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1 
CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
Introdução 
O facto político 
Aula: n.º 1 
É comum dizer-se que a vida em sociedade é o modo natural em que ocorre a existência 
da espécie humana. Os indivíduos mantêm entre si, desde crescimento até à morte, 
mútuas relações de colaboração e de dependência. 
 A divisão do trabalho conduziu a que cada um de nós possa beneficiar a cada momento 
do esforço de muitos milhões dos nossos semelhantes. Cada um de nós é logo ao nascer 
herdeiro de uma civilização e de uma cultura, que nos foram legadas por gerações 
anteriores, proporcionando-nos a utilização de bens, instrumentos e noções de adopção 
de um sistema de princípios, convenções e normas já antes experimentados e que 
norteiam a nossa conduta. 
Há vários modos de convivência social, ou seja, os vínculos sociais a que estamos 
sujeitos podem assumir várias formas. Pode-se, desde logo, referir a família, depois a 
aldeia ou cidade, a sociedade religiosa; a sociedade profissional; a sociedade política ou 
Estado; a sociedade internacional. Estas formas podem dividir-se em duas grandes 
classes, segundo a classificação de Max Weber1: as associações e as comunidades. 
 
Comunidades – Quando os indivíduos se encontram integrados nessas formas de 
sociedade por mero facto do nascimento, ou por acto que não tem por fim directo aderir 
a elas. Elas existem, independentemente da vontade dos seus membros. Exemplo: a 
família, o meio profissional, a nação, o meio residencial, etc. 
Associações – Quando resultam da união dos indivíduos, que a elas resolvam aderir por 
serem criadas pela sua vontade e podendo delas sair, quando quiserem. Exemplo: Clube 
desportivo; uma irmandade religiosa; uma sociedade comercial, etc. 
 
1 Este grande sociólogo alemão escreveu o livro Wirtschaft und Gesellschaft ( Economia e Sociedade) 
que é uma das obras fundamentais da Sociologia Moderna. Max Weber retomou a distinção do sociólogo 
Tonnies (1877 no seu livro Gemeinschaft und Gesellschaft – Comunidade e Sociedade ), embora 
propondo outro método de distinção. Para Weber a comunidade seria resultante do sentimento subjectivo 
(origem emotiva, afectiva ou tradicional) que os indivíduos têm para constituir um todo; ao passo que a 
associação resultaria da vontade orientada por motivos racionais que leva os indivíduos a juntarem-se 
para compensarem os seus interesses ou para alcançarem um determinado fim. In Manual de Ciência 
Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, pg 3 
2 
Ponto comum a essas formas de sociedade é que elas têm uma razão de ser que 
impõem aos respectivos membros, através de deveres e colaboração na obra comum e 
deveres de se absterem da prática de actos que prejudiquem os interesses do grupo. De 
facto, para atingir certos objectivos o grupo tem de ser organizado. Isto significa que os 
indivíduos que o integram têm de se submeter a uma autoridade que representa o 
interesse colectivo, tendo por objectivo a realização dos fins sociais do grupo. A 
organização implica a existência de normas ou regras de conduta (disciplina). Essa 
disciplina tem de ser mantida por normas jurídicas que formam o direito, que disciplina 
os grupos.2 
No sentido lato de "POLÍTICO" cabem todas as formas de organização social 
humana. Desde as mais primárias (família, sindicato, associação, etc...) às mais 
globais: 
• sociedades primarias: (família, igreja, sindicato, etc...) em que os homens se 
agregam constituem grupos com fins próprios, mas fins específicos e 
particularizados; 
• sociedade global: prossegue um fim superior, uma finalidade que engloba e 
supera os fins das sociedades particularizadas - chamado bem comum. 
• A sociedade global surge da própria necessidade de compatibilizar os fins 
múltiplos e próprios e mesmo contraditórios das sociedades primitivas, a 
fim de superar as divergências, evitar conflitos, e integrá-los num objectivo 
comum. 
 
Aula 2 29/09/06 
 
O poder 
 
Chama-se poder à possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta ou de 
traçar a conduta alheia de forma eficaz. O PODER manifesta-se na potencialidade de 
alguém impor aos outros um determinado comportamento - o respeito pela 
"ordem". 
Existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar a sua própria 
vontade aos outros, ou obrigando os outros a fazer o que ele queira. 
 
2 Todo o grupo social organizado tem a sua disciplina que é mantida por normas jurídicas que formam o 
direito social, institucional ou disciplinar desse grupo. 
3 
Aristóteles distinguia poder paterno, poder despótico e poder político em função 
do interesse prosseguido por quem exerce o poder; 
Locke distinguia os mesmos poder paterno, poder despótico e poder político, mas 
em função do fundamento do poder que é exercido; 
Finalmente, Bobbio distingue antes poder económico, poder ideológico e poder 
político, em função dos meios que são utilizados para condicionar o 
comportamento do outro. 
O poder, enquanto forma de imposição de uma ordem que permita a gestão dos 
recursos necessariamente finitos ao dispor de uma sociedade, é essencial à sua 
própria preservação. 
A possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta traduz a ideia de 
liberdade, num dos sentidos deste termo. A possibilidade de traçar e impor a conduta 
alheia constitui autoridade.3 
• Poder de facto (força) 
• Poder legítimo (reconhecimento) 
• Poder social (necessidade organização) 
• Poder político (sociedade política – res-publica) 
• Poder político (Marcelo Caetano “poder de domínio) 
Para o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é um «poder de injunção dotado de 
coercibilidade material», ou seja, «um poder de natureza vinculativa marcado pela 
susceptibilidade de imposição, quer pelo uso da força física, quer da supressão, não 
resistível, de recursos vitais». 
Esse conceito de poder abrange, quer o poder de facto que assenta na força, quer o 
poder legítimo que resulta do reconhecimento por aqueles a quem se dirige de que 
ele actua de acordo com uma lei ou norma de acatamento geral. Importa para o 
presente estudo o poder legítimo que pode ser reconhecido a uma colectividade ou 
a um indivíduo. 
 
Na formação de uma colectividade, está implícita a necessidade de disciplina. Em 
cada sociedade, há portanto uma norma fundamental que autoriza a definir as normas de 
conduta aos seus membros em todo o que diga respeito à conservação dessa sociedade e 
á realização dos seus fins. Se um grupo social tem autoridade para estabelecer 
 
3 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, 
pg 5 
4 
normas de conduta dos seus membros, obrigatórias sob pena de aquele que 
desobedecer sofrer um castigo, e tem liberdade para actuar, então esse grupo 
possui poder. 
O poder social é exercido por toda a colectividade ou, na maioria dos casos, por alguns 
dos seus membros a quem seja reconhecida a qualidade de representante. O poder 
social é uma consequência necessária da organização das sociedades primárias 
(parentesco, vizinhança, profissão, etc). Ele surge porque elas existem e precisam de 
se organizar. 
Ao contrário a sociedade politica não existe antes do poder politico existir. A 
sociedade política surgiu porque houve necessidade de superar diferenças e hostilidades 
entre as sociedades primárias e por isso os homens criaram grupos mais amplos em que 
essas sociedades primárias colaborassem e se obrigassem a deveres comuns e a regras 
gerais de conduta, tendo por base a existência de um interesse geral superior a todos os 
outros: a res-publica.4 
A sociedade politica tem um carácter de comunidade e a sua razão de ser é o 
exercício do poder político, entendido este como a autoridade da colectividadesobre cada um dos seus membros, traduzida pela imposição de um direito comum 
ao qual, todos queiram ou não, têm de se submeter. Como refere Marcelo Caetano 
“ o poder político é um irresistível poder de domínio.”5 
 
Em conclusão: as sociedades primárias resultam do impulso da natureza humana; 
as sociedades políticas formam-se por decisão voluntária tendo por base interesses 
colectivos que superam os interesses particulares e sob a instituição de um poder 
político caminham numa direcção comum. A função deste poder político é 
subordinar os interesses particulares ao interesse geral, segundo princípios 
racionais de justiça que se traduzem em um Direito Comum da sociedade política 
que engloba as sociedades primárias. 
 
4 A sociedade politica é uma sociedade complexa que torna possível a convivência jurídica, entre os 
membros das várias sociedades primárias, graças à existência de um direito comum a todos eles, ou seja, 
acima dos interesse particulares ou restritos dos grupos sociais primários, eleva-se e afirma-se um 
interesse geral superior a todos os outros: a “res publica” (coisa pública). 
5 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, 
pg 7. “Esse poder apoia-se na possibilidade do emprego da coacção que a sociedade política reivindica 
com superioridade sobre as outras formas sociais, tendendo mesmo a monopolizá-la. “ 
 
5 
O poder político define um Direito Comum a todos os membros da sociedade 
política, com meios de coacção superiores aos das sociedades primárias, dispondo 
de meios eficazes de empregar a coacção para punir os desobedientes. 
 
Facto Político 
Noção de facto politico - chamaremos facto ou fenómeno politico a todo e 
qualquer acontecimento ligado à instituição, à existência e ao exercício do poder 
politico. 
Os factos ou fenómenos políticos podem ser objecto de estudo de acordo com métodos 
próprios e diferentes ópticas por parte de várias disciplinas: a Sociologia política, a 
História política, a Filosofia politica e a Ciência politica. Todas estas disciplinas têm um 
objecto comum: o facto político. 
À sistematização dos resultados do estudo das várias disciplinas que visam o 
conhecimento do facto político pode chamar-se Ciência Política, em sentido amplo. 
A Ciência Política é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que é 
formado por normas jurídicas reguladoras de factos políticos. 
 
