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AULA 1 COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA NO ENSINO DE LÍNGUAS Profª Helenice Ramires Jamur 2 CONVERSA INICIAL O título desta disciplina pode gerar, no mínimo, duas reações em você. É possível que esteja pensando na cobrança que vem sentindo para fazer uso dos recursos digitais nas suas aulas e o quanto isso lhe causa certa preocupação, porque você entende que pode ser uma tarefa desafiadora; ou, talvez, esteja muito feliz por ter encontrado esta disciplina no seu percurso conosco, porque é adepto do uso das tecnologias digitais da informação e comunicação na sua prática pedagógica. Para qualquer uma das suas reações, informo que o objetivo desta caminhada é mostrar que o trabalho com as tecnologias digitais pode ser muito interessante e significativo. Vamos somar boas ideias às suas práticas e conversar sobre os principais desafios e contribuições que as invenções deste século estão trazendo para o processo educativo. Nesta aula, vamos conhecer os principais conceitos de tecnologia e inovação que, mesmo fazendo parte do cotidiano, devem ser amplamente debatidos para que possamos sair do senso comum e fazer uso consciente da tecnologia em nossas aulas. Você vai ver como será primordial essa conversa para que estruture suas aulas de forma segura e criativa. Vamos falar também sobre alguns desafios que a tecnologia pode trazer para a sala de aula, afinal, nem sempre é fácil aproveitar os recursos e ainda trabalhar de forma coordenada com os conteúdos necessários. Por fim, vamos discutir algumas práticas e verificar as contribuições especificamente para o ensino de língua portuguesa e estrangeira. Você vai ver que há muito recurso disponível e também possibilidades de criação de materiais didáticos para enriquecer as aulas e promover mais interação entre os alunos. CONTEXTUALIZANDO Imagine o seguinte cenário: uma sala de aula de língua portuguesa para as séries finais do Ensino Fundamental, com um total de 30 alunos, divididos entre aqueles naturalmente interessados e os que preferem jogar um game no celular ou conversar com colegas de outra turma pelas redes sociais, compartilhando fotos, piadas e notícias falsas. Difícil imaginar? Acho que não. Há muitos relatos de salas de aula que apresentam este ou um cenário até mais desmotivador, não 3 é mesmo? Como trabalhar com essa turma? Há alguma fórmula mágica para fazer a turma participar e aprender? Será que criar um jogo digital que apresente os temas da aula bastaria? Na sua experiência como docente, é possível que em algum momento você tenha tentado utilizar um aplicativo em suas aulas, ou solicitou uma pesquisa na internet sobre a temática, mas pode ser que o efeito dessa prática não tenha chamado a atenção da turma como esperado e, por isso, você tenha até desistido. Também pode ter utlizado um jogo que fez o maior sucesso, mas que, no final da aula, você percebeu que tudo virou puro entretenimento e ninguém aprendeu devidamente. É nesta problemática que vamos nos aprofundar. Falaremos sobre o uso da tecnologia no ensino de línguas para que você faça um bom planejamento de aula, consciente dos desafios e possibilidades que cada escolha poderá trazer. Vamos lá? TEMA 1 – UMA BREVE REVISÃO HISTÓRICA SOBRE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO Para começar, precisamos rever como a tecnologia se relaciona com a educação, afinal, parece que o tema é novo, mas não é exatamente assim que essa relação funciona. Temos muita história sobre a tecnologia em sala de aula, sobre a qual falarei aqui de forma breve. 1.1 O que é tecnologia? Parece uma pergunta básica, mas, conforme for a resposta, você pode estar considerando a tecnologia apenas por um ou outro aspecto dela, e é preciso refletir sobre isso. Observe a figura abaixo. 4 Figura 1 – O que é tecnologia? Fonte: Shutterstock. O que você considera como tecnologia nessa foto? O aparelho de celular? O relógio de pulso? A caneca? O café dentro dela? Será que os aplicativos, a internet e as novas formas de comunicação que surgiram com as tecnologias digitais e que estão presentes no celular não seriam também bons exemplos de tecnologia? Nesse caso, a tecnologia deixou de ser o aparelho de celular e passou a ser a ciência por trás dele, certo? Nessa ótica, a tecnologia que criou o aparelho de celular, e não o próprio produto “celular”, o objeto celular, é o resultado de muito estudo e pesquisa. Trata- se de algo que não é palpável, portanto, está implícito nele e em qualquer objeto criado por seres humanos. Acho que agora você percebeu o ponto principal: há diferentes classificações de tecnologia, mas vamos adotar um conceito que nos servirá como guia para todas as vezes em que falarmos de tecnologia nesta disciplina. Tecnologia é um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos. (Bueno, 1999, p. 87 citado por Brito, 2006, p. 9) Segundo Sancho (2001 citado por Brito; Purificação, 2015), didaticamente podemos separar as tecnologias em três grandes grupos: 5 1. Físicas – São as inovações de instrumentais físicos, como caneta esferográfica, livro, telefone, aparelho celular, satélites, computadores. 