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ANAIS XI Seminário do Trabalho O Futuro do Trabalho no Século XXI 4 a 8 de junho de 2018 – UNESP/Marília ISSN 2177-6253 GT Estado e políticas públicas 1 A PRECARIZAÇÃO NO JUDICIÁRIO EM TEMPOS DE CRISE: UMA ANÁLISE DO TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS DO JUDICIÁRIO PAULISTA Ana Paula Ferreira de Castro 1- Introdução As condições de trabalho, a qualidade de vida e saúde do trabalhador vem sofrendo modificações no decorrer da história da sociedade brasileira, se degradando cada vez mais devido a crise do capital nas últimas décadas e as transformações sociais, especialmente em decorrência do processo de precarização do setor público no Brasil, que acomete diretamente os trabalhadores e manifesta seus reflexos na pessoa-que-trabalha. Segundo Alves (2014), “a precarização do trabalho é um traço estrutural do modo de produção capitalista, e não se reduz tão somente a questão salarial, mas também a precarização existencial e do homem que trabalha”. As últimas décadas de desenvolvimento do capitalismo global traz um panorama da situação de profunda crise, e pode ser expressa pela crise financeira de 2008/2009 que atingiu o núcleo orgânico dos países desenvolvidos. Já no mundo de economias periféricas, como o caso do Brasil, um país de capitalismo tardio/ via colonial (Chasin, 2000), os sinais iniciais da instabilidade financeira, começaram a serem sentidos somente no início dos anos 2010, atingindo seu ápice no momento atual. Diferentemente das crises econômicas de fins do século XIX, e 1970/80 que foram de caráter lucrativo, a atual está mais próxima a grande depressão de 1929, considerada a primeira crise de hegemonia financeira. Assim, o mercado de trabalho começou a se degradar efetivamente a partir da recessão de 2015. É claro que o cenário externo é um cenário de crise: a 2 desaceleração da China, a brusca queda dos preços das commodities, a recessão nas economias da União Europeia e o crescimento medíocre da economia dos Estados Unidos compõem um panorama de instabilidade financeira e crise do capitalismo global que se abate sobre nossa economia, pelo menos desde 2014. O traço estrutural da crise se expressa principalmente pela crescente precarização do trabalho vivo. As grandes inovações tecnológicas, juntamente a disseminação dos valores ideológicos e utopias empresariais, contribuem para degradação da pessoa humana. O movimento toyotista das grandes corporações exemplifica, pois essa carrega em sua essência a captura da subjetividade do trabalho vivo pelo capital. O fracasso do governo neodesenvolvimentista, e o avanço da ofensiva neoliberal, com politicas de privatização e de desmonte de politicas sociais, leva o trabalhador para algo pior do que a precarização como um estado de barbárie. O capitalismo requer politicas de ajustes estruturarais por parte dos Estados, que reduz os recursos públicos para atendimento das maiorias, com crescente aumento das desigualdades sociais, o que vem sendo sentido de forma manifesta no Brasil nos últimos anos - pós golpe - do governo Temer. A sociedade brasileira é um exemplo candente da degradação das condições de existência social do trabalho vivo. Dentre os trabalhadores da sociedade encontram-se os assistentes sociais que trabalham numa relação direta com as expressões das questões sociais. Conforme aponta Santos (2012) “A visibilidade da questão social em todos os quadrantes do capitalismo mundial é um fato de signifivativa magnitude diante do qual eu ousaria afirmar que ninguém (independente do campo ideopolítico em que se situe) seria capaz de negar-lhe a existência”. O presente artigo, portanto, será dedicado a exposição e reflexão do processo de precarização que vem ocorrendo nos serviços públicos, especificamente, que atinge os 3 assistentes sociais, trabalhadores que compõem o corpo técnico no judiciário paulista, que lidam no cotidiano de trabalho com o enfrentamento da crescente demanda e da “judicialização da miséria”, fenômeno este sentido nos últimos anos especialmente em decorrência do crescente processo de desmonte das politicas sociais, da desarticulação e das precárias condições da rede pública de atendimento à população. 2- A natureza do trabalho do assistente social no judiciário paulista A história das primeiras inter-relações dos trabalhadores do serviço social no Poder Judiciário do Estado de São Paulo ocorreu em 1948 na capital paulista. A motivação para a inserção desses profissionais no Poder Judiciário tem como pano de fundo as questões voltadas à criança e ao adolescente, tratados na época como menores e “desajustados” pelo Estado. E com este escopo dá seus primeiros passos, neste espaço sócio-ocupacional, ainda nos primórdios da profissão no país. Os assistentes sociais judiciários atuam como peritos na área social, em processos das de Família e Infância, cumprindo prazos estipulados pelo juiz responsável, elaboram estudo do caso e emitem laudos sociais com opinião/ parecer técnico, além de outras funções relativas a matéria do serviço social, como: plantões técnicos para atendimento à população; desenvolvimento de ações na área de adoção de crianças e ou adolescentes; participação em audiências judiciais da área da infância e ou juventude; ministração de cursos, entre outros. São profissionais auxiliares do magistrado, em fatos que versam sobre questões técnicas da área social, e contribuem para a decisão judicial. Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. (Código de Processo Civil, Lei 13105/2015). 4 Para além da ação técnica, o trabalho do assistente social assume uma ação ética, relacionada à liberdade, à autonomia de decisões, à defesa dos direitos humanos e cidadania, valores inerentes a profissão e inscritos no código de ética profissional. O cotidiano de trabalho do assistente social judiciário é marcado historicamente pela grande demanda, insuficiência de recursos de infraestrutura, materiais e humanos, o que traz condições precárias para a atuação profissional, fazendo com que o próprio profissional, “se vejam como executores de ações isoladas e imediatistas”, segundo Faria (2001), nem sempre se reconhecendo como participantes da própria instituição, com uma identidade profissional nesse espaço de trabalho. Com a “judicialização da miséria social” ao longo do tempo novas demandas foram surgindo no Tribunal de Justiça como expressões das questões sóciais no Brasil. Os assistentes sociais sentem às pressões e são chamados, apesar do escasso investimento do Estado em capacitações especializadas e ou supervisão técnica, a atuarem em situações de alta complexidade, em casos de litígios graves e situações complexas, para dirimir as contradições, com ênfase na mediação de conflitos e conciliação, que tem sido uma tendência no judiciário paulista nos últimos anos. Outro fator importante é a reestruturação produtiva do trabalho da organização judiciária no Brasil, especificamente no Estado de São Paulo, caracterizada pela implementação de inovações tecnológicas e organizacionais, como a implantação do SAJ- Sistema de Automação da Justiça, que informatizou os processos judiciais. Sob pressão da busca da eficiência do serviço público, o Estado buscou promover a introdução de novas tecnologias, com impactos significativos no trabalho, qualidade de vida e saúde dos seus trabalhadores (Cadernos FGV Projetos, 2010). A introdução do processo eletrônico provocou alterações nos locais laborais, e modificou de forma significativa o cotidiano de trabalho. Por um lado, significou a diminuição de processos em papel, entretanto, por outro lado, houve a 5 intensificação das rotinas de trabalho sob pressão das demandas judiciais e exigência dos cumprimentosdos prazos. Portanto, é provável que a modernização do processo judiciário no plano tecnológico-organizacional trouxe impactos na qualidade de vida e saúde dos trabalhadores públicos da Justiça Estadual. A voracidade da reestruturação produtiva do Poder Judiciário, expressa por exemplo, na pressão por metas e intensificação das tarefas expõe outro aspecto da precarização do trabalho: a precarização da saúde do trabalhador ou a precarização do homem-que-trabalha (ALVES, VIZZACCARO-AMARAL E MOTA, 2011). Num cenário de crise do capital, e um significativo aumento das questões sociais e consequente crescimento da demanda judicial, somado aos impactos do processo de trabalho/reestruturação organizacional da justiça no Brasil, os assistentes sociais atuam na “linha da frente” no judiciário, e lidam diretamente com as manifestações das questões sociais na vida da população atendida. 