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Bases teóricas da nova interpretação constitucional

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1 
 
 
 
 2 
AULA 2: AS BASES TEÓRICAS DA NOVA INTERPRETAÇÃO 
CONSTITUCIONAL 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 4 
O NEOCONSTITUCIONALISMO E A REAPROXIMAÇÃO ENTRE O DIREITO E A ÉTICA 4 
INTERPRETAÇÃO E HERMENÊUTICA FILOSÓFICA NO PENSAMENTO DE GADAMER 6 
CONHEÇA AGORA A TÓPICA DE VIEHWEG E A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO DE PERELMAN 8 
A TÓPICA NA VISÃO DE PAULO BONAVIDES 11 
ATIVIDADE PROPOSTA 15 
REFERÊNCIAS 16 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 19 
CHAVES DE RESPOSTA 22 
ATIVIDADE PROPOSTA 22 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 22 
 
 
 
 
 3 
Introdução 
A hermenêutica contemporânea é uma arte da compreensão. Assim, desde 
cedo, assinalamos que a hermenêutica não pode ser concebida como método, 
mas sim como estudo da compreensão. 
 
Para dar sustentáculo à nova interpretação constitucional, é preciso conhecer 
os argumentos teóricos utilizados, sobretudo, com fundamento nas 
transformações conduzidas pelo neoconstitucionalismo. 
 
Nesse sentido, sobressai um conjunto de ideias desenvolvido pela doutrina e 
jurisprudência, com alicerce em premissas filosóficas, metodológicas e 
epistemológicas distintas, como a hermenêutica filosófica de Gadamer, a 
tópica de Viehweg e a teoria da argumentação de Perelman. A partir dessas 
teorias, teve início a tentativa de levar racionalidade ao discurso jurídico. 
 
Objetivos: 
1. Compreender as bases teóricas da nova interpretação constitucional. 
 
 
 
 4 
Conteúdo 
O neoconstitucionalismo e a reaproximação entre o direito e a 
ética 
A ideia de uma nova interpretação constitucional não importa na 
desconsideração dos métodos tradicionais, mas de novos fatores que 
surgiram a partir do reconhecimento de que nem sempre a norma jurídica 
traz em si um único sentido, válido para toda e qualquer situação. Os casos 
que são apresentados ao Judiciário nem sempre desoneram o intérprete de 
buscar um papel mais criativo para resolver o problema. Sob essa 
perspectiva, o neoconstitucionalismo fundamenta a nova interpretação 
constitucional. 
 
Independentemente de haver poderosas vozes contrárias à ideia de uma linha 
pós-positivista, sustenta-se que, a partir dela, torna-se necessária uma 
reconstrução da interpretação constitucional. 
 
Luís Roberto Barroso esforça-se para demonstrar as transformações sofridas 
pelo direito constitucional e, para tanto, afirma existirem três marcos 
fundamentais: o histórico, teórico e o filosófico. 
 
O marco histórico na Europa pode ser inferido pelo término da Segunda 
Guerra Mundial que fixou o início do processo de reconstrução do Direito 
Constitucional nos países desse continente. Já no Brasil, a elaboração da 
Constituição de 1988 foi importante para demarcar divisas necessárias ao 
estabelecimento de uma nova perspectiva do direito constitucional. Nesse 
sentido Luís Roberto Barroso afirma que: 
 
A reconstitucionalização da Europa, imediatamente após a Segunda 
Grande Guerra e ao longo da segunda metade do século XX, 
redefiniu o lugar da Constituição e a influência do direito 
constitucional sobre as instituições contemporâneas. 
 
 5 
 
(...) No caso brasileiro, o renascimento do direito constitucional se 
deu, igualmente, no ambiente de reconstitucionalização do país, por 
ocasião da discussão prévia, convocação, elaboração e 
promulgação da Constituição de 1988.1 
 
Cabe ressaltar que, na Europa, a denominada reconstitucionalização deu-se 
por meio das seguintes constituições: na Itália, pela Constituição de 1947; na 
Alemanha, pela Lei Fundamental de Bonn, de 1949; em Portugal, pela 
Constituição de 1976 e, na Espanha, pela Constituição de 1978. 
 
