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R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação: implicações sobre a velocidade e as diferentes manifestações de força Changes for speed and strength measures with selective loads system in basketball players during a mesocycle MOREIRA, A., OKANO, A.H., SOUZA, M., OLIVEIRA, P.R., GOMES, A.C. Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação: implicações sobre a velocidade e as diferentes manifestações de força. R. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e Mov. . . . . 2005; 13(2): 7-15. RRRRRESUMOESUMOESUMOESUMOESUMO - - - - - O propósito do presente estudo foi analisar as alterações dos indicadores de velocidade e de força (explosiva) acarretadas pelo treinamento realizado segundo os conceitos do sistema de preparação de cargas seletivas durante um mesociclo do período pré-competitivo. A amostra foi constituída por nove atletas do sexo feminino de uma equipe adulta de basquetebol participantes do campeonato paulista da divisão principal (A1). O mesociclo de treinamento teve a duração de cinco semanas (cinco microciclos) de treinamento com predominância seletiva das cargas dirigidas ao aperfeiçoamento da resistência especial e da força, com um subseqüente aumento gradativo do volume de realização dos exercícios de alta intensidade metabólica e de caráter especializado. Foram realizados testes de controle em dois momentos distintos do mesociclo de treinamento (início [T1] e final [T2] do mesociclo): Salto vertical -Squat jump (SV), salto vertical contramovimento (SVCM), salto horizontal (SHP), salto horizontal triplo consecutivo perna direita (STCD) e perna esquerda (STCE) e teste T adaptado (C40). Recorreu-se ao teste t de amostras emparelhadas para analisar as diferenças entre T1 e T2. Os resultados demonstraram alteração positiva e estatisticamente significante (p<0,05) para todas as variáveis analisadas. A análise dos dados do presente estudo demonstrou a possibilidade de utilização dos conceitos do modelo de cargas seletivas para este grupo avaliado durante o mesociclo em questão. PPPPPALAVRASALAVRASALAVRASALAVRASALAVRAS-----CHAVECHAVECHAVECHAVECHAVE - - - - - basquetebol, força explosiva, velocidade, periodização. MOREIRA, A., OKANO, A.H., SOUZA, M., OLIVEIRA, P.R., GOMES, A.C. Changes for speed and strength measures with selective loads system in basketball players during a mesocycle. R. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e MovR. bras. Ci e Mov. . . . . 2005; 13(2): 7-15. AAAAABSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACT - - - - - The purpose of the present study was to analyze the changes of the speed and explosive strength indicatives in result of training according to the concepts of the selective loads system during a mesocycle of the pre-competition period. The sample was constituted by nine female athletes of an adult basketball team taking part in the SP championship main division (A1). The training cycle lasted five weeks (five microcycles) of training with selective predominance of loads driven to improvement of special resistance and strength, with subsequent gradual increase of the high metabolic intensity and special character exercising volume. The following control tests were run during two distinct periods of the training mesocycle (beginning (T1) and ending (T2) of the mesocycle: vertical jump – squat jump (SV) vertical jump with countermovement (SVCM), horizontal jump (SHP), horizontal consecutive triple jump right leg (STCD) and left leg (STCE) and T test adapted (C 40). Paired t-tests analyses were used to determine differences in performance between T1 and T2, setting the alpha level at 0.05. The results showed positive alteration and statistical significant of T1 towards T2 for all analyzed variables. The analyzed data show the possibility of using the selective load for this group during this specific mesocycle. KKKKKEYWORDSEYWORDSEYWORDSEYWORDSEYWORDS - - - - - basketball, explosive strength, speed, periodization. Alexandre Moreira1,2,3,5 Alexandre Hideki Okano2,5 Marcel De Souza3 Paulo Roberto de Oliveira2 Antonio Carlos Gomes4 Recebimento: 26/11/2004 Aceite: 23/03/2005 E D I T O R A ciência movimento REVISTA BRASILEIRA DE ISSN 0103-1716 &A R T I G O O R I G I N A L 1 M&V-Centro de Preparação Física Individualizada - SP 2 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP- Faculdade de Educação Física 3 Databasket 4 Clube Atlético Paranaense 5 Grupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício – UEL Correspondence: Rua República do Iraque, 1263 - Campo Belo - São Paulo – SP - BRASIL - CEP. 04611-002. (11) 50416923 – fax e telefone; E-mail: mv-cpfi@uol.com.br RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:217 8 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação Introdução O conhecimento relativo ao basquetebol deve ser constantemente revisado e atualizado, principalmente por se tratar de um desporto coletivo altamente dinâmico e de constante evolução técnica, tática e, conseqüentemente, física 22 . Devido a esta problemática, atenção especial deve ser dirigida na busca do conhecimento inerente aos fatores que influenciam decisivamente no constante aumento da capacidade de trabalho dos basquetebolistas, bem como, as suas relações e contribuições distintas nos diferentes momentos da temporada, associadas à estruturação do processo de preparação. O Brasil, apesar de possuir um título de campeão mundial feminino de basquetebol conquistado em 1994, medalha de prata na olimpíada de 1996, medalha de bronze na olimpíada de 2000, vice-campeão mundial na categoria sub-21 em agosto de 2003, carece de um material teórico-pedagógico- metodológico que demonstre os efeitos das distintas cargas de treinamento na preparação dos basquetebolistas e, ainda, de dados consistentes que ofereçam subsídios importantes relacionados aos principais fatores determinantes da capacidade especial de trabalho e da organização racional e efetiva do processo de preparação. Para Matveev 19 , no processo de preparação desportiva, é fundamental compreender e relacionar os fatores que influenciam a preparação e a dinâmica da resposta de adaptação dos sistemas orgânicos dos desportistas submetidos a estas influências, que por sua vez, provocam as alterações no nível de preparação destes atletas. Não se pode limitar a observação somente à algumas alterações funcionais ou mesmo morfofuncionais no organismo do desportista, desconsiderando a causa, ou seja, o que foi desenvolvido durante a preparação e que efetivamente condicionou as adaptações observadas. A possibilidade da observação dos fatores supracitados, ou seja, da relação entre conteúdo da preparação e alteração da condição física do desportista, é possível, sobretudo, mediante o rígido controle da dinâmica das cargas durante as distintas etapas da estruturação da preparação. Nesta linha de raciocínio, Hilyer 14 expõe a importância da planificação no treinamento do basquetebol, observando que a mesma requer atenção especial a fim de que se possa realizar uma temporada eficaz. Na maioria das vezes, no Brasil, os treinadores utilizam- se da metodologia clássica de estruturação do treinamento 18,28 com períodos bem definidos, como os períodos preparatórios, competitivos e transitórios. Siff e Verkhoshansky 30 citam dois sistemas de distribuição das cargas de treinamento. O primeiro reflete a concepção tradicional supracitada, e consiste na organização do treinamento de forma concorrente e de utilização da carga de maneira diluída, compreendendo um treinamento paralelo de várias capacidades motoras e suas manifestações, como a força, a velocidade e a resistência, ao longo de um mesmo período, com o objetivo de desenvolvimento e aperfeiçoamento multifacetado da forma física. Um segundo sistema, caracterizado como contemporâneo, e que tem sido alvo de utilização e investigação pelosespecialistas do desporto mundial atual, é denominado de sistema de cargas concentradas 28,30,34,36 . Este sistema preconiza a utilização do método de seqüência conjugada, que compreende a introdução sucessiva no programa de treinamento de meios específicos, separados e concentrados no tempo em função do potencial, direção e efeitos acumulativos e posteriores, ou seja, o sistema prevê a concentração de cargas de diferentes orientações fisiológicas em determinadas etapas concretas da preparação, por conseqüência, tem-se a predominância de estímulos unilaterais em fases distintas do processo de treinamento e uma constante introdução de meios/métodos cada vez mais potentes e com direções bem definidas. O sistema de cargas concentradas tem sido utilizado não somente em desportos de força- velocidade, mas também em jogos desportivos 20-24,26,32 . Dentre estes estudos, os especialmente delineados para o basquetebol demonstraram a ampla possibilidade de utilização do modelo de cargas concentradas e a eficácia do sistema de treinamento em bloco representada pelo significativo incremento da capacidade especial de trabalho nos momentos das intervenções (competições) principais. RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:218 9 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 A. Moreira e t a l . Um dos problemas