Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DA CRIANÇA NO ENSINO FUNDAMENTAL. EDMA DIONIZIO DO NASCIMENTO DE OLIVEIRA ORIENTADORA SIMONE FERREIRA Rio de Janeiro 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DA CRIANÇA NO ENSINO FUNDAMENTAL. Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Edma Dionizio do Nascimento de Oliveira 3 AGRADECIMENTOS A Deus pela força e proteção. A minha amada família que durante a preparação deste trabalho, contribuiu com muito amor e compreensão. 4 DEDICATÓRIA A minha família e amigos que me ajudaram na construção deste trabalho. 5 RESUMO O presente estudo tem por objetivo analisar o papel do psicopedagogo na construção da autonomia da criança no Ensino Fundamental. Em primeiro lugar procurou analisar o papel do psicopedagogo e da família identificando as possibilidades de atuação dos mesmos na construção desta autonomia. Realizou-se uma pesquisa teórica envolvendo um estudo bibliográfico sobre o tema em questão. Ficou claro, neste estudo que a conquista desta autonomia pelas crianças dependerá da interação harmoniosa da família, da escola e do psicopedagogo e forma a ajudá-las a progredir na definição de sua própria identidade, no conhecimento e na valorização de si mesmas. 6 METODOLOGIA Trata-se de um estudo teórico, que envolve uma pesquisa bibliográfica, através de documentação indireta, com consulta as fontes primárias e secundárias, tais como livro, artigos periódicos, teses, entre outros que tratam do tema em questão. Para conceituar autonomia, inicialmente o trabalho é fundamentado na obra de Piaget (1977) e Vigostsky, que aborda a questão do desenvolvimento moral e seu sistema de regras. Bossa (2007), França (2010) e Silva (1998) discute o trabalho psicopedagógico como função de socializar conhecimentos. Para discutir o papel da família e da escola, irei apoiar-me em Aquino (1996), La Taille (2005), Tancredi e Reali (2001), que procura apresentar por meio de uma abordagem atualizada a importância da família como primeiro contexto de socialização da criança e a escola visando a formação integral do sujeito para à cidadania. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 12 CONCEITO DE AUTONOMIA 12 CAPÍTULO II 19 A INFLUÊNCIA DO PSICOPEDAGOGO 19 CAPÍTULO III 28 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA 28 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 43 WEBGRAFIA 44 ÍNDICE 45 8 INTRODUÇÃO O interesse pela influência do psicopedagogo na construção da autonomia da criança do ensino fundamental. Partiu de observações realizadas em uma escola de classe média /alta, no Centro do Rio de Janeiro. Durante 3 anos de trabalho, pode-se perceber que nesta escola havia algumas crianças que não tinham autonomia para realizar suas tarefas sozinhas, para concluir dentro do tempo era necessário a presença da professora auxiliar. Apesar do esforço da professora, essas crianças se dispersavam muito com qualquer barulho que estivesse na sala. Depois de várias tentativas, esses alunos eram encaminhados ao serviço educacional para serem acompanhados. Verificou-se também que determinadas crianças haviam dificuldade de internalizar as regras estabelecidas pela instituição, assim como: saber ouvir, aguardar a sua vez para falar, respeitar o colega. A faixa etária dessas crianças variava entre, 8, 9 e 10 anos de idade. Observou-se também que essas crianças ficavam a maior parte do tempo na escola em tempo integral, ou sob a responsabilidade de parentes ou babás, devido a ausência de seus pais, que estavam trabalhando fora e não tinham tempo suficiente para dar a devida atenção aos seus filhos. Embora existam muitas famílias e docentes que não se preocupam com o desenvolvimento da autonomia da criança, considera-se essa questão relevante, pois têm implicações no desenvolvimento cognitivo e social das crianças. A criança que não possui autonomia se torna dependente do adulto e, a partir daí, pode-se dizer que ela tenderá a se tornar no futuro, um adulto com dificuldades para atuar na sociedade. A partir desta observação houve-se necessidade de aprofundar a investigação da construção da autonomia da criança no ensino fundamental. Delineou-se como delimitação do tema: o papel do psicopedagogo na construção da autonomia da criança no ensino fundamental. 9 De acordo com Piaget (apud Aquino, 1996 p.104), para entender o significado etimológico das palavras anomia, heteronomia e autonomia é preciso compreender o seu sentido relacionado à moral e ao seu desenvolvimento. O sufixo nomia, vem do grego nomos, e significa regras. Quando se fala em a-nomia refere-se a um estado de ausência de regras, característico do recém-nascido, que não concebe as regras da sociedade e não sabe o que deve ou não ser feito. A criança recém-nascida encontra-se em um estado de egocentrismo radical em que ela não se diferencia o mundo, nem compreende a existência dos outros, nem as regras de convívio social, coisas que devem ou não ser feitas. Para esse autor, o prefixo hetero significa vários, o que leva compreender que heteronomia é um estado em que a criança já percebe a existência das regras, porém sua fonte é variada; ela sabe que existem coisas que devem ou não ser feitas, e quem as determina são os outros. E auto-nomia significa que o sujeito sabe a existência das regras para se viver na sociedade, mas a fonte dessas regras está nele próprio, em sua capacidade racional de discernir entre o certo e o errado. Confome Bossa (2007), o trabalho psicopedagógico deve ser visto a partir da instituição de ensino, pois tem uma grande função social a de socializar os conhecimentos, favorecendo o desenvolvimento cognitivo e a construção da regras de conduta. Para autora a escola é responsável por grande parte do ensino do sujeito. A psicopedagogia preocupa-se com a escola em seu âmbito de ação preventiva e com isso dedica-se ao campo do planejamento educacional e assessoramento pedagógico Segundo La Taille (2005), a escola não é a única instituição responsável pela educação moral. A família possui muito peso e valores que podem atrapalhar ou ajudar e muito no trabalho dos professores. Mas atrapalhar não significa impedir, e ajudar não significa substituir. Enquanto as escolas não se dotarem de uma pedagogia explícita de formação moral, não poderão legitimamente se queixar de problemas de incivilidade, desrespeito e 10 violência. Para o autor o Brasil já possui uma proposta para educação moral. La Taille refere-se aos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1977), que inclui o tema transversal Ética (cujo conteúdo corresponde, ao que ele chama de moral). De acordo com o autor seria muito proveitoso se as escolas refletissem sobre os princípios que inspiram as regras de convívio e que deixassem claros tais princípios para toda a comunidade escolar. Pois se houver evidência nos princípios morais, não será necessário formular tantas regras, que deles são decorrência lógica. Este trabalho tem objetivo geral analisar o papel do psicopedagogo no processo de construção da autonomia dacriança do ensino fundamental e como objetivos específicos conceituar autonomia segundo Piaget e Vygotsky. Caracterizar a função do psicopedagogo no processo de construção da autonomia da criança do ensino fundamental e analisar a relação família e escola no processo de construção da autonomia da criança do ensino fundamental. As questões de estudo são as seguintes: 1) Qual a relação do conceito de autonomia segundo Piaget e Vygotsky ? 3) Como o psicopedagogo pode promover a ação preventiva para uma boa aprendizagem? 