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TEORIA GERAL DO CRIME

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DIREITO PENAL GERAL
TEORIA DO DELITO
FATO TÍPICO
É aquele descrito na lei como crime ou contravenção penal. Se este evento não estiver descrito na lei, o fato é atípico, ainda que ofenda gravemente a moral e os bons costumes. Assim, v.g., se o pai mantém relação sexual com a filha maior de idade, e de maneira consentida, esse evento viola gravemente a moral, mas como não há previsão no ordenamento, ele é atípico. Crime inominado é o fato que ofende as regras morais ou éticas. Esse tipo de previsão não existe no Brasil, haja vista que, por força dos princípios da legalidade (tudo que for crime tem que estar descrito na lei) e da reserva legal (apenas a lei, que surge do devido processo legislativo, é que tem força para exigir conduta conforme o direito), só a lei pode criar figuras criminosas.
Dependendo da forma ou da categoria do delito, os elementos do fato típico irão variar.
A) Nos crimes materiais ou causais, os elementos do fato típico são os seguintes:
· Conduta – ação ou omissão
· Resultado – é a modificação no mundo fático
· Nexo causal – é o liame entre a conduta e o resultado
· Tipicidade – é a adequação da conduta à norma.
B) Nos crimes formais e nos de mera conduta, tendo em vista que o resultado não é exigido para a consumação, ou não há resultado, os elementos do fato típico são os seguintes:
· Conduta
· Tipicidade
Crimes materiais ou causais são aqueles em que a lei descreve a conduta e o resultado, exigindo para a consumação a ocorrência desse resultado, a modificação no mundo fático, como ocorre no homicídio, no estupro etc. Crimes formais, de consumação antecipada, ou de resultado cortado, são aqueles em que a lei descreve a conduta e o resultado, mas para a sua consumação dispensa-se o resultado. Ex. extorsão “com o fim de obter”, ou seja, basta a intenção de obter esse resultado (não é preciso que se consiga). Caso ocorra o resultado, dá-se o exaurimento do delito. Crimes de mera conduta ou de simples atividade são aqueles em que a lei descreve apenas a conduta, sem mencionar qualquer resultado. Ex. crime de violação de domicílio (art 150), e reingresso de estrangeiro expulso (art 338 CP).
CONDUTA
É o gênero, ou o comportamento humano, que abrange a omissão e a ação. Os penalistas antigos (Hungria) não usavam a expressão conduta, mas sim a expressão ação em sentido amplo, e as espécies desta ação eram a ação em sentido estrito e a omissão. O conceito atual acaba por simplificar esse estudo. Ressalte-se que não existe crime sem conduta, não tendo aporte em nosso sistema jurídico os chamados crimes de mera suspeita ou de simples posição, no qual uma situação individual estática é tida como crime. 4 teorias buscaram conceituar conduta, havendo distinção acerca, no mais das vezes, com relação aos elementos subjetivos.
TEORIA NATURALÍSTICA, CLÁSSICA, CAUSAL OU MECANICISTA - conduta é o comportamento humano, voluntário, que produz um resultado, isto é, uma modificação no mundo das coisas (traz a idéia de conduta criminosa como desvalor do resultado). Ex. se alguém se atirar na frente de um trem, para esta teoria, o maquinista realizou conduta, mesmo que ele não tivesse a mínima intenção de atropelar essa pessoa. Isso porque ele conduzia voluntariamente o trem. Será clara a absolvição do maquinista, por falta de culpabilidade, mas não por falta de conduta. Isso porque, para essa teoria, o dolo e a culpa integram a culpabilidade, e não a conduta. Assim, é possível conduta sem dolo ou culpa.
CRÍTICAS A ESSA TEORIA – destacam-se 2 críticas:
1) Ela afirma que conduta também é um ato de vontade, mas ao mesmo tempo, ela retira da conduta o conteúdo da vontade (dolo e culpa). Existe aí contradição; 
2) Ela analisa somente o comportamento externo do homem, o seu movimento mecânico, e deixa para a culpabilidade a análise da intenção; 
3) Para ela, conduta é um comportamento que necessariamente causa um resultado, não explicando os crimes sem resultado (mera conduta, formal, omissivos próprios e a tentativa);
4) Ela conflita com a teoria da tipicidade, pois se o fato é típico, presume-se então a antijuridicidade. Ora, como presumir a antijuridiciadade sem analisar dolo ou culpa? Sendo assim, para esta teoria, o fato é típico independentemente do dolo ou culpa.
TEORIA FINALISTA (Hans Welzel) - conduta é o comportamento humano voluntário e consciente dirigido a um fim (traz a idéia de conduta criminosa como desvalor da ação). Nessa teoria, o dolo e a culpa pertencem à conduta, não à culpabilidade. No exemplo anterior, para o finalismo, não houve conduta por parte do maquinista, porque não atuou com dolo ou culpa, isto é, o fato é atípico. O comportamento humano, para a teoria, possui 2 aspectos: i) aspecto interno, ou psicológico – intenção do agente (dolo e culpa); ii) aspecto externo – movimento do corpo humano. Para a teoria naturalística, a conduta possui apenas o aspecto externo. O art 20 do CP afirma que o erro sobre os elementos constitutivos do tipo exclui o dolo (fato será atípico), dando a entender que o legislador de 1984 adotou o finalismo.
O primeiro finalista brasileiro foi Heleno Cláudio Fragoso. É incorreta a afirmação “de acordo com o finalismo, o crime é fato típico e antijurídico”, pois, para os pioneiros do finalismo (Welzel, Fragoso), o crime é fato típico, antijurídico e culpável (teoria tripartite ou tripartida). A teoria bipartida trata do conceito analítico de crime, dizendo que ele possui dois elementos – fato típico e antijuridicidade, considerando a culpabilidade mero pressuposto para aplicação de pena. Esta teoria é brasileira, e foi criada pelo penalista paranaense René Ariel Dotti, na década de 70. Já o finalismo conceitua conduta, e surgiu na Alemanha na década de 30. Há assim 2 grupos de finalistas: os bipartidos (Dotti, Mirabetti, Damásio) e os que adotam a teoria tripartida (Fragoso, Miguel Reale Jr. etc).
CRÍTICA A ESSA TEORIA - o finalismo explica de maneira satisfatória os crimes que não têm resultado, como a tentativa, mera conduta, omissivo próprio ou formal, enquanto a teoria naturalística não. O ponto fraco da teoria são os crimes culposos, nos qiaos o resultado é involuntário, não faz parte da finalidade do agente. O finalismo fala que toda a conduta é dirigida a uma finalidade. Para eles, a conduta culposa também é dirigida a um fim, diferente do resultado produzido; a finalidade está direcionada à violação do dever objetivo de cuidado, e não à produção do resultado. O finalismo, entretanto, não explica a culpa oriunda do esquecimento, pois é evidente que ele não é dirigido a fim algum.
TEORIA SOCIAL - não é propriamente uma nova teoria, mas um complemento das 2 anteriores (clássica e finalista), com a introdução de um novo elemento: o socialmente relevante, que seria a conduta capaz de afetar o relacionamento do indivíduo com o seu meio social e, segundo suas consequências ambicionadas ou não desejadas, constitui, no campo social, elementos de um juízo de valor. A teoria social acaba englobando as 2 anteriores, aproveitando os seus elementos, mas afirmando que não são suficientes. Para o Professor, ela se desdobra da seguinte maneira:
A) Teoria social naturalística - conduta é um comportamento humano voluntário e socialmente relevante, que produz um resultado.
B) Teoria social finalista - conduta é um comportamento humano voluntário, consciente e socialmente relevante, dirigido à um fim.
Por conta destas 2 definições, a teoria social se submeteria às mesmas críticas das 2 teorias anteriores. Com o novo elemento, todo tipo penal se torna aberto, fazendo com que haja no D. Penal a intromissão de impropriedades ideológicas (ou aspectos ideológicos, numa visão defensiva), permitindo a ocorrência de absolvições. De acordo com Assis Toledo, a maior crítica decorre do fato da relevância social não ser uma característica estritamente da conduta, mas sim caracterizadora dos fatos jurídicos em sentido amplo, penais ou não. Assim, pessoa morta por um raio é um fato que tem relevância social, pois gera uma série de efeitos na sociedade. No entanto,não explica que conduta é relevante para o D. Penal.
TEORIA JURÍDICO-PENAL - inspirada pelo Ministro Assis Toledo. Essa teoria busca um conceito de conduta que sirva apenas para o D. Penal. Ela parte do conceito de conduta com base na norma penal. Diferentemente do finalismo e da teoria clássica, que buscam um conceito universal e filosófico de conduta, a teoria jurídico-penal não tem essa pretensão, e está focada apenas na ciência penal. Para Assis Toledo, conduta é o comportamento humano dominado ou dominável pela vontade, dirigido à lesão (dolo direto) ou perigo de lesão (dolo eventual) ao bem jurídico, ou ainda à causa de uma previsível lesão ao bem jurídico (culpa). Em suma, o dolo e a culpa integram a conduta e, além disso, afirma-se que a conduta é um comportamento dirigido. Essa teoria é praticamente a mesma que o finalismo; a diferença é que o finalismo é uma doutrina universal, enquanto que a de Assis Toledo é restrita ao D. Penal. Nessa linha de raciocínio, FMB propõe: conduta é a ação ou omissão, dolosa ou culposa, que lesa ou põe em risco de lesão um bem jurídico penalmente protegido.
NORMA - é a ordem, o comando, previsto em lei. As normas incriminadoras são aquelas que definem a conduta e impõem uma sanção. Estas normas se desdobram em 3 categorias:
a) Norma proibitiva – é aquela que veda, proíbe, um comportamento (não matar). Estas normas estão registradas nos delitos em que a lei incrimina uma ação, ou seja, os delitos comissivos. Sendo assim, se a lei incrimina uma ação, é sinal de que o agente não deve atuar.
b) Norma preceptiva – esse tipo de norma ordena ao agente uma ação, determina que o agente faça alguma coisa. Esta norma está presente nos delitos omissivos próprios ou puros, como o art 135, em que o legislador incrimina a omissão.
c) Norma híbrida – aquela que prevê uma conduta ativa, mas a sua realização pode ocorrer por meio de uma omissão. É o caso dos crimes omissivos impróprios, impuros, ou comissivos por omissão. Nestes casos, em regra, o agente responde pelo resultado, mas há exceções.
