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1 2 AULA 3: A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 3 INTRODUÇÃO 3 CONTEÚDO 3 O PERFIL DE EVOLUÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 3 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO NOVO EIXO HERMENÊUTICO 9 O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 12 ATIVIDADE PROPOSTA 17 REFERÊNCIAS 18 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 20 CHAVES DE RESPOSTA 26 ATIVIDADE PROPOSTA 26 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 26 3 Introdução O princípio da dignidade da pessoa humana tem sido objeto de intensa construção teórica tanto no mundo como no Brasil. Busca-se edificar um conceito racional de dignidade da pessoa humana para que ela possa ser empregada com maior objetividade possível nas decisões judiciais. Torna-se indispensável analisar a evolução da dignidade da pessoa desde o pensamento antigo até os dias atuais, pois indentificado o seu espaço jurígeno, é possível concebê-la como novo eixo hermenêutico. O Supremo Tribunal Federal tem buscado utilizar a dignidade humana como vetor interpretativo para fundamentar suas decisões. Objetivos: 1. Identificar o princípio da dignidade da pessoa humana no direito constitucional brasileiro. Conteúdo O perfil de evolução da dignidade da pessoa humana Qualquer conceito possui uma história, que necessita ser retomada e reconstruída, para que se possa rastrear a evolução da simples palavra para o 4 conceito e assim apreender o seu sentido. A ideia do valor intrínseco e distintivo da pessoa humana deita raízes já no pensamento clássico e no ideário cristão. Além disso, existem referências a demonstrar que a noção de dignidade da pessoa, ainda que não diretamente mencionada sob este rótulo, já se encontrava subjacente a uma série de autores da antiguidade, inclusive para além das fronteiras do mundo clássico greco-romano e cristão ocidental. O Tribunal Constitucional de Portugal, na década de 90 do século passado, já havia se pronunciado através do Acórdão nº 90-105-2, da seguinte forma: A ideia de dignidade da pessoa humana, no seu conteúdo concreto – nas exigências ou corolários em que se desmultiplica – não é algo puramente apriorístico, mas que necessariamente tem de se concretizar histórico-culturalmente. Por outro lado, já no pensamento estoico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade, noção que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de cada indivíduo – homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino – bem como à ideia de que todos os seres humanos, no que diz respeito à sua natureza, são iguais em dignidade. Assim, especialmente em relação a Roma – notadamente a partir das formulações de Cícero, que desenvolveu uma compreensão de dignidade desvinculada do cargo ou posição social – é possível reconhecer a coexistência de um sentido moral e sociopolítico de dignidade, esta considerada aqui no sentido da posição social e política ocupada pelo indivíduo. Com efeito, a partir das formulações do próprio Cícero, segue que este conferiu à dignidade da pessoa humana um sentido mais amplo fundado na 5 natureza humana e na posição superior ocupada pelo indivíduo no universo. É a natureza que prescreve ao homem a obrigação de levar em conta os interesses de seus semelhantes, pelo simples fato de serem também humanos. Razão pela qual todos estão sujeitos às mesmas leis da natureza, que proíbem que uns prejudiquem aos outros. Mesmo durante o período medieval, a concepção de inspiração cristã e estoica seguiu sendo sustentada, destacando-se Tomás de Aquino, o qual chegou a referir expressamente o termo dignitas humana, secundado. Já em plena Renascença e no limiar da Idade Moderna pelo humanista italiano Gionanni Pico della Mirandola que, partindo da racionalidade como qualidade peculiar inerente ao ser humano, advogou ser essa a qualidade que lhe possibilita construir, de forma livre e independente, sua própria existência e seu próprio destino. No âmbito do pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da dignidade da pessoa humana, assim como a ideia do direito natural em si, passou por um processo de racionalização e secularização, mantendo-se, todavia, a noção fundamental da igualdade de todos os homens em dignidade e liberdade. Antes dessa fase, no entanto, a doutrina do direito natural, agora racionalista, revelou-se essencial para a ascensão do conceito de dignidade da pessoa humana. Em 1539, com a publicação das conferências De Indis e De iure belli ou De indis, pars posterior, de autoria do dominicano espanhol Francisco de Vitoria, sob forte influência da escolástica tomista 1 , houve uma enorme reflexão moral sobre os atos praticados pelos colonizadores europeus aos habitantes do novo continente. 1 Já que há uma hierarquia segundo essa visão de que além da lei eterna presente no intelecto divino, está a lei natural, e a lei divina positiva, revelada pelas Escrituras. Em último lugar encontra-se a lei humana positiva, fruto da elaboração dos homens para a convivência em sociedade. 