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Direito Civil III - Contratos

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FACULDADE MULTIVIX CARIACICA
CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL III
CONTRATOS
CARIACICA
2019
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Conceito de contratos: Negócio jurídico resultante de um acordo de vontades que produz efeitos obrigacionais. Este é o conceito da doutrina, até porque não é missão do legislador fazer definições.
Aspectos principais deste conceito:
Negócio jurídico: contrato é negócio jurídico, ou seja, é uma declaração de vontade para produzir efeito jurídico. O contrato é negócio, via de regra, informal, quer dizer, existe uma grande liberdade das pessoas na celebração dos contratos, tanto que a maioria dos contratos pode ser verbal até para facilitar a nossa vida e a circulação de bens (art. 107). 
Chama-se de autonomia privada este campo do Direito Civil justamente porque a liberdade das pessoas no contratar e no dispor de seus bens é grande. 
As partes podem até criar/inventar contratos, igualmente celebrá-los verbalmente, sem formalidades (art. 425). 
Recomenda-se celebrar por escrito contratos de alto valor, mas não por uma questão de validade e sim por uma questão de segurança, caso surja algum litígio judicial. 
Os contratos verbais são provados em Juízo mediante testemunhas, que são provas menos seguras do que os documentos. 
Exemplo de contrato solene/escrito é a compra e venda de imóvel (art. 108) e a doação (art. 541). 
São contratos informais/verbais a compra e venda de móveis, a locação e o empréstimo.
Acordo de vontades: o contrato exige um consenso, um acordo de vontades. É  esse consenso que vai formar o contrato, principalmente se o contrato for verbal. O consenso é entre pelo menos duas partes.
Por isso todo contrato é no mínimo bilateral quanto às partes, afinal ninguém pode ser credor e devedor de si mesmo (revisem confusão (art. 381 e seguintes), modo de extinção das obrigações visto em Civil 2).   
O que se admite é o autocontrato, ou contrato consigo mesmo, quando uma única pessoa vai agir por duas partes (Ex: A vai viajar e precisa vender sua casa, então passa uma procuração a seu amigo B autorizando-o a vendê-la a quem se interessar, eis que o próprio B resolve comprar a casa, então B vai celebrar o contrato como vendedor, representando A, e como comprador, em seu próprio nome). São duas vontades jurídicas distintas, embora expressas por uma só pessoa.
Efeitos obrigacionais: as obrigações têm efeitos estudados em Civil 2, e dois deles se aplicam diretamente aos contratos:
1) a transitoriedade: os contratos, em geral, são transitórios/são efêmeros/têm vida curta (Ex: compra e venda de balcão); alguns contratos são duradouros (Ex: locação por doze meses), mas um contrato não deve ser permanente. Permanência é característica dos Direitos Reais. 
A propriedade sim dura anos, décadas, se transmite a nossos filhos, mas os contratos não.
2) o valor econômico: todo contrato, como toda obrigação, precisa ter um valor econômico para viabilizar a responsabilidade patrimonial do inadimplente se o contrato não for cumprido. 
Em outras palavras, se uma dívida não for paga no vencimento ou se um contrato não for cumprido,  o credor mune-se de uma pretensão e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial.
Que pretensão é esta de que se arma/de que se mune o credor? É a pretensão a executar o devedor para atacar/tomar seus bens através do Juiz. 
E se o devedor/inadimplente não tiver bens? Então não há nada a fazer pois, como dito, a responsabilidade é patrimonial e não pessoal. Ao credor só resta espernear, é o chamado na brincadeira “jus sperniandi”. 
Realmente já se foi o tempo em que o devedor poderia ser preso, escravizado ou morto por dívidas. 
O único caso atual de prisão por dívida é na pensão alimentícia, assunto de Direito de Família. 
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Elementos, requisitos e pressupostos contratuais
1 – capacidade das partes: este é o primeiro elemento (art. 104, I), pois o contrato celebrado pelo incapaz é nulo (art. 166, I) e pelo relativamente incapaz é anulável (art. 171, I). A nulidade é assim mais grave do que a anulabilidade. 
Imaginem uma doença: a nulidade é uma doença fatal, já a anulabilidade é curável. Depois revisem este assunto de Civil I. 
Mas o menor e o louco, embora incapazes, podem adquirir direitos e celebrar contratos, desde que devidamente representados. Então os pais representam os filhos, os tutores representam os órfãos e os curadores representam os loucos. (Assunto de Direito de Família, Civil VI).
Desta forma, a capacidade de direito é inerente a todo  ser humano (art. 1º), a capacidade de fato é que falta a algumas pessoas (ex: menores, loucos) e que por isso precisam ser representadas para celebrar contratos (art. 116).
2 – objeto do contrato: é a operação, é a manobra que as partes visam realizar. O objeto corresponde a uma prestação lícita, possível, determinada e de valoração econômica. 
Então A não pode contratar B para matar C, nem A pode contratar B para comprar contrabando ou drogas, pois o objeto seria ilícito.  Igualmente o filho não pode comprar um carro com o dinheiro que vai herdar quando o pai morrer, pois a lei proíbe no art. 426 (chama-se de pacta corvina, ou pacto de corvo este dispositivo já que é muito mórbido desejar a morte do pai, e ninguém garante que o filho é que vai morrer depois).
· Quanto à possibilidade do objeto, seria impossível contratar um mudo para cantar, ou vender passagens aéreas para o sol.
· O objeto também precisa ser determinado ou determinável, conforme visto no semestre passado quanto às obrigações de dar coisa certa ou incerta (art. 243).
Finalmente, o contrato precisa ter valor econômico para se resolver em perdas e danos se não for cumprido por ambas as partes.
O valor econômico do contrato viabiliza a responsabilidade patrimonial do inadimplente, já que não se vai prender um artista que se recusa a fazer um show. O artista será sim executado patrimonialmente para cobrir os prejuízos, tomando o Juiz seus bens para satisfazer a parte inocente. Vide art 104, II do CC.
3 – forma: a forma do contrato é livre, esta é a regra, lembrem-se sempre disso. Existem exceções, mas esta é a regra geral: os contratos podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive verbalmente face à autonomia da vontade que prevalece no Direito Civil (art. 107). 
O formalismo está em desuso nos países modernos para estimular as transações civis e comerciais, trazendo crescimento econômico com a circulação de bens e de riqueza. 
A vontade inclusive prevalece sobre a forma, nos termos do artigo 112. 
Quando vocês forem redigir um contrato não há formalidades a obedecer, basta colocar no papel aquilo que seja imprescindível ao acordo entre as partes, até porque, os contratos podem ser verbais, como na compra e venda, locação e empréstimo. 