3. Precarização do trabalho e a precarização da vida A precarização do trabalho e seus reflexos na vida da classe trabalhadora e na economia do país é um reflexo da crise do capital e implica também na disseminação do trabalho flexível por meio das remunerações flexíveis vinculadas a metas de produção. Cada vez mais, as organizações públicas ou privadas vinculam a forma-salário a metas de produtividade, contribuindo para o estresse da pessoa-que-trabalha. A precarização do trabalho se expressa também na jornada de trabalho inflexível onde a pessoa-que-trabalha reduz seu tempo de vida a tempo de trabalho. Os locais de trabalho reestruturados, tanto no setor privado como no setor público, incorporam novos métodos de gestão de caráter toyotista acoplados às novas tecnologias informacionais que intensificam o trabalho. 6 Identifica-se um conjunto de novos fenômenos sociais — “vida reduzida”, crise de sentido humano, carecimentos radicais, etc. — que compõem o novo e precário mundo do trabalho no Brasil do século XXI. O efeito social é o aumento dos adoecimentos laborais — depressão, estresse, síndrome do pânico, Síndrome de Burnout, etc. - que “explodiram” na era do neodesenvolvimentismo. Neste contexto Alves (2014) observa não apenas a dimensão da macroeconomia do trabalho ou a dimensão da morfologia social do trabalho, mas também a dimensão do metabolismo social onde, por conta do choque de capitalismo que o Brasil sofreu nos últimos quinze anos, está permeado de formas de estranhamento social. Pode-se refletir que: (...) as profissões caracterizadas pelo trabalho ideológico tem uma característica fundamental – elas envolvem, extensa e intensamente, a subjetividade das pessoas-que-trabalham – o trabalho ideológico com implicação estranhada, possui alta carga de estressamento, que nas condições da precarização existencial, faz aumentar o adoecimento laboral (precarização do homem que trabalha). (ALVES, 2014, p. 17) O desemprego é a forma mais terrível de degradação do mercado de trabalho, principalmente no Brasil, onde não existe historicamente uma rede de proteção social eficaz contra os efeitos danosos do desemprego. O desemprego torna as pessoas desamparadas, à mercê da irracionalidade social que prolifera nas metrópoles. Aqui podemos pensar na violência vitimando contingentes cada vez maiores, o uso disseminado de drogas licitas e ou ilícitas e as variadas formas de destruição. O Brasil é hoje um território privilegiado para observarmos a barbárie social que caracteriza o capitalismo global no século XXI. A ampliação da informalidade é o espectro do aumento da nossa miséria social caracterizada não apenas pela alta desigualdade social, marca distintiva do Brasil no cenário mundial, mas a crescente concentração de renda. A 7 informalização do mercado de trabalho representa superexploração da força de trabalho, outra marca distintiva do capitalismo retardatário no Brasil. O processo de combate às desigualdades sociais deve se arrefecer também caso um governo neoliberal reduza ou extinga programas sociais de combate à pobreza absoluta ou pobreza extrema. As instituições públicas brasileiras, no caso o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, são regidas dentro do sistema de gestão, assumindo políticas de gerenciamento de recursos humanos inerentes ao sistema capitalista, de produção e reprodução da vida social. O estudo realizado em 2014 com uma parcela dos trabalhadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, com o lançamento do livro “Trabalho e Saúde no Tribunal de Justiça de São Paulo- Repercussões na vida de seus trabalhadores”. Aponta que: “é significativo o numero de funcionários que apresentam um quadro de adoecimento físico e mental (..) São diversas as causas que podem ser apontadas para explicar o quadro do adoecimento, mas as que se destacam são as que derivam de uma rígida organização de trabalho nos órgãos do Poder Judiciário. Esta organização é marcada por relações hierarquicas estanques...”. A organização e o crescente volume de trabalho, as limitações nas contratações de concursos públicos, e a defasagem salarial dos profissionais que compõem a área técnica judiciária, no caso os assistentes sociais, aliada a inexistência de plano de carreira entre outros fatores, contribuim para os impactos na qualidade de vida e saúde destes trabalhadores. Além disso, no judiciário brasileiro há um fantasioso imaginário popular de prestigio e status social de seus trabalhadores decorrente de um mito constuido historicamente da organização pública detentora “do poder” do Estado. Deste modo, esses trabalhadores são postos num campo contraditório, pois estão inseridos numa organização detentora “do poder”, e muitas vezes não reconhecidos enquanto trabalhadores, e no campo real vivenciam os 8 impactos da precariedade do setor público e a condição de proletariedade, e sofrem com os efeitos danosos nas condições de trabalho, qualidade de vida e sáude. Referências bibliográficas ALVES, Giovanni. Trabalho e Subjetividade – O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório, São Paulo: Boitempo Editorial, 2011 ________________. A condição de proletariedade – A precariedade do trabalho no capitalismo global, Bauru: Editora Praxis, 2009. ________________. O Minotauro brasileiro. 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Rio de Janeiro: Editora Revan, 1997. 1 SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE: A IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO EDUCATIVA NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL Eixo: Trabalho, Economia e Sociedade Antonio Inácio da Silva, UNESP/Franca, antois31@yahoo.com.br Camila Barbosa Vieira, UNESP/Franca, camila-b-v@hotmail.com MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA LIMA, UNESP/Franca, mj.oliveiralima@yahoo.com.br RESUMO: O trabalho do assistente social demonstrou nos últimos 80 anos sua importância na nação brasileira, pois ao transformar-se em uma profissão eminentemente interventiva e assumir o compromisso com a classe trabalhadora tem contribuído nos inúmeros avanços junto à luta de classes. A resistência para a ampliação do estado democrático de direito, como também na implementação de políticas públicas, tem evidenciado que o seu papel eminentemente educativo vem auxiliando no fortalecimento das bases a partir do processo de politização. Considerando ainda o contexto sociopolítico que se vivencia, de ofensiva neoliberal, contexto este golpista, de afronta ao estado democrático de direito e “anti-direitos- sociais”, observa-se o quão necessária é o fortalecimento desta concepção, enquanto parte fundamental para o enfrentamento das expressões da questão social. Tendo como objeto deste estudo bibliográfico a dimensão educativa no trabalho profissional do assistente social, a partir do materialismo histórico dialético, tendo enquanto categorias de análise: Trabalho, Dimensão Educativa e Serviço Social Brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Profissional; Serviço Social; Dimensão Educativa. 1. SERVIÇO SOCIAL: HISTÓRIA E IDENTIDADE: O Serviço Social brasileiro completou no ano de 2016, 80 anos de história. Os desafios, lutas e contradições vivenciadas em pouco mais de oito décadas de existência, mostram que, embora nova na história, a profissão passou por significativas transformações, e, que todos esses processos em seu seio ocorreram em momentos de grandes contradições, o que foi essencial para enfrentar as manifestações da questão social, presente e constantemente revigorada pelo capitalismo, sobretudo na particularidade brasileira de capitalismo periférico, tendo suas expressões ainda mais perversas. 