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6_-_O_mundo_Globalizado_-_Aranha_e_Marti

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o mundo globalizado
Nelson Leirner, Sem titulo, da serie Assim e ... se Ihe parece 1(2003). Fotografia (120 x 218 cm).
o artista contemporaneo critica como a globaliza<;:ao se da, utilizando a bandeira americana
para cobrir 0 mapa-mundi. A globaliza<;:ao e um processo irreversivel, que traz em seu bojo
aspectos positivos e negativos. Resta aos parses perifericos denunciar a assimila<;:ao passiva
de valores das culturas hegem6nicas e buscar formas alternativas de intercambio mundial.
Primeira parte - a que e globalizagao
Se olharmos a hist6ria da humanidade,
veremos que as sociedades tradicionais
mudam muito lentamente, 0 que permite as
novas gera<;:oes a adapta<;:ao segura a he-
ran<;:arecebida.
A extrema rapidez das mudan<;:as, po-
rem, tem nos deixado perplexos. Na socie-
dade contemporanea, as noticias nao che-
gam como antigamente, no "Iombo dos bur-
ros"; ao contrario, podem se disseminar ins-
tantaneamente por todo 0 globo, pelas
infovias. Do mesmo modo, as cren<;:as soli-
dificadas perdem a for<;:aque dava segu-
ran<;:aas decisoes importantes, enquanto a
82--
diversidade das culturas oferece a possibi-
lidade de adesao a ideias mais dfspares,
colocando em xeque a visao de mundo com
aspira<;:oes a "verdade absoluta".
Vivemos 0 tempo da globalizaC;Bo, como
se 0 mundo fosse uma grande aldeia.-Globalizac;:ao: "A globalizac;:ao pode ser de-
finida como a intensificac;:ao das relac;:6esso-
ciais em escala mundial, que ligam local ida-
des distantes de tal maneira que aconteci-
mentos locais sac modelados por eventos
ocorrendo a muitas milhas de distancia e
vice-versa." (Anthony Giddens)
Ha quem contra-argumente que sem-
pre existiu algum tipo de internaciona-
lizac;;ao, bastando voltar no tempo para
lembrar 0 imperialismo da civilizac;;8.o
helenista ou da romana, na Antiguidade,
o descobrimento do Novo Mundo e 0 co-
mercio das metropoles europeias com as
col6nias desde 0 seculo XVI ate 0 XIX,
alem da colonizac;;ao de paises africanos
e orientais no seculo XIX.
No entanto, em epoca alguma se atin-
giu tal nivel de inter-relacionamento que
agora nos permite falar em um mercado
mundial que determina a produc;;ao, a distri-
buic;;aoe 0 consumo de bens e em uma cul-
tura da "virtualidade real", que liga todos os
pontos do globo, modelando comportamen-
tos, como veremos na sequencia.
Essa transformac;;8.oradical ocorrida nas
ultimas decadas deve-se, principalmente,
ao impacto das novas tecnologias
eletroeletr6nicas, que revolucionaram os
meios de comunicac;;ao de massa, tais como
radio, televisao, video, jornal, revistas de
grande circulac;;ao, redes informatizadas
como a internet etc. Os novos meios saG
responsaveis pela rapida e ampla difus8.o
da informac;;8.o, ao mesmo tempo que tra-
zem 0 risco de massificar e homogeneizar,
podendo descaracterizar as culturas tradi-
cionais e diluir as diferenc;;as individuais.
Desde 0 final dos anos de 1960 e mea-
dos de 1970, teve inicio a revolw;ao da
tecnologia da informa c;;ao, inaugurando 0
mundo novo da sociedade em rede.
o sociologo catalao Manuel Castells' cita
alguns exemplos de redes, com seus con-
juntos de nos interconectados, em que cad a
no depende do tipo de rede em que se en-
contram.
• Rede dos fluxos financeiros globais: mer-
cados de bolsas de valores e suas cen-
trais de servic;;os auxiliares.