O marco teórico do neoconstitucionalismo está ligado a três grandes 
transformações ocorridas no direito constitucional: o reconhecimento da força 
normativa da Constituição; a expansão da jurisdição constitucional e a 
reelaboração doutrinária da interpretação constitucional. 
 
O marco filosófico, ainda bastante controvertido, foi a chegada do pós-
positivismo jurídico, caracterizado a partir da convergência entre o 
jusnaturalismo e o positivismo. As demonstrações trazidas pelo pensamento 
jusnaturalista, que aproximou a norma da razão, e o firme propósito de 
equiparar a lei ao direito, marcada pelo positivismo jurídico, formaram as 
bases que se assentaram a terceira via do pós-positivismo jurídico. 
 
Por ser considerado metafísico, o jusnaturalismo perdeu espaço para o 
positivismo jurídico e esse, afastando-se da ideia de justiça, sofreu enorme 
abalo científico após a Segunda Guerra Mundial. Sobre a derrocada do 
positivismo jurídico, devemos nos valer mais uma vez dos ensinamentos de 
Luís Roberto Barroso para quem: 
 
Sua decadência é emblematicamente associada à derrota do 
fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha, regimes que 
 
1 Barroso, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional. Os conceitos fundamentais e a construção 
do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 245-246. 
 
 6 
promoveram a barbárie sob a proteção da legalidade. Ao fim da 
Segunda Guerra, a ética e os valores começaram a retornar ao 
Direito, inicialmente sob a forma de um ensaio de retorno ao Direito 
natural, depois na roupagem mais sofisticada do pós-positivismo.2 
 
Assim, esse jurista ilumina as linhas mestras da nova interpretação 
constitucional e, ao mesmo tempo destaca o eclipse do positivismo 
normativista, alerta também para os desserviços das categorias metafísicas 
do direito natural. Eis aqui a essência da reconstrução neoconstitucionalista 
do direito contemporâneo, qual seja, a superação da racionalidade linguístico-
subsuntiva ligada ao texto da norma que cede à racionalidade discursiva 
associada à dimensão retórica das decisões judiciais. 
 
É importante perceber que através do pós-positivismo jurídico busca-se 
engrandecer a ideia de justiça, indo além da legalidade estrita, 
reaproximando o direito da ética. 
 
Mesmo possuindo bases filosóficas ecléticas, o pós-positivismo encontra 
contato imediato com ideias desenvolvidas por pensadores como Gustav 
Radbruch, em sua segunda fase (o que leva alguns a chamarem-no de “o 
segundo Radbruch”), John Rawls – por meio de sua teoria de justiça – e 
Jüngen Habermas – por intermédio de sua teoria do discurso. 
 
Interpretação e hermenêutica filosófica no pensamento de 
Gadamer 
O filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002), autor de "Verdade e 
Método - Esboços de uma Hermenêutica Filosófica", é um dos autores mais 
importantes sobre a hermenêutica contemporânea. 
 
 
2 Barroso, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional. Os conceitos fundamentais e a 
construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 248. 
 
 
 7 
Gadamer procura superar o problema hermenêutico relacionado ao conceito 
metodológico da moderna ciência. Para o filósofo, o fenômeno da 
compreensão perpassa a experiência da filosofia, a experiência da arte e a 
experiência da própria história. Em todos estes modos de experiência, 
manifesta-se uma verdade que não pode ser verificada com os meios 
metódicos da ciência. 
 
A hermenêutica desenvolvida por Gadamer se afasta de uma doutrina de 
métodos das ciências do espírito e procura caminhar para um olhar além de 
sua autocompreensão metódica através da experiência do homem no mundo. 
 
