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São Vinculantes os Enunciados da Súmula do TJSP?

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1 
ESCOLA PAULISTA DA MAGISTRATURA 
 
VITOR AUGUSTO HADDAD 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Vinculantes os Enunciados da Súmula do 
Tribunal de Justiça de São Paulo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo - SP 
2020 
 
 
1 
VITOR AUGUSTO HADDAD 
 
 
 
 
 
São Vinculantes os Enunciados da Súmula do 
Tribunal de Justiça de São Paulo? 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Escola 
Paulista da Magistratura, como 
exigência parcial para aprovação no 
9ºCurso de Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ 
– Especialização em Processual Civil 
 
 
Orientadora: Profª. Márcia Helena 
Bosch 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo - SP 
2020 
 
1 
VITOR AUGUSTO HADDAD 
 
 
 
 
 
São Vinculantes os Enunciados da Súmula do 
Tribunal de Justiça de São Paulo? 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Escola 
Paulista da Magistratura, como 
exigência parcial para aprovação no 
9ºCurso de Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ 
– Especialização em Processual Civil 
 
Orientadora: Marcia Helena Bosch 
 
 
 
 
Data de aprovação _________________________________ 
 
 
Nome ________________________________ 
 
 
Titulação ________________________________ 
 
 
 
 
 
___________________________________________________________ 
Avaliador: 
 
 
 
___________________________________________________________ 
Avaliador: 
 
 
 
___________________________________________________________ 
Avaliador: 
 
1 
RESUMO 
 
 
 Com o advento da Lei nº 13.105/2015, o (ainda) novo Código de Processo Civil, 
diversas mudanças foram introduzidas no ordenamento jurídico brasileiro. Dentre elas, a de 
maior relevo, do ponto de vista estrutural do direito, é a instituição de um sistema de 
precedentes no Brasil. Nada obstante, para além do IRDR e IAC, poucos juristas se atentaram 
para o fato de que as Súmulas, ante a novel sistemática, adquiriram contornos de ainda maior 
relevo à consecução do ideal de uniformização da jurisprudência no país. Trata-se, com efeito, 
de algo pouco compreendido. A bem da verdade, esta pesquisa não encontrou estudo algum 
debruçado sobre a questão do efeito que o inciso V do art. 927 do aludido diploma é capaz de 
engendrar quando às súmulas dos Tribunais de Justiça – inclusive quando se fala do TJSP, 
maior Tribunal do mundo em volume de processos. Daí a premência da questão que noutros 
termos aqui se coloca: a Súmula do TJSP é agora vinculante? Veremos que a pergunta é bem 
mais complexa do que a princípio parece. Estudaremos seus fundamentos, contexto e função; 
a dogmática instituída e sua importância para o mundo do civil law. Falaremos sobre a 
eficácia vinculante que exsurge do aludido dispositivo e testaremos sua constitucionalidade. 
Com isso, bem compreendidos sua normatividade e elementos constitutivo, bem como sua 
dinâmica e operação, enfrentaremos a questão que foi colocada – com o que chegamos a uma 
surpreendente conclusão: apesar da vinculatividade, cerca de 25% dos enunciados da súmula 
editada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo se afiguram inaplicáveis. 
 
Palavras-chave: Uniformização da jurisprudência. Súmulas. Precedentes. Efeito vinculante. 
 
1 
ABSTRACT 
 
 With the enactment of Law no. 13.105/2015, the (still) new Code of Civil Procedure, 
several changes were introduced in the Brazilian legal system. Among them, the most 
important from the structural point of view of law, is the institution of a system of precedents 
in Brazil. Notwithstanding, besides the IRDR and IAC, few jurists paid attention to the fact 
that the Súmulas, before the new systematics, took on even greater relevance to the 
achievement of the ideal of standardization of jurisprudence in the country. It is, in fact, 
something little understood. Indeed, this research did not find any study addressing the issue 
of the effect that item V of art. 927 of the aforementioned diploma is capable of generating 
when it comes to the súmulas of the Courts of Justice - including when we talk about TJSP, 
the largest Court in the world in terms of volume of cases. Hence the urgency of the question 
that, in other terms, is posted here: is the Súmulas of TJSP now binding? We will see that the 
question is much more complex than it seems at first. We will study its fundamentals, context 
and function; the instituted dogmatics and its importance to the world of civil law. We will 
talk about the binding effectiveness that emerges from the mentioned instrument legal and test 
its constitutionality. Thereby, well understood its normativity and constitutive elements, as 
well as its dynamics and operation, we will face the question that was posted – which leads us 
to a surprising conclusion: despite the binding effect, about 25% of the enunciations of the 
súmula edited by TJSP appear inapplicable. 
 
Keywords: Uniformity of jurisprudence. Súmulas. Precedents. Binding effect. 
 
2 
SUMÁRIO 
 
I. Introdução ............................................................................................................... 7 
II. Fundamentos para adoção de um sistema de precedentes vinculantes .................. 11 
III. Súmulas: contexto e função .................................................................................. 17 
IV. O sistema de precedentes instituído no Brasil ....................................................... 23 
V. Precedentes vinculantes no civil law? What a challenge! ....................................... 27 
VI. Há no art. 927 um rol de precedentes vinculantes? ............................................... 32 
VII. A constitucionalidade do art. 927 ........................................................................ 37 
VIII. O precedente em si considerado: normatividade e elementos constitutivos ....... 44 
IX. A dinâmica dos precedentes ................................................................................. 52 
X. Da súmula do TJSP enquanto enunciação de precedentes vinculantes .................... 57 
XI. Conclusões ........................................................................................................... 66 
Referências Bibliográficas .......................................................................................... 73 
 
 
7 
I. Introdução 
Dentre as diversas novidades advindas da Lei nº 13.105/2015, que introduziu no 
ordenamento jurídico brasileiro o (ainda) novo Código de Processo Civil – cuja eficácia 
normativa, como cediço, extravasa em muito o âmbito civilista do processo –; a mais 
importante, do ponto de vista estrutural do direito, é a ideia de uniformização da 
jurisprudência enquanto corolário da instituição de um sistema de precedentes no Brasil. 
Foi essa, aliás, a qualificação dada pelo Professor Alexandre Câmara quando 
introduziu o Tema “Sistema de Precedentes e Uniformização de Jurisprudência: Incidente de 
Resolução de Demandas Repetitivas – Incidente De Assunção De Competência (IRDR e 
IAC)”, em palestra ministrada na Escola Paulista da Magistratura no dia 13 de maio de 20191. 
O que faz todo sentido; afinal, trata-se de atribuir à determinados pronunciamentos 
jurisdicionais a qualidade de fonte de direito, para que o mesmo entendimento já exarado seja 
aplicado com equidade a casos análogos – persuasivamente ou com vinculação. 
Trata-se de algo eminentemente novo no Brasil. Recobre-se que o Incidente de 
Resolução de Demandas Repetitivas sequer existia antes do novel diploma. Nada obstante, 
menos de quatro anos depois, só no STJ já são mais de 1.000 temas afetados2. 
Importante notar que a instauração de qualquer dos incidentes de uniformização de 
jurisprudência (IRDR e IAC) têm o condão de causar a suspensão de todos os processos em 
andamento que contenham a mesma controvérsia. O que pode durar anos – e nem sempre 
corresponde à melhor técnica. 
Veja-se, por exemplo, que admitido o incidente, seja ele IRDR ou IAC, deve o relator 
suspender todos os processos pendentes – individuaisou coletivos – que tramitam no Estado 
(art. 982, I do CPC)3. O grande problema é que, não raro, os tribunais demoram para decidir 
 
1 CÂMARA, A. A. F., “Sistema de precedentes e uniformização de jurisprudência: IRDR – Incidente de 
Resolução de Demandas Repetitivas e IAC – Incidente de Assunção de Competência” (palestra), Escola Paulista 
da Magistratura, São Paulo, 13 de maio de 2019. 
2 Em consulta realizada no dia 10/01/2020, esta pesquisa identificou 1.040 temas afetados. 
3 Para o IRDR há expressa previsão de suspensão dos processos (art. 982, I do CPC). Quanto ao IAC, 
não há idêntica regra no art. 947. Contudo, por integrar o microssistema de formação de precedentes vinculantes, 
entende-se que devem ser aplicadas as normas que o compõem. Entendimento esse, aliás, adotado pelo STJ nos 
três primeiros IAC admitidos, onde houve a suspensão dos processos em razão da decisão de admissão (RESP 
1.604.412/SC, RESP 1.303.374/ES e RMS 53720/54712/SP) 
 
8 
sobre os temas afetados – atrasando a solução para milhares de processos que ficam 
paralisados4. 
 Ora, quantos são os entendimentos já sedimentados que deixam de ser observados 
simplesmente porque a eles não se atentou o operador do direito? Quer dizer, sem qualquer 
necessidade de suspensão, simplesmente a organizar a jurisprudência que já é dominante em 
determinado tribunal, podem ser enunciados em sumulas os entendimentos que, pela via 
recursal, se farão de todo modo prevalecer. 
Com efeito, para além do IRDR e do IAC, constituem as súmulas importante – 
conquanto não raro relegado – instrumento disponível à consecução do ideal de 
uniformização da jurisprudência país. 
Nada obstante, é patente a necessidade de uma releitura da ideia mesma de súmulas. 
Acredita-se que, ante a sistemática instituída pelo novel diploma processual, adquirem elas 
potencial que ainda não foi seriamente estudado. 
Sem ousar fazê-lo exaustivamente aqui, pretende este trabalho identificar se é possível 
afirmar que o Código de Processo Civil de 2015 atribuiu efeito vinculante à Súmula do 
Tribunal de Justiça de São Paulo. 
Para tanto, na abertura do estudo, procuramos compreender quais os escopos da nova 
sistemática, sobretudo do ponto de vista da problemática a que se contrapõe como resposta, de 
modo tal a tornar mais claro efetivamente do quê se trata a concepção engendrada pelo 
legislador (capítulo II). Passamos, então, ao instituto que chamamos súmula, buscando 
compreender o sentido de um conceito que traduza seu contexto histórico e principais funções 
(capítulo III). Com isso, espera-se alicerçar uma base teórica segura à compreensão do 
sistema de precedentes instituídos no Brasil (capítulo IV). Veremos que aludido sistema, entre 
 
