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CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU – UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 1 16/09/2013 16:01:16 2 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Reitor Julio Cezar Durigan Vice-Reitora Marilza Vieira Cunha Rudge PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO Pró-Reitor Laurence Duarte Colvara FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU Diretora Silvana Artioli Schellini Vice-Diretor José Carlos Peraçoli Editoras Regina Helena Garcia Martins Silvana Artioli Schellini CHEFES DE DEPARTAMENTO Anestesiologia Paulo do Nascimento Junior Cirurgia e Ortopedia Trajano Sardenberg Clínica Médica Marina Politi Okoshi Dermatologia e Radioterapia Vidal Haddad Junior Doenças Tropicais e Diagnóstico por Imagem Ricardo Augusto M. De Barros Almeida Ginecologia e Obstetrícia Gilberto Uemura Neurologia, Psicologia e Psiquiatria Maria Cristina Pereira Lima Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço Silke Anna Theresa Weber Patologia Maria Aparecida Custódio Domingues Pediatria Rossano Cesar Bonatto Saúde Pública Luis Carlos Giarola Urologia Paulo Roberto Kawano 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 2 16/09/2013 16:01:16 3 C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S APRESENTAÇÃO Écom orgulho e satisfação que apresento o livro CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU. No ano em que a Faculdade de Medicina de Botucatu comemora o seu Jubileu de Ouro, os professores que aqui ensinam se uniram e produziram esta obra que nada mais é que uma compilação das condutas que são aqui praticadas em todas as áreas da Medicina. Este é um livro didático e há muitas formas de apresentar conteúdo tão abrangente. Escolhemos apresentar em dois volumes: Volume 1: deste volume constam as afecções que acometem os adultos e as respectivas condutas. Volume 2: no segundo volume são abordadas as afecções que ocorrem na população infantil, assim como as condutas. A Medicina muda todos os dias. A verdade de hoje é contestada amanhã. Por este motivo, eternizar o conhecimento é impossível. No entanto, fica aqui o registro do que se praticava na Faculdade de Medicina de Botucatu, no ano de 2013. Até onde vai nosso conhecimento, este é o primeiro livro produzido desta forma em nossa querida escola. Que seja o primeiro de muitos! Considero que este seja um presente do corpo de doutrina para a nossa escola. Agradeço muito aos nossos “mestres” que colaboraram para que esta obra se concretizasse. Esperamos que os nossos alunos possam usufruir do mesmo e que o livro seja para eles uma referência e um balizador das condutas da Faculdade de Medicina de Botucatu. Obrigada a todos que colaboraram para que este livro fosse uma realidade! Profa. Titular Silvana A. Schellini Diretora da FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 3 16/09/2013 16:01:17 4 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU – UNESP 2013© Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Editoras Drª Regina Helena Garcia Martins Drª Silvana Artioli Schellini EDIÇÃO E PRODUÇÃO ESTÚDIO JAPIASSU REIS Projeto gráfico e direção de arte Gerson Reis Jr. Revisão e preparação de textos Rafaela Silva Editoração, tabelas e gráficos Pedro Japiassu Reis Ficha catalográfica elaborada pela seção téc. Aquis. Tratamento da inform. Divisão de Biblioteca e Documentação - Campus de Botucatu - UNESP Bibliotecária responsável: Rosemeire Aparecida Vicente Condutas em urgências e emergências da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP / editores Regina Helena Garcia Martins, Silvana Artioli Schellini. - Botucatu : Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina, 2013 2 v. Inclui bibliografia e índice Conteúdo: v. 1. Adulto – v. 2. Pediátrico ISBN:??? 1. Emergências médicas. 2. Medicina de emergência. 3. Hospitais – Serviços de emergência. 4. Emergências pediátricas. 5. Primeiros socorros. 6. “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina. I. Título. II. Martins, Regina Helena Garcia. III.Schellini, Silvana Artioli. CDD 616.025 Os autores e a FACULDADE DE MEDICINA DA UNESP – CAMPUS DE BOTUCATU, empenharam-se em citar adequadamente e dar os devidos créditos aos detentores de direitos autorais ao material utilizado neste livro e dispõem-se a proceder aos reparos necessários, caso, algum deles tenha sido, involuntária ou inadvertidamente, omitido. Os autores e editores deste livro empenharam-se em fornecer informações atualizadas e aceitas à época da publicação, sobre indicação de drogas, especificação e uso de equipamentos e dispositivos. Entretanto, em virtude de constante evolução das ciências da saúde, modificações em equipamentos e alterações de regulamen- tações governamentais, recomendamos que os leitores revejam e avaliem a legislação regulamentadora, as informações contidas em bulas ou instruções de drogas, equipamentos e dispositivos para, entre outras coisas, certificarem-se sobre alterações em instruções e indicações de dosagem, bem como, para eventuais cuidados e precauções adicionais. Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada, reproduzida, apropriada ou armazenada em sistema de bancos de dados, em quaisquer formas ou meios (eletrô- nico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição, pela Internet ou outros) sem expressa autorização da FACULDADE DE MEDICINA DA UNESP – CAMPUS DE BOTUCATU. A responsabilidade civil e criminal, perante terceiros e perante a Faculdade de Medicina da Unesp – Campus de Botucatu, sobre o conteúdo total desta publicação, incluindo as ilustrações e autorizações /créditos correspondentes, é do(s) autor(es) da (s) mesma (s). UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS BOTUCATU FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU (FMB) Av. Prof. Montenegro Distrito de Rubião Junior, s/n 18618970 – Botucatu, SP (14) 3880-1010 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 4 16/09/2013 16:01:17 5 C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S AGRADECIMENTO Aconclusão desta obra é resultado da dedicação de docentes e médicos desta instituição que abraçaram a idéia de escrever um livro didático sobre CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU, destinado aos alunos, residentes e especialistas. Pude testemunhar o esforço dos autores de cada capítulo em apresentar as doenças mais prevalentes de suas especialidades, procurando padronizar as condutas adotadas em cada disciplina. Recebi o convite para coordenar a elaboração deste livro e, ao concluí-lo, agradeço todos aqueles que participaram comigo deste trabalho. Profa. Dra. Regina Helena Garcia Martins Coordenadora Editorial 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 5 16/09/2013 16:01:17 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 6 16/09/2013 16:01:18 CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU – UNESP – Volume 1 ADULTO Editoras Professora Adjunta Regina Helena Garcia Martins DEPARTAMENTO DE OFTALMOLOGIA, OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO FACULDADE DE MEDICINA – UNESP CAMPUS DE BOTUCATU Professora Titular Silvana Artioli Schellini DEPARTAMENTO DE OFTALMOLOGIA, OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO DIRETORA DA FACULDADE DE MEDICINA – UNESP CAMPUS DE BOTUCATU 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 7 16/09/2013 16:01:25 8 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 8 16/09/2013 16:01:25 9 C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I AS SUMÁRIO ANESTESIOLOGIA | 17 Intoxicação por anestésicos locais | 19 Intubação orotraqueal | 25 O tratamento da dor na sala de emergência | 30 Sedação em Pediatria | 40 Sedação na terapia intensiva | 48 CIRURGIA TORÁCICA | 53 Estenose traqueal | 55 Corpo estranho em árvore traqueobrônquica | 62 Hemoptise maciça | 71 Derrames pleurais benignos e malignos | 78 Conduta nos principais tipos de derrame pleural | 91 Empiema pleural | 98 Pneumotórax | 106 Hemotórax | 114 Contusão torácica | 120 Ferimentos penetrantes do tórax | 128 Perfuração esofágica | 138 Síndrome da veia cava superior | 146 CIRURGIA VASCULAR | 151 Afecções agudas da aorta torácica | 153 Aneurisma de aorta abdominal | 158 Doença arterial obliterante periférica | 163 Isquemia cerebral de origem extracraniana | 171 Oclusão arterial aguda | 178 Síndrome compartimental e fasciotomias em cirurgia vascular | 185 Trauma vascular periférico | 191 Tromboflebite superficial de membros inferiores | 197 Trombose venosa profunda | 202 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 9 16/09/2013 16:01:25 10 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P CLÍNICA MÉDICA | 209 CARDIOLOGIA | 211 Dor torácica na sala de emergência | 213 Síndromes coronárias agudas sem supradesnivelamento do segmento ST | 218 Infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST no eletrocardiograma | 224 Bradiarritmias e bloqueios atrioventriculares | 231 Choque cardiogênico | 239 Dissecção aguda da aorta torácica | 246 Fibrilação e flutter atrial | 254 Insuficiência cardíaca aguda e edema agudo de pulmão | 261 Pericardite aguda e tamponamento cardíaco | 267 Ressuscitação cardiopulmonar | 272 Taquicardias com QRS estreito | 279 Taquicardias com QRS largo | 287 ENDOCRINOLOGIA | 293 Apoplexia de tumor hipofisário | 295 Cetoacidose diabética | 299 Coma mixedematoso | 305 Crise adrenal | 308 Crise tireotóxica | 310 Estado hiperglicêmico hiperosmolar | 313 Emergência hipertensiva no feocromocitoma | 320 Hipoglicemia na terapia do