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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA .......... 5 3 O divórcio .................................................................................................... 8 3.1 Divórcio: considerações gerais ............................................................. 9 3.2 A guarda dos filhos ............................................................................. 12 3.3 Motivos que originam o divórcio ......................................................... 13 3.4 Parentalidade e divórcio ..................................................................... 13 3.5 Considerações sobre o processo psicológico da elaboração do luto . 14 3.6 Etapas do processo psicológico do luto ............................................. 16 3.7 O processo psicológico e o processo judicial ..................................... 18 3.8 Enquadramento jurídico ..................................................................... 19 3.9 Efeitos do divórcio .............................................................................. 20 3.10 Os filhos do divórcio ........................................................................ 20 3.11 A vida pós-divórcio .......................................................................... 21 3.12 Abertura ao diálogo ......................................................................... 21 3.13 O homem-pai no divórcio ................................................................ 21 3.14 A mulher-mãe no divórcio ............................................................... 22 4 ALIENAÇÃO PARENTAL .......................................................................... 23 4.1 Consequências psicológicas da (sap) ................................................ 24 4.2 Aspectos jurídicos da alienação parental ........................................... 25 4.3 Divergências sobre a (sap) ................................................................. 27 4.4 Elementos de identificação da alienação parental e da síndrome da alienação parental ................................................................................................. 28 4.5 Graus de extensão e falsas alegações de abuso e implantação de memórias 31 4.6 As consequências da síndrome da alienação parental na criança ..... 33 3 4.7 Papel da psicologia em relação à síndrome da alienação parental .... 37 5 CONSTRUÇÕES E RECONSTRUÇÕES DO MODELO FAMILIAR: CASAMENTOS, SEPARAÇÕES E RECASAMENTOS ............................................ 40 6 CASAMENTO: CRISE E TRANSFORMAÇÃO DA FAMÍLIA .................... 44 7 FORMAÇÃO DO NOVO CASAL: RECASAMENTO ................................. 46 7.1 Os membros da família recasada ....................................................... 51 7.2 Papéis e funções de padrasto e madrasta ......................................... 53 7.3 Expectativas, crenças e mitos da família recasada ............................ 58 7.4 Afetividade na família recasada ......................................................... 60 7.5 Relacionamento entre irmãos, meios-irmãos e coirmãos ................... 62 8 A ESCOLHA DA INTERVENÇÃO SISTÉMICA: A CONSULTA PSICOLÓGICA DA TERAPIA FAMILIAR .................................................................. 64 8.1 Famílias recasadas: características e especificidades ....................... 70 8.2 Estrutura: como é constituída a família recasada ............................... 71 9 FAMÍLIAS RECASADAS E TERAPIA DE FAMÍLIA: UM ENCONTRO DE INFORMAÇÕES ........................................................................................................ 72 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 81 11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 84 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA Fonte: osalto.com.br Na contemporaneidade observa-se várias composições familiares constituídas pelos laços da aliança. A consanguinidade deixou de ser condição necessária e obrigatória e cedeu espaço ao afeto em questões de laços e obrigações familiares. Assim, deixou-se de falar em família, mas em famílias, dada a existência de diversas configurações familiares. A família contemporânea passou a conviver com uma pluralidade de outros padrões de casamentos e famílias. A concepção da família nuclear constituída por pai, mãe e filhos a que estávamos habituados não existe mais como modelo único; a sociedade passou por inúmeras transformações e com ela o comportamento dos seus integrantes e da vida familiar. Segundo Vaitsman "A participação crescente das mulheres nas atividades públicas e a conquista de direitos formais de cidadania não apenas desafiaram a hierarquia sexual moderna, mas atingiram em cheio o coração da família" (VAITSMAN, 1994, p. 32). O fato da mulher estar inserida no mercado de trabalho e não ser dependente financeiramente do homem é outro elemento que contribuiu para as novas configurações familiares. A família moderna se estruturou de maneira hierárquica e desigual para a mulher. 6 " Segundo Vaitsman, quando a divisão sexual do trabalho e o individualismo patriarcal são redefinidos e homens e mulheres passam a se ver como iguais, criam-se condições sociais particularmente favoráveis para que este conflito se manifeste, levando a um maior número de separações." (VAITSMAN, 1994, p. 35). A busca pela individualidade e a livre escolha abriu espaço para o conflito se manifestar. Sarti (2006,) afirma que "as pessoas querem aprender, ao mesmo tempo, a serem sós e a "serem juntas"" (SARTI, 2006,). Na família as coisas que antes eram predeterminadas, hoje são objetos de constantes negociações. Homens e mulheres passaram a se ver como iguais e isso não só abriu espaço para o conflito, como também levou muitos casais a se separarem. A organização da família contemporânea foi construída e desconstruída de acordo com os aspectos sociais, econômicos, políticos e religiosos. As novas relações passaram a conviver, ou não, com os filhos do primeiro relacionamento e com os filhos do cônjuge do segundo casamento. Desses novos relacionamentos surgiram novos filhos que passaram a conviver juntos nessa nova família reconstituída. Nas novas organizações familiares os papéis são constantemente avaliados e reavaliados, buscando na relação a satisfação de todos. Nesse contexto a figura do pai também se modificou, tornando-se mais afetivo e participativo na educação dos filhos. Antes a figura do pai era temida por sua autoridade edistanciamento dos filhos. A modernidade aproximou ambos, pais e filhos passaram a se relacionar de maneira mais próxima e afetiva, bem diferente da época do Brasil Colonial, onde a figura paterna provocava medo. A modernização levou as mulheres a estudar e a se prepararem melhor para exercerem atividades especializadas. Na contemporaneidade elas são a maioria nas universidades e estão ocupando, no mercado de trabalho, profissões antes só ocupadas pelo sexo masculino. Elas estão presentes nas construções civis, nas academias universitárias, na política, nas grandes empresas liderando e comandando. A maternidade, como escolha, tornou-se uma das grandes conquistas das mulheres que podem deixar a maternidade para mais tarde, depois de consolidar a sua carreira profissional. A contemporaneidade trouxe também a possibilidade de dizer não à maternidade. O censo do IBGE aponta o crescimento de mulheres que têm optado por não ter filhos. "Entre as mulheres que têm no currículo um diploma de ensino superior, pouco mais de um quinto optou por não experimentar a maternidade" (JIMENEZ, 2013). 7 A infertilidade foi passível de ser contornada, em muitos casos, mediante as novas tecnologias da reprodução assistida. Isso representou um ganho expressivo para as mulheres. Essas mudanças representam uma revolução nos costumes dos quais a mulher tem sido protagonista. As mulheres têm liderado o ranking nos pedidos de divórcio na maioria dos estados brasileiros (180graus, 2012). A taxa de divórcio, em 2011, atingiu o índice mais alto desde 1984 (IBGE, 2011). O crescimento do divórcio por iniciativa das mulheres tem crescido por conta da postura diferente em relação ao casamento. Com a independência financeira e a realização profissional, as mulheres não mais precisam se sujeitar a um relacionamento insatisfatório. A própria desmistificação do casamento eterno, só dissolvido pela morte, tem levado muitas mulheres não somente a romperem, como também a refazerem suas uniões, através de uma nova organização familiar. Segundo IBGE, com as relações mais flexíveis têm ocorrido mudanças substanciais no compartilhar da guarda dos filhos. Mesmo que ainda hoje a guarda permaneça, na maioria das vezes, com a mãe, cresce, segundo dados do censo, o número de casais que compartilham a guarda de seus filhos menores (IBGE, 2011). A guarda compartilhada tornou-se um avanço nas novas organizações familiares. Antigamente essa prerrogativa era quase inexistente, ficando a guarda dos filhos exclusivamente com a mãe. Na contemporaneidade percebe-se uma negociação na educação e nas responsabilidades para com os filhos. Essa mudança aponta para as transformações históricas ocorridas no âmbito familiar, fazendo com que as próprias leis do direito da família adaptassem-se à realidade moderna, desvinculando-se, aos poucos, dos preceitos da religião. A guarda compartilhada, além de ser um avanço nas novas configurações familiares, representa uma conquista