2 Fato marcante na trajetória da profissão é a postura que a profissão assume no decorrer desse período histórico, pois, apesar de seu surgimento datar nos primeiros anos da década de 1930, sendo iniciado por “setores da burguesia, fortemente respaldados pela Igreja Católica, tendo como referencial o Serviço Social europeu.” (MARTINELLI, 2011, p. 122), a profissão busca renovar-se, como uma forma de “tecnificação da ajuda”, dito em outras palavras dá-se espaço à profissionalização, caminhando assim à sua nova direção teórica, tecnicista, a nova vertente é o Serviço Social norte americano, conhecida pelo caráter conservador da teoria positivista (TORRES, 2014). Destarte, o exercício profissional segue esta rota, de caráter educativo e de matriz positivista, e torna-se importante o suporte teórico-metodológico para qualificação técnica da profissão. A legitimização da profissão também é outro avanço, e coloca os profissionais na condição de assalariados e ocupantes de um importante espaço na divisão social e técnica do trabalho, assumindo neste contexto histórico a matriz positivista enquanto referencial teórico (YAZBEK, 2009, p. 147). O movimento de reconceituação ideológica que ocorreu nas décadas de 1960 a 1970, se caracteriza enquanto marco histórico-social da categoria profissional. O principal avanço dentre os conquistados foi à ruptura ideológica da profissão com os laços tradicionalistas, tanto no âmbito acadêmico quanto em relação à intervenção do trabalho profissional. Adere também posteriormente a uma nova corrente teórica, a qual possibilita um novo olhar de sujeito e mundo, a partir das contribuições ideológicas de Karl Marx, tendo norteado a partir da teoria social crítica-dialética, compreendendo-se enquanto classe trabalhadora e se colocando, junto, na luta e resistência, adotando esse posicionamento político-interventivo. A esta superação, denomino apropriação da vertente crítico-dialética. Ela é algo bastante recente, datando de meados dos anos 90, e seu significado pode ser considerado como um salto qualitativo nas aproximações sucessivas entre o Serviço Social e tradição marxista, pois tem permitido a explicitação de questões fundantes na efetivação da ruptura com o tradicionalismo [...]. (SANTOS, 2007. p. 7). Neste período marcante, também houve outros pontos favoráveis na luta social, como a promulgação da Constituição Cidadã, um forte clima de democracia e de crença de conquistas para a sociedade e, para a profissão. A apropriação e aproximação da teoria social crítica de Karl Marx é fortalecida e orientada no Código de Ética profissional de 1986 e 1993 e, sobretudo pelo Projeto Ético Político, rompendo com o ranço tradicionalista que a profissão 3 constituiu até então, trazendo em seu bojo a ideia de compromisso com a classe trabalhadora, qual se entende parte. Desde então, outros fatores surgem no cotidiano de trabalho do assistente social, que, fortalecidos na posição crítica através das contribuições de Karl Marx, busca tecer estratégias no enfrentamento de um sistema perverso, que não poupa nenhuma profissão, cidadão e direitos, de sua existência destrutiva, privando o indivíduo não somente de seu sustento, mas retirando sua capacidade de interação, de sentir-se parte de uma sociedade, pois sendo parte de um exército de reserva e perdendo sua capacidade de trabalho, o homem enquanto ser social é posto à margem da sociedade. Nesta linha histórica e de compreensão pode-se considerar que o Serviço Social se constituiu de maneiras antagônicas, muito embora tendo como sujeitos de sua intervenção, desde o início, a classe proletariada, mas partindo de diferentes concepções. Desta forma, como compreender de fato a identidade profissional do assistente social? A categoria identidade é sócio-histórica, é dialética e ganha formato com movimento e tempo, a partir das determinantes sociais, políticas, econômicas, históricas, culturais entre outras. As identidades seconstroem e se objetivam na práxis, pela mediação das formas sociais de aparecer das profissões. Tais formas sociais expressam as respostas construídas profissionalmente para atender às demandas que incidem em seu campo de ação. (MARTINELLI, 2013, p. 145-146). Nesta forma, o ranço histórico ligado à profissão se faz presente na compreensão social do que é Serviço Social. A construção da identidade perpassa a esfera social, individual e a coletividade. A identidade expressa tanto uma relação que objetiva uma manifestação da realidade humana e social quanto se expressa simultaneamente como subjetividade humana. Estabelece dimensões de um ser social enquanto singularidade e enquanto coletividade (GENTILLI, 1997, p.128). Considerar que a totalidade na categoria precisa individualmente ter a mesma concepção, atual, do fazer profissional, para atingir a coletividade interna em torno da identidade, pode ser quase uma utopia. Além da heterogeneidade na categoria, tem que se considerar a concepção em torno da sociedade, assim: 4 Nestes termos, evidencia a impossibilidade concreta de uma identidade monolítica, seja nas dimensões teóricas, nas ideológicas, ou ainda nas políticas. A diversidade empírica, que engendra a multiplicidade problemática da profissão, enraíza-se em diversas tradições de pensamento e materializa-se nas infinitas possibilidades das diferentes perspectivas políticas (GENTILLI, 1997, p. 140). Guiando-se pelo pressuposto de que o Serviço Social não possui uma identidade profissional homogênea, recorre-se em Martinelli (1991), onde destaca que “[...] a ausência de identidade profissional fragiliza a consciência social da categoria profissional, determinando um percurso alienado, alienante e alienador de prática profissional” (MARTINELLI, 2011, p. 17, grifo do autor). Se a Dimensão Educativa é considerada enquanto um instrumento fecundo na luta pelos preceitos no projeto ético político, como se pode pensar em devida efetivação se o processo de não-identidade corrobora para com profissionais e intervenções alienadas, alienantes e alienadoras? Nestes casos onde a compreensão de totalidade crítica é usurpada se torna um processo de extensão do passado mascarado de contemporâneo? Na contemporaneidade a profissão vivencia o desafio do ressurgimento do conservadorismo às ações profissionais dos assistentes sociais, pensar a profissão de forma heterogênea, plural e diversificada é compreender as múltiplas formas que estes podem (teórico, metodológico e operacionalmente) utilizar e materializar no seu fazer profissional, porém dentro de um campo de análise que a profissão comunga, aquele que esteja ciente sobre a perversidade do Capital à classe trabalhadora. A profissão Serviço Social é uma profissão eminentemente subversiva à ordem do capital, algo contrário a esse posicionamento, se caracteriza ações com desvio ético-profissional. Ações oriundas do conservadorismo, onde se trabalha o indivíduo desconecto das questões amplas de classe e do sistema econômico, o “culpabilizando” pelas situações vivenciadas, ou até mesmo concordando com os mandos do capital, são ações incoerentes ao código de ética vigente e ao projeto ético político profissional. Segundo Barroco e Terra (2012, p. 213), a reatualização do conservadorismo, no âmbito do Serviço Social, tem sido influenciada pela precarização da formação e pela “fragilização de uma consciência crítica e política, que pode motivar a busca de respostas pragmáticas e irracionalistas, a incorporação de técnicas aparentemente úteis em um contexto fragmentário e imediatista”. 5 2. CATEGORIA TRABALHO, SERVIÇO SOCIAL E EXTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO: O trabalho é fundamental na vida do homem e sua importância está presente em todas as dimensões do trabalho humano, seja ele manual, artístico ou intelectual, tendo como preceito a satisfação de suas necessidades. O homem domina a natureza e a submete à suas necessidades a transformando em produtos necessários à sua existência, neste processo de trabalho a atividade efetuada pelo homem realiza uma importante transformação, subordinada a um fim determinado, ao exercer essa transformação o homem se transforma e se diferencia dos caminhos utilizados por outros seres biológicos que não possuem a sua capacidade de prévia ideação. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes construi-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtem-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tende subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto quanto mais quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita, como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais. (MARX, , 2014 Tomo I, p. 149-150). Esta capacidade de criar os meios e também os instrumentos de trabalho que tornam possível a transformação da natureza coloca o homem como um ser único, diferenciado dos outros seres vivos, ou seja, o trabalho o torna um ser social, “como um ser que dá respostas prático-consistentes aos seus carecimentos, às necessidades.” (IAMAMOTO, 2015, p. 60). A esse aspecto, a diferenciação do homem de outros animais, pela sua capacidade criadora, de sua capacidade de prévia ideação, é o que chama-se de teleologia, para Marx é um dos principais elementos que o colocam num patamar superior, a capacidade de antever o resultado de uma ação pré-determinada por ele. Na sociedade capitalista um trabalhador que faz parte do processo de produção de certa mercadoria, não necessariamente consegue ter acesso a ela ou a tudo que produz, pois até mesmo sua força de trabalho é transformada em mercadoria, seja nos meios de produção até aos meios preponderantes à reprodução da força de trabalho. 