4 Observe-se que, nos tribunais do Brasil, 2,1 milhões de processos encontram-se paralisados em virtude 
de suas vinculações a temas repetitivos. Segundo dados que integram o relatório “Causas Recorrentes que 
Incham e Atrasam a Justiça”, O TJSP é o Tribunal com o maior número, com 536,2 mil processos sobrestados. O 
dado integra o relatório que o Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do Conselho Nacional de Justiça 
tornou público em 2018. Sobreleva, ademais, que a suspensão dos processos pode durar anos. O caput do art. 
980 do CPC dispõe que “O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais 
feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus”; dão obstante, o parágrafo único 
respectivo excepciona que “superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos prevista no 
art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário” (grifo nosso). (CNJ. Causas recorrentes 
que incham e atrasam a justiça. Departamento de Pesquisas Judiciárias. Brasília. 2018. Disponível em: 
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2018/02/9713790dc724bd649ecc373c44a6b60f.pdf>. Acesso em: 
13 de janeiro de 2020) 
 
9 
nós, ainda é visto com bastante desconfiança; mormente quando encarado como singela 
importação do common law – o que se desmistificaremos no capítulo V. 
Bem assentadas as premissas teóricas, retoma-se com afinco propriamente à questão: 
são vinculantes os enunciados da súmula do TJSP? 
Na aludida palestra, ministrada pelo Professor Alexandre Câmara, a resposta parecia 
ser afirmativa. Ora, posto os enunciados são aprovados pelo Órgão Especial do Tribunal, à luz 
do disposto no inciso V do artigo 927 do CPC, afigura-se bastante razoável a tese pela 
vinculatividade. Ocorre que, à certa altura de sua explanação, o eminente Professor deixa 
bastante claro que não é esse seu entendimento sobre o assunto. Isso porque, no seu entender, 
do caput do art. 927 não advém nenhuma eficácia vinculante – daí a pergunta que se coloca 
no capítulo VI. 
A respondê-la, nos ajuda o Professor Nelson Nery Jr. Ficou bastante marcado quando, 
por ensejo da última da palestra da pós-graduação a que se reporta a vertente monografia, 
reconheceu que “observarão” se trata mesmo de determinação imperativa: “na dura, é 
vinculação”5. Contudo, a conclusão do curso – como em todo bom curso sói ocorrer – se deu 
com mais perguntas do que respostas. É que para Nery a atribuição de tal efeito pelo art. 927 é 
inconstitucional. Daí, aliás, o ensejo irremissível da resposta a que aqui se pretende chegar. 
De todo modo, isso será bastante estudado no capítulo VII. Nada obstante, veremos no 
capítulo subsequente que a problemática da questão enfrentada é ainda mais complexa. Com 
efeito, é importante que se dê destaque para o fato de que a inclusão da súmula do TJSP no rol 
do art. 927 não a torna vinculante; quer dizer que seu precedente originário, aquele que a 
produziu, é vinculante. 
Rectius: a ratio decidendi do precedente que a produziu é vinculante. 
Se no capítulo VIII analisamos o precedente em si considerado, fazendo distinguir 
ratio decidendi e obter dictum, no capítulo IX estudaremos sua dinâmica aplicação – por meio 
 
5 NERY JR., N., “Súmulas vinculantes e impeditivas: consequências e questões processuais” (palestra). 
Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, 21 de outubro de 2019. 
 
 
 
10 
da qual é possível compreender os mecanismos de distinção (distinguish – restritiva ou 
ampliativa) e superação (overruling) de sua normatividade vinculativa. 
O que é essencial à consecução da tarefa a que nos propusemos. Basta notar que a 
observância obrigatória a determinado precedente pressupõe identidade entre casos – o que se 
verifica, a contrario sensu, quando rechaçada hipótese de distinção. Por outro lado, em não 
havendo distinção e em estando a ele vinculado, apenas mediante superação pode o órgão 
prolator se afastar do precedente invocado. Daí a importância de se compreender como os 
precedentes se relacionam entre si e com as demais normatividades a que, em maior ou menor 
grau, se vincula o julgador. 
Chega-se, com isso, ao capítulo X. Nele, cuida-se de derradeiramente enfrentar a 
questão. Ficará ainda mais claro que a súmula de um Tribunal – e seus respectivos enunciados 
– só pode ser compreendida à luz dos precedentes que lhe deram ensejo. Jamais enquanto 
normas gerais e abstratas. Por isso, investigaremos a conformidade dos enunciados sumulares 
emitidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, para que se possa assim finalmente identificar 
o que há – ou não – de vinculatividade. 
Esboçados o escopo e a abordagem da pesquisa, passa-se ao estudo propriamente dito. 
É o que se faz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
II. Fundamentos para adoção de um sistema de precedentes vinculantes 
Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 (Lei nº. 13.105/2015), o sistema 
jurídico brasileiro passa por uma profunda mudança. Um importante aspecto da transição que 
se observa, notadamente,é a adoção expressa da vinculação dos precedentes judiciais tendo 
em vista a consecução do ideal da uniformização da jurisprudência no Brasil. 
Desde a tramitação do projeto no Congresso Nacional, a inovação normativa polariza 
o debate doutrinário sobre o tema. Desperta atenção sobretudo na medida em que, em tese, 
impõe limites de cunho material ao ato de decidir – cuja maior discricionariedade estava 
acobertada pela independência funcional e pelo livre convencimento motivado do magistrado. 
A par disso, para alguns, a ideia de vinculação aos casos precedentes seria uma 
importação inadequada, vinda de uma tradição jurídica notadamente distinta (common law), 
representando uma ameaça de ruptura com os princípios da legalidade e separação de poderes. 
Para outros, a teoria dos precedentes, enquanto fonte de direito, seria intrínseca à tradição 
mesma do civil law, refletindo não mais que um imperativo da racionalidade, coerência, 
segurança jurídica e igualdade. 
Deixe-se de pronto bastante claro que, para esta pesquisa, sendo una a jurisdição no 
Brasil, um só Direito deve ser aplicado no território nacional. Daí que não se pode coonestar 
que casos iguais sejam tratados de forma diferente, a depender da distribuição do feito ou do 
recurso a este ou àquele órgão jurisdicional. Parte-se, com efeito, da premissa de que não se 
pode admitir que a sorte dos litigantes fique a depender do fenômeno da jurisprudência 
lotérica. 
Não obstante, na realidade brasileira, a prática parece ser bastante diferente. 
Há pouco tempo atrás, minha mãe, que é advogada, confessou-me que mentira para 
seu cliente: explicou-lhe que a vitória no processo era incerta; mas que se a justiça era cega, 
não era porque não via, e sim porque lhe importava apenas o peso em cada um de seus pratos 
– e que se fizessem pesar os fatos, o direito seria reconhecido. Confessou que o disse sabendo 
que não era assim. Que no mesmo dia tinha sido intimada acerca de embargos que opusera em 
virtude de manifesto erro material. Que foram rejeitados e sabia que não foram lidos. E que 
sói ocorrer assim. 
Daí a anedota contada na citada palestra pelo Professor Alexandre Câmara, a 
representar o que considera o maior drama na vida de um advogado: 
 
12 
Dr., quais são as chances de vitória? Sei lá, se cair na 1a Vara a senhora 
ganha, se cair na 2a Vara a senhora perde. Agora, se a senhora ganhar, a 
outra parte recorre; se a senhora perder, a senhora recorre – e aí vai pro 
Tribunal. E no Tribunal? Se cair na 1a Câmara a senhora perde, na 2a a 
senhora ganha – e aí pode ir pro STJ. E no STJ? Aí na 1a turma a senhora 
ganha, mas na 2a a senhora perde. Quer dizer, o destino da pessoa depende 
de um sorteio. Não há previsibilidade. E além de não haver previsibilidade, 
não há estabilidade, porque muda tudo o tempo todo.6 
É preciso que se assegure um razoável grau de discricionariedade ao magistrado para 
interpretar as normas e aplicá-las ao caso concreto. Disso não se discorda. Por outro lado, se é 
– ou deve ser – verdade que todos são iguais perante o direito; não se pode admitir que 
pessoas em situações jurídicas idênticas obtenham do judiciário respostas distintas. Tal 
impasse, contudo, só pode ser resolvido pelo critério da razoabilidade e proporcionalidade – o 
que aponta para a prevalência da garantia constitucional da segurança jurídica, da igualdade 
perante a lei, da duração razoável do processo, bem como da lógica de unidade e coerência do 
ordenamento jurídico7. 
Faz-se imprescindível que a atividade jurisdicional seja exercida à luz dos princípios 
constitucionais8. Até porque, tratando-se de princípios, não são “aplicáveis à maneira do 
tudo-ou-nada”9, como ocorre com as normas-legais. Como toda liberdade, não pode a de 
julgar ser tida como absoluta. Cuida-se de garantir equidade e segurança jurídica, com 
estabilidade e previsibilidade nas decisões judiciais. Mormente porque a discricionariedade 
exacerbada atinge a legitimidade mesma do exercício do poder jurisdicional. 
Não obstante, como observa o eminente Professor Alexandre Câmara em sua palestra, 
historicamente, no Brasil, parece aceitável que casos iguais recebam tratamentos diferentes – 
 