diabetes | 322 Gota | 327 GASTROENTEROLOGIA | 331 Diarreia aguda | 333 Encefalopatia hepática | 338 Hemorragia digestiva alta – definição e abordagem inicial | 341 Hemorragia digestiva alta – terapêutica específica na hemorragia varicosa e não varicosa | 345 Hepatite alcoólica | 350 Manejo da ascite no pronto-socorro | 354 Pancreatite aguda | 359 Paracentese | 365 Peritonite bacteriana espontânea | 368 Síndrome hepatorrenal | 373 GERIATRIA | 379 Confusão mental e alterações comportamentais em idosos | 381 Cuidados paliativos em um serviço de urgência e emergência | 387 Infecção do idoso | 395 Síncope e pré-síncope no idoso | 402 Sintomas comportamentais e psicológicos em pacientes com demência | 407 Tontura em idosos | 412 Úlcera por pressão | 420 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 10 16/09/2013 16:01:25 11 C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S HEMATOLOGIA | 425 Emergências oncológicas de origem metabólica: reconhecimento, diagnóstico e tratamento | 427 Neutropenia febril | 434 Situações emergenciais nos pacientes com doença falciforme | 439 Transfusão em Medicina de Urgência | 448 Tumores do mediastino | 458 MEDICINA INTENSIVA | 473 Controle da hiperglicemia em pacientes críticos | 475 Distúrbios de cálcio e fósforo | 479 Distúrbios do potássio e magnésio | 483 Distúrbios do sódio | 487 Distúrbios do equilíbrio ácido-base | 492 Sedação e analgesia | 501 Sepse | 504 NEFROLOGIA | 521 Emergências e urgências hipertensivas | 523 Lesão renal aguda | 529 PNEUMOLOGIA | 535 Asma | 537 Doença pulmonar obstrutiva crônica | 543 Insuficiência respiratória aguda | 549 Pneumonia adquirida na comunidade | 555 Tromboembolia pulmonar aguda: diagnóstico e tratamento clínico | 560 DERMATOLOGIA | 569 Agravos ambientais | 571 Dermatoses bolhosas | 577 Efeitos adversos da criocirurgia e procedimentos | 581 Efeitos adversos da utilização de imunomoduladores biológicos e não biológicos | 585 Efeitos adversos de procedimentos cirúrgicos dermatológicos | 588 Identificação de emergências causadas por animais e plantas | 594 Infecções bacterianas agudas | 598 Loxoscelismo cutâneo | 605 Reações cutâneas desencadeadas por fármacos | 607 Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica | 612 Urticária e angioedema | 616 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 11 16/09/2013 16:01:25 12 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P GASTROCIRURGIA | 621 Abdome agudo obstrutivo | 623 Abdome agudo perfurativo | 630 Apendicite aguda | 634 Avaliação inicial no trauma | 638 Colecistite aguda | 644 Diverticulite aguda | 648 Neoplasia colorretal obstrutiva | 652 Pancreatite aguda biliar e colangite | 658 Colangite | 662 Trauma abdominal fechado | 666 Trauma abdominal penetrante | 670 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 675 Dor pélvica aguda (DPA) | 677 Abdome agudo ginecológico | 683 Hemorragia uterina anormal | 689 Traumas ginecológicos | 695 Mastite | 697 Protocolo de assistência à mulher vítima de violência sexual | 700 Hemorragias da primeira metade da gestação | 705 Hemorragias da segunda metade da gravidez | 711 Hemorragias do terceiro e quarto períodos (pós-parto) | 716 Trabalho de parto prematuro | 720 Protocolo de diagnóstico e conduta na assistência à gestante hipertensa | 724 MOLÉSTIAS INFECCIOSAS | 729 Abordagem clínica do risco biológico | 731 Acidentes por abelhas e vespas | 737 Acidentes por artrópodes peçonhentos | 743 Acidentes por serpentes | 749 Endocardite infecciosa aguda | 753 Hepatites virais agudas ou fulminantes | 760 Influenza e outras viroses respiratórias graves | 764 Meningites bacterianas e doença meningocóccica | 772 Pneumonias bacterianas agudas adquiridas na comunidade | 777 Sepse | 785 Síndromes febris hemorrágicas agudas | 790 Soros e vacinas de uso emergencial | 794 NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA | 799 Hipertensão intracraniana | 801 Abordagem do acidente vascular encefálico isquêmico na fase aguda | 810 Hemorragia intraparenquimatosa cerebral espontânea | 820 Hemorragia subaracnoidea espontânea | 826 Abordagem e manuseio do traumatismo craniencefálico | 832 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 12 16/09/2013 16:01:25 13 C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S Capítulo I – Traumatismo cranioencefálico | 832 Capítulo II – Classificação e conduta nas lesões endocranianas | 837 Capítulo III – Lesões generalizadas ou difusas | 845 Estado de mal epiléptico | 848 Diagnóstico e tratamento da miastenia gravis | 853 Diagnóstico e tratamento da polirradiculoneuropatia inflamatória aguda (Síndrome de Guillain-Barré) | 854 OFTALMOLOGIA | 857 Glaucoma agudo | 859 Trauma ocular contuso | 863 Trauma ocular perfurante | 868 Trauma da pálpebra e via lacrimal | 870 Endoftalmite pós-operatória | 873 Endoftalmite pós-trauma | 875 Blebite | 876 Endoftalmite | 879 Afecções agudas de córnea e conjuntiva | 880 Conjuntivites infecciosas | 884 Ceratites infecciosas | 889 Celulite orbitária | 896 Afecções agudas das vias lacrimais excretoras | 898 Uveítes agudas | 901 Perda súbita da visão | 904 Descolamento da retina | 908 Estrabismo paralítico | 910 ORTOPEDIA – TRAUMATOLOGIA | 913 Fraturas expostas | 915 Fraturas supracondilianas do úmero na criança | 922 Lesões do anel pélvico | 932 Lesões traumáticas da coluna vertebral | 938 Luxação coxofemoral traumática | 947 Luxação de joelho | 953 Luxação glenoumeral | 956 OTORRINOLARINGOLOGIA |961 Corpo estranho em otorrinolaringologia | 963 Epistaxe | 967 Faringotonsilites agudas | 973 Otite média aguda | 978 Paralisia facial periférica | 986 Rinossinusites agudas e suas complicações | 995 Surdez súbita | 999 Traqueotomia | 1003 Trauma do pavilhão auricular, canal auditivo externo e orelha média | 1010 Traumatismo do pescoço | 1015 Vertigem aguda | 1025 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 13 16/09/2013 16:01:25 14 F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P PLÁSTICA | 1031 Fraturas de face | 1033 Atendimento inicial ao paciente queimado | 1042 PSIQUIATRIA | 1053 Agitação psicomotora | 1055 Detecção e manejo do risco de suicídio | 1061 Emergências psiquiátricas relacionadas ao uso excessivo ou dependência de álcool e outras drogas I | 1067 Emergências psiquiátricas relacionadas ao uso excessivo ou dependência de álcool e outras drogas II | 1072 Emergências psiquiátricas na gestação e puerpério | 1077 Reações adversas aos psicotrópicos | 1081 Transtornos ansiosos e transtornos dissociativo-conversivos | 1086 Transtornos de humor | 1092 Transtornos psicóticos | 1097 UROLOGIA | 1103 Cólica renal e obstrução ureteral | 1105 Escroto agudo | 1108 Infecção do trato urinário | 1114 Parafimose | 1119 Pionefrose, abscesso renal e abscesso perinefrético | 1121 Priapismo | 1125 Retenção urinária aguda | 1127 Traumatismo genital | 1131 Trauma renal | 1135 Trauma uretral | 1140 Trauma vesical | 1145 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 14 16/09/2013 16:01:26 CONDUTAS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU – UNESP – Volume 1 ADULTO 01A_PGS INICIAIS_Gráfica 0k_ago 2013.indd 15 16/09/2013 16:01:32 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 16 14/09/2013 18:57:24 17 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S ANESTESIOLOGIA É com bastante prazer que o DEPARTAMENTO DE ANESTESIOLOGIA participa da elaboração da primeira edição do MANUAL DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU – UNESP. Trata-se de iniciativa importante desta Faculdade e esperamos ter um guia prático de consulta, destinado aos alunos de graduação e residentes das diversas especialidades. Nesta edição participamos com cinco capítulos. Os textos foram escritos por professores engajados no ensino e pesquisa dos temas e com experiência clínica, construída pela prática diária. Parabenizamos todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a elaboração deste Manual. Professor Adjunto Paulo do Nascimento Junior Chefe do Departamento de Anestesiologia Co-Editor 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 17 14/09/2013 18:57:24 18 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 18 14/09/2013 18:57:25 19 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) O O sistema nervoso central é particu-larmente sensível à ação dos anes- tésicos locais, os quais podem apresentar efeitos opostos em diferentes doses. Todos os anestési- cos locais são capazes de atravessar a barreira sanguínea cerebral devido à alta lipossolubili- dade e ao baixo peso molecular. Alguns anes- tésicos locais, por exemplo, a lidocaína na dose de 2 a 3mg.kg-1, são utilizados no tratamento do estado epiléptico. A tetracaína e a procaína também apresentam esta propriedade. Por outro lado, doses elevadas de anesté- sicos locais ou a injeção intravascular inadver- tida levam a efeito convulsivante tipo grande mal ao bloquearem os mecanismos inibitórios do sistema reticular ativador, deixando sem oposição as ações dos neurônios facilitatórios. Com doses muito elevadas de anestésicos lo- cais, ambas as atividades facilitatórias e inibitó- rias são deprimidas, resultando em depressão generalizada do SNC, inconsciência, coma e parada respiratória, sem que o paciente exiba os sinais premonitórios iniciais de intoxicação. O provável local do SNC onde se origina o efeito convulsivante é o sistema límbico e, mais especificamente, a amígdala. Há correlação entre a potência da droga e a toxicidade para o SNC (Quadro 1). Assim, os sinais clínicos e a presença de convulsão dependerão da concentração