos noticiários policiais. 
E se no Rio de Janeiro a Capoeira deixou de ser notícia, é no Estado da Bahia, 
que a partir do século XX, passa a ganhar notoriedade, seguindo as ondas de repressão e 
perseguição advindas da Capital Federal do século XIX. 
 
3.3.1- BAHIA 
 
Que Magia Tem A Bahia 
Abadá Capoeira 
 
Que magia tem a Bahia 
Quem poderá explicar 
Tem mandinga tem energia 
Tem capoeira no ar 
Chegando no Pelourinho 
Escuto um berimbau viola 
 
Bahia terra que para muitos possui uma aura especial, terra que respira Capoeira, 
o Estado que ouvimos cotidianamente como sinônimo de Capoeira. 
http://letras.mus.br/abada-capoeira/
42 
 
A viagem do Rio de Janeiro à Bahia neste texto, não só justifica-se pela maior 
abrangência da literatura pesquisada, mas também pela relação já pré-existente entre 
estas regiões e o tema Capoeira. 
Abordamos anteriormente que os Capoeiras, juntamente com prostitutas, 
assaltantes, pedintes, entre outros, estavam constantemente sendo alvo da repressão aos 
chamados vadios daquela época na cidade do Rio de Janeiro. Mas o fato interessante é 
que “[...] de um total de 2.632 presos capoeiras entre 1861 e 1890, temos 112 baianos 
(4,25%). Mesmo descontando aqueles que foram presos mais de uma vez, esses 5% são 
mais numerosos que qualquer comunidade fora da província do Rio ou da corte” 
(SOARES, 1999, p.03). 
Continuando, o autor, ainda aponta que em 1872, 5.559 baianos residiam no Rio 
de Janeiro, sendo 1.432 escravos e 4.127 livres, não sendo explicitada a forma como 
esses indivíduos foram “parar” na Corte. A suposição que Soares (1999) faz, e a qual 
acreditamos, é a de que, como o Rio de Janeiro era a capital federal, considerada como 
uma grande metrópole, seria esperado que esse grande contingente de baianos tenha ido 
para lá em busca de melhores oportunidades e condições de vida. 
A ligação entre Bahia e Rio de Janeiro se deu de várias formas. Por motivos 
sociais, políticos, econômicos, dentre outros e uma delas refere-se à difusão da prática e 
a marginalização da Capoeira. Mas enfocaremos neste momento o Estado da Bahia do 
início do século XX, uma vez que esta região acabou se notabilizando como símbolo da 
Capoeira desde essa época até os tempos atuais. 
Abib (2004) comenta que a Bahia, mais especificamente Salvador e as cidades 
do Recôncavo Baiano, tem uma atmosfera diferente dos demais locais do país, uma 
aparente herança africana que determina os gestos, o andar, a rítmica, a linguagem, a 
religiosidade, o “estado de espírito”, enfim, o modo de ser e se relacionar com o mundo. 
43 
 
É nesse contexto diferenciado de “ser baiano” que a Capoeira ganha uma 
influência própria, influência essa que faz com que essa prática se transforme em 
referência para o restante do país nos anos que se seguiram, a qual trataremos mais 
adiante, especialmente quando falarmos de dois dos Mestres mais notáveis do universo 
da Capoeira: Bimba e Pastinha. 
No que concerne ao início de sua prática, não diferente do que acontecia na 
Capital do império durante o século XIX, a Capoeira que começa a figurar na Bahia é 
uma prática marcada pelas relações estabelecidas nas ruas. 
Oliveira (2009), afirma que as ruas eram espaços privilegiados para o 
desenvolvimento dos comportamentos antissociais das camadas populares, e exemplo 
da vagabundagem. E essa presença nas ruas, principalmente no período da noite, que 
chamava a atenção dos jornais e noticiários da época. 
 