• Rede global da nova mfdia: sistemas de
TV, estudios de entretenimento, meios de
computac;;8.o grafica, equipes para cober-
tura jornalistica e equipamentos moveis.
• Rede politica que governa a Uniao Euro-
peia: conselhos nacionais de ministros e
comissarios europeus.
• Rede de trafico de drogas campos de
coca e de papoula, laboratorios clandes-
tinos, pistas de aterrissagem secretas,
gangues de rua e institui90es financeiras
para lavagem de dinheiro.
E assim por diante, poderiamos dar uma
infinidade de exemplos.
Essa forma inedita de organizac;;ao glo-
bal em rede tem exercido influencia capital
em varios setores da atuac;;ao humana, ge-
rando mesmo um novo tipo de sociedade.
As grandes descobertas tecnologicas no
campo da automac;;8.o, da robotica e da
microeletr6nica transformaram radicalmente
nao so as fabricas, como 0 setor de servic;;os,
a cidade e 0 campo, as residencias, os trans-
portes e a comunicac;;8.o A influencia esma-
gadora da midia e da Informatica no cotidia-
no das pessoas faz mudar a maneira de sen-
tir e de pensar, devido ao predominio da ima-
gem e da informac;;8.oabundante e fragmen-
tada, fatores que provocam inclusive altera-
c;;oesna percepc;;8.ode tempo e de espac;;o.
Vejamos 0 que de fato mudou na produ-
C;;8.0,na politica, nas relac;;oesinterpessoais e
na cultura, entre tantos outros campos que
passaram por alterac;;oessignificativas.
Comecemos pelas formas de produc;;ao.
No mundo do trabalho muitos concei-
tos se alteraram, como vimos no capitulo 3,
"0 fazer humano", ao discutirmos 0 surgi-
mento da sociedade pas-industrial. A ampli-
ac;;8.osignificativa do setor de servic;;os,ace-
lerada pelo refinamento da sociedade
informatizada, deslocou cada vez mais 0 nu-
cleo das atividades para a regi8.o urbana.
1 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 5. ed. Sao Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 498 (Serie A era da informa-
gao: economia, sociedade e cullura, v. 1).
Nas fabricas, a produc;ao em massa, tf-
pica da rigidez do fordismo, tem sido subs-
tituida pela exigencia de maior flexibilida-
de, que nao so evita a padronizac;ao dos
produtos, como tambem requer um traba-
Ihador com formac;ao abrangente, capaz de
se readaptar com rapidez a condic;oes sem-
pre diferentes. Para tanto, sera preciso uma
educac;ao que estimule a iniciativa, a capa-
cidade de decisao, a criatividade e a dis-
ponibilidade para 0 novo.
Do ponto de vista econ6mico, na maior
parte do globo predomina 0 modo de pro-
duc;ao capitalista. Com a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e a adesao de muitos pai-
ses socialistas a economia de mercado, viu-
se fortalecido 0 neoliberalismo, bem como
os mecanismos do capital transnacio-
nalizado. Por isso, a globalizac;ao, ao lado
dos seus beneficios, preocupa sobretudo
os paises perifericos, que, por serem eco-
nomicamente dependentes, perdem a au-
tonomia e se curvam as decisoes externas,
que nem sempre vem ao encontro de seus I
interesses.
Os desequilibrios do sistema transpa-
recem no desemprego estrutural resultante
da automac;ao e nas ondas migratorias den-
tro de um mesmo pais, ou entre nac;oes,
recrudescendo as manifestac;oes de xeno-
fobia, de rejeic;ao ao estrangeiro.
Tambem na produc;ao do saber ocorre
intercambio entre as nac;oes, por meio de flu-
xos de informac;oes entre as universidades,
nos congressos internacionais e pela publi-
cac;ao de ampla literatura dos diversos cam-
pos do saber. Nao mais solitario, 0 cientista
trabalha em equipe, em laboratorios bem
montados ~ inclusive com computadores de
alta precisao ~ e sob investimentos altfs-
simos, que so as grandes corporac;oes e os
governos saG capazes de bancar.