Vide art 104, III: assim salvo expressa previsão em lei, a forma do contrato é livre.
Que contratos têm forma especial e precisam ser escritos? 
Vamos começar com dois: a doação de coisas valiosas (art. 541 e parágrafo único) e a compra e venda de imóvel (art. 108). 
Percebam que os contratos escritos se dividem em “instrumento particular” (feito por qualquer pessoa, qualquer advogado) e “escritura pública” (feita por tabelião de Cartório de Notas, com as solenidades do art. 215).
4 – legitimidade: está próxima da capacidade. São irmãs, mas não se confundem. 
A legitimidade é um limitador da capacidade em certos negócios jurídicos. A legitimidade é o interesse ou autorização para agir em certos contratos previstos em lei.
A pessoa pode ser capaz, mas pode não ter legitimidade para agir naquele caso específico. 
Exemplos: o tutor não pode comprar bens do órfão (art. 497, I), o cônjuge não pode vender uma casa sem autorização do outro (art. 1647, I), a amante do testador casado não pode ser sua herdeira (art. 1801, III), o pai não pode vender um terreno a um filho sem a autorização dos outros filhos (art. 496).
Em todos estes exemplos falta legitimidade e não capacidade às partes. 
Realmente, o marido não pode vender um imóvel sem a outorga uxória não porque o marido seja incapaz (louco oumenor), mas porque lhe falta autorização para agir, prevista em lei, para proteger a família (= legitimidade). 
Igualmente o juiz não pode comprar o bem que ele penhorou do devedor no processo de execução não porque o magistrado seja incapaz, mas porque lhe falta legitimidade. 
Ora, com tanta coisa no comércio para ser adquirida, não é razoável o juiz comprar para si um bem que ele mandou tomar, afinal não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. 
5 – causa: Qual o motivo do contrato? Qual a finalidade do contrato? Por que João quer comprar? Por que Maria quer alugar? 
Isto não interessa, não há relevância jurídica para a causa/motivo do contrato no direito brasileiro. 
O art. 166, III usa a expressão “motivo”, todavia se refere ao objeto do contrato (art. 104, II, ex: alugar uma casa para prostituição infantil). Quando você vai comprar um carro, é juridicamente irrelevante se o carro é para você passear, trabalhar, ou se você vai dar a seu filho, etc. 
Esse motivo é só do comprador, e o vendedor em geral nem sabe quais os motivos da outra parte. 
Outro exemplo, você compra anel de noivado, depois acaba o namoro, pode devolver o anel na loja e pedir o dinheiro de volta?
Resposta: Não, justamente porque o motivo da compra não é relevante.
Mas e se você é salvo de um afogamento pelo bombeiro José, e como retribuição doa um carro ao bombeiro João, José pode pedir a anulação do contrato? 
Resposta: Sim, pois houve erro como defeito do negócio jurídico, e o motivo da doação foi o salvamento, senão você jamais daria um carro nem a José nem a João (art. 140, art. 171, II).
Bom, em termos econômicos, as pessoas contratam  para ganhar dinheiro, para ter conforto, para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido o art. 421. 
E quando o contrato cumpre sua “função social”? Quando viabiliza trocas úteis e justas, afinal ninguém contrata para ter prejuízo. 
6 – prestação: é uma conduta humana, é um ato ou omissão das partes, é um dar, é um fazer ou é um não-fazer. 
O contrato é uma fonte de obrigação, e toda obrigação tem por objeto uma prestação que corresponde a um dar, fazer ou não-fazer. 
Então se eu contrato um advogado para me defender, o objeto deste contrato será o serviço jurídico que será feito pelo bacharel (obrigação de fazer). 
Outro exemplo: vejam o conceito legal de compra e venda no art. 481. Observem a expressão “se obriga”. 
Então o objeto da compra e venda não é a coisa em si, mas a prestação de dar o dinheiro pelo comprador e de dar a coisa pelo vendedor. 
O vendedor se obriga a dar a coisa, e se ele não der, o comprador não pode tomar a coisa, mas sim exigir o dinheiro de volta mais eventuais perdas e danos (art. 389). 
O art 475 é uma exceção a este art. 389, veremos em breve quando formos tratar dos efeitos dos contratos. 
Assim, admite-se excepcionalmente que, ao invés de apenas resolver a obrigação em perdas e danos (art 947), o credor possa exigir a prestação “in natura”, ou seja, a coisa devida em si. 
Voltando a falar de prestação, o objeto do contrato é uma prestação, essa prestação pode ser de dar, fazer ou não-fazer. 
O objeto da prestação de dar será uma coisa, o objeto da prestação de fazer será um serviço e o objeto da prestação de não-fazer será uma omissão, conforme visto em Civil II.
7 –  elementos acidentais: estes não são obrigatórios, mas facultativos, ou seja as partes inserem se quiserem (ex: cláusula penal, art. 408; encargo na doação, art. 562, etc).  
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Formação do contrato
Os contratos se formam pelo consenso, pelo acordo de vontades entre pelo menos duas pessoas, sem maiores solenidades (art. 107). 
A vontade é fundamental nos contratos, por isso todo contrato é consensual. 
Para as pessoas se relacionarem é preciso que elas se comuniquem. A comunicação da vontade pode ser expressa e pode ser tácita. 
A comunicação expressa é a mais comum e mais clara, se fazendo de forma escrita ou verbal. 
Já a comunicação tácita é aquela presumida por certas circunstâncias, como o silêncio da outra parte (art. 111, ex: em geral as pessoas gostam de receber presentes, mas ninguém está obrigado a aceitá-los, porém o silêncio do donatário é tido como aceitação, art. 539; outro ex: art. 659). 
Mas em Direito nem sempre quem cala consente, como na assunção de dívida, onde o silêncio do credor importa em recusa da troca do devedor (parágrafo único do art. 299). As vontades que formam o contrato se chamam de oferta (ou proposta) de um lado, e aceitação do outro lado. 
Quem emite a oferta é o proponente (ou policitante). Quem emite a aceitação é o aceitante (ou oblato). 
Nos contratos complexos e de alto valor existem os debates preliminares, avançando as negociações até a maturidade e o fechamento do contrato com o acordo de vontades. 
Na fase preliminar pode se escrever uma minuta ou rascunho do contrato. 
Mas para comprar chiclete na barraca ninguém faz isso: as vontades se comunicam, o contrato se forma, nasce e se extingue em segundos. Exemplificando, no contrato de compra e venda quem emite a proposta é o vendedor ao efetuar oferta a pessoa indeterminada (= oferta ao público; ex: sapatos expostos numa sapataria). Esta oferta ao público tem caráter obrigatório pela seriedade e segurança das relações jurídicas (art. 427). 