6 CÂMARA, 2019. 
7 Nesse mesmo sentido, Humberto Theodoro Jr. pontua que “Vários outros princípios, também 
constitucionais, justificam a uniformização vinculativa dos precedentes jurisdicionais. Se alguma colisão puder 
ser detectada entre eles, a solução jamais será dada à supervalorização do princípio da legalidade ou de 
qualquer outro isoladamente. Esse conflito, apenas aparente, resolve-se, na técnica constitucional, pelo critério 
hermenêutico da proporcionalidade, o qual, na espécie, aponta, razoavelmente, para a prevalência da garantia 
constitucional da segurança jurídica, da igualdade de todos perante a lei, da duração razoável do processo, 
bem como na necessidade lógica de unidade e coerência do ordenamento jurídico”. (THEODORO JR., H. 
Curso de Direito Processual Civil. 50. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 3, 2017. p. 978) 
8 O novo Código de Processo Civil, em seu art. 1º, dispõe que “o processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da 
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”. (BRASIL. Código de Processo 
Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. São Paulo: Editora IASP, 
2015) 
9 DWORKIN, R. Levando os direitos a sério. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 
35 
 
13 
o que, à luz dos princípios basilares de um Estado Constitucional, por certo não pode ser tido 
como natural. Converter-se-ia, com isso, a independência funcional e o livre convencimento 
motivado em escusas para que se admita que juízes diferentes julguem radicalmente diferente 
casos iguais ou muito parecidos. Porque se isso for tido como correto e normal, estar-se-ia a 
dizer que é razoável que exista um direito diferente para cada pessoa. 
É imperativo que se estabeleça um equilíbrio entre legalidade e arbítrio. Sobreleva, 
pois, que o caput do art. 5º da Constituição Federal dispõe que “todos são iguais perante a lei 
sem distinção de qualquer natureza” – deixando manifesto que perante a justiça o tratamento 
isonômico se impõe como princípio norteador elementar; donde dimana, inclusive, o direito 
fundamental à segurança jurídica. 
Entretanto, não se trata de um desafio singelo. 
Observados os dados dos relatórios “Justiça em Números”, produzido pelo Conselho 
Nacional de Justiça, constata-se que se afigura humanamente impossível ao juiz, 
especialmente ao magistrado paulista, apreciar, com a detida atenção que dele se espera, as 
questões que lhe são postas à frente. O que se expressa no gigantismo dos números do 
Tribunal de Justiça de São Paulo: considerado o maior tribunal do mundo em volume de 
processos, o número de demandas corresponde a 26% do total de processos em andamento em 
toda a Justiça brasileira10. No ano-base de 2018, foram cerca de 5,5 milhões de casos novos, 
20 milhões de processos em andamento; contando com mais de 2.700 magistrados e 68.000 
servidores e auxiliares nas suas 320 comarcas11. 
 Vê-se patente, pois, que o volume de demandas que chegam ao judiciário é muito 
maior que a capacidade de o juiz compreendê-las em toda a sua complexidade. Doutra banda, 
o crescente processo de judicialização pelo qual passa nossa sociedade questiona cada vez 
mais sua atuação, tencionando seus limites enquanto Poder – ele próprio cada vez mais 
demandado12. 
 
10 TJSP. Quem Somos. Disponível em: <https://www.tjsp.jus.br/QuemSomos>. Acesso em: 18 de 
janeiro de 2020. 
11 CNJ. Justiça em números 2019. Brasília. 2019. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/arquivo/2019/08/justica_em_numeros20190919.pdf>.Acesso em: 12 de janeiro de 
2020. 
12 Nesse sentido, recorde-se que o Poder Judiciário também atua como um pólo gerador de demandas, 
sobretudo em decorrência (STF, Ministros do STF começam análise de Enunciados de jurisprudência para edição 
de nova súmula (atualizada), 2003) de fatores como a velocidade pela qual responde às demandas que chegam 
 
 
14 
Ademais, fato é que a massificação das demandas judiciais tem cobrado um altíssimo 
preço de toda a sociedade: juízes consumidos pela demanda judicial, advogados frustrados 
pela forma como são respondidas suas razões e jurisdicionados periclitantes quanto ao 
desfecho de sua causa. 
De mais a mais, não se pode ignorar que são milhões de causas repetitivas no país. 
Não se cogita sejam individualmente julgadas – até porque, o escopo da economia processual 
é também a efetividade da jurisdição. A segurança jurídica seria outrossim gravemente 
atingida. Ao contrário do que muitas vezes se espera, juízes não são máquinas. Não obstante, 
a ausência de um procedimento decisório articulado torna absolutamente imprevisível a 
solução que será adotada por este ou aquele julgador. O congestionamento causado, por outro 
lado, afeta também outros processos, que se perdem em meio à massificação de litígios. 
Do ponto de vista do jurisdicionado, afigurando-se injusto que haja desfechos 
completamente distintos para demandas idênticas, a ideia de loterização atua como concausa e 
corolário do déficit de previsibilidade e estabilidade nas relações sociais subjacentes aos 
litígios. Ora, se no civil law a legislação em abstrato pretende traduzir previsibilidade 
(princípio da legalidade), a disparidade das decisões judiciais, a revelar seu conteúdo 
concreto, coloca à prova a coesão do sistema13. Sem segurança jurídica não há pacificação 
social. 
À vista de tal cenário, a ideia de uniformização da jurisprudência tenciona engendrar e 
garantir um padrão mínimo de segurança jurídica e isonomia (pressupostos de natureza 
deontológica), com vistas sobretudo à celeridade processual, desestímulo à litigância e 
solução para causas repetitivas (pressupostos pragmáticos)14. 
Com isso, igualdade perante a jurisdição, racionalidade, previsibilidade, estabilidade, 
confiança, coerência, imparcialidade, economia processual (de processos e de despesas), 
 
até ele, ausência de uniformização jurisprudencial e gerenciamento de processos. (GABBAY, D. M.; et al. 
Diagnóstico sobre as causas de aumento das demandas judiciais cíveis, mapeamento das demandas repetitivas e 
propositura de soluções pré-processuais, processuais e gerenciais à morosidade da Justiça. Escola de Direito da 
Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2010. p. 10. 
13 Como veremos mais adiante, a importância da previsibilidade das decisões judiciais no common law é 
inerente à tradição jurídica e, portanto, ao próprio sistema – daí a força da regra do stare decisis. Nesse sentido, 
Marinoni (2016) explica que “O advogado de common law tem possibilidade de aconselhar o jurisdicionado 
porque pode se valer dos precedentes, ao contrário daquele que atua no civil law, que é obrigado a advertir o 
seu cliente que determinada lei pode – conforme o juiz sorteado”. (MARINONI, L. G. Precedentes 
obrigatórios. 5. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2016. p. 43) 
14 NEVES, D. A. A. Manual de direito processual civil. 9. ed. Salvador: Jus Podivm, 2017. 
 
15 
desestímulo à litigância excessiva, àquela que aposta na jurisprudência lotérica, 
favorecimento de acordos e maior eficiência dos órgãos juriferantes exsurgem também como 
palavras-chave à compreensão dos fundamentos para a adoção de um sistema de precedentes 
no Brasil. 
Observe-se que, considerado o grande volume de recursos que chegam aos Tribunais – 
o que compromete a qualidade da tutela jurisdicional e reflete o alto grau de morosidade e 
incerteza do judiciário –, a correção da decisão digressiva mediante o sistema recursal deve, 
evidentemente, se dar enquanto exceção à regra do stare decisis. Até porque, se o destino de 
determinada decisão, pela via recursal, impreterivelmente será a reforma; não há sentido 
algum seja ela enquanto tal proferida, impondo ao jurisdicionado o ônus de se submeter a 
efeitos que ulteriormente deverão ser revertidos. 
Aliás, conquanto não se confunda com a teoria dos precedentes; é a partir da regra do 
stare decisis que sua aplicação ganha sentido: parte da ideia de vinculação normativa entre o 
que foi decidido e o que o estará sendo agora. Na locução completa: “stare decisis et non 
quieta movere” – algo como “mantenha o já decidido sem causar perturbação”. Como 
explica Zaneti, stare decisis quer dizer concordar com ou aderir a casos já decididos: 
Quando um Tribunal estabelece uma regra de direito aplicável a certos 
conjuntos de fatos considerados relevantes do ponto de vista jurídico, tal 
regra deverá ser seguida e aplicada em todos os casos futuros em que se 
identifiquem fatos ou circunstâncias similares.15 
A presença de um modelo de stare decisis pressupõe, assim, um sistema 
institucionalizado, hierarquicamente organizado, em que haja divulgação e publicação das 
decisões com autoridade e oficialidade. Não se pode olvidar que as decisões adquirem um 
valor normativo para os casos futuros em que sejam identificadas as mesmas circunstâncias 
de fato e de direito. Daí que o acesso ao caso precedente deve ser franqueado da maneira mais 
ampla possível16. 
A regra do stare decisis traduz a ideia de que, para que a ação do Estado frente a 
determinado individuo seja diferente em relação à outra pessoa que a sofreu em circunstâncias 
 
15 ZANETI JR., H. O valor vinculante dos precedentes: teoria dos precedentes normativos formalmente 
vinculantes. 4. ed. Salvador: Jus Podivm, 2016. p. 331. 
16 O §5º do art. 927, aliás, inova ao expressamente consignar que “Os tribunais darão publicidade a 
seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede 
mundial de computadores”. 
 
