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Obesidade e cirurgia bariátrica A obesidade mórbida é o termo designado a indivíduos que apresentam índice de massa corporal (IMC) acima de 40 kg/m2 (o IMC é o peso do cliente em quilogra- mas dividido pela altura em metros quadrados). A cirurgia bariátrica ou cirurgia para a obesidade é realizada somente após a ausência de resposta a outras tent- ativas não cirúrgicas de controle de peso. A maioria das instituições de saúde só realiza a cirurgia bariátrica depois que um cliente obeso se submete a um regime clinicamente supervisionado de 6 a 18 meses, que não tem êxito em alcançar a meta de perda de peso. A seleção dos clientes é criteriosa; por conseguinte, os cli- entes precisam se submeter a aconselhamento e acompanhamento antes e depois da cirurgia. Fisiopatologia Os procedimentos de cirurgia bariátrica atuam (1) restringindo a capacidade de ali- mentação do cliente (procedimento restritivo), (2) interferindo na absorção dos nu- trientes ingeridos (procedimentos de má absorção) ou ambos. Avaliação e achados diagnósticos • Sinais vitais, incluindo medições seriadas do peso e do IMC • Documentação da história nutricional e atividade física • Avaliação dos estressores da vida passíveis de induzir hábitos nutricionais. Manejo clínico A cirurgia bariátrica envolve mudança radical no funcionamento do sistema di- gestório. Diferentes procedimentos de cirurgia bariátrica envolvem diferentes modificações do estilo de vida e os clientes precisam estar bem informados sobre as alterações específicas no estilo de vida, hábitos alimentares e hábitos intestinais que possam resultar de determinado procedimento. O bypass gástrico em Y de Roux, a banda gástrica, a gastroplastia vertical com banda, a gastrectomia em manga (sleeve) e o desvio biliopancreático com derivação duodenal constituem os procedimentos bariátricos atuais de escolha. O bypass gástrico em Y de Roux é um procedimento restritivo e disabsortivo combinado. A gastrectomia em manga (sleeve), a banda gástrica e a gastroplastia vertical com banda são procedimentos restritivos, enquanto o desvio biliopancreático com derivação duodenal combina a restrição gástrica com má absorção intestinal. Esses procedimentos podem ser realizados por laparoscopia ou por uma técnica cirúrgica aberta. Processo de enfermagem Cliente submetido à cirurgia bariátrica Avaliação • Avaliar a existência de contraindicações para cirurgia abdominal de grande porte 851/1152 • Incentivar e apoiar o cliente na elaboração de planos para mudanças do estilo de vida a fim de reduzir o peso • Coordenar recursos adicionais (p. ex., nutricionista ou profissional de saúde mental) para ajudar o cliente a alcançar as metas de modificação do estilo de vida • Certificar-se de que o cliente foi submetido à triagem para tran- stornos mentais e comportamentais passíveis de interferir nos resultados pós-operatórios • O cuidado de enfermagem geral no pós-operatório assemelha-se àquele do cliente que se recupera de uma ressecção gástrica, com maior atenção para os riscos de complicações associadas à obesidade mórbida. Diagnóstico DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM • Conhecimento deficiente relacionado com as limitações nutricion- ais durante os períodos pré- e pós-operatório imediatos • Ansiedade relacionada com a cirurgia iminente • Dor aguda relacionada com o procedimento cirúrgico • Risco de volume de líquidos deficiente relacionado com náuseas, irritação gástrica e dor • Risco de infecção relacionado com o vazamento anastomótico • Nutrição desequilibrada menor do que as necessidades corporais relacionada com as restrições nutricionais • Distúrbio na imagem corporal relacionado com as alterações cor- porais decorrentes da cirurgia bariátrica 852/1152 • Risco de constipação intestinal relacionado com a irritação gástrica e as alterações cirúrgicas nas estruturas anatômicas como resultado da cirurgia bariátrica. PROBLEMAS COLABORATIVOS/COMPLICAÇÕES POTENCIAIS As complicações potenciais que podem surgir incluem as seguintes: • Hemorragia • Refluxo de bile • Síndrome do esvaziamento rápido • Disfagia • Obstrução intestinal ou pilórica. Planejamento e metas PLANEJAMENTO E METAS DO PRÉ-OPERATÓRIO • Maior conhecimento