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Introdução à Psicanálise

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PPssiiccaannáálliissee 
Módulo I 
 
 
Parabéns por participar de um curso dos 
Cursos 24 Horas. 
Você está investindo no seu futuro! 
Esperamos que este seja o começo de 
um grande sucesso em sua carreira. 
 
Desejamos boa sorte e bom estudo! 
 
Em caso de dúvidas, contate-nos pelo 
site 
www.Cursos24Horas.com.br 
 
Atenciosamente 
Equipe Cursos 24 Horas 
 
 
Autora do conteúdo: Ana Paula Veiga (Psicóloga/Sexóloga) 
Contato: http://www.wix.com/ana_paula_veiga/atendimento
 
 
 
 Sumário 
 
Introdução..................................................................................................................... 3 
Unidade 1 – Conhecendo a Psicanálise........................................................................ 12 
1.1 – Freud e a criação da psicanálise ...................................................................... 12 
1.2 – Escolas psicanalísticas.................................................................................... 22 
1.3 – Jung e a psicologia analítica ........................................................................... 23 
1.4 – Wilhelm Reich e a psicologia do corpo........................................................... 33 
1.5 – J. Lacan e sua contribuição à psicanálise......................................................... 43 
1.6 – A psicanálise no Brasil ................................................................................... 54 
Unidade 2 – Fundamentos da Psicanálise .................................................................... 56 
2.1 – Primeira tópica: consciente, pré-consciente e inconsciente.............................. 57 
2.2 – Narcisismo ..................................................................................................... 60 
2.3 – Segunda tópica: id, ego e superego ................................................................. 64 
2.4 – Resistências.................................................................................................... 69 
2.5 – A psicanálise e os sonhos ............................................................................... 78 
2.6 – O setting analítico........................................................................................... 81 
2.7 – A alta em psicanálise ...................................................................................... 83 
Conclusão do Módulo I............................................................................................... 85 
 
 
3
 
Introdução 
Sigmund Freud (1856-1939) postulou um método de investigação que se 
resume, essencialmente, em clarificar o significado inconsciente das ações do sujeito. 
Desse modo, para a psicanálise existem conteúdos escondidos na vida mental de todos 
nós. Baseado no método de associação livre, que garante a validade das interpretações 
desde que sejam controladas certas resistências inerentes, a psicanálise foi o primeiro 
esforço científico para o tratamento das questões psicológicas. Antes de Freud, o 
tratamento das desordens emocionais era além de pré-científicos e ineficazes, mas 
potencialmente perigosos. 
 
O modismo de tal teoria levou muitos à produção em nome da psicanálise 
daquilo que não deveria ser assim nominado, já que o conteúdo, o método utilizado e, 
até mesmo, os resultados obtidos, não condiziam com o pressuposto original. O que 
vemos por aí é que Freud e suas ideias foram tão popularizados que seus conceitos, 
muitas vezes, são veiculados de modo errôneo ou distorcido. 
 
Um erro comumente visto, em profissionais de formação apressada, é o de 
pensar que as diferentes teorias que surgiram da psicanálise são trabalhos que falam 
sobre a mesma coisa, mas de maneira diferente, ou seja, abordagens distintas sobre o ser 
humano, que visam e apontam para um mesmo resultado. 
 
Sabemos que a psicanálise ultrapassa os seus pouco mais de 100 anos de criação. 
Ainda assim, é inegável o valor daquilo que foi construído durante os anos no decorrer 
da vida de Freud. Tamanha a sua dedicação e cuidado em tornar claros seus 
pensamentos, em dividir suas angústias e as suas releituras, que podemos nos deleitar 
com aquilo que foi estudado pelo criador. 
 
Sabemos que a psicanálise se fez a partir de certezas e incertezas de Freud. 
Incertezas essas que construíram com muita propriedade a sua obra, pois, se voltarmos 
atrás, perceberemos que o método freudiano foi desenvolvido, além do próprio contato 
com seus pacientes, mas também nos fracassos que se apresentavam diante daquilo que 
 
 
4
 
não se esperava ou era sabido. Foi o não conseguir entender que o fez seguir em frente e 
estudar cada vez mais a fundo a mente humana. Cabe apostar que é isso que ele 
esperaria de todos nós, ao falarmos e passarmos adiante a teoria criada para que a 
humanidade pudesse se sentir um pouco protegida dentro da sua desproteção inerente. 
 
Ainda assim, vale dizer que a verdade não está nas respostas elaboradas pela 
psicanálise. A completa, o êxito, a evitação do sofrimento e das doenças, é algo buscado 
por todos nós e por diferentes leituras da mente humana. 
 
Ao estudarmos este caso de amor que recebeu o nome de Psicanálise, 
percebemos que Freud nos pede que tomemos cuidado com os seus conceitos 
chamados, por ele próprio, de fundamentais. É preciso desfazer equívocos criados não 
apenas pelos leigos, mas especialmente por aqueles que detêm o saber, e, que, por se 
considerarem conhecedores, ao fazer uso parcial da psicanálise, são capazes de causar 
prejuízos que refletirão justamente no público leigo. 
 
É mais do que preciso a consciência da necessária formação do analista, 
enquanto um processo extra-acadêmico, onde seja viável se preparar para lidar com o 
futuro paciente, isolando os elementos psíquicos de si próprio. Formação esta que, ao 
passar pela análise pessoal, visa a superação das próprias resistências a fim de que elas 
não interfiram e, assim, prejudiquem o processo analítico daqueles interessados nos 
cuidados profissionais desse futuro analista. 
 
“Os ensinamentos da Psicanálise baseiam-se em um 
número incalculável de observações e experiências, e somente 
alguém que tenha repetido estas observações em si próprio e em 
outras pessoas, acha-se em posição de chegar a um julgamento 
próprio sobre ela.” (FREUD, 1940, livro 7, p.16. Ed. Bras) 
 
 
 
 
 
 
5
 
O mesmo foi levantado por Fradiman e Frager (1986): 
 
“Em 1922, no Congresso da Associação Psicanalítica 
Internacional, concordou-se que uma análise didática com um 
analista já declarado, seria obrigatória para qualquer candidato 
a analista. Desse modo, este analista tornar-se-ia consciente de 
seus modos de enfrentar a realidade. E, então, quando ele ou ela 
trabalhasse com pacientes, não haveria confusão entre as 
necessidades do analista e as do paciente.” (p. 27) 
 
De qualquer forma, seria leviano de nossa parte, esquecer que o psicanalista é 
um ser humano, com seus problemas, conflitos e limitações. Com sua própria história e 
formas de interpretar a sua escuta, que estudou, fez terapia analítica e supervisionou 
casos, mas, ainda assim, continua sendo, antes de tudo isso, uma pessoa sensível, 
afetuosa, entediada, irritável e que também se angustia e sofre. 
 
O que é a psicanálise? 
 
Dentro da psicologia encontramos várias abordagens psicoterapêuticas que 
englobam tendências teóricas um tanto diferentes e, com isso, diversas formas de 
tratamentos. Apesar disso, conforme levantadopor Cavalcanti e Cavalcanti (2006), 
nenhum molde psicoterápico pode ser, indistinto e vantajosamente, aplicado a todos em 
todos os casos. As características do próprio indivíduo permitem uma abordagem 
terapêutica mais adaptável à condição apresentada por ele. 
 
Via de regra, o que todas as linhas concordam, ainda que haja até mesmo certa 
competição entre elas, em relação à importância e aceitação, é que o comportamento 
humano é resultado da interação entre as variáveis biológicas, aquelas que são herdadas 
e as variáveis, que são adquiridas através da aprendizagem e da experiência pessoal. 
 
A tática terapêutica freudiana consiste em trazer o material do inconsciente para 
a superfície, ou seja, para o nível da consciência, onde é possível ser trabalhado e 
 
 
6
 
resolvido ao descobrir os motivos que originaram determinados comportamentos ou 
sintomas. Desta forma, a compreensão interna, chamada de insight, e a resolução dos 
conflitos subjacentes são os objetivos primários desta concepção. Porém, tal esforço 
ocorre junto à resistência, tanto mais forte quanto mais profundo estiver o material a ser 
trabalhado. 
 
Vale lembrar que a psicanálise não inviabiliza, assim como não substitui, a 
necessidade de acompanhamento médico ou medicamentoso. Ao analista cabe 
interpretar a fala do seu paciente, o significado inconsciente das palavras, das ações e do 
conteúdo imaginativo expressado através dos sonhos ou fantasias. Seu objetivo é a 
reeducação emocional ao promover o autoconhecimento e o autocontrole, uma melhoria 
na qualidade de vida com a redução dos sintomas apresentados, além das mudanças em 
si mesmo, características essas que não competem com o tratamento feito através da 
medicação. 
 
Atualmente, a psicanálise não está limitada à prática, centrada em outros 
cenários por sua amplitude de pesquisa. Há até quem diga que a psicanálise é uma 
psicologia própria. Nas palavras do criador: 
 
“Psicanálise é o nome de (1) um procedimento para a 
investigação de processos mentais que são quase inacessíveis 
por qualquer outro modo, (2) um método (baseado nessa 
investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos, e (3) 
uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo 
dessas linhas, e que gradualmente se acumula numa nova 
disciplina científica” (FREUD, 1923, livro 15, p. 107. Ed Bras) 
 
Propomos outra tradução ao afirmar que a psicanálise é ainda mais do que isso. 
É aquela ideia que nos envolve de uma tentativa sincera dos entendimentos de nossas 
limitações e angústias. Apesar disso, ainda que as teorias ou suas racionalizações 
expliquem de forma tão completa o nosso sofrimento, por vezes, precisamos ir além 
delas para que seja possível a diminuição das aflições daqueles que nos procuram. 
 