4) Como articular os esforços da família e da escola em prol da construção da autonomia da criança? Diante das mudanças da atualidade faz-se necessário uma reflexão em torno de alguns temas. Um deles é o papel do psicopedagogo na construção da autonomia da criança no ensino fundamental. Conforme Aquino (1996) é impossível negar a importância e o embate que a educação familiar tem (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o sujeito. Entretanto os traços que vão caracterizar a criança e o jovem ao longo de seu desenvolvimento não dependerão restritivamente das 11 experiências vivenciadas no interior da família, mas das inúmeras aprendizagens que o sujeito realizará em diferentes contextos socializadores, como na escola. De acordo com Tancredi e Reali (2001), a escola tem historicamente como função, responsabilizar-se pelo percurso escolar dos sujeitos, propiciando a aprendizagem de conhecimentos sistematizados construídos pela humanidade e valorizados em um dado período histórico. Aprendizagem dos conteúdos escolares de diferentes naturezas: conteúdos conceituais, atitudinais, procedimentais, os quais deveriam se efetivar durante a permanência dos alunos na escola, independente do contexto social e familiar ao qual pertençam. Apesar de todas as discussões defendidas pelos autores percebe-se pela atual situação de impasse entre família/escola e o psicopedagogo o quanto é fundamental continuar investigando a questão da construção da autonomia da criança no ensino fundamental, justificando assim este trabalho. Espera-se que essa pesquisa venha dar sua contribuição ao tema em questão de forma a servir como orientação para os professores do ensino fundamental, coordenadores, diretores, alunos pós-graduados em psicopedagogia, assim como acadêmicos que decidam pela área de educação. Com esse intuito procurou-se nesta pesquisa a elaboração de uma obra que possa ajudar no entendimento do papel do psicopedagogo na construção da autonomia da criança do ensino fundamental. Ressalta-se a importância da família e da escola no processo de construção das habilidades sociais da criança. Trata-se de um estudo teórico, portanto pesquisa bibliográfica com consulta as fontes primárias e secundárias. 12 CAPÍTULO I AUTONOMIA Neste capítulo, busca-se apresentar os conceitos de autonomia ou conceitos equivalentes, segundo Piaget (1977), Kamii ( 1996) Oliveira (1997) . 1.1- Autonomia para Piaget Para a compreensão do conceito de autonomia segundo Piaget, busca-se fundamentar na obra “O julgamento moral na criança,” publicado em 1932, e examinado nesta monografia por sua edição brasileira em 1977. Para que não fique cansativa a repetição da obra por seu autor e ano, identifica-se no texto as páginas das quais cita-se idéias chaves para o conceito de autonomia. Busca-se também em Kamii (1996) em querer uma compreensão de autonomia para Piaget, já que a autora segue a linha teórica e ilustra com exemplos as idéias de Piaget. Piaget afirma que os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os variados ambientes sociais (a família, a escola, os amigos, a sociedade, os meios de comunicação, etc.). Será de acordo com a convivência diária, desde bebê, a relação com o adulto, com seus pais, com as situações escolares, com os problemas dos quais se confrontam, e também experimentam, é que a criança irá construir seus valores, princípios e normas morais. Ao relacionarmos uns com os outros, é necessário a existência de regras que visam garantir a harmonia da convivência social, mas para Piaget o importante não são as normas em si, os valores de cada pessoa, mas sim, o por que as seguimos. De acordo com Piaget o valor moral de uma ação não está na mera obediência às regras determinadas socialmente, mas sim no princípio inerente 13 a cada ação, ou seja, no por que elas são obedecidas: “toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (ibid. p.11). Nem a consciência moral nem a consciência intelectual, são pré-formadas ao nascer, elaborando-se em estreita conexão com o meio social. Conforme a concepção piagetiana, demonstra-se a existência de um processo de construção de moralidade, em “estágios” universais e organizados hierarquicamente. Na realidade não são propriamente estágios de desenvolvimento moral, mas sim, atitudes dominantes que foram encontradas em determinadas idades. Piaget considera serem três “estágios de julgamento moral nas crianças: a anomia ou pré-moralidade; a heteronomia e autonomia moral. No estágio anômico ou pré-moral, o indivíduo carece de todo sentido de obrigação para com as regras sociais, isto é as crianças de até aproximadamente um ano e meio, que fortemente egocêntricas não conhecem o que é certo e o que é errado, são incapazes de seguir normas. Neste momento, o tipo mais forte de relação que estabelecem é o de afeto pelos pais. No estágio de heteronomia ou realismo moral, em que há uma relação de submissão ao poder, ou seja, o certo é obedecer às ordens da pessoa que detém a autoridade, por isso se desenvolve um respeito unilateral em relação ao adulto, baseado em dois sentimentos: o afeto e o medo. A criança heterônoma julga segundo o realismo moral, isto é, as regras são seguidas ao pé da letra. Ela despreza as intenções dos atos e se apega a suas conseqüências, considerando como boa toda criança que segue fielmente às regras dos adultos. No estágio de autonomia moral, que é caracterizada por um novo sentido dado às normas, já que o sentimento de aceitação ou de obrigação para com essas normas está fundamentado nas relações de trocas mútuas e de reciprocidade. Para Piaget, autonomia não é mesmo que individualismo, ou apenas independência ou, simplesmente, ter liberdade para fazer o que se quer; 14 significa coordenar os diferentes fatores relevantes para decidir da melhor maneira para todos os envolvidos. Em contrapartida, o sujeito que é autônomo moralmente segue um código de ética interno, regras morais próprias que surgem dos sentimentos internos da necessidade de considerar os outros além de si. Desta forma, a fonte das regras não está mais nos outros ou em uma autoridade como ocorre com a moral heterônoma, mas no próprio sujeito (1932/1977 p.11-15). Recorrendo à Kamii (1996, p.106) “todos os bebês nascem desprotegidos e heterônomos” e à medida que cresce a criança torna-se mais autônoma, e menos heterônoma, ou seja, apta a governar a si mesma, e com isso tornar-se menos governada por outras pessoas. Piaget, ainda segundo Kamii (1996) ressalta que o adulto reforça a heteronomia da criança ao usar castigos para punir e recompensas para estimular o bom comportamento. Ao contrário quando trocam pontos de vistas e conversam sobre o assunto com a criança, orientando-a de sua ação, colaboram para o seu desenvolvimento autônomo. Para a autora (idem) três tipos de conseqüências podem ocorrer com o uso da punição: A mais comum é a criança aprender a fazer cálculos de riscos. A criança que é punida volta a cometer o mesmo ato, porém de forma que não seja descoberta. Outro tipo de consequência é a conformidade cega. A criança receosa de punição, tornar-seconformista agindo segundo à vontade do adulto, respeitando-o e obedecendo-o. A terceira conseqüência é a revolta, na qual a criança bem comportada durante anos se rebela contra seus pais e professores. Com este comportamento de deliquência continuam governados por outras pessoas, negando uma ordem e não criando a sua, à qual deveriam obedecer, ou seja, as regras morais. Para desenvolver a autonomia moral de uma criança é necessário que a autoridade adulta seja reduzida, e desenvolva o respeito mútuo entre adulto-criança, criança-criança, possibilitando a construção dos valores morais a partir de discussões e ações que considerem a opinião e respeitem o grupo 15 que ele pertence. Esse seria uma indicação de como formar sujeitos moralmente autônomos. “A essência de autonomia é que as crianças tornam-se aptas a tomar descisões por si mesmas. Mas autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa” (Kamii,1996. p.108). Não há moralidade quando a pessoa considera somente o seu ponto de vista sem se colocar no lugar do outro. Para Piaget, no cotidiano, é impossível evitar as punições: para isso ele fez distinção entre punição e sanções por reciprocidade. Alguns exemplos podem explicar a diferença de privar uma criança de uma sobremesa por falar mentiras é um exemplo de punição, mas a relação entre e mentira e sobremesa é totalmente arbitrária, porém dizer que não podemos acreditar nela é um exemplo de sanção por reciprocidade. Na sanção por reciprocidade, há uma relação com a “infração,” tendo efeito de motivar a criança a construir suas regras morais. Através da coordenação de pontos de vista, a reciprocidade faz o sujeito compreender a falta cometida e seus efeitos. Para Kamii, Piaget chamou a atenção para o fato de que as sanções por reciprocidade podem se tornar em punição se não forem executadas em ambiente solidário, onde haja relação de afeto e respeito