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POLÍTICA, GESTÃO E LITORAL: Uma nova visão da Gestão Integrada de Áreas Litorâneas Juan Manuel Barragán Muñoz Madri: Editorial Tébar Flores, 2014. 685 p. Eron Bispo de Souza Urbanista, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – UFBA O autor O Dr. Juan Manuel Barragán (1958) é Licenciado (1981) e Doutor em Geografia (1986) pela Universidade de Sevilla (Espanha). É catedrático de Análise Geográfica Regional e professor do Campus de Excelência Internacional do Mar (CEIMAR), na Faculdade de Ciências Ambientais e do Mar, da Universidade de Cádiz (UCA). Desde 2004 trabalha como Diretor do Mestrado sobre Gestão Integrada de Áreas Litorâneas da UCA. Publicou 15 livros e mais de 40 artigos científicos relacionados à gestão das áreas litorâneas. A obra O livro é resultado de mais de 25 anos de trabalho e dedicação do autor a esta temática, por diversos países e continentes, tendo-se como exemplo mais de 100 políticas, estratégias, planos ou programas de gestão de áreas litorâneas de mais de 40 países. Está estruturado em três partes diferenciadas: base conceitual, base funcional e base operativa, estando estas subdivididas em dez capítulos, sendo que cada capítulo apresenta como algo inovador o esquema a ser desenvolvido ao longo do capítulo, objetivos, conclusões gerais, bibliografia, leituras de interesse especial, dez ideias chave, além de exercícios, podendo, dessa forma, ser lido em qualquer ordem, sem prejuízo da sua compreensão. No decorrer do livro são apresentadas figuras, ilustrações, diagramas, gráficos, tabelas, mapas, de modo a facilitar a compreensão do leitor. A visão pragmática do autor é acompanhada por uma linguagem objetiva, permitindo uma compreensão abrangente sobre o assunto abordado, razão pela qual a obra é dirigida a todas as pessoas interessadas no que ocorre nas áreas litorâneas. O objetivo precípuo do livro é auxiliar na compreensão dos problemas das áreas litorâneas e inspirar no processo de busca pelas melhores soluções possíveis. Faz uma reflexão em torno da Gestão Integrada de Áreas Litorâneas (GIAL), uma disciplina técnico-científica, de caráter aplicado, tida também como um instrumento vinculado a uma política pública. Dentro dessa abordagem, o Estado, através de suas escalas de administração, assume uma enorme responsabilidade, em razão de ser o agente planejador e gestor dos espaços costeiros. Uma questão crucial levantada pelo autor neste sentido se refere ao âmbito em que são tomadas as decisões importantes na administração pública em relação às áreas litorâneas. Técnico ou político? Para o autor, uma possível resposta é que ambos os universos de gestão estariam envolvidos na resolução dos problemas e na elaboração das melhores propostas. Mas está convencido de que as decisões mais relevantes, pelo menos, são de natureza política. Por isso, a importância de conhecer melhor a lógica, o funcionamento e o modus operandi das políticas públicas. No primeiro capítulo, “As áreas litorâneas: um cenário de conflito e crise global”, Barragán se preocupa em advertir sobre questões conceituais sobre a área de estudo. Destaca a singularidade e complexidade deste espaço, os aspectos ecológicos, demográficos e humanos, assim como os impactos decorrentes do uso intenso e os conflitos entre usuários e instituições. Também são apresentados o marco conceitual e um modelo de análise de GIAL. Conclusão: o ser humano e seu bem-estar ocupam o centro das atenções dos ecossistemas costeiro marinhos. A GIAL deve considerar e responder aos problemas e conflitos surgidos no litoral. O segundo capítulo, “Conhecer e compreender bem para gerir melhor: o litoral como sistema complexo”, fornece um esquema de análise integrado para a descrição e compreensão do funcionamento das áreas litorâneas, que deve compreender três subsistemas: físico e natural, social e econômico e político e administrativo, que são inerentes ao litoral. Apresenta-se o Decálogo como modelo de análise. Conclusão: é imprescindível abordar o conhecimento integrado