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Geografia Cultural e Politica

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Prévia do material em texto

2011
GeoGrafia Cultural e 
PolítiCa
 Prof.ª Mirian Margareth Zemke
Copyright © UNIASSELVI 2011
Elaboração:
 Prof.ª Mirian Margareth Zemke
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
 
910
Z53g Zemke, Mirian Margareth.
 Geografia Cultural e Política/ Mirian Margareth
 Zemke. Centro Universitário Leonardo da Vinci –
 Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2011.x ;199.p.: il
 
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830- 322-8 
 1.Geografia Política 2. Geografia Cultural 
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
III
ApresentAção
Caro acadêmico!
A disciplina que apresentaremos nessa nova etapa de trabalho está 
direcionada aos estudos referentes à Geografia Cultural e à Geografia Política.
 
O entrelaçamento entre os temas cultura e política nos parece, 
a princípio, quase que inexistente, mas, a partir do momento em que 
consideramos que o objeto da Geografia permeia as relações que as 
sociedades desenvolvem sobre o espaço, esse entrelaçamento se torna 
possível e observável. 
Observamos, inicialmente, que as diferentes comunidades que 
compõem a sociedade global reservam o direito de não perder sua identidade. 
A comentada cadeia global traz a ideia de que somos uma grande e única 
sociedade, onde, a partir da condição de estarmos conectados, tem-se a ilusão 
de falarmos a mesma língua e termos os mesmos valores, concepções, cultos, 
enfim, a mesma cultura. 
Considerando que não é o homem como indivíduo que representa 
nosso foco de atenção, mas sim os grupos sociais, que, mesmo apresentando 
diferentes interesses e características socioculturais, ocupam, muitas vezes, a 
mesma paisagem, toda essa diversidade se traduz em unicidade e identidade.
Considerando, ainda, que esses grupos socioculturais, assim como 
todos os outros existentes, têm como palco de suas ações, atividades, 
ideologias etc., a esfera macroespacial, ou seja, a superfície do planeta, emerge 
a necessidade de sistemas ou leis ou, ainda, imposições político-econômicas 
e administrativas que busquem garantir certa estabilidade como também sua 
sustentabilidade. Dessa colocação advém os estudos referentes à Geografia 
Política e suas abordagens.
Vamos lá, então, pois temos muito estudo pela frente!
Prof.ª Mirian Margareth Zemke
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL ................ 1
TÓPICO 1 – CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL ..................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 CONCEITUANDO GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................................. 5
3 SAUER E A GÊNESE DA GEOGRAFIA CULTURAL ................................................................... 9
4 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE OS ESTUDOS DE PAUL CLAVAL ..................................... 13
5 AS NOVAS CONCEPÇÕES DA GEOGRAFIA CULTURAL ....................................................... 14
6 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL ...................................................................... 17
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20
TÓPICO 2 – A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES 
 DE INTERDEPENDÊNCIA ........................................................................................... 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21
2 A PAISAGEM ........................................................................................................................................ 21
3 A CULTURA ........................................................................................................................................... 23
3.1 A CULTURA E A CONSCIÊNCIA ............................................................................................... 23
3.2 A CULTURA E A NATUREZA ...................................................................................................... 24
3.3 A CULTURA E O PODER ............................................................................................................... 25
4 O SIMBOLISMO .................................................................................................................................. 27
4.1 LENDO AS PAISAGENS SIMBÓLICAS....................................................................................... 28
5 CRÍTICAS À GEOGRAFIA CULTURAL ......................................................................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 33
TÓPICO 3 – A CULTURA DIANTE DO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ........................... 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 A GEOGRAFIA E A GLOBALIZAÇÃO ........................................................................................... 35
2.1 ENTENDENDO A CULTURA DIANTE DA GLOBALIZAÇÃO ............................................. 39
2.2 A INFLUÊNCIA DIRETA E INDIRETA DA GLOBALIZAÇÃO NOS DIFERENTES 
ASPECTOS SOCIAIS ....................................................................................................................... 41
3 A CULTURA DA VIRTUALIDADE REAL ...................................................................................... 44
4 O SURGIMENTO DA CULTURA DA MÍDIA DE MASSA ........................................................ 46
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................51
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52
TÓPICO 4 – A METALINGUAGEM E A CIBERCULTURA ........................................................... 53
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53
2 METALINGUAGEM ............................................................................................................................ 54
3 DIANTE DESSAS CARACTERÍSTICAS TEMOS UMA NOVA ESTRADA 
 PARA TRILHAR: A DO CIBERESPAÇO E DA CIBERCULTURA ............................................. 56
4 A CIBERCULTURA SERIA FONTE DE EXCLUSÃO? .................................................................. 59
5 A CONSTELAÇÃO DA INTERNET ................................................................................................. 61
sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................65
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................66
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................67
UNIDADE 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA ..........................................................................................69
TÓPICO 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA GEOPOLÍTICA ...................................71
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................71
2 CONTEXTUALIZANDO A GÊNESE DA GEOPOLÍTICA E DA GEOGRAFIA 
 POLÍTICA .............................................................................................................................................72
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................80
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................81
TÓPICO 2 – LEITURAS GEOPOLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS ............................................83
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................83
2 A GEOGRAFIA POLÍTICA E A GEOPOLÍTICA .........................................................................84
3 GEOGRAFIA, SOCIEDADE E POLÍTICA ....................................................................................89
4 ENTENDENDO A ORDEM GEOPOLÍTICA MUNDIAL ..........................................................92
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................96
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................97
TÓPICO 3 – A ORGANIZAÇÃO GEOPOLÍTICA MUNDIAL ....................................................99
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................99
2 A GEOPOLÍTICA E SEU COMPROMISSO LOGÍSTICO NO 
 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.......................................................................................100
3 A TECNOLOGIA ESPACIAL DO PODER DO ESTADO ..........................................................101
4 O NOVO SIGNIFICADO DO TERRITÓRIO DIANTE DA NOVA LOGÍSTICA 
 TECNOLÓGICA E CULTURAL ......................................................................................................102
5 A GEOPOLÍTICA DA INCLUSÃO E EXCLUSÃO ......................................................................104
6 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DIANTE DO IMPERATIVO 
 TECNOLÓGICO E A POLÍTICA VOLTADA PARA A SUSTENTABILIDADE....................105
6.1 A ECOLOGIA COMO UM NOVO PARÂMETRO GEOPOLÍTICO ......................................106
7 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO MODELO LOGÍSTICO 
 PARA ORDENAR O USO DO TERRITÓRIO ..............................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
TÓPICO 4 – O ESTADO-NAÇÃO NA ERA DO MULTILATERALISMO .................................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 O ESTADO-NAÇÃO NA ÉPOCA DO MULTILATERALISMO ...............................................116
3 REDEFINIÇÃO DO ESTADO E DA ESTRUTURA DO PODER GLOBAL ...........................122
3.1 A NOVA FORMA DO ESTADO ..................................................................................................123
3.2 MULTIPOLARIZAÇÃO: A QUESTÃO DA HEGEMONIA MUNDIAL ...............................125
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................129
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................132
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................134
IX
UNIDADE 3 – GEOPOLÍTICA BRASILEIRA E ESTUDOS DE CASO ......................................135
TÓPICO 1 – A GEOGRAFIA POLÍTICA E A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ...........................137
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137
2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO NO BRASIL: A GEOPOLÍTICA DO ESTADO 
 E A GEOPOLÍTICA DO POVO .......................................................................................................139
3 BREVE HISTÓRICO DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ...........................................................140
4 O ESPAÇO BRASILEIRO E A GEOPOLÍTICA ............................................................................143
4.1 A REDIVISÃO TERRITORIAL .....................................................................................................144
5 PROBLEMAS GEOPOLÍTICOS BRASILEIROS NO PERÍODO DA 
 BIPOLARIZAÇÃO – GUERRA FRIA .............................................................................................146
6 A DEPENDÊNCIA EXTERNA DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA E A SUA INSERÇÃO 
 NO SISTEMA INTERNACIONAL .................................................................................................149
6.1 ENTENDENDO O PROBLEMA INTELECTUAL BRASILEIRO ............................................150
6.2 A GEOPOLÍTICA OFICIAL BRASILEIRA .................................................................................151
6.3 AS RAZÕES ESTRUTURAIS DA MANUTENÇÃO DA GEOPOLÍTICA DA 
DEPENDÊNCIA .............................................................................................................................152
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................155
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156
TÓPICO 2 – A POLÍTICA E A GEOPOLÍTICA DO CAPITALISMO .........................................157
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157
2 A GEOPOLÍTICA EM MOVIMENTO ...........................................................................................1583 GEOPOLÍTICA ATUAL ....................................................................................................................160
4 NOVA ORDEM OU NOVA DESORDEM A PARTIR DO CAPITALISMO ...........................165
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................169
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................170
TÓPICO 3 – A ANTROPOLÍTICA .....................................................................................................171
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 DA POLÍTICA À ANTROPOLÍTICA .............................................................................................172
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................181
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182
TÓPICO 4 – ESTUDO DE CASO: O TERRORISMO .....................................................................183
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183
2 APRESENTANDO O PROBLEMA: O TERRORISMO ...............................................................183
3 O QUE É O TERRORISMO NA NOVA ORDEM MUNDIAL? .................................................184
4 AS REDEFINIÇÕES NA ORDENAÇÃO GEOPOLÍTICA MUNDIAL ...................................188
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................193
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................194
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................195
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................197
X
1
UNIDADE 1
TEORIZANDO E CONCEITUANDO A 
GEOGRAFIA CULTURAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• estabelecer as relações entre uma paisagem cultural e uma paisagem natural;
• conhecer o processo evolutivo de concepção da Geografia Cultural;
• estabelecer comparativos entre a vida cotidiana e a aprendizagem teórica 
apreendida;
• diferenciar os aspectos pelos quais a Geografia Cultural se apresenta;
• resgatar valores que identificam o lugar de vivência.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles você 
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
TÓPICO 1 – CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
TÓPICO 2 – A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS 
RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
TÓPICO 3 – A CULTURA DIANTE DO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
TÓPICO 4 – A METALINGUAGEM E A CIBERCULTURA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Apropriando-se de uma ideia de Cosgrove (1998), parto de uma situação 
prática e rotineira para dar início aos nossos estudos sobre Geografia Cultural.
