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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/286084430 Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde Article · October 2013 CITATIONS 0 READS 4,294 6 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Article Fatores ergonômicos, psicossociais e riscos no trabalho na mineração informal View project PRIVADO View project Milena Nunes Alves de Sousa Faculdades Integradas de Patos-PB 245 PUBLICATIONS 108 CITATIONS SEE PROFILE Ankilma Do Nascimento Andrade Faculdade Santa Maria, Cajazeiras, Paraíba, Brasil 65 PUBLICATIONS 51 CITATIONS SEE PROFILE Elisangela Vilar de Assis 69 PUBLICATIONS 16 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Milena Nunes Alves de Sousa on 07 December 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/286084430_Gestao_de_conflitos_estrategias_adotadas_em_unidade_basica_de_saude?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/286084430_Gestao_de_conflitos_estrategias_adotadas_em_unidade_basica_de_saude?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Article-Fatores-ergonomicos-psicossociais-e-riscos-no-trabalho-na-mineracao-informal?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/PRIVADO?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Milena_Sousa?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Milena_Sousa?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Milena_Sousa?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ankilma_Andrade?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ankilma_Andrade?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ankilma_Andrade?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elisangela_Assis2?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elisangela_Assis2?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elisangela_Assis2?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Milena_Sousa?enrichId=rgreq-1c8eac4766a4390673d1ce00ba3655f5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4NjA4NDQzMDtBUzozMDQxMjcxMzE3NTA0MDBAMTQ0OTUyMDk2NjIwMQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf ISSN 1519-1672 133 Editorial Relatos de Caso 134 Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde Joácio de Oliveira Costa, Milena Nunes Alves de Sousa, Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa, Marcelo de Oliveira Feitosa, Elisangela Vilar de Assis, Patrícia Peixoto Custódio 141 Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar Denise Medianeira Mariotti Fernandes, Sergio Brasil Fernandes, Cristine Aspirot do Couto Ferrazza 151 Auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico Driely Reis de Oliveira, Silvia Maria Jacinto, Cibele Leite Siqueira Artigos Originais 159 Conformidade no prontuário do paciente: um desafio permanente Ivo Pavanello Filho, Maria Aparecida Testa Benessiuti 169 Gerenciamento de enfermagem em unidade de emergência: dificuldades e desafios Bruno Rafael Branco Zambiazi, Andrea Monastier Costa Outubro-Dezembro, 2013 v.15 nº 61 Neste núm ero: INDICADORES PROAHSA n o 72 Normas para publicação / Publishing guide A Revista de Administração em Saúde (RAS) é publicação oficial da Associação Brasileira de Medicina Preventiva e Administração em Saúde, a qual tem o objetivo de divulgar trimestralmente textos de análises, pesquisas e relatos referentes à medicina preventiva; gestão em saúde; administração sanitária; administração hospitalar, de serviços e sistemas de saúde; aos recursos humanos em saúde e a temas conexos. As colaborações oriundas principalmente dessas áreas do conhecimento devem obedecer aos seguintes formatos: • Tipos de colaboração aceitos pela revista ARTIGOS ORIGINAIS – Trabalhos que apresentem reflexão sobre problemas da realidade sanitária brasileira ou que se funda- mentem em pesquisa empírica, ensaio clínico ou pesquisa relevante. Devem conter os seguintes elementos: introdução, objetivos, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. ARTIGOS DE REVISÃO – São trabalhos que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO – São traba- lhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse para a área de administração em saúde, novas técnicas ou novos modelos de gestão, por exemplo, e que têm caracterís- ticas distintas de um artigo de revisão bibliográfica. RELATO DE CASO – São artigos que representam dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou um problema, através de exemplo. DOCUMENTOS – Oficiais ou não, considerados importantes para o momento ou que tenham um conteúdo de pertinência para o estudo da administração em saúde. DEPOIMENTOS – Relatos ou entrevistas contendo impres- sões sobre experiências profissionais aplicadas ou sobre temas atuais relacionados com nossa realidade socioeconômica. RESENHAS E REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS – Análise crítica de livros, artigos, sítios da INTERNET, teses e monografias edita- das no Brasil e no exterior e consideradas de interesse para o estudo da administração em saúde e ciências afins. CARTAS À REDAÇÃO – Serão publicados comentários, críticas, sugestões e esclarecimentos referentes à temática ou observações referentes à própria revista, recebidos através de cartas ou e-mails. • Forma de apresentação dos originais 1. Os originais deverão ser encaminhados por e-mail, digita- dos no programa WORD for WINDOWS, ou impresso em papel tamanho A4. 2. Os originais deverão apresentar as seguintesinformações sobre o autor: • instituições a que está ligado; • cargos que ocupa; • formação acadêmica; • titulação do autor; • endereço profissional completo, CEP e e-mail. 3. Os Artigos Originais, Revisões, Atualização, Relatos de Caso e similares devem ser apresentados contendo resumos e palavras-chave em português (resumo e palavras-chave) e em inglês (abstract and key-words). Os resumos não deverão exceder 200 palavras e o campo palavras-chave (no máximo 6) em portu- guês e inglês. Para a seleção dos descritores (palavras-chave) recomenda-se a utilização do DeCS-Descritores em Ciências da Saúde conforme acesso INTERNET (http://decs.bvs.br/). 4. O titulo do artigo deve ser o mais conciso possível, porém suficientemente informativo, e apresentado em portu- guês e em inglês. 5. As referências bibliográficas devem ser numeradas na ordem em que aparecem primeiramente no texto e apresentadas ao seu final. As referências citadas somente em legendas de tabelas ou figuras devem ser numeradas de acordo com uma seqüência estabelecida pela primeira menção da tabela ou da figura no texto. • Critérios de autoria 1. A inclusão de um autor em um trabalho encaminhado para publicação só é justificada se ele contribuiu significati- vamente, do ponto de vista intelectual, para a sua realização. Fica implícito que: a) o autor participou da concepção e do planejamento do trabalho, bem como da interpretação das evidências, b) escreveu, revisou ou tomou parte em todas as redações preliminares e na definitiva e aprovou a versão final. A simples coleta e catalogação de dados não constituem critérios para autoria. Igualmente, não devem ser considerados autores auxiliares técnicos que fazem a rotina, médicos que enca- minham pacientes ou interpretam exames de rotina e chefes de Departamentos não diretamente envolvidos na pesquisa. A essas pessoas poderá ser feito agradecimento especial. 2. Os autores deverão informar as fontes de fomento ou de financiamento do trabalho, caso houver, bem como declaração de ausência de conflito de interesse. 3. A responsabilidade pelos conceitos emitidos e conteúdos dos trabalhos cabe inteiramente aos autores dos mesmos. • Apreciação pelo Conselho de Redação Os trabalhos submetidos à publicação serão examinados pelo Conselho de Redação, composto por, pelo menos, três membros do Conselho Editorial. Os autores serão notificados da aceitação ou recusa de seus trabalhos. Os artigos aceitos para publicação poderão sofrer revisões editoriais de estilo visando melhorar sua clareza e facilitar o entendimento, preservado o conteúdo. Os trabalhos devem ser enviados para: Associação Brasileira de Medicina Preventiva e Administração em Saúde Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 7º andar - São Paulo, SP. CEP: 01318-901 - e-mail: ras@apm.org.br Editorial Publicação da Associação Brasileira de Medicina Preventiva e Administração em Saúde Editores Dr. Ivomar Gomes Duarte Correspondência: Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 278 – 7o andar – CEP 01318-901 – São Paulo, SP E-mail: ras@apm.org.br Conselho Editorial Dr. Alberto H. Kanamura – SP Dr. Angelo Felicissimo – SP Dr. Antonio Quinto Neto – RS Dra. Deborah Pimenta Ferreira – SP Dr. José Agenor M. Silveira – SP Dr. José Manoel C. Teixeira – SP Dr. José Maria Rezende – PR Dr. José Rodrigues Filho – PE Dr. Haino Burmester – SP Dr. Ivomar Gomes Duarte – SP Dr. Milton Menezes da Costa – DF Dr. Olimpio José Nogueira V. Bittar – SP Dr. Silas Guedes de Oliveira – AM Dr. Walter Cintra Ferreira Jr. – SP Dra. Wanda dos Santos Andrade – CE Associação Brasileira de Medicina Preventiva e Administração em Saúde (Fundada em São Paulo no dia 26 de novembro de 1976) Diretoria Presidente: Dr. Anísio de Moura 1o Vice-Presidente - SP: Dr. Haino Burmester 2o Vice-Presidente - DF: Dr. Milton Menezes da Costa Neto 3o Vice-Presidente - RS: Dr. Cláudio José Allgayer Secretário Geral: Dr. Fernando Augusto Tavares Canhisares 2o Secretário: Dr. Rubens Baptista Junior 1o Tesoureiro: Dra. Marisa Madi Della Coletta 2o Tesoureiro: Dra. Daiane da Silva