para a mulher. Ao compartilhar o cuidado dos filhos sobra mais tempo para que a mulher se dedique a projetos pessoais, profissionais ou ao próprio lazer, tendo um tempo só para si. As mudanças possibilitaram novas recomposições e a pluralidade de situações cotidianas impediram um padrão dominante de casamento e família. Mesmo que os papéis tenham se flexibilizado, na maioria das vezes as mulheres permaneceram como as principais responsáveis pela administração da 8 organização doméstica e familiar. Cresceu o número de famílias chefiadas por mulheres. A chefia feminina vem sendo vivenciada em diferentes segmentos sociais. As mulheres, embora sujeitas às inúmeras restrições, também atuam como sujeitas de suas vidas, resistindo e protagonizando novos modelos familiares. A mulher assumiu vários papéis: mãe, esposa e profissional. Diante desses novos papéis da vida cotidiana, as mulheres tiveram que inventar novas respostas. As dificuldades financeiras abriram espaços para as redes de solidariedade e resgataram vínculos de parentesco que foram perdidos pela modernidade. No cuidado com os filhos recorre-se às creches, aos vizinhos, às avós ou mesmo contrata-se os serviços de uma babá. Na contemporaneidade observa-se o crescimento das avós que cuidam dos seus netos, enquanto as mães/pais trabalham fora. Com atitudes práticas as famílias vão se articulando e buscando, de forma criativa, melhores condições de assegurar a sobrevivência, proteção e inclusão social. Com o crescimento do número de divórcios no país não dá para pensar que as pessoas que participam de alguma religião estejam imunes ao divórcio. Cada vez mais as pessoas estão buscando a realização e a felicidade. Com a modernidade as pessoas passaram a ter mais coragem de assumir suas escolhas e optar por relacionamentos que lhes tragam mais prazer e realização. Como a infelicidade na vida matrimonial e familiar não escolhe pessoas por causa de sua classe social, etnia e por sua opção religiosa, também nas comunidades religiosas observam-se, cada vez mais, diversas configurações familiares. 3 O divórcio O divórcio é a suspensão da convivência conjugal com motivos bem definidos que originam ruptura no seio do casal. Segundo Wikipédia, divórcio, do latim “ divortium”, derivado de “divertere”, em português significa separar-se. O divórcio é o rompimento legal e definitivo do vínculo de casamento civil. (Wikipédia,2008). Existem três formas de dissolução de casamento: o divórcio, a anulação e a morte de um dos cônjuges. Os bens do casal ficam sujeitos ao regime de bens 9 adoptado na altura do casamento que podem ser a separação de bens, bens adquiridos ou comunhão de adquiridos. Os países que têm as taxas mais altas de divórcio são os Estados Unidos, a Dinamarca e a Bélgica, os que têm as taxas mais baixas de divórcio são a Itália, a Irlanda o que se pode relacionar com o fato de serem países extremamente católicos. O poder paternal é atribuído na maior parte das vezes à mãe. Muitas vezes os motivos que vão levar ao divórcio são a incompatibilidade de temperamentos, a intransigência, a infidelidade e a irritação, entrar com um pedido de divórcio nem sempre é uma atitude fácil, mas muitas vezes é necessária. 3.1 Divórcio: considerações gerais “A pedra de toque para a vida familiar ainda é o legendário “e assim eles casaram e viveram felizes para sempre” (MINUCHIN, 1990). No entanto, este final feliz dos contos infantis, nem sempre corresponde à experiência da realidade. O divórcio é a dissolução do casamento deixando os sujeitos livres e descompromissados do matrimônio assumido. Segundo Diniz (2006), o divórcio é a dissolução de um casamento válido, ou seja, a extinção do vínculo matrimonial, que se opera mediante sentença judicial, habilitando assim as pessoas a buscarem novas núpcias. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios vem aumentando consideravelmente (45,6%). Esse aumento é explicado por conta da mudança na Constituição. Até 2010 a separação judicial deveria acontecer por um período de dois anos, sendo tal condição, uma exigência prévia para a realização do divórcio. Depois desta data, essa exigência deixou de existir, podendo o casamento ser desfeito imediatamente com o ato do divórcio. Isto significa que mais pessoas estão livres para casar outra vez, fazer o “recasamento” e constituir uma nova família. O conceito de divórcio e o de separação judicial, apesar de serem muito semelhantes, se diferenciam quando analisados legalmente. A separação judicial refere-se à separação de corpos com a manutenção do vínculo matrimonial. O divórcio promove a cessação definitiva e imediata do casamento. 10 No entanto, apesar da existência de uma possível crise, Mcgoldrick (1995, pg.23) afirma que: “Uma interrupção ou deslocamento do tradicional ciclode vida familiar, produz um tipo de profundo de desequilíbrio que está associado às mudanças, perdas e ganhos no grupo. ” Sendo o divórcio definido como dissolução legal do casamento na vida dos cônjuges, é de se esperar que, essa dissolução, vivida em termos de um processo, leve os cônjuges a experenciarem diferentes fases na sua realização. Diversos autores abordam fases que o casal vivencia por conta dos envolvimentos emocionais relacionados ao divórcio e dos reajustes necessários na família pós-divórcio. Nazareth (2004) aponta três fases do processo de separação: a fase aguda, a fase transitória e a fase ajuste: A fase aguda: corresponde à fase antes do divórcio contendo a insatisfação de um ou dos dois parceiros com a relação, estando presentes sentimentos ambivalente instabilidade e insegurança. Nessa fase o parceiro sente bastante insatisfeito com a relação, vendo que suas expectativas em relação ao outro estão sendo frustradas. A fase transitória: é a separação propriamente dita, é quando a relação se dissolve. Período importante onde exige-se grande esforço da família (pais e filhos). Nessa fase, a família precisa reorganizar os papéis, analisar como será o futuro de cada membro, sendo preciso comunicar aos filhos, a decisão do casal neste momento é necessária, para lidar com as mágoas e as frustações causadas pela separação. A fase do ajuste: ocorre com a condição da aceitação, tendo-se à chance de um novo começo de vida a partir do desaparecimento das mágoas causadas por conta do divórcio, a partir deste marco, surgem novos projetos de vida. Pode surgir também o “recasamento”, que se refere ao início de um novo envolvimento, e a inserção desse novo membro a família. A classificação mais utilizada sobre as fases do divórcio é a proposta por McGoldrick (1995). Nessa escala, observam-se diferentes fases que usualmente são vividas no ciclo de vida familiar para que os casais possam se reestabilizar e se desenvolverem. São elas: 11 1ª Fase: Decisão - A decisão de divorciar-se é a aceitação do fracasso no casamento, ou seja, quando o casal percebe que o casamento não está mais trazendo o bem-estar para si e para a família. 2ª Fase: Planejamento - lidando com a dissolução do sistema familiar surgem questões a serem resolvidas: a custódia dos filhos, o funcionamento da família após o divórcio, o manejo da mesma para uma nova adequação à situação, entre tantas outras condições a serem consideradas. 3ª Fase: Luto A separação mobiliza o luto pela perda da família originalmente idealizada, a reestruturação do relacionamento conjugal, o realinhamento do parentesco com as famílias envolvidas, a adaptação à vida separada. Ou seja, o casal terá que lidar com a perda de uma vida a dois, para uma vida solitária. Vão ter que reconstruir o parentesco com a família para que mesmo separados continuem unidos em razão do bem-estar do filho. 4ª Fase: Aceitação - abandono de fantasias de reunião, recuperação de esperanças, sonhos, expectativas. Superação das raivas, mágoas, culpas pela responsabilidade do fracasso, projetos de novos sonhos e expectativas para um novo futuro. As dificuldades matrimoniais não atingem e nem são vividas exclusivamente pelo casal. O estado de desentendimento entre os pais abala os filhos, tão profundamente, quanto o casal. A maneira como cada membro do casal lidará com o fim do casamento, pode propiciar aos filhos, uma melhor ou uma pior elaboração da separação (ALMEIDA, 2010). Por conta do processo do divórcio, o desenvolvimento normal da vida da família é interrompido causando bruscas alterações. Mcgoldrick (1995) ainda ressalta que, na maioria dos divórcios, um dos cônjuges quer sair do casamento mais do que o outro. Não sendo esta decisão mútua, aquele que não quer se separar acaba ficando vulnerável a um desequilíbrio emocional, à baixa autoestima, sentimento de impotência e humilhação. No entanto, quando a família consegue negociar a crise de uma forma amigável, o impacto do divórcio poderá ser amenizado na vida de cada um e, principalmente na dos filhos pequenos. 