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Aula 3 Dignidade da pessoa humana

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AULA 3: A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 3 
O PERFIL DE EVOLUÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 3 
O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO NOVO EIXO HERMENÊUTICO 9 
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 12 
ATIVIDADE PROPOSTA 17 
REFERÊNCIAS 18 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 20 
CHAVES DE RESPOSTA 26 
ATIVIDADE PROPOSTA 26 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 26 
 
 
 
 
 3 
Introdução 
O princípio da dignidade da pessoa humana tem sido objeto de intensa 
construção teórica tanto no mundo como no Brasil. Busca-se edificar um 
conceito racional de dignidade da pessoa humana para que ela possa ser 
empregada com maior objetividade possível nas decisões judiciais. 
 
Torna-se indispensável analisar a evolução da dignidade da pessoa desde o 
pensamento antigo até os dias atuais, pois indentificado o seu espaço 
jurígeno, é possível concebê-la como novo eixo hermenêutico. 
 
O Supremo Tribunal Federal tem buscado utilizar a dignidade humana como 
vetor interpretativo para fundamentar suas decisões. 
 
Objetivos: 
1. Identificar o princípio da dignidade da pessoa humana no direito 
constitucional brasileiro. 
 
 
 
 
Conteúdo 
O perfil de evolução da dignidade da pessoa humana 
Qualquer conceito possui uma história, que necessita ser retomada e 
reconstruída, para que se possa rastrear a evolução da simples palavra para o 
 
 4 
conceito e assim apreender o seu sentido. A ideia do valor intrínseco e 
distintivo da pessoa humana deita raízes já no pensamento clássico e no 
ideário cristão. Além disso, existem referências a demonstrar que a noção de 
dignidade da pessoa, ainda que não diretamente mencionada sob este rótulo, 
já se encontrava subjacente a uma série de autores da antiguidade, inclusive 
para além das fronteiras do mundo clássico greco-romano e cristão ocidental. 
 
O Tribunal Constitucional de Portugal, na década de 90 do século passado, já 
havia se pronunciado através do Acórdão nº 90-105-2, da seguinte forma: 
 
A ideia de dignidade da pessoa humana, no seu conteúdo concreto 
– nas exigências ou corolários em que se desmultiplica – não é algo 
puramente apriorístico, mas que necessariamente tem de se 
concretizar histórico-culturalmente. 
 
Por outro lado, já no pensamento estoico, a dignidade era tida como a 
qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o distinguia das demais 
criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma 
dignidade, noção que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção 
da liberdade pessoal de cada indivíduo – homem como ser livre e responsável 
por seus atos e seu destino – bem como à ideia de que todos os seres 
humanos, no que diz respeito à sua natureza, são iguais em dignidade. 
 
Assim, especialmente em relação a Roma – notadamente a partir das 
formulações de Cícero, que desenvolveu uma compreensão de dignidade 
desvinculada do cargo ou posição social – é possível reconhecer a 
coexistência de um sentido moral e sociopolítico de dignidade, esta 
considerada aqui no sentido da posição social e política ocupada pelo 
indivíduo. 
 
Com efeito, a partir das formulações do próprio Cícero, segue que este 
conferiu à dignidade da pessoa humana um sentido mais amplo fundado na 
 
 5 
natureza humana e na posição superior ocupada pelo indivíduo no universo. É 
a natureza que prescreve ao homem a obrigação de levar em conta os 
interesses de seus semelhantes, pelo simples fato de serem também 
humanos. Razão pela qual todos estão sujeitos às mesmas leis da natureza, 
que proíbem que uns prejudiquem aos outros. 
 
Mesmo durante o período medieval, a concepção de inspiração cristã e 
estoica seguiu sendo sustentada, destacando-se Tomás de Aquino, o qual 
chegou a referir expressamente o termo dignitas humana, secundado. Já em 
plena Renascença e no limiar da Idade Moderna pelo humanista italiano 
Gionanni Pico della Mirandola que, partindo da racionalidade como qualidade 
peculiar inerente ao ser humano, advogou ser essa a qualidade que lhe 
possibilita construir, de forma livre e independente, sua própria existência e 
seu próprio destino. 
 
No âmbito do pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a 
concepção da dignidade da pessoa humana, assim como a ideia do direito 
natural em si, passou por um processo de racionalização e secularização, 
mantendo-se, todavia, a noção fundamental da igualdade de todos os 
homens em dignidade e liberdade. 
 
