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O Princípio da Legalidade é a expressão maior do Estado Democrático de Direito, a garantia vital de que a sociedade não está presa às vontades particulares, pessoais, daquele que governa. Seus efeitos e importância são bastante visíveis no ordenamento jurídico, bem como na vida social."O Estado de Direito, desde suas origens históricas, envolve-se associado ao princípio da legalidade, ao primado da lei, idealmente concebida como ‘expressão da vontade geral institucionalizada’".( Luis Roberto Barroso, Princípio da Legalidade). No aspecto material o conceito de Estado Democrático de Direito compreende vários componentes. O primeiro é um sistema de direitos e garantias fundamentais, consolidado nas mais diversas constituições, inclusive a nossa com a alcunha de Direitos e Garantias Individuais, positivado no artigo 5º. São os chamados direito de primeira geração. O Estado de Direito é aquele que encontra o fundamento de sua atuação na lei. Em normas gerais e abstratas, que a todos obrigam, encontra-se o fundamento de seu agir. Atua o Estado não de acordo com a vontade do príncipe ou de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. A vontade que dita os rumos de atuação do Estado não é uma vontade pessoal, mas ao contrário, impessoal, a vontade da lei. Mas a noção que buscamos, vai ainda mais longe que o mero Estado de Direito, que pretende o exercício do Estado de acordo com a lei mas, mais longe, de onde emana e para quem importa a existência deste Estado e deste Direito. Daí a noção do Estado Democrático de Direito - um Estado regido pelo império da Lei no qual o exercício do poder emane do povo, pelo povo e para o povo. Da Constituição Federal, pacto constitutivo do Estado que faz surgir todo o ordenamento jurídico, emana o princípio da Legalidade, que submete a tudo e a todos ao seu poder. Assim, a atuação do Estado Democrático de Direito somente se poder realizar de acordo e em conformidade com a lei, livrando assim sua atuação do arbítrio da vontade individual. E todo o aparato estatal, todos os órgãos e entes que o compõem estão invariavelmente sujeitos à esse princípio, mesmo porque, apenas por força da vontade da lei é que têm existência. Nenhum órgão tem existência autônoma do organismo, nas existem em função desse. Da mesma forma, todo o aparato do Estado apenas ganha corpo por força da Lei que àquele constitui, não possuindo existência desvinculada dele e, por consequência, à Lei está estritamente sujeita. Nos dizeres de Bobbio: “entende-se por princípio da Legalidade aquele pelo qual todos os organismos do Estado, isto é, todos os organismos do poder público, devem atuar no âmbito das leis, a não ser em casos excepcionais expressamente preestabelecidos, e pelo fato de já estarem preestabelecidos, também perfeitamente legais. O princípio da Legalidade tolera o exercício discricionário do poder, mas exclui o exercício arbitrário, entendendo-se por exercício arbitrário todo ato emitido com base numa análise e num juízo estritamente pessoal da situação” (BOBBIO: p. 674) Abstrai-se, pois, da atuação do Estado, a vontade e a parcialidade do indivíduo, para dar lugar à vontade da Lei. O Estado não atua com vistas a atender o interesse de alguém ou de uns poucos mas, ao contrário, em busca do bem comum. Assim, toda atuação do Estado deve se fundar única e exclusivamente na lei, devendo sempre buscar nela sua razão de ser. Apenas desse raciocínio podemos excluir da atuação do Estado, dos seus entes, órgão e agentes qualquer intenção, especialmente as boas intenções. O Estado não atua com intenções, a não ser quando essas se consubstanciam formalmente como manifestações de uma intenção que antecedem e fundamentam um ato. A atuação do Estado Democrático de Direito, por sua natureza, faz excluir a vontade do indivíduo para dar lugar à vontade da Lei. Por via de consequência, nenhuma atuação pode fugir à ordenança da lei, sob pena de macular-se da ilegalidade e da arbitrariedade. Somente a observância por parte do Estado e de todos os órgãos que o integram da lei em sua forma estrita é que pode garantir o equilíbrio e o funcionamento do sistema jurídico. A partir do momento em que o Estado ou um de seus órgãos, sob qualquer pretexto - ainda que imbuído de boas intenções atuar sem autorização ou de forma contrária à lei. Quando o Estado atua sem o respaldo da lei ou contrariando à própria lei que o garante legitimidade, faz por em xeque o próprio ordenamento. Havendo a necessidade de agir, deve haver meios legais de atuação. A atuação não se dá como o agente (indivíduo) quer, mas como a lei ordena. É a vontade da Lei que impera no Estado Democrático de Direito, e não em função tão somente com cumprimento ou da ratificação da força da lei pela lei, mas sim com vistas ao interesse do bem comum, razão última de ser do Estado. Então, podemos afirmar que um dos primeiros, senão o principal filtro de garantias individuais na relação Estado e sujeito é o princípio da Legalidade. Garantia de que o Estado apenas vai agir quando a lei o autorizar e apenas na forma e na medida em que esta o fizer e, mesmo quando se tratar em medidas discricionárias, estarão ainda vinculadas à vontade da lei e não dos agentes do Estado. E no Estado Democrático de Direito, essa garantia será ainda mais estendida pois, a vontade da lei deve representar a vontade da sociedade e deve ter sua vontade vinculada à busca do bem comum, finalidade última do Estado. Legalidade é, basicamente, saber lidar com seus limites frente ao mundo, bem