sobre a rotina nutricional e as restrições no pré- e no pós-operatório • Diminuição da ansiedade relacionada com a cirurgia bariátrica. PLANEJAMENTO E METAS DO PÓS-OPERATÓRIO • Alívio da dor • Manutenção do equilíbrio hídrico homeostático • Ausência de infecção • Adesão do cliente ao esquema nutricional prescrito, com pro- gressão da ingestão de alimentos e líquidos (de acordo com o plano) • Maior conhecimento sobre a necessidade de suplementos vit- amínicos e necessidade de acompanhamento durante toda a vida 853/1152 • Manutenção de padrões de eliminações intestinais normais. Intervenções de enfermagem ASSEGURAMENTO DAS RESTRIÇÕES NUTRICIONAIS • Aconselhar o cliente que irá se submeter à cirurgia bariátrica a não ingerir nenhum alimento, exceto líquidos claros durante o período de tempo especificado do pré-operatório (geralmente cerca de 48 h) • Orientar o cliente e sua família sobre as limitações nutricionais no pós-operatório. REDUÇÃO DA ANSIEDADE • Orientar o cliente e sua família sobre as expectativas durante o preparo e após a cirurgia • Incentivar o cliente a participar de um grupo de apoio de cirurgia bariátrica. ALÍVIO DA DOR • Administrar agentes analgésicos, conforme prescrição; orientar o cliente acerca do uso da analgesia controlada pelo cliente e mon- itorar sua efetividade • Assegurar analgesia adequada, de modo que o cliente possa real- izar as atividades do cuidado respiratório (respiração profunda e tosse) e exercícios das pernas, mudança de decúbito lateral e deambulação • O posicionamento do cliente em posição de Fowler baixa propor- ciona conforto e promove o esvaziamento do estômago depois de 854/1152 qualquer tipo de cirurgia gástrica, incluindo procedimentos bariátricos. OBTENÇÃO DO EQUILÍBRIO HÍDRICO E DE VOLUME • No pós-operatório, introduzir lentamente a alimentação oral, começando com pequenos volumes (30 mℓ) de líquidos orais sem açúcar, a cada 15 min • Incentivar o cliente a interromper a ingestão de líquido se ap- resentar náuseas ou sensação de plenitude • Medicamentos antieméticos podem ser prescritos para aliviar náuseas e evitar a ocorrência de vômitos, que podem causar tensão no local cirúrgico. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança A inserção de sonda nasogástrica está contraindicada para o cli- ente após cirurgia bariátrica. Esse procedimento pode causar ruptura da linha de sutura e provocar vazamento anastomótico ou hemorragia. PREVENÇÃO DA INFECÇÃO E VAZAMENTO ANASTOMÓTICO • A ruptura no local da anastomose (i. e., local de ressecção cirúr- gica) pode causar vazamento do conteúdo gástrico na cavidade peritoneal, provocando infecção e, possivelmente, sepse; os ho- mens idosos com maior massa corporal correm alto risco 855/1152 • Os sinais e sintomas de vazamento anastomótico geralmente são inespecíficos – febre, dor abdominal, taquicardia e leucocitose – e podem evoluir para sepse • Se houver suspeita de vazamento anastomótico, o cliente pode ser submetido a seriografia gastrintestinal superior e TC con- trastada de acompanhamento. OBTENÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL ADEQUADO • Após o retorno dos sons intestinais e a retomada da ingestão or- al, são fornecidas seis refeições pequenas, consistindo em um total de 600 a 800 calorias por dia; o consumo de líquidos entre as refeições é incentivado para evitar a desidratação • Orientar o cliente a alimentar-se lentamente e a interromper a in- gestão quando sentir plenitude, a fim de minimizar a ocorrência de vômitos ou a distensão dolorosa do esôfago • As deficiências nutricionais comuns incluem má absorção de ferro orgânico (podendo exigir uma suplementação com ferro oral ou parenteral) e baixos níveis séricos de vitamina B12; injeções in- tramusculares de vitamina B12 podem ser prescritas mensalmente para evitar o desenvolvimento de anemia perniciosa.APOIO AO CLIENTE PARA AS ALTERAÇÕES DA IMAGEM CORPORAL • Orientar o cliente sobre o fato de que a maior parte da perda de peso ocorrerá nos primeiros 6 meses; entretanto, alguns clientes relatam insatisfação persistente com a imagem corporal (p. ex., pregas cutâneas flácidas) • Apoiar o cliente que relata insatisfação com a imagem corporal, reconhecendo seus sentimentos como verdadeiros, declarando 856/1152 que