Era comum os noticiários publicarem manchetes como “campanha contra a 
gatunagem”, “campanha contra a vagabundagem”, “O policiamento das 
ruas”. São nessas notícias que encontramos os capoeiras, ou melhor, seus 
esconderijos, uma vez que raramente aparece associado a eles o termo 
“capoeira”, assim dificultando sua identificação. Os indivíduos nas referidas 
manchetes aparecem identificados por alcunhas um tanto quanto 
depreciativas a exemplo de capadócio, desordeiro e vagabundo, 
representando o medo dos transeuntes das vias públicas da Salvador 
republicana, seriam eles os “donos das ruas.” (OLIVEIRA, op cit, p.39) 
 
Salvador, buscando atender aos projetos modernizadores preconizados pelas 
primeiras décadas da República no país, e tendo como impulsionadores uma elite 
politicamente articulada, sonhava em transformar-se numa capital mais moderna e 
civilizada, seguindo os modelos europeus. Mas para isso era necessário “limpar as ruas” 
(DIAS, 2004), pois nelas aconteciam as experiências cotidianas: o trabalho, o lazer e o 
conflito. 
Importante ressaltar que o Rio de Janeiro já havia passado por essas 
transformações, executadas na gestão do então prefeito e engenheiro Pereira Passos, o 
44 
 
qual coube o direcionamento das obras de remodelação, embelezamento e saneamento 
da cidade, tornando-a uma “Europa possível”. Para isso, houve uma demolição em 
massa dos cortiços localizados no centro da cidade, deslocando essas moradias, e 
consequentemente seus habitantes para os subúrbios e favelas que começavam a crescer 
na então Capital Federal (MOURA, 1995). 
Porém, apesar de deslocar as moradias para os subúrbios da cidade, a população 
negra e mestiça ainda permanece nesse espaço central da cidade, emprestando sua mão 
de obra para trabalhos domésticos, serviços de rua e por meio de seus hábitos culturais 
(músicas, danças, comidas, festas,...) (SILVA, 2002). 
Para Oliveira (2004, p.48), era neste espaço que as desavenças geradoras de 
confusões ocorriam, resultando em combates corporais que aconteciam praticadas tanto 
por homens quanto por mulheres e, dentre esses “valentões”, estavam os Capoeiras. 
Interessante notar que a partir desse momento, diferenciando-se da Capoeira 
praticada e reprimida no Rio de Janeiro do século anterior (não sabemos se por falta de 
registro ou de pesquisas a respeito), começamos a perceber a figura feminina nas 
ocorrências de confusões. Um exemplo deste caso é trazido por Oliveira (2004, p. 52) 
 
As habilidades com a navalha não se restringiram ao mundo masculino, o 
“sexo frágil” também a conheceu de perto. Foi o que ocorreu entre Maria 
Melanina de Souza e seu ex-amante Benjamim João de Souza. O caso 
ocorreu em 1914, no cabula, hoje um dos maiores bairros de Salvador. O 
desfecho do conflito deu-se pela razão do casal que já não vivia mais 
maritalmente, se desentender e entrar em combate corporal, quando Maria 
“golpeou seu ex-affecto”. Custou a prisão da habilidosa navalhista. 
 
Outras passagens de confusões envolvendo mulheres também aparecem no 
estudo deste autor, e fica difícil afirmarmos categoricamente aspectos sobre a 
participação delas na Capoeira propriamente dita. Mas, uma observação que podemos 
fazer é a da utilização das navalhas como arma, instrumento muito utilizado pelos 
45 
 
Capoeiras do Rio de Janeiro no século anterior, uma influência nítidados fadistas 
Portugueses. 
Voltando à “limpeza das ruas”, o que queriam os reformadores de então, era 
impedir os “usos e abusos” daqueles que não se enquadravam no modelo de civilização 
almejado. E nesse modelo almejado, principalmente pelos higienistas, os velhos 
habitantes, aqueles que viviam nas ruas, não estavam inclusos nesse processo de 
embelezamento da cidade (DIAS, 2004). 
 
Percebia-se claramente que a cidade abrigava diversos espaços sociais. Se 
para as elites burguesas a rua era apenas uma via de acesso, meio entre dois 
pontos definidos, para as camadas populares a rua era como uma grande casa, 
lugar de relações sociais, de contatos, de vínculos, espaço de lazer e de 
trabalho, vital a seus inúmeros expediente de sobrevivência (Ibidem, p.18). 
 