relacionados com o processo de preparação desportiva adotando os modelos tradicional e contemporâneo (cargas concentradas), sem dúvida, tem sido o período reduzido destinado a preparação em função do calendário desportivo. Neste sentido, Gomes 10 preconizou o modelo de cargas seletivas com o objetivo de atender ao calendário dos desportos coletivos, em especial, a modalidade de futebol. O autor justifica a utilização deste modelo em virtude do futebol não apresentar um período suficiente para uma boa preparação dos atletas antes do início dos jogos oficiais. No presente estudo, a equipe feminina de basquetebol que constituiu a amostra incluía-se exatamente na problemática da ausência suficiente de tempo para uma boa preparação antes do inicio da competição principal. Considerando esse aspecto, o objetivo foi investigar as possíveis alterações funcionais (força [explosiva] e velocidade) decorrentes da utilização do sistema de cargas seletivas em uma equipe de basquetebol feminino adulto participante da divisão principal do campeonato paulista, sendo esta competição, o principal campeonato estadual organizado no Brasil. Sujeitos e Métodos AmostraAmostraAmostraAmostraAmostra Participaram do estudo nove atletas do sexo feminino, integrantes de uma equipe adulta participante do campeonato paulista de basquetebol da divisão principal (A1), com média e amplitude para, idade: 24,6 anos (18,4-32,3 anos), massa corporal: 71,5 kg (55,5-92,1 kg) e estatura 177,3 cm (170- 185cm). Todas as atletas preencheram termo de consentimento livre e esclarecido antes da participação no estudo. Os testes de controle (testes) constituíam-se de um componente regular da preparação. Assim, todas as atletas estavam familiarizadas com todos os testes e procedimentos de controle. A equipe em questão era constituída de 12 atletas, porém, 03 ainda da categoria juvenil e, portanto, não relacionadas para o presente estudo. As nove atletas participantes da investigação cumpriram integralmente todo o programa de treinamento preconizado. TTTTTestes de contrestes de contrestes de contrestes de contrestes de controleoleoleoleole Os testes de controle dos indicadores de força explosiva aplicados nos momentos T1 e T2 do mesociclo de treinamento foram: salto horizontal (SHP), salto horizontal triplo na perna direita (STCD) e salto horizontal triplo na perna esquerda (STCE) [SHP, STCD e STCE, sem deslocamento prévio – saída parada], salto vertical na plataforma de contato “contramovimento” (SVCM) e salto vertical – “Squat Jump” (SV) sem a utilização da técnica do contramovimento. Todos os testes de saltos utilizados no presente estudo apresentam confiabilidade e reprodutibilidade relativamente altas 16 . Os testes foram selecionados a partir de “baterias’ de testes amplamente conhecidas e utilizadas nos mais diversos estudos relacionados às medidas de força de salto(explosiva) 2,3,12,17,35 . Com relação ao indicador de velocidade, adotou-se o teste T-40 metros (C40) (vide Figura 1): atleta posicionada em pé atrás da linha de saída- chegada (A). A atleta correu em linha reta, Figura 1. Esquema ilustrativo do teste de deslocamento cíclico-acíclico (C40). RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:219 10 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação percorreu uma distância de 10 metros até uma linha demarcada com um cone (B); pisou nesta linha e mudou a direção para a esquerda sem cruzar as pernas; percorreu, então, uma distância de cinco metros até uma outra linha também demarcada com um cone (C); ao pisar nessa linha, a atleta retornou na direção anterior, porém se dirigiu até o outro extremo do T, percorreu, então, desta maneira, mais 10 metros (D); em seguida, a atleta retornou até o cone do centro, percorrendo uma distância de cinco metros (B) e, então, se dirigiu até a linha de saída-chegada (A), totalizando 40 metros. Para a medida do tempo utilizou-se um cronômetro profissional da marca TIMEX. Em todos os testes de controle foram realizados três tentativas com intervalo de dois a três minutos entre as mesmas, sendo considerada a melhor tentativa. No que se refere a seqüência de aplicação dos testes de controle, no primeiro dia foram realizados os testes de SVCM, SV e SHP enquanto que no segundo dia foram administrados os testes STCD, STCE e C40. Desenho experimentalDesenho experimentalDesenho experimentalDesenho experimentalDesenho experimental O estudo desenvolveu-se desde o início da etapa de preparação para a competição alvo até a quinta semana de treinamento, a qual, caracterizou o final do primeiro mesociclo do primeiro macrociclo de preparação do ciclo