 
7
 
Precisamos, claro, nos apoiar na teoria, mas não podemos correr o risco de nos 
perdermos nela e esquecermos de quem está à nossa frente. 
 
A contribuição de Freud 
 
É verdade que, passados mais de 150 anos do seu nascimento, Freud continua 
polêmico. Hoje, sua teoria recebe questionamentos que vão desde a psicologia 
cognitivo-comportamental à neurociência, responsável pelo estudo das bases biológicas 
da mente. Apesar disso, a importância de Freud para a ciência é um assunto 
inquestionável. O descobrimento da sexualidade infantil, por exemplo, possibilitou o 
estudo de uma área que, até então, era reinada pela ignorância tanto na ciência quanto 
na filosofia, contribuindo para a formação de um novo campo conceitual bem mais 
abrangente e diversificado. 
Além disso, outros 
conceitos foram de suma 
utilidade em diversos ramos da 
psicologia, permitindo, assim, o 
avanço de tal ciência para além 
de um complemento da 
psiquiatria. Desde então, a 
psicologia pode explicar os 
processos psíquicos do ser 
humano, não se limitando 
somente no tratamento dos 
distúrbios emocionais. 
 
De tudo, fica que a 
psicanálise pretende esclarecer o 
funcionamento da mente humana e tem como fundamento a crença de que os processos 
psíquicos, em sua maioria, fazem parte do inconsciente, isto é, a consciência nada mais 
é do que somente uma fração da nossa vida psíquica. 
 
 
 
8
 
Porém, o modo de examinar a pessoa que nos pede por auxílio varia de acordo 
com as concepções teóricas elegidas. Inúmeras correntes tentam explicar a gênese dos 
distúrbios emocionais que afligem milhões de pessoas no mundo todo. De acordo com 
seus esquemas explicativos, as abordagens teóricas assinalam orientações terapêuticas 
que consideram mais aplicáveis e eficientes. 
 
Sabemos da possibilidade existente, graças aos vários e grandes estudiosos dos 
processos mentais, de examinarmos o nosso mundo interior com o intuito de buscar 
pistas que demonstrem as razões dos nossos comportamentos. Contudo, tal tarefa, é 
extremamente difícil, pois, escondemos, por alguma razão, de nós mesmos, tais pistas, 
seja de forma ricamente elaborada ou com baixo sucesso. 
 
Os instrumentos existentes para alcançarmos o alívio do sofrimento emocional 
existem para que utilizemos como almejemos ou como consideremos a melhor escolha. 
Freud foi somente um dos teóricos que escreveu sobre a maneira como utilizou os 
instrumentos, sobre aquilo que ele descobriu e o que concluiu com as suas descobertas. 
 
Embora suas conclusões ainda sejam discutidas, é certo que seus instrumentos 
abriram o caminho para diversos outros sistemas e que podem ser das mais duradouras 
contribuições para o estudo da personalidade. 
 
Objetivo do processo analítico 
 
Muitos pedidos são feitos aos terapeutas. Muitas vezes procurados por último, 
após anos de angústia e sofrimento, depois da ansiedade fazer parte da vida desses 
indivíduos tão intimamente que chegam a se confundirem com ela, nos perguntam e nos 
perguntamos até que ponto podemos ajudá-los? 
 
O psicanalista não está ali a fim de responder de forma incondicional ao pedido 
de ajuda que lhe é feito. O trabalho do analista vai depender do desejo em conjunto com 
o seu paciente, tanto na função do sujeito do suposto saber como na função de objeto, 
 
 
9
 
isto é, no sustento do lugar do vazio para que seja possível deslocar a fala do paciente a 
esse lugar e, assim, se dê a possibilidade de tratamento. 
 
Isso ocorre, pois a função da terapia é estabelecer a conexão entre o evento 
mental reprimido e as manifestações neuróticas do paciente, de forma que este se 
perceba, compreendendo e, então, podendo neutralizar os efeitos da experiência 
original. Dito de outra forma, com base em um interrogatório dirigido, o paciente é 
induzido a trazer, à memória, uma ideia que havia estado guardada por muito tempo e à 
qual ele não teria acesso em outras condições. De tal forma, podemos perceber que a 
função da terapia é permitir a interação dos conteúdos dos sistemas presentes na mente 
do indivíduo. 
 
Mas quem nos busca por ajuda, quer alcançar muitas vezes uma plena felicidade 
e acredita que o analista tem o caminho que ele procura. Cabe ao analista saber que tal 
felicidade imaginária, por muitas vezes, entra em choque com a realidade, não cabendo 
ser alcançada. Estamos pré-destinados a nunca nos satisfazermos em um mundo 
calculado, ainda que a sociedade do espetáculo nos tente provar o contrário, imprimindo 
uma ideia de fornecimento de prazeres ilimitados, seja pelo consumo ouseja pelo 
espetáculo. 
 
Público alvo 
 
Este curso destina-se a todos aqueles interessados em adquirir conhecimento 
sobre a teoria da psicanálise, ou seja, tanto aos que querem aprender a dinâmica dos 
problemas emocionais e afetivos de acordo com tal pressuposto, quanto aos que 
desejam dedicar-se à psicanálise como terapeutas. Apesar disso, se faz necessário saber, 
como já levantado, que um programa de formação em psicanálise pede por um tripé 
estabelecido pelo próprio criador: conhecimentos teóricos, supervisão e análise pessoal. 
 
Vale dizer que tal trabalho, voltado para o público leigo, não pretende 
popularizar a psicanálise, até porque, como veremos, o inconsciente só poderia ser 
 
 
10
 
desvendado através da própria análise. Nossa ideia é incentivar o desenvolvimento 
pessoal e a realização intelectual. 
 
Objetivos gerais 
 
• Promover os principais conceitos da psicanálise e dos fundamentos da 
técnica psicanalítica, possibilitando ao estudante a sua atuação na 
promoção da saúde psíquica, através de ações preventivas e intervenções 
psicanalíticas educativas; 
 
• Favorecer o conhecimento, a reflexão e o debate sobre questões 
referentes à teoria psicanalítica; 
 
• Capacitar a melhora da qualificação profissional, ao proporcionar os 
conhecimentos e habilidades para o crescimento profissional. 
 
Objetivos específicos 
 
• Identificar os principais fundamentos da psicanálise e de outras poucas 
escolas; 
 
• Permitir que o aluno compreenda o campo dos fenômenos e dos 
processos psíquicos (comportamento, consciência e inconsciente); 
 
• Revelar o funcionamento de complexos, traumas, desejos ocultos ou 
qualquer outro conteúdo mental que perturbe o adequado equilíbrio 
emocional do paciente. 
 
Definições importantes 
 
É cotidiana a confusão feita entre algumas qualificações do terreno “psi”. Por 
isso, é necessário clarificarmos alguns conceitos, para que possamos seguir adiante com 
a clara e necessária diferenciação dos principais termos. 
 
 
11
 
Comecemos pela palavra psicologia. Ela é a ciência que estuda os aspectos 
mentais (sentimentos, pensamentos, razão etc) e comportamentais. Para realizar seu 
ofício, o psicólogo precisa escolher uma abordagem baseada em uma teoria específica 
como método de trabalho. Para a obtenção do título é preciso frequentar um curso 
superior de duração de cinco anos, onde o estudante passa por um processo 
complementar ao desenvolvimento teórico com estágios supervisionados. 
 
Além disso, um psicólogo pode aprender pelos livros e se aprimorar 
intelectualmente mesmo que nunca tenha praticado ou se submetido a um processo 
terapêutico também chamado de psicoterapia, ou seja, a ferramenta clínica do 
conhecimento da psicologia. 
 
Diferentemente, um psicanalista1, aquele profissional que possui uma formação 
em psicanálise, só tem sentido através do seu trabalho clínico. Sem bastar o estudo 
sobre sua área, é preciso se submeter à própria análise com outro analista, visando a 
explicação do seu funcionamento psíquico o que, geralmente, avança por alguns anos. 
Além disso, tal teoria pode ser utilizada por um psicólogo ou por alguém que tenha feito 
uma formação em psicanálise, sem necessariamente ter cursado a faculdade de 
psicologia nem qualquer outro curso universitário. 
 
Já a psiquiatria é uma especialização da medicina que, ao tentar delimitar os 
problemas do paciente a partir de uma perspectiva médica, ou seja, orgânica, tem a 
prerrogativa de prescrever drogas para o tratamento dos sintomas relacionados, 
habilidade esta não designada ao psicólogo. O estudante de medicina opta pela 
especialização em psiquiatria, que é composta de 2 ou 3 anos e abrange estudos em 
neurologia, psicofarmacologia e treinamento específico para diferentes modalidades de 
atendimento. 
 
 
 
 
1 Quando ainda no século XIX Freud inventou a psicanálise, a carreira de psicologia ainda não existia. Assim, 
inicialmente quase todos os psicanalistas eram psiquiatras. 
 