entre adulto e criança. A criança deve ser levada a compreender a correção de seu comportamento, deve ser ajudada a construir interiormente sua moral, para que não seja apenas coagida a seguir esta ou aquela forma de agir que os outros determinam como certas. É necessário que a criança possa se desenvolver, interagindo com o mundo, coordenando opiniões entre iguais. Diante disto a criança deve ser respeitada em sua maneira de pensar e sentir e prestar esse respeito aos adultos que os cercam. Segundo Kamii (1996) no campo intelectual, autonomia significa governar a si mesmo, assim como heteronomia é ser governado por alguém, significa ser capaz de progressivamente desenvolver uma autonomia intelectual. De acordo com Piaget (apud, Kamii, 1996 p. 114) a criança adquire o conhecimento, construindo-o a partir do seu interior. A autonomia se constrói 16 de acordo com a sua vivência, pois dependerá do ambiente em que vive e da forma que está sendo educada. (Kamii, 1996, p.106-114) 1.2- Autonomia para Vygotsky Para compreensão do desenvolvimento individual do sujeito em relação a sua autonomia, busca-se fundamentar na obra de Oliveira (1997) e Duarte (1995). Segundo Oliveira (1997), para Vygotsky o aprendizado ou aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo obtém esclarecimentos, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. Essa concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do sujeito, liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o ambiente sócio-cultural em que vive. A sua “situação” de organismo não se desenrola plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. Essa importância que Vygostky dá ao papel do outro social no desenvolvimento dos sujeitos cristaliza-se na formulação de um conceito específico dentro de sua teoria, essencial para o entendimento de suas idéias sobre as relações entre desenvolvimento e aprendizado: o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Vygotsky (apud, Duarte, 1995), apresenta esse conceito no interior de uma análise das relações entre o ensino e o desenvolvimento intelectual na idade escolar. Ele inicia mostrando que ao analisar o desenvolvimento de uma criança é preciso não se deter naquilo que já amadureceu, mas é necessário captar o que ainda está em processo de formação. 17 Assim expõe a existência de dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento atual e a zona de desenvolvimento próximo1. O desenvolvimento atual de uma criança é aquele que pode ser verificado através de testes nos quais a criança resolve problemas de forma independente, autônoma. Já a zona de desenvolvimento próximo abrange tudo aquilo que a criança não faz sozinha, mas consegue fazer imitando o adulto. Vygostky apresenta o exemplo de duas crianças que mostraram o mesmo nível de desenvolvimento atual, no caso, ambas com uma idade mental de oito anos. Portanto, naquilo que elas conseguiam fazer sozinhas, encontravam-se no mesmo nível de desenvolvimento. Mas no que reporta-se aos problemas resolvidos com a ajuda de um adulto, uma das crianças conseguia resolver problemas que atingiam a idade mental de nove anos, enquanto que a outra conseguia resolver problemas até a idade mental de doze anos. Para Vygosky (apud Duarte 1995), essa divergência entre as idades mental ou o nível de desenvolvimento atual, que se determina com a ajuda das tarefas resolvidas de forma independente, e o nível que alcança a criança ao resolver as tarefas, não por sua conta, mas sim pela colaboração, é o que determina a zona de desenvolvimento próximo1. De acordo com o nosso entendimento, o desenvolvimento individual do sujeito dá-se num ambiente social e na relação com o outro. Esse desenvolvimento se dá em ambientes diferentes, de acordo com sociedades, implicando no comportamento social, cognitivo e emocional da criança. Conforme Alencar (1985, p.20), sujeitos que compartilham da mesma herança cultural consideram os padrões e normas de seu próprio grupo como os mais adequados, e evidentes nos valores e atitudes de classe média. _______________________ 1 Duarte adota a terminologia “Zona de Desenvolvimento Atual e Zona de Desenvolvimento Próximo”, embora na literatura corrente seja mais freqüente “Zona de Desenvolvimento Real e Zona de Desenvolvimento Proximal” 18 “A influência das variáveis culturais se mostra ainda patente no fato de que uma pessoa que é criada em uma sociedade aprende a se tornar, em alguns aspectos, igual a todas as outras daquela sociedade e diferente daquelas criadas em outras sociedades." (ALENCAR, 1985, p.22) As idéias dos autores trazem elementos que poderão auxiliar na relação entre classe social e cultura de classe e si isso pode interferir no desenvolvimento da moralidade. Um dos pontos divergentes entre Piaget e Vygostky parece estar basicamente centrado na concepção do desenvolvimento. A teoria piagetiana considera que toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras. E a teoria Vygostkyana, considera que o processo em formação pode ser concluído através da ajuda oferecida ao sujeito na realização de uma tarefa. E enfatiza também que o desenvolvimento individual do sujeito se relaciona ao ambiente sócio-cultural do qual ele vive. Portanto, a família e a escola são provavelmente as instituições sociais mais importantes durante os anos de formação da criança, pois ambas têm papel de transformar uma criança dependente e imatura em um sujeito responsável, auto-suficiente e em condições de contribuir para a sociedade. 19 CAPÍTULO II A INFLUÊNCIA DO PSICOPEDAGOGO Este capítulo estuda a história da Psicopedagogia e sua ação preventiva. Utilizou-se como autores principaisque sustentam o texto, Beauclair (2006); Bossa (2007); França (2010); Rubinstein (1999) e Silva (1998). 2.1 Breve Histórico da Psicopedagogia A origem da Psicopedagogia está relacionada aos interesses que surgiram no passado em torno dos problemas que comprometiam a aprendizagem. Tal interesse foi inicialmente manifestado na Europa, por educadores como Itard, Pereire, Pestalozzi e Seguin. Esses educadores dedicavam-se à crianças com problemas de aprendizagem causados por diferentes distúrbios. De acordo com França (2010), a psicopedagogia iniciou-se no século XIX, na Europa (França), com estudos dos autores Françoise Dolto, Julian Ajuriaguerra, Pichon-Riviére, Pierre Vayer, Louise Picg que contribuíram para a resolução do fracasso escolar articulado com a Medicina, Psicologia e Pedagogia. O fracasso da aprendizagem estava aliado a problemas de comportamento, desenvolvimento afetivo, emocional, cognitivo, orgânico e motor. Conforme Bossa (2007), foi na década de 20 que os interesses se voltaram para a desadaptação infantil e surgem os primeiros centros de reeducação para delinqüentes infantis e aumenta o número de escolas particulares de ensino individualizado para crianças com problemas de aprendizagem nos EUA e Europa. 20 Na França, por volta de 1930, surgem os primeiros centros de orientação educacional infantil, com equipes formadas por médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais. Os primeiros centros psicopedagógicos surgem em 1946 em Paris, tendo como fundadores J. Boutonier e George Mauco. Estes centros tinham o propósito de readaptar as crianças com comportamentos anti-sociais na escola e em casa; e para isso associavam os conhecimentos da Psicologia, da Pedagogia e da Psicanálise, por considerarem que desta forma compreenderiam melhor o caso. “A partir de 1948, entretanto, o termo Pedagogia curativa passa a ser definido, segundo Debesse, como terapêutica para atender crianças e adolescente desadaptados que, embora inteligentes, tinham maus resultados escolares. A pedagogia curativa introduzida no Centro de Psicopedagogia de Estrasburgo, França, poderia ser conduzida individualmente ou em grupos. Era entendida como método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno,” uma vez que pretendia tanto auxiliar o sujeito a adquiir conhecimentos, como também desenvolver a sua personalidade. Segundo Debasse (1954, apud Janine Mery), a pedagogia curativa “situa-se no interior daquilo que hoje chamam de psicopedagogia.” (BOSSA, 2007,p.41) 2.2 A Psicopedagogia na Argentina Conforme Fernández (apud BOSSA, 2000, p.41), a Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi criada na Universidade de Buenos Aires. Também em Buenos Aires, foram criados os centros de saúde mental, que contavam com uma equipe de psicopedagogos que atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Os profissionais verificaram que depois de um certo tempo de tratamento os pacientes que retornavam haviam solucionado os seus problemas de aprendizagem, porém haviam adquirido transtornos de personalidade. Houve uma grande mudança na abordagem psicopedagógica, e a partir daí os psicopedagogos incluem em seu trabalho o olhar e a escuta da 21 psicanálise, surgindo assim o atual perfil do psicopedagogo argentino. Segundo a autora a atuação psicopedagógica está ligada a área de educação e saúde, sendo que na área educativa o psicopedagogo coopera na redução do fracasso escolar, seja da instituição ou seja do sujeito, e orienta o serviço vocacional. Quanto a área da saúde, o profissional trabalha em consultórios,clínicas de saúde e hospitais públicos e particulares. Sua atribuição é reconhecer as alterações da aprendizagem sistemática e/ou assistemática. No início da década, surgiram os primeiros cursos focados na psicopedagogia. Paralelamente em Porto Alegre, organizou-se centros de estudo, que segundo Rubinstein (1999), estavam preocupados com a formação e a capacitação de psicopedagogo. Tratava-se do curso conduzido pelo Dr. Nilo Fichtner, médico psiquiatra, e chamava-se Psicopedagogia Terapêutica. Rubinstein (1999), ressalta que os primeiros cursos formais de psicopedagogia eram designados de Reeducação Psicopedagógica, Psicopedagogia Terapêutica, Dificuldades Escolares, A criança-problema numa classe comum, entre outros. Ocorreram, primeiramente, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1979, surgiu o primeiro curso regular de Psicopedagogia, no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Este curso atravessou fases distintas. No início o enfoque era a reeducação, embora se preocupasse com as questões de prevenção. No segundo momento, assume um caráter terapêutico, focados nos aspectos da aprendizagem. Logo após a psicopedagogia conquista um novo espaço: a instituição escolar. Atualmente, privilegia-se as diferenciações do papel do psicopedagogo e sua identidade como profissional. A trajetória da Psicopedagogia na Argentina marcou fortemente a Psicopedagogia brasileira com trabalhos de inúmeros autores.Dentre eles se destacam: Julio Bernaldo de Quirós, Nilo Fichtner, Jorge Visca, Sara Pain e Alicia Fernández. De acordo com Bossa (2007) a atuação psicopedagógica no Brasil difere de sua prática em alguns tópicos da situação da Argentina, devido às 22 condições de formação. Acredita-se que os problemas de aprendizagem no Brasil eram ocasionados por fatores orgânicos. Esta causa serviu como espécie de clamuflagem para os problemas sociais e pedagógicos. Conforme Rubinstein (1999), a fundação da ABPp foi um fato fundamental que influiu no percurso da psicopedagogia brasileira. Para autora, a idéia de criar um órgão de classe surgiu no Instituto Sedes Sapientiae. Uma turma de alunos, estava concluindo sua formação e não queriam interromper os estudos, então resolveram criar a associação com a finalidade científica e cultural. E o outro alvo era que a Psicopedagogia fosse reconhecida e regulamentada. Este fato pela busca da legitimação da Psicopedagogia ocorreu há mais de 20 anos. Neste clima que surgiu a Associação, além de congregar e criar consciência profissional, deu continuidade à formação. A Associação oferece cursos, seminários, encontros, congressos, correspondendo à sua proposta inicial: dar continuidade à formação dos profissionais da área. A publicação da revista é reconhecida pela qualidade de sua produção científica. Rubinstein (1999), confirma que a ABPp e a construção da identidade da Psicopedagogia caminham juntas. Para Bossa (2007), outro marco decisivo nesta história foi o primeiro encontro de Psicopedagogos, em São Paulo, no final de 1984, quando Clarissa Golbert e Sonia Moojen Kiguel apresentaram seus trabalhos com considerações da atuação psicopedagógica de Porto Alegre. Muito motivadas com o encontro, Clarissa e Sonia fazem uma reunião com um grupo de psicopedagogas e relatam suas experiências. O sucesso do primeiro evento impulsionou a organização do segundo, em julho de 1986, também em São Paulo, surge a idéia de transformar o Grupo Livre de Estudos em Psicopedagogia, em Associação de Psicopedagogos. 23 É fundamental destacar a contribuição dos dois encontros que dissiminou a especialização em Psicopedagogia no Brasil, que na década de 90 assume grandes proporções. 2.3 O Objeto da Psicopedagogia Conforme França (apud BOSSA, 2000), a psicopedagogia tem como objeto de estudo o processo de aprendizagem humana, o objetivo da Psicopedagogia passa a ser o processo de aprendizagem e seu objetivo seria favorecer esse processo em todos os aspectos cognitivos, afetivos e sociais . A psicopedagogia tem dois enfoques o de prevenção, voltado para o ser humano em desenvolvimento e o Terapêutico que se preocupa com a metodologia do diagnóstico e o tratamento das dificuldades deaprendizagem. De acordo com o estudo de Silva (1998), o ser cognoscente é colocado como objeto da psicopedagogia. Este ser é considerado como um ser pluridimensional, com uma dimensão racional, uma dimensão afetiva/ desiderativa e uma dimensão relacional, composta por dois aspectos: contextual e interpessoal. A autora define este ser da seguinte maneira: “...Esse eu é o intermediário entre o desejo e a razão. Constituído basicamente por processos psíquicos secundários, funciona regido pelo princípio da realidade que permite perceber a possibilidade ou não da satisfação do desejo. Por outro lado, sua função organizadora implica capacidade de síntese e elaborações simbólicas.” (SILVA, 1998 p.23) O ser cognoscente é o indivíduo na construção do conhecimento. As dimensões que constituem o indivíduo também são constituintes no processo de construção do conhecimento, que se concede através da articulação dessas três dimensões. Para autora esta articulação é dirigida pelo princípio do desejo e pelo princípio da realidade, sendo um processo conflitivo e complementar, pois as 24 diferentes dimensões, cada uma com sua especificidade, se complementam ao se confrontarem. A dimensão racional, coloca em evidência o ser pensante, sendo regida pelo princípio da realidade. Ela se associa com a dimensão desiderativa, ajustando o desejo à realidade. O pensamento lógico organiza e torna concretos os sonhos e as fantasias. A dimensão desiderativa, que evidência o ser apaixonado, é regida pelo princípio do desejo. Ela se associa com a dimensão racional, expondo o desejo. A dimensão relacional interpessoal caracteriza o ser que se relaciona. Ela se associa com a dimensão desiderativa e com a dimensão racional, havendo a possibilidade do desejo do ser cognoscente se relacionar ao desejo do outro na argumentação da ação comunicativa. A dimensão relacional contextualizada caracteriza o ser contextualizado socialmente. Ela se associa com a dimensão desiderativa, na medida que o desejo do sujeito é “mediatizado” pelo contexto social em que está inserido. Esse processo de associações se concede na construção de conhecimento. Podendo assim surgir distorções que possam impedir a construção do eu cognoscente. 2.4 A Área de Atuação do Psicopedagogo Para Beauclair (2006), a psicopedagogia é vista como um campo de atuação profissional crescente, tendo uma sistematização teórica organizada na qual adquiri cada vez mais cientificidade, fazendo-se como ciência contribuindo cada vez mais para humanidade, principalmente como prática pedagógica presente na escola. A profissão do psicopedagogo ainda não está regulamentada, porém existe no “Congresso Nacional um Projeto de lei (n03. 124/97) já aprovado pela 25 Comissão de trabalho da Câmara dos Deputados e recentemente em fase de estudos na Comissão de Educação, Cultura e Desporto.” (FRANÇA, 2010). Nos anos de 70 e 80 a Psicopedagogia passou a ter caráter interdisciplinar, para melhor entendimento da aprendizagem a psicopedagogia recebeu contribuição de outras áreas como: “a Psicanálise, a Lingüística, a Psicolingüística. A Psiconeurologia, a Psicologia Genética e ainda a sociologia e filosofia.”