Antes dessa fase, no entanto, a doutrina do direito natural, agora racionalista, 
revelou-se essencial para a ascensão do conceito de dignidade da pessoa 
humana. Em 1539, com a publicação das conferências De Indis e De iure belli 
ou De indis, pars posterior, de autoria do dominicano espanhol Francisco de 
Vitoria, sob forte influência da escolástica tomista 1 , houve uma enorme 
reflexão moral sobre os atos praticados pelos colonizadores europeus aos 
habitantes do novo continente. 
 
1 Já que há uma hierarquia segundo essa visão de que além da lei eterna presente no 
intelecto divino, está a lei natural, e a lei divina positiva, revelada pelas Escrituras. Em último 
lugar encontra-se a lei humana positiva, fruto da elaboração dos homens para a convivência 
em sociedade. 
 
 6 
 
Vitoria afirmava que se uma lei positiva estivesse em conflito com a lei 
natural, seria lícito ao cidadão não cumpri-la. Essa concepção fez todos os 
homens iguais, já que são filhos de Deus e, portanto, possuidores dos 
mesmos direitos e dignidade. Tanto o poder papal como o poder dos reis não 
seriam absolutos ao ponto de justificar o domínio de qualquer Estado sobre o 
continente recém-descoberto e isso se estenderia sobre os denominados 
bárbaros e os infiéis. 
 
Sob essa perspectiva, ainda que se considerasse o Direito das Gentes como 
fruto de acordo entre as nações e que houvesse certa hegemonia das 
comunidades sobre os indivíduos, não se poderia supor que algumas nações 
tivessem vantagens sobre as outras. O dominicano espanhol reconhecia que 
os índios, na realidade, não seriam dementes, mas a seu modo tinham uso da 
razão, pois possuíam cidades organizadas, magistrados, leis, religião e vida 
matrimonial, tudo muito diferente da vida europeia, mas que fundadas sobre 
as mesmas raízes que apoiavam a vida em sociedade. Seja qual fosse o 
modelo de vida empregado pelos índios, eram reconhecidos como distintos 
grupos humanos, o que não legitimavam aos espanhóis empregarem sobre 
eles a dominação. Por isso, Vitoria lança várias indagações como2 
 
(...) para proceder ordenadamente perguntarei primeiro “se os 
índios antes da chegada dos espanhóis eram os verdadeiros donos, 
tanto privada como publicamente”, ou seja, se eram verdadeiros 
donos das coisas e posses particulares e se havia entre eles 
verdadeiros príncipes e senhores dos demais. 
 
Poderia parecer que não, porque os escravos não têm domínio 
sobre as coisas, pois o “escravo não pode ter nada próprio” (...) 
 
 
2 VITORIA, Francisco de. Os índios e o direito da guerra [de Indies et de Jure Belli 
Relectiones]. Tradução de Ciro Mioranza. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 44-45. (Coleção clássicos do 
direito internacional) 
 
 7 
A argumentação oposta é que eles estavam em pacífica posse de 
seus bens pública e privadamente; logo se nada consta em 
contrário, temos que considerá-los verdadeiros donos. E enquanto 
durar esta discussão, não é possível despojá-los de suas posses. 
 
Francisco de Vitoria utilizou a conclusão de SantoTomás de Aquino para 
afirmar que a infidelidade dos índios ao cristianismo não seria suficiente para 
impedir de serem considerados verdadeiros donos da terra.3 
 
Ao reconhecer que os índios seriam tão donos da terra como os cristãos e 
que estes não poderiam, a esse título, despojá-los de suas posses, Vitoria 
reconhecia sua dignidade e direitos a eles inerentes. 
 
Até o monarca deveria respeitar a dignidade da pessoa humana, considerada 
esta como a liberdade do ser humano de optar de acordo com sua razão e 
agir conforme o seu entendimento e sua opção. 
 
Immanuel Kant, cuja concepção de dignidade parte da autonomia ética do ser 
humano, considerando a autonomia como fundamento da dignidade do 
homem, sustenta que o ser humano não pode ser tratado – nem por ele 
próprio – como objeto. Para ele, as coisas têm um preço e as pessoas têm 
dignidade. Nas suas próprias palavras: 
 
 No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando 
uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra 
como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o 
preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela 
dignidade.4 
 
3 Prova disso é que as Sagradas Escrituras denominam de reis muitos infiéis, como 
Senaquerib, o faraó e outros tantos. De igual forma, na Escritura Tobias manda a sua mulher 
devolver aos pagãos um cabrito, que pensa ser roubado, o que não teria o menor sentido se 
os pagãos não tivessem domínio. 
4 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo 
Quintela. Lisboa: Edições 70, 2004. p. 77. 
 