E bem verdade, na sociedade capita-
lista baseada no lucro, a guerra das paten-
tes nao da tregua, chegando ao patetico de
empresas tentarem registrar a propriedade
de material genetico ~ que e patrim6nio da
humanidade ..
PoHtica e globaliza(fao
As questOes anteriores nos remetem ao
tema da polftica, ou seja, ao jogo de poder
diante do confronto de forc;as no espac;o
mundializado. Voltando no tempo, lembra-
mos que a modernidade ~ que comec;ou a
se configurar no seculo XVII ~, entre outras
caracteristicas, foi marcada pelo surgimento
das monarquias nacionais, baseadas no
conceito de Estado-na93.0, como espac;o
unificado e soberano que con centra 0 po-
der e detem "0 monopolio da forc;a legitima".
Hoje, porem, nao se pode mais falar
exclusivamente nesse tipo de central i-
dade. Ainda que as nac;oes mantenham
sua soberania e nao desaparec;am no mun-
do que se globaliza, cada vez mais exis-
tem instituic;oes intergovernamentais inte-
ressadas em restabelecer 0 equilibrio de
forc;as, posta em perigo pelos paises mais
poderosos. Esse "forum" mundial nao se
restringe aos poderesgovernamentais
constituidos, mas esta aberto tambem aos
representantes dos variados grupos repre-
sentativos da sociedade civil, que lutam por
bandeiras as mais diversas ~ ecologia, di-
reitos humanos e emancipac;ao dos exclui-
dos do poder, como mulheres, negros e gays
~ e extravasam as fronteiras nacionais com
reivindicac;oes em termos mundiais.
Como exemplos, lembramos a conheci-
da atuac;ao da Anistia Internacional na luta
pelos direitos humanos e do Greenpeace na
defesa do equilibrio ecologico. Do mesmo
modo a Organizac;ao das Nac;oes Unidas
(ONU), a Organizac;ao dos Estados America-
nos (OEA), a Organizac;ao do Tratado do
Atlantico Norte (Otan), a Uniao Europeia, 0
Mercosul e eventos como Rio 92, Rio +10,
sejam esses organismos de natureza polftica
ou econ6mica, refletem a necessidade de as-
sembleias com representantes de varios par-
ses, para pressionar governos ou mobilizar
pessoas, a fim de resolver problemas que in-
teressam ao planeta No que se refere estrita-
mente a questao da globalizac;ao, saG inume-
ros os movimentos de oposic;ao, ou pelo me-
nos de reivindicac;ao, de uma globalizac;ao
alternativa, mais democratica e menos
exciudente, como veremos adiante.
Ainda quanta aos poderes, mas na con-
tramao dos interesses solidarios, nao pode-
mos nos esquecer da influencia politica das
ja citadas redes mundiais de narcotrafico,
de lavagem de dinheiro da corrupc;ao, bem
como das organizac;oes terroristas. E tam-
bem de uma "ordem militar mundial" que
estimula a industrializac;ao da guerra, com
a produc;ao de armas e a promoc;ao de ali-
anc;as e ameac;as entre Estados.
Outro setor em que notamos mudanc;as
fantasticas e 0 das relac:;oes interpes-
soais. 0 comportamento dos indivfduos,
suas expectativas e os pad roes de sociali-
zac;ao tambem foram profundamente alte-
rados com a globalizac;ao em curso. Nao
s6 devido as transformac;oes ja referidas,
que interferem na vida de cad a um de n6s,
mas, segundo 0 jurista e fil6sofo italiano
Norberto Bobbio, grac;as a maior das revo-
luc;oes silenciosas de nossos tempos, que
, foi a transformaC;80 das relac;oes entre os
sexos, isto e, da relac;ao de generos.
E tambem essa a opiniao do historiador
Eric Hobsbawm, quando diz que no seculo
xx ocorreu uma profunda "revoluc;ao moral
e cultural, uma dramatica transformac;ao das
convenc;oes de comportamento social e
pessoal. As mulheres foram cruciais nessa
revoluc;ao cultural que girou em torno das
mudanc;as na familia tradicional e nas ativi-
dades domesticas de que as mulheres sem-
pre tinham sido 0 elemento central".