A compreensão em Gadamer é um projetar-se. Gadamer afirma que quem 
quiser compreender um texto realiza sempre um projetar. Tão logo apareça 
um primeiro sentido no texto, o intérprete prelineia o sentido do todo. Dessa 
maneira, a compreensão é um constante reprojetar-sea partir de 
determinadas perspectivas do intérprete. Tais perspectivas do intérprete 
(opiniões prévias) não devem ser confundidas com arbitrariedade do julgador. 
 
É nesse sentido que Gadamer ensina que “a compreensão somente alcança 
sua verdadeira possibilidade, quando as opiniões prévias, com as quais ela 
inicia, não são arbitrárias. Por isso faz sentido que o intérprete não se dirija 
aos textos diretamente, a partir da opinião prévia que lhe subjaz, mas que 
examine tais opiniões quanto à sua legitimação, isto é, quanto à sua origem e 
validez.” 
Gadamer fala dos preconceitos. Estes podem ser classificados em positivos e 
negativos: 
 
O caráter negativo está relacionado com a época da 
Ilustração/Iluminismo (Aufklärung), representando um “juízo 
não fundamentado” e decidido “diante do tribunal da razão” 
(preconceitos limitadores). 
 
 8 
Os preconceitos positivos são aqueles reconhecidos como 
legítimos e enlaçados com a questão central de uma 
hermenêutica verdadeiramente histórica. 
Já o conceito de horizontes, em Gadamer, expressa uma visão superior mais 
ampla, que aquele que compreende deve ter. Nas palavras de Gadamer, 
“ganhar um horizonte quer dizer sempre aprender a ver mais além do 
próximo e do muito próximo, não para apartá-lo da vista, senão que 
precisamente para vê-lo melhor, integrando-o em um todo maior e em 
padrões mais corretos”. 
 
A fusão de horizontes representa uma fusão do horizonte histórico com o 
horizonte do presente. Esta fusão se dá constantemente na vigência da 
tradição, já que neste locus hermenêutico o velho e novo crescem sempre 
juntos. 
 
Conheça agora a Tópica de Viehweg e a Teoria da 
Argumentação de Perelman 
Em 1953, o jurista alemão Theodor Viehweg, através de sua obra Tópica e 
Jurisprudência (Topik und Jurisprudenz) prestigiou um novo estilo de 
argumentação jurídica: o método tópico de interpretação judicial. Viehweg 
procurou enfatizar que a Ciência do Direito (jurisprudência) é concebida a 
partir do pensamento problemático. 
 
O método tópico de interpretação constitucional é chamado de Nova 
Hermenêutica por Paulo Bonavides, que influenciou vários juristas na 
Alemanha, tais como: Peter Häberle, Friedrich Müller e Konrad Hesse. 
 
A nova interpretação constitucional, com base no neoconstitucionalismo, 
como vimos, busca a reaproximação entre o Direito e a Ética pela superação 
do discurso axiomático-dedutivo da escola positivista do direito. É nesse 
contexto de revalorização da dimensão axiológica do direito que despontou a 
 
 9 
teorização de Theodor Viehweg a partir de sua obra seminal Tópica e 
jurisprudência e do belga Chaim Perelman, com a obra feita em parceria com 
Lucie Olbrechts-Tyteca e denominada Tratado da Argumentação: a nova 
retórica, 1996. 
 
O método tópico de Viehweg se contrapõe à ideia de pensamento dedutivo, 
na medida em que é aplicado ao problema, isto é, tem por base o raciocínio 
voltado para o problema e não para a norma em si. A tópica tem, portanto, 
caráter indutivo que parte do caso particular para o geral, possivelmente, 
seja esta a maior razão que impede seu uso corrente pelos órgãos do Poder 
Judiciário. No pensamento tópico, a decisão final do intérprete deve basear-se 
no exame de um catálogo de pontos de vista (topoi) que podem igualmente 
incidir sobre o caso concreto a ser examinado. 
 