 8 
 
Construindo sua concepção a partir da natureza racional do ser humano, Kant 
assinala que a autonomia da vontade, entendida como a faculdade do ser 
humano de determinar a si mesmo e agir em conformidade com a 
representação de certas leis, é um atributo apenas encontrado nos seres 
racionais, constituindo-se no fundamento da dignidade da natureza humana. 
 
Com base nessa premissa, Kant sustenta que todo o ser racional existe como 
um fim em si mesmo, não simplesmente como meio para o uso arbitrário 
desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas 
que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a outros seres 
racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como um fim. 
 
Assim, tanto o pensamento de Kant quanto todas as concepções que 
sustentam ser a dignidade atributo exclusivo da pessoa humana encontram-
se, ao menos em tese, sujeitos à crítica de um excessivo antropocentrismo, 
notadamente naquilo em que sustentam que a pessoa humana, em função de 
sua racionalidade, ocupa um lugar privilegiado em relação aos demais seres 
vivos. 
 
Além disso, sempre haverá como sustentar a dignidade da própria vida de um 
modo geral, ainda mais numa época em que o reconhecimento da proteção 
do meio ambiente, como valor fundamental, indicia que não mais está em 
causa apenas a vida humana, mas a preservação de todos os recursos 
naturais, incluindo todas as formas de vida existentes no planeta, ainda que 
se possa argumentar que tal proteção da vida em geral constitua, em última 
análise, exigência da vida humana e vida humana com dignidade. 
 
Hegel acabou por sustentar uma noção de dignidade centrada na ideia de 
eticidade (instância que sintetiza o concreto e o universal, assim como o 
individual e o comunitário), de tal sorte que o ser humano não nasce digno, 
 
 9 
mas torna-se digno a partir do momento em que assume sua condição de 
cidadão. 
 
O princípio da dignidade da pessoa humana como novo eixo 
hermenêutico 
Uma proteção jurídica da dignidade reside no dever de reconhecimento de 
determinadas possibilidades de prestação, nomeadamente à prestação do 
respeito aos direitos do desenvolvimento de uma individualidade e do 
reconhecimento de um autoenquadramento no processo de integração social. 
 
A dignidade da pessoa humana continua, talvez mais do que nunca, a ocupar 
um lugar central no pensamento filosófico, político e jurídico, do que dá conta 
a sua qualificação como valor fundamental da ordem jurídica, para expressivo 
número de ordens constitucionais, pelo menos para as que nutrem a 
pretensão de constituírem um Estado democrático de Direito. 
 
Da concepção jusnaturalista remanesce, indubitavelmente, a constatação de 
que uma ordem constitucional que – de forma direta ou indireta – consagra a 
ideia da dignidade da pessoa humana, parte do pressuposto de que o 
homem, em virtude tão somente de sua condição humana e 
independentemente de qualquer outra circunstância, é titular de direitos que 
devem ser reconhecidos e respeitados por seus semelhantes e pelo Estado. 
 
Uma das principais dificuldades da aplicação jurídica do conceito de dignidade 
da pessoa reside no fato de que, diversamente do que ocorre com as demais 
normas jusfundamentais, não se cuida de aspectos mais ou menos 
específicos da existência humana (integridade física, intimidade, vida, 
propriedade etc.), mas, sim, de uma qualidade tida como inerente a todo e 
qualquer ser humano. 
 
 
 10 
A dignidade passou a ser habitualmente definida como constituindo o valor 
próprio que identifica o ser humano como tal e acaba por não contribuir 
muito para uma compreensão satisfatória do âmbito de proteção da 
dignidade, pelo menos na sua condição jurídico-normativa. Mesmo assim, não 
restam dúvidas de que a dignidade é algo real, algo vivenciado 
concretamente pelo ser humano, já que não se verifica maior dificuldade em 
identificar muitas das situações em que é espezinhada e agredida, ainda que 
não seja possível estabelecer uma pauta exaustiva de violações da dignidade. 
 
Vale destacar algumas das possíveis e relevantes dimensões da dignidade da 
pessoa humana, com o intuito de alcançar uma compreensão suficientemente 
abrangente e operacional do conceito também para a ordem jurídica, 
ressaltando-se que tais dimensões, por sua vez, não se revelam como 
necessariamente incompatíveis e reciprocamente excludentes. 
 