Oliveira Diretor Científico: Dr. Luis Augusto Sales Lima Pilan A RAS encontra-se indexada nas Bases de Dados Bibliográficos AdSaude – FSP-USP, LILACS e Latindex REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO EM SAÚDE Filiada à A B E C Neste número da RAS, apresentamos, pela ordem, três relatos de caso e dois artigos originais. Os relatos de caso constituem o tipo mais frequente e comum de trabalho apresentado ou publicado. Entretanto, é necessário que vá além de uma descrição ou de mera reportagem do caso, devendo produzir uma necessária reflexão sobre o tema, consubstanciada nas considerações finais ou conclusão do texto. As revistas costumam ser flexíveis na recepção e aceite de trabalhos classificados como relatos de caso, sem que isso corresponda a uma desvalorização desse tipo de trabalho. A importância dos relatos de caso reside na sua característica exemplar e didática, ressalvadas as peculiaridades que tornam cada caso um evento particular. Os dados e as informações obti- das nos relatos de caso, embora circunscritos a uma realidade — e, por isso, muitas vezes, não reprodutíveis —, servem como indicativo e sugestão para a elaboração de trabalhos de pesquisas análogas, nos distintos ambientes onde possam ocorrer. Apesar de não possuir a força de um artigo original, a singeleza de muitos dos relatos de caso publicados intencionalmente nos vários números da RAS revela a preocupação de profissionais ou de grupos de profissionais dos servi- ços de saúde, os quais, além de suas rotinas de trabalho, desenvolvem um olhar crítico e analítico de suas práticas e do seu cotidiano. E, mais, mostra o grande mosaico que é este país, bem como a dificuldade de se implantar e viabilizar um sistema público de saúde com acesso universal. Estas observações eram necessárias, considerando-se algumas manifes- tações recebidas por e-mail referentes a trabalhos publicados em números passados da RAS contendo relatos de caso. Dr. Ivomar Gomes Duarte Editor da RAS Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César – São Paulo/SP - CEP 01415-000 Zeppelini – Tel: 55 11 2978-6686 – www.zeppelini.com.br Instituto Filantropia – Tel: 55 11 2626-4019 – www.institutofilantropia.org.br PRODUÇÃO EDITORIAL Relato de Caso Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde Conflict management: strategies adopted in a primary health center Joácio de Oliveira Costa1, Milena Nunes Alves de Sousa2, Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa3, Marcelo de Oliveira Feitosa4, Elisangela Vilar de Assis5, Patrícia Peixoto Custódio6 Trabalho realizado na Secretaria Municipal de Saúde– Patos (PB), Brasil. 1.Administrador; Universidade Estadual de Campina Grande – Patos (PB), Brasil. 2.Administradora; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Promoção de Saúde da Universidade de Franca (UNIFRAN); Professora da Faculdade Santa Maria (FSM) e Faculdades Integradas de Patos (FIP) – Cajazeiras (PB), Brasil. 3.Enfermeira; Doutoranda em Ciências pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC); Docente na FSM – Ca jazeiras (PB), Brasil. 4.Administrador; MBA em Gerência de Projetos; Docente na Faculdade São Francisco (Fasp) – Cajazeiras (PB), Brasil. 5.Fisioterapeuta; Doutoranda em Ciências pela FMABC; Docente na FSM – Ca jazeiras (PB), Brasil. 6.Enfermeira do Hospital Regional de Cajazeiras – Cajazeiras (PB), Brasil. Endereço para correspondência: Ankilma do Nascimento Andrade Feitosa – Rua Sousa Assis, 78 – Centro – CEP: 58900-000 – Cajazeiras (PB), Brasil – E-mail: ankilmar@hotmail.com RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar as estratégias adotadas pela equipe do departamento de pessoal da Secretaria Municipal de Saúde de Patos (SEMUSA), na Paraíba, para minimizar os conflitos entre os colaboradores nas unidades básicas de saúde. Trata-se de pesquisa exploratória e descritiva do tipo estudo de caso cuja população-alvo foi constituída por sete colaboradores internos responsáveispela gestão de conflitos na SEMUSA. Foi utilizado questionário autoaplicado, respeitando os aspectos éticos de pesquisas envolvendo seres humanos. Após análise estatística dos dados, foram encontrados os seguintes resultados: os colaboradores que gerenciavam os conflitos na SEMUSA eram, em sua maioria, mulheres, adultas, casadas, tendo de 1 a 3 filhos. Entre os estilos propostos por Rahim, constatou-se que o mais prevalente foi o de colaboração, entretanto, oportunamente, os gestores de conflitos encontravam na concessão e no acordo uma postura estratégica para o trato com os conflitos, em geral não costumavam se abster de conflitos e a imposição aparecia como a última estratégia a ser utilizada. Os gestores da SEMUSA reconheciam os conflitos como fenômeno que necessitava de gestão, cuja estratégia escolhida era situacional, pois não havia uma única estratégia conveniente para todas as situações; as estratégias se tornavam convenientes mediante fatores adversos relacionados à problemática vivenciada. A SEMUSA tem por prioridade o estilo colaborativo, por meio da máxima integração possível entre os envolvidos na resolução de conflitos. ABSTRACT This study aimed to identify the strategies adopted by the staff of the personnel department of the Municipal Health Office of Patos (SEMUSA), in Paraíba, Brazil, to minimize conflict among professionals at primary health centers. This is an exploratory and descriptive research with a case study design whose target population consisted of seven internal professionals responsible for conflict management in SEMUSA. A self-administered questionnaire was used, observing the ethical aspects of research involving human beings. After statistical analysis of data, we found the following results: the professionals who managed conflict in SEMUSA were mostly women, adult people, married, having from 1 to 3 children. Among the styles proposed by Rahim, we found out that the most prevalent was collaboration, however, timely, conflict managers found in concession and agreement a strategic attitude to deal with conflict; usually they did not avoid conflict and imposition emerged as the last strategy to be used. SEMUSA managers recognized conflict as a phenomenon that needs management, whose strategy chosen was situational, since there was not a single convenient strategy for all situations; strategies became convenient by means of adverse factors related to the set of issues experienced. SEMUSA prioritizes the collaborative style, through the maximum integration possible between those involved in conflict solving. Palavras-chave Administração de recursos humanos Estratégias Gestão em saúde Keywords Personnel management Strategies Health management Recebido em: 20/12/2013 Aprovado em: 05/02/2014 Conflito de interesses: nada a declarar Fonte de financiamento: nenhuma 135Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 INTRODUÇÃO As organizações estão inseridas em um ambiente dinâ- mico e competitivo, diante do qual as pessoas assumem papel relevante no que diz respeito à sua contribuição para o sucesso organizacional. Termos como “capital intelectual”, colaboradores, entre outros, são utilizados pelos mais respeitados teóricos da administração para se referir aos profissionais, demonstrando a importância do gerenciamento de fatores capazes de influenciar a atuação das pessoas dentro das corporações. A dimensão pessoal foi tão supervalorizada que se tornou mais relevante do que a dimensão padronizada de cargo1. Entretanto, os seres humanos são dotados de fatores subjetivos que são responsáveis por condutas gerais. Constantemente, impulsionam-se por elementos motiva- cionais, como a interação social. Muitas vezes, em face de emoções, afetos, personalidade, posturas e sentimentos, ficam sujeitos a desacordos, desavenças, oposições e competições. Enfim, trata-se de situações conflitantes que dificultam o trabalho em equipe. Assim, o tema “administra- ção de conflitos” emerge como algo atual. Sua inserção nas discussões da gestão de pessoas ocorre justamente porque as desavenças são eventos quase impossíveis de serem erradicados, mas podem estimular novas ideias sobre deter- minada situação, sendo capazes de se tornar positivos no contexto organizacional2. As questões conflituosas passam a figurar como específicas no processo organizacional, sendo concebidas como propulsoras do desenvolvimento3. Por muito tempo os conflitos interpessoais foram enca- rados por gerentes como algo inadmissível, uma única expe- riência conflituosa era razão de demissões ou a constatação da impossibilidade de permanência na organização. Hoje, em um contexto cuja diversidade é reconhecida como fator promissor que incita a criatividade, os conflitos não são apenas tolerados, mas, em algumas ocasiões, até estimu- lados, pois se tornam construtivos à medida que sugerem ideias inovadoras, forçam a reavaliação e adicionam novas perspectivas. Tal fato demonstra a necessidade de serem resolvidos e administrados de modo adequado, abordados enquanto processo que requer estratégias para que sejam solucionados em vista de um objetivo coerente4,5. Gerenciar conflitos no século XXI compreende habilidade competitiva que pode agregar um diferen- cial à organização, sobretudo em tempos nos quais se evidencia que as corporações dependem de pessoas e de suas inter-relações. Ademais, a eficiência nesse processo aperfeiçoa o ambiente psicológico e evita um dos terrores atuais que ameaçam a vida profissional e, consequentemente, os resultados das corporações: o