2. Organizadoras – São as formas como nos relacionamos com o mundo e como os diversos sistemas produtivos estão organizados. 3. Simbólicas – São as formas de comunicação entre as pessoas, desde o modo como estão estruturados os idiomas escritos e falados até como as pessoas se comunicam (Brito & Purificação, 2015, p. 30). Dessa forma, sempre que pensar em tecnologia, lembre-se de que é ela que nos move na sociedade, portanto, há muita tecnologia na sala de aula. Toda criação humana para facilitar a vida na terra é uma tecnologia, ou seja, o quadro negro, as canetas, até mesmo as cadeiras são objetos fruto de tecnologia, de inteligência humana aplicada a novos processos. Algumas tecnologias foram criadas especificamente para o uso pedagógico: alguém lembra do mimeógrafo? Foi um dos equipamentos criados especialmente para a escola. Acompanhe a seguir algumas imagens relacionadas ao ambiente escolar. Figura 1 – Coletânea de imagens relacionadas ao ambiente escolar Fonte: Shutterstock. 6 Veja que entre as fotos há algumas mudanças no mobiliário e em alguns recursos; estas seriam as tecnologias cujos conceitos foram categorizados por Sancho como “tecnologias físicas”. Há uma aparente mudança. Mas e quanto às tecnologias organizadoras e simbólicas da escola? Como elas têm evoluído na história da educação? Certamente há uma evolução presente, mas há uma mudança significativa das aulas do século passado para este século? “Os alunos”, alguns dirão que estão inquietos, indisciplinados, mas será que nossas aulas estão acompanhando as mudanças que esses jovens estudantes estão vivendo? As tecnologias digitais têm espaço no processo educativo da atualidade promovendo uma mudança metodológica ou apenas superficial? Vamos refletir sobre isso? 1.2 Tecnologias digitais Neste século, as tecnologias digitais estão cada vez mais presentes nas escolas, embora muitas vezes o seu uso seja apenas pessoal, entre os alunos. Basta dar uma passadinha em uma sala de Ensino Fundamental ou Médio para encontrar celulares ou tablets nas mãos dos alunos. Preocupados com o mau uso desses equipamentos em sala de aula, muitos gestores educacionais optaram por proibi-los. Será que essa é uma boa escolha? Vamos refletir! Vimos que a tecnologia é resultado de pesquisa,ciência e construção de conhecimento; percebemos que existe tecnologia desde que existe ser humano na terra, pois até o fogo precisou de tecnologia para ser “criado”. A pedra já existia, mas quem criou a tecnologia de acender o fogo foi o homem, não é mesmo? Era uma simples técnica, criada ao acaso, mas depois se tornou uma tecnologia, transformando o ato de criar fogo em algo intencional. Será que as tecnologias digitais deveriam mesmo ficar fora do processo educativo? O que podemos encontrar em um dispositivo móvel conectado à internet? Sua resposta pode ter sido: “Praticamente tudo, até mesmo o que não presta!” – e você tem razão! Mas é justamente nesse contexto que entra o nosso trabalho docente. Podemos considerar que a internet e as tecnologias digitais que se originaram dela representam uma nova forma de linguagem da humanidade, portanto, nós, como educadores, precisamos nos apropriar dela e inseri-la em nosso planejamento de forma consciente e coerente com a concepção de educação que adotamos. Até mesmo o ato de fazer o filtro entre o que é confiável 7 ou não passa a ser nosso papel e, ainda, ensinar aos alunos como deve ser feita uma boa seleção entre as fontes de conhecimento científico dentre tantas existentes neste abundante mundo digital. TEMA 2 – CONCEITOS DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA Vamos falar de inovação? É um tema fortemente ligado à tecnologia que tem sido muito utilizado em contextos mercadológicos como força de venda de algum produto. No entanto, na área de educação é preciso ter cuidado com o termo e com o significado que atribuímos a ele. Muitas vezes dizemos que estamos inovando e não fazemos nada além de repetir a velha metodologia tradicional, com aulas expositivas, dando a elas uma pincelada de modernidade ao inserir um ou outro artefato digital. Observe a imagem a seguir. Figura 3 – Vamos falar de inovação Fonte: Shutterstock. O que há de inovação nesta aula? O fato de a “lousa” ser digital faz dessa aula inovadora? A aula expositiva não precisa ser descartada, mas estamos diante de uma geração multitelas, altamente conectada, portanto, esse formato de aula pode funcionar, mas o momento deve ser bem planejado, ou corre-se o risco de haver um vídeo no Youtube com uma abordagem melhor que a nossa fala para a turma e, acredite, ele será descoberto antes mesmo de terminar a aula. Portanto, quando falamos em inovar, não se trata de uma necessidade de seguir 8 modas educacionais, mas de buscar apoio nos principais conceitos da didática para preparar uma aula instigante e motivadora: “Se a inovação é o ato de inovar ou renovar, por que a educação, sendo reconhecidamente o motor fundamental de mudança e inovação, tende a cristalizar-se como lugar de fossilização e de atraso?” (Brito & Purificação, 2015, p. 35). Diante da reflexão acima, convido você a pensar sobre o tema: Como podemos inovar de fato em sala de aula? Será preciso um computador de ponta ou uma impressora 3D? Nada disso, as inovações verdadeiras na educação escolar estão mais na concepção de ensinar e aprender que nos dispositivos utilizados. Não há uma fórmula mágica, mas um ingrediente é primordial: o protagonismo do aluno. As metodologias inovadoras devem finalmente procurar centralizar o processo no aluno como indivíduo autônomo e competente para que sua caminhada seja significativa, e não uma mera repetição de conceitos. Esta cultura digital tem forçado uma mudança nesse cenário, tirando do professor a figura de detentor do conhecimento, isso porque a informação é abundante e está à disposição de todos, logo, nosso papel docente muda. Não é mais possível apenas subir num tablado e ministrar uma aula no formato de palestra aos alunos todas as vezes; é preciso conduzir o processo de busca de cada aluno, instigando- os na busca pelo conhecimento através de pesquisa de qualidade. Essa é uma mudança mais que necessária para o processo educativo. TEMA 3 – OS DESAFIOS DO USO DAS TICS NO PROCESSO EDUCATIVO Com toda essa mudança, há muito desafio pela frente, não é mesmo? Até agora, durante nossa conversa, você já deve ter listado mentalmente alguns desafios que percebe ou vivenciou ao utilizar tecnologias digitais nas aulas. Vamos ver se adivinho alguns deles: 1. Falta de rede de internet na escola. 2. Falta de computadores. 3. Material obsoleto. 4. Analfabetismo digital de alguns alunos. 5. Dificuldade na avaliação escolar. 6. Distração dos alunos. Acertei algum dos itens em que você pensou? Esses que cito são desafios reais que ouvi de diferentes colegas educadores ao relatarem um profundo desejo 9 de utilizar as tecnologias digitais em sala de aula, entendendo que não tiveram sucesso em decorrência de alguns dos componentes acima. A partir de algumas boas experiências, a primeira resposta que posso dar para essa problemática é a seguinte: utilize a tecnologia disponível no local. Se na sua escola não há computadores, verifique se os estudantes possuem celulares conectados à internet, pois isso pode resolver. Caso não seja possível, faça uso daquilo que no momento está às suas mãos. Como já vimos, não é o artefato que fará sua aula inovadora, mas o planejamento desta aula. Além disso, há recursos digitais off-line, sem necessidade de internet, que poderão transformar suas aulas se forem bem articulados, até mesmo um Power Point trabalhado de forma interativa pode ser um recurso interessante para o ensino de línguas, por exemplo, mas cuidado para que não vire uma aula somente expositiva; trabalhe com a participação ativa dos estudantes. Certamente, na sua caminhada como professor ou professora, você já teve alunos com dificuldades de aprendizagem ou com conhecimentos desnivelados numa turma, e o mesmo pode acontecer ao trabalhar com tecnologias digitais, mesmo com toda a difusão de uso dos celulares inteligentes, a popularidade das redes sociais e a própria internet. Já me deparei com alunos que não tinham um e-mail cadastrado. Qual a saída para esses casos? A mesma estratégia utilizada para os alunos com outras dificuldades, ou seja, um atendimento personalizado e até a ajuda de colegas da turma para apresentar os novos recursos ao estudante. Neste ponto você deve estar pensando nos impactos nas avaliações também, afinal, se nem mesmo o básico esse aluno sabe, como podemos avaliar seus resultados utilizando recursos digitais? Uma boa avaliação deve ter mais que um instrumento, além de ser processual, portanto, sugiro uma avaliação individualizada, que observe a construção pessoal de cada estudante; pode ser mais trabalhosa, mas, mesmo sem o uso de