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ATENEU - APOSTILA SOBRE A TEORIA DO CRIME - TITULO II - DO CRIME - CONCEITO DE CRIME - MATERIAL, FORMAL E ANALITICO - TRIPARTIDO - FATO TIPICO ANTIJURIDICO CULPABILIDADE CRIME

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1. Conceito de crime: 
Considerando os valores sociais, ou seja, o axioma social, podemos afirmar 
com total desassombro que é a sociedade a criadora inaugural do crime, qualificativo 
que reserva às condutas ilícitas mais gravosas e merecedoras de maior rigor punitivo. 
Portanto, uma vez que a sociedade reconhece que àquela conduta mercê a 
repulsa social, entra em cena o legislador. Destarte, cabe ao legislador transformar 
esse intento social em figura típica, criando a lei que permitirá a aplicação da 
reprimenda adequada, considerando o anseio social, aos casos concretos. 
Nesse diapasão, podemos observar três prismas a envolver o conceito de 
crime: 
a) Conceito material de crime: 
É a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido, 
mediante a aplicação de sanção penal. É, pois, a conduta que ofende um bem 
juridicamente tutelado e essa conduta inadequada para a sociedade será objeto de 
punição. Esse conceito, carregado de abstração, informa ao legislador quais são as 
condutas que são reprovadas pela sociedade e, portanto, merecem serem 
transformadas em tipos penais incriminadores. 
Podemos perceber claramente que o conceito material de crime antecede 
à Legislação Penal, portanto, o axioma social fornece ao legislador penal um critério 
político-criminal a ser adotado pelo Direito Penal no sentido de se saber o que deve e 
o que não deve ser penalmente punido. 
b) Conceito formal de crime: 
É a concepção formal do direito acerca do delito. Formalidade significa 
solenidade, então a reprimenda penal assume uma forma, e essa forma é a Lei 
Ordinária e, excepcionalmente, considerando o campo constitucionalmente limitado 
de atuação, a Lei Complementar. 
 Destarte, é a Lei, sempre lembrando que o processo legislativo para a 
confecção da Lei Ordinária e da Lei Complementar exige a participação do poder 
legislativo e do poder executivo, que estabelece a conduta proibida sob ameaça de 
aplicação de pena. 
No conceito formal de crime temos a presença definitiva do princípio da 
reserva legal consagrado no art. 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal e no art. 1º 
do Código Penal. 
 
c) Conceito analítico de crime: 
É a partir desse conceito, ou seja, do conceito analítico de crime, que 
podemos, verdadeiramente, reconhecer no Direito Penal um caráter científico, 
comportando um estudo teórico científico, pois temos, dentro do conceito analítico, a 
união de elementos que se interligam e interagem como ocorre com os elementos, no 
laboratório, dentro de um tubo de ensaio e, com isso, podemos concretizar e 
materializar as balizas do Direito Penal. 
No conceito analítico de crime temos a repartição do fenômeno em três 
partes, o crime é tripartido, consubstancia-se em um fato típico, antijurídico e 
culpável, vale dizer, devemos encontrar um FATO TÍPICO que se apresenta como uma 
ação ou omissão ( conduta ), ato que dar ensejo a uma determinada repercussão 
jurídica ( resultado ), com um liame entre os mesmos ( nexo causal ), ajustada a um 
modelo legal proibitivo ( tipicidade ), somando-se ao Fato Típico temos a 
ANTIJURIDICIDADE / ILICITUDE que se caracteriza pela a real contrariedade ao direito 
penal, e, finalmente, somando-se ao Fato Típico e a Antijuridicidade temos 
CULPABILIDADE que é a possibilidade de se imputar a penalidade ao responsável. 
É com base nesta corrente, que é majoritária, no Brasil e no exterior, que 
desenvolveremos nossos estudos. 
Apenas para não deixar passar in albis, é de bom alvitre observar que o 
conceito analítico encontra apoio nos defensores da Teoria Finalista, bem como nos 
defensores da Teoria Causalista e também nos adeptos da Teoria Social da Ação, que 
se propõe a ser uma tentativa de ajuste, num só quadro, dos principais aspectos da 
Teoria Causalista e da Teoria Finalista. 
Apenas para reflexão, é de bom alvitre deixar claro que não é possível se 
acolher a concepção bipartida, posto que para essa corrente o Conceito Analítico de 
Crime envolve apenas o Fato Típico e Antijurídico, tendo como consequência uma 
inaceitável simplificação da Culpabilidade, pois a coloca como mero pressuposto da 
pena. 
Para acolher a concepção bipartida, haveríamos de considerar, como um 
verdadeiro criminoso, o adolescente menor de 18 ( dezoito ) anos pelo fato de que o 
mesmo praticou um Fato Típico e Antijurídico ou aquele que, sob coação moral 
irresistível, fez o mesmo. Em idêntico prisma, o autor de um Fato Típico e Antijurídico 
que tenha sido levado à sua prática por erro escusável de proibição. Assim, sem ter a 
menor ideia de que o que praticava era ilícito, seria considerado um criminoso. 
Considerando os exemplos acima é incabível dizer que são “criminosos”, 
mas deixam apenas de receber pena. Se não há reprovação – censura – ao que 
fizeram, não há crime, mas somente um injusto, que pode ou não dar margem a uma 
sanção. 