 
Pelo fato de morar em um município litorâneo de Santa Catarina, em época 
de temporada eu e minha família vamos à praia nos finais de semana. Nesses 
momentos, não sou, conscientemente, uma geógrafa, pois como nós, centenas de 
outras famílias também vão à praia procurar um lugar ao Sol. A praia é um lugar 
especial, iluminado naturalmente, e o contato com a areia é condição essencial 
para usufruir esse tipo de lazer. 
Essa mesma cena pode ser vista em quase todos os municípios litorâneos do 
país, podendo ser típica de países litorâneos. Os geógrafos poderiam se interessar 
pelo lugar, porque ele ocupa um dos espaços imobiliários mais valorizados, porque 
seu contato próximo ao mar lembra descanso, lazer, eles podiam, ainda, estudar 
os movimentos migratórios caracterizados pela transumância, da procedência 
dos veranistas e da maneira que eles contribuem para a economia do município. 
Entretanto, eu e minha família estamos apenas veraneando.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
4
FONTE: Disponível em: <http://posgraduacaoemeducacaoediversidade.blogspot.
com/2009_09_01_archive.html>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 1 – FACES DA GEOGRAFIA CULTURAL
NOTA
Em momentos anteriores você estudou os movimentos migratórios internos 
e, entre eles, existe o movimento de transumância, que corresponde àqueles movimentos 
sazonais, ou seja, estão condicionados a um determinado período do ano, pelos mais 
diversos motivos. Exemplo: os veranistas em período de temporada.
Então, sentada em minha cadeira de praia, eu vejo outras coisas ocorrendo: 
vendedores de mantas e redes, que deixaram sua terra natal (geralmente são 
nordestinos) para conseguir acumular algum capital e retornar, no final da 
temporada, para casa; vendedores de bebidas e sorvetes circulando entre os 
veranistas; bares e quiosques atendendo aos mais exigentes pedidos. Já que não 
assistimos aos noticiários, eles chegam até nós pelos vendedores de revistas e 
jornais; famílias nas quais as diferentes gerações estão em pleno contato; grupo 
de jovens e adolescentes que demonstram sua personalidade usando piercings e 
tatuagens, que são, muitas vezes, indecifráveis. 
A praia é, então, altamente complexa, com múltiplos significados. Certamente, 
ela é organizada para atender ao turismo de massa, tornando-se acessível para um 
possível estudo sobre a dinâmica litorânea em períodos de temporada. O local é um 
lugar simbólico, onde muitas culturas se encontram e talvez entram em conflito. 
Entendemos, portanto, que a Geografia está em toda parte.
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
5
IMPORTANT
E
Em nossos estudos, vamos entender o termo conflito como a diferenciação de 
ideias, de comparação, de divergências, e não um confronto direto, corpo a corpo.
Da concepção que a Geografia está em toda parte é que emerge o 
simbolismo e o exercício da prática cultural existentes nos diferentes contextos, 
nas diferentes realidades.
A superfície terrestre, também chamada Litosfera, apresenta dimensões 
variadas em sua continuidade, mas abriga inúmeras descontinuidades culturais 
representadas por milhares de grupos humanos que se identificam pela sua cultura, 
seus saberes transmitidos de gerações para gerações, de hábitos e costumes que lhe 
dão identidade, tudo isso demonstra a riqueza de estudarmos esse tema.
Nós, geógrafos, temos o compromisso de, diante de algumas abordagens 
que nos padronizam e nos homogeneízam como viventes da Aldeia Global, 
resgatar e difundir as diferenças (culturais, étnicas etc.) de cada povo, pois essas 
diferenças enriquecem cada povo, tornando-o único diante da concepção de 
mundo globalizado.
Realmente é uma tarefa difícil, mas não vamos nos ater em conhecer 
as diferenças culturais de cada povo existente na Terra, pois isso seria quase 
impossível. Vamos perceber que, a partir dessas diferenças, as relações com o 
espaço de vivência são construídas e reconstruídas continuamente, pois mesmo as 
culturas mais antigas, aquelas datadas como primeiras civilizações, apresentaram 
alterações ou adequações em suas concepções de valores, hábitos, ritos, ou seja, em 
suas concepções culturais. Dessa maneira, podemos conceber que a cultura não é 
um elemento estanque, estático, mas sim receptora de novas concepções e valores.
2 CONCEITUANDO GEOGRAFIA CULTURAL
O conceito de Geografia Cultural nos remete a um passado não muito 
longínquo, aindano final do século XIX e início do século XX, surgindo em 
detrimento à Geografia Determinista, apresentada e difundida por Friederich 
Ratzel (1844-1904). A Geografia Determinista foi bastante influenciada pela 
teoria da seleção natural de Charles Darwin (1809-1882), que perdurou por 
muito tempo dentro dos estudos geográficos. Darwin difundia que as espécies se 
transformavam a partir de uma seleção de características que as adaptavam a um 
ambiente, transformando-as em uma espécie predominante. 
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
6
É importante ressaltar que Darwin, sendo naturalista, direcionou seus 
estudos para as ciências biológicas. Contudo, pensadores sociais começaram 
a transferir seus conceitos de evolução e adaptação para a compreensão das 
civilizações e demais práticas sociais. Com essa transferência de conceitos, foi 
possível justificar a ideia de que algumas sociedades e civilizações eram dotadas 
de valores que as colocavam em condição de superioridade em relações a outros 
grupos sociais.
Diante dessa supremacia estabelecida, povos como os africanos e 
asiáticos, por não compartilharem das mesmas capacidades culturais evoluídas 
e tecnologias avançadas para a época (final do século XIX e início do século XX), 
foram subjugados pelos europeus, restando-lhes a condição de subordinados e 
subordinantes, respectivamente.
Essas teorias serviram de sustentação para que as grandes potências 
capitalistas do final do século XIX (Bélgica, França, Alemanha, Itália, Canadá, EUA 
e Japão) exercessem o imperialismo no espaço afro-asiático. Entendemos, assim, 
que essas ideias criaram concepções sobre cultura impregnadas de equívocos e 
preconceitos, que repercutiram de maneira desastrosa para os povos subordinados, 
pois até hoje eles apresentam características políticas, sociais e econômicas nas 
linhas periféricas do mundo “evoluído” pelo capitalismo globalizante.
FONTE: Disponível em: <http://geoprofessora.blogspot.com/2010/03/neocolonialismo.html>. 
Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 2 – IMPERIALISMO
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
7
A definição de Geografia Cultural como disciplina aconteceu de maneira 
lenta, mas progressiva, pois ela não poderia mais ser concebida como uma ciência 
natural de paisagens e de regiões como era no início do século XX, nem mesmo 
apresentar uma análise reducionista dos mecanismos que permitem às diferentes 
sociedades funcionarem, superando os obstáculos da dispersão e da distância, 
que atendiam os estudos até os anos de 1960, mesmo existindo pesquisadores que 
avançavam seus estudos na contramão das concepções dominantes.
Emergiam abordagens parciais, ou seja, restritas a um determinado espaço, 
como, por exemplo, na França, que, ainda no começo do século XX, a “[...] noção de 
gênero de vida tem uma dimensão ecológica, naturalista; ela serve, primeiramente 
para mostrar como os grupos se adaptam ao ambiente” (CLAVAL, 1997, p. 90).
