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Texto 03 - A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho

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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
PROFESSOR RICARDO TAVEIROS BRASIL
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A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E AS 
TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO
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:: MARIA CÉLIA LASSANCE (UFRGS)
:: MÔNICA SPARTA (UFRGS)
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 A necessidade de situar as abordagens no plano da história. 
 Análise crítica das relações entre as práticas da Orientação Profissional e a “evolução” das relações de trabalho na sociedade capitalista.
 Reflexão sobre as repercussões das relações trabalhistas no campo da Orientação Profissional brasileira.
 O conceito de trabalho ao longo da história humana.
 As transformações do capitalismo e, por conseguinte, da sociedade industrial, com ênfase nas especificidades contemporâneas do mundo do trabalho.
- Papel do(a) orientador(a) profissional no atual contexto.
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 As práticas em OP precedem os modelos teóricos. 
 Centros de Orientação Profissional na Europa (Munique, 1902) e nos Estados Unidos (Boston, 1907 / Frank Parsons).
 Objetivo: identificar trabalhadores inaptos para certas tarefas industriais a fim de evitar acidentes de trabalho e garantir a produtividade.
 A OP nasce para resolver questões práticas da próspera sociedade industrial da época; sua história está intimamente relacionada à história das relações de trabalho no Ocidente.
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- O conceito de trabalho ao longo da história da humanidade:
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 Escrituras bíblicas: o trabalho como castigo divino. 
 Antiguidade clássica: o trabalho era desprezado (atividade de escravos); aos cidadãos, o direito ao ócio, às atividades políticas e contemplativas.
 Idade Média: o trabalho cabe aos servos que sustentavam os senhores feudais, donos da terra e do poder; a vida laboral confundia-se com a vida doméstica (os filhos aprendiam seus futuros ofícios com pais e vizinhos) / trabalho ainda como castigo e sofrimento / a profissionalização era determinada por nascimento ou conveniência.
 Modernidade: profundas transformações sociais, culturais, científicas, econômicas / um novo conceito de trabalho passa a influenciar as novas formas de trabalho / capitalismo.
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 Reforma protestante: trabalho como salvação e virtude; o ócio passa a ser condenado a partir daqui. 
 Renascimento: desenvolvimento das artes e da ciência / trabalho como libertação, como possibilidade de domínio do homem na relação com a natureza.
 Grandes navegações, mercantilismo, desenvolvimento do comércio / ascensão da burguesia enquanto classe social.
 Iluminismo: inovações científicas e tecnológicas.
 Todos estes movimentos históricos trouxeram consigo o germe da futura sociedade industrial, contribuíram para a ideia de trabalho como valor positivo e permitiram a possibilidade de ascensão social por meio do trabalho. 
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 Três momentos da sociedade industrial (DeMasi):
1ª Revolução Industrial: máquina a vapor / Adam Smith / vida laboral separa-se da vida doméstica / trabalho mecanizado e segmentado em tarefas especializadas / grande contingente de agricultores e artesãos passou a vender sua força de trabalho para a indústria em troca de salários / duas classes: a burguesia e o proletariado.
2ª Revolução Industrial: descoberta da eletricidade / Karl Marx e Friedrich Engels / denúncia da perversidade que marca as relações de trabalho na sociedade capitalista: exploração e alienação / luta de classes: motor do desenvolvimento social / reivindicações de trabalhadores.
3ª Revolução Industrial: primeiras décadas do século XX / o advento da automação (modelo taylorista-fordista) / ...
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 ... organização científica do trabalho (Taylor): aumento da produção e diminuição do trabalho / criação das linhas de montagem na indústria automobilística (Henry Ford).
 Sociedade capitalista de produção e consumo de massa (auge do desenvolvimento da sociedade industrial).
 A OP nasce como prática no contexto sócio-econômico da 3ª Revolução Industrial / as indústrias eram instituições gigantescas que empregavam um grande contingente de trabalhadores assalariados para a execução de tarefas muito específicas, segmentadas e repetitivas / A OP se caracteriza, neste momento, como uma atividade diretamente vinculada à indústria e à ordem sócio-econômica vigente, com o claro objetivo de garantir o aumento da produtividade industrial.