estresse, intrínseco à vida moderna em razão do aumento das demandas e incertezas6. Portanto, é imprescindível um olhar profissional sobre as incidências de conflitos nas organizações, pois estu- dos revelam que o gerente de nível médio prioriza cerca de 20% de seu tempo para lidar com conflitos, sendo a gestão considerada mais importante do que a tomada de decisão, liderança ou habilidades de comunicação. Sob essa perspectiva, a competência para controlá-los está diretamente relacionada ao sucesso gerencial7. Diante dos preceitos outrora elucidados, percebe-se que um enfoque direcionado ao departamento de pessoal da Secretaria Municipal de Saúde de Patos (SEMUSA) torna-se oportuno, sob a prerrogativa de colaborar com o gerenciamento de conflitos no setor de saúde desse muni- cípio no estado da Paraíba, pois tal setor possui equipe multiprofissional, cujas atribuições se direcionam à gestão de desavenças que eventualmente possam surgir entre os colaboradores das unidades básicas de saúde (UBS) em seu processo de trabalho. A partir dessas ponderações, apresenta-se como objetivo geral identificar a principal estratégia adotada pela equipe do departamento de pessoal da SEMUSA para minimizar os conflitos entre os colaboradores das UBS durante o trabalho. Tal propósito foi definido mediante alguns questionamentos que refletem os problemas de pesquisa: em um mundo altamente competitivo, habita- do por pessoas que facilmente discordam entre si, quais são as principais estratégias adotadas pela equipe do departamento de pessoal da SEMUSA para minimizar os conflitos entre os colaboradores das UBS em seu processo de trabalho? Como as estratégias adotadas podem fazer do conflito uma oportunidade potencial para melhoria da atuação das equipes e, consequentemente, das UBS? MÉTODO Trata-se de estudo exploratório descritivo, de caráter quantitativo, realizado na SEMUSA. Essa é um complexo organizacional dividido em sete coordenações que se dife- renciam pelos objetivos do trabalho desenvolvido por cada equipe. O setor de pessoal encontra-se na coordenação de apoio administrativo. Os participantes dessa pesquisa são colaboradores desse setor e a eles compete efetiva- mente o gerenciamento dos conflitos que ocorrem nas UBS distribuídas em todos os bairros do município. O universo 136 Costa JO, SousaMNA, Feitosa ANA, Feitosa MO, Assis EV, Custódio PP RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 amostral foi constituído por sete colaboradores, responsá- veis pelas questões burocráticas e de relacionamento dos profissionais envolvidos no processo produtivo em saúde. Logo, foram incluídos neste estudo os colaboradores internos do setor de pessoal da SEMUSA, maiores de idade e de ambos os sexos. Foram excluídos os demais funcionários da SEMUSA que não estavam vinculados diretamente ao departamento de pessoal e aqueles com idade inferior a 18 anos. Assim, o modelo adotado neste estudo foi adaptado8 e visa a identificar as estratégias predominantes no trato com os desacordos. O conteúdo dos questionamentos se baseou nas teorias referentes aos estilos de gestão de conflitos, para levantar as características comuns ao observar as situações conflituosas de acordo com cada modelo de gestão e, a partir disso, determinar o predomi- nante. O Quadro 1 indica a qual tipo de estratégia (variável avaliada) cada questão está relacionada. As questões, entretanto, foram postas de forma alea- tória para os entrevistados e esses não foram informados sobre as estratégias correspondentes. Adotou-se tal postu- ra para que não houvesse manipulação ou enviesamento dos dados. Eles foram submetidos à análise estatística. Tipicamente, as medidas para cada respondente são codificadas e, em seguida, abordadas de várias maneiras9. Portanto, neste estudo, as respostas foram transcri- tas por meio de valor numérico de 1 a 5, atribuído pelo entrevistado de acordo com a frequência que optava pela proposta descrita na questão. Por conseguinte, foi realizado somatório individual de cada frequência; esse valor indicava quantas pessoas optaram por cada uma das frequências. Calculou-se, então, o produto do número de pessoas que optaram por aquela determinada frequência por ela mesma. Os resultados obtidos foram somados e descritos no somatório total. Uma vez identificado esse valor, ele foi dividido pelo número de colaboradores que responderam ao questionário (7); o resultado dessa operação indica a frequência média, refletindo sobre a utilização da estratégia para resolução de conflitos em questão e, por fim, o somatório das frequências médias gerou variação numérica entre 3 e 15, que determinava o grau de utilização das estratégias. Destaca-se que a média foi calculada consideran- do apenas as três questões equivalentes à estratégia à qual estavam associadas. A comparação das médias possibilitou a verificação do que prevaleceu entre todas, sendo, portanto, a mais utilizada pelo setor de pessoal da SEMUSA. Em outras palavras, as 3 questões relacionadas entre si pela estratégia apresentaram resultado mínimo de 3 e máximo de 15. Quanto mais próximo de 3, menos frequente a utilização da estratégia; em contrapartida, quanto mais próximo de 15, mais predominante sua utili- zação (Figura 1)4. Foram respeitados os princípios éticos e legais rela- tivos à pesquisa envolvendo seres humanos, dispostos na Resolução nº 196/96, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde; o estudo foi aprovado Quadro 1. Estratégias mensuráveis e questionamentos. Estratégia – variável mensurada Questionamentos Abstenção Você tenta evitar ser colocado “em má situação” e evita ir sempre às Unidades Básicas de Saúde para resolver os conflitos? Você evita as discussões abertas das diferenças entre as partes? Você tenta guardar as divergências que percebe e ainda não são explícitas para evitar ressentimentos? Acomodação Você tenta satisfazer as expectativas das partes envolvidas no conflito? Você procura se conformar com os desejos das partes ou de uma das partes envolvidas? Você concorda com a solução proposta pelas partes? Imposição Você discute sua opinião com os profissionais das Unidades Básicas de Saúde para mostrar os méritos da sua posição? Você é firme na defesa de sua posição na questão? Você sustenta a solução que tem em relação ao problema e costuma não abrir mão dela? Conciliação Você negocia com os conflitantes, de forma que se possa chegar a um acordo? Você adota o “toma-lá-dá-cá”, de forma que se possa chegar a um acordo? Você propõe o meio-termo para solucionar os impasses? Colaboração Você procura saber a questão em discussão para encontrar uma solução aceitável para todos? Você troca informações precisas a respeito do caso para resolver um problema em conjunto? Você tenta colocar todas as preocupações na mesa, de forma que as questões possam ser solucionadas da melhor forma? Fonte: Adaptado de Rahim4. Fonte: Adaptado de Rahim4. Figura 1. Frequência das estratégias. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 – + 137Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 sob o Protocolo nº 56.208/2010, do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Os sujeitos da pesquisa leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deste estudo, que resguarda a autonomia dos sujeitos de pesquisa, com garantia da preservação do anonimato e sigilo das informações. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estratégias na gestão de conflitos As 15 questões analisadas possibilitaram identificar a estratégia predominante na gestão de conflitos imple- mentada pela Administração de Recursos Humanos da SEMUSA. Salienta-se que o conteúdo dessas questões está embasado no trato com os desacordos8. As 3 questões que refletem as táticas de abstenção em conflitos são as de número 6, 12 e 15 do instrumento de coleta de dados; elas estavam relacionadas às vezes em que a organização optava por evitar o conflito, assu- mindo uma postura de indiferença quanto às situações conflitantes, pois em algumas dessas situações não é viável a resolução de conflitos, visto que os ânimos entre as partes estão muito exaltados8. Os dados apresentados na Tabela 1 revelam que a SEMUSA buscava evitar as discussões abertas entre as partes e, em geral, não extinguia as divergências percep- tíveis à administração. Pode-se perceber, ainda, que o conflito era um evento que a SEMUSA escolhia enfrentar e não resguardar, pois era uma prática ir sempre às UBS para solucioná-los. Por conseguinte, a média total (7) atribuída à estratégia de abstenção de conflito pode significar que, de modo geral, a SEMUSA não a utilizava com tanta frequência, pois 7 é valor médio (ou intermediário) na escala, que varia de 1 a 158. O cuidado que a SEMUSA apresenta em relação a evitar discussões abertas demonstra profissionalismo no modo como se abordava as desavenças e, ao mesmo tempo, zelo pela promoção de ambiente organizacional otimizado. O fato de não guardar as divergências perceptíveis é relevante, uma vez que o processo de conflitos é desen- cadeado após esses serem sentidos e percebidos. Não administrar um conflito nesse estágio pode fazer com que ele evolua, alcançando níveis indesejáveis e prejudiciais para a equipe e, consequentemente, para a organização10. As questões 3, 11 e 14 estiveram relacionadas à estra- tégia de acomodação dos conflitos. A Tabela 2 indica as respostas dos entrevistados. As questões descritas nessa tabela se referem ao modo de agir do gestor de conflitos mediante expectativas, pensamentos, sugestões para a resolução de conflitos de uma ou de ambas as partes. Essa postura é estratégica e tem por finalidade obter vantagens sobre situações e necessidades futuras4. A frequência com que a SEMUSA recorria à acomo- dação era pouco mais relevante dp que a mencionada anteriormente (abstenção), a média total incidiu em 9, significando que comumente se tornava interessante para a gestão eleger a solução proposta pelo outro como conveniente para administrar os desacordos. Os respondentes escolheram da primeira à última questão, em sua maioria, o valor correspondente a 3 (intermediário), porque a proposta é contingencial, pois se satisfazer, conformar-se e concordar com as expectativas,desejos e propostas das partes envolvidas no conflito é algo relativo e subjetivo4. Como a adoção da estratégia de acomodação é relativa e subjetiva, são fatores determinantes para seu uso: situações nas quais os gestores falharam e quando o assunto em questão é relevante para uma das partes, com vistas a conquistar confiança ou simplesmente para manter a harmonia organizacional11. Tabela 1. Utilização das táticas que evidenciam a estratégia de abstenção de conflitos. Raramente Sempre n Questionamentos 1 2 3 4 5 Somatório total Média 6 Você tenta evitar ser colocado “em má situação” e evita ir sempre às Unidades Básicas de Saúde para resolver os conflitos? 