CIÊNCIA POLÍTICA 
 
Conceito de ciência politica – este conceito tem sido objecto de muita discussão. 
Desde logo porque os próprios vocábulos: política e político podem surgir com 
significados diferentes. 
Conceito restrito – é a disciplina que estuda as manifestações, as formas e as 
regularidades dos factos políticos em si mesmos ou através do comportamento dos 
indivíduos mediante métodos de observação. 
Conceito amplo – é uma disciplina que estuda os conhecimentos relativos à 
compreensão, explicação e fundamento racional dos factos políticos ordenados e 
sistematizados em função do seu objecto e seja qual for o método empregado na sua 
obtenção. 
A Ciência Política estuda factos sociais através do método da observação, embora não 
descure o método histórico e tenha tendência a usar o método comparativo. 
De um modo muito simples podemos definir este conceito de Ciência Política, como a 
ciência que procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a realidade politica. Ela 
6 
estuda as leis que presidem ao funcionamento dos sistemas políticos e estuda as causas 
com a regularidade dos fenómenos políticos. 
 
Quer a ciência do direito Constitucional, quer a ciência política têm por objecto o 
fenómeno político. Contudo a ciência do Direito Constitucional considera a 
sociedade política através de normas que se lhe dirigem. Ela debruça-se sobre a 
ordem da sociedade e não sobre a sociedade enquanto tal, ao passo que a ciência 
politica se volta para os factos no seu desenrolar empírico e funcional. Ela tem por 
objecto o Estado como sistema de relações, forças e comportamentos, tendo como pano 
de fundo o poder ou a interferência do poder. 
Enquanto a ciência do Direito Constitucional se ocupa principalmente da regularidade e 
da validade da acção do poder como ciência normativa que é; a ciência política ocupa-se 
principalmente da efectividade da acção do poder. Ela é uma ciência não normativa. 
 
A ciência política estuda: 
- Os fenómenos políticos em si próprios 
- As estruturas governativas 
- As estruturas de participação política 
- Os sistemas de poder 
Portanto a ciência política sobrepõe o seu âmbito ao Direito Constitucional, já que 
estuda as estruturas políticas do Estado. A ciência política diz-nos como é na realidade, 
o direito constitucional diz-nos como deve ser. 
A ciência política é uma ciência descritiva, não normativa, que tem por objecto a 
realidade dos factos. O Direito Constitucional é uma ciência normativa que tem por 
objecto a realidade das normas. 
A ciência política não é uma ciência jurídica, o direito constitucional é uma ciência 
jurídica. 
As análises feitas pela ciência política ajudam a compreender a realidade política, cuja 
ordenação fundamental é estabelecida pela constituição do Estado. O estudo dessa 
ciência é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que sem ele se alhearia às 
questões políticas dos regimes, das ideologias e dos conflitos políticos. 
 
Importante: Não confundir ciência política com política. 
7 
Política – é a actividade desenvolvida para a conquista e a manutenção do poder, 
segundo certos ideais que se pretende fazer aceitar e realizar na sociedade. Ela é na 
linguagem corrente “a arte de governar”. 
Ciência é um sistema de conhecimentos, com ela pretende-se saber. Política é um 
conjunto de regras práticas e com ela pretende-se agir. 
Uma vez que o fenómeno político é o objecto de estudo da ciência política temos que o 
analisar. Há três concepções: 
1 – Entende-se o fenómeno político, como fenómeno estadual. 
2 – O fenómeno político é menor que o fenómeno estadual. 
3 – O fenómeno político é maior que o fenómeno estadual. 
 
1 – Fenómeno político identifica-se com o fenómeno estadual e portanto todo o 
fenómeno político é um fenómeno estadual. O fenómeno político desenvolve-se no 
quadro estadual e coincide com a concretização das 3 funções estaduais: legislativa, 
executiva e judicial. 
 
2 – Fenómeno político menor que o fenómeno estadual: estes autores entendem que 
efectivamente todo o fenómeno político é um fenómeno estadual, mas nem todo o 
fenómeno estadual é um fenómeno político. Existem funções estaduais que não podem 
ser consideradas políticas. A função judicial, segundo eles não seria política, mas 
meramente técnica de aplicação do direito. Só as funções legislativa e executiva seriam 
políticas por serem inovadoras e dispositivas. 
 
3 – O fenómeno político é mais amplo que o estadual. Hoje, entendem a maioria dos 
autores, que o fenómeno político é muito mais amplo do que o fenómeno estadual. A 
qualidade do político não é algo definitivamente estabelecido podendo em épocas de 
forte tensão social transformar-se em fenómenos políticos, actos como por exemplo: a 
abertura de uma escola ou reivindicações e manifestações de um sindicato. Portanto os 
fenómenos políticos não se reduzem ao Estado, pois têm em regra uma raiz mais 
profunda. Eles abarcam as acções dos partidos e dos grupos de interesse (com a pressão 
que tentam influenciar no poder). 
Portanto o fenómeno político não se identifica com o estadual abrangendo também a 
definição e o funcionamento dos partidos políticos, dos sindicatos, das associações 
8 
patronais, da opinião pública, as manifestações, ou seja todas as forças que podem 
influenciar o poder. 
De certo modo, poderá dizer-se que no Estado de direito liberal o fenómeno político 
se identifica com o estadual. 
No Estadosocial democrático de direito, o fenómeno político é mais amplo que o 
estadual, e no Estado autocrático ou ditatorial, o fenómeno político é 
tendencialmente total, abrangendo todo o fenómeno social. 
Podemos então definir o fenómeno político como aquele que pressupõe uma relação 
de poder, uma diferenciação entre governante e governado ou que resulta de um 
conflito de interesses tendo em vista, a conquista ou o exercício do poder político.” 
 
O Estado e o Sistema Político 
Aceitando como certo que o fenómeno político extravasa o estadual, a moderna ciência 
política Norte Americana começou a estudar esses fenómenos enquadrados não na 
estrutura do Estado, mas no campo global das actividades políticas de uma sociedade, 
ou seja, um sistema político. 
Para estudar os fenómenos políticos, David Easton foi o primeiro a aplicar o chamado 
modelo sistémico, assumindo que um sistema é um conjunto de variáveis seja qual for o 
grau de relação entre elas que se interligam. David Easton definiu o sistema político 
como um conjunto de interacções através dos quais, numa certa sociedade, se 
realiza a atribuição autoritária de valores. 
Para este autor, todos os sistemas políticos, têm um ponto comum: não podem subsistir 
se não desempenharem com sucesso as seguintes funções: 
1 – Distribuição dos valores numa certa sociedade. 
2 – A capacidade de levar a maior parte dos membros dessa sociedade a aceitar que essa 
distribuição seja feita por via autoritária, pelo menos durante um maior período de 
tempo possível. 
Estas duas propriedades distinguem os sistemas políticos de outros sistemas sociais e 
constituem as variáveis essenciais de toda a vida política. Sem elas, uma sociedade não 
tem qualquer espécie de vida política. Isto levanta as seguintes questões: 
1 – Como se processa a distribuição de valores a impor por via da autoridade 
2 – Como funciona o sistema político. 
 
Para responder a estas questões, David Easton elaborou a seguinte teoria: 
9 
Ele propõe que se considere o sistema político como uma caixa preta e que ignoremos o 
que se passa dentro dessa caixa. Essa caixa contudo, está inserida, ou mergulhada no 
meio ambiente (ambiente social) do qual recebe pedidos e apoios, que são os chamados 
inputs e outputs. 
Os inputs apresentam-se como acções de causas dos fenómenos políticos, podem ser 
exigências, pedidos ou apoios. Exemplo: Votos de confiança, moções de censura ao 
governo; reivindicações, manifestações contra ou a favor, protestos, etc. 
Os outputs são os resultados de efeito que os inputs produzem no sistema político. São 
portanto as respostas que o sistema político produz face ás pressões, a fim de 
adaptar as estruturas ao meio ambiente. 
A resposta do Estado em relação às exigências é feita através das suas funções. 
Por sua vez, as modificações do meio ambiente que resultam dos outputs provocam 
novos inputs, que entram no sistema através de um mecanismo da retroacção que se 
chama feed-back. 
David Easton avaliou o sistema político em interacção com o meio ambiente interno e 
externo. De facto, o sistema político está mergulhado no meio ambiente que o sujeita a 
desafios aos quais deve dar resposta, que são os sistemas exteriores da sociedade global 
em análise com os quais ela está presumivelmente em relação, como por exemplo os 
sistemas políticos coexistentes, os sistemas supranacionais e os próprios sistemas 
ecológicos mundiais. Meio ambiente externo que compreende todos os sistemas 
internos inseridos na sociedade global em análise, designadamente por exemplo: o 
sistema religioso, o sistema biológico, o sistema social, o sistema psicológico. 
No meio ambiente global está inserido o sistema político aberto e em constantes trocas 
com o meio ambiente. Em função do carácter aberto do sistema, a análise da corrente 
input / output é indispensável juntamente com o conceito de exigências e apoios. 
No conceito de exigências de pedidos cabem todas as solicitações do meio ambiente 
interno e externo no sentido de atribuir ou negar valores sociais que vão desde as 
liberdades e garantias políticas ao tipo de censura, ao sistema de segurança social ou 
saúde, aos salários, etc. 
O volume das exigências conduz ao conceito de carga e sobrecarga do sistema que 
exprimem a medida em que ele pode responder de resistir às exigências. A sobrecarga 
pode resultar, quer de uma quantidade excessiva das exigências, quer da sua qualidade 
excessiva que não permitem uma resposta antecipada. Desse modo, o sistema político 
avalia-se no fundo, como um conjunto de acções que provocam o ajuste constante entre 
10 
as exigências do meio ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Esse objectivo 
de resposta é procurado pelas seguintes funções: 
a) Expressão das exigências 
b) Depuração das exigências 
c) Agregação das exigências 
 
Expressão das exigências – estas são feitas pelos partidos políticos e pelos grupos de 
pressão (ex. sindicatos). 
Depuração das exigências – procura seleccionar as que têm significado político e 
impedir que outras possam assumir relevância política. O próprio aparelho do poder 
procura antecipar as suas intervenções de modo a evitar que as exigências atinjam uma 
sobrecarga. Os partidos podem, também, assumir uma função depuradora. 
Agregação das exigências – procura fazer convergir para alternativas bem definidas e 
limitadas as exigências dispersas no meio ambiente total. Esta função é assumida por 
exemplo pelos programas dos partidos e pelos programas do governo. 
 
