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69 Lição 6 - Direito Falimentar O sucesso da atividade empresarial não depende somente da boa atuação do empresário, dos administradores e de investidores, há sempre riscos envolvidos. O direito falimentar regula os momentos de crise, separando- os em duas espécies diferentes: a crise que resulta no encerramento da empresa e a crise que pode ser solucionada. Ao término desta lição, você deverá ser capaz de: • conhecer o conceito de recuperação judicial e de falência. 1. Legislação Aplicável A atual Lei de Falências é a Lei nº 11.101/2005 que alterou o procedimento de falência e instituiu a figura da recuperação de empresas, extinguindo o instituto da concordata. A Lei nº 11.101/05 se aplica às atividades empresárias em geral. Existem casos em que essa lei não se aplica devido às especificidades da atividade, conforme vai dispor o art. 2º, vejamos: Art. 2º Esta Lei não se aplica a: I - empresa pública e sociedade de economia mista; lI - instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar; sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Antes de iniciarmos os estudos sobre institutos da Falência e da Recuperação, vamos ver o que ambos têm em comum. 2. Disposições Comuns à Falência e à Recuperação 2.1 Obrigações não Exigíveis Segundo o art. 5º, da Lei de Falência, não serão exigíveis do devedor as obriga- ções a título gratuito, nem as despesas que os credores tiverem para ingressar na recuperação judicial ou na falência, exceto as custas judiciais. 70 2.2 Verificação e Habilitação dos Créditos Para se processar a falência ou a recuperação judicial é necessário verificar quais são exatamente os créditos que o devedor tem que pagar. O artigo 7º, da Lei de Falência, trata dessa verificação, cujo responsável é o administrador judicial. Essa análise é feita nos livros contábeis do empresário ou da sociedade empresária e nos documentos fiscais e comerciais. A lei permite aos credores habilitar seus créditos, ou seja, terão a possibilidade de se apresentarem em juízo para ter sua examinada a sua pretensão de crédito. 3. Administrador Judicial Os procedimentos da falência e da recuperação judicial exigem atos de fiscalização, acompanhamento e gestão. A Lei nº 11.101/05 instituiu o administrador judicial, o qual terá funções diferentes na falência e na recuperação, mas podemos defini-lo como aquele que irá auxiliar o magistrado na condução dos procedimentos. 3.1 Atribuições do Administrador O art. 22, da Lei nº 11.101/05, estabelece as atribuições do administrador em ambos os procedimentos de recuperação e falência. Na recuperação judicial, são partes do procedimento o administrador e o próprio devedor. Como consequência, os esforços de ambos são direcionados para a solução da crise financeira e para a manutenção da viabilidade do negócio e preservação da atividade econômica. Do ponto de vista dos credores, é interessante a superação da crise financeira da empresa, pois isso aumenta as chances de recuperarem os créditos concedidos, de manter ou realizar novos negócios. O administrador judicial, ao conduzir um plano de recuperação, deve ser eficiente, fiscalizar as atividades do devedor e o respectivo cumprimento do plano de recuperação judicial. Na hipótese de descumprimento das obrigações assumidas no plano de recuperação judicial, o administrador deverá requerer a falência. Deverá apresentar ao juiz os seguintes relatórios: um mensal, sobre as atividades do devedor – que deverá ser juntado aos autos do processo – e outro sobre a execução do plano de recuperação, depois de proferida a sentença de encerramento da recuperação judicial. No processo de falência, mais complexo que o de recuperação, o administrador judicial atuará de modo mais efetivo, devendo observar as seguintes questões, conforme prescreve o art. 22, da Lei nº 11.101/05: 71 • avisar, pelo órgão oficial, o local e horário em que, diariamente, os respectivos credores terão à disposição os livros e documentos do falido; • examinar a escrituração do devedor; • fazer a relação dos processos e representar judicialmente a massa falida; • receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa; • apresentar, em 40 dias, contados da assinatura do termo de compromisso, podendo ser prorrogado por igual período, um relatório sobre as causas e as circunstâncias em que ocorreu a falência. Apontará no relatório a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, quando houver; • arrecadar os bens e os documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação; • avaliar os bens que foram arrecadados; • contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização do juiz, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para tanto; • praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; • requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeita a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa; • praticar todos os atos para