recursos digitais, é uma forma mais segura de verificar a aprendizagem. Por fim, vamos falar da distração dos alunos. Será um problema? Vamos lembrar que o espaço de sala de aula é um espaço de criação, não somente de reprodução, portanto, a expectativa de foco total na aula decorre de uma visão tradicional na qual o estudante deve permanecer em silêncio enquanto o professor fala durante 50 minutos. Evidentemente há momentos de explicação, orientação e motivação que partem do professor, mas o objetivo da aula deve ser 10 o resultado da produção dos alunos, da troca entre eles e com o professor; assim vai se desenhando uma forma inovadora de compreender o processo ensino- aprendizagem. Pense com cuidado na didática da sua aula, procure fazer o planejamento de forma variada, focando nessa produção do conhecimento, e não só na reprodução; assim, a questão do foco se tornará secundária e, mesmo com distrações, o resultado poderá ser surpreendente. TEMA 4 – ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA O ENSINO DE LÍNGUAS Vamos às contribuições diretas das tecnologias digitais para o ensino de línguas! Quando falamos em tecnologias digitais, sempre nos referimos à nova linguagem que surgiucom elas. Essa referência não se dá somente ao chamado “internetês”, essa linguagem abreviada que se fortaleceu com os bate-papos em tempo real, que pode e deve fazer parte das aulas de línguas quando se trabalha com gênero textual. Mas a referência da nova linguagem faz alusão à linguagem mais geral, trata-se dessa linguagem visual, com regras próprias, com recursos específicos e bastante mutáveis. Estamos falando da geração de linguagem que usa o hashtag (#), os memes, o curtir, compartilhar e participar de qualquer publicação nas redes sociais por exemplo. Perceba que nessa linguagem abre-se um espaço para a participação ativa dos interlocutores, descentralizando o autor do texto; enquanto no texto impresso apenas o autor se dirige ao leitor, no texto digital é possível a troca com o autor. Estamos vivendo um momento em que a troca de mensagem é em tempo real e de forma volumosa. Os textos digitais podem não ser lineares, ser repletos de ícones, imagens e movimento, e a forma de navegar pode variar, modificando a lógica dos textos impressos. Além disso, há textos em quase todos os idiomas e gêneros textuais novos que são criados de tempos em tempos nessa cultura digital. André Lemos (2007, p. 39) conceitua o primeiro princípio para essa cultura digital como “liberação do polo da emissão”, na qual o emissor e o receptor passam a emitir e produzir conteúdo, mudando a forma de comunicação deste século. Diante disso, o que muda nas nossas aulas de línguas? No mínimo, muda a forma de fazer o letramento dos estudantes; com a ampliação dos gêneros, há a necessidade de ensinar sobre esses novos suportes da escrita, mesmo que isso 11 possa se modificar em pouco tempo. Ao professor cabe conhecer as mudanças culturais da língua e atualizar constantemente sua prática. Na verdade, não se espera que você seja o professor mais atuante das redes sociais, com canal no Youtube, criando memes diários em sua fanpage; é preciso acompanhar as criações humanas, mas, como educador, é fundamental o uso da capacidade criadora nas suas aulas. Já existem recursos para criar vídeos interativos, cartoons, exercícios, jogos – tudo ao seu alcance. Também há muitos recursos prontos, já preparados e disponíveis, são os chamados Recursos Educacionais Abertos (REA), dos quais falaremos mais adiante. TEMA 5 – DISCUTINDO PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUAS UTILIZANDO AS NOVAS TECNOLOGIAS Finalmente, vamos discutir algumas práticas para o ensino de línguas utilizando as novas tecnologias. Afinal, há alguma estratégia definitiva para utilizar as tecnologias digitais no ensino de línguas? Não há uma única resposta para essa pergunta, mas podemos conversar sobre algumas possibilidades e reflexões quanto ao modo de utilizar as tecnologias nesta cultura digital. Moran diz o seguinte: “As competências digitais mais importantes hoje, além de programar, são: saber pesquisar, avaliar as múltiplas informações, comunicar-se, fazer sínteses, compartilhar on-line” (Moran, 2007). Como podemos trabalhar algumas destas competências? 