A importância da Culpabilidade encontra-se definitivamente inserida no 
Conceito Analítico de Crime considerando o Direito Penal moderno, a Culpabilidade é 
parte integrante do Conceito Analítico de Crime, portanto, o juízo de reprovação 
consiste exatamente na aplicação da pena. 
Apenas como um reforço argumentativo, é importante lembrar que o 
preceito secundário que consiste na cominação da pena, é exatamente a sanção que 
deve ser aplicada conforme preceitua a Teoria da Norma Jurídica, onde temos a 
endonorma e a perinorma e esse conjunto integrativo compõe a Norma Jurídica que 
por excelência tem aplicação no Direito Penal, até mesmo pelo fato de que não pode 
haver delito sem reprovação penal, ou seja, sem Culpabilidade. 
Assim, se tivermos apenas um Fato Típico e Antijurídico temos uma 
situação, a luz do Direito Penal, completamente anódina, pois para ser um CRIME 
temos que ter a sanção, ou seja, a Culpabilidade. 
É a sociedade que elege os ilícitos mais graves, que deseja ver sancionados 
penalmente, isto é, é a sociedade que aponta ao legislador o que merece ser 
considerado crime, aguardando, então, a criação do tipo penal incriminador, que já 
vem, obviamente, acompanhado de um preceito sancionador, que é exatamente a 
pena em abstrato. 
Como se poderia considerar crime o Fato típico e Antijurídico não 
censurável? A conduta que é um injusto (típico e antijurídico) sem punição certamente 
poderia parecer compreensível aos olhos da Sociedade. É o que ocorre quando um 
enfermo mental completo, por exemplo, mata outra pessoa. Não se pode censurá-lo, 
uma vez que, no lugar do agente, quem quer que padecesse do mesmo mal teria feito 
o mesmo naquelas condições. Logo, inexiste crime, mas somente um injusto penal, 
cuja sanção nem mesmo é a pena, pois ser-lhe-á aplicada Medida de Segurança. 
No momento em que desgrudarmos o crime de um lado e a pena de outro, 
ou seja, a Culpabilidade do outro lado, correremos o risco de libertar a Culpabilidade, 
ou seja, a pena, do crivo do Princípio da Reserva legal que traz no seu bojo o preceito 
primário e o preceito secundário. Teríamos uma situação teratológica onde não há 
crime - só o Fato Típico e Antijurídico -, posto que não seria necessária a prévia 
cominação legal da pena, pois a Culpabilidade estaria fora do crime! 
Apenas como arremate final, a pena em abstrato está prevista no tipo 
penal incriminador, portanto, se o legislador elaborar um tipo penal sem pena, ainda 
que o denomine como crime, é natural que se torne insignificante no campo penal, 
pois inaplicável e, o mais importante, tratar-se-ia de uma fuga real do conceito 
material de crime, afinal, é no conceito material que encontramos o sustentáculo 
social de que o crime é o ilícito que a Sociedade elegeu para ser punido com pena e 
não com qualquer outro tipo de sanção. 
Portanto, a conclusão adequada é que o CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME é 
fato típico, antijurídico e culpável. 
2. Crime sob a égide do Conceito Analítico 
Sob a égide do Conceito Analítico de Crime, temos que o crime écomposto 
de três elementos: Fato Típico + Antijuridicidade + Culpabilidade e, quando nós 
somamos esses três elementos, temos um produto, e esse produto é exatamente o 
CRIME. 
Portanto, estamos diante de uma verdadeira equação, onde o somatório 
dos três elementos vai desaguar em uma consequência que é o CRIME. A conclusão a 
que se chega é que se faltar um dos elementos que compõem a equação, o produto 
final será comprometido, ou seja, não teremos como consequência da equação o 
CRIME. 
Vamos passar em revista os elementos que quando somados, 
considerando o Conceito Analítico de Crime que é o tripartido, temos exatamente 
como produto final o CRIME. 
1 – FATO TÍPICO 
O Fato Típico é o primeiro elemento a ser objeto do nosso estudo, e nesse 
contexto trazemos a colação que o Fato Típico é composto de quatro elementos, quais 
sejam: Conduta, Resultado, Nexo Causal e Tipicidade. 
É de bom alvitre esclarecer que se faltar um desses quatro elementos que 
compõem o Fato Típico, não teremos a existência do mesmo e sem a existência do 
Fato Típico não teremos como resultado a existência do CRIME. 
1.1 - Primeiro elemento do Fato Típico é a Conduta 
1.1.1 – CONCEITO DE CONDUTA 
Se formos considerar a ideia de conduta sob a égide etimológica, a palavra 
conduta vem do Latim conducere de com mais ducere, a significar: chefiar, liderar, 
conduzir, guiar. 
Nesse diapasão, temos que o estudo da conduta, assenta sobre um 
dualismo corpo-mente, segundo essa perspectiva, o corpo é somente um instrumento 
ou um veículo do qual se vale a mente para se manifestar. 
Destarte, o homem é o único ser, no mundo, dotado de vontade, isto é, da 
capacidade de agir livremente, sem ser conduzido pela inelutabilidade do instinto 
encontrado nos animais. 