Além de obrigatória, a proposta deve ser completa a fim de facilitar a aceitação e o surgimento do contrato, nos termos do art. 31 do Código do Consumidor: "a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores."
Quanto mais completa for a oferta, facilita seu "casamento" com a aceitação. Se a aceitação não se integrar com a oferta, teremos uma contraproposta do art. 431.
Por outro lado, admite-se na compra e venda que o comprador faça a proposta, por exemplo, se uma pessoa vê o relógio do colega e pergunta se quer vendê-lo? Neste caso, o comprador estará estimulando o proprietário a colocar a coisa em leilão. 
Para nosso Código, presentes são as pessoas que contratam diretamente entre si, mesmo em cidades diferentes usando telefone ou internet (parte final do inc. I do art. 428). 
Já ausentes são aqueles que usam um intermediário ou mensageiro, mesmo que estejam os contratantes na mesma cidade.  
O contrato, uma vez concluído, faz lei entre as partes, e se uma delas posteriormente desistir terá que indenizar a outra pelas perdas e danos causados (art. 430, art. 389). As referidas minutas não são contratos ainda, então pode se desistir sem problemas. 
Mas para justificar uma indenização tem que ter havido dano concreto, material ou moral, afinal já foi estudado em Civil 2 que não existe dano hipotético ou eventual (art. 403).  
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
É importante conhecer esta classificação para fins de interpretação e aplicação dos contratos.  
a) UNILATERAL e BILATERAL: todo contrato é sempre bilateral quanto às partes (no mínimo duas partes), mas quanto aos efeitos pode ser unilateral ou bilateral. 
O contrato bilateral quanto aos efeitos é também conhecido como sinalagmático pois cria direitos e deveres equivalentes para ambas as partes.   
Ex: compra e venda, pois o comprador tem o dever de dar o dinheiro e o direito de exigir a coisa, enquanto o vendedor tem a obrigação de dar a coisa e o direito de exigir o dinheiro; locação, pois o locador tem a obrigação de transferir a posse do imóvel e o inquilino tem a obrigação de pagar o aluguel. 
Já o contrato de efeito unilateral só cria direito para uma das partes e apenas obrigação para a outra, uma das partes será só credora e a outra só devedora, ex: doação, pois só o doador tem a obrigação de dar e o donatário apenas o direito de exigir a coisa, sem nenhuma prestação em troca. Empréstimo e fiança também são exemplos de contratos unilaterais. 
b) ONEROSOS e GRATUITOS: nos contratos onerosos ambas as partestêm vantagem e proveito econômico, ex: os contratos bilaterais, onde ambas as partes ganham e perdem. 
Já os contratos gratuitos só beneficiam uma das partes, então geralmente todo contrato unilateral é gratuito, como na doação e no empréstimo.
Porém pode haver contratos unilaterais e onerosos quando existe uma pequena contraprestação da outra parte, como na doação modal, aquela onde há um encargo por parte do donatário, ou seja, o doador exige um pequeno serviço do donatário em troca da coisa. 
Ex: A doa uma fazenda a B com o ônus de construir uma escola para as crianças carentes da região; A dá um carro a seu filho com o ônus de levar a mãe para passear todo sábado, art. 553). 
O encargo tem que ser pequeno, senão descaracteriza a doação. 
Se o encargo for grande o contrato não será nulo, apenas não será doação, mas outro contrato qualquer. 
Ex: empresto um apartamento a João sob pagamento mensal de mil reais, ora isto não é empréstimo, mas locação. 
Outro exemplo de contrato unilateral e oneroso é o mútuo feneratício (= empréstimo de dinheiro a juros, art. 591). 
Empréstimo entre amigos em geral não tem juros (= mútuo simples), sendo unilateral e gratuito, mas no empréstimo econômico os juros são naturalmente devidos, tratando-se de contrato unilateral e oneroso. 
c) COMUTATIVOS e ALEATÓRIOS: esta classificação só interessa aos contratos onerosos. Só os contratos onerosos se dividem em comutativos e aleatórios. 
São comutativos quando existe uma equivalência entre a prestação (vantagem) e a contraprestação (sacrifício), ex: compra e venda, troca, locação, etc. 
Diz-se inclusive que a compra e venda é a troca de coisa por dinheiro. 
Já nos contratos aleatórios uma das partes vai ter mais vantagem do que a outra, a depender de um fato futuro e imprevisível chamado "alea" = sorte, destino. 
Ex: contrato de seguro onde eu pago mil reais para proteger meu carro que vale vinte mil; se o carro for roubado eu receberei uma indenização muito superior ao desembolso efetuado, mas se durante o prazo do contrato não houver sinistro, a vantagem será toda da seguradora. 
Jogo, aposta, compra e venda de coisa futura, são outros exemplos de contratos aleatórios. 
d) PRINCIPAIS e ACESSÓRIOS: contrato principal é aquele que tem vida própria e existe por si só. 
A grande maioria dos contratos é principal, independente e autônoma. 
Porém há contratos acessórios cuja existência depende de outro contrato, como os contratos de garantia. 
Ex: a fiança é um contrato acessório que geralmente garante uma locação principal; a hipoteca é outro contrato acessório que geralmente garante um empréstimo principal. 
A fiança e a hipoteca vão servir assim para satisfazer o credor caso haja inadimplemento dos contratos principais, trazendo mais segurança ao credor. 
Tais contratos acessórios seguem os principais (art 184). 
e) INSTANTÂNEOS e de DURAÇÃO: a regra é o contrato ser instantâneo, ter vida curta/efêmera (ex: compra e venda, troca, doação, que duram segundos ou minutos; mesmo uma compra e venda a prazo é instantânea, sua execução é que é diferida no tempo). 
Já outros contratos são duradouros e se prolongam por dias, semanas e meses (ex: empréstimo, locação, seguro). Não é da essência dos contratos durarem anos e décadas. 
Os direitos reais é que são permanentes, como a propriedade, a superfície e o usufruto, valendo por toda uma vida. 
Se você deseja alugar um imóvel por muitos anos, é mais seguro instituir uma superfície. 
O direito de superfície é o direito real de plantar, realizar semeaduras ou edificar em terreno de propriedade alheia. Esta modalidade de direito real é regulada pela Lei 10257/2001 (Estatuto da cidade) e pelo Código Civil. O direito de superfície se constitui por contrato entre as partes. Este deve ser realizado na forma escrita, exigindo sempre escritura pública. O contrato deve obrigatoriamente ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis. 
E se a superfície é melhor do que locação, por que a sociedade usa mais a locação? 