16 
fáticas semelhantes, deve haver fundamentação adequada que a justifique. Trata-se da 
autovinculação do Poder Judiciário, mediante redução do espaço de discricionariedade dos 
órgãos de decisão isoladamente considerados. Em síntese, cuida-se da uniformização da 
aplicação do Direito à luz de uma teoria própria de precedentes formalmente vinculantes. 
Como oportunamente se verá, é inegável a influência do comom law no sistema de 
precedentes instituído no Brasil. Sem embargo, conquanto importante ponto de partida, não se 
pode cogitar que as formulações sobre o tema sejam meramente transplantadas para a nossa 
realidade. Com efeito, carece o estudo de uma teoria insculpida à luz da tradição jurídica 
brasileira e de seus próprios institutos. 
Nessa senda, antes de proceder à análise de seu efeito vinculante, enquanto 
instrumento de uniformização tipicamente brasileiro, impende um estudo mais detido quanto 
ao conceito de súmula e seus respectivos enunciados, contextualizando sua adoção entre nós e 
suas principais funções. 
 
 
 
 
17 
III. Súmulas: contexto e função 
A ideia de uniformização não é nova entre nós. Já no Brasil Colônia podem ser 
observados mecanismos de uniformizar e racionalizar a atividade jurisdicional. A propósito, 
com tal escopo eram utilizados os chamados Assentos das Casas de Suplicação – instrumentos 
balizadores da jurisprudência brasileira, incumbindo aos juízes de instâncias inferiores 
observar os dispositivos dos Tribunais Superiores portugueses como leis a serem cumpridas17. 
Também à fase republicana não faltou tal intento. Destacam-se os prejulgados da 
Justiça do Trabalho, possibilitando ao TST estabelecer, de forma genérica e abstrata, a 
interpretaçãoreputada adequada ao texto legal18. Aliás, quanto ao tema, quando de sua 
palestra na EPM, Nelson Nery Jr. (2019) comenta que esses prejulgados eram o gérmen do 
que hoje se entende por súmula. 
Nesse sentido, visando racionalizar o trabalho, com base no trabalho do Ministro 
Victor Nunes Leal, propôs-se a adoção de um sistema similar aos assentos expedidos pela 
Casa de Suplicação de Lisboa e aos prejulgados da Justiça do Trabalho, na tentativa de 
alcançar um meio-termo entre a rigidez destes e a ineficiência daqueles19. 
 
17 Os assentos, já consolidados na cultura portuguesa, estavam previstos nas Ordenações Filipinas e na 
Lei da Boa Razão de 1769, nos arts. 4° e 5°. Segundo o Professor Nery Jr. (2019), trata-se da primeira 
experiência de uniformização no direito luso-brasileiro, quando a Casa de Suplicação de Lisboa, antiga Suprema 
Corte de Portugal, emitia entendimentos abstratos, enunciados sob forma de teses, com efeito de legislação. 
Seria o judiciário elaborando um texto que teria vinculação com força de lei – portanto, um texto geral e 
abstrato, que são características de qualquer texto legal. 
18 O prejulgado trabalhista encontrava-se previsto nos artigos 702, alínea f e §1º e 902 §§1º e 2º da CLT, 
e foram objeto de muitas críticas pela doutrina especializada. Veja-se, por exemplo, o comentário de Evaristo de 
Moraes Filho: “Somos dos que admitem a sua inconstitucionalidade, pela verdadeira ditadura judiciária que 
estabelece, de cima para baixo, dando às decisões do TST, neste particular, mais força vinculativa, sem 
qualquer margem de divergência, do que a existente na própria lei”. Posteriormente, aludido instituto veio 
mesmo a ser declarado inconstitucional pelo STF e depois foi revogado. (apud: FERNANDES, E. B. D. O 
legado do ministro Victor Nunes Leal: defesa e construção de uma corte suprema democrática. Prêmio Victor 
Nunes Leal, Rio de Janeiro, 2010. pp. 23-24). 
19 Como observou o próprio Ministro, “As raízes dessa fórmula estão na abandonada tradição 
lusobrasileira dos assentos da Casa da Suplicação e na moderna experiência legislativa dos prejulgados” 
(LEAL, V. N. In: MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2010. p. 1104). Continua o Ministro: “a ‘Súmula’ realizou o ideal do meio-termo, quanto à 
estabilidade da jurisprudência..., ela ficou entre a dureza implacável dos antigos assentos da Casa de 
Suplicação, ‘para a inteligência geral e perpétua da lei’, e a virtual inoperância dos prejulgados” (LEAL, V. N. 
Passado e futuro da 'Súmula do STF'. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981. p. 293). Nesse mesmo sentido, o 
ministro Sepúlveda Pertence, por ensejo da análise de 108 enunciados de jurisprudência do STF para serem 
transformados em súmula, fez em plenário uma breve explanação sobre a origem do instituto: “A Súmula, pode-
se dizer, é um meio-termo entre os antigos assentos da Casa de Suplicação – excessivamente rígidas - e os 
prejulgados de uma de nossas leis processuais que se tem revelado quase completamente ineficaz. Na Súmula, o 
 
 
18 
Aliás, o Professor Nery comenta que quem já visitou o Supremo Tribunal Federal 
certamente se deparou com o nome de Victor Nunes Leal: empresta o saudoso Ministro seu 
nome à biblioteca da Corte Suprema, cujo acervo reúne cerca de 90 mil títulos20. O que não é 
sem motivo. Com efeito, sua passagem pela cúpula do poder judiciário, durante seus oito anos 
de atuação, revela a trajetória de um homem público comprometido em articular técnica 
jurídica com os principais valores democráticos21 – nas palavras de Sepúlveda Pertence, um 
Ministro notabilizado por três dimensões de grandeza: 
A um só tempo, um dos maiores juízes que o Tribunal já teve, o dínamo 
propulsor das inovações mais profícuas nos métodos de trabalho do Tribunal 
[...] por último, nos anos conturbados que sucederam ao Golpe Militar 
de 1964, o seu papel fundamental de advogado do tribunal perante a 
opinião pública, em oposição às tentativas de reformas castradoras 
da independência do Tribunal.22 
 
Supremo Tribunal inscreve em enunciados distintos, devidamente classificados por assunto, o seu entendimento 
sobre as questões mais controvertidas na jurisprudência e sobre as quais o Supremo Tribunal chegou a uma 
opinião firme, em face de sua composição contemporânea, ainda que não compartilhada com todos os 
ministros. Não é uma interpretação obrigatória para os outros Tribunais, mas é um método de divulgação 
oficial de nossa jurisprudência, de consulta e manuseio extremamente fáceis, permitindo aos interessados 
conhecer, de imediato, sobre as questões compendiadas na Súmula, qual é o pensamento atualmente dominante 
no Supremo Tribunal” (STF. “Ministros do STF começam análise de Enunciados de jurisprudência para edição 
de nova súmula (atualizada)”. Notícias STF, Brasília, 28 de agosto de 2003. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=61153>. Acesso em: 18 de janeiro de 
2020). 
20 STF. “Pesquisa ao acervo”. Biblioteca, 2018. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/ 
verTexto.asp?servico=bibliotecaConsultaAcervoStf>. Acesso em: 18 de janeiro de 2020. 
21 Nomeado ao cargo pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, Victor Nunes Leal foi empossado como 
Ministro do STF em 1960, onde serviria até janeiro de 1969; quando, por ordem do governo de Artur da Costa e 
Silva, no gozo de poderes irrestritos de ingerência no Legislativo e no Judiciário, à força do fatídico AI-5, foi 
aposentado compulsoriamente pelo regime militar. O que, em tempos autoritários, só valoriza seu currículo. 
Nesse sentido, veja-se o voto proferido pelo Ministro, atribuindo aos Atos Institucionais categoria inferior às 
normas inscritas na Constituição: “Não é possível haver, simultaneamente, dois regimes constitucionais. Antes 
da constituição, havia, por exemplo, uma tramitação legislativa estabelecida em ato institucional. A Constituição 
estabeleceu outra. Pelo fato de ter a Constituição aprovado os atos institucionais, podem subsistir os dois 
processos legislativos? Evidentemente não. Vigora somente o da Constituição. E a razão disso é que os atos 
praticados pelo Governo Revolucionário, e que se projetavam para o futuro, não foram aprovados em todo o seu 
conteúdo. Essas suas consequências ulteriores estão sujeitas ao que a respeito dispõe a Constituição. O país não 
foi constitucionalizado pela metade. A Constituição substituiu inteiramente a ordem pré-constitucional. Ao 
ressalvar atos anteriores, referiu-se aos efeitos já produzidos, mas não criou dois sistemas constitucionais, porque 
isso seria uma aberração. Não pode haver, no regime constitucional, um outro sistema de normas que o Supremo 
Tribunal tenha de aplicar contra a letra e o espírito da Constituição”. (FERNANDES, 2010, pp. 23-24) 
22 SEPÚLVEDA PERTENCE, J. P., “A obra de Victor Nunes Leal” (palestra), Simpósio da Advocacia 
Pública, Brasília, 27 de novembro a 1º de dezembro de 2000. Disponível em: 
<www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/A_OBRA_DE_VICTOR_NUNES_LEAL.pdf>. Acesso 
em: 14 de janeiro de 2020. 
 