Devemos ter em mente que quando nos deparamos com o estudo da 
conduta humana é importante deixar bem claro que essa conduta humana é, 
ontologicamente, regida pela vontade e pela consciência. À vontade e a consciência 
são atributos da conduta, e esses atributos permitem ao ser humano desenvolver o 
seu livre-arbítrio, conduzindo-o para o bem ou para o mal, e a conclusão inarredável é 
que nenhuma teoria jurídica pode alterar a realidade. 
Na visão finalista, a conduta é a ação ou omissão, voluntária e consciente, 
implicando um comando de movimentação ou inércia do corpo humano, voltado a 
uma finalidade. 
Nesse diapasão, considerando efeitos didáticos, temos que tanto a ação 
propriamente dita (positiva) quanto à omissão (negativa) são frutos finalísticos da 
atuação do ser humano, pois ambas são, em regra, manifestações da vontade para a 
consecução de determinados objetivos. 
Portanto, o finalismo ainda é a mais correta definição de conduta, nesse 
contexto o que se observar é que o aspecto ontológico tem reflexos importantíssimos, 
e não poderia ser diferente, quando se estabelece um conceito jurídico para a 
conduta. 
Indiscutivelmente pode haver conduta humana sem tipo penal, no entanto, 
não pode existir tipo penal sem conduta humana (ação ou omissão). 
Devemos sempre ter em mente que a conduta humana é ontológica, 
porque contém a intenção do agente, e essa intenção de agir ou deixar de agir é 
natural – e não depende de nenhuma norma penal para traduzi-la. A partir da conduta 
humana, sem dúvida, livre, para que se possa ter a realidade da voluntariedade, é 
possível verificar se essa conduta é típica, ou seja, é possível observarmos se a conduta 
se encaixa, se a conduta se amolda ao tipo estabelecido na norma penal. 
Portanto, podemos observar que a República Federativa do Brasil adotou a 
Teoria Finalista, conforme determinação do art.13 do Código Penal brasileiro, verbis: 
1.1.2 - ELEMENTOS DA CONDUTA 
Devemos observar que para a caracterização da conduta, é indispensável à 
existência do binômio vontade e consciência. 
1º - Vontade 
Vontade é o querer livre, ativo e apto a levar o ser humano a praticar um 
determinado ato. 
Nessa linha de raciocínio é indispensável perceber as situações onde a 
vontade encontra-se comprometida, vamos passar em revista circunstâncias onde não 
temos verdadeiramente a voluntariedade: 
A ) Movimentos obtidos por coação física irresistível: 
Temos como exemplo de coação física irresistível a seguinte situação: Se A 
é empurrado violentamente por B, caindo em cima de C, que se lesiona. Não se pode 
dizer que A praticou uma “ação”, pois lhe faltou vontade. 
B ) Movimentos obtidos por coação mental irresistível: 
Temos como exemplo de coação mental irresistível a seguinte situação: Se 
A ameaça de matar o filho de B, mostrando essa realidade através de vídeo-chamada, 
salvo se ele como Gerente do Banco trouxer o dinheiro do cofre do banco. A ação 
praticada por A se realizou sob a égide de coação mental irresistível. 
C ) Movimentos obtidos por estrita obediência a ordem, não 
manifestamente ilegal: 
Temos como exemplo a situação do Chefe deu uma ordem ao funcionário e 
considerando a hierarquia cumpre a ordem não manifestamente ilegal. A ação 
praticada pelo funcionário se realizou sob a égide de ordem não manifestamente 
ilegal. 
D ) Movimentos reflexos: 
Nos movimentos reflexos, também, falta à vontade de agir contra o 
ordenamento jurídico penal, subtrai-se, portanto, nesse contexto a responsabilidade 
penal. 
No entanto, no contexto dos movimentos reflexos, é preciso fazer a 
seguinte distinção: 
1 – Movimentos reflexos: 
Temos como exemplo de movimento reflexo a seguinte situação: Se o 
motorista de um veículo é picado por uma vespa perto do olho, durante a condução, e, 
em face de um instintivo movimento de defesa, move bruscamente o volante, 
causando um acidente, não existe conduta penalmente relevante, pois o movimento é 
reflexo, provocado pela dor originária da picada. Trata-se de atitude involuntária que 
não gera responsabilidade penal. 
2 – Movimentos semiautomáticos: 
Temos como exemplo de movimento semiautomático a seguinte situação: 
Se o motorista de um veículo observa que uma vespa ingressa no interior do veículo e 
começa a voltear a cabeça do motorista, perturbando-o, e fazendo com que, num 
gesto brusco, visando a atingir a vespa, colocando-a para fora do carro, vire o volante, 
causando um acidente, temos uma ação semiautomática. Trata-se de conduta 
penalmente relevante, pois passível de responsabilidade penal. 
E ) Movimentos resultantes de hipnose ou sonambulismo: 
Nos movimentos resultantes de hipnose é de bom alvitre observar que é 
um estado mental semelhante ao sono, só que provocado artificialmente por alguém, 
levando o hipnotizado a agir como se fosse um autômato, obedecendo a ordens e 
comandos. 
Nos movimentos resultantes de sonambulismo, temos o 
comprometimento da vontade provocado por alteração no funcionamento normal do 
cérebro, temos uma conduta comprometida pelo distúrbio de comportamento que se 
origina durante o sono. 
