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1 CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL Introdução O facto político Aula: n.º 1 É comum dizer-se que a vida em sociedade é o modo natural em que ocorre a existência da espécie humana. Os indivíduos mantêm entre si, desde crescimento até à morte, mútuas relações de colaboração e de dependência. A divisão do trabalho conduziu a que cada um de nós possa beneficiar a cada momento do esforço de muitos milhões dos nossos semelhantes. Cada um de nós é logo ao nascer herdeiro de uma civilização e de uma cultura, que nos foram legadas por gerações anteriores, proporcionando-nos a utilização de bens, instrumentos e noções de adopção de um sistema de princípios, convenções e normas já antes experimentados e que norteiam a nossa conduta. Há vários modos de convivência social, ou seja, os vínculos sociais a que estamos sujeitos podem assumir várias formas. Pode-se, desde logo, referir a família, depois a aldeia ou cidade, a sociedade religiosa; a sociedade profissional; a sociedade política ou Estado; a sociedade internacional. Estas formas podem dividir-se em duas grandes classes, segundo a classificação de Max Weber1: as associações e as comunidades. Comunidades – Quando os indivíduos se encontram integrados nessas formas de sociedade por mero facto do nascimento, ou por acto que não tem por fim directo aderir a elas. Elas existem, independentemente da vontade dos seus membros. Exemplo: a família, o meio profissional, a nação, o meio residencial, etc. Associações – Quando resultam da união dos indivíduos, que a elas resolvam aderir por serem criadas pela sua vontade e podendo delas sair, quando quiserem. Exemplo: Clube desportivo; uma irmandade religiosa; uma sociedade comercial, etc. 1 Este grande sociólogo alemão escreveu o livro Wirtschaft und Gesellschaft ( Economia e Sociedade) que é uma das obras fundamentais da Sociologia Moderna. Max Weber retomou a distinção do sociólogo Tonnies (1877 no seu livro Gemeinschaft und Gesellschaft – Comunidade e Sociedade ), embora propondo outro método de distinção. Para Weber a comunidade seria resultante do sentimento subjectivo (origem emotiva, afectiva ou tradicional) que os indivíduos têm para constituir um todo; ao passo que a associação resultaria da vontade orientada por motivos racionais que leva os indivíduos a juntarem-se para compensarem os seus interesses ou para alcançarem um determinado fim. In Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, pg 3 2 Ponto comum a essas formas de sociedade é que elas têm uma razão de ser que impõem aos respectivos membros, através de deveres e colaboração na obra comum e deveres de se absterem da prática de actos que prejudiquem os interesses do grupo. De facto, para atingir certos objectivos o grupo tem de ser organizado. Isto significa que os indivíduos que o integram têm de se submeter a uma autoridade que representa o interesse colectivo, tendo por objectivo a realização dos fins sociais do grupo. A organização implica a existência de normas ou regras de conduta (disciplina). Essa disciplina tem de ser mantida por normas jurídicas que formam o direito, que disciplina os grupos.2 No sentido lato de "POLÍTICO" cabem todas as formas de organização social humana. Desde as mais primárias (família, sindicato, associação, etc...) às mais globais: • sociedades primarias: (família, igreja, sindicato, etc...) em que os homens se agregam constituem grupos com fins próprios, mas fins específicos e particularizados; • sociedade global: prossegue um fim superior, uma finalidade que engloba e supera os fins das sociedades particularizadas - chamado bem comum. • A sociedade global surge da própria necessidade de compatibilizar os fins múltiplos e próprios e mesmo contraditórios das sociedades primitivas, a fim de superar as divergências, evitar conflitos, e integrá-los num objectivo comum. Aula 2 29/09/06 O poder Chama-se poder à possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta ou de traçar a conduta alheia de forma eficaz. O PODER manifesta-se na potencialidade de alguém impor aos outros um determinado comportamento - o respeito pela "ordem". Existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar a sua própria vontade aos outros, ou obrigando os outros a fazer o que ele queira. 2 Todo o grupo social organizado tem a sua disciplina que é mantida por normas jurídicas que formam o direito social, institucional ou disciplinar desse grupo. 3 Aristóteles distinguia poder paterno, poder despótico e poder político em função do interesse prosseguido por quem exerce o poder; Locke distinguia os mesmos poder paterno, poder despótico e poder político, mas em função do fundamento do poder que é exercido; Finalmente, Bobbio distingue antes poder económico, poder ideológico e poder político, em função dos meios que são utilizados para condicionar o comportamento do outro. O poder, enquanto forma de imposição de uma ordem que permita a gestão dos recursos necessariamente finitos ao dispor de uma sociedade, é essencial à sua própria preservação. A possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta traduz a ideia de liberdade, num dos sentidos deste termo. A possibilidade de traçar e impor a conduta alheia constitui autoridade.3 • Poder de facto (força) • Poder legítimo (reconhecimento) • Poder social (necessidade organização) • Poder político (sociedade política – res-publica) • Poder político (Marcelo Caetano “poder de domínio) Para o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é um «poder de injunção dotado de coercibilidade material», ou seja, «um poder de natureza vinculativa marcado pela susceptibilidade de imposição, quer pelo uso da força física, quer da supressão, não resistível, de recursos vitais». Esse conceito de poder abrange, quer o poder de facto que assenta na força, quer o poder legítimo que resulta do reconhecimento por aqueles a quem se dirige de que ele actua de acordo com uma lei ou norma de acatamento geral. Importa para o presente estudo o poder legítimo que pode ser reconhecido a uma colectividade ou a um indivíduo. Na formação de uma colectividade, está implícita a necessidade de disciplina. Em cada sociedade, há portanto uma norma fundamental que autoriza a definir as normas de conduta aos seus membros em todo o que diga respeito à conservação dessa sociedade e á realização dos seus fins. Se um grupo social tem autoridade para estabelecer 3 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, pg 5 4 normas de conduta dos seus membros, obrigatórias sob pena de aquele que desobedecer sofrer um castigo, e tem liberdade para actuar, então esse grupo possui poder. O poder social é exercido por toda a colectividade ou, na maioria dos casos, por alguns dos seus membros a quem seja reconhecida a qualidade de representante. O poder social é uma consequência necessária da organização das sociedades primárias (parentesco, vizinhança, profissão, etc). Ele surge porque elas existem e precisam de se organizar. Ao contrário a sociedade politica não existe antes do poder politico existir. A sociedade política surgiu porque houve necessidade de superar diferenças e hostilidades entre as sociedades primárias e por isso os homens criaram grupos mais amplos em que essas sociedades primárias colaborassem e se obrigassem a deveres comuns e a regras gerais de conduta, tendo por base a existência de um interesse geral superior a todos os outros: a res-publica.4 A sociedade politica tem um carácter de comunidade e a sua razão de ser é o exercício do poder político, entendido este como a autoridade da colectividadesobre cada um dos seus membros, traduzida pela imposição de um direito comum ao qual, todos queiram ou não, têm de se submeter. Como refere Marcelo Caetano “ o poder político é um irresistível poder de domínio.”5 Em conclusão: as sociedades primárias resultam do impulso da natureza humana; as sociedades políticas formam-se por decisão voluntária tendo por base interesses colectivos que superam os interesses particulares e sob a instituição de um poder político caminham numa direcção comum. A função deste poder político é subordinar os interesses particulares ao interesse geral, segundo princípios racionais de justiça que se traduzem em um Direito Comum da sociedade política que engloba as sociedades primárias. 4 A sociedade politica é uma sociedade complexa que torna possível a convivência jurídica, entre os membros das várias sociedades primárias, graças à existência de um direito comum a todos eles, ou seja, acima dos interesse particulares ou restritos dos grupos sociais primários, eleva-se e afirma-se um interesse geral superior a todos os outros: a “res publica” (coisa pública). 