essas percepções não são incomuns e proporcionando en- caminhamento para grupos de apoio ou acompanhamento psicoterápico. MANUTENÇÃO DOS HÁBITOS INTESTINAIS • A diarreia ocorre mais comumente do que a constipação intestinal após cirurgia bariátrica, particularmente após procedimentos de má absorção. Todavia, alguns clientes relatam ocorrência de con- stipação intestinal • Incentivar o consumo de uma dieta nutritiva rica em fibras, par- ticularmente se a constipação intestinal for um problema • A esteatorreia também pode ocorrer em consequência do es- vaziamento gástrico rápido, que impede a mistura adequada com as secreções pancreáticas e biliares • A diarreia persistente ou a esteatorreia podem justificar a realiza- ção de outros exames complementares, como endoscopia alta ou colonoscopia com biopsia para excluir a existência de qualquer patologia adicional. MONITORAMENTO E MANEJO DAS COMPLICAÇÕES POTENCIAIS Avaliar o cliente quanto à ocorrência de complicações em con- sequência da cirurgia bariátrica, como hemorragia, refluxo de bile, síndrome do esvaziamento rápido, disfagia e obstrução intestinal ou pilórica. 857/1152 PROMOÇÃO DOS CUIDADOS DOMICILIAR E COMUNITÁRIO Em geral, o cliente recebe alta hospitalar em 4 dias (a alta pode ser em 24 a 72 h para clientes que se submeteram a procedimentos laparoscópicos), com orientações nutricionais detalhadas. Orientação do cliente sobre autocuidados • Fornecer informações sobre a nutrição, suplementos nutricionais, manejo da dor, importância da atividade física e sintomas da síndrome do esvaziamento rápido; providenciar medidas para prevenir ou minimizar esses sintomas • Ressaltar a importância de consultas ambulatoriais de acompan- hamento rotineiras para assegurar que o manejo clínico não es- teja produzindo quaisquer efeitos colaterais, que podem incluir: risco aumentado de cálculos biliares, deficiências nutricionais e de vitaminas e potencial de recuperar o peso • Para clientes submetidos a procedimentos em Y de Roux laparo- scópicos ou abertos e que apresentam um ou mais drenos de Jackson Pratt, orientar o cliente e sua família sobre como esvazi- ar, medir e registrar a quantidade de drenagem. Cuidado continuado • Ressaltar a importância do monitoramento contínuo da perda de peso, existência de comorbidades, estado metabólico e nutricion- al e comportamentos alimentares e de atividade física durante toda a vida; o cliente corre risco de desenvolver desnutrição ou ganhar peso • As mulheres de idade reprodutiva que se submeteram à cirurgia bariátrica são aconselhadas a usar contraceptivos durante pelo 858/1152 menos 18 meses após a cirurgia; as clientes são advertidas para evitar a gravidez até a estabilização do peso • Após a perda de peso, o cliente pode optar por intervenções cirúrgicas adicionais para definir o contorno do corpo. Reavaliação RESULTADOS ESPERADOS DO CLIENTE • Alívio da dor • Manutenção do equilíbrio hídrico • Ausência de complicações • Obtenção de equilíbrio nutricional • Promoção de uma imagem corporal positiva • Manutenção dos padrões de eliminações intestinais normais. ___________________ Para mais informações, ver o Capítulo 47 em Hinkle JL, Cheever KH. (2014). Brunner and Suddarth’s textbook of medical-surgical nursing (13th ed.). Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. Obesidade mórbida A obesidade não é meramente uma condição; na verdade, trata-se de uma doença metabólica caracterizada pelo acúmulo de gordura a ponto de comprometer a saúde. Os clientes identificados como apresentando sobrepeso têm índice de massa corporal (IMC) de 25 a 29,9 kg/m2, enquanto aqueles considerados como obesos apresentam um IMC que ultrapassa 30 kg/m2. Obesidade mórbida é o termo empregado para descrever indivíduos cujo IMC ultrapassa 40 kg/m2. O IMC é o peso do cliente em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados. 859/1152 As taxas de mortalidade relacionadas com a obesidade são 30% maiores para cada ganho de 5 kg/m2 de massa corporal acima de um IMC de 25 kg/m2. Além disso, o tempo de sobrevida médio para indivíduos cujo IMC ultrapassa 30 kg/m2 é de 3 anos a menos do que o de indivíduos com IMC de 25 kg/m2 ou menos. Os clientes com obesidade mórbida correm maior risco de complicações da saúde, como diabetes