 
12
 
Unidade 1 – Conhecendo a Psicanálise 
 
 
Psicanálise é o nome dado ao campo clínico e teórico de investigação da psique 
humana que originou efeitos importantes na cultura ocidental. Independente da 
psicologia, ela se desenvolveu através dos estudos do médico neurologista austríaco 
Sigmund Schlomo Freud (1856-1939), que tinha como primordial objetivo compreender 
os sintomas neuróticos e/ou histéricos. Com os conhecimentos advindos da investigação 
feita por ele, pode-se superar a falha existente no tratamento médico de tais pacientes. 
 
A proposta de Freud, da cura pela palavra e sua teoria sobre o inconsciente, o 
tornaram popular ainda na primeira metade do século XX, e fez da psicanálise um 
método de investigação dos processos mentais impenetráveis por qualquer outro modo. 
 
1.1 – Freud e a criação da psicanálise 
 
“A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. 
Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13
 
Nascido em maio de 1856, em Freiberg, Moravia, hoje Pribor, atual República 
Tcheca, seu pai, um comerciante que trabalhava com lãs e com os negócios em baixa, se 
viu obrigado a mudar-se para Viena quando Freud tinha apenas quatro anos. Vinte anos 
mais velho do que sua mãe, era uma figura severa e autoritária, bem diferente dela, uma 
pessoa carinhosa, com quem Freud desenvolveu uma profunda ligação. 
 
Com mais sete irmãos, ele era o único a ter, em seu quarto, lamparina e óleo que, 
naquela época, eram verdadeiras regalias. Além disso, para que pudesse estudar melhor, 
era proibido que seus irmãos fizessem barulho pela casa. 
 
Pelo fato de ser judeu, todas as carreiras fora medicina e direito eram proibidas 
na época. Interessado pelos trabalhos de Charles Darwin e Johann Goethe optou por 
estudar medicina na Universidade de Viena. Ao ingressar na universidade, Freud sofreu 
grande preconceito por ser judeu. Tal fato deve ter servido para que ele se acostumasse 
a ser uma figura na oposição. 
 
O jovem estudante Freud desenvolveu trabalhos em neurologia e fisiologia, 
comandando pesquisas sobre as glândulas sexuais das enguias. Fora isso, entrou para o 
laboratório de Brücke para estudar o sistema nervoso dos peixes. Os estudos de 
medicina, com exceção da psiquiatria, nunca o atraiam. Isto fez com que ele levasse oito 
anos para se formar, em 1881. É desta época, mais precisamente em 1882, que datam os 
primórdios da psicanálise, quando Freud ainda era recém-formado. 
 
Apesar da sua vontade, como sua condição financeira não permitia que seguisse 
estudando no laboratório acadêmico, começou a atender pacientes, clinicando como 
neurologista e tratando essencialmente de mulheres burguesas que sofriam de distúrbios 
histéricos. Além do mais, ele tinha se apaixonado e percebeu que, casando-se, precisaria 
de um cargo mais bem remunerado. 
 
Freud percebeu que, na histeria, os pacientes apresentavam sintomas que são 
anatomicamente inviáveis. Por exemplo, na "anestesia de luva" a pessoa não tem 
nenhuma sensibilidade na mão, ainda que apresente sensações normais no punho e no 
 
 
14
 
braço.Porém, visto que os nervos têm um percurso ininterrupto do ombro até a mão, 
não pode haver nenhuma causa física para este sintoma. Assim, tal doença carecia de 
uma explicação psicológica. 
 
Na clínica psiquiátrica, notou que os problemas dos pacientes estavam 
relacionados ao fato deles terem seus desejos reprimidos, subordinados ao inconsciente, 
sendo muitos deles de natureza 
sexual. Ao procurar aliviar o 
sofrimento psíquico das pacientes, 
Freud, durante um ano, ainda fez uso 
dos métodos terapêuticos da época: 
eletroterapia, massagens e 
hidroterapia. 
 
De 1884 a 1887, fez algumas 
das primeiras pesquisas com cocaína 
e, ao descobrir as propriedades 
analgésicas, não sendo naquela época 
proibida, ficou impressionado com suas propriedades e escreveu a respeito de seus 
possíveis usos para os distúrbios, tanto os físicos como os mentais: “Eu mesmo 
experimentei uma dúzia de vezes o efeito da coca, que impede a fome, o sono e o 
cansaço e robustece o esforço intelectual.” (1963) 
 
Por pouco tempo foi um defensor, mas depois tornou-se apreensivo em relação 
às suas propriedades viciantes e interrompeu sua pesquisa. Porém, tal estudo abriu 
portas para que esta substância fosse disseminada na Europa e nos Estados Unidos. 
 
Terminando sua residência, Freud conquistou uma bolsa de estudos no 
Salpetrière, em Paris, onde trabalhou com Charcot (1825-1893), figura de papel 
fundamental na formação do jovem Sigmund. Ele percebeu em Freud um estudante 
capaz e inteligente, e deu-lhe permissão para traduzir seus escritos para o alemão 
quando Freud voltou à Viena. 
 
 
15
 
Nesta época, a histeria era a mais misteriosa de todas as doenças nervosas, e, não 
só os pacientes histéricos, como, também, os médicos que demonstravam interesse por 
tratá-la, eram desacreditados. Charcot contribuiu decisivamente para a mudança de tal 
quadro, recuperando não só a dignidade dos pacientes, como abrindo um espaço para 
que eles fossem ouvidos. 
 
Para ele, a histeria não poderia ser considerada como uma enfermidade 
imaginária. Era uma neurose que não estava restrita ao universo feminino, 
contradizendo a própria origem do nome (hystera= útero). Tanto um quanto o outro se 
mostraram interessados na autenticidade e na normalidade dos fenômenos histéricos e 
em sua aparição na população masculina. 
 
Apesar disso, Freud não havia concordado com a ideia de Charcot, que dizia que 
a causa fundamental de tal distúrbio era a hereditariedade. Ainda assim, ficou encantado 
quando percebeu que a hipnose era um caminho para a explicação. Desta forma, 
podemos dizer que a maneira como Charcot tratava seus pacientes histéricos foi o ponto 
decisivo para que Freud começasse a olhar em direção à criação de sua metapsicologia. 
Porém, seguindo em seus estudos, Freud passou a achar os ensinamentos de Charcot 
discutíveis. 
 
Ainda antes de voltar à Viena, Freud foi a Berlim estudar sobre as enfermidades 
infantis, onde publicou alguns trabalhos sobre paralisia cerebral das crianças. E, em 
1886, já de volta, além de ter se casado com Martha Bernays, com quem teria seis 
filhos, estabeleceu sua clínica particular e passou por um período de grande resistência 
por parte das autoridades médicas em relação às suas inovações científicas. Assim, foi 
questão de tempo a sua retirada da vida acadêmica e da relação profissional com a 
sociedade de médicos. 
 
Algumas circunstâncias já o tinham feito abandonar o uso da eletroterapia e a 
utilizar como ferramenta de trabalho a hipnose, método que permitia ao paciente a 
entrada em um estado de sugestão (hipnótica), onde seria possível revelar a história da 
 
 
16
 
gênese dos sintomas e sobre o qual era inviável o acesso em estado normal de 
consciência. 
 
Este fato foi descoberto ao perceber que a hipnose era uma condição que 
atenuava a vigilância da censura, possibilitando evocar fatos perdidos que estavam 
relacionados com o sintoma. Assim, em hipnose, uma situação era recordada e possível 
de realizar o ato psíquico, antes reprimido, permitindo, de tal forma, um livre curso do 
afeto correspondente e o consequente desaparecimento do sintoma. Estas reconstruções 
da situação traumática inicial eram seguidas de explosões emocionais, chamadas de 
catarse, e acompanhadas pelo desaparecimento sintomático. Nas palavras de Freud 
(1914): “Os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que 
lhes causaram grande impressão, mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto 
apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de 
hipnose (catarse).” (Ed. Bras, livro 6, p. 17) 
 
Aliou-se a Josef Breuer2 (1842-1925), com quem continuou suas investigações 
exploratórias da dinâmica da histeria. Juntos, Breuer e Freud, escreveram, em 1895, 
“Estudos sobre a histeria”. A ideia do livro não era a de se fixar na natureza de tal 
distúrbio, mas esclarecer a gênese de seus sintomas, acentuando, portanto, a 
contribuição da vida afetiva e a importância da distinção entre atos psíquicos 
inconscientes e conscientes. Porém, alvo de crítica, o livro, escrito a quatro mãos, serviu 
de corte no caminho dos dois. Se, para Breuer, o tratamento estava completo com a 
ajuda hipnótica, para Freud ainda faltava entender outras questões. Desta forma, Freud 
tornou conhecidos os inconvenientes deste procedimento: não era possível hipnotizar 
todos os doentes, visto que nem todos eram sugestionáveis e, por sua vez, nem todos os 
médicos conseguiam hipnotizar de forma tão profunda quanto necessário. 
 
2 Sua paciente mais conhecida foi Bertha Pappenheim, sob o pseudônimo de Anna O., que será a primeira paciente 
histérica de Freud. Na época, responsável pelos cuidados de seu pai gravemente doente, Anna O. sofria de um 
variado quadro sintomático que incluía paralisia, contrações musculares, inibições e estados de perturbação psíquica. 
Em estado de vigília, a paciente era tão incapaz como os outros de entender a origem de seus sintomas ou as 
conexões com a sua vida. Porém, hipnotizada, achava-se o que faltava. Com seu pai, a paciente se viu forçada a 
reprimir um pensamento-impulso, cuja representação havia revelado o sintoma. Seu tratamento e sua hipnose 
permitiram revelar os pensamentos e afetos reprimidos como o desejo de que o seu pai morresse. 
 