5 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, pg 7. “Esse poder apoia-se na possibilidade do emprego da coacção que a sociedade política reivindica com superioridade sobre as outras formas sociais, tendendo mesmo a monopolizá-la. “ 5 O poder político define um Direito Comum a todos os membros da sociedade política, com meios de coacção superiores aos das sociedades primárias, dispondo de meios eficazes de empregar a coacção para punir os desobedientes. Facto Político Noção de facto politico - chamaremos facto ou fenómeno politico a todo e qualquer acontecimento ligado à instituição, à existência e ao exercício do poder politico. Os factos ou fenómenos políticos podem ser objecto de estudo de acordo com métodos próprios e diferentes ópticas por parte de várias disciplinas: a Sociologia política, a História política, a Filosofia politica e a Ciência politica. Todas estas disciplinas têm um objecto comum: o facto político. À sistematização dos resultados do estudo das várias disciplinas que visam o conhecimento do facto político pode chamar-se Ciência Política, em sentido amplo. A Ciência Política é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que é formado por normas jurídicas reguladoras de factos políticos. CIÊNCIA POLÍTICA Conceito de ciência politica – este conceito tem sido objecto de muita discussão. Desde logo porque os próprios vocábulos: política e político podem surgir com significados diferentes. Conceito restrito – é a disciplina que estuda as manifestações, as formas e as regularidades dos factos políticos em si mesmos ou através do comportamento dos indivíduos mediante métodos de observação. Conceito amplo – é uma disciplina que estuda os conhecimentos relativos à compreensão, explicação e fundamento racional dos factos políticos ordenados e sistematizados em função do seu objecto e seja qual for o método empregado na sua obtenção. A Ciência Política estuda factos sociais através do método da observação, embora não descure o método histórico e tenha tendência a usar o método comparativo. De um modo muito simples podemos definir este conceito de Ciência Política, como a ciência que procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a realidade politica. Ela 6 estuda as leis que presidem ao funcionamento dos sistemas políticos e estuda as causas com a regularidade dos fenómenos políticos. Quer a ciência do direito Constitucional, quer a ciência política têm por objecto o fenómeno político. Contudo a ciência do Direito Constitucional considera a sociedade política através de normas que se lhe dirigem. Ela debruça-se sobre a ordem da sociedade e não sobre a sociedade enquanto tal, ao passo que a ciência politica se volta para os factos no seu desenrolar empírico e funcional. Ela tem por objecto o Estado como sistema de relações, forças e comportamentos, tendo como pano de fundo o poder ou a interferência do poder. Enquanto a ciência do Direito Constitucional se ocupa principalmente da regularidade e da validade da acção do poder como ciência normativa que é; a ciência política ocupa-se principalmente da efectividade da acção do poder. Ela é uma ciência não normativa. A ciência política estuda: - Os fenómenos políticos em si próprios - As estruturas governativas - As estruturas de participação política - Os sistemas de poder Portanto a ciência política sobrepõe o seu âmbito ao Direito Constitucional, já que estuda as estruturas políticas do Estado. A ciência política diz-nos como é na realidade, o direito constitucional diz-nos como deve ser. A ciência política é uma ciência descritiva, não normativa, que tem por objecto a realidade dos factos. O Direito Constitucional é uma ciência normativa que tem por objecto a realidade das normas. A ciência política não é uma ciência jurídica, o direito constitucional é uma ciência jurídica. As análises feitas pela ciência política ajudam a compreender a realidade política, cuja ordenação fundamental é estabelecida pela constituição do Estado. O estudo dessa ciência é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que sem ele se alhearia às questões políticas dos regimes, das ideologias e dos conflitos políticos. Importante: Não confundir ciência política com política. 7 Política – é a actividade desenvolvida para a conquista e a manutenção do poder, segundo certos ideais que se pretende fazer aceitar e realizar na sociedade. Ela é na linguagem corrente “a arte de governar”. Ciência é um sistema de conhecimentos, com ela pretende-se saber. Política é um conjunto de regras práticas e com ela pretende-se agir. Uma vez que o fenómeno político é o objecto de estudo da ciência política temos que o analisar. Há três concepções: 1 – Entende-se o fenómeno político, como fenómeno estadual. 2 – O fenómeno político é menor que o fenómeno estadual. 3 – O fenómeno político é maior que o fenómeno estadual. 1 – Fenómeno político identifica-se com o fenómeno estadual e portanto todo o fenómeno político é um fenómeno estadual. O fenómeno político desenvolve-se no quadro estadual e coincide com a concretização das 3 funções estaduais: legislativa, executiva e judicial. 2 – Fenómeno político menor que o fenómeno estadual: estes autores entendem que efectivamente todo o fenómeno político é um fenómeno estadual, mas nem todo o fenómeno estadual é um fenómeno político. Existem funções estaduais que não podem ser consideradas políticas. A função judicial, segundo eles não seria política, mas meramente técnica de aplicação do direito. Só as funções legislativa e executiva seriam políticas por serem inovadoras e dispositivas. 3 – O fenómeno político é mais amplo que o estadual. Hoje, entendem a maioria dos autores, que o fenómeno político é muito mais amplo do que o fenómeno estadual. A qualidade do político não é algo definitivamente estabelecido podendo em épocas de forte tensão social transformar-se em fenómenos políticos, actos como por exemplo: a abertura de uma escola ou reivindicações e manifestações de um sindicato. Portanto os fenómenos políticos não se reduzem ao Estado, pois têm em regra uma raiz mais profunda. Eles abarcam as acções dos partidos e dos grupos de interesse (com a pressão que tentam influenciar no poder). Portanto o fenómeno político não se identifica com o estadual abrangendo também a definição e o funcionamento dos partidos políticos, dos sindicatos, das associações 8 patronais, da opinião pública, as manifestações, ou seja todas as forças que podem influenciar o poder. De certo modo, poderá dizer-se que no Estado de direito liberal o fenómeno político se identifica com o estadual. No Estadosocial democrático de direito, o fenómeno político é mais amplo que o estadual, e no Estado autocrático ou ditatorial, o fenómeno político é tendencialmente total, abrangendo todo o fenómeno social. Podemos então definir o fenómeno político como aquele que pressupõe uma relação de poder, uma diferenciação entre governante e governado ou que resulta de um conflito de interesses tendo em vista, a conquista ou o exercício do poder político.” O Estado e o Sistema Político Aceitando como certo que o fenómeno político extravasa o estadual, a moderna ciência política Norte Americana começou a estudar esses fenómenos enquadrados não na estrutura do Estado, mas no campo global das actividades políticas de uma sociedade, ou seja, um sistema político. Para estudar os fenómenos políticos, David Easton foi o primeiro a aplicar o chamado modelo sistémico, assumindo que um sistema é um conjunto de variáveis seja qual for o grau de relação entre elas que se interligam. David Easton definiu o sistema político como um conjunto de interacções através dos quais, numa certa sociedade, se realiza a atribuição autoritária de valores. Para este autor, todos os sistemas políticos, têm um ponto comum: não podem subsistir se não desempenharem com sucesso as seguintes funções: 1 – Distribuição dos valores numa certa sociedade. 2 – A capacidade de levar a maior parte dos membros dessa sociedade a aceitar que essa distribuição seja feita por via autoritária, pelo menos durante um maior período de tempo possível. Estas duas propriedades distinguem os sistemas políticos de outros sistemas sociais e constituem as variáveis essenciais de toda a vida política. Sem elas, uma sociedade não tem qualquer espécie de vida política. Isto levanta as seguintes questões: 1 – Como se processa a distribuição de valores a impor por via da autoridade 2 – Como funciona o sistema político. Para responder a estas questões, David Easton elaborou a seguinte teoria: 9 Ele propõe que se considere o sistema político como uma caixa preta e que ignoremos o que se passa dentro dessa caixa. Essa caixa contudo, está inserida, ou mergulhada no meio ambiente (ambiente social) do qual recebe pedidos e apoios, que são os chamados inputs e outputs. Os inputs apresentam-se como acções de causas dos fenómenos políticos, podem ser exigências, pedidos ou apoios. Exemplo: Votos de confiança, moções de censura ao governo; reivindicações, manifestações contra ou a favor, protestos, etc. Os outputs são os resultados de efeito que os inputs produzem no sistema político. São portanto as respostas que o sistema político produz face ás pressões, a fim de adaptar as estruturas ao meio ambiente. A resposta do Estado em relação às exigências é feita através das suas funções. Por sua vez, as modificações do meio ambiente que resultam dos outputs provocam novos inputs, que entram no sistema através de um mecanismo da retroacção que se chama feed-back. David Easton avaliou o sistema político em interacção com o meio ambiente interno e externo. De facto, o sistema político está mergulhado no meio ambiente que o sujeita a desafios aos quais deve dar resposta, que são os sistemas exteriores da sociedade global em análise com os quais ela está presumivelmente em relação, como por exemplo os sistemas políticos coexistentes, os sistemas supranacionais e os próprios sistemas ecológicos mundiais. Meio ambiente externo que compreende todos os sistemas internos inseridos na sociedade global em análise, designadamente por exemplo: o sistema religioso, o sistema biológico, o sistema social, o sistema psicológico. No meio ambiente global está inserido o sistema político aberto e em constantes trocas com o meio ambiente. Em função do carácter aberto do sistema, a análise da corrente input / output é indispensável juntamente com o conceito de exigências e apoios. No conceito de exigências de