Inicialmente, cumpre salientar – retomando a ideia nuclear que já se fazia 
presente até mesmo no pensamento clássico – que a dignidade, como 
qualidade intrínseca da pessoa humana, é irrenunciável e inalienável, constitui 
elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser 
destacado, de tal sorte que não se pode cogitar na possibilidade de 
determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a 
dignidade. 
 
Esta, portanto, compreendida como qualidade integrante e, em princípio, 
irrenunciável da própria condição humana, pode ser reconhecida, respeitada, 
promovida e protegida. 
 
A dignidade independe das circunstâncias concretas, já que é inerente a toda 
e qualquer pessoa humana, visto que, em princípio, todos – mesmo o maior 
dos criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos 
como pessoas – ainda que não se portem de forma igualmente digna nas 
suas relações com seus semelhantes, inclusive consigo mesmos. 
 
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Aliás, não é outro o entendimento que subjaz ao art. 1 da Declaração 
Universal da ONU (1948), segundo o qual "todos os seres humanos nascem 
livres e iguais em dignidade e direitos, dotados de razão e consciência. 
Devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade". Preceito que, 
de certa forma, revitalizou e universalizou após a profunda barbárie na qual 
mergulhou a humanidade na primeira metade deste século – as premissas 
basilares da doutrina kantiana. 
 
Assim, à luz do que dispõe a Declaração Universal da ONU, bem como 
considerando os entendimentoscolecionados em caráter exemplificativo, 
verifica-se que o elemento nuclear da noção de dignidade da pessoa humana 
parece continuar sendo reconduzido, centrando-se, portanto, na autonomia e 
no direito de autodeterminação da pessoa. 
 
Importa, contudo, ter presente a circunstância de que essa liberdade é 
considerada em abstrato, como sendo a capacidade, potencial, que cada ser 
humano tem de autodeterminar sua conduta, não dependendo da sua efetiva 
realização no caso da pessoa em concreto. De tal sorte que também o 
absolutamente incapaz possui exatamente a mesma dignidade que qualquer 
outro ser humano física e mentalmente capaz. 
 
Há que reconhecer que também o conteúdo da noção de dignidade da pessoa 
humana reclama uma constante concretização e ação pela práxis 
constitucional, tarefa cometida pelos órgãos estatais. 
 
Considerando a vasta produção científica existente sobre o tema da dignidade 
da pessoa humana e ciente da acolhida cada vez maior do referido princípio, 
veremos a noção intersubjetiva da dignidade, esquadrinhada pela situação 
básica do ser humano em sua relação com os demais – do ser com os outros. 
 
 
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De acordo com Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade da pessoa humana possui 
dimensão dúplice: 
 
 Expressão de autonomia da pessoa humana – autodeterminação em 
relação às decisões essenciais a respeito da própria existência. 
 
 Necessidade de proteção – assistência por parte da Comunidade e do 
Estado. 
 
Por isso, a dignidade da pessoa humana é limite e tarefa dos poderes 
estatais, da comunidade geral e de todos. 
 
Na fórmula kantiana, a dignidade da pessoa humana poderia ser considerada 
atingida sempre que a pessoa concreta (o indivíduo) fosse rebaixada a 
objeto, a mero instrumento, tratada como uma coisa, em outras palavras, 
sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada e desconsiderada como 
sujeito de direitos. O homem constitui um fim em si mesmo e não pode servir 
simplesmente como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. 
 
É o respeito pela vida, integridade física e moral do ser humano em busca de 
condições mínimas para uma existência digna. 
 
O Supremo Tribunal Federal e o princípio da dignidade da 
pessoa humana 
Toda construção do Supremo Tribunal Federal sobre a dignidade da pessoa 
humana deve ter como premissa a argumentação retórica dos votos dos 
ministros na tentativa de convencer e persuadir seus destinatários. 
 
A Constituição Federal de 1988 erigiu como fundamento do Estado brasileiro 
a dignidade da pessoa humana. No âmbito da constitucionalização desse 
princípio, foi a Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, após os 
 
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horrores ocasionados pelo nazismo, que pela primeira vez consagrou a 
dignidade humana como sendo inviolável. Nesse aspecto, a dignidade da 
pessoa humana não pode ser vista como uma concepção puramente 
constitucional, mas um atributo intrínseco da pessoa. É nesse sentido que 
José Afonso da Silva sustenta que 
 
a dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional, 
pois ela é um desses conceitos a priori, um dado preexistente a 
toda experiência especulativa, tal como a própria pessoa humana. 
A Constituição, reconhecendo sua existência e sua eminência 
transformou-a num valor supremo da ordem jurídica, quando 
declara como um dos fundamentos da República Federativa do 
Brasil constituída em Estado Democrático de Direito.5 
 