anual. De acordo com os conceitos do sistema adotado (cargas seletivas), determinadas orientações de cargas devem possuir em cada instante da preparação um “peso” maior sobre as demais, e, ao longo da preparação, a importância de utilização das diferentes orientações de cargas vai se modificando. Assim sendo, neste primeiro mesociclo de treinamento, predominaram de forma seletiva as cargas de resistência aeróbia e especial (mista), assim como aquelas relacionadas às manifestações de força. Os métodos de treinamento da resistência especial, utilizados preferencialmente durante este mesociclo foram os contínuos variados e intervalados extensivos médios, preconizados por Moreira 20 para o basquetebol, além dos treinamentos coletivos e jogos reduzidos. No tocante ao treinamento de força, seguiu-se o princípio especial do treinamento desportivo, relacionado ao incremento progressivo da carga e do gradativo aumento na utilização de meios e métodos de caráter especial. Utilizou-se da introdução sucessiva (sistema de seqüência conjugada) 20,30 de meios e métodos de maior potencial de treinamento, passando-se gradativamente dos exercícios de menor potencial para os de potencial de treino mais elevado. Iniciou-se a programação com predominância do treinamento resistido (treinamento com pesos) e passando gradativamente a utilização de um maior volume dos exercícios de ação muscular reversível (pliométricos) de baixa para alta intensidade. Esta abordagem tem sido sugerida para a redução das chances de lesões 11 desenvolvimento de uma “base” de força 1,11,39 e advogada no sentido de preparar o sistema músculo esquelético para forças de alto impacto 7 . O treinamento de força buscou concentrar gradativamente as tarefas que propiciavam a realização dos movimentos rápidos, como os multisaltos, corrida com tração, entre outros. A musculação realizou- se como meio complementar do treinamento de força máxima e explosiva, através dos métodos de contraste, breve duração, explosivos e repetidos6,8,9,20,25,30 . As cargas de alta intensidade metabólica e as competitivas foram, neste momento, utilizadas em menor volume e possuíram caráter complementar. A velocidade foi desenvolvida através de exercícios de reação, aceleração máxima e de resistência, devido à exigência especial do basquetebol. O volume de utilização dos esforços nestes domínios crescia gradativamente, como se pode perceber nas Tabelas 1 e 2. Foram realizadas 51 sessões de treinamento ao longo da investigação (49 sessões durante as cinco semanas, mais duas sessões de para aplicação dos testes de controle na sexta semana). Durante este período foram realizados apenas quatro jogos. O primeiro momento de coleta de dados (T1) foi realizado durante a primeira semana do mesociclo e o segundo momento (T2) foi realizado no início da sexta semana de treinamento, após a fase de descarga do microciclo anterior. A sexta semana, demonstrada também na Tabela 1, não fez parte da investigação experimental, no entanto, as duas sessões de coleta de dados em T2, foram realizadas nas duas primeiras sessões do sexto microciclo. RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:2110 11 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 A. Moreira e t a l . Observa-se na Tabela 1, o número de jogos durante o mesociclo, assim como, o total de dias de treinamento e as tarefas desenvolvidas. A Tabela 2 mostra a distribuição das capacidades de treinamento no mesociclo, em minutos. Procedimentos estatísticosProcedimentos estatísticosProcedimentos estatísticosProcedimentos estatísticosProcedimentos estatísticos Recorreu-se ao teste de normalidade de Shapiro-Willks o qual demonstrou que a distribuição não se desviava da distribuição normal (p>0.05 para todas as variáveis); assim sendo, utilizou-se o teste t de amostras emparelhadas (paramétrico) a fim de determinar o nível de significância das diferenças entre os escores das atletas de T1 para T2. O grau de significância empregado foi de p<0.05. Resultados As Figuras 2-3 demonstram as alterações de T1 para T2 nos exercícios de controle (testes) utilizados pelo presente estudo expressas em mediana e semi-amplitude interquartílica. Houve melhora significante no indicador de velocidade cíclica-acíclica (C40) durante o mesociclo investigado (T1= 9,60 ± 0,30 s vs T2= 9,28 ± 0,13 s; p<0,05). Da mesma forma, constatou-se alterações significantes e positivas (p<0,05) em todos os indicadores das diferentes manifestações de força (explosiva) de T1 para T2 (SVCM, T1= 22,80 ± 2,35 cm vs T2= 27,50 ± 2,30 cm; SV, T1= 22,40 ± 2,15 cm vs T2= 26,70 ± 1,95 cm; STCD, T1= 5,00 ± 0,27 cm vs T2= 