Por sua vez, os apoios de suporte podem ser de três tipos: 
- Apoios à sociedade global 
- Apoios ao regime, que são os chamados apoios de manutenção 
- Apoios ou suportes de órgãos, que são os apoios à personalidade que exerce a 
função de autoridade. 
 
Quanto aos outputs, que engloba a totalidade das respostas do sistema traduzem-se em 
normas e acções. As normas dirigem-se imperativamente aos destinatários, as acções 
não os atingem directamente mas actuam sobre o meio ambiente condicionando a vida 
dos destinatários. 
Toda a resposta do sistema acaba por vir a modificar o meio ambiente do sistema 
político e desse modo acaba por alterar o fluxo das exigências, estabelecendo assim uma 
corrente contínua e infindável de referências em que inputs geram outputs, que por sua 
vez geram inputs, que por sua vez geram outputs. Isso chama-se efeito de retroacção ou 
feed back. 
 
Na sua globalidade, o sistema político é denominado por duas leis principais: 
11 
1 – Lei da Homcostase – que diz que os sistemas tendem sempre para o equilíbrio 
interno, apesar das pressões e dos factores de alteração que causam desestabilização os 
outputs contribuem para manter o equilíbrio. 
2 – Lei da Entropia – os sistemas tendem para uma ordem e complexidade cada vez 
maiores afim de esbater a força dos inputs sobre o centro de decisão. O sistema vai-se 
organizando cada vez melhor de uma forma a esbater a pressão e a fazer com que as 
exigências (inputs) causem menos desestabilização. 
 
Os MÉTODOS da CIÊNCIA POLÍTICA 
- método de uma ciência: os processos mentais, ou lógico-racionais específicos 
mediante os quais desenvolve o seu estudo. A sua actividade tende assim a: 
- acompanhar o desenrolar dos fenómenos políticos; 
- formular hipóteses, com base nos factos políticos apurados; 
- procurar comprovar ou confirmar pela experiência as hipóteses que são 
formuladas. 
- formular tendências que ajudem a compreender e prever os factos políticos. 
 
Método de investigação e análise em ciência política (perspectivas básicas) 
O Prof. Adriano Moreira distingue quatro perspectivas básicas: 
1 - a perspectiva das tendências individuais 
2 - a perspectiva racionalista 
a) teoria do processo de formação das decisões, 
b) teoria dos jogos 
3 - a perspectiva funcionalista 
4 - a perspectiva sistémica 
 
Perspectiva das tendências individuais – esta perspectiva funda-se quando na acçãopolítica os homens são individualmente considerados. O que é importante é o estudo do 
comportamento dos indivíduos. Esta perspectiva, mesmo quando para além do 
indivíduo ela se dedica a analisar o grupo, nunca se preocupa com a escolha consciente 
dos objectivos, pois ela centra a sua atenção no homem e não nos objectivos do grupo. 
 
Perspectiva racionalista – esta perspectiva embora se preocupe com a análise do 
grupo, preocupa-se também com a definição dos motivos ou dos factores que entram na 
12 
produção da escolha do comportamento político. É uma perspectiva totalizante que para 
além de considerar a personalidade básica dos indivíduos ou dos grupos, procura 
analisar os objectivos conscientemente. Isto leva a distinguir os objectivos que 
pertencem ao domínio da criatividade e as razões que se relacionam com a experiência 
acumulada e que se reflecte na personalidade dos agentes políticos considerados a título 
individual ou de grupo. 
Ao permitir examinar os fenómenos políticos em função das razões e objectivos, a 
perspectiva racionalista deu origem a alguns desenvolvimentos metodológicos 
conhecidos por processos de formação e decisões dos jogos. 
 
Perspectiva funcionalista – quer a perspectiva das tendências individuais, quer a 
perspectiva racionalista inspiram-se no pressuposto que são os homens quem tomam as 
decisões políticas e por isso eles colocam em ênfase as variáveis independentes do 
ambiente político. A perspectiva funcionalista parte de outro pressuposto: para ela a 
explicação dos fenómenos políticos será insuficiente se se limitar a tomar em conta o 
comportamento dos agentes políticos a título individual de um grupo e entende que o 
comportamento político é essencialmente resultante de uma tensão entre as 
exigências e as expectativas que a sociedade global dirige aos agentes políticos e a 
capacidade de resposta que elas demonstram no papel de direcção que tiveram. 
Segundo esta perspectiva, a acção política é sempre condicionada não apenas pela 
personalidade básica do agente, mas também pelo conjunto de funções interdependentes 
e conflituantes em que ele se situa. 
 
Perspectiva sistémica – no fundo esta perspectiva sistémica constitui uma tentativa de 
síntese de todas as outras perspectivas. A origem deste modelo toma como ponto de 
partida um modelo usado na biologia e foi transposto para a ciência política por David 
Easton. 
 
TÉCNICAS DE PESQUISA DOS FACTOS POLÍTICOS 
As técnicas6 usadas são a análise da observação documental e da observação directa. 
 
6 Devem obedecer aos Princípios da objectividade; da inteligibilidade ou do determinismo e ao princípio 
da racionalidade 
 
13 
1 - a análise documental– as fontes documentais dividem os documentos em directos e 
indirectos. 
Documentos directos – são todos os documentos que foram emitidos por intervenientes 
no processo político. 
Documentos indirectos – são os que, embora não tenham origem no processo político, 
testemunham a sua actividade no poder político de forma intencional ou acidental. 
 
2 - observação directa 
a) observação directa extensiva 
b) observação directa intensiva 
A observação extensiva - é a que se faz em grandes comunidades sendo portanto mais 
extensa mas menos profunda. 
A observação directa intensiva – é a que se faz em pequenas comunidades ou em 
indivíduos, logo é mais profunda. 
 
Técnicas usadas na observação directa: 
A técnica mais usada é a pesquisa por sondagem que abrange três fases essenciais. 
- A amostragem 
- A elaboração do questionário 
- A apresentação dos resultados 
 
Amostragem – consiste em escolher as pessoas a interrogar, escolhendo amostras 
representativas da população alvo. Costumam-se usar dois métodos: 
- Método das quotas – que consiste em determinar as categorias sociais, com base na 
idade, religião, etc.., e em atribuir uma quota a cada entrevistado que vai fazer o 
inquérito. 
- Método probabilístico – as pessoas que constituem a amostra são escolhidas ao acaso 
de forma que todos os membros da população tenham igual probabilidade de ser 
inseridos na amostra. 
 
Elaboração do questionário – esta fase começa com a sua elaboração (do questionário) 
que tem de ser feito com muito cuidado. A natureza das perguntas e a sua ordem tem 
muita importância no resultado da sondagem. Podem-se usar perguntas fechadas (sim 
14 
ou não), ou perguntas abertas (em que o interrogado pode responder sem estar sujeito a 
nenhum alternativa). 
Depois de elaborado o questionário procede-se á sua aplicação. Esta pode ser feita por 
apresentação directa às pessoas (preenchendo elas próprias o questionário) ou através de 
um inquiridor que formula as perguntas e preenche o questionário. Quer um, quer outro 
têm desvantagens em especial a apresentação directa, pois grande parte das pessoas não 
responde ou perde a espontaneidade. A desvantagem na apresentação indirecta é que o 
inquiridor pode influenciar o entrevistado. 
A apresentação dos resultados – as centenas ou milhares de questionários têm que ser 
codificados e ser submetidos a um tratamento mecanográfico próprio e esse tratamento 
têm que ser feito com muito cuidado para não deturpar os resultados. 
 
Técnicas usadas na observação directa (outras) 
- Entrevista 
- A medida das atitudes 
- A observação participante 
Entrevista – podem ser documentais, contendo informações sobre determinados dados 
ou entrevistas de opinião. Podem ser dirigidas a determinadas personalidades políticas, 
que se chamam entrevistas com personalidades ou entrevistas vulgares, feitas ao 
cidadão comum. 
A medida das atitudes – Um dos processos mais vulgares são os testes que servem para 
avaliar conhecimentos, opiniões, aptidões das pessoas, etc. 
A observação participante – consiste em examinar o grupo em si como colectividade. 
Este método implica que o observador se misture de uma forma mais ou menos intensa 
na vida dos grupos inserindo-se nas suas actividades. 
 