ELEMENTOS DA CONDUTA – são elementos da conduta: a) ato de vontade dirigido a um fim (querer íntimo) e; b) exteriorização da vontade no mundo exterior por meio de ação ou omissão. Há certos casos em que o ato não configura conduta, situações nas quais o fato será atípico, sendo que o agente será absolvido nesse sentido. Os casos são os seguintes:
· Ato reflexo - se trata de uma reação de um órgão ou músculo, como espirrar, piscar o olho, pois movimento não é impulsionado por elemento psíquico, mas sim fisiológico. Para Alberto Silva Franco, o ato cometido por meio de reflexo configura o excesso exculpante, em que não há opção de vontade. Não se confunde com o ato habitual, mecânico ou automático (reiteração de certo comportamento), que ganha relevância na análise do crime culposo (ex. dirigir sem as mãos no volante)
· Ato inconsciente - sonambulismo, hipnose.
· Coação física irresistível - o coagido ou coato será mero instrumento nas mãos do coator, não há sinal de vontade do coagido. Na coação moral irresistível é diferente, o agente atua sobre grave ameaça – existe conduta, pois o coagido, por sua vontade, poderá se decidir por outra via. Entretanto, neste contexto, não se pode exigir do agente uma conduta diversa (inexigibilidade de conduta diversa), e ele será absolvido por falta de culpabilidade.
· Caso fortuito ou força maior - acontecimento imprevisível e inevitável. Para parte da doutrina, são sinônimos.
FORMAS DE CONDUTA - a conduta poderá ser realizada por meio de ação ou omissão. A ação diz respeito aos crimes comissivos, em que se exige um movimento do corpo, como matar, subtrair. Já a omissão é a não realização da conduta esperada, correspondente a um dever jurídico, conduta esta registrada nos crimes omissivos. A omissão pode ser levada a efeito de 2 maneiras:
· Por inércia muscular
· Por ação diversa da esperada, quando o agente se omite saindo do contexto em que foi solicitado. Com isso, se percebe que a omissão não é apenas a inércia muscular, pois é possível se omitir por meio de ação.
CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS OU PUROS - quando a omissão está descrita na própria lei. É a lei que descreve a conduta negativa que é incriminada. Ex. art 135. Esse tipo de delito não admite tentativa nem co-autoria (embora admita participação). A maior parte dos crimes omissivos puros é na forma dolosa, mas é possível em sua modalidade culposa (ex. art 13 L. 10826/03 – Desarmamento).
CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS, IMPUROS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO - são aqueles em que a lei descreve uma ação, mas o agente chega ao resultado por meio de uma omissão. Ex. mãe que não alimenta o filho, que morre. Trata-se de uma norma híbrida, que admite a co-autoria e a tentativa. A responsabilidade penal nos crimes comissivos por omissão exige alguns requisitos:
· Dever jurídico específico de atuar para evitar o resultado (art 13 §2º) - a previsão traz consigo a noção de crime próprio, porque apenas as pessoas arroladas no art 13 §2º é que podem cometer esse tipo de delito.
· Possibilidade de agir - se a mãe é impedida, por meio de arma colocada em sua cabeça, de alimentar seu filho, e a criança morre, não irá responder pelo resultado. Isso porque nos crimes omissivos, a coação moral irresistível exclui a conduta, e não a culpabilidade - o fato é atípico, porque a possibilidade de agir, o poder de atuar, é um dos elementos da omissão e, portanto, do próprio fato típico.
· Dolo ou culpa – estes elementos também compõem o rol de requisitos da responsabilidade penal nos crimes omissivos impróprios. É importante observar que a omissão culposa será penalmente relevante quando a lei incriminar esta modalidade de culpa. De outra parte, se não existe essa relevância da omissão culposa, o fato será atípico (ex. segurança que dorme durante o serviço e ocorre um furto – não responde por nada, pois não existe furto culposo).
DEVER JURÍDICO DE AGIR
· Específico - casos das pessoas enumeradas no art 13 §2º. O dever específico serve para proteger a vida (em sentido genérico), a saúde, e o patrimônio da pessoa. Assim, se um policial não impedir um furto, ele irá responder pelo furto.
· Genérico - dever destinado às pessoas que não se enquadram no art 13 §2º. O dever genérico é aquele que está enquadrado no art 135, que incrimina a omissão de socorro. Esse dever só existe para proteger a vida ou a saúde da pessoa, não se destina à proteção do patrimônio. 
CASOS DE DEVER JURÍDICO ESPECÍFICO DE AGIR - o dever jurídico específico de agir irá surgir pela imposição de um dos 3 elementos:
· Lei (art 13, §2º a) – tanto faz se essa lei é penal ou extrapenal. Ex. pais têm que proteger os filhos; a autoridade policial tem dever legal de zelar pela integridade daquele que está sendo autuado. Ocorrendo um resultado por conta da omissão desses agentes, em regra, eles irão responder pelo resultado mais grave.
· Posição de garante (art 13 §2º b) – nesse caso, o agente assume o compromisso, contratual ou não, oneroso ou gratuito, de zelar por alguém, uma pessoa ou até o patrimônio. Ex. guia de alpinistas é responsável pelo grupo, não pode abandoná-lo durante a escalada sob pena de responder pelo resultado de eventual incidente.
· Ingerência (art 13 §2º c) – em uma situação em que não havia risco algum, o agente cria o perigo e, com isso, terá o dever de impedir o resultado. Ex. desafio de natação, queimada.
Caso curioso: por culpa, o agente causa uma lesão corporal em alguém e, dolosamente, omite socorro, vindo essa pessoa a morrer. O agente responde por qual crime? Pela redação do art 13 §2º c, seria homicídio doloso, uma vez que sua conduta final foi dolosa, mas, pelo D. Penal brasileiro, responde por homicídio culposo com causa de aumento por omissão de socorro, que são as figuras dos arts 121 §4º CP ou 302 p.u. CTB. A rigor, como o agente criou o perigo, e sua omissão foi dolosa, o homicídio deveria ser doloso, mas por conta de expressa previsão legal, o homicídio é culposo. Existe então uma contradição entre a regra do art 13 §2º eos arts supracitados, pois o agente que cria perigo sem causar lesão, omitindo-se dolosamente, irá responder por homicídio doloso, mas se o agente criar perigo mediante lesão culposa, o que é mais grave, estranhamente, o enquadramento será por homicídio culposo. A resposta para a contradição é solucionada pela simples aplicação do texto legal.
RESULTADO
Também chamado de evento. O resultado pode ser jurídico ou normativo, e, de outra parte, naturalístico.
RESULTADO JURÍDICO OU NORMATIVO - trata-se da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. Todo crime, inclusive a tentativa, tem resultado jurídico. Isso porque todo delito lesa ou coloca em perigo determinado direito. Não há crime sem resultado jurídico. Existe divergência doutrinária acerca de o resultado jurídico ser elemento do fato típico ou da antijuridicidade. Para a 1ª corrente (Assis Toledo), o resultado jurídico é elemento do fato típico. Para a 2ª corrente (Bettiol), resultado jurídico é elemento da antijuridicidade, sendo então o fato típico, mas sem resultado jurídico. Assim, v.g., se um funcionário furtar uma folha de papel da secretaria, pelo princípio da insignificância, não há lesão ao patrimônio do FMB. Para a 1ª corrente, fato será atípico, e para a 2ª será típico, mas não antijurídico.
RESULTADO NATURALÍSTICO - trata-se da modificação no mundo exterior produzida pela conduta – efeito da conduta. O resultado naturalístico é o efeito físico, fisiológico ou psicológico, produzido pela conduta. Ex. destruição de um objeto no crime de dano (efeito físico); morte de pessoa no homicídio (efeito fisiológico); intimidação na ameça (efeito psicológico).
Não confundir resultado naturalístico com consequência do crime. O resultado é um dos elementos do fato típico. Logo, ele não influencia na pena, sob o risco de ocorrer bis in idem. Ex. julgador não pode aumentar a pena do homicídio em 1/6 porque a vítima morreu, ou do furto porque furtou demais. O resultado é um efeito da conduta previsto no tipo. Os efeitos extratipo (fora do tipo) não são resultado, mas sim consequências – estas influem na pena base, nos termos do art 59, pois integram o rol de circunstâncias judiciais a serem consideradas pelo juiz na 1ª fase da dosimetria. Ex. se o agente, para subtrair bens da vítima, mata duas ou mais pessoas – responde por crime único de latrocínio (art 157, §3º); juiz utiliza uma delas como resultado, e as demais mortes como consequência da conduta, circunstância judicial para aumentar a pena base traçada nesse delito.
Alguns delitos não possuem resultado naturalístico. São eles: crimes de mera conduta, de perigo abstrato, omissivos próprios e a tentativa. Ex. se agente atira na vítima e ela não morre, não há resultado naturalístico (não há morte); bem tutelado é a vida e esta se manteve. Com relação aos crimes formais, o tipo penal menciona o efeito da conduta, mas este não é necessário para a ocorrência do crime. A rigor, esse efeito não é resultado, mas consequência, exaurimento, pois o efeito só possui a categoria de resultado naturalístico quando for elemento do fato típico; neste caso, irá influir no cálculo da pena. Portanto, crime formal também não possui resultado naturalístico.
RESULTADO NATURALÍSTICO NOS CRIMES DE PERIGO - perigo é a probabilidade do dano. Probabilidade é algo concreto, difere da possibilidade, que é algo mais remoto. 2 teorias buscaram esclarecer se o perigo existe.
a) Teoria subjetiva - para ela, o perigo não existe, ele está na imaginação do homem.
b) Teoria objetiva - para ela, o perigo existe, é um trecho da realidade. 