pedidos cabem todas as solicitações do meio ambiente interno e externo no sentido de atribuir ou negar valores sociais que vão desde as liberdades e garantias políticas ao tipo de censura, ao sistema de segurança social ou saúde, aos salários, etc. O volume das exigências conduz ao conceito de carga e sobrecarga do sistema que exprimem a medida em que ele pode responder de resistir às exigências. A sobrecarga pode resultar, quer de uma quantidade excessiva das exigências, quer da sua qualidade excessiva que não permitem uma resposta antecipada. Desse modo, o sistema político avalia-se no fundo, como um conjunto de acções que provocam o ajuste constante entre 10 as exigências do meio ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Esse objectivo de resposta é procurado pelas seguintes funções: a) Expressão das exigências b) Depuração das exigências c) Agregação das exigências Expressão das exigências – estas são feitas pelos partidos políticos e pelos grupos de pressão (ex. sindicatos). Depuração das exigências – procura seleccionar as que têm significado político e impedir que outras possam assumir relevância política. O próprio aparelho do poder procura antecipar as suas intervenções de modo a evitar que as exigências atinjam uma sobrecarga. Os partidos podem, também, assumir uma função depuradora. Agregação das exigências – procura fazer convergir para alternativas bem definidas e limitadas as exigências dispersas no meio ambiente total. Esta função é assumida por exemplo pelos programas dos partidos e pelos programas do governo. Por sua vez, os apoios de suporte podem ser de três tipos: - Apoios à sociedade global - Apoios ao regime, que são os chamados apoios de manutenção - Apoios ou suportes de órgãos, que são os apoios à personalidade que exerce a função de autoridade. Quanto aos outputs, que engloba a totalidade das respostas do sistema traduzem-se em normas e acções. As normas dirigem-se imperativamente aos destinatários, as acções não os atingem directamente mas actuam sobre o meio ambiente condicionando a vida dos destinatários. Toda a resposta do sistema acaba por vir a modificar o meio ambiente do sistema político e desse modo acaba por alterar o fluxo das exigências, estabelecendo assim uma corrente contínua e infindável de referências em que inputs geram outputs, que por sua vez geram inputs, que por sua vez geram outputs. Isso chama-se efeito de retroacção ou feed back. Na sua globalidade, o sistema político é denominado por duas leis principais: 11 1 – Lei da Homcostase – que diz que os sistemas tendem sempre para o equilíbrio interno, apesar das pressões e dos factores de alteração que causam desestabilização os outputs contribuem para manter o equilíbrio. 2 – Lei da Entropia – os sistemas tendem para uma ordem e complexidade cada vez maiores afim de esbater a força dos inputs sobre o centro de decisão. O sistema vai-se organizando cada vez melhor de uma forma a esbater a pressão e a fazer com que as exigências (inputs) causem menos desestabilização. Os MÉTODOS da CIÊNCIA POLÍTICA - método de uma ciência: os processos mentais, ou lógico-racionais específicos mediante os quais desenvolve o seu estudo. A sua actividade tende assim a: - acompanhar o desenrolar dos fenómenos políticos; - formular hipóteses, com base nos factos políticos apurados; - procurar comprovar ou confirmar pela experiência as hipóteses que são formuladas. - formular tendências que ajudem a compreender e prever os factos políticos. Método de investigação e análise em ciência política (perspectivas básicas) O Prof. Adriano Moreira distingue quatro perspectivas básicas: 1 - a perspectiva das tendências individuais 2 - a perspectiva racionalista a) teoria do processo de formação das decisões, b) teoria dos jogos 3 - a perspectiva funcionalista 4 - a perspectiva sistémica Perspectiva das tendências individuais – esta perspectiva funda-se quando na acçãopolítica os homens são individualmente considerados. O que é importante é o estudo do comportamento dos indivíduos. Esta perspectiva, mesmo quando para além do indivíduo ela se dedica a analisar o grupo, nunca se preocupa com a escolha consciente dos objectivos, pois ela centra a sua atenção no homem e não nos objectivos do grupo. Perspectiva racionalista – esta perspectiva embora se preocupe com a análise do grupo, preocupa-se também com a definição dos motivos ou dos factores que entram na 12 produção da escolha do comportamento político. É uma perspectiva totalizante que para além de considerar a personalidade básica dos indivíduos ou dos grupos, procura analisar os objectivos conscientemente. Isto leva a distinguir os objectivos que pertencem ao domínio da criatividade e as razões que se relacionam com a experiência acumulada e que se reflecte na personalidade dos agentes políticos considerados a título individual ou de grupo. Ao permitir examinar os fenómenos políticos em função das razões e objectivos, a perspectiva racionalista deu origem a alguns desenvolvimentos metodológicos conhecidos por processos de formação e decisões dos jogos. Perspectiva funcionalista – quer a perspectiva das tendências individuais, quer a perspectiva racionalista inspiram-se no pressuposto que são os homens quem tomam as decisões políticas e por isso eles colocam em ênfase as variáveis independentes do ambiente político. A perspectiva funcionalista parte de outro pressuposto: para ela a explicação dos fenómenos políticos será insuficiente se se limitar a tomar em conta o comportamento dos agentes políticos a título individual de um grupo e entende que o comportamento político é essencialmente resultante de uma tensão entre as exigências e as expectativas que a sociedade global dirige aos agentes políticos e a capacidade de resposta que elas demonstram no papel de direcção que tiveram. Segundo esta perspectiva, a acção política é sempre condicionada não apenas pela personalidade básica do agente, mas também pelo conjunto de funções interdependentes e conflituantes em que ele se situa. Perspectiva sistémica – no fundo esta perspectiva sistémica constitui uma tentativa de síntese de todas as outras perspectivas. A origem deste modelo toma como ponto de partida um modelo usado na biologia e foi transposto para a ciência política por David Easton. TÉCNICAS DE PESQUISA DOS FACTOS POLÍTICOS As técnicas6 usadas são a análise da observação documental e da observação directa. 6 Devem obedecer aos Princípios da objectividade; da inteligibilidade ou do determinismo e ao princípio da racionalidade 13 1 - a análise documental– as fontes documentais dividem os documentos em directos e indirectos. Documentos directos – são todos os documentos que foram emitidos por intervenientes no processo político. Documentos indirectos – são os que, embora não tenham origem no processo político, testemunham a sua actividade no poder político de forma intencional ou acidental. 2 - observação directa a) observação directa extensiva b) observação directa intensiva A observação extensiva - é a que se faz em grandes comunidades sendo portanto mais extensa mas menos profunda. A observação directa intensiva – é a que se faz em pequenas comunidades ou em indivíduos, logo é mais profunda. Técnicas usadas na observação directa: A técnica mais usada é a pesquisa por sondagem que abrange três fases essenciais. - A amostragem - A elaboração do questionário - A apresentação dos resultados Amostragem – consiste em escolher as pessoas a interrogar, escolhendo amostras representativas da população alvo. Costumam-se usar dois métodos: - Método das quotas – que consiste em determinar as categorias sociais, com base na idade, religião, etc.., e em atribuir uma quota a cada entrevistado que vai fazer o inquérito. - Método probabilístico – as pessoas que constituem a amostra são escolhidas ao acaso de forma que todos os membros da população tenham igual probabilidade de ser inseridos na amostra. Elaboração do questionário – esta fase começa com a sua elaboração (do questionário) que tem de ser feito com muito cuidado. A natureza das perguntas e a sua ordem tem muita importância no resultado da sondagem. Podem-se usar perguntas fechadas (sim 14 ou não), ou perguntas abertas (em que o interrogado pode responder sem estar sujeito a nenhum alternativa). Depois de elaborado o questionário procede-se á sua aplicação. Esta pode ser feita por apresentação directa às pessoas (preenchendo elas próprias o questionário) ou através de um inquiridor que formula as perguntas e preenche o questionário. Quer um, quer outro têm desvantagens em especial a apresentação directa, pois grande parte das pessoas não responde ou perde a espontaneidade. A desvantagem na apresentação indirecta é que o inquiridor pode influenciar o entrevistado. A apresentação dos resultados – as centenas ou milhares de questionários têm que ser codificados e ser submetidos a um tratamento mecanográfico próprio e esse tratamento têm que ser feito com muito cuidado para não deturpar os resultados. Técnicas usadas na observação directa (outras) - Entrevista - A medida das atitudes - A observação participante Entrevista – podem ser documentais, contendo informações sobre determinados dados ou entrevistas de opinião. Podem ser dirigidas a determinadas personalidades políticas, que se chamam entrevistas com personalidades ou entrevistas vulgares, feitas ao cidadão comum. A medida das atitudes – Um dos processos mais vulgares são os testes que servem para avaliar conhecimentos, opiniões, aptidões das pessoas, etc. A observação participante – consiste em examinar o grupo em si como colectividade. Este método implica que o observador se misture de uma forma mais ou menos intensa na vida dos grupos inserindo-se nas suas actividades. O Fenómeno Político e o Estado Estado – pode ser entendido em duas perspectivas: 1 – Estado comunidade – a sociedade de que fazemos parte e onde se exerce um poder para a realização de fins comuns. 