O Fenómeno Político e o Estado 
 
Estado – pode ser entendido em duas perspectivas: 
1 – Estado comunidade – a sociedade de que fazemos parte e onde se exerce um poder 
para a realização de fins comuns. 
2 – Estado poder – referente ao poder político que se manifesta através de órgãos, 
serviço e de relações de autoridade. 
15 
O Estado é uma entidade abstracta que actua através dos seus órgãos e que é objecto de 
interesse de várias ciências. Exemplo: Ciência política, ciência do direito constitucional, 
a sociologia política, etc. 
Segundo Freitas do Amaral, temos três acepções da palavra “Estado” 
1 – Sentido internacional – é o Estado soberano, titular de direitos e obrigações na 
esfera internacional (o seu objecto de estudo é o direito internacional) 
2 – Sentido constitucional – é o Estado comunidade. É a comunidade de cidadãos que 
nos termos do poder constituinte que em si própria (comunidade) se atribui e arroga, 
assume uma determinada forma política para prosseguir os seus fins nacionais (Ciência 
política, direito constitucional) 
3 – Sentido administrativo – aqui o Estado é a pessoa colectiva pública, que no seio da 
comunidade nacional desempenha sob a direcção do Governo a actividade 
administrativa. 
 
A delimitação do conceito jurídico de Estado em sentido político é feita através de três 
elementos: 
- O povo – elemento humano 
- O território7 – elemento territorial 
- O poder político – elemento funcional 
Este tipo de Estado definido por estes três elementos é apenas um dos tipos possíveis de 
Estado que é o Estado soberano nascido na Europa e difundido pelo mundo. 
Definição de Estado, segundo Marcelo Caetano: “Estado é um povo fixado num 
território de que é senhor e que dentro das fronteiras desse território institui, por 
autoridade própria os órgãos que elaboram as leis necessárias á vida colectiva e impõem 
a respectiva execução”8.7 O território abrange o domínio terrestre (solo e subsolo), o domínio marítimo, o domínio fluvial (rios), o 
domínio lacustre (lagos) e o domínio aéreo. A aquisição do território pode ser originária ou derivada 
(obtida por conquistas) 
8 Princípio da legalidade democrática: Todos os Estados estão subordinados à respectiva Constituição que 
tem por finalidade organizar e limitar o poder político. Cada Estado, com base na sua Constituição exerce 
a função legislativa, produzindo leis às quais fica subordinado. Estes aspectos estão consagrados na nossa 
Constituição (art.º 3.º) 
 
16 
 
Até fins do século XVI, não existia Estado no sentido em que hoje é entendido pois, de 
facto, não existia um território fixo, um poder que se exercia sobre o território e não 
existia um vínculo de nacionalidade. Só a partir do século XVI, surge o Estado moderno 
ou Europeu, no sentido que hoje lhe damos. Este surge em virtude de vários factores e 
condições. 
 
Condições espirituais: 
1 – A influência do renascimento, a reforma e a contra – reforma. 
2 – A passagem da cultura ligada à corte e aos claustros para a cultura de massas. 
3 – O espírito científico que começa a ter uma grande importância e que se revolta 
contra o regime religioso. 
 
Condições sociais e económicas: 
1 – A decadência da nobreza e da aristocracia rural 
2 – Os descobrimentos marítimos e a expansão colonial 
3 – A ascensão da burguesia 
4 – O desenvolvimento do capitalismo 
5 – A revolução industrial com o surgir da classe operária, do sindicalismo e dos 
conflitos sociais. 
 
Acerca da origem do Estado há várias teses: 
1 – Teses naturalistas – que assentam na ideia de o homem é por natureza um ser 
gregário que tende a viver em sociedade. 
2 – Teses contratualistas - estas teses têm por base uma explicação racionalista com 
raízes no renascimento medieval, tendo por substrato a ideia de o homem ser um animal 
social com necessidade de viver em comunidade, maior ou menor, de modo a defender-
se melhor e aproveitar as vantagens dessa associação. Para isso, ele reúne-se em 
comunidades organizadas, alienando parte dos seus direitos a favor da sociedade geral 
em que se integra. Essa incorporação social faz-se através de um contrato social que se 
desdobra: por um lado num pacto de união, que é a criação da sociedade organizada e, 
por outro, num pacto de sujeição ou submissão, que é a subordinação à vontade da 
maioria que escolhe os governantes que vão ditar e fazer executar as regras necessárias 
à vida social. 
17 
3 – Teses organicistas – que oscilam entre as seguintes vertentes: 
- A que entende o estado como uma medida espiritual, ou seja, o espírito do povo. 
- A que procura alargar ao domínio jurídico e ao domínio político os esquemas usados 
pelos cientistas da natureza que estudam o Estado como um ser vivo. 
4 – Tese marxista – para esta tese o Estado surge sem natureza própria perante a 
economia, como consequência da sociedade sem classes e uma máquina de domínio de 
uma classe sobre as outras. 
5 – Teses voluntaristas – o Estado resulta para estas teses de um acto de vontade: de 
pequenos grupos ou tribos, ter-se-á passado a outras amplas devido á acção de 
indivíduos ou de grupos minoritários, cuja autoridade as massas acabaram por aceitar 
com maior ou menor resistência. 
6 – Teses Hegelianas – que entende o Estado segundo uma óptica predominantemente 
filosófica, vêem o Estado com sendo o espírito objectivo e o indivíduo só como seu 
membro que tem objectividade, moralidade e verdade. 
 
Tipos Históricos de Estado 
 
Há várias tipologias9: 
Jellinek que distingue entre Estado oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado 
medieval e Estado moderno; 
Marxista: Estado despótico; Estado esclavagista; Estado feudal; Estado capitalista e 
Estado socialista; 
Jorge Novais: Estado na fase constitucional e Estado pré-constitucional; 
Vamos estudar rapidamente a tipologia de Jellinek: 
Estado Oriental 
Teocracia, isto é, poder político reconduzido ao poder religioso. O monarca é adorado 
como um deus. Há reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos, larga extensão 
territorial e aspiração a constituir um império universal. 
 
Estado Grego ou polis 
O Estado é a comunidade de cidadãos embora existam também os escravos. 
 
9 Pode ser consultado na Enciclopédia Polis uma síntese de Freitas do Amaral, nas pg. 1156-1162 
18 
Fundamento da comunidade de cidadãos, inexistência ou deficiência de liberdade fora 
do Estado. A pessoa não era um valor em si mesmo, tinha valor ligado só ao poder 
político. Pouca importância ao factor territorial (pequena extensão do território; Cidade-
Estado). Diversidade de formas de governo variando de cidade para cidade. 
 
Estado Romano – Século II antes de Cristo ao século IV depois de Cristo. 
Desenvolvimento do conceito de poder político como poder supremo e uno, cuja 
plenitude pode ou deve ser reservada a uma única origem e a um único detentor. 
Consciência da separação entre o Estado (poder público) e o poder privado ( do pater 
famílias). Distinção entre direito público e direito privado. São assegurados aos 
cidadãos Romanos: 
- Direito ao sufrágio 
- Direito de contrair casamento legítimo 
- Direito de celebrar actos jurídicos comerciais 
- Direito a ascender à magistratura 
A progressiva atribuição dos direitos aos estrangeiros deu lugar à formação do “ius 
gentium”. 
Expansão da cidadania num largo espaço territorial, contrastando com o carácter 
meramente territorial das monarquias orientais e o carácter pessoal restrito das cidades-
Estado gregas. 
 
O pretenso Estado medieval (Desde o século V até XV) 
Durante a Idade Média não é possível considerar a existência de Estado pois a “ ordem 
hierárquica da titularidade e exercício do poder político é feita numa relação de 
soberanos e vassalos ligados por vínculos contratuais”. Em vez de um conceito de 
imperium surge o conceito de dominium, em conexão com os princípios da família e da 
propriedade: investidura hereditária; direito de primogenitura; inalienabilidade do 
domínio territorial. As comunas, as corporações de mesteres, as universidades, etc., 
cada qual com a sua função formam-se e desenvolvem-se à margem de qualquer 
estrutura administrativa organizada. Os direitos não são atribuídos individualmente mas 
enquanto membros de um grupo. 
 
Estado moderno ou Estado Europeu (Século XVI até aos dias de hoje) 
19 
O Estado moderno vai surgir com a crise do sistema político medieval, podendo 
afirmar-se que o processo de criação dos Estados europeus se encontra concluído no 
momento de assinatura dos Tratados de Vestefália (1648) que puseram termo à guerra 
dos trinta anos. Na base do Estado moderno vai estar o conceito de soberania 
desenvolvido por Jean Bodin. 
Características: 
Estado Nacional, isto é, o Estado tende a corresponder a uma nação ou comunidade 
histórica de cultura, deixando de ser o factor de unificação a política, a religião, a raça, a 
ocupação bélica. 
Secularização ou laicidade – diferenciação entre o temporal e o espiritual; a 
comunidade já não tem por base a religião e o poder político não prossegue fins 
religiosos. 
Soberania – poder supremo dá ao Estado a capacidade para vencer as resistências 
internas e permite a afirmação da sua independência em relação aos outros Estados. 
O processo de criação do Estado moderno vai implicar: a centralização do poder (acabar 
com o poder feudal e com os privilégios atribuídos a determinados estratos sociais; 
emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador; ligação directa entre o Estado 
e o indivíduo (tratamento igual para nobre e plebeu); poder concentrado no Rei com o 
surgimento de uma administração burocrática (profissionalizada e hierarquizada). 
 
Na evolução do Estado moderno, os autores fazem algumas distinções de Estado 
 
• Estado corporativo ou estamental (cortes) 
Finsdo século XV ao século XVII . Estado de transição – O rei tinha o seu poder 
limitado pelas ordens. 
• Estado absoluto 
Máxima concentração de poder no rei. É no rei que se concentra o poder, a palavra do 
rei é lei. O rei era escolhido por Deus. O rei exercia o poder religioso, tinha plena 
liberdade para atingir os seus fins. 
Neste tipo de Estado há o Estado propriamente dito com soberania e há o Fisco, 
entidade de direito privado e sem soberania. Só o Fisco entra em relações jurídicas com 
os particulares e só contra este ( Fisco) é que os particulares podem reivindicar direitos 
subjectivos. 
 