A par de toda divergência doutrinária e jurisprudencial na definição de um 
status jurídico da dignidade humana, ela possui um duplo sentido: a) como 
um vetor interpretativo, que se irradia para os demais ramos do direito e; b) 
como um princípio positivado na Constituição, dotado de plena eficácia. Por 
se tornar um núcleo fundante de toda ordem jurídica, o Supremo Tribunal 
Federal produz uma redefinição hermenêutica da dignidade humana, tais 
como nos seguintes exemplos: 
 
A “escravidão moderna” é mais sutil do que a do século XIX e o 
cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos 
constrangimentos econômicos e não necessariamente físicos. Priva-
se alguém de sua liberdade e de sua dignidade tratando-o como 
coisa, e não como pessoa humana, o que pode ser feito não só 
mediante coação, mas também pela violação intensa e persistente 
de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno. A 
violação do direito ao trabalho digno impacta a capacidade da 
vítima de realizar escolhas segundo a sua livre determinação. Isso 
também significa “reduzir alguém a condição análoga à de 
 
5 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: 
Malheiros, 2008. p. 38. 
 
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escravo”. (Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, julgamento 
em 29-3-2012, Plenário, DJE de 12-11-2012.) 
 
A cláusula da reserva do possível – que não pode ser invocada, pelo 
Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de 
inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na 
própria Constituição – encontra insuperável limitação na garantia 
constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto 
de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da 
essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noção de ‘mínimo 
existencial’, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos 
constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um 
complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de 
garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a 
assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, 
também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras 
da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à 
educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, 
o direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, 
o direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração 
Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). 
(ARE 639.337-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23-8-
2011, Segunda Turma, DJE de 15-9-2011.) 
 
Reconhecimento e qualificação da união homoafetiva como 
entidade familiar. O STF – apoiando-se em valiosa hermenêutica 
construtiva e invocando princípios essenciais (como os da dignidade 
da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminação, da 
igualdade, do pluralismo, da intimidade, da não discriminação e da 
busca da felicidade) – reconhece assistir, a qualquer pessoa, o 
direito fundamental à orientação sexual, havendo proclamado, por 
isso mesmo, a plena legitimidade ético-jurídica da união 
homoafetiva como entidade familiar, atribuindo-lhe, em 
consequência, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a 
permitir que se extraiam, em favor de parceiros homossexuais, 
relevantes consequências no plano do Direito, notadamente no 
campo previdenciário, e, também, na esfera das relações sociais e 
familiares. A extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime 
 
 15 
jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero distinto 
justifica-se e legitima-se pela direta incidência, dentre outros, dos 
princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, 
da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que 
consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa 
estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da 
própria CR (art. 1º, III, e art. 3º, IV), fundamentos autônomos e 
suficientes aptos a conferir suporte legitimador à qualificação das 
conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espécie do 
gênero entidadefamiliar. (...) O postulado da dignidade da pessoa 
humana, que representa – considerada a centralidade desse 
princípio essencial (CF, art. 1º, III) – significativo vetor 
interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o 
ordenamento constitucional vigente em nosso País, traduz, de 
modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre 
nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema 
de direito constitucional positivo. (...) O princípio constitucional da 
busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do núcleo de que 
se irradia o postulado da dignidade da pessoa humana, assume 
papel de extremo relevo no processo de afirmação, gozo e 
expansão dos direitos fundamentais, qualificando-se, em função de 
sua própria teleologia, como fator de neutralização de práticas ou 
de omissões lesivas cuja ocorrência possa comprometer, afetar ou, 
até mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais. Assiste, por 
isso mesmo, a todos, sem qualquer exclusão, o direito à busca da 
felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito, que se 
qualifica como expressão de uma ideia-força que deriva do princípio 
da essencial dignidade da pessoa humana. (RE 477.554-AgR, Rel. 
Min. Celso de Mello, julgamento em 16-8-2011, Segunda Turma, 
DJE de 26-8-2011.) No mesmo sentido: ADI 4.277 e ADPF 132, 
Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 5-5-2011, Plenário, DJE de 
14-10-2011. 
 