Resposta: Porque os contratos são mais simples, podem até ser verbais, enquanto os direitos reais exigem solenidades e formalidades.
Em suma: os contratos devem ser no máximo duradouros e não permanentes.
f) PESSOAIS e IMPESSOAIS: o contrato pessoal é celebrado com determinada pessoa em virtude de suas qualidades pessoais, é chamado assim “intuitu personae” (em razão da pessoa). Ex: contrato um ator famoso para gravar um filme, caso ele desista, não aceitarei o filho no lugar dele. 
Quando a obrigação é de fazer um serviço, em geral o contrato é personalíssimo. Já nas obrigações de dar uma coisa, o contrato é impessoal, então se A me deve R$ 100,00 (cem reais), não tem problema que B ou C me paguem tais R$ 100,00 (cem reais). 
Nos contratos impessoais, se admite a execução forçada do contrato, prevista no art. 475 do CC (sublinhem “exigir-lhe o cumprimento”). 
Já nos contratos personalíssimos, se o devedor não quiser cumprir sua obrigação, a única saída são as perdas e danos do art. 389, afinal não se pode constranger uma pessoa a trabalhar sob vara.
g) TÍPICOS e ATÍPICOS: os contratos típicos têm previsão no tipo/na lei, e foram disciplinados pelo legislador, pois são os contratos mais comuns e importantes com “nomem juris” (nome na lei). 
Ex: os cerca de vinte contratos previstos no CC, no Título VI do Livro I, do art. 481 ao art. 853. 
Mas estes não são os únicos contratos permitidos, são apenas os mais importantes. Sim, já que a criatividade e necessidade dos homens em se relacionar e fazer negócios pode criar novos contratos não previstos em lei dentro da autonomia privada. 
Um exemplo de contrato atípico é o leasing, não previsto em lei, mas muito importante na aquisição de bens duráveis, que será visto no próximo semestre (art 425, Obs: a lei  nº 11.649/2008, dispõe sobre procedimento no leasing, não sobre o contrato em si). 
Quando o contrato é típico, a lei serve para completar a vontade das partes, o que chamamos de norma supletiva (ex: art. 490, este artigo não é imperativo/obrigatório, é apenas supletivo, já que as partes podem violá-lo em contrato). 
Os contratos típicos podem ser verbais, pois existe a lei para suprir suas lacunas. 
Já os contratos atípicos, como o leasing, devem ser escritos e minuciosos já que não há lei para regulamentá-los. 
Falando de tipicidade, os Direitos Reais são típicos, não podem ser criados pelas partes (art. 1225). 
Falando de normas imperativas, no Direito Público a maioria das normas é imperativa, enquanto aqui na autonomia privada encontramos muitas normas supletivas.  
Assim, no Direito Civil, se faz tudo que a lei não proíbe, a liberdade é grande, enquanto no Direito Público (Trabalhista, Administrativo) só se faz o que a lei permite.
h) SOLENES e INFORMAIS: como na autonomia privada a liberdade é grande, a maioria dos contratos são informais e consensuais, bastando o acordo de vontades para sua formação (art. 107, art. 104, inciso III). 
Já em alguns contratos, pelas suas características, a lei exige solenidades para sua conclusão, como no caso da doação e fiança que devem ser por escrito (art. 541 e art. 819). 
Já na compra e venda de imóvel, pelo valor e importância dos imóveis, o contrato além de escrito deve ser feito por tabelião, pelo que para adquirir uma casa só o acordo de vontades não basta, é necessário também celebrar uma escritura pública (arts. 108 e art. 215).  
Então os contratos informais podem ser verbais, enquanto os contratos solenes devem ser por escrito, seja particular (feito por qualquer pessoa/advogado, como na fiança e doação) ou público (feito apenas em Cartório de Notas, qualquer deles). 
i) REAIS e CONSENSUAIS: já dissemos que todo contrato é consensual, quer dizer, exige acordo de vontades. 
Mas em alguns contratos, só o consenso é insuficiente, então além do acordo de vontades, a lei vai exigir a entrega da coisa ( = tradição), por isso se dizem contratos reais.  
Podem  até ser verbais/informais, mas não nascem antes da entrega da coisa. Ex: doação de bens móveis (parágrafo único do art. 541),comodato (art. 579), mútuo, depósito (art. 627). 
Porém na compra e venda, troca, locação, etc., já vai existir contrato após o acordo de vontades e mesmo antes da entrega da coisa, de modo que uma eventual desistência pode ensejar perdas e danos ou até a execução compulsória do art. 475. 
Então se A  promete emprestar sua casa de praia para B passar o verão (= comodato), só haverá contrato após a ocupação efetiva da casa por B. 
Já se A se obriga a alugar sua casa de praia a B durante o verão (= locação), o contrato surgirá do acordo de vontades, e eventual desistência de A, mesmo antes da entrega das chaves, ensejará indenização por perdas e danos (art. 389). A tradição não é requisito de validade, mas de existência dos contratos reais.
j) CIVIS e MERCANTIS: os contratos civis visam satisfazer uma necessidade particular, sem visar diretamente ao lucro (art. 53); já os contratos mercantis serão estudados em Direito Empresarial e têm fins econômicos (art. 981). 
É fundamental preservar a informalidade dos contratos mercantis para estimular sempre o comércio entre as empresas, com a geração de emprego e renda. 
Afinal quem produz riqueza é o particular, e não o Estado.
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CONTRATO DE ADESÃO
Importante e moderno mecanismo negocial chamado contrato de adesão. Com o desenvolvimento da sociedade e a oferta de serviços ao grande público, se fez necessário criar um contrato previamente pronto por uma das partes, cabendo à outra parte aceitar/aderir ou não. 
Exemplos: contrato de transporte, luz, telefone, seguro, espetáculo público, contrato bancário, etc. 
Nestes casos, a parte que adere é o consumidor que não pode discutir as cláusulas, pode apenas aceitá-las integralmente ou não. 
Exemplo 1: Imagine que Mariana deseja viajar de Vitória para Brasília em voo direto, mas só existem voos com escalas e conexões.
É evidente que Mariana não poderá exigir que o avião parta direto, terá o consumidor que se sujeitar ao itinerário ou então trocar de companhia ou ainda fretar um avião só para si. 
Exemplo 2: O jogo de futebol está marcado para às 16 h, mas Mariana quer que o jogo comece às 21 h, é evidente que o jogo é para o público em geral, e não apenas para Mariana. 
Os contratos de adesão são assim contratos numerosos para negociação em massa nas relações de consumo, tornando-se mais rápidos e baratos. 
É contrato muito popular e  a parte deve ler com cuidado o que está assinando para depois não se arrepender, embora o Código do Consumidor proíba cláusulas abusivas nos contratos de adesão, justamente porque não foi objeto de discussão (art. 51 da lei 8.078/90). 