20 
• Estado de Polícia 
Estado como uma associação para a consecução do interesse público, devendo o 
príncipe, seu órgão ou primeiro funcionário, ter plena liberdade nos meios para o 
alcançar. 
 
• Estado Constitucional, representativo ou de direito 
Constitucional porque assente numa Constituição que regula a organização e a 
relação com os cidadãos, tendente à limitação do poder. 
De Governo representativo porque há uma separação entre a titularidade e o 
exercício de poder, sendo que a primeira está radicada no povo, na nação ou 
colectividade; e o segundo atribuído a governantes eleitos ou representativos da 
colectividade( de toda a colectividade e não de grupos como no Estado 
estamental) 
De Direito porque para garantia dos direitos dos cidadãos se estabelece a divisão 
de poder e o respeito pela legalidade ( formal e mais tarde material). 
 
 
Fases do Estado Constitucional 
Após o final da II guerra mundial a evolução do Estado tem de ser compreendida tendo 
em consideração os seguintes aspectos: 
• Transformação do Estado num sentido democrático, intervencionista, social, em 
contraposição com o laissez faire, laissez passer,… liberal; 
• Aparecimento e desaparecimento dos regimes autoritários e totalitários; 
• Emancipação dos povos coloniais; 
• Organização da comunidade internacional e a protecção internacional dos 
direitos do homem 
 
Jorge Miranda defende que com o final do século e do milénio se verifica: 
1. O desaparecimento de quase todos os regimes autoritários e totalitários; 
2. Surgimento desde 1979 de um novo modelo de Estado diverso do Estado 
europeu: o Estado do fundamentalismo islâmico em que se unem lei religiosa e 
lei civil, poder espiritual e poder temporal; 
21 
3. Observa-se no Estado social de Direito sintomas de crise: crise do Estado-
providência por causas administrativas, financeiras, comerciais (quebra da 
competitividade devido globalização da economia); 
4. Degradação da natureza e do ambiente; desigualdades económicas entre países 
industrializados e países não industrializados; situações de exclusão social 
mesmo nos países mais ricos; manipulação comunicacional (4º poder); cultura 
consumista de massas; desaparecimento de certos valores éticos familiares e 
políticos. 
 
 Estado de Direito Liberal 
Assente na ideia de liberdade e, em nome dela, empenhado em limitar o poder político 
tanto internamente (pela sua divisão) como externamente (pela redução ao mínimo das 
suas funções perante a sociedade). O Estado só teria como única tarefa a garantia da paz 
social e da segurança dos bens e das vidas, de forma a permitir o pleno desenvolvimento 
da sociedade civil de acordo com as suas próprias leis naturais. 
 
Estado Social de Direito 
Reconduz-se a um esforço de aprofundamento e de alargamento simultâneos da 
liberdade e da igualdade em sentido social, com a integração política de todas as classes 
sociais. Integra-se no modelo do Estado constitucional, representativo ou de Direito, 
pois vai articular direitos, liberdades e garantias com direitos sociais; articular a 
igualdade jurídica (à partida) com igualdade social (à chegada) e segurança jurídica com 
segurança social; passagem do governo representativo clássico à democracia 
representativa. 
 
Estado Totalitário 
É um tipo de Estado que assume todo o poder na sociedade e identifica a liberdade 
humana com a prossecução dos seus fins. 
 
Os Elementos do Estado 
Não existe uma teoria geral sobre a origem e formação do Estado. De facto o Estado 
não teve só uma origem mas muitas. Formou-se de maneira independente: em diferentes 
lugares, épocas e por diversas formas, por conquistas externas, desenvolvimento 
interno, ou por ambos. 
22 
Desenvolveu-se um território entre uma combinação de relações territoriais e 
consanguíneas. 
Contudo a noção de Estado Moderno que é uma sociedade política organizada, fixada 
num determinado território e dotada de um poder institucionalizado para satisfazer os 
interesses gerais dos seus membros só no século XVI entrou na terminologia política. 
Ele surge na Europa com a idade moderna e sob as ruínas do fundamentalismo. Teve 
por base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação da sociedade civil do 
domínio temporal da Igreja e apoiou-se na concentração do poder nas mãos do príncipe 
e no despertar da consciência nacional que vai permitir encontrar um fundamento e um 
fim despersonalizado para o poder. Ao contrário do que acontecia nas sociedades 
primitivas onde a autoridade política era em regra o prolongamento da autoridade 
familiar e das sociedades feudais onde o poder era fortemente personalizado ( pois a sua 
propriedade e o seu exército confundiam-se na pessoa daquele que mandava na 
sociedade política moderna onde o poder está institucionalizado), quem assegura o 
poder é uma instituição despersonalizada: o Estado. 
O Estado moderno é pois uma instituição social dotada de um poder racional separado 
da pessoa dos governantes e sentido pelos governados. 
O conjunto de governantes e de governados formam a população do Estado que vive 
num determinado território, segundo regras de conduta, definidas pelos órgãos do poder 
e salvaguardadas pelas autoridades públicas (povo, território, soberania). 
 
O Professor Marcello Caetano dá-nos uma definição sucinta de Estado como a de «um 
povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território 
institui, por autoridade própria, órgãos que elaboram as leis necessárias à vida colectiva 
e imponham a respectiva execução». 
Segundo esta teoria, a organização política, jurídica de uma sociedade dispondo de 
órgãos próprios, exercem o poder sobre determinado território, corresponde a um 
conceito estático de Estado. 
Direcção do estado: 
- Chefe de Estado 
- Parlamento 
- Governo 
Corpo do Estado: 
- Órgãos administrativos 
23 
- Os tribunais 
- O aparelho militar 
Base do Estado: 
- População 
 
Olhando o Estado pela óptica do seu funcionamento integrado, verifica-se que a 
pirâmide do poder que corresponde a uma visão estática desaparece na medida em que o 
órgão superior do Estado é a representação popular integrada por fracções. As fracções 
que formam a maioria sustentam o governo, apoiam projectos legislativos e defendem a 
sua política. As outras fracções formam a oposição e criticam o governo. Assim, as 
decisões da direcção do Estado dependem de uma vontade que se forma num ambiente 
social do próprio Estado, ou seja as associações e a opinião pública bem como os 
partidos políticos constituem canais de comunicação entre a sociedade e o aparelho do 
Estado. 
Cada partido está apoiado em certas organizações às quais pertencem a maioria dos seus 
deputados, que defendem os seus interesses no parlamento. 
A opinião pública que se expressa através dos meios de comunicação tem influência 
directa nas decisões políticas, na direcção do Estado. 
A maioria dos estímulos e dos impulsos políticos provêm do ambiente social, 
transformando-se em decisões executórias, através do aparelho do Estado. 
 
Estado – é uma sociedade organizada na qual existe um sistema de canais de influência 
que nascem em cada um dos cidadãos e que através dos meios de comunicação, das 
associações e partidos confluem em unidades cada vez maiores até desembocarnos 
órgãos superiores do Estado. Através desses canais circula a energia que sustenta o 
aparelho do Estado e o mantêm em movimento. Numa visão dinâmica, o Estado surge-
nos como uma sociedade política integrada caracterizada por uma base social e o 
aparelho do estado. 
Nação – é uma comunidade de base cultural, ou seja, é uma forma de sociedade 
caracterizada por um passado comum, um desejo de viver em comum e aspirações 
comuns. Embora a nação tenda a constituir um Estado, não há uma necessária 
coincidência entre esses dois conceitos. 
Há nações que ainda não são Estados ou que estão repartidos por vários Estados e há 
Estados que não correspondem a nação. Por outro lado, se é verdade que, em regra se 
24 
parte da nação para se atingir o Estado, casos há também em que é o Estado que depois 
de fundado vai formando uma comunidade nacional. 
 
 
O Prof. Jorge Miranda aponta as seguintes características essenciais do Estado 
Moderno: 
- complexidade – de organização e actuação com cada vez maior diferenciação de 
funções, órgãos e serviços; 
- institucionalização do poder – que se encontra despersonalizado, pertencendo à 
colectividade como ideia para além dos seus detentores concretos e actuais; 
- autonomia – no sentido de uma dinâmica própria do poder e do seu aparelho frente à 
vida social; 
- coercibilidade – o Estado avoca a si o monopólio do uso legítimo da força; 
- sedentariedade – fixação em determinado território; 
- secularização - ou laicidade dos fins prosseguidos; 
- poder soberano - concepção de poder em termos de soberania – poder supremo e 
independente. 
 