6 1 0 0 0 8 1 12 Você evita as discussões abertas das diferenças entre as partes? 0 0 1 3 3 30 4 15 Você tenta guardar as divergências que percebe e ainda não são explícitas para evitar ressentimentos? 4 2 0 1 0 12 2 Média total 7 138 Costa JO, Sousa MNA, Feitosa ANA, Feitosa MO, Assis EV, Custódio PP RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 Em continuidade, foram relacionadas as questões de número 1, 5 e 7 para mensurar a incidência de táticas que caracterizavam a estratégia de imposição no trato com os conflitos. Com base nos questionamentos e nos dados apre- sentados na Tabela 3, verificou-se que as discussões dos gestores de conflitos da SEMUSA não estavam embasadas nos méritos da posição que ocupavam, como modo de fazer com que os conflitantes acolhessem as propostas de solução sem resignação; esses, como se pode observar na Tabela 3, não costumavam sustentar a solução em relação ao problema em questão a ponto de se tornarem resistentes a outras propostas. Entretanto, mantinham postura firme em sua posição relativa ao desacordo que está em evidência. A média total resultou em 6, o que demonstrou, em números, a peculiaridade com que a SEMUSA fazia uso dessa estratégia para solucionar os desacordos. Isso pode demonstrar que a atitude de se impor existia, contudo, em situações peculiares, uma vez que, segun- do os dados, raramente se fazia uso do título de gestor; não era comum se fechar na solução do gestor para a situação conflitante. A estratégia de imposição faz com que o gestor de conflitos utilize a tática de coerção como modo de coibir uma situação que pode ser agravante mais adiante e que não necessariamente precisa ser aprovada pelos envolvidos4. Para mensurar a ocorrência de conflitos, os gestores da SEMUSA utilizavam a estratégia de conciliação; foram analisadas as questões de número 2, 8 e 13 (Tabela 4). A estratégia de conciliação diz respeito à utilização de esforços com vistas a um acordo, o que se torna conve- niente quando ambas as partes possuem o mesmo poder e precisam de soluções imediatas em razão do tempo. O acordo significa que ambas as partes vão ceder visando alguma recompensa11. A média total da estratégia de conciliação foi mais rele- vante do que a de abstenção e imposição, totalizando 8, ou seja, era mais provável a concessão do que a abstenção e a imposição no trato com os conflitos (Tabela 4). A SEMUSA, em conformidade com os dados apresenta- dos, demonstra-se empenhada na negociação com as partes conflitantes, todavia, a negociação não estava baseada no “toma-lá-dá-cá”4. Fazer uso do “toma-lá-dá-cá” é se propor a qualquer tipo de negociação, estar disposto a conseguir a qualquer custo, em razão do tempo, o que se pretende; isso pode ser perigoso e prejudicial para a organização. Da mesma forma, pode-se concluir, quanto ao meio-termo, que esse pode fazer com que se tolerem práticas abomináveis dentro da organização, e a SEMUSA raramente se propunha Tabela 2. Utilização das táticas que evidenciam a estratégia de acomodação de conflitos. Raramente Sempre Somatório total Média n Questionamentos 1 2 3 4 5 3 Você tenta satisfazer as expectativas das partes envolvidas no conflito? 0 0 5 1 1 24 3 11 Você procura se conformar com os desejos das partes ou de uma das partes envolvidas? 0 2 4 1 0 20 3 14 Você concorda com a solução proposta pelas partes? 0 1 6 0 0 20 3 Média total 9 Tabela 3. Utilização das táticas que evidenciam a estratégia de imposição. Raramente Sempre Somatório total Média n Questionamentos 1 2 3 4 5 1 Você discute sua opinião com os profissionais das Unidades Básicas de Saúde para mostrar os méritos da sua posição? 5 1 1 0 0 10 1 5 Você é firme na defesa de sua posição na questão? 0 0 2 1 4 30 4 7 Você sustenta a solução que tem em relação ao problema e costuma não abrir mão dela? 5 2 0 0 0 9 1 Média total 6 139Gestão de conflitos: estratégias adotadas em unidade básica de saúde RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 a esse tipo de tática, embora, de modo geral, em algumas ocasiões, buscava a negociação com características de concessão com vistas a um acordo. Por fim, foram analisadas as questões de número 4, 9 e 12 sob a perspectiva de medir a utilização da estratégia de colaboração4 (Tabela 5). Nessa estratégia foi verificada a frequência com que a SEMUSA buscava compreender em profundidade o proces- so de conflito por meio da busca de informações precisas e autênticas a respeito do caso e, ainda, das partes sob a perspectiva de que a solução fosse aceitável para todos. As questões relacionadas às táticas de colaboração receberam a maior pontuação, o que evidenciou uma ação planejada, estratégica e positiva sobre os conflitos. A média total que mensurava a frequência da utilização dessa estratégia incidiu em 14, ou seja, a mais comum entre as estratégias abordadas neste estudo. De acordo com informações indicadas na Tabela 5, os gestores de conflitos da SEMUSA sempre procuravam entender o caso a que se referia a discussão, levantavam informações precisas a seu respeito e, no momento da intervenção no conflito, costumavam colocar as preocu- pações relevantes. Nessas ocasiões, os esforços tinham em vista solucioná-los com o maior nível possível de cola- boração das partes, ou seja, agindo de maneira conjunta. A utilização da estratégia de colaboração almeja fazer do conflito algo que não é infértil, pois se entende que a partir do conflito é possível estabelecer um processo de reflexão acerca das possíveis causas do problema em questão, analisando o que está envolvido, possibili- tando o planejamento de melhorias para as realidades relacionadas. Essa maneira de lidar com o conflito como “fonte de melhorias” para a organização é denominada processo autoanalítico, quando é possível construir esse espaço nos coletivos dos serviços de saúde, seja por meio da inter- venção de terceiros, externos à situação conflitante, seja pela capacidade que determinado grupo tem de colocar e desenvolver o referido processo6,12. CONSIDERAÇÕES FINAIS O setor de pessoal da SEMUSA era responsável pela implementação das estratégias de trato com os conflitos que ocorriam nos ambientes de trabalho dos profissio- nais lotados nela ou contratados por ela, em especial as equipes das UBS. No setor de pessoal da SEMUSA, os profissionais eram, em sua maioria, mulheres, aptas a lidar com ques- tões humanas devido às seguintes características: em sua maioria adultas, casadas, tendo entre um e três filhos Tabela 5. Utilização das táticas que evidenciam a estratégia de colaboração. Raramente Sempre Somatório total Média n Questionamentos 1 2 3 4 5 4 Você procura saber da questão em discussão para encontrar uma solução aceitável para todos? 0 0 1 1 5 32 5 9 Você troca informações precisas a respeito do caso para resolver um problema em conjunto? 0 0 1 2 4 31 4 12 Você tenta colocar todas as preocupações na mesa, de forma que as questões possam ser solucionadas da melhor forma? 0 0 0 2 5 33 5 Média total 14 Tabela 4. Utilização das táticas que evidenciam a estratégia de conciliação. Raramente Sempre Somatório total Média n Questionamentos 1 2 3 4 5 2 Você negocia com os conflitantes, de forma que se possa chegar a um acordo? 0 0 0 3 4 32 5 8 Você adota o “toma-lá-dá-cá”, de forma que se possa chegar aum acordo? 5 0 2 0 0 11 2 13 Você propõe o meio-termo para solucionar os impasses? 