6 Vitoria afirmava que se uma lei positiva estivesse em conflito com a lei natural, seria lícito ao cidadão não cumpri-la. Essa concepção fez todos os homens iguais, já que são filhos de Deus e, portanto, possuidores dos mesmos direitos e dignidade. Tanto o poder papal como o poder dos reis não seriam absolutos ao ponto de justificar o domínio de qualquer Estado sobre o continente recém-descoberto e isso se estenderia sobre os denominados bárbaros e os infiéis. Sob essa perspectiva, ainda que se considerasse o Direito das Gentes como fruto de acordo entre as nações e que houvesse certa hegemonia das comunidades sobre os indivíduos, não se poderia supor que algumas nações tivessem vantagens sobre as outras. O dominicano espanhol reconhecia que os índios, na realidade, não seriam dementes, mas a seu modo tinham uso da razão, pois possuíam cidades organizadas, magistrados, leis, religião e vida matrimonial, tudo muito diferente da vida europeia, mas que fundadas sobre as mesmas raízes que apoiavam a vida em sociedade. Seja qual fosse o modelo de vida empregado pelos índios, eram reconhecidos como distintos grupos humanos, o que não legitimavam aos espanhóis empregarem sobre eles a dominação. Por isso, Vitoria lança várias indagações como2 (...) para proceder ordenadamente perguntarei primeiro “se os índios antes da chegada dos espanhóis eram os verdadeiros donos, tanto privada como publicamente”, ou seja, se eram verdadeiros donos das coisas e posses particulares e se havia entre eles verdadeiros príncipes e senhores dos demais. Poderia parecer que não, porque os escravos não têm domínio sobre as coisas, pois o “escravo não pode ter nada próprio” (...) 2 VITORIA, Francisco de. Os índios e o direito da guerra [de Indies et de Jure Belli Relectiones]. Tradução de Ciro Mioranza. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 44-45. (Coleção clássicos do direito internacional) 7 A argumentação oposta é que eles estavam em pacífica posse de seus bens pública e privadamente; logo se nada consta em contrário, temos que considerá-los verdadeiros donos. E enquanto durar esta discussão, não é possível despojá-los de suas posses. Francisco de Vitoria utilizou a conclusão de SantoTomás de Aquino para afirmar que a infidelidade dos índios ao cristianismo não seria suficiente para impedir de serem considerados verdadeiros donos da terra.3 Ao reconhecer que os índios seriam tão donos da terra como os cristãos e que estes não poderiam, a esse título, despojá-los de suas posses, Vitoria reconhecia sua dignidade e direitos a eles inerentes. Até o monarca deveria respeitar a dignidade da pessoa humana, considerada esta como a liberdade do ser humano de optar de acordo com sua razão e agir conforme o seu entendimento e sua opção. Immanuel Kant, cuja concepção de dignidade parte da autonomia ética do ser humano, considerando a autonomia como fundamento da dignidade do homem, sustenta que o ser humano não pode ser tratado – nem por ele próprio – como objeto. Para ele, as coisas têm um preço e as pessoas têm dignidade. Nas suas próprias palavras: No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade.4 3 Prova disso é que as Sagradas Escrituras denominam de reis muitos infiéis, como Senaquerib, o faraó e outros tantos. De igual forma, na Escritura Tobias manda a sua mulher devolver aos pagãos um cabrito, que pensa ser roubado, o que não teria o menor sentido se os pagãos não tivessem domínio. 4 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2004. p. 77. 8 Construindo sua concepção a partir da natureza racional do ser humano, Kant assinala que a autonomia da vontade, entendida como a faculdade do ser humano de determinar a si mesmo e agir em conformidade com a representação de certas leis, é um atributo apenas encontrado nos seres racionais, constituindo-se no fundamento da dignidade da natureza humana. Com base nessa premissa, Kant sustenta que todo o ser racional existe como um fim em si mesmo, não simplesmente como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como um fim. Assim, tanto o pensamento de Kant quanto todas as concepções que sustentam ser a dignidade atributo exclusivo da pessoa humana encontram- se, ao menos em tese, sujeitos à crítica de um excessivo antropocentrismo, notadamente naquilo em que sustentam que a pessoa humana, em função de sua racionalidade, ocupa um lugar privilegiado em relação aos demais seres vivos. Além disso, sempre haverá como sustentar a dignidade da própria vida de um modo geral, ainda mais numa época em que o reconhecimento da proteção do meio ambiente, como valor fundamental, indicia que não mais está em causa apenas a vida humana, mas a preservação de todos os recursos naturais, incluindo todas as formas de vida existentes no planeta, ainda que se possa argumentar que tal proteção da vida em geral constitua, em última análise, exigência da vida humana e vida humana com dignidade. Hegel acabou por sustentar uma noção de dignidade centrada na ideia de eticidade (instância que sintetiza o concreto e o universal, assim como o individual e o comunitário), de tal sorte que o ser humano não nasce digno, 9 mas torna-se digno a partir do momento em que assume sua condição de cidadão. O princípio da dignidade da pessoa humana como novo eixo hermenêutico Uma proteção jurídica da dignidade