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Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I FARMACOCINÉTICA A absorção, a distribuição, o metabolismo, a excreção e a ação de um fármaco dependem do seu transporte através das membranas celulares. As características de um fármaco que preveem seu transporte e sua disponibilidade nos locais de ação são o peso molecular e conformação estrutural, o grau de ionização e a lipossolubilidade relativa dos seus compostos ionizados e não ionizados. A membrana plasmática é a barreira comum à distribuição dos fármacos. As membranas celulares são relativamente permeáveis à água. O fluxo volumoso de água pode levar consigo somente as moléculas pequenas dos fármacos. A transferência de volumes grandes é limitada pela massa molecular, por isso a maioria dos fármacos lipofílicos grandes precisa atravessas a membrana sem a ajuda da água. O transporte passivo pela membrana ocorre por meio da difusão, seguindo um gradiente de concentração, que ocorre devido a sua solubilidade na bicamada lipídica. Substâncias que ultrapassam a barreira hemato-cefálica são apolares ou muito pouco polares. Quando o equilíbrio é atingido, a concentração do fármaco livre é igual nos dois lados da membrana, desde que ele não seja um eletrólito. Para os compostos iônicos, as concentrações no equilíbrio dependem do gradiente eletroquímico do íon e das diferenças de pH através da membrana, os quais são eficazes na retenção do fármaco em um dos lados. A distribuição pela membrana de um eletrólito é influenciada pelo seu pKa e pelo gradiente de pH através da membrana. O pKa é o pH no qual metade do fármaco está em sua forma ionizada. A relação entre as formas ionizada e não-ionizada de do fármaco é: 𝑝𝐾𝑎 − 𝑝𝐻 = log [𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎] [𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑛ã𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑜𝑛𝑎𝑑𝑎] Retenção iônica: é o processo em que, no estado de equilíbrio, um fármaco ácido se acumula no lado mais alcalino da membrana, enquanto um fármaco alcalino se concentra em seu lado mais ácido. ABSORÇÃO: A absorção é a passagem do fármaco do seu local de administração até a corrente sanguínea. A absorção depende da biodisponibilidade, das propriedades físico-químicas do fármaco, do pH do meio e da área de absorção. BIODISPONIBILIDADE: é a porcentagem do fármaco que chega ao seu local de ação ou à corrente sanguínea. É a “fração da droga que atinge a circulação sistêmica após a administração por qualquer via”. Dizer que um fármaco possui uma alta biodisponibilidade significa dizer que grande parte dele atinge a circulação sanguínea. A biodisponibilidade dos fármacos varia de acordo com a via de administração. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: VIA DE ADMINISTRAÇÃO ORAL: É a via mais segura, conveniente e econômica, ainda que seja necessário contar com a colaboração do paciente. Apresenta absorção limitada de alguns fármacos devido as suas características. Outra desvantagem é a possibilidade de os fármacos presentes no trato gastrintestinal serem metabolizados por enzimas intestinas ou do fígado antes que possam atingir a circulação sistêmica. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I Efeito de primeira passagem: é a redução significativa da biodisponibilidade de um fármaco devido à capacidade metabólica e excretora do fígado e do intestino para o mesmo. Isso acontece porque uma fração da dose administrada e absorvida do fármaco é inativada ou desviada no intestino e no fígado entes que chegue à circulação sistêmica e que seja distribuída para os locais de ação. A absorção pelo trato gastrintestinal é determinada por fatores como a área de absorção, o fluxo sanguíneo na superfície absortiva, o estado físico e a hidrossolubilidade do fármaco, além de sua concentração no local de absorção. A absorção é facilitada quando o fármaco está na forma não ionizada mais lipofílica. Apesar disso, a taxa de absorção de um fármaco pelo intestino é maior do que a do estômago, mesmo que o fármaco esteja predominantemente na forma ionizada no intestino e não ionizada no estômago, devido a maior