Nosso legislador adotou uma teoria eclética ou mista, pois o perigo existe, mas sua análise é subjetiva, dependendo de um juízo, um prognóstimo de imaginação do homem. Sendo assim, os crimes de perigo podem ser:
· Crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência – são aqueles em que a lei descreve uma conduta, presumindo de forma absoluta que dessa conduta irá surgir um perigo, um risco. Ex. porte de arma de fogo ou posse de entorpecente. Esses delitos não têm resultado naturalístico, pois a lei descreve apenas a conduta.
· Crimes de perigo concreto – são aqueles em que a lei descreve uma conduta, mencionando o perigo dela oriundo, exigindo para a consumação a demonstração desse perigo. Ex. art 250, causar incêndio, expondo a perigo a vida, integridade física ou patrimônio de outrem. Esses delitos têm resultado naturalístico, uma vez que o perigo é real, existe, e é elemento do tipo.
NEXO CAUSAL OU RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Trata-se do liame, da ligação entre a conduta e o resultado naturalístico. Vai haver nexo causal quando a conduta for a causa do resultado. Portanto, se percebe que o estudo do nexo causal não se estende a todos os delitos, mas apenas aos crimes que possuem resultado naturalístico, como crimes materiais, de perigo concreto e nos omissivos impróprios. De outra parte, não se aplica aos crimes sem resultado naturalístico.
· Crimes de mera conduta – o nexo causal só tem relevância para apuração de eventual responsabilidade de partícipes;
· Crimes formais - consumam-se com a conduta, apesar de a lei descrever o resultado. No plano da tipicidade, o estudo do nexo causal não tem relevância para os crimes formais, uma vez que a realização da conduta configura o fato típico. Porém, o nexo causal é relevante para identificar o exaurimento, influindo na pena base, e eventual responsabilização de partícipe.
· Os crimes de forma livre são aqueles em que a lei não descreve os meios e a forma de execução (ex. homicídio). Os crimes de forma vinculada são aqueles em que a lei aponta a forma ou meio de execução (ex. art 284 – curandeirismo; art 130 – expor a perigo por meio de relações sexuais). Com essa definição, percebe-se que o estudo do nexo causal só é relevante para os crimes de forma livre, pois nos de forma vinculada são relevantes as condutas praticadas descritas no tipo penal, se tornando inócua a investigação de outras condutas.
TEORIAS SOBRE A CAUSALIDADE FÍSICA – 2 grandes teorias se destacam:
A) Teoria da equivalência das condições, dos antecedentes causais ou condictio sine qua non (Von Buri) – essa teoria regula a causalidade física, sendo que para ela tudo aquilo que colabora para o resultado será causa dele. Ela não distingue causa, concausa, condição ou ocasião, constatando que tudo que colaborar para esse resultado terá dado causa ao evento criminoso. Por conta disso, faz regressos ao infinito, porque todos os fatos são encadeados, eles não existem sozinhos no mundo das coisas. Se esse regresso fosse realizado indistintamente, se estaria concebendo responsabilidade objetiva, que é a exceção no D. Penal. Para frear o regresso ad infinitum, a teoria usa 2 critérios diversos:
· Causalidade psíquica ou pelos elementos subjetivos (dolo e culpa)
· Procedimento hipotético de eliminação de Thyrén, em que uma causa terá dado razão ao resultado se a sua retirada do encadeamento fático afetar o resultado.
B) Teoria da causalidade adequada (Von Kries) - para essa teoria, apenas os antecedentes idôneos é que irão dar causa ao resultado, segundo a experiência comum e o julgamento normal dos homens. Ela distingue os antecedentes normais dos anormais, excluindo o nexo de causalidade com relação aos anormais. Assim, as causas ou concausas (fenômeno de confluência de várias causas), devem ser idôneas à produção do resultado, debitando responsabilidade ao agente. As concausas podem ser absoluta ou relativamente independentes, e nessa medida é apurada a responsabilidade do agente. Se forem concausas absolutamente independentes, qualquer que seja o seu momento (pré-existente, concomitante, ou superveniente), haverá rompimento do nexo causal e o agente não responderá pelo resultado mais grave. Já com relação às concausas relativamente independentes, é preciso distinguir
· Pré-existentes – ex. A atira em B, o qual é socorrido; B é hemofílico; no hospital, B morre pelo tiro agravado pela hemofilia. A responde por homicídio consumado. Isso porque o tipo penal não traz consigo a preservaçãodo estado físico da pessoa, mas sim da vida onde ela existir. Pouco importa se vítima estava prestes a morrer, porque o agente responde pelo resultado e o máximo que ele conseguirá a seu favor será eventual privilégio no caso de relevante valor moral.
· Concomitantes – ex. A e seus amigos perseguem B, torcedor do time rival; para evitar o linchamento, B pula no rio, e morre afogado. A e seus amigos respondem por homicídio consumado. Isso porque B pulou no rio não para nadar, mas para adiar aquilo que era inevitável (seu linchamento) e possível morte. Assim, agente responde pelo resultado.
· Superveniente que por si só não produziu o resultado – ex. A atira em B; no hospital, B adquire infecção hospitalar e morre em virtude do tiro agravado pela infecção. A responde pelo resultado morte. Isso porque a obrigação do pronto-socorro é de meio, e não de resultado; o atendente tem que dar o melhor de si, mas há eventos que não estão sob seu alcance. De outro lado, se o problema da infecção foi a troca de filtros por desídia do diretor do hospital, haverá concorrência para o resultado morte, de modo que A continua respondendo por homicídio doloso, e o diretor do hospital por homicídio culposo (negligência) - no mesmo evento, 2 questões distintas de responsabilidade. 
· Superveniente que por si só produziu o resultado – ex. A atira em B; no trajeto ao hospital, a ambulância capota e B morre de esmagamento do crânio. A não responde pelo resultado morte, apenas pelos fatos anteriores (tentativa de homicídio). Isso porque o capotamento da ambulância inaugurou uma nova linha de perigo totalmente desvinculada do perigo criado inicialmente pelo agente. Essa concausa é relativamente independente porque é do desdobramento normal que uma pessoa atingida por um tiro seja socorrida por uma ambulância, mas como a lesão no crânio é que causou a morte, o agente responde por tentativa. Pela teoria da conditio sine qua non, agente responde pelo resultado, é a regra do CP; mas a previsão do art 13 §1º excepciona essa regra e, portanto, o agente responde apenas pelos fatos por ele praticados.
Para Silva Franco e Greco, ao critério do desdobramento da ação física, deve ser adicionado o conceito de significância, para evitar situações excessivamente rigorosas que atentariam contra o senso comum de justiça. Assim, a causa anterior da qual parte o desdobramento deve ter um peso considerável, correspondente a uma lesão significativa. Se a causa anterior é de menor importância, a cadeia unilinear deve ser considerada como rompida, respondendo o agente apenas pelos fatos decorrentes diretamente de sua conduta. Ex. alguém fere o dedo mínimo de alguém com um canivete pica-fuma, e por não receber higienização adequada, há contração de tétano e morte. Não se poderá imputar ao agente a morte da vítima, porque a lesão não seria significativa.
O CP adotou como regra a conditio sine qua non, e como exceção à regra a teoria da causalidade adequada. Produzir por si só o resultado significa produzir com exclusividade, iniciando uma nova linha de desdobramento desvinculada da conduta inicial do agente. Isso é o que se chama de desdobramento ou rompimento do nexo causal. De outro lado, se o tiro for no peito, a ambulância tombar, e esmagar o peito causando a morte, agente responde por homicídio, porque a batida da ambulância não produziu por si só o resultado. A batida apenas agrava a lesão já existente, tudo está na mesma linha de desdobramento, e o resultado será debitado ao agente.
Causas ou concausas pré-existentes ou concomitantes relativamente independentes que por si só produzem o resultado – ex. A, por culpa, colide com carro de B, o qual se fere levemente no braço, mas morre porque, após a colisão, ressurge uma doença nervosa degenerativa, a qual leva à morte. Pela aplicação estrita da regra do art 13, agente responde pelo resultado (homicídio culposo), porque agiu com culpa e, suprimindo sua conduta, a morte não ocorreria (MP, Magist. Deleg). Porém, para uma 2ª corrente, responde apenas pelos fatos praticados (lesão culposa no braço), aplicando-se a analogia em favor do réu, ampliando-se a previsão do art 13 §1º (Procurad. e DP).
NEXO CAUSAL NOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS - há grande divergência doutrinária e jurisprudencial acerca do papel da omissão frente às previsões do art 13 CP, que trata da relação de causalidade. 3 teorias buscaram esclarecer esse tema:
· Teoria naturalística – para essa teoria, da mesma forma que a ação, a omissão no plano físico pode ser causa do resultado. Isso porque, para ela, não impedir equivale a causar, a omissão é a chamada causa negativa. Para a teoria, qualquer pessoa que podia evitar o resultado, mas se omite dolosamente irá responder por esse resultado, independentemente da existência de norma que imponha ao agente um dever específico de atuar. Ex. se um pedestre vê uma pessoa passando mal, pedindo por socorro, o pedestre não a socorre, e a pessoa morre, o agente responde por homicídio. Entretanto, pela redação do art 135 CP, o agente responde por omissão de socorro. Logo, se percebe que o legislador não adotou a teoria naturalística como regra, porque o art 13 §2º elenca os casos em que agente irá responder pelo resultado quando descumprir o dever específico de agir.
· Teoria normativa – a omissão no plano físico da causalidade não é causa do resultado, porque a omissão é igual a nada, e do nada, não irá surgir coisa alguma. No mundo físico, é impossível visualizar um nexo entre a omissão e o resultado, pois só ações causam resultados. Se a mãe deixa de dar alimento ao filho, e ele morre, não foi a omissão que causou a morte, mas sim a desnutrição. Para essa teoria, o nexo causal entre a omissão e o resultado só se estabelece porque existe uma norma que impõe ao agente o dever específico de atuar. A violação ao texto desta norma é que irá gerar nexo causal. A teoria normativa é majoritária, adotada por Paulo José da Costa Jr., Alberto Silva Franco, Damásio, Mirabete, Capez etc. Os que seguem esta teoria afirmam que existe contradição entre a redação do caput e a do §2º do art 13, que o legislador teria se equivocado na redação do art 13 ao comparar a omissão à ação como causa do resultado.