12 3.2 A guarda dos filhos Uma das implicações mais delicadas do divórcio, diz respeito ao cuidado, responsabilidade e guarda dos filhos do casal. Por isso todas as questões que possam interferir diretamente na vida dos filhos, devem ser lidadas com cuidado. Segundo Dias (2008), “o rompimento da vida conjugal dos genitores não deve comprometer a continuidade dos vínculos parentais, pois o exercício do poder familiar em nada deve ser afetado pela separação. ” No entanto, esta condição ideal, nem sempre corresponde aquilo que usualmente é experenciado pelas famílias que estão em processos de separação. Muitas vezes, os casais que se divorciam, transformam a guarda dos filhos em uma disputa mobilizada pelo poder e/ou pela vingança. Guarda é “um instituto jurídico através do qual se atribui a uma pessoa, o guardião, um conjunto de direitos e deveres a serem exercidos com o objetivo de proteger e prover as necessidades e desenvolvimento do filho” (Carbonera, 2000,). A guarda pode ser unilateral e/ou compartilhada. No modelo de guarda unilateral, os filhos residem com apenas um dos pais. Esta escolha pode ser realizada de comum acordo pelo casal, ou quando necessário decidido em juízo. Ocorre naturalmente que as crianças fiquem com a mãe tendo o pai o dever de contribuir financeiramente com a criação dos filhos e o direito de visita. Quando o casal decide, de forma amigável, como ficará a guarda dos filhos, tudo se torna menos desgastante não só para o casal como também, para seus filhos. Na guarda compartilhada, os pais dividem igualmente a responsabilidade de tomar decisões em relação à vida do filho e possuem os mesmos direitos, ficando estes filhos, alternadamente nas casas de ambos. Esse tipo de guarda começou a se desenvolver depois que os pais reivindicaram a igualdade do direito para viverem com os filhos e se deslocarem da posição passiva para mais ativa, na vida dos filhos. A determinação sobre a guarda dos filhos tem a preocupação de assegurar o melhor interesse para o menor, cabendo aos pais também visarem esse objetivo. Toda criança tem o direito ao convívio familiar e ao contato com ambos os pais. Quando existe uma violação desse direito por parte de um dos genitores, frustrando ao filho a expectativa de conviver com o outro genitor, considera-se um desrespeito 13 aos direitos da criança podendo se configurar como um princípio de Alienação Parental. 3.3 Motivos que originam o divórcio Embora possa não parecer, o casamento ainda continua a ser o que era. As pessoas quando casam ainda acreditam no “Até que a morte os separe” e ainda têm como principal objetivo a busca da felicidade. Os primeiros sinais de desencanto surgem com as incompatibilidades de feitios que são acentuados pelo convívio entre os membros do casal; o desequilíbrio na divisão de tarefas; quando o casal começa a entrar na rotina e os problemas económicos. Outro dos problemas muito frequentes e que podem minar a vida de um casal é a falta de diálogo e as constantes discussões. Apesar de cenários de grande instabilidade emocional, as pessoas continuam juntas quer por motivos económicos, quer pelo bem-estar dos filhos. 3.4 Parentalidade e divórcio Quando um casal sem filhos resolve desfazer o casamento, a ruptura tende a ser menor, pois menos pessoas estão envolvidas, e a redefinição dos papéis de cada um não é tão complexo. Neste caso, não há necessidade de manter contato, com o ex-parceiro, a não ser que seja uma escolha dos dois (Peck & Manocherian, 1995). Por outro lado, após o nascimento do primeiro filho é o momento em que o casal tem o maior risco de se divorciar. A chegada de um filho exige uma redefinição de papéis, tornando cada membro do casal um progenitor, adicionando-seao casal conjugal o que se chama de casal parental (Martins, 2011; Peck & Manocherian, 1995). Assim, quando ocorre a separação conjugal, há a necessidade do contato continuado de ambos em função da educação e do cuidado com os filhos, o que torna o processo muito mais complexo. Alguns autores sugerem que o divórcio pode gerar conflitos de lealdade nos filhos, uma situação na qual estes precisem estabelecer aliança com um dos pais em detrimento do relacionamento com o outro (Brown, 1995; apud Hetherington, Cox & Cox, 1977; Wallerstein & Kelly, 1980). 14 De uma forma geral, o divórcio, muitas vezes, transforma a relação de cada um dos pais com os filhos, na medida em que cada ex-cônjuge, agora, precisa dar conta dos filhos e da casa sozinhos. Hoje, ainda, a mulher é a maior responsável pelo cuidado com os filhos após o divórcio (nos dados do IBGE de 2013, em 86,8% dos casos, a guarda dos filhos ficou com a mãe), o que faz com que a carga de trabalho sobre ela - tanto na profissão quanto em relação ao cuidado com os filhos - seja maior. Brown (1995), existe uma tendência maior de afastamento do pai quando os conflitos conjugais ainda são muito presentes, e ele se sinta incapaz de lidar com a ex-mulher que, por sua vez, tenta afastar os filhos da influência do pai: "Segundo Brown, conforme o tempo passa, um pai que tem dificuldade em manter contato com seus filhos pode sair de suas vidas completamente. Ele pode fazer isto assumindo um emprego em outro estado, ou diretamente, simplesmente deixando de fazer as visitas. Isto tende a acontecer mais nas famílias em que os conflitos conjugais ainda estão muito vivos, mesmo que não sejam discutidos, e o pai se sente incapaz de lidar com a ex-mulher. Da mesma forma, a ex-mulher também pode decidir afastar os filhos da influência direta do pai. (...) quando isso acontece, o pai pode sentir uma perda esmagadora que o deixa impotente para buscar outras oportunidades, tais como férias escolares, para visitas". Cada vez mais, estes divórcios ocorrem porque um ou ambos os cônjuges não estão mais felizes com o relacionamento. Separar-se, portanto, seria uma chance de encontrar felicidade de outra forma, muitas vezes em um outro casamento. De acordo com McGoldrick & Carter (1995), utilizando-se das estatísticas da década de 80 nos Estados Unidos, 65% das mulheres e 70% dos homens divorciados casarão novamente. Na realidade Brasileira, 20% dos casamentos de 2013 foram recasamentos (IBGE, 2013), o que representa um aumento de quase 100% em relação aos dados de 2003. Assim, torna-se cada vez mais importante entender a realidade das famílias recasadas e as características de funcionamento deste arranjo familiar. 3.5 Considerações sobre o processo psicológico da elaboração do luto A perda da pessoa amada produz aquilo que, em psicologia, contrapondo-se à dor física (no corpo), denomina-se dor psíquica: uma fratura do vínculo amoroso com o outro, uma dissociação relacional (ego-alter), mais precisamente daquele objeto de 15 desejo que foi idealizado como destinado a viver junto, a con-vivere, a participar de uma comum-unidade. A expressão dessa dor, no entanto, em regra, assume uma dimensão existencial, que coloca em questão o próprio sentido da vida e, às vezes, pode conduzir a uma angústia (desespero) referida como um dilaceramento da alma. Do ponto de vista neuropsíquico, entretanto, a dor da perda imprime impressões que ficam gravadas sob a forma de memórias, que serão muitas vezes recordadas, isto é, reprocessadas pelo afeto (re-cordis), passadas outras vezes pelo coração, até se diluir em níveis suportáveis de vividos atuais. O afeto é sempre um eterno retorno, uma reedição de um evento primitivo, uma repetição do “passado”, não tão passado porque ainda vive no presente. Essas breves considerações psicológicas acerca da psicodinâmica do afeto são esclarecedoras para compreender o germe do litígio presente em várias demandas na área de família. O processo judicial pode, nesse quadro, ser palco de disputas cujo litígio, sua parte manifesta e material, pode trazer consigo outro litígio, submerso, latente, que radica nas profundezas do inconsciente. O processo explícito pode alimentar o implícito e o sistema de justiça ser o espaço dessa contenda Daí a razão e a importância de os operadores do direito estarem cientes dos caminhos inconscientes que podem servir como causa subjacente dos processos judiciais. A Emenda Constitucional nº 66, ao suprimir a necessidade de propositura de duas ações distintas, primeira da separação e depois a do divórcio, que muitas vezes retroalimentavam a litigiosidade e fomentavam o conflito, favorece, sob o ponto de vista psicológico, à elaboração do luto. Seguindo esse entendimento, são oportunos os ensinamentos do professor Rodrigo da Cunha Pereira: Esta Emenda Constitucional ajudou também a diminuir a litigiosidade entre os casais. Com isto o fim da discussão de um culpado, o casal teve que elaborar a dor do fim do casamento e encontrar uma saída ética e menos traumática que é o fim m da briga. É lamentável como todos nós, operadores do Direito nos permitimos ser instrumentos de “gozo” com as demandas judiciais. Refiro-me ao termo psicanalítico que, resumidamente falando, significa estacionar em um ponto de prazer, ainda que pela via do sofrimento. (...) os restos do 16 amor que são levados ao judiciário, geralmente, significam uma perpetuação da relação através da briga. É preciso cortar este jogo perverso que alimenta a degradação do outro. É preciso substituir o discurso da culpa, que é paralisante do sujeito, pelo discurso da responsabilidade, que ajuda a construir e dar autonomia às pessoas, para que elas possam ser sujeitos da própria vida. Nessa complexa trajetória da perda, do luto e de sua elaboração, entra em cena o sentimento de dependência próprio da condição humana. Consoante Mira y Lopez: Quando o outro se transforma em objeto de desejo, a ele é atribuído um enorme poder. Poder que gera vulnerabilidade, uma dependência que é sentida como prejudicial à pretensa dignidade do ego. Por mecanismos inconscientes, dentre eles a negação e a formação reativa, a paixão amorosa pode se transformar em paixão odiosa. “Em todo amor existe, latente, um germe de rivalidade, capaz de transformá-lo em ódio. Nada há tão semelhante ao abraço como o estrangulamento” Odiando, pode-se prescindir do outro. Entretanto, para que isso se cumpra, é necessário atacá-lo e destruí-lo. A pulsão amorosa se transmuta na pulsão tanática. O ódio passa a ser, então, a sombra do amor. Nesse quadro, o amor (a-mors = não à morte) converte-se no seu oposto. Já não se morre de vida, mas vive-se de morte. 