Elementos do Estado 
Povo Território Poder 
 POVO 
POVO, enquanto elemento do Estado, é aquela colectividade humana que afim de 
realizar um ideal próprio de justiça, segurança e bem estar, reivindica a instituição 
de um poder político privativo que lhe garanta o direito adequado às suas 
necessidades e aspirações, dentro de um território que reclama como seu. Marcelo 
Rebelo de Sousa define o povo como o conjunto de cidadãos ou nacionais de certo 
Estado. 
Povo é diferente de população que tem um sentido significado económico ( é um 
conceito demográfico e económico e representa o conjunto de residentes em certo 
território sejam cidadãos ou estrangeiros) 
Sendo o povo a comunidade dos cidadãos ou súbditos importa determinar quais são as 
pessoas que devem ser qualificadas dessa forma, tendo os Estados uma competência 
exclusiva na definição das regras de aquisição e perda da cidadania, em conformidade 
com o Direito Internacional. 
25 
 
NACIONALIDADE 
Ao vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo a uma comunidade política e 
que os integra em certo povo atribuiu-se a designação de Nacionalidade 
Existem dois critérios essenciais quanto à atribuição de nacionalidade: 
- IUS SANGUINIS (usual nos estados mais antigos) 
- IUS SOLI (usual nos estados mais recentes ou com grande influência de imigrações ou 
emigrações) 
Também é comum distinguir: 
- a AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA da nacionalidade; 
- de AQUISIÇÃO DERIVADA da nacionalidade. 
A nacionalidade pode ser apreciada de duas vertentes: 
- enquanto um vínculo jurídico-político; 
- enquanto um direito fundamental (questão da dupla cidadania e dos apátridas) 
É que a atribuição do vínculo jurídico-político de nacional a determinada pessoa 
humana confere-lhe determinados direitos e deveres: 
- de participar na vida política do Estado; 
- de beneficiar da defesa dos seus direitos dentro do território do Estado; 
- de beneficiar da defesa dos seus direitos fora do território do Estado; 
- de participar na defesa do território; 
 
TERRITÓRIO 
O território é formado por um certo solo e toda a altura do espaço aéreo que lhe 
corresponder e, quando banhado por mar, engloba igualmente a faixa das chamadas 
"águas territoriais", que abrange normalmente 3 milhas marítimas a contar da costa, 
bem como o "terra" que prolonga a costa, subjacente ao mar, até que se abra o 
arquipélago profundo – a plataforma submarina ou continental. 
Características do território enquanto espaço jurídico próprio do Estado: 
- imposição da sua autoridade sobre certo território; 
- a atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado depende da 
efectividade desse poder; 
- os órgãos do Estado encontram-se sempre sedeados no seu território; 
- Exclusão de poderes concorrentes de outros Estados sobre o seu território; 
26 
- os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus direitos 
pelo respectivo Estado no território deste. 
Assim o poder do Estado sobre o seu território há-de ser: 
- indivisível, 
- inalienável, 
- exclusivo. 
Neste sentido, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa refere que a função do território é 
tripla: 
1 - Constitui uma condição de independência nacional; 
2 -circunscreve o âmbito de actuação do poder soberano do Estado, 
3 - Representa um meio de actuação jurídico-política do Estado. 
 
PODER POLÍTICO 
O Prof. Marcello Caetano dá-nos a seguinte definição: “Poder Político é a faculdade 
exercida por um povo de, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir 
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas 
jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção”. 
O Poder Político do Estado reveste-se das seguintes características próprias: 
- É um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e não 
está dependente de qualquer outro poder; 
- É um poder de auto-organização, que tem por objectivo permanente e 
continuado a criação de condições para a manutenção da segurança, a 
administração da justiça e a promoção do bem-estar da comunidade política; 
- É um poder de decisão que faz as opções consideradas e adequadas à 
organização da vida da comunidade política, designadamente através da criação 
de normas jurídicas. 
O poder político é exercido por um conjunto de órgãos do Estado que são poderes 
constituídos e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na 
lei, estando por isso limitado pelo Direito. 
 
PODER POLÍTICO e SOBERANIA 
De acordo com a doutrina de Jean Bodin, cada Povo erigido em Estado teria um 
príncipe soberano, entendendo esta soberania como um poder supremo sobre o seu 
27 
território que nenhuma lei positiva limita, e um poder independente em relação a todos 
os demais poderes humanos. 
O Poder Político próprio do Estado é assim um Poder Político Soberano, ou seja, 
supremo e independente. 
 
PODER POLÍTICO e DIREITO 
Poder político e soberania (aparelho do poder) (existem diferenças). 
O poder político – é a faculdade exercida por um povo, por autoridade própria (não 
recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam a soberania (o domínio) de um 
território e nele criem e imponham normas jurídicas dispondo dos necessários meios de 
coação. 
A soberania – é uma forma de poder político que corresponde à sua plenitude, é um 
poder político supremo e independente. Se uma colectividade tem liberdade plena de 
escolher a sua constituição e de se poder orientar no sentido que bem lhe parecer, 
elaborando as leis que julgar convenientes. Então essa colectividade forma um estado 
soberano. 
Mas nem sempre os Estados são soberanos. Há casos em que a colectividade tem 
autoridade própria para exercer o poder político formando um Estado e contudo esse 
poder político está condicionado por um poder diferente e superior. É o que se passa 
com os Estados protegidos, entre outros. 
O poder político é exercido dentro do Estado por um conjunto de órgãos do Estado, 
designados como poderes constituídos, e que devem actuar na estrita observância das 
competências previstas na lei. 
O poder político é um poder limitado pelo Direito: 
1 - pelo direito interno; 
2 - pelo direito internacional; e, 
3 – pelos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. 
 
ESTADO→ BEM COMUM 
PODER POLÍTICO → INTERESSES DOS GOVERNADOS 
 
A Divisão do Poder Político 
A divisão do poder tem a sua origem na contraposição das concepções de Montesquieu 
e de Rousseau. Montesquieu faz a apologia de um regime de governo em que o poder 
28 
esteja limitado pelo pluralismo político-administrativo e pela separação de poderes. 
Rousseau tem uma concepção oposta pois entende que a única função soberana é a 
função legislativa. 
Jorge Miranda entende que na actualidade a ideia da separação de poderes continua a 
ser válida, pelo menos nos seguintes termos: 
1. Por imperativo de racionalidade jurídica e necessidade de ordem política deve o 
poder estar dividido por órgãos com competências próprias de modo a que os 
seus detentores se limitem reciprocamente; 
2. Que não há coincidência entre os poderes (legislativo, executivo e judicial) e as 
funções do Estado (política, legislativa, administrativa e judicial); 
3. É essencial ao Estado de Direito a separação de poderes no que toca ao poder 
judicial (reserva da função jurisdicional aos tribunais) 
4. É essencial ao Estado de Direito a subordinação dos órgãos administrativos à lei; 
5. A efectividade da separação de poderes depende da intervenção de diversos 
partidos e forças políticas de poder; 
 
CATEGORIAS de ESTADOS MODERNOS 
Estados soberanos; Estados não soberanos; Estados semi-soberanos 
 
Estados Soberanos: são os que desfrutam sobre um determinado território de um poder 
supremo, sem igual, na ordem interna e de um poder independente, sem superior na 
ordem externa. Para que o Estado seja soberano, o poder de querer e o poder de 
comandar não podem estar subordinados a nenhum outro Estado. 
Estados soberanos – são aqueles que na ordem interna não admitem que nenhum outro 
poder se sobreponha ao seu e na ordem externa gozam todos os direitos na comunidade 
internacional, a saber: 
- Direito de fazer a guerra 
- Direito de legação, direito de receber e enviar agentes diplomáticos 
- Direito de celebrar tratos internacionais 
- Direito de reclamação internacional 
Os Estados soberanos dividem-se em: 
- Unitários (Portugal) 
- Federais (complexos) (EUA) 
 
29 
Estado unitário – é um Estado simples em que há um só poder para todo o território. 
Estados federais10 – são uma união de Estados membros, um só Estado central que se 
rege por normas constitucionais comuns a todos os membros. Há dois tipos de 
federalismo: 
1 – As federações propriamente ditas ou perfeitas (EUA, Suíça, Canadá). 
2 – Federações imperfeitas ou fictícias (Brasil, Austrália) 
 
O Estado Federal (Federação ou União) tem o seu órgão legislativo (congresso ou 
assembleia), o seu órgão executivo (presidente ou governo federal), os seus Tribunais 
Federais, as suas leis e os seus exércitos. 
 
O Estado Federal baseia-se na seguinte dualidade: 
- numa estrutura de sobreposição - «a qual recobre os poderes políticos locais (isto é, 
dos Estados federados), de modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas 
Constituições, - a federal e a do Estado Federado a que pertence - e ser concidadão de 
actos provenientes de dois aparelhos de órgãos legislativos, governativos, 
administrativos e jurisdicionais»; 
- numa estrutura de participação - «em que o poder político central surge como 
resultante da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de 
formação»; 
Jorge Miranda aponta os seguintes princípios directivos dos Estados Federais: 
1º - Dualidade de "soberanias"; 
 
10 Três teorias sobre a construção do Estado federal: 
1 – Teoria do Estado federal de dois membros 
2 – Teoria do Estado federal de três membros 
3 – Teoria dos chamados Estados-partes 
No primeiro caso – os estados federados são parte da federação e estão a ela submetidos. Esta teoria 
defende a primazia da federação sobre os Estados federados. 
A segunda teoria –os Estados federados formam juntamente com a federação uma república federal e 
atribui a esta república a qualidade de Estado. Esta teoria nega a primazia da federação sobre os Estados 
federados. 
A terceira teoria – a federação e os Estados federados são membros de igual categoria de um conjunto que 
entre si mesmo, não tem qualidade estatal, ou seja, não dá a qualidade de Estado á república federal e 
também nega a primazia da federação sobre os Estados federados. 
Diferenças entre federação e confederação: 
Confederação de Estados – é uma associação de Estados criados por um tratado internacional do qual 
resulta a instituição de órgãos comuns para prosseguir certos fins, geralmente internacionais. Exemplo: 
Cantões Suíços até 1848 e dos EUA entre 1781 e 1787. 
Federação – é uma simples associação de Estados, embora muitas vezes tenha acabado por constituir um 
Estado. 
 