Assim sendo, observe, com atenção, que a tópica é um sistema indutivo – 
problemático (no sentido de que o ponto de partida é o problema), isto é, 
parte do particular para o geral e é voltado para a solução de um problema. 
Nas palavras do próprio Viehweg, a tópica é um processo especial de 
tratamento de problemas ou técnica do pensamento problemático mediante o 
emprego de topoi, vale dizer, pontos de vista utilizáveis em múltiplas 
instâncias, com validade geral, que servem para a ponderação dos prós e dos 
contras das opiniões e podem conduzir-nos ao que é verdadeiro. Eis que, no 
centro do método tópico viehwegiano está o problema concreto e não o 
contexto semântico da norma posta em abstrato. 
 
Em outros termos, o pensamento problemático é aporético e antissistêmico, 
no sentido de que não seleciona os problemas a partir do sistema, ao revés, 
parte do problema para chegar ao sistema. A questão chave na compreensão 
da tópica de Viehweg é perceber que a decisão final do juiz ou intérprete (a 
norma-decisão) é fruto do exame de um elenco de topoi que será ponderado 
dialeticamente para que se chegue a uma solução justa para o problema a 
resolver, e não o contrário, ou seja, o juiz primeiro decide e depois elabora a 
 
 10 
sua fundamentação com base em um dos pontos de vista relevantes 
previamente considerados. 
 
Note que a tópica sempre será uma forma de controle intersubjetivo da 
dimensão retórica das decisões judiciais, na medida em que os destinatários 
do discurso jurídico (os componentes da comunidade aberta de intérpretes da 
Constituição, tal qual formulada por Peter Häberle) estarão aptos a julgar a 
decisão final a partir da escolha dos topoi juridicamente relevantes na 
formulação daquela decisão, ou seja, a tópica contribui para o controle das 
decisões judiciais porque permite que todos os intérpretes da Constituição 
avaliem sua escolha a partir dos pontos de vista julgados relevantes para o 
caso concreto. 
 
Em síntese, é a escolha bem-feita desses pontos de vista (racionalidade 
tópico-problemática) que servirá de base para a aceitabilidade da decisão 
final pela comunidade aberta de intérpretes da Constituição. A tópica indutiva 
viehwegiana se pauta nos elementos juridicamente relevantes obtidos a partir 
da projeção dos dados factuais do caso concreto (fatos portadores de 
juridicidade) sobre a ordem jurídica dada. 
 
A ponderação dialética dos topoi é pré-condição para a aplicação da 
racionalidade tópico-problemática; é seu ponto de partida para chegar à 
decisão final, mas não existe um único ponto de vista correto para a solução 
do problema, ao revés, há uma série de topoi igualmente válidos e 
relevantes, cabendo ao juiz, a partir do exame dos fatos portadores de 
juridicidade, decidir o tópos que deve prevalecer. 
 
O pensamento tópico surge como um importante instrumento de superação 
da metodologia clássica, já que representa uma suplantação às questões 
axiológicas do direito positivo, em direção a uma decisão judicial alinhada ao 
“respectivamente justo”. 
 
 
 11 
É um novo estilo de argumentação jurídica de fundamentação dialética e 
persuasiva, mais consentâneo com a ciência do Direito, já que esta precisa 
responder aos anseios de uma sociedade multicultural. 
 
Através do pensamento tópico, o caso concreto decidendo deve ser pensado 
em toda a sua complexidade, com o firme propósito de problematizar-se o 
ideal de uma solução. Isso é possível de ser realizado através dos topoi, que 
são pontos retóricos de partida para a solução do problema. Segundo Tércio 
Sampaio Ferraz Jr., a expressão topos significa lugar (comum).3 
 
Tratam-se de fórmulas, variáveis no tempo e no espaço, de reconhecida força 
persuasiva, e que usamos, com frequência, mesmo nas argumentações não 
técnicas das discussões cotidianas. 
 