2º - Consciência 
Consciência é a outra parte do binômio, consiste na capacidade que o ser 
humano possui de avaliar e analisar seus atos. Essa avaliação e análise, por certo, leva 
em conta o aspecto moral, no entanto, para o Direito Penal a relevância maior diz 
respeito ao aspecto legal. 
Devemos observar que realizar algo de forma inconsciente significa que de 
alguma maneira falta ao agente à compreensão do que ele está realizando. 
No entanto, devemos ficar atentos, pois, muitas vezes o ser humano de 
forma voluntária suprime a sua consciência, é o que ocorre quando o agente se 
embriaga para realizar algo ilícito, ocorre também com a intoxicação química 
voluntária, e nessas situações percebemos claramente que no momento inicial o 
agente usou sua vontade para suprimir a sua consciência quando da realização do ato, 
e é exatamente por isso que devemos sempre conjugar o binômio, vontade e 
consciência. 
Portanto, se tivermos a vontade do agente comprometida por 
circunstancias alheias a sua vontade, tal como se observa nocaso do Art. 28 § 1º, onde 
temos que “ é isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente 
de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente 
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento ”, por certo, nessa situação teremos totalmente inviabilizada a 
existência da consciência do agente. No entanto, situação bem diferente é se a falta de 
consciência se deu por vontade do agente, conforme esclarece o Art. 28, inciso II, 
onde temos que “ não excluem a imputabilidade penal, a embriaguez, voluntária ou 
culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos ”, assim, nesse caso temos que 
a inconsciência se realizou a partir de manobra do agente, e essa situação não tem o 
condão de suprimir a responsabilidade penal, temos a presença, nesse caso, da Teoria 
da actio libera in causa ( ação livre na origem ). 
Outro aspecto que devemos considerar nesse momento ao tratarmos da 
importância do binômio, vontade e consciência, é observar que em algumas situações 
o agente realiza algo a partir de sua manifestação de vontade, no entanto, não tem 
consciência do ilícito, como se observa no caso do caput do Art.20, onde temos que “o 
erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a 
punição por crime culposo, se previsto em lei ”, assim, nesse caso, temos o erro sobre 
elementos do tipo ( erro de tipo ), temos que a falta de consciência exclui o DOLO, 
portanto, temos a presença da vontade, mas falta a consciência. Vejamos, também, o 
caput do Art. 21, onde temos que “ o desconhecimento da lei é inescusável. O erro 
sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena ”, assim, nesse caso, temos o 
erro sobre a ilicitude do fato ( erro de proibição ), temos, portanto, a presença da 
vontade mas falta a consciência. 
Daí, a importância do binômio, vontade e consciência! 
Ainda considerando o aspecto da consciência, é de bom alvitre observar a 
ausência da mesma em determinadas situações, senão vejamos: 
Não há consciência: 
a) No sonambulismo, doença de quem age ou fala durante o sono, 
tornando seus sentidos obtusos. Trata-se de um “sono patológico”, quando o enfermo 
nem percebe estar dormindo, embora mantenha a sua atividade locomotora; 
b) Na narcolepsia, outra doença que provoca acessos repentinos de sono, 
transportando o enfermo a um estado de irrealidade, permitindo-lhe, no entanto, 
continuar a ter movimentos e relações com o meio ambiente. 
É evidente que, se o agente for informado a respeito de seu problema 
sonambúlico, provocador de resultados danosos a terceiros, sem tomar providências 
para se tratar, poderá responder criminalmente pelas consequências, aplicando-se a 
teoria da actio libera in causa ( ação livre na origem ), ou seja, na origem temos a 
vontade, posto que a inércia é uma vontade caracterizada pela omissão. 
No mesmo diapasão temos a analise da narcolepsia e assim, se o agente 
sabia que adormecia repentinamente e, com isso, gerava perigo com suas atitudes, 
uma vez que não se tratou porque não quis, deve responder pelos seus atos, temos na 
origem a vontade, haja vista que a inércia é uma vontade caracterizada pela omissão e 
temos a aplicação da teoria da actio libera in causa (ação livre na origem). 
C ) Temos outras situações de perda da consciência ou mesmo da vontade, 
como são os casos decorrentes de doenças mentais, e essa situação integra o contexto 
da inimputabilidade, que sujeita o autor da lesão penal a uma Medida de Segurança, 
conforme se observa na locução do Art.26 do Código Penal. Temos ali que “ É isento de 
pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender 
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. 
D ) As reações de curto-circuito de forma violenta e os gestos habituais ou 
mecânicos, tem o agente responsabilidade penal em relação aos mesmos pois existe 
um querer prévio, e esse querer prévio pode ser controlado pela atenção do agente. 
Trata-se, também, de uma espécie de actio libera in causa (ação livre na origem). 
A conclusão a que se chega por derradeiro é que a CONDUTA 
consubstanciada no binômio vontade e consciência e se realiza através de uma Ação 
ou Omissão. 
1.1.3 - A CONDUTA CARACTERIZA-SE POR SER UMA AÇÃO OU OMISSÃO 
Conceito de ação: É a conduta positiva, voluntária e consciente, implicando 
um fazer, voltado a uma finalidade. 