san- guínea do anestésico local e do estado ácido- -base (Quadro 2). Pode-se deduzir do Quadro 2 que a lido- caína na dosagem de 7mg.kg-1, como é empre- gada em clínica, causa convulsão no estado de acidose extrema (pH = 6,95 e PaCO2 = 90mmHg), enquanto que na alcalose máxima há necessidade de dose quatro vezes maior (± 27mg.kg-1) para desencadear convulsões. O estado ácido-base afeta profundamente a ativi- dade do anestésico local no SNC. O aumento na PaCO2 (acidose respiratória), bem como o pH baixo (acidose metabólica), diminuem o limiar convulsivo, enquanto que a alcalose metabólica ou respiratória aumen- tam o limiar. Este fenô- meno ocorre porque, em meio ácido, há for- mação de maior quan- tidade de cátion que não possui capacidade de difusibilidade, per- manecendo por maior INTOXICAÇÃO POR ANESTÉSICOS LOCAIS Norma Sueli Pinheiro Módolo1 Eliana Marisa Ganem2 Anestésico local CD100mg. kg-1 DOSE RELACIONADA (lidocaína = 1) Concentração arterial µg.ml-1 Lidocaína 2,4 1,0 40 Ropivacaína 1,3 1,8 20 Bupivacaína 1,0 2,4 14 QUADRO 1: DOSE CONVULSIVANTE (CD100) DOS ANESTÉSICOS LOCAIS Segundo De Jong, 1994. QUADRO 2: DOSES CONVULSIVANTES DA LIDOCAÍNA (5MG.KG-1.MIN-1) DE ACORDO COM O PH E OS NÍVEIS DA PACO2 pH PaCO2 6,95 7,00 7,05 7,10 7,15 7,20 7,25 7,30 7,35 7,40 7,50 Lidocaína (mg.kg-1.min-1) 90 6,8 8,1 9,5 11,1 12,8 80 8,6 11,3 14,3 70 10,7 11,9 13,2 14,6 15,9 60 13,1 15,4 17,5 50 16,3 17,1 17,9 18,7 19,5 40 20,6 21,0 21,4 21,7 22,0 30 27,5 27,0 26,6 25,8 Segundo Englesson, 1974. 1 Professora Titular do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP 2 Professora Titular do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 19 14/09/2013 18:57:25 20 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — tempo na corrente circulatória. A hipercarbia, de- vido a sua propriedade vasodilatadora, aumenta a captação cerebral do anestésico local. O dió- xido de carbono, ao diminuir o pH intracelular, também aumenta a forma catiônica do anestési- co local. A acidose também diminui a capacida- de de ligação proteica dos anestésicos locais e, desta forma, aumenta a fração livre dos mesmos. No estado alcalótico existe maior quanti- dade de base, que possui grande poder de di- fusibilidade, atingindo rapidamente o espaço extracelular e os depósitos gordurosos, dimi- nuindo, assim, os níveis sanguíneos do anes- tésico local; estes fatos devem ser lembrados quando se iniciar o tratamento de crise convul- siva causada por anestésico local. TOXICIDADE CARDÍACA CONTRATILIDADE MIOCÁRDICA O anestésico local produz diminuição, dose dependente, da força contrátil do miocárdio. A ação dos anestésicos locais é obtida através do bloqueio dos canais de sódio. Entretanto, relatos recentes têm demonstrado importante contri- buição para a toxicidade cardíaca a interferên- cia dos anestésicos locais em outros receptores. Alguns investigadores acreditam que a inibi- ção do fluxo de sódio é mediada por interação entre o anestésico local e o cálcio. O bloqueio dos canais de cálcio pelo anestésico determina diminuição do influxo de cálcio e, por esta razão, encurta o potencial de ação cardíaco, reduzindo a concentração mioplasmática de cálcioe enfraquecendo a contração. Os canais de potássio também são blo- queados pelos anestésicos locais, porém, a afi- nidade desses pelos canais de potássio é menor do que pelos canais de sódio. A lidocaína em doses 1 a 2mg.kg-1 provoca mínimas alterações na força de contração cardí- aca. Quando a concentração plasmática atinge níveis superiores a 7mg.ml-1 há alteração, dose dependente, na performance cardíaca. Acima de 25µg.ml-1 ocorre falência miocárdica. O efeito inotrópico negativo não é somente dose dependente, mas também potência depen- dente. Portanto, a bupivacaína e a etidocaína são depressoras cardíacas mais potentes que a lidocaína e ropivacaína. Este efeito inotrópico negativo deve-se, em parte, à lenta liberação dos anestésicos locais dos canais de sódio e, em parte, à ligação com os canais de cálcio. Quanto mais moléculas de anestésico local ocuparem os miócitos, menos eficiente será a contração. Normalmente, a lidocaína, na dose sanguínea de 0,5mg.ml-1, deprime a força con- trátil do átrio de coelhos em 6%, enquanto que a bupivacaína, na dose de 0,5mg.ml-1, deprime em 70%. A ropivacaína apresenta potencial car- diotóxico intermediário entre a lidocaína e a bupivacaína. ALTERAÇÕES ELETROFISIOLÓGICAS A toxicidade cardíaca dos anestésicos locais também se reflete no prolongamento da condu- tividade cardíaca. No eletrocardiograma obser- va-se aumento do intervalo PR e da duração do QRS. Enquanto a lidocaína em doses progres- sivas leva à falência circulatória, hipotensão e bradicardia, a bupivacaína alarga o QRS, causa disritmia ventricular, dissociação eletromecâni- ca e assistolia refratária. A característica cinética da bupivacaína de rápida e intensa ligação aos canais de sódio do coração parece ser a principal razão de sua cardiotoxicidade. Os anestésicos locais ligam- -se aos canais de sódio durante sua configu- ração aberta. A bupivacaína dissocia-se dos canais inativados em 150 segundos, em con- traste com os 0,15 segundos da lidocaína. Em frequência cardíaca normal, a bupivacaína não consegue se dissociar completamente dos ca- nais de sódio durante a diástole e, desta forma, na despolarização seguinte, os canais abertos ligam-se a mais bupivacaína, produzindo acú- mulo da mesma no coração. Este bloqueio chama-se fast-in, slow-out, isto é, rápida liga- ção e saída demorada dos canais de sódio. A lidocaína deixa o canal de sódio inativado du- rante a diástole e o acúmulo e intensificação do bloqueio não ocorrem (Quadro 3). 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 20 14/09/2013 18:57:25 21 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S QUADRO 3: DISSOCIAÇÃO DOS ANESTÉSICOS LOCAIS DOS CANAIS DE SÓDIO DO CORAÇÃO A. L. Constante de tempo de recuperação (s) Lidocaína 10 uM 0,2 Ropivacaína uµM 1,4 Bupivacaína uµM 2,1 Segundo De Jong, 1994. A bupivacaína, quando comparada à ropivacaína, causa maior número de disrit- mias cardíacas. Ambos os anestésicos locais alargam o QRS, mas a dose necessária de ropivacaína para induzir disritmias é aproxi- madamente duas vezes maior que a da bupi- vacaína. A depressão dos potenciais de ação das fibras de Purkinje do músculo ventricular e do bloqueio da condução é menos intensa com a ropivacaína. Com os anestésicos locais, a automaticidade está deprimida e a despola- rização das células do marcapasso, lentificada, sendo que a hipóxia e acidose amplificam este último efeito. A condução dos impulsos cardíacos é tam- bém alterada, tornando-se mais lenta, pois a diminuição no influxo de sódio despolariza mais vagarosamente a membrana. Há pro- longamento do intervalo PR, alargamento do QRS e bloqueio atrioventricular. O retardo na condução leva ao bloqueio unidirecional e de reentrada, que determinam taquicardia e fibri- lação ventriculares. TRATAMENTO DA TOXICIDADE Os efeitos tóxicos dos anestésicos são de- pendentes de níveis sanguíneos elevados, que sempre devem ser evitados. Deve-se estar atento aos fatores que seguem: • local de injeção da droga – áreas altamente perfundidas favorecem a ab- sorção, determinando elevados níveis sanguíneos dos anestésicos locais; • fármaco selecionado – a bupivacaína e a etidocaína são mais cardiotóxicas que outros agentes, mesmo em doses mais bai- xas, após injeção acidental intravascular; • dose administrada – observar a dose tóxica máxima permitida; a administra- ção simultânea de dois agentes anestési- cos locais resulta em toxicidade aditiva e, por isso, a dose de cada um dos anes- tésicos locais deve ser reduzida; • uso de vasoconstritores – a adrenali- na retarda a absorção sistêmica da maio- ria dos anestésicos locais; considerar as situações em que não deve ser emprega- da ou deve ser empregada com cautela; • velocidade de injeção e volume in- jetado – injeção rápida de determinado volume de anestésico local aumenta o nível plasmático mais rapidamente do que o mesmo volume administrado em injeções lentas fracionadas; • condição clínica do paciente – pa- cientes hipovolêmicos ou com doença cardíaca importante não toleram doses elevadas de anestésico local. Todo profissional da área médica, inde- pendentemente da especialidade, deve saber diagnosticar os sinais de intoxicação pelos anestésicos locais e tratá-los adequadamente. Desta forma, o tratamento envolve: 1. assistência ventilatória; 2. controle das convulsões; 3. tratamento do colapso cardiocirculatório. A atenção daqueles que se deparam com quadro de reação tóxica por AL geralmente é centralizada nas convulsões, esquecendo-se da causa mais provável de morbidade, ou seja, a depressão respiratória. Portanto, o tratamen- to deve ser orientado principalmente para a ventilação. O aumento da demanda de oxigê- nio e a maior produção de CO2 causados pelas convulsões, juntamente com a interferência na ventilação pela intensa contração muscular, tornam desejável também o controle da con- vulsão. No tratamento deve-se, primeiro, ten- tar hiperventilar o paciente para, em seguida, controlarem-se as convulsões. Pode-se empre- gar o que segue: • administração de succinilcolina, na dose de 1mg.kg-1, + manutenção da via aérea + respiração artificial e/ou oxige- noterapia; 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 21 14/09/2013 18:57:25 22 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — • administração de diazepam, 0,2 a 0,3mg. kg-1, ou tiopental, 1 a 2mg.kg-1, por via