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Identidade, Lugar e Paisagem_Bahia

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Projeto de Intervenção no Patrimônio Edificado
Prof. Cláudio Listher Marques Bahia 
2º semestre 2019
IDENTIDADE, LUGAR E PAISAGEM:
uma perspectiva da Geografia Cultural e da Arquitetura
Cláudio Listher Marques Bahia
O termo paisagem foi definido pelo geógrafo Augustin Berque[footnoteRef:1] a partir da dinâmica de dois conceitos: paisagem-marca e paisagem-matriz. Marca, pois expressa uma civilização, e matriz porque participa dos esquemas de percepção e de ação da cultura – que canalizam, em certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza, e, conseqüentemente a paisagem de seu ecúmeno. E, assim, sucessivamente, por laços infinitos de codeterminação. [1: BERQUE (1998, p.83)] 
O termo paisagem remete sua origem ao século 15, e até o século 20 apresentou-se como termo mais aplicado a atividade artística da pintura, e não provocando discussões sobre seu significado, nem maiores preocupações conceituais e muito menos foi tema especifico de investigação. Entretanto, no século 20, paulatinamente o termo paisagem foi sendo desconsiderado pelas artes e vem se transformando em objeto da pesquisa acadêmica e, no século 21, tem se reafirmado na pluralidade conceitual, na formalidade estrutural e na forma de apreensão, passando a ser objeto de interesse de estudos de geógrafos, arquitetos-urbanistas e historiadores. 
Numa perspectiva contemporânea da geografia cultural de Claval[footnoteRef:2], para a descrição da paisagem cultural, entende-se que a paisagem carrega a marca da cultura e serve-lhe como matriz. E, ainda, como Blanc-Paranard e Raison, o estudo da paisagem cultural, que tendo sua origem pela descrição do ambiente que envolve o homem, ocupa-se com maior atenção, com a rede relacional que historicamente liga, por exemplo, os cidadãos ao seu lugar – a cidade onde moram, e parte para uma investigação de relação dinâmica e dialética da paisagem em si e as categorias de análises estabelecidas por Brunet[footnoteRef:3] - fisionômica, da percepção e dos sistemas. [2: CLAVAL (1999, p.14),] [3: BRUNET (1995, p.16)] 
De maneira sintética, no desenvolvimento do pensamento geográfico e arquitetônico observa-se que, na trajetória dos conceitos de paisagem e paisagem urbana identificam-se aspectos de convergências e divergências. No pensamento tradicional a paisagem ocupou papel relevante, inclusive no âmbito da abordagem morfológica tradicional da cidade, sendo, posteriormente, reemergida na perspectiva humanística. Assim, o tema paisagem voltou ao debate da arquitetura e transformou o conceito de paisagem urbana como aspecto particular da evolução geral do conceito de paisagem – maior riqueza de reflexão teórico-metodológico, acarretando facilidade na compreensão dos fundamentos epistemológicos nas variações históricas do termo. Atualmente, o estudo de paisagem urbana, segundo Capel[footnoteRef:4], apresenta três novos temas: [4: CAPEL (2002, p.35)] 
a) Análise das relações entre as morfologias urbanas e a gestão da paisagem;
b) Investigação da paisagem urbana pela valorização da cidade como resultante histórica e cultural;
c) Aparato instrumental estabelecido pelo Sistema de Informação Geográfica (GIS).
A paisagem carrega a marca da cultura, serve-lhe como matriz e se constitui objeto privilegiado dos trabalhos da geografia cultural e cuja interpretação é uma tarefa fascinante para os geógrafos e arquitetos ocupados com as realidades culturais, conforme o pensamento de Claval (2007, p.14). E entende ainda Claval que cultura é um fator essencial de diferenciação social, uma construção que permite aos indivíduos e grupos se projetarem no futuro e nos aléns variados; em suma, é a mediação entre os homens e a natureza. A geografia cultural surge das paisagens e da diversidade dos gêneros de vida, e, pela cultura institui o sujeito, a sociedade e o lugar onde é desenvolvida a coletividade, resultando na identidade coletiva que delineia as marcas exteriores e explica as diferenciações dos sistemas de valores nos quais se desenvolvem os grupos humanos.
 A perspectiva fenomenológica da geografia cultural valoriza e enfatiza a descrição do mundo vivido, onde a relação sujeito/objeto é percebida e interpretada pelos vários agentes. O sujeito que olha todas as coisas também pode olhar a si mesmo e reconhecer-se no que está vendo, então, o outro lado do seu poder vidente. Ele se vê vidente, toca-se tateante, é visível e sensível por si mesmo. É um si, não por transparência, como pensamento, que só pensa o que quer que seja, assimilando-o, construindo-o, transformando-o em pensamento, mas um si por confusão, por narcisismo, por inerência daquele que vê naquilo que ele vê, daquele que toca naquilo que ele toca, do consciente no sentido, um si que é tomado entre coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro. “Visível e móvel, o corpo que olha está no mundo das coisas, é uma delas e é captado na contextura do mundo e sua coesão é a de uma coisa”, como definiu Merleau-Ponty,
o mundo não é aquilo que penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao mundo, comunico indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável... ele é um meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explicitas. (MERLEAU-PONTY, 1999. p.14)
Referência Bibliográfica
BERQUE, Augustin. Paisagem-marca, paisagem-matriz: elementos da problemática para uma geografia cultural. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Org.). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. p.83-89. [orig.: ______. L’Espace Géographique, t.XIII, n.1, jan/mar 1984, p.33-34.]
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianópolis: Editora UFSC, 2007.
BRUNET, Roger. Analyse des paysages et sémiologie: éléments pour un débat. In: ROGER, Alain (Org.) La théorie du paysage en France: 1974-1994. France: Champ Vallon, 1995. p.7-20. [orig.: ______. L’Espace Géographique, v.2, 1974.]

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