(...) a dignidade da pessoa humana precede a Constituição de 1988 
e esta não poderia ter sido contrariada, em seu art. 1º, III, 
anteriormente a sua vigência. A arguente desqualifica fatos 
históricos que antecederam a aprovação, pelo Congresso Nacional, 
da Lei 6.683/1979. (...) A inicial ignora o momento talvez mais 
 
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importante da luta pela redemocratização do país, o da batalha da 
anistia, autêntica batalha. Toda a gente que conhece nossa História 
sabe que esse acordo político existiu, resultando no texto da Lei 
6.683/1979. (...) Tem razão a arguente ao afirmar que a dignidade 
não tem preço. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A 
dignidade não tem preço, vale para todos quantos participam do 
humano. Estamos, todavia, em perigo quando alguém se arroga o 
direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa humana 
como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que, 
então, o valor do humano assume forma na substância e medida de 
quem o afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em 
que o mensure. Então o valor da dignidade da pessoa humana já 
não será mais valor do humano, de todos quantos pertencem à 
humanidade, porém de quem o proclame conforme o seu critério 
particular. Estamos então em perigo, submissos à tirania dos 
valores. (...) Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao 
proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo), tenho 
que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa 
não pode ser retribuída com a proclamação de que o instituto da 
anistia viola a dignidade humana. (...) O argumento descolado da 
dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão 
criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram 
crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o 
regime militar, esse argumento não prospera. (ADPF 153, voto do 
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-4-2010, Plenário, DJE de 
6-8-2010.) 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 
PROCESSO CIVIL. HABILITAÇÃO DE HERDEIROS NO INVENTÁRIO. 
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA IMPUGNADA POR MEIO DE 
SUCESSIVOS RECURSOS. APELO EXTRAORDINÁRIO. NÃO 
CABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 735/STF. AGRAVO 
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. As decisões interlocutórias, postos 
não constituírem decisão de única ou última instância nos termos 
do artigo 102, III, da Constituição Federal, não são passíveis de 
impugnação via recurso extraordinário, nos termos do enunciado do 
Verbete nº 735 da Súmula da Jurisprudência desta Corte. 2. In 
casu, o acórdão originariamente recorrido assentou que “com o 
 
 17 
advento da nova ordem constitucional, todos, independentemente 
da origem da filiação, passaram a gozar da condição de filhos, 
fazendo jus a idênticos direitos, ainda que adotados antes da sua 
vigência (…). O afastamento das adotadas, como quer a agravante, 
seria uma discriminação agressiva ao instituto da adoção, porque 
teríamos algumas adoções “mais adoções” do que outras, em 
ferimento à dignidade da pessoa e à igualdade da filiação. 3. 
Agravo regimental desprovido. (RE 606305 AgR/RS, voto do 
Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 18-06-13, Primeira 
Turma) 
 
Da análise jurisprudencial, é possível concluir que o Supremo Tribunal Federal 
evita a discussão sobre as dimensões da dignidade da pessoa humana, 
apenas apontando que ela é inerente ao ser humano. Assim, o Supremo 
adota o princípio como vetor interpretativo principalmente nas questões que 
envolvam direitos fundamentais. 
 
Atividade proposta 
Qual princípio o Supremo Tribunal Federal visou atender com a edição em 
2008 da Súmula Vinculante 11: “Só é lícito o uso de algemas em casos de 
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física 
própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a 
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e 
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato 
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do 
Estado.”? 
 
 
Material complementar 
 
Para aprofundar seu conhecimento, leia o artigo As dimensões 
da dignidade humana: construindo uma compreensão 
jurídico-constitucional necessária e possível. Disponível em 
 
 18 
nossa biblioteca virtual. 
 
Referências 
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 2. 
ed. São Paulo: Saraiva, 1996. 
 
BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 1998. 
 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: 
Malheiros, 1999. 
 
CAMARGO, Margarida Maria Lacombe. Hermenêutica e argumentação: 
uma contribuição ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 
 
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Exercícios de fixação 
Questão 1 
Ingo Wolgang Sarlet conceitua dignidade da pessoa humana como sendo 
uma “qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o 
 
 21 
faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da 
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres 
fundamentais que assegurem à pessoa tanto contra todo e qualquer ato de 
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições 
existentes mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover 
sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e 
da vida em comunhão com os demais seres humanos”. A partir da diretriz 
hermenêutica pautada no artigo 1º, III, da nossa CRFB/88, analise as 
afirmativas: 
 