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 A OP nasce como uma prática cujo objetivo era garantir a eficiência industrial / influência da Psicologia Diferencial e da Psicometria / Teoria do Traço e Fator: paradigma teórico-técnico para a realização de processos de OP baseados na utilização de testes de aptidões, habilidades e interesses .
 No início, a OP é muito influenciada por um compromisso ideológico com a sociedade industrial / a formação dos(as) orientadores(as) profissionais consiste na aprendizagem de técnicas para a avaliação de características dos indivíduos e no acesso às descrições das diversas ocupações do mundo laboral da época (ética da produção) / foco: busca da eficiência por meio do ajustamento da pessoa à função / avaliação de habilidades (pouco importa a autopercepção do indivíduo quanto aos seus interesses).
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 Passagem do século XX para o século XXI: período de transição entre a sociedade industrial e uma nova ordem sócio-econômica caracterizada pela revalorização do indivíduo (criatividade / emoções/qualidade de vida). Seu embrião surge na Europa do século XX, inovações no campo das artes e das ciências reiteram o valor do indivíduo.
 Novos rumos para a OP - influências da Terapia Centrada no Cliente de Carl Rogers , no sentido da não-diretividade dos processos psicoterápicos e de aconselhamento / desloca-se a atenção do orientador(a) para o(a) orientando.
 Entram aqui as teorizações desenvolvimentistas de Donald Super (a escolha profissional é um processo integrado ao desenvolvimento vital do indivíduo).
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 Transferência de foco: das demandas de produção para o sujeito da escolha / eficiência e produtividade são tomadas como consequências naturais de uma escolha adequada, centrada na satisfação e nos sentimentos de auto-realização.
 A sociedade capitalista hoje: aumento do setor terciário ou de serviços / globalização da economia / modelo enxuto de empresa (o indivíduo empresário de si mesmo) / tecnologia / alta produção de bens não-materiais, diminuição dos postos de trabalho na indústria, decréscimo do emprego estrutural e desemprego, trabalho autônomo e economia informal.
 Instabilidade, exigência de habilidades e competências para a (assim chamada) “empregabilidade”, flexibilidade, polivalência, capacitação tecnológica e adaptabilidade (...).
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 A onda de individualismo enfraquece os coletivos de luta pela defesa dos direitos dos(as) trabalhadores(as) – as pessoas não se reconhecem como classe trabalhadora, mas como empresários(as) de si mesmos(as) / retrocesso no campo dos direitos sociais anteriormente conquistados. 
 Espera-se cada vez mais do(a) trabalhador(a) e a ele(a) se oferece cada vez menos / a ideologia da sociedade pós-industrial seduz as pessoas com discursos de vinculação do trabalho com prazer e qualidade de vida / ao mesmo tempo, muitas pessoas permanecem “à margem” de todo o processo.
 Tais mudanças afetam diretamente o campo da OP tanto em termos teórico-técnicos quanto no tocante às questões éticas; qual o papel do(a) orientador(a) profissional neste cenário?
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 O(a) profissional de OP como reprodutor social ou como agente de mudança? Atualmente a OP tem sido chamada para responder às demandas da sociedade pós-industrial da mesma forma que outrora foi chamada para responder às demandas da sociedade industrial. Acatamos tais demandas? 
 Comprometimento com o crescimento econômico e com a satisfação individual ou com o desenvolvimento social? 
 O mito da neutralidade: toda neutralidade assumida é uma posição escondida - às vezes até de si mesmo(a).
 Jovem que procurava serviços de OP na década de 1990: conservador, individualista, não preocupado com mudanças sociais, apenas desejoso de realização pessoal, prazer no trabalho, estabilidade profissional e conforto material.
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 Ratificamos as crenças de jovens de classe média - que supostamente serviria para todos(as) OU orientamos no sentido da avaliação crítica da realidade contemporânea e de uma postura ética de compromisso social transformador? 
 Quanto à formação do(a) orientador(a): fundamentação teórica sólida, conhecimento das mudanças do mundo do trabalho / entendimento do caráter político deste trabalho.
 Alienação por parte de jovens e orientadores(as).
 2 caminhos para a OP: contribuir para a supervalorização do individualismo, assumindo (quer queira quer não) o papel de reprodução social OU promover uma reflexão crítica acerca do compromisso social inerente às escolhas profissionais, assumindo eticamente o papel de agente de mudança social.

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