Conceito de omissão: É a omissão é a conduta negativa, voluntária e 
consciente, implicando um não fazer, voltado a uma finalidade. A omissão é uma 
espécie do gênero não fazer. 
1.1.4 - A CONDUTA - AÇÃO OU OMISSÃO – DOLOSA OU CULPOSA 
A Conduta, que caracteriza-se por ser uma ação ou omissão terá relevância 
penal quando a mesma apresentar-se como um elemento do Fato Típico e, para tanto, 
faz-se necessário, que essa ação ou omissão seja DOLOSA ou CULPOSA, nos moldes 
preconizados no Art. 18 do Código Penal, verbis: 
Art. 18. Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o 
risco de produzi-lo; 
Crime culposo 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo 
os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato 
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
1 – CONCEITO DE DOLO 
Considerando a Teoria Finalista, temos o denominado Dolo Natural que é a 
vontade consciente de praticar a conduta típica. 
Considerando a Teoria Causalista, temos o denominado Dolo Normativo que é a 
vontade consciente de praticar a conduta típica, acompanhada da consciência de que se 
realiza um ato ilícito. 
O Código Penal Brasileiro parece mesmo que adotou a Teoria Finalista, 
considerando que o Dolo deve ser objeto de análise jurídica já na realização da CONDUTA. 
Apenas para não deixar passar in albis é de bom alvitre lembrar que na Teoria 
Causalista o Dolo é objeto de análise jurídica na CULPABILIDADE. 
Conforme orienta o sempre festejado Nelson Hungria: “O nosso direito penal 
positivo concebe o dolo como intenção criminosa ”, em outras palavras a concepção de dolo é 
algo que encontra-se umbilicalmente ligado ao aspecto penal. 
2 - Distinção entre Dolo Genérico e Dolo Específico 
A doutrina tradicional costuma fazer diferença entre o Dolo Genérico e o Dolo 
Específico. 
Dolo Genérico é a vontade de praticar a conduta típica, sem qualquer finalidade 
especial. 
Dolo Específico é a vontade de praticar a conduta típica adicionada de uma 
finalidade especial. 
Temos como exemplo do Dolo Específico, os crimes contra a honra, não bastaria 
ao agente divulgar fato ofensivo à reputação de alguém para se configurar a difamação, sendo 
indispensável que agisse com dolo específico, ou seja, a especial intenção de difamar, de 
conspurcar a reputação da vítima. 
Outro exemplo de Dolo Específico é a Extorsão Mediante Sequestro, tem-se a 
intenção de se tirar proveito econômico indevido da vítima considerando a realização do Crime 
de Sequestro. 
Parcela expressiva da doutrina moderna costuma utilizar apenas o termo Dolo, 
para designar o Dolo Genérico, e a expressão – “ Elemento Subjetivo do Tipo Específico ” - , 
para definir o Dolo Específico. 
 
3 - Conceito de dolo direto: 
Dolo direto é a vontade do agente dirigida especificamente à produção do 
resultado típico, abrangendo os meios utilizados para tanto. Exemplo: o agente quer subtrair 
bens da vítima, valendo-se de grave ameaça. Dirigindo-se ao ofendido, aponta-lhe um 
revólver, anuncia o assalto e carrega consigo os bens encontrados em seu poder. A vontade se 
encaixa com perfeição ao resultado. É, também, denominado dolo de primeiro grau. 
Dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau 
O primeiro é a intenção do agente,voltada a determinado resultado, 
efetivamente perseguido, abrangendo os meios empregados para tanto (ex.: o atirador, 
almejando a morte da vítima, desfere-lhe certeiro e fatal tiro); 
O segundo, também denominado de dolo de consequências necessárias ou dolo 
necessário, é a intenção do agente, voltada a determinado resultado, efetivamente desejado, 
embora, na utilização dos meios para alcançá-lo, termine por incluir efeitos colaterais, 
praticamente certos. O agente não persegue os efeitos colaterais, mas tem por certa a sua 
ocorrência, caso se concretize o resultado almejado. O exemplo é do matador que, 
pretendendo atingir determinada pessoa, situada em lugar público, planta uma bomba, que, 
ao detonar, certamente matará outras pessoas ao redor. Ainda que não queira atingir essas 
outras vítimas, tem por certo o resultado, caso a bomba estoure, como planejado. 
O Dolo de segundo grau se diferencia do dolo eventual, porque no dolo eventual 
o agente não persegue o resultado típico atingido, e a sua vontade, portanto, está configurada 
mais debilmente. Não quer o autor determinado objetivo, mas somente assume o risco que 
ocorra. 
4 - Conceito de dolo indireto ou eventual: 
É a vontade do agente dirigida a um resultado determinado, porém vislumbrando 
a possibilidade de ocorrência de um segundo resultado, não desejado, mas admitido, unido ao 
primeiro. Por isso, a lei utiliza o termo “assumir o risco de produzi-lo”. 
Nesse caso, de situação mais complexa, o agente não quer o segundo resultado 
diretamente, embora sinta que ele pode se materializar juntamente com aquilo que pretende, 
o que lhe é indiferente. Exemplo: A está desferindo tiros contra um muro, no quintal da sua 
residência (resultado pretendido: dar disparos contra o muro), vislumbrando, no entanto, a 
possibilidade de os tiros vararem o obstáculo, atingindo terceiros que passam por detrás. 