reside no dever de reconhecimento de determinadas possibilidades de prestação, nomeadamente à prestação do respeito aos direitos do desenvolvimento de uma individualidade e do reconhecimento de um autoenquadramento no processo de integração social. A dignidade da pessoa humana continua, talvez mais do que nunca, a ocupar um lugar central no pensamento filosófico, político e jurídico, do que dá conta a sua qualificação como valor fundamental da ordem jurídica, para expressivo número de ordens constitucionais, pelo menos para as que nutrem a pretensão de constituírem um Estado democrático de Direito. Da concepção jusnaturalista remanesce, indubitavelmente, a constatação de que uma ordem constitucional que – de forma direta ou indireta – consagra a ideia da dignidade da pessoa humana, parte do pressuposto de que o homem, em virtude tão somente de sua condição humana e independentemente de qualquer outra circunstância, é titular de direitos que devem ser reconhecidos e respeitados por seus semelhantes e pelo Estado. Uma das principais dificuldades da aplicação jurídica do conceito de dignidade da pessoa reside no fato de que, diversamente do que ocorre com as demais normas jusfundamentais, não se cuida de aspectos mais ou menos específicos da existência humana (integridade física, intimidade, vida, propriedade etc.), mas, sim, de uma qualidade tida como inerente a todo e qualquer ser humano. 10 A dignidade passou a ser habitualmente definida como constituindo o valor próprio que identifica o ser humano como tal e acaba por não contribuir muito para uma compreensão satisfatória do âmbito de proteção da dignidade, pelo menos na sua condição jurídico-normativa. Mesmo assim, não restam dúvidas de que a dignidade é algo real, algo vivenciado concretamente pelo ser humano, já que não se verifica maior dificuldade em identificar muitas das situações em que é espezinhada e agredida, ainda que não seja possível estabelecer uma pauta exaustiva de violações da dignidade. Vale destacar algumas das possíveis e relevantes dimensões da dignidade da pessoa humana, com o intuito de alcançar uma compreensão suficientemente abrangente e operacional do conceito também para a ordem jurídica, ressaltando-se que tais dimensões, por sua vez, não se revelam como necessariamente incompatíveis e reciprocamente excludentes. Inicialmente, cumpre salientar – retomando a ideia nuclear que já se fazia presente até mesmo no pensamento clássico – que a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é irrenunciável e inalienável, constitui elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que não se pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a dignidade. Esta, portanto, compreendida como qualidade integrante e, em princípio, irrenunciável da própria condição humana, pode ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida. A dignidade independe das circunstâncias concretas, já que é inerente a toda e qualquer pessoa humana, visto que, em princípio, todos – mesmo o maior dos criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas – ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus semelhantes, inclusive consigo mesmos. 11 Aliás, não é outro o entendimento que subjaz ao art. 1 da Declaração Universal da ONU (1948), segundo o qual "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, dotados de razão e consciência. Devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade". Preceito que, de certa forma, revitalizou e universalizou após a profunda barbárie na qual mergulhou a humanidade na primeira metade deste século – as premissas basilares da doutrina kantiana. Assim, à luz do que dispõe a Declaração Universal da ONU, bem como considerando os entendimentoscolecionados em caráter exemplificativo, verifica-se que o elemento nuclear da noção de dignidade da pessoa humana parece continuar sendo reconduzido, centrando-se, portanto, na autonomia e no direito de autodeterminação da pessoa. Importa, contudo, ter presente a circunstância de que essa liberdade é considerada em abstrato, como sendo a capacidade, potencial, que cada ser humano tem de autodeterminar sua conduta, não dependendo da sua efetiva realização no caso da pessoa em concreto. De tal sorte que também o absolutamente incapaz possui exatamente a mesma dignidade que qualquer outro ser humano física e mentalmente capaz. Há que reconhecer que também o conteúdo da noção de dignidade da pessoa humana reclama uma constante concretização e ação pela práxis constitucional, tarefa cometida pelos órgãos estatais. Considerando a vasta produção científica existente sobre o tema da dignidade da pessoa humana e ciente da acolhida cada vez maior do referido princípio, veremos a noção intersubjetiva da dignidade, esquadrinhada pela situação básica do ser humano em sua relação com os demais – do ser com os outros. 