 
 
17
 
Para Breuer, a origem da histeria está ligada às lembranças traumáticas que 
foram reprimidas por algum mecanismo do plano inconsciente da vida mental, isto é, ao 
reprimir a carga do afeto da lembrança, originam-se os sintomas histéricos. Era preciso 
um método catártico para se conseguir o retorno do afeto (utilizado para manter o 
sintoma) e que por ter pego um ‘caminho falso’, não podia ser descarregado. Freud não 
estava satisfeito com tais ideias, pois 
não acreditava que os sintomas 
tivessem sido originados em qualquer 
cena desagradável. Para ele, tais cenas 
traumáticas estavam ligadas à 
sexualidade. 
 
Seguindo o seu caminho 
novamente sozinho, ampliou os 
limites da histeria, começando pela 
investigação da vida sexual dos 
neurastênicos. Em meio disso, Freud 
percebeu que o método da hipnose, no 
lugar de eliminar os sintomas 
causadores do sofrimento, por vezes, gerava novos sintomas no lugar daqueles 
suprimidos. 
 
Claro que esta descoberta, ainda que não tire o valor do método hipnótico, o 
impõe limites. E, por isso, a hipnose deixou de ser o método ideal para os propósitos deFreud, que mudou a sua abordagem, escolhendo trabalhar com os pacientes deitados, 
enquanto ele se colocava por trás, de maneira que poderia ver, mas não ser visto. 
 
Com esta postura, ele pretendia encorajar seus pacientes a falarem livremente, 
sem reservas, sem omissão e julgamento, independente da aparente relação com seus 
sintomas, isto é, sem preocupações de certo ou errado, reflexões ou conexões lógicas. A 
ideia era buscar a origem dos sintomas através daquilo que era verbalizado, vencendo, 
primeiramente, as resistências que impedem o acesso ao inconsciente. Visto que o 
 
 
18
 
analista, por sua vez, tem a função de reunir e significar o material descoberto3, um 
terapeuta psicanalista tradicional tem uma postura mais passiva e calada, ansiando do 
seu paciente seus próprios insights. 
 
Esta técnica foi chamada por ele de “Associação Livre”, onde o material 
inconsciente viria à tona, com essas ajudas “espontâneas”, relatadas pelo próprio 
paciente através dos sonhos, dos atos falhos e dos esquecimentos. Como aquilo que foi 
esquecido tinha sido penoso, temível ou doloroso, para fazê-lo consciente era preciso 
dominar o que se revelava contra o sujeito, impondo-se ao profissional tal esforço, tanto 
maior quanto a gravidade do esquecido e a resistência do paciente. É neste momento 
que surge a teoria da repressão4, ponto central psicanalítico, onde o conflito leva à luta 
entre duas forças: instinto e resistência. 
 
Assim, os sintomas se fazem como o resultado de uma satisfação substituída, 
porém alterada e desviada dos seus propósitos, por conta da resistência do ego. Desta 
forma, os sintomas neuróticos não estariam ligados diretamente aos acontecimentos 
reais senão a fantasias optativas, onde a realidade psíquica é mais importante do que a 
realidade material. 
 
Foi em 1894, que Freud descobriu o conceito de transferência. No final do ano 
seguinte, nasce Anna Freud, sua filha mais nova e que se tornaria psicanalista, fundando 
sua própria corrente e tornando-se uma célebre psicanalista de crianças. 
 
E é por volta desta época que surge, pela primeira vez, o termo psicanálise, mais 
precisamente em 1986, para indicar um método particular da psicoterapia. Neste mesmo 
 
3 Vale ressaltar, como símbolo de curiosidade, que como Freud anotava somente depois de algumas horas o discurso 
de seus pacientes, acredita-se que pode ter havido certas omissões. Outra crítica é que ele pode ter reinterpretado e ter 
sido guiado pelo desejo de encontrar material de apoio às palavras transcritas. 
 
4 A repressão é um mecanismo primário de defesa análoga à tentativa de fuga e antecessor da futura solução normal 
por julgamento e condenação do impulso repulsivo. Como consequência, o ego precisa se proteger por meio de um 
permanente esforço contra a pressão do impulso reprimido, sofrendo assim um empobrecimento. Além disso, o 
reprimido, ao se transformar em inconsciente, pode alcançar uma descarga e satisfação substituída por caminhos 
indiretos, fazendo fracassar o propósito da repressão. 
 
 
19
 
ano, no qual inclusive o seu pai morre, a correspondência entre Fliess5 e Freud exibe a 
expressão "aparelho psíquico" e os seus três componentes: consciente, pré-consciente e 
inconsciente. É através de tais correspondências que Freud inicia o que ele chamaria de 
sua autoanálise. Em paralelo, reconhece a sexualidade infantil e o complexo de Édipo. 
Poucos anos depois, publica “A Interpretação dos Sonhos", com data de 1900, ainda que 
tenha sido publicado no final de 1899. Datada, a pedido dele mesmo, de 1900, para 
“abrir o século”, foi considerada por muitos como seu mais importante trabalho, apesar 
de, na época, não ter recebido quase nenhuma atenção. 
 
Em 1902, é criada a primeira sociedade psicanalista do mundo, em Viena, com o 
nome de “Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras”. No ano seguinte, é a primeira vez 
que Freud analisa uma criança de cinco anos. E é neste mesmo ano que ele descobre a 
primeira teoria das pulsões: pulsão sexual e pulsão do Eu. Logo em seguida, Freud 
revelou os estágios da sexualidade infantil e conheceu Jung, com quem começou a se 
corresponder e com quem, em sete anos, já somava 359 cartas. 
 
Jung que já tinha uma percepção de inconsciente e do psiquismo quando se 
aproximou de Freud, criou, em 1907, a “Sociedade Freud”, em Zurique, que, mais tarde, 
se tornou a “Associação Psicanalítica de Zurique”. Além disso, Jung teve tal 
importância para Freud visto que, além de muito inteligente e esperto, não era judeu e 
Freud receava que o progresso da psicanálise fosse ameaçado pelo antissemitismo. 
Porém, alguns anos depois, a amizade ficou abalada após Jung tentar convencê-lo a 
dessexualizar sua doutrina. 
 
Freud, em 1911, descobriu o conceito de narcisismo ao estudar sobre a psicose 
paranóica. No próximo ano, Freud publica alguns livros como “A Dinâmica da 
Transferência” e “Totem e Tabu”, onde pesquisa sobre a interdição generalizada do 
incesto, enraizada em diferentes culturas e sociedades. 
 
5 Wilhelm Fliess (1858-1928) foi um médico alemão importante na pré-história da psicanálise. Por sugestão de 
Breuer, Fliess se encontrou com Freud, em 1887, formando um forte laço de amizade. Mais do que um ouvinte crítico 
de Freud, fez algumas contribuições científicas como a da bissexualidade inerente a todos os seres humanos. 
Suspeitando que suas ideias estivessem sendo plagiadas por Freud, a amizade se desfez em 1902. Sua 
correspondência com Fliess encontra-se atualmente reunida sob o nome de “O Nascimento da Psicanálise”. 
 
 
 
20
 
Já na década de 20, Freud nos conta sobre sua segunda teoria do aparelho 
psíquico: Isso (Id), Eu (Ego), Supereu (Superego) e sobre a segunda teoria das pulsões: 
pulsão de vida e pulsão de morte. 
 
No mesmo ano, em que está se dedicando à teoria estrutural ou à segunda tópica, 
Freud escreveu "O Ego e o Id" (1923) e descobriu um câncer no maxilar, o que o levaria 
a passar por 33 cirurgias, além de perder o maxilar superior, instalando, com isso, uma 
prótese com a finalidade de separar sua boca. 
 
Em 1930, Freud, já adoentado, através de Anna, sua filha e representante, recebe 
o prêmio Goethe (de literatura), a única premiação que foi entregue em vida. Alguns 
anos depois, entre 1933 e 1939, houve um importante avanço do antissemitismo na 
Alemanha. 
 
Além disso, em 1933, a terminologia freudiana é excluída do vocabulário da 
psiquiatria e da psicologia da Alemanha, e a psicanálise passa a ser considerada como 
uma ciência judaica. Assim, Freud tem seus livros queimados em praça pública pelos 
nazistas, em Berlim. Nesta mesma época, há uma profunda emigração de psicanalistas 
alemães para a Argentina, Inglaterra e Estados Unidos. 
 
Apesar disso, em 1938, em meio à 
ascensão do nazismo, a princesa Marie 
Bonaparte, graças a sua estima, consegue levar 
Freud, sua esposa e filhos, para Londres. 
Fugindo do nazismo, passa a morar na 
Inglaterra onde, no ano seguinte, aos 83 anos, 
morre em função do câncer desenvolvido há 
mais de dez anos. 
 
Para que consigamos compreender sua 
obra, é preciso olhá-la dentro da sua perspectiva histórica, cultural e científica. A cura 
das enfermidades físicas e mentais, por meio do diálogo, foi uma inovação desenvolvida21
 
por Freud a partir de suas observações. Até então, a área da psicoterapia só contava com 
o apoio da terapia, ou seja, com banhos, sangrias e outros métodos obsoletos. Dessa 
forma, sua contribuição, não só para a psicologia ou medicina, como para outras áreas 
do conhecimento (sociologia, literatura, antropologia, entre outras) é inquestionável. 
Suas ideias permitiram uma revolução de pensamento e o início da revisão de vários 
preconceitos. 
 