das áreas litorâneas como requisito prévio a uma adequada compreensão de seu funcionamento. O terceiro capítulo, “Políticas públicas e GIAL: fundamentos e bases conceituais” senta os fundamentos e as bases conceituais das políticas públicas e a gestão integrada das áreas litorâneas. São descritos os elementos e grupos que podem influenciar nas políticas públicas. Analisa-se o Ciclo de Políticas Públicas (CPP) enquanto metodologia para a GIAL. Conclusão: É imprescindível interpretar a GIAL à luz das ciências políticas, em razão do papel do Estado em assuntos de interesse social. No quarto capítulo, “Buscando a integração da gestão das áreas litorâneas”, será destacado o marco conceitual para o desenvolvimento da GIAL, analisando-se os vínculos estabelecidos entre a Sustentabilidade do Bem Estar Humano e a Governança. Serão destacadas as dimensões e a busca pela integração entre o Estado, a Sociedade, o Mercado e o Cenário. Conclusão: a sustentabilidade do bem estar humano só é possível dentro do marco de governança. Propõe-se a gestão estratégica como a melhor forma para atender às necessidades da GIAL. O quinto capítulo, “Política e participação pública: elementos chave de um Decálogo para a gestão integrada das áreas litorâneas”, detalha a estrutura e o conteúdo do Decálogo, que se trata de um modelo analítico, já testado em vários países, composto por dez elementos: política, participação, normativa, instituições, gestores, informação, recursos, informação, educação e conscientização, instrumentos e estratégias. Detém-se na análise específica da política e da participação para a GIAL. Conclusão: o Decálogo é uma referencia de análise para qualquer iniciativa que visa melhorar o modelo de gestão, tendo a administração pública um papel de destaque no progresso dos dez elementos. A participação pública é muito importante no modelo de GIAL, devendo ser conhecido o seu funcionamento. O sexto capítulo “Regulamentos e instituições: suporte operativo para a Gestão Integrada de Áreas Litorâneas” destaca a importância das normas e instituições no esquema de GIAL, citando exemplos de vários países. Citam-se leis e normas incidentes nas diversas escalas territoriais. Ressalta-se a importância da cooperação e da coordenação entre as instituições neste âmbito geográfico. Conclusão: além das normas especificas, convém conhecer outras normas que afetam direta ou indiretamente os ecossistemas costeiros, assim como o funcionamento das instituições dedicadas à gestão das áreas litorâneas. Tanto as normas quanto as instituições devem seguir uma filosofia e cultura cooperativa. No sétimo capítulo, “Outros elementos do Decálogo: gestores, conhecimento e informação, educação para a sustentabilidade e financiamento”, analisam-se as tarefas, o perfil adequado e os conhecimentos necessários aos gestores. Quanto à informação, cita-se as diversas fontes, instituições geradoras, a qualidade, o fluxo e o acesso, que deve ser público, de modo a facilitar a participação cidadã. Em relação à educação citam-se materiais didáticos e prêmios para estimular boas práticas de gestão. Sobre os recursos destaca-se a origem, destino, transparência, além de critérios de investimentos. Menciona-se a possibilidade de cobrança por serviços ambientais de alguns ecossistemas. Conclusão: os gestores públicos ocupam um lugar central no esquema de relações Estado, Sociedade e Mercado. A informação contribui para a união entre projetos, cidadãos, empresas e até as próprias administrações. O oitavo capítulo, “Buscando a inspiração para a Sustentabilidade do Bem-estar Humano nas áreas litorâneas. Instituições e instrumentos de orientação e guia”, cita as instituições de orientação e guia para a GIAL, analisando-se o trabalho de organismos internacionais, governamentais e não governamentais, citando-se experiências, convenções,tratados, recomendações, etc. que sirvam de inspiração para políticos, gestores, técnicos e interessados. Conclusão: a solução para os problemas do litoral através de políticas públicas depende de um tratamento