superfície de absorção do intestino em relação ao estômago. Com isso, fatores que aceleram o esvaziamento gástrico aumentam a taxa de absorção do fármaco, enquanto fatores que retardam o esvaziamento causam efeitos contrários. Um fármaco ácido é MELHOR absorvido no estômago devido ao pH, mas é MAIS absorvido no intestino devido a maior superfície de absorção. Fármacos que são destruídos pelas secreções gástricas ou pelo pH baixo do estômago costumam ser administrados em preparações com revestimento entérico, impedindo a sua dissolução no estômago, e garantindo a sua absorção no intestino. Fármacos de liberação controlada/ampliada/continuada: Suas vantagens são a redução da frequência de administração do fármaco, maior adesão do paciente, redução da incidência e da intensidade dos efeitos adversos (devido à eliminação do pico de concentração do fármaco), além da redução dos níveis sanguíneos não terapêuticos do fármaco (devido à atenuação dos desníveis de concentração). A liberação controlada é mais conveniente para fármacos com meias-vidas curtas, ou seja, inferiores a quatro horas. VIA DE ADMINISTRAÇÃO INTRAVENOSA: Os fatores limitantes da absorção são eliminados na injeção intravenosa dos fármacos em solução aquosa, pois a biodisponibilidade é total e rápida. A liberação do fármaco é controla e assegurada com precisão e rapidez. Fármacos dissolvidos em veículos oleosos, compostos que se precipitam no sangue ou hemolisam eritrócitos, além de combinações de fármacos que formam precipitados não devem ser administrados por via intravenosa. A administração do fármaco pode ter uma injeção rápida, em “bolus”, ou uma injeção mais lenta. Permite a administração de volumes grandes. É uma via utilizada para substâncias de alto peso molecular ou peptídicas. Possui um maior risco de efeitos adversos. VIA DE ADMINISTRAÇÃO SUBCUTÂNEA: Em geral, a taxa de absorção de uma injeção subcutânea é suficientemente constante e lenta para produzir efeitos prolongados. Apresenta uma absorção imediata para soluções aquosas. Pode ser utilizada para suspensões insolúveis, podendo causar celulite, uma inflamação subcutânea. Não permite a aplicação de volumes grandes. Pode provocar dor ou necrose. VIA DE ADMINISTRAÇÃO INTRAMUSCULAR: Os fármacos em solução aquosa são absorvidos muito rapidamente com injeções intramusculares, dependendo do fluxo sanguíneo no local da injeção. A absorção pode ser modulada pelo aquecimento local, pela massagem ou pelo exercício. A absorção lenta e contínua depois de uma injeção intramuscular ocorre quando o fármaco é injetado em solução aquosa ou está suspenso em outros veículos, causando depósito. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I É a via apropriada para autoadministração de injeções. Não é aconselhada para pacientes em terapia com anticoagulantes, devido a maior chance de causar hematomas. Injeções intramusculares podem interferir na interpretação de alguns testes diagnósticos, como o teste da creatina-quinase. OUTRAS FORMAS DE ADMINISTRAÇÃO: ADMINISTRAÇÃO SUBLINGUAL: protege o fármaco do metabolismo rápido causado pela primeira passagem pelos intestinos e pelo fígado. ADMINISTRAÇÃO RETAL: cerca de 50% do fármaco que é absorvido pelo reto não passa pelo fígado. ABSORÇÃO PULMONAR: o acesso à circulação é rápido, devido à grande área pulmonar. A absorção é quase instantânea do fármaco pela corrente sanguínea e evita-se a perda pela primeira passagem hepática. DISTRIBUIÇÃO: O fármaco se distribui para os líquidos intersticiais e intracelulares dependendo das suas propriedades físico-químicas específicas. Débito cardíaco, fluxo sanguíneo regional, permeabilidade capilar e volume tecidual determinam a taxa de liberação e a quantidade potencial do fármaco distribuído aos tecidos. Inicialmente o fígado, os rins, o cérebro e outros órgãos bem irrigados recebem a maior parte do fármaco. A liberaçãoaos músculos, à maioria das vísceras, à pele e aos tecidos adiposos é mais lenta. A distribuição tecidual é determinada pelo fracionamento do fármaco entre o sangue e os tecidos periféricos. Proteínas plasmáticas: a albumina é o principal carreador de fármacos ácidos, enquanto a glicoproteína α1 liga-se aos