Freud explorou inúmeras áreas da psique que eram sabidamente encobertas, 
tanto pela moral como pela filosofia vitorianas. Por contestar tabus culturais, religiosos, 
sociais e científicos, descobriu novas abordagens para o tratamento da doença mental, 
com ideias que se tornaram parte da herança comum da cultura ocidental. 
 
“Sigmund Freud, pelo poder de sua obra, pela amplitude 
e audácia de suas especulações, revolucionou o pensamento, as 
vidas e a imaginação de uma Era... Seria difícil encontrar na 
história das idéias, mesmo na história da religião, alguém cuja 
influência fosse tão imediata, tão vasta e tão profunda.” 
(Wollheim, 1980, p. IX) 
 
Freud escreveu incansavelmente, suas obras completas somam 24 volumes e 
abrangem ensaios referentes aos aspectos delicados da prática clínica, além de uma série 
de conferências que esboçam toda a teoria sobre questões religiosas e culturais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
 
1.2 – Escolas psicanalíticas 
 
 
Durante o trajeto da psicanálise, 
muitos foram os estudiosos que se 
encontraram e se encantaram com as 
descobertas de Freud. Pelo caminho, 
muitos formaram alianças e muitos se 
separaram, dando destinos diferentes às 
suas ideias. 
 
De toda forma, não deve nos causar 
surpresa o fato de que estudiosos brilhantes 
discordem tanto. O estudo da consciência 
humana é controverso em sua natureza porque há menos evidências e mais deduções. 
 
Ainda que saibamos que, após o olhar de Freud, vários foram aqueles que 
contribuíram para a expansão e o desenvolvimento da psicanálise, seria impossível 
abarcar todas as figuras importantes no presente trabalho. Tal fato, não desmerece 
nenhum deles, só tem como objetivo permitir-nos um curso mais focado. Para um 
estudo mais aprofundado sobre as escolas psicanalíticas, sugerimos ver algumas ideias 
de livros expostos na referência bibliográfica, presente na apostila do módulo II. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23
 
1.3 – Jung e a psicologia analítica 
 
"Só aquilo que somos realmente tem o verdadeiro poder de curar-nos." 
 
 
Responsável por ter desenvolvido importantes conceitos da psicologia como 
personalidades introvertidas/extrovertidas e inconsciente coletivo/arquétipos, sua análise 
sobre a natureza humana envolveu investigações acerca das religiões ocidentais, alquimia, 
parapsicologia e mitologia. Assim, dentro de amplo conhecimento cultural e intelectual 
que possuía, Jung fundou a psicologia analítica, uma das linhas de estudo da psicanálise 
que entendia os distúrbios mentais como uma forma patológica de procurar pela 
autorrealização pessoal e espiritual. 
 
Um dos alunos mais conhecidos de Freud, Carl Gustav Jung, nasceu em uma 
aldeia suíça, em 1875. Tanto seu pai como vários parentes próximos eram pastores 
luteranos e, desta forma, já durante sua infância, percebe-se o quanto foi tocado 
profundamente por questões tanto religiosas quanto espirituais. Filho único, formou-se 
em medicina pela Universidade da Basiléia, em 1900, e apresentou, em 1902, sua tese 
de psiquiatria sobre “Os chamados fenômenos ocultos”. Começou a trabalhar com 
esquizofrênicos, no hospital psiquiátrico Burgholzi, em Zurique, tornando-se grande 
admirador de Freud. Estava tão entusiasmado com as novas perspectivas abertas pela 
psicanálise, que decidiu conhecê-lo pessoalmente, indo a Viena, em 1907. 
 
De acordo com Taboada (2004), de início, a identificação foi instantânea. Não só 
pela convergência de ideias, como a relação interior que ambos acreditavam existir 
entre os processos associativos alterados e os fenômenos psicopatológicos, como pela 
 
 
24
 
concepção de que tal acontecimento se dava por um fator inconsciente, com forte carga 
afetiva que exercia influência sobre a vida psíquica e sobre o comportamento dos 
indivíduos. Dessa maneira, ambos percebiam que os fatos retidos no inconsciente 
podiam permanecer ativos por muito tempo e desencadear perturbações da vida mental. 
 
Porém, a identidade de pensamentos não foi capaz de esconder diferenças 
fundamentais, surgindo divergências de pensamentos. A união foi então rompida devido 
à discordância em pontos fundamentais. Jung não aceitava a insistência de Freud de que 
as causas da repressão dos conteúdos inconscientes eram sempre originadas devido a 
traumas sexuais não elaborados pela consciência. Com isso, conforme lembrado por 
Taboada (2004), ele não pretendia negar a importância das cargas emocionais ligadas à 
sexualidade nem o poder patogênico dos traumas. 
 
Somente acreditava que, para que o trauma exercesse a sua ação patogênica, era 
preciso que houvesse uma “predisposição interior específica”. Além disso, por sua vez, 
como era de se esperar, Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos 
mitológicos, espirituais e ocultos: “O positivismo científico materialista de Freud não 
perdoou o discípulo que buscou o fundamento criativo da religião.” (BYNGTON, 
2004, p.7). O rompimento definitivo se deu em 1912, e cada um seguiu caminhos 
diferentes com ressentimento de ambos os lados. 
 
Depois de um tempo recolhido, Jung continuou a sua trajetória e desenvolveu o 
método de associação de palavras, que visava o estudo das associações do pensamento, 
com a finalidade de buscar o acesso aos fenômenos irracionais da psique. Visando 
analisar a conexão entre associação e alterações da atenção, Jung pôde perceber que 
certos eventos, tidos como falhas irrelevantes eram, na verdade, interferências 
emocionais sobre o padrão de resposta. “As investigações sobre o conteúdo e o aspecto 
afetivo subjacente levavam a conteúdos inconscientes com forte carga emocional.” 
(TABOADA, 2004, p. 19) 
 
Algumas palavras indutoras provocavam reações perturbadoras capazes de 
demonstrar a relação com conteúdos emocionais ocultos. Esses conteúdos, descobertos 
 
 
25
 
por Jung durante tais experimentos, foram denominados de complexos, definidos como 
um agrupamento de conteúdo psíquico, carregado de afetividade, que estabelece 
associações com outros elementos. De tal forma, os complexos são capazes de interferir 
na vida consciente, nos envolvendo em situações contraditórias, perturbando a memória 
e arquitetando sonhos, por exemplo. 
 
Assim, podemos perceber que o bem-estar depende dos complexos que possuem 
maior ou menor autonomia, dependendo da conexão com a totalidade da organização 
psíquica. Apesar do mal-estar que podem causar, não são considerados elementos 
patológicos, mas sinal de conteúdos conflitivos que não foram assimilados. Para que 
isso ocorra, por sua vez, é preciso compreender os conflitos em termos intelectuais e 
exteriorizar os afetos envolvidos. 
 
Em 1917, Jung publicou o livro "A Psicologia do Inconsciente" com seus 
estudos sobre o inconsciente coletivo, também conhecido como impessoal ou 
transpessoal. Detentor de recordações, sentimentos e pensamentos capazes de 
condicionaros sujeitos, o inconsciente coletivo contém arquétipos, isto é, tendências 
herdadas e armazenadas que levam o indivíduo a se comportar de modo semelhante aos 
seus ancestrais. Desta forma, seja em momentos individuais ou durante manifestações 
de elementos culturais, como é o caso das religiões e dos mitos, o material psíquico 
universal, e não estabelecido em nossa experiência pessoal, encontra-se no inconsciente 
coletivo. Assim, repleto de material representativo, possui uma forte carga afetiva 
comum a toda humanidade como, por exemplo, essa sensação universal da existência de 
Deus. 
 
De acordo com Alves (2005), Jung concluiu que o inconsciente era mais do que 
um depósito de desejos reprimidos expressos em sonhos, como entendia Freud. Ainda 
que não negasse a existência do inconsciente individual, ele acreditava em um 
inconsciente mais profundo e não pessoal, comum a todos os homens e culturas, 
expresso através de símbolos que vêm à tona em sonhos, mitos e expressões artísticas. 
Todos os indivíduos compartilham os mesmos símbolos, ainda que, em cada cultura, 
eles tenham roupagem própria. 
 
 
26
 
 
 
Seguindo em sua teoria, o processo de individuação é tido, por ele, como a nossa 
grande tarefa existencial. Tal processo costuma ser deflagrado espontaneamente no 
indivíduo já adulto, o que o fez ter tanto interesse no estudo desta fase da vida. Para 
Jung, o que nos acontece na primeira metade da vida é uma espécie de preparação para 
o nosso processo de individuação, a descoberta de nossa identidade profunda, que 
ocorre somente através da realização de nossos potenciais. 
 
De acordo com Ramos e Machado (2004), o processo de individuação, que 
percorre toda a evolução humana, tanto individual como coletiva, refere-se ao processo 
de se tornar uno, indivisível, isto é, um ser único através do autoconhecimento. Ainda 
que tal processo de desenvolvimento da personalidade seja algo idealizado, é, ao mesmo 
tempo, aquilo que motiva o ser humano, desde o seu nascimento à velhice, o guiando 
em suas escolhas afetivas e profissionais. 
 