Ao criticar 0 mundo androcentrico -
centrado no poder masculino -, a emancipa-
c;aofeminina criou outras expectativas sobre
os papeis que 0 homem e a mulher desempe-
nhavam ate entao na sociedade e no nucleo
familiar.Assim, entra em crise 0 patriarcalismo
ao se dissolverem as fronteiras entre 0 homem
"chefe de familia", "provedor", e a mulher ape-
nas "mae" e "dona de casa".
Mas atenc;ao: isso nao significa 0 desa-
parecimento da instituic;ao familiar, e sim a
sua transformac;ao profunda, em direc;ao a
outros modelos de relac;oes familiares. Mui-
tos deles ainda causam escandalos e te-
mores, devido aos div6rcios e casamentos
sucessivos, familias sem casamento ofici-
ai, adoc;ao de filhos fora do casamento, a
"produc;ao independente" da opc;ao
monoparental (a crianc;a vivendo s6 com pai
ou s6 com a mae), casamento gaye tantas
outras formas de constituic;ao familiar.
A esse prop6sito, a historiadora e psi-
canalista francesa Elisabeth Roudinesco,
baseando-se em pesquisas sociol6gicas,
acrescenta: "Finalmente, para os pessimis-
tas que pensam que a civilizac;ao corre 0
risco de ser engolida por clones, barbaros
bissexuais ou delinquentes da periferia,
concebidos por pais desvairados e maes
errantes, observamos que essas desordens
nao saG novas - mesmo que se manifes-
tem de forma inedita - e sobretudo que
nao impedem que a familia seja atualmente
reivindicada como 0 unico valor segura ao
qual ninguem quer renunciar. Ela e amada,
sonhada e desejada por homens, mulheres
e crianc;as de todas as idades, de todas as
orientac;oes sexuais e de todas as condi-
c;oes". E acrescenta: "A familia do futuro
deve ser mais umas vez reinventada".2-"Vejo sinais de uma recomposic;:ao da familia,
a medida que milh6es de homens parecem
estar prontos para desistir de seus privilegios
e trabalhar ao lade das mulheres, para en-
contrar novas form as de amar, compartilhar e
ter filhos. Na verdade, acredito que a recons-
truc;:aodas famflias sob formas igualitarias seja
o alicerce necessario para a reconstruc;:ao da
sociedade pela base. (... ) A mudam;a mais
fundamental das relar:;6es de experiencia na
Era da Informar:;ao e sua passagem para um
padrao de interar:;ao social construfdo sobre-
tudo pela experiencia real da relar:;ao. Hoje
em dia, as pessoas mais produzem formas
de sociabilidade que seguem modelos de
comportamento." (Manuel Castells)
85-
3. A cultura diante dos
processos de globaliza~ao
o processo de globaliza<;;ao cultural e
fortemente marcado pela divulga<;;ao dos
valores da industria cultural ocidental, prin-
cipalmente da norte-americana. Ou seja:
como na economia e na politica, os proces-
sos de globaliza<;;ao nao saGsimetricos, nao
saG abertos para todos, de modo igualita-
rio. Pelo contrario, dao oportunidades para
que 0 poder dos pafses centrais se exer<;;a,
alargando mercados, trazendo novos valo-
res, mod os de vida, sonhos de con sumo.
Para melhor compreender esses proces-
sos, vamos examinar dois modos complemen-
tares pelos quais se produz a globaliza<;;ao.
o primeiro deles e 0 que 0 soci610go
Boaventura de Sousa Santos3 chama de
local/smo global/zado quando deter-
minado fen6meno cultural local e globalizado
com sucesso. Eo caso da expansao da lin-
gua inglesa como lingua mundial, especial-
mente na internet; da difusao do fast food
como modo de alimenta<;;ao, nao s6 em me-
tr6poles, mas tambem nas pequenas cida-
des; dos pad roes do cinema comercial de
Hollywood, que tambem promove 0 "modo
americano de viver" desde 0 final da Segun-
da Guerra Mundial; dos pad roes de musica
popular; dos parques tematicos etc.