5,66 ± 0,15 cm; STCE, T1= 5,08 ± 0,17 cm vs T2= 5,42 ± 0,20 cm; SHP, T1= 1,87 ± 0,08 m vs T2= 1,94 ± 0,08 m). Discussão O presente estudo buscou observar as alterações funcionais decorrentes da utilização do sistema de cargas seletivas reveladas através dos exercícios de controle relacionados às medidas de força (explosiva) de saltos e velocidade ao final de um mesociclo pré- competitivo do primeiro macrociclo de preparação do ciclo anual, que coincidiu, com o início da competição principal. Neste momento da preparação realizou-se um percentual superior de utilização das cargas de resistência especial e de força, com um volume menor, porém crescente, relacionado à utilização das cargas de velocidade e de competição. Tabela 1. Programação do mesociclo de treinamento Tabela 2. Distribuição do treinamento das capacidades Mesociclo de Treinamento Total de dias de treinamento 6 7 6 6 6 Número de sessões 12 11 9 10 9 Jogos oficiais 1 1 1 1 1 Semana 1 2 3 4 5 6 Testes de controle x x Controle de carga x x x x x x Velocidade x x x x x Força x x x x x X Resistência aeróbia x x Resistência especial x x x x x X Flexibilidade x x x x x X Exercícios de recuperação x x x x X x Exercícios profiláticos/ posturais x x x x x X Exercícios técnicos-táticos x x x x x x Distribuição (min) Semanas 1 2 3 4 5 Resistência 430 290 320 300 320 Flexibilidade 220 160 180 80 160 Força 240 250 80 270 90 Velocidade 30 40 80 100 110 Técnico-tático 180 180 170 180 170 RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:2111 12 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação Figura 2. Dinâmica de alteração da velocidade de deslocamento cíclico-acíclico (C40) durante o mesociclo de preparação expressa em mediana e semi-amplitude interquartílica. Figura 3. Dinâmica de alterações das diferentes manifestações de força explosiva de saltos durante o mesociclo de preparação expressa em mediana e semi-amplitude interquartílica. 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 C40 s e g u n d o s T1 T2 A 0 5 10 15 20 25 30 35 SVCM SV ce n tí m et ro s T1 T2 B 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 STCD STCE m e tr o s C 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 SHP m e tr o s RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:2112 13 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 A. Moreira e t a l . O sistema de cargas seletivas, assim como o sistema de cargas concentradas (bloco), tem como alvo principal o aperfeiçoamento das capacidades de velocidade. O volume de treinamento neste modelo oscila muito pouco durante todo o ciclo anual, conseqüentemente, para Gomes 10 , a forma desportiva apresenta uma tendência de melhora durante toda a etapa. Gomes 10 afirma que a velocidade de movimento é de fundamental importância na evolução da performance e preconiza que já no segundo mês de treinamento se dê prioridade ao desenvolvimento do sistema nervoso muscular, sucedendo o trabalho anterior cujo conteúdo predominante deve ser da resistência especial, com crescente utilização dos meios e métodos direcionados para o aperfeiçoamento da força, velocidade e particularidades técnicas e táticas. No que se refere aos resultados encontrados neste estudo, a melhora significante de C40 de T1 para T2 (Figura 2) é bastante importante no que tange ao estudo das orientações de carga de treinamento e o efeito posterior. A relevância de C40 associada à avaliação do rendimento em desportos que envolvam rápidas e constantes mudanças de direção foi observada por Pauole et al. 27 que demonstraram a validade e reprodutibilidade do teste T (C40) como uma medida de força explosiva, velocidade de deslocamento e de agilidade. Por sua vez, Moreira 20 salientou a necessidade de uma avaliação criteriosa e minuciosa no tocante a utilização de exercícios de controle que envolvam rápidas mudanças de direção, dada a diferença de alteração que o autor verificou para corridas de velocidade cíclica (corrida de 30m em linha reta) e cíclica-acíclica (C40) quando avaliadas em distintos momentos ao longo de um ciclo anual de preparação. Sendo assim, no basquetebol, pode-se especular que os testes de controle que envolvam paradas bruscas e mudanças rápidas de direção, sejam mais sensíveis na avaliação da capacidade de velocidade especial. Esta hipótese pode ser corroborada pelos achados do estudo supracitado 20 que verificou incrementos mais significativos para a velocidade de deslocamento cíclico-acíclico do que para a velocidade de deslocamento cíclico (teste de 30m), principalmente no período de competição. Verkhoshansky 37 afirma que a velocidade é um importante indicador