19 
 Consignado esse registro histórico, tão importante de se salientar no tempo em que 
vivemos, observe-se que, em notas ditadas ao jornalista Edísio Gomes de Matos, em agosto 
de 1964, Victor Nunes já apontava dois problemas graves nos trabalhos do Supremo Tribunal 
Federal: o primeiro, o desconhecimento de suas decisões, causado pela divulgação falha de 
seus julgamentos; o segundo, o acúmulo de serviço, principalmente de processos com 
questões jurídicas repetitivas. Anote-se que na época os Ministros julgavam cerca de 7.000 
processos por ano23 – número que em 2018 chegou a 125.00024. 
Interessantenotar, segundo relatos do próprio jurista, que havia grande dificuldade na 
identificação das matérias que a jurisprudência da Corte já estava pacificada. Não obstante, 
Alexandre Câmara conta que o Ministro Victor Nunes Leal, quando de seu ingresso, ficou 
impressionado como os ministros mais velhos citavam de cabeça julgamentos antigos. 
Preocupado com sua assumida falta de memória, começou a levar um caderno para as sessões 
e a anotar todos os julgamentos que achava importantes. Fazia uma espécie de síntese dos 
julgamentos que achava relevante numa frase e as ia numerando. À medida que o tempo foi 
passando, a funcionalidade do caderninho, que só fazia crescer, chamou a atenção dos demais 
ministros – que sugeriram oficializar, dando publicidade àquilo como um pequeno resumo do 
que era a jurisprudência dominante da Corte25. 
Daí a Súmula da Jurisprudência Predominante do STF, com enunciados sintéticos e 
capazes de consubstanciar a essência do entendimento anteriormente firmado – como 
rememorou o eminente Ministro em uma conferência realizada em Santa Catarina no ano de 
1981, atribuindo a origem das súmulas à sua própria falta de memória: 
Por falta de técnicas mais sofisticadas, a Súmula nasceu – e colateralmente 
adquiriu efeitos de natureza processual – da dificuldade, para os Ministros, 
de identificar as matérias que já não convinha discutir de novo, salvo se 
sobreviesse algum motivo relevante. O hábito, então, era reportar-se cada 
 
23 DIAS, M. G. B. Controle de constitucionalidade e política judiciária: evolução histórica das súmulas 
no Supremo Tribunal Federal. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 44, n. 173, janeiro/março de 2007. 
pp. 175-191. 
24 COELHO, G. “STF recebeu 100 mil processos em 2018 e julgou 125 mil, mostra balanço”. Conjur, 
2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-dez-19/stf-recebeu-100-mil-processos-2018-julgou-124-
mil>. Acesso em: 15 de janeiro de 2020. 
25 Alexandre Câmara (2019) aponta que o substantivo suma aparece no inciso I do 489 do CPC, 
empregado no sentido de síntese, resumo. Recorda que diminutivo de suma é sumula – assim, um pequeno 
resumo. Nesse sentido, aliás, parece a acepção empregada no art. 158 do Regimento Interno do TJSP, ao dispor 
que “Do acórdão constarão [...] III - a súmula do que ficar decidido, inclusive em questão de ordem, preliminar 
e agravo retido”. 
 
20 
qual à sua memória, testemunhando, para os colegas mais modernos, que era 
tal ou qual a jurisprudência assente na Corte. Juiz calouro, com a agravante 
da falta de memória, tive que tomar, nos primeiros anos, numerosas notas, e 
bem assim sistematiza-las para pronta consulta durante as sessões e 
julgamento. Daí surgiu a ideia da Súmula [...] Por isso, mais de uma vez, 
tenho mencionado que a Súmula é subproduto de minha falta de memória, 
pois fui eu afinal o relator não só da respectiva emenda regimental, como 
dos seus primeiros 370 enunciados.26 
Assim, inspiradas nos assentos da casa de suplicação e nos prejulgados da justiça do 
trabalho, nascidas das anotações que fazia durante as sessões do pleno para remediar a falta de 
memória do saudoso Ministro – cujo caderno, aliás, encontra-se hoje em exposição na 
biblioteca do STF –, as súmulas se encontram hoje difundidas no Supremo Tribunal Federal e 
em todos os Tribunais do Brasil. 
Consubstanciadas em enunciados sintéticos a expressar o entendimento sedimentado 
do órgão juriferante a que se refere, têm por escopo sobretudo – em sua concepção original, 
tal como agora – trazer isonomia, segurança e celeridade à atividade jurisdicional. 
Note-se que a expressão súmula deriva de “Súmula da Jurisprudência Predominante 
do Supremo Tribunal Federal” – e que, na linguagem regimental, refere-se não a cada 
enunciado, mediante o qual o Tribunal expressa sua orientação dominante acerca de 
determinada questão, mas ao conjunto dos enunciados. Como explicou o Professor Alexandre 
Câmara, não se diz súmula x; mas enunciado x da súmula tal27. Súmula é o todo, enquanto 
cada enunciado é uma parte. Não obstante, como bem pontua Nelson Nery, sói empregarmos 
a parte pelo todo, uma sinédoque – o que não traduz qualquer problema, tratando-se de uma 
figura de linguagem plenamente admissível28. 
De todo modo, como vimos, primeiro tivemos os assentos, depois os prejulgados, e 
então as súmulas introduzidas por influência do Ministro Victor Nunes Leal, em meados da 
década de 6029. Até aqui, tem-se a súmula de uma Corte composta dos diversos verbetes que a 
integram, enunciados a representar a jurisprudência sedimentada, atuando no campo 
pedagógico e na aplicação mesma do direito. 
 
26 INSTITUTO VICTOR NUNES LEAL. A contemporaneidade do pensamento de Victor Nunes Leal. 
São Paulo: Saraiva, 2013. p. 9. 
27 CÂMARA, 2019. 
28 NERY JR., 2019. 
29 Precisamente em 1963, por emenda regimental do Supremo Tribunal Federal, em 30 de agosto de 
1963, sendo que os 370 primeiros enunciados foram publicados em 1º de março de 1964. 
 
21 
Mas é com a introdução do efeito vinculante que o sistema ganhará maiores contornos. 
No ano de 1994, quando da revisão constitucional, surgiu a primeira proposta de 
adoção da súmula vinculante; mas seria apenas em 2004, por ensejo da EC n.º 45, que o efeito 
vinculante viria a ser implementado no Brasil – nos termos do art. 103-A, regulamentado pela 
Lei n.º 11.417, de 19 de dezembro de 2006. Cita-se: 
Art. 2º: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, 
após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, editar enunciado de 
súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito 
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma 
prevista nesta Lei. 
Assim, à súmula que deita raízes nos assentos da Casa de Suplicação, dotada de perfil 
indiretamente obrigatório (persuasivamente ou pela via recursal, enquanto instrumento de 
autodisciplina do Supremo Tribunal Federal, a quem incumbia afastar a orientação nela 
preconizada de forma expressa e fundamentada, à força de sua vinculatividade horizontal), 
acresceu-se a súmula vinculante, consagrada na Emenda n. 45/2004. 
Como o próprio nome sugere, diferencia-se na medida em que o acórdão exarado tem 
o condão de vincular diretamente os órgãos judiciais e os órgãos da administração pública 
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal; abrindo a possibilidade de que 
qualquer interessado faça valer a orientação do Supremo – não só pela via recursal, mas 
também pela apresentação de reclamação por descumprimento de determinação judicial 
expressa30. 
Importante destacar que a principal característica do aludido enunciado sumular é que 
o efeito vinculante não se restringe ao próprio Supremo Tribunal Federal; atingindo, para 
além dos demais órgãos do Poder Judiciário, a administração pública direta e indireta, nas 
esferas federal, estadual e municipal31 – o que, como se verá adiante, terá importante 
repercussão no exame acerca da constitucionalidade de o efeito vinculante ser atribuído por 
lei federal. 
 
30 MENDES, G. In: RENAULT, S. R. T.; BOTTINI, P. Reforma do Judiciário. São Paulo: Saraiva, 
2005. p. 344. 
31 DIDIER JR., F.; BRAGA, P. S.; OLIVEIRA, R. A. Curso de direito processual civil: teoria da prova, 
direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10. 
ed. Salvador: Jus Podivm, v. 2, 2015. p. 508. 
 
22 
De todo modo, por ora, basta que se compreendam as súmulas como conjuntos de 
enunciados, exarados por determinado Tribunal, que vinculativa ou persuasivamente se 
reportam à orientação dominante acerca de determinada questão.23 
IV. O sistema de precedentes instituído no Brasil 
Ronaldo Cramer (2016), ao formular sua teoria dos precedentes judiciais no Direito 
Processual Brasileiro, observa que compõem o sistema de precedentes instituído pelo novel 
diploma processual: a necessidade de fundamentação adequada para aplicar ou rejeitar o 
precedente (art. 489, §1º, incisos V e VI); enunciação de deveres dos tribunais para viabilizar 
o funcionamento do sistema (uniformidade, estabilidade, integridade e coerência, conforme o 
caput do art. 926); instituição do rol de precedentes vinculantes (caput do art. 927); imposição 
de contraditório prévio para a aplicação do precedente vinculante (§1º do art. 927); 
possibilidade de designação de audiências públicas e participação de amici curiae para 
qualificar o procedimento de superação do precedente; previsão da modulação dos efeitos da 
superação do precedente (§3º do art. 927); obrigatoriedade de fundamentação adequada e 
específica para a superação do precedente (§4º do art. 927); abreviação do procedimento com 
base em precedentes (como, por exemplo, o julgamento de improcedência liminar do pedido 
(art. 332) e a decisão do relator no âmbito recursal (art. 932, IV); determinação para os 
tribunais organizarem e publicarem a lista de presidentes emitidos por matéria decidida (§5º 
do art. 927); e aumento do escopo da reclamação, para abranger expressamente as hipóteses 
de decisão que não aplica precedente vinculante (art. 988). 
Em sua palestra32, o Professor Alexandre Câmara demonstrou grande entusiasmo com 
aludido sistema. Confessou tratar-se de temas que lhe eram especialmente caros por diversas 
razões – e elencou algumas delas. Primeiro, por serem temas novos, que sempre lhe 
encantam, por ser um curioso do Direito; segundo, por serem temas afetos a pesquisas 
recentes que geraram um livro de sua autoria33; terceiro, porque teve a honra de integrar a 
comissão de juristas que assessorou a câmara de deputados na elaboração do novel diploma; 
e, ainda, porque tem vivido na prática a experiência de julgar IRDR e IAC. 
Assim, com a autoridade de quem, de certo modo, participou da gestação desses 
institutos, o Professor Alexandre Câmara fala em dever de uniformização. 
 