A Corrente Possibilista, que contrapõe a Corrente Deteminista de Ratzel, 
é defendida por Vidal de La Blache (1845-1918). Geógrafo francês, priorizou, em 
seus estudos, o grupo social em detrimento ao indivíduo, porque só a partir da 
união da sociedade é que se pode garantir a superação das dificuldades. Escreveu 
que o estudo da Geografia era o estudo dos lugares e não dos homens, mostrando 
que os homens sempre souberam tirar proveito da natureza, criando técnicas, 
hábitos, sendo guiado por um desejo de apropriação a um fim determinado. Para 
La Blache, as condições naturais não determinam o comportamento do homem, 
apenas oferecem as oportunidades, mas, com isso, não queria dizer que o homem 
é livre para quem tudo é permitido. Reconheceu que a escolha do homem é 
severamente limitada pelo sistema de valores de sua sociedade, sua organização, 
tecnologia, suas concepções ético-culturais.
Realize leituras sobre as diferentes correntes do pensamento geográfico, 
isso facilitará na compreensão e aprofundamento dos temas trabalhados. A partir 
dessas leituras, caro acadêmico, estabeleça paralelos entre suas concepções. Você 
perceberá que a maneira pela qual os estudiosos defendiam suas ideias estava de 
acordo com os interesses políticos e econômicos de cada época.
AUTOATIVIDADE
Baseando-se nas observações de La Blache, Claval (1997, p. 90) afirma que, 
além da dimensão ecológica e naturalista, o gênero de vida tem uma dimensão 
social e cultural, em que: 
[...] a força do hábito torna-se tão forte que o grupo humano perde sua 
plasticidade. Ao invés de adaptar-se ao meio, ele procura modificá-
lo para permanecer em seus hábitos: observa-se por ocasião das 
migrações; os recém-chegados em um país fazem em geral de tudo 
para continuar a viver como eles o faziam em seus países de origem. 
Vidal de La Blache, que faz do gênero de vida um dos eixos da 
geografia humana que ele elabora, é, desta forma, o primeiro a sugerir 
que ele pode ser uma dimensão cultural [...].
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
8
Essa citação é bastante elucidativa e muito fácil de percebê-la em nosso 
cotidiano. No Estado de Santa Catarina temos vários exemplos, como é caso de 
algumas cidades que se desenvolveram nas áreas marginais do rio Itajaí-Açu, 
como Brusque e Blumenau. Se você se portar para a origem dessas cidades, 
perceberá que a organização de seu espaço geográfico, sua economia e suas 
tradições culturais estão intimamente ligadas ao país de origem de seus primeiros 
habitantes, a Alemanha. Essas tradições se explicitam por meio das músicas, do 
vestuário, da língua ainda preservada no convívio familiar, na arquitetura, nas 
festas e até mesmo na religiosidade, em que igrejas luteranas reúnem muitos fiéis 
em suas celebrações, que são realizadas em língua alemã.
FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2wvc56s>. Acesso em: 31 ago. 2018.
FIGURA 3 – PREFEITURA DE BLUMENAU/SANTA CATARINA
Três países se destacam nos estudos referentes à Geografia Cultural: a 
França, os Estados Unidos e a Alemanha. Na França, além dos estudos de Vidal 
de La Blache, temos ainda Deffontaines (1884-1978) e Paul Claval (1932), ambos 
estudiosos da Geografia Cultural. Na Alemanha, Otto Schultter, e, nos Estados 
Unidos, Carl Ortwin Sauer (1889-1975). No Brasil, destacamos Roberto Lobato 
Corrêa e Zeny Rosendahl como os principais geógrafos que abordaram a temática 
em questão, referenciando, em especial, os estudos de Sauer. A intenção em nossos 
estudos é apresentar aqueles que, de maneira mais significativa, contribuirão 
para as nossas reflexões.
Iniciamos com Deffontaines (1948 apud CLAVAL, 1997), que direciona 
seus estudos para a geografia religiosa, alegando que essa imprime, nas paisagens 
(igreja, mesquitas, santuários, templos, cruz etc.), certos gêneros de vida (prática 
do jejum na sexta-feira, interdição do álcool e do consumo de carne de porco, 
proibição do corte de cabelo, por exemplo), assim como os gêneros de vida que a 
religião faz nascer.
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
9
A Alemanha também se destacou nos estudos sobre Geografia Cultural. 
Otto Schultter (apud CLAVAL, 1997, p. 24) escreveu, em 1907, sobre a organização 
da paisagem, dizendo que a Geografia Cultural: 
[...] é a marca que os homens impõem à paisagem que constitui o objeto 
fundamental de todas as pesquisas. Esta marca é estruturada: o objeto 
da geografia é de apreender esta organização, de descrever aquilo 
que se qualifica desde então de morfologia da paisagem cultural e de 
compreender sua gênese.
Nos Estados Unidos, os estudos que abordam a Geografia Cultural são 
interessantemente apresentados por Carl Sauer, que nos mostra de que maneiras 
as transformações culturais se impõem diante dos ambientes naturais.
 
No decorrer deste tópico, as abordagens que faremos sobre a Geografia 
Cultural nos aterão aos trabalhos de Roberto Lobato Corrêa, Zeny Rosendadahl 
e Denis Cosgrove, que fazem referências aos trabalhos de Carl Sauer e de Paul 
Claval, um nome singular notrato com essa disciplina.
3 SAUER E A GÊNESE DA GEOGRAFIA CULTURAL
Carl Ortwin Sauer é descrito por Corrêa (1997) como um dos grandes 
mestres da Geografia Cultural norte-americana, mas que teve uma grande 
repercussão mundial, pois, mesmo tendo sua formação em bancos universitários 
que privilegiavam o determinismo ambiental, conseguiu estabelecer uma 
ruptura, consolidando essa disciplina e estabelecendo fortes ligações dessa com a 
Antropologia e a História.
Os estudos na Geografia norte-americana, mais especificamente a dos 
Estados Unidos, até final do século XIX, estava intimamente ligada à Geologia, 
voltada para o levantamento sistemático dos recursos do subsolo, que atendiam 
a industrialização do referido país, recebendo pouquíssima influência da 
Antropologia, que será o cerne da Geografia Cultural.
Dessa matriz geológica, com forte ênfase no estudo dos fenômenos 
naturais, emergiram outras matrizes: a Geomorfologia, em 1904, por William 
Morris Davis; a Antropogeografia, por Ellen C. Semple, formada em História e 
discípula de Frederich Ratzel, difundindo o papel do meio natural sobre o curso 
da História, em que a natureza exerceria um controle sobre a vida humana e 
social; e a Geografia Econômica, por Emory R. Johnson, concretizada no sistema 
de transportes, na indústria e no comércio.
As concepções do darwinismo social e do pragmatismo permeavam 
todas as três matrizes, determinando uma visão determinística, assim como 
evolucionista, imprimindo a ideia de competição, dominação e sucessão, como já 
estudamos anteriormente. 
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
10
Foi nesse contexto que as críticas ao determinismo ambiental começavam 
a se ampliar por todo o território dos Estados Unidos. 
A partir da década de 1920, ideias que se posicionavam na contramão do 
determinismo ambiental começam a florescer, vislumbrando da Geografia uma 
Ecologia Humana, que objetivava examinar as respostas humanas ao meio físico. 
Concomitante à Ecologia Humana, emergem os estudos corológicos e a Geografia 
Cultural de Sauer.
FONTE: Disponível em: <www.ecoh.ufsc.br>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 4 – ECOLOGIA HUMANA 
DICAS
Para um melhor aprofundamento sobre a Geografia Corológica, sugiro que você 
consulte o trabalho de Fabiana Machado Leal sob o tema: Geografia: Ciência Corográfica 
e Ciência Corológica. Seu trabalho encontra-se disponível em: <enhpgii.files.woespress.
com/2009/10fabiana-machado-leal/1.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2010. Vale a pena conferir!.
Os caminhos percorridos por Sauer, quanto ao seu posicionamento 
crítico diante do determinismo ambiental, iniciam com os trabalhos de campo, 
que vieram impregnados de ideias até então não vislumbradas “[...] por um 
lado pragmatismo vinculado ao ideal de racionalizar o uso do solo e, de outro, 
impregnado do possibilismo, no sentido de que os grupos humanos se deparam 
com alternativas próprias de cada grupo, para gerar determinado uso da terra” 
(CORRÊA, 1997, p. 265).
Em 1925, Sauer (apud CORRÊA, 1997) rompe em definitivo com o 
determinismo ambiental, com a publicação de “The Morfology of Landscape”. 
Nessa obra, além de criticar o determinismo ambiental, ele defende a Geografia 
como a ciência que estuda a diferenciação de áreas ou corologia. Segundo esse 
estudioso, área, região e paisagem são palavras que devem ser consideradas 
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
11
equivalentes, preferindo o uso do termo paisagem, pois tanto área quanto região 
conotam a ideia de determinismo ambiental e região natural a um único tipo de 
resposta humana, respectivamente.