2 – Estado poder – referente ao poder político que se manifesta através de órgãos, serviço e de relações de autoridade. 15 O Estado é uma entidade abstracta que actua através dos seus órgãos e que é objecto de interesse de várias ciências. Exemplo: Ciência política, ciência do direito constitucional, a sociologia política, etc. Segundo Freitas do Amaral, temos três acepções da palavra “Estado” 1 – Sentido internacional – é o Estado soberano, titular de direitos e obrigações na esfera internacional (o seu objecto de estudo é o direito internacional) 2 – Sentido constitucional – é o Estado comunidade. É a comunidade de cidadãos que nos termos do poder constituinte que em si própria (comunidade) se atribui e arroga, assume uma determinada forma política para prosseguir os seus fins nacionais (Ciência política, direito constitucional) 3 – Sentido administrativo – aqui o Estado é a pessoa colectiva pública, que no seio da comunidade nacional desempenha sob a direcção do Governo a actividade administrativa. A delimitação do conceito jurídico de Estado em sentido político é feita através de três elementos: - O povo – elemento humano - O território7 – elemento territorial - O poder político – elemento funcional Este tipo de Estado definido por estes três elementos é apenas um dos tipos possíveis de Estado que é o Estado soberano nascido na Europa e difundido pelo mundo. Definição de Estado, segundo Marcelo Caetano: “Estado é um povo fixado num território de que é senhor e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria os órgãos que elaboram as leis necessárias á vida colectiva e impõem a respectiva execução”8.7 O território abrange o domínio terrestre (solo e subsolo), o domínio marítimo, o domínio fluvial (rios), o domínio lacustre (lagos) e o domínio aéreo. A aquisição do território pode ser originária ou derivada (obtida por conquistas) 8 Princípio da legalidade democrática: Todos os Estados estão subordinados à respectiva Constituição que tem por finalidade organizar e limitar o poder político. Cada Estado, com base na sua Constituição exerce a função legislativa, produzindo leis às quais fica subordinado. Estes aspectos estão consagrados na nossa Constituição (art.º 3.º) 16 Até fins do século XVI, não existia Estado no sentido em que hoje é entendido pois, de facto, não existia um território fixo, um poder que se exercia sobre o território e não existia um vínculo de nacionalidade. Só a partir do século XVI, surge o Estado moderno ou Europeu, no sentido que hoje lhe damos. Este surge em virtude de vários factores e condições. Condições espirituais: 1 – A influência do renascimento, a reforma e a contra – reforma. 2 – A passagem da cultura ligada à corte e aos claustros para a cultura de massas. 3 – O espírito científico que começa a ter uma grande importância e que se revolta contra o regime religioso. Condições sociais e económicas: 1 – A decadência da nobreza e da aristocracia rural 2 – Os descobrimentos marítimos e a expansão colonial 3 – A ascensão da burguesia 4 – O desenvolvimento do capitalismo 5 – A revolução industrial com o surgir da classe operária, do sindicalismo e dos conflitos sociais. Acerca da origem do Estado há várias teses: 1 – Teses naturalistas – que assentam na ideia de o homem é por natureza um ser gregário que tende a viver em sociedade. 2 – Teses contratualistas - estas teses têm por base uma explicação racionalista com raízes no renascimento medieval, tendo por substrato a ideia de o homem ser um animal social com necessidade de viver em comunidade, maior ou menor, de modo a defender- se melhor e aproveitar as vantagens dessa associação. Para isso, ele reúne-se em comunidades organizadas, alienando parte dos seus direitos a favor da sociedade geral em que se integra. Essa incorporação social faz-se através de um contrato social que se desdobra: por um lado num pacto de união, que é a criação da sociedade organizada e, por outro, num pacto de sujeição ou submissão, que é a subordinação à vontade da maioria que escolhe os governantes que vão ditar e fazer executar as regras necessárias à vida social. 17 3 – Teses organicistas – que oscilam entre as seguintes vertentes: - A que entende o estado como uma medida espiritual, ou seja, o espírito do povo. - A que procura alargar ao domínio jurídico e ao domínio político os esquemas usados pelos cientistas da natureza que estudam o Estado como um ser vivo. 4 – Tese marxista – para esta tese o Estado surge sem natureza própria perante a economia, como consequência da sociedade sem classes e uma máquina de domínio de uma classe sobre as outras. 5 – Teses voluntaristas – o Estado resulta para estas teses de um acto de vontade: de pequenos grupos ou tribos, ter-se-á passado a outras amplas devido á acção de indivíduos ou de grupos minoritários, cuja autoridade as massas acabaram por aceitar com maior ou menor resistência. 6 – Teses Hegelianas – que entende o Estado segundo uma óptica predominantemente filosófica, vêem o Estado com sendo o espírito objectivo e o indivíduo só como seu membro que tem objectividade, moralidade e verdade. Tipos Históricos de Estado Há várias tipologias9: Jellinek que distingue entre Estado oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado medieval e Estado moderno; Marxista: Estado despótico; Estado esclavagista; Estado feudal; Estado capitalista e Estado socialista; Jorge Novais: Estado na fase constitucional e Estado pré-constitucional; Vamos estudar rapidamente a tipologia de Jellinek: Estado Oriental Teocracia, isto é, poder político reconduzido ao poder religioso. O monarca é adorado como um deus. Há reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos, larga extensão territorial e aspiração a constituir um império universal. Estado Grego ou polis O Estado é a comunidade de cidadãos embora existam também os escravos. 9 Pode ser consultado na Enciclopédia Polis uma síntese de Freitas do Amaral, nas pg. 1156-1162 18 Fundamento da comunidade de cidadãos, inexistência ou deficiência de liberdade fora do Estado. A pessoa não era um valor em si mesmo, tinha valor ligado só ao poder político. Pouca importância ao factor territorial (pequena extensão do território; Cidade- Estado). Diversidade de formas de governo variando de cidade para cidade. Estado Romano – Século II antes de Cristo ao século IV depois de Cristo. Desenvolvimento do conceito de poder político como poder supremo e uno, cuja plenitude pode ou deve ser reservada a uma única origem e a um único detentor. Consciência da separação entre o Estado (poder público) e o poder privado ( do pater famílias). Distinção entre direito público e direito privado. São assegurados aos cidadãos Romanos: - Direito ao sufrágio - Direito de contrair casamento legítimo - Direito de celebrar actos jurídicos comerciais - Direito a ascender à magistratura A progressiva atribuição dos direitos aos estrangeiros deu lugar à formação do “ius gentium”. Expansão da cidadania num largo espaço territorial, contrastando com o carácter meramente territorial das monarquias orientais e o carácter pessoal restrito das cidades- Estado gregas. O pretenso Estado medieval (Desde o século V até XV) Durante a Idade Média não é possível considerar a existência de Estado pois a “ ordem hierárquica da titularidade e exercício do poder político é feita numa relação de soberanos e vassalos ligados por vínculos contratuais”. Em vez de um conceito de imperium surge o conceito de dominium, em conexão com os princípios da família e da propriedade: investidura hereditária; direito de primogenitura; inalienabilidade do domínio territorial. As comunas, as corporações de mesteres, as universidades, etc., cada qual com a sua função formam-se e desenvolvem-se à margem de qualquer estrutura administrativa organizada. Os direitos não são atribuídos individualmente mas enquanto membros de um grupo. Estado moderno ou Estado Europeu (Século XVI até aos dias de hoje) 19 O Estado moderno vai surgir com a crise do sistema político medieval, podendo afirmar-se que o processo de criação dos Estados europeus se encontra concluído no momento de assinatura dos Tratados de Vestefália (1648) que puseram termo à guerra dos trinta anos. Na base do Estado moderno vai estar o conceito de soberania desenvolvido por Jean Bodin. Características: Estado Nacional, isto é, o Estado tende a corresponder a uma nação ou comunidade histórica de cultura, deixando de ser o factor de unificação a política, a religião, a raça, a ocupação bélica. Secularização ou laicidade – diferenciação entre o temporal e o espiritual; a comunidade já não tem por base a religião e o poder político não prossegue fins religiosos. Soberania – poder supremo dá ao Estado a capacidade para vencer as resistências internas e permite a afirmação da sua independência em relação aos outros Estados. O processo de criação do Estado moderno vai implicar: a centralização do poder (acabar com o poder feudal e com os privilégios atribuídos a determinados estratos sociais; emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador; ligação directa entre o Estado e o indivíduo (tratamento igual para nobre e plebeu); poder concentrado no Rei com o surgimento de uma administração burocrática (profissionalizada e hierarquizada). Na evolução do Estado moderno, os autores fazem algumas distinções de Estado • Estado corporativo ou estamental (cortes) Finsdo século XV ao século XVII . Estado de transição – O rei tinha o seu poder limitado pelas ordens. • Estado absoluto Máxima concentração de poder no rei. É no rei que se concentra o poder, a palavra do rei é lei. O rei era escolhido por Deus. O rei exercia o poder religioso, tinha plena liberdade para atingir os seus fins. Neste tipo de Estado há o Estado propriamente dito com soberania e há o Fisco, entidade de direito privado e sem soberania. Só o Fisco entra em relações jurídicas com os particulares e só contra este ( Fisco) é que os particulares podem reivindicar direitos subjectivos. 