do nível técnico demonstrando através da atividade competitiva das atletas, que maiores níveis de qualificação (liga superior) estão diretamente relacionados com o incremento da velocidade de deslocamento. Verkhoshansky e Lazarev 38 advogam que o principal objetivo de um treinamento de força e velocidade deve ser o desenvolvimento da velocidade. Assim, a planificação do treinamento deve ser composta de atividades e métodos bem estruturados, de forma a contribuir com o desenvolvimento da velocidade e resistência de velocidade do atleta. Portanto, assumindo a importância dos índices relacionados ao desempenho em C40, é razoável admitir a eficácia da organização das cargas de treinamento durante o mesociclo em questão. Durante o mesociclo investigado observa- se(Tabela 2) uma crescente utilização de um maior volume de treino destinado ao aperfeiçoamento da velocidade de deslocamento, no entanto, mesmo entendendo que a predominância das orientações de cargas de treinamento destinaram-se à resistência especial e ao treinamento técnico-tático, verificou-se alterações importantes e significantes da velocidade de deslocamento. Desta forma, no mesociclo subseqüente é plausível especular sobre um possível incremento da velocidade de deslocamento, no qual, o peso específico das cargas de velocidade e de competição seria relativamente maior. Esta especulação é sustentada pela teoria dos diferentes efeitos posteriores de treinamento (modelo da fadiga- condicionamento) 4 que sugere que a utilização com ênfase de treinamento para uma manifestação ou capacidade motora especial, levaria a uma melhora da capacidade enfatizada, ao passo que poder-se-ia diminuir o nível dos demais aspectos (capacidades/ manifestações) da performance. A Figura 3 demonstra a dinâmica de alteração dos indicadores das diferentes manifestações da força de saltos (explosiva). Assim como para C40, verificou-se alterações positivas e estatisticamente significante da força explosiva vertical de membros inferiores, tanto relacionado à utilização da energia elástica armazenada a partir da ação muscular reversível (SVCM), quanto ao rendimento RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:2113 14 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 Sistema de cargas seletivas no basquetebol durante um mesociclo de preparação associado mais especificamente aos componentes contráteis e realizados a partir da tensão voluntária normal, identificados pelos resultados do SV. As particularidades relacionadas ao SVCM e SV foram largamente investigadas pela literatura especializada, assim como, as diferenças mecânicas e neuromotoras existentes entre os mesmos 33 . Moreira et al. 21 ,Driss et al. 5 , Young et al. 40 e Hennessy 12 observaram a correlação importante entre as medidas de força e velocidade; os resultados apresentados no presente estudo parecem indicar a mesma tendência de incremento significante, tanto para a velocidade, quanto para a força explosiva vertical, assim como, para SHP (Figura 3), assumida no presente estudo como uma força de característica mais generalizada do que SVCM e SV, dada a correspondência dinâmica entre os exercícios de controle e os exercícios fundamentais da modalidade. Os exercícios de controle STCD e STCE demonstram a mesma dinâmica de evolução verificada para C40, SVCM, SV e SHP. Esta importante manifestação de força foi avaliada e utilizada como indicador, a partir de saltos triplos ou sêxtuplos alternados ou consecutivos, em outros diversos estudos nos desportos coletivos 20-24,26,32 e em especial no basquetebol 20-24 . No presente estudo, a manifestação da força explosiva horizontal, associada as particularidades da capacidade reativa, apresentou melhora significante decorrente da utilização do modelo de cargas seletivas na equipe feminina de basquetebol avaliada, tanto para STCD quanto para STCE. Esta tendência similar de incremento tanto para o lado direito, quanto para o lado esquerdo, é extremamente importante, pois, por exemplo, os achados de Moreira 20 demonstram que a resposta de adaptação da força rápida, quando medida através de exercícios de controle de saltos consecutivos para as duas pernas de forma diferenciada, pode apresentar ocorrências diversas, justificadas pela distinta solicitação entre a perna de apoio e a perna contralateral. É possível admitir que tais ocorrências possivelmente seriam mais acentuadas durante as etapas cujo conteúdo predominante estaria relacionado às cargas de competição, o que levaria a uma utilização de maior magnitude de trabalhos unilaterais e específicos relacionados fundamentalmente à mecânica específica