6 Ao estabelecerem relações sociais estes dois sujeitos – que aqui simbolizam relações e interesses de diferentes classes sociais – defrontam-se reciprocamente como possuidores de mercadorias, comprador e vendedor da força de trabalho. Nessa relação reside a marca particular da sociedade capitalista: relações sociais são convertidas em relações econômicas quando a força de trabalho é cedida pelo vendedor O trabalhador) ao comprador (o capitalista) como mercadoria, por tempo determinado sem que o vendedor renuncie a sua propriedade. (GRANEMANN, 2009, p. 7). A reprodução da sociedade neste destrutivo sistema é baseada na exploração do homem através do trabalho fazendo com que este perca seu significado, que o torna acima das demais espécies, o de transformador da natureza, perdendo assim o caráter de centralidade em sua vida para se tornar mais um instrumento de acumulação de riquezas pela onipresente classe dominante. Destarte, pode-se verificar que as relações sociais presentes neste modo de produção cruzam o processo de trabalho em diversos momentos históricos causando drásticas transformações na rotina de vida dos trabalhadores, seja pela venda de sua força para o trabalho, seja pelas condições políticas e sociais de determinado momento histórico, que raramente estiveram ao seu lado. O Serviço Social surge e se desenvolvecomo profissão reconhecida na divisão social e técnica do trabalho e tem como cenário a industrialização e aumento exponencial da população urbana que sai do campo para tentar a vida na cidade, modificando drasticamente a conjuntura econômica, política e social daquele momento, trazendo assim a necessidade de um profissional que atue frente às demandas de uma emergente questão social, que representa: [...] as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu desenvolvimento e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e da repressão. O Estado passa a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora, estabelecendo não só uma regulação jurídica do mercado de trabalho, através de legislação e trabalhista específicas, mas gerindo a organização e a prestação dos serviços sociais, como um novo tipo de enfrentamento da questão social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p.84). O assistente social não detém os meios e instrumentos de trabalho, assim como outros trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de salário, o profissional de Serviço Social realiza então um ato laborativo de dupla dimensão, ou seja, realiza o trabalho concreto e o trabalho abstrato pertencendo assim ao processo de mercantilização do capital 7 porque se realiza como trabalho concreto, pois tem valor de uso ao atender as necessidades sociais a partir da instrumentalidade que a categoria traz em seu bojo para a realização de seu exercício profissional “em respostas às demandas sociais passa a ser mediado pelo mercado, ou seja, pela troca e consumo das mercadorias (bens e serviços) dentro de uma crescente divisão do trabalho social”. (RAICHELIS, 2011, p. 424). O trabalho do profissional atravessou diversos momentos históricos, hoje se pode alegar que assumiu compromisso com a classe trabalhadora, pois está atribuída ao assistente social a tarefa de enfrentamento das expressões da questão social, pois é nela que está à matéria prima de seu trabalho, de sua existência, (CFESS, 2012). Sua história sempre esteve ligada às necessidades da classe despossuídas de meios de subsistência causada pelas mazelas sociais que perpetuaram em todos os momentos da história, intensificado-se no contexto do capitalismo levando o profissional a: [...] decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social, hoje, é de fundamental importância para o Serviço Social em uma dupla perspectiva: para que se possa tanto apreender as várias expressões que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais – sua produção e reprodução ampliada – quanto projetar e forjar formas de resistência e defesa da vida [...]. (IAMAMOTO, 2015, p. 28). A profissão segue renovando seu conhecimento, o aperfeiçoamento constante de sua capacidade interventiva além de sua inserção em nível acadêmico e nos Programas de Pós- Graduação, e o estágio obrigatório para alunos da graduação demonstra a seriedade para fortalecer os alicerces construídos na trajetória de pouco mais que oito décadas de Serviço Social brasileiro. A participação do profissional em Conselhos de Direitos e presença evidenciada através de seus órgãos representativos nas mais diversas lutas em defesa dos direitos dos cidadãos, haja vista que no século XXI os ataques direcionados aos direitos sociais, entre eles à Seguridade Social, além de forte tentativa do capital em tornar a Educação cada vez mais frágil e distante das obrigações do Estado, se tornam cada vez mais intensos. A necessidade da sociedade conscientizar-se e de manifestar-se contra esses ataques aos direitos duramente conquistados, levam o profissional a se valer da estratégias em sua atuação, incorporando novas roupagens estratégicas às dimensões de seu fazer profissional. O caráter interventivo, é um forte aliado que a profissão tem em mãos, sobretudo frente a este cenário retrogrado que se vivencia no Brasil, entendendo que o profissional assistente social exerce uma profissão privilegiada no campo das ciências sociais, sobretudo 8 no terreno das lutas sociais, por ter em seu cotidiano interventivo-profissional a aproximação do cotidiano da vida social dos sujeitos sociais e suas coletividades. 3. A DIMENSÃO EDUCATIVA NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A LUTA SOCIAL CONTEMPORÂNEA: A intervenção do trabalho profissional do assistente social acompanha as concepções que a profissão adere no decorrer de sua história. O trabalho educativo, importante estratégia de intervenção no trabalho do assistente social, não se faz diferente, está presente na atuação profissional desde o seu nascimento, foi acompanhando a modernização constante da profissão. Esta ação pode ser lembrada desde Mary Richmond, em sua proposta de ajuda psicossocial individual, onde objetivava o ajustamento do indivíduo ao meio (sociedade). (ABREU; CARDOSO, 2009), hoje a mesma é sinônimo de fortalecimento no atendimento aos sujeitos sociais. Neste contexto contraditório a profissão de Serviço Social, ancorada na teoria social crítica de Karl Marx, fortalecida e orientada pelo Código de Ética de 1986 e 1993, bem como no seu Projeto Ético Político, rompem assim, em definitivo com a retrógada visão tradicionalista. Esse posicionamento ético é assumido no seu cotidiano profissional, além da relativa autonomia de seu trabalho, o profissional faz uso do viés educativo para intensificar seu trabalho junto ao processo emancipatório dos usuários dos seus serviços sociais, pois: [...] o Serviço Social é um trabalho especializado, expresso sob a forma de serviços [...]. O assistente social é, neste sentido um intelectual que contribui, junto com outros inúmeros protagonistas, na criação de consensos na sociedade. Falar em consenso diz respeito não apenas à adesão ai instituído; é consenso em torno de interesses de classes fundamentais, sejam dominantes ou subalternas [...]. (IAMAMOTTO, 2015, p. 69). O assistente social é um intelectual que desempenha um importante papel na sociedade, pois a profissão vai se consolidando como um produto histórico, seu significado teve, em diferentes momentos, relativa relevância, seja em seu momento inicial com viés caritativo, atendendo os ideários da igreja, seja na execução de práticas fragmentadas representando os interesses do capital, seja nos dias atuais onde seu compromisso profissional se mostra claramente subversivo à ordem do capital, tendo como sujeito de suas ações, sobretudo a classe trabalhadora. 9 Importante ressaltar que até assumir seu compromisso ao lado da classe trabalhadora, muitas direções tomaram o trabalho do profissional. O que pode ser visto no presente trabalho ao referenciar as décadas anteriores ainda no século XX, mostrando que o assistente social assume o papel de intelectual ao operar ao lado da classe ora burguesa, ora operária, nesse sentido: Durante muitos séculos, toda a assistência social realizou-se através de instituições criadas pela Igreja, no capitalismo moderno, ao contrário, essa assistência deixa de ser um instrumento de distribuição da caridade privada, transformando se numa institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo poder dominante [...]