Sauer (1963, p. 320-321 apud CORRÊA, 1997, p. 266) refere-se à 
Geografia como:
[...] é concebida como o estabelecimento de um sistema 
crítico que engloba a fenomenologia da paisagem, de 
modo a abarcar, por meio de seu significado e cores, o 
variado cenário terrestre [...]. Os objetos que existem 
na paisagem existem em inter-relação. Afirmamos que 
constituem uma realidade como um todo, que não se 
expressa pela separação de suas partes constituintes, que 
a área tem forma, estrutura e função, e daí posição em um 
sistema, e que é sujeita ao desenvolvimento, mudança e 
fim [...].
 
É possível notar, a partir dessa citação, que a Geografia, no que concerne 
ao seu estudo da paisagem, apresenta flexibilidades, ou seja, tanto são descritivos 
os elementos existentes naturalmente como é receptível a interferência humana, 
que dá sentido e dinamicidade. Os elementos naturais como os sociais ou 
culturais encontram-se em constante consonância, que se estabelece a partir de 
uma relação de interdependência, em que o primeiro (o natural) promove a ação 
sobre o segundo (social e cultural) e esse, simultaneamente, deixa seus registros 
na paisagem.
Assim, Sauer (apud CORRÊA, 1997) tem na paisagem o conceito 
fundamental da Geografia, devido a sua qualidade orgânica, ou seja, viva, 
influenciada pela cultura do homem sobre a natureza, que a modifica, 
transformando-a de uma paisagem natural para uma paisagem cultural. 
 Na Escola de Berkeley, convencionada pelos geógrafos culturais norte-
americanos como a escola que deu gênese à Geografia Cultural, Sauer ampliou 
seus conhecimentos a respeito da Antropologia, da História, que lhe forneceu 
saberes sobre a diversidade da ação humana e “[...] também aprendeu que a 
cultura é um fenômeno que se origina, difunde-se e evolui no tempo e no espaço, 
sendo compreensível no tempo, porém traçavel no espaço onde se localiza. Em 
seus estudos com a História, aprendeu a considerar o tempo, a poder entender 
como as coisas se tornam” (CORRÊA, 1997, p. 269).
A junção das duas ciências – Antropologia e História – teve subsídios para 
poder, então, estabelecer a Geografia Cultural ou, ainda, a História da Cultura 
no Espaço. Em 1927, formulou-se a conceituação de Geografia Cultural, que, no 
seu entender, seria o sinônimo de Geografia Regional ou Geografia Histórica, 
sugerindo que a Geografia deve considerar, em seus estudos:
a) a reconstrução da paisagem física anterior à existência humana;
b) a reconstrução da paisagem durante a ocupação humana;
c) as mudanças significativas que se verificam na paisagem cultural.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
12
Podemos observar, pelas indicações de Sauer (apud CORRÊA, 1997), que 
a paisagem sofre interferência direta da ação humana, através de seu trabalho, que 
é significado pelos valores, padrões éticos e culturais de cada sociedade que ocupa 
um determinado espaço ou área. Ressaltamos, ainda, conforme já mencionado 
no início de nossos estudos, que essa paisagem é alterada e reconstruída pelas 
tendências culturais do momento, absorvendo novos conhecimentos que se 
registram no seu aspecto, comprovando sua mutação, ou seja, sua receptividade 
a novos conceitos e valores. Dessa maneira, é aceitável que as culturas tenham 
estágios, e a receptividade cultural, que diz respeito à difusão, adoção e rejeição 
de inovações, deve sempre ser considerada.
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/transformacao-no-
espaco-geografico.htm>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 5 – AVENIDA PAULISTA EM 1920
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/transformacao-no-
espaco-geografico.htm>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 6 – AVENIDA PAULISTA EM 2000
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
13
Ainda, temos que a proposta de Sauer (apud CORRÊA, 1997) para os 
estudos geográficos é a comparação entre culturas localizadas em diferentes 
áreas, considerando que a natureza histórica da cultura – um conjunto de hábitos 
aprendido por um determinado grupo em um determinado local e determinado 
tempo – deve ser compreendida por meio de análises das origens e processos e de 
como elas se diferenciaram entre si. 
A partir dessa metodologia, podemos entender que a diversidade cultural 
pode estar presente em um mesmo espaço e em um mesmo momento, em que 
não se está pontuando supremacia entreessa ou aquela cultura, mas buscando 
compreender suas origens. Corrêa (1997, p. 270) contribui dizendo:
[...] Houve em Sauer um forte interesse pelo estudo de áreas em 
estágios culturais menos avançados. Isso não implicava, contudo, 
uma visão etnocêntrica, reconhecendo ele uma racionalidade própria 
de cada cultura. Sauer receava, em realidade, a difusão da cultura 
industrial destruindo a diversidade cultural existente em países de 
cultura não industrial [...].
 
Outra observação importante apontada por Sauer (apud CORRÊA, 1997) 
é que se considerem de um lado os processos da Geografia Física, em que as 
mudanças seculares afetam direta e indiretamente o homem a partir da sua 
dinamicidade, muitas vezes lenta, mas sempre contínua e, de outro lado, que se 
considere o homem como agente da Geografia Física, cuja cultura tem afetado a 
natureza, como, por exemplo: os padrões dos núcleos de povoamento, os tipos de 
arquitetura, os sistemas agrícolas e até mesmo o modo de uso da terra.
DICAS
Os trabalhos e contribuições de Sauer se delongam por inúmeras observações 
para os estudos direcionados à Geografia Cultural. Fica aqui a indicação da leitura de seu 
trabalho “The morphology of landscape’ (A morfologia da paisagem), publicado em 1925, 
pela Universidade da Califórnia (EUA), que aponta que devemos estar interessados naquela 
parte da paisagem que nos diz respeito como seres humanos, por sermos parte dela, 
pois vivemos com ela, somos limitados e a modificamos conforme nossas tecnologias e 
interesses, pois “as qualidades físicas da paisagem são aquelas que têm valor de hábitat, 
presente ou potencial” (SAUER, 1924, p. 19-54 apud CORRÊA, 1997).
4 UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE OS ESTUDOS DE PAUL 
CLAVAL
Paul Claval é caracterizado como uma das principais referências 
sobre os estudos da Geografia Cultural na atualidade. Suas obras são atuais e 
contextualizadas, o que permite sua elucidação assim como sua exemplificação. 
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
14
Para Claval (1997), a Geografia Cultural está intimamente associada às 
experiências que os grupos humanos, representados pelas distintas sociedades, 
têm da Terra, da natureza e do ambiente. Esse segmento da Geografia estuda a 
maneira pela qual as necessidades, os gostos e as aspirações das sociedades se 
configuram no espaço geográfico, resultando na compreensão de como elas se 
definem, se identificam e se realizam no mesmo.
Em seus trabalhos, Claval evidencia que os estudos da Geografia Cultural 
são mais significativos na atualidade, comparando-os com os momentos em que 
foi desenvolvida ou criada, face ao crescente interesse pelos lugares, pelas novas 
relações sociais na abordagem cultural, especialmente ao que se refere ao papel 
da comunicação e pelos crescentes problemas morais do mundo atual.
5 AS NOVAS CONCEPÇÕES DA GEOGRAFIA CULTURAL
Durante muito tempo, a paisagem tem se constituído em um dos conceitos-
chave da Geografia, por estar apropriada de uma unidade e de identidade. A 
importância desse conceito, dentro do pensamento geográfico variado, e por alguns 
momentos, está relegado a uma posição secundária em relação aos conceitos de 
região, espaço território e lugar, conforme enfatiza Corrêa e Rosendahl (1998). A 
partir de 1970, o conceito de paisagem é retomado, trazendo novas concepções de 
outras matrizes epistemológicas.
Para Corrêa e Rosendahl (1998), a paisagem geográfica apresenta 
simultaneamente várias dimensões que cada matriz epistemológica privilegia: 
sua dimensão morfológica, entendida como um conjunto de formas criadas pela 
natureza e pela ação humana, e uma dimensão funcional, que apresenta relações 
entre suas diversas partes. Ao que se refere à construção humana, essa decorreu 
dentro de uma dimensão histórica e, por condição existencial, também uma 
dimensão espacial. “Mas a paisagem é portadora de significados, expressando 
valores, crenças, mitos e utopias: tem assim uma dimensão simbólica” (CORRÊA; 
ROSENDAHL, 1998, p. 7-8).