I. A privação da propriedade, por ato emanado do Estado, subordina-se à 
observância de interesse público, previsto no ordenamento jurídico, 
com a garantia ao particular de indenização prévia (art. 5º, XXIV). 
II. O direito à existência digna não é assegurado apenas pela não 
abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a 
sua autoridade. Passa também pelo cumprimento de prestações 
positivas. 
III. Não se aplica o princípio da dignidade da pessoa humana nas relações 
estritamente patrimoniais, já que, neste caso, o princípio da autonomia 
negocial se desvela inafastável. 
IV. Ao Estado cabe organizar e manter sistema previdenciário, com vistas 
a suprir os rendimentos do trabalhador por ocasião das contingências 
da vida gregária (art. 201). 
 
a) ( ) V; F; F; V. 
b) ( ) F; F; F; V. 
c) ( ) F; F; V; V. 
d) ( ) V; V; F; V. 
Questão 2 
O princípio da dignidade da pessoa humana encontra respaldo na 
conformação de um patrimônio jurídico fundamental, acervo de direitos 
 
 22 
subjetivos sem os quais qualquer pretensão de bem-estar social seria 
improvável. Dentro deste contexto, assinale a única opção correta: 
 
a) O princípio do mínimo existencial e o princípio do economicamente 
possível convivem em perfeita harmonia, sendo certo que se 
completam e, juntos, conspiram a favor da dignidade da pessoa 
humana no Estado brasileiro. 
b) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não fere o 
direito à intimidade a apreensão, após o parto, da placenta, a fim de 
se proceder a exame hematológico de DNA, visando comprovar a 
paternidade biológica do neonato. 
c) Uma das vertentes concretizadoras mais proeminentes do princípio da 
ampla defesa é a admissão de denúncia imprecisa ou genérica, no 
âmbito do processo penal constitucional brasileiro. 
d) A fim de preservar o princípio constitucional da não autoincriminação, 
todo preso tem o direito inalienável de permanecer calado enquanto 
apanha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 3 
Analise cada item: 
 
 23 
Na atualidade, pauta a tendência dos ordenamentos o reconhecimento do ser 
humano como o centro e o fim do direito. Essa inclinação, reforçada ao 
depois da traumática barbárie nazifascista, encontra-se plasmada pela 
adoção, à guisa de valor básico do Estado Democrático de Direito, da 
dignidade da pessoa humana. 
 
I. O respeito à dignidade da pessoa humana apresenta quatro 
importantes consequências: a) igualdade de direitos entre todos os 
homens; b) garantia da independência e autonomia do ser humano; c) 
observância e proteção dos direitos inalienáveis do homem; d) não 
admissibilidade da negativa dos meios fundamentais para o 
desenvolvimento de alguém como pessoa ou a imposição de condições 
subumanas de vida. 
II. O direito à existência digna é assegurado apenas pela abstenção do 
Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua 
autoridade. 
III. O reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana não se 
coaduna com a salvaguarda dos direitos da personalidade. 
IV. A Lei Fundamental de Bonn, de 23 de maio de 1949, é responsável por 
solenizar, no seu art. 1.1., incisiva declaração: “A dignidade do homem 
é intangível. Os poderes públicos estão obrigados a respeitá-la e 
protegê-la.” O preceito recolhe sua inspiração na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas de 10 de dezembro de 1948, sem olvidar o respeito aos direitos 
naturais, inalienáveis e sagrados do homem, propugnados pelos 
revolucionários franceses, através da Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789. 
 
Somente é INCORRETO o que se afirma em: 
a) ( ) I e III. 
b) ( ) II e IV. 
c) ( ) III e IV. 
 
 24 
d) ( ) I, II e IV. 
 
Questão 4 
Analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: 
 
I. Construindo sua concepção a partir da natureza racional do ser 
humano, Kant assinala que a autonomia da vontade, entendida como a 
faculdade do ser humano de determinar a si mesmo e agir em 
conformidade com a representação de certas leis, é um atributo 
apenas encontrado nos seres racionais, constituindo-se no fundamento 
da dignidade da natureza humana. 
II. No âmbito do pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a 
concepção da dignidade da pessoa humana, assim como a ideia do 
direito natural em si, passou por um processo de racionalização e 
secularização, mantendo-se, todavia, a noção fundamental da 
igualdade de todos os homens em dignidade e liberdade. 
 
a) ( ) As duas assertivas são falsas. 
b) ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa. 
c) ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras. 
d) ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 5 
 
 25 
Segundo Kant, da ideia de dignidade da pessoa humana pode se extrair as 
seguintes conclusões, exceto: 
 
a) Nasce da autonomia ética do ser humano. 
b) Nunca deve ser considerada nas questões jurídicas ou morais. 
c) Permite que se sustente que o ser humano não pode ser tratado como 
objeto, nem por ele mesmo. 
d) Pode ser extraída da própria razão humana (racionalidade prática). 
 