5.1 Saber pesquisar De maneira geral, nossos alunos já navegam pelos sites de pesquisas, e dessa prática se originou até uma expressão: “Dar um Google”. Com um simples comando nos aparelhos de celulares com sistema Android, fazem a pesquisa desejada identificando a pergunta pela voz do usuário. Basta dizer “Ok, Google”. Já testou? Pois é, isso tudo tem mudado significativamente o conceito de pesquisa escolar; o espaço antes ocupado pelas sofridas enciclopédias hoje está ao alcance das mãos em diversos idiomas e em várias versões. Não há uma única referência, mas várias opções com vídeos, imagens e artigos científicos. Entretanto, há uma quantidade enorme de conteúdo de procedência duvidosa, 12 sem embasamento científico e até mesmo criado com o único propósito de enganar o leitor. Então, como poderemos trabalhar, se é um caminho sem volta? Teremos de pensar em pesquisa com esse recurso abrangente e aparentemente pouco confiável? O primeiro passo para isso está justamente no estudo e na pesquisa sobre as fontes e a confiabilidade de cada uma delas. O docente precisa conhecer a fundo as fontes para sugerir o seu uso nas atividades dirigidas, além disso, com o tempo é necessário dar autonomia para que os estudantes desenvolvam essa habilidade. Para isso, há roteiros disponíveis com perguntas que devem ser feitas a fim de identificar a veracidade de determinados conteúdos. Vale a pena. NA PRÁTICA Chegou o momento de pensar na prática para o uso da tecnologia. Para tanto, vou contar a história da Fátima. A professora Fátima estava formada em Letras há 10 anos, todo esse tempo trabalhando na mesma escola estadual no interior do Paraná. Todos os anos a Fátima pedia para trabalhar com a turma do 9º ano; ela sentia que suas aulas de produção textual poderiam fazer a diferença na vida dos seus alunos para o início do Ensino Médio mais adiante. Nas aulas dela não era permitido o uso de dispositivos móveis de nenhum tipo, apenas o livro da disciplina e o caderno. As aulas eram expositivas e, em todas elas, Fátima solicitava uma produção escrita. Os alunos produziam os textos de forma pouco criativa... “Mas pelo menos produziam”, consolava-se a professora. Após uma mudança de gestão, foi realizada uma capacitação com todos os professores visando o uso das tecnologias digitais em sala de aula. Fátima ficou encantada, mudou todos os planejamentos das suas aulas e incorporou nelas o uso do celular. Conseguiu digitalizar todos os livros e, dessa forma, os alunos passaram a ler os textos pelo celular; também passou a pedir que as produções escritas acontecessem on-line, em uma plataforma digital. A expectativa era grande. Fátima agora conhecia tantos recursos! Ela sabia que os resultados seriam diferentes. Qual foi a surpresa de Fátima? Os alunos continuaram produzindo textos pouco criativos e ainda reclamaram de ler os textos no celular, pois era necessário aplicar o recurso de zoom a cada página, o que dificultava a leitura. 13 O que Fátima poderia fazer de diferente para trabalhar com o uso das tecnologias digitais em suas aulas? Será que ela fez um planejamento inovador ou acabou usando apenas as ferramentas digitais disponíveis sem mudar a metodologia? Após essa nossa conversa, como você prepararia uma aula de produção de textos? FINALIZANDO Nesta aula, trabalhamos com os principais conceitos de tecnologia e inovação, demonstrando que o fundamental no uso da tecnologia não são os equipamentos ou softwares de última geração, mas a concepção de ensino e aprendizagem atribuída ao planejamento das aulas. Além disso, tratamos dos desafios que vêm com o uso das tecnologias digitais, e vimos que é possível superá-los com positividade e criatividade, destacando o uso dos recursos disponíveis em cada instituição. Conversamos sobre as contribuições que as tecnologias digitais podem trazer para as aulas de línguas e, por fim, estudamos algumas práticas e como elas podem ser eficientes para o trabalho em sala de aula. Espero que tenha sido proveitosa a reflexão e que você esteja motivado a pesquisar ainda mais sobre os temas que discutirmos aqui. Isso fará a diferença na sua prática. 14 REFERÊNCIAS BRITO, G. S.; PURIFICAÇÃO, I. Educação e novas tecnologias: um repensar. 2. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. COSCARELLI, C. V. (Org.). Tecnologias para aprender. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. GARCIA, T. M. F. B.; BUENO, B. O. Esculpindo geodos, tecendo redes: estudo etnográfico sobre o tempo e avaliação na sala de aula. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. LEMOS, A. Cibercultura como território recombinante. In: MARTINS, C. D.; CASTRO, D. Territórios recombinantes: arte e tecnologia – debates e laboratórios. São Paulo:Sérgio Motta, 2007. p. 35-48. MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007. SILVA, M. Sala de aula interativa. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010. Chegou o momento de pensar na prática para o uso da tecnologia. Para tanto, vou contar a história da Fátima.
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