32 CÂMARA, 2019. 
33 Trata-se da obra “Levando os padrões decisórios a sério: Formação e Aplicação de Precedentes e 
Enunciados de Súmula” da editora Atlas (São Paulo, 2018). 
 
24 
Por que um dever? “Pela simples razão de que no Brasil, historicamente, considera-se 
absolutamente natural que casos iguais recebam tratamentos diferentes”. Segundo o 
Professor, achamos normal que juízes diferentes julguem radicalmente diferentes casos iguais 
ou muito parecidos, e começamos a inventar desculpas para isso. Daí a ideia de um sistema 
de padronização decisória34 – termo que se refere a um gênero que é composto por duas 
espécies: os enunciados de súmulas e os precedentes propriamente ditos. 
Ponto de partida à sua adequada compreensão é o caput do artigo 926: “Os tribunais 
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. 
Anote-se que o vocábulo jurisprudência pode ser entendido em diversas acepções. 
Pode se referir tanto à ciência do Direito; quanto à atividade dos tribunais genericamente 
considerada e; ainda, ao entendimento reiterado do(s) tribunal(is) sobre determinada 
questão35. Interessa-nos especialmente esse último sentido, dado seu usual emprego como 
sinônimo de precedente e sua relação com o enunciado de súmula. 
Conquanto não raro se faça confusão, a diferença entre precedente e jurisprudência é 
bastante singela – praticamente quantitativa: um precedente, quando reiteradamente aplicado, 
se transforma em jurisprudência; que, se predominar no tribunal, pode ensejar a edição de um 
enunciado de súmula. Nesse sentido, “a súmula é o enunciado normativo (texto) da ratio 
decidendi (norma geral) de uma jurisprudência dominante, que é a reiteração de um 
precedente”36. 
Assim, temos: julgado > precedente > jurisprudência > súmula37. 
Com isso, aliás, mais bem compreendida a terminologia empregada no inciso VI do 
§1º do art. 489 do CPC38. Aludida dinâmica será melhor abordada em momento oportuno – 
 
34 Para o ilustre professor, tal expressão se afigura bastante adequada – até porque é a expressão que 
aparece no texto d art. 966, §5º do CPC. 
35 CRUZ E TUCCI, J. R. Precedente Judicial como Fonte do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2004. p. 72. 
36 DIDIER JR., BRAGA, & OLIVEIRA, 2015, p. 487. 
37 Nas palavras de Alexandre Câmara: “Uma vez identificada uma linha de jurisprudência firme, 
constante, a respeito de algum tema, caberá ao tribunal que a tenha firmado editar um enunciado de súmula 
(art. 926, § 1º). A súmula de jurisprudência dominante é um resumo da jurisprudência dominante de um 
tribunal. Tal resumo é formado por verbetes ou enunciados, os quais indicam o modo como aquele tribunal 
decide certas matérias”. (CÂMARA, A. A. F. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 
435-436) 
 
25 
quando já delineado o conceito de precedente e seu elemento nuclear, qual seja a ratio 
decidendi do julgado. Por hora, retomado o que foi visto nos capítulos anteriores, vale 
destacar que o quê o artigo 926 do CPC estabelece são deveres gerais no âmbito da 
construção e manutenção de um sistema de precedentes (jurisprudência e súmula) capaz de, 
persuasiva ou vinculativamente, racionalizar o processo decisório nos tribunais – daí a 
uniformização da jurisprudência enquanto vetor da estabilidade, integridade e coerência no 
judiciário. 
Mais uma vez: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-
la estável, íntegra e coerente”. O dever de uniformização pressupõe que, havendo divergência 
interna sobre idêntica questão jurídica, incumbe ao tribunal pacificar seu entendimento sobre 
o assunto. Não pode ele quedar-se omisso. O dever de mantê-la estável, por sua vez, consiste 
na ideia de continuidade do entendimento firmado – que só deverá ser alterado mediante o 
impacto de forte carga argumentativa39. Há, ainda, o dever de integridade e o dever de 
coerência. Juntos, traduzem o ideal de consistência no sistema. 
Nele, é o artigo 927 que se põe a prever a observância aos precedentes pelos juízes e 
tribunais – expressamente a consignar que deverão ser observadas (I) as decisões do Supremo 
Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; (II) os enunciados de 
súmula vinculante; (III) os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de 
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial 
repetitivos; (IV) os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria 
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; (V) a 
orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados40. 
 
38 Cite-se o artigo para que melhor se conheça do quê se trata: “Art. 489 [...] §1º Não se considera 
fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que [...] VI - deixar de 
seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de 
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento”. 
39 Didier fala da “inércia argumentativa” para o afastamento de um precedente, princípio segundo o 
qual a modificação de um entendimento sedimentado pressupõe razões extras até então na cogitadas ou 
enfrentadas. Nesse sentido, destaca que “mais do que norma infraconstitucional (art. 489, §1º, V e VI, CPC), a 
‘inércia aumentativa’ encontra-se implicitamente consagrada na Constituição como exigênciade uniformidade 
jurisprudencial que garanta: i) igualdade de tratamento para casos afins( art. 5º, caput, CF); ii) motivação 
adequada tanto para decisão que aplica como para aquela que afasta o precedente art. 93, IX, CF); e iii) de 
contraditório, que pressupõe o direito de conhecer essa motivação para questioná-la por meios de impugnação 
cabíveis (art. 5º, LV, CF)”. (DIDIER JR., BRAGA, & OLIVEIRA, 2015, p. 475) 
40 Anote-se que não se trata de rol exaustivo. A propósito, Ronaldo Cramer observa que o próprio CPC 
traz outra hipótese de eficácia vinculante: conforme §8º do art. 1.035 do NCPC, a decisão do Supremo sobre 
 
 
26 
Todas as hipóteses previstas nos incisos do aludido dispositivo se reportam à ideia de 
introdução de um sistema de precedentes no Brasil – inclusive o enunciado de súmula, 
porquanto compreendido à luz do precedente que o forjou. 
Destaque, para além dos artigos 926, 927 e 928, ao art. 489, §1º, V e VI do CPC – 
essencial, como veremos mais adiante, à operabilidade dos precedentes pelo julgador. 
Integram o sistema, ainda, as hipóteses de improcedência liminar do pedido constantes do art. 
332 e o desprovimento recursal monocrático pelo relator (art. 932, IV). 
Anote-se, ainda, a possibilidade de efeitos retroativos, mediante ação rescisória, para a 
decisão do STF referida no §12 do art. 525 (§15 do citado dispositivo); o aumento do escopo 
da reclamação (art. 988); e também o teor do inciso V do art. 966, a sugerir que, em se 
tratando de norma jurídica, seja ela “norma-lei” ou “norma-precedente”, seria cabível ação 
rescisória. 
Eis a síntese, do ponto de vista legislativo, do sistema de precedentes instituído no 
Brasil. Ocorre, sem embargo, que a utilização de um sistema de precedentes, entre nós, ainda 
é vista com enorme desconfiança. Mormente porque, até então, era tomada como construto 
típico do common law. 
O que nos leva ao próximo capítulo. 
 
 
inexistência de repercussão geral tem força vinculante para todos os recursos extraordinários com a mesma 
matéria. (CRAMER, R. Precedentes judiciais: teoria e dinâmica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 192) 
 
27 
V. Precedentes vinculantes no civil law? What a challenge! 
O Professor Alexandre Câmara propõe uma definição simples para uma ideia 
complexa: precedente é uma decisão proferida em um caso anterior que serve de base para a 
construção de uma decisão de um caso posterior. Assim: 
Quando eu vou julgar um caso e digo ‘estou julgando dessa maneira com 
base no que se decidiu naquele outro caso’, aquele outro caso, que foi 
decidido antes, é precedente – e serve de base para a construção da decisão 
do novo caso [...] a definição que se encontra na obra de Alexy: ‘precedente 
é uma decisão proferida em um caso anterior e que serve de base para a 
construção do julgamento de um caso posterior’.41 
 Fazendo uma reflexão sobre a construção desse sistema na tradição jurídica brasileira, 
observou que: 
Nós no Brasil sempre falamos em precedente, sempre dissemos isso, só que 
nós nunca lidamos com os precedentes do mesmo modo como os 
precedentes foram trabalhados na tradição jurídica do commom law. O 
direito brasileiro foi caminhando para construir um sistema de precedentes 
vinculantes, que nós aqui nunca tínhamos tido – e eles lá no common law 
têm há muito tempo, desde o século XVIII. Daí surgiu uma ideia que se 
espalhou como um vírus, de que o Brasil estaria migrando para uma espécie 
de common law, uma espécie de commonlização. 
À certa altura de sua exposição, o Professor Alexandre Câmara relembra uma 
emblemática situação pela qual passou em 2015, em Istambul, quando da última edição do 
Congresso Mundial de Direito Processual. Em conversa com o Professor Oscar G. Chase, um 
dos grandes nomes da ciência processual norte americana, sabendo da aprovação no Brasil de 
novel Código de Processo Civil, iniciou um interessante diálogo: 
Qual é a maior novidade desse código? 
Precedentes. 
Precedentes vinculantes? 
Precedentes Vinculantes. 
No civil law? 
É, no civil law. 
What a challenge – que desafio! 
Ao relembrar o diálogo, o Professor destaca que não passou pela cabeça de seu 
interlocutor perguntar se tínhamos nos tornado um país de common law. A questão é 
 