o que se globaliza, nesse caso, e a cul-
tura dos vencedores, que valorizam as ma-
nifesta<;;oesculturais dos pafses centrais em
detrimento da cultura dos lugares periferi-
coso A vit6ria traz a possibilidade de ditar os
termos da integra<;;ao, da competi<;;ao e da
exclusao, e aquilo que era pr6prio de um
local e universalizado, permitindo-se ate a
inclusao de culturas diferentes, mas somen-
te como subalternas e alternativas. Na ver-
dade, esses processos de acultura<;;ao tan-
to podem ser de assimila<;;ao, quanta de in-
corpora<;;ao, como vimos no capitulo 1, "0
que e cultura" Veja-se como exemplo os fil-
mes brasileiros candidatos ao Oscar, nos pri-
meiros anos do seculo XXI, que saG aceitos
na competi<;;ao como produ<;;ao subalterna,
I alternativa, mostrando a pobreza, a crimi-
nalidade, as favelas, os desvalidos sociais e
correspondendo a visao que os pafses cen-
trais tem do Brasil.
o segundo modo de produzir a
globaliza<;;ao, ainda de acordo com 0 mes-
mo autor, denominado de global/sma locali-
zado, e a contrapartida e 0 complemento do
anterior, agora visto a partir da 6tica das
culturas perifericas. E 0 impacto produzido
pelas praticas e pelos imperativos transna-
cionais decorrentes dos localismos
globalizados sobre as condi<;;oes locais.
As culturas locais saG desintegradas,
porque a tradi<;;aoe desestruturada e, even-
tualmente, reestruturada sob a forma de in-
clusao subalterna. Como exemplo desse
processo, podemos citar 0 uso turistico de
sftios hist6ricos, cerim6nias religiosas, do
artesanato, da natureza e da vida selvagem
que devem ser restaurados, equipados e
estruturados segundo os pad roes e as ex-
pectativas dos turistas internacionais. His-
t6ria, religiao, artesanato, festas folcl6ricas
o mau habito de comer hamburguer, que
tern alta taxa de gordura saturada, espalhou-
se pelo mundo, tendo chegado ate a China.
3 SANTOS, Boaventurade S. "A linha do horizonte". In: SANTOS, Boaventura S. A globalizac;ao e as ciencias
sociais. 2. ed. Sao Paulo: Cortez, 2002.
86--
ou tipicas, culinaria, natureza e vida selva-
gem deixam de responder simplesmente as
necessidades locais, para atender as ne-
cessidades da industria turistica global.
As consequencias da globalizagao da
cultura - algumas positivas e outras nega-
tivas - saG bastante variadas.
Do lado positivo, ha hoje uma facilidade
de se conhecer outras culturas, seja por meio
do turismo; dos restaurantes que oferecem
culinaria de diversos parses; dos filmes de
diferentes origens - como os indianos, irani-
anos, argentinos, suecos, espanh6is, irlande-
ses e outros, que fogem do padrao do cine-
ma comercial norte-americano -; da televi-
SaGpor assinatura, que oferece programas
de e sobre varios parses, etnias, usos e cos-
tumes de locais e comunidades remotas; sem
esquecer que tambem se editam livros de
autores do mundo todo em todo 0 mundo.
Do lado negativo, a consequencia mais
discutida e a possibilidade de que a cultura
mundial seja homogeneizada, isto e, que haja
o nivelamento de todos os produtos cultu-
rais, uma vez que seriam produzidos por um
mesmo sistema tecnico, para atender ao mer-
cado planetario. (Consultar no capitulo 4 0
item "Cultura de massa")
Segundo 0 soci610go Renato Ortiz4, 0
processo de homogeneizagao tambem
pode ser visto sob duas 6ticas: a otimista e
a pessimista. Na visao otimista, 0 isolamen-
to entre os seres humanos de diversas par-
tes do mundo seria rompido, levando ao
reconhecimento mutuo e a comunhao. Na
visao pessimista, traria a padronizagao da
conduta e a sociedade apresentaria uma
face unidimensional, consumindo os mes-
mos objetos simb61icos (mod a, cinema, li-
teratura, culinaria, musica etc.) para suprir
suas necessidades e seus desejos.