3.6 Etapas do processo psicológico do luto Sob o prisma psicológico, o divórcio provoca reações emocionais típicas da perda afetiva, dando ensejo ao denominado processo de luto, um trabalho psicológico complexo. Foi Klüber-Ross (1994) quem estabeleceu e sistematizou as etapas do processo psicológico do luto, identificando cinco estágios, a saber: Estágio do Choque e Negação: O choque é sempre a primeira reação decorrente do impacto da informação traumática que a perda envolve, havendo um estado de confusão e negação acerca de sua real ocorrência. Estágio da Raiva: Sentimento de frustração, injustiça, impotência, frustração e atribuição de culpa ou responsabilidade a terceiros surgem frente à perda logo após a etapa do choque e da negação. 17 Estágio da Negociação ou Barganha: Nesta etapa de elaboração do luto, a pessoa tenta negociar a sua condição. Avaliando os contras, mas conseguindo ver também algum fator positivo (possibilidade de tratamento, por exemplo), se estabelece uma forma de avaliação da situação acompanhada do desejo de que alguma transação com a perda seja viável. Estágios da Depressão:Nessa fase aparecem os sinais de depressão: Desesperança; Tristeza profunda; Retraimento; Isolamento; Fraqueza emocional; Perda de sentido das coisas; E, às vezes, ideação suicida. Estágio da Aceitação e Superação: Nesse estágio deve ocorrer a compreensão da morte ou perda como um acontecimento inevitável, um fato que faz parte da vida, surgindo sentimentos de apaziguamento e conforto emocional frente àquilo sobre o que a pessoa não tem o poder de transformar. O luto mal elaborado ou não resolvido pode implicar sérias consequências, dentre elas o denominado Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). A pessoa sofre pesadelos dramáticos e recorrentes nos quais revivencia a experiência conflituosa da perda de maneira terrorífica, apresenta flashbacks nos quais se reedita o evento estressor, acontece o despertar súbito com suores e tremores, e surgem sintomas emocionais como sentimentos de ódio, desconfiança ou perseguição. A par de todas as especificidades relacionadas à perda e ao seu processo de elaboração, pode se elencar algumas condutas que devem ser evitadas durante o trâmite de um processo judicial: Não aumentar o grau de litigiosidade processual; Não intensificar demandas (papel do advogado como o primeiro juiz da causa); Não incentivar o descumprimento de acordos e decisões; 18 Não aumentar a carga de recursos; Não estender o prazo real (judicial) dos conflitos e das demandas; Prevenir a instauração de Síndromes Emocionais (Síndrome de Alienação Parental); Não dificultar soluções acerca da guarda dos filhos; Não potencializar o conflito em torno da questão alimentícia (pensão); Prevenir quadros depressivos ou reativos inesperados. De acordo com Carter e McGoldrick, para que cada cônjuge possa seguir com sua vida, é necessário libertar-se emocionalmente, recuperar o senso de si próprio que lhe permita seguir em frente sozinho. Elaborar o divórcio emocional é um processo triplo: implica fazer um luto pelo casamento e pela família perdida, examinar o próprio papel na deterioração do casamento, e planejar uma maneira de viver sem distorções. 3.7 O processo psicológico e o processo judicial Como não se exige mais o tempo mínimo de 1 ano da separação judicial ou de 2 anos da separação de fato, a questão do tempo necessita ser avaliada corretamente. Não o tempo cronológico ou processual, mas o tempo psicológico (emocional / interno / lógico). Com efeito, o processo psicológico está regido por um tempo que é interno e que depende de muitas variáveis, algumas delas de natureza inconsciente. E o inconsciente, como se sabe, é atemporal. Nele não existe passado, nem presente, nem futuro. O curso do processo psicológico depende também do tipo de personalidade do sujeito (características que são personalíssimas), da natureza do conflito emocional, do fator desencadeante, das condições, recursos e mecanismos de defesa da pessoa que enfrenta a perda, e das estratégias de coping que o indivíduo possui como repertório instrumental para fazer frente à solução do conflito emocional naquele momento. Também fatores como idade, suporte familiar, recursos positivos ou negativos de trabalho, relacionamentos afetivos e interpessoais, condições físicas favoráveis ou desfavoráveis e auxílio técnico-profissional, são elementos importantes para dar a 19 marcha e o andamento ao processo psicológico até sua final resolução, com a elaboração do luto. O processo psicológico envolve um compromisso do sujeito para consigo mesmo, tratando-se de um fenômeno de natureza intrapessoal (intrarsubjetivo), enquanto o direito e o processo judicial resolvem conflitos de natureza interpessoal (intersubjetivo). Deve-se atentar para o fato que existem demandas judiciais, especialmente as relacionadas ao direito de família, que se iniciam ou se sustentam apenas por questões de ordem psicológica, o que aponta para o pressuposto de que o processo psicológico nem sempre coincide, no aspecto temporal, com o processo judicial. 3.8 Enquadramento jurídico Quando não existe comunhão de vida entre os membros do casal e haja da parte de um deles ou dos dois a vontade de a restabelecer, estamos perante uma separação de fato. Será decretado judicialmente o divórcio quando: Existir separação de fato por três anos consecutivos; Existir separação de fato por um ano, se o divórcio for requerido por um dos cônjuges sem oposição do outro Existir ausência de um dos cônjuges, sem dar notícias por tempo inferior a dois anos, alteração das faculdades mentais do outro cônjuge; Existir uma violação dos deveres conjugais. A violação dos deveres conjugais verifica-se quando: Palavras ou atos que atinjam a honra, a reputação, a consideração social, o brio, o amor próprio, a sensibilidade e a susceptibilidade do parceiro; Praticar adultério Abandono do domicílio conjugal; Incumprimento da obrigação de socorro e auxílio nas responsabilidades inerentes à vida da família; Incumprimento da obrigação de prestar alimentos. No caso de divórcio por mútuo consentimento, os cônjuges não terão que revelar o motivo que levou ao divórcio. (Pedido de Divórcio, 2006). 20 3.9 Efeitos do divórcio O divórcio é um momento triste na vida de uma pessoa. A pessoa passa por um momento de luto, que pode originar depressões e angústia. Na época de divórcio as pessoas passam por mudanças constantes do humor. O divórcio produz uma série de efeitos próprios tais como: Filhos menores do casal, este é o principal motivo de conflito entre os casais, uma vez que se trata de seres humanos e não de objetos. O destino dos filhos e a sua alimentação podem ser regulados de acordo com os pais, mas se os pais não conseguirem chegar a um acordo, o tribunal decidirá de acordo com o superior interesse das crianças. Prestação alimentar: na separação judicial de pessoas e bens mantém- se o direito a alimentos. Também o divórcio não extingue automaticamente tal direito. Na fixação do montante de alimentos o tribunal deve tomar em conta a idade, o estado de saúde dos cônjuges, as suas qualificações e possibilidades de emprego, etc. 3.10 Os filhos do divórcio O divórcio altera profundamente a vida das crianças. Muitas vezes, as crianças numa situação de divórcio alteram o conceito de família, perdem a intimidade com um dos pais e sentem-se abandonadas, os efeitos do divórcio na criança variam de acordo com a idade e o sexo. Muitas vezes a identidade da criança é modificada. Os filhos de pais divorciados partilham desilusões e atitudes. O fato de serem filhos de pais divorciados vai afetar as suas relações presentes e futuras. O divórcio provoca traumas na criança. Para os filhos de pais divorciados há um maior anseio em conseguirem construir uma relação romântica duradoura. Quando há um divórcio, as crianças sentem-se abandonadas. É sempre importante lembrar as crianças que: O divórcio não é culpa delas; Aquilo que elas pensam é importante; Que há coisas que elas podem fazer para se sentirem melhor; Tanto a casa do pai, como a da mãe devem ter rotinas parecidas; 21 Elas continuam a ser amadas depois do divórcio dos pais; Os pais devem continuar a falar dos problemas dos filhos um com o outro; A postura dos pais influencia a vivência dos filhos depois do divórcio. 3.11 A vida pós-divórcio Os pais podem assumir duas posturas, uma das quais é a postura construtiva, que acontece quando os pais colocam o bem-estar dos filhos acima de todas as coisas. Estes pais procuram nunca manipular os filhos em seu benefício. O outro tipo de postura, é a postura destrutiva, que ocorre quando os filhos são utilizados como joguetes, para atingir o outro cônjuge. Iniciam-se em Jogos de poder em que os filhos passam a ser as principais vítimas. 