4 1 1 1 0 9 1 Média total 8 140 Costa JO, Sousa MNA, Feitosa ANA, Feitosa MO, Assis EV, Custódio PP RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 e tendo completado o Ensino Superior ou parado nessa etapa da vida acadêmica. A população-alvo, por sua vez, encarava os conflitos como fenômeno que exige atitude por parte da gestão, eventos que não podem ser totalmente ignorados. Sob a perspectiva de melhor visualizar a administra- ção de conflitos desenvolvida pela SEMUSA, mostrou-se oportuno proceder à correlação das médias totais, as quais evidenciavam o estilo de estratégia preferencial utilizado na SEMUSA para a gestão estratégica de conflitos. Observou-se, em geral, que as ações dos gestores de conflitos eram preferencialmente norteadas pela tática de colaboração; em outras situações, adotava-se uma postura passiva (ou de acomodação) para ganhar no futuro, dispondo-se a aceitar as propostas das partes. A conciliação apresentava-se como a terceira tática mais utilizada, o que demonstrava interesse de negociação em algumas situações, por conseguinte, percebeu-se que era mais comum o estilo de abstenção do que o de imposição. O estilo preferencial revelou que, na maioria dos casos em que os gestores de conflitos da SEMUSA eram acionados para intervir, as partes eram conduzidas à colaboração, na qual era necessário encontrar solução que beneficiasse a todos e que fosse coerente com os objetivos da organização. Entretanto, a figura ainda possibilita a visualização da distância entre a colaboração e os demais estilos, isso talvez porque essa é a mais excelente das estratégias, enquanto que as demais se tornam convenientes em algumas situações, por isso, apresentam médias muito próximas umas das outras. Em outras palavras, a estratégia para a equipe parece ser situacional, não havendo uma estratégia única conve- niente para todas as situações. Porém, o estilo preferencial é o de colaboração, no qual se propõe a máxima integração das partes na busca pela solução do problema em questão. Identificou-se que, oportunamente, os gestores de conflitos encontravam na concessão e no acordo uma postura estratégica para o trato com os desacordos. As concessões eram realizadas em situações cujo assunto em questão apresentava valor muito grande para o envol- vido. Comprometeram os trabalhos que desempenhavam ao mesmo tempo em que tais concessões proporciona- vam condições para que se pudesse barganhar no futuro. Quanto aos acordos, esses eram realizados de maneira ética, desconsiderando a utilização de táticas ilícitas. De modo geral, as estratégias adotadas podem fazer do conflito uma oportunidade para melhoria da atuação das equipes das UBS; diante das situações conflitantes, os gestores, afastando-se ao máximo de reações movi- das pelos afetos e relacionando a escolha do estilo a ser utilizado aos objetivos organizacionais, evidenciam o processo autoanalítico, seja por suas intervenções ou por um programa planejado de capacitação das equipes, para que se tornem capazes de desenvolver seu próprio processo autoanalítico. Propõe-se, para aperfeiçoar a gestão de conflitos, a realização periódica de treinamentos específicos, com vistas ao desenvolvimento dos profissionais do setor de pessoal da SEMUSA quanto às técnicas de negociação, mediação e arbi- tragem. E, ainda, a definição clara de um método padrão de trato com os conflitos, assumido como política organizacional e que seja construído a partir de uma cultura de colaboração. Espera-se que a contribuição deste estudo não alcance apenas as equipes de saúde do município de Patos, uma vez que oferece subsídios para a discussão da importância de uma gestão estratégica de conflitos. REFERÊNCIAS 1. Cabrera LCQ. Visões tradicionais e modernas de empresa, trabalho e pessoas. In: Zaima G, Boog M (orgs.). Manual de gestão de pessoas e equipes: estratégias e tendências. 5. ed. São Paulo: Conti; 2002. 2. Nascimento EM, El Sayed KM. Administração de conflitos. In: Mendes JTG (org.). Gestão do capital humano [Internet]. Curitiba: Gazeta do Povo; 2002. Disponível em: http://www.unifae.br/publicacoes/pdf/gestao/capital_humano. pdf. Acesso em: 29 de setembro de 2009. 3. Vendemiatti M, Siqueira ES, Filardi F, Binotto E, Simioni FJ. Conflito na gestão hospitalar: o papel da liderança. Ciênc Saúde Coletiva. 2010;15(Suppl 1):1301-14. 4. Rahim AMM. A measure of styles of handling interpersonal conflict. Acad Manage J. 1983;26(2):368-76. 5. Robbins SP. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva; 2003. 6. Chiavenato I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. 7. Cecílio LCO. É possível trabalhar o conflito como matéria-prima da gestão em saúde? Cad Saúde Pública. 2005;21(2):508-16. 8. Vergara SC. Métodos de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas; 2008. 9. Roesch SMA. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertação e estudo de caso. 3. ed. São Paulo: Atlas; 2006. 10. Marquis BL, Huston CJ. Administração e liderança em enfermagem: teoria e prática. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. 11. McCintyre SE. Como as pessoas gerem o conflito nas organizações: estratégias individuais negociais. Aná Psicológica. 2007;2(25):295-305. 12. Andrade JMF, Andrade AN, Costa TS, Feitosa MO, Videres ARN, Custódio PP. Auditoria de enfermagem: conhecimento dos enfermeiros de um hospital do interior paraibano. Rev Adm Saúde. 2012;14(56):123-30. Relato de Caso Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar Management for the safety and the quality of life at work in a hospital laundry Denise Medianeira Mariotti Fernandes1, Sergio Brasil Fernandes2, Cristine Aspirot do Couto Ferrazza3 Trabalho realizado no Hospital de Guarnição de Santa Maria (HGuSM) – Santa Maria (RS), Brasil. 1.Administradora; Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Cerro Largo (RS); Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria (RS); Aluna do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – Santa Cruz do Sul (RS), Brasil. 2.Militar; Encarregado da Lavanderia Hospitalar do HGuSM; Especialista em Gestão Educacional pela UFSM – Santa Maria (RS), Brasil. 3.Enfermeira; Chefe da Lavanderia Hospitalar do HGuSM; Especialista em Enfermagem do Trabalho pelo Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde (CEDAS) – São Paulo (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Denise Medianeira Mariotti Fernandes – Universidade Federal da Fronteira Sul – Rua Major Antônio Cardoso, 590 – CEP: 97900-000 – Cerro Largo (RS), Brasil – E-mail: denise.fernandes@uffs.edu.br RESUMO Os trabalhadores das lavanderias hospitalares (LH) estão expostos a riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentais. Minimizar esses riscos e proporcionar qualidade de vida no trabalho (QVT) a esses funcionários deve ser preocupação constante dos gestores e dos próprios colaboradores que atuam direta ou indiretamente nesse setor. Essa preocupação motivou a realização deste estudo, que teve por objetivo analisar e descrever ações práticas que visam reduzir ou eliminar riscos à saúde do trabalhador e cumprir normas e procedimentos estabelecidos com o intuito de melhorar a segurança e a QVT em uma lavanderia hospitalar. A realização deste trabalho baseou-se em aportes teóricos consolidados sobre segurança e QVT e utilizou-se, como metodologia, a pesquisa-ação de natureza qualitativa, pois esta pesquisa caracteriza-se por ser eminentemente prática. O planejamento e a execução das ações obtiveram êxito porque, dentre outros resultados alcançados, proporcionaram aos colaboradores um desgaste físico menor, maior segurança e, consequentemente, melhoriada QVT. Enfatiza-se a importância de continuar investindo na formação continuada dos trabalhadores, por meio de cursos, palestras e instruções, a fim de mantê-los motivados, colaborativos e conscientes da importância da segurança e da QVT. ABSTRACT Workers of the hospital laundries (HL) are exposed to physical, chemical, biological, ergonomic and accidental risks. Minimize these risks and provide quality of life at work (QLW) of these employees should be a constant concern of the managers and of the employees themselves who work directly or indirectly in this sector. This concern was the driving force for this study, which aimed to analyze and describe practical actions that aim to reduce or eliminate risks to worker’s health and to comply with the standards and procedures established in order to improve the safety and QLW in a hospital laundry. The accomplishment of this work was based on theoretical contributions consolidated about safety and QLW and it was used, as methodology, the action research of qualitative nature, because this research is characterized by being eminently practical. The planning and the execution of the actions have been successful because, among other achievements, have given employees a less physical wearing, better safety and, consequently, improvement of QLW. We highlight the importance of keeping investing in the continuing training of workers, through courses, lectures and instructions, in order to keep them motivated, collaborative and aware of the importance of QLW. Palavras-chave Saúde do trabalhador Qualidade de vida Lavanderia Trabalhadores Gestão em saúde Keywords Occupational health Quality of life Hospital Workers Health management Recebido em: 19/08/2013 Aprovado em: 22/12/2014 Conflito de interesses: nada a declarar Fonte de financiamento: nenhuma 142 Fernandes DMM, Fernandes SB, Ferrazza CAC RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 INTRODUÇÃO A lavanderia hospitalar (LH) é o setor responsável pela lavagem e desinfecção das roupas hospitalares e visa controlar infecções; executar o processamento das roupas com qualidade, segurança e eficiência, utilizar técnicas adequadas ao processamento da roupa, a fim de reduzir custos; racionalizar tempo e material; e proporcionar um ambiente seguro e qualidade de vida no trabalho (QVT) aos profissionais que atuam na lavanderia. Esse setor, no entanto, é um ambiente insalubre, geralmente, quente e úmido, onde são lavadas roupas infectadas com sangue, secreções e/ou excreções e, além disso, são utilizados produtos químicos para a desinfecção, faz-se esforço físico para pesar, passar, dobrar e transportar roupas, e operam-se