No direito, são topoi, neste sentido, noções como interesse, interesse público, 
boa fé, autonomia da vontade, soberania, direitos individuais, legalidade, 
legitimidade. 
 
A tópica na visão de Paulo Bonavides 
Para Paulo Bonavides, a tópica “parece haver chegado assim na hora exata 
quando as mais prementes e angustiantes exigências metodológicas põem 
claramente a nu o espaço em branco deixado pela hermenêutica 
constitucionalclássica, característica do positivismo lógico-dedutivo”. 
 
Bonavides afirma ainda que: 
 
A tópica é o tronco de uma grande árvore, que se esgalha em 
distintas direções e que já produziu admiráveis frutos, sobretudo 
quando reconciliou, mediante fundamentação dialética mais 
persuasiva, o direito legislado com a realidade positiva e 
 
3 FERRAZ Jr., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 
1994. 
 
 12 
circundante, criando pelas vias retóricas, argumentativas e 
consensuais, atadas a essa realidade, uma concepção muito mais 
rica e fecunda, muito mais aderente à “praxis” e às subjacências 
sociais do que as próprias direções antecedentes do sociologismo 
jurídico tradicional. Neste ponto já se pode dizer que a tópica 
ultrapassa, a um tempo, o sociologismo no Direito, o formalismo 
normativista e o jusnaturalismo, bem como a concepção sistêmica e 
dedutivista, de cunho meramente formal, com antecedências 
clássicas no pandectismo e na jurisprudência dos conceitos.4 
 
Em linhas gerais, o pensamento tópico se contrapõe ao pensamento 
sistêmico, sendo aquele mais adequado a valores pluralistas de uma 
sociedade, cujos conflitos de interesses são os mais ricos e contraditórios 
possíveis. Neste ponto, Viehweg recorre aos ensinamentos de Aristóteles, em 
especial, quanto à diferença entre as demonstrações apodíticas e dialéticas. 
 
O quadro abaixo sintetiza as principais características do pensamento tópico 
quando comparado com o pensamento sistêmico fechado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. 
p. 446. 
 
 13 
 
Pensamento Sistêmico Pensamento Tópico 
 Pensamento dedutivo 
 Dedução – lógica – sistemática 
 Visão sistemática da ciência do 
direito 
 Sistema fechado lógico-
dedutivo 
 Enquanto técnica jurídica da 
“praxis”, estaria voltada para o 
“respectivamente justo”. 
 O problema deve ser pensado 
em toda a sua complexidade. 
 Utilização de topoi: pontos 
retóricos de partida para a 
solução do problema. 
 Conhece o problema por via 
do debate e da argumentação 
persuasiva, com o fito de 
solucioná-lo satisfatoriamente. 
 Mais adequado à solução de 
problemas de uma sociedade 
aberta e pluralista. 
 
Dessa forma, a solução do caso concreto decidendo estaria relacionada ao 
modelo de argumentação tópica cuja problematização de seus argumentos 
apontariam para decisões judiciais mais próximas de um conceito de justiça. 
 
Melhor dizendo: Ao invés da utilização de um modelo de decisão judicial 
lógico-silogístico, o magistrado, a partir dos topoi, problematizaria a 
realização concreta do direito, a partir de um discurso jurídico indicando a 
melhor solução (plausível-verossímil) para o caso concreto decidendo. 
 
Além da tópica de Viehweg, é importante ainda examinar a obra de Perelman 
que se pauta no conceito diretor de que os debates nas relações humanas se 
dão em torno de argumentos, prevalecendo aquele que tiver melhor 
fundamentação para convencer os interlocutores, ou seja, para convencer o 
que Perelman denominou de auditório. Com isso, na teoria da 
 
 14 
argumentação jurídica, não existem verdades apodíticas, verdades 
incontestáveis, mas, sim, opções razoáveis capazes de promover a adesão do 
auditório. 
 