(FRANÇA, 2010). Abre-se um leque para atuação do psicopedagogo, neste período de interdisciplinaridade. Ao final dos anos 80, o trabalho psicopedagógico é marcado pela preocupação do sujeito aprendente. O ponto principal da psicopedagogia é possibilitar ao indivíduo a construção de sua autonomia, implicando também na construção da cidadania, da moral e da ética. Seu objetivo é investigar o processo de aprendizagem do sujeito visando entender à origem de sua dificuldade ou distúrbio apresentado. Para a autora a psicopedagogia pode ser definida como área do conhecimento que tem como objeto o ser cognoscente, e como meta trabalhar a construção da autonomia deste ser, esclarecendo os obstáculos que interferem uma boa aprendizagem. “Está comprometida com a melhoria das condições de aprendizagem, revelando sempre as condições pessoais de quem adquiri o conhecimento” (Código de Ética- capítulo 1- art.1º). Segundo França (apud BOSSA, 2000) o percurso do psicopedagogo é trabalhoso, pois o profissional necessita ser multiespecialista na aprendizagem humana, unindo conhecimentos diversificados, com o objetivo de atuar nesse processo, utilizando instrumentos próprios para essa finalidade. A autora cita os campos de atuação do psicopedagogo como: clínicas, escolas, empresas e os hospitais. ESCOLAR: Pode atuar preventivamente junto aos professores, explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem, realizando diagnóstico, atendendo as necessidades individuais, o fracasso escolar e a apropriação do saber. 26 EMPRESARIAL: Realiza trabalhos de treinamento de pessoal, ajuda a superar as dificuldades de relacionamento do grupo, auxilia no processo de aprendizagem individual e organizacional, melhorando a qualidade do trabalho e da produtividade. CLÍNICA: orienta, atende em tratamento e investiga os problemas emergentes nos processos de aprendizagem, realiza o diagnóstico- psicopedagógico HOSPITALAR: Atua junto à equipe multidisciplinar no pós – operatório, ou em tratamentos que dificultam a aprendizagem, dando continuidade ao processo de aprendizagem, a psicopedagogia articula-se a Fonoaudiologia, Neurologia, Fisioterapia, Psicologia e a Medicina em geral. Rubinstein (1999), afirma duas formas básicas da atuação do psicopedagogo: a clínica voltada para a terapêutica e a institucional voltada para a prevenção. A Lei nº 3.124/97 considera o psicipedagogo capacitado para: • Intervir e solucionar os problemas de aprendizagem tendo como enfoque o indivíduo, ou a instituição de ensino público ou privado. • Apoiar os trabalhos realizados nos espaços institucionais. • Prevenir os problemas de aprendizagem. • Desenvolver projetos favoráveis ao processo de aprendizagem. • Orientar, coordenar e supervisionar cursos de especialização de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação. O trabalho psicopedagógico tem caráter preventivo, clínico, terapêutico, o que amplia a sua área de atuação. França (2010), ressalta que no estudo da psicopedadogia, não há uma relação causa-efeito sobre as dificuldades na aprendizagem, mas há uma composição que envolve o ser aprendente e o objeto a ser analisado. Nesta análise à aprendizagem e o ensino estão em conformidade para compreensão 27 de cada indivíduo, ou seja cada sujeito terá em sua aprendizagem uma singularidade que estarão ou não de acordo com as estratégias de ensino. A aprendizagem acontece de acordo com o meio em que o indivíduo vive. Diante de uma situação/problema, o sujeito manifesta uma mudança de comportamento e com isso recebe várias interferências intelectuais, emocionais, físicas, psicomotoras e sociais. Esses fatores serão transformados a ponto do sujeito construir a si mesmo, tecendo sua rede de saberes e interagindo com o meio social, determinando suas ações e reações. 28 CAPÍTULO III A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA Este capítulo aborda a importância da família e a função da escola como agências socializadoras distintas, com diferentes objetivos na tarefa de educar. Utilizou-se como autores principais que sustentam o texto, Aquino (1996), Casarin & Ramos (2007), La Taille (2005), López (2002), Porto (2006), Tancredi & Reali (2001) e Vasconcellos (2000). 3.1 A importância da família “A família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce, indubitavelmente, grande influência sobre a criança e o adolescente.”(AQUINO, 1996. p.97) A criança passa os primeiros anos de vida no seio familiar, onde transcorre as primeiras lições de vida. A transmissão devalores, variam de família para família cada uma tem sua maneira de educar. A forma de organização da criança acontece no lar, de acordo com a rotina familiar, onde ela deve ser trabalhada em relação aos limites e regras do seu meio social, com esta organização a criança será educada, sabendo o momento certo em que pode ou não fazer uma coisa ou outra, entendendo os limites para desenvolver autonomia. De acordo com Casarin & Ramos (2007), é na família que se propicia e constroem laços afetivos para o desenvolvimento da pessoa. Ela tem o papel de socialização e educação. Os primeiros saberes estão vinculados à família, ela também é vista como base da sociedade futura e centro da vida social. 29 Hoje percebe-se que a família e a escola têm uma grande tarefa de educar, devido às transformações que tem ocorrido ao longo do tempo na sociedade, pais e professores se queixam nesta árdua tarefa educativa. Com o alongamento da jornada de trabalho e a necessidade de trabalhar o tempo que os pais dispunham para os seus filhos fora reduzido. Porém a criança necessita de muito afeto e de uma troca com os adultos que vá além de suas necessidades fisiológicas. A redução desse afeto, e dessa troca limita as possibilidades de amadurecimento. Segundo Tancredi & Reali 2001), observa-se, que em diferentes contextos, a freqüência dos alunos com pouca idade a outros âmbitos socializadores, como creches e escolas de educação infantil, não é incomum, o que ocasiona sua permanência mais tempo fora de casa do que convivendo com os membros de sua família. O papel socializador da família passa a ser mais difuso e a responsabilidade da educação dos filhos mais dividida, principalmente com a escola e com a família, ampliada pelos laços de parentesco. Entende-se, que enquanto educadores sabe-se que os alunos já chegam a escola com saberes formados e influenciados pelo ambiente de onde provém. Esses conhecimentos estão presentes no vocabulário, nos hábitos, costumes e valores trazidos pelos alunos. A família pode constituir-se em uma grande aliada da escola na educação de seus filhos, porém quando esta não contribui positivamente para educação moral e ética da criança, são encontradas muitas dificuldades, no âmbito escolar, pois o trabalho construído na sala de aula, não tem continuidade em casa, os alunos muitas vezes deparam-se com discursos totalmente contraditórios entre o do professor e o da família, dificultando o trabalho proposto pela escola. Para Casarin & Ramos (2007), se a família não oferecer um alicerce necessário ao desenvolvimento da criança, ou do adolescente este buscará em outros convívios. Isso tornar-se perigoso, pois se o sujeito não encontrar apoio e atenção em seu convívio familiar, certamente irá buscá-los fora. Daí a 30 importância do diálogo na tarefa de educar, de forma a favorecer o seu crescimento e aprendizado no contexto social. De acordo com Vasconcellos (2000), o grande foco da crítica e da imputação de responsabilidades pelos problemas de indisciplina na escola está sendo o aluno, e em particular, sua família. De fato percebe-se que muitas famílias desestruturadas, desorientadas, com hierarquia de valores invertida em relação à escola, transfere suas responsabilidades para escola. Objetivamente, observa-se que a família não está cumprindo sua tarefa de fazer a inicialização civilizatória: em estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos. Conforme Aquino (1996), a atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, conseqüentemente, incutem o comportamento da criança na escola. Pensa-se que um dos fatores relevantes da restrição ao desenvolvimento da autonomia de criança de classe média pode ser a superproteção provocada possivelmente como reação à violência generalizada na sociedade contemporânea. Em paralelo à preocupação em superproteger, tem acontecido a diminuição da disponibilidade de tempo de pais para ficar com seus filhos, por causa do trabalho. Muitos saem cedo, deixando-os na escola em tempo integral, apanhando-os ao final da tarde: isto quando não acontecem imprevistos, ocasião em que só verão a criança na manhã seguinte. Ao ocorrer isso, quase não sobra tempo para um relacionamento de qualidade, em que é possível conversar, ouvir as queixas das crianças ou mesmo participar de seus momentos de alegria. Percebe-se que alguns pais têm medo de perder o vínculo com os próprios filhos; com isso, tornam-se permissivos, exercendo o controle de modo insuficiente, e para suprir esta necessidade, recompensam os filhos com prêmios, fornecendo tudo em profusão, fazendo com que eles não percebem a diferença do ter e não ter, não aprendendo a repartir, confundindo o desejar com consumir por consumir. 