intravenosa; • vasopressor e hidratação, se necessários. As medidas anteriormente relacionadas po- derão ser tomadas em conjunto ou isoladamente, na dependência do quadro clínico (Quadro 4). A taquicardia e fibrilação ventriculares são, possivelmente, melhor tratadas com cardiover- são. Estudos em animais sugerem ser o bretílio o fármaco mais eficaz no tratamento farma- cológico das contrações ventriculares prema- turas, ou mesmo da taquicardia ventricular, quando causadas pela bupivacaína. A amiodarona também foi utilizada para tratamento das disritmias causadas pela toxici- dade do anestésico local. No caso de parada cardiocirculatória pela bupivacaína, deve ser instituído tratamento agressivo, porque os efeitos da bupivacaína so- bre o coração perduram longo tempo. Nesta eventualidade, a reanimação cardiopulmonar é frequentemente muito prolongada e, caso isto aconteça, torna-se necessária eficácia máxima desta reanimação, usando-se a massagem car- díaca com tórax aberto e, sempre que possível, a instituição da circulação extracorpórea. Nas pacientes grávidas o deslocamento uterino para a esquerda é imperativo, para au- mentar o retorno venoso, porque a obstrução parcial da veia cava inferior pode prolongar muito a reanimação após parada cardíaca pela bupivacaína. Desde o final dos anos 1990 tem se aven- tado a possibilidade de a emulsão lipídica, uti- lizadaem nutrição paenteral, ser utilizada na reversão da cardiotoxicidade desencadeada pelo anestésico local. Esta solução composta por triglicérides de cadeia longa e/ou média, fosfolipídeos e gli- cerol promoveria um compartimento lipídico no sangue, no qual as substâncias lipofílicas, dentre elas alguns anestésicos locais, se dissol- veriam tornando-as menos disponíveis para atuar em seus locais de ação. A emulsão lipídica também aumentaria o suprimento de ácidos graxos, substratos para produção de energia e inibiria o metabolismo mitocondrial de lipídios e ativaria os canais de cálcio e potássio. De utilização clínica ainda empírica, tem sido empregada em pacientes nos quais outras estratégias de reanimação não obtiveram sucesso. Entretanto, sem as medidas iniciais de reanimação (guidelines do ACLS) o tratamento com emulsão lipídica não é efetivo. É importante ressaltar que a emulsão li- pídica acarreta diversos efeitos colaterais, tais como pancreatite aguda, hipercoagulabilida- de, hiperlipidemia, embolia gordurosa, dentre outras. Recomendação para tratamento da toxici- dade sistêmica pelo anestésico local (TSAL) – 2010 American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine: 1. se ocorrerem sinais e sintomas de TSAL é crucial o controle imediato e eficaz das vias aéreas para prevenir a hipóxia e a acidose que potencializam a TSAL; 2. se ocorrerem convulsões administrar benzodiazepínicos. Caso os benzodia- -zepínicos não estejam prontamente dis- poníveis podem ser utilizadas pequenas doses de tiopental ou propofol; 3. embora o propofol possa controlar as convulsões, grandes doses do fármaco deprimem a função cardíaca. O propo- fol deve ser evitado quando há sinais de comprometimento ou colapso cardio- vascular. Se as convulsões persistirem, apesar do benzodiazepínico, utilizar pe- quenas doses de succinilcolina ou blo- queadores neuromusculares similares; 4. se ocorrer parada cardíaca, seguir pa- dronização do suporte avançado de vida cardiovascular com as seguintes modificações: QUADRO 4: AÇÕES DE ANESTÉSICOS LOCAIS, DIAZEPAN, SUCCINILCOLINA E VASOCONSTRITOR NAS CONVULSÕES, RESPIRAÇÃO E CIRCULAÇÃO Anestésicos locais Diazepam Succinilcolina Vasoconstritor Convulsões ↑ ↓ ↓ 0 Respiração ↓ ↓ ↓↓↓ 0 Circulação ↓ ↓ 0 ↑↑ ↑ = aumento; ↓ = diminuição; 0 = ausência de ação. 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 22 14/09/2013 18:57:25 23 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S a. se utilizar efedrina, deve ser em pe- quenas doses (10-100µg em bolus no adulto); b. a vasopressina não é recomendada; c. evitar bloqueadores do canal de cál- cio e ß bloqueadores; d. se houver arritmias ventriculares pre- ferir a amiodarona. O tratamento com anestésicos locais (lidocaína e procaina- mida) não são recomendados; 5 terapia com emulsão lipídica: a. considerar a sua utilização aos pri- meiros sinais de TSAL após o controle da via aérea; b. dose: • 1,5ml.kg-1 em bolus de emulsão lipídi- ca a 20%; • infusão contínua de 0,25ml.kg-1.min-1 por até, pelo menos, 10 minutos após ser obtida a estabilidade circulatória; • se a estabilidade circulatória não foi obtida, considerar outro bolus e aumen- tar a infusão para 0,5ml.kg-1.min-1; • a dose limite da emulsão lipídica 10ml.kg-1 em 30 minutos; • o propofol não substituí a emulsão li- pídica; • se houver falha da resposta à emulsão lipídica e à terapia vasopressora instituir a circulação extracorpórea. REAÇÕES AO VASOCONSTRITOR Agitação, ansiedade, tontura, cefaleia, ta- quicardia, hipertermia e hipertensão arterial po- dem ocorrer após a injeção do AL associado ao vasoconstritor, principalmente se houver rápida absorção sanguínea do mesmo. REAÇÕES LOCAIS Quando se associam vasoconstritores, pode aparecer acentuado vasoespasmo, com isque- mia, necrose e gangrena, principalmente nos bloqueios de extremidades. CITOTOXICIDADE Os anestésicos locais em altas concentra- ções e/ou quantidades podem causar lesões ir- reversíveis da fibra nervosa. INTERAÇÃO DE DROGAS Os anestésicos locais intensificam o efeito dos bloqueadores neuromusculares, a ação das sulfas, devido à semelhança de estru- tura, e o efeito dos digitálicos (ex. procaína). Os bloqueadores do canal de cálcio aumen- tam a cardiotoxicidade dos anestésicos locais, principalmente da bupivacaína. Desse modo, quando for necessária a anestesia regional em pacientes que usam bloqueadores do canal de cálcio, a bupivacaína deve ser evitada. As drogas beta-bloqueadoras aumentam a toxicidade cardíaca dos anestésicos locais porque elas diminuem a contratilidade do mio- cárdio, com bradicardia. Além disso, os beta- -bloqueadores alteram o metabolismo dos AL pela redução do fluxo sanguíneo hepático e esplâncnico. CICATRIZAÇÃO Em cultura de células, os anestésicos lo- cais, em doses clínicas, inibem o crescimento celular e a motilidade, causam alterações mor- fológicas e alteram a sobrevida das células. Os efeitos são diretamente proporcionais à dura- ção da exposição e à dose empregada da dro- Administrar emulsão lipídica 20% "bolus" inicial 1,5ml.kg-1 Infusão contínua 0,25ml.kg-1.min-1 até 10 min após estabilidade cardiocirculatória Se não ocorrer estabilidade cardiocirculatória repetir a infusão contínua 0,5ml.kg-1. min-1 controles das convulsões propofol midazolam tiopental Reconhecer potencial de toxidade sistêmica Guidelines do suporte avançado da vida controle das vias aéreas oxigenoterapia máscara facial / intubação traqueal tratamento das arritmias Amiodarona 300mg IV pode ser repetido 1 vez (150mg em 3-5 min) suporte circulatório adrenalina 10+100µg em "bolus" Fig. 1: Algoritmo para controle da toxicidade sistêmica pelo anestésico local (Weinberg GL, Reg Anesth Pain Med, 2002; 2007: 568-75). 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 23 14/09/2013 18:57:26 24 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — ga. A inibição do crescimento e da divisão de fibroblastos pode estar diretamente envolvida com o mecanismo pelo qual os anestésicos lo- cais impedem a cicatrização quando injetados na ferida. REAÇÕES DEVIDAS AO TIPO DE BLOQUEIO Em alguns bloqueios regionais, pode ocor- rer punção de órgãos e estruturas diversas, como vasos sanguíneos e pleura, provocando o aparecimento de hematomas e a formação de pneumotórax, respectivamente. Isto pode acon- tecer, principalmente, nos bloqueios do plexo braquial e dos nervos intercostais. Os anestésicos locais, quando injetados em altas concentrações e/ou grandes quanti- dades no espaço subaracnoideo, podem cau- sar lesões neurológicas irreversíveis, do tipo da síndrome da cauda equina. As fibras ner- vosas mais suscetíveis são as da cauda equi- na, por estarem localizadas no fundo de saco dural (onde as soluções hiperbáricas podem- -se acumular) e também porque são destituí- das de bainha de proteção (são mais sensíveis aos efeitos tóxicos dos anestésicos locais). Não se sabe qual a concentração e quantidade de anestésico local capazes de causar lesão celu- lar e, por isto, sugerem-se as seguintes normas para se evitarem as complicações neurológicas pós-bloqueio subaracnoideo: 1. não usar doses maiores que 60mg para a lidocaína, prilocaína e procaína e 20mg para a tetracaína; 2. não empregar AL hidrossolúveis em bloqueio subaracnoideo contínuo, tais como: tetracaína (extremamente solú- vel) e lidocaína. Estes AL, quando usa- dos na técnica contínua, podem atingir massa elevada e tóxica devido ao impre- visível efeito cumulativo das doses sub- sequentes. Outro perigo é a localização do cateter próximo às fibras nervosas da cauda equina; neste caso, o anestésico local será injetado em local restrito, sem possibilidade de ampla diluição com o liquor, determinando maior concentra- ção localizada. Entretanto,a raquianes- tesia contínua pode ser indicada com o AL bupivacaína; 3. não empregar grandes doses de AL no bloqueio subaracnoideo, quando o pa- ciente for colocado em proclive; 4. evitar grandes doses em pacientes de baixa estatura. REAÇÕES DEVIDAS À DROGA UTILIZADA A prilocaína, nas doses superiores a 600mg, determina metahemoglobinemia; esta é de fácil tratamento, bastando injetar-se azul de metile- no, 1mg.kg-1, por via intravenosa, lentamente. REFERÊNCIAS Butlerwrth J. Clinical pharmacology of local anesthetics. In: Hadizic A. Textbook of regional Anesthesia and Acute Pain Management. 