. (SIMIONATTO, 1999, p. 208). Para esta autora o profissional assistente social pode ser comparado ao “intelectual tradicional”, devido às práticas de assistência na década de 1930 e “[...] também poderíamos situar o assistente social como intelectual orgânico na medida em que suas funções representam uma continuidade histórica (SIMIONATTO, 1999, p. 208), ou seja, atravessando a história com diferentes formaçõessociais. Em um passado recente, a sociedade brasileira vivencia um período de ditadura militar que exerce a imposição contra a democracia e conquistas de direito, após este período, em um momento societário democrático, se instala no Brasil a agenda neoliberal, que começa engendrar novas expressões da Questão Social. Como coloca Bauman (2007, p. 14), “A perversa ‘abertura’ das sociedades impostas pela globalização negativa é por si só a causa principal da injustiça e, desse modo, indiretamente, no conflito e na violência”. Neste contexto repleto de contradições sócio-históricas, explorações e violações, que se materializa pela sociedade capitalista, torna-se ainda mais necessário refletir acerca do trabalho profissional do assistente social frente essa realidade, inserido na luta e resistência social. Neste cenário, sobretudo, reitera-se a importância da dimensão educativa enquanto um dos fecundos aportes que a profissão tem de intensificar e efetivar os propósitos de seu Projeto Ético Político. A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático – considera a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza produzida [...]. (NETTO, 1999, p. 16). 10 Compreende-se então a importância da dimensão educativa, sobretudo no contexto neoliberalista, no enfrentamento ao desafio à efetivação do proposto no Projeto Ético-Político da categoria, se caracterizando enquanto uma estratégia de luta e resistência junto às bases. “O assistente social é, neste sentido um intelectual que contribui, junto com outros inúmeros protagonistas, na criação de consensos na sociedade. (IAMAMOTO, 2015, p. 69). A função pedagógica do assistente social em suas diversidades é determinada pelos vínculos que a profissão estabelece com as classes sociais e se materializa, fundamentalmente, por meio dos efeitos da ação profissional na maneira de pensar e de agir dos sujeitos envolvidos nos processos [...]. (ABREU, 2011, p. 17). Quando se fala em ações de cunho pedagógico na intervenção do profissional assistente social, refere-se às relações que o profissional estabelece com os usuários dos serviços sociais. Pode-se apontar que a luta e defesa pelos Direitos Humanos, expostos no código de ética é uma das ações pedagógicas do exercício no trabalho profissional, pois só se garante um direito via conhecimento. Uma luta sem conhecimento é fadada ao fracasso. O assistente social, ao trabalhar com grupos e classes sociais se coloca como facilitador das transformações sociais. A dimensão de sua prática é o coletivo, a classe social, especialmente as classes populares, com as quais deve construir alianças significativas. (GIAQUETTO, 2015, p. 22). Recorrendo aos pensamentos de Gramsci (1991), entende-se que a dimensão educativa do trabalho profissional contemporâneo, se enquadra no processo de contribuir para a tomada de consciência dos sujeitos, para a construção de uma nova ordem societária, onde a ruptura ou ação revolucionária é um processo molecular, mediatos de elevação do senso comum, uma reforma intelectual. Contudo, apoiando nesta reflexão, sabe-se que a revolução se dará por meio de rupturas causadas pelo educativo crítico, assumindo assim um papel de intelectual que se coloca, construindo conhecimento coletivamente, no fortalecimento da base, da classe trabalhadora. A função de intelectual, entretanto, não pode ser vista de modo a pertencer a alguém que possui conhecimento da verdade total, ou seja, absoluta e que necessariamente exerça a educação formal, o que o caracteriza é o desempenho da função social necessária na sociedade. (GRAMSCI, 2001). O trabalho de base, através da dimensão educativa, realizado pelos assistentes sociais desde então tem uma importante função social, pois é neste viés que se materializa o 11 fortalecimento da classe trabalhadora, o que consequentemente pode-se resultar no processo de resistência e luta de classes. E neste processo o assistente social: [...] concretiza-se fundamentalmente, através de estabelecimento de novas relações pedagógicas entre o assistente social e os usuários de seus serviços. Relações estas favorecedoras de um processo de participação dos sujeitos envolvidos, numa dupla dimensão: de conhecimento crítico sobre a realidade e recursos institucionais tendo em vista a construção de estratégias coletivas em atendimento as necessidades e interesses das classes subalternas; de mobilização desses sujeitos; instrumentalização de suas lutas e manifestações coletivas na perspectiva do fortalecimento e avanço das referidas classes como classe hegemônica. (CARDOSO; MACIEL, 2000, p.144 APUD GIAQUETO, 2015, p. 24). Desta forma, cabe ressaltar que todo e qualquer espaço de atuação para o profissional do Serviço Social é um lócus a ser desenvolvida a dimensão educativa. Esse trabalho, tão importante à profissão se mostra ainda mais valoroso ao ser trabalhado por profissionais críticos que buscam através de sua utilização complementar e fortalecer todos os aparatos que tornam possível a concretização de efetivação de direitos e fortalecimento da classe trabalhadora, afinal, a dimensão educativa é inerente ao seu trabalho e tanto pode contribuir aos processos de emancipação ou reproduzir a ordem capitalista vigente, pelo possível ranço histórico do conservadorismo no seio da profissão. E, mais importante do que trabalhar essa importante dimensão, é trazer às classes populares o sentimento de não ser um depositário de fragmentadas ações do Estado, mas de se reconhecer como parte essencial da sociedade, fomentando a importância da participação popular-social para a transformação das realidades vivenciadas. A atividade profissional do assistente social obedecendo ao regido e proposto pelo projeto ético político da categoria tem grandes potencialidades junto à população, por intermédio de seu caráter predominantemente interventivo. Exerce sua atividade em diversas áreas sócio-ocupacionais, com diferentes segmentos. O trabalho socioeducativo tem sido utilizado tanto na abordagem individual, na abordagem grupal. Bem como no reconhecimento do território. Sob essa perspectiva não há atuação preestabelecida, ou seja, a ação profissional é construída e reconstruída cotidianamente [...]. O trabalho socioeducativo demarca, na relação assistente social – usuário, a ultrapassagem da visão de problema individual para demandas de atendimento, ou seja, amplia-se a visão, articulando-se os problemas apresentados pelo usuário, a realidade e os limites da organização onde o assistente social presta serviço. (TORRES, 2009, p. 221). Trabalhar a dimensão educativa, na perspectiva crítica, sobretudo nos dias de hoje, representa a certeza de ação fértil. O aperfeiçoamento teórico-metodológico que o profissional 12 adquiriu ao longo do tempo possibilita ao assistente social embasamentos para estabelecer o diálogo mais próximo dos usuários de seus serviços, o que se compreende caracterizar por educação popular, que para Pinto (1993, p. 41) é compreendida como “[...] conjunto, socialmente determinado, de atividades que visam transformar as representações sociais (conhecimento, valores, sentimentos) com o objetivo de mudar a conduta social”. Tendo conhecimento de sua trajetória histórica, de suas estratégias interventivas e a certeza de que o cidadão deve ter acesso a direitos, o trabalho do assistente social deve seguir recusando toda e qualquer forma de precarização e ao desrespeito aosdireitos e da cidadania. Há muitos empecilhos postos pelos representantes do poder, pois atualmente está sendo projetado um ataque exponencial aos direitos sociais, em todas as suas esferas, esses ataques estão sendo chamados de “reformas” e que num primeiro momento visam aumentar o tempo de contribuição para a Previdência estendendo o tempo de contribuição do trabalhador. E mais, a reforma trabalhista pretende precarizar ainda mais os direitos e a forma de trabalhado no cotidiano do trabalhador, aumentando jornadas de trabalho, salários e aumentos feitos cara a cara com o patrão, enfim, sinais de mutilação extrema dos direitos. O momento, apesar de mostrar um panorama temeroso, deve servir aos profissionais de Serviço Social e a todos os outros que sentem saqueados, e principalmente àqueles que partilham do terreno social, o momento é de luta e de resistência para o não retrocesso e repúdio ao ataque ao estado democrático de direito. Lutar para o avanço e fortalecimento no campo social realizando assim as transformações revolucionárias a esta imensa nação. 