Com rigor, não se pode negar que o convencimento do auditório depende da 
fundamentação jurídica, ou seja, quanto maior o grau de coerência das 
razões expostas, maior a racionalidade do discurso e, portanto, maior a 
aceitabilidade da decisão pelo auditório, aqui sendo, aferida mais uma vez 
pela sociedade aberta de intérpretes da Constituição (Peter Häberle) que leva 
à democratização da jurisdição constitucional reduzindo o déficit democrático 
imputado ao Poder Judiciário no exercício da função de legislador negativo. 
 
Com isso, a teoria argumentativa de Perelman se volta para a racionalidade 
discursiva, racionalidade dianoética que se inspira principalmente em valores, 
ao invés de um modelo matemático, subsuntivo e axiomático de direito posto. 
A obra de Perelman constrói cientificamente uma nova racionalidade jurídica 
intrinsecamente pluralista e mais afeita à ideia de sistema aberto de regras e 
princípios. O ponto central da Nova Retórica de Perelman encontra-se na 
contínua aferição da comunidade aberta de intérpretes da Constituição, 
porque coloca em confronto direto valores fundamentais da ordem jurídica e 
a realidade do mundo dos fatos. Há, pois, nítida articulação entre razão e 
ação, entre ética e direito, entre norma e valor. Com efeito, a dimensão 
retórica da teoria da argumentação de Perelman coloca em plano 
subordinado à escola positivista do direito. Como bem salienta Écio Oto 
Ramos Duarte: 
 
(...) uma concepção retórica da atividade racional desprendida do 
dogmatismo positivista sob o prisma do movimento pela 
desdogmatização da razão (...) O aspecto calculador da razão 
inserido na lógica formal [subsuntivo-dedutiva] não dignifica a 
razão e esta só adquire realmente significado se estudada dentro 
de uma teoria da argumentação que vai tratar dos problemas 
 
 15 
relacionados à própria lógica, à linguagem e à comunicação com o 
enfoque de uma afinidade entre razão e valor.5 
 
A nova retórica não recusa métodos da hermenêutica clássica (literal-
histórico-sistemático-teleológico), apenas transforma-os em mais um ponto 
de argumentação, aplicando-os quando suficientes para a solução justa do 
caso concreto. E mais: se levarmos em consideração que a Constituição é um 
sistema aberto de regras e princípios, a teorização perelmaniana ganha relevo 
especial pela aplicação do balancing entre princípios que desdobram valores 
éticos em contraposição. 
 
A teoria discursiva do direito tem por escopo propor soluções às questões 
jurídicas complexas dos chamados hard cases (casos difíceis), cujo desfecho 
transcende à via da mera subsunção e dos métodos clássicos de 
interpretação. A textura aberta dos princípios propicia a incorporação de 
valorações morais do intérprete. 
 
Atividade proposta 
Diversos autores brasileiros procuram demonstrar cientificamente a existência 
do neoconstitucionalismo. Luís Roberto Barroso, por exemplo, preleciona que 
esse novo paradigma ocorre a partir de três marcos fundamentais: o 
histórico, teórico e o filosófico. Com base nessa teoria, diversos fenômenos 
passam a ser levados em consideração, como: 
 
I. o reconhecimento da normatividade dos princípios; 
II. a formulação de um raciocínio jurídico aberto, que leva em 
consideração a técnica da ponderação, as teorias da argumentação e a 
tópica; 
III. constitucionalização dos diversos ramos do direito; 
 
5 DUARTE, Écio Oto Ramos; POZZOLO, Susanna. Neoconstitucionalismo e positivismo 
jurídico. As faces da teoria do direito em tempos de interpretação constitucional. São Paulo: 
Landy, 2006. 
 
 16 
IV. reaproximação entre o direito e a ética; 
V. judicialização da política. 
 
A partir disso, é possível verificar algum risco para a democracia? 
 