1st ed. New York: Mc Graw Hill; 2007. p. 105-20. De Jong RH. Local anesthetic pharmacology. In: Brown D L. Regional Anesthesia and Analgesia. 1st ed. Philadelphia: W B Saunders; 1996. p. 124-42. De Jong R H. Local Anesthetics. St.Louis. 1st ed. Mosby-Year Book; 1994. 421 p. Groban L. & Butterworth J. Local anesthetic systemic toxicity. In: Neal M.J. & Rathmell. Complications in Regional Anesthesia & Pain Medicine. 1st ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2007. p. 55-66. Stoelting RK, Hiller, SC. Local anesthetics. In: Stoelting RK, Hiller SC. Pharmacology and Physiology in Anesthetic Practice. 4th ed. Philadelphia: Williams & Wilkins; 2006. p. 179-207. Wright JL, Durieux ME, Groves DS. A brief review of innovative uses for local anesthetics. Curr. Opin. Anaesthesiol. 2008;21:651-6. Zink W, Graf BM. The toxicity of local anesthetic: the place of ropivacaine and levobupivacaine. Curr. Opin. Anaesthesiol. 2008;21:645-50. Weinberg GL. Treatment of local anesthetic systemic toxicity (LAST). Reg. Anesth. Pain Med. 2010;35:188-193. 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 24 14/09/2013 18:57:26 25 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL Rosa Beatriz Amorim1 Leandro Gobbo Braz2 Entende-se por manejo de vias aéreas uma série de manobras, com a uti- lização de diversos artefatos, cuja finalidade é mantê-las pérvias para ventilação / oxigenação de pacientes. Isso pode ser conseguido, por exemplo, com o uso de máscara facial, acom- panhada de cânula oral ou nasal, ou de más- cara laríngea; porém, o isolamento do esôfago, necessário para se evitar a aspiração pulmonar de conteúdo gástrico, sangue ou secreções, só é obtido com a intubação traqueal. A intubação traqueal consiste na introdu- ção de um tubo na traqueia (por isso deno- minado tubo endotraqueal), através da boca (intubação orotraqueal) ou do nariz (intubação nasotraqueal)(1). INTUBAÇÃO TRAQUEAL A intubação traqueal é realizada nas se- guintes situações:(1,2) • casos não-cirúrgicos: grave asfixia do recém-nascido, insuficiência respiratória grave, laringoespasmo, obstrução da via aérea, queimadura facial ou lesão ina- latória, necessidade de ventilação com pressão positiva, paciente em parada cardiorrespiratória, proteção à aspira- ção para o pulmão de material gástrico ou sangue em paciente com diminuição da consciência e higiene pulmonar. • casos cirúrgicos: cirurgias intracrania- nas, intratorácicas, de cabeça e pescoço, do abdome superior, de grande porte, quando houver uso de bloqueador neu- romuscular, constituição anatômica dis- plásica, mau estado geral do paciente, hipotensão arterial induzida e tendência à instabilidade laríngea observada antes da indução ou durante a anestesia. As contraindicações não são absolutas, porém a intubação deve ser protelada, se pos- sível, na laringite aguda e na tuberculose pul- monar aberta. ANATOMIA A laringe está localizada na altura da 5ª vértebra cervical e, funcionando como válvu- la do trato respiratório, comanda a entrada do sistema pulmonar. É composta por nove cartilagens unidas por ligamentos(2). A carti- lagem cricoide, um anel acima da traqueia, determina, em crianças, o maior diâmetro possível da cânula a ser utilizada. Em recém- -nascidos, esse diâmetro pode ser de apenas 4 a 5mm; edema de 1mm nessa região pode representar diminuição de 75% da área sec- cional e aumento de 16 vezes na resistência à passagem do ar(3). A epiglote é uma cartilagem com forma arredondada que se projeta para dentro da faringe, cuja superfície anterior está ligada à base da língua formando um sulco, a valécu- la, onde deve ser apoiada a ponta da lâmi- na curva do laringoscópio para realização da laringoscopia. A face superior da epiglote é inervada pelo 9º par craniano e a face infe- rior, pelo nervo laríngeo superior(2). MATERIAL Para a realização da intubação traqueal são necessários: • máscara facial e cânula de Guedel de tamanhos apropriados ao paciente; • AMBU ou sistema de ventilação manual conectados ao oxigênio; 1 Professora Assistente Doutora do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP 2 Professor Assistente Doutor do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 25 14/09/2013 18:57:26 26 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — • tubos traqueais com ou sem balonete; • laringoscópio com lâminas curvas ou retas; • seringa para insuflação do balonete; • conectores; • fio-guia e pinça de Magill (fig. 1); • estetoscópio; • material para fixação do tubo; • aspirador; • oxímetro de pulso; • capnógrafo; • lubrificante; • anestésico local(1,4-6). Fig. 1: Fio-guia e Pinça de Magill Os tubos podem ser de polietileno ou ma- terial similar, sem ou com balonete. Existem tubos providos de válvulas especiais no balão piloto, que permitem a redifusão do óxido ni- troso ou eliminam o excesso de gás insuflado no balonete (fig. 2). Fig. 2: Tubos sem ou com balonete Os tubos aramados não permitem com- pressão ou dobras, sendo bastante utilizados em cirurgias de cabeça e pescoço(5). O tubo escolhido deve ter o maior diâme- tro possível, de acordo com o diâmetro da glo- te, de tal forma a não diminuir a passagem do ar, pois a resistência ao fluxo de gases aumenta o equivalente à quarta potência do raio dimi- nuído, dificultando a ventilação do paciente. Para pacientes acima de 14 anos o tamanho médio do tubo deve ser nº 7,0 para mulheres e nº 8,0 para homens, não se esquecendo de deixar números menores e maiores à mão(5,6). Para facilitar a escolha do tubo endotraqueal em crianças pode-se utilizar a fórmula: Idade (anos) + 16 4 O laringoscópio consta de um cabo conten- do pilhas e de lâminas que se articulam com o cabo. A lâmina reta (Miller) é utilizadas para recém-nascidos e lactentes; a lâmina curva (MacIntosh) para crianças maiores e adultos. AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA Todo procedimento de intubação traqueal começa, sempre que possível, pela avaliação das condições favoráveis e das prováveis difi- culdades que se apresentem. Deve-se verificar a mobilidade da articula- ção atlanto-occiptal, a abertura da boca (pelo menos 3,0cm entre os dentes superiores e os inferiores), presença de próteses totais ou par- ciais removíveis, dentes grandes ou protusos, conservação dos dentes (inclusive em fase de troca na criança), falhas na dentição, macro- glossia, tumores em faringe e micrognatia. Desvios laterais da traqueia podem ser vis- tos no Raio-X de tórax. A anteriorização da traqueia pode ser ava- liada de três maneiras: pela distância tireomen- toniana (teste de Patil) que no adulto deve ser de 6,5cm ou mais; pela distância esternomen- toniana (distância de Savva) cuja medida deve ser de 12cm e pelo Índice de Mallampati(7), que define, através da observação da cavidade oral A B C D 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 26 14/09/2013 18:57:26 27 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S totalmente aberta e com a língua extrusa, o grau de dificuldadena laringoscopia conven- cional, através de sua relação com a classifica- ção de Cormack e Lehane(8). Alterações das cordas vocais (paralisia, ede- ma ou granuloma) podem ser avaliadas pela presença de rouquidão, durante a entrevista. TIPOS DE INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL Paciente no estado inconsciente (anestesia geral) Antes da indução anestésica deve-se oxi- genar o paciente com O2 a 100%, durante mais ou menos 3 minutos para troca de nitrogênio dos alvéolos por oxigênio, aumentando a sua reserva e atrasando o aparecimento de hipoxe- mia e depressão cerebral(9). Após a perda da consciência, estende-se a cabeça do paciente de modo a retificar a via aé- rea e melhorar a apresentação da glote, fazen- do-se coincidirem os três eixos cefálicos,oral, faríngeo e laríngeo: 1. mantendo-se os ombros junto à mesa, eleva-se a cabeça 10cm mais ou menos, com a ajuda de um traveseiro; tem-se então a superposição dos eixos faríngeo e laríngeo; 2. estende-se a cabeça à custa da articu- lação occipito-atlantoídea; com essa manobra o eixo oral também coincidirá com os demais. Na criança, cuja região occiptal é mais desenvolvida, ou mesmo na presença de hi- drocefalia ou meningoencefalocele, pode ser necessária a utilização de um coxim sob os ombros, para facilitar a extensão da cabeça(3). A laringoscopia é realizada em três etapas: • introdução do laringoscópio na cavidade oral, pelo canto direito da boca (prote- gendo o lábio inferior); • deslizamento da lâmina, com suaves compressões, ao longo da língua, para baixo e para o centro, em direção à epi- glote; • com a lâmina curva, faz-se a aproxi- mação da ponta da lâmina à valécula, ficando toda a língua e toda a mandí- bula apoiadas sobre a lâmina; eleva-se a lâmina em direção caudal, acompa- nhando o direcionamento do cabo do laringoscópio, realizando, assim, o reba- timento da epiglote para cima e a expo- sição da glote. • com a lâmina reta, sob visão direta, ul- trapassa-se a ponta da epiglote com a ponta da lâmina, levando-a com cuida- do em direção à face inferior da epiglote para eleva-la e expor a glote. A passagem do tubo pela glote deve ser feita sob visão direta, até que o balonete desa- pareça atrás das cordas vocais. Desta maneira evita-se a lesão das cordas vocais. A seguir, o balonete deve ser insuflado. A pressão endotraqueal deve ser mantida entre 20 e 30cm de H2O, não ultrapassando nunca os 40cm de H2O(5). Na criança, há maior chance de complica- ções traqueais pós-intubação, devido à menor pressão de perfusão da mucosa traqueal, que pode ser diminuída conforme a pressão do balonete(10). Após a introdução do tubo, sua posição deve ser verificada através da ausculta de am- bos os campos pulmonares, de forma compa- rativa, pela observação da expansão torácica, pelo movimento do balão reservatório e atra- vés da capnografia, pela presença da curva do CO2 exalado. Repete-se a verificação após a fi- xação da cânula à face do paciente, e toda vez que o paciente ou o tubo forem mobilizados. Paciente no estado consciente (anestesia tópica) A intubação traqueal em paciente cons- ciente é indicada em situações tais como o estômago cheio (jejum incompleto nas emergências), os acidentados (sempre consi- derados de estômago cheio), a constituição anatômica displásica, a obstrução intestinal prolongada, com grande distensão abdominal e o megaesôfago(1,2,5,6). 