4. CONCLUSÂO: Durante pouco mais de 80 anos a profissão vem se construindo, utilizando seu robusto arsenal teórico-metodológico para a construção do conhecimento e do enfrentamento aos desmando que o capitalismo traz no cotidiano da sociedade. Sobre o aspecto da identidade profissional no processo de compreensão da categoria enquanto classe trabalhadora, e, sobretudo qual concepção a mesma adota e aplica sobre a Dimensão Educativa no seu trabalho é o alvo de desmistificação no decorrer deste trabalho, entendendo o processo de negação, como superação enquanto parte da subjetividade do fazer profissional do assistente social, que está intimamente ligado ao processo histórico da constituição dos sujeitos, sendo compreendida historicamente e legitimada por relações sociais. 13 A certeza de que sua luta continua é a maciça participação dos profissionais em Congressos, Seminários e/ou em eventos que exijam representantes de profissionais que atendam aos interesses da classe trabalhadora. Assim, apesar de tempos bicudos, no seio da profissão com o possível retorno do conservadorismo sendo anunciado e de forma mais ampla, sendo anunciado na sociabilidade do capital. A profissão precisa fortalecer-se para o enfrentamento deste ciclo destrutivo que já está presente, e promete ser ainda mais intenso se medidas urgentes não forem tomadas, a urgência deve unir todos os trabalhadores, todos os profissionais, toda a sociedade uma vez que nenhum cidadão nesta nação parece estar livre das latentes expressões da questão social. O aprofundamento teórico-metodológico do profissional de Serviço Social é imprescindível para caminhar ao lado coerente dos processos de identidade profissional e contra a retomada do conservadorismo, bem como para reconhecer o seu lugar na história e a importância de compor a luta social. 5. REFERÊNCIAS: ABREU, Marina Maciel; CARDOSO, Franci Gomes. Mobilização social e práticas educativas. In: CFESS, Conselho Federal de Serviço Social; ABEPSS, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. CFESS/ABEPSS, 2009. ABREU. Marina Maciel. 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In: CFESS, Conselho Federal de Serviço Social; ABEPSS, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. CFESS/ABEPSS, 2009. p. 146-163. 1 BREVE SÍNTESE ACERCA DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: A PARTIR DA ANÁLISE DA ECONOMIA POLÍTICA, CAPITALISMO E RELAÇÕES DE TRABALHO EIXO: TRABALHO, ECONOMIA E SOCIEDADE Claudia Caroline Delefrate PEREIRA, UNESP- FRANCA, cdelefrate@hotmail.com Camila Barbosa VIEIRA, UNESP-FRANCA, camila-b-v@hotmail.com. Isabelle Narduchi da SILVA, UNESP-FRANCA, isabellenarduchiadv@hotmail.com Maria José Oliveira Lima, UNESP-FRANCA, mj.oliveiralima@yahoo.com.br RESUMO: A história da classe trabalhadora semprefoi escrita com grandes lutas, seja no momento em que sai do campo para ir à cidade, buscando uma vida melhor, ou seja, quando se estabelecem na cidade para enfrentar uma situação de penúria. Mais de um século se passou e as expressões da Questão Social estão ainda hoje presentes, com raízes latentes provando que o sistema capitalista a torna ainda mais destrutiva, mesmo com a criação da Constituição Federal e todas as proteções sociais criadas, pois estas são atacadas por políticos e patrões que exigem leis trabalhistas frágeis e desproteção social cada vez intensa. Este trabalho com recorte na categoria teórica trabalho tem como objeto de estudo, uma breve análise histórica das relações de trabalho no Brasil, a partir do olhar da economia política no bojo do sistema capitalista. PALAVRAS-CHAVE: Capitalismo. Relações de Trabalho. Economia. 1. CATEGORIA TRABALHO E ECONOMIA POLÍTICA: Faz-se necessária a compreensão da categoria trabalho e seus aspectos ontológicos e fundamentais do ser social, pois assim é possível compreender a lógica do trabalho na atual configuração societária e que tais na ordem do capital se perdem e se invertem. A lógica do Capital é fundamentada pela exploração do homem através de seu trabalho, onde se dá a mais-valia, compreensão trazida por Karl Marx. É neste cenário que surgem as tensões oriundas da contradição Capital X Trabalho. Essa relação (entre capital e trabalho), longe de realizar a “liberdade” (no sentido apontado), é uma relação de exploração e alienação. Portanto o trabalho, ontologicamente determinante do ser social e da liberdade, na sociedade comandada pelo capital promove a exploração e alienação do trabalhador – o trabalho 2 assalariado, portanto, desumaniza o trabalhador. (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2011, p. 81, grifo do autor). Na lógica do Capital, o proletariado, que está inserido no processo de produção, não tem acesso à mercadoria e/ou a tudo aquilo que produz. Desde seu trabalho, através da força de sua mão de obra, tudo é transformado em “mercadoria”, o que compreendemos por Mais- Valia. Ao estabelecerem relações sociais estes dois sujeitos – que aqui simbolizam relações e interesses de diferentes classes sociais – defrontam-se reciprocamente como possuidores de mercadorias, comprador e vendedor da força de trabalho. Nessa relação reside a marca particular da sociedade capitalista: relações sociais são convertidas em relações econômicas quando a força de trabalho é cedida pelo vendedor (o trabalhador) ao comprador (o capitalista) como mercadoria, por tempo determinado sem que o vendedor renuncie a sua propriedade. (GRANEMANN, 2009, p. 7). A sociabilidade do Capital, no que tange sua produção e reprodução, se ordena de forma com que se perca o significado central do trabalho, como já mencionado anteriormente, a organização está baseada na exploração. O trabalho, neste sistema, perde sua centralidade passando a ser tratado como simples instrumento de acumulação de riquezas para a burguesia. Esta condição de exploração de classe, perpassa questões que cruzam aspectos sociais, econômicos, históricos, culturais dentre outros. Estas drásticas transformações estão acarretando condições perversas à população, sobretudo, àquelas que vivem da força de seu trabalho. Essa relação contraditória entre Capital X Trabalho traz consigo os mais perversos reflexos, a Questão Social, expressão existente e fruto do sistema capitalista, tal qual pode ser compreendida como: [...] senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011, p 83-84). Tendo esta compressão, embasada na correlação entre a Questão Social e a relação Capital X Trabalho, conclui-se que é impossível desconsiderar a contradição entre as forças produtivas e o desenvolvimento efetivo da sociabilidade humana, no contexto capitalista de reprodução da desigualdade social. Em característica da produção e exploração retrata ser “[...] radicalmente nova a dinâmica da pobreza que não generalizava [...].a pobreza crescia na 3 razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas.” (NETTO, 2001, p. 43) A força destrutiva desse modo de produção mostra-se desde seu início letal à classe trabalhadora, que não tendo outra opção vende sua força de trabalho entregando-se inteiramente à rotina de espoliação. Vivenciamos um golpe liberal de uma sociedade de Estado para o mercado, liberalismo este escravocrata não traz benefícios para a classe, mas sim a miséria disfarçada em emprego, o trabalho assume condição primaria para a sobrevivência do trabalhador que produz incessantemente, mas não consegue em nenhum momento ter acesso ao que produz “[...] Marx compreende radicalmente que o trabalhador produz a riqueza e vive na miséria, saltando às suas concepções teórico-filosóficas a dialética da riqueza e miséria do trabalho, pois a valorização do mundo das coisas é, simultaneamente, a desvalorização do mundo do homem.” (MARX, 1844 apud LARA, 2016, p. 215, grifo do autor). Em todos os momentos da história a condição da classe trabalhadora vivenciou seus direitos, quando chegaram a tê-los, serem dilapidados, mesmo no século XXI, onde existe uma Constituição que garante mínimos direitos sociais que tem sido alvo de ataques para que esta classe sofra perdas significantes de direitos conquistados. Entendendo o contexto capitalista minimalista, sabe-se ainda que a lógica e ideologia de poder do país é que a sociedade seja cada vez mais alienada, não questionadora de seus direitos e que este modelo traz consigo o subdesenvolvimento, lógica para o crescimento e desenvolvimento de monopólios, também fruto da necessidade de organização do Capital no que diz respeito à mundialização da economia capitalista. Estes centros subdesenvolvidos (em desenvolvimento) ficam de certo modo, na dependência de centros já desenvolvidos, como é o caso do Brasil, representando a internacionalização das relações econômicas. [...] o neoliberalismo é uma ideologia do sistema capitalista que defende o ajuste dos Estados Nacionais as exigências do capital transnacionalizado contrariando, portanto, aos pactos que subordinam o capital a qualquer forma de soberania popular ou instituições de interesse público; transfere as obrigações do Estado para a iniciativa privada. (RAMOS, 2012, p. 18). Partindo da concepção marxista, que é a ciência da transformação social, esta reflexão adota uma análise à luz da totalidade, através da perspectiva crítica, entendendo-se que a Globalização tem sido um processo do projeto neoliberal e que a Economia Política da Globalização é um retrocesso. 