· Teoria eclética ou mista – a omissão é, ao mesmo tempo, naturalística e normativa. A base naturalística está no art 13 caput, e a base normativa no §2º. O caput afirma que a omissão causa resultado; já no §2º estão arrolados os casos em que o omitente tem o dever específico de atuar, respondendo pelo resultado. Logo, para essa teoria, não há contradição entre o caput e o §2º do art 13. Para Assis Toledo e FMB, o legislador adotou a teoria eclética, porque é incoerente aplicar aos crimes de ação a teoria da conditio sine qua non, e deixar de aplicá-la aos crimes menos graves, que são os delitos omissivos. Para estes autores, também deve ser analisada a causalidade física nos crimes omissivos – se o resultado teria sido impedido pela ação omitida, então a omissão é causal em relação ao evento. Ex. A, médico servidor público, deixa de socorrer B, o qual morre. Pela visão tradicional, A responde por homicídio, porque violou o dever específico de agir previsto em lei. Mas, para a teoria eclética, se ele provar que mesmo socorrendo a pessoa isso de nada adiantaria, ele vai responder por omissão de socorro.
TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA - teve origem no D. Civil, em 1927, por Karl Larenz, com o objetivo de delimitar os limites dos acontecimentos acidentais e os dominados pela vontade do agente. Em 1930, Richard Honig escreveu um ensaio sobre a relação entre a causalidade e a imputação objetiva no campo penal. Porém, foi na década de 60 que a teoria foi definitivamente importada para o D. Penal, destacando-se 2 autores, Claus Roxin, da Escola de Munique, e Günther Jakobs, da Escola de Bonn. Destacou-se o estudo de Roxin, segundo o qual a teoria da imputação objetiva torna mais rigoroso o exame do nexo causal. Essa teoria não elimina o estudo da conditio sine qua non, nem a exigência da causalidade psíquica (doloe culpa) para que haja imputação, apenas cria um 3º filtro ou freio ao nexo causal.
A teoria da conditio sine qua non amplia demasiadamente o conceito de causa, considerando causa qualquer acontecimento sem o qual o resultado não teria ocorrido - até o avô do agente teria dado causa ao crime praticado por seu neto. Essa teoria faz regressos ao infinito. Para solucionar o problema, surge a capacidade psíquica (dolo e culpa), medida que impede o retorno ao infinito e a responsabilidade objetiva. Com o passar dos anos, o estudo do D. Penal passou a adotar outras teorias como forma de reduzir ainda mais a imputação penal. Foi aí que surgiu a teoria da imputação objetiva. Ex. se agente pagar uma passagem aérea para a vítima na esperança de o avião cair, e realmente cair, com a morte da vítima, pela visão tradicional do estudo do nexo causal, o agente deu causa ao resultado, pois eliminando sua conduta, a morte não teria ocorrido, e ainda ele agiu com dolo, porque queria o resultado morte. Contudo, para a teoria da imputação objetiva, ele não responde por nada, porque o risco criado pelo agente é socialmente adequado; comprar a passagem é um risco permitido. Nestes casos, não há domínio do resultado através da vontade humana.
Ressalte-se que, para Roxin, antes da análise da capacidade psíquica da conduta (dolo e culpa), é preciso verificar a imputação objetiva. Assim, se materialmente, no plano físico, a conduta de alguém foi causa de um resultado, antes de analisar o elemento anímico do agente, é preciso verificar se tal resultado pode objetivamente ser imputado a ele. Desta posição, discorda Régis Prado, para o qual deve ser verificado antes o elemento subjetivo do tipo.
ELEMENTOS DA TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA - o agente só vai responder pelo resultado se preencher 3 requisitos ou elementos:
a) Prática de conduta que cria ou aumenta um risco socialmente inadequado - isto é, acima do permitido. Roxin chama de risco juridicamente relevante. Ex. alpinista experiente convida outro alpinista menos experiente para escalar a Cordilheira dos Andes. Na subida, o inexperiente cai e morre. Pela doutrina tradicional, iria haver homicídio, mas pela imputação objetiva, ele não responde por nada, porque sua conduta é aceita socialmente, uma vez que ambos eram alpinistas. 
b) Que o risco criado tenha sido a causa do resultado - ex. farmacêutico vende com receita um remédio à vítima, mas que estava vencido. O paciente toma o remédio e morre. Fica provado que o princípio ativo do remédio teria matado o paciente mesmo que não estivesse vencido. O farmacêutico criou um risco acima do permitido, mas esse risco não foi a causa da morte, e sim o remédio, de modo que farmacêutico não responde por homicídio.
c) Que o resultado produzido esteja abrangido pelo tipo penal - pela teoria da imputação objetiva, o tipo penal não abrange 2 resultados:
I. Resultado assumido voluntariamente pela vítima - trata-se do princípio da auto-responsabilidade. Ex. agente convida o colega para um racha de automóvel. O colega bate o carro no poste e morre. Pela visão tradicional do nexo, agente responde pela morte. Para a teoria da imputação objetiva, agente não responde por esse homicídio, porque quando a vítima assume o risco voluntariamente desse evento, não há tipicidade, exceto quando essa participação é prevista expressamente em lei, como no art 122 (participação em suicídio).
II. Resultado produzido por alguém que tinha o dever jurídico específico de impedi-lo - ex. agente fere dolosamente a perna da vítima, que é conduzida ao hospital. No hospital, o médico, por culpa, amputa a perna da vítima. Aplicando-se a conditio sine qua non, o agente responde por essa lesão mais grave, porque eliminando sua conduta, a perna não seria amputada, e ainda o erro do médico está na mesma linha de desdobramento da lesão produzida, o que afasta a incidência da regra do art 13 §1º. Para a imputação objetiva, o agente não responde pelo resultado quando este é produzido por aquele que tinha o dever específico de impedi-lo, mas acaba produzindo o evento, ainda que esteja na mesma linha de desdobramento da conduta inicial do agente, que no caso responderia por lesão simples.
NATUREZA JURÍDICA DA TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA - 2 posições discutem o tema. A 1ª afirma que a imputação objetiva é uma causa de exclusão da tipicidade, ou seja, sem a imputação, o fato será atípico. Isso porque a imputação objetiva é estudada em conjunto com o nexo causal, e o nexo causal é elemento do fato típico, de modo que a exclusão de um de seus elementos leva à atipicidade. Esta teoria é majoritária. Já outra corrente afirma que é uma causa de exclusão da antijuridicidade. É posição minoritária. 
Outra divisão também ocorre com relação ao alcance desta teoria. Parte da doutrina afirma que a imputação objetiva só é aplicável aos crimes materiais, aqueles que possuem resultado naturalístico, porque o nexo causal é um dos elementos dessa modalidade de delito. De outro lado, uma posição divergente afirma que a teoria também se aplica aos crimes formais e de mera conduta, aqueles que não possuem resultado naturalístico, com o fundamento de que para os crimes materiais se exige os 3 requisitos da teoria da imputação objetiva, e para os crimes formas e de mera conduta, exige-se apenas o 1º requisito (prática de ato que cria risco acima do permitido), como complemento da conduta.
AÇÃO DIMINUIDORA DO RISCO – ela ocorre quando o agente lesa um bem jurídico menor de uma pessoa para preservar um bem jurídico maior dessa mesma pessoa. Nesse caso, o agente não responde pelo resultado. Não se pode confundir essa figura com o estado de necessidade, em que o agente, para preservar bem jurídico de uma pessoa, lesa bem jurídico de pessoas distintas. Ex. para impedir que vítima seja atropelada, o agente lhe dá um soco no rosto. Trata-se da ação diminuidora do risco, a qual exclui a tipicidade, ao passo que o estado de necessidade exclui a antijuridicidade. De outro lado, se o agente lesar o bem da vítima de forma tão grave quanto aquela a qual o bem estava exposto, o nome adotado é a troca de risco, de um ilícito por outro, havendo então imputação.
CURSOS CAUSAIS HIPOTÉTICOS – ocorrem quando o resultado teria igualmente acontecido, mas de outra forma, ainda que o agente não tivesse realizado sua conduta. Ex. momentos antes da execução, o parente da vítima descarrega a arma no sentenciado. A posição predominante é de que o agente responde pelo crime, porque o seu ato foi criminoso na medida em que violou a norma penal, que não perde sua eficácia pelo fato de o bem jurídico encontrar-se em perigo por causa de outra conduta.
IMPUTAÇÃO OBJETIVA NA VISÃO DE JAKOBS – alguns dos aspectos delineados pelo autor coincidem com os de Roxin. Ele dá uma especial ênfase à imputação do comportamento, sem desprezar a imputação do resultado. Para Jakobs, o comportamento social do homem é vinculado a papéis que devem ser por ele exercidos, e com base nessa ideia, ele desenvolve sua teoria sobre 4 parâmetros, apesar de reconhecer que isso não esgota as hipóteses que podem ser pensadas a título de imputação objetiva.
· Risco permitido – o homem é um ser social, e não existe sociedade sem riscos, os quais são necessários inclusive para impulsionar o progresso. Assim, o risco inerente à configuração social deve ser tolerado como risco permitido, e se cada um se comporta de acordo com o papel que lhe cabe na sociedade, dentro dos padrões aceitos, mesmo que dessa conduta advenha uma lesão, tal resultado deve ser imputado ao acaso.
· Princípio da confiança – trata-se de uma necessidade para o convívio em sociedade. As pessoas devem confiar que as demais cumpram o seu papel, observem os seus deveres, ou então o contato social se tornaria inviável. O médico tem de confiar que a pessoa encarregada de esterilizar o bisturi assim o fez. Por isso, não se imputa objetivamente o resultado produzido por quem agiu confiando em que os outros se manterão, em certa medida, dentro do limite de perigo permitido.