20 • Estado de Polícia Estado como uma associação para a consecução do interesse público, devendo o príncipe, seu órgão ou primeiro funcionário, ter plena liberdade nos meios para o alcançar. • Estado Constitucional, representativo ou de direito Constitucional porque assente numa Constituição que regula a organização e a relação com os cidadãos, tendente à limitação do poder. De Governo representativo porque há uma separação entre a titularidade e o exercício de poder, sendo que a primeira está radicada no povo, na nação ou colectividade; e o segundo atribuído a governantes eleitos ou representativos da colectividade( de toda a colectividade e não de grupos como no Estado estamental) De Direito porque para garantia dos direitos dos cidadãos se estabelece a divisão de poder e o respeito pela legalidade ( formal e mais tarde material). Fases do Estado Constitucional Após o final da II guerra mundial a evolução do Estado tem de ser compreendida tendo em consideração os seguintes aspectos: • Transformação do Estado num sentido democrático, intervencionista, social, em contraposição com o laissez faire, laissez passer,… liberal; • Aparecimento e desaparecimento dos regimes autoritários e totalitários; • Emancipação dos povos coloniais; • Organização da comunidade internacional e a protecção internacional dos direitos do homem Jorge Miranda defende que com o final do século e do milénio se verifica: 1. O desaparecimento de quase todos os regimes autoritários e totalitários; 2. Surgimento desde 1979 de um novo modelo de Estado diverso do Estado europeu: o Estado do fundamentalismo islâmico em que se unem lei religiosa e lei civil, poder espiritual e poder temporal; 21 3. Observa-se no Estado social de Direito sintomas de crise: crise do Estado- providência por causas administrativas, financeiras, comerciais (quebra da competitividade devido globalização da economia); 4. Degradação da natureza e do ambiente; desigualdades económicas entre países industrializados e países não industrializados; situações de exclusão social mesmo nos países mais ricos; manipulação comunicacional (4º poder); cultura consumista de massas; desaparecimento de certos valores éticos familiares e políticos. Estado de Direito Liberal Assente na ideia de liberdade e, em nome dela, empenhado em limitar o poder político tanto internamente (pela sua divisão) como externamente (pela redução ao mínimo das suas funções perante a sociedade). O Estado só teria como única tarefa a garantia da paz social e da segurança dos bens e das vidas, de forma a permitir o pleno desenvolvimento da sociedade civil de acordo com as suas próprias leis naturais. Estado Social de Direito Reconduz-se a um esforço de aprofundamento e de alargamento simultâneos da liberdade e da igualdade em sentido social, com a integração política de todas as classes sociais. Integra-se no modelo do Estado constitucional, representativo ou de Direito, pois vai articular direitos, liberdades e garantias com direitos sociais; articular a igualdade jurídica (à partida) com igualdade social (à chegada) e segurança jurídica com segurança social; passagem do governo representativo clássico à democracia representativa. Estado Totalitário É um tipo de Estado que assume todo o poder na sociedade e identifica a liberdade humana com a prossecução dos seus fins. Os Elementos do Estado Não existe uma teoria geral sobre a origem e formação do Estado. De facto o Estado não teve só uma origem mas muitas. Formou-se de maneira independente: em diferentes lugares, épocas e por diversas formas, por conquistas externas, desenvolvimento interno, ou por ambos. 22 Desenvolveu-se um território entre uma combinação de relações territoriais e consanguíneas. Contudo a noção de Estado Moderno que é uma sociedade política organizada, fixada num determinado território e dotada de um poder institucionalizado para satisfazer os interesses gerais dos seus membros só no século XVI entrou na terminologia política. Ele surge na Europa com a idade moderna e sob as ruínas do fundamentalismo. Teve por base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação da sociedade civil do domínio temporal da Igreja e apoiou-se na concentração do poder nas mãos do príncipe e no despertar da consciência nacional que vai permitir encontrar um fundamento e um fim despersonalizado para o poder. Ao contrário do que acontecia nas sociedades primitivas onde a autoridade política era em regra o prolongamento da autoridade familiar e das sociedades feudais onde o poder era fortemente personalizado ( pois a sua propriedade e o seu exército confundiam-se na pessoa daquele que mandava na sociedade política moderna onde o poder está institucionalizado), quem assegura o poder é uma instituição despersonalizada: o Estado. O Estado moderno é pois uma instituição social dotada de um poder racional separado da pessoa dos governantes e sentido pelos governados. O conjunto de governantes e de governados formam a população do Estado que vive num determinado território, segundo regras de conduta, definidas pelos órgãos do poder e salvaguardadas pelas autoridades públicas (povo, território, soberania). O Professor Marcello Caetano dá-nos uma definição sucinta de Estado como a de «um povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria, órgãos que elaboram as leis necessárias à vida colectiva e imponham a respectiva execução». Segundo esta teoria, a organização política, jurídica de uma sociedade dispondo de órgãos próprios, exercem o poder sobre determinado território, corresponde a um conceito estático de Estado. Direcção do estado: - Chefe de Estado - Parlamento - Governo Corpo do Estado: - Órgãos administrativos 23 - Os tribunais - O aparelho militar Base do Estado: - População Olhando o Estado pela óptica do seu funcionamento integrado, verifica-se que a pirâmide do poder que corresponde a uma visão estática desaparece na medida em que o órgão superior do Estado é a representação popular integrada por fracções. As fracções que formam a maioria sustentam o governo, apoiam projectos legislativos e defendem a sua política. As outras fracções formam a oposição e criticam o governo. Assim, as decisões da direcção do Estado dependem de uma vontade que se forma num ambiente social do próprio Estado, ou seja as associações e a opinião pública bem como os partidos políticos constituem canais de comunicação entre a sociedade e o aparelho do Estado. Cada partido está apoiado em certas organizações às quais pertencem a maioria dos seus deputados, que defendem os seus interesses no parlamento. A opinião pública que se expressa através dos meios de comunicação tem influência directa nas decisões políticas, na direcção do Estado. A maioria dos estímulos e dos impulsos políticos provêm do ambiente social, transformando-se em decisões executórias, através do aparelho do Estado. Estado – é uma sociedade organizada na qual existe um sistema de canais de influência que nascem em cada um dos cidadãos e que através dos meios de comunicação, das associações e partidos confluem em unidades cada vez maiores até desembocarnos órgãos superiores do Estado. Através desses canais circula a energia que sustenta o aparelho do Estado e o mantêm em movimento. Numa visão dinâmica, o Estado surge- nos como uma sociedade política integrada caracterizada por uma base social e o aparelho do estado. Nação – é uma comunidade de base cultural, ou seja, é uma forma de sociedade caracterizada por um passado comum, um desejo de viver em comum e aspirações comuns. Embora a nação tenda a constituir um Estado, não há uma necessária coincidência entre esses dois conceitos. Há nações que ainda não são Estados ou que estão repartidos por vários Estados e há Estados que não correspondem a nação. Por outro lado, se é verdade que, em regra se 24 parte da nação para se atingir o Estado, casos há também em que é o Estado que depois de fundado vai formando uma comunidade nacional. O Prof. Jorge Miranda aponta as seguintes características essenciais do Estado Moderno: - complexidade – de organização e actuação com cada vez maior diferenciação de funções, órgãos e serviços; - institucionalização do poder – que se encontra despersonalizado, pertencendo à colectividade como ideia para além dos seus detentores concretos e actuais; - autonomia – no sentido de uma dinâmica própria do poder e do seu aparelho frente à vida social; - coercibilidade – o Estado avoca a si o monopólio do uso legítimo da força; - sedentariedade – fixação em determinado território; - secularização - ou laicidade dos fins prosseguidos; - poder soberano - concepção de poder em termos de soberania – poder supremo e independente. Elementos do Estado Povo Território Poder POVO POVO, enquanto elemento do Estado, é aquela colectividade humana que afim de realizar um ideal próprio de justiça, segurança e bem estar, reivindica a instituição de um poder político privativo que lhe garanta o direito adequado às suas necessidades e aspirações, dentro de um território que reclama como seu. Marcelo Rebelo de Sousa define o povo como o conjunto de cidadãos ou nacionais de certo Estado. Povo é diferente de população que tem um sentido significado económico ( é um conceito demográfico e económico e representa o conjunto de residentes em certo território sejam cidadãos ou estrangeiros) Sendo o povo a comunidade dos cidadãos ou súbditos importa determinar quais são as pessoas que devem ser qualificadas dessa forma, tendo os Estados uma competência exclusiva na definição das regras de aquisição e perda da cidadania, em conformidade com o Direito Internacional. 