Verificamos assim que as ruas se constituíam como lócus agregador de pessoas, 
que abrigava desde trabalhadores (que podemos defini-los como informais), até pedintes 
e pessoas que se utilizavam de meios “ilícitos” de sobrevivência, como prostitutas, 
bicheiros e ladrões. 
Como não existia um ritmo regular de trabalho, esses indivíduos permeavam 
entre momentos de ocupação e ociosidade, esta última traduzida em diversão regada a 
goles de pinga, o que fazia com que fossem vistos como pessoas que tinham a vida 
“vadia e ociosa”, entendendo que 
 
O termo “vadio” era usado tanto para se referir àqueles que não tinham 
trabalho, como para designar todos os que viviam de ocupações esporádicas. 
A palavra “vadiação” também qualificava as brincadeiras, os jogos e os 
divertimentos de rua cultivados pelo povo e repudiados pelos que sonhavam 
com uma população que vivesse disciplinadamente pelos supostos padrões 
europeus (DIAS, 2004, P.22). 
 
O Capoeira se enquadrava nesse perfil, indivíduos que viviam perambulando 
pelas ruas, em busca de sustento e de lazer, sendo assim, exposto às situações 
cotidianas, buscando se defender e também a demarcar seu espaço além de afirmar 
46 
 
valores sociais, o que na maioria das vezes, fazia-se com uso de violência (OLIVEIRA, 
2004). 
E era nos eventos que aconteciam nas ruas que a Capoeira aparecia mais 
claramente e envolta de uma outra conotação 
 
As festas populares, as chamadas “festas de largo”, eram um dos espaços 
privilegiados onde a capoeira baiana se mostrava, e se desenvolvia. Eram os 
momentos em que os grandes capoeiristas da época exibiam seus dotes e sua 
destreza, e também, não raro, onde aconteciam confusões, brigas, desordens e 
perseguições por parte da polícia. Mas, sem dúvida, as festas de largo foram 
espaços importantes de desenvolvimento e de popularização da capoeira 
baiana. (ABIB, 2004, p.105) 
 
De um modo geral, eram nessas festas que indivíduos provenientes de diferentes 
áreas da cidade se encontravam e buscavam resolver suas rixas, utilizando golpes de 
Capoeira, além da navalha (PIRES, 2001). 
E é paralelo a essas confusões entre os Capoeiras e perseguições por parte da 
força policial nas primeiras décadas do século XX, que a partir da década de 30, por 
ocasião do governo de Getúlio Vargas, e sua proposta de valorizar o que é nacional, que 
a Capoeira começa efetivamente a se descriminalizar, por meio de um movimento de 
esportivização, que embora tenha se iniciado no Rio de Janeiro no início do século, é na 
Bahia que se consolida, por consequência da participação de dois dos principais ícones 
da Capoeira, Mestre Bimba e Mestre Pastinha, como veremos a seguir. 
 
3.4- ESPORTIVIZAÇÃO DA CAPOEIRA 
 
Capoeira o Jogo Praticado 
Mestre Matias 
 
Capoeira 
 É jogo praticado na terra de São Salvador 
Capoeira 
Manuel dos Reis Machado 
Ele é fenomenal 
Ele é o Mestre Bimba 
Criador da Regional 
http://letras.mus.br/mestre-matias/
47 
 
 
 
Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, o qual falaremos adiante, mostrou-
se como um indivíduo à frente do seu tempo, apesar de seu pouco estudo formal, tendo 
sido um dos primeiros responsáveis pela efetiva propagação da Capoeira de uma forma 
sistematizada. Porém, antes de adentrarmos na esportivização conseguida por ele é 
válido destacarmos alguns movimentos de esportivização da Capoeira. 
Dentre essas tentativas, podemos citar que no Rio de Janeiro, num processo 
paralelo ao da repressão da Capoeira, houve também um movimento valorizador dessa 
manifestação. Esse segundo movimento foi encabeçado pelo então deputado Coelho 
Neto, que dentre outros fatores, tentou colocar o ensino da Capoeira nas forças armadas, 
modelada pelas lutas marciais e com a ideia de um “esporte genuinamente brasileiro” 
(PIRES, 2001). 
Em 1907, tem-se o registro da primeira obra direcionada para uma 
sistematização de golpes e contragolpes da Capoeira, assinada por um pseudônimo de 
O.D.C., e intitulada de Guia do Capoeira ou Gymnastica brazileira, a qual Pires (2001) 
suscita a possibilidade, não comprovada, dessa obra ter sido escrita pelo próprio Coelho 
Neto. 
Essa obra tinha o intuito de 
 
[...] levantar a Gymnastica brazileira do abatimento em que jaez(ia), 
nivelando-a como singularidade pátria, ao soco inglez, à savatta franceza, à 
lucta allemã, às corridas e jogos tão decantados em outros paízes. Nossa 
briosa mocidade hoje desconhece pela mor parte, os trabalhos e termos da ate 
antiga, e porisso nós resolvemos publicar o presente guia (O.D.C., 1907 apud 
SILVA, 2002, p.72). 
 
Por essa passagem conseguimos perceber um anseio em ter uma manifestação 
esportiva brasileira que pudesse ser conhecida e valorizada pelos brasileiros, como os 
outros esportes oriundos de outros países já eram. 
48 
 
Numa linha de raciocínio parecida, em 1928 surge uma outra obra que versa 
sobre a Capoeira, em que oferecia um método de ensino e aprendizagem da Capoeira, 
bem como de regras para sua prática esportiva, denominada Gymnastica Nacional 
(Capoeiragem) – Methodisada e Regrada, escrita por Annibal Burlamaqui, que em seu 
prefácio dizia 
 
No, Brasil já se praticam, pode-se dizer, todos os sports; temos campeonato 
de remo, natação, foot-ball, basket-ball, Box, luta romana, tênis, atletisomo 
em geral, etc. Actualmente até o polo e golfe já são disputados em nosso 
terra. No entanto é de lamentar que até hoje nada se tenha em prol do Sport 
nacional. Cogita-se de uma arte nacional, brasileira, da música brasileira. Até 
mesmo da política brasileira (BURLAMAQUI, 1928 apud PIRES, 2001, p. 
98). 
 
Nesse prefácio podemos constatar que o autor mostra que havia uma valorização 
de práticas esportivas oriundas de outros países, mas que ainda não se havia feito isso 
com uma prática brasileira. Ora, se pensarmos que o livro de O.D.C. fora publicado em 
1907 e que em 1928 a luta era praticamente a mesma, podemos perceber que houvera 
poucos avanços nessa política de valorização da prática da Capoeira. 
Silva (2002) narra que Burlamaqui apresentou um total de 27 golpes e 
contragolpes em sua obra, e que esses movimentos muito se assemelham com os 
praticados na Capoeira dos dias atuais. E outro Capoeira que mereceu destaque nesse 
processo de esportivização foi Agenor Moreira Sampaio, “Sinhôzinho”. 
 
Após Burlamaqui, Sinhôzinho foi um dos principais líderes do movimento de 
esportivização da Capoeira. Para ele, a Capoeira era a ginástica nacional, o 
esporte genuinamente brasileiro. Assim ele afirmava; “prefiro não a 
classificar como dança, jogo ou luta. A meu ver trata-se da verdadeira 
ginástica nacional (PIRES, 2001, P.104). 
 
Dentre os discípulos de Sinhôzinho, podemos destacar o professor de Educação 
Física Inezil Penna Marinho, pertencente à primeira geração de discípulos de 1940 
(SILVA, 2002). 
49 
 
Penna Marinho foi o autor de uma monografia intitulada “Subsídios para o 
estudo da metodologia do treinamento da capoeiragem”, vencedora de um concurso de 
trabalhos sobre Educação Física promovido pelo Ministério da Educação e da Saúde, 
em 1944 (PIRES, 2001). 
Segundo Silva (2002, p.133) a intenção do livro de

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