Paradoxal como pode parecer, este processo resulta da interação do indivíduo 
com o coletivo. Visto que, individuar-se não é individualizar-se, é impossível a 
ocorrência deste processo fora da interação com o outro. “De certo modo, o processo de 
individuar-se depende dessa fina sintonia com o que podemos chamar de nossa 
essência e que, embora dependa da genética, da educação e do ambiente familiar e 
cultural, certamente a todos transcende.” (RAMOS e MACHADO, 2004, p.42) 
 
 
 
27
 
Já, para Vargas (2004), o termo individuar é entendido como “tornar-se si 
mesmo”, atingindo os potenciais próprios de cada um. Para o autor, a individuação é um 
processo espontâneo de amadurecimento, por meio do qual o indivíduo se torna o que 
está “destinado a ser”, desde o início. 
 
Precisamos lembrar que é através do processo de individuação que entramos em 
contato com os arquétipos. E, de acordo com Vargas (2004), Jung discriminou em 
quatro fases este processo: a conscientização da persona, o confronto com a sombra, o 
encontro com a anima (para o homem) ou com o animus (para a mulher) e, finalmente, 
o encontro com o Self (ou si mesmo). 
 
Antes de entrarmos na explicação de tais termos levantados agora, precisamos 
esclarecer que, ao investigar as criações artísticas das antigas civilizações, Jung 
percebeu alguns símbolos de arquétipos comuns, mesmo entre culturas distantes no 
tempo e no espaço. Diferentemente dos arquétipos que não têm um conteúdo definido, 
os símbolos podem ser individuais ou coletivos, ter um significado óbvio com uma 
conotação específica e só podem ser considerados como tal, quando evoca algo mais do 
que o seu simples significado. “O símbolo representa a conexão com a energia 
arquetípica necessária para a consecução de feitos que alteram o estado das coisas e 
podem trazer novas soluções para conflitos aparentemente insolúveis.” (RAMOS e 
MACHADO, 2004, p. 46) 
 
Para Jung, o símbolo 
aponta um vínculo entre 
aspectos conscientes e 
inconscientes de um mesmo 
elemento, contendo uma esfera 
irracional e um enorme poder de 
mobilização. Desta forma, a 
palavra símbolo passou a ser 
 
 
28
 
utilizada com a finalidade de assinalar a união de opostos, do conhecido e do 
desconhecido. Além disso, como o que desconhecemos carrega o seu valor afetivo, o 
símbolo sempre é capaz de despertar emoção. 
 
Ramos e Machado (2004) salientam a importância de entendermos que Jung 
usou o conceito de símbolo baseado em sua etiologia: sym (juntar) e balein (em direção 
a). De tal forma, symbalein significava, na Grécia Antiga, o ato de unir duas metades de 
uma mesma moeda que fora partida na separação de duas pessoas. 
 
“Quando uma delas desejava enviar uma mensagem 
importante à outra, o mensageiro trazia consigo uma das 
metades da moeda. Desse modo, o destinatário da mensagem 
poderia verificar sua autenticidade ao constatar a perfeita 
união das duas metades (uma conhecida, outra incógnita).” 
(RAMOS e MACHADO, 2004, p. 45) 
 
Agora, voltando só um pouco ao que vimos acima sobre os complexos, 
precisamos completar que eles fazem parte do nosso inconsciente pessoal6, isto é, da 
“sombra”, e são, de acordo com Ramos e Machado (2004), responsáveis, em grande 
parte, pelos nossos comportamentos mais aberrantes e desadaptativos à realidade. 
 
Temos acesso à sombra através da jornada do autoconhecimento. Aquilo que 
escondemos é necessário ser revelado para que seja possível transcender a tais 
conteúdos. Sem limparmos esse conteúdo é impossível que sejamos livres, pois não 
pertencer à esfera da consciência não quer dizer que a sombra não influencie as atitudes 
humanas. Em outras palavras, sem a conscientização da natureza da sombra, não existe 
processo de individuação. 
 
 
6 Vale lembrar, como já ressaltado por Ramos e Machado (2004), o conceito junguiano de inconsciente como fonte 
de criatividade e potencialidade e não somente como depositário de conteúdos reprimidos, imagens ou vivências 
dolorosas bloqueadas pelo mecanismo do ego. É de lá que surgem os impulsos que tomam forma na matéria, de 
acordo com o espaço e o tempo de uma pessoa. 
 
 
29
 
Porém, a necessidade de nos adaptarmos à vida em sociedade, como as 
exigências culturais, nos leva a desenvolver o que Jung nomeou de persona, uma 
máscara coletivamente reconhecível e aceitável. Nas palavras de Ramos e Machado 
(2004): 
 
“Quando extremamente rígida, a persona pode cindir 
com os aspectos mais profundos do ser e passa a expressar 
apenas um aspecto desejado externamente, sem refletir o 
caráter mais ontológico do “si mesmo”. Quando integrada, a 
persona é criativa e possibilita a expressão de diferentes facetas 
do indivíduo.”(p. 47) 
 
Outro conceito importante na psicologia analítica, diz respeito a um aspecto do 
inconsciente observado indiretamente: a anima e o animus, contrapartes sexuais do 
homem e da mulher que funcionam como elo entre o mundo interno e o ego. Da mesma 
forma como existem aspectos biológicos masculinos na mulher, igualmente, existem 
aspectos psicológicos masculinos correspondentes ao arquétipo do animus. Assim, um e 
outro possuem qualidades humanas que faltam na disposição consciente. 
 
“As projeções românticastêm a função de estabelecer 
um confronto com o inconsciente, e sua retirada permite uma 
expansão do autoconhecimento. Mediante a relação com o sexo 
oposto podemos conhecer a realidade de nosso potencial, pois 
tornar-se consciente não é um projeto isolado. Embora requeira 
certa dose de introspecção, essa jornada implica convívio com o 
outro para se realizar.” (RAMOS e MACHADO, 2004, P. 47) 
 
Foi em 1921, em seu livro "Tipos Psicológicos", uma de suas obras mais 
conhecidas, que Jung propôs que cada indivíduo possuía uma maneira singular de 
apreender o mundo. Para caracterizar esta tipologia, dinâmica e desenvolvida, ao longo 
da vida, Jung descreveu duas atitudes (extroversão e introversão) e quatro funções da 
consciência (pensamento, sentimento, sensação e intuição). 
 
 
30
 
De acordo com Fadiman e Frager (1986), a energia dos introvertidos segue de 
forma mais natural em direção a seu mundo interno, enquanto que a energia do 
extrovertido é mais focada no mundo externo. Os interesses primários dos introvertidos 
se concentram em seus próprios pensamentos e sentimentos, ou seja, em seu mundo 
interior. Por sua vez, os extrovertidos envolvem-se com o mundo externo das pessoas e 
das coisas e têm uma tendência mais social, necessitando de proteção para não serem 
dominados pelo mundo de fora e se alienarem de seus próprios processos internos. 
 
Vale ressaltar que essas atitudes, ainda que não sejam totalmente cristalizadas, se 
excluem mutuamente, visto que seria impossível manter as duas ao mesmo tempo. O 
ideal é que o ser humano tenha uma cota de flexibilidade, podendo adotar ambas, 
quando apropriado for e, assim, sem responder de uma maneira fixa ao mundo, 
operando em termos de um equilíbrio. 
 
As quatro funções da consciência levantadas acima estariam, para Jung, 
dispostas em dois pares de opostos, um racional (pensamento e sentimento) e o outro 
irracional (sensação e intuição). Cada função pode ser combinada e experimentada de 
uma forma introvertida ou extrovertida. 
 
“Para que possamos nos orientar, precisamos de uma 
função que nos afirme que algo está aqui (sensação), outra 
função que nos demonstre o que é (pensamento), uma terceira 
que declare se isto é ou não apropriado (sentimento) e uma 
quarta que indique de onde isso veio e para onde vai 
(intuição).” (JUNG, 1942, p. 167) 
 
Para Jung, o pensamento é a alternativa de elaborar os julgamentos e de tomar as 
decisões. As pessoas que funcionam com o predomínio de tal função psíquica são 
chamadas de reflexivas, por serem grandes planejadores que se agarram aos planos e às 
teorias, ainda que sejam confrontados com evidências. Por sua vez, o sentimento age 
como uma função orientada para o aspecto emocional da experiência, baseada em 
emoções intensas ainda que negativas. Aqui, a tomada de decisões está atrelada aos 
 
 
31
 
julgamentos de valores próprios como certo e errado. De maneira simplificada, 
podemos dizer que, enquanto o pensamento nos diz o que é esse algo, o sentimento nos 
diz se esse algo é agradável ou não. 
 
Já a sensação, classificada junto com a intuição, é uma forma de apreender 
informações, ou seja, é a percepção dos detalhes e de fatos concretos. Os tipos 
sensitivos tendem a responder à situação vivencial imediata, lidando de forma eficiente 
com todos os tipos de emergência. Jung via a intuição como uma forma de processar a 
informação em termos passados, objetivos futuros e processos inconscientes. Assim, as 
consequências são mais importantes do que a experiência. Seus tipos nos falam de 
pessoas que processam as informações rapidamente, relacionando automaticamente a 
experiência passada com informações da experiência imediata. Uma maneira de 
simplificar o conceito apresentado é dizendo que a sensação nos expõe que algo existe e 
a intuição nos diz de onde esse algo vem e pra onde vai. 
 