Ainda assim, desprezando o segundo resultado (ferimento ou morte de alguém), continua a 
sua conduta. Caso atinja, mortalmente, um passante, responderá por homicídio doloso (dolo 
eventual). 
Dolo eventual nos graves crimes de trânsito: tem sido posição adotada, 
atualmente, na jurisprudência pátria considerar a atuação do agente em determinados delitos 
cometidos no trânsito não mais como culpa consciente, e sim como dolo eventual. As 
inúmeras campanhas realizadas, demonstrando o risco da direção perigosa e manifestamente 
ousada, são suficientes para esclarecer os motoristas da vedação legal de certas condutas, tais 
como o racha, a direção em alta velocidade sob embriaguez, entre outras. Se, apesar disso, 
continua o condutor do veículo a agir dessa forma nitidamente arriscada, estará 
demonstrando seu desapego à incolumidade alheia, podendo responder por delito doloso. 
Exemplos extraídos da jurisprudência: STF: “A conduta social desajustada daquele que, agindo 
com intensa reprovabilidade ético-jurídica, participa, com o seu veículo automotor, de 
inaceitável disputa automobilística realizada em plena via pública, nesta desenvolvendo 
velocidade exagerada – além de ensejar a possibilidade de reconhecimento de dolo eventual 
inerente a esse comportamento do agente –, ainda justifica a especial exasperação da pena, 
motivada pela necessidade de o Estado responder, grave e energicamente, à atitude de quem, 
em assim agindo, comete os delitos de homicídio doloso e de lesões corporais” (HC 71.800-1-
RS, 1.a T., rel. Celso de Mello, DJ 20.06.1995, RT 733/478 ) 
Age com dolo eventual quem, à noite, em lugar de movimento de pessoas, dirige 
veículo em alta velocidade e com faróis apagados, avançando com aceleração e causando 
atropelamentos sucessivos, “Habeas corpus negado”. 
Exigibilidade do dolo direto e do dolo eventual: a lei não faz distinção entre o dolo 
direto e o eventual para fins de aplicação da pena. Assim, o juiz poderá fixar a mesma pena 
para quem agiu com dolo direto e para quem atuou com dolo eventual. Como regra, já que os 
tipos penais que nada falam a respeito do elemento subjetivo do delito são dolosos (ex.: 
“matar alguém” – art. 121, CP, onde nada se diz acerca do dolo), pode-se aplicar tanto o 
direto, quanto o indireto. 
Excepcionalmente, quando a lei exigir unicamente o dolo direto, tal circunstância 
vem claramente definida no tipo penal, como se pode observar no tipo da denunciação 
caluniosa (“crime de que o sabe inocente”), do art. 339 do Código Penal. Contrariando o 
entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência de que a expressão “sabe” equivale 
à referência ao dolo direto e, como regra, a expressão “deve saber” tem correlação com o dolo 
eventual. Observar, também o art. 180 do Código Penal. 
5 - Outras classificações do Dolo 
a) Dolo Alternativo 
Significa que o agente quer, indiferentemente, um resultado ou outro. Não se 
trata de uma forma independente de dolo, mas sim de uma aplicação das regras pertinentes à 
congruência dos tipos objetivos e subjetivos. Temos como exemplo, o caso do malandro que 
encontra uma carteira, envolta num pano, na praia. Não sabe se foi deixada ali por um 
banhista que foi à água ou se alguém a esqueceu ali e foi para casa. Leva-a, de todo modo. 
Somente a análise do caso concreto irá determinar se houve furto (art. 155, CP) ou 
apropriação (art. 169, parágrafo único, II, CP); 
b) Dolo Cumulativo 
Significa que o agente deseja alcançar dois resultados, em sequência. Deseja 
surrar a vítima (lesão corporal), para depois matá-la (homicídio). A questão não pode ser 
equacionada como se houvesse uma outra espécie de dolo (além do direto e do eventual), 
mas, sim, sob o ponto de vista de existir uma progressão criminosa. Deve responder por um ou 
mais delitos que cometer, conforme sua intenção de atingir um ou mais resultados, obtendo 
progresso; 
c) Dolo Geral ( também chamado de Erro Sucessivo ou Aberratio Causae) 
Trata-se, em verdade, de uma hipótese de engano quanto ao meio de execução 
do delito, mas que termina por determinar o resultado visado. É um erro sobre a causalidade, 
mas jamais quanto aos elementos do tipo, nem tampouco quanto à ilicitude do que se pratica. 
Típico exemplo é o do agente que, pretendendo matar o inimigo, esgana-o. Imaginando-o 
morto, o que não ocorreu de fato, estando à vítima apenas desmaiada, atira o corpo no rio, 
tendo por fim eliminar a evidência do crime. Nessa ocasião, a morte se produz por 
afogamento. Deve responder por homicídio consumado, tendo em vista a perfeita congruência 
entre o que fez e o que pretendia fazer, pouco importando seu equívoco, quanto ao método 
que lhe permitiu atingir o resultado. Trata-se de um acontecimento unitário, como defende a 
maioria da doutrina. 
d) Dolo Antecedente 
Trata-se de elemento subjetivo inadequado para a teoria do crime. O autor deve 
agir, sempre, com dolo atual, isto é, concomitante à conduta desenvolve-se a sua intenção de 
realização do tipo penal. Logo, se alguém deseja matar o seu desafeto num determinado dia, 
mas muda de ideia, atropelando-o, acidentalmente, no dia seguinte, não pode ter a sua 
intenção transportada de um dia para outro, como se o dolo pudesse ser antecedente à 
conduta idônea a produzir o resultado. Não é reconhecido no ordenamento jurídico brasileiro. 
e) Dolo Subsequente 
Trata-se de outra hipótese inadequada, pelas mesmas razões já apontadas. 