 
 
 26 
 
 
 
 
Atividade proposta 
A dignidade da pessoa humana, que é limite e tarefa dos poderes estatais, da 
comunidade geral e de todos. Na fórmula kantiana, a dignidade da pessoa 
humana poderia ser considerada atingida sempre que a pessoa concreta (o 
indivíduo) fosse rebaixada a objeto, a mero instrumento, tratada como uma 
coisa, em outras palavras, sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada 
e desconsiderada como sujeito de direitos. O homem constitui um fim em si 
mesmo e não pode servir simplesmente como meio para o uso arbitrário 
desta ou daquela vontade. 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 - D 
Justificativa: Quanto à afirmação de que “A privação da propriedade, por ato 
emanado do Estado, subordina-se à observância de interesse público, 
previsto no ordenamento jurídico, com a garantia ao particular de indenização 
prévia” a Constituição Federal prevê em seu art. 5º, XXIV, que a lei 
estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou 
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização 
em dinheiro, sempre lembrando as ressalvas feitas pelo próprio texto 
constitucional. Portanto, o itemestá correto. No que diz respeito à afirmação: 
”O direito à existência digna não é assegurado apenas pela não abstenção do 
Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas sob a sua autoridade. 
Passa também pelo cumprimento de prestações positivas” deve ser lembrado 
que a dignidade da pessoa humana deve ser assegurada também em relação 
 
 27 
às prestações positivas, que dependem da atuação do Estado. Por isso o item 
deve ser considerado correto. A afirmativa de que “ao Estado cabe organizar 
e manter sistema previdenciário, com vistas a suprir os rendimentos do 
trabalhador por ocasião das contingências da vida gregária” também deve ser 
considerado correto, pois o artigo 201 da Constituição Federal prevê que “A 
previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter 
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o 
equilíbrio financeiro e atuarial”. 
 
Questão 2 - B 
Justificativa: Justificativa: Na RCL 2.040, o Supremo Tribunal Federal, no 
mérito, julgou procedente a reclamação e, avocando a apreciação da matéria 
de fundo, deferiu a realização do exame de DNA com a utilização do material 
biológico da placenta retirada da extraditanda. Fazendo a ponderação dos 
valores constitucionais contrapostos, quais sejam, o direito à intimidade e à 
vida privada da extraditanda, e o direito à honra e à imagem dos servidores e 
da Polícia Federal como instituição – atingidos pela declaração de a 
extraditanda haver sido vítima de estupro carcerário, divulgada pelos meios 
de comunicação –, o Tribunal afirmou a prevalência do esclarecimento da 
verdade quanto à participação dos policiais federais na alegada violência 
sexual, levando em conta, ainda, que o exame de DNA acontecerá sem 
invasão da integridade física da extraditanda ou de seu filho. 
 
Questão 3 - C 
Justificativa: A afirmação de que “O direito à existência digna é assegurado 
apenas pela abstenção do Estado em afetar a esfera patrimonial das pessoas 
sob a sua autoridade” deve ser considerada incorreta, pois o dever do Estado 
passa também pelo cumprimento de prestações positivas. Deve ser lembrado 
ainda que a dignidade da pessoa humana deve ser assegurada também em 
relação às prestações positivas, que dependem da atuação do Estado. A 
afirmação de que “O reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana 
não se coaduna com a salvaguarda dos direitos da personalidade” também 
 
 28 
deve ser considerado incorreto na medida em que os direitos da 
personalidade estão inseridos na ideia da dignidade da pessoa humana. 
 
Questão 4 - C 
Justificativa: Para Kant, a dignidade parte da autonomia ética do ser humano, 
considerando a autonomia como fundamento da dignidade do homem. O 
autor sustenta que o ser humano não pode ser tratado – nem por ele próprio 
– como objeto. A segunda afirmação também é verdadeira, pois para o 
pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da 
dignidade da pessoa humana passa por um processo de racionalização e 
secularização. Além disso, preocupa-se com a igualdade do ser humano. 
 
Questão 5 - B 
Justificativa: Para o pensamento kantiano, as questões morais devem ser 
consideradas. A dignidade, segundo o autor, parte da autonomia ética do ser 
humano, considerando a autonomia como fundamento da dignidade do 
homem. Assim, o ser humano não pode ser tratado – nem por ele próprio – 
como objeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atualizado em: 09 jun. 2014 
 
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