Segundo Claval (2002, p. 20-21), nas releituras sobre a Geografia Cultural, 
deve-se considerar que:
a) As mudanças de concepções nas Ciências Humanas e Sociais ocorreram a 
partir da necessidade de integrar perspectivas existenciais e críticas, ou seja, 
de valores e tradições que identificam as ações humanas, assim como seus 
posicionamentos diante de situações de inconformismo. 
b) Da abordagem cultural, demandam a necessidade de repensar a Geografia 
Humana, onde esta não pode ser totalmente desvinculada da cultura onde 
se desenvolveu, estendendo-se também às ciências: sociais, econômicas, 
políticas, a Sociologia etc. Lembrando que o econômico, o político e o social 
nunca existiram como categorias imutáveis e independente do espaço onde 
se encontram.
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
15
c) Tanto o etnólogo como o geógrafo deve praticar em seus estudos a arte da 
“descrição densa”, a qual é descrita como uma única maneira possível de 
integrar algumas das particularidades culturais das populações e dos lugares 
estudados. 
d) Existem diferentes concepções de cultura: numa primeira concepção, a 
cultura aparece como um conjunto de práticas ou kow hows, de conhecimentos 
e de valores que cada um recebe e adapta a situações evolutivas, parecendo 
representar uma realidade individual (resultante da experiência de cada 
pessoa) e social (resultante de processos de comunicação), não sendo uma 
realidade homogênea; numa segunda concepção, a cultura é apresentada 
como um conjunto de princípios, regras, normas e valores que deveriam 
direcionar a escolha dos indivíduos, assim como, orientar suas ações. Numa 
terceira concepção, a cultura é apresentada como um conjunto de atitudes e 
de costumes que dão ao grupo social a sua unidade. 
Essa última concepção de cultura tem um papel importante na construção 
das identidades coletivas. Para nós, geógrafos, a concepção da estrutura complexa 
das sociedades humanas deve sempre permanecer, demonstrando respeito e 
aceitação pelo diferente.
Claval (1997, p. 21) lembra que, atualmente, os geógrafos analisam 
as relações homem/meio dentro de uma perspectiva ecológica, o que resulta 
em quantificações e objetividades, desconsiderando a subjetividade das 
“representações do meio ambiente por parte das populações locais, da sua 
compreensão dos mecanismos ecológicos, da sua concepção da natureza em 
relação com a divindade ou o sagrado”. 
Entende-se, com isso, que os valores intrínsecos culturais da população 
que ocupa aquela paisagem estudada não são considerados em seus estudos. A 
compreensão da parte científica da Ecologia e da parte ideológica é considerada 
fundamental no entendimento da ação humana na contemporaneidade. 
Um exemplo prático para entendermos essa preocupação de Claval (1997) 
está na maioria das abordagens sobre os estudos geográficos do sertão nordestino. 
Por mais que estejam pontuando as características socioeconômicas, físicas e 
políticas de uma maneira interdependente, pouco é valorizada a concepção do 
povo sobre o lugar, das suas esperanças com um futuro próspero ou, até mesmo, 
seu conformismo diante das carências existenciais em que vivem.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
16
FONTE: Disponível em: <http://geografianovest.blogspot.com/2008/08/imagens-do-serto.
html>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 7 – CONTINGÊNCIAS DA SOBREVIVÊNCIA 
Claval (1997) reforça que os geógrafos estudam a dimensão estética das 
paisagens, sejam elas rurais ou urbanas, não dando a devida atenção ao estudo 
da paisagem como uma exploração da convivência, que se desenvolve entre ela 
e os homens.
[...] Os governantes utilizam as paisagens como suporte de suas 
mensagens de propaganda ou de sua ideologia. As classes dominantes 
justificam a sua supremacia social e política pela qualidade das 
paisagens que planejam [...]. Nem sempre as paisagens traduzem a 
vontade da manipulação ideológica expressa pelas classes dominantes 
[...] no mundo moderno,uma parte importante das paisagens é 
planejada para servir de guia aos utilizadores dos serviços públicos, 
como as das autoestradas e dos grandes aeroportos [...] a organização 
da paisagem reflete a existência de um sistema de poder: existe uma 
relação entre o país como criação política e a paisagem como expressão 
da personalidade do grupo social. O sentido de identidade de muitas 
coletividades sociais está ligado às paisagens da lembrança e da 
memória. [...] (CLAVAL, 1997, p. 22).
Com isso, podemos entender que os estudos regionais mudam suas 
concepções de verdade, tornando-se mais fiéis quando abordados na escala 
local. A atenção está centrada no lugar, e quando se fala em região, deve-se falar 
de realidades sociais ali já existentes; falar do significado do espaço para cada 
indivíduo e da maneira de construir objetos sociais a partir das experiências 
humanas, o que resultará na construção de análises das categorias sociais e 
territoriais mais fidedignas. 
Lembra ainda Claval (1997) que tanto os lugares como as paisagens 
fazem parte da memória coletiva. Fatos passados impregnam certos lugares de 
significados; as identidades individuais e coletivas são fortemente ligadas ao 
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
17
desenvolvimento da consciência territorial. Isso é verdadeiro no sentido que 
estamos sempre lembrando fatos e sempre esses fatos estão condicionados à 
existência de uma paisagem ou lugar.
Um alerta que se faz pertinente em nossos estudos ou análises de uma 
determinada paisagem é como não nos deixar persuadir diante da tendência da 
homogeneização de comportamentos, da cultura, dos valores que estão sendo 
apresentados nesse novo estágio da globalização. Realmente é uma tarefa difícil, 
somos influenciáveis e precisamos estar em constante policiamento para não cair 
no risco de ameaçar, a partir de nossos diagnósticos, as identidades locais, que 
estão sendo suprimidas diante da forte influência dos meios de comunicação.
6 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
Já nos deportamos várias vezes na importância da identidade local, mas 
em nenhum momento explicitamos sua construção. Fazendo referência a Calhoun 
apud Castells (1999, p. 22), se entende por identidade o fato de: 
[...] Não temos conhecimento de um povo que não tenha nomes, 
idiomas ou culturas em que alguma forma de distinção entre o eu 
e o outro, nós e eles, não seja estabelecida... O autoconhecimento – 
invariavelmente uma construção, não importa o quanto possa parecer 
uma descoberta – nunca está totalmente dissociado da necessidade de 
ser conhecido, de modos específicos, pelos outros [...] 
 
Assim, podemos entender por identidade o processo de construção de 
significado, com base na cultura ou no conjunto de culturas inter-relacionadas, pois 
somos receptivos a vários atributos culturais. A identidade cultural se constitui 
de fonte de significados por seus próprios atores, que foi sendo construída por 
meio de um processo individual. Dentro de uma concepção mais genérica, pode-
se dizer que as identidades culturais organizam seus significados, seus símbolos 
autossustentáveis ao longo do tempo e do espaço.
Segundo Castells (1999, p. 23) “[...] a construção de identidades vale-se da 
matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas 
e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de 
poder e revelações de cunho religioso”. 
Importante observar que a chamada matéria-prima é absorvida tanto pelo 
indivíduo como pelos grupos sociais, que reorganizam seu significado diante das 
tendências sociais e projetos culturais já enraizados, bem como em sua concepção 
de tempo e espaço, ou seja, a dinamicidade do surgimento ou elaboração do novo 
acaba interferindo direta ou indiretamente nas permanências de uma determinada 
sociedade, que ocupa um determinado espaço em um determinado tempo. 
Assim, é possível entender que quem constrói a identidade coletiva (lembre-se 
de que estamos falando de sociedade ou grupo social), e em atendimento a quê 
essa identidade é construída, são os próprios conteúdos simbólicos dessa mesma 
identidade, bem como o seu significado para aqueles que com ela se identificam 
ou dela se excluem. 
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
18
Na prática, podemos exemplificar isso através de certas práticas 
coletivas estabelecidas entre diferentes religiões que seguem rituais, muitas 
vezes, centenárias na sua realização. Veja que a permanência desses rituais dá 
significados e identificam aquela religião em detrimento a outras religiões.
Para Castells (1999, p. 26), “diferentes tipos de identidades são construídas 
e suas permanências estão diretamente relacionadas a um contexto social” e ao 
enraizamento ou não de seu simbolismo ou, ainda, pela incorporação ou não das 
tendências contemporâneas. Lembrando de que diante de novas apropriações 
simbólicas, a paisagem sofre mutações em sua configuração, em atendimento a 
novas demandas sociais que emergem.
Assim, é importante entendermos a Paisagem como categoria de estudo 
da Geografia e sua manifestação simbólica diante da Cultura.
19
Neste tópico vimos que:
● O conceito de Geografia Cultural tem suas origens no final do século XIX e 
início do XX, com os estudos de Vidal de La Blache e a Teoria do Possibilismo.
● A Teoria do Possibilismo sustenta-se no fato de o homem modificar o meio, 
adequando-o às suas necessidades.
● La Blache faz do gênero de vida um dos eixos da Geografia Humana, sendo o 
primeiro a sugerir que ele tem uma dimensão cultural. Ex.: os imigrantes em 
nosso país.
● Carl Sauer foi um dos grandes mestres da Geografia Cultural norte-americana, 
tendo seus estudos difundidos por todo o mundo, tornando-se um dos 
principais referenciais teóricos do tema.