fármacos básicos. Alguns fármacos podem ligar-se às proteínas que atuam como proteínas carreadoras de hormônios específicos. A fração de todo o fármaco presente no plasma ligado às proteínas é determinada pela concentração do fármaco, pela afinidade e pelo número dos locais de ligação do fármaco. A ligação de um fármaco às proteínas plasmáticas limita sua concentração nos tecidos e em seu local de ação. Depois que se atingir o equilíbrio de distribuição, a concentração do fármaco ativo (livre) no líquido intracelular é igual à concentração plasmática, exceto quando houver transporte mediado por carreadores. Ligação tecidual: a ligação tecidual dos fármacos ocorre com os componentes celulares como proteínas, fosfolipídios ou proteínas nucleares. Uma fração expressiva do fármaco no corpo pode estar ligada dessa forma e funciona como reservatório, que prolonga a ação do fármaco nesse mesmo tecido ou em locais distantes, depois do transporte pela corrente sanguínea. Essa ligação e acumulação também podem causar efeitos tóxicos locais. Tecido adiposo como reservatório: o tecido adiposo pode funcionar como reservatório para os fármacos lipossolúveis. Os antibióticos do grupo tetraciclina e os metais pesados podem se acumular nos ossos por adsorção à superfície dos cristais ósseos e por incorporação final a sua estrutura cristalina. Redistribuição: a cessação do efeito farmacológico depois da interrupção do uso de um fármaco em geral ocorre por metabolismo e excreção, mas também pode ser causada pela redistribuição do fármaco do seu local de ação para outros tecidos ou locais. A redistribuição é um fator importante para a cessação do efeito farmacológico. SNC e líquido cerebrospinal: a penetração do fármaco no cérebro depende do transporte transcelular, em vez da transferência paracelular. A lipossolubilidade das formas não ionizada e livre de um fármaco é determinante importante da sua captação pelo cérebro. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I Quanto mais lipofílica for a substância, maior a probabilidade de que atravesse a barreira hematoencefálica. Transferência placentária dos fármacos: a lipossolubilidade, a extensão da ligação plasmática e o grau de ionização dos ácidos e das bases fracas são determinantes gerais importantes da transferência dos fármacos pela placenta. TRANSPORTADORES DE EFLUXO ATIVO: Os transportadores SLC atuam na absorção de aminoácidos. Os transportadores MDR1 estão presentes nos enterócitos, na barreira hematoencefálica e em alguns tumores. Nos enterócitos, atuam na retirada das substâncias que entram por difusão nas células, colocando-as para dentro da luz intestinal. Isso acontece com toxinas, por exemplo. Na barreira hematoencefálica, os transportadores MDR1 estão relacionados à resistência a anticonvulsionantes como a fenitoína Já nas células tumorais, ejetam os antineoplásicos para fora, tornando-as resistentes ao quimioterápico. VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO: O volume de distribuição relaciona a quantidade do fármaco no organismo e a sua concentração no sangue ou plasma. 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝐷𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 (𝑉𝑑) = 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑑𝑟𝑜𝑔𝑎 𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 (𝐶) Um volume de distribuição baixo significa que a molécula tende a permanecer no sangue, chegando de forma mais lenta aos tecidos. Quanto menor o volume de distribuição, menores doses do fármaco são requeridas, pois as moléculas se distribuem menos e chegam em maior “quantidade” no sítio de ação. Quanto maior o volume de distribuição, maiores doses do fármaco são requeridas, pois como as moléculas se distribuem em todo o corpo, é preciso maior “quantidade” do fármaco para que ele chegue em uma “quantidade” suficiente no sítio de ação. Portanto, volume de distribuição e dose do fármaco são diretamente proporcionais. Moléculas hidrofílicas pequenas têm um volume de distribuição maior que moléculas hidrofílicas grandes. Substâncias muito lipofílicas têm baixa concentração no sangue e alto volume de distribuição, pois se acumulam nos tecidos. O