O consentimento neste contrato surge com a adesão. Para alguns doutrinadores o contrato de adesão não seria contrato porque as cláusulas são predispostas e faltaria o consenso.
Assim sendo, o contrato de adesão é importante na vida moderna e o consenso surge com a adesão, existindo o Código do Consumidor justamente para coibir abusos e monopólios. 
Em suma, o contrato de adesão não é nulo, ao contrário, é válido e importante. 
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL
O direito contratual rege-se por diversos princípios, alguns tradicionais e outros modernos. Os mais importantes são os: da autonomia da vontade, da supremacia da ordem pública, do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigatoriedade, da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé. 
1 – AUTONOMIA DA VONTADE
No direito contratual as partes têm liberdade para contratar ou não, adquirindo direitos e contraindo obrigações, relacionando-se com quem quiser, dispondo de seus bens como entender e até inventando contratos (art. 425). 
Ao contrário do Direito Administrativo, onde existe muito limite na atuação do gestor. Então se qualquer um de nós ou um empresário pode contratar como quiser, o Prefeito/Governador/Presidente fica sujeito às diretrizes e orçamentos previstos na Constituição e aprovados pelo Poder Legislativo. E deve ser assim, afinal o governante lida com a coisa pública e não com a coisa própria. 
Este princípio contratual da autonomia da vontade é um poder criador, sendo amplo mas não absoluto, encontrando limites na ordem pública e nos bons costumes:
- ordem pública: são as leis imperativas/obrigatórias presentes no direito privado e que interessam à sociedade e ao Estado. Ex: art. 426 (pacta corvina), art. 421, parágrafo único do art. 2.035). Em que consiste esta função social do contrato? Em trocas úteis e justas, afinal ninguém contrata para ter prejuízo. A propriedade, outro pilar do Direito Civil, também deve ser exercida respeitando sua função social (§ 1º do art. 1228).  
- bons costumes: são as maneiras de ser e de agir, correspondendo à influência da moral no Direito. A moral varia de acordo com o tempo e o lugar, de modo que um desfile de moda-praia num shopping center é permitido, mas não na frente do Palácio do Bispo, por violar a moral da maioria da sociedade.  Igualmente nossa moral não aceita o nudismo, todos nós usamos roupas, mas em algumas praias o nudismo já é permitido.
A exigência de que tanto o contrato, como a propriedade, cumpram uma função social, é novidade do Código de 2002 por consequência da publicização do Direito. 
O que é isto?
É a intervenção, cada vez maior, do Estado na atividade particular das pessoas e na autonomia privada. Chama-se de dirigismo contratual esta iniciativa do Estado de elaborar leis para dar superioridade jurídica a certas categorias economicamente mais fracas, como os trabalhadores, os inquilinos, os consumidores e os devedores.
2 – PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA
A liberdade contratual encontrou sempre limitação na ideia de ordem pública, entendendo-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual. 
O princípio da autonomia da vontade, como vimos, não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes.
A doutrina considera de ordem pública, dentre outras, as normas que instituem a organização da família (casamento, filiação, adoção, alimentos); as que estabelecem a ordem de vocação hereditária e a sucessão testamentária; as que pautam a organização política e administrativa do Estado, bem como as bases mínimas da organização econômica; os preceitos fundamentais do direito do trabalho. 
Os direitos também devem ser exercidos no limite ordenado pelos bons costumes, conceito que decorre da observância das normas de convivência, segundo um padrão de conduta social estabelecido
pelos sentimentos morais da época. Serve para definir o comportamento das pessoas. Pode-se dizer que bons costumes são aqueles que se cultivam como condições de moralidade social, matéria sujeita a variações de época a época, de país a país, e até dentro de um mesmo país e mesma época. 
Em suma, a noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites à liberdade contratual. No campo intervencionista, destinado a coibir abusos advindos da desigualdade econômica mediante a defesa da parte economicamente mais fraca, situa-se ainda o princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva, baseado na teoria da imprevisão. 
3 – PRINCÍPIO DO CONSENTIMENTO OU CONSENSUALISMO
Todo contrato exige acordo de vontades. No contrato de adesão o consentimento surge com o aceite do consumidor. Nos contratos solenes e reais, o acordo de vontades antecede a assinatura da escritura ou a entrega da coisa.
A vontade é tão importante que ela pode predominar sobre a palavra escrita (art. 112, sublinhem intenção, que é a vontade real, e sentido literal, que é a vontade declarada). 
Assim, aquilo que as partesqueriam dizer é mais importante do que aquilo que as partes disseram, escreveram e assinaram. Não se trata aqui de rasgar o “preto no branco” mas sim de respeitar a vontade das partes. 
Exemplos:
a) art. 1899, embora testamento não seja contrato, mas este artigo revela a importância da vontade nos negócios jurídicos.
b) Exemplo contratual: Vitor aluga a Mariana por R$ 150,00 um quartinho nos fundos de sua casa, mas no contrato, ao invés de escrever “aluga-se um quarto”, se escreveu “aluga-se uma casa”, vai prevalecer a intenção que era de alugar o quarto, João  não vai poder exigir a casa pois sabia que, por aquele preço e naquelas circunstâncias, a locação era só de um aposento.
c) Exemplo contratual: Lucas morreu e deixou uma casa para seu filho Pedro, só que Pedro precisa viajar e não pode esperar a conclusão do inventário, então Pedro vende a Mariana os seus direitos hereditários por cem mil reais (ressalto que não se trata aqui do pacta corvina do art. 426, e sim da cessão do art. 1793 pois Lucas já morreu); eis que depois se descobre que Lucas era muito rico e, além da casa, tinha ações, outros imóveis, carros, joias, aplicações financeiras, etc..., neste caso Mariana não será dona de tudo pois só o que ela adquiriu, naquelas circunstâncias, foi uma casa, e não tantos bens, embora no contrato constasse que João lhe cedia todos os seus direitos hereditários.  
4 -  PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA
Contrato faz lei entre as partes, deve ser cumprido por uma questão de segurança jurídica e paz social. País nenhum  se desenvolveu sem respeitar a propriedade privada e os contratos. 
Diziam os romanos pacta sunt servanda (= contrato deve ser cumprido), princípio que prevalece até hoje. Celebrado o contrato, ele se torna intangível, não podendo ser modificado unilateralmente, por apenas uma das partes. 
Se uma das partes não cumprir o contrato, a parte prejudicada exigirá o cumprimento forçado, através do Juiz, ou uma indenização por perdas e danos (art. 475). 