conservar direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a quitação; • remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; • representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; • requerer todas as medidas e as diligências necessárias para o cumprimento da lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; • apresentar ao juiz para a devida juntada aos autos, até o décimo dia do mês seguinte ao vencido, a conta demonstrativa da administração que especifique com clareza a receita e a despesa; • entregar ao seu substituto, se for o caso, todos os bens e os documentos pertencentes à massa que se encontrarem sob o seu poder; sob pena de responsabilização; • realizar a prestação de contas ao final do processo e também se ocorre a sua substituição, destituição ou se renunciará ao cargo de administrador judicial. 72 A remuneração do administrador judicial fica a cargo do devedor ou da massa falida. Dada a importância de sua atividade, o administrador judicial poderá responder, por dolo ou por culpa, pelos eventuais danos causados à massa falida, ao próprio devedor ou aos credores. 4. Comitê de Credores A principal finalidade da criação do comitê de credores é zelar pelo bom andamento do procedimento judicial, seja da falência ou da recuperação. Sua criação é facultativa e suas atribuições estão previstas no art. 27, da Lei nº 11.101/05. Na recuperação judicial e na falência, o Comitê de Credores terá, dentre outras, as seguintes atribuições: • fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; • zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; • comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores; • apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados; • requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores; • manifestar-se nas hipóteses previstas na lei de falência. Especificamente na recuperação judicial, o Comitê terá, dentre outras, as seguintes atribuições: • fiscalizar a administração das atividades do devedor; apresentando, a cada trinta dias, relatório de sua situação; • fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial; • submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas na lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial. Caso não exista esse Comitê,na recuperação judicial ou na falência, suas atribuições serão exercidas pelo administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz. 5. Assembleia Geral de Credores É o órgão necessário aos procedimentos de recuperação judicial e de falência, é o órgão máximo de representação dos credores. Possui funções deliberativas a respeito de qualquer matéria que possa afetar os interesses dos credores. 73 Entre elas, destaca-se a de eleger e constituir o comitê de credores, o que confere legitimidade a este órgão. O art. 35, da Lei nº 11.101/05, estabelece a competência da assembleia geral de credores. Na recuperação judicial, ela deverá deliberar sobre: • aprovação, rejeição ou modificação o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; • constituição do Comitê de Credores, escolher seus membros e sua substituição; • pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4º, do art. 52, da lei; • o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; • qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. Nos procedimentos de falência, a assembleia irá deliberar sobre: • a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; • a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145 da lei; • qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. 6. Recuperação Judicial As empresas são fontes geradoras de empregos, de circulação de riquezas e de crescimento econômico. Em razão disso, a atividade empresarial que se encontra em momento de crise tem à sua disposição instrumentos legais para buscar sua recuperação. Nos termos do art. 47, da Lei nº 11.101/05: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 6.1 Requisitos da Recuperação Judicial Além dos requisitos gerais para utilização da Lei nº 11.101/05, o art. 48 traz re- quisitos específicos para que o empresário ou sociedade empresária faça jus à recuperação judicial. Os requisitos são: • O devedor deve exercer regularmente suas atividades há mais de dois anos. • Não pode ter sido declarado falido e, se tiver sido, suas responsabilidades têm que ter sido extintas. • Não poderá ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação judicial. 74 • Não ter como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes falimentares. Esses requisitos são cumulativos, isto é, só poderá requerer a recuperação quem atender a todos eles ao mesmo tempo. 7. Recuperação Extrajudicial É possível que a recuperação da crise do empresário ou da sociedade empresária seja realizada mediante renegociação com os credores. Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial. Para se valer da recuperação extrajudicial, o devedor também terá que observar os requisitos legais. Em outras palavras, não são todos os devedores que poderão se valer desse meio de solução de crise. Assim como na recuperação judicial, na recuperação extrajudicial será igualmente elaborado um plano de recuperação, que poderá ser levado à homologação judicial. Caso não tenha a aprovação de 100% de credores, mas obtiver aprovação de 3/5 deles, o plano de recuperação deverá, obrigatoriamente, ser levado à homologação judicial, para que se torne vinculante a todos os credores. Não ficam obrigados a participar do processo de recuperação extrajudicial os créditos trabalhistas, aqueles decorrentes de acidentes de trabalho e os de natureza tributária. 8. Falência O conceito de falência tem dois significados. O primeiro significado é econômico, que representa um estado patrimonial de insolvência, ou seja, quando um empresário ou sociedade empresária possui mais dívidas do que caixa para saldá-las. O segundo conceito é o jurídico e diz respeito a um processo de execução coletiva contra o devedor insolvente. É desse segundo conceito que trata a Lei no 11.101/05. Para ser réu em um processo de falência, não necessariamente o empresário, a sociedade empresária ou a EIRELI devem estar com os passivos maiores que ativos, basta que fique configurado o conceito legal de falência. 8.1 Finalidades da Falência São três as finalidades mais importantes do processo de falência: • Realizar o concurso de credores: deixar todos os credores em uma situação igual, de forma a que todos sejam satisfeitos proporcionalmente aos seus créditos. 75 • Sanear o meio empresarial: uma sociedade falida é causa de prejuízos aos credores do meio social, aos negócios e à circulação de riquezas. • Proteger não somente o crédito individual de cada credor do devedor, mas o crédito público e a economia como um todo. 8.2 Etapas da falência A falência é dividida em três etapas. A primeira, chamada de fase pré-falimentar, é uma fase investigatória, em que o juiz irá analisar se de fato há estado de falência. A segunda só ocorrerá se tal estado ficar configurado e será a etapa em que ocorrerá propriamente o concurso de credores. É chamado de fase falimentar. É nessa etapa que se terá a preocupação com os objetivos primordiais da falência, que é fazer os pagamentos dos credores, de acordo com a relevância do seu crédito. Por fim, ocorrerá a fase pós-falimentar que é uma etapa processual em que serão observados os efeitos finais do processamento da falência. Exercícios Propostos 1. Qual o conceito de Direito Falimentar? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 2. Segundo o Direito Falimentar, verifique quais das assertivas abaixo são verdadeiras e assinale a alternativa correta: III. A Lei de Falências não se aplica às atividades das sociedades cooperativas de crédito. III. Para se processar a falência ou a recuperação judicial não é necessário verificar quais são os créditos que o devedor tem que pagar. III. O administrador judicial é aquele que irá auxiliar o magistrado na condução dos procedimentos de recuperação e falência. IV. A remuneração do administrador judicial fica a cargo do credor. São verdadeiras as assertivas: ( ) a) I e IV. ( ) b) II, III e IV. ( ) c) I e III. ( ) d) II e IV. ( ) e) I, II e III. 76 3. Relacione corretamente as colunas abaixo e assinale a alternativa correta: I. Administrador judicial II. Comitê de credores III. Assembleia geral de credores IV. Recuperação judicial ( ) a) I, II, III, IV. ( ) b) II, III, IV, I. ( ) c) III, IV, II, I. ( ) d) IV, II, III, I. ( ) e) IV, III, I, II. 4. Carlos, empresário há mais de dois anos no ramo de restaurantes, está passando por uma crise no seu negócio. Uma vez que ele preenche todos os requisitos da lei, ele poderá tentar uma _____________, que é a ____________ das dívidas. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto: ( ) a) Falência, insolvência. ( ) b) Recuperação judicial, confissão. ( ) c) Recuperação extrajudicial, renegociação. ( ) d) Falência, renegociação. ( ) e) Recuperação judicial, confissão. 5. Assinale a alternativa que indique as atribuições do administrador ju- dicial: III. Avisar, pelo órgão oficial, o local e o horário em que, diariamente, os respectivos credores terão à disposição os livros e documentos do falido. III. Eleger e constituir o comitê de credores. III. Requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores. IV. Praticar todos os atos para conservar direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a quitação. ( ) a) I e IV.( ) b) I, II e III. ( ) c) I e III. ( ) d) I e II. ( ) e) III e IV. ( ) Viabiliza a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor. ( ) Órgão máximo de representação dos cre- dores. ( ) É aquele que irá auxiliar o magistrado na condução dos procedimentos de recupera- ção e falência. ( ) Sua principal finalidade é zelar pelo bom andamento do procedimento judicial, seja da falência ou da recuperação.
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