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Carlos Hugo de Almeida Filho

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Carlos Hugo de Almeida Filho
1 Meu posicionamento
Considerando as normas indicadas, verifica-se que em relação ao §4º do art. 12 da Constituição da República, o ordenamento admite a exceção à perda da nacionalidade brasileira para aquele que adquire outra em apenas dois casos. Falando especificamente desse dispositivo, a extraditada não encontra amparo na norma ali contida. As hipóteses de exceção são o reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira e a imposição de naturalização, pela norma estrangeira, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 
Por sua vez, o inciso LI do art. 5º da Constituição determina que:
Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei. (BRASIL, [2019])
O simples confronto das duas normas acima, tendo em vista o caso concreto, torna verdadeira a afirmação de que o inciso LI do art. 5º do texto constitucional não abarca a extraditada. Se o tratamento de brasileiro é dado aos que possuem essa nacionalidade, a sua perda, quer dizer, a perda da nacionalidade implica, também, na perda da condição de brasileiro. Ainda que se considere absurda a tratativa, a única forma de alterá-la seria pela alteração do §4º do art. 12 da CRFB. Logo, a extraditada não está protegida pelo inciso mencionado, dado ter renunciado à nacionalidade brasileira. 
Analisando o Pacto de São José da Costa Rica, internalizado pelo Decreto n. 678/1992, verifica-se que três mandamentos, todos contidos no art. 20, nos interessam. São eles: (1) todas as pessoas têm o direito a uma nacionalidade; (2) todos têm o direito à nacionalidade no Estado em que tiver nascido, caso não tenha nenhuma outra; (3) ninguém pode ser arbitrariamente privado de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la.
Verificando o caso concreto, observa-se que a extraditada (1) tinha a nacionalidade norte-americana; (2) teria o direito à nacionalidade brasileira, caso não tivesse nenhuma outra; e (3) a proibição de mudança e a privação da nacionalidade brasileira não decorreram de um ato arbitrário. O último item, ou seja, o que se refere ao direito de mudança de nacionalidade, especialmente quando se trata de alguém nascido no Brasil, poderia ser objeto de maiores discussões. Seria possível alegar que o Estado brasileiro não pode negar a nacionalidade brasileira a quem é nascido aqui, caso queira, porque, caso contrário, estaria sendo arbitrário. Apesar disso, esse não é rigorosamente o conceito de arbitrariedade. 
Referências
LIMA, José Antonio Farah Lopes de. Extradição no Brasil e na União Europeia: os casos de Cesare Battisti e Julian Assange. São Paulo: Atlas, 2014.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 de março de 2020.
Brasil. Decreto n. 678 de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, DF. Presidência da República, [1992]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm>. Acesso em: 25 de março de 2020.

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