Todavia, face ao dirigismo contratual, a lei permite, excepcionalmente, que o Juiz, nos contratos comutativos de longa execução, diante de um fato novo,  modifique o contrato para manter a igualdade entre as prestações, afinal ninguém contrata para ter prejuízo (art. 478). 
Neste artigo encontramos a chamada Teoria da Imprevisão (ou cláusula rebus sic stantibus = revogável se insustentável), mas repito, a intervenção do Estado-Juiz nos contratos deve ser a exceção, por uma questão de segurança jurídica.
Além disso, só se admite a Teoria da Imprevisão em contratos longos e diante de um fato novo.
Exemplo 1: Compro um carro para pagar em três anos com prestações atreladas ao dólar, eis que por causa de uma guerra no Oriente Médio, o dólar triplica de preço e as prestações se tornam muito vantajosas para o vendedor, devendo então o Juiz modificar o contrato para restaurar o equilíbrio entre as partes.
Exemplo 2: Art. 620 do CC.
Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-de-obra superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada.
Exemplo 3: Alugo um apartamento a beira mar, eis que o mar começa a avançar, fico sem praia, desvalorizando o imóvel, justificando uma redução do aluguel.
Exemplo 4: No Direito de Família, fora da autonomia privada, temos outro exemplo da Teoria da Imprevisão no art. 1699: então se o pai presta alimentos ao filho, e depois o pai perde o emprego ou o filho se torna um craque do futebol, a pensão será certamente reduzida ou extinta.
Em suma, a Teoria da Imprevisão permite ao Juiz modificar o contrato a fim de restabelecer o equilíbrio entre as partes em face de um caso fortuito que tornou a prestação excessivamente onerosa para uma das partes.
Caso fortuito é aquele do parágrafo único do art. 393.
A Teoria da Imprevisão é assim consequência da função social do contrato, que exige trocas úteis e justas, conforme art. 421 e  parágrafo único do art. 2035 do CC. 
Em suma a Teoria da Imprevisão, deve ser aplicada com cautela por uma questão de segurança jurídica e para não proteger o mau pagador. 
Não é bom para a atividade econômica e para a geração de empregos um Estado interferindo nos contratos. 
5 - PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
Este princípio obriga as partes a agirem num clima de honestidade e de colaboração recíproca para que ambas alcancem o objetivo daquele contrato. 
A boa fé deve estar na mente de todo contratante. 
Tal princípio é naturalmente seguido pela população, tanto que a imensa maioria dos contratos nasce, produz seus efeitos e se extingue sem problemas. E em casos de controvérsias – Poder Judiciário (artigos 113 e 422). 
Todo contrato exige boa-fé, mas em um contrato a boa-fé é exigida com mais rigor: o contrato de seguro (art. 765 – estrita boa-fé e veracidade), então não minta e nem omita circunstâncias importantes sobre o objeto segurado ou sobre sua saúde, para não perder a indenização caso ocorra um acidente ou uma doença. 
6– PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DOS CONTRATOS
Funda-se tal princípio na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. 
O Código Civil de 2002, não concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma função social. Tal fato tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. 
Não resta dúvida de que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato, embora ainda subsista, foi bastante atenuado pelo reconhecimento de que as cláusulas gerais, por conterem normas de ordem pública, não se destinam a proteger unicamente os direitos individuais das partes, mas tutelar o interesse da coletividade, que deve prevalecer quando em conflito com aqueles. 
Em suma por este princípio, o contrato é relativo às partes celebrantes, ou seja, não interessa a terceiros/não é absoluto/não é erga omnes (= contra todos). Diziam os romanos: res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest (a coisa contratada entre uns, nem prejudica e nem beneficia terceiros). 
Este princípio tem exceções, de modo que terceiros não celebrantes podem participar dos contratos, vejamos:
Os herdeiros: nas obrigações de fazer personalíssimas o contrato não se transfere aos herdeiros, mas nas obrigações de dar sim. Então se A toma cem reais emprestado com B e vem a falecer, os herdeiros de A terão que pagar a dívida a B, dentro dos limites da herança recebida de A. Se A não deixar herança, os filhos não terão obrigação de pagar a dívida (arts. 1792 e 1997). 
Na estipulação em favor de terceiro, quando se pode beneficiar um terceiro com um contrato (ex: alugo minha casa e determino que o aluguel seja pago a meu irmão desempregado; outro ex: faço um seguro de vida para beneficiar meu filho). Tanto o contratante como o beneficiário poderão exigir a prestação se a outra parte atrasar (art.436). Na estipulação, a qualquer momento o beneficiário pode ser substituído, bastando comunicar ao outro contratante (art.438).
Nas Convenções Coletivas: no Direito do Trabalho e no Direito do Consumidor se permitem que Sindicatos e Associações negociem relações de trabalho e de consumo com os patrões e os fornecedores. Tais Convenções irão obrigar todos os trabalhadores filiados àquele Sindicato e todos os consumidores filiados àquelas entidades, e não apenas os dirigentes signatários da Convenção.         
No contrato com pessoa a declarar: neste o contrato se forma e fica acertado que um dos contratantes irá futuramente indicar a pessoa que adquirirá os direitos, vindo a ocupar o lugar de sujeito da relação jurídica,  art. 467 (ex: compro um apartamento para pagar em quinze anos e celebro um contrato preliminar com a construtora – art. 462, pois o contrato definitivo só viráao término do pagamento integral; então, após os quinze anos, posso pedir à construtora-vendedora que coloque o imóvel logo no nome dos meus filhos). Se essa pessoa futura não aceitar o contrato, continuará válido entre os contratantes originários (art. 470, I).
Na promessa de fato de terceiro: é a possibilidade de um contratante obrigar-se perante outro a obter de terceiro determinada obrigação, sob pena de responder por perdas e danos. Ex: um promotor de eventos promete ao dono de uma casa de shows trazer um artista para cantar na cidade. Se o artista não vier, o promotor será responsabilizado (art. 439). Diferente da estipulação em favor de terceiro, o promotor não vai beneficiar o artista, vai sim se responsabilizar pela sua apresentação. O artista não integra o contrato inicial entre o promotor e o dono da casa de shows, mas sim participará de um segundo contrato com o promotor do evento.
7 – PRINCÍPIO DA REVISÃO DOS CONTRATOS OU DA ONEROSIDADE EXCESSIVA
Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao Judiciário, para obterem alteração da Convenção e condições mais humanas, em determinadas situações. 
A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. 
Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos extraordinários (uma guerra, por exemplo), que tornem excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação, parcial ou totalmente. 
A Teoria da Imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa — o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus. 