30 
2º - Participação dos Estados Federados na formação e na modificação da Constituição 
Federal; 
3º - Garantia (a nível da Constituição Federal) da existência e dos direitos dos Estados 
Federados; 
4 º - Intervenção institucionalizada dos Estados Federados na formação da vontade 
política e legislativa federal; 
5º - Igualdade jurídica dos Estados Federados; 
6º - Limitação das atribuições federais; 
 
A questão da repartição de matérias entre Estado Federal e os Estados Federados pode 
também dividir-se em duas formas: 
- a repartição horizontal ou material (federalismo clássico - EUA e Suíça) «em que o 
dualismo de soberanias envolve um dualismo legislativo e executivo (O Estado Federal 
faz e executa as suas Leis, e o mesmo acontece com os Estados Federados)» 
- a repartição vertical (federalismo cooperativo - Alemanha) «em que o Estado Federal 
legisla e define as bases gerais da legislação e os Estados Federados executam e 
desenvolvem as bases gerais» 
 
Diferenças entre Estado Federal e Estado Unitário regional: 
1ª - Ao nível do Poder Jurisdicional; 
2ª - Ao nível do Poder Constituinte; 
3º - Ao nível da atribuição do Poder residual. 
 
Estados Não Soberanos são os que não desfrutam de nenhuma prerrogativa na ordem 
externa, mas têm um poder superior na ordem interna. Há situações em que determinada 
colectividade tem autoridade própria para exercer poder político sobre um determinado 
território, constituindo um verdadeiro Estado, no entanto, esse exercício do poder 
político está condicionado por um poder diferente e superior. Os Estados federados 
são a única modalidade actual de Estados não soberanos embora também tenha 
existido a união real11. 
 
11 A união real – é uma associação de união de Estados que dá lugar á criação de um 
novo Estado, no qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. 
Exemplo histórico: Portugal e Brasil, entre 1815 e 1926. 
 
31 
 
Os Estados federados existem quando um certo número de colectividades territoriais, 
politicamente organizadas decidem unir-se e aceitam mediante a adopção de uma 
constituição comum, transferir para os órgãos da união os seus poderes soberanos de 
ordem externa e reconhecem a estes órgãos competência para decidir sobre alguns 
domínios da sua ordem interna. 
Os Estados federados continuam a ser verdadeiros Estados12, pois podem elaborar as 
suas próprias constituições e fazer leis no domínio da sua competência e dispõem de 
meios próprios para fazer respeitar essas leis, mas não são Estados soberanos: 
1. Porque as suas constituições têm que respeitar a constituição federal; 
2. Porque as suas leis têm que se subordinar ás leis que provem dos órgãos da 
federação, isto é devem obediência à constituição federal; 
3. Porque não podem abandonar a federação por vontade própria; 
4. Porque não podem manter relações internacionais próprias, pois perdem o 
direito de legação, o direito de celebrar tratados, o direito de fazer a guerra e o 
direito de reclamação internacional a favor do Estado federado. 
 
Os Estados Semi-Soberanos são osque possuem certas prerrogativas na ordem externa 
e reconhecem um poder igual ou superior na ordem interna. Por sua vez estes Estados 
semi-soberanos dividem-se em: 
 
- Estados protegidos de protectorados 
- Estados exíguos (pequenos Estados) 
- Estados neutralizados 
 
Estado protegido13 de protectorado – é a situação que resulta de um acordo entre 
Estados soberanos, pelo qual um Estado assume a obrigação de proteger outro, 
recebendo total ou parcialmente a gestão das relações internacionais do Estado 
 
12Os ESTADOS FEDERADOS têm o seu órgão legislativo (parlamento ou assembleia), o seu órgão 
executivo (governo estadual), os seus Tribunais Estaduais, as suas leis e a sua polícia armada. 
13 Nos ESTADOS PROTEGIDOS existe: povo; território; poder político efectivo internamente. Mas está 
dependente do Estado Protector para as relações internacionais, e para aconselhamento na resolução de 
questões internas. Podemos assim considerar que o Estado Protegido é verdadeiramente um Estado, mas 
não é soberano pois não é independente nem supremo nas suas decisões. 
 
32 
protegido e alguns casos, a própria política interna. Exemplo: Tunísia, Marrocos, 
protegidos pela França; Manchúria pelo Japão. 
O Estado protegido não perde totalmente a soberania, porque não tem que respeitar 
a constituição do Estado protector, mas apenas o tratado que celebrou com ele. 
 
Estados exíguos – são comunidades políticas que pela sua diminuta extensão 
territorial e escassa população não tem condições de exercer plenamente a sua 
soberania em especial ou “ius belli” (direito de fazer guerra). Exemplo: Andorra, 
Mónaco e S. Marino. 
 
Estados neutralizados – são aqueles que por vontade própria e de acordo com a 
vontade manifestada pelas principais potências internacionais gozam de um 
estatuto de neutralidade. Através da aceitação desse estatuto, o Estado 
neutralizado abdica do direito de fazer guerra, excepto nas situações de legítima 
defesa, perdendo a sua prerrogativa de soberania externa. Normalmente é aceite 
a neutralização do Estado quando se pretende pôr fora das lutas políticas e 
militares e dispor de zonas de paz em períodos de conflito global. Exemplo: 
Suíça 
 
ESTADOS UNITÁRIOS ≠ ESTADOS COMPLEXOS 
 
Estados Unitários: aqueles em que existe apenas um poder político, podendo, no 
entanto, existir uma descentralização política ao nível territorial, caso em que 
distinguiremos entre Estados unitários centralizados e Estados unitários regionais. 
Estado complexo ( ou composto): aquele que agrega diversos Estados num outro de 
hierarquia superior, sendo que o poder político é repartido entre o Estado “mãe” e os 
estados agregados, de tal modo que o povo e o território ficam sujeitos simultaneamente 
a dois poderes políticos. 
33 
Estados Unitários 
Descentralização Política: consiste na existência de províncias ou regiões que se 
tornam politicamente autónomas por os seus órgão desempenharem funções políticas, 
participarem ao lado dos órgãos estaduais no exercício de alguns poderes ou 
competências de carácter legislativo ou governativo. 
Descentralização política é distinta de: 
- desconcentração; 
- descentralização administrativa; 
- regionalização; 
- autonomia política; 
- federalismo. 
Não há descentralização jurisdicional em Estados Unitários. 
 
Estado Unitário Centralizado Ou Clássico: os órgãos políticos nacionais conservam na 
sua esfera todo o poder legislativo e executivo. 
Estado Unitário Regional: atribuem-se, por um processo de descentralização política, a 
entidades infra-estaduais «poderes ou funções de natureza política, relativas à definição 
do interesse público ou à tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões 
legislativas)». 
O Estado Unitário Regional pode dividir-se entre: 
- integral e parcial; 
- homogéneo e heterogéneo; 
- regiões com fins gerais e regiões com fins especiais; 
 
Estados Complexos (Ou Compostos) 
A «União Real»: resulta da fusão entre dois Estados Soberanos, da qual resulta a 
criação de órgãos comuns de exercício de parte do poder político que exercem em 
cumulação com os órgãos de cada Estado Soberano que se mantém. (Ex. Portugal e 
Brasil de 1815 a 1822). 
O que é distinto da União Pessoal que resulta apenas da coincidência do titular do órgão 
executivo do Estado (ex.: Portugal e Espanha entre 1580 e 1640). 
 
 
 
34 
Fins e funções do Estado 
 
São fins do estado os objectivos comuns que um Povo visa alcançar pela instituição de 
um Poder Político em determinado Território. 
São funções do estado as «… actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político 
do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram 
constitucionalmente cometidos.» (Jorge Miranda) 
Os fins do Estado – estão sujeitos à evolução histórica e à variação da conjuntura 
(económica e social)14 
 
 
• Estado de Polícia: Estado Totalitário → Estado de poder absoluto → 
regulamentação e fiscalização de todos aspectos da vida social. 
• Estado Liberal: Advento dos Direitos do Homem → garantir a plena realização 
das liberdades individuais dos cidadãos, → SEGURANÇA e JUSTIÇA, enquanto 
garantia de dar a cada um o que é seu. no Estado de direito liberal, caracterizado 
pelo abstencionismo e capitalismo concorrencial, do ponto de vista económico e por 
um regime democrático liberal, do ponto de vista político, o objectivo primordial era 
o da segurança. 
O que interessava era que todos fossem iguais perante a lei, embora essa igualdade 
se reconduzi-se apenas a um ponto de vista formal. 
• Estado de Direito: Instituição dos princípios da democracia e da igualdade → 
assegurar a igualdade de oportunidades → SEGURANÇA e JUSTIÇA, 
enquanto garantia de liberdade colectiva e igualdade efectiva de direitos. 
• Estado Social de Direito: Consciencialização social colectiva → garantia de 
condições de dignidade humana mínimas → SEGURANÇA e JUSTIÇA + 
BEM-ESTAR social, económico e cultural dos cidadãos. No Estado social de 
direito, que reflecte a passagem do capitalismo concorrencial para o 
intervencionismo passou a dar-se prevalência ao objectivo da justiça, quer 
comutativa, quer distributiva, tratando-se de uma igualdade de situações 
 
14 Segurança (individual e colectiva) 
Justiça – satisfazer a ideia de justiça, da colectividade: Justiça comutativa e Justiça distributiva 
Desenvolvimento económico e social – O Estado deve promover as condições de vida dos cidadãos, 
manter o acesso a bens e serviços a toda a comunidade. 
 