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 27 14/09/2013 18:57:26 28 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — Faz-se a anestesia tópica de toda a oro- faringe e da superfície superior da epiglote. Para tanto, deve-se solicitar ao paciente que permaneça em apnéia (fechamento das cor- das vocais) durante a aspersão do anestésico local. A lidocaína a 10%, em spray, libera cer- ca de 0,1ml, ou seja, 10mg a cada borrifada, devendo-se tomar cuidado com a dose tóxica. É obrigatória a realização da manobra de Sellick durante a intubação traqueal conscien- te. Esta manobra consiste na compressão da cartilagem cricoide em direção à coluna torá- cica, fechando a porção superior do esôfago; a força aplicada sobre a cartilagem cricoide deve ser suficiente para ocluir o esôfago sem causar obstrução da ventilação(11). A cartila- gem tireoide e a traqueia possuem estrutura cartilaginosa em forma de U, sendo que a compressão sobre elas pode dificultar a intu- bação traqueal ou mesmo causar lesão. A ma- nobra deve ser iniciada imediatamente antes da laringoscopia, e mantida até a insuflação do balonete. A introdução do tubo deve ser realiza- da após se solicitar que o paciente faça uma inspiração profunda, e ao final da inspira- ção, quando a abdução das cordas vocais é máxima. Pode-se fazer tratamento profilático da aspiração pulmonar, com a administração de metoclopramida e antiácidos e o uso de son- da nasogástrica com aspiração do conteúdo gástrico. Porém, mesmo tendo-se sondado e aspirado o paciente, deve-se continuar a con- siderá-lo de estômago cheio, e tratá-lo com todos os cuidados descritos anteriormente. Nos casos em que não há possibilidade de intubação consciente, por recusa do paciente ou diminuição da consciência por conta do quadro clínico, pode-se optar pela intuba- ção em sequência rápida, sendo realizada a indução da anestesia seguida da intubação imediata. Neste caso, a manobra de Sellick também é obrigatória. A manobra de Sellick deve ser utilizada também no momento em que se necessita ventilar o paciente com estô- mago cheio(11). COMPLICAÇÕES DA INTUBAÇÃO TRAQUEAL As principais complicações são traumas (dentes, língua, gengiva e lábios), inflamações ou infecções (faringite, laringites, traqueíte e bronquite), granulomas, ulceração, isquemia, necrose, estenose traqueal além da disartria, disfonia e faringodinia. A faringite e a faringo- dinia constituem cerca de 60% das ocorrên- cias de complicação(1,2,4,5,6,10). EXTUBAÇÃO TRAQUEAL Para a extubação de um paciente, algu- mas regras devem ser observadas e alguns cuidados devem ser tomados. A extubação deve ser realizada somente após o paciente estar respirando espontanea- mente e com parâmetros ventilatórios dentro de níveis aceitáveis, isto é, volume corrente de 7ml.kg-1 e capacidade vital de 15ml.kg-1, além de frequência respiratória adequada à idade do paciente. Deve-se, também, avaliar os parâme- tros clínicos e, se for o caso, os laboratoriais. A técnica de extubação é simples: primei- ro aspira-se as secreções da boca, retira-se a fixação do tubo à face do paciente, desinsu- fla-se o balonete e pede-se ao paciente que faça uma inspiração profunda, para que haja maior abertura possível das cordas vocais (ao final da inspiração). Neste momento a extuba- ção será realizada, sem o risco de trauma das cordas vocais. COMPLICAÇÕES DA EXTUBAÇÃO Podem ocorrer laringoespasmo desenca- deada por estímulos na faringe ou nas cordas vocais (secreção, ar frio, a retirada do tubo), atelectasia pulmonar, bucking (tosse modi- ficada em razão da permanência da cânula endotraqueal entre as cordas vocais), edema de glote, traqueomalácea (colabamento da traqueia), tosse, vômito e queda de língua (re- tirada precoce da cânula de Guedel)(1,2,5,6). 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 28 14/09/2013 18:57:27 29 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S REFERÊNCIAS 1. Vane LA, Amorim RB. Manejo de vias aéreas. In: Braz JRC, Castiglia YMM. Temas de anestesiologia para o curso de graduação. 2nd ed. São Paulo: UNESP. 2000; p. 47-59. 2. Gal TJ. Airway management. In: Miller RD. 6th ed. Miller’s Anesthesia. Philadelphia: Elsevier. 2005; p. 1617-52. 3. Bew S. Managing the difficult airway in children. Anaest Int Care Med. 2006; 7:172-4. 4. Jackson K. Equipment for airway management. Anesth Int Care Med. 2006; 7:356-9. 5. HendersonJ. Airway management in the adult. In: Miller RD. 7th ed. Miller’s Anesthesia. Philadelphia: Elsevier. 2010; p.573-610. 6. Rebuglio R, Amaral JLG, Slikta Filho J. Intubação traqueal. In: Cangiani LM, Posso IP, Potério GMB, Nogueira CS. Tratado de Anestesiologia da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo. São Paulo: Atheneu. 2006; p. 1059-97. 7. Mallampatti SR, Gatt S, Gugino LD. A clinical sign to predict difficult tracheal intubation: a prospective study. Can J Anaesth. 1985; 32:429. 8. Cormack RS, Lehane J. Difficult tracheal intubation in obstetrics. Anaesthesia. 1984; 39:1105. 9. Gregori WM, Mathias LAST, Piccinini Filho L, Pena EL, Vicuna AH, Vieira JE. Impacto do acoplamento de máscara facial sobre a oxigenação. Rev Bras Anestesiol. 2005; 55:500-7. 10. Bew S. Acute and chronic airway obstruction. Anaesth Int Care Med. 2006; 7:164-8. 11. Moro ET, Goulart A. Compressão da cartilagem cricoide. Aspectos atuais. Rev Bras Anestesiol. 2008; 58:643-50. 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 29 14/09/2013 18:57:27 30 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — O TRATAMENTO DA DOR NA SALA DE EMERGÊNCIA Fernanda Bono Fukushima1 Edison Iglesias de Oliveira Vidal2 1 Professora Assistente Doutora do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP 2 Professor Assistente Doutor Substituto do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP A dor é uma queixa frequente na po-pulação mundial. Estima-se que a queixa álgica seja responsável por apro- ximadamente 78% dos atendimentos em unidades de emergência(1-3). Quando não tratada, a dor aguda pode desencadear al- terações plásticas no sistema nervoso, ex- pondo o paciente ao risco de desenvolver dor crônica. Apesar da importância do trata- mento da dor, a subutilização de analgésicos, ou “oligoanalgesia” é bastante frequente(4,5). Em estudo multicêntrico prospectivo ava- liando a qualidade da analgesia recebida em unidades de urgência e emergência nos Esta- dos Unidos da América e Canadá observou- -se, no momento da admissão, presença de dor intensa (média de 8/10) e após 90 minutos apenas 60% dos pacientes receberam analge- sia. Para 41% dos pacientes, a intensidade da dor não se modificou (34%) ou aumentou (7%) durante a permanência no pronto-socorro. Aproximadamente três quartos dos pacientes apresentavam dor moderada ou intensa no momento da alta hospitalar(6). O tratamento da dor na sala de emergên- cia pode ser desafiador por diferentes motivos. Em algumas instituições, a equipe médica possui historicamente receio quanto ao trata- mento da dor. Alguns acreditam que este tra- tamento pode acobertar sintomas e prejudicar o diagnóstico da doença de base. Outros te- mem a indução de vício nos pacientes. Entre- tanto a dor é um problema urgente que requer atenção imediata. Hoje a avaliação e tratamento da dor têm sido reconhecidos como prioridade no mundo. A Joint Commission International for Health- care Accreditation e a American Pain Socie- ty advogam pela implantação da dor como quinto sinal vital em todas as instituições de saúde. No Brasil o Ministério da Saúde criou a Organização Nacional de Acreditação que também preconiza a implantação da dor como quinto sinal vital, enquanto um indicador de qualidade para os processos assistenciais. O presente capítulo não pretende abordar o tratamento da enorme variedade de síndro- mes dolorosas ou das patologias clínicas e ci- rúrgicas a elas associadas. O objetivo central desta sessão é abordar os princípios gerais de tratamento da dor, incluindo o uso apropriado e seguro de opioides. AVALIAÇÃO DA DOR A avaliação adequada e precisa da dor é ne- cessária para assegurar abordagem segura, efe- tiva e individualizada da experiência álgica do paciente. Esta deve incluir história clínica, exame físico, história da dor (Tabela 1) e avaliação fun- cional. Em um serviço de urgência e emergên- cia a avaliação dos quadros álgicos nunca deve se dissociar da pesquisa das causas subjacentes, em especial daquelas que representem ameaça potencial à vida. Do mesmo modo é importan- te ter em mente que a abordagem sintomática da dor deve ocorrer lado a lado da terapêutica específica