O Código de 2002 dedicou uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos por onerosidade excessiva. Dispõe, com efeito, o artigo 478 do referido diploma: 
Art. 478 - Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. 
Prescreve, por sua vez, o art. 479 do Código Civil:
“A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato”. 
Estatui, ainda, o art. 480 do mesmo diploma:
“Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva”. 
Em realidade, com base nas cláusulas gerais sempre se poderá encontrar fundamento para a revisão ou a extinção do contrato em razão de fato superveniente que desvirtue sua finalidade social, agrida as exigências da boa-fé e signifique o enriquecimento indevido para uma das partes, em detrimento da outra. 
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INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
O intérprete particular é o árbitro e o público é o Juiz.
O hermeneuta, na interpretação, deve seguir a lei, a jurisprudência e sua consciência. 
REGRAS QUE PODEM AJUDAR O TRABALHO DO HERMENEUTA
a) busca da vontade real: qual o espírito, qual a alma, qual a vontade desejada pelo contrato? Esta primeira regra é a mais importante, pois na alma do contrato está o consensualismo. A vontade real é a desejada pelas partes, que pode ser diferente da manifestada (= vontade declarada). Deve o Juiz tentar reconstruir o ato de vontade em que se exteriorizou o contrato para buscar a vontade real. Nos contratos deve-se ater mais à vontade dos contraentes do que às palavras. 
b) senso médio: o intérprete deve se colocar no lugar das partes e raciocinar como faria o homem médio, ou seja, a generalidade da população, sem extremos, sem radicalismos, de acordo com os costumes. Uma cláusula ambígua interpreta-se conforme o costume do lugar. O senso médio é a sensatez, equilíbrio, razoabilidade, que só vem com estudo e com o tempo. A boa-fé significa que uma das partes se entrega à conduta leal da outra, confiando que não será enganada (ex: comprar carro usado). 
c) fim econômico: todo contrato tem um objetivo econômico, pois ninguém contrata para ter prejuízo e sim para satisfazer sua necessidade e ter um ganho patrimonial. Assim, nos contratos comutativos e onerosos deve-se buscar a equivalência entre as prestações. É a chamada função social do contrato que prevê trocas úteis e justas.
d) uma cláusula em destaque prevalece sobre as outras: num contrato uma cláusula em negrito, com destaque, prevalece sobre as outras, justamente porque se presume que aquela cláusula chamou mais a atenção das partes. 
e) dirigismo contratual: é uma política do Estado para dar superioridade jurídica a classes economicamente fracas como o consumidor, o devedor, o trabalhador e o inquilino (art. 423 do CC; art. 47 da lei 8.078/90). 
f) contratos benéficos: são aqueles unilaterais e gratuitos (ex: doação, empréstimo, fiança). Na sua interpretação deve-se proteger a parte que fez o benefício, que fez a liberalidade (ex: doador, comodante, mutuante e fiador). 
Ex: Se A empresta dinheiro a B, deve-se interpretar em favor do devedor/mutuário, conforme o dirigismo contratual, ou do mutuante/credor. 
EFEITOS DOS CONTRATOS
1 – obrigatoriedade: o contrato cria um vínculo jurídico entre as partes dotado de obrigatoriedade. Diz-se que o contrato faz lei entre as partes. Os celebrantes devem honrar a palavra empenhada e cumprir o contrato sob pena de responsabilidade patrimonial, ou de, excepcionalmente, cumprimento forçado do contrato, através do Juiz. 
2 – irretratabilidade: uma vez perfeito e acabado, o pacto só pode ser desfeito por outro contrato chamado distrato, e não por imposição de uma das partes. Na autonomia privada, tudo, ou quase tudo, pode ser combinado e desfeito, mas sempre por consenso.
3 – intangibilidade: além de não poder ser desfeito, o contrato não pode ser alterado por apenas um dos celebrantes, sempre vai exigir novo acordo. De regra o contrato é assim irrevogável (= irretratável) e intangível (= inalterável).
4 – efeito pessoal: em relação ao objeto, o contrato cria obrigações de natureza pessoal. O credor exige do devedor o cumprimento da prestação sob pena de perdas e danos. Esta é a regra: descumprido o contrato, resolve-se em perdas e danos. 
O Código Civil de 2002 admite expressamente que, em alguns caos, a parte inocente exija o cumprimento forçado do contrato, ao invés da simples perdas e danos contra o inadimplente. 
Ex. Se Mariana vende um carro a Vitor, recebe o preço, mas depois se arrepende e se recusa a entregar o veículo, a regra geral é Vitor pedir uma indenização por perdas e danos. Admite-se também a lei a execução in natura do contrato, de modo que o comprador, através do Juiz, pode tomar o carro de Mariana. Esta possibilidade corresponde a um efeito real nos contratos, que geralmente só tem efeitos pessoais. 
Tradicionalmente deve-se partir para as  perdas e danos quando a execução forçada for inviável ou causar constrangimento físico ao devedor. 
INSTITUTOS QUE SOMENTE SE APLICAM AOS CONTRATOS BILATERAIS, OU SEJA, ÀQUELES ONDE AMBAS AS PARTES TÊM DEVERES E DIREITOS RECÍPROCOS 
1 – exceção do contrato não cumprido ou exceptio non adimpleti contractus: a palavra exceção aqui tem significado de defesa, então este instituto é uma manobra defensiva usada por uma das partes para fazer a outra cumprir com sua obrigação. 
Ex: A e B celebram um contrato e A exige que B cumpra sua obrigação; B então se defende com base no art. 476: se A quer que B cumpra sua obrigação, A deve primeiro cumprir a dele.  
Ex: Na compra e venda, só posso exigir a coisa depois de pagar o preço. 
Ex: Naprestação de serviço, só posso exigir o diagnóstico do médico depois de pagar a consulta. 
Ex: No seguro, só posso exigir a indenização depois de ter pago o prêmio. 
A essência dos contratos bilaterais é o sinalagma e a dependência recíproca das obrigações. 
Importante salientar que quando as prestações são simultâneas não há problemas (Ex: compra e venda de balcão). Ressalto que o mau cumprimento corresponde ao não-cumprimento, assim para exigir a coisa na compra e venda, é preciso pagar o preço total e não apenas parcial.
2 – arras: esta palavra deriva do latim arrha e significa garantia. As arras são um sinal de pagamento para a firmeza do contrato, inibindo o arrependimento das partes. Corresponde a uma quantia dada por um dos contratantes ao outro como sinal/garantia da confirmação de um contrato bilateral. 
As arras em geral são em dinheiro, mas podem ser em coisas.
Ex: um carro como sinal na compra de um apartamento. Quanto o contrato é fechado, as arras são devolvidas ou abatidas do preço. Se o contrato não for concluído por culpa/desistência da parte que deu as arras, elas serão perdidas em favor da parte inocente. 