41 CÂMARA, 2019. 
 
28 
notadamente outra: “vocês vão trabalhar com precedentes vinculantes na tradição de civil 
law?”. Ora, é muito mais razoável supor que nós, do civil law, importamos um instituto, do 
que imaginar que migramos para outra tradição. 
Uma outra passagem interessante que o Professor Alexandre Câmara relembra em sua 
palestra aconteceu em 2018, no congresso do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual 
– quando o Professor Fernando Gascón, da Universidade de Madrid, manifestou sua 
curiosidade em entender como o Brasil estava trabalhando com precedentes no civil law: 
Tem gente no Brasil dizendo que a gente virou common law. 
Ele olhou pra mim e falou: como assim? No Brasil tem precedente 
vinculante? 
Tem – e parecia que ele já tinha lido meu livro antes de perguntar. 
E quem diz que o precedente vincula? 
A lei. 
Pronto, matamos a charada. 
Ora, no direito inglês, tal como nos EUA, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e 
Canadá, a resposta naturalmente seria: vinculam porque vinculam!42. Vinculam porque é 
costume – grande fonte do direito. Aqui, entre nós, o juiz segue o precedente porque a lei diz 
que vincula. E a mesma lei que cria a vinculação cria um mecanismo para atacar a decisão do 
juiz que não segue o precedente vinculante. É a reclamação. Porque já se sabe, de antemão, 
que alguns juízes não irão observar o precedente. Como explica o ilustre Professor, trata-se de 
culturas jurídicas diferentes. E Direito é cultura. É tradição43. Assim, não viramos um país de 
common law; criamos um sistema de precedentes no civil law. 
 Para Câmara, a boa – ou a má – notícia é que o mundo do civil law está todo olhando 
atentamente para nós. Se aqui der certo, dado que a dispersão de entendimentos não é uma 
exclusividade brasileira, países como a França e a Itália tendem a copiar. Se der errado, 
ninguém vai tentar. Nisso, somos pioneiros. 
 
42 Cabe, aqui, relembrar mais uma passagem contada pelo Professor Alexandre Câmara, que muito tem 
a dizer acerca do feito vinculante dos precedentes nos países do common law. Conta que certa vez Teresa Arruda 
Alvin teria perguntado ao Professor Neil Andrews o que acontece quando um juiz na Inglaterra não observa um 
precedente: “nunca aconteceu de ter um precedente e o juiz dizer que não concorda com ele e que não ira 
aplicar? Não. Mas porque que não acontece? Uma obviedade muito grande: Porque precedentes vinculantes 
vinculam”. 
43 Aqui entendida “tradição” como um “conjunto de atitudes fundamentais, profundamente arraigadas, 
historicamente condicionadas, sobre a natureza do direito, sobre seu papel na sociedade e no corpo político, 
sobre as operações adequadas de um sistema legal, sobre a forma que se faz ou se deveria fazer, aplicar, 
estudar, realizar e ensinar o direito” (ZANETI JR., 2016, p. 41). 
 
29 
Não é que não haja algum tipo de vinculação a precedentes em outros países do civil 
law, mas a ideia de sistema de precedentes vinculantes foi criada pelo CPC do Brasil. 
Criamos um conceito brasileiro de precedente. Nele, como o precedente vinculante é previsto 
na lei, já se sabe, desde logo, como ele se forma. Daí, por exemplo, a técnica de afetação de 
determinado tema para julgamento sob o rito dos repetitivos: suspenda-se o processamento de 
todos os processos pendentes que versem sobre a questão e tramitem no território nacional 
(art. 1.037, II do CPC). 
Quer-se com isso dizer que a formação de um precedentevinculante ocorre 
deliberadamente – i.e., há uma formação dolosa, propositada de produzir um precedente que 
vincule juízes e tribunais aos fundamentos determinantes de suas razoes de decidir. Ao 
contrário do precedente vinculante do common law, onde um precedente só é tido como tal a 
partir de seu emprego pelo juiz do caso seguinte. Entre nós, quem diz que precedente é 
precedente é o juiz do caso precedente. 
Câmara destaca que isso traz uma vantagem: como o tribunal, no momento em que o 
produz, sabe que seu pronunciamento constituirá uma diretriz decisória que subordinará casos 
futuros, pode-se construir desde pronto um procedimento próprio que seja 
constitucionalmente mais adequado para produzir esse resultado. Nesse sentido, por exemplo, 
a ampliação subjetiva do contraditório. 
Quando do julgamento de Marbury vs Madison, a preocupação era julgar aquele 
processo. Foram ouvidos o Marbury e o Madison. Aqui, sabendo-se de pronto que a afetação 
de um tema, pela sua inerente repetibilidade, afetará um número elevado de pessoas, pode-se 
trazer mais gente para o debate. Trata-se de potencializar sua eficácia constitucional. A 
ampliação subjetiva, mediante audiência pública, amicus curiae, deliberação qualificada no 
Tribunal, etc, nesse sentido, mira tornar constitucionalmente legítimo que o jurisdicionado se 
submeta àquele resultado. 
Trata-se, assim, da recepção dos precedentes como fonte formal do direito44. 
Recepção, em si, que não é novidade entre nós. A doutrina, a bem da verdade, não se 
preocupa comumente em tratar o tema com a devida profundidade – pressupondo que nossa 
 
44 Ibid., p. 73. 
 
30 
tradição remonta, sem maiores complexidades, ao civil law. Não obstante, observa-se que o 
ordenamento jurídico brasileiro combina, historicamente, desde 1891, ambas as matrizes. 
Isso porque a Constituição Republicana de 1981, como explica Zaneti Jr., recepcionou, 
por influência direta de Rui Barbosa, o direito constitucional norte-americano – e, por 
conseguinte, o controle de constitucionalidade e a unicidade da jurisdição. Nesse mesmo 
sentido, observa que a primeira Constituição da República 
Inovou no sistema jurídico nacional, ao trazer influências do direito norte-
americano, e inseriu peculiaridades que, entre nós, geraram um sistema 
jurídico híbrido. O cruzamento ocorreu entre a ‘tradição’ do como ao norte-
americano, que inspirou nossa ordem político-constitucional republicana, e a 
‘tradição’ romana germânica, predominante na Europa continental, do qual 
se recepcionou o direito privado, o direito público infraconstitucional 
(processual e administrativo) e o Direito Penal e processual Penal.45 
Mas há uma influência recíproca. O que se verifica, a bem da verdade, é a 
aproximação entre essas duas grandes tradições do mundo ocidental: de um lado, no common 
law, são cada vez mais frequentes as normas que advêm de textos legais positivados; ao passo 
que os países da família romano-germânica têm dado relevância cada vez maior à regra do 
stare decisis e sua conformação a partir da dinâmica dos precedentes46. 
Nesse mesmo sentido, para Zaneti Jr., a antiga contraposição entre a jurisprudência do 
code based legal systems e a jurisprudência dos judge-made law systems não tem mais lugar: 
“os ordenamentos jurídicos, em ambas tradições, evoluíram muito, no sentido de diminuírem 
a tensão original, de tal sorte que já não é mais legítimo ou realista falar em 
incompatibilidade paradigmática entre os dois grandes ramos do direito ocidental”47. 
Até porque, não há sistema jurídico que prescinda dos precedentes judiciais na 
aplicação do Direito: todo sistema carece de racionalidade e coerência. Equidade e segurança 
jurídica, ademais, são vetores essenciais quando se pensa em Estado de Direito. 
Afastada essa incompatibilidade, cresce o movimento de conjugação. 
 
45 Ibid., p. 40. 
46 Aliás, sem que haja igualdade perante as decisões judiciais não há segurança jurídica – daí que um 
sistema de precedentes é inerente à tradição mesma do civil law. O que muda, assim, é a relevância dada aos 
institutos. Ante uma interdependência cada vez maior, é natural que haja um movimento de convergência entre 
eles. Veja-se, por exemplo, que o ingresso da Inglaterra na Comunidade Europeia fez emergir a necessidade de 
observância à normas internacionais, o que ensejou uma maior produção de leis. 
47 Ibid., p.108. 
 
31 
Resta compreender qual a contribuição que o sistema de precedentes instituído no 
Brasil tem a oferecer. Nessa senda, interessa-nos precipuamente o tratamento dado à eficácia 
vinculativa dos pronunciamentos elencados no art. 927 do CPC – afinal, não se perca que nos 
interessa saber se são vinculantes os enunciados da súmula do TJSP. 
 