31 Moreno & Cubero (apud, Aquino, 1996), atribuem à família garantia de sobrevivência física de seus membros e ressaltam que é dentro dela que se realizam as experiências básicas que serão imprescindíveis para o desenvolvimento autônomo dentro da sociedade (aprendizagem do sistema de valores, da linguagem, do controle de impulsividade, etc.). Os autores identificam na literatura especializada três estilos de práticas educacionais paternas (principalmente no que se refere à forma de lidar com a disciplina), predominante na maior parte das famílias e suas influências sobre o comportamento da criança. Chamam de pais autoritários aqueles que manifestam altos níveis de controle, de exigências de amadurecimento, porém baixos níveis de comunicação e afeto explícito. Os filhos tendem a ser obedientes, ordeiros e pouco agressivos, porém tímidos e pouco persistentes no momento de perseguir metas; baixa auto-estima e dependência ( não se sentem seguros, nem capazes para realizar atividades por si mesmos); filhos pouco alegres, mais coléricos, apreensivos, infelizes, facilmente irritáveis e vulneráveis às tensões, devido à falta de comunicação desses pais. Pais permissivos são os que têm pouco controle e exigências de amadurecimento, mas muita comunicação e afeto; costumam consultar os filhos por ocasião de tomada de decisões que envolvem a família, porém não exigem dos filhos, responsabilidade e ordem; estes, tendem a ter problemas no controle de impulsos, dificuldade no momento de assumir responsabilidade; são imaturos, têm baixa auto-estima, porém são mais alegres e vivos que os pais autoritários. Pais democráticos, por sua vez parecem conseguir níveis altos tanto de comunicação e afeto, como de controle e exigência de amadurecimento; são pais afetuosos, reforçam com freqüência o comportamento da criança e tentam evitar o castigo; correspondem às solicitações de atenção da criança; esta tende a ter níveis altos de autocontrole e auto-estima, maior capacidade para enfrentar situações novas e persistência nas tarefas que iniciam; geralmente são interativos, independentes e carinhosos; costumam serem 32 crianças com valores morais interiorizados (julgam os atos, não em função das conseqüências que advêm deles, mas sim, pelos propósitos que os inspiram). Atitude dos pais Conduta dos filhos Pais autoritários Filhos obedientes, ordeiros e pouco agressivos Pais permissivos Filhos imaturos com baixa auto-estima Pais democráticos Filhos interativos, independentes e carinhosos Embora um pai ou uma mãe raramente se enquadrem totalmente em um dos três padrões descritos, pois seu comportamento é mais variado e menos estereotipado do que sugere essa classificação, o comportamento educacional predominante da maior parte dos pais assemelha-se a um ou outro desses estilos. De acordo com os autores é impossível negar, portanto, a importância e o impacto que a educação familiar tem (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo. Os traços que caracterizarão a criançae o jovem ao longo de seu desenvolvimento não dependerão exclusivamente das experiências vivenciadas no interior da família, mas das inúmeras aprendizagens que o indivíduo realizará em diferentes contextos socializadores, como na escola. 3.2 Estabelecer Limites De acordo com La Taille (2001), o sentido restritivo da palavra “limite” nos coloca de chofre no grande tema humano que é a liberdade. Não ultrapassar determinados limites é sujeitar-se a uma imposição, seja ela física ou normativa. Para La Taille (2001), os limites físicos são aqueles que consideramos concretos e objetivos. E que, obviamente, também deve ser objeto da educação. Exemplo: o bebê, desde cedo, percebe este tipo de limite, estabelecendo, por exemplo, o que causa dor ou não, o que é perigoso ou não. E os limites normativos são aqueles que a sociedade resolve criar e impor. É 33 proibido em nome de valores. Estes muitas vezes acabam levando sérias questões políticas, éticas, existências e religiosas (Por que fazê-lo, já que as leis da física me permitem? Só porque as leis do homem não permitem?). A respeito da legitimidade dos limites restritivos, La Taille deixa bem clara a sua posição: Que em primeiro lugar, ele crer que os limites devem ser pensados em função do bem-estar e do desenvolvimento dos indivíduos. Em segundo lugar, devem ser pensados em função do bem estar dos outros membros da sociedade. Exemplo: a temperança é um limite que serve ao viver bem consigo mesmo, porém não humilhar é um limite que visa não levar infelicidade aos outros. Segundo La Taille (2001), o debate a respeito da colocação de limites passa pela discussão do valor dos desejos e vontades das crianças e seu poder prematuro de optar por bons caminhos, que levem a uma vida abastada e realizada. Muitos pais e educadores devem ter receio de, ao impedir os filhos ou alunos de satisfazer determinadas vontades, estarem contrariando boas e até sábias opções. Se no passado, a colocação de limites recebia a legitimação na suposta imaturidade das crianças e adolescentes, hoje tal legitimação está sob suspeita: por que um adulto saberia melhor o que é bom para o seu filho? A expressão “faço isso para o seu bem” soa, hoje, como possível hipocrisia ou autoritarismo disfarçado. Dito de maneira clara; os adultos de hoje não têm tanta certeza de que sabem mais que os filhos quais os caminhos que levam à felicidade, com isso colocam bem menos limites.Trata-se de uma posição honesta. Mas, em alguns casos, trata-se de uma posição covarde: ao dizer aos filhos “Façam o que vocês quiserem”, alguns adultos também lhes dizem, de forma oculta:” “Virem-se não tenho nada a ver com isso.” A não-colocação de limites pode tanto ser prova de humildade como de descompromisso em relação aos filhos e ao futuro do mundo. La Taille (2001) ressalta também, que a infância é uma fase marcada pela transição, portanto é o caminho em direção ao estado adulto. Tal caminho envolve um incessante transpor de limites, principalmente aqueles 34 que, a cada período separam a criança das capacidades adultas. “Como o ser humano é um ser social, a educação é condição sine qua non desse crescimento”: o adulto deve auxiliar a criança a identificar os limites, motivá-la e equipá-la para superá-los. As inovações pedagógicas podem servir de auxílio para essa tarefa educativa. Ao adequar-se do ensino pelo interesse do aluno, torna-se fundamental buscar o estímulo que ajuda numa aprendizagem significativa e na construção do conhecimento. 