melito, cardiopatia, acidente vascular encefálico, hipertensão arteri- al, doença da vesícula biliar, osteoartrite (OA), apneia do sono e outros problemas respiratórios, bem como alguns tipos de câncer (de útero, mama, colorretal, renal e de vesícula biliar). Com frequência, esses clientes sofrem de baixa autoestima, transtorno da imagem corporal e depressão. Fisiopatologia Embora determinados comportamentos que estão relacionados com a obesidade, como hábitos alimentares inadequados e estilo de vida sedentário, possam causar ganho de peso, acredita-se que vários fatores ambientais, genéticos, metabólicos, culturais e socioeconômicos estejam interconectados em uma complexa relação – ainda pouco elucidada – que leva à obesidade. Avaliação e achados diagnósticos • Sinais vitais, incluindo determinações seriadas do peso e do IMC • História nutricional e de exercício físico • Avaliação dos estressores da vida que possam induzir hábitos nutricionais (p. ex., autoestima baixa, transtorno da imagem corporal, depressão e diminuição da qualidade de vida) • Avaliação quanto à ocorrência de comorbidades (p. ex., diabetes melito, hiper- tensão arterial, apneia do sono e dislipidemia). 860/1152 Manejo clínico Existem três abordagens gerais para o tratamento da obesidade: modificações do estilo de vida, farmacoterapia e cirurgia bariátrica. Modificações do estilo de vida • Uma das abordagens consiste em perda de peso, juntamente com modificação do comportamento e dieta • A terapia nutricional inclui nutricionistas no planejamento das refeições • Constatou-se que a acupuntura, em associação a restrições nutricionais, é efetiva para aumentar a perda de peso e melhorar a dislipidemia • Também constatou-se que a hipnose, em associação à terapia nutricional para redução do estresse e redução do aporte energético ajuda na perda de peso Manejo farmacológico • O cloridrato de sibutramina diminui o apetite, inibindo a recaptação de seroton- ina e norepinefrina. Verificar as precauções medicamentosas • O orlistate diminui o aporte calórico por meio da inibição da digestão dos triglicerídios. Rever os efeitos colaterais; em geral, recomenda-se a adminis- tração de um multivitamínico • A lorcaserina, um novo medicamento contra a obesidade, atua ao estimular os receptores de serotonina nos centros da saciedade e apetite do hipotálamo no cérebro, refreando, assim, o apetite • A depressão pode contribuir para o ganho de peso e o tratamento da depressão com um agente antidepressivo pode ser útil. Manejo cirúrgico • A cirurgia bariátrica (cirurgia para a obesidade mórbida) só é considerada após a ausência de resposta ao tratamento clínico 861/1152 • Os procedimentos de restrição gástrica incluem bypass gástrico e gastroplastia vertical com banda (realizadas por técnica laparoscópica ou cirurgia aberta) • A definição do contorno do corpo após a perda de peso envolve lipoplastia para remover depósitos de gordura ou paniculectomia para remover o excesso de pre- gas cutâneas abdominais. Manejo de enfermagem • Incentivar e apoiar o cliente na elaboração de planos para modificações do estilo de vida visando à redução do peso • Coordenar recursos adicionais (p. ex., nutricionista ou profissional de saúde mental) para ajudar o cliente a alcançar as metas de modificação do estilo de vida • Quandoo cliente necessita de cirurgia bariátrica, o cuidado de enfermagem ger- al no pós-operatório assemelha-se ao de um cliente que se recupera de uma ressecção gástrica, porém com maior atenção para os riscos de complicações as- sociadas à obesidade mórbida. Ver Processo de Enfermagem em Obesidade e Cirurgia Bariátrica. ___________________ Para mais informações, ver o Capítulo 47 em Hinkle JL, Cheever KH. (2014). Brunner and Suddarth’s textbook of medical-surgical nursing (13th ed.). Philadelphia: Lippincott Willi- ams & Wilkins. Obstrução do intestino delgado A maioria das obstruções intestinais ocorre no intestino delgado. O conteúdo in- testinal, o líquido e o gás acumulam-se acima da obstrução intestinal. As aderên- cias constituem a causa mais comum de obstrução do intestino delgado, seguidas das hérnias e das neoplasias. A distensão abdominal e a retenção de líquido 862/1152
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