Para resolver 0 conflito entre esses pon-
tos de vista, Ortiz propoe que a globalizagao
seja vista como transversalidade algo que
atravessa a cultura local, regional e nacio-
nal. A cultura mundializada nao existe ape-
nas como ideologia, mas se materializa no
cotidiano dos individuos que compartilham
os mesmos interesses, as mesmas neces-
sidades, 0 mesmo imaginario. Nesse senti-
do, nao se cria a unidimensionalidade, mas
se da espago para a manifestagao da
multiplicidade cultural, em que as reivindi-
cagoes locais especificas convivem com a
produgao global, que nao pertence aquele
territ6rio geografico. 0 particular continua
existindo, porem envolto por uma trama que
conecta as partes em um todo mais amplo.
E necessario destacar que a trans-
versalidade nao elimina 0 fato de que a cul-
tura global aspira a um lugar de dominagao
e pressupoe acomodagoes e conflitos pe-
culiares a cada caso. Nao sendo um pro-
cesso homogeneo, a sua influencia pode ser
maior ou menor, dependendo da forga da
cultura local para responder as necessida-
des da comunidade, do aces so a informa-
gao de outras partes do mundo e do aces-
so aos meios de comunicagao.
Bonecos do carnaval de Olinda (PE). Ao contrario do
carnaval do Rio e de Sao Paulo, 0 de Recife, Olinda e
algumas cidades do interior, como Sao Luis de
Paraitinga (SP), preserva as tradi<;6es e mantem a par-
ticipaC;;aoda populaC;;ao local.
87--
4. Por uma globalizac;ao
alternativa
Vivemos hoje um tipo de globaliza<;ao
comandado pelas for<;as do capitalismo
neoliberal, que, apesar de ser um sistema
econ6mico capaz de produzir riqueza e ace-
lerar a progresso, com significativo poder
politico, mostrou-se incapaz de distribuf-Ia de
maneira justa 0 mundo sofre com problemas
como fame, mortalidade infantil, falta de sa-
neamento basico devido a concentra<;ao de
renda e de terras nas maos de poucos A
pobreza dos inumeros paises perifericos con-
trasta com a situa<;aodas na<;oespoderosas,
as quais nao chegam a uma dezena: basta
ler nos jornais quando as G7 au G8 - grupo
dos sete paises mais ricos mais a Russia -
reunem-se para decidir nossos destinos.
Alem disso, em nome das for<;as eco-
n6micas, as paises se mantem insensfveis
- au reagem muito lentamente - aos ape-
los dos movimentos ecologicos que denun-
ciam as agressoes ao equilibria da nature-
za. Nao par acaso, tambem a polui<;ao e
um fen6meno global: as chuvas acidas que
ocorriam na Suecia e na Noruega na deca-
da de 1960, prejudicando a cria<;ao de sal-
moes e trutas, resultavam da emissao de
gases de industrias da Inglaterra e da Ale-
manha. Outro exemplo e a da forma<;ao do
buraco na camada de oz6nio da estratos-
fera, provocado par certos gases usados
na fabrica<;ao de refrigeradores e que mui-
tas industrias resistiam a substituir.
o descontentamento com a descom-
passo entre meios e fins, em que a merca-
do e mais importante que a ser humano,
estimula a cria<;ao de grupos ecologicos
desde ha algum tempo. Em 1996, no Mexi-
co, um movimento antiglobaliza<;ao ocorreu
no Primeiro Encontro Internacional pela
Humanidade e contra a Neoliberalismo.
Outras rea<;oes se seguiram, nem sem-
pre contra a globaliza<;ao em si, considera-
da par muitos um acontecimento irreversivel,
mas pela defesa de uma globalizar;ao alter-
nativa e democratica, que levasse em conta
as reivindica<;oes dos mais diversos segmen-
tos sociais que se consideram prejudicados.