direcionada à doença de base. Ain- da, é importante ressaltar que muitos pacientes portadores de síndromes dolorosas crônicas (ex: neuropatias periféricas, dor associada a neopla- sias, fibromialgia, etc) frequentemente buscam serviços de pronto-socorro durante episódios de exacerbação do quadro álgico. MENSURAÇÃO DA DOR A definição de dor contempla a complexi- dade da sua mensuração: dor é uma experiên- 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 30 14/09/2013 18:57:27 31 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S 01. Localização da dor: a. Localização primária: descrição e diagrama b. Irradiação 02. Circunstâncias associadas ao início da dor 03. Caráter da dor: a. Descritores sensoriais (pontada, choque, queimação, aperto...) b. Questionário de McGill (descritores afetivos e sensoriais) c. Características de dor neuropática (queimação, paroxismo, alodínea) 04. Intensidade da dor: a. Em repouso b. À movimentação c. Fatores temporais I. Duração II. Dor atual, na última semana, a pior dor apresentada III. Contínua ou intermitente d. Fatores de melhora ou piora 05. Sintomas associados 06. Efeito da dor nas atividades e no sono 07. Tratamento: a. Medicação atual e prévia – (dose, frequência de uso, efeitos colaterais, eficácia) b. Outros tratamentos (fisioterapia, terapia cognitivo comportamental, acupuntura) c. Profissionais que acompanham o caso 08. Dados relevantes da história clinica a. Quadro álgico prévio e desfecho do tratamento b. Condições clínicas prévias ou coexistentes 09. Fatores que influenciam no tratamento sintomático do paciente a. Crenças com relação à origem da dor b. Conhecimento, expectativas e preferências para o tratamento da dor c. Expectativas quanto ao desfecho do tratamento da dor d. Redução da dor necessária para satisfação do paciente ou retorno às atividades e. Táticas de enfrentamento da dor f. Expectativas e crenças da família quanto à dor TABELA 1: HISTÓRIA DA DOR cia individual e subjetiva modulada por fatores fisiológicos, psicológicos e ambientais. Assim, a mensuração da dor sempre será baseada no auto-relato do paciente. Outro aspecto impor- tante ressaltado por esta definição refere-se ao fato de que fatores psicológicos e sociais po- dem, de fato, exacerbar a percepção da dor. Sendo assim, ao identificar a presença de um fator psicológico ou social como agravante potencial da dor, o médico não deve automa- ticamente rotular a dor do paciente como de origem psicogênica e desconsiderá-la. A dor é sempre uma experiência total e não é difícil perceber como sensações de medo, insegurança e ansiedade, através de mecanis- mos fisiológicos envolvendo o sistema nervoso central e a secreção de substâncias neuroendó- crinas são capazes de intensificar a experiência álgica. A identificação de fatores psicossociais enquanto exacerbadores da dor deve alertar o profissional da saúde acerca da maior comple- xidade do caso, que requer para o tratamento sintomático abordagem sensível e posterior en- caminhamento para serviço especializado. A mensuração da intensidade é sempre uma medida subjetiva, porém, de grande im- portância. A partir desta pode-se estabelecer um acompanhamento evolutivo do quadro doloroso e avaliar criticamente o sucesso das terapias introduzidas. 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 31 14/09/2013 18:57:27 32 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A DE B O T U C A T U — U N E S P — Os instrumentos para avaliação da dor podem ser divididos em unidimensionais (envolvem as escalas analógica visual, numé- rica verbal e adjetival) e multidimensionais (como o questionário de McGill e todos os seus derivados). Nas escalas multidimensionais ocorre a avaliação das dimensões psicológicas e sociais da dor, entretanto, costumam reque- rer um tempo maior para seu preenchimento. Nos serviços de urgência e emergência uti- lizam-se basicamente as escalas unidimensio- nais, devido a sua maior praticidade e rapidez de aplicação. Todavia, deve-se ter em mente que estas escalas apresentam limitações, prin- cipalmente no que diz respeito a pacientes com baixo grau de instrução, além de pacientes nos extremos de idade ou com déficit cognitivo importante. PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO DA DOR Os princípios da farmacoterapia propostos pela OMS podem ser resumidos em 4 tópicos: 1. Pela escada: Em 1986 a Organização Mundial de Saúde publicou uma diretriz para o tratamento da dor oncológica(7) onde propõe uma escada analgésica para orientar o médico sobre o tra- tamento da dor (fig. 1). Inicia-se pelo primeiro degrau, que consiste em me- dicamentos não-opioides (analgésicos simples e anti-inflamatórios não hormo- nais). Quando não ocorre alívio da dor, adiciona-se um opioide fraco para a dor de intensidade moderada (segundo degrau). Quando esta combinação fa- lha deve-se substituir este fraco por um forte, para dor intensa. Somente um opioide de cada categoria (fraco ou forte) deve ser prescrito. Os medica- mentos adjuvantes, analgésicos simples e anti-inflamatórios podem ser associa- dos em todos os degraus da escada, de acordo com as indicações específicas (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, relaxantes musculares, etc.), no entanto, requerem seguimento ambulatorial posterior. Fig. 1: Escada Analgésica proposta pela Organização Mundial de Saúde para tratamento da dor 2. Via oral: Sempre que possível, os anal- gésicos devem ser administrados pela via oral. Deve-se evitar a via intramus- cular por ser uma via dolorosa e estar mais relacionada a complicações de ab- sorção errática. 3. Intervalos fixos: Os analgésicos de- vem ser administrados em intervalos regulares. A dose subsequente precisa ser administrada antes que o efeito da dose anterior tenha terminado e estar adequada à dor do paciente, ou seja, inicia-se com doses pequenas, que são aumentadas progressivamente até o alí- vio satisfatório da dor. Alguns pacientes usuários crônicos de opioides neces- sitam além das doses regulares, doses de resgate para as dores incidentais ou súbitas. As doses de resgate usualmente correspondem de 10 a 30% da dose to- tal diária estabelecida após ao menos 24 horas de uso regular (período em que se estabelece um nível sérico estável para a maioria dos opioides). 4. Individualização: Não existem doses padronizadas para os opioides. A dose correta é a que causa alívio da dor com o mínimo de efeitos colaterais. Os AINES e os opioides fracos, entretanto, apre- sentam efeito teto, ou seja, dose diária máxima recomendada, acima da qual não há efeito analgésico adicional, mas apenas efeitos colaterais em excesso. 3 INTENSA Morfi na Hidromorfona Metadona Fentanil Oxicodona ± Adjuvantes 2 MODERADA AINES + Codeína AINES + Tramadol ± Adjuvantes 1 FRACA ASPIRINA Paracetamol AINES ± Adjuvantes 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 32 14/09/2013 18:57:27 33 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S Atenção: Ao prescrever opioides deve- -se explicar detalhadamente os horários e antecipar as possíveis complicações e efeitos adversos, tratando-os profilatica- mente. O paciente que usa opioide de forma crônica deve receber orientações sobre laxativos. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANALGÉSICOS SIMPLES São preconizados no tratamento da dor fraca e podem ser associados aos opioides nos demais degraus da escada analgésica. Paracetamol Seu mecanismo de ação ainda não é cla- ro, mas apresenta ações centrais agindo sobre a ciclooxigenase 3 (COX-3) e atividade anti- -inflamatória periférica fraca. A dosagem não deve ultrapassar quatro gramas diários para minimizar o risco de hepatotoxicidade. Este fármaco deve ser utilizado com cautela em pa- cientes com hepatite ativa, disfunção hepática, alcoolismo ou icterícia. Dipirona A dipirona é um analgésico não opioide com propriedades analgésicas, antipiréticas e antiespasmódicas aliadas a um baixo per- fil de efeitos adversos. Possui mecanismos de ação semelhante ao paracetamol, inibindo fracamente a síntese de prostaglandinas na periferia, e por ação direta sobre a substância cinzenta periaquedutal (COX-3). A dipirona, entretanto, não está associada ao mesmo risco de hepatotoxicidade do paracetamol. O risco de agranulocitose vem sendo desmistificado e atualmente é considerado como extremamente pequeno, variando de 0,2 a 2 casos por milhão de pessoas ao ano. Sendo assim, pode-se afir- mar que a dipirona constitui-se em uma opção analgésica segura e eficaz, ocupando lugar de destaque no primeiro degrau da escada anal- gésica da Organização Mundial de Saúde. ANALGÉSICOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs, incluindo a aspirina) são analgésicos do pri- meiro degrau da escada analgésica da OMS. Eles também podem ser úteis como adjuvantes. Seu principal mecanismo de ação é a inibição das ciclooxigenases, enzimas que convertem o ácido araquidônico em prostaglandinas. Seu uso prolongado tem sido limitado devido ao perfil de efeitos adversos cardiovasculares, renais e gastrointestinais. A decisão sobre se, como, quando e por quanto tempo utilizar um AINE para o tratamento da dor dependerá de diversos fatores, que incluem o prognóstico do paciente, e a relação risco / benefício dos AINEs frente a outras estratégias analgésicas mais potentes. Além disso, é relevante notar que a piora na perfusão renal, que pode ser ocasionada pelos AINEs, tem o potencial de exacerbar a toxicidade dos opioides. OPIOIDES ASPECTOS GERAIS Os analgésicos opioides correspondem a importante recurso