3.12 Aberturaao diálogo O divórcio é uma situação muito complicada para os filhos, por isso os pais devem adoptar uma postura de verdade perante os filhos. Com a tomada de decisão do divórcio os pais devem conversar com os filhos para tirarem todas as dúvidas que possam surgir. Nunca se deve deixar as crianças na dúvida, porque isso vai provocar sentimento de insegurança e medo aos filhos. A criança deve ficar a par do divórcio dos pais através deles e não através de terceiros. É importante deixar as crianças expressarem as suas emoções, mesmo que custe aos pais vê-los sofrer. 3.13 O homem-pai no divórcio O papel do homem-pai tem que ser adaptado à realidade de hoje. Sabe-se hoje em dia que “pai é quem cuida e desse cuidado nasce o amor”. Ser-se homem e ser-se pai são rituais que regulam a vida em sociedade, onde a família é o ponto mais sensível da sua existência e continuidade. O pai até aos anos 70 era visto como progenitor biológico que tinha a função de educar, transmitir os valores e a responsabilidade pessoal e social, a mãe era a pessoa que tinha a função 22 mais emotiva e talvez o mais importante, a de dar amor aos filhos. Homem e mulher quando há um divórcio ouvem coisas diferentes por parte das pessoas. Os homens ouvem dizer que a mulher é que é importante para assegurar o desenvolvimento equilibrado de uma criança, quando isso não é verdade. O pai é tão fundamental como a mãe. O homem divorciado pode passar por várias fases, a primeira é a de celibatário, depois vive uma segunda adolescência, onde se entrega a um jogo de sedução. O homem entrega-se mais depressa a um jogo de sedução. O homem entrega-se mais depressa a um segundo casamento. A separação acontece muito antes do divórcio, há um divórcio psicológico antes do divórcio judicial. O homem tem que tentar manter uma boa relação com a ex-mulher para não perder o direito aos filhos. O direito de visitar os filhos, a pensão de alimentos e a convivência com o segundo marido da ex-mulher são alguns desafios que se impõe aos homens. Por vezes, o divórcio é um acontecimento positivo, mas muitas vezes pode ser o acontecimento mais infeliz a seguir à perda de um filho. 3.14 A mulher-mãe no divórcio O divórcio é o segundo acontecimento mais traumático na vida humana a seguir à morte de um filho. Formar uma família traz novos e complexos papéis havendo um acréscimo de responsabilidades e trabalho. A mulher tem que ser uma mãe perfeita e apoiar o seu companheiro nas fragilidades afetivas. Muitas vezes, as mulheres casam- se com perspectivas pouco realistas, acreditam na existência do príncipe encantado onde podem encontrar um homem, pai, irmão, amigo e companheiro. Com o casamento muitas vezes surge a desilusão. Um divórcio quando há filhos e não foi desejado assume um significado de uma morte em vida. A mulher sente a perda do ente gostado, mas não pode fazer o luto adequado porque este morreu mas continua vivo. A mulher passa por uma grande instabilidade afetiva, muitas vezes com depressões. O risco de suicídio é três vezes superior, com o aumento do consumo de tabaco, drogas bebidas alcoólicas e condutas de risco. A superação da crise do divórcio é muito importante por causa dos filhos. 23 4 ALIENAÇÃO PARENTAL Sabe-se que nos últimos 20 anos ocorreu um aumento significativo do número de divórcios no Brasil, como relata Guilhermano (2012), consequentemente, elevaram-se os números de disputa pela guarda dos filhos. Diante desse cenário, a ocorrência das atitudes de alienação parental passou a ser mais frequente, apesar de que tais atitudes sempre tenham existido. Isso acontece, pois, em muitos casos, as separações conjugais são repletas de conflitos e sofrimentos, onde é gerado em uma das partes um sentimento de vingança direcionado ao ex-cônjuge. Esse tema para Velly (2010) tem despertado muito interesse tanto da área da Psicologia como na área do Direito porque envolve, diretamente, aspectos oriundos de ambas as áreas que, portanto, devem se unir para uma melhor compreensão deste fenômeno. As dimensões desse fenômeno são maiores do que pode parecer porque a separação do casal, provoca na mãe um sentimento de rejeição e abandono, transformando-se em um desejo de vingança, usando o filho como instrumento para se vingar do ex-companheiro, uma vez que é do interesse dele manter o vínculo com o filho. A alienação parental para Fonseca (2006) está relacionada com as atitudes do genitor alienante (genitor guardião) na tentativa de afastar o outro genitor da vida do filho. Conforme Velly (2010), tal alienação é uma forma de abuso ou maltrato ao menor, cujo genitor guardião utiliza de diversas formas e estratégias para transformar a consciência de seus filhos, como se programasse a criança para odiar o outro genitor sem justificativa, de tal modo que o próprio menor adere essa conduta de desmoralização do outro genitor, destruindo o vínculo afetivo da criança com o genitor alienado. O guardião segundo Rosa (2008), reiteradamente coloca barreiras relacionadas às visitas, tais artifícios e manobras vão desde invenções de doenças a compromissos arranjados de última hora, decorrentes de um desejo de prejudicar o ex-cônjuge, sendo a criança utilizada como um instrumento de vingança. A mãe é quem geralmente, apropria-se do papel de progenitor alienante, cabendo ao pai à parte alienada. Isso se dá pelo fato de que ainda nos dias de hoje, na maior parte dos casos de separação judicial é a mãe quem detém a guarda dos filhos. 24 Segundo Silva, o alienador pode ser também, avós, madrasta/padrasto, o pai, familiares, ou até mesmo amigos que manipulam a mãe ou o pai contra o outro, envolvendo os filhos para que rejeitem o outro pai ou a outra mãe (SILVA, 2011). A situação de alienação pode ser agravada com o surgimento das primeiras acusações, como as de abuso emocional, que pode ocorrer em casos de discordância de opiniões entre os ex-cônjuges. Por exemplo, um dos genitores incentivar a criança a praticar certa atividade, deixar que a criança coma ou não certo tipo de alimento, dar permissão para que a criança durma mais do que o necessário ou apresentá-la a uma nova pessoa que está se relacionando afetivamente, conduzem a interpretações subjetivas, onde a depender da maneira e do contexto em que é contada, são consideradas danosas ou abusivas. Ocorrendo esse fenômeno repetidas vezes, tais acusações, geram efeitos emocionais nas crianças induzindo possivelmente à alienação (XAXÁ, 2008). De acordo com Pinto (2012) o genitor alienante em geral é uma pessoa, dominadora, manipuladora, com baixa autoestima que se recusa a cumprir as decisões judiciais e a submeter-se a tratamentos. Segundo Fonseca (2006), a alienação Parental pode durar anos seguidos, levando a graves consequências psíquicas e comportamentais no filho, que poderão ser superadas apenas com a sua independência do progenitor alienante, onde poderá se conscientizar de que foi influenciado a agir de tal forma. 4.1 Consequências psicológicas da (sap) Para Caldero e Carvalho (2005 apud YAEGASHI; MAINARDES; YAEGASHI, 2011), a origem da depressão infantil possui associação com fatores biológicos e ambientais. Dessa forma, um dos fatores ambientais que mais favorecem o desencadeamento da depressão na infância seria a dinâmica familiar. Segundo Dias , uma vez que consumada a alienação e a desistência do genitor não guardião em ser presente na vida dos filhos, dá-se lugar ao surgimento da SAP, fato que certamente terá sequelas importantes, de modo a comprometer definitivamente o desenvolvimento normal da criança. Em consequência dessa síndrome instalada no menor, o mesmo quando adulto, possivelmente irá padecer de um complexo sentimento de culpa por sua cumplicidade referente à tamanha injustiça cometida ao genitor alienado (DIAS, 2006). 25 Os efeitos aversivos e maléficosprovocados pela SAP para Pinto (2012) variam conforme a idade, temperamento, personalidade, e nível de maturidade psicológica da criança, e o grau de influência emocional que o genitor alienante tem sobre ela. No tocante as consequências que a SAP pode gerar, Silveiro (2012) salienta que a criança sofre muito mais com o conflito entre o casal e da privação do contato com um dos seus genitores, do que com a separação dos pais. Crianças pequenas são muito dependentes dos adultos no sentido de construção da percepção de realidade, discriminar sentimentos, e até mesmo para terem uma noção mais real ou adequada de si mesmas. A criança que se encontra em envolvimento com a SAP, em um primeiro momento sente uma angústia muito forte, e vários sintomas, como agressividade, inibições, medo, tiques nervosos, somatizações e bloqueios na aprendizagem. Além disso, a criança fica com uma visão de que o mundo se fundamenta em dois opostos (bem e mal), ou seja, uma visão maniqueísta da vida, e ao ser privada do contato com um de seus genitores, perde também o modelo de identificação de um dos pais. De igual modo, a criança pode ser atingida por consequências mais sérias, como a depressão crônica, desespero, transtornos de identidade e de imagem, incapacidade de adaptação, isolamento, incontrolável sentimento de culpa, desorganização, comportamento hostil, dupla personalidade, podendo chegar a casos mais graves ao envolvimento com entorpecentes, violência e futuramente até mesmo praticar suicídio (SILVEIRO, 2012). Uma das características psicológicas da SAP seria a repetição do comportamento aprendido no futuro por parte da criança, levando a privação de um dos pais como modelo de identificação. É de fundamental importância a convivência com ambos os pais, pois através dessa relação triangulada e também da relação entre eles que será construída a identidade sexual da criança (VELLY, 2010). 