 
 
Material complementar 
 
Para aprofundar seu conhecimento, consulte estas indicações 
bibliográficas: 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São 
Paulo: Malheiros, 1999. p. 446-454. 
Decisão judicial Recurso Especial nº 451.242 – RS (2002/0095302-1) 
à luz do Pensamento Tópico. 
 
 
Referências 
BARBERA, Augusto. Le basi filosofichedel constituzionalismo. Roma: 
Editora Laterza, 2005. 
 
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 2. 
ed. São Paulo: Saraiva, 1996. 
 
________. Curso de Direito Constitucional. Os conceitos fundamentais e 
a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. 
 
BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 1998. 
 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: 
Malheiros, 1999. 
 
 17 
 
CAMARGO, Margarida Maria Lacombe. Hermenêutica e argumentação: 
uma contribuição ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 
 
DINIZ, Antônio Carlos; MAIA, Antônio Cavalcanti. Pós-positivismo. In: 
Dicionário de filosofia do direito. Org. BARRETO, Vicente de Paulo. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2006. 
 
DINIZ, Antônio Carlos; MAIA. Pós-modernismo. In: Dicionário de filosofia 
do direito. Org. BARRETO, Vicente de Paulo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
 
DUARTE, Écio Oto Ramos; POZZOLO, Susanna. Neoconstitucionalismo e 
positivismo jurídico. As faces da teoria do direito em tempos de 
interpretação constitucional. São Paulo: Landy, 2006. 
 
FARALLI, Carla. La filosofia del diritto contemporanea dopo la crisi del 
positivismo giuridico. In: Filosofi del diritto contemporanei. Org. 
ZANETTI, Gianfrancesco. Milão: Raffaello Cortina Editore, 1999. 
 
FERRAZ Jr., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. 2. ed. São 
Paulo: Atlas, 1994. 
 
FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do direito. 4. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2004. 
 
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação 
do direito. São Paulo: Malheiros, 2002. 
 
GRODIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo: 
Unisinos, 2003. 
 
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Parte I. Petrópolis: Vozes, 2002. 
 
 18 
 
LUÑO, Antonio E. Pérez. Trayectórias contempoáneas de la filosofia y la 
teoria del derecho. Sevilha: Edita, 2003. 
 
MELLO, Cleyson de Moraes. Hermenêutica e direito. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 2006. 
________. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 2006. 
 
OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades de. Teoria jurídica e novos direitos. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. 
 
PALMER, Richard. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1999. 
 
PEREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Los derechos fundamentales. 8. ed. 
Madrid: Tecnos, 2004. 
 
ROTHENBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. Porto Alegre: 
Sergio Antonio Frabris Editor, 1999. 
 
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. 
 
SILVA, Kelly Susane Alflen da. Hermenêutica jurídica e concretização 
judicial. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000. 
 
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2003. 
 
 
 
 
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Exercícios de fixação 
Questão 1 
Com base na Tópica de Viewheg, o caso concreto decidendo deve ser 
pensado da seguinte forma: 
 
a) A partir de uma racionalidade de subsunção que se justifica a partir de 
uma linguagem matematizante. 
b) Um modo de pensar por problemas, a partir deles e em direção a eles. 
c) A partir de uma racionalidade silogística. 
d) A partir do legalismo estrito. 
 
Questão 2 
Com base na Teoria Argumentativa de Perelman, analise cada item a seguir e 
informe se as alternativas estão CORRETAS ou ERRADAS: 
 
I. É baseada na relação entre o auditório e o enunciador, já que a 
adaptação ao auditório é uma condição para a persuasão. 
II. A obra de Perelman representa uma nova racionalidade jurídica 
intrinsecamente pluralista e mais afeita à ideia de uma hermenêutica 
diatópica, dedutiva e axiomática. 
III. Representa uma reabilitação magistral de Retórica e da Argumentação. 
IV. O ponto central da Nova Retórica de Perelman encontra-se na contínua 
aferição da letra da norma fundamental em detrimento dos elementos 
fáticos do caso concreto. 
 
a) ( ) I – C; II – E; III – E; IV – C. 
b) ( ) I – C; II – E; III – C; IV – E. 
c) ( ) I – E; II – C; III – E; IV – E. 
d) ( ) I – E; II – C; III – C; IV – C. 
 