12 De acordo com Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade da pessoa humana possui dimensão dúplice: Expressão de autonomia da pessoa humana – autodeterminação em relação às decisões essenciais a respeito da própria existência. Necessidade de proteção – assistência por parte da Comunidade e do Estado. Por isso, a dignidade da pessoa humana é limite e tarefa dos poderes estatais, da comunidade geral e de todos. Na fórmula kantiana, a dignidade da pessoa humana poderia ser considerada atingida sempre que a pessoa concreta (o indivíduo) fosse rebaixada a objeto, a mero instrumento, tratada como uma coisa, em outras palavras, sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada e desconsiderada como sujeito de direitos. O homem constitui um fim em si mesmo e não pode servir simplesmente como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. É o respeito pela vida, integridade física e moral do ser humano em busca de condições mínimas para uma existência digna. O Supremo Tribunal Federal e o princípio da dignidade da pessoa humana Toda construção do Supremo Tribunal Federal sobre a dignidade da pessoa humana deve ter como premissa a argumentação retórica dos votos dos ministros na tentativa de convencer e persuadir seus destinatários. A Constituição Federal de 1988 erigiu como fundamento do Estado brasileiro a dignidade da pessoa humana. No âmbito da constitucionalização desse princípio, foi a Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, após os 13 horrores ocasionados pelo nazismo, que pela primeira vez consagrou a dignidade humana como sendo inviolável. Nesse aspecto, a dignidade da pessoa humana não pode ser vista como uma concepção puramente constitucional, mas um atributo intrínseco da pessoa. É nesse sentido que José Afonso da Silva sustenta que a dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional, pois ela é um desses conceitos a priori, um dado preexistente a toda experiência especulativa, tal como a própria pessoa humana. A Constituição, reconhecendo sua existência e sua eminência transformou-a num valor supremo da ordem jurídica, quando declara como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito.5 A par de toda divergência doutrinária e jurisprudencial na definição de um status jurídico da dignidade humana, ela possui um duplo sentido: a) como um vetor interpretativo, que se irradia para os demais ramos do direito e; b) como um princípio positivado na Constituição, dotado de plena eficácia. Por se tornar um núcleo fundante de toda ordem jurídica, o Supremo Tribunal Federal produz uma redefinição hermenêutica da dignidade humana, tais como nos seguintes exemplos: A “escravidão moderna” é mais sutil do que a do século XIX e o cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos constrangimentos econômicos e não necessariamente físicos. Priva- se alguém de sua liberdade e de sua dignidade tratando-o como coisa, e não como pessoa humana, o que pode ser feito não só mediante coação, mas também pela violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno. A violação do direito ao trabalho digno impacta a capacidade da vítima de realizar escolhas segundo a sua livre determinação. Isso também significa “reduzir alguém a condição análoga à de 5 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 38. 14 escravo”. (Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, julgamento em 29-3-2012, Plenário, DJE de 12-11-2012.) A cláusula da reserva do possível – que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição – encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noção de ‘mínimo existencial’, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). (ARE 639.337-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23-8- 2011, Segunda Turma, DJE de 15-9-2011.) Reconhecimento e qualificação da união homoafetiva como entidade familiar. O STF – apoiando-se em valiosa hermenêutica construtiva e invocando princípios essenciais (como os da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminação, da igualdade, do pluralismo, da intimidade, da não discriminação e da busca da felicidade) – reconhece assistir, a qualquer pessoa, o direito fundamental à orientação sexual, havendo proclamado, por isso mesmo, a plena legitimidade ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, atribuindo-lhe, em consequência, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em favor de parceiros homossexuais, relevantes consequências no plano do Direito, notadamente no campo previdenciário, e, também, na esfera das relações sociais e familiares. A extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime 15 jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência, dentre outros, dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da própria CR (art. 1º, III, e art. 3º, IV), fundamentos autônomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador à qualificação das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espécie do gênero entidadefamiliar. (...) O postulado da dignidade da pessoa humana, que representa – considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) – significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País, traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo. (...) O princípio constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do núcleo de que se irradia o postulado da dignidade da pessoa humana, assume papel de extremo relevo no processo de afirmação, gozo e expansão dos direitos fundamentais, qualificando-se, em função de sua própria