● Sauer sugere que, nos estudos de Geografia Cultural, deve ser considerado:
a) a reconstrução da paisagem física anterior à existência humana;
b) a reconstrução da paisagem durante a ocupação humana;
c) as mudanças significativas que se verificam na paisagem cultural.
● A cultura é um elemento dinâmico, pois absorve, em maior ou menor grau, as 
tendências contemporâneas.
● Paul Claval, contemporâneo, associa a Geografia Cultural às experiências dos 
grupos humanos.
● A paisagem é considerada o conceito-chave da Geografia Cultural por estar 
apropriada de unicidade e identidade.
● Claval observa que os estudos da Geografia Cultural acabam se limitando a 
abordagens ecológicas, sem a preocupação com os valores intrínsecos culturais 
da população que habita aquela paisagem.
● A constituição da identidade cultural acontece por meio do processo de 
construção de significados e de seus símbolos autossustentáveis ao longo do 
tempo e do espaço.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
1 Você observou, no decorrer das abordagens, que a Geografia Cultural 
obedeceu a um processo teórico para ser caracterizada como uma disciplina. 
Em uma análise pessoal, é possível caracterizarmos sua existência somente a 
partir do século XX por Sauer? Justifique.
2 Em uma leitura contemporânea, a partir da realidade que o cerca, descreva 
uma paisagem, levando em consideração as observações de Sauer e Claval, 
estabelecendo eixos entre o passado físico e o presente cultural da mesma.
AUTOATIVIDADE
21
TÓPICO 2
A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS 
RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A Geografia como ciência apresenta algumas categorias de análise, que 
acabam permeando todos os envolvidos e qualquer estudo ou pesquisa, em maior ou 
em menor grau, pois esses elementos acabam estabelecendo um grau de integração 
entre si, que, sem o reconhecimento de todos, o trabalho parecerá incompleto. 
As categorias de análise podem ser: espaço, lugar, região e território, 
que servem de fio condutor às explicações e elucidações para a compreensão da 
dinâmica do espaço geográfico.
Direcionando nossos estudos para a disciplina de Geografia Cultural, nos 
ateremos aotrabalho com a Paisagem. Não queremos imprimir sobre essa categoria 
um grau de importância que venha a subestimar as demais. Apenas queremos 
entender que é por meio da análise da Paisagem que a geografia em questão se 
fundamentou, assim como foi e é motivo de vários conflitos não só em nível conceitual 
e epistemológico, mas também quanto aos elementos a serem considerados.
Não estaremos demonstrando uma solução para esses conflitos de 
concepções teóricas, que serão apresentadas pelos estudiosos da Geografia 
Cultural, mas sim, buscaremos entender seus pareceres e exemplificá-los, para 
que possamos significá-los diante da nossa realidade.
2 A PAISAGEM
A Paisagem sempre esteve relacionada com a cultura, com a ideia de 
formas visíveis sobre a superfície da Terra e ainda podemos dizer: um recorte, uma 
cena de um determinado espaço geográfico. Em nenhum momento, a Paisagem 
é estática, mas ela é portadora de odores, movimentos, sabores, de passado e, 
especialmente, ocupada por atores sociais, enfim, a Paisagem é composta de 
dinamicidades e histórias que se traduzem de maneira complexa.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
22
Para Cosgrove (1998, p. 99) a Paisagem está intimamente relacionada 
a “[...] uma nova maneira de ver o mundo como uma criação racionalmente 
ordenada, designada e harmoniosa, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis à 
mente humana [...] e agem como guias para os seres humanos em suas ações de 
alterar e aperfeiçoar o meio ambiente”.
Dentro da concepção de Cosgrove (1998), a paisagem é um termo complexo, 
pois deve implicar em sua conceituação três considerações importantes: a) sua 
composição e estrutura espacial, ou seja, sua origem natural, onde os elementos 
naturais predominam e, no que se refere à estrutura, podemos referenciar Santos 
(2000, p. 50) que a identifica como sendo a “inter-relação de todas as partes de um 
todo; o modo de organizar”; b) a concepção racional do meio ambiente, que pode 
ser expressa pela concepção que o homem tem sobre a paisagem; c) a intervenção 
humana e o controle das forças que modelam e remodelam o mundo. Essa 
consideração é de suma importância no sentido de apropriação da Paisagem natural 
pela sociedade, que refletirá na modelagem da paisagem natural, suas concepções 
e valores culturais, que “[...] busca uma relação que harmoniza a vida humana com 
a ordem ou modelo inerente da própria natureza” (COSGROVE, 1998, p. 99). 
A intenção de harmonia, a paisagem representada em pinturas, poesia 
ou teatro expressam os laços entre a vida humana, o amor, os sentimentos 
ritmados do mundo natural (a passagem das estações, crescimento, reprodução, 
envelhecimento, os sentimentos e as emoções humanas no aspecto das formas 
naturais), ou seja, a paisagem natural contida nos sentimentos humanos ou os 
sentimentos humanos contidos na paisagem.
Diante desses argumentos, podemos dizer que o conceito de Paisagem, 
mesmo expressando-se de maneira complexa, possui um grande valor para os 
estudos da Geografia Humana, lembrando-nos de que a geografia está em toda 
parte, podendo ser classificada como fonte de beleza e inspiração ou de feiúra, de 
tristezas e sofrimento, de ganho ou de perda.
Cosgrove (1998) ainda nos lembra que foi Sauer quem originou uma escola 
de geografia da Paisagem, centralizando a ação do homem nas transformações 
das faces da Terra. Sauer sustentava essas transformações através do uso de 
tecnologias como o uso do fogo, a domesticação de animais e plantas, a hidráulica, 
mas também, essas transformações ocorrendo a partir das relações com as culturas 
não materiais, como: a crença religiosa, sistemas políticos. As atenções de Sauer 
estavam focalizadas nas sociedades pré-modernas ou em suas manifestações na 
paisagem contemporânea.
TÓPICO 2 | A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
23
Seguindo essa tradição nos estudos da Geografia Cultural, tem-se que as 
formas visíveis da paisagem (campos, praças, cidades, fazendas) se refletem na 
visão de que o conceito de cultura não é complexo, sendo considerado um “[...] 
conjunto de práticas compartilhadas comuns a um grupo humano em particular, 
práticas que foram aprendidas e transmitidas através de gerações” (COSGROVE, 
1998, p. 101).
Essa conceituação gerou críticas, pois, para alguns estudiosos, a cultura 
parecia se expressar através das pessoas para alcançar objetivos dos quais 
estavam vagamente cientes, emergindo a ideia de um determinismo cultural e 
que não atendia às demandas na geografia de uma teoria cultural no que se refere 
às paisagens contemporâneas e sofisticadas da cultura moderna.
3 A CULTURA
Dentro de uma abordagem de estudos para Geografia Cultural moderna, 
Costrove (1998) aponta algumas abordagens que devem ser consideradas. 
Acompanhe-as nos seguintes subitens.
3.1 A CULTURA E A CONSCIÊNCIA 
Para o estudo dessa abordagem, deve-se entender que a cultura não é algo 
que funciona através dos seres humanos, mas deve-se considerar a sua constante 
reprodução pelas sociedades, sendo, muitas delas, ações não reflexivas, rotineiras da 
vida cotidiana, como o culto a uma religião, que só pode sobreviver se for praticado. 
Um exemplo interessante de Cosgrove (1998) é de que um morador 
suburbano pode não estar ciente que, ao cortar a grama de uma propriedade, está 
mantendo um sinal de propriedade numa paisagem já proprietária de alguém. 
Partindo desses exemplos, podemos dizer que, se nos é solicitado expressar o 
significado de nossas atividades, certamente teríamos dificuldades de explicá-las, 
mas sabemos que, sem tais atividades ou práticas, muitas expressões culturais 
desapareceriam de nossas paisagens.
As transformações na cultura se expressam em processos lentos ou rápidos, 
que são sempre capazes de nos trazer reflexões conscientes e de comunicação, 
basta nos entregarmos a esses exercícios.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
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FONTE: Disponível em: <http://www.quebarato.com.br/classificados/pintura-com-moldura-de-
paisagem-em-oleo-sobre-tela-belo-quadro__604233.html>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 8 – PAISAGEM TURÍSTICA 
A figura retrata uma paisagem turística. Vejam que as pessoas presentes 
não se preocupam em se questionar sobre seus papéis como turistas, mas esse 
lugar procura adaptar-se para recebê-los. Consideramos que sem a presença das 
pessoas, a funcionalidade dessa paisagem padeceria.
3.2 A CULTURA E A NATUREZA
É importante considerarmos, nessa abordagem, que qualquer intervenção 
humana na natureza reflete sua transformação em cultura, visível ou não. O uso de 
tecnologias e/ou técnicas presentes na construção de edificações são indicadores 
óbvios de mudança de paisagem.