· Proibição de regresso– se o 3º atua de acordo com os limites de seu papel social, ainda que sua conduta contribua para o sucesso da infração penal levada a efeito pelo agente, não poderá ser incriminada. Ex. o padeiro que vende o pão que será envenenado pelo agente não pode ter o resultado morte imputado objetivamente a ele, mesmo que soubesse da intenção do agente, porque atuou dentro de seu papel de padeiro.
· Competência ou capacidade da vítima – aqui o autor agrupa 2 situações: o consentimento do ofendido e as ações a próprio risco. O consentimento do ofendido, conforme o caso, pode excluir a tipicidade do fato ou a ilicitude. A questão de maior relevância diz respeito às ações a próprio risco, nas quais a vítima, com o seu comportamento, contribui ou facilita que a consequência lesiva lhe seja imputada, agindo contra um dever de autoproteção ou mesmo por vontade própria. Nestes casos, não se pode imputar o resultado ao 3º que o produziu. Ex. instrutor de hipismo não responde por um acidente normal em que o cavalo se assusta e derruba a vítima; o instrutor de esporte radical não responde por lesão à vítima se agiu de acordo com sua capacidade, observando seu dever de cuidado.
Questão mais complicada é a chamada heterocolocação em perigo, quando vítima pede ao agente que pratique com ela uma conduta arriscada, acreditando que não ocorrerá qualquer resultado danoso. É discutível se nesse caso pode ser afastada a imputação do resultado. Ex. passageiro ordena a taxista que ultrapasse a velocidade máxima, havendo acidente e vindo o primeiro a falecer.
TIPICIDADE
É um juízo de adequação, de subsunção do fato concreto ao tipo legal. É o enquadramento do fato concreto ao tipo penal. O conceito de tipicidade foi sofrendo evolução com o passar dos anos. Em um 1º período, anterior às idéias de Beling, a tipicidade tinha um conceito amplo, porque abrangia o enquadramento do fato no tipo legal, mas também a antijuridicidade, a culpabilidade, a punibilidade e o exame de corpo de delito. Se o agente matasse a vítima em legítima defesa, não haveria tipicidade, porque nessa época o conceito de tipicidade tinha conotação processual. Se a sentença fosse condenatória, havia tipicidade; se fosse absolutória, não havia.
Em 1906, Beling iniciou a evolução do conceito de tipicidade, pela sua teoria dogmático-jurídica, ao afirmar que a tipicidade é o mero enquadramento do fato concreto nos elementos objetivos descritivos do tipo legal. Ele realizava a separação de 3 juízos absolutórios, distintos e sucessivos: a) falta de tipicidade; b) falta de antijuridicidade; c) falta de culpabilidade. Se o agente matasse a vítima em legítima defesa, haveria tipicidade, porque a conduta se enquadra no texto do art 121; contudo, não haveria antijuridicidade. Ao realizar essa simplificação, retirando conceitos alheios da noção de tipicidade, Beling deu ao instituto um caráter de conceito penal, e não processual. É possível, assim, que haja tipicidade mesmo que a sentença seja absolutória.
Em outro momento, o jurista alemão Mayer acabou aderindo às idéias de Beling. Contudo, ele acrescentou 2 novos aspectos: 
a) dentro da tipicidade, também devem ser analisados os elementos normativos do tipo, e não apenas os elementos descritivos. Para alguns, ambos fazem parte do conceito de elemento objetivo, e para outros é sinônimo de descritivo. O elemento descritivo é aquele que exprime um juízo de realidade, apreensível diretamente pelo intérprete (ex. matar). O elemento normativo só adquire sentido por meio de um juízo de valor, preexistente em outras normas jurídicas ou ético-sociais (ex. mulher honesta) ou emitida pelo próprio intérprete (ex. decoro); 
b) a tipicidade é indício da antijuridicidade, embora sejam institutos distintos; se existe tipicidade, presume-se a antijuridicidade, até prova em contrário a ser promovida pelo réu no caso concreto. 
Enquanto Beling separava demasiadamente tipicidade da antijuridicidade, o que gerava críticas à sua teoria, Mayer os aproximou, reconhecendo, porém, que são distintos. Beling acabou aderindo às idéias de Mayer, criando-se a teoria de Beling-Mayer, ou teoria da tipicidade indiciária (tipicidade é a ratio cognoscendi da antijuridicidade). Para essa teoria, tipicidade é o enquadramento do fato aos elementos objetivos e normativos do tipo legal. Quanto aos elementos subjetivos (dolo e culpa), essa teoria os analisa na culpabilidade. 
Para o finalismo, o conceito de tipicidade evoluiu ainda mais, porque se analisa dentro da tipicidade os elementos subjetivos, dolo e culpa. Ex. o art 155 prevê: subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. O elemento subtrair coisa móvel é o elemento objetivo; a expressão alheia é o elemento normativo; e a expressão para si ou para outrem é o elemento subjetivo. Se um funcionário subtrai o livro do aluno para uso momentâneo, devolvendo-o meia hora depois, há furto de uso, figura atípica, exceto no CPM. Ele será absolvido por falta de tipicidade ou de culpabilidade? Depende, se a teoria adotada for a da tipicidade indiciária, será por falta de culpabilidade; se for o finalismo, por falta de tipicidade, porque a subtração não foi para si ou para outrem. O finalismo não é incompatível com a teoria da tipicidade indiciária, só houve a inclusão dos elementos subjetivos na análise da tipicidade, nos termos da teoria anterior.
Outra teoria que trabalhou o conceito de tipicidade é a teoria da ratio essendi
 ou teoria dos elementos negativos. Ela foi idealizada pelo alemão Weber, e adotada no Brasil por Miguel Reale Jr. Para ela, a tipicidade depende de 2 requisitos: 
a) tipicidade formal - enquadramento do fato no tipo legal
b) tipicidade material - a ausência das causas de exclusão da antijuridicidade, uma forma de análise da antijuridicidade dentro da tipicidade. V.g., agente mata vítima em legítima defesa. Para essa teoria, não há tipicidade, pois como tipicidade e antijuridicidade são praticamente a mesma coisa, as causas que excluem a antijuridicidade acabam por afastar a tipicidade (tipicidade é a ratio essendi da antijuridicidade). 
Com isso, o tipo penal do art 121 seria assim: matar alguém salvo em legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito; ou ainda o tipo seria matar ilicitamente alguém. Dentro dessa teoria, a antijuridicidade passou a ser um dos elementos do tipo, o qual contém outros elementos. Apesar desse registro, é possível distinguir tipicidade da antijuridicidade, porque tipicidade é o enquadramento do fato nos elementos do tipo, e antijuridicidade é um dos elementos do tipo. Elementos negativos são aqueles que devem estar ausentes para que haja tipicidade (ex. a legítima defesa é um elemento negativo).
Pela teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni), a tipicidade depende de 2 requisitos: a) tipicidade legal ou formal – o mero enquadramento do fato concreto ao tipo legal; b) antinormatividade – é preciso que o fato colida com todo o Direito, conflite com o ordenamento como um todo. Assim, ainda que haja o enquadramento formal, não haverá tipicidade quando a prática do ato for ordenada (estrito cumprimento do dever legal) ou fomentada (exercício regular do direito) pelo ordenamento jurídico. Para Zaffaroni, o estrito cumprimento do dever legal exclui a tipicidade, porque o Direito ordena que o agente atue nesse sentido e, do mesmo modo, o exercício regular do direito, porque sua conduta é estimulada pelo Direito. 
Assim, para esta teoria, nosso CP elenca as 4 excludentes como circunstâncias que excluem a antijuridicidade, mas analisando as 4 circunstâncias, apenas a legítima defesa e o estado de necessidade é que se enquadrariam como excludentes de antijuridicidade, porque o ordenamento não fomenta ou ordena que se atue nesse sentido, mas apenas tolera essas condutas. Para a teoria da tipicidade indiciária, do mesmo modo que sua evolução no finalismo, as 4 excludentes afastam a antijuridicidade. Para a teoria dos elementos negativos, as 4 excludentes afastam a tipicidade.
Ainda quanto à tipicidadeconglobante, Rogério Greco dá roupagem diversa à teoria. Ele diz que a tipicidade penal é formada pela tipicidade formal ou legal e pela tipicidade conglobante. Esta última seria formada por 2 aspectos: a antinormatividade (já analisada acima) e a tipicidade material. A tipicidade material é um critério de seleção do bem a ser protegido, pelo qual se verifica no caso concreto, com base nos princípios da intervenção mínima e da insignificância, se o bem jurídico ofendido deve ou não ter proteção pelo D. Penal. Assim, um minúsculo arranhão pode ser decorrência de uma conduta formalmente típica e antinormativa, mas ante a sua insignificância, não pode ser tutelada pelo D. Penal, por faltar tipicidade material. Segundo Prof. Hélio, para os mais conservadores, o conteúdo da tipicidade material, conforme descrito por Rogério Greco, na verdade deve ser encarado como causa extralegal de antijuridicidade.
Por fim, para FMB, a concepção ideal de tipicidade decorre da conjugação da teoria da tipicidade indiciária com a teoria finalista: tipicidade é o juízo de subsunção do fato concreto aos elementos normativos, objetivos e subjetivos do tipo legal. Ele apenas faz uma crítica quanto à consideração da tipicidade como indício de ilicitude nos casos do cumprimento do dever legal e no exercício de um direito, pois uma vez que o próprio Direito incentiva estas condutas, não pode haver presunção de ilicitude, ao que ele chama de teoria da tipicidade indiciária temperada.
Prevalece a idéia de que a tipicidade faz presumir a antijuridicidade. Tal presunção é relativa, elimina-se pela presença de uma excludente de antijuridicidade. Portanto, pode haver tipicidade sem antijuridicidade. Também pode haver antijuridicidade extrapenal sem tipicidade (ex. dano culposo, furto de uso), mas nunca haverá antijuridicidade penal sem que haja tipicidade.