35 
económicas e sociais mais do que uma mera igualdade formal dos direitos. O 
Estado procura criar estruturas para defesa dos direitos económicos, sociais e 
culturais, indo além da simples defesa dos direitos civis e políticos. 
 
FINS DO ESTADO MODERNO (Estado Social de Direito) 
• a SEGURANÇA - interna e externa. 
• a JUSTIÇA - realização e fiscalização de normas que regulem a sociedade em 
razão da satisfação do sentimento de Justiça da sociedade, que pode revelar-se 
em dois sentidos: 
1 - a Justiça comutativa 
2 - a Justiça distributiva 
• o BEM-ESTAR - bem estar não só físico, mas também económico, social, 
cultural e mesmo ecológico. Não só na promoção destas condições, como na 
garantia de acesso de todos aos serviços essenciais do Estado, e na obrigação de 
prestar esse serviços em igualdade de circunstâncias a todos os cidadãos. É a 
actual "cultura" dos serviços públicos. 
 
Os fins do Estado da nossa constituição (CRP) 
 
- Artigo 1.º - “Portugal é uma república soberana” 
- Artigo 2.º - “Visa a realização da economia” 
- Artigo 9.º , alíneas a, b, c e d – “Segurança colectiva e segurança individual, ….” 
 
FUNÇÕES DO ESTADO 
 
Funções do Estado – são as actividades levadas a cabo pelos órgãos do poder político, 
com vista á realização dos fins ou objectivos consagradosna Constituição. 
Cada órgão realiza um conjunto de actos independentes ou dependentes de actos de 
outros órgãos, mas todos eles tendo em vista a prossecução de fins comuns. 
 
As funções do Estado são: 
 
- Função política (legislativa e governativa) 
- Função administrativa 
36 
- Função Jurisdicional 
 
Classificação de Estado, segundo as actividades que desenvolvem: 
 
- Estado gestor – O Estado assume a tarefa de organizar os meios necessários e de 
desempenhar as actividades adequadas á realização do bem comum. Neste tipo de 
Estado, ele realiza por si próprio as finalidades que certamente integram os seus 
objectivos. 
 
- Estado árbitro – O Estado confia inteiramente na iniciativa e na capacidade das 
instituições públicas e deixa ao critério a escolha dos meios adequados á realização 
dos fins da comunidade política, acredita que uma lei natural conduzirá à 
harmonização final dos resultados da livre iniciativa. Nesta classificação o Estado 
assume apenas o papel de árbitro, assegurando as regras mínimas da competição. 
 
- Estado coordenador – embora confie na livre iniciativa dos indivíduos e das 
instituições, o Estado não confia na existência de uma lei natural que conduza à 
harmonia final dos resultados e prefere ser ele próprio a promover essa harmonia. 
 
- Estado revolucionário – em vez de tomar as atitudes de disciplina e correcção das 
estruturas existentes para realizar as suas finalidades concretas. O Estado pode 
entender que para essa realização ele necessita de alterar as estruturas, 
transformando-as de forma a atingir o que ele entende ser o bem comum. 
 
O Estado gestor tem um plano imperativo. 
O Estado concorrencial tem um plano indicativo 
O Estado árbitro não tem plano 
O Estado revolucionário não tem plano, é um Estado de excepção. 
 
Muitas vezes, o Estado não é gestor, nem coordenador em sentido rigoroso e puro na 
sua totalidade, já que o plano pode ser imperativo para o sector público e meramente 
indicativo para os sectores privados e cooperativos (é o que acontece entre nós, pela 
constituição). 
 
37 
O Prof. Jorge Miranda, refere dois sentidos em que podemos analisar as FUNÇÕES DO 
ESTADO: 
1º - «… como fim, tarefa ou incumbência, correspondente a certa 
necessidade colectiva ou a certa zona da vida social» - traduz a realização dos 
fins do Estado enquanto legitimação do exercício do poder! 
2º - «… como actividade com características próprias, passagem a acção, ou 
modelo de comportamento» - que traduz a actividade desenvolvida pelo Estado 
através dos seus órgãos, contínua a repetida, definida pelas estruturas e normas 
jurídicas que conformam o seu comportamento» 
 
Neste conceito de FUNÇÃO DO ESTADO enquanto actividade, o Prof. Jorge Miranda 
distingue 3 características: 
a) é uma actividade específica e diferenciada, pelos seus elementos (1) materiais – 
as respectivas causas e resultados que produz – (2) formais – os trâmites e as 
formalidades que exige - (3) orgânicas – os órgãos ou agentes por onde corre; 
b) é uma actividade duradoura – prolonga-se indefinidamente; 
c) é uma actividade globalizada – tem de ser encarada como um conjunto, e não 
como uma série de actos avulsos. 
 
O Prof. Jorge Miranda propõe uma DISTINÇÃO entre funções fundamentais e 
funções complementares, acessórias ou atípicas: 
FUNÇÕES FUNDAMENTAIS: Correspondem à divisão tripartida entre função política 
(que incluí a função legislativa e a função governativa), função administrativa e função 
jurisdicional. 
FUNÇÕES COMPLEMENTARES, ACESSÓRIAS E ATÍPICAS: Traduzem-se em actos 
do Estado, de carácter residual, que não se reconduzem às funções fundamentais ou 
clássicas. São exemplos: 
- a actividade do Ministério Público em processo penal; 
- órgãos que interferem no exercício da função administrativa sem dependeram da 
direcção ou superintendência do Governo – Comissão Nacional de Eleições. 
Assim a FUNÇÃO POLÍTICA será: 
- do ponto de vista material: a definição primária e global do interesse público, 
interpretação dos fins do Estado e escolha dos meios adequados para atingir em cada 
conjuntura esse fins; direcção do Estado; 
38 
- do ponto de vista formal: liberdade e discricionariedade, quer quanto ao conteúdo 
(desde que respeitando as normas Constitucionais) quer quanto ao tempo e 
circunstâncias de actuação (ausência de sanções jurídicas específicas); 
- do ponto de vista orgânico: competência atribuído a órgãos ou colégios em conexão 
directa coma forma e sistema de governo, com pluralidade de órgãos , ausência de 
hierarquia e apenas relações de responsabilidade jurídica. 
A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA será: 
- do ponto de vista material: a satisfação constante e quotidiana das necessidades 
colectivas, prestação de bens e serviços; 
- do ponto de vista formal: iniciativa no sentido das necessidades, e parcialidade na 
prossecução do interesse público. 
- do ponto de vista orgânico: dependência funcional e subordinação. 
A FUNÇÃO JURISDICIONAL será: 
- do ponto de vista material: a declaração do direito, decisão de questões jurídicas, seja 
em concreto seja em abstracto; 
- do ponto de vista formal: passividade (actua apenas perante a iniciativa de outrem) e 
imparcialidade; 
- do ponto de vista orgânico: independência de cada órgão (sem prejuízo do direito de 
recurso), e, em princípio atribuição a órgão específicos, os Tribunais, formados por 
juízes. 
 
Artigo 61.º - Iniciativa privada, cooperativa e auto gestionária. 
 
Artigo 82.º - Os sectores da propriedade dos meios de produção. 
 
Estrutura orgânica do aparelho do poder: 
 
A colectividade constituída em sociedade política actua como uma unidade, tem 
interesses colectivos, só seus, de atingir e para os realizar necessita de impor a sua 
vontade 
É uma pessoa colectiva e para formar e afirmar a sua vontade, a pessoa colectiva precisa 
de uma organização, ou seja, estrutura-se segundo uma diferenciação de funções, na 
qual se distinguem as missões e as tarefas a desempenhar pelos indivíduos e se repartem 
os poderes e deveres que competem a cada um. 
39 
Aparecem portanto, certos elementos aos quais é reconhecida de forma expressa ou 
tácita a autoridade para exprimir a vontade colectiva, são os cargos. 
Nas sociedades antigas não se notava, de início, pela separação entre os cargos e as 
pessoas que os exerciam, havia a chamada personalização do poder. Mas a sucessão dos 
indivíduos, nos cargos, veio a fazer salientar a diferença entre o cargo em si e o 
respectivo titular. 
Aos cargos, colégios de assembleias, aos quais, segundo a ordem constitucional o poder 
de manifestar uma vontade imputável ao Estado, chamam-se órgãos do Estado. 
O facto de numa colectividade existirem membros seus que actuam como titulares dos 
seus órgãos, ou seja, como encarregados de formar e manifestar a vontade da 
colectividade, sem ao mesmo tempo deixarem de tratar os seus interesses individuais, 
exige o estabelecimento de normas que digam com o é que o individuo deva agir 
quando actua como titular do órgão do Estado. 
 
 
A ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO DO ESTADO 
O Estado desdobra-se em duas facetas: 
- ESTADO-SOCIEDADE (ou colectividade) - que representa um povo, senhor de um 
território, ao serviço do qual existe um poder organizado; 
- ESTADO-PODER (ou governo) - que representa a estrutura pela qual se exerce o 
poder político, de certa forma, representa a institucionalização do poder político. 
“O ESTADO-PODER” 
ESTADO 
↓ 
PESSOA COLECTIVA 
↓ 
PERSONALIDADE JURÍDICA 
→ distinta de cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos próprios 
governantes e 
→ com capacidade para manter relações jurídicas com outras entidades, tanto no 
domínio do Direito interno como no do Direito Internacional, tanto na veste de Direito 
Público, como sob a do Direito privado 
ESTADO 
↓ 
40 
PESSOA COLECTIVA 
↓ 
ORGANIZAÇÃO 
↓ 
actua através de ÓRGÃOS 
Órgãos do Estado:

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