Imagine-se o sujeito que atropela, acidentalmente, seu desafeto. Quando sai do carro, 
reconhecendo o inimigo, sente-se realizado por ter conseguido algo que almejava, embora não 
tenha agido para isso. Não pode responder por homicídio, pois significaria reconhecer a 
existência de um dolo subsequente à conduta idônea a causar o evento típico. Não é 
reconhecido no ordenamento jurídico brasileiro. 
2 – CONCEITO DE CULPA 
Podemos conceituar a Culpa como um comportamento voluntário desatencioso, 
voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não 
desejado, mas previsível,que podia ter sido evitado. 
O Dolo é a regra; a Culpa, exceção. Para se punir alguém por delito culposo, é 
indispensável que a Culpa venha expressamente delineada no tipo penal. 
Lembrando sempre que a Culpa e o Dolo, na ótica finalista, situam-se no tipo 
penal, pois são decorrências naturais da conduta humana. A finalidade do agente, quando 
detectada, deve ser valorada pelo juiz, identificando-se o Dolo (querer atingir o resultado ou 
assumir o risco de produzi-lo) ou a Culpa (não desejar o resultado, no entanto, continua a 
desenvolver o comportamento descuidado). 
Distinção entre Culpa Inconsciente e Culpa Consciente 
A Culpa Inconsciente é a Culpa por excelência, ou seja, a culpa sem previsão do 
resultado. O agente não tem previsão (ato de prever) do resultado, mas mera previsibilidade 
(possibilidade de prever). 
A Culpa Consciente é a chamada Culpa com previsão, ocorrendo quando o agente 
prevê que sua conduta pode levar a um certo resultado lesivo, embora acredite, firmemente, 
que tal evento não se realizará, confiando na sua atuação (vontade) para impedir o resultado. 
A Culpa Imprópria é a denominada culpa com previsão. Em suma, trata-se de uma 
conduta dolosa, cuja origem é a própria imprudência do agente. Exemplo: imaginando-se 
atacado por um desconhecido, o sujeito atira para matar, visando proteger-se. Após o fato, 
constata-se não ter havido agressão injusta. Houve dolo, no entanto, pois o tiro foi dado com 
intenção de matar ou ferir, ainda que para garantir a defesa pessoal. Entretanto, a lei penal 
prevê que, neste caso, se o erro for escusável, ou seja, aceito, estará configurada a legítima 
defesa putativa (art. 20, § 1.º), não havendo punição. Mas, caso o erro seja inescusável, ou 
seja, não é totalmente aceito, deve haver punição a título de culpa. Cuida-se exatamente da 
culpa imprópria, isto é, a culpa com previsão do resultado. 
Lembrando sempre que, mesmo havendo culpa imprópria, não se acolhe a 
possibilidade de tentativa, uma vez que a lei penal dá, a essa situação, o tratamento de culpa e 
esta não admite, em qualquer hipótese, tentativa. 
Conceito de imprudência 
Devemos observar que a imprudência é a forma ativa de culpa, significando um 
comportamento sem cautela, realizado com precipitação ou com insensatez. Ex.: a pessoa que 
dirige em alta velocidade dentro da cidade, onde há passantes por todos os lados, age com 
nítida imprudência. Conferir: TJSP: “Homicídio culposo na condução de veículo automotor – 
Condenação – Manutenção – Materialidade e autoria comprovadas – Farta prova oral, 
deixando certo que a ré estava perseguindo de carro o ofendido, e acabou provocando o 
acidente – Bem comprovada à imprudência na condução do veículo, com manobras indevidas 
e perigosas” (Ap. 0001009-70.2009.8.26.0587-SP, 4.a C. Crim. Extraordinária, rel. Cesar 
Augusto Andrade de Castro, 29.07.2015, v.u.). 
Conceito de Negligência 
Devemos observar que a negligência é a forma passiva de culpa, ou seja, assumir 
uma atitude passiva, inerte, material e psiquicamente, por descuido ou desatenção, 
justamente quando o dever de cuidado objetivo determina de modo contrário. Ex.: deixar uma 
arma de fogo ao alcance de uma criança ou não frear o carro ao estacionar em uma ladeira. 
Conceito de Imperícia 
Devemos observar que a imperícia é a imprudência no campo técnico, 
pressupondo uma arte, um ofício ou uma profissão. Consiste na incapacidade ou falta de 
conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex.: o médico deixa de 
tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia, demonstrando sua nítida 
inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do paciente. Podemos 
concluir que “a imperícia é a atuação inexperta ou inidônea em uma tarefa que demanda 
uma especial destreza. Uma exigência maior se formula a quem se dedica a um trabalho que 
carrega risco e que, por isso, deve ser desenvolvido com especial habilidade”. 