4.2 Aspectos jurídicos da alienação parental Acerca dos esclarecimentos jurídicos enfatizamos apenas os aspectos mais relevantes que envolvem a temática alienação parental. 26 Primeiramente devemos destacar a separação judicial de um casal que na disputa de guarda dos filhos, um dos dois fica com a guarda e o outro recebe o que é chamado de direito de visitas. O genitor não guardião tem seu direito garantido por lei, não apenas do contato físico e comunicação com o filho, mas também o de participar ativamente do crescimento e da educação do mesmo. O direito de visitas tem o intuito de assegurar o vínculo familiar entre o genitor não guardião e o filho que está sob a guarda do antigo cônjuge, dessa forma garantindo não apenas os interesses e necessidades do genitor não titular da guarda, mas também principalmente do menor envolvido. Diante de tal importância, o direito de visitas não deve ser dificultado ou negado, a menos que haja motivos graves que a justifique (FONSECA, 2006). O tema SAP tomou grandes proporções no Brasil através das associações de pais separados que, inicialmente, promoviam e realizavam debates sobre a igualdade de direitos e deveres de pais separados. No entanto muitas dessas associações em 2006 mudaram o foco para a temática SAP, mesmo ano em que tramitava o projeto de lei sobre a guarda compartilhada. Essa lei foi aprovada em 2008, desde então houve um aumento de publicações e eventos. Assim, as informações por meio dos diversos tipos de mídia sobre a SAP, geraram uma mobilização da opinião pública que acabou gerando um projeto de lei com o objetivo de identificar e punir o genitor responsável pela alienação parental dos filhos. Em agosto de 2010 esse projeto foi aprovado transformando em Lei (SOUSA; BRITO, 2011). Essa Lei foi sancionada mais precisamente no dia 26 de agosto de 2010, tornando-se a Lei ordinária 12.318/2010 que aborda o assunto da alienação parental, fazendo um alerta acerca dos típicos comportamentos do genitor alienante, instrumentos de provas a serem utilizados, a importância dos critérios de perícia, e em casos concretos colocando à disposição a tomada de medidas coercitivas (GUILHERMANO, 2012). Em casos de indícios de alienação parental, o juiz pode solicitar perícia psicológica ou biopsicossocial, cujos casos de alienação parental devem ser analisados por um profissional especializado da área, pois não se deve arriscar ter uma formulação de baixa qualidade do laudo. 27 De acordo com a autora, o Juiz nos casos de constatação da alienação parental, poderá impor algumas sanções, onde o mesmo avaliará quais medidas são as mais cabíveis a depender do nível de gravidade do caso, tais medidas podem ser: Segundo Guilhermano, advertir o alienador; ampliar a convivência familiar com o alienado; multa; determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; alteração da guarda ou para o outro genitor ou para guarda compartilhada; suspensão do poder familiar entre outras (GUILHERMANO, 2012). De acordo com a autora, vale a ressalva que a advertência foi inclusa na lei, pois em muitos casos o fato do reconhecimento da alienação parental por parte do judiciário já se faz suficiente para a interrupção dessa prática, algo muito valioso referente à prevenção e a educação. 4.3 Divergências sobre a (sap) A SAP no Brasil ainda é pouco debatida e estudada acerca de seu conceito, assim como questionamentos sobre a relação de distúrbios infantis com a disputa entre pais separados, o que estaria levando a uma visão com poucas críticas a respeito, estendendo esse problema a um conceito de que grande parte dos casos de litígio conjugal desencadeia consequentemente a SAP. Embora a criação da lei que visa proteger o menor da alienação parental envolva nesse cenário aspectos psicológicos, não há um aprofundamento necessário na análise desse tema por parte de profissionais da Psicologia (SOUSA; BRITO, 2011). Desde a origem do levantamento da teoria sobre a SAP, até as pesquisas mais recentes, nota-se muitas dúvidas e divergências sobre a relevância, manifestação e sintomas que caracterizam esta síndrome (MARINI; MELO; INGOLD, 2012). De acordo com Gardner (2002), uma síndrome segundo a definição médica seria: Segundo Gardner, é um conjunto de sintomas que ocorrem juntos, e que caracterizam uma doença específica. Embora aparentemente os sintomas sejam desconectados entre si, justifica-se que sejam agrupados por causa de uma etiologia comum ou causa subjacente básica (GARDNER, 2002). 28 Em relação à SAP, o que dá consistência para que ela seja considerada uma síndrome é que a maior parte dos sintomas (se não todos) aparecem juntos e de maneira previsível (GARDNER, 2002). A alegação de quem nega a existência da SAP para Gardner (2002), algumas vezes parte de pessoas adversárias da disputa de guarda das crianças, provavelmente em especial profissionais da saúde mental e legal que estejam em apoio a alguém que seja o programador da SAP, utilizando-se de argumentos de que a SAP não consta no DSM-IV. Tal fato ocorreu devido à escassez de artigos na literatura na época para que a SAP fosse incluída no referido manual. Ainda de acordo com o autor, grande parte dos princípios científicos com pouco tempo de seu desenvolvimento repercute nos tribunais inevitavelmente de forma controversa. 4.4 Elementos de identificação da alienação parental e da síndrome da alienação parental De acordo com Annibelli (2011) embora seja um distúrbio atual nos presentes casos de disputas de guarda, a síndrome da alienação parental é de difícil identificação, porque, às vezes, não há certeza das argumentações a respeito do genitor alienado. Entretanto, quanto antes for detectada, maiores serão as oportunidades de diminuir os prejuízos ocasionados e voltar à condição anterior a existência da SAP. Porém, não há forma de reconhecer a síndrome sem que exista conhecimento precedente a esta. O objetivodeste subitem é esclarecer quais são os elementos descritos pelos autores que escrevem acerca da síndrome da alienação parental que favorecem a identificação de sua ocorrência. O genitor alienante geralmente “joga e chantageia sentimentalmente o menor, com expressões do tipo: ‘você não quer ver a mãe triste, né? ’”. (FREITAS, 2015, p. 27). Para Cuenca (2008) ao observar o perfil do genitor alienador, pode-se concluir que este comumente demonstra uma grande impulsividade e baixa autoestima, também medo de abandono recorrente. Para o autor, o alienador acredita continuamente que os filhos se encontram dispostos a atender as suas necessidades e, na sua relação com esses, alterando suas atitudes entre atos de bondade e cruéis ataques. 29 O genitor alienador pode até perder o interesse pelo filho, contudo, poderá vir a fazer da ação pela guarda apenas uma ferramenta de poder e controle, e não um anseio de afeto e cuidado. Para Freitas (2015) o genitor alienador, com o decorrer do tempo, pode transparecer uma personalidade agressiva, diferentemente do pai alienado, que normalmente não tem comportamentos hostis. Contudo, o genitor alienado pode vir a perder a razão em decorrência da dor ocasionada pela campanha difamatória e pela separação dos filhos, originando frustração. Apesar de ser compreensível a frustração do genitor alienado, a constatação desse sentimento pode vir a ser usada pelo genitor alienador como justificativa de seus comportamentos de alienação, e não como resultado desta. Contudo, se a campanha de menosprezar e invalidar o genitor alienado não surtir o efeito almejado nas crianças, o genitor alienador tende a ficar excessivamente triste e inconsolável, pois havia imenso desejo de vingança e objetivava-se que as crianças odiassem o outro pai. De acordo com Souza (2014) pode ser verificado que no parágrafo único do artigo 2º da Lei 12.318, de agosto de 2010, podem ser observados alguns exemplos de como a alienação pode ser identificada: Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; Dificultar o exercício da autoridade parental; Dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; 30 Omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; Apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; Mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Estas são apenas algumas das formas de promover a alienação, conforme bem explicita o legislador no parágrafo único, contudo se faz necessário exemplificar outros tipos de ações de alienação parental, estes exercidos pelo pai alienador. Nesses exemplos é possível observar claramente, como simples frases ou comportamentos do dia a dia podem estar comprometendo o desenvolvimento emocional da criança afetada. Segundo Freitas , é a recusa de passar as chamadas telefônicas; a passar a programação de atividades com o filho para que o outro genitor não exerça o seu direito de visita; apresentação do novo cônjuge ao filho como seu novo pai ou mãe; denegrir a imagem do outro genitor; não prestar informações ao outro genitor acerca do desenvolvimento social do filho; envolver pessoas próximas na lavagem cerebral dos filhos; tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem consultar o outro genitor; sair de férias sem os filhos e deixá-los com outras pessoas que não o outro genitor, ainda que este esteja disponível e queira cuidar do filho; ameaçar o filho para que não se comunique com o outro genitor (FREITAS, 2015). Em relação à criança, é possível identificar a Síndrome da Alienação Parental em razão da mudança de comportamento em relação ao genitor alienado. Gardner (2001a, 2002a apud SOUSA, 2010) define que o diagnóstico da SAP deve ser realizado a partir dos sintomas apresentados pela criança, contudo sabendo da existência de conflito familiar. Ele dá maior importância à avaliação individual, qualificando um genitor como alienador, o outro como alienado, e um ou mais filhos que exibam os sintomas da síndrome como alienados. O psiquiatra norte-americano elaborou um quadro de sintomas que, de acordo com ele, aparecem juntos, definindo-os por síndrome. Esses sintomas aparecem, na maioria das vezes, em crianças que os pais estão em litígio conjugal. 