4 Destacar a Globalização neste processo é de extrema importância, no entanto é fundante o processo de abstração para compreende-la em sua essência como um fenômeno histórico e social, parte da abarcar a discussão em torno da categoria Globalização é necessário fazer o processo de abstração e entende-la enquanto um fenômeno sócio-histórico, existente na gênese do sistema econômico vigente, aqui em seu grau avançado de desenvolvimento. É na virada da década de 70 para 80, no bojo da ofensiva do capital na produção (o complexo de reestruturação produtiva) e da ofensiva do capital na política (a política e a ideologia neoliberal) que se dá o “ponto de partida” para a mundialização do capital. (ALVES, 1999, p. 59). “Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte”(Marx & Engels, 1968, p. 26), o que fica nítido que o movimento expansionista é característica do Capital, não somente do estágio globalizado. Mas não é uma mera descontinuidade sócio-histórica, mas sim um momento de desenvolvimento mais avançado do sistema mundial do capital, qualitativamente novo. É por isso que poderíamos dizer que presenciamos a construção real – e não meramente formal – de um sistema orgânico do capital. (ALVES, 2001, p. 47). A extensão do capital a esfera global, aqui entendida como o fenômeno da globalização, dentro da perspectiva histórica que o mesmo representa, atinge com maior perversidade a esfera cotidiana da vida humano-social. Por este motivo a necessidade de compreendê-la em sua totalidade, mas atentos aos aspectos contraditórios que o mesmo materializa no cotidiano social. As contradições são partes inerentes do sistema, consequentemente deste fenômeno em nível avançado do capital mundial. A dicotomia se apresenta entre o viés civilizatório ao ser humano- genérico que vivencia este percurso e a incidência de capilaridade das problemáticas sociais, alargando sua perversidade junto à classe que vive do trabalho, representado pelos constantes episódios de regressão no campo social, presentes na esfera global. O fenômeno apresenta aspectos progressivos e regressivos. As dimensões da globalização são contraditórias entre si, tendo em vista que, como iremos salientar, a ideologia (e a política) da globalização tende a “ocultar” e legitimar a lógica desigual e excludente da mundialização do capital e a mundialização como Ideologia do capital tende a impulsionar, em si, o processo civilizatório humano-genérico, isto é, o desenvolvimento das forças produtivas humanas, que são limitadas (ou obstaculizadas) – pelo próprio conteúdo da mundialização (ser a mundialização do capital). (ALVES, 2001, p. 13-14). 5 Desta forma, a Economia Política na perspectiva marxista contribui na compreensão do processo da economia mundial contemporânea, de uma forma crítica e dialética. A tendência do cenário capitalista é cada vez mais excludente e de interesses estritamente burgueses, incisivo e intensificado propriamente no momento histórico-econômico-social que o Brasil vivencia, podendo se valer de Bauman e Bordoni, compreendendo: A crise econômica é, segundo os dicionários, uma fase de recessão caracterizada por falta de investimentos, diminuição da produção, aumento do desemprego, um termo que tem significado geral de circunstâncias desconfortáveis com frequência ligadas à economia. Qualquer acontecimento adverso, em especial os concernentes ao setor econômico, é “culpa da crise”. Trata-se de uma atribuição de responsabilidade absolutamente despersonalizada, a qual liberta indivíduos de todo e qualquer envolvimento e faz alusão a uma entidade abstrata, o que soa vagarosamente sinistro. (BAUMAN; BORDONI, 2016, p. 9). No Brasil, atualmente, vivencia-se uma agenda “ultraliberal”, uma afronta aos Direitos Sociais de maneira geral e muito focalizados nos de cunho Trabalhista, que vai ao encontro da reflexão acima citada. Utilizam de uma “crise” para criar mecanismos tenebrosos e cada vez mais perversos para ampliar as concepções e ideais da hegemonia burguesa. Para tanto, pensar em políticas públicas e sociais dentro desta perspectiva de economia neoliberal é concluir que há reprodução dos padrões minimalistas do Estado burguês no repasse destes ideais, onde ainda não se vê a política pública, as que nos restam ou nos restarem após essa manobra conjuntural, enquanto política por direito. Essas políticas são pensadas em uma cultura neoclassista, paliativa e minimamente redistributiva. A Política Social para a transformação e justiça social deve agir na produção e não na reprodução, deve promover com que a sociedade atinja níveis de justiça social. A Política Social não é para os pobres, deve ser para a sociedade, deve trazer a concepção de sujeitos sociais, sujeitos de direito. E é neste contexto socioeconômico, que se observa o quão a política social é contraditória, ela atende de forma minimalista a população, mas também serve de interesse do Capital. [...] esse novo modelo de acumulação implica que: os direitos sociais perdem identidade e a concepção de cidadania se restringe; aprofunda-se a separação do público-privado e a reprodução é inteiramente devolvida para este último âmbito; a legislação trabalhista evolui para uma maior mercantilização e, portanto, desproteção da força de trabalho; a legitimação (do estado) se reduz ao assistencialismo. (SOARES, 2000, p. 40). A centralização para o atendimento das pessoas que necessitam demonstram que os serviços oferecidos não são para todos. E, quando feitas, não trazem a resposta necessária para 6 a emancipação do cidadão, e sim respostas fragmentadas e inconsistentes, que não representam nem de longe, soluções. As questões apresentadas na sociedade “pós-moderna” vêm acarretando, várias expressões da questão social, ainda mais aguçadas na sociedade, como acrescenta Bauman (2007), quando aponta a sociedade atual como sociedade do consumo, sociedade líquidas, de relações pessoais e sociais flageladas. Conceitos como Fetichismo, Acumulação, Produção etc., são introjetados na sociedade de forma massiva com o propósito de que a população perca sua consciência de classe, não consiga mais se reconhecer enquanto classe para si. Observa-se que todo este contexto entre o trabalho profissional, que perpassa o sistema vigente através da economia, é camuflado na estratégia do sistema. Entendendo o contexto social, econômico e político na perspectiva crítica, compreende-se que as relações antagônicas entre Capital X Trabalho vem acarretando várias personificações da Questão Social na sociedade, reverberações complexas, multifacetadas e ainda mais aguçadas. Na verdade, sob o capitalismo contemporâneo, o mercado de trabalho foi substantivamente alterado: com a reestruturação produtiva, nas grandes empresas o conjunto de trabalhadores qualificados e polivalentes que mencionamos há pouco e que dispõe de garantias e direitos constitui um pequeno núcleo; o grosso dos outros trabalhadores, conformando uma espécie de anel em torno desse pequeno núcleo, muitas vezes está vinculado a outras empresas (mediante a terceirização de atividades e serviços) e submetido a condições de trabalho muito diferentes das oferecidas àquele núcleo – alta rotatividade, salários baixos, garantias diminuídas ou inexistentes etc. (NETTO e BRAZ, 2012, p. 231, grifo do autor). Atualmente podem-se citar as problemáticas que envolvem o mundo todo, como é o caso dos refugiados. Nunca houve tantas pessoas em situação de negligência e abandono de vida como agora. Em nível nacional, podemos mencionar a barbárie que vem se desenhando na política brasileira, especificamente no exemplo da PEC 241. Esta irá afetar ainda mais as políticas públicas, o que rebaterá fortemente na vida da população proletariada, que na atual conjuntura, muitos já se encontram inseridos no exército de reserva, devido ao grande índice de desemprego estrutural que o país vem sofrendo. As reformas colocadas como a da Previdência é outro ponto a ser destacado, e recentemente a aprovação das relações do trabalho terceirizado para o desenvolvimento das atividades fim, é a precarização da precarização. 