 
32 
VI. Há no art. 927 um rol de precedentes vinculantes? 
Até aqui, tudo parece indicar que exsurge sim eficácia vinculante dos enunciados da 
súmula do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ora, considerando-se que tais enunciados são 
aprovados pelo Órgão Especial do aludido Tribunal48, à luz do disposto no inciso V do artigo 
927 do CPC, parece perfeitamente razoável a tese pela vinculatividade. 
Perceba-se que, no centro da discussão, está a vinculação, para além do próprio 
Tribunal (vinculação horizontal), de juízes hierarquicamente inferiores (vinculação vertical). 
Não obstante, à certa altura de sua palestra, assevera o Professor Alexandre Câmara que “a 
súmula é de comprimento obrigatório aos membros do tribunal que a emitem; conquanto 
persuasiva em relação ao juiz”. Isso porque, no seu entender, o caput do art. 927 nada dispõe 
quanto à vinculatividade: 
É equivocado, data venia, pensar que tal eficácia resultaria do fato de que o 
texto normativo do caput desse dispositivo afirma que os juízes e tribunais 
observarão o que consta dos incisos do aludido artigo de lei. A exigência, 
contida no caput do art. 927, de que os órgãos jurisdicionais observarão oque 
ali está elencado indica, tão somente, a exigência de que tais decisões ou 
enunciados sumulares sejam levados em conta pelos juízes e tribunais em 
suas decisões. Em outras palavras, o art. 927 cria, para juízes e tribunais, um 
dever jurídico: o de levar em consideração, em suas decisões, os 
pronunciamentos ou enunciados sumulares indicados nos incisos do art. 927. 
Daí não resulta, porém, qualquer eficácia vinculante. Esta, quando existente, 
resultará de outra norma, resultante da interpretação de outro dispositivo 
legal (e que atribua expressamente tal eficácia). Não existindo essa outra 
norma, atributiva de eficácia vinculante, e a decisão ou o enunciado sumular 
será meramente persuasivo, argumentativo (e, portanto, não vinculante), o 
que gerará, para juízes e tribunais – obrigados a observá-los em suas 
decisões – um ônus argumentativo. 49 
Recobre-se que o Direito brasileiro conhece dois tipos de precedente: aqueles 
vinculantes, de aplicação obrigatória, não podendo o órgão jurisdicional a ele vinculado 
decidir de forma contrária; e aqueles persuasivos, meramente argumentativos, impondo 
apenas fundamentação específica para justificar sua não aplicação50. 
 
48 Consoante §1º do art. 190 do Regimento Interno do TJSP, “As súmulas serão aprovadas pelo Órgão 
Especial, que as editará, com exclusividade [...]”. 
49 CÂMARA, 2017, p. 454. 
50 Para Câmara (ibid.) “havendo um precedente vinculante, e se deparando o órgão jurisdicional a ele 
vinculado com um novo caso ao qual tal precedente se aplica, não é legítimo decidir de modo diferente. Não 
sendo, porém, vinculante o precedente, é admissível decisão conflitante, desde que isso se faça com justificativa 
 
 
33 
Ocorre que, para o Professor Alexandre Câmara, não exsurge eficácia vinculante 
alguma do disposto no caput do aludido artigo. Com efeito, quando prescreveque juízes e 
tribunais observarão, está criando apenas um ônus argumentativo. A vinculatividade, assim, 
resultaria de um outro dispositivo legal, que lhe atribua expressamente tal eficácia51. 
Quer dizer, é à força de outras normas que seriam vinculantes tão somente as decisões 
do STF em controle concentrado de constitucionalidade, as súmulas vinculantes e as decisões 
nos incidentes de assunção de competência e de casos repetitivos (incisos I a III do art. 927 do 
CPC). Por outro lado, à míngua de qualquer norma expressa quanto aos pronunciamentos 
constantes dos incisos IV e V, seria a súmula do TJSP meramente persuasiva. 
Não parece ser essa, porém, a melhor interpretação do artigo 927. 
Ora, o verbo observar, no imperativo, sozinho, afigura-se bastante à denotação no 
sentido de que os juízes e tribunais estão obrigados a seguir os pronunciamentos elencados. 
Até porque, não faria sentido algum o comando observar no sentido meramente 
argumentativo, já que todas as decisões serão adequadamente fundamentadas (art. 11 do 
CPC), observando-se o ônus argumentativo imposto pelo art. 489, VI do CPC52. Seria 
despiciendo o dispositivo. Ademais, para que se proceda à leitura do artigo 927, não se pode 
prescindir da leitura do dispositivo que o precede – expressamente a indicar que “Os tribunais 
devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. 
É o que testifica, a proposito, o histórico legislativo da redação a que chegou. 
 
adequada que demonstre a razão pela qual é constitucionalmente legítimo decidir-se de outro modo”. Não 
obstante, Zaneti observa que a caracterização da jurisprudência é atuar apenas de forma persuasiva, de modo tal 
que não haveria sentido falar em precedentes persuasivos no Brasil, uma vez que esses precedentes persuasivos 
são melhor enquadrados na prática que já conhecemos como jurisprudência – referindo-se, assim, aos 
precedentes persuasivos como jurisprudência persuasiva: “a característica da jurisprudência é atuar apenas de 
forma ‘persuasiva’ e não há sentido falar em precedentes persuasivos” (ZANETI JR., 2016, p. 327) . O que não 
parece a melhor leitura, uma vez que sendo a jurisprudência o coletivo de decisões de determinado órgão 
jurisdicional no mesmo sentido sobre a mesma questão, não se confunde com o precedente enquanto substantivo 
singular. 
51 A eficácia vinculante das decisões do STF em controle concentrado de constitucionalidade está 
prevista no art. 102, §2° da CF; a dos enunciados de súmula vinculante provém do art. 103-A da CF e a dos 
acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de 
recursos extraordinário e especial repetitivos nos artigos 947, §3, 985, e 1040, todos do CPC. Ademais, a não 
observância da vinculação dos incisos I, II e III primeira parte, do art. 927, do CPC, seria de tanta gravidade que, 
por força do art. 988 incisos III e IV, admite-se, inclusive, a formulação de reclamação perante o tribunal prolator 
da decisão revestida da força vinculante, para preservação de sua autoridade. 
52“Art. 489. São elementos essenciais da sentença [...] §1º Não se considera fundamentada qualquer 
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: [...] VI - deixar de seguir enunciado de 
súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em 
julgamento ou a superação do entendimento”. 
 
34 
Desde o início, até chegar à redação aprovada, foi à questão da vinculatividade objeto 
de grande debate pelos parlamentares. Veja-se que o caput do art. 847 do Anteprojeto previa 
que “Os tribunais velarão pela uniformização e pela estabilidade da jurisprudência” – 
instituindo, assim, a jurisprudência vinculante dos tribunais superiores (jurisprudência 
vertical) e a jurisprudência vinculante do próprio tribunal (jurisprudência horizontal)53. 
No projeto aprovado pelo Senado Federal, todavia, foi incluída uma expressão que 
mudou completamente seu sentido normativo: foi inserida a locução “em princípio”; fazendo 
constar do artigo 882: “Os tribunais, em princípio, velarão pela uniformização e pela 
estabilidade da jurisprudência”. Com isso, nas hipóteses previstas, a jurisprudência deixou de 
ser vinculante. 
Daí que a redação aprovada pelo Senado não trazia nenhuma novidade, posto que o 
artigo repetia o uso apenas persuasivo das hipóteses de jurisprudência previstas em seus 
incisos. No projeto aprovado pela Câmara, porém, a matéria foi profundamente modificada. 
Cite-se o relatório do texto aprovado, nas palavras do Deputado Paulo Teixeira: 
Em primeiro lugar, modifica-se topologicamente o trato do tema, levando-o 
para o capítulo que trata da sentença e da coisa julgada, de modo a deixar 
claro que se trata de atribuir eficácia vinculante aos provimentos judiciais 
finais. Aperfeiçoa-se a terminologia do projeto, de modo a deixar clara a 
eficácia vinculante dos precedentes judiciais, regulamentando-se, também, a 
eficácia das decisões que superam os precedentes vinculantes, de forma a 
respeitar os princípios da segurança jurídica, confiança e isonomia. Busca-
se, ainda, regular os casos em que a eficácia vinculante não incide, de modo 
a permitir a correta distinção entre o caso que deu origem ao precedente 
vinculante e um caso concreto posterior que, por ser diferente daquele, não 
deva ser julgado da mesma maneira”54. (grifo nosso) 
Voltando ao Senado, apesar de outras modificações, o relatório do Senador Vital do 
Rego deixou claro que a opção legislativa foi pela manutenção da eficácia vinculante a 
determinados precedentes – ora atribuída aos pronunciamentos constantes dos incisos do art. 
927: 
 
53 CRAMER, 2016, p. 177. 
54 Relatório da comissão especial destinada a proferir parecer ao projeto de lei no 6.025, de 2005, ao 
projeto de lei no 8.046, de 2010, ambos do senado federal, e outros, que tratam do “Código de Processo Civil” 
(revogam a lei no 5.869, de 1973). Brasília, 2013. p. 50 Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/54a-legislatura/8046-10-codigo-de-processo-
civil/proposicao/pareceres-e-relatorios/parecer-do-relator-geral-paulo-teixeira-08-05-2013>. Acesso em: 1 de 
dezembro de 2019. 
 
35 
A obra legislativa que ora chega à sua fase derradeira reúne as mais 
avançadas experiências processuais em redução de conflitos e em tratamento 
de demandas repetitivas. O respeito aos precedentes jurisprudenciais é uma 
das marcas do futuro Código, o que reduzirá o grau de imprevisibilidade 
jurídica que impera sobre os atores da vida civil.55 
Do histórico apresentado é possível inferir que a vontade do legislador efetivamente 
foi a de prever um rol de precedentes vinculantes no Brasil. Afora isso, não se pode olvidar 
que o núcleo dogmático do modelo de precedentes instituído, para além dos artigos 926 e 927 
do CPC, é diretamente informado pelo disposto no artigo 489 do mesmo diploma – 
expressamente a dispor que é nula a decisão que “se limitar a invocar precedente ou 
enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o 
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos” (art. 489, V do CPC); bem como aquela 
que “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela 
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do 
entendimento” (489, VI do CPC). 
Mais à frente voltaremos ao citado dispositivo com mais vigor. Aqui, basta observar 
que o aludido inciso VI já impõe um ônus argumentativo, de modo fortemente persuasivo, a 
toda súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte. Com isso, conclui-se que não 
há discricionariedade

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