como, saber lidar com os limites do mundo frente a você. O sentido e as fronteiras de eficácia da norma constitucional da legalidade (caput do art. 37) são definidos no momento da aplicação do princípio da legalidade à concreta realidade a que se destina. Logo, apenas quando se determina a sujeição da Administração à legalidade, em situações reais e determinadas – ao regular o aspecto geral e abstrato da lei – pode se observar a abrangência e o objeto a que se destina o pilar da atuação administrativa estatal, qual seja: agir conforme o princípio da legalidade sob uma perspectiva substancial. Nesse prisma, o princípio da legalidade, como delineador da atividade administrativa estatal, é efetivado com a concreta realização do direito na realidade a qual é submetido. Significa, então, que enquanto não ocorre a conclusão da filtragem axiológica jurídica do ato administrativo aplicado, acompanhado de motivação proporciona ao seu impacto no mundo real, o princípio da legalidade não presta para delimitar a Administração Pública, conforme determina a Constituição. A mera retórica de agir nos limites da lei, como dicção do caput do art. 37 da CF/88 não adequa as tarefas administrativas do Estado aos objetivos fundamentais da República estabelecidos no art. 3º da Constituição. Agir conforme a legalidade é agir conforme o sistema jurídico estabelecido para proteger, promover e realizar o Estado necessário e proporcional para todos, isonomicamente. Nesse sentir, princípio da legalidade é instrumento limitador da Administração Pública para que, quando aplicado em situações individualizadas, viabilizem o constante desenvolvimento intersubjetivo dos partícipes do Estado, indistintamente. E porque limita e, muitas vezes, restringe, mister é a apresentação de uma correspondente motivação robusta para se estabelecer o nexo causal entre a produção do ato administrativo e o interesse público concreto a ser promovido por tal atuação estatal. Logo, além da mera legalidade estrita, além da juridicidade que vincula o agir administrativo conforme a lei e o direito, o princípio da legalidade fundamenta, estrutura e estabelece interligações desenvolvimentistas de todo o sistema estatal. Assim, pensar em legalidade é idealizar a aplicação da lei como sistema promotor de desenvolvimento objetivo e subjetivo dos envolvidos, direta e indiretamente, quando da atividade administrativa do Estado. Nesseuniverso da legalidade administrativa substancial, deixa-se uma questão: qual justiça queremos? A da legalidade real. Entretanto, vale lembrar que justiça nas mãos de poucos é, quase sempre, injustiça. Isso porque, "justiça" depende de uma concreta interatividade social entre indivíduos que se identificam e se reconhecem em standards culturais mínimos de como alcançar o desenvolvimento pessoal e de seus pares em um determinado tempo e espaço. É necessário o diálogo das fontes, das causas, dos resultados e das consequências para o afastamento da aflição da injustiça em casa indivíduo, em cada grupo, em cada nicho social, em cada ente representativo de Estado e em cada manifestação de tutela do cidadão em nome de um desenvolvimento comum, a partir de renúncias recíprocas e proporcionais, que apenas o tal "senso de justiça" pode indicar a direção. Torna-se essencial, então, para os indivíduos sedentos de desenvolvimento a sistematização intersubjetiva desses standards culturais mínimos, para se estabelecer, objetivamente, caminhos bem asfaltados de como agir e reagir em um determinado grupo que almeja evoluir para melhor aproveitar o tempo que dispõe, sempre idêntico para todos, mas que pode, constantemente, também, ser melhor gerenciado. Logo, a noção do agir corretamente e do reprovar o equivocado torna-se luz nos escuros túneis do império da autotutela social, bem como, da imposição da unilateral vontade do mais forte. Nesse sentir, a densificação dos valores em princípios e, após, em regras, conformam sistemas que determinam o legal, em conformidade com o correto, estabelecido de forma objetiva e isonômica para todos, em razão de todos, bem como, indica a ideia de reprovação do errado e dos instrumentos de reconstituição das consequências reais e jurídicas das agressões ao sistema de legalidade estabelecido. Destarte, passamos a seguir e a cobrar que sigam passos de legalidade nos caminhos constitucionalmente ladrilhados de busca de um melhor futuro permanentemente renovado - a partir da "legalidade", como valor que limita o meu agir conforme critérios de fazer o correto, mediante standards objetivamente estabelecidos e, nesta mesma lógica, de afastar o errado, limitando a minha e as demais liberdades, em nome de uma proteção pessoal frente aos outros e de uma proteção dos outros frente a mim. Para tanto, o agir administrativo precisa estar voltado para uma Justiça e uma Legalidade estatal a partir de suas consequências no mundo real. No sentir-se justiçado, em um ambiente regulatório estatal, faz-se necessário a sensação de atendimento do que precisa para si, a partir da realização do que é necessário para se realizar como um ser humano digno de limites de suas ações, conforme a limitação das ações dos demais frente a si próprio. O justo é o que não extrapola o que se deve fazer e o que devem fazer em face de todo aquele titular de direitos que lhe trazem a sensação de justiça, reciproca, proporcional e sustentável para que o homem justo possa viabilizar um renovado mundo de liberdades limitadas por justiças intersubjetivas contrapostas.
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