TIPICIDADE DIRETA E INDIRETA – a tipicidade ou adequação típica de subordinação direta ou imediata existe quando o fato concreto se enquadra diretamente no tipo legal, sem a necessidade de se invocar o auxílio de outra norma jurídica. É o que ocorre com o enquadramento de um crime consumado. A tipicidade ou adequação típica de subordinação indireta, mediata ou por extensão é a que ocorre quando o enquadramento do fato no tipo legal irá depender da interposição de outra norma penal (em regra, da parte geral). A doutrina elenca dois casos: a tentativa e a participação (há quem cite outros casos, como os crimes omissivos impróprios).
Na tentativa, há uma extensão da norma prevista pelo legislador, uma ampliação temporal do tipo legal – conduta só se adéqua ao tipo com o auxílio do art 14 II. Já na participação há ampliação pessoal ou espacial do tipo legal – conduta se adéqua ao tipo por força do art 29. Essas normas são conhecidas como normas de integração, integrativas, complementares de tipicidade, ou de extensão. Isso porque elas complementam a tipicidade. Com relação à co-autoria, quando a tipicidade for direta, não será necessário se invocar a regra do art 29, como se faz na participação. Ex. A aponta a arma para a vítima e B subtrai seus bens. Neste caso, agentes praticam a conduta descrita no tipo de maneira integral, não sendo preciso complementação. De outra parte, ainda na co-autoria, se as condutas forem fracionadas, v.g., no furto do BC no Ceará, será necessária a invocação da regra do art 29.
TEORIA DO TIPO – tipo é a descrição abstrata de uma conduta proibida ou permitida. Logo, podem ser incriminadores (ex. homicídio) ou permissivos, também chamados justificadores (FMB diz que são as excludentes de ilicitude. Ex. legítima defesa).
TIPO INCRIMINADOR OU LEGAL – é a lei que descreve uma conduta proibida. Tipo legal é o modelo sintético da conduta criminosa. Estes tipos se concentram na parte especial do CP e na legislação especial, nunca na Parte Geral, que contém apenas tipos permissivos (art 23). A lei que descreve um tipo deve partir de uma linguagem sintética e resumida, contendo em seu início o núcleo (verbo). As funções do tipo são as seguintes:
· Garantir a liberdade da pessoa – isso porque só são proibidas criminalmente as condutas previstas em um tipo penal. Aliás, essa é a razão do princípio da reserva legal.
· Indicar a antijuridicidade
· Assinalar ou concretizar a antijuridicidade - assinalar é incriminar uma conduta que era permitida pelo Direito extrapenal. Ex. na década de 60, incriminou-se o lança-perfume. Concretizar é incriminar a conduta que já era proibida por outro ramo do Direito. Ex. a advocacia administrativa tinha previsão no D. Administrativo, mas virou crime com o CP40.
· Marcar o início e o fim do iter criminis, auxiliando na distinção entre a tentativa, a consumação e o exaurimento.
ELEMENTOS DO TIPO – esses elementos são os dados que compõem a sua definição, e eles podem ser objetivos, normativos e subjetivos (há quem diga que elementos objetivos é o gênero do qual fazem parte os elementos descritivos e normativos).
· Elementos objetivos ou descritivos – são elementos ou expressões em que há um juízo de certeza sob o seu significado. Ex. subtrair coisa, matar alguém.
· Elementos normativos – são as expressões cuja apuração de seu significado irá depender de um juízo de valor cultural ou jurídico do aplicador da lei. O juízo cultural é o que investiga costumes, avaliação da ciência extrapenal. Tais elementos são conhecidos como elementos normativos próprios (ex. expressão repouso noturno no furto, saúde na lesão corporal). Os elementos normativos impróprios são as expressões que dependem de um juízo jurídico, baseado na ciência do Direito (ex. expressão funcionário público no peculato). 
· Elementos subjetivos – são aqueles que dizem respeito à intenção do agente, ou seja, ao seu estado de ânimo. Eles se dividem em:
· Motivos – são os antecedentes psíquicos da conduta, o que faz nascer a vontade. Ex. motivo torpe, fútil.
· Dolo – é a vontade de realizar a conduta descrita no tipo (embora exista quem a encare como elemento subjetivo, Hélio diz que a culpa é elemento normativo, pois deve ser valorada).
· Finalidade – alguns autores chamam de dolo específico, como a regra do art 121 §2º V, que é o homicídio conexional, praticado com o fim de assegurar a execução de outro delito. Difere do motivo, que é anterior à conduta.
Quanto a estes últimos elementos, os adeptos da teoria dos elementos negativos os chamam de elementos subjetivos do injusto, vez que, para eles, a antijuridicidade faz parte da tipicidade. Tal corrente adota um tipo total de injusto, em que não há 2 momentos para sua análise, mas apenas um. Apenas para diferenciar, para os adeptos das teorias que diferenciam a tipicidade da antijuridicidade, após a verificação da tipicidade e da ilicitude da conduta, falam que há um injusto penal. 
FMB diz a doutrina destaca ainda elementos especiais do tipo, sui generis, diversos dos citados. Seriam eles: 
i) elementos negativos do tipo - devem estar ausentes do fato para que haja tipicidade. Ex. “sem o consentimento” no art 125; 
ii) elementos modais do tipo - exprimem circunstâncias de tempo, lugar, ou condições particulares do agente ou do objeto do delito. Ex. “noite” do art 150 §1º, “lugar ermo” do art 133 §3º I; 
iii) elementos intermediários do tipo - apresentam aspectos objetivos e normativos cujo significado é desvendado por um juízo de conhecimento baseado na experiência. Ex. “logo após o parto” do art 123, “coisa de pequeno valor” do art 155.
Greco traz ainda divisão entre os elementos específicos do tipo:
· Núcleo – verbo que descreve a conduta proibida pela lei penal, evidenciando a conduta que se quer impor ou evitar. Há tipos penais uninucleares (um único núcleo – art 121) e plurinucleares (mais de um núcleo – art 33 L. 11343).
· Sujeito ativo – aquele que pode praticar a conduta descrita no tipo.
· Sujeito passivo – aquele sobre quem recai a conduta criminosa. Fala-se em sujeito passivo formal (Estado, pelo fato de suas leis serem desobedecidas) e sujeito passivo material (titular do bem ou interesse lesado pela conduta,que pode ser também o Estado).
· Objeto material – é a pessoa ou coisa contra a qual recai a conduta criminosa do agente. Por vezes, o objeto material se confunde com o sujeito passivo (ex. homicídio). Contudo, não se confunde objeto material com objeto jurídico, que é o bem juridicamente tutelado pela lei penal (ex. patrimônio, vida, administração da justiça). Nem todos os tipos penais possuem objeto material.
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS
a) Tipo normal e anormal – tipo normal é aquele que só possui elementos objetivos, como matar alguém. Tipo anormal é aquele que possui elementos objetivos e normativos ou subjetivos, como o art 121 § 1º (homicídio por relevante valor moral ou social). Para o finalismo e a teoria jurídico-penal, todos os tipos são anormais, porque o dolo (elemento subjetivo) e a culpa (elemento normativo) sempre fazem parte da estrutura do tipo.
b) Tipo fechado e aberto – tipo fechado é aquele em que a lei traz todos os elementos da conduta criminosa. Tipo aberto é aquele cujo complemento da conduta criminosa é feito pelo aplicador do Direito, por juízo valorativo. Ex. a rixa (art 137), que não é especificada pela lei nem diz quantos rixosos são necessários para configurar o tipo penal.
c) Tipo fundamental ou básico e tipo derivado – tipo fundamental ou básico é aquele descrito no caput do artigo; trata-se da definição mais simples da conduta criminosa, por isso também chamado de crime simples. Tipo derivado é aquele que complementa a definição trazida no tipo, agregando novos elementos e, em regra, está nos §§. Os tipos derivados que beneficiam o réu são chamados de tipos privilegiados, atenuados ou excepcionais. Ex. art 121 §1º. Os tipos derivados que agravam a situação do réu são chamados de tipos qualificados ou agravados, e se desdobram em:
· Qualificadora – é aquela que possui pena própria, isto é, pena mínima e máxima, como o homicídio qualificado (art 121 §2º).
· Majorante ou crime circunstanciado – se configura por uma causa de aumento de pena, geralmente em frações matemáticas.
d) Tipo simples e tipo misto – tipo simples é aquele que possui um único núcleo ou verbo (delito de ação única), como arts 121, 129 e 155. Tipo misto é aquele que possui mais de 1 verbo (delito de ação múltipla ou de conteúdo variado), e pode ser:
· Tipo misto alternativo – é aquele que possui mais de 1 verbo, mas para sua consumação basta a realização de apenas 1 deles. Ex. art 122, tráfico. Ressalte-se que a prática sucessiva das condutas descritas no tipo caracteriza um único crime.
· Tipo misto cumulativo – é aquele que possui mais de 1 verbo, mas para sua realização todos eles devem ser concretizados. Ex. antigo art 213 (contranger... conjunção carnal), ou art 242 (ocultar..., suprimindo ou alterando...).
Importante não confundir tipo misto cumulativo com tipo acumulado. No tipo acumulado, há somatório de penas se mais de uma conduta for praticada, pois o legislador reúne dentro do mesmo tipo mais de um crime autônomo, de modo que na hipótese de realização de mais de uma conduta, haverá concurso material de crimes. Exs. arts 208, 244 etc. No tipo misto cumulativo, não há soma de penas, pois há apenas um delito.
Dica do Professor: no tipo alternativo, há ligação entre as condutas pelo termo “ou”; no tipo cumulativo, as condutas são separadas por “vírgula”; e no tipo acumulado, as condutas são separadas por “ponto e vírgula”. Ressalve-se que a 5ª Turma do STJ, em decisão absolutamente esdrúxula, adotou a tese que o novo crime de estupro (art 213) seria tipo misto cumulativo, razão pela qual as condutas de conjunção carnal e a prática de ato libidinoso diverso teriam suas penas somadas (na verdade, isso ocorre no tipo acumulado, e não no misto cumulativo).