volume de distribuição varia de acordo com os graus relativos de ligação aos locais receptores de alta afinidade, os níveis de proteínas plasmáticas e teciduais, o coeficiente de distribuição do fármaco no tecido adiposo e a sua acumulação nos tecidos pouco irrigados. O volume de distribuição de um fármaco pode variar com a idade, o sexo, a composição corporal do paciente e com a existência de doenças. METABOLIZAÇÃO: O objetivo da metabolização é tornar as moléculas mais hidrofílicas e aumentar seus pesos moleculares, a fim de que sejam menos reabsorvidas no trato gastrintestinal e nos néfrons, e, portanto, mais passíveis de serem eliminadas via bile ou urina. Além disso, a metabolização pode inativar ou ativar o composto do fármaco, o que pode gerar metabólitos tóxicos e carcinogênicos. Os sistemas de transportes envolvidos na metabolização, ABCs e SLCs, permitem a eliminação de xenobióticos, que consistem em qualquer molécula estranha ao organismo. Esses sistemas estão presentes principalmente nas células epiteliais do trato gastrintestinal, fazendo o efluxo de substâncias em direção a luz do órgão, e nos hepatócitos, fazendo o influxo de substâncias em direção às células. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I METABOLISMO DE PRIMEIRA PASSAGEM: É a capacidade do fígado de fazer a remoção e a metabolização do fármaco. O que atinge a grande circulação será a parcela de fármaco que conseguiu “escapar” da circulação porta. A biodisponibilidade de um fármaco também depende do metabolismo de primeira passagem. Drogas administradas por via retal são menos suscetíveis ao metabolismo de primeira passagem, pois 50% delas são desviadas do sistema porta. Vias parenterais, como a endovenosa, a subcutânea e a intramuscular não passam pelo metabolismo de primeira passagem. A metabolização é dividida em duas fases: Fase I – Funcionalização: acontecem reação de oxirredução ou hidrólise com a finalidade de tornar as moléculas mais polares. Fase II – Conjugação: ocorre a solubilização das moléculas com consequente aumento do seu peso molecular. Algumas enzimas importantes nessa fase são a álcool desidrogenase e a aldeído desidrogenase. Essas duas fases ocorrem principalmente no fígado, mas algumas drogas são metabolizadas no plasma, no pulmão ou no intestino. O metabolismo das drogas ocorre predominantemente no fígado, sobretudo pelo sistema citocromo P450. O sistema hepático do citocromo P450 compreende uma superfamília de enzimas relacionadas que diferem uma da outra na sua sequência de aminoácidos, na regulação por inibidores e agentes indutores e na especificidade das reações que catalisam. Essas enzimas possuem pouca especificidade, baixa eficiência catalítica e meias vida altas. As enzimas citocromos trabalham em uma cinética de primeira ordem, ou seja, não são saturáveis. Assim, quanto maior a concentração de fármacos (substratos), maior a degradação pelas enzimas (metabolização). A saturação enzimática acontece quando não há mais enzimas disponíveis, apesar do aumento na concentração de substratos, e com isso a velocidade de degradação se torna constante. Já foram descritas 74 famílias de enzimas citocromos, das quais as três principais (CYP1, CYP2 e CYP3) estão envolvidas no metabolismo das drogas no fígado humano. A enzima CYP3A4 (citocromo família 3, subfamília A, gene número 4) é a mais abundante. Ela metaboliza cerca de 35% de todos os fármacos utilizados na clínica. Outras enzimas citocromos importantes são CYP1A1, CYP1A2, CYP1B1,CYP2A6, CYP2B6, CYP2C8, CYP2C9, CYP2C19, CYP2D6, CYP2E1, CYP3A4 e CYP3A5. Algumas drogas são capazes de inibir essas enzimas CYP, independentemente de serem seus substratos. Os inibidores da recaptação de serotonina (ISRS) e o cetoconazol são potentes inibidores do CYP3A4. Por outro lado, alguns fármacos são indutores de CYP, podendo induzir não só o seu próprio metabolismo, mas também o metabolismo de outras drogas coadministradas. Nessa indução, o receptor PXR se liga à molécula do fármaco e depois se liga ao complexo RXR, ao qual se liga ao DNA promovendo a transcrição da enzima metabolizadora do fármaco. PRÓ-FÁRMACOS: Os pró-fármacos são compostos farmacologicamente inativos desenvolvidos para ampliar a quantidade de moléculas ativas que alcançam seu local de ação. A dipirona é um pró-fármaco, a qual precisa ser metabolizada para atingir o seu efeito analgésico. Já a codeína é um gerador de morfina ao passar pela metabolização. A metabolização do metanol gera o formaldeído, que é tóxico para o organismo. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I ELIMINAÇÃO: A eliminação é um processo natural e coordenado de vias metabólicas e sistemas de transporte que são induzíveis. A eliminação dos fármacos ocorre através de dois processos: metabolismo e excreção. O metabolismo é a conversão de uma entidade química em outra, enquanto a excreção é a perda da droga quimicamente inalterada. A maior parte das drogas é eliminada do corpo através da urina, na forma inalterada ou como metabólitos polares. Algumas são secretadas na bile através do fígado, porém a maioria é reabsorvida a partir do intestino. Existem casos em que a perda fecal é responsável pela eliminação de uma fração significativa da droga inalterada em indivíduos sadios, ou em pacientes com insuficiência renal em que ocorre a eliminação fecal de drogas que são normalmente excretadas pela urina. A excreção de fármacos pelos pulmões só ocorre com agentes voláteis ou gasosos. As drogas também são excretadas em secreção como o leite e o suor. As substâncias lipofílicas não são eliminadas suficientemente pelo rim. Por isso, as drogas lipofílicas são metabolizadas, em sua maioria, em produtos mais polares que são excretados na urina. MEIA-VIDA: A meia-vida é o tempo necessário para que a concentração do fármaco no organismo seja reduzida à metade. A fim de que um fármaco seja acumulado no organismo é necessária a administração de novas doses antes do tempo de 4 ou 5 meias-vidas. A meia-vida e a depuração são determinantes no regime de administração do fármaco, ou seja, de quanto em quanto tempo uma nova dose deve ser administrada. DEPURAÇÃO: A depuração equivale à taxa de eliminação de um fármaco por todas as vias. Se a concentração desejada do fármaco em equilíbrio no plasma ou no sangue por conhecida, a taxa de depuração da substância determinará a frequência com que o fármaco deverá ser administrado. Esse conhecimento é importante devido a finalidade de manter as concentrações de um fármaco em equilíbrio dentro da janela terapêutica associada à eficácia e ao mínimo de efeitos tóxicos de uma substância. As enzimas metabólicas e os transportadores geralmente não são saturáveis, ou seja, possuem uma cinética de primeira ordem. A taxa de depuração para sistemas insaturáveis, de cinética de primeira ordem é: 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑝𝑢𝑟𝑎çã𝑜 (𝐶𝑙) = 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐸𝑙𝑖𝑚𝑖𝑛𝑎çã𝑜 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 (𝐶) Por outro lado, alguns fármacos possuem cinética de depuração de ordem zero, ou seja, suas enzimas de metabolização são saturáveis. Nesse caso, a meia-vida dos fármacos é variável com a dose. A taxa de depuração para sistemas saturáveis, de cinética de ordem zero é: 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐷𝑒𝑝𝑢𝑟𝑎çã𝑜 (𝐶𝑙) = 𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑧𝑖𝑚𝑎 (𝑉𝑚) 𝐾𝑚 𝑑𝑎 𝑒𝑛𝑧𝑖𝑚𝑎 + 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 (𝐶) A taxa de depuração total de um fármaco é equivalente a 4 ou 5 meias-vidas. Dessa forma, quanto os intervalos de administração dos fármacos for menor do que 4 ou 5 meias-vidas, há acúmulo da substância. Já quando for maior, todo o fármaco é metabolizado antes da administração da próxima dose. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I Como as enzimas de metabolização dos fármacos não são saturáveis, quanto maior a concentração, maior a atividade enzimática. É devido a isso que o platô ocorre sempre entre 4 e 5 meais-vidas. O tempo que um medicamento demora para fazer efeito é o tempo necessário para atingir a concentração plasmática terapêutica mínima. A intensidade do efeito de um fármaco está relacionada com sua concentração acima da concentração eficaz mínima. Já a duração do efeito do fármaco reflete o tempo durante o qual o seu nível permanece acima desse valor. FAIXA OU JANELA TERAPÊUTICA: Reflete a variação das concentrações capazes de assegurar a eficácia do produto, sem os efeitos tóxicos inaceitáveis. Em geral, o limite inferior da janela terapêutica corresponde à concentração do fármaco que produz cerca de metade do maior efeito terapêutico possível, enquanto o limite superior não é mais do que duas vezes maior do que o limite inferior. A manutenção das concentrações dentro da janela terapêutica evita grande oscilações ente os níveis máximo e mínimo, podendo melhorar o resultado do tratamento. Há um período de defasagem antes que a concentração do fármaco (Cp) ultrapasse a concentração eficaz mínima (CEM) para atingir o efeito desejado. Depois do início da resposta, a intensidade do efeito aumenta à medida que o fármaco continua a ser absorvido e distribuído. Esse efeito alcança um pico e, em seguida, a eliminação do fármaco provoca um declínio na Cp e na intensidade do efeito. O efeito desaparece quando a concentração do fármaco cai para um nível abaixo da CEM. Consequentemente, a duração da ação de um fármaco é determinada pelo período durante o qual as concentrações ficam acima da CEM. Existe uma CEM para cada reação adversa e, se a concentração do fármaco ultrapassar este patamar, o paciente apresentará efeitos tóxicos. O objetivo do tratamento é atingir e manter concentrações dentro da janela terapêutica para a resposta desejada, com um mínimo de efeitos tóxicos. Abaixo da CEM para o efeito desejado, a resposta será subterapêutica; acima da CEM para uma reação adversa aumenta a probabilidade de ocorrerem efeitos tóxicos. O aumento da dose de um fármaco também pode prolongar a duração da sua ação, embora com o risco de aumentar a probabilidade de efeitos adversos. O ideal é administrar outra dose do fármaco, no tempo programado para manter as concentrações dentro da janela terapêutica. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia I DOSE DE MANUTENÇÃO: Para manter a concentração de equilíbrio escolhida, a frequência de administração é ajustada de modo que a taxa de fornecimento seja igual à taxa de eliminação. Ao se estabelecer a concentração plasmática desejada e se conhecer e depuração e a biodisponibilidade do paciente, pode-se calcular a dose e os intervalos apropriados entre elas. 𝐹𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑑𝑚𝑖𝑛𝑖𝑠𝑡𝑟𝑎çã𝑜 = 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑃𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝐴𝑙𝑣𝑜 (𝐶𝑝) × 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐷𝑒𝑝𝑢𝑟𝑎çã𝑜 (𝐶𝑙) 𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 Caso se saiba o intervalo e queira se determinar as doses: 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 = 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐷𝑜𝑠𝑒 (𝐶𝑝 × 𝐶𝑙) × 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑜𝑠𝑒𝑠 DOSE DE ATAQUE: É uma dose utilizada para que o fármaco atinja mais rapidamente a concentração eficaz mínima. Ela depende do volume de distribuição do fármaco e da concentração terapêutica alvo. Essa dose pode ser maior do que as outras com o objetivo de o fármaco entrar logo na janela terapêutica e o medicamento começar a fazer efeito mais rapidamente. 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝐴𝑡𝑎𝑞𝑢𝑒 = 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜𝑇𝑒𝑟𝑎𝑝ê𝑢𝑡𝑖𝑐𝑎 × 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝐷𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 DOSES DIVIDIDAS: Sua utilização reduz os efeitos tóxicos dos fármacos e aumenta a sua eficácia, pois a taxa de variação da concentração plasmática do fármaco será menor, e irá permanecer dentro da janela terapêutica. AJUSTE DE DOSE INDIVIDUAL: Alguns pacientes necessitam do ajuste da sua dose terapêutica devido a alguma perda da função renal e consequente menor depuração dos fármacos. A taxa de depuração normal da creatinina, que mede a função renal, é de 100 mL/min. 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒çã𝑜 𝑑𝑒 𝐷𝑜𝑠𝑒 = 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐶𝑜𝑚𝑢𝑚 × 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑝𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 100 𝑚𝐿/𝑚𝑖𝑛