máquinas, tais como: lavadoras, centrífugas, secadoras, dentre outras. Por atuarem nesse ambiente insalubre e executarem todas essas atividades elencadas, pode-se afirmar que os trabalhadores das lavanderias hospitalares estão expostos a riscos físicos, químicos, biológicos, ergonô- micos e acidentais e que essa exposição pode afetar sobremaneira a segurança no trabalho e, consequente- mente, a QVT deles. Por isso, proporcionar um ambiente seguro e QVT aos profissionais que trabalham na LH — objeto deste estu- do — é essencial e, para isso, exige-se especial atenção ao cumprimento fiel das normas e procedimentos. Considerando que o conceito de QVT engloba aspec- tos que se referem à segurança no trabalho, ao bem-estar e à saúde do trabalhador no desempenho de suas atividades laborais e que, além disso, leva em conta os aspectos físi- cos, ambientais e psicológicos para a obtenção da QVT1, minimizar esses riscos e proporcionar qualidade de vida no trabalho a esses funcionários devem ser preocupações constantes dos gestores, pois “[...] o sucesso das organi- zações depende cada vez mais do fator humano”2. Nesse contexto, gestores do Hospital de Guarnição de Santa Maria (HGuSM), com essas preocupações, viabiliza- ram a realização deste estudo que tem por objetivo analisar e descrever ações práticas que visam reduzir ou eliminar riscos à saúde do trabalhador e ao cumprimento das normas e dos procedimentos estabelecidos com o intuito de melho- rar a segurança e a QVT em uma lavanderia hospitalar. Para atingir o propósito do trabalho, este artigo está estruturado em cinco seções: esta primeira seção apresentou uma abordagem introdutória sobre o tema; a segunda contém a revisão de literatura sobre segurança e QVT; na terceira seção, descrevem-se os aspectos metodológicos utilizados no estudo; na quarta, apresen- tam-se um diagnóstico com a identificação e definição do problema, o planejamento e a execução das ações visando à resolução desse problema, a avaliação dos processos executados e uma reflexão sobre os resultados alcançados; por fim, na quinta seção, são expostas as considerações finais. A IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA PARA A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Desempenhar atividades laborais em lavanderias hospitalares com segurança no trabalho significa: utili- zar equipamentos de proteção individual (EPI), operar máquinas com bom funcionamento e manutenção em dia, dispor de uma infraestrutura adequada com boa ventilação e iluminação, realizar exames médicos e psicológicos regularmente, estar preparado tecnicamente para o traba- lho, conhecer as funções, as ações e os procedimentos que são desenvolvidos no setor e que devem constar do Manual da Lavanderia. Chiavenato1 valida essa ideia ao conceituar segurança no trabalho como [...] o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas utilizadas para prevenir acidentes, quer eliminando as condições inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas sobre a implantação de práticas preventivas. Nesse sentido, os gestores precisam oferecer um ambiente de trabalho com condições de segurança, saúde e bem-estar aos trabalhadores, protegendo-os de doenças ocupacionais e garantindo a integridade física e mental3. Dessa forma, infere-se que a segurança no trabalho é um fator de grande relevância capaz de interferir direta- mente na obtenção de QVT. Por isso, deve ser tratada com bastante atenção e responsabilidade. Cabe ressaltar que, além da segurança no trabalho, a QVT envolve diversos outros fatores que estão inseridos em indicadores econômicos, políticos, psicológicos e sociológicos4. Esse conjunto de fatores vai determinar o nível de QVT dos trabalhadores. Torna-se óbvia, portanto, que a ação dos gestores deve ir ao encontro dos anseios e das necessida- des desses trabalhadores e proporcionar-lhes um ambiente propício para um bom desenvolvimento das atividades 143Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 laborais. Isso engloba instalações físicas amplas e confor- táveis, utilização de EPI, realização de exames médicos e laboratoriais periódicos e de consultas médicas e psicoló- gicas, controle de vacinas e jornada de trabalho adequada. Por envolver essa grande gama de aspectos, conceituar QVT não pode ser uma questão definitiva, pois a percepção do que é qualidade de vida está em constante transforma- ção e modifica-se de acordo com a evolução do conheci- mento dos gestores e com as exigências da sociedade e dos próprios trabalhadores ao tornarem-se conscientes de sua importância para a organização em que atuam. Segundo Limongi-França5, QVT é o conjunto de ações de uma empresa no sentido de implantar melhorias e inovações gerenciais, tecnológi- cas e estruturais no ambiente de trabalho. Alicerçada na filosofia humanista, a QVT visa equilibrar as expectativas do trabalhador (satisfação e bem-estar no trabalho) e da organização (melhores resultados organizacionais). Fernandes4 conceitua QVT como a gestão dinâmica e continental de fatores físicos, tecno- lógicos e sociopsicológicos que afetam a cultura e reno- vam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do trabalhador e na produtividade das empresas. Nesse contexto,apresenta-se um dos modelos de QVT (Quadro 1), com o intuito de facilitar a compreensão do processo de obtenção de QVT e abordar seus objetivos. Ressalta-se que esse modelo foi utilizado para analisar o nível de QVT da equipe da LH e para levantar os fatores que deveriam ser aprimorados. A análise ocorreu na lavanderia do HGuSM, um hospital militar, onde se verificou que, dentre outros aspectos, os funcionários são concursados, estabilizados no emprego; percebem salários, em média, três vezes maiores aos pagos para empregados de lavanderias de hospitais privados ou lavanderias terceirizadas, de acordo com levantamento feito em outras quatro lavanderias; e têm consciência da importância do serviço que prestam aos Fatores de QVT Dimensões 1. Compensação justa e adequada 1. Renda (salário) adequada ao trabalho 2. Equidade interna (compatibilidade interna) 3. Equidade externa (compatibilidade externa) 2. Condições de segurança e saúde no trabalho 4. Jornada de trabalho 5. Ambiente físico (seguro e saudável) 3. Utilização e desenvolvimento de capacidades 6. Autonomia 7. Significado da tarefa 8. Identidade da tarefa 9. Variedade de habilidades 10. Retroação e retroinformação 4. Oportunidades de crescimento e segurança 11. Possibilidades de carreira 12. Crescimento profissional 13. Segurança do emprego 5. Integração social na organização 14. Igualdade de oportunidades 15. Relacionamentos interpessoais e grupais 16. Senso comunitário 6. Garantias constitucionais 17. Respeito às leis e direitos trabalhistas 18. Privacidade pessoal 19. Liberdade de expressão 20. Normas e rotinas claras da organização 7. Trabalho e espaço total de vida 21. Papel balanceado do trabalho na vida pessoal 8. Relevância social da vida no trabalho 22. Imagem da empresa 23. Responsabilidade social pelos produtos/serviços 24. Responsabilidade social pelos empregados Quadro 1. Modelo de Walton. QVT: qualidade de vida no trabalho. Fonte: Walton, citado em Chiavenato1. 144 Fernandes DMM, Fernandes SB, Ferrazza CAC RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 pacientes hospitalares. Em virtude disso, considerou-se que as Dimensões relativas aos Fatores de QVT 1, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 eram atendidas de maneira satisfatória. Por isso, neste estudo enfatiza-se, dentre os oito fato- res que compõem esse modelo de QVT, a importância do fator de QVT “2. Segurança e saúde nas condições de trabalho” que aborda as dimensões “4. Jornada de trabalho” e “5. Ambiente físico (seguro e saudável)”, pois considera-se que esse fator é essencial para se obter uma melhoria considerável na QVT dos trabalhadores. METODOLOGIA Este estudo caracteriza-se por ser eminentemente prático. Os pesquisadores são parte integrante do grupo de participantes pesquisados e há um estímulo para que toda a equipe de trabalhadores interaja e participe das decisões que, de alguma forma, influenciam o bem-estar da coletividade em uma LH. Portanto, justifica-se a opção pela pesquisa-ação de natureza qualitativa. Diante disso, cabe ressaltar que: Quando falamos de pesquisa, estamos pensando em pesquisa-ação, isto é, uma ação em nível realista, sempre acompanhada de uma reflexão autocrítica obje- tiva e de uma avaliação dos resultados. [...] Não quere- mos ação sem pesquisa, nem pesquisa sem ação6. A pesquisa-ação “visa à mudança de atitudes, de práticas, de situações, de condições de produtos, de discursos [...]”7. Nessa mesma linha de pensamento, Thiollent8 explica que “[...] a pesquisa-ação, além da participação, supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico ou outro, [...]” e a define como um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes represen- tativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (p. 16). Importante destacar que a pesquisa-ação tem como objetivo principal produzir mudanças por meio de ações trans- formadoras de uma realidade a ser melhorada, aperfeiçoada9. Nesse sentido, este estudo descreve ações que, na prática cotidiana, produziram mudanças para melhoria na segurança e na QVT dos colaboradores que atuam em uma LH. Enfatiza-se que, para realizar essas ações, a obser- vação participante foi a técnica empregada para a coleta dos dados e que, a partir da análise desses dados, evidenciaram-se riscos