31 Gardner afirma que, mesmo sendo sintomas visivelmente diferentes, estes terão a mesma etiologia. Os sintomas por ele apresentados são: ‘Campanha de difamação’; ‘racionalizações pouco consistentes’; ‘absurdas ou frívolas para a difamação’; ‘falta de coerência’; ‘pensamento independente’; ‘ suporte ao genitor alienador no litígio’; ‘ausência de culpa sobre a crueldade e/ou exploração do genitor alienado’; ‘a presença de argumentos emprestados’; ‘animosidade em relação aos amigos e/ou família do genitor alienado (GARDNER, 1998a, 1999a, 2001a, 2002a, apud SOUSA, 2010, p. 105). Para Silva (2011) o alienador não é essencialmente a genitora ou o genitor, mas também primos, avós, tios, atuais cônjuges ou companheiros da genitora ou do genitor. Esses fazem uso do vínculo mais próximo do menor com a mãe ou o pai para influir mensagens degradantes a respeito do genitor alienado na situação. Silva (2011) postula ainda que a SAP recebe críticas por parte de profissionais de diversas áreas, inclusive de saúde mental e jurídicas, com a alegação de que não foi conhecida por nenhuma associação profissional nem científica, sendo que sua admissão no DSM-IV (da APA – Associação de Psicólogos Americanos) e no CID-10 (da OMS – Organização Mundial da Saúde) foi rejeitada, afirmando-se que a Síndrome não oferece bases empíricas. Contudo, a SAP existe, pode ser confirmada em numerosos casos em que os filhos passam a rejeitar o genitor alienado sem motivo justificável e, para isso distorce, cria ou extrapola situações diárias para tentar “explicar” a necessidade de banimento do outro pai. Infelizmente, os filhos são os mais miseravelmente penalizados pela imaturidade dos genitores quando estes não sabem afastar o fim conjugal da vida parental, prendendo o estilo de viver dos filhos ao contexto de relação que eles, genitores conseguirão estabelecer entre si, depois do fim da vida conjugal (FREITAS, 2015). 4.5 Graus de extensão e falsas alegações de abuso e implantação de memórias Embora se trate de um processo contínuo, Gardner (1999b apud SOUSA 2010) classificou a síndrome da alienação parental em três graus de extensão: leve, médio e severo. No grau leve, a criança exibiria manifestações leves e cessantes de alguns dos sintomas. Já no segundo grau, o moderado, destacado este pelo autor como o mais comum, os sintomas acontecerão mais visivelmente, onde a criança faria 32 comentários ofensivos contra o pai alienado, que é visto pela criança como mal e o pai alienador como bom. As visitações são realizadas com grande aversão, mas quando o alienador se afasta a criança consegueficar tranquila e se aproximar do pai alienado. Referente ao último grau, o severo, este para o autor, representa a menor parte dos casos da SAP. Os sintomas aparecerão com maior intensidade, o pai alienador e a criança alienada compactuarão de uma doença emocional, em que poderão partilhar de fantasias paranoides, um padrão agressivo de dúvidas e desconfianças generalizadas com relação ao pai alienado, a criança se desespera frente à ideia de ficar com este, mantendo-se assim as visitas impossíveis (SOUSA, 2010). De acordo com Silva (2009 apud ANNIBELLI, 2011) no último grau, não mais permanece a incoerência de emoções, pois a criança abomina o pai alienado. Nesses casos, a criança está totalmente envolvida na conexão de dependência específica, que a impede pela liberdade e a imparcialidade em relação ao discurso do genitor alienador. Neste estágio a aceitação da criança alienada por parte do que lhe fala o pai alienador é tão intensa, que falsas memórias são enraizadas, motivo das desleais agressões verbais, físicas, e até falsos abusos sexuais. Para Silva (2011) uma das formas mais sórdidas de alienação parental, também assinala o nível grave da SAP, que vai além de “esquecer” de avisar sobre a festa no colégio ou não dar recados deixados por telefone, mas envolve as falsas acusações de abuso sexual que têm sido realizadas de maneira crescente nas delegacias de polícia. Fonseca (2006 apud BUOSI, 2012) também defende que quando a síndrome está num estágio mais grave, até mesmo ideias de abuso sexual podem ser implantadas no menor. A criança passa a reproduzir o que lhe é assegurado pelo pai alienador como se “aquela coisa” verdadeiramente tivesse acontecido, já que discordar das ideias do pai guardião, que supostamente está a resguardá-la, passa a aparecer como uma deslealdade. Deste modo, ocorrem as implantações de falsas memórias e as próprias crianças podem ficar num grau de ansiedade, pânico e medo tão forte que somente a 33 ideia de visitar o genitor alienado, leva-os a agir agressivamente e gritar frente ao contato com este, mesmo sem uma causa correspondente. Nesse sentido Buosi (2012) postula que a memória é, deste modo, não tão- somente a lembrança daquilo que as pessoas verdadeiramente vivenciaram, mas também uma combinação de tudo aquilo que olham, acreditam, pensam, aceitam e recebem do meio externo. Silva (2011) postula que o sujeito que leva a criança a rejeitar sem motivo o outro genitor inclusive frente a relatos falsos de molestação sexual, exibe um distúrbio psicopático gravíssimo, uma sociopatia crônica, porque não possui nenhuma emoção de consideração e apreço pelo outro, importando-se apenas com suas próprias preocupações egoísticas. Denunciam o outro genitor de violência ao filho, mas quando manipulam emocionalmente a criança para relatar acusações falsas, tornam-se os reais agressores da criança, não compreendendo de que as ligações parentais são fundamentais para a estabilização psíquica desta como ser em desenvolvimento. De acordo com Alves (2007 apud BUOSI, 2012), as falsas memórias podem ser percebidas como um fenômeno no qual a pessoa se recorda de algo de forma alterada do que houve de fato ou, até mesmo, se lembra de situação, evento e/ou lugar inexistente. Essa categoria de erros na memória não essencialmente se embasa no conhecimento direto, mas sim incluem interferências, interpretações e mesmo implicações ministradas por sujeitos de nossa convivência de forma propositada ou não, ao lado com outras experiências de nossa vida real. Buosi (2012) ressalta que é de extrema importância esclarecer que as falsas memórias diferenciam-se da mentira. No momento em que um indivíduo mente, tem consciência de que está alegando algo que não se trata da verdade e tem uma intencionalidade com aquele comportamento. Entretanto, nas falsas memórias, o indivíduo não tem condições de perceber que não vivenciou aquela situação, relatando-a como se a tivesse vivido. 4.6 As consequências da síndrome da alienação parental na criança Existem inúmeras consequências quanto a aspectos psicológicos e futuros comportamentos por parte de crianças que tenham vivenciado a síndrome da alienação parental ou a alienação parental. Porém, chama a atenção o fato de que 34 não se tem conhecimento de qualquer estudo científico concretizado sobre o tema, que venham acrescentar suas declarações (SOUSA, 2010). Para Buosi (2012) a personalidade do sujeito é formada por fatores derivados de muitos contextos, precisando sua integridade ser resguardada de riscos e ameaças que podem afetar o livre desenvolvimento do ser humano. Contudo, no transcorrer da vida, múltiplos fatores psíquicos podem enfraquecer a estruturação da psique, sobretudo na fase da infância, período de suma importância na concepção da subjetividade. Nessa edificação psíquica pessoal, o afeto do amor toma um espaço imprescindível, sem o qual dificilmente haverá uma direção adequada da estruturação de personalidade. As crianças incluídas em ocorrências da SAP exibem diferentes comportamentos e sentimentos que geram danos ao desenvolvimento de sua personalidade, especialmente sentimentos de baixa estima, afastamento de outras crianças e medos que podem causar transtorno de personalidade e de conduta graves na fase adulta. Fonseca (2007) afirma que em decorrência da SAP, a criança pode passar a manifestar vários sintomas. Em determinado momento pode-se observar doenças psicossomáticas, ansiedade, nervosismo, depressão e, até mesmo, agressividade. Em casos mais graves, eventualmente, observa-se a presença de depressão crônica, comportamentos hostis, desorganização mental, transtornos de identidade, levando, até mesmo, ao suicídio. Em fases posteriores de desenvolvimento, os riscos ficam maiores de desencadear comportamento de abuso de substâncias psicoativas. Para Trindade (2007) os conflitos podem surgir na criança como forma de insegurança e medo, dificuldades escolares, isolamento, baixa tolerância à frustração, irritabilidade, enurese, tristeza, transtorno de imagem ou identidade, sentimento de desespero, culpa e dupla personalidade. De acordo com Féres-Carneiro (2007) outra consequência da Síndrome pode ser a imitação do modelo da