7 Todas estas manobras, oriundas de uma estratégia de governo no estágio de neoliberalismo, só vulnerabilizam ainda mais a classe trabalhadora. Sem dúvida, nenhumas dessas alterações rebatem de maneira positiva na vida do trabalhador. Assim, os representantes do poder e políticos que apoiam as perdas para classe trabalhadora em favor do Capital, espalham e afirmam que a solução para a nação brasileira é a privatização e terceirização em massa, afetando diretamente todas as classes, piorando como que “propositalmente”serviços públicos para que este seja facilmente vendido ou definitivamente seja posto como responsabilidade de entidades do terceiro setor. [...] em seu impulso cedo, desmedido, em sua voracidade por mais-trabalho, o capital atropela não apenas os limites máximos morais, mas também os puramente físicos da jornada de trabalho. Usurpa o tempo para crescimento, o desenvolvimento e a manutenção sadia do corpo. Rouba o tempo necessário para o consumo de ar puro e luz solar. Escamoteia o tempo destinado às refeições para incorporá-lo onde possível ao próprio processo de produção, suprindo o trabalhador, enquanto mero meio de produção, de alimentos, como a caldeira, de carvão, e a maquinaria, de graxa e óleo. (MARX, 1996, p. 378). Vive-se em uma época histórica em que alguns aspectos sociais vieram se perdendo. Na era da Industrialização havia-se menos tecnologia, no entanto as relações eram mais fortificadas e organizadas. Atualmente o mercado, muito se aplica na lógica do individualismo, o que fragmenta e enfraquece ainda mais as relações entre os grupos sociais. Não se tem luta pelos interesses de Classe, interesse dos trabalhadores. O que existe são grupos fragmentados lutando isoladamente pelos seus interesses particularizados, e isso nada mais é do que a efetivação dos ideários neoliberais, o enfraquecimento da classe trabalhadora. 2. IMPLICAÇÕES DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA NAS RELACÕES DE TRABALHO: Uma reflexão em torno do Direito do Trabalho. Ao analisar a sociedade contemporânea, conclui-se que as relações de trabalho estão cada dia mais fragmentadas, flexibilizadas e informalizadas, em decorrência do modo de produção capitalista, que altera consideravelmente o mundo do trabalho. Desta forma, o estudo e análise das relações de trabalho deve propor uma nova realidade jurídica e social. “Reaproximamo-nos de um plano múltiplo, mais humano e voltado para a coletividade, para a maioria dos homens, os menos favorecidos, aqueles que necessitam da proteção do Estado.” (ARAÚJO, 2003, p. 29). 8 Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por usa própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza (MARX, 1996). A partir deste pensamento, é possivel compreender que inicialmente a palavra trabalho enseja a várias significações: a de realizar uma obra que te expresse, que de reconhecimento social e permaneça além da tua vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incomodo inevitável (ALBORNOZ, 1986). De um modo geral, o significado de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incomodo inevitável é o modelo que encontra-se presente na rotina da classe trabalhadora, que trabalha sob pressão e sem garantias básicas de direitos sociais. Nesta linha de raciocínio o professor Irany Ferrari (1998) diz que segundo o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o termo trabalho tem significado geral e pode se distinguir em diversos pontos: na ação desempenhada pelo ser humano, no dispêndio de energia, na consciência, na participação física e inteligente do próprio homem, e na sua produtividade. O trabalho por um lado, deu ao homem algum poder, por outro, tronou-o importente diante de um enorme instrumental que o obriga a pensar em por a salvo a própria existencia humana. De uma parte eleva, libera, civiliza o homem para o mundo; de outra, reduz o homem a tarefas que o embrutecem, pela rotina desgastante. (FERRARI, , 1998). Observe que, “[...] a origem etimológica é controvertida, os conceitos acerca do trabalho humano também comportam divergências, dependendo da época e da cultura que o focaliza, e da ciência pela qual é tratado (CARDOSO, 2002, p. 17). Karl Marx (1987), descreve que o capital é uma relação de produção da sociedade burguesa a partir da exploração do homem trabalhador, mediante remuneração, considerada como a própria força de trabalho, ou seja, trata-se de uma troca de mercadoria. Assim, faz-se necessária a concentração da propriedade dos meios de produção em mãos de uma classe social e a presença de uma outra classe para a qual a venda da força de trabalho seja a única fonte de subsistência. A espécie humana, de geração a geração, mantem-se viva pelo trabalho, sob a forma de cooperação ou trabalho coletivo, determinando entre os indivíduos participantes, relações sociais que são de ordem econômica, pela produção, distribuição e troca de produtos; de ordem ética; por normas religiosas, morais e jurídicas e que regulam a vida de cada um em meio à corporação, classe ou sociedade (FERRARI, 1998, p. 23-24). 9 As transformações que o mundo do trabalho têm passado, estão evidenciadas por uma acentuada desorganização e informalização do mercado de trabalho, como dito anteriormente,pois aprevalencia da ordem econômica capitalista, sob a ordem social, desencadeia a precarização do trabalho e a desvalorização do trabalhador. Segundo Nascimento (2009, p. 44), “o direito do trabalho é criado com a sociedade industrial e o trabalho assalariado”, sendo que as razões de seu surgimento foram puramente econômicas, políticas e jurídicas. Assim, historicamente, as normas protetoras dos direitos dos trabalhadores apenas surgiram em decorrência das muitas reinvindicações ao longo dos anos, sendo de suma importância a intervenção do Estado na busca de assegurar ao menos dignidade ao trabalhador diante das contradições existentes entre Capital x Trabalho. Sabe-se que o Direito do Trabalho é considerado um ramo autônomo do Direito, que tem por finalidade a tutela e proteção do trabalhador, considerado a parte hipossuficiente da relação de trabalho. No entanto, nas circunstâncias atuais de visível predominância da ordem econômica sobre a ordem social, enfrenta novos dilemas, afastando-se da sua função inicial tutelar. O direito do trabalho consolidou-se como uma necessidade dos ordenamentos jurídicos em função das suas finalidades sociais, que o caracterizam como regulamentação jurídica das relações de trabalho que se desenvolvem nos meios econômicos de produção de bens e prestação de serviços. (NASCIMENTO, 2009, p. 46). Existem quatro fases históricas do Direito do Trabalho, cada qual delimitada de acordo com a época e contexto social existente. Discorreremos acerca da quarta fase, objeto do presente estudo, caracterizada pela crise de transição do Direito do Trabalho, que se caracteriza por: Uma acentuada desregulação, informalização e desorganização do mercado de trabalho, especialmente nos países semiperiféricos ao capitalismo central (Brasil, incluído especificamente na década de 1990), porém sem que criassem alternativas minimamente civilizadas de gestão trabalhista, em contraponto com o padrão juslaborativo clássico. (DELGADO, 2016, p. 104). De acordo com a reflexão acima, a crise do Direito do Trabalho está intimamente ligada com o desarranjo do mercado de trabalho, que se deu por conta dos desajustes entre valores econômicos e sociais. Observe que nenhuma alternativa foi criada a fim de organizar a instabilidade desse mercado, muito pelo contrário, foi alterada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com o advento da Lei n. 13.509, aprovada em 22 de novembro de 2017, pelo 10 atual governo, no intuito de privilegiar patrões e grandes empresários, em detrimento da classe trabalhadora. A instabilidade e insegurança no trabalho sempre existiu, porém, com a entrada em vigor da lei acima, conhecida como Reforma Trabalhista, todas as questões que envolvem a classe trabalhadora encontram-se sob alerta. A ausência da estabilidade e segurança dentro e fora do trabalho, a violação sistemática dos direitos no trabalho e a ausência de uma retribuição minimamente justa constituiem-se como causas directas e fundamentais das desigualdades.
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