 
 
 
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Questão 3 
Assinale a alternativa INCORRETA: 
 
a) A nova interpretação constitucional (neoconstitucionalismo) busca a 
reaproximação entre o Direito e a Ética pela superação do discurso 
axiomático-dedutivo da escola positivista do direito. 
b) No neoconstitucionalismo, a normatividade do direito não se atrela tão 
somente ao conteúdo da norma in abstracto. 
c) A tópica tem caráter dedutivo que parte do caso geral para o 
particular. 
d) No pensamento tópico, a decisão final do intérprete deve basear-se no 
exame de um catálogo de pontos de vista (topoi) que podem 
igualmente incidir sobre o caso concreto sendo examinado. 
 
Questão 4 
São características do pós-positivismo, EXCETO: 
 
a) A normatividade do Direito relaciona-se ao grau de aceitabilidade da 
norma de decisão pela consciência epistemológica da comunidade 
aberta de intérpretes da Constituição. 
b) A superação da racionalidade linguístico-subsuntiva ligada ao texto da 
norma. 
c) A aplicação axiológica da lei. 
d) Separação total entre Direito e Ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Questão 5 
A Tópica de Viewheg é um modo de pensar o problema: 
 
a) De forma aberta, assumindo significações em função dos problemas a 
resolver. 
b) A partir de uma racionalidade lógico-abstrata. 
c) Que se justifica a partir de uma linguagem matematizante, refletindo a 
crise do direito contemporâneo. 
d) De forma retrospectiva, com firme propósito de alcançar o espírito da 
lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Atividade proposta 
O aluno deve perceber que o uso excessivo da judicialização pode 
comprometer tanto a democracia como a autonomia pública e privada do 
cidadão, bem como a segurança jurídica das relações jurídicas. 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 - B 
Justificativa: O método tópico de Viehweg se contrapõe à ideia de 
pensamento dedutivo, na medida em que é aplicado ao problema, isto é, tem 
por base o raciocínio voltado para o problema e não para a norma em si. A 
tópica tem, portanto, caráter indutivo que parte do caso particular para o 
geral. 
 
Questão 2 - B 
Justificativa: Os itens I e III estão corretos, pois a Teoria Argumentativa de 
Perelman é baseada na relação entre o auditório e o enunciador, já que a 
adaptação ao auditório é uma condição para a persuasão e representa uma 
reabilitação magistral de Retórica e da Argumentação. Já os itens II e IV 
estão errados, pois o ponto central da Nova Retórica de Perelman encontra-se 
na contínua aferição da comunidade aberta de intérpretes da Constituição, 
porque coloca em confronto direto valores fundamentais da ordem jurídica e 
a realidade do mundo dos fatos. Há, pois, nítida articulação entre razão e 
ação, entre ética e direito, entre norma e valor. 
 
 
Questão 3 - C 
Justificativa: O problema deve ser pensado em toda a sua complexidade. O 
método tópico de Viehweg se contrapõe à ideia de pensamento dedutivo, na 
medida em que é aplicado ao problema. 
 
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Questão 4 - D 
Justificativa: Ao contrário do que é afirmado, o pós-positivismo jurídico 
possibilita a reaproximação entre o direito e a ética. 
 
Questão 5 - A 
Justificativa: O pensamento problemático é aporético e antissistêmico no 
sentido de que não seleciona os problemas a partir do sistema, ao revés, 
parte do problema para chegar ao sistema.Atualizado em: 20 fev. 2014