“Ninguém desenvolve igualmente todas as quatro 
funções. Cada um tem uma função dominante e uma auxiliar 
parcialmente desenvolvida. As outras duas funções são, em 
geral, inconscientes e a eficácia de sua ação é bem menor. 
Quanto mais desenvolvidas e conscientes estiverem as funções 
dominantes e a auxiliar, mais profundamente serão os seus 
opostos.” (FADIMAN e FRAGNER, 1986, p. 48) 
 
De acordo com Vargas (2004), ainda que o tipo psicológico, essencialmente 
herdado, conserve-se o mesmo ao longo da vida, com o amadurecimento incide uma 
tendência à maior integração à consciência das funções menos desenvolvidas. Com isso, 
ocorre uma maior harmonização da personalidade quanto ao uso das quatro funções e 
das duas atitudes. 
 
Em 1928, Jung se interessou pelos trabalhos de Reich e, juntos, passaram a 
estudar alquimia, comungando a ideia da natureza humana original e criativa, que se 
 
 
32
 
esconde atrás de um homem massificado, que há muito perdeu a conexão com a 
totalidade da vida e com suas raízes mais profundas. 
 
No mesmo ano que lançou o livro “Psicologia e Alquimia”, Jung sofreu um 
infarto, resolvendo renunciar às atividades docentes. Nesta obra, Jung fala do 
simbolismo da alquimia como intimamente relacionado com o processo analítico. No 
estudo deste livro, utilizou uma amostra de sonhos de um paciente, mostrando como os 
símbolos utilizados pelos alquimistas ocorrem na psique, como parte do depósito de 
imagens mitológicas utilizadas pelo indivíduo em seu estado de sono. 
 
De acordo com Jung, a terapia é um esforço em conjunto do analista e do 
analisado, que trabalham junto como iguais, em um relacionamento onde o analisado 
deve ser visto por inteiro, sem procurar consertar partes isoladas de sua psique, 
alcançando, finalmente, o seu estado de individuação. 
 
Apesar de tantos conceitos apresentados aqui, foi o esforço de Jung evitar a 
ênfase em uma teoria ou em técnicas específicas no processo terapêutico. Seu medo era 
o de transformar o comportamento do analista em algo mecânico e, assim, prejudicar o 
contato com o analisado. Jung não queria a existência de junguianos, objetivando, com 
tal afirmação, que quem concordasse com a sua psicologia, experimentasse um caminho 
próprio. De acordo com Vargas (2004): 
 
“Para que cada junguiano, dentro de sua individuação, 
possa se exercer como analista, ele necessita de uma formação 
ampla e profunda, que implica a aquisição de conhecimentos 
teóricos, técnicos e vivenciais. A clínica junguiana, vasta e 
muito rica, com inúmeras aplicações, pode utilizar-se de 
diferentes técnicas, conforme o analista e o cliente.” (p. 74) 
 
Jung morreu aos 86 anos, em 1961, após ter levado uma vida que marcou a 
antropologia, a sociologia e a psicologia, além de campos como a arte, a mitologia e a 
literatura. 
 
 
33
 
1.4 – Wilhelm Reich e a psicologia do corpo 
 
 
“Do irreal resulta a impotência; 
o que não somos capazes de conceber 
não podemos dominar.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reich foi o fundador do que poderíamos chamar de psicoterapia orientada para o corpo, 
visto que seu trabalho objetivava a libertação de emoções através deste. Enfatizou a 
necessidade de lidar com os aspectos físicos do caráter, em especial os modelos de 
tensão muscular crônica, tendo como principais contribuições os conceitos de caráter e 
couraça, que se desenvolveriam a partir do conceito freudiano da necessidade do Ego 
em se defender contra forças instintivas.Wilhelm Reich7 nasceu, em 1897, na Galícia, mais precisamente em 
Dobrzynica, uma parte da Áustria germano-ucraniana. Filho de fazendeiro judeu de 
classe média, seu pai era uma figura autoritária de forte temperamento e sua mãe, uma 
mulher bem atraente que se suicidou quando ele tinha 14 anos, aparentemente depois de 
Reich ter revelado ao seu pai que ela tinha um caso com o seu tutor. Seu pai morreu de 
tuberculose três anos mais tarde e seu único irmão quando Reich tinha 26 anos. 
 
7 Como título de curiosidade, vale ressaltar que tanto a religião quanto as observâncias judaicas não tiveram nenhum 
papel significativo na educação de Reich. 
 
 
34
 
Foi pouco depois da 1ª Guerra Mundial que Reich alistou-se no exército 
austríaco, onde chegou ao posto de tenente e entrou em serviço ativo na Itália. Ao final 
da guerra, foi para Viena, como um veterano de apenas 21 anos. 
 
Em 1918, Reich ingressou na escola médica, na 
Universidade de Viena, decidindo, quase que 
instantaneamente, dedicar-se à psiquiatria. 
Profundamente interessado na sexualidade humana, em 
1919, procurou Freud com a finalidade de organizar 
um seminário sobre sexologia na escola que 
frequentava. Apenas um ano depois, aos 23 anos de 
idade, Reich começou a participar das reuniões da 
“Sociedade Psicanalítica de Viena” como membro 
efetivo. Assim, a clínica psicanalítica fundada por 
Freud, em Viena, o teve como primeiro assistente 
clínico. Destinada a pacientes que não podiam pagar pelo tratamento, a demanda era 
enorme. Tal fato, na percepção de Reich, demonstrava que a neurose era uma doença de 
massa, que precisava ser tratada além dos limites da psicanálise. 
 
De acordo com Kignel (2004), em 1921, Reich iniciou a sua prática 
psicanalítica, antes mesmo de ter sido analisado, passando a atender os pacientes 
encaminhados por Freud, em um profundo exemplo de admiração pelo seu trabalho. 
 
“Em 1927, Reich procurou fazer análise com Freud, que 
se recusou a fazer uma exceção à sua política de não tratar 
membros do círculo psicanalítico profundo. Nesta época, 
desenvolveu-se um sério conflito entre ambos que começou, em 
parte, pela recusa de Freud em analisá-lo e, por outro lado, 
com o aumento das divergências teóricas que resultaram do 
envolvimento marxista de Reich e sua insistência de que toda 
neurose era baseada numa falta de satisfação sexual.” 
(FADIMAN e FRAGNER, 1986, p. 89) 
 
 
35
 
Somado a isso, segundo Cavalcanti e Cavalcanti (2006), enquanto Freud 
considerava a neurose decorrência de uma perturbação sexual – e sexo precisa ser 
percebido em um sentido amplo, como o foi para ele –, Reich assegurava que a neurose 
era uma perturbação sexual em sentido restrito, isto é, uma falha na capacidade de 
atingir o orgasmo. Por tal motivo, a neurose não só bloqueia a capacidade de entrega 
como retém a energia em couraças musculares8, impedindo a descarga sexual. Desta 
forma, para Reich, a gratificação sexual plena, além da função profilática, por evitar o 
desencadeamento do processo neurótico, também desempenha uma função terapêutica 
contra a própria neurose. Isso porque, para ele, quando se atinge a satisfação orgástica é 
descarregada toda a energia do organismo, não restando nada para determinar e/ou 
manter o sintoma neurótico. 
 
Assim, segundo Cavalcanti e Cavalcanti (2006), quando esse alívio é bloqueado 
ou insuficiente, segundo Reich, o sistema nervoso autônomo se sobrecarrega de energia 
e a excitação sexual crescente, não liberada, se exterioriza sob a forma de angústia. Em 
outras palavras, a ausência do orgasmo, portanto, seria o mecanismo central 
determinante da angustia e, por conseguinte, da neurose. 
 
Outra grande divergência com os conceitos da psicanálise freudiana foi a ideia 
de Reich, de que a libido é uma força, sobretudo orgânica e mensurável, e não uma 
energia psíquica. Sua proposta tem, no orgasmo, a visão de que ele é capaz de 
descarregar o excesso de energia do organismo. Por tal razão, resumidamente, sua meta 
terapêutica visava a libertação dos bloqueios corporais e a obtenção plena da capacidade 
orgásmica. 
 
Vale ressaltar que a psicoterapia realizada antes de Reich, basicamente, ignorava 
os processos corporais. Foi ele quem passou a pensar no corpo como fonte e resolução 
dos conflitos. Segundo Cavalcanti e Cavalcanti (2006), é inegável que a psicossomática 
já correlacionava as doenças físicas com os conflitos psíquicos, mas em termos de 
 
8 Tal conceito será explicado em breve. Por enquanto, nos basta a ideia levantada por Cavalcanti e Cavalcanti (2006), 
que afirmam a couraça muscular como sendo um padrão geral de tensão muscular crônica do corpo que funciona 
como um escudo, retendo energia que não pode ser descarregada. 
 
 
36
 
terapia psicanalítica, as sensações orgânicas eram apenas trabalhadas verbal e 
mentalmente. 
 
“A psicanálise, de modo geral, ainda não tinha se 
alertado para o fato de que o organismo vivo se expressa mais 
claramente pelos movimentos corporais do que por palavras. O 
corpo fala por meio da linguagem viva da postura, da expressão 
fisionômica, dos gestos; uma língua que antecede, precede e 
transcende a expressão oral. Quando se admite que o físico e o 
psíquico são apenas níveis de uma mesma realidade, torna-se 
evidente a possibilidade de operar modificações psíquicas por 
intermédio da estrutura orgânica.” (CAVALCANTI e 
CAVALCANTI, 2006, p. 20) 
 
Foi Reich que nos trouxe este olhar para a relação da mente e do corpo. E, de tal 
forma, interessado no papel da sociedade na criação de inibições, fundou uma 
psicologia orientada para o corpo. 
 