E) Tipo congruente e tipo incongruente – tipo congruente é aquele em que há coincidência entre a vontade, o fato concreto, e a descrição legal deste fato, como ocorre nos crimes materiais consumados e de mera conduta. Tipo incongruente é aquele em que não há coincidência entre a vontade, o fato, e a descrição legal da conduta. Isso ocorre: i) na tentativa, porque a vontade vai além do fato realizado (agente quer consumar crime, mas não consegue); ii) crime doloso ou preterdoloso, porque o fato realizado vai além da vontade (agente não tem a vontade de produzir o resultado, ou um resultado tão grave).
CONFLITO APARENTE DE NORMAS – haverá conflito aparente de normas quando um único fato se enquadrar, em tese, em mais de um tipo legal. Esse conflito não se confunde com o conflito de leis no tempo, em que há uma sucessão de leis, uma revogando a outra na apreciação de um fato jurídico (ex. art 16 L. 6368/76, sucedido pelo art 28 L. 11343/06). Também não se confunde com o concurso de crimes, porque no concurso, são apreciadas as condutas realizadas pelo agente, e no conflito aparente de normas, se analisa a lei relativa ao fato praticado. Como já dito, o conflito é aparente, não é real, porque os critérios para aplicação da norma vão excluir aquela que não se adéqua melhor à tipificação. As leis estão em vigor simultaneamente, no tempo da prática do fato, e os critérios legais e doutrinários vão cuidar da sua aplicação. Os princípios são: especialidade; subsidiariedade; consunção ou absorção; e alternatividade (doutrina diverge quanto a este último).
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE – esse princípio é levado a efeito quando o fato descrito em uma norma genérica encontra-se previsto em outra norma específica, que lhe agrega novos elementos. Pouco importa se o tipo especial seja mais benéfico ou severo, ele sempre vai prevalecer sobre o genérico. Tipo especial é aquele que possui mais detalhes, mais elementos. V.g., art 121 prevê o fato de matar alguém; referido fato também está previsto no art 123, infanticídio, figura penal que traz consigo novos elementos, tais como próprio filho, logo após ou durante o parto, estado puerperal – se a mulher matar nestas condições, ainda que a conduta se enquadre no art 121, ela vai responder pelo art 123.
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – esse princípio será aplicado quando 2 ou mais normas incriminarem um comportamento que ofende o mesmo bem jurídico, prevalecendo nesse caso a norma mais grave. A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Ela será expressa quando a própria norma declarar textualmente que ela só será aplicada se não houver um fato mais grave. Ex. art 314, que prevê inutilização de livro ou documento, afirma que a pena desse artigo só será aplicada se o fato não constituir crime mais grave. Se o funcionário receber vantagem para tal conduta, será aplicado o art 317 §1º (corrupção passiva), que é muito mais grave que a conduta do art 314. Com efeito, a norma primária, mais grave, prevalece sobre a secundária, subsidiária. Outro ex. art 307.
A subsidiariedade será tácita ou implícita quando o fato descrito em uma norma menos grave funcionar como elemento constitutivo, qualificador ou causa de aumento de pena de outra norma mais grave (mas não como parte do núcleo típico). Isso ocorre nos crimes complexos – aqueles nos quais há a fusão de 2 ou mais infrações penais. Ex. por culpa, o agente atropela a vítima, depois omite socorro, essa pessoa morre; agente não responde por omissão de socorro, pois existe previsão no art 302 CTB que enquadra, no p.u., a omissão de socorro como causa de aumento de pena.
Em regra, quando uma norma integra a outra, será observada uma delas por força do princípio da subsidiariedade tácita, exceto quando uma norma ressalvar expressamente a possibilidade de aplicação cumulativa da outra norma, quando haverá concurso de crimes, bis in idem consagrado pelo legislador, respondendo o agente 2 vezes pelo mesmo fato. Ex. art 329 afirma que o crime de resistência exige violência ou ameaça. Tecnicamente, os crimes de lesão corporal e ameaça deveriam ser absorvidos porque já integram outro delito, mas o §2º afirma expressamente que o autor da resistência responderá também pela lesão corporal. De outro lado, quanto à ameaça, será absorvida, porque a lei não faz essa ressalva. 
Para saberse o princípio aplicável é a subsidiariedade ou especialidade, basta observar: a) se uma norma repetir a outra em seus aspectos principais, sobretudo quanto ao seu verbo, é porque uma norma é gênero e a outra sua espécie, aplicando-se a especialidade, pouco importando se é mais grave ou não; b) já se uma norma não repetir a outra, não há relação de gênero e espécie, aplicando-se a subsidiariedade, na qual prevalece a mais grave. 
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU ABSORÇÃO – esse princípio determina que uma norma absorva a outra quando esta demonstrar um fato que é ato preparatório ou executório, meio necessário ou ainda conduta anterior ou posterior, de outro fato incriminado por uma norma mais grave. Dois são os fundamentos para a absorção: a) o bem jurídico tutelado pela norma menos vasta já é protegido pela mais ampla, e o princípio impede o bis in idem; b) a violação da norma subsequente é desdobramento natural da violação da norma antecedente. 
O princípio tem aplicação em 4 aspectos diversos:
· Crime progressivo – ele será levado a efeito quando o agente, para praticar um crime mais grave, necessariamente irá praticar um crime menos grave, que será absorvido. Este recebe o nome delito de passagem ou delito de ação de passagem. V.g., para cometer um homicídio, por meio de pauladas, necessariamente o agente comete antes lesão corporal. Por este aspecto, o crime de dano absorve o de perigo. Destaca-se no crime progressivo que o dolo do agente é único do começo ao fim da conduta. Enquanto nos princípios da especialidade e da subsidiariedade, uma norma integra a outra, no princípio da consunção, uma norma não integra a outra, mas, do contrário, será um fato necessário para se chegar a outro fato jurídico.
· Progressão criminosa – ocorre quando o agente pratica uma conduta que lesa bem jurídico genérico e, no mesmo contexto, ele resolve praticar outra conduta contra este mesmo bem jurídico. Ex. agente, em 1º plano, resolve injuriar a vítima, depois decide por agredi-lo e, em seguida, por matá-lo. Irá responder apenas por homicídio, porque nos 3 crimes cometidos, o bem jurídico genérico tutelado é a pessoa. Enquanto no crime progressivo, o dolo é único do início ao fim da conduta, na progressão criminosa, o dolo é múltiplo, passa por mutações, como exemplificado, dolo de injuriar, ferir, e por fim matar.
A progressão criminosa, para Frederico Marques, é dividida em progressão criminosa em sentido estrito e em sentido amplo. Esta última refere-se, para ele, ao antefato impunível e ao pós-fato impunível. Porém, para a maioria da doutrina, essa definição é rejeitada, sendo estudados os institutos separadamente.
· Antefato impunível – trata-se do ato preparatório ou executório de outro crime mais grave. Ex. a violação de domicílio é um ato executório do furto à residência e, por isso, a violação será absorvida. Enquanto no crime progressivo, o único meio de se praticar o crime mais grave é realizando o delito menos grave, no antefato impunível há outros meios de se praticar o delito mais grave sem que seja necessário realizar o crime menos grave. Ex. agente que adquire a arma de fogo especificamente para matar responde só pelo homicídio praticado, sendo absorvido o crime de disparo da arma de fogo. 
Questão que levei ao Prof. Hélio é o disparo de arma e o porte de arma de uso restrito (este com pena maior). Ele diz que, para MP, não haverá absorção, mas sim concurso material de crimes. Entretanto, para DP e até para TJ, pode-se defender a absorção, desde que evidenciado que o dolo do agente era disparar a arma, ignorando este a condição de uso restrito ou não da mesma.
· Pós-fato impunível – é o ato realizado pelo agente, mas que não representa uma ofensa maior ao bem jurídico que ele já havia lesado anteriormente; o ato do agente não representa quase nada em relação à primeira conduta. Ex. no dia seguinte ao furto da residência, o agente destrói parte dos objetos subtraídos. O crime de dano será absorvido pelo furto anterior, porque o bem já não fazia parte do patrimônio da vítima. A solução para esse ato de danificar bem subtraído, a fim de que não haja irresponsabilidade penal por esse ato, que também tem certa relevância, será realizada na dosimetria da pena, porque a consequência dessa conduta é maior frente à mera subtração. Para FMB, Greco e Fragoso, não é necessário que o fato posterior atinja o mesmo bem jurídico ou a mesma vítima, desde que seja consequência normal do fato anterior (ex. venda de coisa furtada não seria estelionato, mas sim absorvido pelo furto). Assis Toledo pensa o oposto, defendendo o concurso material, devendo o agente responder por ambos os crimes.
Para distinguir se há antefato ou pós-fato impunível, Hélio diz que melhor saída é analisar o dolo do agente. Assim, no caso da falsificação de documento e uso de documento, se o objetivo do agente é falsificar e só para efeito de defesa ele usa o documento, o uso é pós-fato impunível; mas se ele falsifica apenas para o uso, visando obter certa vantagem, a falsificação é antefato impunível.
A diferença entre consunção e conexão de crimes reside no fato de que, na consunção, o agente responde por um só crime, porque o bem jurídico é o mesmo, ou um desdobramento normal do outro anterior¸ enquanto que na conexão, o agente vai responder em concurso de crimes, pois embora os delitos estejam interligados, um não representa desdobramento normal do outro, quando é feita sua análise concreta. Ex. jogador que mata namorada e esconde corpo, há conexão de crimes (homicídio e ocultação de cadáver).
A situação mais comum citada nos concursos acerca do princípio da consunção diz respeito ao texto da súmula 17 do STJ, que afirma que quando o falso se exaurir no estelionato, sem potencialidade lesiva, será absorvido pelo estelionato.
PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE – apesar das críticas de boa parte da doutrina frente à admissão dessa teoria como princípio (parte não admite), a alternatividade surge com 2 aspectos:
1. Princípio da alternatividade significa que a aplicação de uma norma a certo fato exclui a aplicação de outra norma ao mesmo fato. Ex. levo meu carro ao funileiro para um reparo na lataria, mas ele se apossa do motor, vende o motor, e coloca outro no lugar. Seria furto fraudulento, estelionato, apropriação indébita? O mais correto é apropriação indébita, porque o funileiro tinha a posse desvigiada do bem, consumando-se o delito quando o agente retirou o motor, e a venda posterior ocorreu após a consumação. No furto fraudulento e no estelionato, a fraude é realizada para se conseguir a posse. No ex., a posse foi conseguida sem fraude; a fraude foi posterior ao apossamento.
2. Princípio da alternatividade ocorre quando a norma penal prevê mais de 1 conduta como forma de realização do mesmo crime, sendo que a reiteração sucessiva dessas condutas irá ensejar a prática de um único crime. Ex. art 122, em que o tipo penal prevê 3 condutas – se o agente realizar as 3 condutas, haverá um único crime do art 122. 
Seja em um caso ou em outro, não se poder falar propriamente em conflito aparente de normas, pois no primeiro caso falta subsunção do fato a 2 ou mais normas, e no segundo, há uma única norma com vários verbos.
DOLO – é a vontade consciente do agente de produzir a conduta típica, de praticar o fato previsto na norma penal. O estudo do dolo foi sofrendo modificações com a evolução das teorias da conduta. Na teoria clássica ou mecanicista, o dolo integrava a culpabilidade. Com a evolução para o finalismo, o dolo passou a fazer parte do fato típico, representando consequência penal de maior relevância. FMB ressalta que a intensidade do dolo não influencia a dosagem da pena-base, vez que deixou de pertencer à culpabilidade. 3 teorias buscaram esclarecer o dolo:
a) Teoria da vontade – é a vontade livre e consciente de praticar a infração penal. Está ligada ao dolo direto.
b) Teoria do assentimento, anuência ou consentimento – é aquela em que o agente não quer o resultado, mas o prevê como possível e o aceita. Está ligada ao dolo eventual.
c)Teoria da representação – para essa teoria, basta a previsão do resultado para haver dolo. Nosso legislador não adotou esta teoria no estudo do dolo, porque representaria adoção de responsabilidade objetiva. Contudo, ela faz parte do estudo da culpa.
Greco fala ainda em uma 4ª, a teoria da probabilidade, pela qual haverá dolo eventual se o agente considerava provável a produção do resultado, e se considerava apenas possível, se daria a culpa consciente. A teoria trabalha com dados estatísticos – havendo grande probabilidade de ocorrência de resultado, há dolo eventual. Não foi adotada.
ELEMENTOS DO DOLO – a doutrina se divide quanto aos elementos que formam o dolo, havendo inclusive 2 teorias que tratam desse assunto: a teoria do dolo natural e a teoria do dolo normativo. Independentemente da teoria, os elementos do dolo são:
· Elemento intelectual – é a previsão ou o conhecimento do fato.
· Elemento volitivo – é a vontade de produzir o fato. O elemento volitivo compreende querer e arriscar-se.
Para a teoria do dolo natural, basta a existência destes 2 elementos para que haja dolo. Porém, para a teoria do dolo normativo, é exigido mais um elemento:
· Conhecimento da ilicitude – é o conhecimento que o agente possui acerca da proibição do fato. A teoria do dolo normativo entende essencial esse conhecimento para que haja dolo.
Perante o CP, embora haja polêmica sobre a matéria, prevalece a teoria do dolo natural. Isso com base em 2 fundamentos: a) no art 18, ao definir dolo, o legislador não fez menção alguma ao conhecimento da ilicitude do fato; b) no art 20 caput, que trata do erro de tipo (erro sobre as circunstâncias fáticas), está afirmado que há a exclusão do dolo como regra geral; já no art 21, que trata do erro de proibição (erro sobre ilicitude do fato), está escrito que o equívoco do agente exclui a culpabilidade, como regra geral; isenta de pena. Se o legislador quisesse que o erro sobre a ilicitude excluísse o dolo, bastava ter escrito o art 21 da mesma maneira que o fez no art 20. Em virtude desta exposição, se constata que a consciência da ilicitude não é elemento do dolo.
CLASSIFICAÇÃO DO DOLO
· Dolo direto, determinado ou incondicionado – é aquele em que o agente quer produzir o fato. Ex. deseja matar e mata em MG. Essa modalidade de dolo também é chamada de dolo direto de 1º grau, representada pelo querer.
· Dolo direto de 2º grau – esse dolo também é chamado de dolo de consequências ou dolo de consequências necessárias, e ele ocorre quando o agente não quer o resultado, mas sabe que em razão dos meios escolhidos para a prática da conduta, o resultado necessariamente irá ocorrer. Ex. namorado que, após a briga, coloca uma bomba sob o assento da namorada, operadora de telemarketing. Ele não quer a morte dos colegas sentados ao lado, mas ele sabe que em razão dos meios empregados, a morte deles irá ocorrer. Quando o agente não quer o resultado, mas age na certeza de que irá produzi-lo, trata-se de dolo direto de 2º grau, mas se ele não quer o resultado e age na dúvida, trata-se de dolo eventual. 
· Dolo indeterminado ou indireto – ocorre quando a vontade do agente não se fixa em um só sentido ou direção. Ele se subdivide em:
· Dolo alternativo – quando o agente quer com igual intensidade produzir um ou outro resultado. Ex. namorado que manda flores para a ex com uma bomba, querendo ferir ou matar a vítima. No caso de a vítima não morrer, ele responde por tentativa de homicídio, porque prevalece o dolo mais grave (isso não é pacífico).
· Dolo eventual – é aquele em que o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo; agente o aceita. A distinção dessa figura com a culpa consciente é que em ambas o agente não quer o resultado, mas no dolo o agente assume o risco da produção do resultado, e na culpa o agente repele essa ocorrência, ele atua na certeza de que não irá produzir esse resultado.
· Dolo geral ou erro sucessivo – o agente, realizando uma conduta visando a certo resultado e acreditando tê-lo produzido, passa então a realizar outra conduta, com finalidade diversa, e essa última conduta é que produz o resultado inicialmente desejado (erro sobre o nexo causal ou aberratio causae). Ex. A estrangula B; pensando que B está morta, a joga do 6º andar do prédio. B morre pela queda, e não pelo estrangulamento. No caso, houve tentativa de homicídio mais um crime culposo, porém como do começo ao fim o dolo era de matar B, a maioria entende que o dolo é geral, que não precisa estar presente no exato momento, e como há nexo causal entre a 1ª e a 2º conduta, agente vai responder por homicídio doloso, com base no dolo geral.
· Dolo presumido ou in re ipsa – é o dolo que não precisa ser demonstrado no caso concreto. A CF presume a inocência, não a culpabilidade, e por isso, esse tipo de dolo se afigura inconstitucional. Nessa linha, vai a não admissão da culpa presumida, pois tanto o dolo quanto a culpa precisam ser demonstrados, sob pena de inconstitucionalidade.
· Dolo antecedente, concomitante e subsequente - dolo antecedente (inicial ou preordenado) é o que subsiste desde o início da execução do crime. Dolo concomitante é o que subsiste durante todo o desenrolar dos atos executórios. Dolo subsequente (consecutivo ou sucessivo) é aquele em que agente empreende uma ação com fim honesto, mas passa em seguida a proceder com má-fé, praticando o crime, ou em que, ao conhecer post factum a ilegitimidade de sua conduta, não procura evitar suas consequências. A noção de dolo inicial e dolo subsequente é essencial para distinguir estelionato e apropriação indébita. Roxin e Greco, no entanto, entendem que o dolo subsequente como aprovação retroativa de um resultado já produzido (a título culposo ou mesmo sem culpa) nunca poderá constituir dolo. Ex. mata por culpa, mas fica feliz depois – isso não faz do fato um homicídio doloso.
· Dolo de dano e de perigo – no dolo de dano, o agente quer ou assume o risco da lesão de um bem ou interesse juridicamente protegido. No dolo de perigo, o agente quer ou assume o risco de expor a perigo bem ou interesse protegido, mas não quer nem assume o risco de produzir a lesão efetiva. No caso do dolo de perigo, a superveniência do resultado lesivo pode transmutar o crime doloso de perigo em crime culposo de dano.
CRIME CULPOSO – diferentemente do crime doloso, nosso legislador não definiu o crime culposo, deixando este papel para a doutrina. Sendo assim, o crime culposo é a conduta voluntária, que produz um resultado antijurídico, não desejado mas previsível, e que podia, com a devida atenção, ser evitado. Partindo dessa definição, se constata que o crime culposo possui os seguintes elementos:
· Comportamento voluntário – o agente realiza por meio de 3 formas de conduta:
· Imprudência – é a falta de cautela, o agente ultrapassa os limites legais colocados pelo legislador (culpa in agendo). Ex. ultrapassar limite de velocidade.
· Imperícia – é a falta de aptidão técnica para o exercício de arte, profissão ou ofício para o qual se tem autorização para exercer (culpa profissional). 
· Negligência – é a falta de observância dos deveres, agente não toma providência que dele se espera (culpa in omitendo). Ex. na troca de pneus, põe apenas um parafuso.
Ressalte-se que na imperícia, o profissional autorizado para o exercício de certa atividade inobserva a regra técnica ou prática que, devido ao seu despreparo, ele desconhecia. Na negligência, ele inobserva, por desleixo, uma regra que conhecia. Na imprudência, pratica um ato perigoso.
· Violação ou inobservância do dever objetivo de cuidado – compreende a inescusável falta de atenção, aquela prudência ordinária do homem comum, que seria capaz de evitar o resultado lesivo. 
· Resultado danoso involuntário – agente pode ou não prever a possibilidade do resultado ocorrer no caso concreto, mas acredita que o resultado jamais irá ocorrer. Excepcionalmente, admite-se crime culposo sem resultado naturalístico.
· Nexo causal – liame entre a conduta voluntária e o resultado involuntário.
· Previsibilidade objetiva

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