à saúde do grupo pesquisado. Em consequência disso, fez-se necessária a análise de vasta legislação e documentação, a elaboração um plane- jamento minucioso e a implantação de medidas visando à padronização da execução de ações. Além disso, foi preciso considerar os aspectos positivos que estavam sendo praticados, corrigir as distorções existentes na LH e orientar os colaboradores para que modificassem hábitos e métodos equivocados que estivessem contribuindo para um maior risco à saúde deles. AÇÕES PARA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO EM UMA LAVANDERIA HOSPITALAR Os relatos e/ou reclamações dos funcionários quanto a dores nas costas, quanto ao funcionamento das máquinas utilizadas na lavanderia, o que poderia vir a causar aciden- tes de trabalho, e quanto à falta de EPI representaram o ponto de partida para a realização deste estudo. Era necessário realizar ações que melhorassem as condições de segurança e trabalho na LH, pois era nítido que havia riscos à saúde dos trabalhadores da lavanderia que deve- riam ser reduzidos ou eliminados. A fim de verificar tais aspectos, formou-se uma equipe de pesquisadores para, junto com os colaboradores da LH, diagnosticar a QVT, analisar e avaliar os processos, propor melhorias na segurança dos trabalhadores e realizar ações para obtenção de mais QVT. Consultaram-se normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), manuais do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), além de vasta bibliografia sobre segurança e qualidade de vida no trabalho, a fim de aprimorar e/ou obter e/ou transmitir conhecimento teórico e vinculá-lo à prática. Constatou-se que as instalações da lavanderia não eram adequadas ao desempenho laboral em uma LH; os EPI não eram utilizados; a vacinação não estava em dia; e os equipamentos estavam obsoletos e/ou sem manutenção. Observou-se que a falta de conhecimento sobre aspectos relacionados ao processamento das roupas, à utilização dos produtos químicos para realizar a lavagem 145Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 e ao emprego correto dos equipamentos levavam à exaus- tão ao final de uma jornada de trabalho. Verificou-se que não havia um Manual de Lavanderia que descrevesse os procedimentos a serem realizados no ambiente de trabalho. Nessa primeira avaliação, pode-se identificar que havia muitas causas que contribuíam para um elevado índice de riscos à saúde dos trabalhadores da LH. Diagnosticado o problema, toda a equipe foi envol- vida para encontrar soluções que eliminassem suas causas, pois a participação democrática é importante no relacionamento humano dos integrantes do grupo pesquisado, independentemente da hierarquia dentro da instituição. Se o problema é de todos, logo, a solu- ção para eliminar as causas desse problema deve ser encontrada por todos. Isso gerou maior satisfação aos funcionários, pois, segundo eles próprios, é importante a participação de toda a equipe, já que, além de considerar ideias e experiências práticas, são eles os atores principais no processamento das roupas hospitalares e conhecem mais do que qualquer outra pessoa as etapas do processo e os riscos a que podem estar expostos, caso não ocorra um zelo maior nas condições em que atuam. Feigenbaum10 corrobora essa constatação dos funcio- nários da LH ao argumentar que a QVT tende a ocorrer de forma mais natural nos ambientes ondeos colaboradores se envolvem nas decisões que influenciam seu dia a dia no trabalho. Essa ideia é compartilhada por Fernandes4, que utiliza uma metodologia que parte do princípio de que não há ninguém melhor para avaliar suas necessidades e, conse- quentemente, desempenhar bem sua função e melhorar sua QVT do que o próprio trabalhador. Por isso, a chefe da lavanderia reuniu os trabalhadores para, com base em um diagrama de causa-efeito, elabo- rar uma lista das causas do problema central que estava prejudicando a segurança (Quadro 2) e a QVT. As causas do problema foram levantadas, de acordo com a visão de cada um dos trabalhadores sobre as atividades desenvolvidas na LH. Além desses dados cole- tados, levou-se em consideração também as orientações e determinações constantes nas legislações do MTE e do Ministério da Saúde no que tange à saúde e à segurança no trabalho em lavanderias hospitalares. Para identificar a causa fundamental do problema foi utilizada a Votação de Pareto (Quadro 3). Os avaliadores (pesquisadores) de processo instruíram os votantes (a chefe, o encarregado e os outros cinco funcionários lotados na LH) para que escolhessem a causa do problema que deveria ser eliminada com maior urgência, a fim de reduzir os riscos à saúde de todos os trabalhadores da LH (chefia, área suja e área limpa). A partir da classificação obtida na votação, verificou-se que as instalações inadequadas eram a causa fundamen- tal do problema. Mas, apesar disso, a equipe assumiu o compromisso de perseverar na busca das soluções para todas as causas levantadas. Diante dessa constatação, era preciso realizar ações urgentes para minimizar ao máximo o problema (riscos à saúde dos trabalhadores da lavanderia hospitalar), elimi- nando suas causas. Instalações inadequadas (causa no 1 resolvida) As instalações das lavanderias hospitalares devem atender ao que regula a Resolução da Diretoria Colegiada nº 50 (RDC-50), da ANVISA13, pois essa é a resolução que trata do planejamento, programação, elaboração e avalia- ção de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Essa resolução prevê para as unidades de processa- mento de roupas de serviços de saúde: parede com visor entre a área limpa e a área suja e banheiro com vestiário de barreira na área suja. Acrescenta-se a isso que A barreira de separação só é realmente eficiente se existirem as lavadoras com duas portas de acesso, uma para cada área, na parede que separa a área suja da área limpa14. Isolar a área suja da área limpa, utilizando para isso um sistema de barreiras físicas, é essencial para a saúde dos trabalhadores, além de ser obrigatório, de acordo com o Manual de Processamento de Roupas de Serviços de Saúde: Prevenção e Controle de Riscos, da ANVISA14. Dessa forma, pode-se controlar infecções hospitalares e evitar a transmissão de doenças virais e bacterianas. Verificou-se que, apesar de as lavadoras serem de barreira e de a parede que separa a área suja da área limpa possuir visão adequada, por meio de visor, era preciso, urgentemente, fazer adaptações nas instala- ções da lavanderia, pois a área suja possuía ligação com a área limpa, por meio de uma porta de madeira que era fechada apenas na hora da lavagem, e não havia 146 Fernandes DMM, Fernandes SB, Ferrazza CAC RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 um banheiro exclusivo para o funcionário que atuava na área contaminada. Por isso, procurou-se um profissional habilitado (arquiteto) para propor uma adequação ao ambiente físico que atendesse não só às exigências impostas pela legislação (RDC-50), mas principalmente às neces- sidades de prevenção quanto à saúde e à segurança dos trabalhadores. Tal adequação foi realizada com sucesso e, além de a barreira entre a área suja e a área limpa estar efetivada de maneira correta e ter sido construído um banheiro com vestiário exclusivo para o funcionário que trabalha na área suja, o ambiente foi climatizado, garantindo maior conforto no local de labor. Uso dos equipamentos de proteção individual (causa no 2 resolvida) Observou-se que a utilização dos EPI previstos não era realizada, em grande parte, por reação dos próprios colaboradores. Reclamavam que era incômodo e que “não protegia grande coisa”. A leitura da NR 6 (Equipamento de Proteção Individual), do MTE15, foi a primeira atitude tomada pela equipe, a fim de buscar a eliminação dessa causa. É preciso ter cons- ciência de que, para os fins da aplicação da NR 6, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de Problema Riscos à saúde dos trabalhadores da lavanderia hospitalar Nº 1 Instalações inadequadas Letra A 1) área suja interligada à área limpa 2) iluminação precária e ventilação insuficiente 3) falta de um banheiro específico para os funcionários que atuam na área suja Nº 2 Uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) Letra B 1) falta conscientização dos próprios trabalhadores quanto ao uso correto dos EPI 2) EPI inadequados e/ou falta de EPI 3) falta de cobrança/exigência da chefe para que os funcionários usem os EPI Nº 3 Vacinação Letra C 1) falta de vacinação nos trabalhadores da lavanderia 2) falta dos registros das vacinas realizadas nas carteiras de vacinação 3) despreocupação dos próprios trabalhadores quanto à vacinação Nº 4 Equipamentos obsoletos e/ou sem manutenção Letra D 1) uso de uma secadora elétrica muito antiga (alto consumo de energia elétrica) 2) a balança utilizada para pesar a roupa suja está muito velha; adquirir uma balança nova 3) falta de manutenção nos equipamentos Nº 5 Excesso de trabalho Letra E 1) realização de mais lavagens do que o necessário 2) lavagem de roupas limpas que voltam das unidades misturadas às roupas sujas 3) uso inadequado das máquinas e equipamentos Nº 6 Preparo técnico-profissional Letra F 1) falta de treinamento específico para desempenho das atividades na lavanderia 2) pouca realização de palestras/cursos para treinar o pessoal da lavanderia 3) falta de leitura de manuais técnicos de lavanderia Fonte: adaptado do diagrama de causa-efeito proposto por Slack et al.11. Quadro 2. Relação das causas que põem em risco a saúde dos trabalhadores da lavanderia hospitalar. Votantes Causas A B C D E F G Soma Classificação Instalações inadequadas X X X 3 1º Uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) X 1 3º Vacinação X X 2 2º Equipamentos obsoletos e/ou sem manutenção X 1 3º Excesso de trabalho 0 4º Preparo técnico-profissional 0 4º Fonte: adaptado da Votação de Pareto proposta pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP)12. Quadro 3. Votação de Pareto realizada na lavanderia hospitalar. 147Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (p. 50)15. Verificou-se que é imprescindível o uso de máscaras, botas impermeáveis, luvas de borracha, óculos, toucas e avental impermeável em uma LH, principalmente na área suja, a fim de que os trabalhadores não sofram contaminações. Dessa forma, buscou-se, por meio de palestras e instruções, a conscientização quanto à importância da utilização dos EPI, a fim de evitar uma série de doenças (hepatites, febre tifoide, tuberculose, rotavírus, varicela etc.) e infecções hospitalares. Além disso, a chefia encarregou-se de obter, junto ao centro de custo responsável pelas aquisições do hospital, os EPI para atender às necessidades da equipe de traba- lhadores da LH. Atualmente, o uso dos EPI é obrigatório e previsto no Manual da LH. Porém, o aspecto preponderante para a obtenção de êxito nesse quesito deve-se à conscientização dos funcionários sobre a importância desses equipamen- tos para a saúde deles próprios. Portanto, aliando essa conscientização dos colabora- dores à disponibilidade, em quantidadessuficientes, de EPI para serem usados, essa causa foi eliminada. Vacinação (causa no 3 resolvida) Verificou-se que os funcionários estavam com todas as vacinas vencidas e que os exames médicos e audiomé- tricos não eram realizados há mais de cinco anos. Diante disso, procurou-se, com celeridade, fazer um trabalho de verificação nas legislações em vigor e de pôr em prática o que nelas estava previsto, a fim de viabilizar, nesse aspecto, mais segurança aos trabalhadores. A NR 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde) do MTE16 trata da vacinação dos trabalhadores da área de saúde e determina proce- dimentos a serem adotados de suma importância para a prevenção das doenças imunopreveníveis. As principais vacinas são contra as hepatites A e B; contra difteria e tétano; contra febre amarela; contra sarampo, caxumba e rubéola; contra tuberculose; contra influenza e pneumo- cocos; e contra varicela. Nesse contexto, a chefia da LH encarregou-se de obter, junto à Secretaria Municipal de Saúde do município de Santa Maria (RS), as doses necessárias para realizar as vacinas nos integrantes da equipe. Dessa forma, todos foram imuni- zados e estão com suas carteiras de vacinação atualizadas. Cabe destacar ainda que, atendendo ao que prescreve a NR 7 (Exames Médicos) do MTE17, além do acompanhamento da vacinação, definiu-se que os funcionários devem passar por um controle de saúde, por meio de exames médicos e audiométricos, pelo menos uma vez por ano. No que tange a esses aspectos, entende-se que é essencial aos trabalhadores de uma LH estarem saudá- veis para o desempenho de suas funções, mas princi- palmente estarem cientes sobre as próprias condições de saúde. Equipamentos obsoletos e/ou sem manutenção (causa no 4 resolvida) A manutenção em lavanderia compreende cuidados técnicos indispensáveis ao funcionamento regular e permanente dos motores, máquinas e instalações e engloba tanto as medidas preventivas como as corretivas (p. 39)18. Conforme Torres e Lisboa19: Para o trabalhador, a manutenção é uma das medidas de segurança que a empresa oferece, a fim de protegê-lo de possíveis riscos de acidentes (p. 133). A qualidade e a eficiência do processamento das roupas hospitalares dependem da manutenção regular das máquinas e equipamentos da LH. Apesar dessa importância, constatou-se que, além de uma centrífuga e uma secadora parada, havia problemas hidráulicos e/ou panes elétricas em todas as outras máquinas em uso. Estabeleceu-se que ficaria a cargo do encarregado da lavanderia a tarefa de realizar/coordenar a manuten- ção (levantar defeitos, encontrar mecânicos, providenciar recursos/meios para aquisição de peças e pagamento de pessoal contratado para realizar a manutenção). Os problemas, em sua grande maioria, foram resolvi- dos pelos próprios trabalhadores da LH que, dispondo de peças novas, realizaram a reposição e/ou troca. Somente os consertos relativos a problemas eletrônicos e elétricos dos equipamentos necessitaram de pessoal especializado (técnicos contratados). As máquinas ficaram em perfeitas condições de trabalho e seguras. Ainda, houve necessidade de substituição da balan- ça para realizar a pesagem das roupas hospitalares na 148 Fernandes DMM, Fernandes SB, Ferrazza CAC RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 área contaminada por uma nova, uma vez que o equipa- mento estava todo enferrujado e com o funcionamento comprometido. Cabe destacar que foi realizado um planejamento para aquisição de novas máquinas e equipamentos, por meio de pregão eletrônico (Sistema de Registro de Preços). Por se tratar de uma instituição pública, os gestores do hospital solicitaram recursos para tal aquisição aos esca- lões superiores que sinalizaram com uma boa perspectiva de concedê-los. Excesso de trabalho (causa no 5 resolvida) Por meio de palestras, da interação com funcionários de outras lavanderias, verificou-se que era possível realizar menos lavagens (menor número de maquinadas) com melhor eficácia na desinfecção. A utilização da balança nova para pesar as roupas na área suja viabilizou o uso correto das lavadoras. Assim, as máquinas trabalham num regime mais adequado, proporcionando economia de água, de produto quími- co e, principalmente, menor número de horas efetivas trabalhadas no processamento das roupas hospitalares. Isso propiciou, entre outras vantagens, menos desgaste físico, mais tempo para aperfeiçoar a higienização do setor, para a manutenção dos equipamentos e para a organização da rouparia. O excesso de trabalho foi eliminado. Os funcionários têm a consciência e a certeza de que executam atividades necessárias, nem mais nem menos do que o necessário para realizar o processamento da limpeza e desinfecção das roupas hospitalares. Preparo técnico-profissional (causa no 6 resolvida) A falta de preparo técnico-profissional foi resolvida com a matrícula e participação do pessoal da lavanderia no curso de Otimização de Processos e Procedimentos Operacionais em Lavanderias Hospitalares, ofereci- do pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI-RS), por meio da realização de palestras sobre processamento de roupas hospitalares e do fiel cumpri- mento do Manual da Lavanderia, que os próprios funcio- nários ajudaram a elaborar. Cabe ressaltar que essas ações devem ser constante- mente realizadas para que a formação e o aperfeiçoamento técnico-profissional sejam continuados. Dessa maneira, é possível manter um excelente nível de qualidade no processamento de roupas hospitalares. Elaboração do Manual Técnico Administrativo da Lavanderia Hospitalar A administração da lavanderia identificou a neces- sidade da elaboração de um manual que, de acordo com as particularidades do hospital, definisse a forma ideal para a atuação dos funcionários da LH, de modo que realizassem um processamento de roupas eficaz com segurança e consequente QVT. Ademais, a ANVISA determina que: A unidade de processamento de roupas deve possuir normas e rotinas padronizadas e atualizadas de todas as atividades desenvolvidas, as quais devem estar registradas e acessíveis aos profissionais envolvidos (p. 19)14. De acordo com as orientações contidas no Manual de Lavanderia Hospitalar, do Ministério da Saúde18, quanto à elaboração de manual próprio, e no Manual de Processamento de Roupas de Serviços de Saúde: Prevenção e Controle de Riscos, da ANVISA14, quanto ao registro de normas e rotinas padronizadas para os serviços realizados em lavanderia hospitalar, os pesqui- sadores auxiliados pelos trabalhadores da LH elabora- ram e implantaram o Manual Técnico Administrativo da Lavanderia Hospitalar. Importante ressaltar que essas normas e determina- ções não são estáticas. É preciso realizar as avaliações periódicas para que se aperfeiçoe cada vez mais o proces- samento das roupas hospitalares. O Manual foi elaborado com os objetivos de: contro- lar as infecções; processar as roupas hospitalares com qualidade, segurança e eficiência; preservar a qualidade das roupas, em todas as etapas de seu processamento; utilizar técnicas adequadas ao processamento da roupa, a fim de reduzir custos; racionalizar tempo e material; e proporcionar um ambiente de trabalho seguro aos profissionais que atuam na lavanderia. Ou seja, as normas e procedimentos constantes no manual abran- gem aspectos que interferem diretamente na QVT dos trabalhadores. Dessa forma, além de atender ao que prescreve o Ministério da Saúde e a ANVISA, a LH possui uma diretriz própria em que constam todos os aspectos inerentes aos trabalhos realizados, etapas do processamento de roupas hospitalares, os horários de trabalhos, enfim, tudo o que diz respeito ao funcionamento da LH. 149Gestão para a segurança e a qualidade de vida no trabalho em uma lavanderia hospitalar RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo apresentou a análise e a descrição de ações práticas realizadas na lavanderia
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