Um exemplo curioso apresentado por Cosgrove (1998) é o tomate, um 
elemento natural que, quando tirado do pé, serve de alimento para os humanos. 
Esse objeto natural se torna cultural no momento que lhe é atribuído significados. 
“O significado natural é introduzido no objeto e também pode ligá-lo a outros 
objetos aparentemente não relacionados a ele na natureza” (COSGROVE, 1998, 
p. 102-103). No caso do tomate, foram atribuídos valores culturais, que se podem 
discutir e identificar, mesmo sem ele perder suas propriedades naturais. 
 É importante, ao iniciarmos os estudos referentes à cultura expressada na 
paisagem, que entremos na consciência cultural daqueles que a fazem acontecer. 
Para revelar os significados na paisagem cultural, são necessárias habilidades 
TÓPICO 2 | A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
25
imaginativas de entrar no mundo dos outros de maneira autoconsciente. Só 
assim será possível representar essa paisagem num nível que seus significados 
sejam objeto de investigação. Muitas vezes, alguns dos significados já nos são 
naturalmente encontrados, pelo fato de também fazermos parte da natureza, 
quando, por exemplo, associamos a primavera com flores e o verão com praia.
FONTE: Disponível em: <http://tocadathamy.wordpress.com/2009/11/06/as-estacoes/>.Acesso 
em: 2 ago. 2010.
FIGURA 9 – AS FLORES E SEU SIGNIFICADO DURANTE A PRIMAVERA
3.3 A CULTURA E O PODER
Se isolássemos a concepção de poder da cultura, estaríamos bastante distante 
de nossa realidade. O fato de vivermos em sociedades divididas a partir do seu 
poder aquisitivo, de termos variações nas idades e ainda de etnicidade, sugere que 
existe uma regulação de ordem, que nos atinge de maneira direta ou indiretamente, 
como é o caso das diferentes idades presentes em uma paisagem, que se refletem 
em consciências diferentes, e até certo ponto, em uma cultura diferente. 
O grau de diferença varia de maneira significativa. Em uma mesma 
sociedade, verificam-se culturas tão radicalmente diferentes que, por vezes, 
pode-se dizer, são incompatíveis, como as culturas católicas e protestantes na 
Irlanda do Norte ou, ainda, torcidas de futebol organizadas, nas quais o poder 
é contestado entre os grupos de força relativamente iguais, reproduzindo suas 
culturas num alto nível de conscientização. Não se está afirmando que essa 
conscientização é válida ou não, afirma-se que ela se expressa em defesa de 
concepções diferenciadas. 
O Estado, como representante de um interesse nacional, interfere de 
maneira a introduzir pelo menos os rudimentos ou princípios de uma cultura 
comum em cada paisagem identificada. O resultado desses princípios é a 
manutenção ou estabelecimento de uma ordem controlável.
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
26
Podemos dizer, então, que o estudo da cultura está diretamente relacionado 
ao estudo do poder. Um grupo dominante, ao se impor, estabelecerá sua própria 
experiência de mundo e suas próprias suposições serão tomadas como verdadeiras, 
como a objetiva e válida cultura para todas as pessoas que lhe são imediatamente 
subordinantes. O poder é expresso e mantido na reprodução dos dominados, sendo 
mais bem concretizado quando é menos visível e conscientemente absorvido, 
passando até mesmo a se expressar como senso comum, identificado, segundo 
Cosgrove (1998, p. 105) como “hegemonia cultural”.
A partir de seu cotidiano ou sua experiência de vida, elabore alguns 
exemplos de paisagem que imponham uma cultura determinante e dialogue 
com aqueles que absorveram essa cultura, para entender a maneira pelo qual 
se identifica com ela. Você estará realizando um momento de reflexão sobre 
algo institucionado como verdade.
AUTOATIVIDADE
Não se deve esquecer de que há ainda culturas dominantes e subordinantes 
não apenas no sentido político, mas também em termos de sexo, idade e etnicidade. 
Essa última foi bastante expressiva na África do Sul durante o apartheid.
FONTE: Disponível em: <http://picsdigger.com/keyword/apartheid%20pictures/>. Acesso em: 2 
ago. 2010.
FIGURA 10 – A CULTURA E O PODER NA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
TÓPICO 2 | A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
27
A figura anterior expressa, de maneira inteligente, a imposição de culturas 
vista por dois aspectos: político e étnico-cultural. Cosgrove (1998) lembra ainda das 
culturas subdominantes, que podem ser divididas não somente em classes, mas 
também historicamente, como residuais (que sobraram do passado), emergentes 
(que antecipam o futuro) e excluídas (que são ativa ou passivamente suprimidas), 
como as culturas do crime, drogas ou grupos religiosos marginais. Em maior ou 
menor grau, as subculturas encontram alguma expressão na paisagem, mesmo 
numa paisagem fictícia ou de fantasia.
4 O SIMBOLISMO
Cosgrove (1998) lembra de que para compreendermos as expressões 
culturais existentes em uma paisagem, faz-se necessário que tenhamos o 
conhecimento da “linguagem” empregada, ou seja, os símbolos e seu significado 
nessa cultura, pois devemos considerar que todas as paisagens são simbólicas, 
por mais inexpressível que pareça.
A presença de estátuas no centro de uma cidade ou em parques representa 
um símbolo poderoso de condecoração e homenagem a um determinado 
personagem, que, provavelmente, tenha influenciado de maneira significativa 
o desenvolvimento dessa cidade. Essa prática é muito comum e independente 
da cidade onde ela esteja fixada, e se traduz da mesma forma: com honrarias e 
homenagens. Esse exemplo serve ao propósito de reproduzir normas culturais e 
estabelecer valores de grupos dominantes por toda uma sociedade.
Outro exemplo que ilustra bem o simbolismo é a existência de parques 
nos grandes centros urbanos. Não se encontra explícito, mas sim implícito, os 
limites de comportamento das pessoas que venham a usufruir do lugar: correr 
é para as crianças e a grama é para sentar ou realizar piqueniques, não se pode 
nadar no lago e nem subir nas árvores, não se pode transformar o ambiente em 
espaço comercial, ele é para o lazer, enfim, o comportamento deve ser contido e 
respeitoso, pois o local é público.
Quando esses símbolos são transgredidos, o fato é observado e a censura é 
claramente registrada pelas pessoas que, mesmo sendo uma minoria, têm de seu 
lado o simbolismo moral e, através desse simbolismo, tentam se impor diante da 
“anormalidade”.
 
[...] Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são 
o produto da apropriação e transformação do meio ambiente pelo 
homem. O simbolismo é mais facilmente apreendido nas paisagens 
mais elaboradas – a cidade, o parque e o jardim – e através da 
representação da paisagem na pintura, poesia e outras artes. Mas pode 
ser lida nas paisagens rurais e mesmo nas mais aparentemente não 
humanizadas paisagens do meio ambiente natural. Estas últimas são, 
frequentemente, símbolos poderosos em si mesmas [...]. (COSGROVE, 
1998, p. 108)
 
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
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Veja que o autor também se refere à paisagem natural aquela que 
diretamente não sofreu a interferência das ações antrópicas. Com isso, pode-se dizer 
que o simbolismo está presente tanto em paisagens modificadas e remodeladas 
pelos homens como nas paisagens onde ainda prevalecem elementos originários 
da própria natureza. Como exemplo, temos as regiões polares, cujo significado 
cultural é consequência da sua aparente inconquistabilidade pelo homem.
4.1 LENDO AS PAISAGENS SIMBÓLICAS
A decodificação feita pelos geógrafos resulta em múltiplos significados 
das paisagens, pois ela se expressa pelos vários elementos nela contidos, sejam eles 
resultantes de uma auto-organização ou interferência das diferentes culturas existentes.
Deve-se considerar que os geógrafos sempre reconhecem, mesmo 
oralmente, o elemento central da paisagem em estudo. Os dois principais 
caminhos que respondem a essas identificações são o trabalho de campo e a 
elaboração e interpretação de mapas. Diante desses conhecimentos pessoais são 
geradas respostas também pessoais, pois é preciso considerar seus conhecimentos 
historicamente apreendidos. Realmente, fica difícil isolarmos nossas concepções 
individuais de uma determinada realidade estudada, mas precisamos ser 
honestos, garantindo assim fidelidade nas observações e apontamentos, ou seja, 
não se devem estabelecer julgamentos críticos, pois o que se pretende é apenas 
uma leitura da paisagem. Cosgrove (1998) lembra de que muitas vezes são as 
crianças, menos aculturadas em significados convencionais, que podem ser o 
melhor estímulo para recuperar os significados codificados na paisagem.