dos movimentos de competição. Uma das limitações do presente estudo está atrelada a falta de grupo controle e a amostra reduzida. Considerando este aspecto, recentemente, Stone et al. 31 apresentaram suas considerações para a necessidade da distinção entre os conceitos de Ciência do Exercício e Ciência do Esporte, e ainda, demonstram a carência de publicações relacionadas ao fenômeno desporto propriamente dito, ou seja, à Ciência do Esporte, entendida como aquela desenvolvida com o objetivo de proporcionar o incremento da performance desportiva através da aplicação de métodos e princípios científicos 31 . Segundo os autores supracitados a Ciência do Esporte deve envolver uma integração rígida e regular de testes (avaliações de controle) e feedback, assim como uma pesquisa prática e aplicada e, em função disto, deve ser relacionada à monitoração do desenvolvimento dos desportistas com a utilização de múltiplas medidas e avaliações, em especial, de caráter longitudinal. Apesar da importância imensurável no tocante a análise dos dados coletados nesta realidade, obtidos com uma população específica e habitualmente “rara”, surge a dificuldade de se atender determinadas abordagens acadêmicas baseadas em pesquisas de pré/pós-teste com a utilização de grupos controle, quando, por definição, atletas de alto rendimento são únicos e assim sendo, um grupo controle para comparação é quase impossível de se obter. Estas considerações apontam para a importância de se buscar delineamentos e “tipos” de pesquisas com uma maior validade externa (condições em que realmente o fenômeno se apresenta) e dirigir os esforços para uma verdadeira análise do desporto e suas facetas. O presente estudo assume suas limitações quando analisado sob a ótica tradicional da Ciência do Exercício (grupo controle, amostra reduzida, etc), no entanto, oferece a possibilidade de se observar fenômenos e condições pertinentes ao desporto de alto rendimento, que claramente são ainda bastante escassos e limitados, talvez também, por conta das considerações acima realizadas; esta escassez é ainda mais pronunciada quando se trata de investigações com atletas de alto rendimento do sexo feminino 13 . RBCM vol. 13 n.3.p65 24/02/2006, 09:2114 15 R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(3): 7-16 A. Moreira e t a l . Mediante as considerações anteriores é razoável admitir que os achados do presente estudo podem colaborar com a abertura de um novo caminho metodológico no tocante a organização do treinamento no basquetebol, visto que, parece ser a primeira investigação conhecida da utilização do sistema de cargas seletivas no basquetebol adulto. No entanto, faz-se necessária a realização de um maior número de pesquisas relacionadas à utilização do sistema de cargas seletivas no basquetebol, assim como a adoção de diferentes variantes de estruturação a partir do sistema, bem como, outras investigações que permitam observar a dinâmica de alteração ao longo de um macrociclo de preparação, ou ainda, as associadas aos ciclos de longo prazo. Os resultados obtidos não excluem a possibilidade de outros modelos de organização das cargas de treinamento produzirem resultados similares, entretanto, é razoável admitir a eficácia deste modelo mediante as alterações decorrentes da organização proposta. Conclusão O presente estudo demonstrou a eficácia do sistema de cargas seletivas no mesociclo pré-competitivo para a equipe estudada através da observação de alterações estatisticamente significantes das capacidades força (explosiva) de salto e velocidade em atletas de alto rendimento do sexo feminino. Estas alterações foram verificadas através dos indicadores de força explosiva, caracterizados pelas medidas de força de salto vertical com contramovimento (SVCM), sem a utilização da técnica de contramovimento (SV), salto horizontal (SHP), salto horizontal triplo consecutivo perna direita (STCD) e perna esquerda (STCE), e também para o teste T adaptado (C40) [velocidade cíclica-acíclica]. As alterações verificadas demonstram uma mesma tendência de adaptação para as diferentes formas de manifestação da força explosiva de saltos, indicadas pelos distintos exercícios de controle de saltos.Referências Bibliográficas 1. Bauer T, Thayer RE, Boras G. Comparison of training modalities for power development in the lower extremity. JourJourJourJourJournal of Applied Spornal of Applied Spornal of Applied Spornal of Applied Spornal of Applied Sports Science Researts Science Researts Science Researts Science Researts Science Researchchchchch 1990;4:115-21. 2. 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