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Psicologia Judiciária Aula 2 - Psicologia e Direito. Teorias em Psicologia: uma visão abrangente Introdução Psicologia e Direito Como foi possível perceber, a Psicologia tem um longo passado, mas uma curta história. É uma disciplina jovem, que possui muitas abordagens, diferentes línguas, com divergentes compreensões entre suas escolas e referenciais teóricos. No entanto, apesar das particularidades da Psicologia, ela e o Direito possuem um destino comum: o comportamento humano. magic pictures / Shutterstock, IhorZigor / Shutterstock e Vlada Young / Shutterstock Observe o quadro comparativo entre algumas características da Lei, do Direito e da Justiça e algumas características da Psicologia, exposto por Trindade (2004, p.28). Trindade (2004), afirma que, além das diferenças estabelecidas entre as duas ciências, existem questões de base que, muitas vezes, podem dificultar o encontro da Psicologia com o Direito. Vamos observar a nova tabela (p.28-9). Fonte: Zita / Shutterstock e Panptys / Shutterstock Apesar das dificuldades existentes entre as duas ciências percebemos que a Psicologia é importante não apenas para o Direito, mas, também, para a Justiça. A aproximação entre o Direito e a Psicologia, assim como a criação de um território transdisciplinar, segundo Trindade (2004), é uma questão de Justiça. Teorias em Psicologia A complexidade do comportamento humano fez com que surgissem várias escolas de Psicologia. Cada uma delas aborda o comportamento humano de maneira diferente quanto à sua origem e às possibilidades de trabalhar com ele. Todas essas teorias possuem pontos em comum e se complementam. Por isso, encontramos psicólogos usando diferentes bases teóricas e técnicas. VOCÊ SABIA? A Psicologia delimita o seu estudo nos fenômenos relacionados ao funcionamento do indivíduo e grupos. Sua ação estende-se a crianças, adolescentes, idosos, famílias e organizações, a partir de diferentes abordagens. Além disso, os conhecimentos da Psicologia são de grande importância para a compreensão dos mecanismos mentais que estão presentes nos conflitos interpessoais e, desta forma, estabelecem um interesse primordial para a mediação e para o Direito. Nestas abordagens, encontramos o comportamento humano impulsionado pelas forças dos mecanismos psíquicos, relacionados entre o consciente e o inconsciente. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, conceituou a existência do inconsciente, compreendeu sua força e a forma como ele se expressa, que são fundamentais para o comportamento humano. sicodinâmicas • “Nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais” (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.7); • “Há conexões entre todos os processos mentais” (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.7); • Existem processos mentais conscientes e inconscientes, mas a maior parte é inconsciente (FREUD, 1974); • No inconsciente não existe o conceito de tempo, de certo e errado, não há contradição (FREUD, 1974). Esses aspectos sugerem que os comportamentos considerados inaceitáveis podem ser consequência das forças do inconsciente, de quais o indivíduo não tem percepção. Outra contribuição teórica de Freud foi o modelo de aparelho psíquico, que é composto por: Id, Ego e Superego. Acompanhe as três definições na animação abaixo: kates_illustrations / Shutterstock 1 O comportamento, nesta abordagem, é o produto de uma interação entre os sistemas: Id, Ego e Superego, que trabalham inter-relacionados. O Id, como busca sempre a satisfação imediata, não conhece juízo de valor e atua segundo o princípio do Prazer. O Ego age de acordo com o Princípio da Realidade, conciliando as exigências entre o Id e o Superego. Você já assistiu ao filme O Senhor dos Anéis? Nele, os personagens Frodo, Sam e Gollum podem representar perfeitamente as três estruturas do aparelho mental. Assista a esse pequeno trecho com os três personagens: Você é capaz de identificar qual personagem representa cada estrutura psíquica? Confira: Fonte: http://www.projetopsique.com.br Mecanismos de defesa Outro importante estudo dessa abordagem é a análise dos mecanismos de defesa, que são manifestações do Ego em relação às exigências das outras instâncias psíquicas, Id e Superego. Eles são utilizados por todos nós para nos adaptarmos a uma situação geradora de conflitos, sejam eles reais ou não. Para que você tenha uma ideia do que estamos falando, vamos ao exemplo de alguns deles: · NEGAÇÃO A pessoa recusa-se a reconhecer os fatos reais e os substitui por outros imaginários. · RACIONALIZAÇÃO Consiste em buscar um motivo lógico para determinado comportamento ou sentimento inaceitável. · PROJEÇÃO Consiste em atribuir a outra pessoa, ao grupo ou até ao mundo, algo que é dela mesma. · SUBLIMAÇÃO Consiste em desviar a energia para algo socialmente aceito, facilitando a adaptação social. Símbolo Nessa abordagem, temos Carl Gustav Jung, que idealizou a Psicologia Analítica, e que trouxe o importante conceito de símbolo. Podemos conceituar símbolo como algo natural, espontâneo, que significa sempre mais do que o seu significado imediato e óbvio. As pessoas costumam carregar os seus símbolos, e estar atento a esta situação é uma forma de conhecer as pessoas e o valor que estes possuem para elas. Determinados bens podem ter uma simbologia muito diferente do que a sua real significação. Observe: Fonte: hvostik / Shuttertock, venimo / Shuttertock, Miceking / Shuttertock e Grimgram / Shuttertock Como você pôde constatar, em algumas situações, como a partilha de bens, determinados objetos tornam-se difíceis de resolução entre as partes. Abordagens Cognitivas Essas abordagens se propõem em estudar como as pessoas são capazes de perceber, aprender, lembrar e pensar sobre determinadas situações da vida. Frederick Perls destacou a importância da análise da estrutura da percepção e da situação da pessoa no presente. Nessa teoria, a noção de indivíduo como um todo é central. Sua abordagem terapêutica é fundamentada em três conceitos: Outro teórico, Aaron Beck, considera que as interpretações que um indivíduo faz do mundo estruturam-se progressivamente, durante seu desenvolvimento, constituindo suas regras ou esquemas de pensamento. / Shutterstock Fonte: Buntoon Rodseng / Shutterstock Por exemplo, ao percebermos o sinal vermelho, automaticamente acionamos o freio. Seria difícil se a cada mudança de cor do sinal, os motoristas tivessem de gastar um tempo pensando o que deveriam de fazer. Os esquemas rígidos de pensamento fazem com que as pessoas se tornem incapazes de enxergar outros pontos de vista e negam-se a tomar conhecimento de novos conceitos. A seguir, apresentamos o fenômeno da cognição como um todo: A seguir, apresentamos o fenômeno da cognição como um todo: Abordagem Comportamental A base teórica desta abordagem é o behaviorismo. Edward L. Thorndike e John Watson foram os precursores dessa linha teórica. · THORNDIKE Thorndike afirmava que o comportamento de todo animal, inclusive do homem, tendia a se repetir, se fosse recompensado (reforço positivo) ou se fosse capaz de eliminar um estímulo aversivo (reforço negativo) no momento em que emitisse o comportamento. Entretanto, o comportamento tenderia a não acontecer, se o organismo fosse castigado (punição) após sua ocorrência. Por meio da lei do reforço, a pessoa associará essas situações com outras semelhantes, generalizando essa aprendizagem para um contexto mais amplo. · WATSON Watson considerou apenas eventos observáveis e físicos para análise, descartando comportamentos encobertos, dentro do modelo Estímulo-Resposta (S -> R). Ele acreditava que a Psicologia só atingiria um grau de confiabilidade se restringisse o seu estudo ao comportamento observável. Suas proposições teóricas atualmente servem apenas como fundamentos para a história da Psicologia. · SKINNER Outro teórico dessa abordagem foi B. F. Skinner, o fundador de uma das filosofias que embasam a análise experimental do comportamento, o behaviorismo radical. Skinner afirmava que o organismo teria emseu comportamento três tipos comportamentos: • Padrão Fixo de Ação - P.D.A.; • Comportamento respondente (100% inatos); • Operantes (100% aprendidos). Segundo Skinner, o homem será influenciado por fatores filogenéticos, ontogenéticos e culturais, tendo como parâmetro teórico o Selecionismo de Charles Darwin. Abordagem Motivacional A motivação é considerada por vários estudiosos como uma das forças fundamentais que leva o indivíduo a apresentar determinados comportamentos. Essa abordagem entende que o indivíduo é movido por forças que têm origem em seu psiquismo e vão além da relação estímulo-resposta, estabelecida pela abordagem comportamental. hunthomas / Shutterstock O psicólogo americano David McClelland realizou um estudo no qual identificou três tipos de motivação que impulsionam o ser humano: Realização Pessoas que se sentem motivadas em alcançar o máximo em suas atividades e querem