3.3 A função da escola “A escola, no entanto, apesar de toda falta de apoio, de recursos e tantos outros problemas que desabam sobre ela, continua sendo respeitada, valorizada e reconhecida como uma instituição imprescindível para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.” (La Taille, 2005. p.35). Segundo La Taille (2005), a escola é vista como espaço imprescindível para o atendimento de demandas de formação intelectual e transmissão formal dos legados da cultura. Além da tarefa de educar e cuidar, sobre ela recai hoje a responsabilidade da formação integral, ou seja é incumbida da tarefa de cuidar do desenvolvimento da criança e do adolescente no plano cognitivo, emocional, afetivo, social, político e tantos outros tidos como necessários para a formação do sujeito deste tempo. Para Porto (2006), a instituição de ensino, é vista como espaço de vida, pois é por meio da escola que o homem desenvolveu uma teoria de educação. Com a chegada da educação formal, vieram as regras, a organização do conhecimento, as divisões do saber e os métodos tradicionais de ensino. A escola é considerada como objeto de estudo e reflexão. Conforme La Taille (apud, Aquino, 1999), a ida do aluno à escola é uma preparação para a vida, é estar equipado a pratica de diversos projetos. O ensino obrigatório é um direito de toda criança, porém é dever dos pais de da sociedade, como um todo. Porque a escola é vista como algo bom para as novas gerações do mundo vindouro. Todavia, a obrigação do ensino não se 35 resume a contemplar um direito individual, mas também se justifica por outro mandamento: a formação integral do sujeito para à cidadania. Percebe-se assim, que a educação tem o duplo objetivo de garantir a conquista da autonomia e da liberdade, de seus alunos e, por outro lado, ensiná-los que essa autonomia e liberdade não os subtraem a certas exigências do convívio social. Segundo Tancredi & Reali (2001), a freqüência das crianças na tenra idade a outros ambientes socializadores, como creches e escolas de educação infantil, não é incomum, o que acarreta sua permanência mais tempo fora de casa do que convivendo com os membros de sua família. A escola historicamente se caracteriza, assim, como uma importante agência educacional e socializadora, complementando o trabalho desenvolvido pelas famílias. Para as autoras a família é um agente transmissor de valores morais e sociais. Ela exerce um papel fundamental de socialização, na qual a responsabilidade da educação dos filhos fica dividida com a escola e com a família ampliada pela parentela bem como: avós, tios e irmãos. E a escola por sua vez, tem a função de ensinar o conhecimento sistematizado. Para Aquino (1996), a escola é um local que possibilita uma vivência social diferente do grupo familiar, já que sistematizado e com um universo vasto de interações, com pessoas, ambientes e materiais, tem um importante papel, que não é, como já se pensou, o de compensar carências (culturais, afetivas, sociais etc.) do aluno e sim o de oferecer a oportunidade, para ele ter acesso a informações e experiências novas e desafiadoras (que incidam na sua zona de desenvolvimento proximal), capazes de provocar transformações e de desprender novos processos de desenvolvimento e comportamento. Conforme o autor a escola não pode se isentar de sua tarefa educativa no que se refere à disciplina. Se um dos objetivos da escola é que os alunos aprendam as posturas consideradas corretas em nossa cultura (temos como exemplo: atitudes de solidariedade, cooperação e respeito aos colegas e professores), a prática escolar cotidiana deve dar condições para que os alunos não conheçam somente estas expectativas, mas também criem e 36 interiorizem estes valores, e, principalmente, propagem mecanismos de controle reguladores de sua conduta. Para que isso ocorra é necessário que a escola e os educadores aprendam a adequar-se as exigências e as possibilidades que os alunos necessitam, como, por exemplo, quanto a sua capacidade de concentração, possibilidades motoras, compreensão de determinadas matérias etc.). As crianças, por sua vez, mais do que acatar e se conformar com as regras estabelecidas, devido ao receio de punições e ameaças (nota baixa, advertência para os pais assinarem, suspensão das aulas etc.) necessitamter a oportunidade de conhecer e até discutir as intenções que as originaram assim como as conseqüências caso sejam infringidas. Segundo Aquino (1996), o papel mediador do professor é de fundamental importância, pois com base nestes princípios terá com certeza, um efeito extremamente educativo em situações que forem necessárias as crianças e adolescentes, saberão avaliar e tomar decisões por si só. É evidente que o professor também necessita ter instrumentos metodológicos para exercer um papel ativo, para cobrar coerência e reciprocidade na atuação de seus alunos, o que torna-se possível dependendo da forma com que se trabalha as regras em sala de aula. Para que isso ocorra é necessário, que as regras sejam verdadeiramente estabelecidas pelo grupo, entendendo que o professor é parte integrante e não externa a este, e tem autoridade inerente que lhe é atribuída por seu papel. E em segundo lugar, faz-se necessário que esse mesmo professor não extrapole suas funções de membro coordenador e mediador do grupo, e não tente ser o “dono” da sala e das regras, aquele que determina e tudo cobra, que diz quem está certo e quem está errado, que aplica sanções e dá recompensas. Essa postura é contraditória com os ideais democráticos de respeito mútuo e reciprocidade. Compreender esse papel de forma dialética, sabendo utilizar democraticamente a autoridade inerente à sua função, é o que pode levar a uma transformação das relações dentro da escola e fazer com 37 que os alunos sintam a consideração do respeito e não a mera obediência às regras. Para Bossa (2007), os profissionais ligados a área de psicopedagogia estão atentos a necessidade do trabalho a ser realizado na escola. Pensar em psicopedagogia, significa examinar um processo que engloba questões metodológicas, relacionais e socioculturais, visando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade. A referida autora ressalta que a psicopedagogia dedica-se ao planejamento educacional, ao assessoramento pedagógico e colabora com os planos educacionais e sanitários no âmbito das organizações. Atua de forma preventiva, realizando diagnósticos e propostas operacionais pertinentes. 3.4 Relação Família/Escola Segundo Vasconcellos (2000), a ligação entre a escola e a família têm se modificado muito nas últimas décadas. Pois nesse período a escola mudou, a família mudou e, sobretudo a sociedade mudou. Pode-se apontar a transição de uma fase em que a família confiava plenamente na escola, pois a família passa, de um lado, a criticar a escola, e, de outro, contraditoriamente, a transferir suas responsabilidades para a mesma. Esta é uma situação que se vive hoje. Já não há cumplicidade, mas em função das transformações que vem sofrendo, há uma tendência de imputar à escola funções que antes eram inerentes à família. Atualmente tem-se procurado atribuir às famílias a responsabilidade por complementar o trabalho realizado pela escola, o que inclui o desenvolvimento de padrões comportamentais, atitudes e valores aceitos por um determinado grupo cultural. Entende-se que antes a família era tomada como uma agência formadora e responsável pela impressão das marcas fundamentais do caráter do sujeito. Atualmente, compartilha com a escola esse papel de referência primária. Se Outrora, o lugar ocupado pelo sujeito na família e seu 38 desempenho eram tidos como indicadores importantes para o seu futuro e sua personalidade, agora, o desempenho e seu comportamento escolar são tomados como parâmetros importantes para o desenvolvimento pessoal do sujeito. Do ponto de vista de Porto (2006), a estruturação escolar não pode ser pensada sem a inclusão da família, pois são as duas instituições responsáveis pela educação, no sentido amplo, este processo se dá diante da articulação destas duas dimensões. Para Tancredi & Reali (2001), os professores são elementos chave no processo ensino-aprendizagem e, portanto, das atuações escolares, incluindo aquelas relativas ao relacionamento escola-família, pois estudos têm mostrado que os conhecimentos, crenças e metas dos professores determinam em parte o que fazem no contato com os alunos e isso influência no modo como se relacionam com seus familiares. Pode-se dizer que estes profissionais agem com base em percepções e interpretações sobre o que está acontecendo à sua volta, o que, por sua vez, depende do contexto em que atuam. Dada à formação profissional específica que têm os professores e atendendo às funções que a escola tem na sociedade, as tentativas de aproximação e de melhoria das relações estabelecidas com as famílias devem partir, preferencialmente, da escola. Envolver a família na instrução escolar dos filhos significa para a escola, que ela tenha que conhecer melhor os pais dos alunos para realizar um trabalho conjunto com eles e criar, entre outras coisas, uma atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças nesses dois ambientes socializadores. Para as autoras os pais podem e devem envolver-se com o processo escolar de seus filhos, exigindo que a escola cumpra o seu papel na educação das crianças sem descaracterizar a especificidade dos papéis que cada instância deve efetuar. Com a aproximação dos pais os professores podem passar a ter maiores informações a respeito de quem são seus alunos, suas famílias, sua 39 cultura, sua vida cotidiana, o que em última instância favorece a organização do trabalho a ser desenvolvido em benefício dos alunos e da comunidade. Com relação aos pais, o seu envolvimento com a escola podem ajudá-los a compreenderem melhor o trabalho por ela realizado, a se envolverem na medida de consoante com as suas possibilidades no processo educacional dos filhos, trabalhando de forma necessidades educativas da vida e da participação no mundo atual. Quando escola e famílias têm uma linguagem comum e posicionamentos adotados colaborativamente em relação de alguns aspectos da educação das crianças e a sua escolarização, é possível que as crianças consigam ter uma aprendizagem mais equivalente, um percurso acadêmico mais sereno e um desenvolvimento intelectual e emocional mais harmoniosos, o que não pode ser desprezado. “Os pais têm o direito e o dever de participar na escola porque são responsáveis legais e naturais pela educação de seus filhos, mas também representam a sociedade receptora da ação escolar.” (López, 2002.p.83) Pode-se observar as funções que cabem aos pais na qualidade de receptores do serviço educacional é de receber informação e explicação dos professores sobre os resultados obtidos; colaborar com professores, sempre que for solicitado para que se torne eficaz a atuação escolar, tanto no campo acadêmico como nas atitudes e nos hábitos de comportamento que se pretende incitar como parte do projeto educacional da escola, manter contatos com os professores para ter conhecimento do processo educativo realizado na escola; buscar acordos de certas metas educacionais e propor ações comuns; manifestar interesse pelas atividades que os filhos realizam na escola; valorizar os conhecimentos e as habilidades que a escola oferece. Percebe-se que muitos pais somente participam das reuniões pedagógicas quando convocados pela escola, são poucos os pais dos quais requerem uma reunião individual, para saberem como os seus filhos estão se desenvolvendo, muitos pais somente se preocupam quando está chegando o 40 final do bimestre, e se os resultados não forem satisfatórios, os mesmos procuram o contato com a escola. Observa-se que a participação dos pais na escola torna-se importante desde a inicialização das aulas, pois o seu acompanhamento é fundamental, para criarem expectativas do sucesso escolar de seus filhos. De acordo com López (2002), a participaçãodos pais deve-se concretizar no auxílio à atuação pedagógica escolar, na qual propicia à escola o suporte necessário para que a educação escolar seja fruto de coordenação e coerência entre as atuações dos professores e da família. Para a escola a participação dos pais deve ser analisada no próprio planejamento das tarefas que os professores realizam. 41 CONCLUSÃO A família é o agente transmissor de valores sociais, é nela que está a base da sociedade futura, contudo a conquista da autonomia da criança dependerá do ambiente em que vive e da forma que está sendo educada. Ao longo da vida, o indivíduo se integra a outras instituições, e com esta interação vai se construindo o saber, onde todos os membros da sociedade são parceiros possíveis, contribuindo cada um com os seus conhecimentos. Daí a importância da interação do adulto com a criança, onde ela criará vínculos, adquirindo conhecimentos e cultura. A escola é o espaço de socialização da criança, na qual contribui de maneira marcante, na vida do sujeito pois desde muito cedo, a criança permanece uma parte significativa de seu dia na escola, além da tarefa de educar e cuidar do desenvolvimento da criança no plano cognitivo, emocional, social e político, a escola tem o objetivo de garantir a conquista da autonomia. O processo de aprendizagem ocorre na estimulação do ambiente sobre o sujeito em que surge um problema que é expresso por uma mudança de comportamento no qual o sujeito recebe interferências de vários fatores, intelectual, psicomotor, físico, social e emocional. Diante disso, a psicopedagogia surgiu como uma essência para a sociedade contemporânea, pois diante de tantas dificuldades de aprendizagens, este campo do conhecimento visa atender a demanda de indivíduos, agindo de forma preventiva possibilitando a promoção de aprendizagens. Portanto a família e a escola são provavelmente as agências sociais mais importantes durante os anos de formação da criança. Com elas está a tarefa de transformar uma criança dependente e imatura em um membro responsável, autossuficiente e em condições de contribuir para o bem estar da sociedade. 42 Após a realização desta pesquisa, percebe-se que a ação conjunta da família, da escola e do psicopedagogo torna-se importante, pois a atuação de ambos ajudará a desenvolver um trabalho significativo na formação e no sucesso do educando. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, Eunice M.L. Soriano de. A criança na família e na sociedade. Petropólis: Vozes, 1985. AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativa teórica e práticas. São Paulo: Summus, 1996. ________.Autoridade e autonomia na escola. São Paulo: Summus, 1999. BEAUCLAIR, João. Para Entender Psicopedagogia. Rio de Janeiro: Wak.Ed. 2006. BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. CASARIN, Celson Elinton Fonseca e RAMOS, Maria Beatriz Jacques. Rev.Psicopedagogia, p.182-201. Porto Alegre: 2007. KAMII, Constance. A criança e o número. 22 ed. Campinas: Papirus, 1996. LA TAILLE, Yves de. Indisciplina/disciplina: ética, moral e ação do professor. Porto Alegre: Mediação, 2005. ________. Limites: Três dimensões educacionais. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2001. LÓPEZ, Jaume Sarramona. Educação na família e na escola. São Paulo: Edições Loyola, 2002. OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo: 1997. PIAGET, Jean.O julgamento moral na criança. São Paulo, SP, Mestre Jou,(1977) PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional. Teoria, prática e assessoramento psicopedagógico.Rio de Janeiro: Wak Ed., 2006. RUBINSTEIN, Edith. Da reeducação para a psicopedagogia, um caminhar, in Psicopedagogia uma prática, diferentes estilos, Casa do Psicólogo, São Paulo 1999. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: Construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 11ª ed. São Paulo: Libertad, 2000. 44 WEBEGRAFIA DUARTE, Newton. A escola de Vigotski e a educação escolar. Disponível em http: WWW.geocities.com/athens/ithaca/3745/odonto/vigotsky.htm.200911 acesso em 11 mar,2009. FRANÇA. Valdirene Soares. O Papel do Psicopedagogo no Fazer Educacional. http: www.webeartigos.com. Acesso em 06/02/2011. TRANCREDI, Regina Maria Simões Puccinelli. REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues. Visões de professores sobre as famílias de seus alunos: Um estudo na área da educação infantil. In: Reunião Anual da ANPED,24 Caxambu, out/2001. Disponível em http: www.ced.ufsc.br/ñeeoa6/tsomak.pdf acesso em 26 mai, 2008. http://www.geocities.com/athens/ithaca/3745/odonto/vigotsky.htm.200911%20acesso%20em%2011%20mar%2C2009 http://www.geocities.com/athens/ithaca/3745/odonto/vigotsky.htm.200911%20acesso%20em%2011%20mar%2C2009 http://www.webeartigos.com/ 45 ÍNDICE INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 12 CONCEITO DE AUTONOMIA 12 1.1 – Autonomia em Piaget 12 1.2 – Autonomia em Vigotsky 16 CAPÍTULO II 19 A INFLUÊNCIA DO PSICOPEDAGOGO 19 2.1 – Breve Histórico da Psicopedagogia 19 2.2 – A Psicopedagogia na Argentina 20 2.3 – O objeto da Psicopedagogia 23 2.4 – A área da atuação do Psicopedagogo 24 CAPÍTULOIII 28 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DA ESCOLA 28 3.1 – A importância da Família 28 3.2 – Estabelecer Limites 32 3.3 – A função da Escola 34 3.4 – Relação Família/Escola 37 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 43 WEBGRAFIA 44 ÍNDICE 45
Compartilhar