Encontros como as de Seattle (EUA), Davos
(Sui<;a), Genova (Italia), e muitos outros, fo-
ram pal cas de protestos de que participa-
ram - do lado de fora - representantes de
ONGs, centrais sindicais, partidos politicos,
grupos de esquerda, estudantes etc.
Nessa polemica, mereceu noticia a
Forum Economico Mundial que se reuniu em
Davos, na Sui<;a, em 2000, e cujo ideario
neoliberal se contrapunha ao do Forum So-
cial Mundial de Porto Alegre, no Brasil, ins-
talado na mesma epoca para priorizar a so-
cial, e nao a economico.
Como vimos no inicio deste capitulo, a
fen6meno da globaliza<;ao trouxe transforma-
<;oese impactos tanto positivos quanta nega-
tivos, que podemos ver com otimismo au pes-
simismo. Tudo dependera de como as for<;as
com interesses antag6nicos se confrontem,
para que possamos garantir a esperan<;a de
que um outro mundo melhor seja possivei.
•• V A"W1t ~
Abertura do Forum Social Mundial (2005), em Porto
Alegre (RS). 0 primeiro encontro do Forum Social Mun-
dial deu-se em 2000, na defesa da globalizac;:ao demo-
cr{ltica contra 0 ideario neoliberal e elitista do Forum
Econ6mico Mundial de Davos, na Sufc;:a.
=111Moderna
© Maria Lucia de Arruda Aranha,
Maria Helena Pires Martins 2005
Coordena~ao editorial: Maria Raquel Apolinario
Edi~ao de texto: Carlos Zanchetta
Prepara~ao de texto: Roberta O. Stracieri Fareleiro
Coordena~ao de design e projetos visuais: Sandra Botelho de arvalho Homma
Projeto grMico: Luiz Fernando Rubio
Capa: Luiz Fernando Rubio
Foto: Romulo Fialdini
Coordena~ao de produ~ao grMica: Andre Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues
Coordena~ao de revisao: Estevam Vieira Ledo Jr.
Revisao: Lapis Litteris
Edi~ao de arte: Renata Susana Rechberger
Assistimcia de produ~ao: Enriqueta Monica Meyer, Ricardo Yorio
Coordena~ao de pesquisa iconogrMica: Ana Lucia Soares
Pesquisa iconogrMica: Maria Helena Pires Martins, Rosana Carneiro
As imagens identificadas com a sigla CIO foram fornecidas pelo Centro de
InformaGao e OocumentaGao da Editora Moderna.
Coordena~ao de tratamento de imjlgens: Americo Jesus
Tratamento de imagens: Fabio N. Precendo, Luiz Carlos Costa, Riedel Pedrosa
Saida de filmes: Helio P. de Souza Filho, Marcio Hideyuki Kamoto
Coordena~ao de produ~ao industrial: Wilson Aparecido Troque
Impressao e acabamento: Yangrsf Gratica e Editora Ltda.
Aranha, Maria Lucia de Arruda
Temas de filosofia I Maria Lucia de Arruda
Aranha, Maria Helena Pires Martins. - 3. ed. rev.
- Sao Paulo' Moderna, 2005.
Capa: ProJ8ctio 2 (1984). de Regina Silveira. 0 que se vel A proje<;Bo impassivel de uma escada
mexistente? Ou 0 usa da perspectlva - a visao racionalizada - para cflar a sombra Ironica? (Ver
capitulo 10, Segunda partel. Paginas 3 e 4: Bella wrltting, Chaga1l119151. Museu Nacionai de
Arte Modema. Centro Georges Pompidou.
Dados Internacionaisde Cataloga~ao na Publica~ao (CIP)
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
1. Filosofia Estudo e ensino I. Martins,
Maria Helena Pires. II. Titulo
indices para catalogo sistematico:
1. Filosofia . Estudo e en sino 107
ISBN 85-16-04814-4 (LA)
ISBN 85-16-04815-2 (LP)
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