25 NACIONALIDADE Ao vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo a uma comunidade política e que os integra em certo povo atribuiu-se a designação de Nacionalidade Existem dois critérios essenciais quanto à atribuição de nacionalidade: - IUS SANGUINIS (usual nos estados mais antigos) - IUS SOLI (usual nos estados mais recentes ou com grande influência de imigrações ou emigrações) Também é comum distinguir: - a AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA da nacionalidade; - de AQUISIÇÃO DERIVADA da nacionalidade. A nacionalidade pode ser apreciada de duas vertentes: - enquanto um vínculo jurídico-político; - enquanto um direito fundamental (questão da dupla cidadania e dos apátridas) É que a atribuição do vínculo jurídico-político de nacional a determinada pessoa humana confere-lhe determinados direitos e deveres: - de participar na vida política do Estado; - de beneficiar da defesa dos seus direitos dentro do território do Estado; - de beneficiar da defesa dos seus direitos fora do território do Estado; - de participar na defesa do território; TERRITÓRIO O território é formado por um certo solo e toda a altura do espaço aéreo que lhe corresponder e, quando banhado por mar, engloba igualmente a faixa das chamadas "águas territoriais", que abrange normalmente 3 milhas marítimas a contar da costa, bem como o "terra" que prolonga a costa, subjacente ao mar, até que se abra o arquipélago profundo – a plataforma submarina ou continental. Características do território enquanto espaço jurídico próprio do Estado: - imposição da sua autoridade sobre certo território; - a atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado depende da efectividade desse poder; - os órgãos do Estado encontram-se sempre sedeados no seu território; - Exclusão de poderes concorrentes de outros Estados sobre o seu território; 26 - os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus direitos pelo respectivo Estado no território deste. Assim o poder do Estado sobre o seu território há-de ser: - indivisível, - inalienável, - exclusivo. Neste sentido, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa refere que a função do território é tripla: 1 - Constitui uma condição de independência nacional; 2 -circunscreve o âmbito de actuação do poder soberano do Estado, 3 - Representa um meio de actuação jurídico-política do Estado. PODER POLÍTICO O Prof. Marcello Caetano dá-nos a seguinte definição: “Poder Político é a faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção”. O Poder Político do Estado reveste-se das seguintes características próprias: - É um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e não está dependente de qualquer outro poder; - É um poder de auto-organização, que tem por objectivo permanente e continuado a criação de condições para a manutenção da segurança, a administração da justiça e a promoção do bem-estar da comunidade política; - É um poder de decisão que faz as opções consideradas e adequadas à organização da vida da comunidade política, designadamente através da criação de normas jurídicas. O poder político é exercido por um conjunto de órgãos do Estado que são poderes constituídos e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na lei, estando por isso limitado pelo Direito. PODER POLÍTICO e SOBERANIA De acordo com a doutrina de Jean Bodin, cada Povo erigido em Estado teria um príncipe soberano, entendendo esta soberania como um poder supremo sobre o seu 27 território que nenhuma lei positiva limita, e um poder independente em relação a todos os demais poderes humanos. O Poder Político próprio do Estado é assim um Poder Político Soberano, ou seja, supremo e independente. PODER POLÍTICO e DIREITO Poder político e soberania (aparelho do poder) (existem diferenças). O poder político – é a faculdade exercida por um povo, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam a soberania (o domínio) de um território e nele criem e imponham normas jurídicas dispondo dos necessários meios de coação. A soberania – é uma forma de poder político que corresponde à sua plenitude, é um poder político supremo e independente. Se uma colectividade tem liberdade plena de escolher a sua constituição e de se poder orientar no sentido que bem lhe parecer, elaborando as leis que julgar convenientes. Então essa colectividade forma um estado soberano. Mas nem sempre os Estados são soberanos. Há casos em que a colectividade tem autoridade própria para exercer o poder político formando um Estado e contudo esse poder político está condicionado por um poder diferente e superior. É o que se passa com os Estados protegidos, entre outros. O poder político é exercido dentro do Estado por um conjunto de órgãos do Estado, designados como poderes constituídos, e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na lei. O poder político é um poder limitado pelo Direito: 1 - pelo direito interno; 2 - pelo direito internacional; e, 3 – pelos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. ESTADO→ BEM COMUM PODER POLÍTICO → INTERESSES DOS GOVERNADOS A Divisão do Poder Político A divisão do poder tem a sua origem na contraposição das concepções de Montesquieu e de Rousseau. Montesquieu faz a apologia de um regime de governo em que o poder 28 esteja limitado pelo pluralismo político-administrativo e pela separação de poderes. Rousseau tem uma concepção oposta pois entende que a única função soberana é a função legislativa. Jorge Miranda entende que na actualidade a ideia da separação de poderes continua a ser válida, pelo menos nos seguintes termos: 1. Por imperativo de racionalidade jurídica e necessidade de ordem política deve o poder estar dividido por órgãos com competências próprias de modo a que os seus detentores se limitem reciprocamente; 2. Que não há coincidência entre os poderes (legislativo, executivo e judicial) e as funções do Estado (política, legislativa, administrativa e judicial); 3. É essencial ao Estado de Direito a separação de poderes no que toca ao poder judicial (reserva da função jurisdicional aos tribunais) 4. É essencial ao Estado de Direito a subordinação dos órgãos administrativos à lei; 5. A efectividade da separação de poderes depende da intervenção de diversos partidos e forças políticas de poder; CATEGORIAS de ESTADOS MODERNOS Estados soberanos; Estados não soberanos; Estados semi-soberanos Estados Soberanos: são os que desfrutam sobre um determinado território de um poder supremo, sem igual, na ordem interna e de um poder independente, sem superior na ordem externa. Para que o Estado seja soberano, o poder de querer e o poder de comandar não podem estar subordinados a nenhum outro Estado. Estados soberanos – são aqueles que na ordem interna não admitem que nenhum outro poder se sobreponha ao seu e na ordem externa gozam todos os direitos na comunidade internacional, a saber: - Direito de fazer a guerra - Direito de legação, direito de receber e enviar agentes diplomáticos - Direito de celebrar tratos internacionais - Direito de reclamação internacional Os Estados soberanos dividem-se em: - Unitários (Portugal) - Federais (complexos) (EUA) 29 Estado unitário – é um Estado simples em que há um só poder para todo o território. Estados federais10 – são uma união de Estados membros, um só Estado central que se rege por normas constitucionais comuns a todos os membros. Há dois tipos de federalismo: 1 – As federações propriamente ditas ou perfeitas (EUA, Suíça, Canadá). 2 – Federações imperfeitas ou fictícias (Brasil, Austrália) O Estado Federal (Federação ou União) tem o seu órgão legislativo (congresso ou assembleia), o seu órgão executivo (presidente ou governo federal), os seus Tribunais Federais, as suas leis e os seus exércitos. O Estado Federal baseia-se na seguinte dualidade: - numa estrutura de sobreposição - «a qual recobre os poderes políticos locais (isto é, dos Estados federados), de modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas Constituições, - a federal e a do Estado Federado a que pertence - e ser concidadão de actos provenientes de dois aparelhos de órgãos legislativos, governativos, administrativos e jurisdicionais»; - numa estrutura de participação - «em que o poder político central surge como resultante da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de formação»; Jorge Miranda aponta os seguintes princípios directivos dos Estados Federais: 1º - Dualidade de "soberanias"; 10 Três teorias sobre a construção do Estado federal: 1 – Teoria do Estado federal de dois membros 2 – Teoria do Estado federal de três membros 3 – Teoria dos chamados Estados-partes No primeiro caso – os estados federados são parte da federação e estão a ela submetidos. Esta teoria defende a primazia da federação sobre os Estados federados. A segunda teoria –os Estados federados formam juntamente com a federação uma república federal e atribui a esta república a qualidade de Estado. Esta teoria nega a primazia da federação sobre os Estados federados. A terceira teoria – a federação e os Estados federados são membros de igual categoria de um conjunto que entre si mesmo, não tem qualidade estatal, ou seja, não dá a qualidade de Estado á república federal e também nega a primazia da federação sobre os Estados federados. Diferenças entre federação e confederação: Confederação de Estados – é uma associação de Estados criados por um tratado internacional do qual resulta a instituição de órgãos comuns para prosseguir certos fins, geralmente internacionais. Exemplo: Cantões Suíços até 1848 e dos EUA entre 1781 e 1787. Federação – é uma simples associação de Estados, embora muitas vezes tenha acabado por constituir um Estado. 