teleologia, como fator de neutralização de práticas ou de omissões lesivas cuja ocorrência possa comprometer, afetar ou, até mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais. Assiste, por isso mesmo, a todos, sem qualquer exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito, que se qualifica como expressão de uma ideia-força que deriva do princípio da essencial dignidade da pessoa humana. (RE 477.554-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-8-2011, Segunda Turma, DJE de 26-8-2011.) No mesmo sentido: ADI 4.277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 5-5-2011, Plenário, DJE de 14-10-2011. (...) a dignidade da pessoa humana precede a Constituição de 1988 e esta não poderia ter sido contrariada, em seu art. 1º, III, anteriormente a sua vigência. A arguente desqualifica fatos históricos que antecederam a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. (...) A inicial ignora o momento talvez mais 16 importante da luta pela redemocratização do país, o da batalha da anistia, autêntica batalha. Toda a gente que conhece nossa História sabe que esse acordo político existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. (...) Tem razão a arguente ao afirmar que a dignidade não tem preço. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço, vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando alguém se arroga o direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que, então, o valor do humano assume forma na substância e medida de quem o afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure. Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do humano, de todos quantos pertencem à humanidade, porém de quem o proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo, submissos à tirania dos valores. (...) Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo), tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa não pode ser retribuída com a proclamação de que o instituto da anistia viola a dignidade humana. (...) O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, esse argumento não prospera. (ADPF 153, voto do Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-4-2010, Plenário, DJE de 6-8-2010.) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. HABILITAÇÃO DE HERDEIROS NO INVENTÁRIO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA IMPUGNADA POR MEIO DE SUCESSIVOS RECURSOS. APELO EXTRAORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 735/STF. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. As decisões interlocutórias, postos não constituírem decisão de única ou última instância nos termos do artigo 102, III, da Constituição Federal, não são passíveis de impugnação via recurso extraordinário, nos termos do enunciado do Verbete nº 735 da Súmula da Jurisprudência desta Corte. 2. In casu, o acórdão originariamente recorrido assentou que “com o 17 advento da nova ordem constitucional, todos, independentemente da origem da filiação, passaram a gozar da condição de filhos, fazendo jus a idênticos direitos, ainda que adotados antes da sua vigência (…). O afastamento das adotadas, como quer a agravante, seria uma discriminação agressiva ao instituto da adoção, porque teríamos algumas adoções “mais adoções” do que outras, em ferimento à dignidade da pessoa e à igualdade da filiação. 3. Agravo regimental desprovido. (RE 606305 AgR/RS, voto do Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 18-06-13, Primeira Turma) Da análise jurisprudencial, é possível concluir que o Supremo Tribunal Federal evita a discussão sobre as dimensões da dignidade da pessoa humana, apenas apontando que ela é inerente ao ser humano. Assim, o Supremo adota o princípio como vetor interpretativo principalmente nas questões que envolvam direitos fundamentais. Atividade proposta Qual princípio o Supremo Tribunal Federal visou atender com a edição em 2008 da Súmula Vinculante 11: “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.”? Material complementar Para aprofundar seu conhecimento, leia o artigo As dimensões da dignidade humana: construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. Disponível em 18 nossa biblioteca virtual. Referências BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 1998. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. CAMARGO, Margarida Maria Lacombe. Hermenêutica e argumentação: uma contribuição ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. FERRAZ Jr., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994. FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do direito. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Malheiros, 2002. GRODIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo: Unisinos, 2003. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Parte I. Petrópolis: Vozes, 2002. 19 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2004. MELLO, Cleyson de Moraes. Hermenêutica e direito. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006. __________. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006. OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades de. Teoria jurídica e novos direitos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. PALMER, Richard. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1999. PEREZ LUÑO, Antonio-Enrique. Los derechos fundamentales. 8. ed. Madrid: Tecnos, 2004. ROTHENBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. Porto Alegre: Sergio Antonio Frabris Editor, 1999. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. SILVA, Kelly Susane Alflen da. Hermenêutica jurídica e concretização judicial. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000. SILVA, José Afonso da. Comentáriocontextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2008. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. 20 VITORIA, Francisco de. Os índios e o direito da guerra [de Indies et de Jure Belli Relectiones]. Tradução de Ciro Mioranza. Ijuí: Unijuí, 2006. Exercícios de fixação Questão 1 Ingo Wolgang Sarlet conceitua dignidade da pessoa humana como sendo uma “qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o 21 faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem à pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existentes mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos”. A partir da diretriz hermenêutica pautada no artigo 1º, III, da nossa CRFB/88, analise as afirmativas: I. A privação da propriedade, por ato emanado do Estado, subordina-se à observância de interesse público, previsto no ordenamento jurídico, com a garantia ao particular de indenização prévia (art. 5º, XXIV). II. O direito à existência digna não é assegurado apenas pela não abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua autoridade. Passa também pelo cumprimento de prestações positivas. III. Não se aplica o princípio da dignidade da pessoa humana nas relações estritamente patrimoniais, já que, neste caso, o princípio da autonomia negocial se desvela inafastável. IV. Ao Estado cabe organizar e manter sistema previdenciário, com vistas a suprir os rendimentos do trabalhador por ocasião das contingências da vida gregária (art. 201). a) ( ) V; F; F; V. b) ( ) F; F; F; V. c) ( ) F; F; V; V. d) ( ) V; V; F; V. Questão 2 O princípio da dignidade da pessoa humana encontra respaldo na conformação de um patrimônio jurídico fundamental, acervo de direitos 22 subjetivos sem os quais qualquer pretensão de bem-estar social seria improvável. Dentro deste contexto, assinale a única opção correta: a) O princípio do mínimo existencial e o princípio do economicamente possível convivem em perfeita harmonia, sendo certo que se completam e, juntos, conspiram a favor da dignidade da pessoa humana no Estado brasileiro. b) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não fere o direito à intimidade a apreensão, após o parto, da placenta, a fim de se proceder a exame hematológico de DNA, visando comprovar a paternidade biológica do neonato. c) Uma das vertentes concretizadoras mais proeminentes do princípio da ampla defesa é a admissão de denúncia imprecisa ou genérica, no âmbito do processo penal constitucional brasileiro. d) A fim de preservar o princípio constitucional da não autoincriminação, todo preso tem o direito inalienável de permanecer calado enquanto apanha. Questão 3 Analise cada item: 23 Na atualidade, pauta a tendência dos ordenamentos o reconhecimento do ser humano como o centro e o fim do direito. Essa inclinação, reforçada ao depois da traumática barbárie nazifascista, encontra-se plasmada pela adoção, à guisa de valor básico do Estado Democrático de Direito, da dignidade da pessoa humana. I. O respeito à dignidade da pessoa humana apresenta quatro importantes consequências: a) igualdade de direitos entre todos os homens; b) garantia da independência e autonomia do ser humano; c) observância e proteção dos direitos inalienáveis do homem; d) não admissibilidade da negativa dos meios fundamentais para o desenvolvimento de alguém como pessoa ou a imposição de condições subumanas de vida. II. O direito à existência digna é assegurado apenas pela abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua autoridade. III. O reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana não se coaduna com a salvaguarda dos direitos da personalidade. IV. A Lei Fundamental de Bonn, de 23 de maio de 1949, é responsável por solenizar, no seu art. 1.1., incisiva declaração: “A dignidade do homem é intangível. Os poderes públicos estão obrigados a respeitá-la e protegê-la.” O preceito recolhe sua inspiração na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas de 10 de dezembro de 1948, sem olvidar o respeito aos direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, propugnados pelos revolucionários franceses, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789. Somente é INCORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e III. b) ( ) II e IV. c) ( ) III e IV. 24 d) ( ) I, II e IV. Questão 4 Analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: I. Construindo sua concepção a partir da natureza racional do ser humano, Kant assinala que a autonomia da vontade, entendida como a faculdade do ser humano de determinar a si mesmo e agir em conformidade com a representação de certas leis, é um atributo apenas encontrado nos seres racionais, constituindo-se no fundamento da dignidade da natureza humana. II. No âmbito do pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da dignidade da pessoa humana, assim como a ideia do direito natural em si, passou por um processo de racionalização e secularização, mantendo-se, todavia, a noção fundamental da igualdade de todos os homens em dignidade e liberdade. a) ( ) As duas assertivas são falsas. b) ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa. c) ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras. d) ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. Questão 5 25 Segundo Kant, da ideia de dignidade da pessoa humana pode se extrair as seguintes conclusões, exceto: a) Nasce da autonomia ética do ser humano. b) Nunca deve ser considerada nas questões jurídicas ou morais. c) Permite que se sustente que o ser humano não pode ser tratado como objeto, nem por ele mesmo. d) Pode ser extraída da própria razão humana (racionalidade prática). 26 Atividade proposta A dignidade da pessoa humana, que é limite e tarefa dos poderes estatais, da comunidade geral e de todos. Na fórmula kantiana, a dignidade da pessoa humana poderia ser considerada atingida sempre que a pessoa concreta (o indivíduo) fosse rebaixada a objeto, a mero instrumento, tratada como uma coisa, em outras palavras, sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada e desconsiderada como sujeito de direitos. O homem constitui um fim em si mesmo e não pode servir simplesmente como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Exercícios de fixação Questão 1 - D Justificativa: Quanto à afirmação de que “A privação da propriedade, por ato emanado do Estado, subordina-se à observância de interesse público, previsto no ordenamento jurídico, com a garantia ao particular de indenização prévia” a Constituição Federal prevê em seu art. 5º, XXIV, que a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, sempre lembrando as ressalvas feitas pelo próprio texto constitucional. Portanto, o itemestá correto. No que diz respeito à afirmação: ”O direito à existência digna não é assegurado apenas pela não abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua autoridade. Passa também pelo cumprimento de prestações positivas” deve ser lembrado que a dignidade da pessoa humana deve ser assegurada também em relação 27 às prestações positivas, que dependem da atuação do Estado. Por isso o item deve ser considerado correto. A afirmativa de que “ao Estado cabe organizar e manter sistema previdenciário, com vistas a suprir os rendimentos do trabalhador por ocasião das contingências da vida gregária” também deve ser considerado correto, pois o artigo 201 da Constituição Federal prevê que “A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial”. Questão 2 - B Justificativa: Justificativa: Na RCL 2.040, o Supremo Tribunal Federal, no mérito, julgou procedente a reclamação e, avocando a apreciação da matéria de fundo, deferiu a realização do exame de DNA com a utilização do material biológico da placenta retirada da extraditanda. Fazendo a ponderação dos valores constitucionais contrapostos, quais sejam, o direito à intimidade e à vida privada da extraditanda, e o direito à honra e à imagem dos servidores e da Polícia Federal como instituição – atingidos pela declaração de a extraditanda haver sido vítima de estupro carcerário, divulgada pelos meios de comunicação –, o Tribunal afirmou a prevalência do esclarecimento da verdade quanto à participação dos policiais federais na alegada violência sexual, levando em conta, ainda, que o exame de DNA acontecerá sem invasão da integridade física da extraditanda ou de seu filho. Questão 3 - C Justificativa: A afirmação de que “O direito à existência digna é assegurado apenas pela abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua autoridade” deve ser considerada incorreta, pois o dever do Estado passa também pelo cumprimento de prestações positivas. Deve ser lembrado ainda que a dignidade da pessoa humana deve ser assegurada também em relação às prestações positivas, que dependem da atuação do Estado. A afirmação de que “O reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana não se coaduna com a salvaguarda dos direitos da personalidade” também 28 deve ser considerado incorreto na medida em que os direitos da personalidade estão inseridos na ideia da dignidade da pessoa humana. Questão 4 - C Justificativa: Para Kant, a dignidade parte da autonomia ética do ser humano, considerando a autonomia como fundamento da dignidade do homem. O autor sustenta que o ser humano não pode ser tratado – nem por ele próprio – como objeto. A segunda afirmação também é verdadeira, pois para o pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da dignidade da pessoa humana passa por um processo de racionalização e secularização. Além disso, preocupa-se com a igualdade do ser humano. Questão 5 - B Justificativa: Para o pensamento kantiano, as questões morais devem ser consideradas. A dignidade, segundo o autor, parte da autonomia ética do ser humano, considerando a autonomia como fundamento da dignidade do homem. Assim, o ser humano não pode ser tratado – nem por ele próprio – como objeto. Atualizado em: 09 jun. 2014 29
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