farmacológico para o ma- nejo da dor. Eles incluem derivados naturais do ópio, bem como agentes sintéticos e semis- sintéticos que produzem seus efeitos através de sua ação sobre receptores de opioides. No sis- tema nervoso central estes receptores encon- tram-se concentrados no tálamo, na substância cinzenta periaquedutal e no corno dorsal da medula. Também são encontrados receptores opioides em outras regiões como pulmões e o plexo mioentérico do trato gastro intestinal. O efeito analgésico dos opioides está relacionado principalmente a sua ação sobre os receptores mu, embora outros receptores estejam envolvi- dos neste processo (ex: kappa e delta). Estudos recentes correlacionam o polimorfismo gené- tico desses receptores à variação da resposta individual a estes fármacos. Os opioides são classificados em “fracos” (ex: codeína e tramadol) e “potentes” (ex: mor- 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 33 14/09/2013 18:57:27 34 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — fina, metadona, oxicodona) e quanto à ação sobre receptores opioides em agonistas puros, agonistas parciais, agonistas-antagonistas e antagonistas. Opioides fracos (codeína e tra- madol), agonistas parciais (como buprenor- fina) e agonistas-antagonistas (butorfanol e pentazocina) apresentam como desvantagem a presença de efeito teto. Agonistas-antago- nistas podem causar efeitos psicomiméticos e desencadear síndrome de abstinência quando administrado a usuários crônicos de agonistas puros. Assim, opioides agonistas puros são os mais indicados para o tratamento das síndro- mes dolorosas crônicas. Todos os opioidesligam-se às proteínas plasmáticas, geralmente à albumina e à alfa1- -glicoproteína ácida. Entretanto, a porcenta- gem de ligação varia de 10% para a codeína a 80 a 86% para o fentanil. A morfina apresenta ligação proteica entre 20 e 35%. É importante ter em mente esta característica uma vez que pacientes com neoplasias em estágios avança- dos frequentemente desenvolvem quadros de desnutrição e hipoalbuminemia, que podem levar à necessidade de readequação posológi- ca frente às maiores concentrações de droga livre no plasma. A maioria dos opioides apresenta grande volume de distribuição, dependendo da lipo- filicidade e de seus metabólitos. O fentanil e a metadona apresentam maior lipofilicidade. EFEITOS ADVERSOS São vários os efeitos colaterais associados ao uso dos opioides. Alguns efeitos adversos, como constipação, náusea e sedação são bastante comuns. Outros como prurido, mio- clonias, disfunção cognitiva, delírio, retenção urinária e hiperalgesia são menos frequentes e correlacionam-se diretamente com a presen- ça de fatores de risco individuais, como idade avançada, déficit cognitivo prévio, desidra- tação e presença de insuficiência renal. Por outro lado, a presença de alergia verdadeira e depressão respiratória (com exceção nos casos de franca overdose) é extremamente rara. • Sedação: presente na maioria dos pa- cientes, especialmente após a dose ini- cial. Esse efeito adverso resolve-se geral- mente em 3 a 4 dias pelo mecanismo de tolerância. • Constipação: efeito adverso pratica- mente universal. O efeito dos opioides no plexo mioentérico causa redução na propulsão das fezes e aumento do tempo de transito intestinal, causando aumento da absorção hídrica e con- sequente ressecamento das fezes. Este mecanismo associado a outros fatores comuns em pacientes oncológicos como fraqueza, diminuição da ingesta e mobi- lidade reduzida entre outros, pode tor- nar a constipação um grande problema. Para a constipação não existe tolerân- cia. O tratamento deve ser preventivo e todos os pacientes em uso de opioi- des devem receber laxativo estimulante como senna ou bisacodil associado a laxativo osmótico como a lactulose ou leite de magnésia. • Náusea e vômito: aproximadamente 70% da população pode desenvolver náusea relacionada ao uso de opioide, particularmente no inicio do uso. Nova- mente, a abordagem deve ser preventi- va. Pacientes orientados sobre a possi- bilidade de náusea geralmente toleram melhor e tem menor solicitação de an- tieméticos. Antieméticos que agem em receptores dopaminérgicos (como o haloperidol, clorpromazina e metoclo- pramida) são mais efetivos que agentes anti-histamínicos como o dimenidrato. A náusea e vômito prolongados são ra- ros, geralmente o sintoma regride após alguns dias, podendo recorrer após au- mento da dose. Em pacientes com náu- sea e vômito refratários pode-se optar pela via parenteral ou transdérmica de administração ou adotar doses menores com titulação lenta e gradual. O surgimento de mioclonias, hiperalgesia, alodínea e delírio hiperativo associados ao uso de opioides estão relacionados ao acúmulo de metabólitos excitatórios no organismo (ex: 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 34 14/09/2013 18:57:27 35 A N ES TE SI O LO G IA C O N D U T A S E M U R G Ê N C I A S E E M E R G Ê N C I A S normeperidina, metabólito da meperidina; morfina-3-glucoronídeo, metabólito da morfi- na e de seus derivados). Os principais fatores de risco para estes eventos correspondem à presença de desidratação e insuficiência renal. Quadros de hiperalgesia induzida por opioi- des representam um desafio em especial para o especialista em dor, uma vez que é preciso determinar se a piora da dor ocorreu devido ao agravamento dos estímulos nociceptivos ou devido à toxicidade. A presença concomitan- te de mioclonias frequentes e a queixa de dor generalizada, sem correlação clara com o en- volvimento de estruturas anatômicas, sugerem o diagnóstico de hiperalgesia. O manejo destes quadros envolve a hidratação do paciente, a redução da dose, o uso de terapias não far- macológicas ou intervencionistas, bem como a rotação dos opioides. VÍCIO, DEPENDÊNCIA E TOLERÂNCIA Médicos que prescrevem opioides devem ser capazes de diferenciar a questão da depen- dência física dos conceitos de vício e tolerân- cia. A presença de passado de vício não exclui a possibilidade de dor. A tabela abaixo resume estes pontos: A seguir serão listados os opioides de uso mais comum no Brasil. Tramadol Opioide sintético que age em receptores mu e inibe a recaptação de serotonina e no- radrenalina na membrana pré-sináptica. É in- dicado para dor fraca a moderada, e possui apresentação para administração por via oral e parenteral. Possui 1/10 da potência da morfi- na, quando administrado pela via parenteral e o dobro da biodisponibilidade da codeína. O tramadol é uma pró-droga e parte da sua analgesia ocorre pelo seu metabólito ati- vo, o o-desmetiltramadol, duas a quatro vezes mais potente que o tramadol. Cinco a 10% da população não possui a enzima que converte o tramadol em o-desmetiltramadol, essa popula- ção apresentando analgesia parcial. Inibidores da enzima hepática CYP2D6 (ex: clorproma- zina, fluoxetina, paroxetina e ritonavir) podem reduzir sua eficácia analgésica. Possui efeitos colaterais comuns aos opiáceos, embora cons- tipação intestinal apareça em menor intensida- de. Dose oral é 200 a 400mg/dia e EV é de até 600mg, divididos de 4 a 6 horas. Codeína A codeína é uma pró-droga, sendo me- tabolizada em morfina pela enzima hepática CYP2D6 do citocromo P450. Cerca de 7 a TABELA 2 Vício Doença primária, crônica que sofre infl uência de componentes genéticos, psicossociais e comportamentais na sua manifestação. É caracterizado por comportamento que inclui um ou mais dos itens: – Prejuízo no controle sobre o uso do fármaco – Uso compulsivo – Uso continuado apesar da presença de dano – Desejo profundo pelo fármaco Dependência física Estado de adaptação manifestado pelo uso crônico de determinado fármaco. A retirada abrupta ou uso de antagonistas pode desencadear síndrome de abstinência. Tolerância Estado de adaptação em que a exposição crônica ao fármaco induz mudanças que podem levar à redução de um ou mais dos efeitos deste fármaco. Pseudovício Síndrome comportamental que mimetiza os sintomas vistos na dependência psicológica, porém decorre do subtratamento da dor. Sintomas e comportamento aberrantes decorrem do controle inefetivo do quadro álgico. 02A_ANESTESIO_Gráfica 0k_ago 2013.indd 35 14/09/2013 18:57:28 36 A N ES TE SI O LO G IA F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P —F A C U L D A D E D E M E D I C I N A D E B O T U C A T U — U N E S P — 10% da população caucasiana que apresenta deficiência desta enzima e pode apresentar ausência de resposta analgésica pela codeína. Possui efeito teto em torno de 120mg/dose, quando é alcançada a saturação da enzima CYP2D6. Quando administrado pela via oral possui baixa biodisponibilidade (30 a 50%). É comum o uso da codeína em associação com um analgésico simples, sendo raro seu uso isolado. Morfina A morfina é o protótipo dos opioides po- tentes e é o opioide recomendado pela OMS para estar disponível em todo o mundo. A morfina é metabolizada predominantemente no fígado em morfina-3-glucoronídeo (M3G) e morfina-6-gluroronídeo (M6G), ambos eli- minados por excreção renal. M6G é o meta- bólito ativo com maior meia vida, que se liga aos receptores opioide e exerce efeitos anal- gésicos. Já o M3G não apresenta efeitos anal- gésicos aparentes, no entanto está relacionada à neurotoxicidade da morfina (delirium, hipe- ralgesia, mioclonias e hiperexcitabilidade do sistema nervoso central). Na insuficiênica renal pode ocorrer acúmu- lo desses metabólitos, aumentando o risco de efeitos adversos graves. Portanto, a morfina deve ser utilizada com cautela nesses
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