30 2º - Participação dos Estados Federados na formação e na modificação da Constituição Federal; 3º - Garantia (a nível da Constituição Federal) da existência e dos direitos dos Estados Federados; 4 º - Intervenção institucionalizada dos Estados Federados na formação da vontade política e legislativa federal; 5º - Igualdade jurídica dos Estados Federados; 6º - Limitação das atribuições federais; A questão da repartição de matérias entre Estado Federal e os Estados Federados pode também dividir-se em duas formas: - a repartição horizontal ou material (federalismo clássico - EUA e Suíça) «em que o dualismo de soberanias envolve um dualismo legislativo e executivo (O Estado Federal faz e executa as suas Leis, e o mesmo acontece com os Estados Federados)» - a repartição vertical (federalismo cooperativo - Alemanha) «em que o Estado Federal legisla e define as bases gerais da legislação e os Estados Federados executam e desenvolvem as bases gerais» Diferenças entre Estado Federal e Estado Unitário regional: 1ª - Ao nível do Poder Jurisdicional; 2ª - Ao nível do Poder Constituinte; 3º - Ao nível da atribuição do Poder residual. Estados Não Soberanos são os que não desfrutam de nenhuma prerrogativa na ordem externa, mas têm um poder superior na ordem interna. Há situações em que determinada colectividade tem autoridade própria para exercer poder político sobre um determinado território, constituindo um verdadeiro Estado, no entanto, esse exercício do poder político está condicionado por um poder diferente e superior. Os Estados federados são a única modalidade actual de Estados não soberanos embora também tenha existido a união real11. 11 A união real – é uma associação de união de Estados que dá lugar á criação de um novo Estado, no qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. Exemplo histórico: Portugal e Brasil, entre 1815 e 1926. 31 Os Estados federados existem quando um certo número de colectividades territoriais, politicamente organizadas decidem unir-se e aceitam mediante a adopção de uma constituição comum, transferir para os órgãos da união os seus poderes soberanos de ordem externa e reconhecem a estes órgãos competência para decidir sobre alguns domínios da sua ordem interna. Os Estados federados continuam a ser verdadeiros Estados12, pois podem elaborar as suas próprias constituições e fazer leis no domínio da sua competência e dispõem de meios próprios para fazer respeitar essas leis, mas não são Estados soberanos: 1. Porque as suas constituições têm que respeitar a constituição federal; 2. Porque as suas leis têm que se subordinar ás leis que provem dos órgãos da federação, isto é devem obediência à constituição federal; 3. Porque não podem abandonar a federação por vontade própria; 4. Porque não podem manter relações internacionais próprias, pois perdem o direito de legação, o direito de celebrar tratados, o direito de fazer a guerra e o direito de reclamação internacional a favor do Estado federado. Os Estados Semi-Soberanos são osque possuem certas prerrogativas na ordem externa e reconhecem um poder igual ou superior na ordem interna. Por sua vez estes Estados semi-soberanos dividem-se em: - Estados protegidos de protectorados - Estados exíguos (pequenos Estados) - Estados neutralizados Estado protegido13 de protectorado – é a situação que resulta de um acordo entre Estados soberanos, pelo qual um Estado assume a obrigação de proteger outro, recebendo total ou parcialmente a gestão das relações internacionais do Estado 12Os ESTADOS FEDERADOS têm o seu órgão legislativo (parlamento ou assembleia), o seu órgão executivo (governo estadual), os seus Tribunais Estaduais, as suas leis e a sua polícia armada. 13 Nos ESTADOS PROTEGIDOS existe: povo; território; poder político efectivo internamente. Mas está dependente do Estado Protector para as relações internacionais, e para aconselhamento na resolução de questões internas. Podemos assim considerar que o Estado Protegido é verdadeiramente um Estado, mas não é soberano pois não é independente nem supremo nas suas decisões. 32 protegido e alguns casos, a própria política interna. Exemplo: Tunísia, Marrocos, protegidos pela França; Manchúria pelo Japão. O Estado protegido não perde totalmente a soberania, porque não tem que respeitar a constituição do Estado protector, mas apenas o tratado que celebrou com ele. Estados exíguos – são comunidades políticas que pela sua diminuta extensão territorial e escassa população não tem condições de exercer plenamente a sua soberania em especial ou “ius belli” (direito de fazer guerra). Exemplo: Andorra, Mónaco e S. Marino. Estados neutralizados – são aqueles que por vontade própria e de acordo com a vontade manifestada pelas principais potências internacionais gozam de um estatuto de neutralidade. Através da aceitação desse estatuto, o Estado neutralizado abdica do direito de fazer guerra, excepto nas situações de legítima defesa, perdendo a sua prerrogativa de soberania externa. Normalmente é aceite a neutralização do Estado quando se pretende pôr fora das lutas políticas e militares e dispor de zonas de paz em períodos de conflito global. Exemplo: Suíça ESTADOS UNITÁRIOS ≠ ESTADOS COMPLEXOS Estados Unitários: aqueles em que existe apenas um poder político, podendo, no entanto, existir uma descentralização política ao nível territorial, caso em que distinguiremos entre Estados unitários centralizados e Estados unitários regionais. Estado complexo ( ou composto): aquele que agrega diversos Estados num outro de hierarquia superior, sendo que o poder político é repartido entre o Estado “mãe” e os estados agregados, de tal modo que o povo e o território ficam sujeitos simultaneamente a dois poderes políticos. 33 Estados Unitários Descentralização Política: consiste na existência de províncias ou regiões que se tornam politicamente autónomas por os seus órgão desempenharem funções políticas, participarem ao lado dos órgãos estaduais no exercício de alguns poderes ou competências de carácter legislativo ou governativo. Descentralização política é distinta de: - desconcentração; - descentralização administrativa; - regionalização; - autonomia política; - federalismo. Não há descentralização jurisdicional em Estados Unitários. Estado Unitário Centralizado Ou Clássico: os órgãos políticos nacionais conservam na sua esfera todo o poder legislativo e executivo. Estado Unitário Regional: atribuem-se, por um processo de descentralização política, a entidades infra-estaduais «poderes ou funções de natureza política, relativas à definição do interesse público ou à tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões legislativas)». O Estado Unitário Regional pode dividir-se entre: - integral e parcial; - homogéneo e heterogéneo; - regiões com fins gerais e regiões com fins especiais; Estados Complexos (Ou Compostos) A «União Real»: resulta da fusão entre dois Estados Soberanos, da qual resulta a criação de órgãos comuns de exercício de parte do poder político que exercem em cumulação com os órgãos de cada Estado Soberano que se mantém. (Ex. Portugal e Brasil de 1815 a 1822). O que é distinto da União Pessoal que resulta apenas da coincidência do titular do órgão executivo do Estado (ex.: Portugal e Espanha entre 1580 e 1640). 34 Fins e funções do Estado São fins do estado os objectivos comuns que um Povo visa alcançar pela instituição de um Poder Político em determinado Território. São funções do estado as «… actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram constitucionalmente cometidos.» (Jorge Miranda) Os fins do Estado – estão sujeitos à evolução histórica e à variação da conjuntura (económica e social)14 • Estado de Polícia: Estado Totalitário → Estado de poder absoluto → regulamentação e fiscalização de todos aspectos da vida social. • Estado Liberal: Advento dos Direitos do Homem → garantir a plena realização das liberdades individuais dos cidadãos, → SEGURANÇA e JUSTIÇA, enquanto garantia de dar a cada um o que é seu. no Estado de direito liberal, caracterizado pelo abstencionismo e capitalismo concorrencial, do ponto de vista económico e por um regime democrático liberal, do ponto de vista político, o objectivo primordial era o da segurança. O que interessava era que todos fossem iguais perante a lei, embora essa igualdade se reconduzi-se apenas a um ponto de vista formal. • Estado de Direito: Instituição dos princípios da democracia e da igualdade → assegurar a igualdade de oportunidades → SEGURANÇA e JUSTIÇA, enquanto garantia de liberdade colectiva e igualdade efectiva de direitos. • Estado Social de Direito: Consciencialização social colectiva → garantia de condições de dignidade humana mínimas → SEGURANÇA e JUSTIÇA + BEM-ESTAR social, económico e cultural dos cidadãos. No Estado social de direito, que reflecte a passagem do capitalismo concorrencial para o intervencionismo passou a dar-se prevalência ao objectivo da justiça, quer comutativa, quer distributiva, tratando-se de uma igualdade de situações 14 Segurança (individual e colectiva) Justiça – satisfazer a ideia de justiça, da colectividade: Justiça comutativa e Justiça distributiva Desenvolvimento económico e social – O Estado deve promover as condições de vida dos cidadãos, manter o acesso a bens e serviços a toda a comunidade. 