A metodologia que se aplicava no passado, quando comparada à 
aplicada nos dias atuais, é diferente. Hoje, contamos com fontes documentais e 
cartográficas, não invalidando as fontes orais que predominavam no passado, 
pois elas são valiosíssimas, porque são concepções dos habitantes naturais da 
paisagem analisada. 
Outras fontes que contribuem para a leitura simbólica da paisagem são 
os próprios produtos culturais: pinturas, poemas, romances, contos populares, 
músicas, filmes e canções, que fornecem uma base firme a respeito dos significados 
que os lugares e paisagens possuem.
Temos um exemplo bem ilustrativo: a literatura de cordel, típicada região 
nordeste do Brasil e rica em formas e gêneros. Fazem parte dessa cultura os contos 
improvisados dos repentistas e emboladores, os causos, as lendas, bem como as 
narrativas do sofrimento dos homens que vivem no sertão.
TÓPICO 2 | A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
29
“O drama da seca” – de Anélio Souza
“Plantei roça sem comer 
a minha última semente. 
Na terra seca, o sol quente, 
vi a criação morrer. 
Esperei Deus resolver 
mandar chuva pro roçado, 
toró d’água controlado 
e não uma tromba d’água, 
pra não aumentar a mágoa, 
levando o que foi plantado. 
 
Do Ceará ao Cariri 
açudes estorricados 
em blocos espedaçados, 
Pernambuco e Piauí. 
O Nordeste todo aqui 
nesta gleba tão sofrida 
do nosso Brasil sem vida. 
Não chovendo no sertão, 
torra a semente no chão 
e a luta fica perdida.”
FONTE: Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/45469>. Acesso em: 2 
ago. 2010.
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_Ytyn4-1Rbq0/S_x2WIHcYwI/
AAAAAAAACKo/0Rx-WtGS3rQ/s320/200px-Casal_de_retirantes.jpg>. Acesso em: 2 ago. 2010.
FIGURA 11 – XILOGRAFIA TÍPICA DA LITERATURA DE CORDEL
UNIDADE 1 | TEORIZANDO E CONCEITUANDO A GEOGRAFIA CULTURAL
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Importante lembrar de que todas essas fontes representam limitações e 
vantagens, exigindo técnicas diferenciadas de abordagem, para que sejam tratadas 
de maneira competente. Além de tudo, deve-se contar com o conhecimento 
histórico e contextual por parte do geógrafo pesquisador, para que possa 
interpretar com veracidade a paisagem em estudo. 
O texto de uma interpretação geográfica da paisagem é o meio pelo qual 
transmitimos seu significado simbólico. Inevitavelmente, nossa compreensão 
sobre os símbolos é descrita sob nossos próprios valores, crenças e teorias, mas 
estará apoiada na busca de evidências apresentadas pela própria paisagem e pela 
oralidade dos elementos humanos presentes na mesma.
5 CRÍTICAS À GEOGRAFIA CULTURAL
Assim como todo estudo ou pesquisa está sujeito a refutações, a Geografia 
Cultural não estaria isenta de tal situação, recebendo críticas oriundas das mais 
diversas direções, inclusive de seus próprios adeptos.
Uma das críticas mais enfatizada estaria no fato de privilegiar apenas um 
dos múltiplos elementos que se inter-relacionam em área. Para a nova geografia, 
os geógrafos culturais estariam voltados ao passado, de se interessarem por temas 
pouco relevantes para os problemas imediatos e vinculados ao desenvolvimento 
contemporâneo, servindo mais aos interesses acadêmicos.
Para Corrêa (1997, p. 276), “os geógrafos estariam mais voltados para os 
fenômenos de divergência do que convergência cultural, esta sendo associada 
a uma certa homogeneização de grupos sociais sob o impacto de expansão 
capitalista. Daí seus interesses voltarem-se para o estudo de áreas culturais não 
ocidentais”. 
Outra crítica apontada nas observações de Corrêa (1997) é o fato de os 
geógrafos culturais tornarem-se seletivos diante das temáticas que a disciplina 
sugere, ficando mais restrito a estudos sobre religiões em detrimento dos estudos 
sobre a língua, assim como da compreensão sobre os aspectos materiais da 
cultura do que sobre os aspectos não materiais. Talvez isso aconteça pela própria 
disponibilidade de fontes investigativas, mas é aí que está a importância e os 
desafios dos estudos. 
Uma das críticas mais profundas feita à Geografia Cultural está na sua 
concepção, na formulação do conceito de cultura, que é entendida como uma 
entidade superorgânica, passando a ser vista, segundo Lestie White (apud 
CORRÊA, 1997, p. 277), “como uma entidade acima do homem, não redutível às 
ações pelos indivíduos que estão associados a ela, misteriosamente respondendo 
pelas suas próprias leis”.
TÓPICO 2 | A PAISAGEM, A CULTURA E O SIMBOLISMO: SUAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA
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Entendemos, pela citação, que o sujeito ou indivíduo é um mero agente 
das forças culturais, sobrepondo-se sobre a própria existência do ser, além de 
defender que a realidade é dividida por idealismos. A cultura, no entender como 
superorgânica, passa a fazer parte dos indivíduos de um grupo, sendo, então, 
internalizada por eles, resultando na ideia de homogeneização cultural de cada 
grupo, a qual, pela ausência de conflitos internos, implicaria em poucas mudanças 
e sempre oriunda do exterior, de fora do grupo.
Se observarmos a cultura como força determinante em detrimento a 
outras variáveis, como: estratificação social, interesses políticos, conflitos entre 
interesses opostos, a interferência do Estado e das grandes empresas, estaríamos 
desconsiderando o conjunto de elementos que interagem dentro de uma mesma 
paisagem.
Para Ducan (apud CORRÊA, 1997, p. 279) “[...] em breve, o mundo descrito 
pelos geógrafos culturais é um mundo no qual o indivíduo está largamente 
ausente, o consenso prevalece, o desejo é ignorado; é um mundo não tocado pelo 
conflito intracultural”. A citação corrobora com a colocação anterior, alertando da 
necessidade de integrar o indivíduo não somente na paisagem, mas com todos os 
elementos nela presentes, sejam esses concretos ou abstratos.
A Geografia Crítica apresenta os estudos de James Blaut, citado por Corrêa 
(1997), em que seus pareceres se voltam ao fato de a Geografia Cultural estar 
assentada em critérios étnicos e de classe, que acabam influenciando os valores e 
crenças dos geógrafos culturais, assim como sua seleção de temas para trabalho. 
Adverte que “ao se admitir a existência de culturas como entidades genuínas da 
sociedade, esquece-se o papel do Estado e dos limites territoriais, bem como o das 
classes sociais poderosas” (CORRÊA, 1997, p. 279).
Alguns grupos que se chamam de “culturas” são sociedades oprimidas, 
seja pelas elites internas, seja pelas elites externas ou ambas. Essa opressão, muitas 
vezes, acontece porque essas culturas isoladas não respondem aos interesses dessa 
mesma elite, pelo contrário, aparecem como estorvo ou obstáculo na dissipação 
das ideologias burguesas.
Vemos pela frente um grande desafio: desenvolver um trabalho referente 
à Geografia Cultural, contudo, há várias considerações pertinentes, que se pode 
cair no erro de privilegiar esse ou aquele elemento presente na paisagem em 
estudo. Entretanto, o importante é perceber que existem continuidades entre 
os próprios elementos, estabelecendo até uma interdependência entre si, pois 
isso é bastante importante para delimitarmos todo e qualquer estudo tanto na 
temporalidade como na espacialidade, mas alertando que esses limites atendem 
a interesses específicos e didáticos, portanto, são fictícios.
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico estudamos que:
● A Paisagem está intimamente relacionada com a cultura, com suas ideias e 
formas visíveis sobre a superfície terrestre.
● A representação de maneira harmoniosa da paisagem se registra na pintura, na 
poesia, no teatro, que expressa os laços entre a vida humana e seus sentimentos.
● Nos estudos da Geografia Cultural moderna, segundo Cosgrove (1998), devem 
ser consideradas as relações entre: Cultura e Consciência, Cultura e Natureza e 
Cultura e Poder.
● O Simbolismo apresenta-se como significados da cultura de um povo ou de 
uma sociedade.
● O Simbolismo pode ser representado de maneira concreta, como estátuas e 
parques, e de maneira abstrata, como rituais religiosos e rituais relacionados às 
refeições.
● Para a paisagem da leitura simbólica, caracterizam-se como ferramentas 
essenciais: os trabalhos de campo e a interpretação cartográfica de mapas.
● Outras fontes devem servir como recurso no estudo do simbolismo: os 
produtos culturais produzidos pelo próprio lugar, como poesias, pinturas, 
contos, romance.
● As fontes de investigações para o trabalho com o simbolismo e a cultura se 
complementam, pois todos apresentam vantagens e limitações.
● Como todos os estudos estão sujeitos a críticas, a Geografia Cultural não se 
abstém dessa situação.
● Entre as críticas, a mais relevante

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