Distinção entre imperícia e erro profissional: a deficiência profissional, que 
acarreta um dano a alguém, nem sempre pode ser caracterizada como imperícia. Enquanto 
esta é um erro grosseiro, que a média dos profissionais de determinada área não cometeria, 
em circunstâncias normais, o erro profissional faz parte da precariedade dos conhecimentos 
humanos, pois nem todos possuem o mesmo talento, a mesma cultura e idêntica habilidade. 
Quando houver erro, resolve-se na esfera civil. 
Regra geral: o dolo é presumido no tipo penal, não necessitando estar expresso; a 
culpa há de estar clara, do contrário, inexiste a modalidade culposa. Na jurisprudência: STJ: “O 
legislador ordinário, ao descrever abstratamente o crime de sonegação fiscal, não previu a 
possibilidade de sua punição pela forma culposa, restringindo-o à regra prevista no artigo 18, 
parágrafo único, do Código Penal, segundo o qual ‘salvo os casos expressos em lei, ninguém 
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente’” (HC 
135.426-SP, 5.a T., rel. Jorge Mussi, 26.02.2013, não unânime). 
Diferença entre culpa consciente e dolo eventual: trata-se de distinção 
teoricamente plausível, embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as 
situações o agente tem a previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa 
consciente não o admita como possível, esperando, sinceramente, a sua não ocorrência; no 
dolo eventual, admite a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente. É o que se 
denomina por assumir o risco. Portanto, nas duas situações (culpa consciente e dolo eventual), 
o agente busca um determinado resultado (R1); ao persegui-lo, de acordo com a conduta 
assumida, percebe ser possível atingir também outro resultado (R2); o autor quer apenas o 
primeiro resultado (R1), não desejando diretamente o segundo (R2). Emerge, agora, a 
diferença: na culpa, ele diz para si mesmo que não vai acontecer o segundo resultado (R2), 
enquanto no dolo ele vê esse segundo resultado (R2) de modo indiferente. Essa distinção é 
tecida pela doutrina, pois a lei penal não a indica em nenhum dispositivo. 
Vejamos essa colocação do STJ: “A diferença entre o dolo eventual e a culpa 
consciente encontra-se no elemento volitivo que, ante a impossibilidade de penetrar-se na 
psique do agente, exige a observação de todas as circunstâncias objetivas do caso concreto, 
sendo certo que, em ambas as situações, ocorre a representação do resultado pelo agente” 
(HC 101.698-RJ, 1.a T., rel. Luiz Fux, 18.10.2011.). 
Nessa linha de raciocínio da jurisprudência do STJ, ou seja, a necessidade de se 
observar as circunstâncias objetivas do caso concreto, podemos exemplificar trazendo a 
colação o caso do atirador de facas, pois esse não assume os riscos de produzir o evento 
morte, na verdade ele atende que com sua perícia não vai ocorrer a morte de sua partner, 
situação semelhante temos no caso do Globo da Morte, nos números de Trapézio nos Circos. 
1.2 - Segundo elemento do Fato Típico é o Resultado 
1.2.1 – CONCEITO DE RESULTADO 
Devemos observar que a conduta dolosa ou culposa propicia um Resultado, e 
nesse diapasão detectamos dois critérios para analisar o Resultado: 
a) Resultado Naturalístico 
Resultado Naturalístico caracteriza-se pela modificação sensível do mundo 
exterior. O evento está situado no mundo físico, de modo que somente se pode falar em 
resultado quando existe alguma modificação passível de captação pelos sentidos. Exemplo: a 
morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente comprovável, o roubo, o furto, etc. 
b) Resultado Normativo ou Jurídico 
Resultado Normativo ou Jurídico caracteriza-se pela modificação gerada no 
mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse 
protegido pela norma penal. 
O critério jurídico foi o adotado pelo legislador, bastando analisar o disposto na 
Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, que a ReformaPenal de 1984 manteve, 
mencionando que “não há crime sem resultado”. 
Os delitos de atividade ( formais ou de mera conduta), que se configuram na 
mera realização da conduta, são delitos que levam em conta o Resultado Normativo ou 
Jurídico. 
1.3 - Terceiro elemento do Fato Típico é o Nexo Causal 
1.3.1 – CONCEITO DE NEXO CAUSAL 
O conceito de Nexo Causal parte necessariamente do conceito de Causa, assim 
devemos observar que Causa significa toda ação ou omissão indispensável para a configuração 
do resultado concreto. 
 Para apurar se alguma circunstância fática é causa do crime, deve-se utilizar o 
critério do juízo hipotético de eliminação, ou seja, abstrai-se determinado fato do contexto e, 
se ainda assim o resultado se produzisse, não seria ele causa do resultado. Ex.: a vítima morre 
em razão de ferimentos causados por disparos de arma de fogo dados por A; este, por sua vez, 
adquiriu o revólver de B; o fabricante C construiu a arma, vendida por B. São causas do 
resultado morte: dar o tiro + vender a arma + fabricar o revólver. Subtraído qualquer desses 
antecedentes – em juízo hipotético –, o resultado morte não teria ocorrido.

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