35 económicas e sociais mais do que uma mera igualdade formal dos direitos. O Estado procura criar estruturas para defesa dos direitos económicos, sociais e culturais, indo além da simples defesa dos direitos civis e políticos. FINS DO ESTADO MODERNO (Estado Social de Direito) • a SEGURANÇA - interna e externa. • a JUSTIÇA - realização e fiscalização de normas que regulem a sociedade em razão da satisfação do sentimento de Justiça da sociedade, que pode revelar-se em dois sentidos: 1 - a Justiça comutativa 2 - a Justiça distributiva • o BEM-ESTAR - bem estar não só físico, mas também económico, social, cultural e mesmo ecológico. Não só na promoção destas condições, como na garantia de acesso de todos aos serviços essenciais do Estado, e na obrigação de prestar esse serviços em igualdade de circunstâncias a todos os cidadãos. É a actual "cultura" dos serviços públicos. Os fins do Estado da nossa constituição (CRP) - Artigo 1.º - “Portugal é uma república soberana” - Artigo 2.º - “Visa a realização da economia” - Artigo 9.º , alíneas a, b, c e d – “Segurança colectiva e segurança individual, ….” FUNÇÕES DO ESTADO Funções do Estado – são as actividades levadas a cabo pelos órgãos do poder político, com vista á realização dos fins ou objectivos consagradosna Constituição. Cada órgão realiza um conjunto de actos independentes ou dependentes de actos de outros órgãos, mas todos eles tendo em vista a prossecução de fins comuns. As funções do Estado são: - Função política (legislativa e governativa) - Função administrativa 36 - Função Jurisdicional Classificação de Estado, segundo as actividades que desenvolvem: - Estado gestor – O Estado assume a tarefa de organizar os meios necessários e de desempenhar as actividades adequadas á realização do bem comum. Neste tipo de Estado, ele realiza por si próprio as finalidades que certamente integram os seus objectivos. - Estado árbitro – O Estado confia inteiramente na iniciativa e na capacidade das instituições públicas e deixa ao critério a escolha dos meios adequados á realização dos fins da comunidade política, acredita que uma lei natural conduzirá à harmonização final dos resultados da livre iniciativa. Nesta classificação o Estado assume apenas o papel de árbitro, assegurando as regras mínimas da competição. - Estado coordenador – embora confie na livre iniciativa dos indivíduos e das instituições, o Estado não confia na existência de uma lei natural que conduza à harmonia final dos resultados e prefere ser ele próprio a promover essa harmonia. - Estado revolucionário – em vez de tomar as atitudes de disciplina e correcção das estruturas existentes para realizar as suas finalidades concretas. O Estado pode entender que para essa realização ele necessita de alterar as estruturas, transformando-as de forma a atingir o que ele entende ser o bem comum. O Estado gestor tem um plano imperativo. O Estado concorrencial tem um plano indicativo O Estado árbitro não tem plano O Estado revolucionário não tem plano, é um Estado de excepção. Muitas vezes, o Estado não é gestor, nem coordenador em sentido rigoroso e puro na sua totalidade, já que o plano pode ser imperativo para o sector público e meramente indicativo para os sectores privados e cooperativos (é o que acontece entre nós, pela constituição). 37 O Prof. Jorge Miranda, refere dois sentidos em que podemos analisar as FUNÇÕES DO ESTADO: 1º - «… como fim, tarefa ou incumbência, correspondente a certa necessidade colectiva ou a certa zona da vida social» - traduz a realização dos fins do Estado enquanto legitimação do exercício do poder! 2º - «… como actividade com características próprias, passagem a acção, ou modelo de comportamento» - que traduz a actividade desenvolvida pelo Estado através dos seus órgãos, contínua a repetida, definida pelas estruturas e normas jurídicas que conformam o seu comportamento» Neste conceito de FUNÇÃO DO ESTADO enquanto actividade, o Prof. Jorge Miranda distingue 3 características: a) é uma actividade específica e diferenciada, pelos seus elementos (1) materiais – as respectivas causas e resultados que produz – (2) formais – os trâmites e as formalidades que exige - (3) orgânicas – os órgãos ou agentes por onde corre; b) é uma actividade duradoura – prolonga-se indefinidamente; c) é uma actividade globalizada – tem de ser encarada como um conjunto, e não como uma série de actos avulsos. O Prof. Jorge Miranda propõe uma DISTINÇÃO entre funções fundamentais e funções complementares, acessórias ou atípicas: FUNÇÕES FUNDAMENTAIS: Correspondem à divisão tripartida entre função política (que incluí a função legislativa e a função governativa), função administrativa e função jurisdicional. FUNÇÕES COMPLEMENTARES, ACESSÓRIAS E ATÍPICAS: Traduzem-se em actos do Estado, de carácter residual, que não se reconduzem às funções fundamentais ou clássicas. São exemplos: - a actividade do Ministério Público em processo penal; - órgãos que interferem no exercício da função administrativa sem dependeram da direcção ou superintendência do Governo – Comissão Nacional de Eleições. Assim a FUNÇÃO POLÍTICA será: - do ponto de vista material: a definição primária e global do interesse público, interpretação dos fins do Estado e escolha dos meios adequados para atingir em cada conjuntura esse fins; direcção do Estado; 38 - do ponto de vista formal: liberdade e discricionariedade, quer quanto ao conteúdo (desde que respeitando as normas Constitucionais) quer quanto ao tempo e circunstâncias de actuação (ausência de sanções jurídicas específicas); - do ponto de vista orgânico: competência atribuído a órgãos ou colégios em conexão directa coma forma e sistema de governo, com pluralidade de órgãos , ausência de hierarquia e apenas relações de responsabilidade jurídica. A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA será: - do ponto de vista material: a satisfação constante e quotidiana das necessidades colectivas, prestação de bens e serviços; - do ponto de vista formal: iniciativa no sentido das necessidades, e parcialidade na prossecução do interesse público. - do ponto de vista orgânico: dependência funcional e subordinação. A FUNÇÃO JURISDICIONAL será: - do ponto de vista material: a declaração do direito, decisão de questões jurídicas, seja em concreto seja em abstracto; - do ponto de vista formal: passividade (actua apenas perante a iniciativa de outrem) e imparcialidade; - do ponto de vista orgânico: independência de cada órgão (sem prejuízo do direito de recurso), e, em princípio atribuição a órgão específicos, os Tribunais, formados por juízes. Artigo 61.º - Iniciativa privada, cooperativa e auto gestionária. Artigo 82.º - Os sectores da propriedade dos meios de produção. Estrutura orgânica do aparelho do poder: A colectividade constituída em sociedade política actua como uma unidade, tem interesses colectivos, só seus, de atingir e para os realizar necessita de impor a sua vontade É uma pessoa colectiva e para formar e afirmar a sua vontade, a pessoa colectiva precisa de uma organização, ou seja, estrutura-se segundo uma diferenciação de funções, na qual se distinguem as missões e as tarefas a desempenhar pelos indivíduos e se repartem os poderes e deveres que competem a cada um. 39 Aparecem portanto, certos elementos aos quais é reconhecida de forma expressa ou tácita a autoridade para exprimir a vontade colectiva, são os cargos. Nas sociedades antigas não se notava, de início, pela separação entre os cargos e as pessoas que os exerciam, havia a chamada personalização do poder. Mas a sucessão dos indivíduos, nos cargos, veio a fazer salientar a diferença entre o cargo em si e o respectivo titular. Aos cargos, colégios de assembleias, aos quais, segundo a ordem constitucional o poder de manifestar uma vontade imputável ao Estado, chamam-se órgãos do Estado. O facto de numa colectividade existirem membros seus que actuam como titulares dos seus órgãos, ou seja, como encarregados de formar e manifestar a vontade da colectividade, sem ao mesmo tempo deixarem de tratar os seus interesses individuais, exige o estabelecimento de normas que digam com o é que o individuo deva agir quando actua como titular do órgão do Estado. A ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO DO ESTADO O Estado desdobra-se em duas facetas: - ESTADO-SOCIEDADE (ou colectividade) - que representa um povo, senhor de um território, ao serviço do qual existe um poder organizado; - ESTADO-PODER (ou governo) - que representa a estrutura pela qual se exerce o poder político, de certa forma, representa a institucionalização do poder político. “O ESTADO-PODER” ESTADO ↓ PESSOA COLECTIVA ↓ PERSONALIDADE JURÍDICA → distinta de cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos próprios governantes e → com capacidade para manter relações jurídicas com outras entidades, tanto no domínio do Direito interno como no do Direito Internacional, tanto na veste de Direito Público, como sob a do Direito privado ESTADO ↓ 40 PESSOA COLECTIVA ↓ ORGANIZAÇÃO ↓ actua através de ÓRGÃOS Órgãos do Estado:
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