conquistar seus objetivos por seus próprios méritos. Ficam estimuladas quando conseguem realizar seus projetos, sentindo-se competentes e capazes. Afiliação Pessoas que se sentem motivadas por afiliação são aquelas que priorizam os relacionamentos interpessoais. Um meio agradável é fundamental para seu bem-estar, e sua principal necessidade é se sentir aceito e estabelecer uma relação com os outros. Poder Pessoas motivadas por poder, existem dois tipos de influência: o poder pessoal, são aquelas que gostam de determinar as regras dentro de seus ciclos sociais, geralmente possuem um perfil dominante e se sentem incomodadas em permitir que o próximo expresse sua opinião individual; e o poder institucional, em que apresentam habilidade de organização e delegação, e sempre se colocam prontas para instruir e orientar com a finalidade de que o objetivo do grupo seja alcançado. Fonte: Rashad Ashurov / Shutterstock, Nobelus / Shutterstock e RedlineVector / Shutterstock Segundo McClelland, todas as pessoas são afetadas pelos três tipos de motivação, mas em diferentes níveis de intensidade. A Hierarquia das necessidades é um modelo de motivação proposto por Maslow e bastante utilizado, principalmente, nas Organizações. Maslow afirmava que todas as necessidades do indivíduo não podem ser manifestadas de uma só vez, elas tendem a ter alguma prioridade na qual encontram expressão. Divide as necessidades em duas ordens, as de ordem inferior e as de ordem superior, organizando em forma de pirâmide, conforme mostra a figura a seguir. Abordagem Sistêmica Os conceitos dessa abordagem são úteis para o estudo, a análise e a interpretação de inúmeras situações. Nessa teoria, os integrantes de um conjunto de pessoas unem-se por laços que possuem componentes pragmáticos e afetivos. Na abordagem sistêmica, as pessoas são vistas como partes de uma rede de relações, em que cada membro influencia e é influenciado pelo outro. As mudanças devem ser enfrentadas, no sistema, a partir de uma certa flexibilidade, que deve ser capaz para reorganizar o sistema diante de diferentes demandas e exigências que surgem no dia a dia. Alvaro Cabrera Jimenez / Shutterstock Em um sistema, tudo o que acontece com qualquer integrante afeta todos os outros e o comportamento do sistema é analisado como um todo e, não apenas uma das partes. Em se tratando de mediação, temos como uma das bases teóricas deste procedimento a abordagem sistêmica. O sistema para lidar com os desafios desenvolve padrões de funcionamento. Dois tipos de mudanças podem ocorrer de forma contínua: Atividade (TRT- MG- Analista judiciário – Psicologia – 2009) Sigmund Freud propôs três componentes básicos estruturais da psique. A parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa e tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade é o: Ego. Id. Superego. Alterego. Consciente pessoal. Resumo do conteúdo Psicologia e Direito - características e diferenças; Teorias em Psicologia - principais abordagens. Referências desta aula FIORELLI, J. O.; FIORELLI, M. R.; MALHADAS JUNIOR, M. J. O. Psicologia aplicada ao Direito. 4 ed. São Paulo: LTr, 2015. FIORELLI, J. O.; MALHADAS JUNIOR, M. J. O.; MORAES, D. L. de. Psicologia na Mediação. São Paulo: LTr, 2004. FIORELLI, J. O.; MANGINI, R. C. R. Psicologia Jurídica. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2010. FREUD, S. Obras Psicológicas Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago,1974. v.XIV. FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986. Próximos passos Personalidade - definição; Teorias da personalidade; Transtornos da personalidade. Explore + Leia os artigos: AGUIAR, J.C. de; CHINELATO, J.M.T. Interpretação do Direito e Comportamento Humano. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/514410/001017662.pdf?sequence=1 Acesso em 25 mar. 2017. BUCHER-MALUSCHKE, J.S.; CELESTINO, V. R. R. Um novo olhar para a abordagem sistêmica na Psicologia. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/facefpesquisa/article/viewFile/1109/865 Acesso em 25 mar. 2017. SILVA, E. B. T. Mecanismos de Defesa do Ego. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0212.pdf Acesso em 25 mar. 2017. Visite a página sobre a Pirâmide de Maslow e saiba mais sobre o assunto: https://www.significados.com.br/piramide-de-maslow Leia o interessante texto, sobre a Psicologia Cognitiva, disponível em: http://criativ.pro.br/abordagem-cognitiva/ Acesso em 25 mar. 2017.
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