conduta instruída. Isso pode ser observado quando um dos genitores é posto como totalmente mau, ao contrário do que possui a guarda, que se põe como inteiramente bom. A criança além de ficar com uma visão dualista dos seus genitores fica retirada de um dos pais como exemplo identificatório. Silva (2003 apud SOUSA, 2010) postula que a SAP poderá originar graves consequências emocionais e estas acabarem ocasionando problemas psiquiátricos 35 pelo resto da vida da criança alienada. Além dos aspectos e comportamentos mencionados, Fonseca (2007) e Silva (2003 apud SOUSA, 2010) aludem o total afugentamento e rejeição das crianças em relação ao pai alienado, bem como todos os familiares e amigos deste. Para Silva (2011) na SAP, a criança estabelece alguns mecanismos de defesa psíquica que interferem na sua atuação escolar, entre estes mecanismos temos: Negação, Racionalização e Sublimação. Na Negação a criança pode contestar que a desordem familiar esteja acontecendo, ou que isso esteja comprometendo seu desempenho ou atuação na escola. Na Racionalização, sempre procura uma elucidação coerente para tudo e na Sublimação, aproveita os estudos ou soluções socialmente aceitáveis para não lidar com a desordem familiar, como brigas e discórdias entre os genitores, ou conflitos psíquicos referentes ao contexto que se encontra inserida. As reações da criança envolvida na SAP em dois momentos: nos momentos iniciais de estabelecimento da SAP, quando o alienador está empregando suas ideias para separar a criança do outro pai, a criança envolve-se com o alienador, por vinculação materiale afetiva, ou por receio do abandono e rejeição, acionando em si os modos e objetivos do alienador, alienando-se a ele, fazendo apagar-se a confusão de sentimentos em relação ao outro pai, demonstrando as emoções apropriadas ao esperado pelo alienador. Logo após, ocorre à completa eliminação do outro pai, sem consciência, sem arrependimento, sem conhecimento de realidade. Sobretudo, quando, por questões de conscientização posterior, ou por alguma circunstância impactante, a criança, em seguida, desvenda ou entende que tudo que vivenciou foi uma farsa, uma mentira de interesse do alienador, que atentou uma assustadora injustiça com o outro pai por todas as acusações imprudentes que o alienador pronunciou. A criança então passa a experimentar ódio pelo genitor alienador, pelo manuseio e pelas falsidades e passa a sentir arrependimento e um grande sentimento de culpa por ter detestado o outro pai sem ter tido causas admissíveis para isso, nesse caso, tudo o que ocorreu foi por empenho do alienador, e não seu próprio (SILVA, 2011). Velly (2010) ressalta que uma das consequências dessa Síndrome pode também ser o efeito bumerangue, que acontece quando esta criança vitimada, já em sua adolescência ou idade adulta tem uma percepção mais aperfeiçoada dos 36 episódios do passado, entendendo as iniquidades que atentou com o pai que foi alienado, o que desencadeou um relacionamento extremamente lesado. Nesse momento passa a culpar e investir fúria contra o pai guardião, em função do estímulo que este fez para estabelecer e conservar-se nessa situação. O sentimento de culpa e arrependimento vivenciados pela vítima, que percebe que de maneira injusta atacou o pai alienado, será individualmente tomada de muito sofrimento, levando-a até mesmo a comprovar a conexão de causalidade entre a conduta do alienador e os danos psíquicos gerados nela. De acordo com Silva (2011 apud BUOSI 2012) quando a criança, no decorrer do tempo, compreende que foi manipulada por um dos pais e se dá conta do quanto foi iludida e levada a agir de forma incisiva com o outro, passa a experimentar ódio do alienador e em muitas circunstâncias chega a se manifestar judicialmente, almejando ir viver com o pai alienado, procurando recuperar os momentos e vínculos que já foram abafados. Contudo, as maiores consequências advêm quando isso não é possível, ou seja, quando a vítima não consegue descobrir o endereço de moradia do pai alienado, ou quando este perdeu o interesse de vê-la, faleceu ou restaurou outra família, ou até mesmo o afastamento foi tão grande que não é mais possível sua readmissão. Sentimentos de remorso e culpa, com grande intensidade tomam conta do indivíduo alienado, que pode levá-lo a envolver-se gravemente com álcool, drogas, crises depressivas e até tentativas de suicídio, como já citados por outros autores a cima BUOSI, 2012). Gijseghem (2005 apud SOUSA 2010) certifica que mesmo na fase adulta, o sujeito pode permanecer na condição de alienado, pois esta virou sua realidade psíquica. O autor afirma ainda que as oportunidades de reverter à alienação enfraquecem-se com o passar dos anos, pontuando ainda que a reversão da alienação deveria acontecer até os doze anos, desse modo, antes da adolescência. Sousa (2010) postula que, provavelmente, uma das causas para que o discurso sobre as consequências da SAP possua fácil apoio de profissionais e genitores é o fato de que há, de forma subentendida ou não, uma solicitação contra o sofrimento atribuído as crianças, intensificando, com isso, reflexões e debate sobre a essência dessa Síndrome. 37 4.7 Papel da psicologia em relação à síndrome da alienação parental De acordo com Buosi (2012) o profissional psicólogo diante a síndrome da alienação parental age em sentido contrário ao que estabelece as diretrizes nacionais do conselho federal de psicologia a respeito do trabalho do mesmo. O processo terapêutico das partes abrange uma penalidade que o profissional dirige ao alienador quando diagnosticada a síndrome. Essa concepção é oposta ao que é proposto nas diretrizes do CFP que defende que o trabalho do psicólogo tem seu alicerce no compromisso social e no progresso da qualidade de vida das pessoas. Nos casos envolvendo a SAP, uma das diretrizes estabelecidas pela justiça é o acompanhamento regular para a terapêutica psicológica dos membros da família que foram alcançados pela situação. O primeiro passo para a intervenção psicológica, segundo Dias (2013), é a detecção da síndrome da alienação parental. Para isso, é imprescindível conhecimento. Em seguida é importante entender que a SAP é uma condição psicológica que precisa de tratamento e intervenção imediata. Portanto, a SAP necessita de enfoque terapêutico específico para cada um dos sujeitos envolvidos, tendo a necessidade de acolhimento da criança, do alienado e do alienador. Logo, por todos os problemas que causa, é importante que a SAP seja identificada o quanto antes, pois, quanto mais cedo advirem às intervenções psicológicas, menores poderão ser os danos ocasionados e melhor será o prognóstico em relação ao tratamento dos envolvidos. O tratamento da SAP precisa ser efetivado por apenas um terapeuta, conforme apresente Gardner (1999 apud SOUSA, 2010), o qual deve acolher individualmente os membros da família atingida pela SAP, analisando a dinâmica familiar. De acordo com Sousa (2010, p. 113), “o atendimento de cada um dos membros da família por diferentes terapeutas reduziria a comunicação entre aqueles, como também poderia gerar subsistemas antagônicos”. Logo, para o tratamento, deverá analisar não só o grau de comprometimento do filho, como também o grau de investimento do genitor alienador na difamação e eliminação do outro genitor responsável. Vale ressaltar que boa parte do que se menciona ao tratamento da alienação parental, de acordo com Buosi (2012) se direciona ao genitor alienador. 38 Entretanto, por mais que se faça necessário e indispensável esse tratamento individual àquele que realiza comportamentos impróprios socialmente, as outras partes envolvidas necessitam tanto quanto este, de uma terapêutica adequada. Gardner (1998 apud SOUSA, 2010) recomenda que medidas judiciais sejam impostas sobre a conduta de alguns genitores que induzem o filho à SAP. Consequentemente, defende que haja imposição judicial de tratamento psicoterápico ao genitor alienador. O terapeuta também deve estar atento ao fato de que, muitas vezes, o genitor alienador não se submete à terapia, e não tem insight sobre os motivos de sua aversão acentuada contra o ex-companheiro. Os juízes podem determinar a realização da terapia compulsória aos genitores para que tratem os distúrbios e os comportamentos motivadores da conduta alienadora cometida por um ou os dois. Essa atitude jurídica tem o objetivo de tornar os genitores, na medida do possível, sujeitos que busquem soluções para a construção de um novo arranjo familiar que seja, mas benéfico aos integrantes da família. Dessa forma, o acompanhamento psicológico almeja que os genitores compreendam que, apesar de não estarem mais em uma relação conjugal, não deixam de serem genitores, e, devido a isso, é importante que respondam com as funções inerentes a tal papel (FREITAS, 2015). O tratamento da SAP é também conhecido como terapia da ameaça, onde o terapeuta utiliza de ameaças contra o genitor alienador e aos membros da família que apoiam e exerçam as condutas do pai alienador. Estas ameaças tem o objetivo de eliminar qualquer comportamento que não seja o de cooperar com a terapêutica prevista. As ameaças indicadas por Gardner (1991, s/p. apud SOUSA, 2010) vão desde a restrição da relação do pai alienador com o filho até ameaças sobre alteração de guarda, que de acordo com este autor, servem para que o pai alienador se lembre de colaborar.
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