“Assim, por volta de 1950, Reich ocupou-se com 
experimentos envolvendo acumuladores de energia orgônica: 
caixas e outras invenções que, segundo ele, armazenam e 
concentram energia orgônica. Reich descobriu que várias 
doenças que resultavam de distúrbios do “aparelho 
automático“, podiam ser tratadas com graus variados de 
sucesso, pelo restabelecimento de um fluxo normal de energia 
orgônica do indivíduo. Isto poderia ser conseguido pela 
exposição a altas concentrações de energia orgônica nos 
acumuladores. Estas doenças incluíam câncer, angina de peito, 
asma, hipertensão e epilepsia.” (FADIMAN e FRAGNER, 
1986, p. 90) 
 
 
 
37
 
Ele percebeu que era possível isolar a energia da vida, guardando-a em 
acumuladores conhecidos como caixa de orgone. Ao posicionar os doentes dentro de 
tais caixas, ele acreditava estar tratando de doenças sérias. Tudo isso porque, para ele, 
tal Energia Orgônica, termo derivado a partir do organismo e orgasmo, flui 
naturalmente por todo o corpo, de cima a baixo, paralela à espinha. Livre de massa, essa 
energia vital e necessária ao funcionamento humano, não possui inércia ou peso, 
encontra-se presente em qualquer parte, embora em diferentes concentrações. Além 
disso, por estar em constante movimento, pode ser observada em condições apropriadas, 
e por governar o organismo total, além de se expressar nas emoções e nos movimentos 
biofísicos dos órgãos, torna-se o centro da atividade criativa. 
 
Em outro estudo, Reich nomeou o 
caráter como aquilo que é composto pelas 
atitudes habituais de uma pessoa e de seu 
padrão consistente de respostas para diversas 
situações.O conceito inclui, não só modos e 
valores conscientes, como, também, o estilo de 
comportamento e as atitudes físicas. 
 
De acordo com Fadiman e Fragner 
(1986), o caráter se forma como uma defesa 
contra a ansiedade, criada pelos intensos 
sentimentos sexuais da criança e o consequente medo da punição. A primeira defesa 
contra este medo é o mecanismo de defesa do ego conhecido por repressão, o qual 
refreia os impulsos sexuais por algum tempo. À medida que as defesas do ego se tornam 
cronicamente ativas e automáticas, elas evoluem para traços ou couraça caracterológica, 
como resultado de todas as forças defensivas repressoras, instituídas de forma mais ou 
menos lógica dentro do próprio ego. 
 
Além disso, para ele, cada atitude de caráter tem uma atitude física 
correspondente, ou seja, o caráter do indivíduo é anunciado no corpo, em termos de 
rigidez muscular ou couraça muscular. Como não somente de recalque vive o 
 
 
38
 
inconsciente, mas de representações contidas no organismo como um todo, ele tenta 
ativar o inconsciente através da observação, ação e interpretação das expressões não 
verbais. Para isso, Reich analisava seus pacientes pela avaliação da natureza e da função 
de seu caráter, ao invés de decompor seus sintomas. 
 
Assim, como o psiquismo e suas fixações podem ser acessados de diferentes 
maneiras – além das livres associações verbais – é missão do terapeuta reichano não só 
avaliar o que acompanha a história verbal do seu paciente, mas também ler a dinâmica 
da expressão corporal. 
 
Visto que o indivíduo que se encontra encouraçado é incapaz de expressar as 
emoções biológicas primitivas, o maior obstáculo presente ao crescimento são as 
couraças, que tem o papel de reduzir o livre fluxo de energia e a livre expressão de 
emoções, transformando-se em uma importante amarra, tanto física quanto emocional. 
 
Pensando sobre isso, com a finalidade de liberar emoções e fantasias contidas, 
Reich começou a trabalhar de forma direta no relaxamento da couraça muscular, pois, 
para ele, a liberação das emoções, através do trabalho com o corpo, produz uma 
vivência muito mais intensa do que aquela que desperta o material infantil como forma 
de trabalho. Para tanto, conforme levantado por Cavalcanti e Cavalcanti (2006), Reich 
utilizava a respiração profunda como procedimento terapêutico a fim de neutralizar tais 
couraças, com a colaboração ativa do paciente que, por sua vez, precisa enfrentar 
abertamente suas resistências ou restrições que surgem pelo caminho. 
 
Além disso, outra técnica utilizada dizia respeito à intensificação da tensão, que 
fazia os pacientes mais conscientes dela, aumentando a possibilidade de aliviar o que 
estava preso em determinada parte do corpo. Fadiman e Fragner (1986) acrescentaram 
que, para que seus pacientes se conscientizassem de seus traços neuróticos de caráter, 
Reich imitava com frequência suas características, gestos ou posturas, fazendo com que 
repetissem ou exagerassem uma faceta habitual do comportamento. 
 
 
 
39
 
“Reich começou primeiramente com a aplicação de 
técnicas de analise de caráter a atitudes físicas. Ele analisava, 
em detalhes, a postura de seus pacientes e seus hábitos físicos, a 
fim de conscientizá-los de como reprimiam sentimentos vitais 
em diferentes partes do corpo. Reich fazia os pacientes 
intensificarem uma tensão particular a fim de se tornarem mais 
conscientes dela e de eliciar a emoção que havia sido presa 
naquela parte do corpo. Ele descobriu que só depois que a 
emoção “engarrafada” fosse expressa, é que a tensão crônica 
poderia ser abandonada por completo.” (FADIMAN e 
FRAGNER, 1986, p.93) 
 
Além de analisar de forma detalhada a postura dos seus pacientes e seus hábitos 
físicos para que pudessem ser conscientizados da forma como reprimiam os sentimentos 
vitais em diferentes partes do corpo, Reich descobriu que as tensões musculares 
crônicas servem para bloquear uma das três excitações biológicas: a excitação sexual, a 
ansiedade ou a raiva. 
 
Como vimos, o desenvolvimento de um traço neurótico de caráter marcaria a 
solução de uma questão que foi reprimida ou transformaria a repressão em uma 
formação relativamente rígida e aceitável pelo ego. Faz-se importante salientar que 
traços de caráter são conceitos, para Reich, diferentes dos sintomas neuróticos. 
Enquanto esses últimos são experimentados como estranhos ao indivíduo (tais como 
fobias ou medos), os traços de caráter são vividos como parte integrante da 
personalidade. Assim, as defesas de caráter, além de particularmente efetivas, são 
difíceis de serem erradicadas, por estarem bem racionalizadas pelo indivíduo e, 
portanto, experimentadas como parte do seu autoconceito. 
 
Voltando ao conceito da couraça muscular, precisamos salientar a sua 
organização em sete básicos segmentos de armadura, compostos por músculos e órgãos 
com funções expressivas relacionadas. Formando uma série de anéis mais ou menos 
 
 
40
 
horizontais e em ângulo reto com a espinha e o torso, os principais segmentos da 
couraça destacados por Fadiman e Fragner (1986), segundo Reich são: 
 
• Olhos: Expressada pela imobilidade da testa e por uma expressão vazia dos 
olhos, tal couraça é dissolvida, abrindo fortemente os olhos, imitando uma 
expressão de espanto para que mobilize as pálpebras e a testa e, de tal forma, 
encorajar a expressão emocional. Os olhos também devem movimentar 
livremente, tanto em círculos como olhando de lado a lado. 
 
• Boca: Inclui os músculos da garganta, parte de trás da cabeça e o queixo. O 
maxilar pode ser demasiadamente preso ou frouxo de uma forma que não é 
natural. A ideia de soltar tal couraça passa por encorajar o paciente a imitar o 
choro, reproduzir sons que mobilizem os lábios e o morder. 
 
• Pescoço: Inclui os músculos profundos do pescoço e a língua. Como essa 
couraça é a responsável por segurar a raiva ou o choro, para soltar tal 
seguimento seria preciso berrar, por exemplo. 
 
• Tórax: Este segmento contém os músculos longos do tórax, os músculos dos 
ombros e da omoplata, toda a caixa torácica, as mãos e os braços. Sua função é 
inibir o riso, a raiva, o desejo e a tristeza. Como consequência, a respiração 
também se torna bloqueada. Assim, além de trabalhar com a respiração, deve-se 
trabalhar a utilização dos braços e das mãos para bater ou rasgar. 
 
• Diafragma: Este segmento abarca o diafragma, o estômago, o plexo solar, os 
vários órgãos internos e os músculos ao longo das vértebras torácicas baixas. 
Sua função é inibir a raiva. 
 
• Abdômen: Inclui os músculos abdominais longos e os músculos das costas, 
relacionada com a inibição do rancor, capaz de produzir instabilidade. 
 
 
 
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• Pelve: Abarca todos os músculos da pelve e membros inferiores. Tal couraça 
serve para impedir a raiva e o prazer, sendo impossível de experimentá-lo antes 
de liberar a raiva contida dos músculos pélvicos. 
 
Para Reich, o crescimento psicológico é um processo de dissolução da nossa 
couraça psicológica e física, o que nos torna seres humanos mais livres e capazes de 
orgasmos plenos e satisfatórios. Porém, citando Fadiman e Fragner (1986): “aprender a 
equilibrar o autocontrole e a livre expressão permanece como parte de um contínuo 
processo de crescimento.” (p. 104) 
 
Da mesma forma, dentro da visão de tal

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