dialético entre a imagem encontrada em cada litoral e a vontade de convertê-la em outra diferente e melhor. No nono capítulo, “Instrumentos para a ação: Estratégias, Planos e Programas de GIAL”, são abordados os aspectos operativos e instrumentais da GIAL, selecionando iniciativas de GIAL pelos cinco continentes, com o objetivo de mostrar exemplos que alimentem o modelo metodológico proposto. São escolhidos estudos de caso em escalas territoriais distintas, instrumentos estratégicos e áreas singulares. Estes demonstram os assuntos que concentram maior interesse pelo sistema político e administrativo. Conclusão: a origem, viabilidade e eficácia dos instrumentos estratégicos de GIAL dependem do interesse, liderança e apoio políticos. A escala intermediária da administração tem a função integradora entre a escala federal e a local. A GIAL precisa da integração com outros instrumentos de áreas próximas. O décimo capítulo, “Método para Iniciativas de GIAL (IG)”, apresenta uma proposta metodológica para iniciativas de GIAL, que deve estar integrada ao modelo do CPP, de caráter cíclico e contínuo, composto por seis etapas. Citam-se alguns casos de metodologias adotadas por outros organismos e instituições. Esta proposta metodológica, que é flexível ao contexto, deve estar integrada ao marco da governança em busca da sustentabilidade do bem estar humano. Conclusão: sem apoio político e social, o progresso das iniciativas de GIAL não é possível. Crítica Diante das dificuldades e dos problemas presentes nos espaços costeiros, em virtude do uso e da ocupação humana, que têm se mostrado de difícil resolução por parte dos gestores e agentes sociais, esta obra se constitui numa importante contribuição teórica e metodológica para aqueles responsáveis pela tomada de decisão na esfera do planejamento e da gestão das áreas litorâneas. O livro veio suprir uma lacuna existente nos estudos sobre o tema que geralmente tratam os problemas presentes nos espaços costeiro marinhos de maneira setorial. Assim, ao considerar todos os sistemas presentes no litoral – físico e natural, social e econômico e político e administrativo, analisando-os de maneira integrada, o autor permite uma aproximação satisfatória do fenômeno e dos aspectos que influenciam no planejamento e gestão deste espaço, constituindo-se num avanço considerável para os estudos nesta temática. Ressalta-se o rigor teórico e metodológico empregados, bem como organização teórica e a estrutura do livro – base conceitual, base funcional e base operativa, auxiliando sobremaneira no entendimento das ideias propostas. A ampla experiência do autor no tema permitiu a utilização satisfatória de vários exemplos de diversos países e continentes de modelos de gestão de áreas litorâneas, nos quais foi possível visualizar a teoria e a prática. Fica evidente no livro, do início ao fim, que a GIAL deve estar ancorada nas políticas públicas, as quais devem estar permeadas pelos conceitos de governança e de pensamento estratégico na busca pela sustentabilidade do bem estar humano. Para Barragán é imprescindível compreender melhor o que acontece no litoral e como atuar para acelerar o processo de mudança no comportamento humano em relação aos serviços dos ecossistemas costeiro marinhos. A ênfase do autor na ação humana é primordial, uma vez que os problemas inerentes ao litoral não é uma questão de ecossistemas em sentido estrito, mas sim do comportamento humano sobre eles. A integração necessária entre Estado, Sociedade e Mercado, com especial destaque para o papel do primeiro, constitui-se em fator chave para o sucesso da GIAL. Sem o apoio político e social as iniciativas de GIAL estarão condenadas ao fracasso. Portanto, este livro se constitui em leitura obrigatória para técnicos, acadêmicos e estudiosos das áreas litorâneas, de diversas disciplinas: Geografia, Direito, Ecologia, Geologia, Arquitetura, Ciências Políticas, etc., em virtude da convergência dos vários temas envolvidos neste espaço geográfico peculiar.
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