Se quem desistir for a parte que recebeu as arras, terá que devolvê-las em dobro, devidamente corrigida, artigo 418. 
As arras se assemelham à cláusula penal. Só que as arras são logo entregues, enquanto a cláusula penal só terá aplicação se o contrato for futuramente desfeito.
3 – vícios redibitórios: são os defeitos contemporâneos ocultos e graves que desvalorizam ou tornam imprestável a coisa objeto de contrato bilateral e oneroso, conforme artigo 441. 
Tais defeitos vão redibir o contrato, tornando-o sem efeito.  Aplica-se aos contratos de compra e venda, troca, locação, doação onerosa (parágrafo único do art. 441) e na dação em pagamento.
Exemplos: comprar um cavalo manco ou estéril; alugar uma casa que tem muitas goteiras; receber em pagamento um carro que aquece o motor nas subidas, etc.
Em todos esses exemplos poderemos aplicar a teoria dos vícios redibitórios para duas consequências, a critério do adquirente: 
a) desfazer o negócio, rejeitar a coisa e receber o dinheiro de volta; 
b) ficar com a coisa defeituosa e pedir um abatimento no preço, artigo 442. 
Para caracterizar um vício redibitório o defeito precisa ser contemporâneo, ou seja, existir na época da aquisição, artigo 444, pois se o defeito surge depois o ônus será do atual proprietário, afinal res perit domino (= a coisa perece para o dono, ou o prejuízo pela perda espontânea da coisa deve ser suportado pelo dono). 
Além de contemporâneo o defeito deve ser oculto, ou seja, não estar visível, pois se estiver nítido e mesmo assim o adquirente aceitar, é porque conhecia as condições da coisa.
Ex: carro arranhado, cavalo com uma perna menor do que a outra, casa com as telhas quebradas, etc).
Se o vício é oculto, porém do conhecimento do alienante que agiu de má-fé, este responderá também por perdas e danos, artigos 422 e 443.
Além de contemporâneo e oculto, o defeito precisa ser grave, e só a riqueza do caso concreto e a razoabilidade do Juiz é que saberão definir o que é grave ou não.
Existe um prazo decadencial na lei para o adquirente reclamar o vício, prazo que se inicia com o surgimento do defeito.
Ex: o adquirente só vai saber se uma casa tem goteira quando chover, artigo 445 e §§ 1º e 2º ).
4 – evicção: a evicção garante o comprador contra os defeitos jurídicos da coisa, enquanto os vícios redibitórios garantem o adquirente contra os defeitos materiais. Evicção vem do verbo evincere, que significa “ser vencido”.  
Aplica-se à compra e venda e troca (bilateral), mas nas doações não (unilaterais). 
Conceito de Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença que reconhece a outrem direito anterior sobre ela. 
Ex: A é filho único e com a morte de seu pai herda todos os bens, inclusive uma casa na praia; A então vende esta casa a B, eis que aparece um testamento do falecido pai determinando que aquela casa pertenceria a C; verificada pelo Juiz a veracidade do testamento, desfaz-se então a venda, entrega-se a casa a C e A devolve o dinheiro a B.
Chamamos de evicto o adquirente, no exemplo é B, é a pessoa que comprou a casa e que vai perdê-la, recebendo porém o dinheiro de volta e os direitos decorrentes da evicção previstos no art. 450.  
Evicta é a coisa, é a casa da praia. 
Evictor é o terceiro reivindicante, é C, que vence. Alienante é A, é aquele que vendeu a coisa que não era sua, e mesmo sem saber disso, mesmo de boa-fé, assume os riscos da evicção, artigo 447. 
O contrato pode excluir a cláusula da evicção, ou até reforçá-la.
Ex: se ocorrer a evicção, o alienante se compromete a devolver ao evicto o dobro do preço pago, artigo 448.    
Se a evicção ocorrer numa doação, o evicto não perde nada, pois não pagou pela coisa, apenas vai deixar de ganhar.  
Fundamento da evicção: justifica-se na obrigação do alienante de garantir ao comprador a propriedade da coisa transmitida, e que ninguém vai interferir no uso dessa coisa. 
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EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
Se o contrato nasce do acordo de vontades, ele geralmente cessa com o cumprimento da prestação, sendo executado pelas partes, até que os resultados finais previstos sejam alcançados, liberando o devedor e satisfazendo o credor. 
De regra o contrato nasce para cumprir sua função social e ser extinto pelo adimplemento da obrigação. 
Todavia encontramos na vida prática a extinção do contrato antes do seu fim natural que é a prestação e o pagamento. 
CLASSIFICAÇÃO
1  - Resilição bilateral ou distrato: é o contrato feito para extinguir outro contrato (artigo 472), quando as partes acordam em extinguir o contrato pela mesma forma exigida para celebrá-lo. 
Ex: inquilino que combina com o locador desocupar o imóvel antes do prazo: locação escrita e distrato verbal. 
O distrato é um acordo liberatório, desatando o laço que prendia as partes pela vontade comum delas.
2 – Resilição unilateral: se o contrato e o distrato nascem do acordo, a resilição unilateral tem caráter de exceção, pois rompe o vínculo sem a anuência do outro contratante, artigo 473. 
Empréstimo, mandato e depósito são contratos que, pela sua natureza de exigirem confiança, admitem resilição unilateral.
Ex: empresto minha casa de campo para meu irmão desempregado morar, posso pedir de volta a qualquer momento, artigo 582.
Ex: contrato de trabalho, pois o patrão pode demitir o empregado mesmo contra a vontade dele.
3 – Resolução: enquanto na resilição o contrato é extinto pela vontade das partes, na resolução o contrato se extingue pelo inadimplemento. 
Na resolução cessa o contrato por ter o devedor faltado ao cumprimento de sua obrigação, cabendo ao prejudicado exigir perdas e danos ou a execução forçada.
Tacitamente todo contrato sinalagmático tem essa cláusula resolutiva de exigir perdas e danos em caso de inadimplemento, mas se a parte preferir pode inseri-la expressamente, artigo 474. 
Dá-se também a resolução por onerosidade excessiva.
Todavia se o inadimplemento decorre de caso fortuito, ou seja, se a inexecução for involuntária, o devedor não pode ser responsabilizado, artigo 393.
Ex: cantor fica gripado e não pode fazer o show contratado.
4 – Arrependimento: não é comum na lei, então as partes devem prever no contrato o exercício do direito de arrependimento para desfazer o contrato, artigo 420.
O Código do Consumidor admite o arrependimento no artigo 49 quando a compra é feita por telefone.

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